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MONSENHOR LEFEBVRE
A LUTA É NOSSA HERANÇA
Capela Nossa Senhora das Alegrias, Vitória/ES - EDIÇÃO Nº 03 – SETEMBRO 2013
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CORAÇÃO DE FOGO
Diz-se no começo do quarto
Evangelho: Houve um homem enviado
de Deus, que tinha por nome João.
Este veio em testemunho, para dar
testemunho da Luz, para que todos
cressem por ele. Não era ele a luz,
mas veio dar testemunho da Luz.
Toda a doutrina e obras de São João
não tiveram outro fim que preparar nas
almas os caminhos de Cristo, diz
Santo Tomás. (Sum. Teol.III, c. 38 a
3). São João Batista devia dar
testemunho da luz, não dando de si a
Luz, senão sendo um reflexo
antecipado da Luz que é Cristo. Cheio
do Espírito Santo, desde o seio de sua
mãe, iluminava irradiando uma grande
luz porque Deus havia posto nele um
coração de fogo, igual o do profeta
Elias, de quem São João Batista era
herdeiro e fiel continuador. Sua alma
estava cheia desse zelo ardente de
que diz Cristo: Fogo vim lançar sobre
a terra e como quero que arda!
Todo fogo queima e ilumina. Fogo
santo e escolhido que preparava no
tempo a chegada do Fogo Eterno, o
Batista era uma tocha que ardia e
iluminava, diz Nosso Senhor. Para
isso veio, para isso existia, para arder
e iluminar, para queimar-se e para
queimar.
FORTE COMO O FOGO
Perguntava Cristo sobre São João
Batista aos judeus: Que saístes a ver?
Uma cana agitada pelo vento? Um
homem débil, inseguro, irresoluto,
cambiante? Não: um homem
forte. Porque é forte como o fogo e
terrível, inflexível, devorador,
insaciável e conquistador: tudo o
que toca o converte em si
mesmo. Por isso nesse homem de
fogo brilha a mais perfeita fortaleza.
A virtude da fortaleza tem dois atos:
atacar e resistir, sendo a resistência o
principal e mais difícil. São João
resiste a austeridade da vida no
deserto, suporta imóvel aos ataques
dos escribas e fariseus, não se deixa
arrastar pela adulação de alguns que o
tinham como o Messias, não cede
diante das ameaças dos poderosos. O
Batista não é nenhuma cana agitada
pelo vento. Tudo o contrário: ele é o
vento que agita e destroça as canas,
os carvalhos, as rochas e as
montanhas; é um vendo abrasador,
uma chama, um incêndio.
FORA DIPLOMACIAS,
AMBIGUIDADES, HIPOCRISIAS,
SIMULAÇÕES
Aos que vinham pedir seu batismo os
recebia com estas palavras: Raça de
víboras, quem os ensinou a fugir da ira
que os ameaça? Palavras de fogo.
Disse São João Crisóstomo que ao
povo falava varonil e fervorosamente,
de um modo atrevido ao rei, com
franqueza a seus discípulos. São João
Batista, direto como o fogo,
detestava a mundana diplomacia, o
linguajar ambíguo, odiava a
hipocrisia, a simulação, o
sincretismo. Vossas palavras sejam
sim sim, não não, porque o que disso
passa vem do maligno, disse Cristo.
Não conhecia os respeitos humanos e
não se calava diante de nenhum
homem se havia obrigação de dizer a
verdade.
NENHUM ACORDO, NENHUMA
TRAIÇÃO
Por isso, São João censurava
publicamente Herodes seu adultério. E
Herodes, como sabemos, o prendeu,
ainda que tivesse respeito e o ouvisse
com gosto. E mais: disse Santo Tomás
(Catena Aurea, Glosa) que Herodes o
temia, o respeitava e o protegia para
que não o matasse Herodíades.
Sendo assim, para evitar a morte,
podia ter feito São João Batista algum
tipo de acordo com Herodes. Mas não:
essa fiel tocha de Deus jamais fez
pacto ou acordo algum com a
escuridão. Havendo recebido de Deus
a missão de iluminar, iluminou até que
Deus quis, até o fim, até consumir-se
todo, até o martírio.
¡USQUE AD MORTEM!
São João, o forte, não se deixa vencer
pelas simpatias passageiras e a
inconstante benevolência de Herodes,
que sim, era uma cana agitada pelos
ventos de muitos pecados; senão que
insiste em repreender pública, frontal,
direta, inequívoca e reiteradamente ao
rei, pecador público. Não vos é lícito
ter por mulher a que é de seu
irmão. “Non licet”. Isso que fazes não
é lícito, isso que fazes está mal, isso é
um pecado, isso ofende a Deus. O
resto é história conhecida: amando
sobre todas as coisas a união da alma
P á g i n a | 2
com Deus na Verdade, terminou
dividido em dois, isto é, decapitado.
O ZELO DE TUA CASA ME
DEVORA
O zelo de tua casa me devora. O fogo
transforma em fogo ao que o toca. A
faísca divina que é a graça pode
causar um incêndio quando se deixa
atuar, tirando o impedimento do
pecado. Por isso São Paulo
demonstrou a mesma santa audácia
diante da indevida simulação do
Papa São Pedro, a quem disse essas
mesmas palavras: “non licet”: não vos
é lícito.
MONSENHOR LEFEBVRE: OUTRO
CORAÇÃO DE FOGO
Estimados fiéis: vinte séculos depois,
sendo legítimo herdeiro desse fogo,
até então sempre conservado na
Igreja de Cristo, outro coração cheio
de santa ira lançou novamente o grito
de “non licet”, dessa vez contra o
concílio que ousou batizar os
princípios maçônicos liberais. E Mons.
Lefebvre legou a Tradição, por sua
vez, esse mesmo fogo. E nosso
sagrado e primeiro dever é
conservar ardendo o fogo do
combate pela fé até o fim, quer
dizer, até a morte de cada um de
nós ou até que Roma apóstata volte
a fé católica.
SANTA VIOLÊNCIA E PACIFISMO
COVARDE
O Reino dos Céus sofre violência e
somente os violentos o arrebatam,
disse Nosso Senhor, falando do
Batista. Nós católicos jamais
devemos deixar-nos arrastar pela
corrente desse pacifismo covarde,
tão característico dos liberais,
pacifismo satânico que aspira a
compromissos adúlteros e acordos
traidores com os modernistas,
hereges destruidores da Igreja.
Disse São Paulo: Não os unais
baixo um jugo desigual com os
infiéis, pois que tem de comum a
justiça e a iniqüidade? Ou que
sociedade pode existir entre a Luz e
as trevas? Ou que acordo pode
haver entre Cristo e Belial? (2 Cor 6,
14-15. Não una o homem o que Deus
separou.
IPSA CONTERET
Que a Santíssima Virgem, destruidora
das heresias (um dia também da atual)
conserve em nossos corações o fogo
que ardeu no peito de São João
Batista e de Monsenhor Lefebvre, e
que com seu bendito pé esmague logo
a cabeça do demônio liberal e
modernista.
Sermão do Padre René Trincado, 24
de Junho de 2013.
O que deve pensar um
católico sobre o Concílio
Vaticano II? Do breviário da
FSSPX
O Concílio Vaticano II foi uma reunião
dos dois mil e quinhentos bispos de
todo o mundo durante quatro sessões,
desde outubro de 1962 a dezembro de
1965. O Papa João XXIII, em sua
alocução de abertura ao concílio
(11.10.62) declarou que sua finalidade
era que a fé católica se conservasse e
ensinasse, mas que sem recorrer a
condenações, senão fazendo um
chamado a todos os povos. O Papa
Paulo VI concorda com seu
predecessor: o Concílio Vaticano II “foi
um acontecimento importantíssimo
porque (...) antes de tudo buscou as
necessidades pastorais e,
alimentando-se na chama da caridade,
fez um grande esforço para chegar
não somente aos cristãos ainda
separados da comunhão com a Santa
Sé, senão também a toda família
humana” (breve de clausura, 8.12.65).
Os ensinamentos do Concílio e sua
interpretação por Roma
Com tais idéias, não é de se
estranhar que encontremos o
ensinamento católico apresentado de
forma débil (sem definições nem
condenações), confusa (sem
terminologia técnica nem escolástica)
e unilateral (para atrair aos não
católicos). Todo esse ensinamento
vago e ambíguo, que já é liberal em
seu método, seria interpretado em seu
verdadeiro sentido liberal depois do
Concílio.
Vejamos alguns exemplos de como
interpreta Roma (20) os
ensinamentos conciliares.
a) Sacrosantum Concilium: deve
insistir-se na liturgia da palavra (n.9),
nos aspectos da Missa como banquete
(n.10), na participação ativa do povo
(nn.11 e 14), e portanto na língua
vernácula (nn. 36 e 54); o resultado é
a Nova Missa (cfr. C5).
b) Unitatis Redintegratio: os
católicos devem orar com os
protestantes (nn. 4 e 8) o resultado é a
hospitalidade eucarística. (cfr. C8)
c) Sacrosanctum Concilium: devem
revisar-se os ritos e fórmulas de
penitência (n.72), e a Extrema Unção
deve converter-se em uma Unção de
Enfermos (nn. 73 e 75); o resultado
são a confissão cara a cara e as
absolvições gerais, e no sacramento
da Extrema Unção uma nova matéria,
uma nova forma e um novo sujeito (os
enfermos que não estão em perigo de
morte) (21)
d) Lumen Gentium: a Igreja de
Cristo subsiste em (não é) a Igreja
Católica (n.8); o resultado é que
P á g i n a | 3
também se encontra nos “irmãos
separados” (Ut unum sint, n. 11) (22).
e) Unitatis Redintegratio: A Igreja
de Cristo tem irmãos separados em
“Igrejas” [sic] separadas (n.3), que
devem ser como irmãs (n.14); e
portanto não há necessidade, por
exemplo, de converter aos
ortodoxos (23).
f) Optatam Totius: os seminaristas
devem conhecer a filosofia moderna e
o progresso da ciência (n.15), a
psicologia e a sociologia (n.20); o
resultado é que se fomenta o estudo
em universidades seculares, mas não
o do tomismo, e aparecem
espiritualidades abertas, moralidade
subjetiva, etc.
g) Gaudium et Spes: se identifica
o matrimônio com o “amor conjugal”
(nn. 48 e 50), a Igreja renuncia a todos
os privilégios que lhe outorgava o
Estado (n.76), e deseja uma
autoridade mundial (n.82); o resultado
é respectivamente, o fiasco das
nulidades matrimoniais (cfr.C8), que a
religião católica deixa de ser religião
de Estado em todo o mundo, e que se
presta um pleno apoio a Organização
das Nações Unidas.
O mesmo esquema poderíamos
repetir com todas as inovações
aprovadas.
Os erros doutrinais do Concílio
O que é ainda mais grave: o Concílio
foi sequestrado por elementos liberais
da Igreja, que desde o princípio
conseguiram o rechaço dos esquemas
preparatórios pré-conciliares
confeccionados para sua discussão, e
os substituíram por outros esquemas
progressistas redigidos por seus
próprios “experts”. (Os liberais também
conseguiram introduzir seus membros
nas comissões). Os novos esquemas,
aprovados como decretos,
constituições e declarações do
Concílio, continham, mais ou menos
explicitamente, erros doutrinais pelos
quais os liberais haviam sido
condenados no passado.
Tomemos como exemplos as
seguintes passagens do Concílio e
comparemo-las com a doutrina
católica:
a) Gaudium et Spes: o homem é
“a única criatura terrestre a que Deus
amou por si mesmo” (n.24), idéia
oposta a “tudo fez Javé para seu fim”
(Prov. 16, 4); “todos os bens da terra
devem ordenar-se em função do
homem” (n.12), sem mencionar que a
finalidade é servir-lhe de ajuda para
salvar sua alma; “o Filho de Deus com
sua
encarnação se
uniu em certo
modo com todo
homem” (n.22),
quando o
Concílio de
Éfeso fala de
que Deus
assumiu uma natureza humana
individual (Denz. 114); “a natureza
humana (...) foi elevada também em
nós a dignidade sem igual” (n.22),
invés de “pouco menor que os anjos
os fizeste” (Sl. 8,6); fala da “excelsa
dignidade da pessoa humana” (n.26),
que só existe em quem vive
honestamente (Ap. 3, 4); e afirma
“seus direitos e deveres universais e
invioláveis” (n.26), quando a quem
desperdiçasse seus talentos lhe
seriam tirados (Lc 19, 24).
b) Dignitatis Humanae: “Este
Concílio Vaticano declara que a
pessoa humana tem direito a liberdade
religiosa. Essa liberdade consiste em
que todos os homens estejam imunes
de coação (...) de qualquer potestade
humana, e isso de tal maneira, que em
matéria religiosa nem se obrigue a
ninguém a fazer contra sua
consciência nem se lhe impeça que
atue conforme ela (...) dentro dos
limites devidos (...) Esse direito da
pessoa humana a liberdade religiosa
deve ser reconhecido no ordenamento
jurídico da sociedade, de forma que
chegue a converter-se em um direito
civil” (n.2); porém, a doutrina católica
condena as seguintes proposições: “a
liberdade de consciência e de cultos é
um direito livre de cada homem, que
deve ser proclamado e garantido
legalmente em todo Estado bem
constituído (...) o melhor governo
é aquele no qual não se
reconhece o poder político a
obrigação de reprimir com
sanções peais aos violadores da
religião católica, salvo quando a
tranqüilidade pública assim o
exija” (Pio IX, Quanta Cura, n.3).
c) Unitatis Redintegratio: “o
espírito de Cristo não recusou servir-
se delas [das igrejas e comunidades
separadas] como de meio de
salvação” (n.3), contra P2.
d) Ad Gentes: “promova-se a ação
ecumênica de forma que (...) os
católicos colaborem fraternalmente
com os irmãos separados (...) na
comum profissão possível da Fé em
Deus e em Jesus Cristo diante das
nações” (n.15), contra P7.
e) Nostra Aetate: “A igreja
Católica não rechaça nada do que
P á g i n a | 4
nestas religiões [não cristãs] haja de
santo e verdadeiro. Considera com
sincero respeito os modos de obrar e
de viver” (n.2), enquanto que as
Sagradas Escrituras dizem que “todos
os deuses dos povos são demônios”
Sl. 95, 5) e “não aprenderás a imitar as
abominações daquelas nações” (Deut.
18, 9).
f) Lumen Gentium: “a ordem dos
bispos (...) junto com sua cabeça, o
Romano Pontífice, e nunca sem essa
cabeça, é também sujeito da suprema
e plena potestade sobre a universal
Igreja” (n.22), contra P4; e “a
consagração episcopal, junto com o
ofício de santificar, confere também o
ofício de ensinar e reger” (n.21), contra
a doutrina da Igreja segundo o qual a
“dignidade episcopal depende
imediatamente de Deus em quanto ao
poder de ordem, e da Sede Apostólica
em quanto ao poder de jurisdição” (Pio
VI, Deessemus Nos).
