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MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS




MARIA DE NAZARÉ: A EDUCADORA DE JESUS


                       Ao escrever o seu Evangelho, Mateus compreendeu a inspiração que
                       lhe vinha do Alto, de que um espírito virginal tinha sido escolhido
                       para vir a ser mãe do Mestre. Um espírito virginal é aquele que,
                       através de sucessivas e incontáveis reencarnações, torna-se isento
                       das máculas da matéria – (Eliseu Rigonatti, O Evangelho dos
                       Humildes)

                       (…) Esta interpretação dá uma razão de ser toda natural ao dogma
                       da Imaculada Conceição, do qual o ceticismo tanto tem zombado.
                       Esse dogma estabelece que a mãe do Cristo não estava manchada
                       pelo pecado original; como pode ser isto? É muito simples: Deus
                       enviou um Espírito puro, não pertencente à raça culpada e exilada,
                       para se encarnar sobre a Terra e nela cumprir essa augusta missão;
                       do mesmo modo que, de tempos em tempos, envia Espíritos superiores
                       para nela se encarnarem, para darem um impulso ao progresso e
                       apressar o seu adiantamento. Esses Espíritos são, sobre a Terra,
                       como o venerável pastor que vai moralizar os condenados em sua
                       prisão, e mostrar-lhes o caminho da salvação. (Allan Kardec, Ensaio
                       Sobre a Interpretação da Doutrina dos Anjos Decaídos, Revista
                       Espírita, Janeiro de 1862)

I Parte

Quem foi Maria?
Falar de Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, não é fácil devido a falta de informações que
temos dela, e entre as que temos poucas são confiáveis, isentas e imparciais do ponto de
vista religioso.
Estão no Novo Testamento, apesar de raros, os melhores esclarecimentos que temos da
Mãe de nosso Senhor Jesus.
Nós, os espíritas, ainda temos o privilégio de termos algumas anotações vindas do Plano
Espiritual que nos ajudam a esclarecer sobre a grande evolução e a missão deste nobre
Espírito.
Não temos informação de como foi sua infância, nem de sua adolescência; a tradição
cristã nos informa que Maria era filha de Joaquim e Ana. Seus pais eram judeus e pelo
que podemos depreender dos textos do Evangelho formavam uma família simples e
praticantes fieis de seus princípios religiosos.
Provavelmente nasceu entre os anos 18 e 20 a.C., e como era habitual àquele tempo,
deve ter casado por volta de seus 14 anos, às vezes até antes.
Os historiadores do cristianismo apontam como data provável do nascimento de Jesus o
ano 6 a.C., o Espírito Humberto de Campos através da mediunidade de Francisco
Cândido Xavier define o ano 5 a. C. como sendo o correto para a vinda do Cristo à




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CLÁUDIO FAJARDO


    carne1. O casamento de Maria deve ter acontecido de seis meses a um ano do
    nascimento de seu primogênito.
    Outra questão que não temos como certa é se Maria teve ou não outros filhos além de
    Jesus. O Evangelho não é totalmente claro a respeito; Mateus fala que Jesus teve irmãos
    e irmãs, e até dá o nome de seus irmãos2. Entretanto, em hebraico ou em aramaico, os
    primos também eram chamados de irmãos.
    Muitos estudiosos contestam esta questão de os supostos irmãos de Jesus serem seus
    primos. Afirmam estes que é uma realidade que o termo hebraico designava tanto irmão
    quanto primo, porém ressaltam que o Evangelho foi escrito em grego, e no grego temos
    duas palavras distintas, adelphos, para irmão, e anepsios que é literalmente primo.
    Portanto, insistem, se os autores do Novo Testamento, que à época sabiam se eram
    primos ou realmente irmãos, quisessem falar em primos, usariam anepsios e não
    adelphos3.
    Outro argumento a favor de serem irmãos é que na maioria das vezes em que eles são
    citados no Evangelho estão acompanhados de Maria; por que, perguntam, eles estariam
    sempre acompanhados da tia? Entretanto, há argumentos fortes também, por parte
    daqueles que defendem que Maria e José não tiveram outros filhos, como o fato de
    Jesus ter, no momento da crucificação entregado Maria – sua mãe - a João, o discípulo
    amado, para que este tomasse conta dela a partir de então. Se formassem uma família
    numerosa, com vários outros filhos, não seria natural que estes cuidassem de Maria?
    Há uma terceira hipótese, menos comentada e menos provável, a de que José ao casar
    com Maria já teria outros filhos de casamento anterior, e estes é que seriam os irmãos de
    Jesus.
    Como este não é o objetivo principal deste estudo, não vamos mais nos ocupar com este
    tema. No judaísmo era comum o casal ter muitos filhos, era uma benção de Deus, o que
    faz crer a alguns que José e Maria seriam pais de uma prole maior; todavia, não há esta
    necessidade, a família de Jesus era sem dúvida uma família especial, e poderia,
    portanto, ser diferente das demais sem nenhum desmerecimento para eles.
    O certo, é que Maria era um Espírito de altíssima evolução, um dos mais puros que
    encarnou neste Orbe governado espiritualmente por Seu Filho Jesus.

    A Gravidez Virginal
    Outro tema polêmico e complexo é o da gravidez de Maria que alguns creem ter
    acontecido sem contato sexual entre ela e José, seu marido.
    Dissemos ser complexo, porque tudo o que dissermos a respeito não passa de opinião
    pessoal, já que não temos condições de provar nem a tese da gravidez virginal nem a da
    gravidez comum.
    Mesmo o Espiritismo não elucida o tema, não há informações confiáveis a respeito.
    Para um assunto de tal complexidade teríamos que retomar o Controle Universal do
    Ensino dos Espíritos4, o que foi por nós abandonado há muito tempo.

    1
        XAVIER, Francisco C. / Humberto de Campos. Crônicas de Além Túmulo, cap. 15, Rio de Janeiro,
        FEB, 1937.
    2
        Cf. Mateus, 12: 46 e Mateus, 13: 55 e 56. Ver também Marcos, 6: 3
    3
         Existem controvérsias. Segundo PASTORINO, Carlos Torres. Sabedoria do Evangelho Vol. 8. Rio de
        Janeiro: Sabedoria, 1967, Pg. 197, a palavra adelphos “irmão”, referia-se também a “primos”, e ainda
        cita vários autores profanos como Heródoto, Thucidides, etc. onde isto acontecia.
    4
         Cf. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991.
        Introdução, item II




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MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


Como dissemos, as melhores informações que temos tanto sobre Jesus, quanto sobre
Maria, são as narradas nos Evangelhos. E o que dizem eles a respeito?
Marcos e João não comentam nada a respeito, Mateus e Lucas são claros: Maria e José
não tiveram contato sexual antes da concepção de Jesus.
As igrejas cristãs ligadas ao catolicismo e à reforma protestante defendem a literalidade
dos Evangelhos. Segundo os adeptos da primeira, Maria era virgem antes e continuou
após o nascimento de Jesus. Para os seguidores da reforma, pelo menos os atuais, Maria
era virgem ao conceber Jesus, porém após o nascimento deste teve relações normais
com seu marido, tendo, inclusive, outros filhos.
Dentro do Espiritismo, que tem por norma uma investigação mais segura baseada em
padrões científicos, as opiniões são divididas, uns creem como os cristãos tradicionais,
outros não aceitam a gravidez virginal.
Dizem os defensores desta última hipótese que as narrativas dos Evangelhos a respeito
do nascimento de Jesus são expressões de um simbolismo profundo, e que nada têm de
históricas.
Pode ser, aliás, todo o Evangelho tem um conteúdo simbólico de grande profundidade,
entretanto, cremos, que o simbolismo do Novo Testamento – a não ser no caso das
parábolas - tem por princípio eventos reais, e não acontecimentos imaginados. Jesus
escolhia momentos, lugares, personagens, didaticamente perfeitos para seus
ensinamentos, mas antes de buscarmos o conteúdo espiritual de suas lições, é preciso
que compreendamo-las em seu sentido literal, histórico e cultural, só a partir daí
devemos buscar seu sentido espiritual.
Não estamos com este argumento defendendo a gravidez sem contato sexual, como
dissemos, o tema é complexo e deverá ser melhor estudado hoje e no futuro.
Estes que defendem a gravidez natural de Maria e o relacionamento sexual dela com seu
marido antes da fecundação de Jesus, partem do princípio de que se assim não fosse
estaria sendo ferida uma Lei Universal, e Espíritos Superiores jamais derrogam uma lei
qualquer que seja, antes, cumprem-na com fidelidade.Têm razão, porém, será que uma
gravidez sem contato sexual fere alguma Lei Natural? Não temos hoje vários exemplos
de gravidez gerada em laboratório?
Estamos tentando fazer uma análise espírita do tema, e deste ponto de vista, a ciência do
Mundo Espiritual mesmo no tempo de Jesus era muito superior à nossa atual do mundo
em que vivemos, e se esta pode algo fazer, aquela podia com muito mais facilidade.
Assim, uma fecundação espiritual para Jesus, não é algo que fere nenhum princípio de
ciência segundo cremos. Voltamos a repetir, não estamos com isto dizendo que assim se
deu, só estamos analisando possibilidades.
De onde surgiu esta idéia de uma gravidez virginal?
Na literatura pagã há muitos casos de nascimentos virginais, alguns heróis dos clássicos
gregos e romanos eram semideuses, ou seja, filhos de Deus com uma mulher carnal. Há
também na Bíblia Hebraica nascimentos sob a intervenção divina.
No caso de Jesus a idéia surge num texto de Isaías. Segundo a narrativa do livro deste
profeta temos:
                       Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu
                       nome Emanuel.5
Porém, a palavra hebraica usada por Isaías que traduzida deu virgem é almah que
significa literalmente mulher jovem em idade para casar ou recém casada. Quando se
traduziu a Bíblia Hebraica para o grego, na versão da Septuaginta, almah foi traduzida

5
    Isaías, 7: 14




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CLÁUDIO FAJARDO


    por parthenos. “Parthenos” quer dizer tanto uma moça jovem, quanto uma mulher que
    nunca teve relação sexual com homem, é como no português falado no Brasil a palavra
    “moça”, que tem tanto o sentido de uma mulher jovem, como a que ainda não teve
    relações sexuais.
    Assim, no texto original de Isaías não é passado esta idéia de virgindade, mas que uma
    jovem geraria o Messias.
    Portanto, a dúvida continuará e só com o nosso amadurecimento espiritual, o que se
    dará em paralelo ao desenvolvimento moral, teremos melhores condições de analisar o
    fato.
    O que importa para nós é que Maria era virgem no sentido de fidelidade a Deus. Os
    antigos profetas várias vezes se referem a Israel como um “prostituta” por ter sido esta
    nação infiel à aliança feita com Deus. Virgem é o oposto de prostituta, dentro deste
    contexto é justamente ser fiel à Divindade.
    Neste sentido Maria de Magdala ao ser desligada de seus obsessores e se converter ao
    Cristo, tornou-se uma grande virgem do Novo Testamento, e nós se quisermos também
    gerar em nós o “Filho do homem”, ou o homem novo, teremos que, do mesmo modo
    nos tornarmos virgens, sem pecado.

    Maria era culta ou iletrada?
    Esta é outra questão que não é fácil de ser respondida.
    Nos dias de hoje dizemos que uma pessoa é culta se ela tem o hábito de ler e estudar, se
    tem muita informação intelectual. Entretanto, no que diz respeito ao primeiro século de
    nossa era o julgamento não pode ser feito desta forma.
    Neste século, o marcado pela vida física de Jesus, grande era o percentual de
    analfabetismo. Quase não haviam livros para serem lidos, e era caríssima a produção de
    um, desta forma, não era qualquer pessoa que tinha acesso a livros, sendo assim, poucos
    sabiam ler, e muito menos ainda os que tinham o hábito de estudar como fazemos hoje.
    Porém, não podemos dizer por isso que eram mal informados os habitantes da Palestina
    daquela época. O processo de aprendizado era diferente, o que tínhamos era uma cultura
    oral; as cartas de Paulo eram lidas na comunidade cristã através de uma leitura coletiva,
    muitos apenas ouviam o que este valoroso apóstolo escreveu.
    Tal hábito fazia com que a memória destes que se dedicavam ao estudo das escrituras
    fosse de grande capacidade, pois era preciso saber os textos de cor já que nem sempre
    era possível lê-los.
    Portanto, saber ler não era pré-requisito para se ter cultura. Além disso, em se tratando
    de uma mulher na palestina no tempo de Jesus, eram bem poucas as chances de que a
    ela fosse dada a oportunidade de saber ler.
    Assim, do ponto de vista de percentuais, grande é a chance de Maria não ter sido
    alfabetizada, o que não estamos querendo dizer com isso, que não tenha sido. Apenas
    dizemos de probabilidades.
    O que é certo, e podemos dizer com total segurança, é que a Mãe de Nosso Senhor tinha
    grande cultura, e muito mais ainda, uma cultura espiritual, uma espiritualidade
    inteligente.
    Muitos chegam a dizer que Maria teria sido educada no Templo, que era não só boa
    leitora, como também, boa redatora. É possível, porém, não certo. Não estamos
    querendo trabalhar com hipóteses.
    No tempo de Maria, o judaísmo não era simplesmente uma religião, era uma cultura.
    Entre os hebreus não se podia escolher a que religião seguir, simplesmente eram judeus.




4
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


Não havia shoppings, cinemas, teatros, ou outras diversões quaisquer, o que havia era
uma sinagoga, e que todos frequentavam, a sinagoga era a vida das pessoas. Nazaré era
uma pequena cidade, a sinagoga deveria ser próximo de tudo, e era ali onde eles
aprendiam e praticavam seus princípios de moral elevada.
Como dissemos Maria era um Espírito elevado e sem comprometimentos no campo
expiatório, por isso aprendia fácil, com certeza memorizava bem, e vivenciava o que
aprendia, não era culta dentro de nosso padrão atual, era sábia.
Por que podemos dizer isso com certeza? O Evangelho nos dá mostra disso a toda hora,
e além do mais, Maria foi a educadora do maior Sábio de todos os tempos, e só isso
bastaria para dizer que ela foi entre todas a melhor educadora.

Magnificat
Em se tratando de um estudo sobre Maria, o Magnificat, merece um capítulo à parte, é
um dos mais belos textos de todo Novo Testamento, só Lucas entre os evangelistas, e
numa entrevista pessoal com a mulher de José, teria a capacidade de registrar para a
posteridade tão belo poema, e que prova tudo o que dissemos anteriormente, a
espiritualidade inteligente e equilibrada desta que sem a menor dúvida é a nossa
Senhora.
Imagino a beleza da cena, aquela que é a mãe de todos os que sofrem, cantando este
lindo poema para o médico amigo de Paulo. Ela deve ter dito de cor, pois o sabia de
coração, e ele, que à época não tinha gravador de voz, deve ter tido dificuldade para
anotar, pois deve ter se emocionado ao extremo, talvez ela tenha repetido para ele várias
vezes:
                        Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus em
                        meu Salvador, porque olhou para a humilde posição de sua serva.
                        Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem aventurada,
                        pois o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor.
                        Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração,
                        para aqueles que o temem.
                        Agiu com a força de seu braço. Dispersou os homens de coração
                        orgulhoso.
                        Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.
                        Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias.
                        Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia – conforme
                        prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência
                        para sempre!6
Não pretendemos neste momento estudar minuciosamente estes versos, mas não
podemos deixar de destacar a cultura espiritual de Maria.
Ela abre o texto falando de sua comunhão com Deus de uma forma que só Jesus falará
mais tarde. Coloca-se em sua digna posição de serva e assim se faz grande,
engrandecendo o Senhor através de sua vivência em harmonia com Ele.
Ela faz uma síntese do Antigo Testamento, mostrando seu perfeito conhecimento de
toda Escritura.
Sintetiza também a religião das boas obras e a Lei de Deus que alimenta aquele que se
faz dependente Dele, e despede os que se acham ricos e que têm as mãos ociosas.
Dissemos no parágrafo anterior que ela faz uma síntese magistral do Antigo Testamento.

6
    Lucas, 1: 46 a 55




                                                                                      5
CLÁUDIO FAJARDO


    O Magnificat tem dez versículos, nestes, ela faz quinze citações do Antigo Testamento
    os harmonizando com profunda sabedoria.
    Só quem conhecia e bem as Escrituras, e tinha uma espiritualidade superior poderia
    construir esta oração. A seguir vamos destacar cada versículo e as citações a que se
    referem no texto da Bíblia Hebraica.

    46.       Minha alma engrandece o Senhor,
          O meu coração exulta ao SENHOR (I Samuel, 2: 1)
    47.       E meu espírito exulta em Deus em meu Salvador,
          Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu
          Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, (Isaías, 61: 10)
          Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha
          salvação. (Habacuc, 3: 18)
    48.     Porque olhou para a humilde posição de sua serva. Sim!
       Doravante as gerações todas me chamarão de bem aventurada,
          SENHOR dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da
          tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e
          lhe deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua
          vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha. (I Samuel, 1: 11)
          Então disse Lia: Para minha ventura; porque as filhas me terão por
          bem-aventurada; e chamou-lhe Aser. (Genesis 30:13)
    49.    Pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu
       nome é santo
          Redenção enviou ao seu povo; ordenou a sua aliança para sempre;
          santo e tremendo é o seu nome. (Salmo, 111:9)
    50.     E sua misericórdia perdura de geração em geração, para
       aqueles que o temem.
          Mas a misericórdia do SENHOR é desde a eternidade e até a
          eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos
          dos filhos; (Salmo, 103: 17)
    51.     Agiu com a força de seu braço. Dispersou os homens de
       coração orgulhoso.
          Tu quebraste a Raabe como se fora ferida de morte; espalhaste os
          teus inimigos com o teu braço forte. (Salmo, 89:10)
    52.       Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.
          Aos sacerdotes, leva-os despojados do seu cargo e aos poderosos
          transtorna. (Jó, 12: 19)
    53.      Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos
       vazias.
          Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta. (Salmo,
          107: 9)
    54.       Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia
          Porém tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de
          Abraão, meu amigo; tu a quem tomei desde os fins da terra, e te
          chamei dentre os seus mais excelentes, e te disse: Tu és o meu servo,
          a ti escolhi e nunca te rejeitei. (Isaías 41:8-9 8)




6
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


        Lembrou-se da sua benignidade e da sua verdade para com a casa de
        Israel; todas as extremidades da terra viram a salvação do nosso
        Deus. (Salmo, 98:3)
55. – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de
    sua descendência para sempre!
        E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te
        amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.
        (Gênesis 12:3)
        Porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua
        descendência, para sempre. (Genesis 13:15)
        E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra;
        porquanto obedeceste à minha voz. (Genesis 22:18)
É importante imaginar como foi a cena em que tal evento ocorreu.
Narra-nos Lucas que após Maria receber o aviso através do anjo, a respeito de sua
concepção, que diga-se de passagem era um aviso mediúnico, e não fica nenhuma
dúvida quanto a isso, ela se dirigiu a uma cidade de Judá para fazer uma visita a sua
prima Isabel.
Esta cidade foi identificada segundo uma tradição do século V como sendo Ain Karim, e
situava-se a aproximadamente 6 Km de Jerusalém.
A viagem de Nazaré a Ain Karim, segundo alguns autores, se fazia em quatro ou cinco
dias. Como? Provavelmente no lombo de um animal. Era, portanto, uma viagem através
de uma estrada ruim, cansativa, principalmente para quem estava nas primeiras semanas
de gravidez. Maria devia ter a esta época algo em torno de 14 anos. Ela deve ter
chegado à casa de sua prima, extenuada.
Diz o Evangelista que ao entrar na casa de Zacarias, saudou Isabel7; Isabel, ouviu a
saudação e exclamou o que no futuro viria a ser uma conhecida prece: Bendita és tu
entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!8. E após ouvir a prima Maria profere
o belíssimo poema-oração a que estamos nos referindo. Ou seja, ela teve a capacidade
de fazer a genial síntese, o poema magnífico, em uma condição de extremo cansaço, em
condições físicas precárias, mesmo assim ela se manifestou em profunda harmonia
espiritual.
Nós quando estamos cansados perdemos a criatividade e até mesmo a capacidade de
pensar com inteligência, queremos repor as energias e só depois realizar algo que exija
um trabalho mais elaborado.
Voltemos à nossa questão inicial, era Maria culta ou iletrada? Não sabemos, porém,
podemos com certeza dizer: “era sábia”, e uma sabedoria de profunda significação
espiritual.

