O documento descreve a vida e o pensamento de Aristóteles em menos de 3 frases:
1) Aristóteles estudou na Academia de Platão por 20 anos antes de fundar sua própria escola, o Liceu, em Atenas.
2) Ele desenvolveu a lógica formal para estabelecer normas de pensamento que permitissem demonstrações corretas e irretorquíveis, fundando assim a lógica como disciplina.
3) Sua metafísica trata do ser enquanto ser, indagando sobre as causas primeiras
2. O Pensamento de Aristóteles
Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estagira e aos dezoito anos vai
para Atenas o grande centro intelectual e artístico da Grécia.
Como muitos outros, vem atraído pela intensa vida cultural da
cidade que lhe acenava com oportunidades para prosseguir seus
estudos.
Não era belo e para os padrões vigentes no mundo grego,
principalmente na Atenas daquele tempo, apresentava características
que poderiam dificultar-lhe a carreira e a projeção social.
Em particular uma certa dificuldade em pronunciar corretamente as
palavras, deveria criar-lhe embaraços e mesmo complexos numa
sociedade que além de valorizar a beleza física e enaltecer os atletas,
admirava a eloquência e deixava-se conduzir por oradores.
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3. O Pensamento de Aristóteles
Naquela época duas grandes instituições educacionais disputavam
em Atenas a preferência dos jovens, que através de estudos superiores,
pretendiam se preparar para exercer com êxito suas prerrogativas de
cidadãos e ascender na vida pública.
De um lado, Isócrates, seguindo a trilha dos sofistas, propunha-se a
desenvolver no educando a Aretê Política - ou seja, a “virtude”,
capacitação para lidar com os assuntos relativos à pólis, transmitindolhe a arte de “emitir opiniões prováveis sobre coisas úteis”.
E de fato, numa Democracia como a ateniense, cujos destinos
dependiam em grande parte da atuação de oradores, a arte de
persuasão por meio da palavra manipulada com o brilho e a eficácia
dos recursos retóricos era fator imprescindível para o desempenho de
um papel relevante na Cidade-Estado.
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4. O Pensamento de Aristóteles
Platão ensinava na sua Academia que a atividade humana desde que
pretendesse ser correta e responsável, não poderia ser norteada por
valores instáveis, formulados segundo a diversidade das opiniões,
requeria uma Ciência (episteme) dos fundamentos da realidade na
qual aquela ação estaria inserida.
Por trás do inseguro universo das palavras sujeitas à arte
encantatória dos retóricos o educando deveria ser levado, por via do
socrático exame do significado das palavras à contemplação e ao ápice
da ascensão dialética, das essências estáveis, que é a razão de ser das
próprias coisas e modelos de todos os existentes do mundo físico.
Para além do plano da palavra-convenção dos sofistas e de Isócrates,
Platão apontava um ideal de linguagem construída em função das
ideias, essas justas medidas de significação e de realidade.
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5. O Pensamento de Aristóteles
Diante dos dois caminhos o de Isócrates e o de Platão o Aristóteles
não hesita e ingressa na Academia, que viria a frequentar durante
cerca de vinte anos.
Em 347 a.C, com a morte de Platão, Aristóteles deixa Atenas e em
343 a.C, Filipe, rei da Macedônia convida Aristóteles para uma
importante missão a de educar seu filho, Alexandre. Durante anos o
filósofo, encarrega-se dessa missão e ainda preceptor de Alexandre em
338 a.C acompanha os Macedônios derrotarem os Gregos chegando ao
fim a autonomia das Cidades-Estados que caracterizara a Grécia. Em
336 a.C, Filipe é assassinado e Alexandre sobe ao trono, então
Aristóteles volta para Atenas onde funda uma escola, o Liceu, que
passou a rivalizar com a Academia então dirigida por Xenócrates.
Do hábito que tinham os estudantes de realizar seus debates
enquanto passeavam, teria surgido o termo Peripatéticos (que significa
“os que passeiam”) para designar os discípulos de Aristóteles.
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6. O Pensamento de Aristóteles
Apesar da estima que Alexandre tinha ao seu antigo mestre, uma
barreira os distanciava: Aristóteles não concordava com a fusão da
civilização grega com a oriental, pois os gregos e orientais eram
naturezas distintas, com distintas potencialidades e não deveriam
coexistir sob o mesmo regime político.
