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FACULDADE PAULUS DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO
Caio Carvalho
Catarina Flório
Eliel Guilhen
Rodrigo Caravieri
DOCUMENTÁRIO:
HIV 50+
São Paulo
2015
FACULDADE PAULUS DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO
Caio Carvalho
Catarina Flório
Eliel Guilhen
Rodrigo Caravieri
DOCUMENTÁRIO:
HIV 50+
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à
Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, como
requisito de aprovação para o Curso de Comunicação
Social, (Projeto Híbrido: JO e RTVI), sob a orientação do
prof. Ms Vanderlei Dias.
São Paulo
2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação
Carvalho, Caio; Flório, Catarina; Guilhen, Eliel; Caravieri; Rodrigo
Documentário HIV 50+ / Caio de Cavalho, Catarina de Carvalho Vieira Flório,
Eliel Cassemiro Guilhen e Rodrigo Alves Caravieri. – 2015.
122 f.; 30cm.
Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade Paulus de Tecnologia e
Comunicação, São Paulo, 2015.
“Orientação: Prof. Vanderlei Dias”.
1. HIV/AIDS. 2. HIV 50+
Caio Carvalho
Catarina Flório
Eliel Guilhen
Rodrigo Caravieri
Documentário:
HIV 50+
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e
Comunicação para obtenção do Título de Bacharel em Comunicação Social.
___________________________________
Local e data de aprovação
São Paulo, (dia) de (mês) de (ano).
_______________________________ _______________________________
Prof. Ms. Vanderlei Dias de Souza Nome do Professor(a)
_______________________________
Nome do Professor(a)
AGRADECIMENTOS
Queremos enfatizar o carinho e respeito por todos da Casa Fonte Colombo, localizada
em Porto Alegre, na qual fomos recebidos de braços abertos com todo o apoio
necessário para entrevistar pessoas incríveis. O trabalho de vocês é fundamental para
que esse assunto não caia no esquecimento.
A todas as pessoas que entrevistamos, que separaram um tempo de suas vidas para
ajudar a dar mais visibilidade a vocês mesmos.
Aos amigos Bruna Lisboa, Edgar Ishikawa, Élder Magalhães, Felipe Rodrigues,
Maunto Nasci, Nilse Carvalho, Philip Morris, Romero Gouw Benitez e Sérgio Pessoa
que nos ajudaram com a produção, filmagem, edição e estética visual do produto.
Ao Cafofo 32, que sediou as nossas reuniões de sábado, sempre com um café quente
e muitas escadas.
Ao Hostel Casa Azul, que nos ajudou com a locação de entrevistas e nos abrigou na
viagem à Porto Alegre.
Ao Google Drive, que nos possibilitou armazenar todas as nossas alterações,
transferências de arquivo e salvou nossas vidas quando perdemos material no
computador.
Aos familiares e amigos que nos apoiaram: sem vocês, esse documentário não seria
possível.
RESUMO
CARVALHO, Caio; FLÓRIO, Catarina; GUILHEN, Eliel; CARAVIERI; Rodrigo.
Documentário: HIV 50+. São Paulo, 2015. 122 f. (Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, para a obtenção
do título de Bacharel em Comunicação Social).
O trabalho tem como objetivo geral contribuir com informações sobre o tema AIDS
na terceira idade, através de um projeto experimental híbrido (Jornalismo e Rádio,
TV e Internet) documental, buscando reunir material que evidencie o cotidiano de
portadores do vírus HIV na terceira idade, documentando a história e vida dessas
pessoas. Para isso, personagens idosos e soropositivos serão acompanhados por
meio de entrevistas e depoimentos, de forma que compreendamos o atual
contexto de suas vidas e recuperemos o contexto histórico de quando foram
infectados; fazendo com que este trabalho se torne uma ferramenta de reflexão e
traga visibilidade a este público.
Palavras-chave: AIDS, HIV, Terceira Idade, Idosos.
Modalidade do projeto experimental: O projeto terá o formato de Documentário.
ABSTRACT
CARVALHO, Caio; FLÓRIO, Catarina; GUILHEN, Eliel; CARAVIERI; Rodrigo.
Documentary: HIV 50+. São Paulo, 2015. 122 f. (Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, para a obtenção
do título de Bacharel em Comunicação Social).
The paper's general objective is to contribute with information on the AIDS topic in
old age through a hybrid experimental project (Journalism and Radio, TV and
Internet) documentary, seeking to gather material showing the HIV virus carriers
daily in old age, documenting the history and lives of these people. For this, the
elderly and HIV positive characters will be accompanied by interviews and
statements, in order to understand the current context of their lives and regain the
historical context of when they were infected; making this work becomes a
reflection tool and bring visibility to this audience.
Keywords: AIDS, HIV, Old Age, Third Age.
Type of experimental project: The project will have a documentary format.
Sumário
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................10
1.1 Apresentação geral do projeto .........................................................................10
1.2 Justificativa.......................................................................................................12
1.3 Objetivo ............................................................................................................12
1.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................12
1.3.2 Objetivo Específico...........................................................................................13
1.4 Problematização................................................................................................13
1.5 Hipóteses .........................................................................................................13
2. AIDS DEPOIS DOS 50 ANOS...............................................................................13
2.1 AIDS.............................................................................................................14
2.1.1 Origem do HIV..................................................................................................14
2.1.2 O vírus HIV.......................................................................................................15
2.1.3 Sintomas ..........................................................................................................15
2.1.4 Transmissão.....................................................................................................16
2.1.5 Janela Imunológica ..........................................................................................17
2.1.6 Tratamento.......................................................................................................17
2.1.7 HIV nos idosos .................................................................................................19
2.2 Terceira Idade .....................................................................................................21
2.2.1 A sexualidade na Terceira Idade......................................................................22
2.3 A descoberta da AIDS nos homens ....................................................................23
2.4 A descoberta da AIDS nas mulheres ..................................................................24
2.5 Preconceito .........................................................................................................25
2.5.1 Preconceito contra a mulher idosa ...................................................................27
2.6 A Sociedade, o Estigma e o Paciente Soropositivo.............................................29
3. DOCUMENTÁRIO.................................................................................................30
3.1 Jornalismo Investigativo ......................................................................................32
3.2 Referencial Estético ............................................................................................34
3.2.1 Documentários .................................................................................................34
3.2.2 Produções Ficcionais .......................................................................................37
3.3 Comunicação ......................................................................................................38
3.4 Trilha Sonora.......................................................................................................38
3.5 Animação ............................................................................................................39
3.6 Características ....................................................................................................39
3.6 Inserção no Mercado...........................................................................................41
3.6.1 Veiculação Principal .........................................................................................41
3.6.2 Veiculação Alternativa......................................................................................44
3.7 Construção da Identidade Visual.........................................................................47
4. PROCEDIMENTOS...............................................................................................50
4.1 Metodologia.........................................................................................................50
4.2 Pautas .................................................................................................................53
4.2.1 Pauta para o médico infectologista ..................................................................53
4.2.2 Pauta para o médico psicólogo ........................................................................54
4.2.3 Pauta para os portadores de HIV/AIDS............................................................55
4.3 Entrevistados.......................................................................................................56
4.4 Análise de Mídia..................................................................................................60
5. MATERIAL DESCRITIVO DE PRODUÇÃO..........................................................65
5.1 Cronograma ........................................................................................................65
5.2. Atividades desenvolvidas ...................................................................................68
5.2.1 Escolha do tema e coleta de material ..............................................................68
5.2.2 Entrevistas e viagens .......................................................................................70
5.2.3 As últimas horas...............................................................................................76
5.2.4 Episódios isolados............................................................................................77
5.3 Orçamento...........................................................................................................77
5.4 Material usado na gravação ................................................................................79
5.5 Roteiro.................................................................................................................79
5.5.1 Localização ......................................................................................................79
5.5.2 Locações..........................................................................................................79
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................80
7. REFERÊNCIAS.....................................................................................................81
7.1 Quadro Teórico ...................................................................................................81
7.1.1 AIDS na Terceira Idade....................................................................................81
7.1.2 Documentário...................................................................................................85
7.2 Referências Audiovisuais ....................................................................................86
7.3 Metodologia.........................................................................................................87
7.4 Análise de Mídia..................................................................................................88
7.5 Outros..................................................................................................................90
8. APÊNDICE............................................................................................................93
8.1 Apêndice A: Roteiro Transcrito............................................................................93
8.2 Apêndice B: Documento de Autorização Fapcom .............................................111
8.3 Apêndice C: Autorizações .................................................................................112
10
1. INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação geral do projeto
O tema do projeto experimental é AIDS acima dos cinquenta anos, a ser feito
através de um produto híbrido (Jornalismo e Rádio, TV e Internet) documental, na
modalidade de conhecimento produção multimídia.
Desde a identificação da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a AIDS, no
início dos anos oitenta, muito se descobriu acerca da doença, trazendo mudanças na
compreensão do vírus HIV, no tratamento da doença e suas consequências.
Primeiramente, foi um desafio à medicina, que não encontrava soluções e tampouco
assimilava a desconhecida enfermidade que se mostrava fatal para os atingidos.
Enquanto a doença se espalhava, a imprensa utilizava o termo peste gay para noticiar
a epidemia, devido aos primeiros casos registrados entre a comunidade gay
masculina de São Francisco, nos Estados Unidos da América, ecoando até os dias de
hoje um forte preconceito em torno da doença, a ideia de que a AIDS é uma
enfermidade de homossexuais. Além disso, sexo permanece como tabu e, sendo a
relação sexual o principal disseminador do vírus, consolida o preconceito contra
soropositivos, julgados como promíscuos pela sociedade conservadora e machista.
Três décadas se passaram e a ciência progrediu o bastante para que seja
possível viver com AIDS. Hoje, os portadores do HIV podem levar uma vida normal e
se relacionar, inclusive, com pessoas sorodiscordantes. Contudo, os efeitos colaterais
dos remédios, as restrições de comportamento, o preconceito presente no dia a dia e
a possibilidade de cura não cessaram, trazendo grande impacto na sociedade
contemporânea, seja como doença ou como fonte de discriminação, o que levou a
inúmeras campanhas de prevenção e conscientização serem promovidos pelo
governo e instituições não governamentais, colocando os jovens como foco das
ações.
Entretanto, a quantidade de pessoas mais velhas contaminadas com o vírus
está crescendo em ritmo acelerado entre 2002 e 2013, segundo a edição mais recente
do Boletim Epidemiológico AIDS e DST, elaborado pelo Ministério da Saúde. Em
11
2002, os infectados pelo HIV acima dos cinquenta anos1 correspondiam a cerca de
11% do total, saltando esta proporção para 17% no ano de 2013.
Figura 1 – Pessoas infectadas pelo vírus HIV com mais de 50 anos
Fonte: Boletim Epidemiológico AIDS e DST 2014
O contágio entre os mais velhos não se trata apenas da sexualidade na terceira
idade, mas sim, a prova de que é possível viver muitos anos com a doença. Levando
em consideração, também, que as pessoas infectadas há anos estão vivos e bem.
Enquanto a mídia e a população em geral costumam discutir sexo na juventude,
existe uma enorme lacuna quando se fala da sexualidade entre os idosos. Ou não é
falado ou é repleto de preconceito, que vai além daquele sofrido pelos mais jovens,
pois tanto as pessoas, quanto a mídia tendem a tachar idosos como pessoas
santificadas, assexuadas e que não fogem do estereótipo, sendo estas
representações sociais gerontofóbicas. Entretanto, o sexo na terceira idade acontece
como em todas as outras faixas etárias – inclusive existem locais propícios aos
encontros dos mais velhos, como os bailes da terceira idade. Portanto, é necessário
discutir o tema AIDS e conscientizar pessoas acima dos sessenta anos, que acreditam
ser imunes à doença por acreditar que ela só afeta os jovens.
O idoso merece atenção diferenciada, e com AIDS o cuidado deve ser maior.
Devido às dificuldades enfrentadas na velhice, como memória falha, muitos não
conseguem lembrar fatos da vida e outros detalhes. Além disso, o desamparo e
angústia que toma o infectado é imensurável. O momento que exige apoio pode tomar
1 Para a UNAIDS, pessoas com idade acima de 50 são consideradas idosas.
9%
11%
13%
15%
17%
19%
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Pessoas infectadas pelo vírus HIV com mais de 50 anos
12
sentido contrário, levando o idoso a lutar não apenas contra a AIDS, mas contra a
rejeição familiar.
1.2 Justificativa
O quadro da AIDS, por si só, justifica a importância de mais projetos que levem
adiante pesquisas referente ao tema. Neste projeto experimental, de um produto
audiovisual no formato de documentário, o foco é na terceira idade, pois se faz
necessário compreender como a AIDS interfere na faixa etária acima dos cinquenta
anos, expondo a realidade complexa vivida por estas pessoas que, além de não terem
visibilidade, estão mascaradas e esquecidas pela maioria. A exposição dos problemas
enfrentados pelos portadores do vírus HIV na terceira idade, o contexto de quando
foram infectados e a forma como lidam com a situação atualmente são fatores de
extrema relevância tanto para combater o preconceito e estereótipos quanto para dar
esperança àqueles que sentem que estão vivendo seus últimos anos sob muita
humilhação e cercados de melancolia, tristeza e solidão.
Só a informação poderá convencer as pessoas, de uma vez por todas, de que
o sexo continua ocorrendo entre os mais velhos – sem que isso precise ser
uma surpresa ou motivo de piada. E que, como todos os demais brasileiros,
eles estão expostos a um ambiente altamente sexual, como é o nacional.
(GORINCHTEYN, 2010, p. 51)
Tratando desse assunto, objetiva-se o fato de que jovens, adultos e idosos
devem ter os mesmos cuidados na vida sexual, uma vez que não existe um grupo de
risco, mas sim, um comportamento de risco. Como não existem muitas campanhas
de conscientização, prevenção e combate para este público, o estudo é relevante para
produzir e disseminar informação sobre prevenção e aceitação do soropositivo.
1.3 Objetivo
1.3.1 Objetivo Geral
Relatar a vida de soropositivos na terceira idade através de um projeto
experimental que envolve as habilitações de Jornalismo e Rádio, TV e Internet com o
formato de documentário.
13
1.3.2 Objetivo Específico
Esclarecer pontos não discutidos sobre a vida dos soropositivos na terceira
idade, desmistificando alguns estereótipos e tabus sobre suas rotinas e vidas sexuais.
Levantar questionamentos sobre a ausência de campanhas específicas para a
prevenção e convívio com soropositivos da terceira idade.
Evidenciar que a longevidade de pessoas com AIDS é possível.
Evidenciar que a terceira idade possui vida sexual ativa, mesmo existindo
dificuldades naturais entre os gêneros.
Divulgar dados de pesquisas sobre o HIV baseadas em fontes governamentais.
Explicar as dificuldades que o soropositivo enfrenta no seu dia a dia, desde sua
mudança de hábito depois da descoberta do vírus até o preconceito sofrido pela
sociedade.
Promover o entendimento e aceitação do soropositivo, para que haja reinserção
social.
1.4 Problematização
É possível conviver bem com o vírus HIV, após os cinquenta anos de idade,
independentemente de o contágio ter acontecido antes ou depois dessa idade?
1.5 Hipóteses
A ausência de discussão aberta e franca sobre a sexualidade durante o
envelhecimento faz da AIDS uma doença silenciosa e desconhecida para a terceira
idade.
O preconceito contra a doença faz esse público ser desconhecido, uma vez
que, por ser uma doença sem cura, não se pode associa-la à longevidade.
2. AIDS DEPOIS DOS 50 ANOS
14
2.1 AIDS
2.1.1 Origem do HIV
O HIV, mais precisamente a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida -
SIDA, na sigla em português), ganhou destaque global nos anos 1980, quando foi
descoberta e reconhecida oficialmente como doença. Seu surgimento ocorreu em
primatas no centro-oeste africano e foi transmitida para os seres humanos no início
do século XX (vinte) por meio do contato de caçadores com o sangue ou consumo da
carne dos animais.
De acordo com pesquisadores liderados por Oliver Pybus, da Universidade de
Oxford, no Reino Unido, e Philippe Lemey, da Universidade Católica de Leuven, na
Bélgica2, a linhagem do vírus HIV, que saltou dos macacos para os humanos, e
causou a pandemia mundial que acontece hoje, teria começado por volta de 1920 em
Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC), na África, de onde se
espalhou para o resto do planeta.
Conhecida como Léopoldville, Kinshasa era capital do Congo Belga, um dos
centros comerciais mais importantes do período colonial. Pybus destaca que os
processos de urbanização, como uma extensa rede de transporte ferroviários e fluviais
pela qual circulavam cerca de um milhão de pessoas no final dos anos quarenta, foram
os responsáveis pela disseminação do vírus, uma vez que esses sistemas de
locomoção conectavam o sul da RDC às fronteiras com a Zâmbia e Tanzânia, e à
região norte com Uganda, Ruanda e Burundi. "Era uma cidade muito grande e uma
área de rápido crescimento. Registros médicos coloniais mostram indícios de várias
doenças sexualmente transmissíveis".
Outro fator que contribuiu para que a doença se espalhasse foi o comércio
sexual e a prostituição, além do manuseio de seringas não-esterilizadas em clínicas
durante campanhas de vacinação contra doenças infectocontagiosas. Segundo
Pybus, estas condições duraram por algumas décadas em Kinshasa e, mesmo após
deixar de existir, o vírus já começava a infectar milhares de pessoas em todo o mundo.
2 Artigo publicado em 2 de outubro de 2014 na revista científica Science, publicada pela Associação
Americana para o Avanço da Ciência (ingl.: American Association for the Advancement of Science —
AAAS). A publicação é uma das mais conhecidas no meio científico e tem cerca de um milhão de
leitores mensais.
15
Em seu livro The Origins of AIDS 3, Jacques Pepin, especialista em doenças
infecciosas da Universidade de Sherbrooke, em Quebec, conta que o ancestral da
AIDS está em uma subespécie de chimpanzé chamada Pan troglodytes4, que vive
entre os rios Sanagá e Congo5. Dois tipos de HIV foram caracterizados: o HIV-1, mais
infeccioso, e o HIV-2, que apresenta menos risco de contaminação. A linhagem HIV-
1, que é o vírus originalmente descoberto no início do século XX (vinte), possui quatro
grupos genéticos (M, N, O e P) que mostram que o salto do chimpanzé para o homem
aconteceu pelo menos quatro vezes na história. No entanto, apenas um destes
eventos, o que deu origem ao grupo M - responsável por mais de 99% dos casos -,
desencadeou a pandemia global.
2.1.2 O vírus HIV
O HIV é um retrovírus classificado na subfamília dos Lentiviridae que
apresentam sintomas comuns entre si, como período de incubação prolongado antes
do surgimento dos sintomas da doença - muitos soropositivos podem viver anos sem
desenvolver a doença -, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e
supressão do sistema imune. A principal característica do vírus é que ele ataca o
sistema imunológico (que defende o organismo de doenças), mais precisamente os
linfócitos T CD4+ (glóbulos brancos).6
2.1.3 Sintomas
Basicamente, existem três fases da infecção pelo vírus HIV. A primeira é a
infecção aguda, também chamada de síndrome retroviral aguda. Ela precede os
primeiros sinais da doença e dura de três a seis semanas após a exposição ao vírus.
Muita gente acaba confundindo os sintomas como os de uma gripe comum, já que
3 PEPIN, Jacques. The Origins of AIDS. Grã-Bretanha: Cambridge UK, 2013.
4 Pan troglodytes é o nome científico do chimpanzé comum, também conhecido como chimpanzé
robusto, uma das espécies mais famosas no continente africano.
5 O Rio Sanagá é o mais importante dos Camarões. Já o Rio Congo é um segundo maior da África e o
sétimo maior rio do mundo.
6 Linfócitos T CD4+ são glóbulos brancos que atuam no sistema imunológico e são também as
principais células atingidas pelo vírus HIV, causador da AIDS.
16
febre e mal-estar são fatores característicos desta primeira fase. Por isso, a maioria
dos casos pode passar despercebida e, assim, evitar que o paciente detecte a doença.
O segundo estágio da infecção é o assintomático (ou crônico). O vírus começa
a sofrer diversas mutações rapidamente, mas que não enfraquecem o organismo o
suficiente para permitir novas doenças, uma vez que os vírus são extintos de forma
equilibrada. Mesmo doente, o paciente pode conviver com os vírus por muitos anos -
a média é de oito anos.
A última fase da AIDS é a sintomática inicial, e acontece em decorrência da
assintomática. Como as células de defesa passaram anos tentando evitar o ataque
constante do vírus HIV no organismo, os linfócitos começam a funcionar com menos
eficiência até atingirem seu limite e serem destruídos. Para efeito de comparação, a
quantidade de glóbulos brancos presentes em adultos saudáveis varia entre 800 a
1.200 unidades por mm³ (milímetros) de sangue. Já em usuários em estado avançado
do HIV, esse valor fica abaixo de 200 unidades.
Com a baixa imunidade do sistema imunológico, o paciente fica mais vulnerável
a outras doenças. São as infecções oportunistas, que se aproveitam da fraqueza do
sistema de defesa do corpo humano. Entre as complicações estão hepatites virais,
tuberculose, pneumonia, toxoplasmose, alguns tipos de câncer ou simples resfriados
e problemas gastrointestinais.
2.1.4 Transmissão
O HIV pode ser transmitido por diversos elementos do organismo, incluindo
sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. Por isso, são muitas as formas de
contágio pelo vírus por meio de outra pessoa - ou seja, ele precisa ir de um indivíduo
para o outro. De acordo com o site do Governo Federal7, existem cinco maneiras mais
comuns que podem ocasionar a transmissão do HIV. São elas: sexo sem camisinha
(vaginal, anal ou oral); transmissão vertical, que é quando a mãe soropositiva passa
a doença para o filho durante a gestação, parto ou amamentação; transfusão de
7 Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pagina/o-que-voce-precisa-saber-sobre-aids>. Acesso em:
08 nov. 2014.
17
sangue contaminado com o vírus; instrumentos não esterilizados que furam ou
cortam; e uso de agulhas ou seringas contaminadas por mais de uma pessoa.
