O documento apresenta um resumo da literatura brasileira no período colonial, dividido por movimentos literários. Aborda os principais autores e obras de cada período, como a literatura informativa do Quinhentismo, a literatura de catequese, os poetas Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira no Barroco, e Tomás Antônio Gonzaga no Arcadismo.
1. Aula 01
A Literatura no Período
Colonial Brasileiro
Estudar literatura é, basicamente, ampliar
nossas habilidades de leitura do texto literário.
No Ensino Médio, esse estudo é acrescido da
história literária, que objetiva acompanhar a
evolução cronológica da literatura de
determinado povo e cultura, observando suas
transformações de acordo com o momento
histórico. Por isso, a história da literatura
organiza-a em movimentos, períodos e
gerações.
Quinhentismo (Século XVI)
“Viemos buscar cristão e especiarias”
O Quinhentismo corresponde à época do
descobrimento do Brasil, movimento paralelo
ao Classicismo Português que, por sua vez,
possui ideias relacionadas diretamente ao
Renascimento. A literatura do Quinhentismo
tem como tema central os próprios objetivos
da expansão marítima: a conquista espiritual e
a conquista marítima.
Literatura Informativa
A literatura informativa se refere aos relatos
dos viajantes, que eram enviados a corte
portuguesa. O conteúdo deste tipo de literatura
descrevia a natureza brasileira, com foco nos
aspectos exóticos, nos nativos e nas riquezas
naturais. Dentre os autores destes relatos,
destacam-se:
Pero Vaz de Caminha – Carta a El-Rei Dom
Manuel;
Fernandes Brandão – Diálogos das Grandezas
do Brasil;
Pero Magalhães Gândavo – História da
Província de Santa Cruz.
Viagem ao Brasil – Jean de Léry
Entre os Tupinambás – Hans Staden
Literatura de Catequese
Ligada à Contrar-reforma a literatura de
catequese tinha como objetivo de ampliar a fé
cristã, através da catequização dos nativos.
Utilizava como recursos o teatro e a
compreensão da língua Tupi, por parte de seus
autores. Dentre os escritores desta literatura,
destacam-se:
O Padre José de Anchieta – que utilizava o
teatro e a poesia como forma de expressão.
Padre Manuel da Nóbrega – conhecido por
“Cartas do Brasil” e “Diálogo sobre a
conversão do gentio”.
Barroco (século XVII)
Principais características:
Convivendo com o sensualismo e os prazeres
trazidos pelo Renascimento, os valores
espirituais – tão fortes na Idade Média e
desprezados pelo Renascimento – voltaram a
exercer forte influência sobre a mentalidade
da época. Uma nova onda de religiosidade foi
trazida pela Contra-Reforma e pela fundação
da Companhia de Jesus. Neste sentido, o
homem do século XVII era um homem dividido
entre duas mentalidades, duas formas
diferentes de ver o mundo:
2. Renascimento – influência dos clássicos
(racionalismo, equilíbrio, clareza, linearidade
de contornos), visão antropocêntrica ou
humanista, sensualismo, valorização da vida
corpórea, etc.; Idade Média – teocentrismo,
valorização da vida espiritual, fé, etc.
A Arte Barroca irá expressar esta tensão entre
ideias e sentimentos opostos. Destacam-se
dois autores da literatura barroca no Brasil:
Gregório de Matos Guerra, nascido na Bahia
em 1633, também conhecido como “Boca de
Inferno”, é o primeiro poeta brasileiro e o
maior poeta do Período Colonial. Sua obra
costuma ser dividida em três vertentes
básicas: lírico-amorosa, lírico-religiosa e
satírica.
Abaixo citamos alguns poemas de Gregório de
Matos Guerra:
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar- vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada,
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra Historia,
Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
A Cidade da Bahia
“A cada canto um grande conselheiro
Que nos quer governar cabana e vinha
Não sabem governar sua cozinha
E podem governar o mundo inteiro
Em cada porta um freqüentado olheiro
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha
Para levar à Praça e ao Terreiro
Muitos mulatos desavergonhados
Trazidos pelos pés os homens nobres
Posta nas palmas toda picardia*
Estupendas usuras nos mercados
Todos os que não furtam, muito pobres
E eis aqui a cidade da Bahia.”