Como foi a educação de Jesus?
Este é um tema que buscaremos desenvolver melhor na segunda parte deste estudo,
porém aqui gostaríamos de fazer reverência a outro personagem de grande importância
neste processo: José, o pai de Jesus.
É comum no meio cristão evidenciar a evolução de Maria, o que é certo, entretanto,
desconsiderar a de seu marido, o que não é correto.


7
    Lucas, 1: 40
8
    Idem, Ibidem, 42




                                                                                  7
CLÁUDIO FAJARDO


    Se Maria teve uma grande contribuição no processo de educação9 de Jesus, o mesmo
    podemos dizer em relação a José, pois temos a certeza, sem querer fazer qualquer
    comparação, ser ele um Espírito, também, de grande evolução.
    Queremos citar neste momento apenas uma referência de Emmanuel, este guia nosso
    para todas as horas, a respeito deste respeitável personagem da Galileia. Reflitamos
    sobre as próximas palavras citadas neste estudo:
                                É preciso, porém, observar que, a par de beneficiários ingratos, de
                                ouvintes indiferentes, de perseguidores cruéis e de discípulos
                                vacilantes, houve um homem integral que atendeu a Jesus,
                                hipotecando-lhe o coração sem mácula e a consciência pura.
                                José da Galileia foi um homem tão profundamente espiritual que seu
                                vulto sublime escapa às análises limitadas de quem não pode
                                prescindir do material humano para um serviço de definições.
                                Já pensaste no cristianismo sem ele?
                                Quando se fala excessivamente em falência das criaturas, recordemos
                                que houve tempo em que Maria e o Cristo foram confiados pelas
                                Forças Divinas a um homem.10
    O Espírito Humberto de Campos, através da mediunidade de Chico Xavier11, nos relata
    da preocupação dos pais de Jesus com a sua educação. Eles tinham a intuição de sua
    missão e a ciência de parte de suas necessidades, por isso preocupavam-se em preparar
    o menino para o cumprimento dos desígnios superiores.
    Narra-nos este Espírito, importante diálogo entre Maria e sua prima Isabel, do qual
    citamos pequeno trecho, a respeito do tema do preparo dos filhos para o cumprimento
    dos propósitos do Pai:
                                Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações
                                costumeira, e a facilidade de argumentação com que Jesus elucidava
                                os problemas, que lhe eram apresentados pelos orientadores do
                                templo, nos deixou a todos receosos e perplexos. Sua ciência não
                                pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente se manifesta por
                                seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas, Eleazar
                                chamou a José, em particular, e o advertiu de que o menino parece
                                haver nascido para a perdição de muitos poderosos em Israel.
                                Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu,
                                de olhos úmidos, após ligeira pausa:
                                Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus,
                                junto de suas valiosas relações com as autoridades do templo.
                                Pensei na sua infância desprotegida e receio pelo seu futuro.
                                Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, de regresso a
                                Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores.
                                Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno,
                                preocupada com o seu preparo conveniente para a vida!...
                                Entretanto, no dia que se seguiu às nossas íntimas confabulações,

    9
          Temos usado esta expressão por não encontrar no momento outra melhor, todavia não sabemos se é
         certo falar em educação em relação a Jesus, que era um Espírito Puro mesmo encarnado, e que
         segundo Emmanuel não sofreu as restrições comuns a qualquer um de nós ao tomar um corpo de
         carne.
    10
          XAVIER, Francisco C. / Emmanuel (Espírito). Levantar e Seguir, São Bernardo do Campo, GEEM,
         1992, cap. 6
    11
         XAVIER, Francisco C./Humberto de Campos. Boa Nova, 14a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1982, cap. 2




8
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


                       Jesus se aproximou de mim, pela manhã, e me interpelou: “Mãe, que
                       queres tu de mim? Acaso não tenho testemunhado a minha comunhão
                       com o Pai que está no Céu!
                       Altamente surpreendida com a sua pergunta, respondi-lhe, hesitante:
                       Tenho cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um
                       preparo melhor para a vida... Mas, como se estivesse em pleno
                       conhecimento do que se passava em meu íntimo, ponderou ele: “Mãe,
                       toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu
                       já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a
                       exemplificação que seja boa e eu escolherei, desse modo, a escola
                       melhor. No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os
                       doutores do templo fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus
                       aproximou-se de José e lhe pediu, com humildade, o admitisse em
                       seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse ensinar que a
                       melhor escola para Deus é a do lar e a do esforço próprio concluiu a
                       palavra materna com singeleza —, ele aperfeiçoa as madeiras da
                       oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com
                       a sua doce alegria! (Os grifos são nossos)
Percebemos neste singelo diálogo o cuidado dos pais de Jesus com sua educação. Ele
por sua vez tinha a perfeita consciência do que era o mais importante: eu escolherei,
desse modo, a escola melhor.
Como nos comportaríamos na mesma situação? Se tivéssemos um filho deste nível
tentaríamos impor as nossas ideias ou saberíamos reconhecer sua superioridade não
atrapalhando o seu desenvolvimento?

Como Maria encarava sua missão?
Seria a mãe de Jesus totalmente consciente de seu papel diante da vida?
Não há como saber ao certo esta resposta, tudo o que dissermos a respeito não passará
de opinião e dedução pessoal a partir de alguns textos.
Maria era um Espírito de grande evolução, voltamos a dizer, e sabemos pela orientação
da Codificação Espírita, que quanto mais o Espírito é evoluído mais tem consciência de
sua tarefa. Assim, deduzimos que a consciência de Maria a respeito de sua missão era
acima da média, porém não total. Todo Espírito ao encarnar perde parte de sua lucidez
de acordo com o estágio em que se encontra.
Apesar de Maria ser um Espírito com uma tarefa especial, e como dissemos, de alta
hierarquia, esta perda se deu com ela também.
Depreendemos, assim, que ela tinha uma grande intuição, tanto de seu papel, quanto do
de Jesus, e o texto do Evangelho nos mostra que ela foi informada a respeito, porém,
não na totalidade dos acontecimentos.
Humberto de Campos, na obra citada, e no mesmo diálogo de Maria com Isabel, relata a
fala da mãe de Jesus:
                       (…) constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.
                       Apesar de todos os valores da crença murmurou Isabel, convicta —,
                       nós, as mães, temos sempre o espírito abalado por injustificáveis
                       receios.
Se Maria fosse plenamente consciente não teria esta cisma nem seria abalada por estes
receios.
Mostra-nos ainda o mesmo autor espiritual em outra página, que a mãe de nosso Senhor
ao saber de sua prisão, confiou em Deus, todavia, empreendeu esforços e orou ao Pai na




                                                                                       9
CLÁUDIO FAJARDO


     esperança de que o pior não acontecesse e Jesus fosse solto. Quando seu filho foi
     entregue a Herodes, chegou a pensar:
                                Naturalmente, Deus modificaria os acontecimentos, tocando a alma
                                de Ântipas.12
     E mesmo quando já parecia consumado o assassinato, ao vê-lo vergado ao peso da
     cruz, lembra-se de Abraão quando este conduzira o filho ao sacrifício, e da ação de
     Deus salvando-o, e pensa:
                                Certamente o Deus compassivo escutava-lhe as súplicas e reservava-
                                lhe [a Jesus] júbilo igual.13
     Só depois, ao ver o filho morto, foi que recordou a visita do anjo no momento da
     anunciação. Devem ter passado em sua mente, com a rapidez de um relâmpago, todas as
     cenas de sua existência; rememorando, percebeu o quanto sua vida e a do filho estavam
     ligadas numa missão maior em nome de Deus. Ela sofria, mas os desígnios do Alto se
     cumpriram, a treva havia sido iludida, vencera a luz, suas preces foram ouvidas, não
     segundo seus anseios de mãe e sim de acordo com os planos divinos14. E em sua mente
     lembrou também de suas próprias palavras anteriormente ditas: Eis aqui a serva do
     Senhor15

     Maria: Mãe de Toda Humanidade
     Uma passagem do Evangelho que nos traz significativos pontos para reflexão é a da
     crucificação de Jesus, mais especificamente segundo a narrativa de João que cita a
     presença da Mãe do Messias no evento que marcou os momentos finais Dele na carne.
     Segundo o redator do quarto Evangelho:
                                Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua
                                mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, então,
                                vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua
                                mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis a tua
                                mãe!” E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa. 16
     Já de início vemos na narrativa algo que serve para nós do sexo masculino nos
     envergonharmos diante da situação. Jesus teve mais próximo de si doze discípulos
     homens. Se descontarmos Judas Iscariotes que se afastou do grupo no final para
     entregar a Jesus, ainda restaram onze. E de todos estes seus amigos apenas João esteve
     presente no momento de sua crucificação. Ao contrário, muitas mulheres, também suas
     seguidoras, se fizeram presente no instante final, prestando solidariedade e sofrendo
     junto.
     Depreendemos daí, e notamos isto no dia a dia, mesmo hoje, que a mulher é muito mais
     corajosa que o homem. Há exceções, todavia, no geral, elas enfrentam certos momentos
     de tensão com maior superioridade espiritual do que nós.
     Cremos, sem querer fechar a questão sobre o assunto, e principalmente aqui no caso da
     crucificação, que o que deu coragem a estas fieis seguidoras de Jesus foi o sentimento
     de amor que já possuíam como virtude conquistada, sentimento este que na maioria das
     vezes têm elas mais do que nós do sexo masculino.
     Segundo a observação de alguns estudiosos da área da psicologia, o oposto de amor não
     12
          XAVIER, Francisco C./Irmão X. Lázaro Redivivo, Rio de Janeiro, FEB, 1945, cap. 2
     13
          Idem, ibidem.
     14
          id., ib.
     15
          Lucas, 1: 38
     16
          João, 19: 25 a 27




10
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


é ódio, e sim medo, pois o temor é paralisante, estático, enquanto amor é movimento,
dinamismo. O medo não deixa o amor se expressar e o amor dissolve o medo.
Não temos dúvida de que foi o sentimento nobre que já possuíam que deu coragem
àquelas mulheres; os homens, mais afeitos ao raciocínio, pensaram mais no perigo que
corriam e afastaram-se.
Temos aprendido a ver que entre os doze da intimidade de Jesus, João, o filho de
Zebedeu, era o que tinha mais destacado o sentimento de amor. Não é outro o motivo de
ser ele conhecido como o discípulo amado. Neste caso não havia nenhum privilégio,
apenas cumprimento da Lei, a cada um segundo as suas obras, aquele que mais ama é
mais amado.
Assim, foi também o sentimento de amor mais desenvolvido que deu coragem a este
discípulo e que o fez estar com as mulheres nos momentos finais do Mestre entre nós
fisicamente.
O mais significativo, entretanto, nesta passagem, é o ensinamento transmitido por Jesus
ao dizer a sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!” e depois a João: “Eis a tua mãe!”
Mulher; o uso desta forma de tratar é comum na narrativa de João17 e sugere que Jesus
nos fala de algo que vai além da piedade filial; o que ele ensina é a adoção de um amor
capaz de fortalecer os laços da família universal, não deve haver mais uma distinção que
leve em conta os familiares de sangue, mas uma união de todos os filhos de Deus.
Maria surge então como uma “nova” Eva. Esta é segundo os textos do Antigo
Testamento a mãe de todos os viventes18, Maria seria a Mãe de toda a humanidade
convertida a Cristo.
Do mesmo modo que Paulo refere-se a Cristo como o segundo Adão, ou o último
Adão19, Maria seria a segunda Eva. Se a primeira induziu a humanidade à queda por
meio da influência negativa da Serpente, a segunda nos leva à redenção atendendo um
convite também mediúnico, o que o anjo fez para que acolhesse Jesus como filho.
No primeiro caso temos uma mediunidade desequilibrada, no segundo santificada pela
fidelidade a Deus; no primeiro a indução à desobediência, no segundo a submissão a um
programa do Alto.
                                Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra! 20
Maria seria, assim, uma Eva sublimada.
Há outro texto no Gênesis que faz uma relação entre Eva e Maria que nos ajudará a
desenvolver nosso raciocínio. Trata-se do momento em que Deus, na linguagem
simbólica da literatura hebraica, adverte a Serpente:
                                Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu
                                descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. 21
Algumas traduções falam “entre a tua semente [da Serpente] e a sua semente” [da
mulher], entretanto o termo hebraico usado para semente é masculino. Como semente
neste caso tem o significado de descendência, em português pode-se usar a forma
masculina seu descendente.
A Serpente é símbolo do mal, as religiões viram-na como o “Diabo”, o Maligno. A
descendência da Serpente é assim toda sorte de erros cometidos pelo homem, fruto da
transgressão inicial induzida por ela mesma, a Serpente.
17
     Cf. João, 2: 4
18
     Gênesis, 3: 20
19
     1 Coríntios, 15: 45 a 47
20
     Lucas, 1: 38
21
     Gênesis, 3: 15




                                                                                                 11
CLÁUDIO FAJARDO


     Através desta transgressão foi rompida a Aliança do homem com seu Criador. Numa
     abordagem que não vamos aprofundar aqui por não ser o objetivo principal deste
     estudo, a Serpente representa os Espíritos desencarnados ainda arraigados no mal e que
     procuram distanciar o homem do Bem. Ela age por influência espiritual. No plano físico
     quem primeiro captou sua influência negativa foi Eva induzindo Adão à queda.
     Quem restabelecerá o elo de ligação do homem com Deus, que trará a ele a redenção é
     Jesus, o descendente de Maria.
     Assim, vemos Maria como o resgate de Eva, se através desta veio a queda, Maria nos
     proporciona através de sua maternidade a oportunidade da salvação.
     Neste sentido é que fazendo uma relação com o texto de Paulo aos coríntios, onde ele
     propõe Jesus como o segundo Adão, propusemos Maria como a “segunda” Eva.

     Maria e João. O Trabalho da Mãe Após o Desencarne do Filho
     Segundo a narrativa de João já citada neste estudo, após o momento da crucificação de
     Jesus, o Discípulo Amado, acolheu a mãe do Mestre em sua casa22.
     A literatura espírita confirma este acontecimento, porém diz que tal acolhimento não se
     deu imediatamente, mas algum tempo depois.
     Quem nos dá a notícia é o Espírito Humberto de Campos através da mediunidade do
     cândido Chico Xavier23.
     Segundo este autor espiritual, após a morte de seu filho Maria foi morar na Bataneia
     onde tinha alguns parentes próximos, na realidade familiares de José.
     Em Jerusalém o clima não estava bom, cristãos e judeus viviam em luta. Mesmo entre
     os próprios seguidores de Jesus haviam dissensões inadequadas; a Mãe de nosso Senhor
     precisava de um pouco de paz para se recuperar dos momentos dolorosos do calvário.
     Passado algum tempo, João, que nunca esquecera das observações de Jesus no momento
     da crucificação, aparece na Bataneia oferecendo à Mãe que aprendera a amar, o refugio
     amoroso de sua proteção24.
     Conta o apóstolo, que havia se instalado em Éfeso, Cidade da Lídia, na costa ocidental
     da Ásia Menor, onde as ideias cristãs ganhavam terreno entre as almas devotadas e
     sinceras.
     O filho de Zebedeu vinha buscá-la, andariam ambos na mesma associação de
     interesses espirituais. Seria seu filho desvelado…
     A demora em buscar a Mãe Santíssima se dera devido ao fato dele não ter ainda uma
     casa, mesmo que simples, para acomodá-la. Tendo agora resolvido esta questão graças à
     generosidade de um cristão que lhe doara uma casinha onde poderiam morar, viera
     rapidamente buscá-la, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal.
     Maria aceitou a oferta e se instalou junto de seu novo filho em Éfeso, e, além de cultivar
     as lembranças de Jesus, iniciaram importante trabalho de evangelização na região. Ela
     atendia em sua própria casa aos necessitados que lá iam em busca de consolo e até
     mesmo de cura de algumas enfermidades; ele por sua vez cuidava mais especificamente
     do esclarecimento evangélico comentando sobre os ensinamentos recebidos de Jesus.
     Narra Emmanuel25, que Paulo de Tarso visitou Maria nesta casinha singela e que ficou
     impressionado com a sua humildade. Desejou receber dela informações sobre Jesus de
     tal modo que pudesse escrever um Evangelho contando a história do Mestre e ampliar
     22
          Cf. João, 19: 27
     23
          XAVIER. F. C. / Humberto de Campos (Espírito)1982, cap. 30
     24
          Idem, Ibidem
     25
          XAVIER F. C. / Emmanuel (Espírito). Paulo e Estevão, 41ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 2004. Cap. 7




12
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


seus ensinamentos.
Paulo não pôde realizar este desejo, entretanto, encarregou a seu amigo de confiança,
Lucas, a tarefa de realizar o projeto de escrever um Evangelho com as informações
fornecidas pela mãe de Jesus.
Conta-nos ainda Emmanuel que na despedida de Paulo, em Éfeso, antes de seu martírio
em Jerusalém, Ela também, mesmo que em idade avançada, compareceu para levar
uma palavra de amor26 a este desbravador de corações em favor do Evangelho.
O trabalho em Éfeso cresce em grandes proporções o que obriga João a se ausentar
repetidas vezes da residência humilde deixando Maria muitas vezes só no atendimento
dos necessitados, ela já bem idosa não se cansa e trabalha ininterruptamente em favor
dos infelizes apascentando as ovelhas de Seu filho amado.
É Humberto de Campos27 quem nos informa que em seus momentos finais no corpo
cansado, fisicamente estava só, mas que o próprio Jesus veio buscá-la. Ela ao
reconhecê-lo, com imensa alegria fez menção em ajoelhar-se aos seus pés, ele a
impediu, e por sua vez foi quem ajoelhou nomeando-a conforme a vontade de Deus,
Rainha dos anjos no Reino do Eterno.
Maria desencarnou…

Maria no Plano Espiritual
O Espiritismo como ciência que estuda o plano físico e o homem, o plano espiritual e os
Espíritos que o compõem, e as relações entre os dois, pôde com autoridade nos informar
a respeito das atividades do nobre Espírito Maria no Plano Espiritual.
Sabemos que quanto mais o Espírito é evoluído, mais ele trabalha no Plano Maior da
Vida. Espíritos ainda materializados que somos, após o desencarne necessitamos de um
período de adaptação à nova vida, isto é comum a todos, e esta adaptação, segundo nos
informam os próprios Espíritos, tem o tempo maior ou menor de acordo com a condição
evolutiva moral e espiritual de cada um.
Na condição mediana em que nos encontramos, mostra-nos a literatura espírita a
necessidade de que o Espírito alterne momentos de trabalho com momentos de
descanso, pois tendo em seu corpo espiritual, ainda, elementos materiais, mesmo que
em outra dimensão, necessita de refazimento e recomposição energética. Todavia há
Espíritos que, de tão grande sua evolução, jamais descansam, trabalham
ininterruptamente.
Pelo que podemos depreender através de nossas reflexões este é o caso de Maria de
Nazaré, aquela escolhida pelo Pai para ser a mãe do Espírito mais nobre que nosso orbe
já conheceu.
No livro Boa Nova, no citado capítulo que narra sobre o seu desencarne temos que o
primeiro desejo da Mãe do Salvador após deixar o corpo físico foi rever a Galiléia com
os seus sítios preferidos28. Bastou desejar e lá estava ela revendo o lago de Genesaré e
toda sua bela paisagem.
Neste instante lembrou dos discípulos que eram já e este tempo perseguidos pela fúria
humana ainda dissociada do Bem, e desejou abraçá-los fortalecendo-os em suas lutas
íntimas. É que já acontecia por parte das autoridades do império romano as perseguições
aos seguidores de Jesus, perseguições estas que levavam os cristãos autênticos a grandes
sacrifícios em favor do Evangelho. Bastou esta expressão de sua vontade e rapidamente
26
     XAVIER F. C. / Emmanuel (Espírito) 2004, 2ª Parte, cap. 7.
27
     XAVIER F. C. / Humberto de Campos (Espírito) 1982. Cap. 30
28
     XAVIER F. C. /Humberto de Campos (Espírito), 1982, cap. 30




                                                                                 13
CLÁUDIO FAJARDO


     se viu em Roma onde nos cárceres do Esquilino centenas de seguidores de Seu Filho
     sofriam terríveis constrangimentos.
     Narra Humberto de Campos que imediatamente os condenados experimentaram no
     coração um consolo desconhecido.
     E continuando a narrativa informa-nos o cronista do Mundo Invisível:
                                Maria se aproximou de um a um, participou de suas angústias e orou
                                com as suas preces, cheias de sofrimento e confiança. Sentiu-se mãe
                                daquela assembleia de torturados pela injustiça do mundo. Espalhou
                                a claridade misericordiosa de seu Espírito entre aquelas fisionomias
                                pálidas e tristes.
                                Eram anciães que confiavam no Cristo, mulheres que por ele haviam
                                desprezado o conforto do lar, jovens que depunham no Evangelho do
                                Reino toda a sua esperança. Maria aliviou-lhes o coração e, antes de
                                partir, sinceramente desejou deixar-lhes nos espíritos abatidos uma
                                lembrança perene. Que possuía para lhes dar? Deveria suplicar a
                                Deus para eles a liberdade?! Mas, Jesus ensinara que com ele todo
                                jugo é suave e todo fardo seria leve, parecendo-lhe melhor a
                                escravidão com Deus do que a falsa liberdade nos desvãos do mundo.
                                Recordou que seu filho deixara a força da oração como um poder
                                incontrastável entre os discípulos amados. Então, rogou ao Céu que
                                lhe desse a possibilidade de deixar entre os cristãos oprimidos a força
                                da alegria. Foi quando, aproximando-se de uma jovem encarcerada,
                                de rosto descarnado e macilento, lhe disse ao ouvido:
                                — “Canta, minha filha! Tenhamos bom ânimo!… Convertamos as
                                nossas dores da Terra em alegrias para o Céu!…”
                                A triste prisioneira nunca saberia compreender o porquê da
                                emotividade que lhe fez vibrar subitamente o coração. De olhos
                                extáticos, contemplando o firmamento luminoso, através das grades
                                poderosas, ignorando a razão de sua alegria, cantou um hino de
                                profundo e enternecido amor a Jesus, em que traduzia sua gratidão
                                pelas dores que lhe eram enviadas, transformando todas as suas
                                amarguras em consoladoras rimas de júbilo e esperança. Daí a
                                instantes, seu canto melodioso era acompanhado pelas centenas de
                                vozes dos que choravam no cárcere, aguardando o glorioso
                                testemunho.
     Acrescenta ainda o autor espiritual que:
                                Logo, a caravana majestosa conduziu ao Reino do Mestre a bendita
                                entre as mulheres e, desde esse dia, nos tormentos mais duros, os
                                discípulos de Jesus têm cantado na Terra, exprimindo o seu bom
                                ânimo e a sua alegria, guardando a suave herança de nossa Mãe
                                Santíssima.29
     Notamos assim, que desde o primeiro momento no Plano Espiritual
     Maria, já consciente, trabalha e intercede pelos sofredores buscando
     aliviá-los de suas dores e angústias, sejam elas de natureza física ou
     espiritual.
     Há belíssimo poema de Maria Dolores que conta-nos com todo lirismo o socorro de
     Maria ao Espírito Judas Iscariotes em momentos que este sofria grave crise de
     consciência.
     Citamo-lo a seguir:
     29
          XAVIER F. C. /Humberto de Campos (Espírito), 1982, cap. 30.




