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Nº 309 Abril de 2015 Órgão Oficial do Corecon-Rj e Sindecon-Rj
Escolas da Macroeconomia
Quadro-síntese encerra publicações
dos 12 artigos da série
Fórum Popular do Orçamento
Terceiro artigo sobre o OCA
aborda combate ao uso de crack
Entrevista exclusiva
com Guilherme Estrela,
o descobridor do pré-sal,
e artigos de Paulo Metri, Claudio
Abramo, Mauro Santayana
e Wadih Damous discutem
Petrobras, pré-sal, mercado
mundial de petróleo
e impactos da Lava Jato.
Petrobras e petróleo
Órgão Oficial do CORECON - RJ
	 E SINDECON - RJ
	 Issn 1519-7387
Conselho Editorial: Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, José Ricardo de Moraes Lopes, Sidney Pas-
coutto da Rocha, Gilberto Caputo Santos, Marcelo Pereira Fernandes, Gisele Rodrigues, João Paulo
de Almeida Magalhães, Sergio Carvalho C. da Motta, Paulo Mibielli Gonzaga. Jornalista Responsá-
vel: Mar­celo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME (CNPJ: 74.155.763/0001-48; tel.:
21 2232-3866). Projeto Gráfico e diagramação: Rossana Henriques (rossana.henriques@gmail.
com). Ilustração: Aliedo. Revisão: Bruna Gama. Fotolito e Impressão: Ediouro. Tiragem: 13.000
exemplares. Periodicidade: Mensal. Correio eletrônico: imprensa@corecon-rj.org.br
As matérias assinadas por colaboradores não refletem, necessariamente, a posição das entidades.
É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte.
CORECON - CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA/RJ
Av. Rio Branco, 109 – 19º andar – Rio de Janeiro – RJ – Centro – Cep 20040-906
Telefax: (21) 2103-0178 – Fax: (21) 2103-0106
Correio eletrônico: corecon-rj@corecon-rj.org.br
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Presidente: José Antonio Lutterbach Soares. Vice-presidente: Sidney Pascoutto da Rocha.
Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2014-2016) Arthur Câmara Cardozo, Gisele Mello Sen-
ra Rodrigues, João Paulo de Almeida Magalhães – 2º TERÇO: (2015-2017) Antônio dos Santos
Magalhães, Gilberto Caputo Santos, Jorge de Oliveira Camargo – 3º TERÇO: (2013-2015) Car-
los Henrique Tibiriçá Miranda, Sidney Pascoutto Rocha, José Antonio Lutterbach Soares.  Con-
selheiros Suplentes: 1º TERÇO: (2014-2016) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Regina Lúcia
Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fernandes – 2º TERÇO: (2015-2017) André Luiz Rodrigues
Osório, Flavia Vinhaes Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno – 3º TERÇO: (2013-2015) Cesar
Homero Fernandes Lopes, José Ricardo de Moraes Lopes, Sérgio Carvalho Cunha da Motta.
Sindecon - Sindicato dos Economistas do estado do RJ
Av. Treze de Maio, 23 – salas 1607 a 1609 – Rio de Janeiro – RJ – Cep 20031-000. Tel.: (21)2262-
2535 Telefax: (21)2533-7891 e 2533-2192. Correio eletrônico: sindecon@sindecon.org.br
Mandato – 2014/2017
Coordenação de Assuntos Institucionais: Sidney Pascoutto da Rocha (Coordenador Geral),
Antonio Melki Júnior, Jose Ricardo de Moraes Lopes e Wellington Leonardo da Silva
Coordenação de Relações Sindicais: João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Tibi-
riçá Miranda, César Homero Fernandes Lopes, Gilberto Caputo Santos.
Coordenação de Divulgação Administração e Finanças: Gilberto Alcântara da Cruz, José
Antonio Lutterbach, José Jannotti Viegas e André Luiz Silva de Souza.
Conselho Fiscal: Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Luciano Amaral Pereira e Jorge de Oliveira Camargo
O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Pas-
sarinho, de segunda à sexta-feira, das 9h às 10h30, na Rádio Livre, AM, do Rio, 1440
khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br ou www.radiolivream.com.br
2 Editorial Sumário
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Petrobras e petróleo
A crise na maior empresa brasileira levou o JE a tratar do tema da Petro-
bras. Buscamos uma abordagem alternativa à manipulação rasa e monocór-
dia apresentada ao público por grupos de mídia vinculados a interesses eco-
nômicos e partidários e travestidos de cruzados anticorrupção.
O bloco temático começa com a entrevista de Guilherme Estrella, di-
retor de exploração e produção da Petrobras no período de 2003 a 2012,
quando a empresa apresentou a imensa riqueza do pré-sal. Pouco afeito a en-
trevistas, Estrella concordou em falar ao JE e apresentou ao longo de cinco
páginas sua visão abalizada sobre a situação e o futuro da Petrobras e do mer-
cado mundial de petróleo, além de avaliar o potencial do pré-sal, o modelo
de partilha, a construção de refinarias e o escândalo de corrupção na estatal.