2.1.5 Janela Imunológica
Uma vez no organismo, o vírus inicia um processo de replicação viral, alterando
o DNA da T CD4+ e fazendo cópias de si mesmo. Após se multiplicar, ele rompe os
linfócitos em busca de outros para continuar a infecção do indivíduo. É aí que o
paciente pode atingir o estágio mais avançado da doença, que é a AIDS. Como o
sistema imunológico fica comprometido e não consegue responder de forma
automática a agentes externos, o usuário pode contrair doenças mais facilmente, de
um simples resfriado a infecções mais graves, como câncer e tuberculose.
Durante esse período em que os anticorpos são produzidos em resposta ao
vírus da AIDS acontece a chamada "janela imunológica", o intervalo de tempo entre a
infecção e a produção de defesas do organismo contra a ameaça. Ainda segundo o
site do Governo Federal, o período de identificação do contágio pelo vírus depende
do tipo de exame (quanto à sensibilidade e especificidade) e da reação do organismo
do indivíduo). A sorologia positiva é constatada de trinta a sessenta dias após a
exposição ao HIV, mas existem casos em que o prazo pode aumentar para até cento
e vinte dias.
Há também a possibilidade de um teste de HIV apresentar um falso resultado
negativo durante o período da janela imunológica. Neste caso, a recomendação é
realizar um novo teste depois de trinta dias e não praticar relações sexuais sem
camisinha ou compartilhar seringas para evitar a contaminação de outras pessoas.
2.1.6 Tratamento
O acompanhamento da doença e o uso de medicamentos é o mesmo para
pacientes que descobriram o vírus agora ou posteriormente. A medida vale tanto para
adultos jovens quanto para idosos. Hoje, a terapia anti-HIV consiste no uso de
remédios chamados antirretrovirais, com o objetivo de inibir a replicação do vírus no
sistema imunológico.
18
Segundo Jean Gorinchteyn8, atualmente, existe cerca de dezoito drogas
disponíveis para impedir a multiplicação do HIV. Uma das mais conhecidas é o AZT9,
que surgiu na década de oitenta, mas que se mostrou ineficaz até meados dos anos
noventa porque o vírus apresentou altos índices de resistência. Foi nessa época que
a medicina aderiu à mistura de três drogas para reduzir a capacidade de resistência
do vírus, procedimento que dura até hoje.
No que diz respeito ao tratamento do HIV, um dos pontos mais discutidos na
comunidade médica é sobre quando o acompanhamento deve ser iniciado: se no
começo, logo nas primeiras semanas de descoberta da doença, ou após um
desenvolvimento prolongado do vírus. Para tal, o Dr. Luis Camargo10 afirma que
existem duas correntes de explicação. A primeira é baseada no HIV agudo,
caracterizado como um quadro viral qualquer, como uma gripe, febre, manchas
vermelhas no corpo etc. "Tem gente que acha que se você tratar nesse momento,
esse paciente no futuro pode ter uma maior chance de tirar o remédio e o vírus não
replicar mais", alega.
Já a segunda corrente de pensamento diz que, conforme os usuários são
tratados por um longo período de tempo, faz-se a necessidade de remover os
medicamentos da rotina daqueles pacientes. A isso, um grupo de pesquisadores do
Instituto Pasteur11, em Paris, deu o nome de "cura funcional"12, quando o vírus, apesar
de não desaparecer do organismo, entra em remissão e o paciente não precisa mais
de remédios.
Independentemente dos estudos científicos, a diretriz atual do Ministério da
Saúde é tratar o HIV em qualquer momento da doença. Segundo Camargo,
8 Jean Gorinchteyn é infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, entidade referência no
tratamento de doenças infectocontagiosas que se destacou no Brasil e no mundo no acompanhamento
dos primeiros casos da AIDS no país.
9 Também conhecido como zidovudina, o AZT é um remédio usado como antiviral, indicado para o
tratamento da AIDS no Brasil. Foi uma das primeiras drogas aprovadas no país para cuidar de pessoas
infectadas com o vírus HIV.
10 Luis Fernando Aranha Camargo é infectologista e gerente de pesquisa clínica do Hospital Israelita
Albert Einstein. Formado na Universidade Federal de São Paulo, possui 25 estudos publicados em
revistas indexadas, abordando infecções em pacientes graves e em pacientes submetidos a
transplantes. Concedeu uma entrevista para a construção desse trabalho.
11 Fundação francesa privada, sem fins lucrativos, focada em pesquisas sobre a biologia dos
microrganismos, doenças e vacinas. Foi a primeira instituição a isolar o HIV, em 1983.
12 Disponível em:
<http://www.plospathogens.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.ppat.1003211>. Acesso
em: 08 nov. 2014.
19
"diagnosticar mais precocemente diminui a mortalidade e reduz as chances de
progressão do vírus para a AIDS".
Quanto à resposta ao tratamento, Camargo afirma que, em geral, os pacientes
respondem bem - tanto os mais jovens quanto os idosos. O problema é a adesão:
"Esse é o fator mais importante para a resposta ou não. Quem adere mais, responde
melhor", diz o especialista.
2.1.7 HIV nos idosos
Se falar sobre o HIV na juventude já é complicado, discutir a doença em
pessoas com mais de cinquenta, sessenta anos é uma tarefa ainda mais delicada.
Com base nos depoimentos recolhidos ao longo do projeto, o grupo descobriu que
algumas pessoas com idades mais avançadas possuíam pouco conhecimento sobre
a doença e, quando a descobriram, não sabem como agir ou que tipo de ajuda
procurar. Para os recém-descobertos soropositivos que viram ou leram alguma coisa
relacionada ao HIV é chegada a hora de lidar com possíveis complicações e lutar
contra o preconceito da sociedade que, em muitos casos, começa dentro da própria
família.
Segundo a Organização Mundial da Saúde13, nos países em desenvolvimento,
pessoas a partir dos sessenta anos são consideradas como indivíduos da terceira
idade, enquanto em nações desenvolvidas essa idade sobe para sessenta e cinco (no
documentário, falaremos sobre pessoas acima dos cinquenta anos, pela experiência
das mesmas, focando também no número de anos em que a pessoa convive com o
vírus). Dados recentes do Programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS14
apontam que, dos 730 mil casos registrados da doença no Brasil em 2013, mais de
15 mil correspondem aos idosos. Para efeito de comparação, em 1991 eram apenas
950 ocorrências de pessoas da terceira idade portadoras do vírus.
De acordo com Gorinchteyn, fisiologicamente o HIV em pessoas idosas tem a
mesma cadeia de desenvolvimento de portadores mais jovens. A única diferença está
13 Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf>. Acesso em:
08 nov. 2014.
14 Disponível em: <http://www.unaids.org/en/resources/campaigns/2014gapreport>. Acesso em: 08
nov. 2014.
20
no fato do usuário ter o organismo mais fragilizado por conta da idade: como seu
sistema imunológico já é mais fraco devido ao envelhecimento natural das células, o
avanço do HIV sem tratamento pode ocasionar infecções mais graves que acabam
confundidas com outras doenças características dessa faixa etária.
Outro fator mais agravante nos idosos é o aumento no nível de concentração
de gorduras como o colesterol e as triglicérides15. Este aumento está diretamente
relacionado ao uso da medicação específica para tratar o HIV, como explica
Gorinchteyn:
Os antirretrovirais também causam um fenômeno chamado lipodistrofia,
caracterizado pelo acúmulo de gordura em determinados pontos do corpo e sua
escassez em outros. É comum, por exemplo, o paciente apresentar rosto, braços
e pernas bastante emagrecidos, justamente pela redução de gordura nesses
locais. (...) Estes efeitos estabelecem-se a partir do primeiro ano de uso das
medicações, agravando-se com o passar do tempo. (GORINTCHETEYN, 2010, p.
92)
Jean explica que as medicações também podem dificultar a entrada de
açúcares nas células do organismo, um fenômeno conhecido como resistência à
insulina, que pode ocasionar o aparecimento do diabetes. Além disso, outras drogas
podem provocar alterações na deposição de cálcio (mineralização) no osso, tornando-
o mais vulnerável a fraturas, ou alterar “a função dos ruins, diminuindo a filtração de
substâncias tóxicas do sangue, como a ureia e a creatinina”.
A questão é que, como a maioria das pesquisas feitas até hoje tiveram como
foco o acompanhamento de pacientes adultos mais jovens, esses sintomas mais
agravantes em idosos não são estudados de forma constante e profunda, o que acaba
dificultando a criação de técnicas medicinais voltadas para esse público específico.
Isto, consequentemente, eleva o risco de doenças cardíacas e vasculares causadas
pelas altas taxas de colesterol no sangue, como o infarto do miocárdio, a hipertensão
arterial e os derrames cerebrais. Para destacar este tópico, Gorinchteyn afirma:
Por mais que esses idosos tenham cuidado com a alimentação, pratiquem
exercícios e tomem os remédios recomendados, há uma imensa dificuldade em
manter as taxas nos níveis desejados. Esta situação é mais acentuada
especialmente nas mulheres em período de menopausa, pois o colesterol que
seria utilizado para produção de hormônios estrogênicos acumula-se no sangue
e, consequentemente, deposita-se nas artérias, tendendo a entupi-las.
(GORINTCHETEYN, 2010, p. 93)
15 Presentes na maioria dos alimentos ingeridos pelas pessoas, os triglicérides são a forma de gordura
mais comum do corpo humano e compõem a maior parte das gorduras de origem vegetal e animal.
Podem ser adquiridos pela alimentação ou produzidos no próprio organismo pelo fígado.
21
2.2 Terceira Idade
Recentemente, a expressão “Terceira Idade” tem sido usada com frequência
para descrever os idosos. De acordo com Laslett (1987), a denominação originou-se
na França dos anos setenta com a implantação das Universidades da Terceira Idade
(fran: Universités du Troisième Âge), sendo incorporada ao vocabulário anglo-saxão
com a criação das Universities of the Third Age em Cambridge, na Inglaterra, no verão
de 1981.16
Seu uso corrente entre os pesquisadores interessados no estudo da velhice
não é explicado pela referência a uma idade cronológica precisa, mas por ser
essa uma forma de tratamento das pessoas de mais idade, que não adquiriu
ainda uma conotação depreciativa. A invenção da terceira idade é
compreendida como fruto do processo crescente de socialização da gestão
da velhice: durante muito tempo considerada como própria da esfera privada
e familiar, uma questão de previdência individual ou de associações
filantrópicas, ela se transformou em uma questão pública. Um conjunto de
orientações e intervenções foi definido e implementado pelo aparelho de
Estado e outras organizações privadas. Como consequência, tentativas de
homogeneização das representações da velhice são acionadas e uma nova
categoria cultural é produzida: as pessoas idosas, como um conjunto
autônomo e coerente que impõe outro recorte à geografia social, autorizando
a colocação em prática de modos específicos de gestão. (DEBERT, 1997)
Estima-se que, no Brasil, o número de indivíduos acima dos sessenta e cinco
anos irá quadruplicar até 2060, amparado por uma maior expectativa de vida, que no
brasileiro deve aumentar dos atuais setenta e cinco para oitenta e um anos17. Com
mudanças da estrutura etária da população nacional, resultado da redução do número
de jovens e do aumento dos idosos, o país passará por profundas transformações.
O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é
um fenômeno mundial e está ocorrendo a um nível sem precedentes. Em
1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo e, já em 1998, quase
cinco décadas depois, este contingente alcançava 579 milhões de pessoas,
um crescimento de quase 8 milhões de pessoas idosas por ano. As projeções
indicam que, em 2050, a população idosa será de 1900 milhões de pessoas,
montante equivalente à população infantil de 0 a 14 anos de idade (IBGE,
2000, p. 247)18
16 Disponível em: <http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_34/rbcs34_03.htm>. Acesso
em: 08 nov. 2014.
17 Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130829_demografia_ibge_populacao_brasil_lgb>.
Acesso em: 08 nov. 2014.
18 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm>. Acesso
em:
08 nov. 2014.
22
2.2.1 A sexualidade na Terceira Idade
As pessoas estão vivendo por mais tempo e, assim, despertando
questionamentos sobre o modo como se percebe o processo do envelhecimento, além
de trazer transformações nos valores éticos, estéticos e sociais. Entretanto, a
sexualidade na terceira idade é um tema pouco conhecido e menos entendido pela
sociedade, pelos próprios idosos e pelos profissionais da saúde (STEINKE, 1997). A
crença de que o avançar da idade e o declinar da atividade sexual estão
inexoravelmente ligados, têm sido responsáveis pela pouca atenção dada a uma das
atividades mais fortemente associadas à qualidade de vida, como é a sexualidade
(BALLONE, 2001).19
Considerar a sexualidade em idosos como algo natural está longe de ser aceito
pela sociedade, que mantém e reforça estereótipos calcados no preconceito e na falta
de informação. É comum enxergar a velhice como sinônimo do comportamento
assexuado, santificando os mais velhos por meio de uma visão ilusória que foge do
padrão em que realmente vivemos hoje.
Socialmente, e no caso dos idosos, a valorização dos estereótipos projeta
sobre a velhice uma representação social gerontofóbica20 e contribui para a imagem
que eles têm de si próprios, bem como das condições e circunstâncias que envolvem
a velhice, pela perturbação que causam, uma vez que negam o processo de
desenvolvimento.
O “Ancianismo” como conceito gerontológico, define-se como o processo de
estereotipia e de discriminação sistemática contra as pessoas porque são velhas
(Staab e Hodges, 1998).21
Ao fortalecer o estereótipo da velhice assexuada, agrava-se a vulnerabilidade
do idoso para as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), inclusive a AIDS, por
negligenciar um grupo específico da população/o, tanto no acesso à informação
quanto no suporte social.
19 Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=173>. Acesso em:
08 nov. 2014.
20 A gerontofobia corresponde ao medo irracional de envelhecer e de tudo que se relaciona com a
velhice.
21 Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Disponível em:
<http://www.ipv.pt/millenium/Millenium29/32.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2014.
23
Não resta dúvida de que a informação e solidariedade são duas armas
essenciais para enfrentar a Aids. Porque se trata de uma doença que atinge
o ser humano, independentemente de sua idade. Portanto, jovens, adultos e
idosos devem ter os mesmos cuidados na sua vida sexual, conscientes de
que todo aquele que não se prevenir convenientemente pode ser
contaminado (GORINCHTEYN, 2010, p. 20)
2.3 A descoberta da AIDS nos homens
Por conta do estigma de que o homem deve ser a personagem central na
sociedade, revelar um diagnóstico positivo ao paciente pode abalar por completo sua
estrutura e integridade de “macho dominante”. Muitos deles desconsideram o fato que
o HIV não escolhe suas vítimas, ou seja, pode infectar qualquer pessoa durante o
sexo sem proteção ou por meio de drogas injetáveis, independentemente da condição
social ou financeira.
A questão é que a maioria dos homens ainda associa a doença como uma
patologia exclusiva dos homossexuais – no início da década de 80 ficou conhecida
como a “Peste Gay”. Logo, quando o usuário é diagnosticado com o HIV, a primeira
reação em muitos pacientes do público masculino é se perguntar sobre a própria
sexualidade. Alguns encontram dificuldade em assumir sua condição, seja como
heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, especialmente para contar uma
possível traição às suas parceiras (os). Para Jean Gorinchteyn, “a afirmação de
masculinidade, de virilidade, é tão fundamental na sua vida quanto o ar que respira”
(2010, p 72).
Soma-se a isso a inibição de inúmeros pacientes em conversar com seus
médicos sobre como podem ter se contaminado:
Muitas vezes a opção sexual, a maneira de contaminação, jamais é revelada,
sendo preferido o segredo, mesmo em relação ao médico que o acompanha
há tantos anos, o que dificulta estabelecer uma real estatística para este
grupo etário. A verdade é que pacientes que se revelam bissexuais costumam
se arrepender depois da confissão, e passam a entrar nos consultórios
cabisbaixos, envergonhados, alguns deles jamais retornam, optando por
trocar de médico, sob a alegação de conflito de horários. (GORINCHTEYN,
2010, p. 64)
Ainda segundo Jean, fora a dificuldade em assumir sua condição de
soropositivo, o homem enfrenta o preconceito em se adaptar em uma rotina de mais
cuidados por conta do vírus e do tratamento. Os casos mais graves exigem exames
periódicos para evitar doenças cardiovasculares, como infarto ou acidente vascular.
24
Estereotipados como os chefes de família, os homens da terceira idade estão
adaptados a um modo de vida diferente nos tempos atuais. Sendo assim, a partir do
momento da descoberta, os homens se sentem vulneráveis a julgamentos familiares,
por não serem tão capazes de manter a família como antes, uma vez que o tratamento
leva tempo e esforço, eles precisam muitas vezes parar de trabalhar, para se dedicar
à saúde.
2.4 A descoberta da AIDS nas mulheres
A AIDS é uma das doenças que mais afetam as emoções dos pacientes, e tal
cenário muda a rotina principalmente do público feminino. Na terceira idade, o corpo
feminino já não é mais o mesmo. O questionamento estético é algo mais presente, a
autoestima começa a diminuir pelo aparecimento das rugas, dos cabelos brancos, da
flacidez na pele, as mulheres se sentem mais frágeis.
No caso da doença, muitas mulheres se deparam com a notícia de que foram
infectadas com o vírus pelo companheiro que dividiu décadas de vida. Ao descobrirem
que contraíram o HIV, algumas portadoras veem seu casamento se desestruturar e
suas emoções serem abaladas diante de tanto questionamentos, entre eles: “Como
ele teve coragem de não me proteger?”.
Existem também as mulheres que são infectadas após a perda de seus
maridos. Por causa da solidão ou por incentivo de amigos, elas procuram retomar
suas vidas e se relacionam novamente, mas por conta da idade não se preocupam
com o preservativo na hora das relações sexuais com outros parceiros. Falando em
prevenção, o problema é ainda maior porque não se tem o costume de falar sobre
camisinha feminina, uma vez que as campanhas publicitárias, do governo e até
mesmo especialistas da área da saúde costumam recomendar a proteção do órgão
sexual masculino, e não do feminino.
Beatriz Pacheco22, 65 anos, tem AIDS e afirma ser complicado encontrar
preservativos para mulheres que sejam mais acessíveis (disponível em apêndice c),
ainda mais em postos de saúde, onde devem ser distribuídos gratuitamente.
22 Beatriz Pacheco: de acordo com entrevista concedida para esse trabalho.
25
São caríssimos! E são poucos os postos de saúde que os tem para
distribuição. Além disso, a grande maioria das mulheres idosas sequer se
toca - sem ser no banho -, já que, mais uma vez, ‘no nosso tempo’, estas
coisas eram associadas a pecado, ou coisa de ‘prostituta’. O prazer não era
para as mulheres da minha geração.
Outro ponto discutido por Beatriz é que mulheres pós-menopausa não têm sua
vagina lubrificada, o que facilita sua exposição na relação sexual. O órgão pode ter
microfissuras que possibilitam a entrada de microrganismos e, consequentemente,
aumentam as chances de contágio de DST e Hepatites Virais.
2.5 Preconceito
O idoso ainda é segregado de diversos setores e ambientes na sociedade,
sejam na família, no trabalho ou em suas atividades de rotina. Basta andar pela rua,
ligar a TV ou prestar atenção durante uma entrevista de emprego: são poucas as
oportunidades destinadas ao público com idades mais avançadas. Isso sem contar
que essa parte da população tem pouco destaque na mídia e até mesmo nas decisões
tomadas pelo governo, que muitas vezes ignoram as pessoas da terceira idade por
acharem que elas não podem trazer nenhuma contribuição significante à sociedade.
Com os pacientes infectados pelo HIV, a situação é mais atenuada, já que,
muitas vezes, o preconceito parte do próprio paciente. Em muitos casos, a primeira
reação é negar a doença ou se colocar na condição de que, agora que a contraiu, a
vida chegou ao fim, uma vez que diversos soropositivos acreditam que não poderão
viver normalmente.
O mais difícil talvez seja aceitar que ele ou ela foi contaminado (a) pelo marido
ou esposa, além de enfrentar forte resistência em assumir que teve um
relacionamento extraconjugal com outra (o). As preocupações que mais afligem as
mulheres são: a aceitação da sociedade ou o risco de contraírem doenças
oportunistas, enquanto os homens se preocupam mais em tomar remédio a vida toda
ou de ter contaminado outra pessoa. Soma-se a isso o fato de que 19% dos portadores
do vírus não contam aos seus parceiros (as) de que possuem o HIV, como mostra o
gráfico abaixo23:
23 Disponível em: <
http://issuu.com/joaoricardodeabrahao/docs/atitude_abril_aids_book?e=0/10155719>. Acesso em: 15
nov. 2014.
26
Figura 2 – As Maiores Preocupações
Fonte: Pesquisa Atitude Abril AIDS 2014
Além disso, o paciente se mostra mais vulnerável quanto à discriminação da
família e da sociedade. Por isso, muitos contaminados passam por períodos de
depressão ou descuido da própria saúde, resultados da falta de apoio e acolhimento
dos amigos e familiares. Consequentemente, muitos acabam abandonando o
tratamento por falta de diálogo, tanto com os pais, filhos, marido ou esposa, como
também com os médicos.
Em contrapartida, grande parte das famílias não toma a AIDS como um desafio,
mas sim como uma forma de aproximar-se do parente infectado. Como explica Jean:
Na maioria das famílias, a tendência é de aconchego, em especial porque as
mulheres costumam pensar muito na instituição familiar, nos filhos, nos netos,
além de ser comum o raciocínio que as leva a avaliar: se eu não cuidar dele
[do marido], ninguém mais fará isso. É daí que vem o apoio ao doente. (...)
Há relatos de homens que dizem que, depois de se sentirem aceitos
novamente, fizeram um acordo consigo mesmos: de se cuidarem para poder
ver a família crescer, a filha se casar, o neto nascer. Quando isso acontece,
o prognóstico é muito favorável. Este homem faz uma revolução nos seus
27
hábitos de vida para garantir mais saúde, deixa de lado o cigarro, a bebida,
torna-se mais cuidadoso com as refeições”. (GORINCHTEYN, 2010, p. 75)
Além do preconceito dentro de casa, existe uma negligência por parte dos
profissionais de saúde. Muitos não têm o costume de conversar com pacientes mais
idosos sobre sexualidade e doenças transmitidas através de relações desprotegidas,
limitando a informação passada para esses usuários. Para os especialistas da área
médica, é difícil conseguir que os usuários se abram com seus médicos porque muitos
têm vergonha de falar sobre sua vida sexual. Como muitos não têm esse costume
com outros parentes, discutir o assunto com um estranho pode ser ainda mais
complicado, especialmente com as mulheres, que se sentem constrangidas. Já os
homens têm mais facilidade de conversar com outro homem médico.
