Região Serrana: planejamento urbano para evitar tragédias
1. 86
Janeiro/Março
de 2011
ISSN 1517-8021
ATÉ
QUANDO?
A tragédia sem precedentes na Região
Serrana traz à tona uma discussão sempre
presente em situações graves, mas que
rapidamente é esquecida pelo poder público:
o que é possível fazer para que calamidades
como esta não aconteçam mais?
ESPECIAL
2.
3. ediToRiAl
É preciso cobrar!
E m meio ao caos na Região Serrana do Rio, há
duas coisas que podem ser ditas sem preci-
pitações: já é uma das piores catástrofes do país,
1940 e o início do século XXI. Nesse período, o
país passou por um processo intenso de urbani-
zação, tendo que abrigar mais de 125 milhões de
e muitos dos estragos causados pela tempestade pessoas em suas cidades. E essa transição acon-
que se abateu na região, no dia 11 de janeiro, po- teceu sem planejamento.
deriam ser evitados ou amenizados.
Moradias irregulares, despejo de lixo em en-
A falta de planejamento urbano e a inexis- costas e construções à margem de rios assorea-
tência de uma estratégia de emergência – que dos completam a equação mortal.
incluiria não apenas equipamentos meteoroló-
gicos adequados para previsão de tempestades É preciso cobrar das autoridades públicas um
e outras intempéries, mas uma comunicação plano amplo e perene nas áreas de habitação, sa-
ágil e eficiente entre os institutos de previsão do neamento básico, transporte, uso correto do solo
tempo com a Defesa Civil e demais órgãos pú- e para situações de emergência, para que se deixe
blicos – são os principais responsáveis pela gra- de contabilizar mortos.
ve situação e a mortalidade elevada. Há poucos
dias, a Austrália sofreu uma das piores enchentes Artigo publicado no Jornal O Globo em17/01/2011
dos últimos 50 anos, alagando a terceira maior
cidade do país, de 2 milhões de habitantes, em
uma área equivalente ao tamanho da África do Agostinho Guerreiro
Sul. Apesar do tamanho da tragédia, o número Presidente do CReA-RJ
(www.agostinhoguerreiro.blogspot.com)
de mortes registradas não chegou a 20 pessoas e
teve pouco mais de 90 desaparecidas.
A diferença está no fato de que, no distante
país da Oceania, o plano de emergência funciona
e a consideração pela vida humana se traduz em
ações concretas. A subsecretária da ONU para Re-
dução de Riscos de Desastres, Margareta Wahls-
tröm, recentemente comparou os dois episódios
e citou, em uma entrevista, ser básica a existên-
cia de abrigos para onde a população possa ser
evacuada e uma orientação eficiente para estas
situações. A especialista citou ainda um estudo
feito pelas Nações Unidas que diz que, para cada
dólar investido em prevenção, cerca de US$ 7 são
economizados em resgates e na reconstrução
dos locais afetados.
O crescimento desordenado das cidades e a
falta de uma política séria de habitação, que in-
cluiria uma fiscalização rigorosa da ocupação de
áreas de risco, também fazem com que seja cria-
do, no Brasil, o cenário perfeito para a destruição
que presenciamos. A população urbana no país
cresceu de 26,3% para 81,2% entre a década de
4. sumário Revista do Crea-RJ . Nº 86
Janeiro/Março de 2011
20
A TRAGÉdiA NA ReGiÃo SeRRANA
especialistas recomendam mapeamento como ponto de partida para
evitar as catástrofes que vêm castigando o Rio de Janeiro todos os anos
CApA
7
iNSTiTuCioNAl
8
iNSTiTuCioNAl
10
eCoNoMiA e MeRCAdo
36
Meio AMBieNTe
diA do PRoFiSSioNAl PRÊMio Meio AMBieNTe eNGeNHARiA eM AlTA ôNiBuS SuSTeNTÁVel
Na cerimônia, foi entregue o emoção marca entrega da Área tecnológica: mais oportunidades As ações para reduzir a quantidade de
diploma de láurea ao Mérito 2010 tradicional premiação do que profissionais no mercado gases emitidos pelos ônibus no Rio
5. Presidente
engenheiro Agrônomo
Agostinho Guerreiro
diretoria
1º Vice-Presidente
engenheiro eletricista e Técnico em eletrotécnica
Clayton Guimarães do Vabo
40
2º Vice-Presidente
engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho
Sergio Niskier
1º diretor-Administrativo
CulTuRA e MeMÓRiA eng. Metalúrgico e de Segurança do Trabalho
Rockfeller Maciel Peçanha
oBRA HiSTÓRiCA 2ª diretora-Administrativa
Alargamento da Avenida Atlântica, Meteorologista
que mudou a cara de Copacabana, Francisca Maria Alves Pinheiro
completa 40 anos
3º diretor-Administrativo
Técnico em eletrotécnica
Sirney Braga
1º diretor-Financeiro
engenheiro eletricista
Antonio Claudio Santa Rosa Miranda
2º diretor-Financeiro
45
Técnico em eletrônica, eng. eletricista – Ênfase em
Computação e de Segurança do Trabalho
Ricardo Do Nascimento Alves
3º diretor-Financeiro
ARTiGo eng. eletricista, de Segurança do Trabalho e
Técnico em eletrotécnica
o MeRCAdo PuBliCiTÁRio José Amaro Barcelos Lima
Saiba o que a publicidade tem
a aprender com a engenharia CoMiSSÃo ediToRiAl - Ce
aplicada às ideias Coordenador
eng. eletricista-industrial eletrotécnica e
de operação eletricidade
Alcebíades Fonseca
Coordenador-Adjunto
eng. Agrônomo
Luiz Rodrigues Freire
46
Membros
eng. Mecânico
Oduvaldo Siqueira Arnaud
eng. eletricista e Técnico em eletrotécnica
iNSTiTuCioNAl Clayton Guimarães do Vabo
Meteorologista
ViSToRiA NA CidAde do SAMBA Francisca Alves Pinheiro
Comissão do Conselho apontou
Suplentes
problemas na fiação e nas tomadas
eng. Metalúrgico e de Segurança do Trabalho
como possíveis causas do incêndio
Rockfeller Maciel Peçanha;
engª elétrica Lusia Maria De Oliveira;
Técnico em eletrônica e engenheiro eletricista
Ricardo do Nascimento Alves;
Arquiteto e urbanistaPaulo Oscar Saad;
Técnico em Agropecuária
Adriano Martins Carneiro Lopes
assessoria de
INDÚSTRIA E INFRAESTRUTURA Marketing e Comunicação
CoMPRA de NoVoS TReNS Pelo MeTRô Rio GeRA PolÊMiCA. eSPeCiAliSTAS AFiRMAM
Que AiNdA HÁ MuiTo o Que FAZeR PARA ReSolVeR PRoBleMAS 14 Assessor Chefe alex Campos
Assessora Maria dolores Bahia
editor Coryntho Baldez (MT. 25.489)
Colaboradores Joceli Frias, Vera Monteiro,
Uallace Lima e aline Martins
CAMpO estagiária: nathália ronfini
eSTudoS SoBRe AVAliAÇÃo de RiSCoS NoS TRABAlHAdoReS RuRAiS SeRÃo
oBRiGATÓRioS PARA ReGiSTRo de AGRoTÓXiCoS 18 Reportagem Monte Castelo: dânae Mazzini,
Helena roballo, Joana algebaile,
Maíra amorim e natália soares
Projeto gráfico Paula Barrenne
diagramação trama Criações de arte
CIDADE ilustração Claudio duarte
34
o CeNTRo de oPeRAÇÕeS Rio (CoR) É PRoJeTo PioNeiRo No PAÍS e VAi AJudAR NA impressão Gráfica esdeva
oRGANiZAÇÃo dA CoPA do MuNdo 2014 e dAS oliMPÍAdAS 2016 Tiragem 140 mil exemplares
Publicidade: (21) 3232-4600
Rua Buenos Aires, 40 – Centro – RJ
www.crea-rj.org.br
6. cartas
6
Cursos de engenharia
Gostaria de manifestar a exatidão do diagnóstico sobre os cursos de engenharia na 85 Novem
Dezem bro/
ISSN
151
bro de
7-8021
2010
matéria da dânae Mazzini, publicada na edição 84 da Revista do CReA-RJ. Graduei-
me em 2000 pela uFRJ em engenharia mecânica e absolutamente todos os proble-
mas encontrados por mim e pelos meus colegas estão retratados na reportagem.