Paulo Metri, do Clube de Engenharia, defendeu a manutenção do mo-
delo de partilha com as atuais prerrogativas de conteúdo nacional e partici-
pação da Petrobras como operadora única e detentora de 30% de todos os
consórcios. A discussão é pertinente considerando que há um projeto de lei
do senador José Serra que retira da Petrobras a exclusividade de operação dos
campos do pré-sal.
Claudio Abramo, da Transparência Brasil, ressalta que o escândalo da
Petrobras confirmou as piores previsões que se faziam desde que se determi-
nou, em 1998, que a estatal contaria com um regime especial de licitações.
O autor defende uma emenda constitucional que reduza a nomeação de
pessoas indicadas por partidos políticos a cargos na administração pública.
O respeitado jornalista Mauro Santayana avalia que, em uma situação
em que fosse considerada apenas a lógica produtiva e de mercado, a Petro-
bras estaria vivendo um excelente momento, o que só não acontece em fun-
ção do fator político.
Wadih Damous, ex-presidente da OAB/RJ, afirma que a Operação La-
va Jato atenta contra direitos constitucionais. Os danos econômicos à Petro-
bras produzidos pela operação já são maiores do que os das condutas crimi-
nosas que se pretende punir.
O artigo do FPO é o terceiro de uma série dedicada a avaliar as políti-
cas públicas relativas ao Orçamento Criança e Adolescente (OCA) no Rio.
O tema é Assistência Social, com destaque para o combate ao uso de crack.
A série Escolas de Macroeconomia, um projeto institucional do Core-
con-RJ que contou com 12 artigos, chega ao fim nesta edição com a publi-
cação de um quadro-síntese comparativo dos entendimentos de cada escola
em relação a questões-chave.
Em linha com o tema desta edição, gostaríamos de registrar o nosso
profundo pesar com o falecimento de Maria Augusta Tibiriçá Miranda, 97
anos, veterana da histórica campanha “O Petróleo é nosso”.
Entrevista: Guilherme Estrella............................................................3
“Qual crise pode abalar uma empresa petrolífera
que detém mais de 30 bilhões de barris de reservas
e possui conhecimento, tecnologia e excelência
operacional para produzi-los com excepcional lu-
cratividade?”
Petrobras e petróleo...........................................................................8
Paulo Metri
Modelos de organização do setor de petróleo
Petrobras e petróleo.........................................................................10
Claudio Weber Abramo
Desgoverno estrutural
Petrobras e petróleo.........................................................................12
Mauro Santayana
A Petrobras e o fator político
Petrobras e petróleo.........................................................................13
Wadih Damous
Estado de direito ameaçado
Fórum Popular do Orçamento.........................................................14
Crack, um problema de saúde e social, nunca de
segurança
Escolas da Macroeconomia.............................................................16
Escolas de Macroeconomia: Quadro-síntese
3
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Entrevista: Guilherme Estrella
“Qual crise pode abalar uma empresa petrolífera que
detém mais de 30 bilhões de barris de reservas e possui
conhecimento, tecnologia e excelência operacional para
produzi-los com excepcional lucratividade?”
O geólogo Guilherme Estrella trabalhou na Petrobras por mais de 40 anos,
quando exerceu vários cargos no Brasil e no exterior. De 2003 a 2012, foi di-
retor de exploração e produção da estatal. Foi neste período que a Petrobras
e o governo federal divulgaram as informações sobre as imensas reservas
brasileiras de petróleo e gás em águas profundas, o que valeu a Estrella a
designação de “descobridor do pré-sal” ou “pai do pré-sal”.
Os serviços prestados por Estrella à sociedade brasileira e uma trajetória pro-
fissional sem máculas não o livraram da fúria inquisitória da grande imprensa
brasileira. Na edição do Jornal Nacional de 5 de fevereiro, Estrella foi acusado
de ligação com o esquema de corrupção de Pedro Barusco, inverdade que foi
desmentida no mesmo programa quatro dias depois com direito a um pedido
de desculpas de William Bonner.
Avesso à exposição pública, Estrella concedeu esta entrevista exclusiva ao JE,
em que detalhou sua visão sobre a Petrobras, o pré-sal e o mercado de petróleo.
P: Que Petrobras vai emergir da
crise atual? Como você vê a em-
presa em médio e longo prazos?