Aristóteles estava convencido de que o regime político dos gregos era
inseparável de seu temperamento, sendo impossível transferi-lo para
outros povos. Assim, estabelece nítida distinção entre as populações
“bárbaras” e a polis grega, somente esta sendo uma comunidade
perfeita, pois a única a permitir ao homem uma vida verdadeiramente
boa segundo os princípios morais e a justiça.
Depois da morte de Alexandre, em 323 a.C, Aristóteles passou a ser
hostilizado pela facção antimacedônica, que o considerava
politicamente suspeito. Acusado de impiedade, deixou Atenas e
refugiou-se em Cálcis, na Eubéia. Aí morreu no ano de 322 a.C.
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7. O Pensamento de Aristóteles
A compreensão dos fenômenos que ocorrem no mundo físico depende
de uma hipótese para Platão: a existência de um plano superior da
realidade, atingido apenas pelo intelecto e constituído de formas ou
idéias.
Através da dialética seria possível ascender do mundo físico
(apreendido pelos sentidos) e a contemplação dos modelos ideais
(objetos da verdadeira Ciência).
Mas, Aristóteles discorda e retomando a problemática do
conhecimento se preocupa em definir a Ciência como conhecimento
verdadeiro, conhecimento capaz de superar os enganos da opinião e de
compreender a natureza do Devir.
Ao analisar a oposição entre o mundo Sensível e o Inteligível segundo
a tradição de Platão, inspirado em Heráclito e Parmênides, Aristóteles
recusa as soluções apresentadas e critica o mundo “separado” das
idéias platônicas.
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8. O Pensamento de Aristóteles
Aristóteles tinha percebido que a dialética platônica entre mundo
Sensível e Inteligível não poderia lhe garantir aprofundar o
entendimento da Ciência então parte para um projeto de forjar um
instrumento mais seguro para a constituição da Ciência.
O Organon que é também um tratado sobre Lógica e que significa
“instrumento” ou “ferramenta” porque os Peripatéticos consideravam
que a Lógica era um instrumento para o entendimento da Filosofia.
Para se atingir a certeza científica e construir um conjunto de
conhecimentos seguros, torna-se necessário, possuir normas de
pensamento que permitam demonstrações corretas e irretorquíveis.
O estabelecimento dessas normas confere a Aristóteles o papel de
criador da Lógica Formal, que estabelece a forma correta das
operações do pensamento. Se as regras forem aplicadas
adequadamente assim o raciocínio é considerado válido e verdadeiro.
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9. O Pensamento de Aristóteles
Vejamos o exemplo clássico da Lógica Formal que é um processo
substancialmente Dedutivo de Silogismo, pois extrai verdades
particulares (conclusão) de verdades universais (premissas). Logo, sua
conclusão está contida nas premissas e retira daí sua validade.
Se todos os homens são mortais,
e se Sócrates é homem,
então Sócrates é mortal.
Como se vê, que “Sócrates é mortal” por consequência
necessariamente de ter estabelecido que “todos os homens são
mortais” e de “Sócrates é homem”, sendo “homem” o termo sobre o
qual se apóia para concluir.
Silogismo é então um discurso (raciocínio) no qual, postos alguns
dados (premissas) segue necessariamente algo por força deles, pelo
simples fato de terem sido postos.
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10. O Pensamento de Aristóteles
No entanto, a Lógica Formal não implica a verdade, pois nem
sempre o que é correto é verdadeiro (Falácia). Exemplo:
Todos os homens são loiros.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é loiro.
Na Lógica Material a partir de dados singulares inferimos uma
verdade universal (conclusão) que se evidencia da experiência sensível
dos dados particulares.
O cobre é condutor de eletricidade,
e o ouro, o ferro, o zinco e a prata também,
logo, o metal (isto é todo metal) é condutor de eletricidade.
A Lógica Material investiga a adequação do raciocínio à realidade.
De caráter Indutivo sua conclusão excede as premissas e tem
probabilidade de ser correta
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11. O Pensamento de Aristóteles
Aristóteles divide as Ciências em três grandes ramos do saber. São
elas:
Ciências Teoréticas, que buscam o saber por si mesmo (Metafísica, Física
[Psicologia] e a Matemática);
Ciências Práticas, que buscam o saber para alcançar através dele a
perfeição moral (Ética e Política);
Ciências Poiéticas ou Produtivas, que buscam o saber em vista do fazer,
isto é, com a finalidade de produzir determinados objetos, como a Retórica
que é a arte de fazer discursos persuasivos e a Poética que é a arte de
compor enredos ou narrativas como o drama, tragédia, comédia, poesia
épica e lírica).