Para o médico Luis Camargo, o mais importante é estimular os pacientes a
conversar sobre sexualidade, e que eles não se sintam acuados em contar detalhes
sobre sua vida íntima, pois são de extrema importância para ajudar no diagnóstico e
tratamento da doença. “Para os médicos, a atenção à possibilidade do diagnóstico;
aos idosos, saberem que não estão imunes a isso. A expectativa de vida aumentou,
as práticas sexuais estão mais liberais e muitos tabus foram rompidos”.
2.5.1 Preconceito contra a mulher idosa
Sexo na vida das mulheres sempre foi algo considerado polêmico. Assim como
destacou Beatriz Pacheco, enquanto alguns homens que mantém uma vida sexual
ativa com muitas parceiras não são condenados por isso, o mesmo não se pode dizer
das mulheres, que muitas vezes são tachadas de garotas de programa. E isso não é
exclusividade dos mais jovens: a terceira idade carrega tal preconceito em dobro.
Afinal, como mulheres nascidas nos anos cinquenta ou sessenta podem gostar de ter
relações sexuais se foram ensinadas que deveriam ser apenas donas de casa, boas
esposas e mães exemplares?
Mesmo vivendo em uma sociedade mais moderna e aberta à diversidade
cultural e de gêneros, o homem ainda é colocado sob o estigma de que pode falar
abertamente sobre quaisquer assuntos, incluindo sua sexualidade, tanto com amigos
e família quanto com profissionais da área médica. Além disso, são estimulados a
explorarem o próprio corpo desde cedo, algo que não acontece com as mulheres, que
28
muitas vezes acabam guardando detalhes importantes de sua vida social e sexual,
seja por vergonha de conversar com um especialista ou imposição de uma cultura
predominantemente machista.
Tal dificuldade é ainda mais acentuada durante o diagnóstico do HIV, como
explica Gorinchteyn:
Em geral, a primeira reação dessas mulheres ao receberem o diagnóstico é
negá-lo. Depois, vem o medo de terem sido contaminadas. Muitas delas resistem
a fazer o teste, apesar de entenderem a necessidade o exame, e a questão que
se impõe é a seguinte: como será sua vida e a de sua família, dos filhos, dos
netos, como viverão em caso de adoecerem? (GORINCHTEYN, 2010, p. 64)
Portanto, a sociedade não concede às mulheres o direito de sentirem raiva
quando são infectadas pelo próprio marido ou por eventuais parceiros. Em alguns
casos, elas são acusadas de não terem dado ao companheiro o carinho necessário,
o que, na opinião de alguns parceiros, teria motivado a procura por sexo fora de casa,
gerando a contaminação. Fatores como a menopausa e o envelhecimento também
são usados para culpar a mulher nessa situação. Enquanto a perda do desejo sexual
é mais acentuada nelas, o homem ainda se sente viril e grande parte não aceita as
alterações físicas ou emocionais sofridas pela mulher, como a diminuição da
lubrificação vaginal e todas as mudanças sofridas com o avanço da idade. É o que
explica Gorinchteyn (2010, p. 68) sobre o caso de uma paciente:
Uma dessas pacientes mais idosas, entre os abraços trocados com seu
parceiro, conta que tirou da bolsa uma camisinha e sugeriu coloca-la no
companheiro. Ela disse que sua atitude o impressionou muito, a ponto de ele
fazer certos questionamentos, imediatamente. “Você é prevenida assim com
todos?”, perguntou ele, e ela se sentiu como uma profissional do sexo ou algo
do gênero, nunca como mulher consciente da necessidade da prevenção,
informada, antenada. “Para outros homens não foi preciso que eu pedisse,
eles se revelaram suficientemente cavalheiros para usar a camisinha sem
terem sido solicitados”, respondeu ela justamente indignada, a conversa
terminou ali.
Enquanto algumas mulheres se mantêm informadas sobre a necessidade de
prevenção, outras aceitam a crítica do uso da camisinha feminina como algo certo.
Dessa forma, muitas se sentem oprimidas por conta de sua condição e desejo sexuais
e deixam de se manifestar, seja com o marido ou até mesmo com o próprio médico.
É justamente pelo medo de serem julgadas, que as mulheres têm medo de enfrentar
essas e outras posições machistas colocadas pela nossa sociedade.
Submetidas aos julgamentos, a situação pode ser ainda mais delicada quando
a paciente contrai o HIV. Como explicar isso para a família? Como se adaptar em uma
29
nova realidade após anos de experiência de vida? E como não ser considerada
promíscua por todos?
2.6 A Sociedade, o Estigma e o Paciente Soropositivo
A descoberta da infecção pelo vírus HIV é tão crucial na vida do paciente quanto
para a família e amigos mais próximos. Esse é o momento em que a compreensão e
o apoio dessas pessoas devem cercar e criar o melhor ambiente possível para o
usuário soropositivo, pois a falta de conhecimento e a discriminação podem gerar
sofrimento ao paciente, trazendo a revolta, a culpa, o não comprometimento à adesão
do tratamento, o uso excessivo de álcool e o estresse, que além de abaixas a
imunidade, colabora na proliferação do vírus e na contração de outras doenças
oportunistas.
Segundo Erving Goffman24, existem três tipos de estigma:
Em primeiro lugar, há as abominações do corpo - as várias deformidades
físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como
vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas,
desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por
exemplo, distúrbio mental, prisão, vicio, alcoolismo, homossexualismo,
desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical.
Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser
transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros
de uma família. Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive
aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas
características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente
recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor a
atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de
atenção para outros atributos seus. (GOFFMAN, 1988, p. 7)
Sendo assim, nota-se que os pacientes diagnosticados como soropositivos
devem ser orientados sobre a doença e o tratamento, com a explicação sobre o
aumento da sobrevida e oferecendo uma assistência de qualidade, respeitando sua
singularidade numa dimensão biopsicossocial-cultural.
É um quadro bastante complexo entre a interação dos fatores sociais e a saúde
do soropositivo, mas é necessário que se faça inteligível esse tipo de evento, seja
planejando algo na área de educação em saúde, para o rompimento desses tabus e
rótulos colocados no início dos anos oitenta. Rótulos estes que foram massificados e
permanecem até os dias de hoje na sociedade, mesmo que em uma escala menor.
24 Erving Goffman foi um cientista social, antropólogo, sociólogo e escritor canadense. Foi considerado
o sociólogo norte-americano mais influente do século XX.
30
"O estigma que ainda cerca a enfermidade pode afetar a rede de apoio social
das pessoas soropositivas. Para manter o relacionamento com os amigos e
a família, eles preferem esconder o próprio diagnóstico para que não sofram
com o possível afastamento, muitas vezes preferindo o auto isolamento pela
mesma razão. Este fator é um importante agente estressor, que modifica e
restringe a vida dos envolvidos, e esse estresse contribui significativamente
para uma imunodepressão, debilitando o organismo e deixando-o mais
suscetível às infecções." (CARVALHO; PAES, 2011)
Esse é um fator de grande importância, pois ao descobrir a contaminação com
o vírus HIV, a pessoa sofre uma grande mudança no estilo de vida, como afirma o Dr.
Luis Camargo:
Diante do exposto, nota-se que é de suma importância a intervenção dos
profissionais que atuam no processo de educação em saúde, promovendo
orientação não só aos afetados pela epidemia, mas a toda população de
forma geral, seja no processo de prevenção, promoção e recuperação da
saúde, como no apoio psicológico e demais suportes necessários,
salientando o empenho em desmistificar a temática do HIV/AIDS.
(CARVALHO; PAES, 2011).25
3. DOCUMENTÁRIO
O projeto é apresentado através de um produto audiovisual no formato de
documentário devido à exposição da realidade que este gênero propõe, diferente de
obras ficcionais, cujas histórias são criadas através de ideias fantasiosas da realidade.
Como este tema aponta, especificamente, a situação de vulnerabilidade do idoso em
relação a AIDS, se faz necessário essa exposição para legitimar o quadro vivido pela
terceira idade, levantando questionamentos quanto aos estereótipos e tabus
discorridos neste projeto. Sendo a conscientização um dos principais fatores de
combate à desigualdade social, acredita-se que o uso do formato escolhido seja mais
efetivo para informar, fazendo o uso de histórias reais contadas por pessoas reais.
Ainda que o documentário possa ter uma narrativa composta por imagens,
trilha, locução e fala, assim como no cinema ficcional, ele estabelece asserções ou
proposições sobre o mundo histórico. São duas tradições narrativas distintas, embora
muitas vezes se misturem (RAMOS, 2008). A diferença também se encontra na forma
como a mensagem é passada e a premissa que o telespectador tende a buscar nas
25 CARVALHO, Simone Mendes; PAES, Graciele Oroski. A influência da estigmatização social em
pessoas vivendo com HIV/AIDS. Artigo disponível em:
<http://www.iesc.ufrj.br/cadernos/images/csc/2011_2/artigos/csc_v19n2_157-163.pdf>. Acesso em:
08 nov. 2014.
31
referências, que existem em sua bagagem cultural, para dar significado ao conteúdo
transmitido.
Todo filme é um documentário. Mesmo a mais extravagante das ficções
evidencia a cultura que a produziu e reproduz a aparência das pessoas que
fazem parte dela. (NICHOLS, 2008, p. 26)
A linguagem do que se conhece hoje como documentário surgiu com os filmes
de Robert Flaherty, nos anos 1920, quando visitou uma comunidade de esquimós no
norte do Canadá e criou aquele que é considerado o primeiro filme de não ficção,
Nanook, o esquimó (1922). Em seguida, os filmes de Flaherty inspiraram um artigo
escrito por John Grierson em 1926, onde ele utiliza a palavra “documentário” pela
primeira vez. "É claro que Moana, sendo uma exposição visual dos eventos cotidianos
de um jovem polinésio e sua família, tem valor como documentário", afirmou Grierson,
sobre o filme Nanook e Moana (1926) 26.
[...] o documentário passa a ser considerado como a produção audiovisual
que registra fatos, personagens, situações que tenham como suporte o
mundo real (ou mundo histórico) e como protagonistas os próprios "sujeitos"
da ação: o esquimó Nanook ou o pescador de Os pescadores de Aran (1934),
por exemplo. (LUCENA, 2012, p.22)
Mas assim como a ficção, o documentário também precisa da intervenção do
cineasta a fim de alinhar uma base estética às imagens captadas, como afirma Puccini
(2012):
Documentário é também resultado de um processo criativo do cineasta
marcado por várias etapas de seleção, comandadas por escolhas subjetivas
desse realizador. Essas escolhas orientam uma série de recortes, entre
concepção da ideia e a edição final do filme, que marcam a apropriação do
real por uma consciência subjetiva. (PUCCINI, 2012, p. 15).
Através da pesquisa sobre o tema escolhido, o produtor do documentário tem
o embasamento necessário para a criação de uma narrativa sobre o tema, que irá
determinar o rumo do produto. Sendo assim, para a concepção do documentário deste
projeto, o tema foi explorado a fim da compreensão de como se deu o aumento no
número de portadores do HIV na terceira idade. O produto final contará com uma
duração de 24 minutos, composto por depoimentos de profissionais na área de saúde
e, principalmente, personagens acima dos cinquenta anos e soropositivos.
26 LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários: conceito, linguagem e prática de produção. São
Paulo: Summus, 2012.
32
Por ser um documentário composto por entrevistas, a roteirização não foi
delimitada, seguindo apenas algumas premissas de perguntas para que o roteiro
tomasse forma de acordo com o ritmo da conversa. Seguindo a orientação de Puccini
(2012), o processo de roteirização do documentário foi elaborado e finalizado de
acordo com a decupagem do material gravado, das entrevistas, juntamente com a
edição, possibilitando ressaltar os pontos fundamentais de cada entrevistado e de
cada relato.
Esse roteiro será resultado de um trabalho de decupagem do material bruto
de filmagem e terá sua função voltada para orientar não mais diretor, atores
ou produtor, mas unicamente o montador ou editor do filme (...) é o momento
em que a articulação das sequências do filme, entre entrevistas,
depoimentos, tomadas em locação, imagens de arquivo, entre outras
imagens colocadas à disposição do repertório expressivo do documentarista,
em consonância com o som, trará o sentido do filme. (PUCCINI, 2012, p. 17)
3.1 Jornalismo Investigativo
Embora os meios digitais tenham agilizado os processos de transmissão das
notícias, tornando-as muitas vezes num produto superficial e sem conteúdo, a prática
jornalística ainda deve se manter presente, tanto na investigação e apuração do que
de fato é uma notícia quanto em caráter informativo - e principalmente este.
Conforme Michael Kunczik27 (2002) explica em seu livro Conceitos de
Jornalismo: Norte e Sul, o jornalista tem dois papéis principais que, de uma forma ou
de outra, acabam se interligando. O primeiro considera o profissional como um
"agente neutralmente distanciado para poder transmitir a informação com objetividade
e ética profissional", enquanto o segundo simboliza a voz de um determinado grupo
ou comunidade, na ideia de que o jornalista é um "denunciante da corrupção". Em
ambos os casos, o jornalista aparece no cerne dos acontecimentos - sem
necessariamente participar deles -, atuando como um mediador entre a notícia e o
público.
Por se tratar de um trabalho documental com pessoas reais, é relevante
destacar a importância e seleção dessas fontes para a composição do projeto. Sobre
isso, Nilson Lage (2001) diz: "É tarefa comum dos repórteres selecionar e questionar
27 KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo: Norte e Sul. Tradução: Rafael Varela Jr. - 2. ed. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
33
essas fontes, colher dados e depoimentos, situá-los em algum contexto e processá-
los segundo técnicas jornalísticas"28.
O depoimento de personagens não-ficcionais ajudará na construção de um
documentário em vídeo que aborde temas específicos - no caso os idosos portadores
do vírus HIV -, aproximando-o de um trabalho mais focado no "jornalismo
convencional”. É o que destaca Edvaldo Pereira Lima (2013), um dos principais
responsáveis pela difusão do Jornalismo Literário no Brasil, além de ser autor de livros
como Páginas Ampliadas (2008) e Jornalismo Literário para Iniciantes (2014):
Existe um interesse social por narrativas reais de qualidade. Se o jornalismo
não souber responder a esse desafio como deve, outras áreas da
comunicação vão fazer isso, pois a demanda está aí. Se não for o jornalista
que responderá a essa busca social, outros profissionais cobrirão o espaço,
pois a sociedade requer que histórias bem contadas da nossa história em
desenvolvimento, do nosso passado e do nosso futuro continuem a ser
produzidas. O interesse formidável de parte do público brasileiro por boas
biografias é um exemplo dessa demanda. (...) A exibição contínua de
documentários de qualidade nas salas de cinema o ano inteiro – algo que
acontece em São Paulo – é um sinal disso. Há uma parte considerável do
público que pede histórias reais fortemente centradas em seres humanos de
carne e osso que o ajudem a compreender o que é este nosso mundo em
veloz efervescência de mutação, os dramas da existência humana, o passado
que construímos, a consciência que precisamos conquistar para a co-
construção da civilização planetária e sustentável que precisamos. (LIMA,
2013, Jornalismo Literário)29
Com base na produção de um documentário jornalístico e nas histórias reais
dos personagens, Márcia Carvalho (2006), mestre em Comunicação e Estéticas
Audiovisuais pela ECA-USP, e doutoranda em Multimeios pela Unicamp, destaca
como esses relatos podem enriquecer o tema e a produção do trabalho:
Parece que o segredo para uma nova prática do jornalismo audiovisual está
em saber ouvir, desenvolver uma análise crítica sobre os fatos e resgatar o
espírito investigativo, que permita contar uma história, que mereça ser
contada, confrontando o tema, as fontes e o próprio jornalista. E com isso,
quem sabe, despertar paixões, ódios e debates, tais como os diálogos e a
importante função de narrar uma história com vigor presentes nos
documentários de Michael Moore. (CARVALHO, 2006, Revista PJ:Br –
Jornalismo Brasileiro)30
28 LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro:
Record, 2001.
29 Entrevista veiculada no blog Jornalismo Literário. Disponível em:
<https://jornalismoliterarioblog.wordpress.com/tag/paginas-ampliadas>. Acesso em: 08 nov. 2014.
30 Artigo disponível em: <http://www2.eca.usp.br/pjbr/arquivos/ensaios7_d.htm>. Acesso em: 08 nov.
2014.
34
Além disso, como informa o Manual de Redação e Estilo do Jornal O Estado
de São Paulo, a linguagem precisa ser direta, sem rodeios, e clara para o usuário:
"Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. (...) A simplicidade é a condição
essencial do texto jornalístico". Este conceito precisa ser ainda mais imponente
levando em consideração que o documentário contará com entrevistas de médicos e
fontes especialistas, já que será necessário simplificar a linguagem de alguns termos
científicos para todos os públicos.
3.2 Referencial Estético
Para a referência estética desse projeto, o grupo se baseou nas linguagens dos
documentários “Me Myself and HIV”, “Junho – o Mês que abalou o país” e “The
Internet’s Own Boy”, contemplando em todos os produtos a abordagem dos
personagens, a narração e a fotografia. O projeto também leva como referência
produções ficcionais, a fim de estabelecer a relação entre o poder da direção
fantasiosa com os fatos reais do documentário. Para esse papel, foi escolhido o filme
“Philadelphia”.
3.2.1 Documentários
Me Myself and HIV
Documentário produzido em 2010 por Alex Stockley Von Statzer e Tom Barry
para a programação especial sobre prevenção do vírus da AIDS exibida pelo canal
americano da MTV. O vídeo retrata como é a vida de dois jovens portadores do vírus,
vivendo em países diferentes. Ele possui o formato de reality show, e mostra o
cotidiano dos protagonistas.31
31 Disponível em:
<http://www.unaids.org/en/resources/presscentre/featurestories/2010/december/20101201fsmtv>.
Acesso em: 15 nov. 2014.
35
Angelikah é uma garota americana de 25 anos de idade que contraiu o vírus
através de uma relação sexual sem proteção. Slim, de 21 anos, é um morador do
Zâmbia que nasceu com o vírus, contraído no útero de sua mãe, e tem o sonho de se
tornar um rapper. Ao longo do documentário, ambos contam as dificuldades das
relações sexuais e sociais com o confronto do preconceito enfrentado diariamente.
O programa é exibido sem nenhuma narração em off, tendo sua história
conduzida através da conversa dos personagens com outras pessoas que fazem parte
de suas vidas e retratado em uma câmera oculta. Dessa maneira, o espectador tem a
sensação de proximidade com os usuários, abordagem que o grupo obteve nas
gravações, herdando a ausência da narrativa, e quando necessário, apenas
colocando informações escritas sobre a imagem.
Junho – O Mês que Abalou o Brasil
O documentário “Junho” foi produzido pela TV Folha em 2014 e retrata o que
houve nos protestos em Junho de 2013 por todo o país.32
O vídeo foi montado de forma colaborativa, com imagens extraídas da internet,
de apresentações televisivas e conteúdos que os jornalistas da Folha registraram ao
longo dos protestos que mobilizaram o Brasil.
A narrativa se baseia em mostrar o objetivo inicial dos protestos – ou seja, a
revogação do aumento da passagem na cidade de São Paulo –, e como a revolta
popular após o dia 13 de junho de 2013 fez com que as manifestações mudassem de
rumo, principalmente após a ação truculenta da polícia militar contra os manifestantes.
O documentário é composto por imagens das passeatas, referências históricas
mundiais de protestos, relatos de pessoas que estavam presentes, análises de
estudiosos de política e sociologia e repórteres que fizeram parte da movimentação
popular.
32 Disponível em: < http://livraria.folha.com.br/filmes/documentario/junho-mes-abalou-brasil-dvd-
1251292.html>. Acesso em: 15 nov. 2014.
36
De “Junho”, o grupo se apoiou na ausência do entrevistador/câmera ao longo
da coleta de depoimentos de pessoas que presenciaram os movimentos sociais
daquele mês e nas informações sobre a imagem, com dados demográficos sobre o
tema. Como principal estética, o projeto “HIV 50+” baseou-se na fotografia das
entrevistas, com amplo campo de profundidade, mantendo um foco macro no rosto
dos entrevistados e no posicionamento da câmera que se alterna em dois ângulos.
The Internet’s Own Boy: The Story of Aaron Swartz
Documentário de 2014 dirigido por Brian Knappenberger33 que narra a história
de Aaron Swartz (1986-2013), um jovem programador e ativista que utilizou seu
conhecimento em computação em busca de um mundo mais democrático e justo,
através do compartilhamento da informação. Aaron utiliza a rede do MIT
(Massachusetts Institute of Technology34) para fazer o download de milhões de artigos
acadêmicos de uma base de dados privada chamada JSTOR35, que compensava
financeiramente as editoras e não os autores, além de cobrar o acesso aos artigos,
limitando o acesso para finalidades acadêmicas36.
Ao descobrir as ações de Aaron, o Ministério Público dos Estados Unidos
conduz um processo criminal contra o rapaz, dando início a uma perseguição tão
intensa a ponto de levá-lo a cometer suicídio aos 26 anos, em janeiro de 201337.
O filme possui uma dinâmica que inclui entrevistas com a família, amigos e
colegas de Aaron, explorando o tema com o uso da voz dos entrevistados em off em
33 Brian Knappenberger é um produtor e diretor nascido em 1970. Além de “The Internet’s Own Boy”,
Knappenberger escreveu e dirigiu o documentário “We Are Legion: The Story of the Hacktivists” sobre
os trabalhos e crenças do coletivo hacktivista Anonymous.
34 O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology, MIT) é um centro
universitário de educação e pesquisa privado, sendo um dos líderes mundiais em ciência, engenharia
e tecnologia, localizado em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos.
