Este artigo tem como objetivo enfatizar a importância do uso do método científico na busca de um remédio para a cura de pessoas infectadas pelo novo Coronavírus e de uma vacina para imunizar a população, bem como da ação coordenadora dos governos para evitar a propagação do vírus visando salvaguardar a saúde da população e evitar seus efeitos nefastos sobre a economia.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Importância da ciência no combate ao coronavírus
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A IMPORTÂNCIA DA CIÊNCIA E O PAPEL DOS GOVERNOS NO COMBATE
AO NOVO CORONAVIRUS
Fernando Alcoforado*
Resumo: Este artigo tem como objetivo enfatizar a importância do uso do método científico na busca de um
remédio para a cura de pessoas infectadas pelo novo Coronavírus e de uma vacina para imunizar a população,
bem como da ação coordenadora dos governos para evitar a propagação do vírus visando salvaguardar a saúde
da população e evitar seus efeitos nefastos sobre a economia.
Palavras-chave: Novo Coronavírus. O método científico. O governo no combate ao novo Coronavirus.
1. Introdução
Diversos posts foram publicados nas redes sociais tentando demonstrar que a cloroquina
e a hidroxicloroquina são os remédios para combater o novo Coronavírus. Opondo-se a
essa visão estão professores da Oxford University e da Birmingham University que
consideram a cloroquina e a hidroxicloroquina prejudiciais à saúde no tratamento do novo
Coronavírus. O uso generalizado de hidroxicloroquina expõe alguns pacientes a danos
raros, mas potencialmente fatais, incluindo reações cutâneas graves, insuficiência
hepática fulminante e arritmias ventriculares (especialmente quando prescrito com
azitromicina), de acordo com Robin Ferner do Instituto de Ciências Clínicas da
Universidade de Birmingham, e Jeffrey Aronson, do Departamento de Ciências da Saúde
da Universidade de Oxford, Reino Unido [3]. Para Karl Popper, o apoio de uma teoria ou
o resultado de uma pesquisa é sempre provisório, pois suas conclusões devem sempre ser
testadas empiricamente em outros lugares por cientistas qualificados. Isso terá que ser
feito tanto para a hidroxicloroquina quanto para qualquer medicamento para que possam
ser considerados como uma solução para a cura de pacientes com o novo Coronavírus.
Para tentar resolver esse problema, Popper estabeleceu o que ele mesmo chama de
“método dedutivo de teste” [5].
Para testar uma teoria ou resultado de pesquisa com hidroxicloroquina e qualquer
medicamento, pode-se utilizar o método de Popper que propõe quatro etapas, ou tipos de
evidências: 1ª) Testes internos: buscam a coerência das conclusões extraídas a partir do
enunciado; 2º) Testes de forma: consiste em testes para saber se a teoria é, de fato, uma
teoria empírica ou científica ou meramente tautologia, ou seja, uma proposição analítica
que sempre permanece verdadeira, já que o atributo é uma repetição do sujeito; 3ª) Testes
de inovação: verificação se a teoria realmente é nova ou já está compreendida por outras
existentes no sistema; e, 4) Testes empíricos: verificação da aplicabilidade das conclusões
extraídas da nova teoria. Popper diz que uma teoria ou resultado de pesquisa será mais
válido quanto mais for falseável, ou seja, quanto mais houver possibilidades de ser
falsificado e, mesmo assim, continua respondendo a problemas científicos. Uma vez
propostas, as teorias especulativas terão que ser provadas rigorosa e implacavelmente por
observação e experimentação. As teorias que não excedem as evidências observáveis e
experimentais devem ser eliminadas e substituídas por outras conjecturas especulativas.
É importante notar que o método científico diz respeito a um conjunto de regras básicas
de como o procedimento deve ser para produzir conhecimento científico [1], seja um
conhecimento novo, uma correção ou um aumento de conhecimento previamente
existente. Na maioria das disciplinas científicas, o método científico consiste em juntar
evidências empíricas verificáveis baseadas na observação sistemática e controlada,
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geralmente resultantes de experiências ou pesquisa de laboratório ou de campo e analisá-
las com o uso da lógica. O método científico nada mais é do que lógica aplicada à ciência.
Portanto, o resultado da pesquisa só pode ser considerado uma demonstração da eficácia
no combate ao novo Coronavírus se ele se repetir em outros locais e atingir o mesmo
resultado com a utilização do método científico. Para descrever uma lei da natureza, é
necessário testar, coletar e registrar os resultados repetidamente, esperar que isso seja
repetido com vários outros pesquisadores antes de ser considerado válido [2]. Ou seja,
uma lei científica é válida quando a comunidade científica, fundada em experiências
particulares, colhe repetidamente resultados semelhantes ou supostamente iguais.
O que acaba de ser exposto representa uma resposta aos negacionistas da ciência como
Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil, entre outros governantes, e
seus seguidores que insistem em se posicionar contra as medidas baseadas na ciência para
o combate ao novo Coronavirus. Por adotar esta posição negacionista da ciência, ambos
os governantes dos Estados Unidos e do Brasil são responsáveis pela liderança de ambos
os países nas estatísticas mundiais de infectados e mortos pelo novo Coronavirus pelo
fato de não terem desenvolvido ação coordenadora de seus governos visando o combate
ao novo Coronavirus.
