O documento resume um programa protótipo para promover estilos de vida saudáveis em adolescentes baseado na auto-regulação e terapia cognitivo-comportamental. O programa usa técnicas como automonitorização, estabelecimento de objetivos, controle de estímulos e contratos comportamentais para mudar pensamentos e comportamentos relacionados à alimentação e atividade física.
Proposta para implantação de programa de atividade física
Promovendo estilos de vida saudáveis através da auto-regulação e da TCC
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PROGRAMA PROTÓTIPO DE PROMOÇÃO DE ESTILOS
DE VIDA SAUDÁVEIS
Cláudia Sofia Madeira Pereira
Por Psicóloga Daniela Souza ¹ e Anderson Cardeal ²
A produção desse texto foi iniciada a partir de reflexões sobre a dissertação PROGRAMA
PROTÓTIPO DE PROMOÇÃO DE ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS publicada em 2008 pela Universidade
de Lisboa. É uma tese de mestrado de Claudia Sofia Madeira Pereira sob a orientação da Prof.ª
Doutora Adelina Lopes da Silva, que trazem nas suas trajetórias acadêmicas uma produção científica
importante para a reflexão sobre os processos de auto-regulação na adoção e manutenção de
comportamentos alimentares saudáveis. Com a finalidade de apresentar um programa de promoção
de estilos de vida saudáveis, a autora do texto aborda uma discussão sobre obesidade, auto-
regulação e estilo de vida. Para isso, realiza um levantamento da literatura sobre formas de
terapêutica na obesidade e propõe um programa protótipo para a promoção de estilos de vida
saudáveis com a população adolescente baseado na auto-regulação e nos princípios da terapia
cognitivo-comportamental.
O objetivo geral do Programa protótipo de Pereira (2008) é promover a alimentação saudável e a
atividade física através do desenvolvimento de estilos de vida mais saudáveis para reduzir a
prevalência da obesidade nas populações pré-adolescente e adolescente. Como objetivos específicos
destacam-se: 1) Fornecer informação sobre o papel da alimentação e da atividade física como
determinantes da saúde; 2) Promover comportamentos de alimentação e de atividade física
saudáveis nos jovens; 3) Desenvolver competências de auto-regulação e de controle dos
comportamentos de alimentação e de atividade física; 4) Promover nos jovens pensamentos
(cognições) mais construtivos e positivos que apoiem a mudança dos seus estilos de vida; 5)
Promover nos jovens o desenvolvimento de estratégias de coping eficazes para lidarem com
situações problemáticas, nomeadamente, a recaída.
Conforme a tese supracitada, a auto-regulação refere-se aos processos que permitem ao indivíduo
guiar, influenciar, modificar e controlar o seu próprio comportamento. Através da auto-regulação o
indivíduo pode controlar o ambiente de acordo com os seus desejos e/ou controlar os seus desejos
de acordo com as limitações do seu ambiente. No contexto da saúde, a auto-regulação é definida
como os pensamentos, sentimentos e ações auto-geradas para otimizar o estado de saúde, ou seja,
como uma sequência de ações e/ou processos direcionados para o alcance de um objetivo pessoal
(Pereira, 2008).
De acordo com o modelo de auto-regulação, o programa inicia-se por informar os jovens sobre a
importância de adotar estilos de vida saudáveis. Com isto são ativadas representações de saúde ou
de risco de doença e desenvolvidas crenças sobre as suas causas e sobre o controle do indivíduo
face ao seu estado de saúde. Ao desenvolverem-se sentimentos de vulnerabilidade face ao risco de
doença (p.ex., obesidade), expectativas de auto-eficácia (i.e., o jovem sente que é capaz de mudar
o seu estilo de vida) e expectativas de resultado positivas (i.e., o jovem acredita que a mudança do
seu estilo de vida é benéfica e útil) será desenvolvida a motivação para a mudança. Com a
motivação para a mudança surge a intenção de mudança do comportamento. A intenção beneficiará
se o objetivo de mudança (i.e., aquisição de um estilo de vida saudável) estiver em acordo com
outros objetivos (mesmo aqueles que não estão relacionados com a saúde) igualmente valorizados
pelo jovem (Pereira, 2008).