14
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


RETRATO DE MÃE

Depois de muito tempo,
Sobre os quadros sombrios do Calvário,
Judas, cego no Além, errava solitário…
Era triste a paisagem,
O céu era nevoento…
Cansado de remorso e sofrimento,
Sentara-se a chorar…
Nisso, nobre mulher de Planos superiores,
Nimbada de celestes esplendores,
Que ele não conseguia divisar,
Chega e afaga a cabeça do infeliz.
Em seguida, num tom de carinho profundo,
Quase que, em oração, ela lhe diz:
— Meu filho, por que choras?
Acaso, não sabeis? — replica o interpelado,
Claramente agressivo,
Sou um morto e estou vivo.
Matei-me e novamente estou de pé,
Sem consolo, sem lar, sem amor e sem fé…
Não ouvistes falar em Judas, o traidor?
Sou eu que aniquilei a vida do Senhor…
A princípio, julguei
Poder faze-lo rei,
Mas apenas lhe impus
Sacrifício, martírio, sangue e cruz.
E em flagelo e aflição
Eis a que a minha vida agora se reduz…
Afastai-vos de mim,
Deixai-me padecer neste inferno sem fim…
Nada me pergunteis, retirai-vos senhora,
Nada sabeis da mágoa que me agita,
Nunca penetrareis minha dor infinita…
O assunto que lastimo é unicamente meu…
No entanto, a dama calma respondeu:
— Meu filho, sei que sofres, sei que lutas,
Sei a dor que te causa o remorso que escutas,




                                               15
CLÁUDIO FAJARDO


                       Venho apenas falar-te
                       Que Deus é sempre amor em toda parte..
                       E acrescentou serena:
                       — A Bondade do Céu jamais condena;
                       Venho por mãe a ti, buscando um filho amado.
                       Sofre com paciência a dor e a prova;
                       Terás, em breve, uma existência nova…
                       Não te sintas sozinho ou desprezado.
                       Judas interrompeu-a e bradou, rude e pasmo:
                       — Mãe? Não me venhais aqui com mentira e
                       sarcasmo.
                       Depois de me enforcar num galho de figueira,
                       Para acordar na dor,
                       Sem mais poder fugir à vida verdadeira,
                       Fui procurar consolo e força de viver
                       Ao pé da pobre mãe que me forjara o ser!…
                       Ela me viu chorando e escutou meus lamentos,
                       Mas teve medo de meus sofrimentos.
                       Expulsou-me a esconjuros,
                       Chamou-me monstro, por sinal,
                       Disse que eu era
                       Unicamente o Espírito do mal;
                       Intimou-me a terrível retrocesso,
                       Mandando que apressasse o meu regresso
                       Para a zona infernal, de onde, por certo, eu vinha…
                       Ah! detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha…
                       Não me faleis de mães, não me faleis de amor,
                       Sou apenas um monstro sofredor…
                       — Inda assim — disse a dama docemente —
                       Por mais que me recuses, não me altero;
                       Amo-te, filho meu, amo-te e quero
                       Ver-te, de novo, a vida
                       Maravilhosamente revestida
                       De paz e luz, de fé e elevação…
                       Virás comigo à Terra,
                       Perderás, pouco a pouco, o ânimo violento,
                       Terás o coração
                       Nas águas de bendito esquecimento.




16
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


                           Numa nova existência de esperança,
                           Levar-te-ei comigo
                           A remansoso abrigo,
                           Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!…
                           E Judas, nesse instante,
                           Como quem olvidasse a própria dor gigante
                           Ou como quem se desagarra
                           De pesadelo atroz,
                           Perguntou: — quem sois vós?
                           Que me falais assim, sabendo-me traidor?
                           Sois divina mulher, irradiando amor
                           Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!…
                           No entanto, ela a fitá-lo, frente a frente,
                           Respondeu simplesmente:
                           —Meu filho, eu sou Maria, sou a mãe de Jesus.30

Maria dirige no Plano Espiritual várias organizações de socorro aos necessitados. No
livro Memórias de um Suicida31 de autoria do Espírito Camilo Castelo Branco através da
médium Yvonne do Amaral Pereira, é-nos relatado o socorro realizado aos Espíritos que
praticaram o autoextermínio pela Legião dos Servos de Maria.
Trata-se de uma Legião de Espíritos dirigidos pelo Nobre Espírito Maria que tem por
finalidade socorrer aqueles que abreviaram voluntariamente a sua vida e por isso
padecem atrozes dores no Mundo Espiritual. Há entre os servidores da Mãe do Senhor
disciplina e amor no auxílio a estes que sem dúvida são grandes necessitados de socorro
espiritual.
Dá-nos a conhecer ainda, este autor espiritual português, outras organizações chefiadas
por este angelical Espírito como o Hospital Maria de Nazaré e a Mansão da Esperança.
Outras citações poderíamos fazer para falar do trabalho da Rosa de Nazaré no Mundo
do Espírito, entretanto, para encerrar estas singelas linhas sobre seu trabalho no sentido
de apascentar as ovelhas de Seu Filho amado gostaríamos apenas de citar a referência de
André Luiz àqueles que em prece pedem o socorro da Senhora dos Anjos para o alívio
de seu coração.
Narra-nos este querido mentor estudando os processos de intercessão no Mundo da
Verdade que certa matrona chorava com paciência e de joelhos diante de seu oratório
particular quando seu orientador sugeriu-o acompanhar as vibrações mentais da irmã em
súplica:
                           (…) postar-nos-emos na retaguarda, de modo a não a incomodar com
                           a nossa presença. E, envolvendo-a nas vibrações de nossa simpatia,
                           assimilar-lhe-emos a faixa mental, percebendo, com clareza, as
                           imagens que ela cria em seu processo pessoal de oração.
                           Obedecemos maquinalmente e, de minha vez, à medida que
                           concentrava a atenção naquela cabeça grisalha e pendente, mais se
30
     XAVIER F. C. / Espíritos diversos. Momentos de Ouro, São Bernardo do Campo, GEEM, 1977 cap. 3
31
     PEREIRA, Yvonne do Amaral. Memórias de um Suicida, Rio de Janeiro, FEB, 1955




                                                                                          17
CLÁUDIO FAJARDO


                                 alterava o estreito espaço do nicho aos meus olhos...
                                 Pouco a pouco, qual se emergisse da parede lirial, linda tela se me
                                 desdobra à visão, tomada de espanto. Era a reprodução viva da
                                 formosa escultura de Teixeira Lopes32 , representando a Mãe
                                 Santíssima chorando o Divino Filho morto... E as frases inarticuladas
                                 da veneranda irmã em prece ressoavam-me nos ouvidos:
                                 - "Mãe Santíssima, Divina Senhora da Piedade, compadece-te de
                                 meus filhos que vagueiam nas trevas!... Por amor de teu filho
                                 sacrificado na cruz, ajuda-me o espírito sofredor para que eu possa
                                 ajudá-los...
                                 Bem sei que por sinistro apego às posses materiais, não vacilaram em
                                 abraçar o crime.
                                 Em verdade, Senhora, são eles homicidas infortunados que a justiça
                                 terrestre não conheceu... Por isso mesmo, padecem com mais
                                 intensidade o drama das próprias consciências, enleadas à culpa...”
                                 Nesse ponto da petição, Silas tocou-nos, de leve, os ombros,
                                 convidando-nos ao ensinamento devido e explicou:
                                 - É uma pobre mãe desencarnada que roga pelos filhos transviados
                                 nas sombras.
                                 Invoca a proteção de nossa Mãe Santíssima, sob a representação de
                                 Senhora da Piedade, segundo a fé que o seu coração pode, por
                                 enquanto, albergar, no âmbito das recordações trazidas do mundo...
                                 - Isso quer dizer que a imagem de nossa visão...
                                 Esta observação ficou, porém, no ar, porque Silas completou, presto:
                                 - É uma criação dela mesma, reflexo dos próprios pensamentos com
                                 que tece a rogativa, pensamentos esses que se ajustam à matéria
                                 sensível do nicho, plasmando a imagem colorida e vibrante que lhe
                                 corresponde aos desejos.
                                 E respondendo automaticamente às indagações que o problema nos
                                 sugeria, continuou:
                                 - Isso, contudo, não significa que a prece esteja sendo respondida por
                                 ela mesma. Petições semelhantes a esta elevam-se a planos superiores
                                 e aí são acolhidas pelos emissários da Virgem de Nazaré, a fim de
                                 serem examinadas e atendidas, conforme o critério da verdadeira
                                 sabedoria.33

     A Hora do Ângelus
     Há entre os encarnados, principalmente os que adotam a fé católica, um importante
     momento do dia - às dezoito horas, quando a suavidade do início da noite sugere
     momentos de reflexão - em que têm o hábito de reverenciar a Mãe das mães.
     A literatura espírita através da mediunidade de Yvonne do Amaral Pereira34 nos sugere
     que esta reverência é fruto de um reflexo do Plano Maior já que na Espiritualidade
     muitos Espíritos também reverenciam a Santa de Nazaré neste mesmo horário.
     Conta-nos Camilo Castelo Branco que:
     32
          António Teixeira Lopes, notável escultor português. (Nota do Autor espiritual.)
     33
          XAVIER, Francisco C./André Luiz. Ação e Reação, 6a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978, cap. 11
     34
          Cf (PEREIRA 1955), 3ª Parte cap. 2




18
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


                       Do templo, situado na Mansão da Harmonia, região onde se
                       demoravam com freqüência os diretores e educadores da Colônia,
                       partia o convite às homenagens que, naquele momento, seria de bom
                       aviso prestarmos à Protetora da Legião a que pertencíamos todos –
                       Maria de Nazaré.
                       Pelos recantos mais sombrios da Colônia ressoavam então doces
                       acordes, melodias suavíssimas, entoadas pelos vigilantes. Era o
                       momento em que a direção geral rendia graças ao Eterno pelos
                       favores concedidos a quantos viviam sob o abrigo generoso daquele
                       reduto de corrigendas, bendizendo a solicitude incansável do Bom
                       Pastor em torno das ovelhinhas rebeldes, tuteladas da Legião de sua
                       Mãe amorável e piedosa.
A narrativa continua na obra citada. Para nós importa comentar apenas que devido ao
grande número de Espíritos encarnados e desencarnados envolvidos na prece neste
mesmo momento, todos com a mente voltada para uma espiritualidade edificante, cria-
se no planeta uma excelente vibração onde os Espíritos trabalhadores da Seara do Cristo
encontram subsídios para realizar trabalhos inimagináveis para a mente do homem
comum.
Assim, se possível, entremos nesta vibração coletiva do Bem buscando pela prece
trabalhar em favor de nossos irmãos mais necessitados; sabedores que, no comando
desta poderosa corrente está a Rosa Mística de Nazaré intercedendo perante Seu Filho, o
Governador Espiritual do Orbe, por todos agregados a esta luminosa correnteza
construtora da Ordem Universal.




                                                                                    19
CLÁUDIO FAJARDO




II Parte

Maria a Educadora de Jesus
Sobre este assunto há algumas reflexões que devem ser feitas.
Jesus precisava ser educado? Precisava que alguém lhe ensinasse alguma coisa ou já
sabia tudo?
Este é mais um desafio em nossa tarefa de compreender o Mestre maior. Sinceramente
penso que não há como responder estas e outras questões a respeito com certeza, é mais
uma área em que o que falarmos não passa de opinião pessoal.
Jesus é a maior expressão de amor que temos. Uma das maiores características daquele
que ama é a capacidade que este tem de adequação.
Portanto, Jesus ao vir a até nós adequou-se para que melhor pudesse cumprir sua
missão. Não haveria como ele nos ensinar algo se assim não tivesse feito.
Assim, para que pudesse ter autoridade fez-se como habitante comum de nosso orbe,
restringiu-se para que melhor pudesse servir. Pelo que depreendemos de nossos estudos
trata-se de uma restrição que fez de forma consciente e espontânea, e não por
imposição. O que significa que a qualquer momento que quisesse poderia retomar suas
possibilidades.
Assim, tinha um corpo semelhante ao nosso, não fluídico como chegaram a supor,
entretanto era um corpo mais perfeito que o habitual dos habitantes de nosso orbe. Ele
não adoecia, tinha uma memória profunda, podia se tornar visível e invisível quando
quisesse etc.
Compreendemos então, que Jesus foi um menino como qualquer outro, teve infância,
adolescência e tudo mais, todavia foi especial porque era especial, tinha uma evolução
espiritual que nos escapa.
Deste modo era natural alguém lhe ensinar as primeiras lições, todavia este aprendizado
era mais que uma recordação, ele sabia em seu coração e em seu espírito. Era apenas um
despertar.
Dizem os que estudam a respeito de educação que educar é tirar do educando aquilo que
ele já possui, e com Jesus isto foi ainda muito mais claro, ela já possuía todas as
virtudes.
Educar uma criança é tarefa complexa, talvez seja a mais importante e difícil que temos,
imagine então, ter a missão de educar Jesus.
Ele surpreendia seus pais a toda hora. Talvez a maior missão destes era realmente não
atrapalhar o seu desenvolvimento, e podemos dizer com segurança, que apenas isto, não
atrapalhar, já era uma missão desafiadora.
Narra-nos o evangelista, que Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante
de Deus e diante dos homens.35
É de grande profundidade esta citação. Mostra-nos que Jesus fora uma criança que
cresceu naturalmente como qualquer outra e que isso aconteceu aos olhos de todos com
quem convivia. Que ele recebia informações, porém não as guardava somente no campo
intelectual, as transformava em sabedoria pela aplicação do que “aprendia”. E isto fazia
de maneira completa, diante de Deus, observando a sua Lei, e diante dos homens
convivendo com todos, auxiliando, compreendendo, aproximando cada um do Pai, o
que Ele sabia ser uma necessidade de todos.
35
     Lucas, 2: 52
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


Kardec nos ensinou que educação é a arte de formar os caracteres36, o que ele definiu
como educação moral. Esta é a que todos precisamos, é o maior objetivo para vida de
cada um. Podemos afirmar com segurança que sob esta ótica Jesus foi um emérito
educador desde criança.
Não foi o que ele fez quando aos doze anos foi encontrado por seus pais entre os
doutores no Templo? Não foi o que, invertendo os papeis, fez com José e Maria quando
os levou à reflexão dizendo: Não sabeis que devo me ocupar com as coisas de meu
Pai?37
*****
Humberto de Campos, este excelente repórter do Mundo Invisível nos conta que:
                            Desde os mais tenros anos, quando [Maria] o conduzia [Jesus] à
                            fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que
                            dispensava a todas as criaturas. Frequentemente, ia buscá-lo nas
                            ruas empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os
                            transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinham a
                            sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as
                            bênçãos do Céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados
                            que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!…
                            Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois
                            malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale de
                            Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto
                            pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos. 38
Desculpem-nos repetir, mas é importante para nossas reflexões, como deve ter sido
desafiadora a tarefa de Maria de educar um filho que desde criança era um sensacional
educador…
Normalmente os pais transmitem a seus filhos seus traumas particulares, suas angústias,
seus fracassos, seus medos. Teria Maria estes sentimentos? Teria ela passado isto para
Jesus?
À primeira pergunta podemos responder que é bem provável que teria, ela era uma mãe
genial, todavia não estava isenta de conflitos como podemos notar na literatura que
temos analisado. Quanto à segunda, é mais difícil de saber a resposta, talvez em alguns
momentos tenha até se mostrado apreensiva diante de seu filho, porém é certo que ela
sabia e bem administrar suas emoções, o que é uma das tarefas mais complexas para o
homem comum e que mais distinguem aqueles que se destacam na arte de educar.
Retomaremos este assunto mais adiante.
Temos feito algumas colocações baseadas em alguma literatura consultada, mas
principalmente nas anotações dos evangelistas. E a partir destas reflexões chegamos à
conclusão que Maria não era nem insegura e nem superprotetora, dois sentimentos,
diga-se de passagem, que perturbam e muito o processo educacional, era intrépida e
destemida. Por que assim dizemos?
A insegurança na educação gera a superproteção, ambas são consequências do temor, do
receio diante do perigo; a mãe de Jesus podia, como já dissemos, ter tido alguns
momentos de apreensão, todavia não era sua característica o medo.
Além da passagem da crucificação de Jesus, já citada, há outras que podem nos ajudar
36
      KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 1980, questão 685,
     comentários.
37
     Lucas, 2: 49
38
     (XAVIER/Humberto de Campos 1982), Cap. 30
CLÁUDIO FAJARDO


nesta conclusão.
Infelizmente como é rara a literatura a respeito e o próprio Evangelho fala pouco sobre
ela, às vezes depreendemos nossas conclusões a partir das atitudes de Jesus.
Quem é educado num ambiente de superproteção raramente se sai bem diante dos
desafios da vida. As primeiras adversidades têm a função de preparar a criatura para
adversidades maiores que virão, ninguém pode evitá-las; nem a mãe pode, nem mesmo
nenhum educador. Como o organismo que reage positivamente a uma enfermidade
através de seu mecanismo de defesa, e assim é fortalecido seu sistema imunológico, as
contrariedades fortalecem o nosso Espírito para os desafios que a vida nos propõe como
num processo de recomposição de nossa estrutura íntima.
Se Maria fosse insegura e superprotetora jamais Jesus conseguiria dar bom termo à sua
missão. Ela deve ter incentivado-o desde criança a superar todos os obstáculos, a jamais
temê-los. Se ela desde a infância não o ensinasse a perseverança, a nunca desistir de
seus objetivos, a terminar tudo o que começou, é bem provável que ele no momento
supremo, o da crucificação, desistisse e realmente apelasse para que o Pai enviasse mais
de doze legiões de anjos39 para socorrê-lo.
Aqui é importante lembrar que Jesus enfrentava as situações, as classes dominantes, a
hipocrisia, o falso moralismo, tocava em pontos de alta significação para a alma, numa
sociedade presa a antigas tradições e que punia severamente quem os contrariava. Em
síntese Jesus tinha grande coragem e se é lógico que isso era fruto de sua evolução
espiritual, não é menos verdade que sua educação deve ter contribuído para esta
realidade.