2. A importância do uso do método científico no combate ao novo Coronavírus
A luta contra o novo Coronavírus não se reduz à busca de um medicamento capaz de
curar os pacientes. É necessário, fundamentalmente, desenvolver uma vacina capaz de
imunizar a população. No que diz respeito à vacina contra o novo Coronavírus,
pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha estão à frente nessa corrida com cerca
de 20 grupos dedicados a encontrar uma imunização contra a doença. A China
desenvolveu seu primeiro protótipo e o Ministério da Defesa anunciou que o país está
pronto para iniciar os testes clínicos em humanos [3]. Voluntários entre 18 e 60 anos estão
sendo chamados para testar a vacina. Os Estados Unidos, que iniciaram a primeira fase
de seus testes clínicos no dia anterior ao anúncio chinês, também buscam uma solução
rápida, eficaz e segura. O problema da vacina, porém, não termina com a descoberta. É
necessária a realização de testes em seres humanos com base no método científico para
avaliar sua segurança e eficácia na prevenção da doença. Uma vacina só deve ser adotada
após ser testada repetidamente, com coleta e registro dos resultados, aguardando a
repetição com vários outros pesquisadores antes de ser considerada válida. Só então pode
ser produzido em grande escala e distribuído a milhões de pessoas.
Ressalte-se que a busca por um método científico adequado norteou a ação da maioria
dos pensadores dos séculos XVI e XVII, destacando-se entre eles Galileo Galilei, Francis
Bacon, René Descartes e Isaac Newton, que com suas contribuições foram decisivos para
a estruturação do que chamamos hoje de ciência moderna. Galileu é considerado o "pai
da ciência moderna". Para Galileu, o objetivo das investigações deve ser o conhecimento
da lei que preside os fenômenos [4]. Além disso, o foco principal da ciência deve ser as
relações quantitativas. A partir de 1623, Galileo Galilei fundou a ciência moderna com a
formulação do método científico indutivo que ainda hoje é usado. O método de Galileu é
conhecido como indução experimental. Com Galileu, o estudo da natureza teve uma
abordagem diferente da de Aristóteles, quando a ciência se tornou mais experimental do
que especulativa. Com o estabelecimento do método científico, o paradigma aristotélico
que prevaleceu até então foi quebrado. As concepções científicas de Aristóteles usavam
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apenas uma metodologia formal e não empírica. Galileu foi o primeiro teórico do método
experimental [5].
Pode-se dizer, portanto, que o resultado de toda e qualquer pesquisa é provisório, uma
vez que suas conclusões precisam ser testadas empiricamente em outro lugar por
cientistas qualificados para garantir sua validade. A ciência progride por meio de tentativa
e erro, conjectura e refutação, de acordo com Popper [5]. O método da ciência é o método
de conjecturas ousadas e engenhosas, seguidas de tentativas rigorosas de prová-las. A
verdade é o objetivo genuíno da pesquisa científica. A verdade é uma interpretação da
realidade, confirmada por outros seres humanos e confirmada por equações matemáticas
formando um modelo capaz de prever eventos futuros nas mesmas coordenadas. Para
Leibniz, seria necessário distinguir dois tipos de verdade: de um lado, as verdades da
razão e, de outro, as verdades de fato. As verdades de razão enunciam que uma coisa é
necessariamente e universalmente não podendo ser diferente do que é, tal como as ideias
matemáticas, sendo inatas. As verdades de fato, ao contrário, são aquelas que dependem
da experiência, expressando ideias obtidas através das sensações, percepção e memória,
sendo, portanto, empíricas. Segundo Leibniz, a relação entre verdades de razão e de fato,
julgadas pela racionalização das informações, permite conhecer a realidade.
3. Conclusões
Pelo exposto, pode-se concluir que a luta contra o novo Coronavírus não se reduz à busca
de um medicamento capaz de curar os pacientes e no desenvolvimento de uma vacina
capaz de imunizar a população com base no método científico para avaliar sua segurança
e eficácia, respectivamente, na cura e na prevenção da doença. É necessário, também, que
os governos desenvolvam ação coordenadora com a adoção de medidas de saúde pública
para evitar a propagação do virus, além de planejar a economia para adequá-la à nova
situação imposta pela pandemia do novo Coronavirus.
Portanto, a luta contra o novo Coronavírus não se reduz à busca de um medicamento
capaz de curar os pacientes e o desenvolvimento de uma vacina capaz de imunizar a
população. É necessário, também, que os governos atuem no sentido de adotar medidas
de saúde pública para evitar a propagação do virus, além de planejar a economia para
adequá-la à nova situação imposta pela pandemia do novo Coronavirus.