À Mesma Dona Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
3. Moraliza o poeta nos ocidentes do Sol a
inconstância dos bens do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens da natureza
A firmeza somente na inconstância.
Padre Antônio Viera (1608 – 1697)
Considerado o maior orador sacro da nossa
história, Vieira escreveu cerca de duzentos
sermões. Foi uma espécie de cronista da
história imediata. Foi também um defensor
dos índios e dos cristãos-novos. Sua obra se
divide em quatro temáticas básicas: a arte de
pregar, a causa do indígena, o problema da
escravização do africano e a questão
holandesa. Em todas elas, evidentemente, são
debatidas questões existenciais e religiosas.
Obra Principal: Sermões
Arcadismo (século XVIII)
Contexto Histórico
- Influência do Iluminismo, representado por
filósofos como Rousseau e Voltaire;
- No Brasil: ocorre em Minas Gerais (ciclo do
ouro);
- Ouro incrementou o início de uma vida
urbana;
- Poetas são ligados ao movimento da
Inconfidência Mineira.
Principais características:
O Arcadismo, também chamado
neoclassicismo, recebeu este nome como uma
referência à Arcádia, região campestre do
Peloponeso, na Grécia antiga, tida como ideal
de inspiração poética. Podemos dividir seus
autores em líricos e épicos.
A poesia lírica, no Brasil, tem como principais
autores Tomás Antônio Gonzaga, que escreveu
Cartas Chilenas, uma obra satírica e a
principal obra árcade do país: “Marília de
Dirceu”. Já Cláudio Manuel da Costa é autor de
“Obras poéticas”, com influência da lírica
camoniana, e “Vila Rica”, poema narrativo
sobre Vila Rica, sendo este um poema épico.
Tomás Antônio Gonzaga – foi dos maiores
escritores do Arcadismo brasileiro. Sua obra,
na verdade, vai além das limitações desta
4. escola, rodeando o pré-romantismo,
principalmente ao referir-se à mulher amada.
Obras:
Marília de Dirceu (1792) - Dividido em 3 partes:
➥Pastor Dirceu declara seu amor e celebra a
beleza de sua pastora, Marília;
➥Traduz estado de espírito do tempo em que
esteve na prisão;
➥ Poemas variados.
Cartas Chilenas (1845) – obra satírica:
➥ Cartas de Critilo para Doroteu
➥Críticas a Fanfarrão Minésio
Na poesia épica do arcadismo brasileiro
iniciou-se a delineação de uma literatura
nacionalista, diferente da europeia por utilizar
como temática a história colonial em meio à
descrição da paisagem tropical do país e a
inserção do índio como personagem.
Entre os autores de poesia épica destaca-se
Santa Rita Durão, que escreveu a obra
“Caramuru”, utilizando o Modelo de Camões
para contar a Lenda do descobrimento, através
dos personagens Diogo, Paraguaçu e Moema.
Outro destaque é Basílio da Gama, autor de “O
Uraguai”, poema épico pré-romântico, que
aborda como tema a tomada das missões,
através dos personagens Lindóia e Sepé
Tiarajú.
Cláudio Manuel da Costa - Utilizando o
pseudônimo Glauceste Satúrnio (musa
inspiradora é Nise, a pastora inacessível), foi
um dos introdutores do Arcadismo no Brasil.
No entanto, é considerado um poeta de
transição (Barroco > Arcadismo) por
apresentar, ainda, uma temática barroca (a
brevidade dolorosa do amor e da vida).
Cultuou o soneto de Camões como modelo
para seus poemas.
Obras:
Obras Poéticas (1768)
Vila Rica (1839): poema narrativo sobre a
fundação de Vila Rica.
Já rompe, Nise, a matutina aurora
O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do sol a face pura,
Tinha escondido a chama brilhadora.
Que alegre, que suave, que sonora
Aquela fontesinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!
Só minha alma em fatal melancolia,
Por te não poder ver, Nise adorada,
Não sabe inda, que coisa é alegria;
E a suavidade do prazer trocada,
Tanto mais aborrece a luz do dia,
Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.