*****

Vejamos a grandeza da Mãe de nosso Senhor e a segurança com que agia analisando seu
comportamento num momento que seria de tensão para qualquer um, o anúncio de que
seria a mãe do Filho do Altíssimo.
Um anjo fez esta revelação para Maria, ela seria mãe do Messias. Só isto já bastaria para
deixar qualquer um apreensivo.
O povo hebreu esperava um Messias há muitos séculos, ele seria o libertador dos
seguidores de Moisés, reunificaria as doze tribos e faria de Israel a maior entre todas as
nações.
Vivia-se um período de conflitos, o império romano dominava a nação judaica, e o povo
de Israel desejava ardentemente alguém que revertesse esta situação. Muitos àquele
tempo diziam ser o Messias, ele era aguardado ansiosamente…
Por que ser ele filho de uma mulher tão simples? Deve ter pensado, Ele poderia ser filho
de um sumo sacerdote, de um rei, de alguém realmente preparado para lhe dar melhores
condições. Ela deve ter tido vários conflitos a respeito. Deve ter perdido várias noites de
sono se perguntando como educar o menino, um verdadeiro Filho de Deus. E se ela
falhasse, atrapalharia os planos do Todo Poderoso? Deus tem seus mistérios e Maria
tudo refletia em seu coração.
Nós gostaríamos de analisar dois aspectos na passagem do anúncio do anjo a Maria,
comparando–a a um anúncio semelhante feito pela mesma entidade espiritual a
Zacarias, aquele que seria o pai de João Batista. Quem narra é Lucas:

Anúncio a Zacarias
39
     Cf. Mateus, 26: 53
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


                         Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado
                         Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e
                         o seu nome era Isabel. 6 E eram ambos justos perante Deus, andando
                         sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7 E
                         não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados
                         em idade. 8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de
                         Deus, na ordem da sua turma, 9 Segundo o costume sacerdotal,
                         coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o
                         incenso. 10 E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do
                         incenso. 11 E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita
                         do altar do incenso. 12 E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor
                         sobre ele. 13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua
                         oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe
                         porás o nome de João. 14 E terás prazer e alegria, e muitos se
                         alegrarão no seu nascimento, 15 Porque será grande diante do
                         Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito
                         Santo, já desde o ventre de sua mãe. 16 E converterá muitos dos filhos
                         de Israel ao SENHOR seu Deus, 17 E irá adiante dele no espírito e
                         virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os
                         rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um
                         povo bem disposto. 18 Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei
                         isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade. 19 E,
                         respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de
                         Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas. 40
O Anúncio a Maria
                         No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma
                         cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com
                         certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem
                         chamava-se Maria. 28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse:
                         Alegra-te, cheia de graça! O Senhor é contigo. 29 Ela, porém, ao
                         ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que
                         significaria esta saudação. 30 Mas o anjo lhe disse: Maria, não
                         temas; porque achaste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e
                         darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. 32 Este
                         será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe
                         dará o trono de Davi, seu pai; 33 ele reinará para sempre sobre a
                         casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. 34 Então, disse Maria ao
                         anjo: Como será isto, se eu não conheço homem algum?41
É nas reações que percebemos o estágio evolutivo de um Espírito, assim vamos analisar
apenas as reações de nossos personagens:
Ao ser abordado pelo anjo, narra o evangelista que Zacarias turbou-se, e caiu temor
sobre ele. E após Gabriel, o anjo, lhe falar sobre a gravidez de Isabel, sua esposa, e
sobre a evolução do Espírito que viria ao mundo como enviado de Deus, através deles,
Zacarias inquiriu: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada
em idade.
Com Maria se deu um pouco diferente.
O mesmo Espírito, Gabriel, lhe apareceu e saudou-a. Conta-nos Lucas que ela ao ouvir
a saudação, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Do
40
     Lucas, 1: 5 a 19
41
     Lucas, 1: 26 a 34
CLÁUDIO FAJARDO


mesmo modo que com Zacarias, ele explicou que ela iria dar à luz um filho e que ele
seria chamado Filho do Altíssimo e ainda comentou sobre os prodígios que ele faria. Ela
reagiu dizendo: Como será isto, se eu não conheço homem algum?
Antes de entrar propriamente na análise do comportamento dos dois, é importante saber
um pouco sobre quem eram e em qual ambiente receberam a mensagem da
Espiritualidade Superior.
Zacarias era um sacerdote, ou seja, trabalhava no templo, era pessoa que cultivava as
questões espirituais e estudava a Torah. E não só isso, segundo o texto evangélico era
considerado um justo, e além de estudar, seguia de modo irrepreensível os
mandamentos e estatutos de Deus. Informa-nos ainda Lucas, que era de idade avançada,
o que significa que tinha amadurecimento.
Em que ambiente estava quando recebeu a mensagem? No templo, no Santuário do
Senhor; realizava o ofício de queimar o incenso. Podemos dizer em linguagem moderna
e espírita, que estava num serviço espiritual em comunhão com os Espíritos e diz o texto
evangélico que as pessoas que o aguardavam do lado de fora estavam em oração. É
como se ele estivesse numa mesa mediúnica, e os que estavam na assistência orassem
mantendo a vibração e auxiliando-o em seus trabalhos.
Neste ambiente de vibrações elevadas, e sendo ele já experiente no serviço e de moral
elevada, seria muito natural uma manifestação espiritual como a que aconteceu, mesmo
assim, apesar de todo o seu preparo e também do ambiente, quando a manifestação
aconteceu ele teve medo: caiu temor sobre ele. E teve mais, ele ficou cético, não
acreditou no que o anjo lhe falava e pediu um sinal, uma prova: Como saberei isto?
Maria por sua vez era uma adolescente. Não sabemos bem a sua idade, mas muito
provavelmente tinha entre doze e quatorze anos. Ou seja, pelo menos em matéria de
idade não tinha grande amadurecimento e preparo. O evangelista não diz onde ela
estava, mas provavelmente estava em casa, onde habitualmente não é comum a
manifestação de Espíritos. Mesmo assim o anjo se manifesta, era natural que ela
também se perturbasse, e foi o que aconteceu. Entretanto, o redator bíblico nos informa
que ela pôs-se a pensar no que significaria esta saudação, o que podemos depreender
que apesar da perturbação ter sido grande, diz o texto que perturbou-se muito, ela
equilibrou-se rápido pois exerceu uma ação que só quem está senhor de si assim faz,
pôs-se a pensar. No momento do susto, quem está sob o impacto do medo não pensa,
reage simplesmente. Ela teve tranquilidade, oxigenou o cérebro, e buscou compreender
o porquê daquela saudação. Como era natural, o anjo a orientou que não temesse, o
mesmo já havia acontecido com o marido de sua prima, todavia ela surpreendeu até
mesmo o Mensageiro do Senhor, pois o texto não fala que ela temeu, e após a exposição
de Gabriel sobre a gravidez maravilhosa por que ela passaria, o que seria mais um
motivo de apreensão, ela ao contrário de Zacarias, creu imediatamente, e se inquiriu o
anjo a respeito não foi pedindo-lhe provas, mas buscando entender como se daria o
processo já que não tivera relações com nenhum homem.
O texto é claro: Como será isto, se eu não conheço homem algum? A partir do momento
em que ela pergunta como será isto…? É porque já admitia o fato, sua fé já lhe
abastecera, porém ela quis saber mais já que não tivera contato sexual com seu noivo.
Podemos com segurança dizer que o que Maria teve foi muita lucidez e naquele
momento ela praticou o que Kardec dezenove séculos depois chamaria de fé
raciocinada, ela não creu de forma cega, mas tendo a confiança superior, raciocinou,
inquiriu e aprofundou seu estado intuitivo. Mostrou que já tinha vindo preparada para
sua missão e que era um Espírito superior, acima da média, até mesmo de Zacarias que
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


também fora preparado no plano espiritual, que também era de boa condição moral, mas
em quem o nível de esquecimento era maior devido sua menor condição em relação a
Maria.
E consumando sua atitude de fé, pois como falaria mais tarde Tiago, a fé, se não tiver as
obras, é morta em si mesma42., pôs-se a serviço em nome de Deus dando para todos nós
significativo exemplo: Eu sou a serva do Senhor; faça em mim segundo a tua palavra.43

Administrando as Emoções
Augusto Cury, em seu livro “Maria, a Maior Educadora da História” defende a idéia
de que um dos motivos de Maria ter sido tão bem sucedida em sua tarefa de educar o
menino Jesus, é porque ela sabia, e muito bem, proteger a sua emoção; ela fazia questão
de ensinar a seu filho esta arte.
Faz ele interessante raciocínio:
                            Respeitados educadores ensinam os jovens a ter cuidado com seus
                            objetos, não destruir seus materiais didáticos, não manchar suas
                            roupas e a cuidar de seu corpo evitando acidentes e tendo higiene
                            pessoal. Mas esquecem de ensiná-los a proteger o mais difícil espaço
                            do ser humano, a sua emoção.44
Continua o autor na sequencia:
                            Quem não aprender a proteger a sua emoção pode até conquistar o
                            mundo, mas será sempre infeliz; pode ser aplaudido, mas será sempre
                            opaco; pode comprar todo tipo de seguro, mas será sempre frágil.
Todos nós que habitamos um planeta de expiações e provas, e principalmente nestes
dias de transição, temos motivos para nos tornarmos tristes, depressivos, angustiados,
preocupados e até mesmo contrariados. Entretanto, importa-nos reconhecer que Maria
teve motivos ainda muito maiores que os nossos.
Conforme narram os evangelistas, teve uma gravidez incompreensível para a
mentalidade comum, isto gerou nela, em seu noivo, e em toda sua família, sérias
apreensões. Após o menino nascer envolto em mistérios, teve que deixar sua cidade, sua
zona de conforto, o calor dos familiares, e partir para um novo país, sem saber por
quanto tempo, em que condições lá viveria, com quais recursos, etc. Sua sensibilidade
era grande, pois quanto mais o Espírito é evoluído, mais é sensível; assim, deve ter
muito sofrido com a perseguição de Herodes aos inocentes por causa de seu filho. Tudo
isso devia ser para ela e para os seus, motivo de grandes pressões psíquicas; não
esqueçamos ela era uma adolescente, e estava num dos momentos de maior
sensibilidade para uma mulher, o período pós parto.
Como será que reagiríamos numa situação destas? Por muito menos nós nos tornamos
angustiados, depressivos, inconformados e paralisamos todo processo criativo em nossa
vida. Qual a diferença entre nossas posições e a de Maria? Simplesmente de atitude.
Maria sabia administrar seus conflitos, gerenciar suas emoções.
Em momento anterior neste nosso estudo fizemos uma breve comparação entre Maria e
Eva, aqui podemos ampliá-la. Através do sentimento de Eva entramos em queda por ser
ela a representação de um sentimento dissociado da razão. Maria por representar a
42
     Tiago, 2: 17
43
     Lucas, 1: 38
44
      CURY, Augusto. Maria, a Maior Educadora da História. São Paulo, Ed. Planeta do Brasil, 2007, cap.
     6.
CLÁUDIO FAJARDO


sublimação de Eva, ensina-nos a usar o emocional e o racional em plena harmonia. Não
é um sobrepondo-se ao outro, não é a razão dando a palavra final, mas o perfeito
equilíbrio entre estes dois componentes tão importantes para o nosso progresso em
todos os níveis.
Neste passo podemos fazer mais uma importante reflexão. Não sabemos se Maria não
agisse desta forma, se poderia comprometer a missão de Jesus. Teoricamente sim, pois
se ela se tornasse uma inconformada, se ela trabalhasse um sentimento de autopiedade,
dificultaria sem dúvida o desenvolvimento de seu filho. Porém, como este
acontecimento - a vinda até nós de Jesus - foi o mais importante de nosso planeta, desde
a sua origem, o Pai não delegaria para esta missão quem tivesse a chance de falhar.
Todavia, o Evangelho não é uma telenovela ou um romance comum, é preciso trazer
para o nosso dia a dia as suas lições imortais.
Assim, é importante refletirmos, pois nós não sabemos quem o Pai colocou em nossa
vida como filho, qual a missão de cada um deles. A mãe de um futuro presidente de uma
nação não sabe o que ele será quando criança, o mesmo podemos dizer em relação a um
grande cientista, ou, a um importante educador. Será que não estamos atrapalhando o
projeto de Deus ao agirmos de forma tão destemperada como em muitas vezes fazemos?
Não estaremos dificultando a vida de nossos filhos sendo inconformados, ensinando-os
com a vida prática a não perdoarem quando contrariados, a serem violentos e
irracionais?
São pontos a serem trabalhados por todo aquele que já está cônscio de sua necessidade
reeducativa e da importância de agir como um colaborador de Deus.
Voltando ao citado escritor e psicoterapeuta, Augusto Cury, na obra já aqui comentada,
ele sugere-nos três ferramentas para trabalharmos em nossa vida, e para ensinarmos aos
nossos educandos - pois não tenhamos dúvida todos somos, em maior ou menor escala,
educadores - a fim de evitarmos transtornos depressivos, suicídios, enfermidades
psíquicas e perda de oportunidades. São elas:
       • Doar-se sem esperar muito do outro.
       • Compreender o outro na sua dimensão interior.
       • Saber que ninguém pode dar o que não tem.
Sem dúvida são três princípios de grande importância para todos nós e que se os
praticássemos diminuiríamos e muito nossas dores e dissabores.
Temos muitas vezes dito e ouvido que Deus nos criou para amar e sermos amados. É
preciso repensar esta informação e analisá-la com carinho.
Ao nosso ver ela é em parte verdade, mas há nela um pouco de contaminação de nossa
psicologia inferior.
Sim, fomos criados para amar. Deus é amor. A matéria prima da criação é amor. Assim,
se quisermos estar ajustados a Deus, caminhar no fluxo natural da vida de acordo com a
Vontade Soberana e sermos agraciados por sua Misericórdia, temos de amar, pois este é
o “idioma” de Deus, é através dele que nos comunicamos com o Criador.
Entretanto, a segunda parte da afirmativa “ser amado” deve ser observada de forma
diferente. Não fomos criados para sermos amados como uma pré-condição básica. Ser
amado é efeito, consequência, retorno. A causa é amar, se amarmos seremos
naturalmente amados. Isto se dará sem nenhuma ansiedade, espontaneamente. É da Lei,
e ela se cumprirá sempre.
Esta questão mal compreendida é que dificulta trabalhar em nós a primeira ferramenta,
pois até admitimos que devemos doar, até nos sentimos satisfeitos por assim proceder,
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


porém não abrimos mão de esperarmos retorno, temos o grande defeito de criarmos
expectativas e esse é o problema. Se não criássemos expectativa em relação ao outro
noventa por cento de nossas dificuldades de convivência estariam resolvidas.
Vamos trabalhar a terceira ferramenta, saber que ninguém pode dar o que não tem, junto
com a primeira, pois em nosso modo de ver ela é um acessório desta. Quem não espera
muito do outro, sabe que ele só pode dar o que tem, uma virtude maior contém
naturalmente uma menor. Ou ainda, a vivência da terceira ferramenta, leva naturalmente
à primeira.
Aqui nos permitimos uma ressalva muito bem colocada pelo Espírito André Luiz
através da mediunidade gloriosa de nosso querido Chico Xavier, a alegria é a única
coisa que podemos dar ao outro mesmo se não possuirmos.
Portanto, se ainda não conseguimos, como seria desejável, não esperar muito do outro,
iniciemos o processo de defender a nossa emoção pelo menos não pedindo a ninguém
algo que ele esteja incapaz de dar. Proceder deste modo não é ainda ser bom, mas é pelo
menos agir com inteligência, o que já é um grande passo para a conquista da sabedoria.
A outra ferramenta colocada por Cury e também de fundamental importância é
compreender o outro na sua dimensão interior.
Compreender o outro por si só é uma virtude de grande alcance e que evita muitas
contrariedades.
Perdoar é uma atitude nobre, compreender é ainda mais, pois aquele que
verdadeiramente compreende o outro não chega nem a sentir a ofensa, não tendo assim
o que perdoar.
Compreender é desativar os pontos de conflito, significa transitar com segurança na área
da emoção. E compreender o outro na sua dimensão interior torna-se ainda mais nobre,
pois além de enxergar o outro, o que não é habilidade comum entre nós, é se aperceber
do que está para além do visível, é também saber do outro em suas dimensões
emocionais, espirituais e sentimentais.
Só Espíritos de boa condição moral e espiritual têm esta capacidade, e fazendo deles
modelos a serem seguidos temos de ser obstinados em trabalharmos também nosso
interior na conquista deste valor.
E Augusto Cury ainda nos faz, na mesma obra e capítulo, importante consideração sobre
este tema: por trás de uma pessoa que fere, há uma pessoa ferida. Como a nos dizer:
“quando nos sentirmos atacados, ou agredidos por alguém, trabalhemos nossa acuidade
espiritual e enxerguemos nela não um agressor comum, alguém de má índole, mas um
enfermo necessitado de um médico para a sua alma”. E Jesus, o filho de Maria, já nos
alertara, o doente é que precisa de médico. Ele é o Médico dos médicos, e nós, seus
efetivos colaboradores na implantação de sua Boa Nova no coração de todos.
Tu me amas, ainda fala o Senhor na intimidade de nossos corações, então, apascenta as
minhas ovelhas. O que de outro modo pode significar: “educa as minhas ovelhas.”

Fé
Em uma missão espiritual não há como prescindir da fé. Ela é componente essencial
para que tudo aconteça como programado pelo Alto.
Já comentamos sobre esta virtude em Maria quando da assimilação do conteúdo da
revelação do anjo a ela explicando-lhe a concepção. Mas há outros momentos
importantes que não podem deixar de ser destacados e que nos ajudarão a compreender
o quanto esta missionária era preparada para realizar a tarefa mais desafiadora de todos
CLÁUDIO FAJARDO


os tempos, a de educar ninguém mais, ninguém menos, que o Governador Espiritual do
Orbe.
José e Maria cumpriam rigorosamente todos os preceitos judaicos. Circuncidaram o
menino no oitavo dia conforme mandava a lei, e ao completarem os dias da purificação
da mãe, o que ocorria trinta e três dias após45, levaram Jesus ao templo, em Jerusalém, a
fim de apresentá-lo ao Senhor46.
Lá encontraram um homem já idoso, chamado Simeão, que ao ver o menino, inspirado
realiza grande profecia. Entre outras coisas diz ele a Maria:
                            Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para
                            levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição
                            (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se
                            manifestem os pensamentos de muitos corações.47
Imaginemos a cena. Maria, acompanhada do marido e do filho, estava cansada de uma
viagem longa e feita com muitas dificuldades. Ela estava ainda no período do resguardo.
Deveria estar fraca e altamente sensível…
Apesar de Simeão exaltar a grandeza espiritual do menino sua profecia não foi nada
agradável. Ele, Jesus, estava destinado tanto para ruína como para levantamento de
muitos em Israel e para ser alvo de contradição.
Isto pressupunha uma vida de muitas apreensões, de dores e sofrimentos. A nação
judaica era rigorosa quanto à tradição religiosa.
O anjo havia dito que ele seria Rei, que herdaria o trono de Davi, talvez naquele
momento ela não tenha percebido que para atingir este fim ele teria uma vida de
conflitos, de lutas e de perigos. Agora aquele homem inspirado dizia que ele seria alvo
de contradições que elevaria alguns – o que se pressupõe eram os simples -, e que
também arruinaria muitos, e aqui podemos depreender que eram os da elite, os do poder.
E ainda diz mais, com referência ao sofrimento dela própria, uma espada traspassará a
tua própria alma.
Para quem era profunda conhecedora das Escrituras conforme vimos pelo Magnificat,
ela deve ter entendido na hora a que sacrifício estariam submetidos ela e seu filho.48
A profecia se cumpriu no tempo, mas no coração de Maria deve ter acontecido naquele
instante mesmo. Como suportaríamos uma situação desta? Se algo parecido acontecesse
conosco, isto não atrapalharia a educação de nosso filho?
Vejamos que são duas situações opostas que acontecem com ela; em qualquer delas
estaríamos em dificuldades e talvez comprometidos na realização da missão.
Primeiro o anjo lhe antecipa a vitória. Ela seria mãe do Filho de Deus, ele herdaria o
trono de Davi e reinaria para sempre. Tal informação poderia ser para ela, se não fosse
muito vigilante, pedra de tropeço, pois a vaidade poderia vir à tona e comprometer todo
o processo.
Depois Simeão lhe fala de lutas incessantes, até mesmo de um provável assassínio de
seu filho mostrando a ela que o final da história talvez fosse trágico.
Este nível de informações, até contraditórias, dependendo do ângulo em que as
analisarmos, não tenderiam a prejudicar a formação do menino, já que ela poderia tentar
mudar o seu destino?
45
     Levítico, 12: 4
46
     Lucas, 2: 22
47
     Lucas, 2: 34 e 35
48
     Cf. Zacarias, 12: 10
MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS


Se nós soubéssemos que o nosso filho iria passar por um processo de grande
dificuldade, de provável morte por incompreensão de muitos, mesmo que soubéssemos
que tudo isto era Desígnio do Altíssimo, o que faríamos? Ajudaríamos Deus em seu
projeto, ou tentaríamos evitar o “pior” para o nosso filho amado, mudando o seu
destino?
Dizemos assim, porque muitas vezes, mesmo não sendo numa questão tão grave quanto
esta, priorizamos para os nossos tutelados, uma boa escola, boas companhias, uma
profissão adequada, mas não visando seu crescimento espiritual e sim um futuro
promissor através de um emprego rentável, onde através de um salário alto pudesse
manter conforto e estabilidade material.
Falamos muito de espiritualidade, mas na maioria das vezes a segurança desejada
pensamos estarem nas conquistas transitórias, e assim as perseguimos ardentemente.
Jesus veio mudar este paradigma, e para tal tinha de dar o exemplo. Aqueles a Ele
vinculados e que vieram para auxiliá-Lo, fizeram do mesmo modo: sacrifício como
instrumento de libertação.
Hoje nós tentamos distorcer o entendimento e falamos em prosperidade, porém
queremos prosperidade material esquecendo que a fé se manifesta em qualidade e em
maior escala é na carência e nas dores.
Moisés era um disciplinador – primeiro passo do processo educativo, a disciplina
antecede a espontaneidade49 -; Jesus veio como educador; Kardec como pedagogo;
desta forma, temos de compreender que este foi um projeto traçado por Deus para
educar a alma, o Espírito imortal. Maria só pôde ser peça chave deste processo, sendo
também educadora, e de Jesus, porque compreendeu o Mecanismo Divino, e a ele se
ajustou fazendo-se serva do Senhor.
Ela teve a intuição da missão e a ousadia de executá-la. Quando não compreendia a
superioridade do filho tinha humildade para guardar a lição em seu coração50 ou
simplesmente dizer: fazei tudo o que ele vos disser51. O melhor entre todos os
educadores é aquele que não se cansa de aprender, e a isso se dedica dia a dia.