As mais elevadas por dignidade e valor são as primeiras, onde está
incluída à Metafísica, que não é termo aristotélico (talvez tenha sido
cunhado pelos Peripatéticos, se não nasceu por ocasião da edição das
obras de Aristóteles feita por Andrônico de Rodes, no século 1 a.C.)
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12. O Pensamento de Aristóteles
Aristóteles usava a expressão Filosofia primeira ou também Teologia
em oposição à Filosofia segunda ou Física. Mas o termo Metafísica é
mais significativo e assim ficou definitivamente consagrado.
A Metafísica aristotélica é a Ciência que se ocupa das realidades que
estão acima das Físicas. Trata-se da parte nuclear da Filosofia, onde
se estuda “o ser enquanto ser” isto é, o ser independentemente de suas
determinações particulares. É a Metafísica que fornece a todas as
outras Ciências o fundamento comum, o objeto ao qual todas se
referem e os princípios dos quais dependem.
Todas as ciências se referem continuamente ao ser e a diversos
conceitos ligados diretamente a ele, tais como: quantidade, oposição,
diferença, gênero, espécie, todo, parte, perfeição, unidade, necessidade,
possibilidade, realidade, etc. Mas, nenhuma Ciência examina tais
conceitos e é nesse sentido que Aristóteles considera que o objeto da
Metafísica consiste em examinar o ser e suas propriedades.
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13. O Pensamento de Aristóteles
A Metafísica é definida por Aristóteles como a Ciência que indaga
sobre:
As causas e os princípios primeiros ou supremos (e neste sentido chama-se
Etiologia);
O ser enquanto ser (e portanto chama-se Ontologia);
A substância (chama-se Ousiologia, uma vez que em Grego Ousia significa
substância);
Deus e a substância supra-sensível (Aristóteles a chama de Teologia).
Quando a Metafísica indaga sobre os princípios primeiros ou
supremos, o ser enquanto ser, a substância e o supra-sensível, devem
encontrar Deus, como Motor Imóvel e assim está posto o problema
Teológico. Também em cima da ideia das causas e dos princípios
primeiros ou supremos Aristóteles formulou a Teoria das Quatro
Causas.
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14. O Pensamento de Aristóteles
Em Aristóteles “causa” e “princípio” significam o que funda, o que
condiciona, o que estrutura. As Causas são:
Causa Formal: Que confere a forma e portanto a natureza e a essência de
cada realidade singular, por exemplo: a alma para os animais, a estrutura
dos diferentes objetos de arte.
Causa Material: Aquilo de que é composto toda realidade sensível, de que
é feita uma coisa, por exemplo: nos animais são a carne e os ossos, na esfera
de bronze é o bronze, da taça de ouro é o ouro, da estátua de madeira é a
madeira, da casa são os tijolos e cimento.
Causa Eficiente: Aquilo que produz geração, movimento ou
transformação, por exemplo: os pais são a causa eficiente dos filhos, a
vontade é a causa eficiente das várias ações do homem, o golpe que dou nessa
bola é a causa eficiente do seu movimento.
Causa Final: Aquilo a que toda coisa tende. O fim de cada coisa. É o fim
ou o escopo das coisas e das ações, ela constitui em função de que cada coisa é
diz Aristóteles: é o bem de cada coisa.
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15. O Pensamento de Aristóteles
Para Aristóteles o ser se diz em muitos sentidos, mas todos em
referência a um único princípio, são eles:
O ser em si - Indica, não o que é por outro como o ser acidental, mas o que
é por si, isto é, essencialmente. Como exemplo Aristóteles indica a
substância.
O ser como ato e potência - Indica por exemplo, em ato uma estátua já
esculpida e ao invés que é em potência o bloco de mármore que o artista
está esculpindo.
O ser como verdade - É o contraposto ao significado do não-ser como
falso. Este é o ser que podemos chamar “lógico” de fato, o ser como
verdadeiro indica o ser do juízo verdadeiro, enquanto o não-ser como falso
indica o ser do juízo falso. Esse é um ser puramente mental, é um ser que
só subsiste na razão e na mente que pensa.
