Olha a Sida. Na SIC só hoje! Batemos a SIC por 24 horas!…..
José Alberto Carvalho (30.11.1999) constata: Estamos muito condicionados pela matriz da imprensa. É uma questão cultural, à qual é difícil fugir. Creio que seria necessário começar tudo do zero. Nos EUA os jornais televisivos de referência não seguem, em nada, o que vem na imprensa. A BBC tem o What Newspapers Says, programa que arrasa a imprensa. Se fosse cá em Portugal era um escândalo. Fez-se um pouco isso com A Noite da Má Língua.
Cândida Pinto (30.11.1999) notava falta de investigação jornalística, também na SIC: Não sei se não será um processo natural. A SIC começou com muita força no jornalismo de investigação e depois baixou. Na TSF aconteceu o mesmo. O jornalismo de investigação é importante para a credibilidade de um meio de informação, e importante também para a vida da sociedade civil. Mas noto que hoje em dia estamos muito dependentes da agenda. Também é uma questão de investimento. Aqui na SIC não temos uma redacção muito grande, e a criação de núcleos de investigação obriga a investimentos de monta, como é sabido. Deveríamos reflectir sobre os custos e benefícios de tais opções.
“Aqui, o que dita o alinhamento do dia são as headlines das rádios, as cachas dos jornais e as headlines internacionais. São raras as reportagens originais que emitimos.
A maioria das propostas que recebemos do serviço de agenda são resultado dessas fontes que enunciei, muitas delas com base em artigos de jornais” – afirma Dinis Sotto Mayor (20.10.1999), que foi coordenador do Jornal da Tarde (RTP1) de 1992 a Junho de 1996.
José Cruz (19.10.1999) coloca as agências noticiosas em primeiro lugar: Quem marca a agenda noticiosa são as agências, porque transmitem informação em contínuo. Depois vêm as rádios.
O facto de recebermos aqui os alertas das notícias das rádios prova isso mesmo.
Ajuda-nos bastante.
Fernando Barata (16.11.1999), coordenador do Telejornal da RTP1, fala de uma submissão do jornalismo televisivo à agenda dos outros meios: Hoje em dia a máquina informativa começa a desenhar-se por um processo que é alheio às próprias televisões.
As pessoas são muito marcadas pelo que dá nas rádios, que ouvem durante bastante tempo nas filas de trânsito. E isto cria uma grande expectativa de verem as imagens desses acontecimentos quando chegam a casa, pela hora do jantar.
Barata considera quase inexistente o jornalismo de investigação na estação em que trabalha: O nosso jornalismo sucumbiu à rotina, a investigação é muito reduzida, somos claramente seguidistas das agendas dos outros meios. E o drama é que aos jornalistas mais jovens não lhes pressinto vontade de mudar as coisas. Já não vêm com capacidade de iniciativa, são raríssimos os casos em que tal acontece. É um hábito instalado que se transmite quase como um vírus!
Nesse mesmo dia, o Telejornal alinhou em 15.º lugar uma peça revelando novos avanços no combate à Sida. Um jornalista explica-nos como é que tal peça subiu ao alinhamento: Ontem, quando vinha no carro, já ouvi tal notícia na rádio. Como hoje foi manchete no Diário de Notícias, a coordenação deu indicações para avançarmos com uma peça também.
Efectivamente, a TSF já tinha tratado o assunto no dia anterior (15.11.1999), às 12h, 17h e 18h.
Mais tarde haveria de merecer destaque no Primeira Página, programa emitido pela RTP1 por volta das duas da manhã, e no qual se informavam os telespectadores das manchetes e principais destaques da imprensa da manhã seguinte:
Os títulos dos jornais desta noite falam de economia e de saúde. Falam de saúde porque foi descoberta a proteína que impede que as células boas sejam contaminadas pelas células infectadas – assinalava Francisco José Viegas no início do Primeira Página.
Passou então no Telejornal de dia 16.