35 Journal Storage (JSTOR) é um sistema online de arquivamento de periódicos acadêmicos fundado
em 1995 e sediado nos Estados Unidos, concebido como uma solução para problemas enfrentados
por bibliotecas (especialmente universitárias e de pesquisa) devido ao crescente número de periódicos
acadêmicos.
36 Swartz “Steals” for Science. Disponível em: <http://scienceprogress.org/2011/07/swartz-
%E2%80%9Csteals%E2%80%9D-for-science>. Acesso em: 01 nov. 2014.
37 Fundador do Creative Commons critica procurador no caso Aaron. Disponível em:
<http://tecnologia.terra.com.br/internet/fundador-do-creative-commons-critica-procurador-no-caso-
aaron,ae9bc7d94b93c310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html>. Acesso em: 01 nov. 2014.
37
cima de imagens do arquivo da personagem. Entre o material visual explorado, o
documentário utiliza vídeos do passado de Aaron e edições com elementos que
remetem ao seu perfil.
Como a maior parte do projeto foram entrevistas, o grupo usou de inspiração a
imagem e o som, como em “The Internet’s Own Boy”, para evitar o cansaço do
espectador, quebrando a monotonia dos depoimentos ao usar conteúdos de apoio
para ilustrar a fala das personagens.
3.2.2 Produções Ficcionais
“Philadelphia”
“Filadélfia” (“Philadelphia”) é um filme ficcional norte-americano de 1993 do
gênero drama e dirigido por Jonathan Demme38, reconhecido por ser um dos primeiros
filmes de Hollywood39 a reconhecer HIV/AIDS, homossexualidade40 e homofobia41.
O filme conta a história de Andrew Beckett (Tom Hanks), promissor advogado
que perde seu emprego em uma grande firma de advocacia após descobrirem que ele
tem AIDS, levando-o a contratar os serviços de Joe Miller (Denzel Washington), um
advogado homofóbico, para processar a empresa.
Embora não seja documental, o formato possui um estilo particular para retratar
o preconceito e as dificuldades vividas pelos portadores da AIDS, o que levou os
integrantes do grupo a utilizá-lo como referencial estético devido às cenas simples e
objetivas em que a própria câmera traduz o sentimento preconceituoso de Joe Miller,
focando em objetos que Andrew toca.
38 Jonathan Demme é um cineasta, produtor e argumentista norte-americano nascido em 1944,
vencedor do Oscar por “The Silence of the Lambs” (“O Silêncio dos Inocentes”, 1991).
39 Hollywood é um distrito da cidade de Los Angeles na Califórnia, famoso mundialmente pela
concentração de empresas do ramo cinematográfico e pela influência que exerce na cultura global.
40 Qualidade de um ser que sente atração por outro do mesmo sexo ou gênero
41 Aversão, medo, ódio, preconceito que pessoas ou grupos nutrem contra homossexuais, bissexuais
e transexuais.
38
3.3 Comunicação
O documentário HIV 50+ foi construído com um único pilar de comunicação: os
soropositivos. A ideia do projeto é evidenciar esse público, ligeiramente esquecido
pelas campanhas de prevenção, portanto, quem melhor esclarecer como são suas
vidas, do que eles mesmos?
Além do cotidiano de soropositivos, foram captadas imagens de uma senhora
para ser a personagem fictícia do documentário como ícone de terceira idade,
mesclando a realidade com a produção ficcional. Essa senhora, Nilse Carvalho, ilustra
a capa do documentário como uma personagem simbólica, sem fala ou interação com
a narrativa.
A narrativa foi construída sem narração em off, fazendo com que as histórias
conversem entre si através dos blocos formados na decupagem através das pautas,
sendo eles, em sequência: descoberta, diagnóstico, preconceito, velhice e força de
viver. A sequência desses blocos foi construída em timeline e separada por clipes,
para criar um respiro entre as sonoras.
Separar o conteúdo nesses blocos facilitou na criação do roteiro, pois
conseguimos ilustrar as fases desde o contágio ao convívio com a doença e quais são
as consequências da idade nesse cenário.
3.4 Trilha Sonora
A trilha sonora do documentário foi encontrada no Vimeo Music Store, o qual
possui o acervo da Free Music Archive42 e foi aplicada nas imagens de apoio e como
trilha de acompanhamento.
42 Free Music Archive < http://freemusicarchive.org/ >. Acesso em: 22 mai. 2015.
39
As faixas foram escolhidas através de buscas pelos termos “folk” e “piano”, por
combinarem mais com o contexto das entrevistas e com o propósito do projeto, de
desconstruís um tema com uma linguagem simples e pessoal.
Foi possível encaixa-las após a captação de todos os depoimentos, facilitando
casar os momentos onde a trilha foi a principal sonora do produto. As músicas
escolhidas foram: "Memory Loss" de Zachary Cale, Mighty Moon & Ethan Schmid,
"Dreams Become Real" de Kevin MacLeod e "Vision of Persistence" Kevin MacLeod.
3.5 Animação
A vinheta de animação colocada ao início do documentário foi construída para
ilustrar o caminho do vírus por dentro da veia. Ela foi produzida para ser irreal e
meramente ilustrativa, sem qualquer relação com a realidade. Foi feita no software
Cinema 4D.
3.6 Características
O audiovisual é importante na construção do documentário, pois é um meio
de comunicação que atinge um grande número de pessoas com grande eficiência,
sendo assim deve-se tomar cuidado com a maneira com que a mensagem será
passada. Tudo que compõe a imagem pode ter um significado diferente para cada
pessoa.
O documentário foi construído com uma fotografia e filmagem de modo que
o espectador tenha a sensação de estar próximo dos personagens retratados. A
direção de fotografia teve o trabalho de criar a sensação de proximidade entre o
telespectador e o personagem em questão. O tema foi abordado no âmbito da
linguagem utilizada, buscando referências audiovisuais em outros documentários,
curtas e longas-metragens.
O roteiro foi produzido após as filmagens, pensando na maneira mais
interessante para mostrar esse tema, sem bombardear o telespectador com tanta
40
carga dramática sem pausas. Foi feita uma coleta de referências de filmes ficcionais
para desenvolver uma linguagem que quebre a tensão do primeiro plano e também
foi seguida a opção de trabalhar com foco em enquadramentos, que dizem muito por
si só dependendo da profundidade de campo, perspectiva e cor. O mesmo acontece
com as transições entre as cenas e imagens de cobertura, que foram construídas para
auxiliar a conexão entre os blocos do documentário, ilustrando e embalando a
continuidade da narração.
A trilha sonora é responsável pela ambientação do produto audiovisual,
podendo causar ou não a sensação que o diretor tem como objetivo. Como dito
anteriormente, a ideia não é dramatizar o tema, mas sim representar a vida
independente, como de qualquer outra pessoa, que o portador do vírus tem. Neste
caso, a trilha não pôde causar felicidade, ao mesmo tempo em que não pôde
transparecer apreensão. Seu papel foi transparecer leveza e trazer a sensação de
fluidez.
Talvez a única definição suficientemente justa para a função da música no
cinema é de que, de uma maneira ou de outra, ela existe para ‘tocar’ as
pessoas. ‘Tocar’ pode ser emocionar, arrancar lágrimas, causar tensão.
(BERCHMANS, 2012, p. 20)
O que foi notado com todas as pesquisas e conversas com o infectologista
os soropositivos é que não existe nenhuma ação que fortaleça a inserção dos
soropositivos na sociedade. Existem muitas campanhas para a prevenção do HIV,
mas nada que mostre o quão importante é trazer para um melhor convívio social todas
essas pessoas que, por conta de todo o preconceito que é carregado desde a
descoberta do vírus HIV, se escondem por medo ou discriminação. O tema é
complexo. Quanto mais pessoas são conhecidas nas condições de HIV+, mais apego
é criado pela causa.
É difícil ver o preconceito que os soropositivos passam, principalmente com
idosos. Olhando por esse viés social tão prejudicado, tornou-se necessária a busca
por referencias de autores na área de sociologia e psicologia. Goffman foi encontrado
falando sobre estigma, que trouxe parte da clareza e cautela que faltava para lidar
com possíveis personagens.
41
Por fim, as características audiovisuais do documentário devem juntar essas
informações na linguagem não dita, de maneira que a compreensão do tema seja mais
fácil, mas que ainda sim possua uma complexidade na construção da semiótica do
documentário.
A linguagem ocupou uma posição única no aprendizado humano. Tem
funcionado como meio de armazenar e transmitir informações, veículo para o
intercâmbio de ideias e meio para que a mente humana seja capaz de
conceituar. (DONDIS, 2003, p. 14)
3.6 Inserção no Mercado
A inserção do documentário no mercado foi dividida em duas partes. A
primeira como veiculação principal, que abrange veículos tradicionais, e tem por
objetivo atingir pessoas que possuem interesses gerais de saúde e cultura. Já a
segunda tem como proposta a veiculação alternativa, cuja ideia é alcançar, através
de festivais de cinema, o público que está ligado ao mundo da comunicação.
3.6.1 Veiculação Principal
Como o público final desse produto – homens e mulheres da terceira idade –
está mais interessado no conteúdo tradicional de televisão, o grupo selecionou alguns
canais que se mostram relevantes tanto para a veiculação do documentário quanto
para o público receptor.
Canal Futura
Foi criado em 1997 como um projeto social de comunicação, educação e
interesse público, sempre contando com parceiros da iniciativa privada e do terceiro
setor. Sua ideia é contribuir para o dia a dia das pessoas, oferecendo entretenimento
e conhecimento útil para a vida. Trabalham também com instituições, comunidades e
redes da sociedade civil, que contribuem desenvolvendo projetos em conjunto com as
42
equipes de mobilização e programação do Futura. Sendo assim, colocam em conexão
pessoas, ideias, redes e instituições.
O canal dissemina valores e informações úteis ao cotidiano da população,
todos os dias. É voltado para todo o povo brasileiro, preferencialmente para as classes
C e D. Tem alvos especiais: jovens, trabalhadores, donas de casa, educadores e
crianças. Sua meta é que todas as produções exibidas possam ser vistas e utilizadas
pelo mais amplo leque de pessoas, da cidade e do campo.
O sinal do Futura é recebido pelas antenas parabólicas convencionais em
milhões de lares e escolas, o que amplia ainda mais seu alcance. Por abordar uma
gama grande de temas, eles criaram uma linguagem plural e de extrema importância,
pois falam de saúde, trabalho, juventude, educação, meio ambiente e cidadania.
Também é possível notar que a emissora possui um processo de "mobilização",
ou seja, um método de trabalhar o conteúdo da programação através de ações diretas
junto a diversos públicos, organizando a audiência e realizando um rigoroso trabalho
de pesquisa, capacitação, acompanhamento e avaliação dos resultados atingidos.
Escolas, creches, associações comunitárias, abrigos, presídios, hospitais já recebem
e utilizam a programação do Futura.
O modelo de produção adotado por eles é de terceirização, contratando
produtoras que contribuam criativamente para a realização dos programas e diversos
tipos de linguagens e formatos. É um canal que, de certa forma, daria espaço para a
exibição de um produto audiovisual, como o documentário em questão.
Canal Brasil
Canal Brasil é um canal brasileiro de televisão por assinatura. Teve sua estreia
no dia 18 de setembro de 1998 e foi criado para aproveitar a obrigação criada pelo
Decreto 2206, de 1997, que exigia todos os prestadores de serviços de TV a cabo a
incluir na sua grade pelo menos um canal dedicado a "obras cinematográficas e
audiovisuais brasileiras de produção independente".
43
O canal é fruto da associação entre Globosat com a empresa Grupo Consórcio
Brasil (GCB), e tem participado de novas produções em parceria com produtores
independentes. Entre os títulos realizados está “Adolfo Celi, un uomo per due culture”,
de Leonardo Celi, a primeira coprodução internacional do Canal Brasil.
O Canal Brasil promove o Prêmio Aquisição Canal Brasil, que tem como
premiação R$ 10 mil para os curtas-metragens vencedores nos mais importantes
festivais de cinema do país, além de exibir o filme durante a programação. Desde
2006 também realiza o Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-Metragens, que premia
com R$ 50 mil o melhor curta entre os 10 vencedores do Prêmio Aquisição Canal
Brasil do ano anterior. Um júri formado por apresentadores do canal escolhe o grande
vencedor por meio de voto secreto.
TV Cultura
A TV Cultura é uma emissora educativa de canal aberto pertencente à FPA,
Fundação Padre Anchieta, Centro Paulista de Rádio e TV Educativas. Existente desde
1967, é uma entidade de direito privado custeada por dotações orçamentárias
legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada.
Conforme a missão da FPA, a TV Cultura é composta por programas
educativos, culturais e artísticos, tanto para crianças quanto adultos, além de
programas informativos, como telejornais.
Dentre os programas da emissora, o DOCTV América Latina traz a
possibilidade de apresentação do documentário deste projeto, por ser o primeiro
Programa de Fomento à Produção e Teledifusão de Documentários da Comunidade
dos Países da Língua Portuguesa – DOCTV CLP1 –, cuja meta é estimular o
intercâmbio cultural e econômico entre os povos lusófonos e a implementação de
políticas públicas de fomento à produção e teledifusão do gênero documentário.
MTV
44
Criada em 1981, a MTV é um canal de televisão a cabo e satélite norte-
americano pertencente ao MTV Networks Music & Logo Group, uma unidade da
Viacom International Media Networks, divisão da Viacom. O canal é sediado na
Cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
O propósito da emissora era exibir videoclipes guiados por personalidades
conhecidas como “video jockeys”, ou VJ's. Em seus primeiros anos, o principal público
alvo da MTV eram os jovens adultos, mas hoje a programação é primariamente
segmentada para adolescentes, em adição aos jovens adultos.
No Brasil, a MTV também funciona como um canal por assinatura comandado
pela Viacom International Media Networks The America (VIMN The Americas). Teve
início em primeiro de outubro de 2013, às 21h30, surgindo após a devolução da marca
MTV pelo Grupo Abril, que a manteve no ar em TV aberta no país por mais de vinte
anos como MTV Brasil.
Dentre as versões internacionais da MTV no mundo que têm maior produção
local, a emissora fica na segunda posição, perdendo apenas para a sua matriz nos
Estados Unidos. Seu sinal em 2014 atinge cerca de 12,6 milhões de assinantes.
A influência da MTV em sua audiência, incluindo questões relacionadas à
censura e ao ativismo social, foi o tema de debates por anos, além de criar uma
programação especial transmitida no dia internacional do combate a AIDS (1º de
dezembro) e diversas campanhas de prevenção.
3.6.2 Veiculação Alternativa
Como veiculação alternativa, o grupo optou por festivais de cinemas brasileiros,
por ter um formato de curta duração. O documentário pode ser exibido em festivais
como É Tudo Verdade e o Festival de Curtas Kinoforum.
É Tudo Verdade
45
It’s All True é o principal festival da América Do Sul dedicado a documentário,
e ocorre todos os anos em meados de abril nos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro. Amir Lamaki, ex-diretor técnico do Museu da Imagem e do Som da Secretaria
de Estado da Cultura de São Paulo, fundou e dirige o É Tudo Verdade, juntamente
com a realização da Petrobras, BNDES, CPFL/ENERGIA, Centro Cultural Banco do
Brasil, Rio Filme, Governo do Estado de São Paulo, Ministério da Cultura – Governo
Federal – Secretaria do Áudio Visual , além da produção de Emegê Produções
Artísticas S/S Ltda, do apoio da Associação do Audiovisual Paulista, e do da Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo e Cinemateca Brasileira e SAC (Sociedade Amigos da
Cinemateca).
O festival tem caráter competitivo, reunindo documentários concorrentes em
várias categorias. As produções de até trinta minutos devem ser inscritas na
Competição Internacional de Curta-metragem e Competição Brasileira de Curta-
metragem. Por esse motivo, o trabalho será inscrito com o intuito de participar nas
categorias delimitadas a curtas, uma vez que o documentário produzido é de vinte e
cinco minutos.
Devido ao modo competitivo, o festival oferece algumas premiações em
dinheiro ou em forma de troféus. O menor valor é o de R$6.000,00 (seis mil reais),
destinado à categoria Internacional de Curta Metragem, enquanto o maior é de R$
110.000,00 (cento e dez mil reais) e vai para a competição “Janela para o
contemporâneo” (subcategoria do Melhor Documentário Brasileiro em Longa ou Média
Metragem). Premiações intermediárias vão desde R$ 15.000,00 (quinze mil reais),
para o melhor Longa ou Média Metragem na competição Internacional, e R$ 10.000,00
(dez mil reais), para o melhor documentário da competição Brasileira de Curta
Metragem.
Os curtas metragens também concorrem ao Prêmio Aquisição Canal Brasil de
Incentivo ao Curta Metragem no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). É um prêmio
adicional disponibilizado a um dos curtas participantes.
Festival de Curtas Kinoforum
Kinoforum é uma organização sem fins lucrativos que organiza o Festival
Internacional de Curtas de São Paulo, que ocorre desde 1990. É patrocinado pela
46
Petrobrás e realizado pelo Ministério da Cultura. Tem como seu correalizador o SESC-
SP, a Cinemateca Brasileira, a Sociedade Amigos da Cinemateca, o Centro Cultural
de São Paulo, a Prefeitura da Cidade de São Paulo e o Governo do Estado de São
Paulo.
Diferente do É Tudo Verdade, este festival não é de caráter competitivo, apenas
visa divulgar as produções de todas as partes do mundo, contando com a colaboração
de instituições como ECA-USP, PUC-SP, UNICAMP, SENAC, Metodista, Cásper
Líbero, Fundação Japão, Embaixada de Israel, e os Consulados da França, México e
Suíça.
O festival é realizado entre os meses de agosto e setembro anualmente, e as
inscrições acontecem entre abril e junho – só são aceitas produções digitais e película
com duração de três a vinte e cinco minutos. No festival existe uma categoria de
médias-metragens, que considera filmes até no máximo 45 minutos.
Docurama Channel
Cinedigm é um distribuidor de conteúdo independente líder nos Estados
Unidos, com relações diretas com mais de 60.000 lojas de varejo físicas e plataformas
digitais, incluindo Wal-Mart, Target, iTunes, Netflix e Amazon, assim como o vídeo
nacional na plataforma on-demand no cabo da televisão. Possui uma biblioteca com
mais de cinquenta e dois mil filmes e episódios de TV documentais
Nela estão filmes independentes vindos de outros festivais. Isso graças
parcerias com o Instituto Sundance e Tribeca Filmes, que oferecem uma ampla gama
de conteúdo de marca de fornecedores, incluindo a National Geographic, a Discovery,
a Scholastic, WWE, NFL, Shout Factory, Hallmark, Jim Henson e muito mais.
Festival de Brasília
O Festival de Brasília (Festbrasília), oficialmente Festival de Brasília do Cinema
Brasileiro, é sediado no histórico Cine Brasília, sendo o mais antigo do gênero no país.
47
Surgiu por iniciativa do professor de cinema da Universidade de Brasília, Paulo Emílio
Sales Gomes, em 1965, e é promovido anualmente pelo governo do Distrito Federal.
Em suas duas primeiras edições o evento se chamou Semana do Cinema Brasileiro.
Uma das regras que o diferencia de outros festivais é que os filmes, tanto de
longa ou curta metragem, devem ser inéditos e, preferencialmente, não terem sido
premiados em qualquer outro festival nacional.
Festival de Gramado
Realizada de 10 a 14 de janeiro de 1973, a primeira edição do evento surgiu da
união da Prefeitura Municipal de Gramado com a Companhia Jornalística Caldas
Júnior, a Embrafilme, a Fundação Nacional de Arte e as secretarias de Turismo e
Educação e Cultura do Estado. Já a segunda edição foi realizada em 1992, entre os
dias 15 e 22 de agosto, e teve filmes da Venezuela, Peru, México, Portugal, Brasil,
Argentina, Chile, Espanha, Cuba e Colômbia. Participaram igualmente da vigésima
edição curtas-metragens brasileiros em 35mm e 16mm.
Festival do Rio
O Festival do Rio surgiu em 1999, como resultado da fusão de dois festivais de
cinema anteriores, o Rio Cine Festival, que surgiu em 1984, e a Mostra Banco
Nacional de Cinema, criada em 1988.
São distribuídos 11 prêmios pelo Júri oficial do Festival, incluindo: Melhor
Longa-Metragem de Ficção, Melhor Longa-Metragem Documentário, Melhor Curta-
Metragem, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante,
Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Montagem.
Ainda existem menções honrosas e prêmios especiais, além de uma premiação
através do voto popular que elege 3 categorias: Melhor Longa-Metragem de Ficção,
Melhor Longa-Metragem Documentário e Melhor Curta-Metragem.
3.7 Construção da Identidade Visual
48
A construção do logo do documentário foi criado a partir de algumas premissas
referenciais e teóricas, a fim de dar um símbolo ao documentário. Conversando com
o contexto do documentário, o logo foi construído formas sintéticas e chapadas, pois
são necessárias quando existe aplicação em diversos meios de reprodução.
Usando referências de capas de filmes com temática HIV, notou-se o vermelho
na tipografia em “Les Témoins” (2015) e “Clube de Compra Dallas” (2013):
Em uma das capas, o balão vermelho foi reconhecido como uma analogia entre
látex de camisinha com o balão de “It’s My Party” (1996):
49
Com isso, a forma começou a ser desenvolvida a partir dos termos-chave:
simples, retirar a agressividade, alterar o cenário, promover o diálogo, quebrar
preconceito, maneira informal, entendimento, aceitação, conscientização, forma
leve. Assim, foram feitos alguns experimentos:
Através do estudo tipográfico, a escolha da fonte foi a Gotham Rounded Bold
para o logo, aplicando suas variações para a identificação dos soropositivos, capa e
gráficos no documentário.
50
Resultado Final:
4. PROCEDIMENTOS
4.1 Metodologia
A metodologia adotada para a elaboração do projeto – um documentário que
retratará a vida de soropositivos acima dos cinquenta anos – partiu da pesquisa
bibliográfica e de campo, devido à necessidade de investigar todos os aspectos
relacionados ao tema. Sendo assim, a pesquisa é classificada como exploratória.
Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-
se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento
de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto,
bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados
aspectos relativos ao fato estudado. (GIL, 2009, p.41).