O Concílio mesmo anima as
tendências liberais (e seu impulso se
converterá na política vaticana pós-
conciliar) e se separa do ensinamento
católico tradicional. Mas não tem
autoridade para nenhuma das duas
coisas (P5 e P6). Nossa posição deve
ser: “nos negamos e temos negado
sempre a seguir a Roma de tendência
neomodernista e neoprotestante que
se manifestou claramente no Concílio
Vaticano II e depois do Concílio em
todas as reformas que dele
surgiram. 24
E em torno dessas tendências
neomodernistas gira todo o
Concílio. 25
Foi infalível o Concílio Vaticano II?
Não por razão do magistério
extraordinário, posto que rejeitou
definir. O mesmo Papa Paulo VI, em
audiência de 12.1.66, disse que “havia
evitado proclamar de forma
extraordinária dogmas dotadas de
nota de infalibilidade” 26.
Nem por razão do magistério universal
ordinário, porque esse consiste na
maravilhosa uniformidade dos
ensinamentos dos bispos dispersos
por todo o mundo (e não quando estão
reunidos, em que possam ser objeto
de grupos de pressão) 27 e não é um
poder para definir, senão para ratificar
o que sempre se creu. A
universalidade em questão não é
somente de lugar (todos os bispos)
senão também de tempo (sempre): cfr.
Vaticano I se P6.
Nem por razão do magistério
simplesmente autêntico 28, porque o
objeto de todo magistério é o depósito
da fé, que deve ser santamente
custodiado e fielmente exposto
(Vaticano I, Denz, 1836), e não a
adoção como doutrina católica de “os
melhores valores de dois séculos de
„cultura liberal‟”, ainda que tenham
sido “purificados” (Card. Ratzinger,
Gesú, Nov. 1984, pág. 72; cfr.
Gaudium et Spes, nn. 11 e 44).
E assim, esse Concílio foi “ecumênico”
mais no sentido moderno de apelar ao
sentimento religioso de todos os
povos, que no sentido tradicional de
representar a toda a Igreja docente.
20. Outra história é como se
interpretam as diretrizes nas
paróquias.
21. Afeta tudo isso “a substância dos
sacramentos” sobre a qual a Igreja
não tem poder (cfr. Pio XII em P5)?
22. Ut unum sint é a encíclica de João
Paulo II sobre o ecumenismo
(25.5.95).
23. Cfr. A comissão Internacional
Conjunta para o Diálogo Teológico
entre a Igreja Católica e a Igreja [sic]
Ortodoxa, em Balamand (Líbano),
17/24.6.93
24. Declaração de 21.11.74, cfr.
Apêndice I.
25. “O Papa João Paulo II faz não por
certo da Sagrada Escritura, senão do
acontecimento de Assis, o „schibbolet‟
[sinal, cfr. Juec. 12, 5] da correta
„compreensão da correta
„compreensão do Concílio‟”, Johannes
Dörmann, O itinerário teológica de
João Paulo II, Fundação São Pio X,
Buenos Aires 1994, cap. II, pág. 48.
26 Cfr. La declaración de la Comisión
Teológica del 6.3.64, repetida por el
Secretario General del Concilio a
16.11.64: “dada o costume conciliar e
o propósito pastoral do presente
Concílio, este Sagrado Sínodo só
define as matérias de fé e moral como
obrigatórias na Igreja quando o
mesmo declare abertamente”. Nunca o
fez.
27 Église et Contre-Église au Concile
Vatican II, Courrier de Rome, 1996,
pág. 255.
28 Ibid., pág. 287.
29 Acta Apostolicae Sedis (LXX),
págs. 920 e ss.
Tradução: Capela Nossa Senhora das
Alegrias - Vitória/ES - Observações à
Tradução:capela@nossasenhoradasal
egrias.com.brFonte: Retirado do
Breviário sobre a Fraternidade São Pio
X
Deixar Maria atuar, do livro
Fundamentos e práticas da
vida mariana.
Em vários capítulos
descrevemos a prática “por Maria”,
quer dizer, a vida de dependência
e docilidade para com a
Santíssima Virgem Maria.
Nos mostramos
dependentes dessa divina Mãe e
Senhora: submetendo-nos aos
preceitos e aos conselhos de seu
Jesus, obedecendo de fato, de
coração e de espírito à autoridade
legítima, aceitando docilmente as
disposições da Providência sobre
nós.
Também dependemos
dEla pela fidelidade às inspirações
da graça, que não são somente as
de Deus e de Cristo, senão
também as da Mediadora de todas
as graças.
Fazer tudo o que Ela nos
pede pela graça, evitar o que pela
P á g i n a | 5
graça Ela nos desaconselha: esse
é nosso propósito.
Parece-nos indubitável
que nessa ordem de coisas há
algo melhor que fazer, algo mais
elevado ainda, quer dizer, segundo
o conselho de Montfort, deixar
Maria agir em nós.
Todos os nossos leitores
não estão igualmente capacitados
para compreender as explicações
que vem a seguir e aplicá-las em
sua vida. E, por outro lado, talvez
sejam poucos os leitores que
tenham necessidade dessas luzes
e tirem delas grande proveito. Não
devemos esquecer que as práticas
interiores da perfeita Devoção, tal
como as propõe Montfort, mais
além da ascética ordinária,
abrangem o campo da mística
propriamente dita.
Depois de uma fervorosa
oração, repassemos lentamente,
pausadamente, alguns textos
preciosos de nosso Pai.
“Devemos deixar-nos
conduzir pelo espírito de Maria –
nos diz -, e para isso é necessário:
1º Renunciar ao próprio
espírito, às próprias luzes e
vontades antes de fazer alguma
coisa: por exemplo, antes de fazer
oração, rezar ou ouvir Missa,
comungar, etc...
2º É necessário entregar-
se ao espírito de Maria, para ser
movidos e conduzidos por ele
da maneira que Ela quiser. É
preciso colocar-se e abandonar-
se em suas mãos virginais,
como um instrumento nas mãos
do operário, como um alaúde
nas mãos de um bom menestrel.
É preciso perder-se e abandonar-
se nEla, como uma pedra que se
lança ao mar”. (Verdadeira
devoção, nº259)
Em “O Segredo de Maria”,
o Santo diz tudo isso de maneira
ainda mais clara e formal: “Antes
de começar qualquer coisa, é
preciso renunciar a si mesmo e às
próprias vistas, por mais
excelentes que sejam; é
necessário aniquilar-se ante Deus,
como sendo incapaz por si mesmo
de todo bem sobrenatural e de
toda ação útil para a salvação; é
necessário recorrer à Santíssima
Virgem, unir-se a Ela e a suas
intenções, ainda que nos sejam
desconhecidas; é necessário unir-
se, por Maria, às intenções de
Jesus Cristo, ou seja, colocar-se
como um instrumento nas mãos
da Santíssima Virgem, a fim de
que Ela opere em nós, e faça de
nós e por nós quanto lhe
agrade, para a maior glória de seu
Filho Jesus Cristo, e por seu Filho
Jesus Cristo à glória do Pai: de
modo que não tenhamos vida
interior nem operação espiritual
que não dependa dEla”. (Segredo
de Maria, nº 46)
Para a ação de graças
depois da sagrada Comunhão,
Montfort dá um conselho que
podemos aplicar a todas nossas
ações, e sobretudo a nossos
exercícios de piedade: “Lembre-se
que quanto mais deixes atuar
Maria em tua Comunhão, tanto
mais glorificado será Jesus; e
tanto mais deixarás agir Maria
para Jesus, e a Jesus em Maria,
quanto mais profundamente te
humilhes, e os escute em paz e
silêncio, sem trabalhar para ver,
gostar nem sentir...” (Verdadeira
devoção, nº 273)
E em seus conselhos
práticos, nosso Pai dirige à alma
um aviso, que o Cardeal Mercier,
de grande e santa memória, devia
fazer seu solenemente: “Guarda-
te, alma predestinada, de crer que
seja mais perfeito ir diretamente a
Jesus, diretamente a Deus; tua
operação, tua intenção, será de
pouco valor; mas indo por Maria, é
a operação de Maria em ti, e por
conseguinte será muito elevada e
muito digna de Deus”. (Segredo de
Maria, nº 50)
Certamente que Montfort,
em suas orações, não teria pedido
algo excêntrico e impossível.
Agora sim, em uma oração
admirável, suplica a Nossa
Senhora “que se faça a Dona
absoluta de seu poder; que
destrua, e arranque, e aniquile
tudo o que desagrada a Deus, e
plante, e cultive, e realize tudo que
lhe agrade”. E prossegue logo:
“Que a luz de vossa fé dissipe as
trevas de meu espírito; que vossa
humildade profunda substitua meu
orgulho..., que o incêndio da
caridade de vosso Coração dilate
e abrase a tibieza e a frieza do
meu... Enfim, minha queridíssima
e amantíssima Mãe, fazei, se for
possível, que não tenha outro
espírito mais que o vosso para
conhecer a Jesus e suas divinas
vontades; que não tenha outra
alma mais que a vossa para louvar
e glorificar o Senhor; que não
tenha outro coração mais que o
vosso para amar a Deus com um
amor puro e ardente como
Vós”. (Oração a Maria)
„“Que ditosa é uma alma”,
exclama Montfort – e terminamos
com isso a longa série de citações,
necessárias para o entendimento
do tema que nos ocupa –
“quando... está totalmente
possuída e governada pelo espírito
de Maria...!”. (Verdadeira devoção,
nº258)
Estamos convencidos de
que se possa dar uma explicação
teológica rigorosa desses textos
notáveis e reconfortantes, e de
outros semelhantes que se
referem à influência que a
Santíssima Virgem exerce sobre
nós pela graça. Pois não se deve
esquecer que Montfort, que não
escreveu com o aparato científico
de costume, era no entanto um
mariólogo de primeira ordem,
como hoje em dia se reconhece de
maneira bastante geral.
Uma explicação científica
não estaria aqui em seu lugar. Nos
limitaremos a descrever as
atitudes práticas que teremos que
adotar, seguindo o conselho de
Montfort.
Fazemos, porém, uma
observação teórica, accessível a
todo mundo.
Sabemos que a graça
atual é dupla. Antes de tudo é
preventiva e excitante, quer
dizer, que ela previne nossa
decisão e nos empurra a atuar em
um sentido ou outro.
Se damos nosso
consentimento a esta graça
preventiva e excitante, nos é
comunicado então outra graça –
ou a mesma, segundo outros, mas
sob outra forma distinta -, a graça
elevante e cooperante. Graça
elevante, porque é uma influência,
uma ação divina, exercida em
nossas potências para fazê-las
P á g i n a | 6
capazes de realizar atos de
maneira imediata, elevados por
cima de nossas faculdades de
ação humana, sobre humanos,
sobrenaturais, em certo sentido
divinos. Graça cooperante,
porque colabora conosco para
realizar esse ato sobrenatural.
A ação realizada desse
modo, sob a influência da graça
cooperante, será produzida por
nós, está claro; mas procederá
também, e mais, da graça,
segundo a palavra de São Paulo:
Trabalhei.., não eu, senão a graça
de Deus comigo” (I Cor 5,10). Isso
pode-se dizer de toda ação
realizada sob a influência da
graça. (Nota)
Nota: em uma exposição magistral do
catecismo, um autor holandês, Potters,
disse muito justamente o seguinte: “O
principio de nossas obras
sobrenaturalmente boas não é a livre
vontade somente, nem a graça
somente, senão conjuntamente a
vontade livre e a graça… De fato, se
uma obra procedesse somente da
livre vontade, não seria sobrenatural; e
se procedesse somente da graça, não
seria livre nem humana.”
Uma coisa é certa, e é
que, quando cooperamos com a
graça, quer dizer, com Deus, para
produzir um ato sobrenatural, não
podemos nos colocar, desde o
ponto de vista da casualidade e da
influência, no mesmo pé de
igualdade que Deus na produção
desse ato sobrenatural. Pois não
podemos atuar sobrenaturalmente
senão na medida em que somos
empurrados, ajudados e elevados
pela graça. A graça deve ser
considerada aqui como a causa
principal, e nós, como causa
consciente e livre, é certo, mas
subordinada e secundária.
Agora bem, lembremos
que a Santíssima Virgem é
mediadora de todas as graças, da
graça elevante e cooperante como
da graça preventiva e excitante. A
respeito dessa graça elevante e
concomitante, nossa divina Mãe
exerce, depois de Deus e de
Jesus, a múltipla influência que
temos descrito anteriormente; Ela
no-la destina, pede-a por nós e
também no-la aplica como
“Administradora principal da
distribuição das graças” (São Pio
X). Na medida em que a
Santíssima Virgem é princípio e
causa subordinada da graça, Ela é
também, por debaixo de Deus e de
Cristo, o princípio de nossas ações
sobrenaturais. E assim podemos
aplicar, à Santíssima Virgem, o
que São Paulo afirma da graça de
Deus: “Trabalhei... mas não eu,
senão a graça de Maria comigo".
À luz destas verdades, as
palavras de Montfort adquirem um
significado claro, impressionante e
profundo: “É necessário... colocar-
se nas mãos da Santíssima
Virgem, a fim de que Ela opere em
nós, e faça de nós e por nós
quanto lhe agrade”.
Compreendemos assim
que há algo de mais importante
ainda que atuar segundo o gosto
de Nossa Senhora, é deixá-la
atuar, deixá-la fazer em nós e por
nós tudo o que lhe agrade.
Desse modo chegamos a
falar da passividade que, em certo
sentido e em certa medida,
devemos contribuir para o
exercício da vida espiritual, e em
particular da vida mariana.
Desde agora pedimos a
nossos leitores que façam o que o
Padre Poppe, segundo o
ensinamento de Montfort,
recomendava tão freqüentemente
e praticava tão fielmente para si
mesmo: colocar-se, ao começo e
no curso de suas ações, sobretudo
de seus exercícios de piedade,
dócil e profundamente submisso à
influência santificante da
Mediadora de todas as graças, e
entregar-se e abandonar-se a sua
ação benéfica.
Nosso grande e querido
Santo e seu fiel discípulo estão de
acordo em avisar-nos que, se
nesse ato não encontramos
nenhuma doçura ou consolo
sensível, não deixa por isso de ser
verdadeiro e de produzir seu
efeito, que é facilitar em nossa
alma a operação santificadora do
Espírito Santo de Deus e de sua
puríssima e indissolúvel Esposa,
Maria.
A modéstia católica,
excertos.
A modéstia no vestuário é um grave e
sempre atual assunto a se tratar.
Desprezar os padrões tradicionais de
vestir é desprezar a Igreja, desprezar
Nossa Senhora e desprezar a Deus.
Os sacerdotes estão obrigados pela
Igreja a falarem sempre que puderem
desse tema, alertando os fiéis,
formando-os e, sobretudo livrando-os
do pecado que mais leva as almas
para o inferno, o da carne, que sem
dúvida, nasce da indecência e
imoralidade dos vestidos. E desse
assunto, não nos cansaremos de falar,
quer agrade, quer desagrade.
Abaixo alguns excertos sobre o
assunto:
“A mulher não se vestirá de homem,
nem o homem de mulher; aquele
que o fizer, será abominável diante
do Senhor seu Deus.” (Dt 22,5)
“Virão umas modas que
desagradarão muito a nosso
Senhor. As pessoas que servem a
Deus não devem andar com a moda.