R: Qual crise pode abalar uma
empresa petrolífera que detém
mais de 30 bilhões de barris de
reservas de petróleo e gás natu-
ral, possui conhecimento, tec-
nologia e excelência operacio-
nal para produzi-los em grandes
e crescentes volumes (hoje mais
de 2,8 milhões de bbl equivalen-
tes) com excepcional lucrativi-
dade – mesmo aos atuais preços
internacionais? Acrescente-se a
isto 11 refinarias (mais uma em
construção), três terminais de
GNL, duas fábricas de fertilizan-
tes e certamente o mais impor-
tante ativo estratégico a garan-
tir a sua sustentabilidade a longo
prazo, que é sua posição hegemô-
nica num mercado praticamente
cativo de um dos mais importan-
tes países do mundo, em todos os
sentidos, e com gigantescas oportu-
nidades de permanente e contínuo
crescimento econômico e social,
como já vem acontecendo?
Crise seria se o corpo de empre-
gados da Petrobras não estivesse a
demonstrar através de excepcionais
resultados empresariais a compe-
tência, a dedicação e o compromis-
so com o Brasil e com a empresa
em níveis como sempre de excelên-
cia profissional. Se isto estivesse a
ocorrer, aí sim, investidores, acio-
nistas e, mais importante, os cida-
dãos brasileiros teriam razões para
perder a confiança na Petrobras
Vejamos a mais recente con-
4
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Entrevista: Guilherme Estrella
quista, pela terceira vez, a única em-
presa petrolífera do mundo a atin-
gir este feito: o prêmio maior da
indústria petrolífera mundial, na
conferência de tecnologia offsho-
re (OTC), pelo megaprojeto de ex-
ploração e produção do pré-sal.
É inquestionável, portanto,
que o que está a acontecer justifica
não a desconfiança, mas o contrá-
rio, o integral apoio do chamado
“mais amplo público de interesse”
da Petrobras nos destinos da com-
panhia, ainda mais quando gen-
te corrupta está finalmente a ser
identificada e devidamente puni-
da pela justiça brasileira, num pro-
cesso criminoso que atinge a com-
panhia há décadas – como tem
sido confessado por muitos dos
envolvidos – e que só agora está
sendo corrigido exemplarmente.
Na verdade, a repetir opinião
de cidadãos brasileiros muito im-
portantes, reflexivos e conscientes
de nossa importância como na-
ção neste século XXI, esta “crise”
– isso mesmo, entre aspas – é uma
tentativa de desconstrução não só
da Petrobras, mas do Brasil.
Há amplo reconhecimento in-
ternacional que o nosso país es-
tá destinado a transformar-se
num decisivo protagonis-
ta da cena geopolítica
mundial.
Sem querer ser repe-
titivo, não se está aqui a su-
bestimar a total negatividade
da imoralidade que ocorreu na
Petrobras, mas este é o campo
de atuação da justiça brasileira
que pela primeira vez em nossa
história adquiriu a independência e
a autonomia para cumprir sua mis-
são constitucional. Está definitiva-
mente enterrada a era do “Engave-
tador Geral da República”.
Resumo da ópera, os extraor-
dinários resultados empresariais
da Petrobras na última década, co-
mo de resto ao longo de seus mais
de 60 anos, desmascaram e põem
a nu os reais objetivos desta cam-
panha lesa-pátria em que insistem
os poderosos defensores de interes-
ses não brasileiros na tentativa de
desestabilizar a Petrobras e o Brasil.
P: Qual é a sua análise do mer-
cado mundial do petróleo no to-
cante ao preço do barril? O pre-
ço tende a se estabilizar no baixo
patamar atual ou se recuperar?
Qual o custo de produção do
barril do pré-sal hoje e como es-
se custo deve evoluir nos próxi-
mos anos? O Brasil corre o risco
de “micar” com o pré-sal?
R: O registro histórico exibe uma
marca incontestável, que é a peri-
ódica oscilação, para cima e para
baixo, do preço do petróleo.
A causa principal para as gran-
des altas é a instabilidade política
das regiões produtoras mais im-
portantes – leia-se Oriente Médio.
A causa maior das baixas mais ex-
pressivas são as crises econômicas
globais.
O Oriente Médio está mergu-
lhado numa crise sem fim, provo-
cada pela descarada intervenção
de potências militares estrangeiras
nas políticas internas dos países da
região. Logo, o preço do petróleo
não deveria ter despencado.
O mundo atravessa há mais
de uma década uma profunda cri-
se econômica que começou com a
criminosa crise do sistema financei-
ro norte-americano e se espalhou
planeta afora, produzindo acentu-
ada queda nas taxas de crescimen-
to dos países, quando não períodos
de recessão e demolição das econo-
mias nacionais, como vimos prin-
cipalmente na Europa, com as trá-
gicas consequências sociais que
todos conhecemos. Logo, o petró-
leo deveria estar em patamares bai-
xos em relação ao passado pré-crise.
O que diferencia o momen-
to que estamos a atravessar são as
importantes descobertas de óleo e
gás de “xisto” nas bacias sedimen-
tares interiores norte-americanas,
que passaram a desempenhar um
item importante no suprimento
do maior – de longe – consumi-
dor de energia do planeta.