*****

Ainda sobre o tema fé e da forma como Deus prepara o Espírito para realizar a Sua
Vontade, não podemos deixar de analisar a passagem da fuga da família do Messias para
o Egito.
Muitas vezes diante de uma grande dificuldade optamos por nos afastar do cumprimento
de uma tarefa que até então pensávamos em realizar em favor do Bem. Ainda chegamos
a dizer desafiando o Criador: “Se Deus quisesse que eu realizasse tal trabalho não me
dificultaria tanto a realização, acho que estes empecilhos são os avisos Dele para me
mostrar que essa não é a minha missão”.
Como somos ignorantes e comodistas…
Já pensou se José e Maria pensassem desta forma? “Se Jesus fosse mesmo o Messias,
por que tanta dificuldade? Por que deixar nossa zona de conforto e ir para um país
desconhecido? Por que sermos tão pobres?”
Desculpas é que não faltariam para o abandono da missão. Em nossa vida temos
49
     XAVIER/Emmanuel [Espírito]. O Consolador, 16ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1993, Q. 254
50
     Cf. Lucas, 2: 19 e 51.
51
     João, 2: 5
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Maria de nazaré a educadora de jesus

  • 1. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS MARIA DE NAZARÉ: A EDUCADORA DE JESUS Ao escrever o seu Evangelho, Mateus compreendeu a inspiração que lhe vinha do Alto, de que um espírito virginal tinha sido escolhido para vir a ser mãe do Mestre. Um espírito virginal é aquele que, através de sucessivas e incontáveis reencarnações, torna-se isento das máculas da matéria – (Eliseu Rigonatti, O Evangelho dos Humildes) (…) Esta interpretação dá uma razão de ser toda natural ao dogma da Imaculada Conceição, do qual o ceticismo tanto tem zombado. Esse dogma estabelece que a mãe do Cristo não estava manchada pelo pecado original; como pode ser isto? É muito simples: Deus enviou um Espírito puro, não pertencente à raça culpada e exilada, para se encarnar sobre a Terra e nela cumprir essa augusta missão; do mesmo modo que, de tempos em tempos, envia Espíritos superiores para nela se encarnarem, para darem um impulso ao progresso e apressar o seu adiantamento. Esses Espíritos são, sobre a Terra, como o venerável pastor que vai moralizar os condenados em sua prisão, e mostrar-lhes o caminho da salvação. (Allan Kardec, Ensaio Sobre a Interpretação da Doutrina dos Anjos Decaídos, Revista Espírita, Janeiro de 1862) I Parte Quem foi Maria? Falar de Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, não é fácil devido a falta de informações que temos dela, e entre as que temos poucas são confiáveis, isentas e imparciais do ponto de vista religioso. Estão no Novo Testamento, apesar de raros, os melhores esclarecimentos que temos da Mãe de nosso Senhor Jesus. Nós, os espíritas, ainda temos o privilégio de termos algumas anotações vindas do Plano Espiritual que nos ajudam a esclarecer sobre a grande evolução e a missão deste nobre Espírito. Não temos informação de como foi sua infância, nem de sua adolescência; a tradição cristã nos informa que Maria era filha de Joaquim e Ana. Seus pais eram judeus e pelo que podemos depreender dos textos do Evangelho formavam uma família simples e praticantes fieis de seus princípios religiosos. Provavelmente nasceu entre os anos 18 e 20 a.C., e como era habitual àquele tempo, deve ter casado por volta de seus 14 anos, às vezes até antes. Os historiadores do cristianismo apontam como data provável do nascimento de Jesus o ano 6 a.C., o Espírito Humberto de Campos através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier define o ano 5 a. C. como sendo o correto para a vinda do Cristo à 1
  • 2. CLÁUDIO FAJARDO carne1. O casamento de Maria deve ter acontecido de seis meses a um ano do nascimento de seu primogênito. Outra questão que não temos como certa é se Maria teve ou não outros filhos além de Jesus. O Evangelho não é totalmente claro a respeito; Mateus fala que Jesus teve irmãos e irmãs, e até dá o nome de seus irmãos2. Entretanto, em hebraico ou em aramaico, os primos também eram chamados de irmãos. Muitos estudiosos contestam esta questão de os supostos irmãos de Jesus serem seus primos. Afirmam estes que é uma realidade que o termo hebraico designava tanto irmão quanto primo, porém ressaltam que o Evangelho foi escrito em grego, e no grego temos duas palavras distintas, adelphos, para irmão, e anepsios que é literalmente primo. Portanto, insistem, se os autores do Novo Testamento, que à época sabiam se eram primos ou realmente irmãos, quisessem falar em primos, usariam anepsios e não adelphos3. Outro argumento a favor de serem irmãos é que na maioria das vezes em que eles são citados no Evangelho estão acompanhados de Maria; por que, perguntam, eles estariam sempre acompanhados da tia? Entretanto, há argumentos fortes também, por parte daqueles que defendem que Maria e José não tiveram outros filhos, como o fato de Jesus ter, no momento da crucificação entregado Maria – sua mãe - a João, o discípulo amado, para que este tomasse conta dela a partir de então. Se formassem uma família numerosa, com vários outros filhos, não seria natural que estes cuidassem de Maria? Há uma terceira hipótese, menos comentada e menos provável, a de que José ao casar com Maria já teria outros filhos de casamento anterior, e estes é que seriam os irmãos de Jesus. Como este não é o objetivo principal deste estudo, não vamos mais nos ocupar com este tema. No judaísmo era comum o casal ter muitos filhos, era uma benção de Deus, o que faz crer a alguns que José e Maria seriam pais de uma prole maior; todavia, não há esta necessidade, a família de Jesus era sem dúvida uma família especial, e poderia, portanto, ser diferente das demais sem nenhum desmerecimento para eles. O certo, é que Maria era um Espírito de altíssima evolução, um dos mais puros que encarnou neste Orbe governado espiritualmente por Seu Filho Jesus. A Gravidez Virginal Outro tema polêmico e complexo é o da gravidez de Maria que alguns creem ter acontecido sem contato sexual entre ela e José, seu marido. Dissemos ser complexo, porque tudo o que dissermos a respeito não passa de opinião pessoal, já que não temos condições de provar nem a tese da gravidez virginal nem a da gravidez comum. Mesmo o Espiritismo não elucida o tema, não há informações confiáveis a respeito. Para um assunto de tal complexidade teríamos que retomar o Controle Universal do Ensino dos Espíritos4, o que foi por nós abandonado há muito tempo. 1 XAVIER, Francisco C. / Humberto de Campos. Crônicas de Além Túmulo, cap. 15, Rio de Janeiro, FEB, 1937. 2 Cf. Mateus, 12: 46 e Mateus, 13: 55 e 56. Ver também Marcos, 6: 3 3 Existem controvérsias. Segundo PASTORINO, Carlos Torres. Sabedoria do Evangelho Vol. 8. Rio de Janeiro: Sabedoria, 1967, Pg. 197, a palavra adelphos “irmão”, referia-se também a “primos”, e ainda cita vários autores profanos como Heródoto, Thucidides, etc. onde isto acontecia. 4 Cf. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991. Introdução, item II 2
  • 3. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Como dissemos, as melhores informações que temos tanto sobre Jesus, quanto sobre Maria, são as narradas nos Evangelhos. E o que dizem eles a respeito? Marcos e João não comentam nada a respeito, Mateus e Lucas são claros: Maria e José não tiveram contato sexual antes da concepção de Jesus. As igrejas cristãs ligadas ao catolicismo e à reforma protestante defendem a literalidade dos Evangelhos. Segundo os adeptos da primeira, Maria era virgem antes e continuou após o nascimento de Jesus. Para os seguidores da reforma, pelo menos os atuais, Maria era virgem ao conceber Jesus, porém após o nascimento deste teve relações normais com seu marido, tendo, inclusive, outros filhos. Dentro do Espiritismo, que tem por norma uma investigação mais segura baseada em padrões científicos, as opiniões são divididas, uns creem como os cristãos tradicionais, outros não aceitam a gravidez virginal. Dizem os defensores desta última hipótese que as narrativas dos Evangelhos a respeito do nascimento de Jesus são expressões de um simbolismo profundo, e que nada têm de históricas. Pode ser, aliás, todo o Evangelho tem um conteúdo simbólico de grande profundidade, entretanto, cremos, que o simbolismo do Novo Testamento – a não ser no caso das parábolas - tem por princípio eventos reais, e não acontecimentos imaginados. Jesus escolhia momentos, lugares, personagens, didaticamente perfeitos para seus ensinamentos, mas antes de buscarmos o conteúdo espiritual de suas lições, é preciso que compreendamo-las em seu sentido literal, histórico e cultural, só a partir daí devemos buscar seu sentido espiritual. Não estamos com este argumento defendendo a gravidez sem contato sexual, como dissemos, o tema é complexo e deverá ser melhor estudado hoje e no futuro. Estes que defendem a gravidez natural de Maria e o relacionamento sexual dela com seu marido antes da fecundação de Jesus, partem do princípio de que se assim não fosse estaria sendo ferida uma Lei Universal, e Espíritos Superiores jamais derrogam uma lei qualquer que seja, antes, cumprem-na com fidelidade.Têm razão, porém, será que uma gravidez sem contato sexual fere alguma Lei Natural? Não temos hoje vários exemplos de gravidez gerada em laboratório? Estamos tentando fazer uma análise espírita do tema, e deste ponto de vista, a ciência do Mundo Espiritual mesmo no tempo de Jesus era muito superior à nossa atual do mundo em que vivemos, e se esta pode algo fazer, aquela podia com muito mais facilidade. Assim, uma fecundação espiritual para Jesus, não é algo que fere nenhum princípio de ciência segundo cremos. Voltamos a repetir, não estamos com isto dizendo que assim se deu, só estamos analisando possibilidades. De onde surgiu esta idéia de uma gravidez virginal? Na literatura pagã há muitos casos de nascimentos virginais, alguns heróis dos clássicos gregos e romanos eram semideuses, ou seja, filhos de Deus com uma mulher carnal. Há também na Bíblia Hebraica nascimentos sob a intervenção divina. No caso de Jesus a idéia surge num texto de Isaías. Segundo a narrativa do livro deste profeta temos: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.5 Porém, a palavra hebraica usada por Isaías que traduzida deu virgem é almah que significa literalmente mulher jovem em idade para casar ou recém casada. Quando se traduziu a Bíblia Hebraica para o grego, na versão da Septuaginta, almah foi traduzida 5 Isaías, 7: 14 3
  • 4. CLÁUDIO FAJARDO por parthenos. “Parthenos” quer dizer tanto uma moça jovem, quanto uma mulher que nunca teve relação sexual com homem, é como no português falado no Brasil a palavra “moça”, que tem tanto o sentido de uma mulher jovem, como a que ainda não teve relações sexuais. Assim, no texto original de Isaías não é passado esta idéia de virgindade, mas que uma jovem geraria o Messias. Portanto, a dúvida continuará e só com o nosso amadurecimento espiritual, o que se dará em paralelo ao desenvolvimento moral, teremos melhores condições de analisar o fato. O que importa para nós é que Maria era virgem no sentido de fidelidade a Deus. Os antigos profetas várias vezes se referem a Israel como um “prostituta” por ter sido esta nação infiel à aliança feita com Deus. Virgem é o oposto de prostituta, dentro deste contexto é justamente ser fiel à Divindade. Neste sentido Maria de Magdala ao ser desligada de seus obsessores e se converter ao Cristo, tornou-se uma grande virgem do Novo Testamento, e nós se quisermos também gerar em nós o “Filho do homem”, ou o homem novo, teremos que, do mesmo modo nos tornarmos virgens, sem pecado. Maria era culta ou iletrada? Esta é outra questão que não é fácil de ser respondida. Nos dias de hoje dizemos que uma pessoa é culta se ela tem o hábito de ler e estudar, se tem muita informação intelectual. Entretanto, no que diz respeito ao primeiro século de nossa era o julgamento não pode ser feito desta forma. Neste século, o marcado pela vida física de Jesus, grande era o percentual de analfabetismo. Quase não haviam livros para serem lidos, e era caríssima a produção de um, desta forma, não era qualquer pessoa que tinha acesso a livros, sendo assim, poucos sabiam ler, e muito menos ainda os que tinham o hábito de estudar como fazemos hoje. Porém, não podemos dizer por isso que eram mal informados os habitantes da Palestina daquela época. O processo de aprendizado era diferente, o que tínhamos era uma cultura oral; as cartas de Paulo eram lidas na comunidade cristã através de uma leitura coletiva, muitos apenas ouviam o que este valoroso apóstolo escreveu. Tal hábito fazia com que a memória destes que se dedicavam ao estudo das escrituras fosse de grande capacidade, pois era preciso saber os textos de cor já que nem sempre era possível lê-los. Portanto, saber ler não era pré-requisito para se ter cultura. Além disso, em se tratando de uma mulher na palestina no tempo de Jesus, eram bem poucas as chances de que a ela fosse dada a oportunidade de saber ler. Assim, do ponto de vista de percentuais, grande é a chance de Maria não ter sido alfabetizada, o que não estamos querendo dizer com isso, que não tenha sido. Apenas dizemos de probabilidades. O que é certo, e podemos dizer com total segurança, é que a Mãe de Nosso Senhor tinha grande cultura, e muito mais ainda, uma cultura espiritual, uma espiritualidade inteligente. Muitos chegam a dizer que Maria teria sido educada no Templo, que era não só boa leitora, como também, boa redatora. É possível, porém, não certo. Não estamos querendo trabalhar com hipóteses. No tempo de Maria, o judaísmo não era simplesmente uma religião, era uma cultura. Entre os hebreus não se podia escolher a que religião seguir, simplesmente eram judeus. 4
  • 5. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Não havia shoppings, cinemas, teatros, ou outras diversões quaisquer, o que havia era uma sinagoga, e que todos frequentavam, a sinagoga era a vida das pessoas. Nazaré era uma pequena cidade, a sinagoga deveria ser próximo de tudo, e era ali onde eles aprendiam e praticavam seus princípios de moral elevada. Como dissemos Maria era um Espírito elevado e sem comprometimentos no campo expiatório, por isso aprendia fácil, com certeza memorizava bem, e vivenciava o que aprendia, não era culta dentro de nosso padrão atual, era sábia. Por que podemos dizer isso com certeza? O Evangelho nos dá mostra disso a toda hora, e além do mais, Maria foi a educadora do maior Sábio de todos os tempos, e só isso bastaria para dizer que ela foi entre todas a melhor educadora. Magnificat Em se tratando de um estudo sobre Maria, o Magnificat, merece um capítulo à parte, é um dos mais belos textos de todo Novo Testamento, só Lucas entre os evangelistas, e numa entrevista pessoal com a mulher de José, teria a capacidade de registrar para a posteridade tão belo poema, e que prova tudo o que dissemos anteriormente, a espiritualidade inteligente e equilibrada desta que sem a menor dúvida é a nossa Senhora. Imagino a beleza da cena, aquela que é a mãe de todos os que sofrem, cantando este lindo poema para o médico amigo de Paulo. Ela deve ter dito de cor, pois o sabia de coração, e ele, que à época não tinha gravador de voz, deve ter tido dificuldade para anotar, pois deve ter se emocionado ao extremo, talvez ela tenha repetido para ele várias vezes: Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador, porque olhou para a humilde posição de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem aventurada, pois o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem. Agiu com a força de seu braço. Dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência para sempre!6 Não pretendemos neste momento estudar minuciosamente estes versos, mas não podemos deixar de destacar a cultura espiritual de Maria. Ela abre o texto falando de sua comunhão com Deus de uma forma que só Jesus falará mais tarde. Coloca-se em sua digna posição de serva e assim se faz grande, engrandecendo o Senhor através de sua vivência em harmonia com Ele. Ela faz uma síntese do Antigo Testamento, mostrando seu perfeito conhecimento de toda Escritura. Sintetiza também a religião das boas obras e a Lei de Deus que alimenta aquele que se faz dependente Dele, e despede os que se acham ricos e que têm as mãos ociosas. Dissemos no parágrafo anterior que ela faz uma síntese magistral do Antigo Testamento. 6 Lucas, 1: 46 a 55 5
  • 6. CLÁUDIO FAJARDO O Magnificat tem dez versículos, nestes, ela faz quinze citações do Antigo Testamento os harmonizando com profunda sabedoria. Só quem conhecia e bem as Escrituras, e tinha uma espiritualidade superior poderia construir esta oração. A seguir vamos destacar cada versículo e as citações a que se referem no texto da Bíblia Hebraica. 46. Minha alma engrandece o Senhor, O meu coração exulta ao SENHOR (I Samuel, 2: 1) 47. E meu espírito exulta em Deus em meu Salvador, Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, (Isaías, 61: 10) Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. (Habacuc, 3: 18) 48. Porque olhou para a humilde posição de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem aventurada, SENHOR dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha. (I Samuel, 1: 11) Então disse Lia: Para minha ventura; porque as filhas me terão por bem-aventurada; e chamou-lhe Aser. (Genesis 30:13) 49. Pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo Redenção enviou ao seu povo; ordenou a sua aliança para sempre; santo e tremendo é o seu nome. (Salmo, 111:9) 50. E sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem. Mas a misericórdia do SENHOR é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos; (Salmo, 103: 17) 51. Agiu com a força de seu braço. Dispersou os homens de coração orgulhoso. Tu quebraste a Raabe como se fora ferida de morte; espalhaste os teus inimigos com o teu braço forte. (Salmo, 89:10) 52. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Aos sacerdotes, leva-os despojados do seu cargo e aos poderosos transtorna. (Jó, 12: 19) 53. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias. Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta. (Salmo, 107: 9) 54. Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia Porém tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo; tu a quem tomei desde os fins da terra, e te chamei dentre os seus mais excelentes, e te disse: Tu és o meu servo, a ti escolhi e nunca te rejeitei. (Isaías 41:8-9 8) 6
  • 7. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Lembrou-se da sua benignidade e da sua verdade para com a casa de Israel; todas as extremidades da terra viram a salvação do nosso Deus. (Salmo, 98:3) 55. – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência para sempre! E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis 12:3) Porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre. (Genesis 13:15) E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz. (Genesis 22:18) É importante imaginar como foi a cena em que tal evento ocorreu. Narra-nos Lucas que após Maria receber o aviso através do anjo, a respeito de sua concepção, que diga-se de passagem era um aviso mediúnico, e não fica nenhuma dúvida quanto a isso, ela se dirigiu a uma cidade de Judá para fazer uma visita a sua prima Isabel. Esta cidade foi identificada segundo uma tradição do século V como sendo Ain Karim, e situava-se a aproximadamente 6 Km de Jerusalém. A viagem de Nazaré a Ain Karim, segundo alguns autores, se fazia em quatro ou cinco dias. Como? Provavelmente no lombo de um animal. Era, portanto, uma viagem através de uma estrada ruim, cansativa, principalmente para quem estava nas primeiras semanas de gravidez. Maria devia ter a esta época algo em torno de 14 anos. Ela deve ter chegado à casa de sua prima, extenuada. Diz o Evangelista que ao entrar na casa de Zacarias, saudou Isabel7; Isabel, ouviu a saudação e exclamou o que no futuro viria a ser uma conhecida prece: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!8. E após ouvir a prima Maria profere o belíssimo poema-oração a que estamos nos referindo. Ou seja, ela teve a capacidade de fazer a genial síntese, o poema magnífico, em uma condição de extremo cansaço, em condições físicas precárias, mesmo assim ela se manifestou em profunda harmonia espiritual. Nós quando estamos cansados perdemos a criatividade e até mesmo a capacidade de pensar com inteligência, queremos repor as energias e só depois realizar algo que exija um trabalho mais elaborado. Voltemos à nossa questão inicial, era Maria culta ou iletrada? Não sabemos, porém, podemos com certeza dizer: “era sábia”, e uma sabedoria de profunda significação espiritual. Como foi a educação de Jesus? Este é um tema que buscaremos desenvolver melhor na segunda parte deste estudo, porém aqui gostaríamos de fazer reverência a outro personagem de grande importância neste processo: José, o pai de Jesus. É comum no meio cristão evidenciar a evolução de Maria, o que é certo, entretanto, desconsiderar a de seu marido, o que não é correto. 7 Lucas, 1: 40 8 Idem, Ibidem, 42 7