A Igreja não tem modas.” Nossa
Senhora em Fátima, a Jacinta Marto, 1917.
“Recordamos que um vestido não
pode ser chamado de decente se é
cortado mais que a largura de dois
dedos sob a cova da garganta, se
não cobre os braços pelo menos até
os cotovelos, e se mal chega até um
pouco abaixo dos joelhos. Além
disso, os vestidos de materiais
transparentes são impróprios.”
Instrução sobre a modéstia dada no dia 4
de setembro de 1928, pelo Cardeal Cardeal
Basilio Pompili, Vigário do Papa Pio XI.
Fonte: Livro “Dressing with Dignity” de
Collen Hallmond.
“O uso de vestes masculinas por
parte das mulheres afeta
primeiramente à própria mulher,
causado pela mudança da
psicologia feminina própria da
mulher; em segundo lugar afeta a
mulher como esposa do seu
marido, por tender a viciar a relação
entres os sexos; e em terceiro lugar
como mãe de suas crianças, ferindo
sua dignidade ante seus olhos.”
Notificação concernente às mulheres que
vestem roupas de homem, Cardeal Siri, 12
Junho de 1960.
P á g i n a | 7
“Quando vemos uma mulher de
calça, nós deveríamos pensar não
tanto nela, mas em toda a
humanidade, de como será quando
todas as mulheres se masculinizem.
Ninguém ganhará ao tratar de levar
a cabo uma futura época de
imprecisão, ambigüidade,
imperfeição e, em uma palavra,
monstruosidade”. Notificação
concernente às mulheres que vestem
roupas de homem, Cardeal Siri, 12 Junho
de 1960.
Em 1928, o Papa Pio XI, escreveu:
“Há um esquecimento triste da
modéstia cristã, especialmente
na vida e no vestuário da
mulher”. (Carta Encíclica Redemptor
Miserentissimus.)
“Ó mães cristãs, se vocês
soubessem o que um futuro de
ansiedades e perigos, de dúvidas
depressivas, de mal suprimida
vergonha vocês preparam para
seus filhos e filhas, deixando-os
imprudentemente acostumados a
viver escassamente vestidos e fazê-
los perder o senso de pudor, vocês
teriam vergonha, e temeriam o dano
que vocês estão causando a vocês
mesmas, os danos que vocês estão
causando a essas crianças, a quem
o Céu confiou a vocês para serem
educadas como cristãs”. (Alocução às
Meninas da Ação Católica, 22 de maio de
1941.)
“Os homens devem sempre vestir
uma camisa para praticar
exercícios, e shorts* não devem ser
usados em público, mas só serão
utilizados para o esporte, e não
devem ser muito curtos ou muito
apertados.” O Padrão Católico de
Vestimenta para o Homem, Padre Peter
Scott, FSSPX.
“Por desejo explícito do Padre Pio,
a mulher deve entrar no
confessionário vestindo saias, pelo
menos, vinte centímetros abaixo do
joelho. É proibido emprestar um
vestido longo na igreja para usá-lo
no confessionário.” Porta da Igreja
onde celebrava a Santa Missa o Padre Pio.
“Donzelas e mulheres vestidas
indecentemente estão impedidas de
comungar e de atuar como
madrinhas nos sacramentos do
Batismo e da Confirmação, ainda,
se o delito for extremo, podem
mesmo ser proibidas de entrar na
igreja.” Sagrada Congregação do
Concílio, 12 de Maio de 1930, por
despacho de Pio XI.
“Agora, muitas meninas não vêem
nada de errado em seguir certos
estilos desavergonhados, assim
como muitas ovelhas. Elas
certamente enrubesceriam se
pudessem adivinhar a impressão
que elas causam e os sentimentos
que despertam em quem as vê”.(Pio
XII, Alocução às Filhas de Maria Imaculada,
17 de julho de 1954.)
“A fim de destruir o catolicismo, é
necessário começar por suprimir a
mulher… Mas já que nós não
podemos suprimir a mulher, vamos
corrompê-las com a Igreja…”(Carta
de Vindez para Nubius, nomes de guerra
de dois líderes da Alta Vendita, a maior loja
da Carbonari italiana, os revolucionários
maçons, 9 de agosto de 1838.)
“As calças das mulheres são uma
parte vital, talvez a ruptura
essencial, do feminismo.” A modéstia
feminina por D. Williamson.
“Quando as atividades propostas a
você exijam o uso de calças, se for
algo que a sua bisavó fez, então
encontre uma maneira de fazê-lo,
como ela, usando saia. E se a sua
bisavó não fez isso, então
esqueça!” A modéstia feminina por D.
Williamson.
“É claro que nem todas as mulheres
que usam calças abortam o fruto de
seu ventre, mas todas ajudam a
criar a sociedade abortiva. Antigo é
bom, moderno é suicida. Querem
parar o aborto? Façam-no pelo
exemplo. Nunca usem calças ou
shorts. O Bispo de Castro Mayer
estava certo.” A modéstia feminina por
D. Williamson.
*
Nós somos então intolerantes,
exclusivos em matéria de doutrina;
disto fazemos profissão;
orgulhamo-nos da nossa
intolerância. Se não o fôssemos, não
estaríamos com a verdade, pois que a
verdade é uma, e conseqüentemente
intolerante. Filha do céu, a religião
cristã, descendo à terra, apresentou os
títulos de sua origem; ofereceu ao
exame da razão fatos incontestáveis, e
que provam irrefutavelmente sua
divindade. Ora, se ela vem de Deus,
se Jesus Cristo, seu autor, pode dizer:
Eu sou a verdade: Ego sum veritas, é
necessário, por uma conseqüência
inevitável, que a Igreja Cristã conserve
incorruptivelmente esta verdade tal
qual a recebeu do céu; é necessário
que repila, que exclua tudo o que é
contrário a esta verdade, tudo o que
possa destruí-la. Recriminar à Igreja
Católica sua intolerância dogmática,
sua afirmação absoluta em matéria de
doutrina, é dirigir-lhe uma recriminação
muito honrosa. É recriminar à
sentinela ser muito fiel e muito
vigilante, é recriminar à esposa ser
muito delicada e exclusiva.Excertos
do sermão pregado em Chartres,
pelo Cardeal Pie, em 1841.
Pincelada na atualidade.
Trechos de uma entrevista para
a Civiltà Católica. Como está a
Fé do Papa?
“Comentando uma minha publicação,
disse-me [o Papa, nota] que os seus
dois pensadores franceses
contemporâneos prediletos são Henri
de Lubac e Michel de Certeau.”
“O Vaticano II foi uma releitura do
Evangelho à luz da cultura
contemporânea. Produziu um
movimento de renovação que vem
simplesmente do próprio
Evangelho. Os frutos são enormes.
Basta recordar a liturgia. O trabalho da
reforma litúrgica foi um serviço ao
povo como releitura do Evangelho a
partir de uma situação histórica
concreta. Sim, existem linhas de
hermenêutica de continuidade e de
descontinuidade. Todavia, uma coisa é
clara: a dinâmica de leitura do
Evangelho no hoje, que é própria do
Concílio, é absolutamente
irreversível...”
“Se o cristão é restauracionista,
legalista, se quer tudo claro e
seguro, então não encontra nada. A
tradição e a memória do passado
devem ajudar-nos a ter a coragem de
abrir novos espaços para Deus. Quem
hoje procura sempre soluções
disciplinares, quem tende de modo
exagerado à “segurança” doutrinal,
quem procura obstinadamente
P á g i n a | 8
recuperar o passado perdido, tem uma
visão estática e involutiva. E desse
modo a fé torna-se uma ideologia
entre tantas.
O Papa nesse momento levanta-se e
vai buscar o breviário à sua
escrivaninha. É um breviário em Latim,
já muito gasto pelo uso. Abre-o no
Ofício de Leitura da Feria sexta, isto é,
sexta-feira da XXVII semana. Lê-me
uma passagem tirada
do Commonitorium Primum de São
Vicente de Lérins: ita etiam christianae
religionis dogma sequatur has decet
profectuum leges, ut annis scilicet
consolidetur, dilatetur tempore,
sublimetur aetate”.
São Vicente de Lérins faz a
comparação entre o desenvolvimento
biológico do homem e a transmissão
de uma época à outra do depositum
fidei, que cresce e se consolida com o
passar do tempo. Cá está: a
compreensão do homem muda com o
tempo e assim também a consciência
do homem aprofunda-se. Pensemos
no tempo em que a escravatura era
aceita ou a pena de morte era
admitida sem nenhum problema.
Assim, cresce-se na compreensão da
verdade. Os exegetas e os teólogos
ajudam a Igreja a amadurecer o
próprio juízo. Também as outras
ciências e a sua evolução ajudam a
Igreja nesse crescimento na
compreensão. Existem normas e
preceitos eclesiais secundários que
noutros tempos eram eficazes, mas
que agora perderam valor ou
significado. Uma visão da doutrina da
Igreja como um bloco monolítico a
defender sem matizes é errada».
«O homem está à procura de si
mesmo, e, obviamente, nesta procura
pode também cometer erros. A Igreja
viveu tempos de genialidade, como,
por exemplo, o do tomismo. Mas viveu
também tempos de decadência de
pensamento. Por exemplo, não
podemos confundir a genialidade do
tomismo com o tomismo decadente.
Eu, infelizmente, estudei a filosofia
com manuais de tomismo decadente.
No pensar o homem, portanto, a Igreja
deveria tender à genialidade, não à
decadência».
«Rezo o Ofício todas as manhãs.
Gosto de rezar com os Salmos.
Depois, a seguir, celebro a Missa.
Rezo o Rosário. O que
verdadeiramente prefiro é a Adoração
vespertina, mesmo quando me distraio
e penso noutra coisa ou mesmo
quando adormeço rezando. Assim, à
tarde, entre as sete e as oito, estou
diante do Santíssimo durante uma
hora, em adoração. Mas também rezo
mentalmente quando espero no
dentista ou noutros momentos do dia».
Uma nova religião?
Pelo Rev. Padre Calderón
Parte A
A religião é o conjunto de disposições
e atos pelos quais se rende culto a
divindade. A religião é verdadeira
quando se rende culto ao Deus
verdadeiro do modo devido. O fim,
então, da religião verdadeira é o Deus
Uno e Trino, e o modo devido é por
meio de Jesus Cristo, “porque não há
debaixo do céu outro nome dado aos
homens pelo que nós devemos ser
salvos” (Atos 4, 12).
Dada a profundidade das mudanças
introduzidas pelo Concílio Vaticano II
na religião católica, pode-se dizer que
ele instaurou uma nova religião? A
mudança a uma nova religião poderia
dar-se se se estabelece um modo
substancialmente novo de render culto
ao Deus verdadeiro: o pior, se o culto
se dirige a um ídolo em lugar de Deus.
Primeiro consideraremos o modo da
religião do Concílio, para logo poder
responder a segunda questão.
A religião verdadeira se
denomina cristã porque rende culto a
Deus por meio de Jesus Cristo. Nosso
Senhor Jesus Cristo é o único
mediador, estabelecido por Deus
como Sumo e Eterno Sacerdote; a
ação pela qual se rendeu o culto
devido foi seu Sacrifício; e os homens
devem unir-se a sua religião pela fé na
Revelação e pelos sacramentos. Para
julgar, então, se o Concílio mudou
substancialmente o modo de nossa
religião, estudaremos estes
elementos, começando pela
Revelação. Portanto, quatro questões
se oferecem nossa consideração:
A. Que entende o Concílio sobre
a Revelação.
B. Que relação guardam os
Sacramentos com o Sacrifício
segundo o novo Mistério
Pascal.
C. Que termina sendo Jesus
Cristo para o Concílio.
D. Se o Concílio segue
rendendo culto a Santíssima
Trindade.
REVELAÇÃO E TRADIÇÃO
SEGUNDO O CONCÍLIO
O homem, individualmente e
socialmente na Igreja, se une a obra
da Redenção levada a cabo por Jesus
Cristo pela fé e pelos sacramentos; e
dessa maneira rende a Deus o culto
de glorificação que lhes é devido e
alcança, por sua vez, sua própria
salvação:
- A fé na Revelação –
revelação completada pelo mesmo
Verbo encarnado – é, por sua vez, a
disposição fundamental da alma para
que Jesus Cristo nos leve a plena
Verdade, fim último do homem, e a
substancia do culto, porque por ela se
faz a Deus o obséquio da inteligência.
Por isso pode dizer-se, com Santo
Tomás, que o culto cristão consiste,
em resumo, na própria profissão de fé.
- Os sacramentos são sinais
instituídos por Jesus Cristo, que tem
também a dupla finalidade de
santificação e culto, pois infundem
eficazmente a graça nas almas – ex
opere operato, isto é, por virtude do
rito mesmo cumprido e não por virtude
do ministro que o cumpre – para levá-
las a plenitude da Vida, e constituem o
meio pelo qual os homens podem unir-
se ao mesmo culto da religião do
verbo encarnado.
“O Verbo se fez carne e
habitou entre nós, cheio de graça e de
verdade, e de sua plenitude todos
recebemos” (Jo 1). Recebemos, então,
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a verdade pela fé e a graça pelos
sacramentos.
O novo humanismo do
Vaticano II semeou, nos documentos
conciliares, as sementes de mudanças
muito profundas na maneira de
entender a santificação e o culto
cristãos, os quais deram seus frutos
com as reformas posteriores. Olhando
os frutos, distinguiram as sementes
nos textos.
Consideraremos, então,
nesse ponto, como entende o Concílio
a Revelação e sua transmissão até
nós pela Tradição. O lugar da
Eucaristia e dos demais sacramentos
o consideraremos no próximo ponto, a
tratar do Mistério Pascal (237).
REVELAÇÃO “PELA PALAVRA”, NÃO
POR PALAVRAS
1º O objeto da Revelação
O subjetivismo conciliar –
falamos no segundo capítulo –
considera toda formulação conceitual
como um produto humano,
dependente da cultura e da história,
inadequado para expressar a
realidade (tanto natural como
sobrenatural). Dali que falará sempre
da Revelação divina como
manifestação misteriosa de uma
realidade (verdade ontológica) e nunca
como comunicação de proposições
verbais (verdade lógica), o que seria
sempre algo humano. O objeto, então,
da Revelação é uma “res oculta”, uma
coisa misteriosa e não uma doutrina.
Ao tratar do objeto da
Revelação, disse a Dei Verbum: Quis
Deus, com sua bondade e sabedoria,
revelar-se a Si mesmo e manifestar o
mistério de sua vontade”; o que
“transmite a dita revelação” é “a
verdade profunda [ -> ontológica] de
Deus e da salvação do homem” n.2.
Mas qual é mais propriamente o
conteúdo da Revelação, o
discutiremos logo, no último ponto. Dei
Verbum se detém mais no modo que
no objeto da Revelação.