Portanto, como na maioria dos casos, o projeto constitui-se em três pilares
necessários para classificar a pesquisa com base nos objetivos estabelecidos,
embasando a justificativa da escolha e na formulação do problema em questão. Sendo
eles a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisa; e c) análise de exemplos que
“estimulem a compreensão” (Selltiz et al., 1997, p. 63).
Em uma visão geral, a metodologia seguiu da seguinte forma:
51
a) Levantamento das referências bibliográficas sobre o tema, como livros,
artigos, revistas, entrevistas, documentários e pesquisas passadas.
De acordo com GIL (2009, p. 44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com
base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos
científicos”. Na pesquisa bibliográfica sobre o tema, os dados foram juntados e
sistematizados para o desenvolvimento do quadro teórico, baseando toda fonte de
pesquisa na figura 3:
Figura 3 – Fluxograma de pesquisa
Fonte: GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa, 2009, pg. 44
Com base no gráfico acima, foram levantadas obras literárias que abordassem
os temas “AIDS”, “AIDS depois dos cinquenta anos” e “preconceito do soropositivo”.
Pelas obras de divulgação, foram analisadas as campanhas atuais de prevenção da
AIDS e a falta de ações específicas sobre o contágio na terceira idade. Entre as
publicações periódicas, foram levantadas matérias jornalísticas e notícias que
envolviam o tema nos últimos anos.
A construção do documentário necessita de uma base sólida de estudos, assim
como o entendimento do tema entre todos os participantes do projeto, desde a
produção, à construção narrativa, para que haja embasamento no levantamento de
contatos até o momento da construção do roteiro e das pautas utilizadas nas
entrevistas. Assim, antes mesmo de procurar por pessoas soropositivas, os
integrantes precisavam saber exatamente como abordá-los, tendo em mente o
objetivo de cada pergunta.
Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)
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Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

  • 1. FACULDADE PAULUS DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO Caio Carvalho Catarina Flório Eliel Guilhen Rodrigo Caravieri DOCUMENTÁRIO: HIV 50+ São Paulo 2015
  • 2. FACULDADE PAULUS DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO Caio Carvalho Catarina Flório Eliel Guilhen Rodrigo Caravieri DOCUMENTÁRIO: HIV 50+ Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, como requisito de aprovação para o Curso de Comunicação Social, (Projeto Híbrido: JO e RTVI), sob a orientação do prof. Ms Vanderlei Dias. São Paulo 2015
  • 3. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação Carvalho, Caio; Flório, Catarina; Guilhen, Eliel; Caravieri; Rodrigo Documentário HIV 50+ / Caio de Cavalho, Catarina de Carvalho Vieira Flório, Eliel Cassemiro Guilhen e Rodrigo Alves Caravieri. – 2015. 122 f.; 30cm. Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, São Paulo, 2015. “Orientação: Prof. Vanderlei Dias”. 1. HIV/AIDS. 2. HIV 50+
  • 4. Caio Carvalho Catarina Flório Eliel Guilhen Rodrigo Caravieri Documentário: HIV 50+ Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação para obtenção do Título de Bacharel em Comunicação Social. ___________________________________ Local e data de aprovação São Paulo, (dia) de (mês) de (ano). _______________________________ _______________________________ Prof. Ms. Vanderlei Dias de Souza Nome do Professor(a) _______________________________ Nome do Professor(a)
  • 5. AGRADECIMENTOS Queremos enfatizar o carinho e respeito por todos da Casa Fonte Colombo, localizada em Porto Alegre, na qual fomos recebidos de braços abertos com todo o apoio necessário para entrevistar pessoas incríveis. O trabalho de vocês é fundamental para que esse assunto não caia no esquecimento. A todas as pessoas que entrevistamos, que separaram um tempo de suas vidas para ajudar a dar mais visibilidade a vocês mesmos. Aos amigos Bruna Lisboa, Edgar Ishikawa, Élder Magalhães, Felipe Rodrigues, Maunto Nasci, Nilse Carvalho, Philip Morris, Romero Gouw Benitez e Sérgio Pessoa que nos ajudaram com a produção, filmagem, edição e estética visual do produto. Ao Cafofo 32, que sediou as nossas reuniões de sábado, sempre com um café quente e muitas escadas. Ao Hostel Casa Azul, que nos ajudou com a locação de entrevistas e nos abrigou na viagem à Porto Alegre. Ao Google Drive, que nos possibilitou armazenar todas as nossas alterações, transferências de arquivo e salvou nossas vidas quando perdemos material no computador. Aos familiares e amigos que nos apoiaram: sem vocês, esse documentário não seria possível.
  • 6. RESUMO CARVALHO, Caio; FLÓRIO, Catarina; GUILHEN, Eliel; CARAVIERI; Rodrigo. Documentário: HIV 50+. São Paulo, 2015. 122 f. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social). O trabalho tem como objetivo geral contribuir com informações sobre o tema AIDS na terceira idade, através de um projeto experimental híbrido (Jornalismo e Rádio, TV e Internet) documental, buscando reunir material que evidencie o cotidiano de portadores do vírus HIV na terceira idade, documentando a história e vida dessas pessoas. Para isso, personagens idosos e soropositivos serão acompanhados por meio de entrevistas e depoimentos, de forma que compreendamos o atual contexto de suas vidas e recuperemos o contexto histórico de quando foram infectados; fazendo com que este trabalho se torne uma ferramenta de reflexão e traga visibilidade a este público. Palavras-chave: AIDS, HIV, Terceira Idade, Idosos. Modalidade do projeto experimental: O projeto terá o formato de Documentário.
  • 7. ABSTRACT CARVALHO, Caio; FLÓRIO, Catarina; GUILHEN, Eliel; CARAVIERI; Rodrigo. Documentary: HIV 50+. São Paulo, 2015. 122 f. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social). The paper's general objective is to contribute with information on the AIDS topic in old age through a hybrid experimental project (Journalism and Radio, TV and Internet) documentary, seeking to gather material showing the HIV virus carriers daily in old age, documenting the history and lives of these people. For this, the elderly and HIV positive characters will be accompanied by interviews and statements, in order to understand the current context of their lives and regain the historical context of when they were infected; making this work becomes a reflection tool and bring visibility to this audience. Keywords: AIDS, HIV, Old Age, Third Age. Type of experimental project: The project will have a documentary format.
  • 8. Sumário 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................10 1.1 Apresentação geral do projeto .........................................................................10 1.2 Justificativa.......................................................................................................12 1.3 Objetivo ............................................................................................................12 1.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................12 1.3.2 Objetivo Específico...........................................................................................13 1.4 Problematização................................................................................................13 1.5 Hipóteses .........................................................................................................13 2. AIDS DEPOIS DOS 50 ANOS...............................................................................13 2.1 AIDS.............................................................................................................14 2.1.1 Origem do HIV..................................................................................................14 2.1.2 O vírus HIV.......................................................................................................15 2.1.3 Sintomas ..........................................................................................................15 2.1.4 Transmissão.....................................................................................................16 2.1.5 Janela Imunológica ..........................................................................................17 2.1.6 Tratamento.......................................................................................................17 2.1.7 HIV nos idosos .................................................................................................19 2.2 Terceira Idade .....................................................................................................21 2.2.1 A sexualidade na Terceira Idade......................................................................22 2.3 A descoberta da AIDS nos homens ....................................................................23 2.4 A descoberta da AIDS nas mulheres ..................................................................24 2.5 Preconceito .........................................................................................................25 2.5.1 Preconceito contra a mulher idosa ...................................................................27 2.6 A Sociedade, o Estigma e o Paciente Soropositivo.............................................29 3. DOCUMENTÁRIO.................................................................................................30 3.1 Jornalismo Investigativo ......................................................................................32 3.2 Referencial Estético ............................................................................................34 3.2.1 Documentários .................................................................................................34 3.2.2 Produções Ficcionais .......................................................................................37 3.3 Comunicação ......................................................................................................38 3.4 Trilha Sonora.......................................................................................................38 3.5 Animação ............................................................................................................39 3.6 Características ....................................................................................................39 3.6 Inserção no Mercado...........................................................................................41
  • 9. 3.6.1 Veiculação Principal .........................................................................................41 3.6.2 Veiculação Alternativa......................................................................................44 3.7 Construção da Identidade Visual.........................................................................47 4. PROCEDIMENTOS...............................................................................................50 4.1 Metodologia.........................................................................................................50 4.2 Pautas .................................................................................................................53 4.2.1 Pauta para o médico infectologista ..................................................................53 4.2.2 Pauta para o médico psicólogo ........................................................................54 4.2.3 Pauta para os portadores de HIV/AIDS............................................................55 4.3 Entrevistados.......................................................................................................56 4.4 Análise de Mídia..................................................................................................60 5. MATERIAL DESCRITIVO DE PRODUÇÃO..........................................................65 5.1 Cronograma ........................................................................................................65 5.2. Atividades desenvolvidas ...................................................................................68 5.2.1 Escolha do tema e coleta de material ..............................................................68 5.2.2 Entrevistas e viagens .......................................................................................70 5.2.3 As últimas horas...............................................................................................76 5.2.4 Episódios isolados............................................................................................77 5.3 Orçamento...........................................................................................................77 5.4 Material usado na gravação ................................................................................79 5.5 Roteiro.................................................................................................................79 5.5.1 Localização ......................................................................................................79 5.5.2 Locações..........................................................................................................79 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................80 7. REFERÊNCIAS.....................................................................................................81 7.1 Quadro Teórico ...................................................................................................81 7.1.1 AIDS na Terceira Idade....................................................................................81 7.1.2 Documentário...................................................................................................85 7.2 Referências Audiovisuais ....................................................................................86 7.3 Metodologia.........................................................................................................87 7.4 Análise de Mídia..................................................................................................88 7.5 Outros..................................................................................................................90 8. APÊNDICE............................................................................................................93 8.1 Apêndice A: Roteiro Transcrito............................................................................93 8.2 Apêndice B: Documento de Autorização Fapcom .............................................111
  • 10. 8.3 Apêndice C: Autorizações .................................................................................112
  • 11. 10 1. INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação geral do projeto O tema do projeto experimental é AIDS acima dos cinquenta anos, a ser feito através de um produto híbrido (Jornalismo e Rádio, TV e Internet) documental, na modalidade de conhecimento produção multimídia. Desde a identificação da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a AIDS, no início dos anos oitenta, muito se descobriu acerca da doença, trazendo mudanças na compreensão do vírus HIV, no tratamento da doença e suas consequências. Primeiramente, foi um desafio à medicina, que não encontrava soluções e tampouco assimilava a desconhecida enfermidade que se mostrava fatal para os atingidos. Enquanto a doença se espalhava, a imprensa utilizava o termo peste gay para noticiar a epidemia, devido aos primeiros casos registrados entre a comunidade gay masculina de São Francisco, nos Estados Unidos da América, ecoando até os dias de hoje um forte preconceito em torno da doença, a ideia de que a AIDS é uma enfermidade de homossexuais. Além disso, sexo permanece como tabu e, sendo a relação sexual o principal disseminador do vírus, consolida o preconceito contra soropositivos, julgados como promíscuos pela sociedade conservadora e machista. Três décadas se passaram e a ciência progrediu o bastante para que seja possível viver com AIDS. Hoje, os portadores do HIV podem levar uma vida normal e se relacionar, inclusive, com pessoas sorodiscordantes. Contudo, os efeitos colaterais dos remédios, as restrições de comportamento, o preconceito presente no dia a dia e a possibilidade de cura não cessaram, trazendo grande impacto na sociedade contemporânea, seja como doença ou como fonte de discriminação, o que levou a inúmeras campanhas de prevenção e conscientização serem promovidos pelo governo e instituições não governamentais, colocando os jovens como foco das ações. Entretanto, a quantidade de pessoas mais velhas contaminadas com o vírus está crescendo em ritmo acelerado entre 2002 e 2013, segundo a edição mais recente do Boletim Epidemiológico AIDS e DST, elaborado pelo Ministério da Saúde. Em
  • 12. 11 2002, os infectados pelo HIV acima dos cinquenta anos1 correspondiam a cerca de 11% do total, saltando esta proporção para 17% no ano de 2013. Figura 1 – Pessoas infectadas pelo vírus HIV com mais de 50 anos Fonte: Boletim Epidemiológico AIDS e DST 2014 O contágio entre os mais velhos não se trata apenas da sexualidade na terceira idade, mas sim, a prova de que é possível viver muitos anos com a doença. Levando em consideração, também, que as pessoas infectadas há anos estão vivos e bem. Enquanto a mídia e a população em geral costumam discutir sexo na juventude, existe uma enorme lacuna quando se fala da sexualidade entre os idosos. Ou não é falado ou é repleto de preconceito, que vai além daquele sofrido pelos mais jovens, pois tanto as pessoas, quanto a mídia tendem a tachar idosos como pessoas santificadas, assexuadas e que não fogem do estereótipo, sendo estas representações sociais gerontofóbicas. Entretanto, o sexo na terceira idade acontece como em todas as outras faixas etárias – inclusive existem locais propícios aos encontros dos mais velhos, como os bailes da terceira idade. Portanto, é necessário discutir o tema AIDS e conscientizar pessoas acima dos sessenta anos, que acreditam ser imunes à doença por acreditar que ela só afeta os jovens. O idoso merece atenção diferenciada, e com AIDS o cuidado deve ser maior. Devido às dificuldades enfrentadas na velhice, como memória falha, muitos não conseguem lembrar fatos da vida e outros detalhes. Além disso, o desamparo e angústia que toma o infectado é imensurável. O momento que exige apoio pode tomar 1 Para a UNAIDS, pessoas com idade acima de 50 são consideradas idosas. 9% 11% 13% 15% 17% 19% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Pessoas infectadas pelo vírus HIV com mais de 50 anos
  • 13. 12 sentido contrário, levando o idoso a lutar não apenas contra a AIDS, mas contra a rejeição familiar. 1.2 Justificativa O quadro da AIDS, por si só, justifica a importância de mais projetos que levem adiante pesquisas referente ao tema. Neste projeto experimental, de um produto audiovisual no formato de documentário, o foco é na terceira idade, pois se faz necessário compreender como a AIDS interfere na faixa etária acima dos cinquenta anos, expondo a realidade complexa vivida por estas pessoas que, além de não terem visibilidade, estão mascaradas e esquecidas pela maioria. A exposição dos problemas enfrentados pelos portadores do vírus HIV na terceira idade, o contexto de quando foram infectados e a forma como lidam com a situação atualmente são fatores de extrema relevância tanto para combater o preconceito e estereótipos quanto para dar esperança àqueles que sentem que estão vivendo seus últimos anos sob muita humilhação e cercados de melancolia, tristeza e solidão. Só a informação poderá convencer as pessoas, de uma vez por todas, de que o sexo continua ocorrendo entre os mais velhos – sem que isso precise ser uma surpresa ou motivo de piada. E que, como todos os demais brasileiros, eles estão expostos a um ambiente altamente sexual, como é o nacional. (GORINCHTEYN, 2010, p. 51) Tratando desse assunto, objetiva-se o fato de que jovens, adultos e idosos devem ter os mesmos cuidados na vida sexual, uma vez que não existe um grupo de risco, mas sim, um comportamento de risco. Como não existem muitas campanhas de conscientização, prevenção e combate para este público, o estudo é relevante para produzir e disseminar informação sobre prevenção e aceitação do soropositivo. 1.3 Objetivo 1.3.1 Objetivo Geral Relatar a vida de soropositivos na terceira idade através de um projeto experimental que envolve as habilitações de Jornalismo e Rádio, TV e Internet com o formato de documentário.
  • 14. 13 1.3.2 Objetivo Específico Esclarecer pontos não discutidos sobre a vida dos soropositivos na terceira idade, desmistificando alguns estereótipos e tabus sobre suas rotinas e vidas sexuais. Levantar questionamentos sobre a ausência de campanhas específicas para a prevenção e convívio com soropositivos da terceira idade. Evidenciar que a longevidade de pessoas com AIDS é possível. Evidenciar que a terceira idade possui vida sexual ativa, mesmo existindo dificuldades naturais entre os gêneros. Divulgar dados de pesquisas sobre o HIV baseadas em fontes governamentais. Explicar as dificuldades que o soropositivo enfrenta no seu dia a dia, desde sua mudança de hábito depois da descoberta do vírus até o preconceito sofrido pela sociedade. Promover o entendimento e aceitação do soropositivo, para que haja reinserção social. 1.4 Problematização É possível conviver bem com o vírus HIV, após os cinquenta anos de idade, independentemente de o contágio ter acontecido antes ou depois dessa idade? 1.5 Hipóteses A ausência de discussão aberta e franca sobre a sexualidade durante o envelhecimento faz da AIDS uma doença silenciosa e desconhecida para a terceira idade. O preconceito contra a doença faz esse público ser desconhecido, uma vez que, por ser uma doença sem cura, não se pode associa-la à longevidade. 2. AIDS DEPOIS DOS 50 ANOS
  • 15. 14 2.1 AIDS 2.1.1 Origem do HIV O HIV, mais precisamente a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA, na sigla em português), ganhou destaque global nos anos 1980, quando foi descoberta e reconhecida oficialmente como doença. Seu surgimento ocorreu em primatas no centro-oeste africano e foi transmitida para os seres humanos no início do século XX (vinte) por meio do contato de caçadores com o sangue ou consumo da carne dos animais. De acordo com pesquisadores liderados por Oliver Pybus, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e Philippe Lemey, da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica2, a linhagem do vírus HIV, que saltou dos macacos para os humanos, e causou a pandemia mundial que acontece hoje, teria começado por volta de 1920 em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC), na África, de onde se espalhou para o resto do planeta. Conhecida como Léopoldville, Kinshasa era capital do Congo Belga, um dos centros comerciais mais importantes do período colonial. Pybus destaca que os processos de urbanização, como uma extensa rede de transporte ferroviários e fluviais pela qual circulavam cerca de um milhão de pessoas no final dos anos quarenta, foram os responsáveis pela disseminação do vírus, uma vez que esses sistemas de locomoção conectavam o sul da RDC às fronteiras com a Zâmbia e Tanzânia, e à região norte com Uganda, Ruanda e Burundi. "Era uma cidade muito grande e uma área de rápido crescimento. Registros médicos coloniais mostram indícios de várias doenças sexualmente transmissíveis". Outro fator que contribuiu para que a doença se espalhasse foi o comércio sexual e a prostituição, além do manuseio de seringas não-esterilizadas em clínicas durante campanhas de vacinação contra doenças infectocontagiosas. Segundo Pybus, estas condições duraram por algumas décadas em Kinshasa e, mesmo após deixar de existir, o vírus já começava a infectar milhares de pessoas em todo o mundo. 2 Artigo publicado em 2 de outubro de 2014 na revista científica Science, publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (ingl.: American Association for the Advancement of Science — AAAS). A publicação é uma das mais conhecidas no meio científico e tem cerca de um milhão de leitores mensais.
  • 16. 15 Em seu livro The Origins of AIDS 3, Jacques Pepin, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Sherbrooke, em Quebec, conta que o ancestral da AIDS está em uma subespécie de chimpanzé chamada Pan troglodytes4, que vive entre os rios Sanagá e Congo5. Dois tipos de HIV foram caracterizados: o HIV-1, mais infeccioso, e o HIV-2, que apresenta menos risco de contaminação. A linhagem HIV- 1, que é o vírus originalmente descoberto no início do século XX (vinte), possui quatro grupos genéticos (M, N, O e P) que mostram que o salto do chimpanzé para o homem aconteceu pelo menos quatro vezes na história. No entanto, apenas um destes eventos, o que deu origem ao grupo M - responsável por mais de 99% dos casos -, desencadeou a pandemia global. 2.1.2 O vírus HIV O HIV é um retrovírus classificado na subfamília dos Lentiviridae que apresentam sintomas comuns entre si, como período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença - muitos soropositivos podem viver anos sem desenvolver a doença -, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e supressão do sistema imune. A principal característica do vírus é que ele ataca o sistema imunológico (que defende o organismo de doenças), mais precisamente os linfócitos T CD4+ (glóbulos brancos).6 2.1.3 Sintomas Basicamente, existem três fases da infecção pelo vírus HIV. A primeira é a infecção aguda, também chamada de síndrome retroviral aguda. Ela precede os primeiros sinais da doença e dura de três a seis semanas após a exposição ao vírus. Muita gente acaba confundindo os sintomas como os de uma gripe comum, já que 3 PEPIN, Jacques. The Origins of AIDS. Grã-Bretanha: Cambridge UK, 2013. 4 Pan troglodytes é o nome científico do chimpanzé comum, também conhecido como chimpanzé robusto, uma das espécies mais famosas no continente africano. 5 O Rio Sanagá é o mais importante dos Camarões. Já o Rio Congo é um segundo maior da África e o sétimo maior rio do mundo. 6 Linfócitos T CD4+ são glóbulos brancos que atuam no sistema imunológico e são também as principais células atingidas pelo vírus HIV, causador da AIDS.
  • 17. 16 febre e mal-estar são fatores característicos desta primeira fase. Por isso, a maioria dos casos pode passar despercebida e, assim, evitar que o paciente detecte a doença. O segundo estágio da infecção é o assintomático (ou crônico). O vírus começa a sofrer diversas mutações rapidamente, mas que não enfraquecem o organismo o suficiente para permitir novas doenças, uma vez que os vírus são extintos de forma equilibrada. Mesmo doente, o paciente pode conviver com os vírus por muitos anos - a média é de oito anos. A última fase da AIDS é a sintomática inicial, e acontece em decorrência da assintomática. Como as células de defesa passaram anos tentando evitar o ataque constante do vírus HIV no organismo, os linfócitos começam a funcionar com menos eficiência até atingirem seu limite e serem destruídos. Para efeito de comparação, a quantidade de glóbulos brancos presentes em adultos saudáveis varia entre 800 a 1.200 unidades por mm³ (milímetros) de sangue. Já em usuários em estado avançado do HIV, esse valor fica abaixo de 200 unidades. Com a baixa imunidade do sistema imunológico, o paciente fica mais vulnerável a outras doenças. São as infecções oportunistas, que se aproveitam da fraqueza do sistema de defesa do corpo humano. Entre as complicações estão hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose, alguns tipos de câncer ou simples resfriados e problemas gastrointestinais. 2.1.4 Transmissão O HIV pode ser transmitido por diversos elementos do organismo, incluindo sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. Por isso, são muitas as formas de contágio pelo vírus por meio de outra pessoa - ou seja, ele precisa ir de um indivíduo para o outro. De acordo com o site do Governo Federal7, existem cinco maneiras mais comuns que podem ocasionar a transmissão do HIV. São elas: sexo sem camisinha (vaginal, anal ou oral); transmissão vertical, que é quando a mãe soropositiva passa a doença para o filho durante a gestação, parto ou amamentação; transfusão de 7 Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pagina/o-que-voce-precisa-saber-sobre-aids>. Acesso em: 08 nov. 2014.