Na SIC também se deu relevo ao avanço c
AGENDA NOTICIOSA DA TV DETERMINADA POR OUTROS MEIOS
1. José Alberto Carvalho (30.11.1999) constata: Estamos muito condicionados pela matriz da imprensa. É uma questão cultural, à qual é difícil fugir. Creio que seria necessário começar tudo do zero. Nos EUA os jornais televisivos de referência não seguem, em nada, o que vem na imprensa. A BBC tem o What Newspapers Says, programa que arrasa a imprensa. Se fosse cá em Portugal era um escândalo. Fez-se um pouco isso com A Noite da Má Língua . 967
2. Cândida Pinto (30.11.1999) notava falta de investigação jornalística , também na SIC : Não sei se não será um processo natural. A SIC começou com muita força no jornalismo de investigação e depois baixou. Na TSF aconteceu o mesmo. O jornalismo de investigação é importante para a credibilidade de um meio de informação, e importante também para a vida da sociedade civil. Mas noto que hoje em dia estamos muito dependentes da agenda. Também é uma questão de investimento. Aqui na SIC não temos uma redacção muito grande, e a criação de núcleos de investigação obriga a investimentos de monta, como é sabido. Deveríamos reflectir sobre os custos e benefícios de tais opções . 967
3. “ Aqui, o que dita o alinhamento do dia são as headlines das rádios, as cachas dos jornais e as headlines internacionais. São raras as reportagens originais que emitimos. A maioria das propostas que recebemos do serviço de agenda são resultado dessas fontes que enunciei, muitas delas com base em artigos de jornais” – afirma Dinis Sotto Mayor (20.10.1999), que foi coordenador do Jornal da Tarde (RTP1) de 1992 a Junho de 1996. 967
4. José Cruz (19.10.1999) coloca as agências noticiosas em primeiro lugar: Quem marca a agenda noticiosa são as agências, porque transmitem informação em contínuo. Depois vêm as rádios. O facto de recebermos aqui os alertas das notícias das rádios prova isso mesmo. Ajuda-nos bastante . 967
5. Fernando Barata (16.11.1999), coordenador do Telejornal da RTP1, fala de uma submissão do jornalismo televisivo à agenda dos outros meios: Hoje em dia a máquina informativa começa a desenhar-se por um processo que é alheio às próprias televisões. As pessoas são muito marcadas pelo que dá nas rádios, que ouvem durante bastante tempo nas filas de trânsito. E isto cria uma grande expectativa de verem as imagens desses acontecimentos quando chegam a casa, pela hora do jantar . 967
6. Barata considera quase inexistente o jornalismo de investigação na estação em que trabalha: O nosso jornalismo sucumbiu à rotina, a investigação é muito reduzida, somos claramente seguidistas das agendas dos outros meios. E o drama é que aos jornalistas mais jovens não lhes pressinto vontade de mudar as coisas. Já não vêm com capacidade de iniciativa, são raríssimos os casos em que tal acontece. É um hábito instalado que se transmite quase como um vírus! . 967
7. Nesse mesmo dia, o Telejornal alinhou em 15.º lugar uma peça revelando novos avanços no combate à Sida. Um jornalista explica-nos como é que tal peça subiu ao alinhamento: Ontem, quando vinha no carro, já ouvi tal notícia na rádio. Como hoje foi manchete no Diário de Notícias, a coordenação deu indicações para avançarmos com uma peça também . 968
8. Efectivamente, a TSF já tinha tratado o assunto no dia anterior (15.11.1999), às 12h, 17h e 18h. Mais tarde haveria de merecer destaque no Primeira Página , programa emitido pela RTP1 por volta das duas da manhã, e no qual se informavam os telespectadores das manchetes e principais destaques da imprensa da manhã seguinte: Os títulos dos jornais desta noite falam de economia e de saúde. Falam de saúde porque foi descoberta a proteína que impede que as células boas sejam contaminadas pelas células infectadas – assinalava Francisco José Viegas no início do Primeira Página . 968
9. Passou então no Telejornal de dia 16. Na SIC também se deu relevo ao avanço científico. Apesar da RTP1 ter acordado para o assunto um dia e algumas horas depois da primeira notícia difundida pela TSF, tal não impediu reacção de júbilo de um dos responsáveis pelo alinhamento, quando, a 17, vê a notícia a ser emitida pelo Primeiro Jornal da SIC: (…) Olha a Sida. Na SIC só hoje! Batemos a SIC por 24 horas!….. 968