Que deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado
Que bem é ver nos campos transladado
O gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
Ali respira amor, sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade:
Ali não há fortuna que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre.
5. Exercícios
Instrução: após a leitura do texto abaixo
(extraído da Carta de Caminha), responda à
questão 1.
“Nela até agora não pudemos saber que haja
ouro nem prata, nem nenhuma cousa de
metal, nem de ferro; nem lho vimos. A terra,
porém, em si, é de muito bons ares.”(...)
“Mas o melhor fruto que nela se pode fazer
me parece que será salvar esta gente. E esta
deve ser a principal semente que vossa Alteza
em ela deve lançar. E que não houvesse mais
ter aqui esta pousada para esta navegação de
Calecute, bastaria, quanto mais, disposição
para se nela cumprir e fazer o que Vossa
Alteza tanto deseja, a saber, acrescentando de
nossa santa fé.”
1) A respeito da Carta, de Caminha, podemos
afirmar que
(A) não há preocupação com a conquista
material.
(B) a única preocupação era a catequese dos
índios.
(C) é representativa do Barroco brasileiro.
(D) apresenta tanto preocupação material
quanto espiritual.
(E) não cita, em momento algum, os nativos
brasileiros.
2) Considere as seguintes afirmações sobre o
Barroco brasileiro.
I.A arte barroca caracteriza-se por apresentar
dualidades, conflitos, paradoxos e contrastes,
que convivem tensamente na unidade da obra.
II. O conceptismo e o cultismo, expressões da
poesia barroca, apresentam um imaginário
bucólico, sempre povoado de pastoras e
ninfas.
III. A oposição entre Reforma e Contra--
Reforma expressa, no plano religioso, os
mesmos dilemas de que o Barroco se ocupa.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas l e III.
(E) I, II e III.
3) Pode-se reconhecer nos versos abaixo, de
Gregório de Matos,
“Que falta nesta cidade? Verdade”.
Que mais por sua desonra? Honra.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha."
(A) o caráter de jogo verbal próprio do estilo
barroco, a serviço de uma crítica, em tom de
sátira, do perfil moral da cidade da Bahia.
(B) o caráter de jogo verbal próprio da poesia
religiosa do século XVI, sustentando piedosa
lamentação pela falta de fé do gentio.
(C) o estilo pedagógico da poesia neoclássica,
por meio da qual o poeta se investe das
funções de um autêntico moralizador.
(D) o caráter de jogo verbal próprio do estilo
barroco, a serviço da expressão lírica do
arrependimento do poeta pecador.
(E) o estilo pedagógico da poesia neoclássica,
sustentando em tom lírico as reflexões do
poeta sobre o perfil moral da cidade da Bahia.
6. 4) Quanto ao período barroco e seus
representantes na literatura colonial
brasileira, é correto afirmar que
(A) os sermões de Antônio Vieira apresentam
uma retórica complexa pela exuberância de
imagens e pelos postulados morais e
religiosos.
(B) a obra de Gregório de Matos se distingue
pela sua unidade temática, expressa por um
tom satírico.
(C) a poesia irreverente de Gregório de Matos
satiriza diferentes tipos sociais, exceção feita
aos representantes da Igreja.
(D) o predomínio dos valores transcendentais,
motivados pela Reforma, marca o estilo
barroco da obra de Vieira.
(E) Gregório de Matos se ateve ao uso da língua
culta da Metrópole, ao contrário de Vieira, que
utilizou termos indígenas, africanos e
populares.
5) Leia as afirmações abaixo sobre o
Arcadismo brasileiro.
I. Os poetas árcades colocavam-se como
pastores para realizarem, dessa forma, o ideal
de uma vida simples em contato com a
natureza.
II. O Arcadismo brasileiro, embora tenha
reproduzido muito dos modelos europeus,
apresentou características próprias, como a
incorporação do elemento indígena e a sátira
política.
III. O tema do Carpe diem, em que o poeta
expressa o desejo de aproveitar intensamente
o momento presente, fugaz e passageiro, foi
ignorado pelos árcades brasileiros,
excessivamente racionalistas.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
Gabarito
1 – D 2 – D 3 – A 4 – A 5 – C