Com base na literatura, o conceito de auto-regulação aproxima-se bastante das bases da TCC. A
TCC tem mostrado a sua eficácia na intervenção na globalidade das perturbações alimentares. A
investigação tem provado o sucesso desta terapia na mudança dos comportamentos alimentares
¹ Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.
Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br; Contato: daniela.souzao@yahoo.com.br
² Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.
Contato: anderson.cardeal@gmail.com
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não saudáveis, na correção de crenças e atitudes disfuncionais sobre o peso, na promoção da
satisfação corporal, na promoção de competências cognitivas e comportamentais e de estratégias de
coping funcionais.
Apontada na dissertação e em outros textos do blog, torna-se evidente a interferência de questões
psicológicas no desenvolvimento e na manutenção da obesidade, não sendo possível falar em
tratamento da obesidade sem a participação efetiva das práticas psicológicas. Várias são as teorias
que trabalham com as questões psicológicas, mas, especificamente para os transtornos alimentares,
a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), vem conquistando grande destaque. A TCC apresenta
excelentes resultados ao trabalhar com as estruturas cognitivas e comportamentais dos pacientes.
Ela possui instrumentos que constroem estratégias de enfrentamento, através de mudanças
cognitivas e comportamentais e consequentemente de mudanças no estilo de vida, que irão
interferir diretamente nas questões psicológicas que estão adoecendo o indivíduo.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) (2005), o
tratamento comportamental aplicado em conjunto com técnicas cognitivas é uma das estratégias
terapêuticas auxiliares para o controle de peso. Baseia-se na análise e modificação de
comportamentos disfuncionais associados ao estilo de vida do paciente. O objetivo é implementar
estratégias que auxiliam no controle de peso, reforçar a motivação com relação ao tratamento e
evitar a recaída e o consequente ganho de peso novamente.
A seguir estão relacionadas técnicas cognitivo-comportamentais utilizadas no programa protótipo
de promoção de estilos de vida saudáveis:
Automonitorização: O jovem deve tomar consciência e capacidade para compreender o seu
comportamento alimentar. Para isto, os pais e jovens são ensinados a monitorizar e registar a
ingestão de alimentos e a atividade física diária. A automonitorização permite a identificação de
padrões de comportamento típicos que podem ser alterados através da intervenção. Os registos
devem ser revistos em cada sessão do programa e devem proporcionar a retro-alimentação sobre os
resultados da intervenção, o estabelecimento de objetivos e a análise de possíveis situações
problemáticas de forma a dotar o jovem e os pais de estratégias de resolução das dificuldades.
Informação sobre nutrição e atividade física: Os pais e jovens devem receber informação, através
de leituras e discussões em grupo, sobre nutrição e atividade física. O objetivo desta intervenção
não é a imposição de dietas ou de exercício físico, mas o desenvolvimento de hábitos de
alimentação e de atividade física saudáveis.
Estabelecimento de objetivos: O jovem e os seus pais devem estabelecer objetivos concretos e
realistas, mas desafiantes, para facilitar a mudança do estilo de vida do jovem. É importante o
estabelecimento de objetivos diários definidos em termos de novos comportamentos e cognições e
não em termos de perda de peso. Para facilitar o alcance destes objetivos, os jovens devem elaborar
planos de ação.
Controle de estímulos: Este é um dos componentes terapêuticos mais utilizados nos programas
de controlo de peso com o objetivo de reduzir os estímulos que controlam o comportamento
alimentar desadequado e não saudável. As estratégias utilizadas incluem limitar a ingestão de
alimentos a um lugar apenas da casa, reduzir os elementos distraidores durante a ingestão de
alimentos, não realizar outras atividades enquanto decorre o comportamento alimentar (p.ex., ver
televisão), desenvolver atividades alternativas prazerosas em substituição do comportamento
alimentar (p.ex., passear o cão, telefonar a um amigo, etc.) e seguir um horário regular para as
refeições.