2º O meio
O humanismo católico – como
dissemos também – nega, com todo o
pensamento moderno, a
universalidade dos conceitos para
conservar a liberdade de opinião; mas
para manter a linha média, nega
também o subjetivismo puro e
sustenta, contra vento e maré, que é
possível passar “do fenômeno ao
fundamento”, quer dizer, do que o
homem percebe em sua subjetividade
a realidade que cobre a dita
percepção. A teologia nova privilegiou
a solução que lhe oferecia a noção de
“sacramento-mistério” por seus ares
tradicionais: o fenômeno é
“sacramento”, isto é, um sinal sensível
que faz eficazmente presente seu
fundamento; e o fundamento é
“mistério”, quer dizer, realidade oculta
que se manifesta a meias pela
experiência de seu sinal sacramental,
que é como sua “palavra”. Ainda que
nem tudo se resolva com isso e ficam
vários cabos soltos (238).
Para a Constituição Dei
Verbum, Jesus Cristo é o Sacramento
que manifesta o Mistério. É verdade
que não aplica a Jesus Cristo o novo
termo “Sacramento” senão o
tradicional “palavra”, mas se a quer
entender, saiba-se que esse é o
conceito. A revelação não seria por
muitas palavras que significam
proposições doutrinais (verdades
lógicas), senão por uma única palavra,
para a qual “significar” é fazer
presente o mistério de Deus (verdades
ontológicas). Jesus Cristo não haveria
vindo a completar a doutrina revelada,
senão que Ele mesmo é a Revelação,
em sua pessoa, feitos e palavras:
“Quem vê a Jesus Cristo, vê o Pai;
Ele, com sua presença e
manifestação, com suas palavras e
obras, sinais e milagres, sobretudo
com sua morte e gloriosa ressurreição,
com o envio do Espírito de verdade,
leva a plenitude toda a revelação (n.4).
É claro que é católico dizer
que Jesus Cristo é a revelação de
Deus, mas também é preciso dizer
que essa revelação se traduz em
proposições doutrinais. Porque senão,
que acontece com os fatos que não
vimos e que somente temos para crer
o que nos dizem dEle? Pois de nós
disse Jesus Cristo: “Beati qui non
viderunt et crediderunt, bem
aventurados os que não viram e
creram” (Jo 20, 29).
Padre Calderón, em PROMETEO.
Notas: 237. No que segue não nos referiremos
a posição de nenhum teólogo moderno em
particular (nem a “estranha teologia” de João
Paulo II, como tampouco as reflexões mais
particulares de Bento XVI) porque, como já
dissemos, as exposições mais pessoais se
fazem muito intrincadas e não deixam de ser
isso: teologias pessoais. De maneira que se
um as refuta, não refutou mais que uma
pessoa. Tratamos de descobrir as linhas
gerais das exposições doutrinais de linha
média, quer dizer, das que pretendem
conservar uma suposta continuidade com a
Tradição, que foi certamente a intenção que
anima os documentos oficiais conciliares e
pós-conciliares.
238. Por isso disse João Paulo II em Fides et
ratio n.83: “Um grande desafio que temos no
fim deste milênio é o de saber realizar o
passo, tão necessário como urgente, do
fenômeno ao fundamento”.
AOS CATÓLICOS,
CONSELHOS DO ANO DE
1933.
Infelizmente, a por aí muitos católicos
que sabemos serem tais pelos que
eles dizem e por meia dúzia de atos
praticados por mero cumprimento, por
simples cerimônia ou conveniência,
com desmazelo e lastimosa
indiferença.
CUMPRI PELO MENOS VOSSAS
OBRIGAÇÕES DE CATÓLICOS.
Católicos em avultado número vivem
no pecado a maior parte do ano, muito
despreocupados, sem que isso lhes dê
cuidado. Muitíssimos são de uma
credulidade fantástica em se tratando
de cartomantes, de ocultistas, de
espiritistas, de bruxarias,
supersticiosos e puerilmente crédulos
também quando se trata de cartas cuja
transcrição se lhes pede sob pena de
atraírem sobre si graves desgraças,
etc.
Esses crêem no que lhes parece e não
somente ignoram a sua religião, a
respeito da qual estão sempre prontos
a alimentar dúvidas e erros, senão que
ainda fazem disso alarde, gloriando-se
de tolerantes com todas as opiniões,
de não ligarem importância as
diversas doutrinas, por mais
extravagantes que sejam e entre si
contraditórias, de se não
escandalizarem de coisa alguma.
Envergonham-se do culto externo, de
se benzer, de rezar, e de cantar hinos
sacros em público. Lêem o que lhe
P á g i n a | 10
apraz, falam de tudo e de todos,
repelem levianamente e propagam
quanto ouvem, sem indagar se aquilo
é verdadeiro, ou falso e calunioso;
assistem a teatros e cinemas
inconvenientes [Nota da edição: a
televisão imoral – altamente
reprovável por Mons. Lefebvre e por
ele proibida nas casas das famílias
terciárias da FSSPX], para não dizer
imorais, sempre prontos a criticar, a
censurar, a condenar os atos do clero
e dos membros do episcopado;
incapazes de fazer o mais leve
sacrifício para cumprir os seus
deveres de cristãos, para defender os
sagrados direitos de sua Igreja e de
Jesus Cristo.
Enfim, para abreviar, vivem
sem religião e sem amor de Deus, ou
com um arremedo de religião a seu
modo. De estudar a religião católica,
nem se preocupam. Em vez de
aprender a resolver certas
dificuldades, não se envergonham
sequer de apoiar os atrevidos que
ofendem, atacam e vilipendiam a
Igreja Católica e o seu clero.
O mesmo se poderia infelizmente dizer
de muitas cristãs tíbias e mundanas
que, descuidadas de seus deveres de
católicas, andam de mãos dadas com
o mundo, aceitam-lhe as futilidades, as
idéias e doutrinas perversas, os
passatempos, as sensualidades, os
caprichos, as leituras, as modas os
teatros, os cinemas, os luxos e
pecados. Cumpram pelo menos os
seus deveres de católicas!
NÃO REPARAIS NO QUE FAZEM OS
ANTICLERICAIS?
Não lhes vedes a atividade febril? Não
os vedes apaixonados, maldosos,
ferrenhos, injustos, odientos,
caluniadores, a conspirar
incessantemente contra a religião,
contra a justiça e a liberdade cristã, a
ridicularizar a Igreja e o clero por
palavra e por escrito? Tomai deles
lições de atividade e de energia. Assim
procedem esses adversários do bem e
da virtude, movidos pelo ódio e pela
paixão, porque lhes convém
humanamente. Procedamos nós com
igual empenho levados da caridade,
por dignidade, por convicção, por
gratidão para com Jesus Cristo que se
sacrificou por nós, com nobre altivez,
com santo orgulho, com pleno domínio
de nós mesmos.
NÃO SEJAMOS TACANHOS,
MESQUINHOS REGATEADORES
COM DEUS
Que podia Jesus Cristo fazer por
nosso amor, que não o tenha feito?
Deu-nos tudo, deu-nos o seu corpo, o
seu sangue, sua divindade, sua
humanidade, seus afetos, seus divinos
ensinamentos, seus sacramentos, sua
vida inteira, até a última gota de seu
sangue derramado na sua sagrada
paixão e no martírio da cruz; deu-se a
si mesmo também no Santíssimo
Sacramento da Eucaristia, milagre
perpétuo do seu amor e de sua infinita
misericórdia para com suas miseráveis
e ingratas criaturas! E depois de tudo
isso, não merecerá o sacrifício de
alguns instantes para o cumprimento
dos nossos deveres de cristãos? Não
merecerá uma palavra de sincero
agradecimento? Não merecerá que
tomemos a sua defesa quando o
vemos desprezado, insultado e
perseguido nos membros da sua
Igreja?
Que nome se há de dar, com toda a
justiça, a esses cristãos indiferentes,
desagradecidos e relaxados, que, em
troco de tantas finezas andam
cerceando quanto podem a Deus,
acham sempre excessivo o pouco
tempo que se gasta em assistir a
Santa Missa nos domingos e dias de
preceito, em entrar em uma Igreja para
fazer breve visita ao Santíssimo, em
fazer uma brevíssima oração pela
manhã e a noite? Cristãos o menos
possível, até onde é absolutamente
indispensável para não condenarem a
sua alma, e ainda sim! Sacrifício,
generosidade e abnegação, isso então
é coisa que essas almas mesquinhas
não conhecem.
TUDO QUE TENDES É DE DEUS.
- É generosa dádiva de Deus e a
Deus o deveis dar e consagrar sem
partilhas egoístas. Corpo, alma,
riquezas, nome, influência, talentos,
saúde, o vosso tempo... tudo é de
Deus. Ao ver agora como vos servis
de tudo isso para o serviço de Deus e
cumprimento dos vossos deveres de
cristãos.
HÁ MUITO QUE FAZER.
- Olhai como se desencadeiam
formidáveis todas as fúrias do inferno!
Não vedes como por toda parte
avança desenfreado o livre
pensamento, o socialismo, o
anarquismo, o ateísmo, a revolução
social, a luta de classes e aquela
peste do inferno que é o comunismo?
Não vedes como em todas as nações,
onde mais onde menos, a questão
religiosa está em primeiro lugar, feita
alvo das mais brutais arremetidas de
todas as seitas anticatólicas
mancomunadas? Não vedes certa
imprensa assalariada por inimigos
arrogantes e poderosos a espalhar o
erro, a babar insultos soezes sobre a
divina pessoa de Jesus Cristo. Sobre o
seu representante na terra, sobre o
clero, sobre a Igreja Católica,
semeando por toda parte a mentira, a
calúnia, a revolução, a fraude, o
sensualismo, a libertinagem?
Não vedes como se afanam
na diabólica empresa de nos arrebatar
o ensino, apostados a meter a fina
força professores ateus nas escolas
onde se educa a mocidade brasileira,
esperança da vossa família e da
pátria, professores anti-religiosos,
anticlericais, sem escrúpulo e sem
consciência, para corromper a
sociedade desde a suas origens? Não
reparastes na guerra satânica movida
pelo protestantismo e pela maçonaria
contra o ensino religioso [entenda-se
ensino religioso católico tradicional]
facultativo nas escolas do nosso país?
Não vedes que a novena e o conto, o
folhetim, o romance, a revista
pornográfica, vão sempre mais
introduzindo em tantos lares o espírito
de independência e de revolta, a
imoralidade e o vício?
PARA NÓS, CATÓLICOS, O
SILÊNCIO E A FROUXIDÃO SERIAM
UM CRIME.
-Não nos é lícito ficar
indiferentes, indolentes, frouxos e
tíbios, sob pena de nos vermos
arrebatados pela corrente a mercê
do demônio, do mundo e do vício,
sem posses para opor a devida
resistência. Vivemos no meio de
tantos perigos; tantas doutrinas
perversas nos querem meter a cunha
na cabeça, que, a não estarmos alerta,
de sobreaviso e bem apercebidos para
resistência, hão de fatalmente dar
P á g i n a | 11
conosco no abismo da perdição. Nos
tempos atuais, para não ser mau,
deve um homem ser muito bom;
hoje não é lícita a pusilanimidade,
porque o pusilânime será derrotado.
Além disso, estamos vivendo numa
época, em que não somente a nossa
própria salvação exige que sejamos
fortes, sendo que nos deve estimular
ainda o perigo em que vemos os
nossos irmãos de se perverter e
condenar. Cada um de nós tem
obrigação de ser um apóstolo, de
procurar distinguir-se no campo da
Ação Católica. Fora medos e
covardias! Católicos ás direitas,
católicos em toda parte, praticantes
ufanos da sua religião, católicos
exemplares e destemidos, católicos
em particular e em público, católicos
em toda a linha! Eis o que pede e
espera de cada um de nós o nosso
divino Chefe e modelo Jesus Cristo.
Anime-nos a trabalhar a vista dos
nossos próximos, principalmente dos
fracos, das crianças, da juventude, a
quem os sectários querem a todo
transe ministrar o ensino ateu e leigo;
dos operários, a quem estão roubando
a religião e arrastando à rebelião e à
anarquia; da nossa briosa mocidade,
florão e esperança da nossa raça, a
quem estão seduzindo com toda sorte
de chamarizes, provocando e
fornecendo pasto ás suas paixões
juvenis, empenhados em arrastá-la
para as fileiras do ateísmo, da revolta,
da independência, do protestantismo,
do comunismo e da maçonaria, no
intuito de formarem desde já uma
geração nova, perversa e corrompida.
SERRAR FILEIRAS E AVANTE!
Não vos limiteis a comungar uma vez
por ano para termos força e
perseverança na prática de nossos
deveres de cristãos, cumpre-nos
alimentar a nossa alma; para isso, aí
está o pão dos fortes, a Sagrada
Eucaristia, comungue todos e
comungue freqüentemente. Não
alimenteis o vosso corpo por várias
vezes ao dia? A vossa alma vale por
ventura menos que o corpo? Se o
corpo precisa desse alimento para
poder resistir ao trabalho e às fadigas
da vida, a nossa alma precisa também
do seu alimento espiritual para resistir
às lutas incessantes que se travam
dentro de nós. Não há quem o não
saiba por experiência própria. Cumpri
todos os vossos deveres de católicos,
todo o vosso dever, com
generosidade, com desassombro, sem
respeitos humanos, sem covardias,
que nas fileiras de Jesus Cristo não há
lugar para covardes e poltrões.
Trabalhe em prol da religião,
pela honra de Cristo, pelo triunfo da
Igreja Católica, pela salvação das
almas, em favor da infância e da
mocidade, da classe operária, dos
pobres e das missões católicas.
CARITAS CHRISTI URGET NOS
-Estimula-nos o amor de Cristo o amor
de sua honra, da Igreja, dos seus fiéis
e da sua doutrina, a trabalhar e a
proceder em tudo, em toda parte e
sempre como católicos de lei, hoje
mais que nunca, por isso mesmo que
para sermos tais é preciso trabalhar
hoje mais que nunca. Não se diga de
nós que “somos católicos do CREDO
e hereges dos MANDAMENTOS!” ou
que “a nossa fé pára no credo e não
passa aos mandamentos”.
Do livro RAIOS DE SOL, segunda
série, Págs. 147 a 152.
________
CONFISSÃO MAL FEITA
INFERNO CERTO.
Exemplo de uma senhora que por muitos anos
calou na confissão um pecado desonesto. Refere
Santo Afonso e mais particularmente o Padre
Antônio Caroccio, que passaram pelo país em
que vivia esta senhora, dois religiosos, e ela, que
sempre esperava confessor forasteiro, rogou a
um deles que a ouvisse em confissão, e
confessou-se. Logo que partiram os Padres, o
companheiro disse ao confessor ter visto que,
enquanto a senhora se confessava, saiam de sua
boca muitas cobras, e uma serpente enorme
deixara ver fora sua cabeça, mas voltara de novo
para dentro, e após ela todas às que antes
saíram. Suspeitando o confessor o que aquilo
poderia significar, voltou à cidade e à casa
daquela senhora, onde lhe disseram que ela, no
momento de entrar na sala, morrera
repentinamente. Por três dias seguidos jejuaram
e oraram por ela suplicando ao Senhor que lhes
manifestasse aquele caso. Ao terceiro dia,
apareceu-lhes a infeliz senhora condenada e
montada sobre um demônio, em figura dum
dragão horrível com duas serpentes enroscadas
ao pescoço, que a afogavam e lhe comiam os
peitos uma víbora; na cabeça, dois sapos nos
olhos, setas ardentes nas orelhas, chamas de
fogo na boca e dois cães danados que a
mordiam, e lhe comiam às mãos; e dando um
triste e espantoso gemido, disse: Eu sou a
desventurada senhora que; V. Rvma. confessou
há já três dias; conforme ia confessando, meus
pecados iam saindo como animais imundos pela
minha boca, e aquela serpente enorme, que o
companheiro viu tirar fora a cabeça, e voltou
depois para dentro, em figura dum pecado
desonesto que calei sempre; por vergonha; quis
confessá-lo com V. Rvma., mas também não me
atrevi, por isso, voltou a entrar dentro, e com ele
todos os mais que haviam saído. Cansado já
Deus: de tanto esperar-me, tirou-me
repentinamente à vida e me precipitou no
inferno, onde sou atormentada pelos demônios
em figura de horrendos animais.