Fico muito feliz que haja uma mobilização para a modificação da grade curri-
cular dos cursos e torço para que os mesmos tornem-se mais atrativos e ade- A ER
O P O A DA S
quados às necessidades do mercado. RTUN
I DA D
Form
ar pro
para ssiona
os
anun investim is quali
ci
grande am no pr
entos
é-
ca
que se dos
ES
“bom s evento sal e nos
s
Fabiano Coradini
pr
que re oblema” esportivos
solver qu é
nos pr e o Brasil o
óxim te
os an rá CREA
os
hom -RJ presta
engenheiro Mecânico e
Osca nagem a
r Nie
meye
r
Falta de Profissionais
Temos visto constantemente na imprensa, em geral, matérias onde estão os anúncios solicitando todos esses profissionais
dando conta de uma suposta falta de profissionais, como ocor- que estariam faltando. Tenho a impressão de que o que que-
reu em duas matérias publicadas na Revista 84 do CReA-RJ. Se rem dizer é: “faltam profissionais bons e de baixo custo”. esses,
assim fosse, veríamos os classificados abarrotados de anún- porém faltarão sempre...
cios solicitando esses profissionais, o que não ocorre. Tenho
25 anos de experiência e respondido a alguns anúncios que Marcos M. Nascimento
aparecem aqui e ali, porém sem retorno. Peço que informem Técnico em eletrotécnica
Técnicos de Nível Médio
em primeiro lugar, quero parabenizar a equipe responsá-
vel pelas matérias que vêm sendo publicadas nesta Revista.
Mas o que quero é deixar clara a minha preocupação com
a dificuldade na área Técnica, pois estamos diante de duas
realidades. em primeiro lugar temos que formar técnicos
com base, que começa no estágio; em segundo lugar, dar
espaço aos “velhos”, porque os mesmos precisam interagir
com os jovens e passar para eles a experiência adquirida ao
longo dos anos.
Luiz Fernando Figueiredo
Técnico industrial
crea
Revista do
Sua opinião é muito importante. Acompanhe as ações do
rJ
Crea-RJ e envie ideias, sugestões ou críticas para o e-mail
revista@crea-rj.org.br
7. institucional 7
Dia do Profissional
do Sistema Confea/Crea
André Cyriaco
P ara celebrar o Dia do Profissio-
nal do Sistema Confea/Crea (11
de dezembro), o CREA-RJ prestou
A premiação foi marcada pelo
reencontro de colegas de longa
data, reconhecimento mais que de-
muito difícil para nós, profissionais,
vermos tantos colegas atuarem em
áreas absolutamente diferentes das
homenagem aos profissionais e às vido de méritos e gratas surpresas. que foram formados. Mas, felizmen-
instituições que mais se destacaram “Como meteorologista, fui prepara- te, estamos vivendo num outro cená-
por suas contribuições ao meio am- do para fazer previsões. Mas agora, rio. Agora recebemos demanda de
biente e ao Conselho. Em 2010, du- percebi que errei, pois nunca pode- dentro e de fora do estado. E, assim
rante a cerimônia solene comemo- ria imaginar que ganharia esse prê- como fomos vítimas dessa econo-
rativa da data, realizada na sede do mio”, emocionou-se José Marques, mia, que durante duas décadas não
CREA-RJ, no dia 13 de dezembro, ao receber seu Diploma de Láurea cresceu, hoje somos os atores sociais
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
foram entregues o Diploma de Láu- ao Mérito. do desenvolvimento do país”.
rea ao Mérito 2010, certificados de Durante a abertura do evento, o Também fizeram parte da mesa
função exercida de serviços meritó- presidente do CREA-RJ, Agostinho do eventoos à época vice-presidente
rios prestados à nação e de serviços Guerreiro, lembrou das dificulda- Luiz Antônio Cosenza; diretora
relevantes, além do Prêmio CREA des passadas pelos profissionais das Sônia Le Cocq; diretor Alcebíades
de Meio Ambiente 2010. Ao todo, fo- áreas tecnológicas nos anos 1980 e Fonseca; e coordenador da Comissão
ram homenageados 61 profissionais 1990 e a mudança desse quadro nos de Meio Ambiente, Sérgio Velho.
e duas instituições, em parceria. últimos anos. “Naquele tempo, era (Nathália Ronfini) •
8. 8
8 institucional
André Cyriaco
emoção na entrega do
Prêmio CREA-RJ de
Meio Ambiente
M uitas vezes, cuidar do meio
ambiente ainda é uma luta
solitária de alguns cidadãos ou pe-
do Conselho, foram homenageados
quatro profissionais e duas institui-
ções parceiras.
tribuir com essa causa”, declarou
Magnanini.
quenos grupos. Embora essa seja OUTROS HOMENAGEADOS
uma questão cada vez mais discuti- LUTA HISTÓRICA Além de Alceo Magnanini, tam-
da, ainda são poucos os que fazem Ao receber seu prêmio, o enge- bém foram agraciados o geógrafo
muito em prol da preservação. nheiro agrônomo Alceo Magnanini Antônio José Teixeira Guerra; o enge-
Para reconhecer os profissionais e emocionou os presentes com o tes- nheiro químico Odir Clécio da Cruz
instituições que mais se destacaram temunho de que a preservação do Roque; a parceria entre a Comissão
por zelar por essa causa, o CREA- meio ambiente merece a dedicação Pastoral da Terra (Baixada Flumi-
RJ oferece, anualmente, o Prêmio de uma vida inteira. nense) e a Empresa de Assistência
CREA de Meio Ambiente. Em 13 “Eu acredito que nós precisa- Técnica e Extensão Rural (Emater)
de dezembro 2010, durante a co- mos do meio ambiente, mas o meio de Nova Iguaçu; e, em homenagem
memoração do Dia do Profissional ambiente não precisa de nós. Estou póstuma, o engenheiro eletricista Ro-
do Sistema Confea/Crea, na sede com 85 anos, mas ainda quero con- •
vani Souza Dantas. (Nathália Ronfini)
9. institucional 9
Fotos: André Cyriaco
CONhEçA OS AGRACIADOS
Alceo Magnanini Recebeu premiações e títulos de monitoramento, fiscalização, gestão e
instituições nacionais e estrangeiras. Par- controle Ambiental. era engenheiro elé-
ticipou de vários projetos de preservação trico, com ênfase em eletrônica de Tele-
e recuperação ambiental e atualizou o comunicações, e pós-graduado em Ges-
dicionário Geológico-Geomorfológico, de tão Ambiental.