Neste contexto há dois pontos
críticos para se refletir sobre um
cenário prospectivo minimamen-
te confiável.
O primeiro é que a demanda
mundial não caiu – as previsões
continuam a apontar para o cres-
cimento do consumo apesar da
crise econômica mundial.
O segundo é que preços baixos
como o que estamos a praticar in-
viabilizam a produção do óleo/gás
de “xisto” norte-americano. As em-
presas de serviços especializados na
indústria petrolífera já indicam que
as atividades de E&P nas bacias se-
dimentares norte-americanas estão
decrescendo significativamente, o
que traz certo realismo na previsão
de que a produção do maior con-
sumidor mundial chegou ao limi-
te econômico e pode diminuir ra-
pidamente.
Estas considerações levam-
-nos a considerar o atual pata-
mar de preços baixos como um
“ciclo”, que, repito, como nos
mostram os dados históricos,
passará. Retornaremos a preços
em patamares bem mais eleva-
dos num futuro próximo.
Um fato que reforça esta previ-
são é a manutenção, por parte do
governo norte-americano, da proi-
da Petrobras, mas do Brasil.
Há amplo reconhecimento in-
ternacional que o nosso país es-
tá destinado a transformar-se
num decisivo protagonis-
ta da cena geopolítica
mundial.
Sem querer ser repe-
titivo, não se está aqui a su-
bestimar a total negatividade
da imoralidade que ocorreu na
Petrobras, mas este é o campo
de atuação da justiça brasileira
que pela primeira vez em nossa
5
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Entrevista: Guilherme Estrella
bição de exportação do óleo pro-
duzido em seu território nacional,
que dá a entender que há incerte-
zas concretas quanto à sustentabili-
dade de sua produção interna.
Quanto ao pré-sal brasileiro,
nada a ameaçar sua produção. O
chamado “CTPP” – custo total do
petróleo produzido – da Petrobras
não só é muito atrativo em rela-
ção aos preços atuais como tende
a diminuir a partir dos resultados
obtidos pelos programas de desen-
volvimento tecnológico e de me-
lhorias operacionais, iniciados há
mais de 10 anos, cujos impactos
positivos no CTPP já são sentidos.
Em relação a reservas de petró-
leo e gás natural, a primeira e bási-
ca, elementar lição que a realidade
geopolítica mundial concernente
à segurança energética estratégi-
ca das nações nos dá é que não há
“micos” neste assunto.
Ao contrário, as grandes potên-
cias mundiais surgidas ao longo do
século passado têm nos ensinado à
exaustão que a identificação e apro-
priação de reservas petrolíferas no
planeta Terra, onde quer que exis-
tam, necessárias para a sustentabi-
lidade e preservação de suas hege-
monias globais, são prioritárias em
suas estratégias de segurança nacio-
nal. E os exemplos estão aí a nos
mostrar à exaustão que as soluções
adotadas para que isto lhes seja as-
segurado extrapolam frequente-
mente o trabalho de seus geólogos,
e passam a ser tratadas por seus ge-
nerais e almirantes. Simplesmente
porque energia – leia-se petróleo e
gás natural – é ponto central da so-
berania de qualquer nação impor-
tante no mundo, como o Brasil.
Aliás, na opinião de muitos ana-
listas, a reativação da quarta frota
norte-americana – para o Atlântico
Sul – está aí para não deixar dúvi-
das quanto a isto.
O pré-sal brasileiro é uma
das mais importantes e estraté-
gicas riquezas da nossa pátria,
absolutamente indispensável
para que o Brasil, como nação
soberana e detentora real de au-
tonomia de decisão, se desen-
volva social, econômica, tecno-
lógica e politicamente.
P: Considerando a perda do
grau de investimento, a Petro-
bras terá recursos para fazer os
investimentos necessários para
cumprir as condições estipula-
das no modelo atual de partilha
de exploração do pré-sal, que
prevê que a empresa será a ope-
radora e terá 30% de todos os
campos? A Petrobras conseguirá
cumprir os cronogramas estipu-
lados pela ANP?
R: Muito me impacta, como cida-
dão brasileiro, a importância que
se dá, entre nós, às avaliações das
chamadas “agências de risco” e ou-
tros prestigiados analistas de mer-
cado a respeito do Brasil e de nossas
maiores empresas. O que são estas
instituições e quem estas pessoas?
A que interesses se subordinam e
servem? Eu mesmo – pessoalmen-
te e num evento interno – cheguei
a ouvir a declaração de um destes
“profissionais” a recomendar que
se comprassem ações da OGX e da
HRT, “mais atrativas que as da Pe-
trobras”. Uma barbaridade sem ta-
manho, mas acatada pela sinistra
entidade chamada de “mercado”;
e muita gente honesta acreditou e
colocou suas economias naquelas
ações. Deu no que deu.