A víbora me atormenta a cabeça pela
minha soberba e excessivo cuidado em pentear
os cabelos; os sapos cegam-me os olhos, por
meus olhares lascivos; as flechas acesas me
atormentam; as orelhas, porque escutei
murmurações, palavras e cantigas obscenas; o
fogo abrasa-me a boca pelas murmurações e
beijos torpes; tenho as serpentes enroscadas no
pescoço e me comem os peitos, porque os levei
dum modo provocativo, pelo decote de meus
vestidos e pelos abraços desonestos; os cães me
comem as mãos, pelas más obras e tatos
impuros, mas o que mais me atormenta é o
horroroso dragão, em que vou montada, e que
me abrasa as entranhas em castigo de meus
pecados impuros.
Ai! Que não há remédio para mim, senão
tormentos e pena eterna! Ai das mulheres!
Acrescentou; porque muitas delas se condenam
por quatro gêneros de pecados: por pecados de
impureza, pelas galas e enfeites, por feitiçarias e
por calar pecados na confissão; os homens se
condenam por toda classe de pecados; mas as
mulheres principalmente por esses quatro
pecados. Dito isso, abriu-se a terra e por ela
entrou esta infeliz mulher, até o mais profundo
do inferno, onde padece e padecerá por toda a
eternidade.
Retirado do livro: O Caminho Reto, de Santo
Antônio Maria Claret.

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  • 1. P á g i n a | 1 MONSENHOR LEFEBVRE A LUTA É NOSSA HERANÇA Capela Nossa Senhora das Alegrias, Vitória/ES - EDIÇÃO Nº 03 – SETEMBRO 2013 www.nossasenhoradasalegrias.com.br capela@nossasenhoradasalegrias.com.br CORAÇÃO DE FOGO Diz-se no começo do quarto Evangelho: Houve um homem enviado de Deus, que tinha por nome João. Este veio em testemunho, para dar testemunho da Luz, para que todos cressem por ele. Não era ele a luz, mas veio dar testemunho da Luz. Toda a doutrina e obras de São João não tiveram outro fim que preparar nas almas os caminhos de Cristo, diz Santo Tomás. (Sum. Teol.III, c. 38 a 3). São João Batista devia dar testemunho da luz, não dando de si a Luz, senão sendo um reflexo antecipado da Luz que é Cristo. Cheio do Espírito Santo, desde o seio de sua mãe, iluminava irradiando uma grande luz porque Deus havia posto nele um coração de fogo, igual o do profeta Elias, de quem São João Batista era herdeiro e fiel continuador. Sua alma estava cheia desse zelo ardente de que diz Cristo: Fogo vim lançar sobre a terra e como quero que arda! Todo fogo queima e ilumina. Fogo santo e escolhido que preparava no tempo a chegada do Fogo Eterno, o Batista era uma tocha que ardia e iluminava, diz Nosso Senhor. Para isso veio, para isso existia, para arder e iluminar, para queimar-se e para queimar. FORTE COMO O FOGO Perguntava Cristo sobre São João Batista aos judeus: Que saístes a ver? Uma cana agitada pelo vento? Um homem débil, inseguro, irresoluto, cambiante? Não: um homem forte. Porque é forte como o fogo e terrível, inflexível, devorador, insaciável e conquistador: tudo o que toca o converte em si mesmo. Por isso nesse homem de fogo brilha a mais perfeita fortaleza. A virtude da fortaleza tem dois atos: atacar e resistir, sendo a resistência o principal e mais difícil. São João resiste a austeridade da vida no deserto, suporta imóvel aos ataques dos escribas e fariseus, não se deixa arrastar pela adulação de alguns que o tinham como o Messias, não cede diante das ameaças dos poderosos. O Batista não é nenhuma cana agitada pelo vento. Tudo o contrário: ele é o vento que agita e destroça as canas, os carvalhos, as rochas e as montanhas; é um vendo abrasador, uma chama, um incêndio. FORA DIPLOMACIAS, AMBIGUIDADES, HIPOCRISIAS, SIMULAÇÕES Aos que vinham pedir seu batismo os recebia com estas palavras: Raça de víboras, quem os ensinou a fugir da ira que os ameaça? Palavras de fogo. Disse São João Crisóstomo que ao povo falava varonil e fervorosamente, de um modo atrevido ao rei, com franqueza a seus discípulos. São João Batista, direto como o fogo, detestava a mundana diplomacia, o linguajar ambíguo, odiava a hipocrisia, a simulação, o sincretismo. Vossas palavras sejam sim sim, não não, porque o que disso passa vem do maligno, disse Cristo. Não conhecia os respeitos humanos e não se calava diante de nenhum homem se havia obrigação de dizer a verdade. NENHUM ACORDO, NENHUMA TRAIÇÃO Por isso, São João censurava publicamente Herodes seu adultério. E Herodes, como sabemos, o prendeu, ainda que tivesse respeito e o ouvisse com gosto. E mais: disse Santo Tomás (Catena Aurea, Glosa) que Herodes o temia, o respeitava e o protegia para que não o matasse Herodíades. Sendo assim, para evitar a morte, podia ter feito São João Batista algum tipo de acordo com Herodes. Mas não: essa fiel tocha de Deus jamais fez pacto ou acordo algum com a escuridão. Havendo recebido de Deus a missão de iluminar, iluminou até que Deus quis, até o fim, até consumir-se todo, até o martírio. ¡USQUE AD MORTEM! São João, o forte, não se deixa vencer pelas simpatias passageiras e a inconstante benevolência de Herodes, que sim, era uma cana agitada pelos ventos de muitos pecados; senão que insiste em repreender pública, frontal, direta, inequívoca e reiteradamente ao rei, pecador público. Não vos é lícito ter por mulher a que é de seu irmão. “Non licet”. Isso que fazes não é lícito, isso que fazes está mal, isso é um pecado, isso ofende a Deus. O resto é história conhecida: amando sobre todas as coisas a união da alma
  • 2. P á g i n a | 2 com Deus na Verdade, terminou dividido em dois, isto é, decapitado. O ZELO DE TUA CASA ME DEVORA O zelo de tua casa me devora. O fogo transforma em fogo ao que o toca. A faísca divina que é a graça pode causar um incêndio quando se deixa atuar, tirando o impedimento do pecado. Por isso São Paulo demonstrou a mesma santa audácia diante da indevida simulação do Papa São Pedro, a quem disse essas mesmas palavras: “non licet”: não vos é lícito. MONSENHOR LEFEBVRE: OUTRO CORAÇÃO DE FOGO Estimados fiéis: vinte séculos depois, sendo legítimo herdeiro desse fogo, até então sempre conservado na Igreja de Cristo, outro coração cheio de santa ira lançou novamente o grito de “non licet”, dessa vez contra o concílio que ousou batizar os princípios maçônicos liberais. E Mons. Lefebvre legou a Tradição, por sua vez, esse mesmo fogo. E nosso sagrado e primeiro dever é conservar ardendo o fogo do combate pela fé até o fim, quer dizer, até a morte de cada um de nós ou até que Roma apóstata volte a fé católica. SANTA VIOLÊNCIA E PACIFISMO COVARDE O Reino dos Céus sofre violência e somente os violentos o arrebatam, disse Nosso Senhor, falando do Batista. Nós católicos jamais devemos deixar-nos arrastar pela corrente desse pacifismo covarde, tão característico dos liberais, pacifismo satânico que aspira a compromissos adúlteros e acordos traidores com os modernistas, hereges destruidores da Igreja. Disse São Paulo: Não os unais baixo um jugo desigual com os infiéis, pois que tem de comum a justiça e a iniqüidade? Ou que sociedade pode existir entre a Luz e as trevas? Ou que acordo pode haver entre Cristo e Belial? (2 Cor 6, 14-15. Não una o homem o que Deus separou. IPSA CONTERET Que a Santíssima Virgem, destruidora das heresias (um dia também da atual) conserve em nossos corações o fogo que ardeu no peito de São João Batista e de Monsenhor Lefebvre, e que com seu bendito pé esmague logo a cabeça do demônio liberal e modernista. Sermão do Padre René Trincado, 24 de Junho de 2013. O que deve pensar um católico sobre o Concílio Vaticano II? Do breviário da FSSPX O Concílio Vaticano II foi uma reunião dos dois mil e quinhentos bispos de todo o mundo durante quatro sessões, desde outubro de 1962 a dezembro de 1965. O Papa João XXIII, em sua alocução de abertura ao concílio (11.10.62) declarou que sua finalidade era que a fé católica se conservasse e ensinasse, mas que sem recorrer a condenações, senão fazendo um chamado a todos os povos. O Papa Paulo VI concorda com seu predecessor: o Concílio Vaticano II “foi um acontecimento importantíssimo porque (...) antes de tudo buscou as necessidades pastorais e, alimentando-se na chama da caridade, fez um grande esforço para chegar não somente aos cristãos ainda separados da comunhão com a Santa Sé, senão também a toda família humana” (breve de clausura, 8.12.65). Os ensinamentos do Concílio e sua interpretação por Roma Com tais idéias, não é de se estranhar que encontremos o ensinamento católico apresentado de forma débil (sem definições nem condenações), confusa (sem terminologia técnica nem escolástica) e unilateral (para atrair aos não católicos). Todo esse ensinamento vago e ambíguo, que já é liberal em seu método, seria interpretado em seu verdadeiro sentido liberal depois do Concílio. Vejamos alguns exemplos de como interpreta Roma (20) os ensinamentos conciliares. a) Sacrosantum Concilium: deve insistir-se na liturgia da palavra (n.9), nos aspectos da Missa como banquete (n.10), na participação ativa do povo (nn.11 e 14), e portanto na língua vernácula (nn. 36 e 54); o resultado é a Nova Missa (cfr. C5). b) Unitatis Redintegratio: os católicos devem orar com os protestantes (nn. 4 e 8) o resultado é a hospitalidade eucarística. (cfr. C8) c) Sacrosanctum Concilium: devem revisar-se os ritos e fórmulas de penitência (n.72), e a Extrema Unção deve converter-se em uma Unção de Enfermos (nn. 73 e 75); o resultado são a confissão cara a cara e as absolvições gerais, e no sacramento da Extrema Unção uma nova matéria, uma nova forma e um novo sujeito (os enfermos que não estão em perigo de morte) (21) d) Lumen Gentium: a Igreja de Cristo subsiste em (não é) a Igreja Católica (n.8); o resultado é que
  • 3. P á g i n a | 3 também se encontra nos “irmãos separados” (Ut unum sint, n. 11) (22). e) Unitatis Redintegratio: A Igreja de Cristo tem irmãos separados em “Igrejas” [sic] separadas (n.3), que devem ser como irmãs (n.14); e portanto não há necessidade, por exemplo, de converter aos ortodoxos (23). f) Optatam Totius: os seminaristas devem conhecer a filosofia moderna e o progresso da ciência (n.15), a psicologia e a sociologia (n.20); o resultado é que se fomenta o estudo em universidades seculares, mas não o do tomismo, e aparecem espiritualidades abertas, moralidade subjetiva, etc. g) Gaudium et Spes: se identifica o matrimônio com o “amor conjugal” (nn. 48 e 50), a Igreja renuncia a todos os privilégios que lhe outorgava o Estado (n.76), e deseja uma autoridade mundial (n.82); o resultado é respectivamente, o fiasco das nulidades matrimoniais (cfr.C8), que a religião católica deixa de ser religião de Estado em todo o mundo, e que se presta um pleno apoio a Organização das Nações Unidas. O mesmo esquema poderíamos repetir com todas as inovações aprovadas. Os erros doutrinais do Concílio O que é ainda mais grave: o Concílio foi sequestrado por elementos liberais da Igreja, que desde o princípio conseguiram o rechaço dos esquemas preparatórios pré-conciliares confeccionados para sua discussão, e os substituíram por outros esquemas progressistas redigidos por seus próprios “experts”. (Os liberais também conseguiram introduzir seus membros nas comissões). Os novos esquemas, aprovados como decretos, constituições e declarações do Concílio, continham, mais ou menos explicitamente, erros doutrinais pelos quais os liberais haviam sido condenados no passado. Tomemos como exemplos as seguintes passagens do Concílio e comparemo-las com a doutrina católica: a) Gaudium et Spes: o homem é “a única criatura terrestre a que Deus amou por si mesmo” (n.24), idéia oposta a “tudo fez Javé para seu fim” (Prov. 16, 4); “todos os bens da terra devem ordenar-se em função do homem” (n.12), sem mencionar que a finalidade é servir-lhe de ajuda para salvar sua alma; “o Filho de Deus com sua encarnação se uniu em certo modo com todo homem” (n.22), quando o Concílio de Éfeso fala de que Deus assumiu uma natureza humana individual (Denz. 114); “a natureza humana (...) foi elevada também em nós a dignidade sem igual” (n.22), invés de “pouco menor que os anjos os fizeste” (Sl. 8,6); fala da “excelsa dignidade da pessoa humana” (n.26), que só existe em quem vive honestamente (Ap. 3, 4); e afirma “seus direitos e deveres universais e invioláveis” (n.26), quando a quem desperdiçasse seus talentos lhe seriam tirados (Lc 19, 24). b) Dignitatis Humanae: “Este Concílio Vaticano declara que a pessoa humana tem direito a liberdade religiosa. Essa liberdade consiste em que todos os homens estejam imunes de coação (...) de qualquer potestade humana, e isso de tal maneira, que em matéria religiosa nem se obrigue a ninguém a fazer contra sua consciência nem se lhe impeça que atue conforme ela (...) dentro dos limites devidos (...) Esse direito da pessoa humana a liberdade religiosa deve ser reconhecido no ordenamento jurídico da sociedade, de forma que chegue a converter-se em um direito civil” (n.2); porém, a doutrina católica condena as seguintes proposições: “a liberdade de consciência e de cultos é um direito livre de cada homem, que deve ser proclamado e garantido legalmente em todo Estado bem constituído (...) o melhor governo é aquele no qual não se reconhece o poder político a obrigação de reprimir com sanções peais aos violadores da religião católica, salvo quando a tranqüilidade pública assim o exija” (Pio IX, Quanta Cura, n.3). c) Unitatis Redintegratio: “o espírito de Cristo não recusou servir- se delas [das igrejas e comunidades separadas] como de meio de salvação” (n.3), contra P2. d) Ad Gentes: “promova-se a ação ecumênica de forma que (...) os católicos colaborem fraternalmente com os irmãos separados (...) na comum profissão possível da Fé em Deus e em Jesus Cristo diante das nações” (n.15), contra P7. e) Nostra Aetate: “A igreja Católica não rechaça nada do que