Técnica de gestão de contingências: Geralmente, os programas utilizam sistemas estruturados de
reforço para promover a mudança comportamental. Aquando da elaboração da lista de possíveis
reforços é importante não incluir alimentos, guloseimas ou outro tipo de reforços que podem
contradizer os objetivos do programa. Atividades que promovam a mudança positiva (p.ex., andar
de bicicleta) são o tipo de reforços que comumente se utilizam.
¹ Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.
Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br; Contato: daniela.souzao@yahoo.com.br
² Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.
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Contrato comportamental: Este método pode assegurar a mudança do comportamento. Através
do contrato comportamental o jovem e o psicólogo ou os pais estabelecem objetivos e as
recompensas do alcance desses objetivos.
Técnicas Cognitivas: A investigação sugere que as técnicas de reestruturação cognitiva, treino de
auto-instrução e resolução de problemas contribuem para a eficácia dos programas com os objetivos
de promover o controlo de peso e desenvolver estilos de vida mais saudáveis nos adolescentes.
Desta forma, torna-se fundamental a inclusão destas técnicas neste tipo de programas.
Como visto, de acordo com a tese descrita e os dados da literatura, os instrumentos da TCC são
claros e objetivos. Percebe-se o quanto são possíveis na prática clínica e é muito fácil visualizar e
acompanhar a lógica dessa teoria. De fato, quando se trabalha com indivíduos torna-se
imprescindível levar em consideração a sua tríade cognitiva (pensamentos, sentimentos e
comportamentos) e principalmente o que elas pensam e acreditam como verdade. Na prática clínica,
esse aprendizado permite promover modificações cognitivas e comportamentais mais duradouras e
efetivas, observando-as em longo prazo. Por isso, é preciso atentar-se às crenças e pensamentos
apresentados pelos pacientes, identificar as repetições, as ênfases e valores que os pacientes dão
aos diversos temas abordados nas sessões.
Quando se trata de indivíduos obesos, esse trabalho é imprescindível. Geralmente são pessoas
que desejam emagrecer com uma longa história de tentativas de perda de peso. Provavelmente já
procuraram diversos profissionais e, na maioria das vezes, o que alcançaram foi o reforço da ideia
de que “emagrecer e manter-se magro é muito difícil ou mesmo impossível”. A maioria das pessoas
que emagrecem com dieta começa a recuperar os quilos perdidos dentro de um ano, não adotando
acompanhamento para a fase de manutenção.
Aprender a modificar o pensamento, resolver dificuldades relacionadas à dieta e questões
também não relacionadas diretamente a ela e motivar-se para adotar comportamentos mais
saudáveis é o diferencial da TCC. Pesquisas mostram que pessoas podem mudar seu
comportamento e mantê-la. Porém se não modificar a forma de pensar, não conseguirá sustentar os
novos hábitos. Ou seja, necessita mudar o pensamento e o comportamento: alimentar-se de uma
forma mais nutritiva, ter bons hábitos alimentares, praticar atividade e exercício físico, emagrecer
devagar, fazer da dieta uma prioridade, assertividade, ser tolerante à fome e vontade incontrolável
de comer, abster-se de comer pelo emocional e, o mais importante, manter-se motivada com
conquistas em longo prazo.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
PEREIRA, Cláudia Sofia Madureira. Programa Protótipo de Promoção de Estilos de Vida Saudáveis, Lisboa, 2008.
Tese (Mestrado), Núcleo de Psicoterapia Cognitiva - Comportamental e Integrativa, Faculdade de Psicologia e
de Ciências da Educação, Universidade de Lisboa.
Disponível em: http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/718/1/17442_MONOGRAFIA.pdf Acesso em: 11
de Junho de 2012.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA. Obesidade: Terapia Cognitivo
Comportamental, 2005. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/5_volume/34-ObesTerap.pdf.
Acesso em: 11 de Junho de 2012.
¹ Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.
Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br; Contato: daniela.souzao@yahoo.com.br
² Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.
Contato: anderson.cardeal@gmail.com