Antônio Teixeira Guerra. Participou ativamente do Consórcio in-
termunicipal da Macro-região Ambiental 5 -
Odir Clécio da Cruz Roque MRA5-RJ. Foi membro de vários conselhos e
comissões municipais de Rio das ostras com
vistas na preservação ambiental e bem estar
Alceo Magnanini é engenheiro Agrôno- social. Participou também como membro
mo, graduado, em 1948, pela antiga escola do Conselho estadual de Meio Ambiente
Nacional de Agronomia, atual universidade (Conema), do Conselho estadual de Recur-
Federal Rural do Rio de Janeiro (uFRRJ). sos Hídricos (CeRHi-RJ), da Câmara Técnica
especialista em “ecologia e Conser- institucional e legal do Comitê da Bacia
vação da Natureza”, tem efetuado, nume- Hidrográfica do Rio Macaé, entre outros. Na
rosas pesquisas e atividades educacionais entrega do Prêmio, Rovani foi representado
e é autor de diversos livros e artigos sobre odir Clécio da Cruz Roque é enge- pela sua viúva, Bianca Carvalho Rovani.
ecologia. nheiro Químico, e também professor e
Recebeu homenagens e prêmios pesquisador, desde 1973, na Área de en- Comissão Pastoral da Terra
por sua expressiva contribuição na área genharia Sanitária e Ambiental em cursos (Baixada Fluminense) e Emater
do meio ambiente e representou oficial- de pós-graduação na Fundação oswaldo de Nova Iguaçu
mente o Brasil em congressos nacionais Cruz e nos cursos de graduação e pós, na
ou internacionais. Faculdade de engenharia da universidade
do estado do Rio de Janeiro (uerj).
Antonio José Teixeira Guerra Na área de pesquisa, desenvolveu pro-
cessos de tratamento de esgotos e possui
a primeira patente internacional da Fiocruz,
justamente em engenharia sanitária.
durante toda a sua trajetória profis-
sional, buscou processos e projetos de
baixo custo em tratamento de esgotos, Juntas, Comissão Pastoral da Terra
redes e operação, de forma que municí- (Baixada Fluminense) e emater de Nova
pios e cidades pudessem obter melhoria iguaçu realizam qualificação de comuni-
de qualidade de vida. dades rurais para a produção agro-eco-
Antonio José Teixeira Guerra é Geó- lógica em regiões no entorno de áreas de
grafo, com bacharelado e mestrado em Rovani Souza Dantas (Post Mortem) proteção ambiental.
Geografia, pela universidade Federal do entre suas ações, destacam-se a
Rio de Janeiro, e doutorado em erosão do adoção de práticas conservacionistas, a
Solo, pela universidade de londres, e pós- restrição ao uso de agrotóxicos na pro-
doutorado, pela universidade de oxford. dução rural, a qualificação comunitária e
Tem experiência na área de Geoci- a educação ambiental.
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
ências, com ênfase em Geomorfologia. o projeto “escolinha de Agroecologia
Trabalhou no instituto Brasileiro de Geo- de Nova iguaçu”, coordenado por esses
grafia e estatística (iBGe) e em várias uni- parceiros, estimula práticas que trazem
versidades de grande porte. Atualmente é efetivas melhorias nas áreas ambiental e
professor da universidade Federal do Rio Rovani Souza dantas foi um gran- social e na economia local. o Projeto rece-
de Janeiro (uFRJ). de ambientalista, com experiência em beu o Prêmio Baixada 2009.
10. 10 economia e mercado
engenharia em alta
Com grandes investimentos em infraestrutura
nos últimos anos, diversos setores relacionados
à área tecnológica estão abrindo mais
oportunidades do que formando profissionais.
Cláudio Duarte
11. economia e mercado 11
A escassez de profissionais das
diversas áreas da engenharia
tem provocado uma grande mu-
outubro de 2010, mostra que oito
áreas de engenharia estão entre as
dez profissões com maior aumen-
dança no perfil dos profissionais e to salarial no ano. A engenharia
na forma como as empresas contra- Geológica e Cartográfica lidera os
tam seus funcionários. Se antes a aumentos, com 17,6%, seguida de
disputa por uma vaga nas grandes Mecatrônica (14,5%) e de Civil,
companhias era acirrada, hoje são Qualidade, de Obras, Naval, Minas
as empresas que estão na briga pela e Meio Ambiente, todas com mais
preferência dos novos engenheiros. de 11% de aumento salarial. A pes-
Por conta disso, é cada vez mais co- quisa também identifica os setores
mum a busca por talentos dentro da economia que pagam salários
das universidades e a contratação acima da média nacional. Os dois
de recém-formados com bons ní- primeiros estão ligados à indústria
veis salariais. petrolífera nas áreas de Mineração
Segundo o diretor da Poli-USP, e Extração, com 32,3% acima da
José Roberto Cardoso, em 2000, média, e de Refinarias, 24%.
um recém-formado ganhava 1,5 mil Engenharia de Equipamentos, Pro-
reais, “agora, programas de trai- DEMANDA NA ENGENHARIA NAVAL dução e Química, Geologia, Geoquí-
nee chegam a pagar 4,5 mil reais a A forte demanda por profissio- mica, Química, além de Técnico In-
engenheiros”, afirma. Para o vice- nais de engenharia se deve ao atual dustrial e Mecânico. Mas ela destaca
presidente do Sindicato dos Meta- momento vivido pelo Brasil, com a área que mais sofre com a escassez
lúrgicos de Niterói, Edson Carlos fortes investimentos em infraestru- de mão de obra: “Por muitos anos,
Rocha da Silva, a escassez de mão tura – especialmente por conta de a engenharia naval morreu para o
de obra no mercado está afetando Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos Brasil e deixou de ser uma área atra-
diretamente as empresas do setor de 2016, que serão realizados no país tiva para quem estava se formando
naval, que estão contratando pro- -, e na indústria petrolífera. Na Pe- na profissão, o que resultou no ce-
fissionais que saem dos cursos de trobras, por exemplo, segundo a ge- nário que vemos hoje. Daqui para
Engenharia Mecânica e Naval com rente de Planejamento de Recursos frente, o mercado vai precisar muito
ótimos salários. Humanos, Mariângela Santos Mun- de engenheiros navais”, diz.
O último levantamento sala- dim, os segmentos que mais necessi- O engenheiro naval Rodrigo Ba-
rial da Catho Online, com base em tam de profissionais atualmente são tista Alberto, recém-contratado pela
Petrobras, faz parte do seleto grupo
André Cyriaco de profissionais que concluíram o
curso de engenharia naval. “Na épo-
ca do vestibular procurei entender o
perfil dos cursos ligados à engenha-
ria e me identifiquei muito com a
naval. Achei que era uma área pro-
missora. Acho que a universidade
é um dos momentos mais difíceis,
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
principalmente no início. A turma
começa com uns 25 alunos e, no fi-
nal, só poucos se formam. Eu optei
por fazer estágio apenas no último
semestre para me dedicar à faculda-
de”, conta o engenheiro de 26 anos,
Rodrigo Batista: “Assim que me formei tive a oportunidade de ser efetivado”. que se formou em 2008 pela UFRJ
12. 12 economia e mercado
e foi contratado pela Petrobras em vados. Atualmente, segundo infor- que investir em formar nossos es-
setembro de 2010. mações do Confea, o salário médio tagiários para, quando se tornarem
“Eu fazia estágio e, logo assim de um recém-formado em engenha- engenheiros, já possuírem a identi-
que me formei, me senti bastante ria é de R$ 6 mil e de um especialis- dade da empresa”, conta Aline Bar-
valorizado, porque tive a oportuni- ta sênior em gerenciar projetos na ros, engenheira e gerente de Gente e
dade de ser efetivado. Acabei indo área varia de R$ 25 mil a R$ 30 mil, Gestão da João Fortes.