  • 4. P á g i n a | 4 nestas religiões [não cristãs] haja de santo e verdadeiro. Considera com sincero respeito os modos de obrar e de viver” (n.2), enquanto que as Sagradas Escrituras dizem que “todos os deuses dos povos são demônios” Sl. 95, 5) e “não aprenderás a imitar as abominações daquelas nações” (Deut. 18, 9). f) Lumen Gentium: “a ordem dos bispos (...) junto com sua cabeça, o Romano Pontífice, e nunca sem essa cabeça, é também sujeito da suprema e plena potestade sobre a universal Igreja” (n.22), contra P4; e “a consagração episcopal, junto com o ofício de santificar, confere também o ofício de ensinar e reger” (n.21), contra a doutrina da Igreja segundo o qual a “dignidade episcopal depende imediatamente de Deus em quanto ao poder de ordem, e da Sede Apostólica em quanto ao poder de jurisdição” (Pio VI, Deessemus Nos). O Concílio mesmo anima as tendências liberais (e seu impulso se converterá na política vaticana pós- conciliar) e se separa do ensinamento católico tradicional. Mas não tem autoridade para nenhuma das duas coisas (P5 e P6). Nossa posição deve ser: “nos negamos e temos negado sempre a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram. 24 E em torno dessas tendências neomodernistas gira todo o Concílio. 25 Foi infalível o Concílio Vaticano II? Não por razão do magistério extraordinário, posto que rejeitou definir. O mesmo Papa Paulo VI, em audiência de 12.1.66, disse que “havia evitado proclamar de forma extraordinária dogmas dotadas de nota de infalibilidade” 26. Nem por razão do magistério universal ordinário, porque esse consiste na maravilhosa uniformidade dos ensinamentos dos bispos dispersos por todo o mundo (e não quando estão reunidos, em que possam ser objeto de grupos de pressão) 27 e não é um poder para definir, senão para ratificar o que sempre se creu. A universalidade em questão não é somente de lugar (todos os bispos) senão também de tempo (sempre): cfr. Vaticano I se P6. Nem por razão do magistério simplesmente autêntico 28, porque o objeto de todo magistério é o depósito da fé, que deve ser santamente custodiado e fielmente exposto (Vaticano I, Denz, 1836), e não a adoção como doutrina católica de “os melhores valores de dois séculos de „cultura liberal‟”, ainda que tenham sido “purificados” (Card. Ratzinger, Gesú, Nov. 1984, pág. 72; cfr. Gaudium et Spes, nn. 11 e 44). E assim, esse Concílio foi “ecumênico” mais no sentido moderno de apelar ao sentimento religioso de todos os povos, que no sentido tradicional de representar a toda a Igreja docente. 20. Outra história é como se interpretam as diretrizes nas paróquias. 21. Afeta tudo isso “a substância dos sacramentos” sobre a qual a Igreja não tem poder (cfr. Pio XII em P5)? 22. Ut unum sint é a encíclica de João Paulo II sobre o ecumenismo (25.5.95). 23. Cfr. A comissão Internacional Conjunta para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja [sic] Ortodoxa, em Balamand (Líbano), 17/24.6.93 24. Declaração de 21.11.74, cfr. Apêndice I. 25. “O Papa João Paulo II faz não por certo da Sagrada Escritura, senão do acontecimento de Assis, o „schibbolet‟ [sinal, cfr. Juec. 12, 5] da correta „compreensão da correta „compreensão do Concílio‟”, Johannes Dörmann, O itinerário teológica de João Paulo II, Fundação São Pio X, Buenos Aires 1994, cap. II, pág. 48. 26 Cfr. La declaración de la Comisión Teológica del 6.3.64, repetida por el Secretario General del Concilio a 16.11.64: “dada o costume conciliar e o propósito pastoral do presente Concílio, este Sagrado Sínodo só define as matérias de fé e moral como obrigatórias na Igreja quando o mesmo declare abertamente”. Nunca o fez. 27 Église et Contre-Église au Concile Vatican II, Courrier de Rome, 1996, pág. 255. 28 Ibid., pág. 287. 29 Acta Apostolicae Sedis (LXX), págs. 920 e ss. Tradução: Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória/ES - Observações à Tradução:capela@nossasenhoradasal egrias.com.brFonte: Retirado do Breviário sobre a Fraternidade São Pio X Deixar Maria atuar, do livro Fundamentos e práticas da vida mariana. Em vários capítulos descrevemos a prática “por Maria”, quer dizer, a vida de dependência e docilidade para com a Santíssima Virgem Maria. Nos mostramos dependentes dessa divina Mãe e Senhora: submetendo-nos aos preceitos e aos conselhos de seu Jesus, obedecendo de fato, de coração e de espírito à autoridade legítima, aceitando docilmente as disposições da Providência sobre nós. Também dependemos dEla pela fidelidade às inspirações da graça, que não são somente as de Deus e de Cristo, senão também as da Mediadora de todas as graças. Fazer tudo o que Ela nos pede pela graça, evitar o que pela
  • 5. P á g i n a | 5 graça Ela nos desaconselha: esse é nosso propósito. Parece-nos indubitável que nessa ordem de coisas há algo melhor que fazer, algo mais elevado ainda, quer dizer, segundo o conselho de Montfort, deixar Maria agir em nós. Todos os nossos leitores não estão igualmente capacitados para compreender as explicações que vem a seguir e aplicá-las em sua vida. E, por outro lado, talvez sejam poucos os leitores que tenham necessidade dessas luzes e tirem delas grande proveito. Não devemos esquecer que as práticas interiores da perfeita Devoção, tal como as propõe Montfort, mais além da ascética ordinária, abrangem o campo da mística propriamente dita. Depois de uma fervorosa oração, repassemos lentamente, pausadamente, alguns textos preciosos de nosso Pai. “Devemos deixar-nos conduzir pelo espírito de Maria – nos diz -, e para isso é necessário: 1º Renunciar ao próprio espírito, às próprias luzes e vontades antes de fazer alguma coisa: por exemplo, antes de fazer oração, rezar ou ouvir Missa, comungar, etc... 2º É necessário entregar- se ao espírito de Maria, para ser movidos e conduzidos por ele da maneira que Ela quiser. É preciso colocar-se e abandonar- se em suas mãos virginais, como um instrumento nas mãos do operário, como um alaúde nas mãos de um bom menestrel. É preciso perder-se e abandonar- se nEla, como uma pedra que se lança ao mar”. (Verdadeira devoção, nº259) Em “O Segredo de Maria”, o Santo diz tudo isso de maneira ainda mais clara e formal: “Antes de começar qualquer coisa, é preciso renunciar a si mesmo e às próprias vistas, por mais excelentes que sejam; é necessário aniquilar-se ante Deus, como sendo incapaz por si mesmo de todo bem sobrenatural e de toda ação útil para a salvação; é necessário recorrer à Santíssima Virgem, unir-se a Ela e a suas intenções, ainda que nos sejam desconhecidas; é necessário unir- se, por Maria, às intenções de Jesus Cristo, ou seja, colocar-se como um instrumento nas mãos da Santíssima Virgem, a fim de que Ela opere em nós, e faça de nós e por nós quanto lhe agrade, para a maior glória de seu Filho Jesus Cristo, e por seu Filho Jesus Cristo à glória do Pai: de modo que não tenhamos vida interior nem operação espiritual que não dependa dEla”. (Segredo de Maria, nº 46) Para a ação de graças depois da sagrada Comunhão, Montfort dá um conselho que podemos aplicar a todas nossas ações, e sobretudo a nossos exercícios de piedade: “Lembre-se que quanto mais deixes atuar Maria em tua Comunhão, tanto mais glorificado será Jesus; e tanto mais deixarás agir Maria para Jesus, e a Jesus em Maria, quanto mais profundamente te humilhes, e os escute em paz e silêncio, sem trabalhar para ver, gostar nem sentir...” (Verdadeira devoção, nº 273) E em seus conselhos práticos, nosso Pai dirige à alma um aviso, que o Cardeal Mercier, de grande e santa memória, devia fazer seu solenemente: “Guarda- te, alma predestinada, de crer que seja mais perfeito ir diretamente a Jesus, diretamente a Deus; tua operação, tua intenção, será de pouco valor; mas indo por Maria, é a operação de Maria em ti, e por conseguinte será muito elevada e muito digna de Deus”. (Segredo de Maria, nº 50) Certamente que Montfort, em suas orações, não teria pedido algo excêntrico e impossível. Agora sim, em uma oração admirável, suplica a Nossa Senhora “que se faça a Dona absoluta de seu poder; que destrua, e arranque, e aniquile tudo o que desagrada a Deus, e plante, e cultive, e realize tudo que lhe agrade”. E prossegue logo: “Que a luz de vossa fé dissipe as trevas de meu espírito; que vossa humildade profunda substitua meu orgulho..., que o incêndio da caridade de vosso Coração dilate e abrase a tibieza e a frieza do meu... Enfim, minha queridíssima e amantíssima Mãe, fazei, se for possível, que não tenha outro espírito mais que o vosso para conhecer a Jesus e suas divinas vontades; que não tenha outra alma mais que a vossa para louvar e glorificar o Senhor; que não tenha outro coração mais que o vosso para amar a Deus com um amor puro e ardente como Vós”. (Oração a Maria) „“Que ditosa é uma alma”, exclama Montfort – e terminamos com isso a longa série de citações, necessárias para o entendimento do tema que nos ocupa – “quando... está totalmente possuída e governada pelo espírito de Maria...!”. (Verdadeira devoção, nº258) Estamos convencidos de que se possa dar uma explicação teológica rigorosa desses textos notáveis e reconfortantes, e de outros semelhantes que se referem à influência que a Santíssima Virgem exerce sobre nós pela graça. Pois não se deve esquecer que Montfort, que não escreveu com o aparato científico de costume, era no entanto um mariólogo de primeira ordem, como hoje em dia se reconhece de maneira bastante geral. Uma explicação científica não estaria aqui em seu lugar. Nos limitaremos a descrever as atitudes práticas que teremos que adotar, seguindo o conselho de Montfort. Fazemos, porém, uma observação teórica, accessível a todo mundo. Sabemos que a graça atual é dupla. Antes de tudo é preventiva e excitante, quer dizer, que ela previne nossa decisão e nos empurra a atuar em um sentido ou outro. Se damos nosso consentimento a esta graça preventiva e excitante, nos é comunicado então outra graça – ou a mesma, segundo outros, mas sob outra forma distinta -, a graça elevante e cooperante. Graça elevante, porque é uma influência, uma ação divina, exercida em nossas potências para fazê-las
  • 6. P á g i n a | 6 capazes de realizar atos de maneira imediata, elevados por cima de nossas faculdades de ação humana, sobre humanos, sobrenaturais, em certo sentido divinos. Graça cooperante, porque colabora conosco para realizar esse ato sobrenatural. A ação realizada desse modo, sob a influência da graça cooperante, será produzida por nós, está claro; mas procederá também, e mais, da graça, segundo a palavra de São Paulo: Trabalhei.., não eu, senão a graça de Deus comigo” (I Cor 5,10). Isso pode-se dizer de toda ação realizada sob a influência da graça. (Nota) Nota: em uma exposição magistral do catecismo, um autor holandês, Potters, disse muito justamente o seguinte: “O principio de nossas obras sobrenaturalmente boas não é a livre vontade somente, nem a graça somente, senão conjuntamente a vontade livre e a graça… De fato, se uma obra procedesse somente da livre vontade, não seria sobrenatural; e se procedesse somente da graça, não seria livre nem humana.” Uma coisa é certa, e é que, quando cooperamos com a graça, quer dizer, com Deus, para produzir um ato sobrenatural, não podemos nos colocar, desde o ponto de vista da casualidade e da influência, no mesmo pé de igualdade que Deus na produção desse ato sobrenatural. Pois não podemos atuar sobrenaturalmente senão na medida em que somos empurrados, ajudados e elevados pela graça. A graça deve ser considerada aqui como a causa principal, e nós, como causa consciente e livre, é certo, mas subordinada e secundária. Agora bem, lembremos que a Santíssima Virgem é mediadora de todas as graças, da graça elevante e cooperante como da graça preventiva e excitante. A respeito dessa graça elevante e concomitante, nossa divina Mãe exerce, depois de Deus e de Jesus, a múltipla influência que temos descrito anteriormente; Ela no-la destina, pede-a por nós e também no-la aplica como “Administradora principal da distribuição das graças” (São Pio X). Na medida em que a Santíssima Virgem é princípio e causa subordinada da graça, Ela é também, por debaixo de Deus e de Cristo, o princípio de nossas ações sobrenaturais. E assim podemos aplicar, à Santíssima Virgem, o que São Paulo afirma da graça de Deus: “Trabalhei... mas não eu, senão a graça de Maria comigo". À luz destas verdades, as palavras de Montfort adquirem um significado claro, impressionante e profundo: “É necessário... colocar- se nas mãos da Santíssima Virgem, a fim de que Ela opere em nós, e faça de nós e por nós quanto lhe agrade”. Compreendemos assim que há algo de mais importante ainda que atuar segundo o gosto de Nossa Senhora, é deixá-la atuar, deixá-la fazer em nós e por nós tudo o que lhe agrade. Desse modo chegamos a falar da passividade que, em certo sentido e em certa medida, devemos contribuir para o exercício da vida espiritual, e em particular da vida mariana. Desde agora pedimos a nossos leitores que façam o que o Padre Poppe, segundo o ensinamento de Montfort, recomendava tão freqüentemente e praticava tão fielmente para si mesmo: colocar-se, ao começo e no curso de suas ações, sobretudo de seus exercícios de piedade, dócil e profundamente submisso à influência santificante da Mediadora de todas as graças, e entregar-se e abandonar-se a sua ação benéfica. Nosso grande e querido Santo e seu fiel discípulo estão de acordo em avisar-nos que, se nesse ato não encontramos nenhuma doçura ou consolo sensível, não deixa por isso de ser verdadeiro e de produzir seu efeito, que é facilitar em nossa alma a operação santificadora do Espírito Santo de Deus e de sua puríssima e indissolúvel Esposa, Maria. A modéstia católica, excertos. A modéstia no vestuário é um grave e sempre atual assunto a se tratar. Desprezar os padrões tradicionais de vestir é desprezar a Igreja, desprezar Nossa Senhora e desprezar a Deus. Os sacerdotes estão obrigados pela Igreja a falarem sempre que puderem desse tema, alertando os fiéis, formando-os e, sobretudo livrando-os do pecado que mais leva as almas para o inferno, o da carne, que sem dúvida, nasce da indecência e imoralidade dos vestidos. E desse assunto, não nos cansaremos de falar, quer agrade, quer desagrade. Abaixo alguns excertos sobre o assunto: “A mulher não se vestirá de homem, nem o homem de mulher; aquele que o fizer, será abominável diante do Senhor seu Deus.” (Dt 22,5) “Virão umas modas que desagradarão muito a nosso Senhor. As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas.” Nossa Senhora em Fátima, a Jacinta Marto, 1917. “Recordamos que um vestido não pode ser chamado de decente se é cortado mais que a largura de dois dedos sob a cova da garganta, se não cobre os braços pelo menos até os cotovelos, e se mal chega até um pouco abaixo dos joelhos. Além disso, os vestidos de materiais transparentes são impróprios.” Instrução sobre a modéstia dada no dia 4 de setembro de 1928, pelo Cardeal Cardeal Basilio Pompili, Vigário do Papa Pio XI. Fonte: Livro “Dressing with Dignity” de Collen Hallmond. “O uso de vestes masculinas por parte das mulheres afeta primeiramente à própria mulher, causado pela mudança da psicologia feminina própria da mulher; em segundo lugar afeta a mulher como esposa do seu marido, por tender a viciar a relação entres os sexos; e em terceiro lugar como mãe de suas crianças, ferindo sua dignidade ante seus olhos.” Notificação concernente às mulheres que vestem roupas de homem, Cardeal Siri, 12 Junho de 1960.