O ser como acidente - O ser se diz como acidental, por exemplo, quando
dizemos que “o homem é músico”, o ser músico não exprime a essência do
homem é apenas um puro acontecer, um mero acidente.
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16. O Pensamento de Aristóteles
Toda a estrutura teórica da filosofia aristotélica desemboca na
Teologia. A descrição das relações entre as coisas leva ao
reconhecimento da existência de um ser superior e necessário, ou seja,
Deus.
Se as coisas são contingentes, já que não têm em si mesmas a razão
de sua existência, é preciso concluir que são produzidas por causas a
elas exteriores. Assim, todo ser contingente foi produzido por outro
ser, que também é contingente e assim por diante. Para não ir ao
infinito na seqüência de causas, é preciso admitir uma primeira causa,
por sua vez incausada, um ser necessário (e não contingente).
Esse primeiro motor imóvel é também um puro ato (sem nenhuma
potência). Chamamos Deus ao primeiro motor imóvel, ato puro, ser
necessário, causa primeira de todo existente.
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17. O Pensamento de Aristóteles
Dado que há um movimento eterno, para Aristóteles é necessário
haver um princípio eterno que o produza e que esse princípio seja:
Eterno, se eterno é o que ele causa,
Imóvel, se a causa absolutamente primeira do móvel é o imóvel,
Ato puro, se é sempre em ato o movimento que ele causa.
Esse é o Motor imóvel, que não é senão a substância supra-sensível.
Evidentemente, a causalidade do Primeiro Motor não é uma
causalidade de tipo eficiente, do tipo daquela exercida pela mão que
move um corpo, ou pelo pai que gera o filho. A causalidade do Motor
imóvel é uma causalidade de tipo final.
Mas, que pensa Deus? Deus pensa o que há de mais excelente. Deus
pensa a si mesmo. E atividade contemplativa de si mesmo, é
pensamento de pensamento. É pura abstração.
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18. O Pensamento de Aristóteles
A inteligência pensa a si mesma, captando-se como inteligível: de
fato, ela se torna inteligível intuindo e pensando a si, de modo a
coincidirem inteligência e inteligível.
A inteligência é, com efeito, o que é capaz de captar o inteligível e a
substância, e é em ato quando os possui. Portanto, ainda mais do que
aquela capacidade, essa posse é o que a inteligência tem de divino, e a
atividade contemplativa é o que há de mais aprazível e mais excelente.
A Inteligência divina é o que há de mais excelente. Deus é eterno,
imóvel, ato puro privado de potencialidade e de matéria.
Sendo assim, obviamente, Deus “não pode ter nenhuma grandeza”,
mas deve ser “sem partes e indivisível”.
E deve também ser “impassível e inalterável”.
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19. O Pensamento de Aristóteles
A Física ou segunda ciência teorética para Aristóteles ou ainda
“filosofia segunda”, tem por objeto pesquisar a realidade
sensível, caracterizada pelo movimento
A Metafísica tem por objeto a realidade supra-sensível que é
caracterizada pela falta absoluta de movimento.
Logo, a Física em Aristóteles trata da substância sensível (animada e
inanimada) afetada pelo movimento. O ser ou é em ato ou é em
potência, ou é, ao mesmo tempo, em ato e em potência.
Não existe nenhum movimento que esteja fora das coisas: de fato, a
mudança tem lugar sempre segundo as categorias do ser e não há nada
que seja comum a todas e que não entre numa única categoria por
exemplo: na Substância ou essência do ser que se manifesta no homem.
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20. O Pensamento de Aristóteles
Na sistematização aristotélica do saber, depois das ciências
teoréticas, em segundo lugar aparecem as ciências práticas. Estas
são hierarquicamente inferiores às primeiras, enquanto nelas o
saber não é mais fim para si mesmo em sentido absoluto, mas
subordinado e em certo sentido servo da atividade prática.
Estas ciências práticas, de fato, dizem respeito à conduta dos
homens, bem como ao fim que através dessa conduta eles querem
alcançar, seja enquanto indivíduos, seja enquanto fazendo parte de
uma sociedade, sobretudo da sociedade política.
Aristóteles chama em geral, “Política” (mas também “filosofia das
coisas humanas”) a ciência da atividade moral dos homens, quer
como indivíduos, quer como cidadãos. Em seguida subdivide a
“Política” em Ética e em Política propriamente dita (Teoria do
Estado).