para outra empresa, onde trabalhei e existe grande disputa no mercado
por um ano e meio fazendo ancora- por esses profissionais. DRIBLANDO A ESCASSEZ
gem de plataforma. Depois prestei A João Fortes Engenharia é uma Para lidar com a falta de enge-
concurso para a Petrobras, onde es- das empresas que está na disputa nheiros no mercado de trabalho,
tou como Engenheiro Jr. Nessa área por talentos na engenharia civil, as empresas têm buscado diversas
são muitas as oportunidades, mas área onde mais recruta profissionais, soluções para que essa nova reali-
não dá para se acomodar, pois é pre- e tem encontrado nos recém-forma- dade não seja um obstáculo para
ciso se dedicar e se atualizar cons- o próprio crescimento. “Nosso de-
tantemente. A área ainda vai crescer
muito porque cada vez mais estão
“de janeiro a outubro sejo é não contratar ou contratar
cada vez menos profissionais de
descobrindo petróleo em águas pro-
fundas, o que vai exigir profissionais
de 2010, o emprego fora da empresa. Para isso, inves-
timos no nosso Programa de Está-
interessados em desafios”, opina. formal na construção gio. Outra ação é realizar palestras
em universidades que possuem
ENGENHARIA CIVIL VALORIZADA nacional cresceu os cursos que mais necessitamos
Outra área que tem demanda- aqui, entre eles, engenharia civil.
do um grande volume de mão de 15,10%, de acordo Em 2010, realizamos oito pales-
obra qualificada é a engenharia ci- tras e, este ano, queremos realizar
vil. De acordo com informações do com o Ministério um total de 12. Além disso, nos-
Caged, divulgadas pelo Ministério sos funcionários nos ajudam com
do Trabalho e Emprego, de janeiro do Trabalho” indicações. Somente quando não
a outubro de 2010, o emprego for- conseguimos um candidato inter-
mal na construção nacional cresceu dos a solução para a falta de mão de namente, partimos para uma con-
15,10%, com geração de mais de obra. “Nos últimos 12 meses, contra- sultoria para fechamento de uma
300 mil vagas no período. tamos sete profissionais que tinham vaga”, explica Aline Barros.
Segundo registros da Base de acabado de se formar e já estavam
Dados do Sistema de Informações na empresa como estagiários. Bus-
do Confea, atualmente há 712.418 camos engenheiros que queiram
engenheiros no Brasil. Desse to- fazer carreira na empresa. O
tal, 169.019 são engenheiros civis. processo de construção civil
Segundo o presidente do Confea e é longo e por isso não
vice-presidente do Conselho Mun- adianta o profissional
dial de Engenheiros Civis (WCCE), ter tempo de formado
Marcos Túlio de Melo, cerca de 32 e não ter participa-
mil engenheiros, de todas as modali- do de algumas obras
dades, se formam por ano no Brasil, em todas as fases. Tal
mas se o ritmo de crescimento per- experiência só se ad-
manecer como está, será necessário quire com a vivência. E
formar o dobro de engenheiros (60 já que profissionais com
mil por ano). essas características nor-
Com a escassez, as empresas malmente já estão empre-
oferecem salários cada vez mais ele- gados, muitas vezes temos
13. economia e mercado 13
EMPRESAS INVESTEM EM FORMAçãO COMPLEMENTAR
As empresas também têm enfrentado outro problema: a A Petrobras é uma das empresas que mais investem em
qualidade dos engenheiros que compõem o seu quadro. Pes- capacitação no mundo. Segundo a gerente de Planejamento
quisa encomendada ao Ibope pela Amcham (Câmara Ameri- de Recursos humanos, Mariângela Mundim, o programa de
cana de Comércio), em 2010, mostrou a opinião das empresas treinamento para os recém-contratados é obrigatório, já que
sobre a qualidade da formação dos engenheiros brasileiros. a admissão é feita através de concurso público. “Como a Petro-
Segundo o levantamento, realizado junto a 211 associadas da bras não pode ir ao mercado contratar, recebemos grupos bas-
entidade, a média das respostas sobre a qualidade da mão de tante heterogêneos. A prova só mostra a competência técnica
obra formada em relação às necessidades do mercado foi de dos profissionais, por isso é necessário um forte programa de
4,9 pontos, sendo que 41% dos entrevistados consideraram a desenvolvimento de pessoas” opina.
,
formação totalmente inadequada. Outros 52% classificaram Para desenvolver o seu pessoal e suprir a carência de
a formação dos engenheiros como adequada. mão de obra especializada para a instalação da indústria de
“Como o Brasil não se preparou para este momento, petróleo no país, a empresa criou a Universidade Petrobras,
os profissionais não possuem conteúdo pratico. há mui- principal órgão para treinamento e desenvolvimento dos
tos recém-formados que não participaram nem mesmo de talentos e competências necessárias e que recebe, todos os
uma obra do início ao fim. Esses profissionais não possuem dias, em seus três campi – Rio de Janeiro, São Paulo e Salva-
bagagem para lidar com os problemas do dia a dia de uma dor –, cerca de mil pessoas para serem treinadas.
obra e, por isso, seu superior acaba descendo, ou seja, o “Todas as pessoas que são admitidas pela empresa passam
gerente passa a lidar com problemas operacionais que não por um programa de treinamento em nossa universidade com
fazem parte do escopo de uma função gerencial”, opina a duração de 13 meses, período em que transmitimos os valores
gerente de Gente e Gestão da João Fortes Engenharia, Ali- da companhia e oferecemos cursos de especialização na nossa
ne Barros. área de atuação. Outra vertente da Universidade Petrobras são
Maiores interessadas em ter profissionais bem forma- os programas de educação continuada, nos quais os funcioná-
dos, as empresas começam a fazer sua parte. “Para os enge- rios voltam a se reciclar. Oferecemos, em média, 130 horas de
nheiros que já estão conosco, buscamos capacitá-los por treinamento ao ano por funcionário. Além disso, ainda inves-
meio de cursos de pequena duração, treinamentos on the timos em cursos nacionais e internacionais de especialização
job, reuniões periódicas para dar feedback e acompanha- e mestrado ou doutorado quando os mesmos não podem ser
mento no dia a dia do superior imediato”, diz Aline. oferecidos por nossa instituição” conta a gerente da empresa.
,
Mesmo ainda sem sofrer com a que tem como uma das principais mações sobre cinco grandes áreas –
falta de engenheiros no mercado, rotas de atuação a qualificação civil, elétrica, mecânica, química e
a Petrobras também tem investido profissional no setor de petróleo agronomia. A apresentação inclui,
para ampliar cada vez mais o seu e gás através de parcerias e cursos em cerca de 20 minutos, entrevis-
leque de profissionais. “Oferece- especializados oferecidos para pro- tas com graduandos, profissionais
mos o Programa de Formação de fissionais em todo o Brasil”, conta bem colocados no mercado e pro-
Recursos Humanos, que tem como Mariângela Mundim. fessores experientes falando sobre
objetivo ampliar e fortalecer a for- As entidades de classe ligadas as atribuições em cada modalida-
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
mação de recursos humanos volta- à engenharia também têm entrado de, o ensino e perspectivas profis-
dos ao atendimento da demanda no circuito para evitar um apagão sionais. Tendo como público-alvo
por profissionais qualificados na de engenheiros nos próximos anos. os estudantes do segundo grau,
indústria de petróleo, gás, energia A Federação Nacional de Engenhei- que estão escolhendo a carreira
e biocombustíveis, por meio da ros (FNE), por exemplo, produziu que irão abraçar, a ideia é incen-
concessão de Bolsas e Taxa de Ban- o vídeo “Mais engenheiros para tivá-los a optar pela engenharia.