Lamentavelmente, enquanto as instituições científicas trabalhavam e ainda trabalham na
busca de uma vacina para imunizar a população e de medicamentos capazes de curar as
pessoas infectadas pelo novo Coronavirus, os governos dos Estados Unidos e do Brasil,
entre outros, não elaboraram planos de combate ao novo Coronavirus, nem de adequação
de suas economias à situação criada pela pandemia com base nos quais deveriam
desenvolver sua ação coordenadora de toda sociedade no enfrentamento dos problemas
de saúde pública e da economia. O resultado disto tudo têm sido os números devastadores
de infectados e mortos pelo novo Coronavirus, a ameaça de colapso do sistema de saúde,
a queda vertiginosa da atividade econômica com reflexos nefastos sobre o desemprego
da população e a falência de inúmeras empresas.
A ação coordenadora dos governos competiria, fundamentalmente, na articulação com os
diversos níveis de governo federal, estadual e municipal e com o setor privado para
impedir a propagação do vírus e minimizar os prejuízos da crise sanitária sobre a
economia e sobre a população com base em planos de saúde pública e econômico. O
plano de saúde pública deveria ser voltado para a implementação de ações capazes de
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evitar o desastre humanitário ao contribuir para realizar testes de toda a população para
isolar as pessoas infectadas, promover investimentos implantação de hospitais de
campanha, na produção de equipamentos hospitalares, medicamentos e vacinas, além de
adotar o isolamento social e até mesmo o lockdown da população em regiões críticas do
país. O plano econômico deveria contemplar a adoção de medidas em benefício dos
desempregados e das populações pobres com a transferência de renda do governo para as
famílias e a suspensão do pagamento de impostos e concessão de empréstimos a juros
baixos para as empresas tendo como contrapartida não realizar demissões de empregados
durante a pandemia. Este conjunto de medidas deveria ser mantido enquanto perdurar a
pandemia para não agravar as condições sociais da população, especialmente das mais
vulneráveis, e as condições econômicas das micro, pequena e média empresas.
Para fazer frente à queda na arrecadação de impostos pelo governo em todos os níveis
resultante da redução das atividades econômicas, o governo central de cada país deveria
destinar recursos no volume necessário para os governos regionais e locais fazerem frente
aos problemas com o sistema de saúde e, também, os problemas sociais concernentes às
populações mais vulneráveis enquanto perdurar a pandemia do novo Coronavirus. É
necessário que o governo em todos os níveis disponha dos recursos financeiros
necessários ao cumprimento de seus papéis neste momento crítico. Nada disto aconteceu
nos Estados Unidos e no Brasil. Além de negacionistas da ciência, Trump e Bolsonaro
foram e são incompetentes no combate ao novo Coronavirus porque não elaboraram
planos de saúde pública nem planos econômicos para lidar com o problema.
Um fato é evidente: até que seja desenvolvido um medicamento para a cura de pacientes
e uma vacina seja comprovada cientificamente para imunizar a população contra o novo
Coronavírus, o isolamento social total é absolutamente necessário neste momento em
todo o mundo para evitar o colapso do sistema de saúde que, nessas condições, não poderá
atender não só aos pacientes com o novo Coronavírus, mas também aqueles afetados por
outras doenças. Qualquer solução diferente desta significaria expor a população ao vírus
e consequente morte. Outro fato é evidente: enquanto perdurar a pandemia, é
absolutamente necessária a adoção de uma política de transferência de renda do governo
para a população, sobretudo as vulneráveis, para evitar que, por necessidade de
sobrevivência, elas sejam obrigadas a sair de suas residências para trabalharem em
escritórios ou nas ruas. Em outras palavras, o governo deveria pagar as pessoas para não
saírem às ruas para não contaminarem ou serem contaminadas pelo vírus.
Lamentavelmente, no Brasil, o governo Bolsonaro já anunciou que suspenderá o processo
de transferência de renda para a população adotado até agora em dezembro de 2020. Esta
decisão fará com que parcela significativa da população venha a morrer de fome.
Além da política de transferência de renda para a população, deveria ser adotadas
medidas, também, pelo governo para ajudar as empresas, especialmente as micro,
pequena e média empresas, para sobreviverem neste momento de queda em suas receitas,
bem como aos estados e municípios para evitarem sua insolvência devido à queda na
arrecadação de impostos. Só o governo federal nos Estados Unidos e no Brasil têm
capacidade de colocar em prática essas medidas.
REFERÊNCIAS
[1] ALCOFORADO, Fernando. As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e
Sociais que Mudaram o Mundo. Curitiba: Editora CRV, 2016.
5. 5
[2] DESCARTES, René. Discurso do método. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2005.
[3] FERMER, Robin, ARONSON, Jeffrey. Chloroquine and hydroxychloroquine in
covid-19. Available on the website <https://www.bmj.com/content/369/bmj.m1432>.
[4] MARCONI, M. A. e LAKATOS, E. M. Fundamentos da Metodologia Científica. São
Paulo: Atlas, 2003.
[5] POPPER, Karl. Lógica da Investigação Científica, in Os Pensadores. São Paulo: Abril
Cultural, 1975.
* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI
ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr.
Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio
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CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no
Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que
Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).