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21. O Pensamento de Aristóteles
Nessa subordinação da Ética à Política, incidiu clara e
determinantemente a doutrina platônica que entendia o homem
unicamente como cidadão e punha a Cidade completamente acima
da família e do homem individual: o indivíduo existia em função da
Cidade e não a Cidade em função do indivíduo.
Sendo idêntico o bem para o indivíduo e para a cidade é mais
importante defender o bem da cidade. É certo que o bem é desejável
mesmo quando diz respeito só a uma pessoa, porém é mais belo e
mais divino quando se refere a um povo e às cidades.
É verdade, porém, que na medida em que Aristóteles procede na
sua Ética, a relação entre indivíduo e Estado corre o risco de
inverter-se, “e no final da obra fala como se o Estado tivesse uma
simples função subsidiária com relação à vida moral do indivíduo,
fornecendo o elemento de compulsão para tornar os desejos dos
homens submissos à razão”.
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22. O Pensamento de Aristóteles
Nas suas várias ações, o homem tende sempre a precisos fins, que se
configuram como bens. Na Ética Nicomaquéia (Ética à Nicômaco)
Aristóteles diz que toda arte e toda pesquisa e do mesmo modo, toda
ação e todo projeto parecem visar a algum bem, por isso o bem foi
definido como aquilo a que tendem todas as coisas.
Há fins e bens que nós queremos em vista de vários fins e que são
fins e bens relativos, mas os que interessam a Aristóteles são os fins
e os bens aos quais tende o homem para um fim último e de um bem
supremo.
O fim das nossas ações que queremos é o bem supremo. Mas, qual é
esse bem supremo? Aristóteles não tem dúvidas: todos os homens,
sem distinção, consideram que tal bem é a felicidade. Quanto ao seu
nome, a maioria está praticamente de acordo: felicidade o chamam,
tanto o vulgo como as pessoas cultas, supondo que ser feliz consiste
em viver bem e em ter sucessos.
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23. O Pensamento de Aristóteles
Portanto, a felicidade é o fim ao qual conscientemente tendem todos
os homens. Mas que é a felicidade?
A multidão dos homens considera que a felicidade consiste no
prazer e no gozo. Mas as pessoas mais evoluídas e mais cultas põem
o bem supremo e a felicidade na honra.
E a honra buscam, sobretudo, aqueles que se dedicam ativamente à
vida política. Contudo, este não pode ser o fim último que
buscamos, porque, nota Aristóteles, é algo exterior.
A vida política parece depender mais de quem confere a honra do
que de quem é honrado: nós, ao invés, consideramos que o bem é
algo individualmente inalienável. Ademais, os homens buscam a
honra não por ela mesma, mas como prova e reconhecimento
público da sua bondade e virtude, as quais demonstram ser mais
importantes que a honra.
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24. O Pensamento de Aristóteles
Aristóteles diz ser inadequada a vida dedicado ao prazer e a esse
tipo de honras, mas rejeita a vida dedicado a acumular riquezas,
pois a riqueza não é o bem que buscamos, ela só existe em vista do
lucro e é um meio para outra coisa.
As virtudes Éticas permitem a vitória da razão sobre os impulsos,
pois buscam a justa medida entre dois excessos (nada em demasia).
Ao manifesta-se como hábitos elas fixam o fim do ato moral.
Já a Retórica estuda para Aristóteles as estruturas do pensar e do
raciocinar que procedem não de elementos fundados
cientificamente, mas da opinião que se mostra aceitável a todos ou à
grande maioria dos homens.
Logo a Retórica estuda os procedimentos com os quais os homens
aconselham, acusam, defendem-se, elogiam que em geral, não
procedem de conhecimentos científicos, mas de opiniões prováveis.
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25. O Pensamento de Aristóteles
A Retórica refere-se à estrutura da persuasão em geral, pois é
também verdade que os homens exercem as suas atividades de
persuasão sobretudo nos tribunais (para acusar ou defender), nas
assembléias (para aconselhar e fazer adotar determinadas
deliberações) e em geral, para louvar ou lastimar (sobre o bem e o
mal, sobre a virtude e o vício). Ora, tudo isso, como é evidente, tem
a ver com a Ética e com a Política.