É indispensável que se veja o
filme Trabalho Interno, do diretor
Charles Ferguson, premiado em
2010 em Cannes, Toronto e No-
va Iorque. O DVD está nas lojas já
há algum tempo. Conta nua e cru-
amente a história da crise econômi-
ca mundial que resultou na falência
do sistema financeiro norte-ameri-
cano, salvo pela módica mesada,
durante anos, de US$ 85 bilhões
mantida pelo governo daquele pa-
ís para empresas, bancos e outros.
Pois bem, estas mesmas “agências
de risco” avaliaram continuamen-
te papéis do mercado financeiro in-
ternacional como “AAA”, “triple
A” na língua deles, até que estes pa-
péis valessem zero! Esse pessoal não
tem demonstrado competência pa-
ra cumprir, exercer minimamente
o papel de avaliadores confiáveis a
que se propõem.
Mesmo que se conceda con-
siderar a opinião destas agências,
não faz qualquer sentido, agri-
de a mais rudimentar racionali-
dade econômica que a Petrobras,
a maior empresa petrolífera mun-
dial com ações em bolsa, com mais
de 30 bilhões de barris de reservas
totais de petróleo e gás natural e a
produzir mais 2,8 milhões de bar-
ris equivalentes, tenha sua “avalia-
ção” diminuída.
Prova disto foi, no ano pas-
sado, a Petrobras ter ido ao exte-
rior buscar financiamento e con-
seguir US$ 8 bilhões e ter oferta
de US$ 22 bilhões, a significar de
forma inconteste a confiança dos
investidores externos na saúde fi-
nanceira e econômica da empre-
sa e na competência de seu quadro
de empregados para a transforma-
ção de seus imensos recursos em
riquezas que garantam o retorno
adequado de seus investimentos.
São inúmeras as opiniões
que indicam haver outros inte-
resses por detrás desta avalia-
ção e que o foco central destas
avaliações seria concretamente
enfraquecer a empresa e tentar
extinguir o marco regulatório
do pré-sal, centrado na opera-
ção única por parte da Petro-
bras. Portanto a Petrobras tem
todas as condições necessárias
e suficientes para obter o finan-
ciamento destinado à implan-
tação de seus projetos e para o
integral cumprimento de todos
os seus compromissos, mais que
com a ANP, com o Brasil.
P: Como você avalia a proposta
de mudança do modelo de par-
tilha para o de concessão? O que
é melhor para a sociedade brasi-
leira? Por quê?
R: Primeiro vamos analisar os fun-
damentos básicos que diferenciam
os dois modelos – concessão e par-
tilha de produção – o que é muito
simples. O ponto central de ambos
é representado pelo risco explora-
tório para se descobrir uma acumu-
lação de óleo/gás cuja produção se-
ja economicamente viável.
A estatística mundial apon-
ta para índice de sucesso de poços
exploratórios em torno dos 10%.
Quer dizer, para cada 10 poços ex-
ploratórios que as empresas pe-
trolíferas perfuram, somente um
resulta em descoberta que vai desa-
guar num campo com produção de
óleo/gás economicamente viável.
Para correr este risco – que não
é pequeno, principalmente pelo
elevado custo de perfuração dos
poços no mar, a maioria maior
que US$ 60 milhões, não raro ex-
6
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Entrevista: Guilherme Estrella
trapolando US$ 100 milhões – há
que se atrair o investidor com con-
dições compensadoras.
No caso das concessões, este
atrativo é a propriedade integral
do petróleo e gás produzidos sem a
imposição de condicionante polí-
tica, social ou econômica por parte
do poder concedente, no nosso ca-
so o Estado brasileiro.
O modelo de concessão tem co-
mo coluna de sustentação negocial
o risco exploratório que o investi-
dor enfrenta. Em caso de sucesso,
ele é proprietário integral do petró-
leo e gás produzidos, sem qualquer
interferência do concedente.
Agora considero importante
para a compreensão integral do ca-
so brasileiro falar algo sobre o que
aconteceu na nossa bacia de San-
tos. Objeto de pesados investi-
mentos exploratórios por parte da
Petrobras, ainda sob o regime do
monopólio, as águas rasas desta
imensa bacia sedimentar brasilei-
ra hoje totalmente submersa, sem
dúvida a mais extensa bacia marí-
tima de nosso país, mostraram-se
em sua maior parte estéreis com
respeito às condições geológicas
mínimas para a ocorrência de acu-
mulações de petróleo e gás natural.
Aberta aos chamados contratos
de risco na década de 70 do sécu-
lo passado, houve apenas uma pe-
quena descoberta de gás em águas
rasas – merluza – pela Shell, cuja
economicidade foi muito discuti-
da à época, mas que afinal foi de-
senvolvida. Pouco mais tarde a
Petrobras descobriu óleo leve no
Paraná/Santa Catarina, os campos
de Coral, Estrela-do-mar e outros
campos pequenos, muito proble-
máticos e com baixas produtivida-
de e atratividade econômica.