  • 18. 17 sangue contaminado com o vírus; instrumentos não esterilizados que furam ou cortam; e uso de agulhas ou seringas contaminadas por mais de uma pessoa. 2.1.5 Janela Imunológica Uma vez no organismo, o vírus inicia um processo de replicação viral, alterando o DNA da T CD4+ e fazendo cópias de si mesmo. Após se multiplicar, ele rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção do indivíduo. É aí que o paciente pode atingir o estágio mais avançado da doença, que é a AIDS. Como o sistema imunológico fica comprometido e não consegue responder de forma automática a agentes externos, o usuário pode contrair doenças mais facilmente, de um simples resfriado a infecções mais graves, como câncer e tuberculose. Durante esse período em que os anticorpos são produzidos em resposta ao vírus da AIDS acontece a chamada "janela imunológica", o intervalo de tempo entre a infecção e a produção de defesas do organismo contra a ameaça. Ainda segundo o site do Governo Federal, o período de identificação do contágio pelo vírus depende do tipo de exame (quanto à sensibilidade e especificidade) e da reação do organismo do indivíduo). A sorologia positiva é constatada de trinta a sessenta dias após a exposição ao HIV, mas existem casos em que o prazo pode aumentar para até cento e vinte dias. Há também a possibilidade de um teste de HIV apresentar um falso resultado negativo durante o período da janela imunológica. Neste caso, a recomendação é realizar um novo teste depois de trinta dias e não praticar relações sexuais sem camisinha ou compartilhar seringas para evitar a contaminação de outras pessoas. 2.1.6 Tratamento O acompanhamento da doença e o uso de medicamentos é o mesmo para pacientes que descobriram o vírus agora ou posteriormente. A medida vale tanto para adultos jovens quanto para idosos. Hoje, a terapia anti-HIV consiste no uso de remédios chamados antirretrovirais, com o objetivo de inibir a replicação do vírus no sistema imunológico.
  • 19. 18 Segundo Jean Gorinchteyn8, atualmente, existe cerca de dezoito drogas disponíveis para impedir a multiplicação do HIV. Uma das mais conhecidas é o AZT9, que surgiu na década de oitenta, mas que se mostrou ineficaz até meados dos anos noventa porque o vírus apresentou altos índices de resistência. Foi nessa época que a medicina aderiu à mistura de três drogas para reduzir a capacidade de resistência do vírus, procedimento que dura até hoje. No que diz respeito ao tratamento do HIV, um dos pontos mais discutidos na comunidade médica é sobre quando o acompanhamento deve ser iniciado: se no começo, logo nas primeiras semanas de descoberta da doença, ou após um desenvolvimento prolongado do vírus. Para tal, o Dr. Luis Camargo10 afirma que existem duas correntes de explicação. A primeira é baseada no HIV agudo, caracterizado como um quadro viral qualquer, como uma gripe, febre, manchas vermelhas no corpo etc. "Tem gente que acha que se você tratar nesse momento, esse paciente no futuro pode ter uma maior chance de tirar o remédio e o vírus não replicar mais", alega. Já a segunda corrente de pensamento diz que, conforme os usuários são tratados por um longo período de tempo, faz-se a necessidade de remover os medicamentos da rotina daqueles pacientes. A isso, um grupo de pesquisadores do Instituto Pasteur11, em Paris, deu o nome de "cura funcional"12, quando o vírus, apesar de não desaparecer do organismo, entra em remissão e o paciente não precisa mais de remédios. Independentemente dos estudos científicos, a diretriz atual do Ministério da Saúde é tratar o HIV em qualquer momento da doença. Segundo Camargo, 8 Jean Gorinchteyn é infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, entidade referência no tratamento de doenças infectocontagiosas que se destacou no Brasil e no mundo no acompanhamento dos primeiros casos da AIDS no país. 9 Também conhecido como zidovudina, o AZT é um remédio usado como antiviral, indicado para o tratamento da AIDS no Brasil. Foi uma das primeiras drogas aprovadas no país para cuidar de pessoas infectadas com o vírus HIV. 10 Luis Fernando Aranha Camargo é infectologista e gerente de pesquisa clínica do Hospital Israelita Albert Einstein. Formado na Universidade Federal de São Paulo, possui 25 estudos publicados em revistas indexadas, abordando infecções em pacientes graves e em pacientes submetidos a transplantes. Concedeu uma entrevista para a construção desse trabalho. 11 Fundação francesa privada, sem fins lucrativos, focada em pesquisas sobre a biologia dos microrganismos, doenças e vacinas. Foi a primeira instituição a isolar o HIV, em 1983. 12 Disponível em: <http://www.plospathogens.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.ppat.1003211>. Acesso em: 08 nov. 2014.
  • 20. 19 "diagnosticar mais precocemente diminui a mortalidade e reduz as chances de progressão do vírus para a AIDS". Quanto à resposta ao tratamento, Camargo afirma que, em geral, os pacientes respondem bem - tanto os mais jovens quanto os idosos. O problema é a adesão: "Esse é o fator mais importante para a resposta ou não. Quem adere mais, responde melhor", diz o especialista. 2.1.7 HIV nos idosos Se falar sobre o HIV na juventude já é complicado, discutir a doença em pessoas com mais de cinquenta, sessenta anos é uma tarefa ainda mais delicada. Com base nos depoimentos recolhidos ao longo do projeto, o grupo descobriu que algumas pessoas com idades mais avançadas possuíam pouco conhecimento sobre a doença e, quando a descobriram, não sabem como agir ou que tipo de ajuda procurar. Para os recém-descobertos soropositivos que viram ou leram alguma coisa relacionada ao HIV é chegada a hora de lidar com possíveis complicações e lutar contra o preconceito da sociedade que, em muitos casos, começa dentro da própria família. Segundo a Organização Mundial da Saúde13, nos países em desenvolvimento, pessoas a partir dos sessenta anos são consideradas como indivíduos da terceira idade, enquanto em nações desenvolvidas essa idade sobe para sessenta e cinco (no documentário, falaremos sobre pessoas acima dos cinquenta anos, pela experiência das mesmas, focando também no número de anos em que a pessoa convive com o vírus). Dados recentes do Programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS14 apontam que, dos 730 mil casos registrados da doença no Brasil em 2013, mais de 15 mil correspondem aos idosos. Para efeito de comparação, em 1991 eram apenas 950 ocorrências de pessoas da terceira idade portadoras do vírus. De acordo com Gorinchteyn, fisiologicamente o HIV em pessoas idosas tem a mesma cadeia de desenvolvimento de portadores mais jovens. A única diferença está 13 Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2014. 14 Disponível em: <http://www.unaids.org/en/resources/campaigns/2014gapreport>. Acesso em: 08 nov. 2014.
  • 21. 20 no fato do usuário ter o organismo mais fragilizado por conta da idade: como seu sistema imunológico já é mais fraco devido ao envelhecimento natural das células, o avanço do HIV sem tratamento pode ocasionar infecções mais graves que acabam confundidas com outras doenças características dessa faixa etária. Outro fator mais agravante nos idosos é o aumento no nível de concentração de gorduras como o colesterol e as triglicérides15. Este aumento está diretamente relacionado ao uso da medicação específica para tratar o HIV, como explica Gorinchteyn: Os antirretrovirais também causam um fenômeno chamado lipodistrofia, caracterizado pelo acúmulo de gordura em determinados pontos do corpo e sua escassez em outros. É comum, por exemplo, o paciente apresentar rosto, braços e pernas bastante emagrecidos, justamente pela redução de gordura nesses locais. (...) Estes efeitos estabelecem-se a partir do primeiro ano de uso das medicações, agravando-se com o passar do tempo. (GORINTCHETEYN, 2010, p. 92) Jean explica que as medicações também podem dificultar a entrada de açúcares nas células do organismo, um fenômeno conhecido como resistência à insulina, que pode ocasionar o aparecimento do diabetes. Além disso, outras drogas podem provocar alterações na deposição de cálcio (mineralização) no osso, tornando- o mais vulnerável a fraturas, ou alterar “a função dos ruins, diminuindo a filtração de substâncias tóxicas do sangue, como a ureia e a creatinina”. A questão é que, como a maioria das pesquisas feitas até hoje tiveram como foco o acompanhamento de pacientes adultos mais jovens, esses sintomas mais agravantes em idosos não são estudados de forma constante e profunda, o que acaba dificultando a criação de técnicas medicinais voltadas para esse público específico. Isto, consequentemente, eleva o risco de doenças cardíacas e vasculares causadas pelas altas taxas de colesterol no sangue, como o infarto do miocárdio, a hipertensão arterial e os derrames cerebrais. Para destacar este tópico, Gorinchteyn afirma: Por mais que esses idosos tenham cuidado com a alimentação, pratiquem exercícios e tomem os remédios recomendados, há uma imensa dificuldade em manter as taxas nos níveis desejados. Esta situação é mais acentuada especialmente nas mulheres em período de menopausa, pois o colesterol que seria utilizado para produção de hormônios estrogênicos acumula-se no sangue e, consequentemente, deposita-se nas artérias, tendendo a entupi-las. (GORINTCHETEYN, 2010, p. 93) 15 Presentes na maioria dos alimentos ingeridos pelas pessoas, os triglicérides são a forma de gordura mais comum do corpo humano e compõem a maior parte das gorduras de origem vegetal e animal. Podem ser adquiridos pela alimentação ou produzidos no próprio organismo pelo fígado.
  • 22. 21 2.2 Terceira Idade Recentemente, a expressão “Terceira Idade” tem sido usada com frequência para descrever os idosos. De acordo com Laslett (1987), a denominação originou-se na França dos anos setenta com a implantação das Universidades da Terceira Idade (fran: Universités du Troisième Âge), sendo incorporada ao vocabulário anglo-saxão com a criação das Universities of the Third Age em Cambridge, na Inglaterra, no verão de 1981.16 Seu uso corrente entre os pesquisadores interessados no estudo da velhice não é explicado pela referência a uma idade cronológica precisa, mas por ser essa uma forma de tratamento das pessoas de mais idade, que não adquiriu ainda uma conotação depreciativa. A invenção da terceira idade é compreendida como fruto do processo crescente de socialização da gestão da velhice: durante muito tempo considerada como própria da esfera privada e familiar, uma questão de previdência individual ou de associações filantrópicas, ela se transformou em uma questão pública. Um conjunto de orientações e intervenções foi definido e implementado pelo aparelho de Estado e outras organizações privadas. Como consequência, tentativas de homogeneização das representações da velhice são acionadas e uma nova categoria cultural é produzida: as pessoas idosas, como um conjunto autônomo e coerente que impõe outro recorte à geografia social, autorizando a colocação em prática de modos específicos de gestão. (DEBERT, 1997) Estima-se que, no Brasil, o número de indivíduos acima dos sessenta e cinco anos irá quadruplicar até 2060, amparado por uma maior expectativa de vida, que no brasileiro deve aumentar dos atuais setenta e cinco para oitenta e um anos17. Com mudanças da estrutura etária da população nacional, resultado da redução do número de jovens e do aumento dos idosos, o país passará por profundas transformações. O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo a um nível sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo e, já em 1998, quase cinco décadas depois, este contingente alcançava 579 milhões de pessoas, um crescimento de quase 8 milhões de pessoas idosas por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de 1900 milhões de pessoas, montante equivalente à população infantil de 0 a 14 anos de idade (IBGE, 2000, p. 247)18 16 Disponível em: <http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_34/rbcs34_03.htm>. Acesso em: 08 nov. 2014. 17 Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130829_demografia_ibge_populacao_brasil_lgb>. Acesso em: 08 nov. 2014. 18 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm>. Acesso em: 08 nov. 2014.
  • 23. 22 2.2.1 A sexualidade na Terceira Idade As pessoas estão vivendo por mais tempo e, assim, despertando questionamentos sobre o modo como se percebe o processo do envelhecimento, além de trazer transformações nos valores éticos, estéticos e sociais. Entretanto, a sexualidade na terceira idade é um tema pouco conhecido e menos entendido pela sociedade, pelos próprios idosos e pelos profissionais da saúde (STEINKE, 1997). A crença de que o avançar da idade e o declinar da atividade sexual estão inexoravelmente ligados, têm sido responsáveis pela pouca atenção dada a uma das atividades mais fortemente associadas à qualidade de vida, como é a sexualidade (BALLONE, 2001).19 Considerar a sexualidade em idosos como algo natural está longe de ser aceito pela sociedade, que mantém e reforça estereótipos calcados no preconceito e na falta de informação. É comum enxergar a velhice como sinônimo do comportamento assexuado, santificando os mais velhos por meio de uma visão ilusória que foge do padrão em que realmente vivemos hoje. Socialmente, e no caso dos idosos, a valorização dos estereótipos projeta sobre a velhice uma representação social gerontofóbica20 e contribui para a imagem que eles têm de si próprios, bem como das condições e circunstâncias que envolvem a velhice, pela perturbação que causam, uma vez que negam o processo de desenvolvimento. O “Ancianismo” como conceito gerontológico, define-se como o processo de estereotipia e de discriminação sistemática contra as pessoas porque são velhas (Staab e Hodges, 1998).21 Ao fortalecer o estereótipo da velhice assexuada, agrava-se a vulnerabilidade do idoso para as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), inclusive a AIDS, por negligenciar um grupo específico da população/o, tanto no acesso à informação quanto no suporte social. 19 Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=173>. Acesso em: 08 nov. 2014. 20 A gerontofobia corresponde ao medo irracional de envelhecer e de tudo que se relaciona com a velhice. 21 Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Disponível em: <http://www.ipv.pt/millenium/Millenium29/32.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2014.
  • 24. 23 Não resta dúvida de que a informação e solidariedade são duas armas essenciais para enfrentar a Aids. Porque se trata de uma doença que atinge o ser humano, independentemente de sua idade. Portanto, jovens, adultos e idosos devem ter os mesmos cuidados na sua vida sexual, conscientes de que todo aquele que não se prevenir convenientemente pode ser contaminado (GORINCHTEYN, 2010, p. 20) 2.3 A descoberta da AIDS nos homens Por conta do estigma de que o homem deve ser a personagem central na sociedade, revelar um diagnóstico positivo ao paciente pode abalar por completo sua estrutura e integridade de “macho dominante”. Muitos deles desconsideram o fato que o HIV não escolhe suas vítimas, ou seja, pode infectar qualquer pessoa durante o sexo sem proteção ou por meio de drogas injetáveis, independentemente da condição social ou financeira. A questão é que a maioria dos homens ainda associa a doença como uma patologia exclusiva dos homossexuais – no início da década de 80 ficou conhecida como a “Peste Gay”. Logo, quando o usuário é diagnosticado com o HIV, a primeira reação em muitos pacientes do público masculino é se perguntar sobre a própria sexualidade. Alguns encontram dificuldade em assumir sua condição, seja como heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, especialmente para contar uma possível traição às suas parceiras (os). Para Jean Gorinchteyn, “a afirmação de masculinidade, de virilidade, é tão fundamental na sua vida quanto o ar que respira” (2010, p 72). Soma-se a isso a inibição de inúmeros pacientes em conversar com seus médicos sobre como podem ter se contaminado: Muitas vezes a opção sexual, a maneira de contaminação, jamais é revelada, sendo preferido o segredo, mesmo em relação ao médico que o acompanha há tantos anos, o que dificulta estabelecer uma real estatística para este grupo etário. A verdade é que pacientes que se revelam bissexuais costumam se arrepender depois da confissão, e passam a entrar nos consultórios cabisbaixos, envergonhados, alguns deles jamais retornam, optando por trocar de médico, sob a alegação de conflito de horários. (GORINCHTEYN, 2010, p. 64) Ainda segundo Jean, fora a dificuldade em assumir sua condição de soropositivo, o homem enfrenta o preconceito em se adaptar em uma rotina de mais cuidados por conta do vírus e do tratamento. Os casos mais graves exigem exames periódicos para evitar doenças cardiovasculares, como infarto ou acidente vascular.
  • 25. 24 Estereotipados como os chefes de família, os homens da terceira idade estão adaptados a um modo de vida diferente nos tempos atuais. Sendo assim, a partir do momento da descoberta, os homens se sentem vulneráveis a julgamentos familiares, por não serem tão capazes de manter a família como antes, uma vez que o tratamento leva tempo e esforço, eles precisam muitas vezes parar de trabalhar, para se dedicar à saúde. 2.4 A descoberta da AIDS nas mulheres A AIDS é uma das doenças que mais afetam as emoções dos pacientes, e tal cenário muda a rotina principalmente do público feminino. Na terceira idade, o corpo feminino já não é mais o mesmo. O questionamento estético é algo mais presente, a autoestima começa a diminuir pelo aparecimento das rugas, dos cabelos brancos, da flacidez na pele, as mulheres se sentem mais frágeis. No caso da doença, muitas mulheres se deparam com a notícia de que foram infectadas com o vírus pelo companheiro que dividiu décadas de vida. Ao descobrirem que contraíram o HIV, algumas portadoras veem seu casamento se desestruturar e suas emoções serem abaladas diante de tanto questionamentos, entre eles: “Como ele teve coragem de não me proteger?”. Existem também as mulheres que são infectadas após a perda de seus maridos. Por causa da solidão ou por incentivo de amigos, elas procuram retomar suas vidas e se relacionam novamente, mas por conta da idade não se preocupam com o preservativo na hora das relações sexuais com outros parceiros. Falando em prevenção, o problema é ainda maior porque não se tem o costume de falar sobre camisinha feminina, uma vez que as campanhas publicitárias, do governo e até mesmo especialistas da área da saúde costumam recomendar a proteção do órgão sexual masculino, e não do feminino. Beatriz Pacheco22, 65 anos, tem AIDS e afirma ser complicado encontrar preservativos para mulheres que sejam mais acessíveis (disponível em apêndice c), ainda mais em postos de saúde, onde devem ser distribuídos gratuitamente. 22 Beatriz Pacheco: de acordo com entrevista concedida para esse trabalho.
  • 26. 25 São caríssimos! E são poucos os postos de saúde que os tem para distribuição. Além disso, a grande maioria das mulheres idosas sequer se toca - sem ser no banho -, já que, mais uma vez, ‘no nosso tempo’, estas coisas eram associadas a pecado, ou coisa de ‘prostituta’. O prazer não era para as mulheres da minha geração. Outro ponto discutido por Beatriz é que mulheres pós-menopausa não têm sua vagina lubrificada, o que facilita sua exposição na relação sexual. O órgão pode ter microfissuras que possibilitam a entrada de microrganismos e, consequentemente, aumentam as chances de contágio de DST e Hepatites Virais. 2.5 Preconceito O idoso ainda é segregado de diversos setores e ambientes na sociedade, sejam na família, no trabalho ou em suas atividades de rotina. Basta andar pela rua, ligar a TV ou prestar atenção durante uma entrevista de emprego: são poucas as oportunidades destinadas ao público com idades mais avançadas. Isso sem contar que essa parte da população tem pouco destaque na mídia e até mesmo nas decisões tomadas pelo governo, que muitas vezes ignoram as pessoas da terceira idade por acharem que elas não podem trazer nenhuma contribuição significante à sociedade. Com os pacientes infectados pelo HIV, a situação é mais atenuada, já que, muitas vezes, o preconceito parte do próprio paciente. Em muitos casos, a primeira reação é negar a doença ou se colocar na condição de que, agora que a contraiu, a vida chegou ao fim, uma vez que diversos soropositivos acreditam que não poderão viver normalmente. O mais difícil talvez seja aceitar que ele ou ela foi contaminado (a) pelo marido ou esposa, além de enfrentar forte resistência em assumir que teve um relacionamento extraconjugal com outra (o). As preocupações que mais afligem as mulheres são: a aceitação da sociedade ou o risco de contraírem doenças oportunistas, enquanto os homens se preocupam mais em tomar remédio a vida toda ou de ter contaminado outra pessoa. Soma-se a isso o fato de que 19% dos portadores do vírus não contam aos seus parceiros (as) de que possuem o HIV, como mostra o gráfico abaixo23: 23 Disponível em: < http://issuu.com/joaoricardodeabrahao/docs/atitude_abril_aids_book?e=0/10155719>. Acesso em: 15 nov. 2014.