  • 7. P á g i n a | 7 “Quando vemos uma mulher de calça, nós deveríamos pensar não tanto nela, mas em toda a humanidade, de como será quando todas as mulheres se masculinizem. Ninguém ganhará ao tratar de levar a cabo uma futura época de imprecisão, ambigüidade, imperfeição e, em uma palavra, monstruosidade”. Notificação concernente às mulheres que vestem roupas de homem, Cardeal Siri, 12 Junho de 1960. Em 1928, o Papa Pio XI, escreveu: “Há um esquecimento triste da modéstia cristã, especialmente na vida e no vestuário da mulher”. (Carta Encíclica Redemptor Miserentissimus.) “Ó mães cristãs, se vocês soubessem o que um futuro de ansiedades e perigos, de dúvidas depressivas, de mal suprimida vergonha vocês preparam para seus filhos e filhas, deixando-os imprudentemente acostumados a viver escassamente vestidos e fazê- los perder o senso de pudor, vocês teriam vergonha, e temeriam o dano que vocês estão causando a vocês mesmas, os danos que vocês estão causando a essas crianças, a quem o Céu confiou a vocês para serem educadas como cristãs”. (Alocução às Meninas da Ação Católica, 22 de maio de 1941.) “Os homens devem sempre vestir uma camisa para praticar exercícios, e shorts* não devem ser usados em público, mas só serão utilizados para o esporte, e não devem ser muito curtos ou muito apertados.” O Padrão Católico de Vestimenta para o Homem, Padre Peter Scott, FSSPX. “Por desejo explícito do Padre Pio, a mulher deve entrar no confessionário vestindo saias, pelo menos, vinte centímetros abaixo do joelho. É proibido emprestar um vestido longo na igreja para usá-lo no confessionário.” Porta da Igreja onde celebrava a Santa Missa o Padre Pio. “Donzelas e mulheres vestidas indecentemente estão impedidas de comungar e de atuar como madrinhas nos sacramentos do Batismo e da Confirmação, ainda, se o delito for extremo, podem mesmo ser proibidas de entrar na igreja.” Sagrada Congregação do Concílio, 12 de Maio de 1930, por despacho de Pio XI. “Agora, muitas meninas não vêem nada de errado em seguir certos estilos desavergonhados, assim como muitas ovelhas. Elas certamente enrubesceriam se pudessem adivinhar a impressão que elas causam e os sentimentos que despertam em quem as vê”.(Pio XII, Alocução às Filhas de Maria Imaculada, 17 de julho de 1954.) “A fim de destruir o catolicismo, é necessário começar por suprimir a mulher… Mas já que nós não podemos suprimir a mulher, vamos corrompê-las com a Igreja…”(Carta de Vindez para Nubius, nomes de guerra de dois líderes da Alta Vendita, a maior loja da Carbonari italiana, os revolucionários maçons, 9 de agosto de 1838.) “As calças das mulheres são uma parte vital, talvez a ruptura essencial, do feminismo.” A modéstia feminina por D. Williamson. “Quando as atividades propostas a você exijam o uso de calças, se for algo que a sua bisavó fez, então encontre uma maneira de fazê-lo, como ela, usando saia. E se a sua bisavó não fez isso, então esqueça!” A modéstia feminina por D. Williamson. “É claro que nem todas as mulheres que usam calças abortam o fruto de seu ventre, mas todas ajudam a criar a sociedade abortiva. Antigo é bom, moderno é suicida. Querem parar o aborto? Façam-no pelo exemplo. Nunca usem calças ou shorts. O Bispo de Castro Mayer estava certo.” A modéstia feminina por D. Williamson. * Nós somos então intolerantes, exclusivos em matéria de doutrina; disto fazemos profissão; orgulhamo-nos da nossa intolerância. Se não o fôssemos, não estaríamos com a verdade, pois que a verdade é uma, e conseqüentemente intolerante. Filha do céu, a religião cristã, descendo à terra, apresentou os títulos de sua origem; ofereceu ao exame da razão fatos incontestáveis, e que provam irrefutavelmente sua divindade. Ora, se ela vem de Deus, se Jesus Cristo, seu autor, pode dizer: Eu sou a verdade: Ego sum veritas, é necessário, por uma conseqüência inevitável, que a Igreja Cristã conserve incorruptivelmente esta verdade tal qual a recebeu do céu; é necessário que repila, que exclua tudo o que é contrário a esta verdade, tudo o que possa destruí-la. Recriminar à Igreja Católica sua intolerância dogmática, sua afirmação absoluta em matéria de doutrina, é dirigir-lhe uma recriminação muito honrosa. É recriminar à sentinela ser muito fiel e muito vigilante, é recriminar à esposa ser muito delicada e exclusiva.Excertos do sermão pregado em Chartres, pelo Cardeal Pie, em 1841. Pincelada na atualidade. Trechos de uma entrevista para a Civiltà Católica. Como está a Fé do Papa? “Comentando uma minha publicação, disse-me [o Papa, nota] que os seus dois pensadores franceses contemporâneos prediletos são Henri de Lubac e Michel de Certeau.” “O Vaticano II foi uma releitura do Evangelho à luz da cultura contemporânea. Produziu um movimento de renovação que vem simplesmente do próprio Evangelho. Os frutos são enormes. Basta recordar a liturgia. O trabalho da reforma litúrgica foi um serviço ao povo como releitura do Evangelho a partir de uma situação histórica concreta. Sim, existem linhas de hermenêutica de continuidade e de descontinuidade. Todavia, uma coisa é clara: a dinâmica de leitura do Evangelho no hoje, que é própria do Concílio, é absolutamente irreversível...” “Se o cristão é restauracionista, legalista, se quer tudo claro e seguro, então não encontra nada. A tradição e a memória do passado devem ajudar-nos a ter a coragem de abrir novos espaços para Deus. Quem hoje procura sempre soluções disciplinares, quem tende de modo exagerado à “segurança” doutrinal, quem procura obstinadamente
  • 8. P á g i n a | 8 recuperar o passado perdido, tem uma visão estática e involutiva. E desse modo a fé torna-se uma ideologia entre tantas. O Papa nesse momento levanta-se e vai buscar o breviário à sua escrivaninha. É um breviário em Latim, já muito gasto pelo uso. Abre-o no Ofício de Leitura da Feria sexta, isto é, sexta-feira da XXVII semana. Lê-me uma passagem tirada do Commonitorium Primum de São Vicente de Lérins: ita etiam christianae religionis dogma sequatur has decet profectuum leges, ut annis scilicet consolidetur, dilatetur tempore, sublimetur aetate”. São Vicente de Lérins faz a comparação entre o desenvolvimento biológico do homem e a transmissão de uma época à outra do depositum fidei, que cresce e se consolida com o passar do tempo. Cá está: a compreensão do homem muda com o tempo e assim também a consciência do homem aprofunda-se. Pensemos no tempo em que a escravatura era aceita ou a pena de morte era admitida sem nenhum problema. Assim, cresce-se na compreensão da verdade. Os exegetas e os teólogos ajudam a Igreja a amadurecer o próprio juízo. Também as outras ciências e a sua evolução ajudam a Igreja nesse crescimento na compreensão. Existem normas e preceitos eclesiais secundários que noutros tempos eram eficazes, mas que agora perderam valor ou significado. Uma visão da doutrina da Igreja como um bloco monolítico a defender sem matizes é errada». «O homem está à procura de si mesmo, e, obviamente, nesta procura pode também cometer erros. A Igreja viveu tempos de genialidade, como, por exemplo, o do tomismo. Mas viveu também tempos de decadência de pensamento. Por exemplo, não podemos confundir a genialidade do tomismo com o tomismo decadente. Eu, infelizmente, estudei a filosofia com manuais de tomismo decadente. No pensar o homem, portanto, a Igreja deveria tender à genialidade, não à decadência». «Rezo o Ofício todas as manhãs. Gosto de rezar com os Salmos. Depois, a seguir, celebro a Missa. Rezo o Rosário. O que verdadeiramente prefiro é a Adoração vespertina, mesmo quando me distraio e penso noutra coisa ou mesmo quando adormeço rezando. Assim, à tarde, entre as sete e as oito, estou diante do Santíssimo durante uma hora, em adoração. Mas também rezo mentalmente quando espero no dentista ou noutros momentos do dia». Uma nova religião? Pelo Rev. Padre Calderón Parte A A religião é o conjunto de disposições e atos pelos quais se rende culto a divindade. A religião é verdadeira quando se rende culto ao Deus verdadeiro do modo devido. O fim, então, da religião verdadeira é o Deus Uno e Trino, e o modo devido é por meio de Jesus Cristo, “porque não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo que nós devemos ser salvos” (Atos 4, 12). Dada a profundidade das mudanças introduzidas pelo Concílio Vaticano II na religião católica, pode-se dizer que ele instaurou uma nova religião? A mudança a uma nova religião poderia dar-se se se estabelece um modo substancialmente novo de render culto ao Deus verdadeiro: o pior, se o culto se dirige a um ídolo em lugar de Deus. Primeiro consideraremos o modo da religião do Concílio, para logo poder responder a segunda questão. A religião verdadeira se denomina cristã porque rende culto a Deus por meio de Jesus Cristo. Nosso Senhor Jesus Cristo é o único mediador, estabelecido por Deus como Sumo e Eterno Sacerdote; a ação pela qual se rendeu o culto devido foi seu Sacrifício; e os homens devem unir-se a sua religião pela fé na Revelação e pelos sacramentos. Para julgar, então, se o Concílio mudou substancialmente o modo de nossa religião, estudaremos estes elementos, começando pela Revelação. Portanto, quatro questões se oferecem nossa consideração: A. Que entende o Concílio sobre a Revelação. B. Que relação guardam os Sacramentos com o Sacrifício segundo o novo Mistério Pascal. C. Que termina sendo Jesus Cristo para o Concílio. D. Se o Concílio segue rendendo culto a Santíssima Trindade. REVELAÇÃO E TRADIÇÃO SEGUNDO O CONCÍLIO O homem, individualmente e socialmente na Igreja, se une a obra da Redenção levada a cabo por Jesus Cristo pela fé e pelos sacramentos; e dessa maneira rende a Deus o culto de glorificação que lhes é devido e alcança, por sua vez, sua própria salvação: - A fé na Revelação – revelação completada pelo mesmo Verbo encarnado – é, por sua vez, a disposição fundamental da alma para que Jesus Cristo nos leve a plena Verdade, fim último do homem, e a substancia do culto, porque por ela se faz a Deus o obséquio da inteligência. Por isso pode dizer-se, com Santo Tomás, que o culto cristão consiste, em resumo, na própria profissão de fé. - Os sacramentos são sinais instituídos por Jesus Cristo, que tem também a dupla finalidade de santificação e culto, pois infundem eficazmente a graça nas almas – ex opere operato, isto é, por virtude do rito mesmo cumprido e não por virtude do ministro que o cumpre – para levá- las a plenitude da Vida, e constituem o meio pelo qual os homens podem unir- se ao mesmo culto da religião do verbo encarnado. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e de sua plenitude todos recebemos” (Jo 1). Recebemos, então,
  • 9. P á g i n a | 9 a verdade pela fé e a graça pelos sacramentos. O novo humanismo do Vaticano II semeou, nos documentos conciliares, as sementes de mudanças muito profundas na maneira de entender a santificação e o culto cristãos, os quais deram seus frutos com as reformas posteriores. Olhando os frutos, distinguiram as sementes nos textos. Consideraremos, então, nesse ponto, como entende o Concílio a Revelação e sua transmissão até nós pela Tradição. O lugar da Eucaristia e dos demais sacramentos o consideraremos no próximo ponto, a tratar do Mistério Pascal (237). REVELAÇÃO “PELA PALAVRA”, NÃO POR PALAVRAS 1º O objeto da Revelação O subjetivismo conciliar – falamos no segundo capítulo – considera toda formulação conceitual como um produto humano, dependente da cultura e da história, inadequado para expressar a realidade (tanto natural como sobrenatural). Dali que falará sempre da Revelação divina como manifestação misteriosa de uma realidade (verdade ontológica) e nunca como comunicação de proposições verbais (verdade lógica), o que seria sempre algo humano. O objeto, então, da Revelação é uma “res oculta”, uma coisa misteriosa e não uma doutrina. Ao tratar do objeto da Revelação, disse a Dei Verbum: Quis Deus, com sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e manifestar o mistério de sua vontade”; o que “transmite a dita revelação” é “a verdade profunda [ -> ontológica] de Deus e da salvação do homem” n.2. Mas qual é mais propriamente o conteúdo da Revelação, o discutiremos logo, no último ponto. Dei Verbum se detém mais no modo que no objeto da Revelação. 2º O meio O humanismo católico – como dissemos também – nega, com todo o pensamento moderno, a universalidade dos conceitos para conservar a liberdade de opinião; mas para manter a linha média, nega também o subjetivismo puro e sustenta, contra vento e maré, que é possível passar “do fenômeno ao fundamento”, quer dizer, do que o homem percebe em sua subjetividade a realidade que cobre a dita percepção. A teologia nova privilegiou a solução que lhe oferecia a noção de “sacramento-mistério” por seus ares tradicionais: o fenômeno é “sacramento”, isto é, um sinal sensível que faz eficazmente presente seu fundamento; e o fundamento é “mistério”, quer dizer, realidade oculta que se manifesta a meias pela experiência de seu sinal sacramental, que é como sua “palavra”. Ainda que nem tudo se resolva com isso e ficam vários cabos soltos (238). Para a Constituição Dei Verbum, Jesus Cristo é o Sacramento que manifesta o Mistério. É verdade que não aplica a Jesus Cristo o novo termo “Sacramento” senão o tradicional “palavra”, mas se a quer entender, saiba-se que esse é o conceito. A revelação não seria por muitas palavras que significam proposições doutrinais (verdades lógicas), senão por uma única palavra, para a qual “significar” é fazer presente o mistério de Deus (verdades ontológicas). Jesus Cristo não haveria vindo a completar a doutrina revelada, senão que Ele mesmo é a Revelação, em sua pessoa, feitos e palavras: “Quem vê a Jesus Cristo, vê o Pai; Ele, com sua presença e manifestação, com suas palavras e obras, sinais e milagres, sobretudo com sua morte e gloriosa ressurreição, com o envio do Espírito de verdade, leva a plenitude toda a revelação (n.4). É claro que é católico dizer que Jesus Cristo é a revelação de Deus, mas também é preciso dizer que essa revelação se traduz em proposições doutrinais. Porque senão, que acontece com os fatos que não vimos e que somente temos para crer o que nos dizem dEle? Pois de nós disse Jesus Cristo: “Beati qui non viderunt et crediderunt, bem aventurados os que não viram e creram” (Jo 20, 29). Padre Calderón, em PROMETEO. Notas: 237. No que segue não nos referiremos a posição de nenhum teólogo moderno em particular (nem a “estranha teologia” de João Paulo II, como tampouco as reflexões mais particulares de Bento XVI) porque, como já dissemos, as exposições mais pessoais se fazem muito intrincadas e não deixam de ser isso: teologias pessoais. De maneira que se um as refuta, não refutou mais que uma pessoa. Tratamos de descobrir as linhas gerais das exposições doutrinais de linha média, quer dizer, das que pretendem conservar uma suposta continuidade com a Tradição, que foi certamente a intenção que anima os documentos oficiais conciliares e pós-conciliares. 