cada. E ainda temos o Prominp, construir o Brasil”, que traz infor- (Dânae Mazzini) •
14. 14 indústria e infraestrutura
A polêmica dos
novos trens
Metrô investe em alta tecnologia para solucionar
velhos problemas, mas especialistas afirmam que
ainda há muito o que fazer
Imagem: Metrô Rio Informa – Setembro/2010
A lvo de muitas críticas entre os
usuários nos últimos meses, o
Metrô Rio deu o primeiro passo para
Os primeiros beneficiados com
o início da operação dos novos trens,
previstos para chegar em outubro
“É a primeira vez que se com-
pra trens novos para o Metrô des-
de o início da sua operação, em
cumprir a meta de investir R$ 1,15 bi- de 2011, seriam os passageiros da 1978. Eles começam a chegar em
lhão na melhoria e ampliação dos seus linha 2 (Pavuna-Botafogo). 2011. Os carros terão ar-condicio-
serviços, compromisso firmado com o nado adequado às condições da
Governo do Estado desde a mudança TEMPO DE ESPERA nossa cidade, mais espaço inter-
dos termos de concessão, em 2007. A previsão do Metrô Rio é de no, maior rapidez nas viagens e
Boa parte desse investimento – R$ 320 que o intervalo de espera entre as reduzirão o tempo de espera nas
milhões – concentra-se na compra de estações Central e Botafogo, tre- plataformas. Eles serão usados na
19 novos trens, num total de 114 car- cho de maior carregamento do Linha 2 porque o ar-condicionado
ros, que promete aumentar em 63% a sistema, seja reduzido para apenas dessas novas composições está
capacidade atual do transporte. dois minutos. adaptado para circular na super-
15. indústria e infraestrutura 15
imagem: Metrô Rio informa – Setembro/2010
fície e os atuais foram projetados
só para andar no túnel. Por isso,
temos tantos problemas de refri-
geração no verão, com esse calor
fora do comum”, disse o presiden-
te do Metrô Rio, José Gustavo de
Souza Costa, em entrevista ao Jor-
nal Metrô Rio Informa.
Apesar das promessas de me-
lhoria no serviço oferecido, es-
pecialistas na área de transporte
advertem que os novos trens não
serão suficientes para ampliar a
capacidade atual e oferecer mais
conforto aos usuários. “Estudos
realizados por especialistas indi- interior dos novos carros que o Metrô Rio está comprando de uma fábrica chinesa.
cam que o tempo de espera nas
plataformas não pode ser reduzi- Divisão Técnica de Transportes e chegada dos novos trens deverá
do enquanto a linha 1A estiver em Logística do Clube de Engenha- sofrer atrasos”.
funcionamento. Sem a redução ria. Ele disse ainda que, tendo em
dos intervalos, não será possível vista que a discussão sobre o pla- LINHA CONGELADA?
aumentar a capacidade atual do nejamento e a adequação técnica Ex-diretor de Planejamento e
metrô, mesmo com a chegada das do projeto dos novos carros não Projetos do Metrô durante sua fase de
novas composições”, explica o en- contou com a experiência do qua- implantação, o professor e doutor em
genheiro Alcebíades Fonseca, con- dro de técnicos do antigo Metrô, engenharia do transporte, Fernando
selheiro do CREA-RJ e Chefe da “provavelmente o cronograma de Mac Dowell, também compartilha
iNFoRMAÇÕeS TÉCNiCAS
Os novos trens do Metrô Rio foram produzidos pela fá- e motor. O motor de tração será feito pela japonesa Mitsu-
brica chinesa Changchung Railway Vehicles (CRC), fundada bishi Electric (Melco), o sistema de ar-condicionado é da Aus-
em 1954, que também está produzindo carros para os me- trália, o sistema de portas será da austríaca IFE, e o sistema
trôs de Sydney, na Austrália, e de Beijing (Pequim), na China. de freios da Knorr-Bremse, da Alemanha.
Desde 1995, a CRC já exportou cerca de 3.000 composições Para atender à demanda do Metrô Rio, a CRC construiu
para países como Irã, Tailândia, Arábia Saudita, Paquistão, uma via com as mesmas características da existente no me-
Nova Zelândia, Argentina, entre outros. trô carioca para a realização dos testes dos trens. hoje, a fá-
A montagem das novas composições será na sede da brica tem capacidade para produzir 1.500 vagões por ano,
CRC, em Changchun, cidade industrial a 700 quilômetros de mas está duplicando seu parque industrial para melhor
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
Pequim. A empresa chinesa será responsável ainda pela fa- atender às encomendas.
bricação da carroceria e do truque – onde se localizam rodas Fonte: Metrô Rio Informa – Setembro/2010
16. 16 indústria e infraestrutura
da mesma opinião. “A proposta da da Carioca, por isso, esse trecho con- fabricado pela australiana Sigma e
Linha 1A carece de visão sistêmica seguiria desafogar as outras estações. vai refrigerar o interior das composi-
dos transportes, pois congela toda a Com a quantidade de novos carros ções com capacidade 33% superior à
Linha 2 com intervalo de 4 min entre que foram comprados conseguiría- existente atualmente. A temperatu-
trens de apenas 6 carros, que corres- mos voltar ao sistema antigo, sem a ra média dentro dos vagões será de
ponde à capacidade 18 mil passagei- linha 1A, e ainda dar início ao projeto 23 graus, impulsionados por 336 mil
ros/hora, considerando 4 passagei- do novo trecho, que já tinha sido pla- BTUs, o equivalente a 33 aparelhos
ros/m², contra o projeto original de nejado”, opina Mac Dowell. de ar-condicionado de 10.000 BTUs
trem de até 8 carros com intervalo de ligados ao mesmo tempo em cada
até 100 segundos, que corresponde à PRÓS E CONTRAS composição.
capacidade de escoamento de 60 mil O projeto dos novos trens, No interior das composições não
passageiros/hora. Assim, o Rio perde que começam a chegar a partir do haverá porta separando os carros,
o principal sistema de transporte de segundo semestre deste ano, foi que serão interligados por sanfonas,
massa”, defende. desenvolvido em parceria com a permitindo ao passageiro trocar de
O engenheiro diz ainda que a cria- MTR, empresa operadora do metrô carro. Cada vagão terá 36 assentos
ção da linha 1A evita a possibilidade de Hong Kong (China), referência em vez dos atuais 48, mas, segundo o
de dar continuidade a um dos trechos mundial em transporte metroviário. Metrô Rio, haverá muito mais espaço
mais importantes do metrô: Estácio E a fábrica encarregada de produzir interno para os passageiros. As barras
– Carioca – Praça XV, com extensão as composições, a Changchun Rai- para apoio em pé terão nova distri-
para São Gonçalo e depois por aero- lway Vehicles (CRC), localizada na buição e os novos trens contarão com
móvel até o Comperj. “Uma pesquisa província de Changchun, na China, pega-mãos para aumentar a seguran-
feita entre os usuários mostrou que o fornece trens para Canadá, Austrá- ça do usuário de baixa estatura.
destino da maioria deles é a estação lia, Paquistão, Nova Zelândia, entre
muitos outros países. REDUÇAÕ DE ASSENTOS
André Cyriaco Segundo Mac Dowell, os novos O engenheiro Alcebíades Fon-
trens são veículos do tipo reboque, seca considera que a redução de
ou seja, não possuem motor nos assentos dos novos trens vai causar
vagões. “Os atuais carros do metrô mais desconforto para os passagei-
são tracionados, têm todos os eixos ros. “Uma das novidades das novas
com tração. Os veículos tipo rebo- composições é eliminar 25% dos as-
que são mais baratos, mas possuem sentos. Essa é mais uma política ado-
uma capacidade reduzida para subir tada pela empresa para maximizar o
e descer rampas, de apenas 1,5%. E rendimento e minimizar o conforto
podem ter seu desempenho alterado dos usuários”, afirma.