Com a quebra do monopólio,
em 1997, blocos em águas profun-
das e ultraprofundas foram adqui-
ridos por várias empresas estran-
participação nos consórcios ven-
cedores das licitações; e participar
– o governo brasileiro – nos con-
sórcios através de uma empresa
pública – a Petróleo Pré-sal.
Esta estruturação do modelo
garante ao país, tendo sua empre-
sa como operadora – que é quem
tudo decide nos consórcios – o
cumprimento de políticas gover-
namentais voltadas ao desenvolvi-
mento científico, tecnológico e in-
dustrial brasileiro e a promoção de
empresas genuinamente brasileiras
em todo o amplo espectro da in-
dústria petrolífera. Assegura desta
forma a consolidação da engenha-
ria verdadeiramente brasileira num
setor estratégico para o país ao lon-
go deste século XXI.
A proposta de desmonte des-
te modelo e retorno ao modelo
de concessão é lesiva, portanto,
aos reais interesses estratégicos
nacionais e por isso representa
um inaceitável retrocesso pela
nação brasileira.
P: Considerando os problemas
enfrentados pela Sete Brasil e ou-
tros fornecedores e a queda no
preço do barril, é viável manter as
exigências de conteúdo nacional?
R: O Brasil parou por décadas.
Atravessou um longo período de
desindustrialização, mais do que
isso, de desnacionalização do par-
que industrial que sobrou após
este período. O país foi submeti-
do a um processo de privatização
de suas empresas estatais acompa-
nhado pelo criminoso desmon-
te de seus respectivos órgãos de
pesquisa, desenvolvimento e en-
genharia (P,D&E). Só sobrou o
Cenpes, da Petrobras, que a onda
neoliberal-colonialista não conse-
guiu arrastar, apesar dos enormes
esforços para isto.
O governo que entra em 2003
decide retomar o desenvolvimento
nacional com extrema rapidez, co-
meçando pelo setor petrolífero, a
exigir que a Petrobras “contrate no
Brasil o que pode ser feito no Bra-
sil”. Logo em seguida surge o pré-
-sal, a aprofundar a demanda por
novos equipamentos.
Certamente não é fácil dar es-
te pulo a partir de uma “terra ar-
rasada” como era a situação da in-
dústria naval brasileira. Muitos
“avaliadores do contexto nacio-
nal” externaram seu total ceticis-
mo quanto à possibilidade disso
se materializar. Quebraram a cara,
como sabemos. Estão aí os inúme-
ros navios de produção, barcos de
apoio e navios petroleiros fabrica-
dos nos estaleiros aqui localizados.
Mas o pré-sal trouxe uma novi-
dade entre suas necessidades mais
essenciais: diferentemente dos na-
vios de produção – equipamentos
cuja construção emprega tecnolo-
gias correntes, dominadas – para
perfurar em águas ultraprofundas
exigem-se sondas de perfuração
superespeciais, de tecnologia ultra-
-avançada, principalmente na au-
tomação e nos requisitos de segu-
rança operacional.
Como a faixa de águas ul-
traprofundas é a última frontei-
ra exploratória para petróleo e gás
natural do planeta, estas sondas es-
peciais serão extremamente requi-
sitadas ao longo deste século XXI
e as dificuldades iniciais da Petro-
bras em contratar estes equipa-
mentos comprovam isso.
Para permitir a produção
desta imensa riqueza nacio-
nal é indispensável a capacita-
ção da indústria naval brasilei-
ra, de maneira que o Brasil não
dependa dos estaleiros no exte-
rior para construir estas sondas.
Dentro deste contexto absoluta-
mente estratégico foi constituí-
da a empresa Sete Brasil. Trata-
-se, portanto, de uma iniciativa
geiras, mas foi a Petrobras que, de
longe, conseguiu a maioria deles e
a empresa que, também de longe,
mais investiu em exploração na ba-
cia de Santos desde então.
Como resultado direto desta
decisão de concreta retomada pe-
la Petrobras das atividades explo-
ratórias na bacia de Santos, logo
surgiram descobertas do pós-sal
(campos de Mexilhão – o maior
campo de gás brasileiro – Uruguá
e Tambaú, com óleo pesado “ti-
po Campos”, mais tarde os cam-
pos de Baúna e Piracaba) e depois
– em águas ultraprofundas, mais
de 2.000m de lâmina d’água – vá-
rios megacampos (mais de um bi-
lhão de barris de reservas) de óleo
leve no pré-sal – Lula, Sapinhoá,
“Franco”, “Libra” e tantos outros.