238. Por isso disse João Paulo II em Fides et ratio n.83: “Um grande desafio que temos no fim deste milênio é o de saber realizar o passo, tão necessário como urgente, do fenômeno ao fundamento”. AOS CATÓLICOS, CONSELHOS DO ANO DE 1933. Infelizmente, a por aí muitos católicos que sabemos serem tais pelos que eles dizem e por meia dúzia de atos praticados por mero cumprimento, por simples cerimônia ou conveniência, com desmazelo e lastimosa indiferença. CUMPRI PELO MENOS VOSSAS OBRIGAÇÕES DE CATÓLICOS. Católicos em avultado número vivem no pecado a maior parte do ano, muito despreocupados, sem que isso lhes dê cuidado. Muitíssimos são de uma credulidade fantástica em se tratando de cartomantes, de ocultistas, de espiritistas, de bruxarias, supersticiosos e puerilmente crédulos também quando se trata de cartas cuja transcrição se lhes pede sob pena de atraírem sobre si graves desgraças, etc. Esses crêem no que lhes parece e não somente ignoram a sua religião, a respeito da qual estão sempre prontos a alimentar dúvidas e erros, senão que ainda fazem disso alarde, gloriando-se de tolerantes com todas as opiniões, de não ligarem importância as diversas doutrinas, por mais extravagantes que sejam e entre si contraditórias, de se não escandalizarem de coisa alguma. Envergonham-se do culto externo, de se benzer, de rezar, e de cantar hinos sacros em público. Lêem o que lhe
  • 10. P á g i n a | 10 apraz, falam de tudo e de todos, repelem levianamente e propagam quanto ouvem, sem indagar se aquilo é verdadeiro, ou falso e calunioso; assistem a teatros e cinemas inconvenientes [Nota da edição: a televisão imoral – altamente reprovável por Mons. Lefebvre e por ele proibida nas casas das famílias terciárias da FSSPX], para não dizer imorais, sempre prontos a criticar, a censurar, a condenar os atos do clero e dos membros do episcopado; incapazes de fazer o mais leve sacrifício para cumprir os seus deveres de cristãos, para defender os sagrados direitos de sua Igreja e de Jesus Cristo. Enfim, para abreviar, vivem sem religião e sem amor de Deus, ou com um arremedo de religião a seu modo. De estudar a religião católica, nem se preocupam. Em vez de aprender a resolver certas dificuldades, não se envergonham sequer de apoiar os atrevidos que ofendem, atacam e vilipendiam a Igreja Católica e o seu clero. O mesmo se poderia infelizmente dizer de muitas cristãs tíbias e mundanas que, descuidadas de seus deveres de católicas, andam de mãos dadas com o mundo, aceitam-lhe as futilidades, as idéias e doutrinas perversas, os passatempos, as sensualidades, os caprichos, as leituras, as modas os teatros, os cinemas, os luxos e pecados. Cumpram pelo menos os seus deveres de católicas! NÃO REPARAIS NO QUE FAZEM OS ANTICLERICAIS? Não lhes vedes a atividade febril? Não os vedes apaixonados, maldosos, ferrenhos, injustos, odientos, caluniadores, a conspirar incessantemente contra a religião, contra a justiça e a liberdade cristã, a ridicularizar a Igreja e o clero por palavra e por escrito? Tomai deles lições de atividade e de energia. Assim procedem esses adversários do bem e da virtude, movidos pelo ódio e pela paixão, porque lhes convém humanamente. Procedamos nós com igual empenho levados da caridade, por dignidade, por convicção, por gratidão para com Jesus Cristo que se sacrificou por nós, com nobre altivez, com santo orgulho, com pleno domínio de nós mesmos. NÃO SEJAMOS TACANHOS, MESQUINHOS REGATEADORES COM DEUS Que podia Jesus Cristo fazer por nosso amor, que não o tenha feito? Deu-nos tudo, deu-nos o seu corpo, o seu sangue, sua divindade, sua humanidade, seus afetos, seus divinos ensinamentos, seus sacramentos, sua vida inteira, até a última gota de seu sangue derramado na sua sagrada paixão e no martírio da cruz; deu-se a si mesmo também no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, milagre perpétuo do seu amor e de sua infinita misericórdia para com suas miseráveis e ingratas criaturas! E depois de tudo isso, não merecerá o sacrifício de alguns instantes para o cumprimento dos nossos deveres de cristãos? Não merecerá uma palavra de sincero agradecimento? Não merecerá que tomemos a sua defesa quando o vemos desprezado, insultado e perseguido nos membros da sua Igreja? Que nome se há de dar, com toda a justiça, a esses cristãos indiferentes, desagradecidos e relaxados, que, em troco de tantas finezas andam cerceando quanto podem a Deus, acham sempre excessivo o pouco tempo que se gasta em assistir a Santa Missa nos domingos e dias de preceito, em entrar em uma Igreja para fazer breve visita ao Santíssimo, em fazer uma brevíssima oração pela manhã e a noite? Cristãos o menos possível, até onde é absolutamente indispensável para não condenarem a sua alma, e ainda sim! Sacrifício, generosidade e abnegação, isso então é coisa que essas almas mesquinhas não conhecem. TUDO QUE TENDES É DE DEUS. - É generosa dádiva de Deus e a Deus o deveis dar e consagrar sem partilhas egoístas. Corpo, alma, riquezas, nome, influência, talentos, saúde, o vosso tempo... tudo é de Deus. Ao ver agora como vos servis de tudo isso para o serviço de Deus e cumprimento dos vossos deveres de cristãos. HÁ MUITO QUE FAZER. - Olhai como se desencadeiam formidáveis todas as fúrias do inferno! Não vedes como por toda parte avança desenfreado o livre pensamento, o socialismo, o anarquismo, o ateísmo, a revolução social, a luta de classes e aquela peste do inferno que é o comunismo? Não vedes como em todas as nações, onde mais onde menos, a questão religiosa está em primeiro lugar, feita alvo das mais brutais arremetidas de todas as seitas anticatólicas mancomunadas? Não vedes certa imprensa assalariada por inimigos arrogantes e poderosos a espalhar o erro, a babar insultos soezes sobre a divina pessoa de Jesus Cristo. Sobre o seu representante na terra, sobre o clero, sobre a Igreja Católica, semeando por toda parte a mentira, a calúnia, a revolução, a fraude, o sensualismo, a libertinagem? Não vedes como se afanam na diabólica empresa de nos arrebatar o ensino, apostados a meter a fina força professores ateus nas escolas onde se educa a mocidade brasileira, esperança da vossa família e da pátria, professores anti-religiosos, anticlericais, sem escrúpulo e sem consciência, para corromper a sociedade desde a suas origens? Não reparastes na guerra satânica movida pelo protestantismo e pela maçonaria contra o ensino religioso [entenda-se ensino religioso católico tradicional] facultativo nas escolas do nosso país? Não vedes que a novena e o conto, o folhetim, o romance, a revista pornográfica, vão sempre mais introduzindo em tantos lares o espírito de independência e de revolta, a imoralidade e o vício? PARA NÓS, CATÓLICOS, O SILÊNCIO E A FROUXIDÃO SERIAM UM CRIME. -Não nos é lícito ficar indiferentes, indolentes, frouxos e tíbios, sob pena de nos vermos arrebatados pela corrente a mercê do demônio, do mundo e do vício, sem posses para opor a devida resistência. Vivemos no meio de tantos perigos; tantas doutrinas perversas nos querem meter a cunha na cabeça, que, a não estarmos alerta, de sobreaviso e bem apercebidos para resistência, hão de fatalmente dar
  • 11. P á g i n a | 11 conosco no abismo da perdição. Nos tempos atuais, para não ser mau, deve um homem ser muito bom; hoje não é lícita a pusilanimidade, porque o pusilânime será derrotado. Além disso, estamos vivendo numa época, em que não somente a nossa própria salvação exige que sejamos fortes, sendo que nos deve estimular ainda o perigo em que vemos os nossos irmãos de se perverter e condenar. Cada um de nós tem obrigação de ser um apóstolo, de procurar distinguir-se no campo da Ação Católica. Fora medos e covardias! Católicos ás direitas, católicos em toda parte, praticantes ufanos da sua religião, católicos exemplares e destemidos, católicos em particular e em público, católicos em toda a linha! Eis o que pede e espera de cada um de nós o nosso divino Chefe e modelo Jesus Cristo. Anime-nos a trabalhar a vista dos nossos próximos, principalmente dos fracos, das crianças, da juventude, a quem os sectários querem a todo transe ministrar o ensino ateu e leigo; dos operários, a quem estão roubando a religião e arrastando à rebelião e à anarquia; da nossa briosa mocidade, florão e esperança da nossa raça, a quem estão seduzindo com toda sorte de chamarizes, provocando e fornecendo pasto ás suas paixões juvenis, empenhados em arrastá-la para as fileiras do ateísmo, da revolta, da independência, do protestantismo, do comunismo e da maçonaria, no intuito de formarem desde já uma geração nova, perversa e corrompida. SERRAR FILEIRAS E AVANTE! Não vos limiteis a comungar uma vez por ano para termos força e perseverança na prática de nossos deveres de cristãos, cumpre-nos alimentar a nossa alma; para isso, aí está o pão dos fortes, a Sagrada Eucaristia, comungue todos e comungue freqüentemente. Não alimenteis o vosso corpo por várias vezes ao dia? A vossa alma vale por ventura menos que o corpo? Se o corpo precisa desse alimento para poder resistir ao trabalho e às fadigas da vida, a nossa alma precisa também do seu alimento espiritual para resistir às lutas incessantes que se travam dentro de nós. Não há quem o não saiba por experiência própria. Cumpri todos os vossos deveres de católicos, todo o vosso dever, com generosidade, com desassombro, sem respeitos humanos, sem covardias, que nas fileiras de Jesus Cristo não há lugar para covardes e poltrões. Trabalhe em prol da religião, pela honra de Cristo, pelo triunfo da Igreja Católica, pela salvação das almas, em favor da infância e da mocidade, da classe operária, dos pobres e das missões católicas. CARITAS CHRISTI URGET NOS -Estimula-nos o amor de Cristo o amor de sua honra, da Igreja, dos seus fiéis e da sua doutrina, a trabalhar e a proceder em tudo, em toda parte e sempre como católicos de lei, hoje mais que nunca, por isso mesmo que para sermos tais é preciso trabalhar hoje mais que nunca. Não se diga de nós que “somos católicos do CREDO e hereges dos MANDAMENTOS!” ou que “a nossa fé pára no credo e não passa aos mandamentos”. Do livro RAIOS DE SOL, segunda série, Págs. 147 a 152. ________ CONFISSÃO MAL FEITA INFERNO CERTO. Exemplo de uma senhora que por muitos anos calou na confissão um pecado desonesto. Refere Santo Afonso e mais particularmente o Padre Antônio Caroccio, que passaram pelo país em que vivia esta senhora, dois religiosos, e ela, que sempre esperava confessor forasteiro, rogou a um deles que a ouvisse em confissão, e confessou-se. Logo que partiram os Padres, o companheiro disse ao confessor ter visto que, enquanto a senhora se confessava, saiam de sua boca muitas cobras, e uma serpente enorme deixara ver fora sua cabeça, mas voltara de novo para dentro, e após ela todas às que antes saíram. Suspeitando o confessor o que aquilo poderia significar, voltou à cidade e à casa daquela senhora, onde lhe disseram que ela, no momento de entrar na sala, morrera repentinamente. Por três dias seguidos jejuaram e oraram por ela suplicando ao Senhor que lhes manifestasse aquele caso. Ao terceiro dia, apareceu-lhes a infeliz senhora condenada e montada sobre um demônio, em figura dum dragão horrível com duas serpentes enroscadas ao pescoço, que a afogavam e lhe comiam os peitos uma víbora; na cabeça, dois sapos nos olhos, setas ardentes nas orelhas, chamas de fogo na boca e dois cães danados que a mordiam, e lhe comiam às mãos; e dando um triste e espantoso gemido, disse: Eu sou a desventurada senhora que; V. Rvma. confessou há já três dias; conforme ia confessando, meus pecados iam saindo como animais imundos pela minha boca, e aquela serpente enorme, que o companheiro viu tirar fora a cabeça, e voltou depois para dentro, em figura dum pecado desonesto que calei sempre; por vergonha; quis confessá-lo com V. Rvma., mas também não me atrevi, por isso, voltou a entrar dentro, e com ele todos os mais que haviam saído. Cansado já Deus: de tanto esperar-me, tirou-me repentinamente à vida e me precipitou no inferno, onde sou atormentada pelos demônios em figura de horrendos animais. A víbora me atormenta a cabeça pela minha soberba e excessivo cuidado em pentear os cabelos; os sapos cegam-me os olhos, por meus olhares lascivos; as flechas acesas me atormentam; as orelhas, porque escutei murmurações, palavras e cantigas obscenas; o fogo abrasa-me a boca pelas murmurações e beijos torpes; tenho as serpentes enroscadas no pescoço e me comem os peitos, porque os levei dum modo provocativo, pelo decote de meus vestidos e pelos abraços desonestos; os cães me comem as mãos, pelas más obras e tatos impuros, mas o que mais me atormenta é o horroroso dragão, em que vou montada, e que me abrasa as entranhas em castigo de meus pecados impuros. Ai! Que não há remédio para mim, senão tormentos e pena eterna! Ai das mulheres! Acrescentou; porque muitas delas se condenam por quatro gêneros de pecados: por pecados de impureza, pelas galas e enfeites, por feitiçarias e por calar pecados na confissão; os homens se condenam por toda classe de pecados; mas as mulheres principalmente por esses quatro pecados. Dito isso, abriu-se a terra e por ela entrou esta infeliz mulher, até o mais profundo do inferno, onde padece e padecerá por toda a eternidade. Retirado do livro: O Caminho Reto, de Santo Antônio Maria Claret.