em caso de lotação dos vagões”, diz. Mac Dowell concorda. “A dimi-
nuição no número de assentos dos
CARROS INTERLIGADOS novos trens só tem como objetivo au-
Segundo o Metrô Rio, as no- mentar ainda mais a quantidade de
vas composições reúnem o que há passageiros por metro quadrado no
de mais moderno em tecnologia e interior dos vagões. Atualmente, em
têm como objetivo proporcionar ao horário de grande movimentação, o
Alcebíades Fonseca: “o antigo quadro técnico
não tem participado das decisões da direção
usuário mais conforto e rapidez nas metrô conta com até oito passageiros
do Metrô Rio”. viagens. O sistema de climatização é por metro quadrado. Além disso, o
17. indústria e infraestrutura 17
Rio de Janeiro tem hoje uma popu-
lação idosa, especialmente em Copa-
cabana, que tem a necessidade de um
SoluÇÕeS uRGeNTeS número maior de assentos. Quando
Além dos problemas vivenciados quando há um caso de incêndio. No deixamos de oferecer conforto no in-
diariamente pelos usuários, como nosso projeto inicial existia um siste- terior do trem, passamos a criar um
trens superlotados, longa espera nas ma para proteger a população, mas
custo social”, opina Mac Dowell.
plataformas, falha no sistema de refri- hoje não sei como está isso. Quando
O engenheiro sustenta que ain-
geração e excesso de paradas inespe- vi que foram colocados ventiladores
da faltam informações mais técnicas
radas ao longo dos percursos, o Metrô nas estações, fiquei na dúvida sobre
Rio possui outras fragilidades graves a conclusão de todo o projeto”, diz.
sobre a aquisição dos novos trens
que, segundo especialistas, devem Outro problema, segundo o en- para que seja feita uma avaliação
ser superadas com urgência. genheiro, é a fragilidade do metrô mais completa da sua eficácia. “Até
Fernando Mac Dowell defende em relação às quedas de energia no hoje, eles não conseguiram me res-
que um dos maiores problemas do Rio de Janeiro. “O metrô só deveria ponder a todas as questões que le-
metrô atualmente é o sistema de parar de funcionar no caso de um vantei. Não sabemos ainda quantas
ventilação nas estações. “Falta um blackout na cidade, mas, atualmente, portas esses trens terão, qual serão
sistema automático, ou seja, que é ca- está parando com qualquer pequena o tamanho delas, qual o peso desse
paz de afastar a fumaça das pessoas, falta de luz”, conta. carro e, principalmente, como é a
curva de desempenho dele”, ques-
•
tiona. (Dânae Mazzini)
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
18. 18 campo
Novas exigências
para registro de
produtos
agrotóxicos
19. campo 19
O Brasil é o país que mais utiliza
agrotóxicos no mundo. Apenas
no primeiro quadrimestre de 2010,
Outra novidade proposta é que
os estudos apresentados pelas empre-
sas para que a Agência realize análise
A Consulta Pública 02/2011
propõe uma atualização da Portaria
03/1992 do Ministério da Saúde. A
foram aplicados 5,5 milhões de to- toxicológica dos agrotóxicos sejam proposta é resultado de dois anos de
neladas de produtos sintéticos nas conduzidos em laboratórios com cer- trabalho da Agência e foi aprovada
lavouras brasileiras, o que correspon- tificação de Boas Práticas Laborato- na Agenda Regulatória de 2009, ins-
de a 7,8% a mais que o consumo no riais (BPL). Essa ação permitirá maior trumento que expõe os temas consi-
mesmo período de 2009. segurança quanto à credibilidade dos derados pela Anvisa como prioritários
No país, são liberados, inclusive, estudos apresentados e maior ras- para regulação.
produtos já banidos de uso em cultivos treabilidade dos resultados, além de Sugestões para Consulta Pública
na maioria dos países desenvolvidos. uniformizar nosso trabalho com o do 02/2011 deverão ser encaminhadas
Segundo a Agência Nacional de Vigi- Ibama, que já efetua essa exigência, por escrito, no prazo de 60 dias, para
lância Sanitária (Anvisa), a agricultura afirma Álvares. Além disso, harmoni- o endereço: Agência Nacional de Vi-
brasileira usa cerca de dez agrotóxicos za a documentação de avaliações toxi- gilância Sanitária, SIA, Trecho 5, Área
proibidos na União Européia e nos cológicas com o que já era solicitado Especial 57, Bloco D – subsolo, Brasí-
Estados Unidos. No total, 14 insumos para os estudos de resíduos de agrotó- lia/DF, CEP 71.205-050; por Fax 61-
agrícolas precisam ser submetidos à xicos em alimentos, de acordo com a 3462-5726; ou para o e-mail: toxicolo-
reavaliação. resolução da Anvisa de 2006. gia@anvisa.gov.br sobre a proposta.
Por esse motivo, no dia 28/01/2011, A consulta pública atualiza, ainda, A Câmara de Agronomia do
uma consulta pública foi aberta pela os estudos que devem ser apresenta- CREA-RJ, por sua vez, vem pautando
Agência Nacional de Vigilância Sa- dos pelas empresas para obtenção de constantemente discussões e ações so-
nitária (Anvisa). Segundo a Anvisa, a avaliação toxicológica de agrotóxicos bre agrotóxicos, direcionadas para o
apresentação de estudos sobre avalia- e produtos técnicos. Os critérios de aperfeiçoamento do receituário agro-
ção de riscos nos trabalhadores rurais classificação toxicológica dos produtos nômico, da fiscalização do uso correto
será requisito obrigatório para registro também foram revisados. Para Álva- de agrotóxicos, da destinação correta
de agrotóxicos no Brasil. res, a nova proposta permite ao Brasil das embalagens, da proteção do traba-
estar alinhado às normas internacio- lhador e do meio ambiente. Por outro
AVALIAÇÃO DO RISCO nais mais atualizadas para avaliação de lado, ao convidar os milhares de pro-
A avaliação do risco é um proce- agrotóxicos e produtos técnicos. fissionais do CREA-RJ a participarem
dimento mais sensível e acurado que da presente consulta pública, reafir-
permite analisar possíveis efeitos dos REGISTRO DE AGROTÓXICOS ma seu compromisso e preocupação
agrotóxicos na saúde. Apesar de já ana- No Brasil, o registro de agrotó- constante para o desenvolvimento de
lisarmos a toxicidade das substâncias xicos é realizado pelo Ministério da sistemas agrícolas sustentáveis e com
presentes nos agrotóxicos, a avaliação Agricultura, órgão que analisa a eficá- segurança alimentar. •
do risco possibilitará reduzir ainda cia agronômica desses produtos. Po-
mais os agravos indesejados associa- rém, a anuência da Anvisa e do Iba- João Araújo
dos à exposição da população a esses ma é requisito obrigatório para que o Coordenador da Câmara Especia-
produtos, explica o diretor da Anvisa, agrotóxico possa ser registrado. lizada de Agronomia do CREA-RJ
Agenor Álvares. Os agrotóxicos que A Anvisa realiza avaliação toxico- e da Coordenadoria Nacional de
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
causam mutações genéticas, câncer, lógica dos produtos quanto ao impac- Câmaras de Agronomia
alterações fetais e danos reprodutivos to na saúde da população. Já o Ibama
continuarão impedidos de registro, observa os riscos que essas substân- Fontes: Carolina Pimentel - Agência Brasil
conforme determinado pela Lei. cias oferecem ao meio ambiente. e Assessoria de Comunicação da Anvisa
21. especial capa 21
de calamidades que
ser rompido
especialistas recomendam mapeamento como ponto de
partida para evitar catástrofes como as que têm castigado o
estado do Rio. Falta de planejamento e descumprimento de
leis ambientais estão entre as causas da tragédia que atingiu a
Região Serrana, segundo relatório preliminar do CReA-RJ
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
22. 22 especial capa
T odos os anos, entre os meses
de novembro e abril, o Estado
do Rio é atingido por fortes chuvas.
mais para sanar estragos causados
pelas chuvas do que em prevenção.