A Retórica é o correlativo equivalente da Dialética, se consideramos
a seu procedimento formal. Ela é estritamente ligada à Ética e à
Política (e, em parte, à Psicologia), se consideramos a sua esfera de
aplicação.
Portanto, Aristóteles pode, corretamente, concluir que: A Retórica
é como um ramo da Dialética e da ciência dos costumes, que se
denomina, justamente, Política.
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26. O Pensamento de Aristóteles
Na Retórica, Aristóteles distingue, os argumentos persuasivos não
técnicos dos argumentos técnicos.
As argumentações não técnicas (o texto das leis, os testemunhos, as
convenções, as declarações sob tortura, os juramentos) são dadas de
antemão e não nos compete buscá-las (podemos servir-nos delas, sem
ter necessidade de descobri-las), ao contrário, as argumentações
técnicas são específicas do retórico e são de três espécies:
a) Refiram-se ao orador e visam dar-lhe credibilidade,
b) Tendem a dispor o ânimo do ouvinte a deixar-se convencer,
apoiando-se sobre as emoções,
c) Visam à validez e eficácia da própria argumentação.
Eis como Aristóteles motiva essa distinção:
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27. O Pensamento de Aristóteles
Três são as espécies de argumentações fornecidas pelo discurso:
Umas residem no caráter do orador e ocorrem quando o discurso é dito de
maneira a tomar digno de fé o orador de fato. Mas é preciso que essa
confiança venha do discurso e não de uma opinião pré-constituída sobre o
caráter do orador.
Outras em dispor do ouvinte de determinada maneira e ocorrem quando
estes são conduzidos pelo discurso a uma paixão. De fato, não
pronunciamos um juízo da mesma maneira se estamos entristecidos ou
contentes, ou em amizade ou em ódio.
No próprio discurso através da demonstração ou da aparência de
demonstração e ocorrem quando mostramos o verdadeiro ou o verdadeiro
aparente a partir do que cada argumento oferece de persuasivo.
Aristóteles, desenvolve o seu tratamento argumentativo em todas as
três direções, destacando a terceira como a mais válida.
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28. O Pensamento de Aristóteles
Com relação ao caráter do orador, Aristóteles observa que para ser
digno de fé e persuasivo, um orador deve ser ou mostrar-se dotado
dessas três qualidades:
Sabedoria - O justo meio-termo como a virtude da prudência;
Honestidade - Suscita a necessária confiança das pessoas como a sinceridade.
Benevolência - Solidário, amável praticando o bem com generosidade,
gentileza e simpatia.
De fato, os oradores podem errar ao falar sobre algo ou por falta de
sabedoria ou porque mesmo sabendo o que seria oportuno falar, não
falam por desonestidade ou porque não têm benevolência por aqueles
com quem falam.
Os meios que permitam o orador mostrar-se com tais qualidades
devem ser extraídos da Ética, à qual Aristóteles se remete para analise
das emoções e das paixões que comumente se encontram nos ouvintes.
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29. O Pensamento de Aristóteles
Conforme o estado de ânimo no qual se encontra o ouvinte, ele julga
de modo diferente as mesmas coisas.
Por ser assim, um conhecimento da Psicologia das paixões que Platão
punha como um dos fundamentos da verdadeira retórica e que é
indispensável ao orador.
Esta é a parte da Retórica que se dedica não só à análise das paixões
individuais, mas à descrição das características psíquicas das
diferentes idades da vida humana (juventude, maturidade e velhice).
Até mesmo à determinação das diferentes disposições de ânimo
ligadas às características provenientes dos diferentes bens de fortuna,
ou seja, à determinação das diferentes psicologias dos ricos, dos nobres
e dos poderosos, revela um conhecimento verdadeiramente
surpreendente dos homens.
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30. O Pensamento de Aristóteles
Quanto ao autoritarismo platônico, Aristóteles faz duras criticas,
considerando sua utopia impraticável. Também recusa sua Sofocracia
por atribuir poder ilimitado a apenas uma parte do corpo social, os
mais sábios, tornando a sociedade muito hierarquizada. Não aceita a
proposta de dissolução da família nem considera que a justiça, virtude
por excelência do cidadão, possa vir separada da amizade.
A reflexão aristotélica sobre a política não se separa da ética, pois a
vida individual está ligada a vida comunitária. Se a finalidade da ação
moral é a felicidade do individuo, também a política tem por fim
organizar a cidade feliz.