  • 8. CLÁUDIO FAJARDO Se Maria teve uma grande contribuição no processo de educação9 de Jesus, o mesmo podemos dizer em relação a José, pois temos a certeza, sem querer fazer qualquer comparação, ser ele um Espírito, também, de grande evolução. Queremos citar neste momento apenas uma referência de Emmanuel, este guia nosso para todas as horas, a respeito deste respeitável personagem da Galileia. Reflitamos sobre as próximas palavras citadas neste estudo: É preciso, porém, observar que, a par de beneficiários ingratos, de ouvintes indiferentes, de perseguidores cruéis e de discípulos vacilantes, houve um homem integral que atendeu a Jesus, hipotecando-lhe o coração sem mácula e a consciência pura. José da Galileia foi um homem tão profundamente espiritual que seu vulto sublime escapa às análises limitadas de quem não pode prescindir do material humano para um serviço de definições. Já pensaste no cristianismo sem ele? Quando se fala excessivamente em falência das criaturas, recordemos que houve tempo em que Maria e o Cristo foram confiados pelas Forças Divinas a um homem.10 O Espírito Humberto de Campos, através da mediunidade de Chico Xavier11, nos relata da preocupação dos pais de Jesus com a sua educação. Eles tinham a intuição de sua missão e a ciência de parte de suas necessidades, por isso preocupavam-se em preparar o menino para o cumprimento dos desígnios superiores. Narra-nos este Espírito, importante diálogo entre Maria e sua prima Isabel, do qual citamos pequeno trecho, a respeito do tema do preparo dos filhos para o cumprimento dos propósitos do Pai: Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeira, e a facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eram apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e perplexos. Sua ciência não pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente se manifesta por seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas, Eleazar chamou a José, em particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido para a perdição de muitos poderosos em Israel. Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhos úmidos, após ligeira pausa: Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de suas valiosas relações com as autoridades do templo. Pensei na sua infância desprotegida e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, de regresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores. Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno, preocupada com o seu preparo conveniente para a vida!... Entretanto, no dia que se seguiu às nossas íntimas confabulações, 9 Temos usado esta expressão por não encontrar no momento outra melhor, todavia não sabemos se é certo falar em educação em relação a Jesus, que era um Espírito Puro mesmo encarnado, e que segundo Emmanuel não sofreu as restrições comuns a qualquer um de nós ao tomar um corpo de carne. 10 XAVIER, Francisco C. / Emmanuel (Espírito). Levantar e Seguir, São Bernardo do Campo, GEEM, 1992, cap. 6 11 XAVIER, Francisco C./Humberto de Campos. Boa Nova, 14a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1982, cap. 2 8
  • 9. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Jesus se aproximou de mim, pela manhã, e me interpelou: “Mãe, que queres tu de mim? Acaso não tenho testemunhado a minha comunhão com o Pai que está no Céu! Altamente surpreendida com a sua pergunta, respondi-lhe, hesitante: Tenho cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para a vida... Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em meu íntimo, ponderou ele: “Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja boa e eu escolherei, desse modo, a escola melhor. No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templo fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu, com humildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse ensinar que a melhor escola para Deus é a do lar e a do esforço próprio concluiu a palavra materna com singeleza —, ele aperfeiçoa as madeiras da oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com a sua doce alegria! (Os grifos são nossos) Percebemos neste singelo diálogo o cuidado dos pais de Jesus com sua educação. Ele por sua vez tinha a perfeita consciência do que era o mais importante: eu escolherei, desse modo, a escola melhor. Como nos comportaríamos na mesma situação? Se tivéssemos um filho deste nível tentaríamos impor as nossas ideias ou saberíamos reconhecer sua superioridade não atrapalhando o seu desenvolvimento? Como Maria encarava sua missão? Seria a mãe de Jesus totalmente consciente de seu papel diante da vida? Não há como saber ao certo esta resposta, tudo o que dissermos a respeito não passará de opinião e dedução pessoal a partir de alguns textos. Maria era um Espírito de grande evolução, voltamos a dizer, e sabemos pela orientação da Codificação Espírita, que quanto mais o Espírito é evoluído mais tem consciência de sua tarefa. Assim, deduzimos que a consciência de Maria a respeito de sua missão era acima da média, porém não total. Todo Espírito ao encarnar perde parte de sua lucidez de acordo com o estágio em que se encontra. Apesar de Maria ser um Espírito com uma tarefa especial, e como dissemos, de alta hierarquia, esta perda se deu com ela também. Depreendemos, assim, que ela tinha uma grande intuição, tanto de seu papel, quanto do de Jesus, e o texto do Evangelho nos mostra que ela foi informada a respeito, porém, não na totalidade dos acontecimentos. Humberto de Campos, na obra citada, e no mesmo diálogo de Maria com Isabel, relata a fala da mãe de Jesus: (…) constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino. Apesar de todos os valores da crença murmurou Isabel, convicta —, nós, as mães, temos sempre o espírito abalado por injustificáveis receios. Se Maria fosse plenamente consciente não teria esta cisma nem seria abalada por estes receios. Mostra-nos ainda o mesmo autor espiritual em outra página, que a mãe de nosso Senhor ao saber de sua prisão, confiou em Deus, todavia, empreendeu esforços e orou ao Pai na 9
  • 10. CLÁUDIO FAJARDO esperança de que o pior não acontecesse e Jesus fosse solto. Quando seu filho foi entregue a Herodes, chegou a pensar: Naturalmente, Deus modificaria os acontecimentos, tocando a alma de Ântipas.12 E mesmo quando já parecia consumado o assassinato, ao vê-lo vergado ao peso da cruz, lembra-se de Abraão quando este conduzira o filho ao sacrifício, e da ação de Deus salvando-o, e pensa: Certamente o Deus compassivo escutava-lhe as súplicas e reservava- lhe [a Jesus] júbilo igual.13 Só depois, ao ver o filho morto, foi que recordou a visita do anjo no momento da anunciação. Devem ter passado em sua mente, com a rapidez de um relâmpago, todas as cenas de sua existência; rememorando, percebeu o quanto sua vida e a do filho estavam ligadas numa missão maior em nome de Deus. Ela sofria, mas os desígnios do Alto se cumpriram, a treva havia sido iludida, vencera a luz, suas preces foram ouvidas, não segundo seus anseios de mãe e sim de acordo com os planos divinos14. E em sua mente lembrou também de suas próprias palavras anteriormente ditas: Eis aqui a serva do Senhor15 Maria: Mãe de Toda Humanidade Uma passagem do Evangelho que nos traz significativos pontos para reflexão é a da crucificação de Jesus, mais especificamente segundo a narrativa de João que cita a presença da Mãe do Messias no evento que marcou os momentos finais Dele na carne. Segundo o redator do quarto Evangelho: Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa. 16 Já de início vemos na narrativa algo que serve para nós do sexo masculino nos envergonharmos diante da situação. Jesus teve mais próximo de si doze discípulos homens. Se descontarmos Judas Iscariotes que se afastou do grupo no final para entregar a Jesus, ainda restaram onze. E de todos estes seus amigos apenas João esteve presente no momento de sua crucificação. Ao contrário, muitas mulheres, também suas seguidoras, se fizeram presente no instante final, prestando solidariedade e sofrendo junto. Depreendemos daí, e notamos isto no dia a dia, mesmo hoje, que a mulher é muito mais corajosa que o homem. Há exceções, todavia, no geral, elas enfrentam certos momentos de tensão com maior superioridade espiritual do que nós. Cremos, sem querer fechar a questão sobre o assunto, e principalmente aqui no caso da crucificação, que o que deu coragem a estas fieis seguidoras de Jesus foi o sentimento de amor que já possuíam como virtude conquistada, sentimento este que na maioria das vezes têm elas mais do que nós do sexo masculino. Segundo a observação de alguns estudiosos da área da psicologia, o oposto de amor não 12 XAVIER, Francisco C./Irmão X. Lázaro Redivivo, Rio de Janeiro, FEB, 1945, cap. 2 13 Idem, ibidem. 14 id., ib. 15 Lucas, 1: 38 16 João, 19: 25 a 27 10
  • 11. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS é ódio, e sim medo, pois o temor é paralisante, estático, enquanto amor é movimento, dinamismo. O medo não deixa o amor se expressar e o amor dissolve o medo. Não temos dúvida de que foi o sentimento nobre que já possuíam que deu coragem àquelas mulheres; os homens, mais afeitos ao raciocínio, pensaram mais no perigo que corriam e afastaram-se. Temos aprendido a ver que entre os doze da intimidade de Jesus, João, o filho de Zebedeu, era o que tinha mais destacado o sentimento de amor. Não é outro o motivo de ser ele conhecido como o discípulo amado. Neste caso não havia nenhum privilégio, apenas cumprimento da Lei, a cada um segundo as suas obras, aquele que mais ama é mais amado. Assim, foi também o sentimento de amor mais desenvolvido que deu coragem a este discípulo e que o fez estar com as mulheres nos momentos finais do Mestre entre nós fisicamente. O mais significativo, entretanto, nesta passagem, é o ensinamento transmitido por Jesus ao dizer a sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!” e depois a João: “Eis a tua mãe!” Mulher; o uso desta forma de tratar é comum na narrativa de João17 e sugere que Jesus nos fala de algo que vai além da piedade filial; o que ele ensina é a adoção de um amor capaz de fortalecer os laços da família universal, não deve haver mais uma distinção que leve em conta os familiares de sangue, mas uma união de todos os filhos de Deus. Maria surge então como uma “nova” Eva. Esta é segundo os textos do Antigo Testamento a mãe de todos os viventes18, Maria seria a Mãe de toda a humanidade convertida a Cristo. Do mesmo modo que Paulo refere-se a Cristo como o segundo Adão, ou o último Adão19, Maria seria a segunda Eva. Se a primeira induziu a humanidade à queda por meio da influência negativa da Serpente, a segunda nos leva à redenção atendendo um convite também mediúnico, o que o anjo fez para que acolhesse Jesus como filho. No primeiro caso temos uma mediunidade desequilibrada, no segundo santificada pela fidelidade a Deus; no primeiro a indução à desobediência, no segundo a submissão a um programa do Alto. Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra! 20 Maria seria, assim, uma Eva sublimada. Há outro texto no Gênesis que faz uma relação entre Eva e Maria que nos ajudará a desenvolver nosso raciocínio. Trata-se do momento em que Deus, na linguagem simbólica da literatura hebraica, adverte a Serpente: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. 21 Algumas traduções falam “entre a tua semente [da Serpente] e a sua semente” [da mulher], entretanto o termo hebraico usado para semente é masculino. Como semente neste caso tem o significado de descendência, em português pode-se usar a forma masculina seu descendente. A Serpente é símbolo do mal, as religiões viram-na como o “Diabo”, o Maligno. A descendência da Serpente é assim toda sorte de erros cometidos pelo homem, fruto da transgressão inicial induzida por ela mesma, a Serpente. 17 Cf. João, 2: 4 18 Gênesis, 3: 20 19 1 Coríntios, 15: 45 a 47 20 Lucas, 1: 38 21 Gênesis, 3: 15 11
  • 12. CLÁUDIO FAJARDO Através desta transgressão foi rompida a Aliança do homem com seu Criador. Numa abordagem que não vamos aprofundar aqui por não ser o objetivo principal deste estudo, a Serpente representa os Espíritos desencarnados ainda arraigados no mal e que procuram distanciar o homem do Bem. Ela age por influência espiritual. No plano físico quem primeiro captou sua influência negativa foi Eva induzindo Adão à queda. Quem restabelecerá o elo de ligação do homem com Deus, que trará a ele a redenção é Jesus, o descendente de Maria. Assim, vemos Maria como o resgate de Eva, se através desta veio a queda, Maria nos proporciona através de sua maternidade a oportunidade da salvação. Neste sentido é que fazendo uma relação com o texto de Paulo aos coríntios, onde ele propõe Jesus como o segundo Adão, propusemos Maria como a “segunda” Eva. Maria e João. O Trabalho da Mãe Após o Desencarne do Filho Segundo a narrativa de João já citada neste estudo, após o momento da crucificação de Jesus, o Discípulo Amado, acolheu a mãe do Mestre em sua casa22. A literatura espírita confirma este acontecimento, porém diz que tal acolhimento não se deu imediatamente, mas algum tempo depois. Quem nos dá a notícia é o Espírito Humberto de Campos através da mediunidade do cândido Chico Xavier23. Segundo este autor espiritual, após a morte de seu filho Maria foi morar na Bataneia onde tinha alguns parentes próximos, na realidade familiares de José. Em Jerusalém o clima não estava bom, cristãos e judeus viviam em luta. Mesmo entre os próprios seguidores de Jesus haviam dissensões inadequadas; a Mãe de nosso Senhor precisava de um pouco de paz para se recuperar dos momentos dolorosos do calvário. Passado algum tempo, João, que nunca esquecera das observações de Jesus no momento da crucificação, aparece na Bataneia oferecendo à Mãe que aprendera a amar, o refugio amoroso de sua proteção24. Conta o apóstolo, que havia se instalado em Éfeso, Cidade da Lídia, na costa ocidental da Ásia Menor, onde as ideias cristãs ganhavam terreno entre as almas devotadas e sinceras. O filho de Zebedeu vinha buscá-la, andariam ambos na mesma associação de interesses espirituais. Seria seu filho desvelado… A demora em buscar a Mãe Santíssima se dera devido ao fato dele não ter ainda uma casa, mesmo que simples, para acomodá-la. Tendo agora resolvido esta questão graças à generosidade de um cristão que lhe doara uma casinha onde poderiam morar, viera rapidamente buscá-la, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal. Maria aceitou a oferta e se instalou junto de seu novo filho em Éfeso, e, além de cultivar as lembranças de Jesus, iniciaram importante trabalho de evangelização na região. Ela atendia em sua própria casa aos necessitados que lá iam em busca de consolo e até mesmo de cura de algumas enfermidades; ele por sua vez cuidava mais especificamente do esclarecimento evangélico comentando sobre os ensinamentos recebidos de Jesus. Narra Emmanuel25, que Paulo de Tarso visitou Maria nesta casinha singela e que ficou impressionado com a sua humildade. Desejou receber dela informações sobre Jesus de tal modo que pudesse escrever um Evangelho contando a história do Mestre e ampliar 22 Cf. João, 19: 27 23 XAVIER. F. C. / Humberto de Campos (Espírito)1982, cap. 30 24 Idem, Ibidem 25 XAVIER F. C. / Emmanuel (Espírito). Paulo e Estevão, 41ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 2004. Cap. 7 12
  • 13. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS seus ensinamentos. Paulo não pôde realizar este desejo, entretanto, encarregou a seu amigo de confiança, Lucas, a tarefa de realizar o projeto de escrever um Evangelho com as informações fornecidas pela mãe de Jesus. Conta-nos ainda Emmanuel que na despedida de Paulo, em Éfeso, antes de seu martírio em Jerusalém, Ela também, mesmo que em idade avançada, compareceu para levar uma palavra de amor26 a este desbravador de corações em favor do Evangelho. O trabalho em Éfeso cresce em grandes proporções o que obriga João a se ausentar repetidas vezes da residência humilde deixando Maria muitas vezes só no atendimento dos necessitados, ela já bem idosa não se cansa e trabalha ininterruptamente em favor dos infelizes apascentando as ovelhas de Seu filho amado. É Humberto de Campos27 quem nos informa que em seus momentos finais no corpo cansado, fisicamente estava só, mas que o próprio Jesus veio buscá-la. Ela ao reconhecê-lo, com imensa alegria fez menção em ajoelhar-se aos seus pés, ele a impediu, e por sua vez foi quem ajoelhou nomeando-a conforme a vontade de Deus, Rainha dos anjos no Reino do Eterno. Maria desencarnou… Maria no Plano Espiritual O Espiritismo como ciência que estuda o plano físico e o homem, o plano espiritual e os Espíritos que o compõem, e as relações entre os dois, pôde com autoridade nos informar a respeito das atividades do nobre Espírito Maria no Plano Espiritual. Sabemos que quanto mais o Espírito é evoluído, mais ele trabalha no Plano Maior da Vida. Espíritos ainda materializados que somos, após o desencarne necessitamos de um período de adaptação à nova vida, isto é comum a todos, e esta adaptação, segundo nos informam os próprios Espíritos, tem o tempo maior ou menor de acordo com a condição evolutiva moral e espiritual de cada um. Na condição mediana em que nos encontramos, mostra-nos a literatura espírita a necessidade de que o Espírito alterne momentos de trabalho com momentos de descanso, pois tendo em seu corpo espiritual, ainda, elementos materiais, mesmo que em outra dimensão, necessita de refazimento e recomposição energética. Todavia há Espíritos que, de tão grande sua evolução, jamais descansam, trabalham ininterruptamente. Pelo que podemos depreender através de nossas reflexões este é o caso de Maria de Nazaré, aquela escolhida pelo Pai para ser a mãe do Espírito mais nobre que nosso orbe já conheceu. No livro Boa Nova, no citado capítulo que narra sobre o seu desencarne temos que o primeiro desejo da Mãe do Salvador após deixar o corpo físico foi rever a Galiléia com os seus sítios preferidos28. Bastou desejar e lá estava ela revendo o lago de Genesaré e toda sua bela paisagem. Neste instante lembrou dos discípulos que eram já e este tempo perseguidos pela fúria humana ainda dissociada do Bem, e desejou abraçá-los fortalecendo-os em suas lutas íntimas. É que já acontecia por parte das autoridades do império romano as perseguições aos seguidores de Jesus, perseguições estas que levavam os cristãos autênticos a grandes sacrifícios em favor do Evangelho. Bastou esta expressão de sua vontade e rapidamente 26 XAVIER F. C. / Emmanuel (Espírito) 2004, 2ª Parte, cap. 7. 27 XAVIER F. C. / Humberto de Campos (Espírito) 1982. Cap. 30 28 XAVIER F. C. /Humberto de Campos (Espírito), 1982, cap. 30 13
  • 14. CLÁUDIO FAJARDO se viu em Roma onde nos cárceres do Esquilino centenas de seguidores de Seu Filho sofriam terríveis constrangimentos. Narra Humberto de Campos que imediatamente os condenados experimentaram no coração um consolo desconhecido. E continuando a narrativa informa-nos o cronista do Mundo Invisível: Maria se aproximou de um a um, participou de suas angústias e orou com as suas preces, cheias de sofrimento e confiança. Sentiu-se mãe daquela assembleia de torturados pela injustiça do mundo. Espalhou a claridade misericordiosa de seu Espírito entre aquelas fisionomias pálidas e tristes. Eram anciães que confiavam no Cristo, mulheres que por ele haviam desprezado o conforto do lar, jovens que depunham no Evangelho do Reino toda a sua esperança. Maria aliviou-lhes o coração e, antes de partir, sinceramente desejou deixar-lhes nos espíritos abatidos uma lembrança perene. Que possuía para lhes dar? Deveria suplicar a Deus para eles a liberdade?! Mas, Jesus ensinara que com ele todo jugo é suave e todo fardo seria leve, parecendo-lhe melhor a escravidão com Deus do que a falsa liberdade nos desvãos do mundo. Recordou que seu filho deixara a força da oração como um poder incontrastável entre os discípulos amados. Então, rogou ao Céu que lhe desse a possibilidade de deixar entre os cristãos oprimidos a força da alegria. Foi quando, aproximando-se de uma jovem encarcerada, de rosto descarnado e macilento, lhe disse ao ouvido: — “Canta, minha filha! Tenhamos bom ânimo!… Convertamos as nossas dores da Terra em alegrias para o Céu!…” A triste prisioneira nunca saberia compreender o porquê da emotividade que lhe fez vibrar subitamente o coração. De olhos extáticos, contemplando o firmamento luminoso, através das grades poderosas, ignorando a razão de sua alegria, cantou um hino de profundo e enternecido amor a Jesus, em que traduzia sua gratidão pelas dores que lhe eram enviadas, transformando todas as suas amarguras em consoladoras rimas de júbilo e esperança. Daí a instantes, seu canto melodioso era acompanhado pelas centenas de vozes dos que choravam no cárcere, aguardando o glorioso testemunho. Acrescenta ainda o autor espiritual que: Logo, a caravana majestosa conduziu ao Reino do Mestre a bendita entre as mulheres e, desde esse dia, nos tormentos mais duros, os discípulos de Jesus têm cantado na Terra, exprimindo o seu bom ânimo e a sua alegria, guardando a suave herança de nossa Mãe Santíssima.29 Notamos assim, que desde o primeiro momento no Plano Espiritual Maria, já consciente, trabalha e intercede pelos sofredores buscando aliviá-los de suas dores e angústias, sejam elas de natureza física ou espiritual. Há belíssimo poema de Maria Dolores que conta-nos com todo lirismo o socorro de Maria ao Espírito Judas Iscariotes em momentos que este sofria grave crise de consciência. Citamo-lo a seguir: 29 XAVIER F. C. /Humberto de Campos (Espírito), 1982, cap. 30. 14