Ao todo, foram apenas R$ 167 mi-
Para os sobreviventes, ficou a dor e
o desafio de reconstruir a vida e as
cidades.
Altos índices pluviométricos, alia- lhões e meio de reais para prevenir O cenário de lama, destruição
dos à geografia de mares e morros, e R$ 2,3 bilhões para remediar e, e emergência causou comoção na-
à ocupação irregular em áreas de assim mesmo, apenas uma pequena cional, logo transformada em uma
encostas e ao baixo investimento parte do total.
em prevenção e planejamento fa- No Estado do Rio, essa relação
zem com que tragédias como as da não foi diferente. Em 2010, gasta- “em 2010, estado
Região Serrana, de Angra dos Reis, ram-se 80 milhões na reconstrução
do Morro dos Prazeres e do Morro dos locais atingidos pelas chuvas e investiu 10 vezes
do Bumba se repitam num calendá- apenas R$ 8 milhões foram investi-
rio sinistro de dor, comoção e de- dos para evitar novas tragédias. Ou
mais para remediar
solação. Afinal, o que se deve fazer
e o que se está fazendo para evitar
seja, investiu-se 10 vezes mais para
remediar os estragos do que para
estragos do que para
esse ciclo de calamidades – e ain-
da um vexame internacional num
prevenir catástrofes.
A tragédia climática deixou no
prevenir catástrofes”
dos cenários da Copa do Mundo de Estado do Rio um rastro de devas-
Futebol de 2014 e sede absoluta das tação em mais de 20 municípios. rede de solidariedade e socorro, da
Olimpíadas de 2016. Cerca de 90 mil pessoas foram di- qual o CREA-RJ participou, à pri-
Segundo a ONG Contas Aber- retamente castigadas, sendo que meira hora, em várias frentes.
tas, que monitora gastos públicos, mais de 900 morreram em enchen- Já no dia 15 de janeiro, por de-
em 2010, a União investiu 14 vezes tes, deslizamentos e desabamentos. terminação do presidente Agosti-
nho Guerreiro, o Conselho publicou
Nathália Ronfini
no jornal O Globo um apelo para
que os profissionais de engenharia,
arquitetura, agronomia, geologia,
geografia, meteorologia e demais
especializações procurassem as
prefeituras para atuar como volun-
tários nos trabalhos de análise, ava-
liação, diagnóstico, vistorias, laudos
e planos de reconstrução. A ideia
era que todos pudessem contribuir,
com apoio, suporte, experiência
e conhecimento técnico, unissem
forças junto à corrente de doações e
outras medidas de urgências.
“A população urbana no país
cresceu de 26,3% para 81,2% entre
a década de1940 e o início do sécu-
lo XXI. Nesse período, o país pas-
Márcio Machado: “Mapeamento da Geo-Rio identifica áreas que precisam de mais investimentos”. sou por um processo intenso de ur-
23. especial capa 23
banização, tendo que abrigar mais fazer isso com dedicação, honestida- tetos de Nova Friburgo (AEANF),
de 125 milhões de pessoas em suas de e transparência”, garantiu. engenheiro civil José Augusto
cidades. E essa transição aconteceu O presidente foi enfático so- Spinelli, boa parte da devastação
sem nenhum planejamento”, acres- bre a contribuição do relatório: pode ser atribuída à força da na-
centou o presidente do CREA-RJ. “Estamos trazendo esse relatório tureza, mas os efeitos provocados
Antes, o presidente já havia li- para as prefeituras e vamos levá- pelo temporal foram agravados
berado a frota de veículos e outros lo para as autoridades estaduais, pela falta de ações e de recursos
equipamentos do CREA-RJ para au- porque temos aqui diagnósticos do poder público – nas esferas
xiliar as prefeituras nas ações neces- importantes para evitar tragédias municipal, estadual e federal –
sárias para a recuperação das condi- anunciadas como essa”, afirmou para obras de infraestrutura em
ções básicas de infraestrutura. Agostinho. geral.
No dia 18 de janeiro, Agostinho Segundo o presidente da As- Ao comentar o esvaziamento
tratou do assunto, em reunião na sociação de Engenheiros e Arqui- do quadro de profissionais das
sede do Conselho, com Marcos Tú-
Valter Campanato/ABr
lio de Melo, presidente do Confea;
José Tadeu da Silva, do Crea-SP:
Gilson de Carvalho Queiroz Filho,
do Crea-MG; e José Mário de Araú-
jo Cavalcanti, do Crea-PE.
RELATÓRIO DE IMPACTO
Na quarta-feira, dia 19 de ja-
neiro, o presidente do CREA-RJ,
Agostinho Guerreiro, viajou à
Região Serrana para levar a pre-
feitos o Relatório de Impacto do
CREA-RJ sobre as áreas atingi-
das. Um dos objetivos do relató-
rio é auxiliar os órgãos públicos
e contribuir para o restabeleci-
mento da normalidade através de
medidas de prevenção e proteção
da sociedade.
Em Nova Friburgo, o prefei-
to Dermeval Barbosa agradeceu o
apoio e a iniciativa do Conselho do
Rio. “As providências propostas pelo
CREA-RJ devem ser levadas a sério
e colocadas em prática”, afirmou.
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
Em Teresópolis, o secretário de Go-
verno, Rogério Siqueira, disse que a
ajuda do Conselho será fundamental
para reconstruir a cidade. “Vamos o bairro de duas Pedras ficou destruído com as fortes chuvas que atingiram Nova Friburgo.
24. 24 especial capa
Guilherme Parmera
Prefeituras, Spinelli frisou “que a
falta de técnicos está diretamente
ligada aos salários irrisórios que
as administrações podem ou que-
rem pagar”. Ele sugere que o mes-
mo critério para fixar o número
de vereadores de cada município,
proporcional à população, seja
adotado para a contratação de
técnicos pelas Prefeituras.
José Augusto Spinelli conta
que, no primeiro momento após a
tragédia, a AEANF se mobilizou,
em conjunto com a defesa civil,
para salvar vidas. Depois, passou
a participar de levantamentos de
novos locais de riscos e de pontes
e estradas vicinais que precisavam
de reparos. Agora, segundo ele, é
necessário começar imediatamen-
Na entrevista coletiva que concedeu à imprensa, Agostinho Guerreiro defendeu uma política nacional
te a elaboração de planos direto- de prevenção de acidentes, com orçamento justo e participação de técnicos.
res, adaptando a sua concepção
aos novos parâmetros colocados seu gabinete entrevista coletiva que haja prevenção ou, ainda em
pela dimensão da tragédia na Re- que reuniu profissionais de qua- caso de acidente, haja uma ação
gião Serrana. se todos os jornais, rádios, TVs e coordenada para salvar a popula-
Após duas semanas sendo portais de notícias com sede ou ção mais rapidamente, evitando
procurado diariamente por jorna- sucursais no Rio de Janeiro (foto). o maior número possível de mor-
listas – todos devidamente atendi- “Se as prefeituras cumprissem tes”, completou Agostinho.
dos –, no dia 26 de janeiro, o pre- as leis brasileiras, 80% das vidas Outra iniciativa do CREA-RJ
sidente do CREA-RJ concedeu em daquelas regiões não teriam sido foi a aprovação pelos conselheiros,
perdidas. Não é mais suportável na plenária realizada em feverei-
ter a certeza de que, a cada verão, ro, da prorrogação de descontos
perderemos vidas”, afirmou Agos- na anuidade dos profissionais que
tinho. Na ocasião, ele também en- atuam na Região Serrana até o dia
tregou aos jornalistas o Relatório 31 de março. O Ato Administrati-
de Impacto do CREA-RJ sobre as vo n° 01/2011 tomou como base
áreas atingidas. para a medida o Estado de Cala-
“Vamos batalhar decisiva- midade Pública decretado pelo
mente para que haja uma política Governo do Estado do Rio e bene-
nacional capaz de inf luenciar es- ficiou os profissionais atuantes nos
tados e municípios, mas com prio- municípios de Nova Friburgo, Te-
ridade efetiva, com orçamento resópolis, Petrópolis, Bom Jardim,
justo, com grande participação de São José do Vale do Rio Preto, Su-
técnicos, de equipamentos, para midouro e Areal.