  • 27. 26 Figura 2 – As Maiores Preocupações Fonte: Pesquisa Atitude Abril AIDS 2014 Além disso, o paciente se mostra mais vulnerável quanto à discriminação da família e da sociedade. Por isso, muitos contaminados passam por períodos de depressão ou descuido da própria saúde, resultados da falta de apoio e acolhimento dos amigos e familiares. Consequentemente, muitos acabam abandonando o tratamento por falta de diálogo, tanto com os pais, filhos, marido ou esposa, como também com os médicos. Em contrapartida, grande parte das famílias não toma a AIDS como um desafio, mas sim como uma forma de aproximar-se do parente infectado. Como explica Jean: Na maioria das famílias, a tendência é de aconchego, em especial porque as mulheres costumam pensar muito na instituição familiar, nos filhos, nos netos, além de ser comum o raciocínio que as leva a avaliar: se eu não cuidar dele [do marido], ninguém mais fará isso. É daí que vem o apoio ao doente. (...) Há relatos de homens que dizem que, depois de se sentirem aceitos novamente, fizeram um acordo consigo mesmos: de se cuidarem para poder ver a família crescer, a filha se casar, o neto nascer. Quando isso acontece, o prognóstico é muito favorável. Este homem faz uma revolução nos seus
  • 28. 27 hábitos de vida para garantir mais saúde, deixa de lado o cigarro, a bebida, torna-se mais cuidadoso com as refeições”. (GORINCHTEYN, 2010, p. 75) Além do preconceito dentro de casa, existe uma negligência por parte dos profissionais de saúde. Muitos não têm o costume de conversar com pacientes mais idosos sobre sexualidade e doenças transmitidas através de relações desprotegidas, limitando a informação passada para esses usuários. Para os especialistas da área médica, é difícil conseguir que os usuários se abram com seus médicos porque muitos têm vergonha de falar sobre sua vida sexual. Como muitos não têm esse costume com outros parentes, discutir o assunto com um estranho pode ser ainda mais complicado, especialmente com as mulheres, que se sentem constrangidas. Já os homens têm mais facilidade de conversar com outro homem médico. Para o médico Luis Camargo, o mais importante é estimular os pacientes a conversar sobre sexualidade, e que eles não se sintam acuados em contar detalhes sobre sua vida íntima, pois são de extrema importância para ajudar no diagnóstico e tratamento da doença. “Para os médicos, a atenção à possibilidade do diagnóstico; aos idosos, saberem que não estão imunes a isso. A expectativa de vida aumentou, as práticas sexuais estão mais liberais e muitos tabus foram rompidos”. 2.5.1 Preconceito contra a mulher idosa Sexo na vida das mulheres sempre foi algo considerado polêmico. Assim como destacou Beatriz Pacheco, enquanto alguns homens que mantém uma vida sexual ativa com muitas parceiras não são condenados por isso, o mesmo não se pode dizer das mulheres, que muitas vezes são tachadas de garotas de programa. E isso não é exclusividade dos mais jovens: a terceira idade carrega tal preconceito em dobro. Afinal, como mulheres nascidas nos anos cinquenta ou sessenta podem gostar de ter relações sexuais se foram ensinadas que deveriam ser apenas donas de casa, boas esposas e mães exemplares? Mesmo vivendo em uma sociedade mais moderna e aberta à diversidade cultural e de gêneros, o homem ainda é colocado sob o estigma de que pode falar abertamente sobre quaisquer assuntos, incluindo sua sexualidade, tanto com amigos e família quanto com profissionais da área médica. Além disso, são estimulados a explorarem o próprio corpo desde cedo, algo que não acontece com as mulheres, que
  • 29. 28 muitas vezes acabam guardando detalhes importantes de sua vida social e sexual, seja por vergonha de conversar com um especialista ou imposição de uma cultura predominantemente machista. Tal dificuldade é ainda mais acentuada durante o diagnóstico do HIV, como explica Gorinchteyn: Em geral, a primeira reação dessas mulheres ao receberem o diagnóstico é negá-lo. Depois, vem o medo de terem sido contaminadas. Muitas delas resistem a fazer o teste, apesar de entenderem a necessidade o exame, e a questão que se impõe é a seguinte: como será sua vida e a de sua família, dos filhos, dos netos, como viverão em caso de adoecerem? (GORINCHTEYN, 2010, p. 64) Portanto, a sociedade não concede às mulheres o direito de sentirem raiva quando são infectadas pelo próprio marido ou por eventuais parceiros. Em alguns casos, elas são acusadas de não terem dado ao companheiro o carinho necessário, o que, na opinião de alguns parceiros, teria motivado a procura por sexo fora de casa, gerando a contaminação. Fatores como a menopausa e o envelhecimento também são usados para culpar a mulher nessa situação. Enquanto a perda do desejo sexual é mais acentuada nelas, o homem ainda se sente viril e grande parte não aceita as alterações físicas ou emocionais sofridas pela mulher, como a diminuição da lubrificação vaginal e todas as mudanças sofridas com o avanço da idade. É o que explica Gorinchteyn (2010, p. 68) sobre o caso de uma paciente: Uma dessas pacientes mais idosas, entre os abraços trocados com seu parceiro, conta que tirou da bolsa uma camisinha e sugeriu coloca-la no companheiro. Ela disse que sua atitude o impressionou muito, a ponto de ele fazer certos questionamentos, imediatamente. “Você é prevenida assim com todos?”, perguntou ele, e ela se sentiu como uma profissional do sexo ou algo do gênero, nunca como mulher consciente da necessidade da prevenção, informada, antenada. “Para outros homens não foi preciso que eu pedisse, eles se revelaram suficientemente cavalheiros para usar a camisinha sem terem sido solicitados”, respondeu ela justamente indignada, a conversa terminou ali. Enquanto algumas mulheres se mantêm informadas sobre a necessidade de prevenção, outras aceitam a crítica do uso da camisinha feminina como algo certo. Dessa forma, muitas se sentem oprimidas por conta de sua condição e desejo sexuais e deixam de se manifestar, seja com o marido ou até mesmo com o próprio médico. É justamente pelo medo de serem julgadas, que as mulheres têm medo de enfrentar essas e outras posições machistas colocadas pela nossa sociedade. Submetidas aos julgamentos, a situação pode ser ainda mais delicada quando a paciente contrai o HIV. Como explicar isso para a família? Como se adaptar em uma
  • 30. 29 nova realidade após anos de experiência de vida? E como não ser considerada promíscua por todos? 2.6 A Sociedade, o Estigma e o Paciente Soropositivo A descoberta da infecção pelo vírus HIV é tão crucial na vida do paciente quanto para a família e amigos mais próximos. Esse é o momento em que a compreensão e o apoio dessas pessoas devem cercar e criar o melhor ambiente possível para o usuário soropositivo, pois a falta de conhecimento e a discriminação podem gerar sofrimento ao paciente, trazendo a revolta, a culpa, o não comprometimento à adesão do tratamento, o uso excessivo de álcool e o estresse, que além de abaixas a imunidade, colabora na proliferação do vírus e na contração de outras doenças oportunistas. Segundo Erving Goffman24, existem três tipos de estigma: Em primeiro lugar, há as abominações do corpo - as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vicio, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família. Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor a atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. (GOFFMAN, 1988, p. 7) Sendo assim, nota-se que os pacientes diagnosticados como soropositivos devem ser orientados sobre a doença e o tratamento, com a explicação sobre o aumento da sobrevida e oferecendo uma assistência de qualidade, respeitando sua singularidade numa dimensão biopsicossocial-cultural. É um quadro bastante complexo entre a interação dos fatores sociais e a saúde do soropositivo, mas é necessário que se faça inteligível esse tipo de evento, seja planejando algo na área de educação em saúde, para o rompimento desses tabus e rótulos colocados no início dos anos oitenta. Rótulos estes que foram massificados e permanecem até os dias de hoje na sociedade, mesmo que em uma escala menor. 24 Erving Goffman foi um cientista social, antropólogo, sociólogo e escritor canadense. Foi considerado o sociólogo norte-americano mais influente do século XX.
  • 31. 30 "O estigma que ainda cerca a enfermidade pode afetar a rede de apoio social das pessoas soropositivas. Para manter o relacionamento com os amigos e a família, eles preferem esconder o próprio diagnóstico para que não sofram com o possível afastamento, muitas vezes preferindo o auto isolamento pela mesma razão. Este fator é um importante agente estressor, que modifica e restringe a vida dos envolvidos, e esse estresse contribui significativamente para uma imunodepressão, debilitando o organismo e deixando-o mais suscetível às infecções." (CARVALHO; PAES, 2011) Esse é um fator de grande importância, pois ao descobrir a contaminação com o vírus HIV, a pessoa sofre uma grande mudança no estilo de vida, como afirma o Dr. Luis Camargo: Diante do exposto, nota-se que é de suma importância a intervenção dos profissionais que atuam no processo de educação em saúde, promovendo orientação não só aos afetados pela epidemia, mas a toda população de forma geral, seja no processo de prevenção, promoção e recuperação da saúde, como no apoio psicológico e demais suportes necessários, salientando o empenho em desmistificar a temática do HIV/AIDS. (CARVALHO; PAES, 2011).25 3. DOCUMENTÁRIO O projeto é apresentado através de um produto audiovisual no formato de documentário devido à exposição da realidade que este gênero propõe, diferente de obras ficcionais, cujas histórias são criadas através de ideias fantasiosas da realidade. Como este tema aponta, especificamente, a situação de vulnerabilidade do idoso em relação a AIDS, se faz necessário essa exposição para legitimar o quadro vivido pela terceira idade, levantando questionamentos quanto aos estereótipos e tabus discorridos neste projeto. Sendo a conscientização um dos principais fatores de combate à desigualdade social, acredita-se que o uso do formato escolhido seja mais efetivo para informar, fazendo o uso de histórias reais contadas por pessoas reais. Ainda que o documentário possa ter uma narrativa composta por imagens, trilha, locução e fala, assim como no cinema ficcional, ele estabelece asserções ou proposições sobre o mundo histórico. São duas tradições narrativas distintas, embora muitas vezes se misturem (RAMOS, 2008). A diferença também se encontra na forma como a mensagem é passada e a premissa que o telespectador tende a buscar nas 25 CARVALHO, Simone Mendes; PAES, Graciele Oroski. A influência da estigmatização social em pessoas vivendo com HIV/AIDS. Artigo disponível em: <http://www.iesc.ufrj.br/cadernos/images/csc/2011_2/artigos/csc_v19n2_157-163.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2014.
  • 32. 31 referências, que existem em sua bagagem cultural, para dar significado ao conteúdo transmitido. Todo filme é um documentário. Mesmo a mais extravagante das ficções evidencia a cultura que a produziu e reproduz a aparência das pessoas que fazem parte dela. (NICHOLS, 2008, p. 26) A linguagem do que se conhece hoje como documentário surgiu com os filmes de Robert Flaherty, nos anos 1920, quando visitou uma comunidade de esquimós no norte do Canadá e criou aquele que é considerado o primeiro filme de não ficção, Nanook, o esquimó (1922). Em seguida, os filmes de Flaherty inspiraram um artigo escrito por John Grierson em 1926, onde ele utiliza a palavra “documentário” pela primeira vez. "É claro que Moana, sendo uma exposição visual dos eventos cotidianos de um jovem polinésio e sua família, tem valor como documentário", afirmou Grierson, sobre o filme Nanook e Moana (1926) 26. [...] o documentário passa a ser considerado como a produção audiovisual que registra fatos, personagens, situações que tenham como suporte o mundo real (ou mundo histórico) e como protagonistas os próprios "sujeitos" da ação: o esquimó Nanook ou o pescador de Os pescadores de Aran (1934), por exemplo. (LUCENA, 2012, p.22) Mas assim como a ficção, o documentário também precisa da intervenção do cineasta a fim de alinhar uma base estética às imagens captadas, como afirma Puccini (2012): Documentário é também resultado de um processo criativo do cineasta marcado por várias etapas de seleção, comandadas por escolhas subjetivas desse realizador. Essas escolhas orientam uma série de recortes, entre concepção da ideia e a edição final do filme, que marcam a apropriação do real por uma consciência subjetiva. (PUCCINI, 2012, p. 15). Através da pesquisa sobre o tema escolhido, o produtor do documentário tem o embasamento necessário para a criação de uma narrativa sobre o tema, que irá determinar o rumo do produto. Sendo assim, para a concepção do documentário deste projeto, o tema foi explorado a fim da compreensão de como se deu o aumento no número de portadores do HIV na terceira idade. O produto final contará com uma duração de 24 minutos, composto por depoimentos de profissionais na área de saúde e, principalmente, personagens acima dos cinquenta anos e soropositivos. 26 LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários: conceito, linguagem e prática de produção. São Paulo: Summus, 2012.
  • 33. 32 Por ser um documentário composto por entrevistas, a roteirização não foi delimitada, seguindo apenas algumas premissas de perguntas para que o roteiro tomasse forma de acordo com o ritmo da conversa. Seguindo a orientação de Puccini (2012), o processo de roteirização do documentário foi elaborado e finalizado de acordo com a decupagem do material gravado, das entrevistas, juntamente com a edição, possibilitando ressaltar os pontos fundamentais de cada entrevistado e de cada relato. Esse roteiro será resultado de um trabalho de decupagem do material bruto de filmagem e terá sua função voltada para orientar não mais diretor, atores ou produtor, mas unicamente o montador ou editor do filme (...) é o momento em que a articulação das sequências do filme, entre entrevistas, depoimentos, tomadas em locação, imagens de arquivo, entre outras imagens colocadas à disposição do repertório expressivo do documentarista, em consonância com o som, trará o sentido do filme. (PUCCINI, 2012, p. 17) 3.1 Jornalismo Investigativo Embora os meios digitais tenham agilizado os processos de transmissão das notícias, tornando-as muitas vezes num produto superficial e sem conteúdo, a prática jornalística ainda deve se manter presente, tanto na investigação e apuração do que de fato é uma notícia quanto em caráter informativo - e principalmente este. Conforme Michael Kunczik27 (2002) explica em seu livro Conceitos de Jornalismo: Norte e Sul, o jornalista tem dois papéis principais que, de uma forma ou de outra, acabam se interligando. O primeiro considera o profissional como um "agente neutralmente distanciado para poder transmitir a informação com objetividade e ética profissional", enquanto o segundo simboliza a voz de um determinado grupo ou comunidade, na ideia de que o jornalista é um "denunciante da corrupção". Em ambos os casos, o jornalista aparece no cerne dos acontecimentos - sem necessariamente participar deles -, atuando como um mediador entre a notícia e o público. Por se tratar de um trabalho documental com pessoas reais, é relevante destacar a importância e seleção dessas fontes para a composição do projeto. Sobre isso, Nilson Lage (2001) diz: "É tarefa comum dos repórteres selecionar e questionar 27 KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo: Norte e Sul. Tradução: Rafael Varela Jr. - 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
  • 34. 33 essas fontes, colher dados e depoimentos, situá-los em algum contexto e processá- los segundo técnicas jornalísticas"28. O depoimento de personagens não-ficcionais ajudará na construção de um documentário em vídeo que aborde temas específicos - no caso os idosos portadores do vírus HIV -, aproximando-o de um trabalho mais focado no "jornalismo convencional”. É o que destaca Edvaldo Pereira Lima (2013), um dos principais responsáveis pela difusão do Jornalismo Literário no Brasil, além de ser autor de livros como Páginas Ampliadas (2008) e Jornalismo Literário para Iniciantes (2014): Existe um interesse social por narrativas reais de qualidade. Se o jornalismo não souber responder a esse desafio como deve, outras áreas da comunicação vão fazer isso, pois a demanda está aí. Se não for o jornalista que responderá a essa busca social, outros profissionais cobrirão o espaço, pois a sociedade requer que histórias bem contadas da nossa história em desenvolvimento, do nosso passado e do nosso futuro continuem a ser produzidas. O interesse formidável de parte do público brasileiro por boas biografias é um exemplo dessa demanda. (...) A exibição contínua de documentários de qualidade nas salas de cinema o ano inteiro – algo que acontece em São Paulo – é um sinal disso. Há uma parte considerável do público que pede histórias reais fortemente centradas em seres humanos de carne e osso que o ajudem a compreender o que é este nosso mundo em veloz efervescência de mutação, os dramas da existência humana, o passado que construímos, a consciência que precisamos conquistar para a co- construção da civilização planetária e sustentável que precisamos. (LIMA, 2013, Jornalismo Literário)29 Com base na produção de um documentário jornalístico e nas histórias reais dos personagens, Márcia Carvalho (2006), mestre em Comunicação e Estéticas Audiovisuais pela ECA-USP, e doutoranda em Multimeios pela Unicamp, destaca como esses relatos podem enriquecer o tema e a produção do trabalho: Parece que o segredo para uma nova prática do jornalismo audiovisual está em saber ouvir, desenvolver uma análise crítica sobre os fatos e resgatar o espírito investigativo, que permita contar uma história, que mereça ser contada, confrontando o tema, as fontes e o próprio jornalista. E com isso, quem sabe, despertar paixões, ódios e debates, tais como os diálogos e a importante função de narrar uma história com vigor presentes nos documentários de Michael Moore. (CARVALHO, 2006, Revista PJ:Br – Jornalismo Brasileiro)30 28 LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001. 29 Entrevista veiculada no blog Jornalismo Literário. Disponível em: <https://jornalismoliterarioblog.wordpress.com/tag/paginas-ampliadas>. Acesso em: 08 nov. 2014. 30 Artigo disponível em: <http://www2.eca.usp.br/pjbr/arquivos/ensaios7_d.htm>. Acesso em: 08 nov. 2014.
  • 35. 34 Além disso, como informa o Manual de Redação e Estilo do Jornal O Estado de São Paulo, a linguagem precisa ser direta, sem rodeios, e clara para o usuário: "Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. (...) A simplicidade é a condição essencial do texto jornalístico". Este conceito precisa ser ainda mais imponente levando em consideração que o documentário contará com entrevistas de médicos e fontes especialistas, já que será necessário simplificar a linguagem de alguns termos científicos para todos os públicos. 3.2 Referencial Estético Para a referência estética desse projeto, o grupo se baseou nas linguagens dos documentários “Me Myself and HIV”, “Junho – o Mês que abalou o país” e “The Internet’s Own Boy”, contemplando em todos os produtos a abordagem dos personagens, a narração e a fotografia. O projeto também leva como referência produções ficcionais, a fim de estabelecer a relação entre o poder da direção fantasiosa com os fatos reais do documentário. Para esse papel, foi escolhido o filme “Philadelphia”. 3.2.1 Documentários Me Myself and HIV Documentário produzido em 2010 por Alex Stockley Von Statzer e Tom Barry para a programação especial sobre prevenção do vírus da AIDS exibida pelo canal americano da MTV. O vídeo retrata como é a vida de dois jovens portadores do vírus, vivendo em países diferentes. Ele possui o formato de reality show, e mostra o cotidiano dos protagonistas.31 31 Disponível em: <http://www.unaids.org/en/resources/presscentre/featurestories/2010/december/20101201fsmtv>. Acesso em: 15 nov. 2014.
  • 36. 35 Angelikah é uma garota americana de 25 anos de idade que contraiu o vírus através de uma relação sexual sem proteção. Slim, de 21 anos, é um morador do Zâmbia que nasceu com o vírus, contraído no útero de sua mãe, e tem o sonho de se tornar um rapper. Ao longo do documentário, ambos contam as dificuldades das relações sexuais e sociais com o confronto do preconceito enfrentado diariamente. O programa é exibido sem nenhuma narração em off, tendo sua história conduzida através da conversa dos personagens com outras pessoas que fazem parte de suas vidas e retratado em uma câmera oculta. Dessa maneira, o espectador tem a sensação de proximidade com os usuários, abordagem que o grupo obteve nas gravações, herdando a ausência da narrativa, e quando necessário, apenas colocando informações escritas sobre a imagem. Junho – O Mês que Abalou o Brasil O documentário “Junho” foi produzido pela TV Folha em 2014 e retrata o que houve nos protestos em Junho de 2013 por todo o país.32 O vídeo foi montado de forma colaborativa, com imagens extraídas da internet, de apresentações televisivas e conteúdos que os jornalistas da Folha registraram ao longo dos protestos que mobilizaram o Brasil. A narrativa se baseia em mostrar o objetivo inicial dos protestos – ou seja, a revogação do aumento da passagem na cidade de São Paulo –, e como a revolta popular após o dia 13 de junho de 2013 fez com que as manifestações mudassem de rumo, principalmente após a ação truculenta da polícia militar contra os manifestantes. O documentário é composto por imagens das passeatas, referências históricas mundiais de protestos, relatos de pessoas que estavam presentes, análises de estudiosos de política e sociologia e repórteres que fizeram parte da movimentação popular. 32 Disponível em: < http://livraria.folha.com.br/filmes/documentario/junho-mes-abalou-brasil-dvd- 1251292.html>. Acesso em: 15 nov. 2014.
  • 37. 36 De “Junho”, o grupo se apoiou na ausência do entrevistador/câmera ao longo da coleta de depoimentos de pessoas que presenciaram os movimentos sociais daquele mês e nas informações sobre a imagem, com dados demográficos sobre o tema. Como principal estética, o projeto “HIV 50+” baseou-se na fotografia das entrevistas, com amplo campo de profundidade, mantendo um foco macro no rosto dos entrevistados e no posicionamento da câmera que se alterna em dois ângulos. The Internet’s Own Boy: The Story of Aaron Swartz Documentário de 2014 dirigido por Brian Knappenberger33 que narra a história de Aaron Swartz (1986-2013), um jovem programador e ativista que utilizou seu conhecimento em computação em busca de um mundo mais democrático e justo, através do compartilhamento da informação. Aaron utiliza a rede do MIT (Massachusetts Institute of Technology34) para fazer o download de milhões de artigos acadêmicos de uma base de dados privada chamada JSTOR35, que compensava financeiramente as editoras e não os autores, além de cobrar o acesso aos artigos, limitando o acesso para finalidades acadêmicas36. Ao descobrir as ações de Aaron, o Ministério Público dos Estados Unidos conduz um processo criminal contra o rapaz, dando início a uma perseguição tão intensa a ponto de levá-lo a cometer suicídio aos 26 anos, em janeiro de 201337. O filme possui uma dinâmica que inclui entrevistas com a família, amigos e colegas de Aaron, explorando o tema com o uso da voz dos entrevistados em off em 33 Brian Knappenberger é um produtor e diretor nascido em 1970. Além de “The Internet’s Own Boy”, Knappenberger escreveu e dirigiu o documentário “We Are Legion: The Story of the Hacktivists” sobre os trabalhos e crenças do coletivo hacktivista Anonymous. 34 O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology, MIT) é um centro universitário de educação e pesquisa privado, sendo um dos líderes mundiais em ciência, engenharia e tecnologia, localizado em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos. 35 Journal Storage (JSTOR) é um sistema online de arquivamento de periódicos acadêmicos fundado em 1995 e sediado nos Estados Unidos, concebido como uma solução para problemas enfrentados por bibliotecas (especialmente universitárias e de pesquisa) devido ao crescente número de periódicos acadêmicos. 36 Swartz “Steals” for Science. Disponível em: <http://scienceprogress.org/2011/07/swartz- %E2%80%9Csteals%E2%80%9D-for-science>. Acesso em: 01 nov. 2014. 37 Fundador do Creative Commons critica procurador no caso Aaron. Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/internet/fundador-do-creative-commons-critica-procurador-no-caso- aaron,ae9bc7d94b93c310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html>. Acesso em: 01 nov. 2014.