As descobertas do pré-sal por
parte da Petrobras se deram em
todos os poços perfurados com
aquele objetivo específico, revelan-
do que os exploracionistas da com-
panhia haviam construído com in-
questionável sucesso geocientífico
o que se denomina de “sistema pe-
trolífero”. A partir daí o risco ex-
ploratório desapareceu, eliminan-
do o pilar principal do modelo de
concessão. Quando isto ocorre, em
qualquer parte do planeta, o mo-
delo de concessão é imediatamen-
te substituído pelo de “partilha de
produção”, segundo o qual, em li-
nhas bem gerais, os governos na-
cionais tornam-se proprietários do
petróleo e gás produzidos pelos
campos descobertos e ressarcem as
empresas operadoras pelos gastos
operacionais.
Mas o modelo de partilha es-
colhido pelo governo brasileiro
adota características especiais: le-
vando em conta ter sua empresa
estatal como a principal operadora
em águas ultraprofundas de todo o
mundo, designá-la como operado-
ra única, com no mínimo 30% de
7
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Entrevista: Guilherme Estrella
do mais alto interesse nacio-
nal brasileiro, e todas as medi-
das que sejam necessárias pa-
ra torná-la realidade devem ser
tomadas pelo governo brasilei-
ro, levando em conta que preços
atuais do petróleo não devem
afetar a imperativa necessidade
do Brasil de ser um país sobera-
no e autossuficiente em energia.
P: Você acredita na retomada da
construção das refinarias no Ma-
ranhão e Ceará e das ampliações
no Coperj e na Abreu e Lima ou
o abandono destes projetos é de-
finitivo?
R: O Brasil está entre as dez maio-
res economias do mundo. Mas
nosso consumo de energia per ca-
pita é extremamente pequeno.
Em dados de 2010 – não devem
ser muito diferentes hoje – os va-
lores em tep/ano eram: mundo
(1,83); OCDE (4,56); América
Latina (1,24); China (1,60); Rús-
sia (7,50); Brasil (1,29).
Como consumo de energia
equivale a qualidade de vida, po-
demos deduzir o abismo que exis-
te entre a qualidade de vida de um
brasileiro e a de seu igual em qual-
quer dos países que compõem o
grupo das 10 maiores economias
mundiais, o que é uma realidade
concreta.
Logo, mantido o processo de
desenvolvimento econômico-so-
cial que estamos a experimentar
na última década, nosso consumo
de energia per capita deve crescer
em taxas muito elevadas ao longo
da primeira metade deste século.
Dentro deste contexto, leia-se con-
sumo de gás natural e de derivados
de petróleo.
Gente do ramo conside-
ra que o Brasil – um país sobre
pneus – deverá consumir entre
cinco e seis milhões de barris de
petróleo/dia por volta de 2030.
Logo, novas refinarias deverão
ser construídas para atender a
demanda doméstica de deriva-
dos. Como a produção nacional,
com o pré-sal e demais desco-
bertas em águas ultraprofun-
das ao longo de nosso mar ter-
ritorial, excederá este volume, o
Brasil deverá exportar, na mes-
ma época, cerca de um a dois
milhões de barris/dia de petró-
leo bruto. Agregar valor, pelo
refino, a este excedente nacional
será indispensável e estas novas
refinarias atenderão a estas im-
posições econômicas para valo-
rizar nossas exportações.
As regiões nordeste e norte-
-oceânica brasileiras carecem de
refinarias para suprir seu próprio
consumo. Ao mesmo tempo, por
localizarem-se ao longo da linha
do Equador e às portas do Atlânti-
co Norte, com suas economias al-
tamente consumidoras de energia,
refinarias ali localizadas – além da
Abreu e Lima – serão importantes
para exportar seus produtos. Não
tenho dúvidas quanto a estas pre-
missas. Agora, capacidade produ-
tiva, (re) localização e época de
construção podem ser objeto de
(re) estudos ou não.
O Comperj – localizado em
nossa região industrial mais desen-
volvida – é um importante ativo
em construção da Petrobras para a
produção de matéria prima petro-
química e para a produção de com-
bustíveis, principalmente diesel,
de que somos carentes. Seu projeto
original foi modificado para aten-
der a estas exigências, e a produ-
ção do óleo do pré-sal da bacia de
Santos, com sua elevada razão gás/
óleo, é crítica, decisiva para garan-
tir a viabilidade do projeto.
P: Que medidas a Petrobras de-
veria ter tomado no passado, e
não tomou, visando o combate à
corrupção na empresa? A Petro-
bras criou mecanismos para im-
pedir a repetição destes casos?
R: Corrupção é um problema
universal, como sabemos todos.
Existem inclusive “agências” que
“medem” índices de corrupção.