Aristóteles considera que a justiça não pode vir separada da philia.
Embora possa ser traduzida por “amizade” philia é um conceito mais
amplo quando se refere à cidade. Significa a concordância entre as
pessoas que tem ideias semelhantes e interesses comuns, donde resulta
a camaradagem, o companheirismo.
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31. O Pensamento de Aristóteles
A amizade não se separa da justiça já que essas duas virtudes se
relacionam e se complementam, fundamentando a unidade que deve
existir na cidade.
Se a cidade é a associação de homens iguais, a justiça é o que garante
o princípio da igualdade. Justo é o que se apodera de parte que lhe
cabe, é o que distribui o que é devido a cada um.
É preciso lembrar que Aristóteles não se refere à igualdade simples
mas à justiça distributiva, segundo a qual a distribuição justa é a que
leva em conta o mérito das pessoas. Isso significa que não se pode dar o
igual para desiguais, já que as pessoas são diferentes.
A justiça está intimamente ligada ao império da lei, pela qual se faz
prevalecer a razão sobre as paixões cegas. Retomando a tradição
grega, a lei é para Aristóteles o princípio que rege a ação dos cidadãos,
é a expressão política da ordem natural.
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32. O Pensamento de Aristóteles
O fato de se morar na mesma cidade não torna seus habitantes
igualmente cidadãos. São excluídos os escravos, os estrangeiros, as
mulheres.
O que também não significa que todo homem livre, nascido na pólis,
possa participar da administração da justiça ou ser membro da
assembléia governante.
Para Aristóteles, é necessário ter qualidades que variam conforme as
exigências da constituição aceita pela cidade.
De forma geral, Aristóteles concorda que o bom governante deve ter
a virtude da prudência prática, pela qual será capaz de agir visando o
bem comum. Trata-se de virtude difícil, que não se acha disponível a
muitos.
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33. O Pensamento de Aristóteles
Por isso exclui da cidadania a classe dos comerciantes e
trabalhadores braçais, porque a ocupação não lhes permite o tempo de
ócio necessário para participar do governo e também por reforçar o
desprezo que os antigos tinham pelo trabalho manual.
Esse tipo de atividade embrutece a alma e torna o indivíduo incapaz
da prática de uma virtude esclarecida.
Para Aristóteles, os homens livres e concidadãos aprisionados em
guerras não deveriam ser escravizados, mas o mesmo não acontece
com os “bárbaros”, os não-gregos, por serem considerados inferiores e
possuírem uma disposição natural para a escravidão.
Por isso seria legitimo o controle que o senhor exerce sobre o
escravo, embora o tratamento não deva ser cruel, devendo mesmo ser
estabelecidos laços afetivos.
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Jorge Freire Póvoas
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34. O Pensamento de Aristóteles
Formas de Governo
UM
Poucos
Muitos
Boas
Corrompidas
Monarquia Tirania
Aristocracia Oligarquia
Politéia
Democracia
Aristóteles usa o critério da quantidade, para distinguir a Monarquia
(ou governo de um só), a Aristocracia (ou governo de um pequeno
grupo) e a Politéia (ou governo da maioria). As formas podem ser
consideradas boas, quando visam o interesse comum e corrompidas,
quando têm como objetivo o interesse particular.
A tirania se refere ao governo de um só quando visa o interesse
próprio; a Oligarquia prevalece quando vence o interesse dos mais
ricos ou nobres; e a Democracia quando a maioria pobre governa em
detrimento da minoria rica.
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35. O Pensamento de Aristóteles
Aristóteles prefere a Politéia como forma correta e adequada ao
exercício do poder, porque à constatação feita de que a tensão política
sempre deriva da luta entre ricos e pobres e se um regime conseguir
conciliar esses antagonismos, torna-se mais propício para assegurar a
paz social.
Aristóteles retoma o critério já usado na Ética, o de que a virtude
sempre está no meio-termo. É o justo meio termo como equilíbrio,
como neutralidade política.
A teoria política grega está voltada para a busca dos parâmetros do
bom governo. Platão e Aristóteles envolvem-se nas questões políticas
do seu tempo e criticam os maus governos.
O que ambos concordam é que a ligação entre Ética e Política é
evidente, na medida em que a questão do bom governo, do regime
justo, da cidade boa, depende da virtude do bom governante.
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