  • 38. 37 cima de imagens do arquivo da personagem. Entre o material visual explorado, o documentário utiliza vídeos do passado de Aaron e edições com elementos que remetem ao seu perfil. Como a maior parte do projeto foram entrevistas, o grupo usou de inspiração a imagem e o som, como em “The Internet’s Own Boy”, para evitar o cansaço do espectador, quebrando a monotonia dos depoimentos ao usar conteúdos de apoio para ilustrar a fala das personagens. 3.2.2 Produções Ficcionais “Philadelphia” “Filadélfia” (“Philadelphia”) é um filme ficcional norte-americano de 1993 do gênero drama e dirigido por Jonathan Demme38, reconhecido por ser um dos primeiros filmes de Hollywood39 a reconhecer HIV/AIDS, homossexualidade40 e homofobia41. O filme conta a história de Andrew Beckett (Tom Hanks), promissor advogado que perde seu emprego em uma grande firma de advocacia após descobrirem que ele tem AIDS, levando-o a contratar os serviços de Joe Miller (Denzel Washington), um advogado homofóbico, para processar a empresa. Embora não seja documental, o formato possui um estilo particular para retratar o preconceito e as dificuldades vividas pelos portadores da AIDS, o que levou os integrantes do grupo a utilizá-lo como referencial estético devido às cenas simples e objetivas em que a própria câmera traduz o sentimento preconceituoso de Joe Miller, focando em objetos que Andrew toca. 38 Jonathan Demme é um cineasta, produtor e argumentista norte-americano nascido em 1944, vencedor do Oscar por “The Silence of the Lambs” (“O Silêncio dos Inocentes”, 1991). 39 Hollywood é um distrito da cidade de Los Angeles na Califórnia, famoso mundialmente pela concentração de empresas do ramo cinematográfico e pela influência que exerce na cultura global. 40 Qualidade de um ser que sente atração por outro do mesmo sexo ou gênero 41 Aversão, medo, ódio, preconceito que pessoas ou grupos nutrem contra homossexuais, bissexuais e transexuais.
  • 39. 38 3.3 Comunicação O documentário HIV 50+ foi construído com um único pilar de comunicação: os soropositivos. A ideia do projeto é evidenciar esse público, ligeiramente esquecido pelas campanhas de prevenção, portanto, quem melhor esclarecer como são suas vidas, do que eles mesmos? Além do cotidiano de soropositivos, foram captadas imagens de uma senhora para ser a personagem fictícia do documentário como ícone de terceira idade, mesclando a realidade com a produção ficcional. Essa senhora, Nilse Carvalho, ilustra a capa do documentário como uma personagem simbólica, sem fala ou interação com a narrativa. A narrativa foi construída sem narração em off, fazendo com que as histórias conversem entre si através dos blocos formados na decupagem através das pautas, sendo eles, em sequência: descoberta, diagnóstico, preconceito, velhice e força de viver. A sequência desses blocos foi construída em timeline e separada por clipes, para criar um respiro entre as sonoras. Separar o conteúdo nesses blocos facilitou na criação do roteiro, pois conseguimos ilustrar as fases desde o contágio ao convívio com a doença e quais são as consequências da idade nesse cenário. 3.4 Trilha Sonora A trilha sonora do documentário foi encontrada no Vimeo Music Store, o qual possui o acervo da Free Music Archive42 e foi aplicada nas imagens de apoio e como trilha de acompanhamento. 42 Free Music Archive < http://freemusicarchive.org/ >. Acesso em: 22 mai. 2015.
  • 40. 39 As faixas foram escolhidas através de buscas pelos termos “folk” e “piano”, por combinarem mais com o contexto das entrevistas e com o propósito do projeto, de desconstruís um tema com uma linguagem simples e pessoal. Foi possível encaixa-las após a captação de todos os depoimentos, facilitando casar os momentos onde a trilha foi a principal sonora do produto. As músicas escolhidas foram: "Memory Loss" de Zachary Cale, Mighty Moon & Ethan Schmid, "Dreams Become Real" de Kevin MacLeod e "Vision of Persistence" Kevin MacLeod. 3.5 Animação A vinheta de animação colocada ao início do documentário foi construída para ilustrar o caminho do vírus por dentro da veia. Ela foi produzida para ser irreal e meramente ilustrativa, sem qualquer relação com a realidade. Foi feita no software Cinema 4D. 3.6 Características O audiovisual é importante na construção do documentário, pois é um meio de comunicação que atinge um grande número de pessoas com grande eficiência, sendo assim deve-se tomar cuidado com a maneira com que a mensagem será passada. Tudo que compõe a imagem pode ter um significado diferente para cada pessoa. O documentário foi construído com uma fotografia e filmagem de modo que o espectador tenha a sensação de estar próximo dos personagens retratados. A direção de fotografia teve o trabalho de criar a sensação de proximidade entre o telespectador e o personagem em questão. O tema foi abordado no âmbito da linguagem utilizada, buscando referências audiovisuais em outros documentários, curtas e longas-metragens. O roteiro foi produzido após as filmagens, pensando na maneira mais interessante para mostrar esse tema, sem bombardear o telespectador com tanta
  • 41. 40 carga dramática sem pausas. Foi feita uma coleta de referências de filmes ficcionais para desenvolver uma linguagem que quebre a tensão do primeiro plano e também foi seguida a opção de trabalhar com foco em enquadramentos, que dizem muito por si só dependendo da profundidade de campo, perspectiva e cor. O mesmo acontece com as transições entre as cenas e imagens de cobertura, que foram construídas para auxiliar a conexão entre os blocos do documentário, ilustrando e embalando a continuidade da narração. A trilha sonora é responsável pela ambientação do produto audiovisual, podendo causar ou não a sensação que o diretor tem como objetivo. Como dito anteriormente, a ideia não é dramatizar o tema, mas sim representar a vida independente, como de qualquer outra pessoa, que o portador do vírus tem. Neste caso, a trilha não pôde causar felicidade, ao mesmo tempo em que não pôde transparecer apreensão. Seu papel foi transparecer leveza e trazer a sensação de fluidez. Talvez a única definição suficientemente justa para a função da música no cinema é de que, de uma maneira ou de outra, ela existe para ‘tocar’ as pessoas. ‘Tocar’ pode ser emocionar, arrancar lágrimas, causar tensão. (BERCHMANS, 2012, p. 20) O que foi notado com todas as pesquisas e conversas com o infectologista os soropositivos é que não existe nenhuma ação que fortaleça a inserção dos soropositivos na sociedade. Existem muitas campanhas para a prevenção do HIV, mas nada que mostre o quão importante é trazer para um melhor convívio social todas essas pessoas que, por conta de todo o preconceito que é carregado desde a descoberta do vírus HIV, se escondem por medo ou discriminação. O tema é complexo. Quanto mais pessoas são conhecidas nas condições de HIV+, mais apego é criado pela causa. É difícil ver o preconceito que os soropositivos passam, principalmente com idosos. Olhando por esse viés social tão prejudicado, tornou-se necessária a busca por referencias de autores na área de sociologia e psicologia. Goffman foi encontrado falando sobre estigma, que trouxe parte da clareza e cautela que faltava para lidar com possíveis personagens.
  • 42. 41 Por fim, as características audiovisuais do documentário devem juntar essas informações na linguagem não dita, de maneira que a compreensão do tema seja mais fácil, mas que ainda sim possua uma complexidade na construção da semiótica do documentário. A linguagem ocupou uma posição única no aprendizado humano. Tem funcionado como meio de armazenar e transmitir informações, veículo para o intercâmbio de ideias e meio para que a mente humana seja capaz de conceituar. (DONDIS, 2003, p. 14) 3.6 Inserção no Mercado A inserção do documentário no mercado foi dividida em duas partes. A primeira como veiculação principal, que abrange veículos tradicionais, e tem por objetivo atingir pessoas que possuem interesses gerais de saúde e cultura. Já a segunda tem como proposta a veiculação alternativa, cuja ideia é alcançar, através de festivais de cinema, o público que está ligado ao mundo da comunicação. 3.6.1 Veiculação Principal Como o público final desse produto – homens e mulheres da terceira idade – está mais interessado no conteúdo tradicional de televisão, o grupo selecionou alguns canais que se mostram relevantes tanto para a veiculação do documentário quanto para o público receptor. Canal Futura Foi criado em 1997 como um projeto social de comunicação, educação e interesse público, sempre contando com parceiros da iniciativa privada e do terceiro setor. Sua ideia é contribuir para o dia a dia das pessoas, oferecendo entretenimento e conhecimento útil para a vida. Trabalham também com instituições, comunidades e redes da sociedade civil, que contribuem desenvolvendo projetos em conjunto com as
  • 43. 42 equipes de mobilização e programação do Futura. Sendo assim, colocam em conexão pessoas, ideias, redes e instituições. O canal dissemina valores e informações úteis ao cotidiano da população, todos os dias. É voltado para todo o povo brasileiro, preferencialmente para as classes C e D. Tem alvos especiais: jovens, trabalhadores, donas de casa, educadores e crianças. Sua meta é que todas as produções exibidas possam ser vistas e utilizadas pelo mais amplo leque de pessoas, da cidade e do campo. O sinal do Futura é recebido pelas antenas parabólicas convencionais em milhões de lares e escolas, o que amplia ainda mais seu alcance. Por abordar uma gama grande de temas, eles criaram uma linguagem plural e de extrema importância, pois falam de saúde, trabalho, juventude, educação, meio ambiente e cidadania. Também é possível notar que a emissora possui um processo de "mobilização", ou seja, um método de trabalhar o conteúdo da programação através de ações diretas junto a diversos públicos, organizando a audiência e realizando um rigoroso trabalho de pesquisa, capacitação, acompanhamento e avaliação dos resultados atingidos. Escolas, creches, associações comunitárias, abrigos, presídios, hospitais já recebem e utilizam a programação do Futura. O modelo de produção adotado por eles é de terceirização, contratando produtoras que contribuam criativamente para a realização dos programas e diversos tipos de linguagens e formatos. É um canal que, de certa forma, daria espaço para a exibição de um produto audiovisual, como o documentário em questão. Canal Brasil Canal Brasil é um canal brasileiro de televisão por assinatura. Teve sua estreia no dia 18 de setembro de 1998 e foi criado para aproveitar a obrigação criada pelo Decreto 2206, de 1997, que exigia todos os prestadores de serviços de TV a cabo a incluir na sua grade pelo menos um canal dedicado a "obras cinematográficas e audiovisuais brasileiras de produção independente".
  • 44. 43 O canal é fruto da associação entre Globosat com a empresa Grupo Consórcio Brasil (GCB), e tem participado de novas produções em parceria com produtores independentes. Entre os títulos realizados está “Adolfo Celi, un uomo per due culture”, de Leonardo Celi, a primeira coprodução internacional do Canal Brasil. O Canal Brasil promove o Prêmio Aquisição Canal Brasil, que tem como premiação R$ 10 mil para os curtas-metragens vencedores nos mais importantes festivais de cinema do país, além de exibir o filme durante a programação. Desde 2006 também realiza o Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-Metragens, que premia com R$ 50 mil o melhor curta entre os 10 vencedores do Prêmio Aquisição Canal Brasil do ano anterior. Um júri formado por apresentadores do canal escolhe o grande vencedor por meio de voto secreto. TV Cultura A TV Cultura é uma emissora educativa de canal aberto pertencente à FPA, Fundação Padre Anchieta, Centro Paulista de Rádio e TV Educativas. Existente desde 1967, é uma entidade de direito privado custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada. Conforme a missão da FPA, a TV Cultura é composta por programas educativos, culturais e artísticos, tanto para crianças quanto adultos, além de programas informativos, como telejornais. Dentre os programas da emissora, o DOCTV América Latina traz a possibilidade de apresentação do documentário deste projeto, por ser o primeiro Programa de Fomento à Produção e Teledifusão de Documentários da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa – DOCTV CLP1 –, cuja meta é estimular o intercâmbio cultural e econômico entre os povos lusófonos e a implementação de políticas públicas de fomento à produção e teledifusão do gênero documentário. MTV
  • 45. 44 Criada em 1981, a MTV é um canal de televisão a cabo e satélite norte- americano pertencente ao MTV Networks Music & Logo Group, uma unidade da Viacom International Media Networks, divisão da Viacom. O canal é sediado na Cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. O propósito da emissora era exibir videoclipes guiados por personalidades conhecidas como “video jockeys”, ou VJ's. Em seus primeiros anos, o principal público alvo da MTV eram os jovens adultos, mas hoje a programação é primariamente segmentada para adolescentes, em adição aos jovens adultos. No Brasil, a MTV também funciona como um canal por assinatura comandado pela Viacom International Media Networks The America (VIMN The Americas). Teve início em primeiro de outubro de 2013, às 21h30, surgindo após a devolução da marca MTV pelo Grupo Abril, que a manteve no ar em TV aberta no país por mais de vinte anos como MTV Brasil. Dentre as versões internacionais da MTV no mundo que têm maior produção local, a emissora fica na segunda posição, perdendo apenas para a sua matriz nos Estados Unidos. Seu sinal em 2014 atinge cerca de 12,6 milhões de assinantes. A influência da MTV em sua audiência, incluindo questões relacionadas à censura e ao ativismo social, foi o tema de debates por anos, além de criar uma programação especial transmitida no dia internacional do combate a AIDS (1º de dezembro) e diversas campanhas de prevenção. 3.6.2 Veiculação Alternativa Como veiculação alternativa, o grupo optou por festivais de cinemas brasileiros, por ter um formato de curta duração. O documentário pode ser exibido em festivais como É Tudo Verdade e o Festival de Curtas Kinoforum. É Tudo Verdade
  • 46. 45 It’s All True é o principal festival da América Do Sul dedicado a documentário, e ocorre todos os anos em meados de abril nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Amir Lamaki, ex-diretor técnico do Museu da Imagem e do Som da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, fundou e dirige o É Tudo Verdade, juntamente com a realização da Petrobras, BNDES, CPFL/ENERGIA, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio Filme, Governo do Estado de São Paulo, Ministério da Cultura – Governo Federal – Secretaria do Áudio Visual , além da produção de Emegê Produções Artísticas S/S Ltda, do apoio da Associação do Audiovisual Paulista, e do da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Cinemateca Brasileira e SAC (Sociedade Amigos da Cinemateca). O festival tem caráter competitivo, reunindo documentários concorrentes em várias categorias. As produções de até trinta minutos devem ser inscritas na Competição Internacional de Curta-metragem e Competição Brasileira de Curta- metragem. Por esse motivo, o trabalho será inscrito com o intuito de participar nas categorias delimitadas a curtas, uma vez que o documentário produzido é de vinte e cinco minutos. Devido ao modo competitivo, o festival oferece algumas premiações em dinheiro ou em forma de troféus. O menor valor é o de R$6.000,00 (seis mil reais), destinado à categoria Internacional de Curta Metragem, enquanto o maior é de R$ 110.000,00 (cento e dez mil reais) e vai para a competição “Janela para o contemporâneo” (subcategoria do Melhor Documentário Brasileiro em Longa ou Média Metragem). Premiações intermediárias vão desde R$ 15.000,00 (quinze mil reais), para o melhor Longa ou Média Metragem na competição Internacional, e R$ 10.000,00 (dez mil reais), para o melhor documentário da competição Brasileira de Curta Metragem. Os curtas metragens também concorrem ao Prêmio Aquisição Canal Brasil de Incentivo ao Curta Metragem no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). É um prêmio adicional disponibilizado a um dos curtas participantes. Festival de Curtas Kinoforum Kinoforum é uma organização sem fins lucrativos que organiza o Festival Internacional de Curtas de São Paulo, que ocorre desde 1990. É patrocinado pela
  • 47. 46 Petrobrás e realizado pelo Ministério da Cultura. Tem como seu correalizador o SESC- SP, a Cinemateca Brasileira, a Sociedade Amigos da Cinemateca, o Centro Cultural de São Paulo, a Prefeitura da Cidade de São Paulo e o Governo do Estado de São Paulo. Diferente do É Tudo Verdade, este festival não é de caráter competitivo, apenas visa divulgar as produções de todas as partes do mundo, contando com a colaboração de instituições como ECA-USP, PUC-SP, UNICAMP, SENAC, Metodista, Cásper Líbero, Fundação Japão, Embaixada de Israel, e os Consulados da França, México e Suíça. O festival é realizado entre os meses de agosto e setembro anualmente, e as inscrições acontecem entre abril e junho – só são aceitas produções digitais e película com duração de três a vinte e cinco minutos. No festival existe uma categoria de médias-metragens, que considera filmes até no máximo 45 minutos. Docurama Channel Cinedigm é um distribuidor de conteúdo independente líder nos Estados Unidos, com relações diretas com mais de 60.000 lojas de varejo físicas e plataformas digitais, incluindo Wal-Mart, Target, iTunes, Netflix e Amazon, assim como o vídeo nacional na plataforma on-demand no cabo da televisão. Possui uma biblioteca com mais de cinquenta e dois mil filmes e episódios de TV documentais Nela estão filmes independentes vindos de outros festivais. Isso graças parcerias com o Instituto Sundance e Tribeca Filmes, que oferecem uma ampla gama de conteúdo de marca de fornecedores, incluindo a National Geographic, a Discovery, a Scholastic, WWE, NFL, Shout Factory, Hallmark, Jim Henson e muito mais. Festival de Brasília O Festival de Brasília (Festbrasília), oficialmente Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, é sediado no histórico Cine Brasília, sendo o mais antigo do gênero no país.
  • 48. 47 Surgiu por iniciativa do professor de cinema da Universidade de Brasília, Paulo Emílio Sales Gomes, em 1965, e é promovido anualmente pelo governo do Distrito Federal. Em suas duas primeiras edições o evento se chamou Semana do Cinema Brasileiro. Uma das regras que o diferencia de outros festivais é que os filmes, tanto de longa ou curta metragem, devem ser inéditos e, preferencialmente, não terem sido premiados em qualquer outro festival nacional. Festival de Gramado Realizada de 10 a 14 de janeiro de 1973, a primeira edição do evento surgiu da união da Prefeitura Municipal de Gramado com a Companhia Jornalística Caldas Júnior, a Embrafilme, a Fundação Nacional de Arte e as secretarias de Turismo e Educação e Cultura do Estado. Já a segunda edição foi realizada em 1992, entre os dias 15 e 22 de agosto, e teve filmes da Venezuela, Peru, México, Portugal, Brasil, Argentina, Chile, Espanha, Cuba e Colômbia. Participaram igualmente da vigésima edição curtas-metragens brasileiros em 35mm e 16mm. Festival do Rio O Festival do Rio surgiu em 1999, como resultado da fusão de dois festivais de cinema anteriores, o Rio Cine Festival, que surgiu em 1984, e a Mostra Banco Nacional de Cinema, criada em 1988. São distribuídos 11 prêmios pelo Júri oficial do Festival, incluindo: Melhor Longa-Metragem de Ficção, Melhor Longa-Metragem Documentário, Melhor Curta- Metragem, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Montagem. Ainda existem menções honrosas e prêmios especiais, além de uma premiação através do voto popular que elege 3 categorias: Melhor Longa-Metragem de Ficção, Melhor Longa-Metragem Documentário e Melhor Curta-Metragem. 3.7 Construção da Identidade Visual
  • 49. 48 A construção do logo do documentário foi criado a partir de algumas premissas referenciais e teóricas, a fim de dar um símbolo ao documentário. Conversando com o contexto do documentário, o logo foi construído formas sintéticas e chapadas, pois são necessárias quando existe aplicação em diversos meios de reprodução. Usando referências de capas de filmes com temática HIV, notou-se o vermelho na tipografia em “Les Témoins” (2015) e “Clube de Compra Dallas” (2013): Em uma das capas, o balão vermelho foi reconhecido como uma analogia entre látex de camisinha com o balão de “It’s My Party” (1996):
  • 50. 49 Com isso, a forma começou a ser desenvolvida a partir dos termos-chave: simples, retirar a agressividade, alterar o cenário, promover o diálogo, quebrar preconceito, maneira informal, entendimento, aceitação, conscientização, forma leve. Assim, foram feitos alguns experimentos: Através do estudo tipográfico, a escolha da fonte foi a Gotham Rounded Bold para o logo, aplicando suas variações para a identificação dos soropositivos, capa e gráficos no documentário.
  • 51. 50 Resultado Final: 4. PROCEDIMENTOS 4.1 Metodologia A metodologia adotada para a elaboração do projeto – um documentário que retratará a vida de soropositivos acima dos cinquenta anos – partiu da pesquisa bibliográfica e de campo, devido à necessidade de investigar todos os aspectos relacionados ao tema. Sendo assim, a pesquisa é classificada como exploratória. Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode- se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. (GIL, 2009, p.41). Portanto, como na maioria dos casos, o projeto constitui-se em três pilares necessários para classificar a pesquisa com base nos objetivos estabelecidos, embasando a justificativa da escolha e na formulação do problema em questão. Sendo eles a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisa; e c) análise de exemplos que “estimulem a compreensão” (Selltiz et al., 1997, p. 63). Em uma visão geral, a metodologia seguiu da seguinte forma:
  • 52. 51 a) Levantamento das referências bibliográficas sobre o tema, como livros, artigos, revistas, entrevistas, documentários e pesquisas passadas. De acordo com GIL (2009, p. 44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Na pesquisa bibliográfica sobre o tema, os dados foram juntados e sistematizados para o desenvolvimento do quadro teórico, baseando toda fonte de pesquisa na figura 3: Figura 3 – Fluxograma de pesquisa Fonte: GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa, 2009, pg. 44 Com base no gráfico acima, foram levantadas obras literárias que abordassem os temas “AIDS”, “AIDS depois dos cinquenta anos” e “preconceito do soropositivo”. Pelas obras de divulgação, foram analisadas as campanhas atuais de prevenção da AIDS e a falta de ações específicas sobre o contágio na terceira idade. Entre as publicações periódicas, foram levantadas matérias jornalísticas e notícias que envolviam o tema nos últimos anos. A construção do documentário necessita de uma base sólida de estudos, assim como o entendimento do tema entre todos os participantes do projeto, desde a produção, à construção narrativa, para que haja embasamento no levantamento de contatos até o momento da construção do roteiro e das pautas utilizadas nas entrevistas. Assim, antes mesmo de procurar por pessoas soropositivas, os integrantes precisavam saber exatamente como abordá-los, tendo em mente o objetivo de cada pergunta.