  • 15. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS RETRATO DE MÃE Depois de muito tempo, Sobre os quadros sombrios do Calvário, Judas, cego no Além, errava solitário… Era triste a paisagem, O céu era nevoento… Cansado de remorso e sofrimento, Sentara-se a chorar… Nisso, nobre mulher de Planos superiores, Nimbada de celestes esplendores, Que ele não conseguia divisar, Chega e afaga a cabeça do infeliz. Em seguida, num tom de carinho profundo, Quase que, em oração, ela lhe diz: — Meu filho, por que choras? Acaso, não sabeis? — replica o interpelado, Claramente agressivo, Sou um morto e estou vivo. Matei-me e novamente estou de pé, Sem consolo, sem lar, sem amor e sem fé… Não ouvistes falar em Judas, o traidor? Sou eu que aniquilei a vida do Senhor… A princípio, julguei Poder faze-lo rei, Mas apenas lhe impus Sacrifício, martírio, sangue e cruz. E em flagelo e aflição Eis a que a minha vida agora se reduz… Afastai-vos de mim, Deixai-me padecer neste inferno sem fim… Nada me pergunteis, retirai-vos senhora, Nada sabeis da mágoa que me agita, Nunca penetrareis minha dor infinita… O assunto que lastimo é unicamente meu… No entanto, a dama calma respondeu: — Meu filho, sei que sofres, sei que lutas, Sei a dor que te causa o remorso que escutas, 15
  • 16. CLÁUDIO FAJARDO Venho apenas falar-te Que Deus é sempre amor em toda parte.. E acrescentou serena: — A Bondade do Céu jamais condena; Venho por mãe a ti, buscando um filho amado. Sofre com paciência a dor e a prova; Terás, em breve, uma existência nova… Não te sintas sozinho ou desprezado. Judas interrompeu-a e bradou, rude e pasmo: — Mãe? Não me venhais aqui com mentira e sarcasmo. Depois de me enforcar num galho de figueira, Para acordar na dor, Sem mais poder fugir à vida verdadeira, Fui procurar consolo e força de viver Ao pé da pobre mãe que me forjara o ser!… Ela me viu chorando e escutou meus lamentos, Mas teve medo de meus sofrimentos. Expulsou-me a esconjuros, Chamou-me monstro, por sinal, Disse que eu era Unicamente o Espírito do mal; Intimou-me a terrível retrocesso, Mandando que apressasse o meu regresso Para a zona infernal, de onde, por certo, eu vinha… Ah! detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha… Não me faleis de mães, não me faleis de amor, Sou apenas um monstro sofredor… — Inda assim — disse a dama docemente — Por mais que me recuses, não me altero; Amo-te, filho meu, amo-te e quero Ver-te, de novo, a vida Maravilhosamente revestida De paz e luz, de fé e elevação… Virás comigo à Terra, Perderás, pouco a pouco, o ânimo violento, Terás o coração Nas águas de bendito esquecimento. 16
  • 17. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Numa nova existência de esperança, Levar-te-ei comigo A remansoso abrigo, Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!… E Judas, nesse instante, Como quem olvidasse a própria dor gigante Ou como quem se desagarra De pesadelo atroz, Perguntou: — quem sois vós? Que me falais assim, sabendo-me traidor? Sois divina mulher, irradiando amor Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!… No entanto, ela a fitá-lo, frente a frente, Respondeu simplesmente: —Meu filho, eu sou Maria, sou a mãe de Jesus.30 Maria dirige no Plano Espiritual várias organizações de socorro aos necessitados. No livro Memórias de um Suicida31 de autoria do Espírito Camilo Castelo Branco através da médium Yvonne do Amaral Pereira, é-nos relatado o socorro realizado aos Espíritos que praticaram o autoextermínio pela Legião dos Servos de Maria. Trata-se de uma Legião de Espíritos dirigidos pelo Nobre Espírito Maria que tem por finalidade socorrer aqueles que abreviaram voluntariamente a sua vida e por isso padecem atrozes dores no Mundo Espiritual. Há entre os servidores da Mãe do Senhor disciplina e amor no auxílio a estes que sem dúvida são grandes necessitados de socorro espiritual. Dá-nos a conhecer ainda, este autor espiritual português, outras organizações chefiadas por este angelical Espírito como o Hospital Maria de Nazaré e a Mansão da Esperança. Outras citações poderíamos fazer para falar do trabalho da Rosa de Nazaré no Mundo do Espírito, entretanto, para encerrar estas singelas linhas sobre seu trabalho no sentido de apascentar as ovelhas de Seu Filho amado gostaríamos apenas de citar a referência de André Luiz àqueles que em prece pedem o socorro da Senhora dos Anjos para o alívio de seu coração. Narra-nos este querido mentor estudando os processos de intercessão no Mundo da Verdade que certa matrona chorava com paciência e de joelhos diante de seu oratório particular quando seu orientador sugeriu-o acompanhar as vibrações mentais da irmã em súplica: (…) postar-nos-emos na retaguarda, de modo a não a incomodar com a nossa presença. E, envolvendo-a nas vibrações de nossa simpatia, assimilar-lhe-emos a faixa mental, percebendo, com clareza, as imagens que ela cria em seu processo pessoal de oração. Obedecemos maquinalmente e, de minha vez, à medida que concentrava a atenção naquela cabeça grisalha e pendente, mais se 30 XAVIER F. C. / Espíritos diversos. Momentos de Ouro, São Bernardo do Campo, GEEM, 1977 cap. 3 31 PEREIRA, Yvonne do Amaral. Memórias de um Suicida, Rio de Janeiro, FEB, 1955 17
  • 18. CLÁUDIO FAJARDO alterava o estreito espaço do nicho aos meus olhos... Pouco a pouco, qual se emergisse da parede lirial, linda tela se me desdobra à visão, tomada de espanto. Era a reprodução viva da formosa escultura de Teixeira Lopes32 , representando a Mãe Santíssima chorando o Divino Filho morto... E as frases inarticuladas da veneranda irmã em prece ressoavam-me nos ouvidos: - "Mãe Santíssima, Divina Senhora da Piedade, compadece-te de meus filhos que vagueiam nas trevas!... Por amor de teu filho sacrificado na cruz, ajuda-me o espírito sofredor para que eu possa ajudá-los... Bem sei que por sinistro apego às posses materiais, não vacilaram em abraçar o crime. Em verdade, Senhora, são eles homicidas infortunados que a justiça terrestre não conheceu... Por isso mesmo, padecem com mais intensidade o drama das próprias consciências, enleadas à culpa...” Nesse ponto da petição, Silas tocou-nos, de leve, os ombros, convidando-nos ao ensinamento devido e explicou: - É uma pobre mãe desencarnada que roga pelos filhos transviados nas sombras. Invoca a proteção de nossa Mãe Santíssima, sob a representação de Senhora da Piedade, segundo a fé que o seu coração pode, por enquanto, albergar, no âmbito das recordações trazidas do mundo... - Isso quer dizer que a imagem de nossa visão... Esta observação ficou, porém, no ar, porque Silas completou, presto: - É uma criação dela mesma, reflexo dos próprios pensamentos com que tece a rogativa, pensamentos esses que se ajustam à matéria sensível do nicho, plasmando a imagem colorida e vibrante que lhe corresponde aos desejos. E respondendo automaticamente às indagações que o problema nos sugeria, continuou: - Isso, contudo, não significa que a prece esteja sendo respondida por ela mesma. Petições semelhantes a esta elevam-se a planos superiores e aí são acolhidas pelos emissários da Virgem de Nazaré, a fim de serem examinadas e atendidas, conforme o critério da verdadeira sabedoria.33 A Hora do Ângelus Há entre os encarnados, principalmente os que adotam a fé católica, um importante momento do dia - às dezoito horas, quando a suavidade do início da noite sugere momentos de reflexão - em que têm o hábito de reverenciar a Mãe das mães. A literatura espírita através da mediunidade de Yvonne do Amaral Pereira34 nos sugere que esta reverência é fruto de um reflexo do Plano Maior já que na Espiritualidade muitos Espíritos também reverenciam a Santa de Nazaré neste mesmo horário. Conta-nos Camilo Castelo Branco que: 32 António Teixeira Lopes, notável escultor português. (Nota do Autor espiritual.) 33 XAVIER, Francisco C./André Luiz. Ação e Reação, 6a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978, cap. 11 34 Cf (PEREIRA 1955), 3ª Parte cap. 2 18
  • 19. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Do templo, situado na Mansão da Harmonia, região onde se demoravam com freqüência os diretores e educadores da Colônia, partia o convite às homenagens que, naquele momento, seria de bom aviso prestarmos à Protetora da Legião a que pertencíamos todos – Maria de Nazaré. Pelos recantos mais sombrios da Colônia ressoavam então doces acordes, melodias suavíssimas, entoadas pelos vigilantes. Era o momento em que a direção geral rendia graças ao Eterno pelos favores concedidos a quantos viviam sob o abrigo generoso daquele reduto de corrigendas, bendizendo a solicitude incansável do Bom Pastor em torno das ovelhinhas rebeldes, tuteladas da Legião de sua Mãe amorável e piedosa. A narrativa continua na obra citada. Para nós importa comentar apenas que devido ao grande número de Espíritos encarnados e desencarnados envolvidos na prece neste mesmo momento, todos com a mente voltada para uma espiritualidade edificante, cria- se no planeta uma excelente vibração onde os Espíritos trabalhadores da Seara do Cristo encontram subsídios para realizar trabalhos inimagináveis para a mente do homem comum. Assim, se possível, entremos nesta vibração coletiva do Bem buscando pela prece trabalhar em favor de nossos irmãos mais necessitados; sabedores que, no comando desta poderosa corrente está a Rosa Mística de Nazaré intercedendo perante Seu Filho, o Governador Espiritual do Orbe, por todos agregados a esta luminosa correnteza construtora da Ordem Universal. 19
  • 20. CLÁUDIO FAJARDO II Parte Maria a Educadora de Jesus Sobre este assunto há algumas reflexões que devem ser feitas. Jesus precisava ser educado? Precisava que alguém lhe ensinasse alguma coisa ou já sabia tudo? Este é mais um desafio em nossa tarefa de compreender o Mestre maior. Sinceramente penso que não há como responder estas e outras questões a respeito com certeza, é mais uma área em que o que falarmos não passa de opinião pessoal. Jesus é a maior expressão de amor que temos. Uma das maiores características daquele que ama é a capacidade que este tem de adequação. Portanto, Jesus ao vir a até nós adequou-se para que melhor pudesse cumprir sua missão. Não haveria como ele nos ensinar algo se assim não tivesse feito. Assim, para que pudesse ter autoridade fez-se como habitante comum de nosso orbe, restringiu-se para que melhor pudesse servir. Pelo que depreendemos de nossos estudos trata-se de uma restrição que fez de forma consciente e espontânea, e não por imposição. O que significa que a qualquer momento que quisesse poderia retomar suas possibilidades. Assim, tinha um corpo semelhante ao nosso, não fluídico como chegaram a supor, entretanto era um corpo mais perfeito que o habitual dos habitantes de nosso orbe. Ele não adoecia, tinha uma memória profunda, podia se tornar visível e invisível quando quisesse etc. Compreendemos então, que Jesus foi um menino como qualquer outro, teve infância, adolescência e tudo mais, todavia foi especial porque era especial, tinha uma evolução espiritual que nos escapa. Deste modo era natural alguém lhe ensinar as primeiras lições, todavia este aprendizado era mais que uma recordação, ele sabia em seu coração e em seu espírito. Era apenas um despertar. Dizem os que estudam a respeito de educação que educar é tirar do educando aquilo que ele já possui, e com Jesus isto foi ainda muito mais claro, ela já possuía todas as virtudes. Educar uma criança é tarefa complexa, talvez seja a mais importante e difícil que temos, imagine então, ter a missão de educar Jesus. Ele surpreendia seus pais a toda hora. Talvez a maior missão destes era realmente não atrapalhar o seu desenvolvimento, e podemos dizer com segurança, que apenas isto, não atrapalhar, já era uma missão desafiadora. Narra-nos o evangelista, que Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens.35 É de grande profundidade esta citação. Mostra-nos que Jesus fora uma criança que cresceu naturalmente como qualquer outra e que isso aconteceu aos olhos de todos com quem convivia. Que ele recebia informações, porém não as guardava somente no campo intelectual, as transformava em sabedoria pela aplicação do que “aprendia”. E isto fazia de maneira completa, diante de Deus, observando a sua Lei, e diante dos homens convivendo com todos, auxiliando, compreendendo, aproximando cada um do Pai, o que Ele sabia ser uma necessidade de todos. 35 Lucas, 2: 52
  • 21. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Kardec nos ensinou que educação é a arte de formar os caracteres36, o que ele definiu como educação moral. Esta é a que todos precisamos, é o maior objetivo para vida de cada um. Podemos afirmar com segurança que sob esta ótica Jesus foi um emérito educador desde criança. Não foi o que ele fez quando aos doze anos foi encontrado por seus pais entre os doutores no Templo? Não foi o que, invertendo os papeis, fez com José e Maria quando os levou à reflexão dizendo: Não sabeis que devo me ocupar com as coisas de meu Pai?37 ***** Humberto de Campos, este excelente repórter do Mundo Invisível nos conta que: Desde os mais tenros anos, quando [Maria] o conduzia [Jesus] à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Frequentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do Céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!… Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale de Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos. 38 Desculpem-nos repetir, mas é importante para nossas reflexões, como deve ter sido desafiadora a tarefa de Maria de educar um filho que desde criança era um sensacional educador… Normalmente os pais transmitem a seus filhos seus traumas particulares, suas angústias, seus fracassos, seus medos. Teria Maria estes sentimentos? Teria ela passado isto para Jesus? À primeira pergunta podemos responder que é bem provável que teria, ela era uma mãe genial, todavia não estava isenta de conflitos como podemos notar na literatura que temos analisado. Quanto à segunda, é mais difícil de saber a resposta, talvez em alguns momentos tenha até se mostrado apreensiva diante de seu filho, porém é certo que ela sabia e bem administrar suas emoções, o que é uma das tarefas mais complexas para o homem comum e que mais distinguem aqueles que se destacam na arte de educar. Retomaremos este assunto mais adiante. Temos feito algumas colocações baseadas em alguma literatura consultada, mas principalmente nas anotações dos evangelistas. E a partir destas reflexões chegamos à conclusão que Maria não era nem insegura e nem superprotetora, dois sentimentos, diga-se de passagem, que perturbam e muito o processo educacional, era intrépida e destemida. Por que assim dizemos? A insegurança na educação gera a superproteção, ambas são consequências do temor, do receio diante do perigo; a mãe de Jesus podia, como já dissemos, ter tido alguns momentos de apreensão, todavia não era sua característica o medo. Além da passagem da crucificação de Jesus, já citada, há outras que podem nos ajudar 36 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 1980, questão 685, comentários. 37 Lucas, 2: 49 38 (XAVIER/Humberto de Campos 1982), Cap. 30
  • 22. CLÁUDIO FAJARDO nesta conclusão. Infelizmente como é rara a literatura a respeito e o próprio Evangelho fala pouco sobre ela, às vezes depreendemos nossas conclusões a partir das atitudes de Jesus. Quem é educado num ambiente de superproteção raramente se sai bem diante dos desafios da vida. As primeiras adversidades têm a função de preparar a criatura para adversidades maiores que virão, ninguém pode evitá-las; nem a mãe pode, nem mesmo nenhum educador. Como o organismo que reage positivamente a uma enfermidade através de seu mecanismo de defesa, e assim é fortalecido seu sistema imunológico, as contrariedades fortalecem o nosso Espírito para os desafios que a vida nos propõe como num processo de recomposição de nossa estrutura íntima. Se Maria fosse insegura e superprotetora jamais Jesus conseguiria dar bom termo à sua missão. Ela deve ter incentivado-o desde criança a superar todos os obstáculos, a jamais temê-los. Se ela desde a infância não o ensinasse a perseverança, a nunca desistir de seus objetivos, a terminar tudo o que começou, é bem provável que ele no momento supremo, o da crucificação, desistisse e realmente apelasse para que o Pai enviasse mais de doze legiões de anjos39 para socorrê-lo. Aqui é importante lembrar que Jesus enfrentava as situações, as classes dominantes, a hipocrisia, o falso moralismo, tocava em pontos de alta significação para a alma, numa sociedade presa a antigas tradições e que punia severamente quem os contrariava. Em síntese Jesus tinha grande coragem e se é lógico que isso era fruto de sua evolução espiritual, não é menos verdade que sua educação deve ter contribuído para esta realidade. ***** Vejamos a grandeza da Mãe de nosso Senhor e a segurança com que agia analisando seu comportamento num momento que seria de tensão para qualquer um, o anúncio de que seria a mãe do Filho do Altíssimo. Um anjo fez esta revelação para Maria, ela seria mãe do Messias. Só isto já bastaria para deixar qualquer um apreensivo. O povo hebreu esperava um Messias há muitos séculos, ele seria o libertador dos seguidores de Moisés, reunificaria as doze tribos e faria de Israel a maior entre todas as nações. Vivia-se um período de conflitos, o império romano dominava a nação judaica, e o povo de Israel desejava ardentemente alguém que revertesse esta situação. Muitos àquele tempo diziam ser o Messias, ele era aguardado ansiosamente… Por que ser ele filho de uma mulher tão simples? Deve ter pensado, Ele poderia ser filho de um sumo sacerdote, de um rei, de alguém realmente preparado para lhe dar melhores condições. Ela deve ter tido vários conflitos a respeito. Deve ter perdido várias noites de sono se perguntando como educar o menino, um verdadeiro Filho de Deus. E se ela falhasse, atrapalharia os planos do Todo Poderoso? Deus tem seus mistérios e Maria tudo refletia em seu coração. Nós gostaríamos de analisar dois aspectos na passagem do anúncio do anjo a Maria, comparando–a a um anúncio semelhante feito pela mesma entidade espiritual a Zacarias, aquele que seria o pai de João Batista. Quem narra é Lucas: Anúncio a Zacarias 39 Cf. Mateus, 26: 53
  • 23. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. 6 E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7 E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade. 8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, 9 Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso. 10 E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso. 11 E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso. 12 E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. 13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. 14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, 15 Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. 16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao SENHOR seu Deus, 17 E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. 18 Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade. 19 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas. 40 O Anúncio a Maria No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. 28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, cheia de graça! O Senhor é contigo. 29 Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. 30 Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. 32 Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. 34 Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, se eu não conheço homem algum?41 É nas reações que percebemos o estágio evolutivo de um Espírito, assim vamos analisar apenas as reações de nossos personagens: Ao ser abordado pelo anjo, narra o evangelista que Zacarias turbou-se, e caiu temor sobre ele. E após Gabriel, o anjo, lhe falar sobre a gravidez de Isabel, sua esposa, e sobre a evolução do Espírito que viria ao mundo como enviado de Deus, através deles, Zacarias inquiriu: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade. Com Maria se deu um pouco diferente. O mesmo Espírito, Gabriel, lhe apareceu e saudou-a. Conta-nos Lucas que ela ao ouvir a saudação, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Do 40 Lucas, 1: 5 a 19 41 Lucas, 1: 26 a 34