25. especial capa 25
TRAGÉDIA EM DEBATE
Após um mês da tragédia, foi
“No estado do Rio, os Geo-Rio, órgão da Secretaria Muni-
cipal de Obras.
realizado no Clube de Engenha-
ria, em parceria com o CREA-RJ,
meteorologistas mal Logo após a conclusão desse
trabalho, detectou-se que 21 mil
a Associação Brasileira de Mecâ- têm acesso à internet imóveis e 117 comunidades se en-
nica do Solo e a Associação Bra- contravam em perigo. Segundo
sileira de Geologia de Engenharia e ao telefone para dados da Geo-Rio, atualmente são
e Ambiental, o debate “Desliza- 18 mil moradias em áreas de risco,
mentos na Região Serrana 30 dias fazerem as previsões” já que, ao longo de 2010, 47 dessas
depois”. O presidente do Clube, comunidades receberam obras de
Francis Bogossian, recebeu à mesa – isimar dos Santos contenção ou seus moradores fo-
de abertura Agostinho Guerreiro e ram reassentados.
outros especialistas e autoridades, mentos e um inventário de risco em No entanto, "esse número [18
como Anna Laura Nunes, presi- 196 comunidades, encomendado mil moradias] não quer dizer que as
denta da Associação Brasileira de pela Geo-Rio e executado pela Con- outras não têm risco algum. Qual-
Mecânica dos Solos e Engenharia cremat Engenharia. “Com esse tra- quer área com declive tem”, decla-
Geotécnica, Moacir Duarte (Co- balho, feito entre abril e dezembro rou o prefeito Eduardo Paes. “Só se
ppe/UFRJ), e o deputado federal do ano passado, medimos as áreas eu revogasse a lei da gravidade aca-
Hugo Leal. de alto, médio e baixo risco. Com baria esse problema", ironizou.
“O conhecimento técnico está essas informações, será possível di- De acordo com Vânia Zaeyen,
aqui na casa. Temos que buscá-lo, mensionar melhor os locais que pre- gerente do Núcleo de Estudos e
levá-lo para o governo federal e o cisam de maiores investimentos em Projetos de Geotecnia da Concre-
poder público. E aí temos que fazer prevenção de deslizamentos”, expli- mat Engenharia, “o mapeamento
mais duas junções: a ação política e cou Márcio Machado, presidente da realizado no Município do Rio deve
a ação jurídica, do Ministério Pú-
Valter Campanato/ABr
blico”, disse Leal. O evento contou
com a participação da presidente
do Instituto Estadual do Ambien-
te (Inea), Marielene Ramos, e do
engenheiro civil Alberto Sayão,
professor da PUC-RIO. Bogossian
agradeceu o apoio do CREA-RJ e
demais entidades, reiterando o ca-
minho da união em direção aos in-
teresses nacionais.
MAPEAMENTO DE RISCO
Depois das chuvas que pararam
a Cidade do Rio de Janeiro, em abril
Revista do Crea-RJ • Janeiro/Março de 2011
de 2010, as autoridades perceberam
que era necessário tomar medidas
mais pró-ativas. Uma das mais im-
portantes foi a elaboração de uma
carta de suscetibilidade a escorrega- Nova Friburgo (RJ) – Chuvas fortes deixaram rastro de destruição na Região Serrana do estado do Rio.
26. 26 especial capa
CReA-RJ deFeNde iNSTRuMeNToS de GeSTÃo AMBieNTAl
Guilherme Parmera
No dia 26 de janeiro, em entrevista coletiva concedida à im-
prensa, Agostinho Guerreiro apresentou o Relatório Preliminar de
inspeção Realizada nas Áreas de Teresópolis e Nova Friburgo Afe-
tadas pelas Fortes Chuvas, produzido logo após a tragédia. Para
compor o documento, o Conselho do Rio realizou inspeções nos
dias 13 e 14 de janeiro nas áreas críticas atingidas com a participa-
ção do assessor de Meio Ambiente, Adacto ottoni, do inspetor de
Teresópolis, arquiteto Mariano loureiro, do conselheiro do CReA-
RJ residente em Nova Friburgo, engenheiro civil leiner P. Rezende,
e dos agentes de fiscalização do CReA-RJ, Marco Antonio Barreto e
Rodney Benther, bem como o apoio da coordenadora de fiscaliza-
ção do CReA-RJ para a Região Serrana, Jussara lemos.
o documento do CReA-RJ aponta que “não existem Planos
de Contingência efetivos para enchentes e deslizamentos de en-
costas nos municípios afetados” e lembra que sem instrumentos
de monitoramento ambiental permanente, como ferramenta fun- Agostinho Guerreiro apresenta o Relatório produzido pelo CReA-RJ
damental de gestão ambiental da bacia hidrográfica, não há como
alertar a população previamente sobre eventos extremos, visando dencia que a falta de planejamento e as ocupações desordenadas
à evacuação e evitando mortes causadas por chuvas intensas. foram alguns dos principais fatores responsáveis pela tragédia
Já o presidente do CReA-RJ, Agostinho Guerreiro, lembrou ocorrida.
que se as regiões afetadas, cobertas pela Mata Atlântica, tives- As medidas de médio e longo prazo apontam que devem ser
sem sido preservadas e as prefeituras não permitissem a ocupa- elaborados um mapeamento das áreas de risco e um Programa
ção desordenada das encostas, o número de vítimas por conta de Contingência. Neles, está prevista a retirada das populações de
do temporal do dia 11 de janeiro teria sido 80% menor. “A chuva encostas íngremes e topos de morro, e o reflorestamento dessas
que antes encontrava uma proteção natural, não encontra mais, áreas, bem como a recuperação das faixas marginais de proteção
o escoamento das águas, que antes era amortecido no impacto, (FMP) dos rios, e o monitoramento ambiental das bacias hidrográ-
volume e velocidade, não acontece mais e, por isso, ocorrem desli- ficas da região. É importante que sejam construídas barragens de
zamentos. Antes, descia só água. Agora, desce água com lama e a cheias nos trechos médio e superior dos rios, para conter as ondas
velocidade é muito grande”, explica. de enchentes e evitar as manchas de inundação em locais mais
o relatório assinala medidas para amenizar ou solucionar as planos e baixos da bacia drenante. Tudo isso só será eficaz com a
questões latentes. Todo o levantamento feito pelo CReA-RJ evi- oferta de moradias dignas em locais seguros.
servir de modelo e incentivo para to, como o que fizemos aqui, para sirenes, que estão sendo instaladas
outros municípios devido a sua im- conhecer bem seu território. Na em áreas de risco; no treinamento
portância e abrangência do tema, Região Serrana, por exemplo, não de emergência oferecido a agentes
uma vez que auxilia na implantação existe um estudo como o que fize- comunitários e num novo radar me-
de uma política racional de uso e mos”. Para ele, este ano, a cidade teorológico", afirmou. "Mas nunca
ocupação do solo”. está mais preparada para enfrentar vamos chegar ao ideal, porque, de-
Machado, da Geo-Rio, concor- as chuvas de verão. “Investimos em vido à própria topografia do Rio,
da: “Cada município deveria con- mapeamento de risco; no Centro de não há como deixar de conviver
tratar um serviço de mapeamen- Operações da Prefeitura do Rio; em com deslizamentos. Essa é a nossa