  • 24. CLÁUDIO FAJARDO mesmo modo que com Zacarias, ele explicou que ela iria dar à luz um filho e que ele seria chamado Filho do Altíssimo e ainda comentou sobre os prodígios que ele faria. Ela reagiu dizendo: Como será isto, se eu não conheço homem algum? Antes de entrar propriamente na análise do comportamento dos dois, é importante saber um pouco sobre quem eram e em qual ambiente receberam a mensagem da Espiritualidade Superior. Zacarias era um sacerdote, ou seja, trabalhava no templo, era pessoa que cultivava as questões espirituais e estudava a Torah. E não só isso, segundo o texto evangélico era considerado um justo, e além de estudar, seguia de modo irrepreensível os mandamentos e estatutos de Deus. Informa-nos ainda Lucas, que era de idade avançada, o que significa que tinha amadurecimento. Em que ambiente estava quando recebeu a mensagem? No templo, no Santuário do Senhor; realizava o ofício de queimar o incenso. Podemos dizer em linguagem moderna e espírita, que estava num serviço espiritual em comunhão com os Espíritos e diz o texto evangélico que as pessoas que o aguardavam do lado de fora estavam em oração. É como se ele estivesse numa mesa mediúnica, e os que estavam na assistência orassem mantendo a vibração e auxiliando-o em seus trabalhos. Neste ambiente de vibrações elevadas, e sendo ele já experiente no serviço e de moral elevada, seria muito natural uma manifestação espiritual como a que aconteceu, mesmo assim, apesar de todo o seu preparo e também do ambiente, quando a manifestação aconteceu ele teve medo: caiu temor sobre ele. E teve mais, ele ficou cético, não acreditou no que o anjo lhe falava e pediu um sinal, uma prova: Como saberei isto? Maria por sua vez era uma adolescente. Não sabemos bem a sua idade, mas muito provavelmente tinha entre doze e quatorze anos. Ou seja, pelo menos em matéria de idade não tinha grande amadurecimento e preparo. O evangelista não diz onde ela estava, mas provavelmente estava em casa, onde habitualmente não é comum a manifestação de Espíritos. Mesmo assim o anjo se manifesta, era natural que ela também se perturbasse, e foi o que aconteceu. Entretanto, o redator bíblico nos informa que ela pôs-se a pensar no que significaria esta saudação, o que podemos depreender que apesar da perturbação ter sido grande, diz o texto que perturbou-se muito, ela equilibrou-se rápido pois exerceu uma ação que só quem está senhor de si assim faz, pôs-se a pensar. No momento do susto, quem está sob o impacto do medo não pensa, reage simplesmente. Ela teve tranquilidade, oxigenou o cérebro, e buscou compreender o porquê daquela saudação. Como era natural, o anjo a orientou que não temesse, o mesmo já havia acontecido com o marido de sua prima, todavia ela surpreendeu até mesmo o Mensageiro do Senhor, pois o texto não fala que ela temeu, e após a exposição de Gabriel sobre a gravidez maravilhosa por que ela passaria, o que seria mais um motivo de apreensão, ela ao contrário de Zacarias, creu imediatamente, e se inquiriu o anjo a respeito não foi pedindo-lhe provas, mas buscando entender como se daria o processo já que não tivera relações com nenhum homem. O texto é claro: Como será isto, se eu não conheço homem algum? A partir do momento em que ela pergunta como será isto…? É porque já admitia o fato, sua fé já lhe abastecera, porém ela quis saber mais já que não tivera contato sexual com seu noivo. Podemos com segurança dizer que o que Maria teve foi muita lucidez e naquele momento ela praticou o que Kardec dezenove séculos depois chamaria de fé raciocinada, ela não creu de forma cega, mas tendo a confiança superior, raciocinou, inquiriu e aprofundou seu estado intuitivo. Mostrou que já tinha vindo preparada para sua missão e que era um Espírito superior, acima da média, até mesmo de Zacarias que
  • 25. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS também fora preparado no plano espiritual, que também era de boa condição moral, mas em quem o nível de esquecimento era maior devido sua menor condição em relação a Maria. E consumando sua atitude de fé, pois como falaria mais tarde Tiago, a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma42., pôs-se a serviço em nome de Deus dando para todos nós significativo exemplo: Eu sou a serva do Senhor; faça em mim segundo a tua palavra.43 Administrando as Emoções Augusto Cury, em seu livro “Maria, a Maior Educadora da História” defende a idéia de que um dos motivos de Maria ter sido tão bem sucedida em sua tarefa de educar o menino Jesus, é porque ela sabia, e muito bem, proteger a sua emoção; ela fazia questão de ensinar a seu filho esta arte. Faz ele interessante raciocínio: Respeitados educadores ensinam os jovens a ter cuidado com seus objetos, não destruir seus materiais didáticos, não manchar suas roupas e a cuidar de seu corpo evitando acidentes e tendo higiene pessoal. Mas esquecem de ensiná-los a proteger o mais difícil espaço do ser humano, a sua emoção.44 Continua o autor na sequencia: Quem não aprender a proteger a sua emoção pode até conquistar o mundo, mas será sempre infeliz; pode ser aplaudido, mas será sempre opaco; pode comprar todo tipo de seguro, mas será sempre frágil. Todos nós que habitamos um planeta de expiações e provas, e principalmente nestes dias de transição, temos motivos para nos tornarmos tristes, depressivos, angustiados, preocupados e até mesmo contrariados. Entretanto, importa-nos reconhecer que Maria teve motivos ainda muito maiores que os nossos. Conforme narram os evangelistas, teve uma gravidez incompreensível para a mentalidade comum, isto gerou nela, em seu noivo, e em toda sua família, sérias apreensões. Após o menino nascer envolto em mistérios, teve que deixar sua cidade, sua zona de conforto, o calor dos familiares, e partir para um novo país, sem saber por quanto tempo, em que condições lá viveria, com quais recursos, etc. Sua sensibilidade era grande, pois quanto mais o Espírito é evoluído, mais é sensível; assim, deve ter muito sofrido com a perseguição de Herodes aos inocentes por causa de seu filho. Tudo isso devia ser para ela e para os seus, motivo de grandes pressões psíquicas; não esqueçamos ela era uma adolescente, e estava num dos momentos de maior sensibilidade para uma mulher, o período pós parto. Como será que reagiríamos numa situação destas? Por muito menos nós nos tornamos angustiados, depressivos, inconformados e paralisamos todo processo criativo em nossa vida. Qual a diferença entre nossas posições e a de Maria? Simplesmente de atitude. Maria sabia administrar seus conflitos, gerenciar suas emoções. Em momento anterior neste nosso estudo fizemos uma breve comparação entre Maria e Eva, aqui podemos ampliá-la. Através do sentimento de Eva entramos em queda por ser ela a representação de um sentimento dissociado da razão. Maria por representar a 42 Tiago, 2: 17 43 Lucas, 1: 38 44 CURY, Augusto. Maria, a Maior Educadora da História. São Paulo, Ed. Planeta do Brasil, 2007, cap. 6.
  • 26. CLÁUDIO FAJARDO sublimação de Eva, ensina-nos a usar o emocional e o racional em plena harmonia. Não é um sobrepondo-se ao outro, não é a razão dando a palavra final, mas o perfeito equilíbrio entre estes dois componentes tão importantes para o nosso progresso em todos os níveis. Neste passo podemos fazer mais uma importante reflexão. Não sabemos se Maria não agisse desta forma, se poderia comprometer a missão de Jesus. Teoricamente sim, pois se ela se tornasse uma inconformada, se ela trabalhasse um sentimento de autopiedade, dificultaria sem dúvida o desenvolvimento de seu filho. Porém, como este acontecimento - a vinda até nós de Jesus - foi o mais importante de nosso planeta, desde a sua origem, o Pai não delegaria para esta missão quem tivesse a chance de falhar. Todavia, o Evangelho não é uma telenovela ou um romance comum, é preciso trazer para o nosso dia a dia as suas lições imortais. Assim, é importante refletirmos, pois nós não sabemos quem o Pai colocou em nossa vida como filho, qual a missão de cada um deles. A mãe de um futuro presidente de uma nação não sabe o que ele será quando criança, o mesmo podemos dizer em relação a um grande cientista, ou, a um importante educador. Será que não estamos atrapalhando o projeto de Deus ao agirmos de forma tão destemperada como em muitas vezes fazemos? Não estaremos dificultando a vida de nossos filhos sendo inconformados, ensinando-os com a vida prática a não perdoarem quando contrariados, a serem violentos e irracionais? São pontos a serem trabalhados por todo aquele que já está cônscio de sua necessidade reeducativa e da importância de agir como um colaborador de Deus. Voltando ao citado escritor e psicoterapeuta, Augusto Cury, na obra já aqui comentada, ele sugere-nos três ferramentas para trabalharmos em nossa vida, e para ensinarmos aos nossos educandos - pois não tenhamos dúvida todos somos, em maior ou menor escala, educadores - a fim de evitarmos transtornos depressivos, suicídios, enfermidades psíquicas e perda de oportunidades. São elas: • Doar-se sem esperar muito do outro. • Compreender o outro na sua dimensão interior. • Saber que ninguém pode dar o que não tem. Sem dúvida são três princípios de grande importância para todos nós e que se os praticássemos diminuiríamos e muito nossas dores e dissabores. Temos muitas vezes dito e ouvido que Deus nos criou para amar e sermos amados. É preciso repensar esta informação e analisá-la com carinho. Ao nosso ver ela é em parte verdade, mas há nela um pouco de contaminação de nossa psicologia inferior. Sim, fomos criados para amar. Deus é amor. A matéria prima da criação é amor. Assim, se quisermos estar ajustados a Deus, caminhar no fluxo natural da vida de acordo com a Vontade Soberana e sermos agraciados por sua Misericórdia, temos de amar, pois este é o “idioma” de Deus, é através dele que nos comunicamos com o Criador. Entretanto, a segunda parte da afirmativa “ser amado” deve ser observada de forma diferente. Não fomos criados para sermos amados como uma pré-condição básica. Ser amado é efeito, consequência, retorno. A causa é amar, se amarmos seremos naturalmente amados. Isto se dará sem nenhuma ansiedade, espontaneamente. É da Lei, e ela se cumprirá sempre. Esta questão mal compreendida é que dificulta trabalhar em nós a primeira ferramenta, pois até admitimos que devemos doar, até nos sentimos satisfeitos por assim proceder,
  • 27. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS porém não abrimos mão de esperarmos retorno, temos o grande defeito de criarmos expectativas e esse é o problema. Se não criássemos expectativa em relação ao outro noventa por cento de nossas dificuldades de convivência estariam resolvidas. Vamos trabalhar a terceira ferramenta, saber que ninguém pode dar o que não tem, junto com a primeira, pois em nosso modo de ver ela é um acessório desta. Quem não espera muito do outro, sabe que ele só pode dar o que tem, uma virtude maior contém naturalmente uma menor. Ou ainda, a vivência da terceira ferramenta, leva naturalmente à primeira. Aqui nos permitimos uma ressalva muito bem colocada pelo Espírito André Luiz através da mediunidade gloriosa de nosso querido Chico Xavier, a alegria é a única coisa que podemos dar ao outro mesmo se não possuirmos. Portanto, se ainda não conseguimos, como seria desejável, não esperar muito do outro, iniciemos o processo de defender a nossa emoção pelo menos não pedindo a ninguém algo que ele esteja incapaz de dar. Proceder deste modo não é ainda ser bom, mas é pelo menos agir com inteligência, o que já é um grande passo para a conquista da sabedoria. A outra ferramenta colocada por Cury e também de fundamental importância é compreender o outro na sua dimensão interior. Compreender o outro por si só é uma virtude de grande alcance e que evita muitas contrariedades. Perdoar é uma atitude nobre, compreender é ainda mais, pois aquele que verdadeiramente compreende o outro não chega nem a sentir a ofensa, não tendo assim o que perdoar. Compreender é desativar os pontos de conflito, significa transitar com segurança na área da emoção. E compreender o outro na sua dimensão interior torna-se ainda mais nobre, pois além de enxergar o outro, o que não é habilidade comum entre nós, é se aperceber do que está para além do visível, é também saber do outro em suas dimensões emocionais, espirituais e sentimentais. Só Espíritos de boa condição moral e espiritual têm esta capacidade, e fazendo deles modelos a serem seguidos temos de ser obstinados em trabalharmos também nosso interior na conquista deste valor. E Augusto Cury ainda nos faz, na mesma obra e capítulo, importante consideração sobre este tema: por trás de uma pessoa que fere, há uma pessoa ferida. Como a nos dizer: “quando nos sentirmos atacados, ou agredidos por alguém, trabalhemos nossa acuidade espiritual e enxerguemos nela não um agressor comum, alguém de má índole, mas um enfermo necessitado de um médico para a sua alma”. E Jesus, o filho de Maria, já nos alertara, o doente é que precisa de médico. Ele é o Médico dos médicos, e nós, seus efetivos colaboradores na implantação de sua Boa Nova no coração de todos. Tu me amas, ainda fala o Senhor na intimidade de nossos corações, então, apascenta as minhas ovelhas. O que de outro modo pode significar: “educa as minhas ovelhas.” Fé Em uma missão espiritual não há como prescindir da fé. Ela é componente essencial para que tudo aconteça como programado pelo Alto. Já comentamos sobre esta virtude em Maria quando da assimilação do conteúdo da revelação do anjo a ela explicando-lhe a concepção. Mas há outros momentos importantes que não podem deixar de ser destacados e que nos ajudarão a compreender o quanto esta missionária era preparada para realizar a tarefa mais desafiadora de todos
  • 28. CLÁUDIO FAJARDO os tempos, a de educar ninguém mais, ninguém menos, que o Governador Espiritual do Orbe. José e Maria cumpriam rigorosamente todos os preceitos judaicos. Circuncidaram o menino no oitavo dia conforme mandava a lei, e ao completarem os dias da purificação da mãe, o que ocorria trinta e três dias após45, levaram Jesus ao templo, em Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor46. Lá encontraram um homem já idoso, chamado Simeão, que ao ver o menino, inspirado realiza grande profecia. Entre outras coisas diz ele a Maria: Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.47 Imaginemos a cena. Maria, acompanhada do marido e do filho, estava cansada de uma viagem longa e feita com muitas dificuldades. Ela estava ainda no período do resguardo. Deveria estar fraca e altamente sensível… Apesar de Simeão exaltar a grandeza espiritual do menino sua profecia não foi nada agradável. Ele, Jesus, estava destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição. Isto pressupunha uma vida de muitas apreensões, de dores e sofrimentos. A nação judaica era rigorosa quanto à tradição religiosa. O anjo havia dito que ele seria Rei, que herdaria o trono de Davi, talvez naquele momento ela não tenha percebido que para atingir este fim ele teria uma vida de conflitos, de lutas e de perigos. Agora aquele homem inspirado dizia que ele seria alvo de contradições que elevaria alguns – o que se pressupõe eram os simples -, e que também arruinaria muitos, e aqui podemos depreender que eram os da elite, os do poder. E ainda diz mais, com referência ao sofrimento dela própria, uma espada traspassará a tua própria alma. Para quem era profunda conhecedora das Escrituras conforme vimos pelo Magnificat, ela deve ter entendido na hora a que sacrifício estariam submetidos ela e seu filho.48 A profecia se cumpriu no tempo, mas no coração de Maria deve ter acontecido naquele instante mesmo. Como suportaríamos uma situação desta? Se algo parecido acontecesse conosco, isto não atrapalharia a educação de nosso filho? Vejamos que são duas situações opostas que acontecem com ela; em qualquer delas estaríamos em dificuldades e talvez comprometidos na realização da missão. Primeiro o anjo lhe antecipa a vitória. Ela seria mãe do Filho de Deus, ele herdaria o trono de Davi e reinaria para sempre. Tal informação poderia ser para ela, se não fosse muito vigilante, pedra de tropeço, pois a vaidade poderia vir à tona e comprometer todo o processo. Depois Simeão lhe fala de lutas incessantes, até mesmo de um provável assassínio de seu filho mostrando a ela que o final da história talvez fosse trágico. Este nível de informações, até contraditórias, dependendo do ângulo em que as analisarmos, não tenderiam a prejudicar a formação do menino, já que ela poderia tentar mudar o seu destino? 45 Levítico, 12: 4 46 Lucas, 2: 22 47 Lucas, 2: 34 e 35 48 Cf. Zacarias, 12: 10
  • 29. MARIA DE NAZARÉ A EDUCADORA DE JESUS Se nós soubéssemos que o nosso filho iria passar por um processo de grande dificuldade, de provável morte por incompreensão de muitos, mesmo que soubéssemos que tudo isto era Desígnio do Altíssimo, o que faríamos? Ajudaríamos Deus em seu projeto, ou tentaríamos evitar o “pior” para o nosso filho amado, mudando o seu destino? Dizemos assim, porque muitas vezes, mesmo não sendo numa questão tão grave quanto esta, priorizamos para os nossos tutelados, uma boa escola, boas companhias, uma profissão adequada, mas não visando seu crescimento espiritual e sim um futuro promissor através de um emprego rentável, onde através de um salário alto pudesse manter conforto e estabilidade material. Falamos muito de espiritualidade, mas na maioria das vezes a segurança desejada pensamos estarem nas conquistas transitórias, e assim as perseguimos ardentemente. Jesus veio mudar este paradigma, e para tal tinha de dar o exemplo. Aqueles a Ele vinculados e que vieram para auxiliá-Lo, fizeram do mesmo modo: sacrifício como instrumento de libertação. Hoje nós tentamos distorcer o entendimento e falamos em prosperidade, porém queremos prosperidade material esquecendo que a fé se manifesta em qualidade e em maior escala é na carência e nas dores. Moisés era um disciplinador – primeiro passo do processo educativo, a disciplina antecede a espontaneidade49 -; Jesus veio como educador; Kardec como pedagogo; desta forma, temos de compreender que este foi um projeto traçado por Deus para educar a alma, o Espírito imortal. Maria só pôde ser peça chave deste processo, sendo também educadora, e de Jesus, porque compreendeu o Mecanismo Divino, e a ele se ajustou fazendo-se serva do Senhor. Ela teve a intuição da missão e a ousadia de executá-la. Quando não compreendia a superioridade do filho tinha humildade para guardar a lição em seu coração50 ou simplesmente dizer: fazei tudo o que ele vos disser51. O melhor entre todos os educadores é aquele que não se cansa de aprender, e a isso se dedica dia a dia. ***** Ainda sobre o tema fé e da forma como Deus prepara o Espírito para realizar a Sua Vontade, não podemos deixar de analisar a passagem da fuga da família do Messias para o Egito. Muitas vezes diante de uma grande dificuldade optamos por nos afastar do cumprimento de uma tarefa que até então pensávamos em realizar em favor do Bem. Ainda chegamos a dizer desafiando o Criador: “Se Deus quisesse que eu realizasse tal trabalho não me dificultaria tanto a realização, acho que estes empecilhos são os avisos Dele para me mostrar que essa não é a minha missão”. Como somos ignorantes e comodistas… Já pensou se José e Maria pensassem desta forma? “Se Jesus fosse mesmo o Messias, por que tanta dificuldade? Por que deixar nossa zona de conforto e ir para um país desconhecido? Por que sermos tão pobres?” Desculpas é que não faltariam para o abandono da missão. Em nossa vida temos 49 XAVIER/Emmanuel [Espírito]. O Consolador, 16ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1993, Q. 254 50 Cf. Lucas, 2: 19 e 51. 51 João, 2: 5