Corrupção ocorre nas famílias –
famílias reais, inclusive, e por que
não? – clubes, instituições e gru-
pamentos humanos de todos os ti-
pos, governos também de todos os
tipos, democracias, ditaduras, em-
presas estatais e privadas, pequenas
e gigantescas, instituições religio-
sas, bancos de todos os tamanhos,
países organizados com este fim,
como um todo – alguns são cha-
mados de “lavanderias” – enfim, é
uma mazela que caracteriza a so-
ciedade humana, inclusive nos ór-
gãos que a sociedade criou para fa-
zer cumprir as leis e combatê-la.
Repito, todos sabemos disto.
Mas ter consciência desta rea-
lidade não significa aceitá-la, pe-
lo contrário, e longe de mim que-
rer ensinar isso a qualquer pessoa.
Trabalhei a vida inteira numa
grande empresa e construí uma
opinião que – da mesma forma
– nada tem de inédita tampouco
inovadora: são as pessoas, os se-
res humanos os agentes, os cria-
dores de um ambiente em que a
corrupção possa se instalar.
Minha experiência de vida en-
sina-me uma realidade concreta: a
simples existência de leis rigorosas
ou “mecanismos” não evitam, por
si só, a corrupção. Há que man-
ter-se um esforço permanente na
criação, preservação e valorização
coletiva de ambientes de trabalho
– no caso das instituições de todos
os tipos – cuja cultura rejeite, por
princípio e valores fundamentais,
qualquer iniciativa que, de algu-
ma forma, facilite o desvio de con-
duta que desague em corrupção e
que, paralelamente, na mesma in-
tensidade, seja completamente in-
tolerante com qualquer postura de
impunidade em relação a atos de
corrupção. De modo que seja por
todos muito bem entendida a ideia
de que toda e qualquer tendência
de qualquer pessoa a atos ilegais
não será de forma alguma aceita
- mais do que isso, será exemplar-
mente punida. E que todos, verda-
deiramente todos saibam, enten-
dam, conheçam e pratiquem estas
diretrizes.
8
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Petrobras e petróleo
Paulo Metri*
U
m modelo de organização
do setor de petróleo, para
ser adotado por um país,
deve conter o máximo de impactos
sociais positivos e o mínimo de ne-
gativos. Alternativas de modelo não
devem ser analisadas olhando-se só
um aspecto, como é o caso frequen-
te do uso do aumento da atividade
econômica, resultante dos modelos,
para que a decisão seja tomada. As-
sim, a melhor opção pode ser lucra-
tiva para as empresas e não acarretar
grande benefício social.
Os seguintes critérios de ava-
liação dos modelos, para apoiar o
processo de escolha, são sugeridos
a seguir. O modelo deve: (1) prio-
rizar a posse pelo Estado brasileiro
do máximo de petróleo produzido,
visando à realização de ações estra-
tégicas; (2) maximizar a arrecada-
ção de tributos para permitir ao Es-
tado suportar programas sociais;
(3) minimizar o preço de venda dos
derivados de maior consumo pela
classe pobre; (4) gerar o máximo de
compras e empregos no país, com
ênfase na fase de implantação dos
empreendimentos; (5) contratar
ao máximo no Brasil os serviços de
desenvolvimento tecnológico e de
engenharia; (6) minimizar a possi-
bilidade de acidentes em unidades
operacionais e de transporte e os
impactos ao meio ambiente.
O primeiro modelo do setor
do petróleo a ser considerado é o
do monopólio estatal, que maxi-
miza os benefícios sociais em um
país em desenvolvimento, des-
de que haja controle social sobre
a estatal executora do monopó-
lio, para evitar o seu uso políti-
co e corporativo. A afirmação que
“o monopólio é prejudicial à socie-
dade, porque a empresa monopolis-
ta fixa livremente o preço de venda
dos seus produtos” só é verdade para
um monopólio privado. Um mo-
nopólio estatal controlado pela so-
ciedade não a extorque.
O monopólio estatal pode ser
usado como instrumento eficaz
para a consecução de políticas pú-
blicas, o que é impossível através
de empresas privadas. Por exem-
plo, a Petrobras foi explorar petró-
leo na bacia de Campos, nos anos
1970, quando o barril custava só
Modelos de organização
do setor de petróleo
US$12, para reduzir a dependên-
cia do Brasil ao petróleo impor-
tado, que chegava a 85%. De-
senvolveu fornecedores nacionais
para evitar compras no exterior.
Priorizou desenvolver tecnologia
no país, o que já lhe rendeu três
premiações da Offshore Technology
Conference e muita economia de
divisas. Se o monopólio não tives-
se sido criado, o Brasil seria, desde
1953, o paraíso das empresas es-
trangeiras. Aí, o Pré-Sal ainda não
teria sido descoberto, pois o petró-
leo não está escasso a ponto de elas
irem buscá-lo a 7.000 metros de
profundidade, tendo que transpor
uma camada de sal de 2.000 me-
tros. Só uma petrolífera do Esta-
do, que tem como lógica o benefí-
cio da sociedade, realiza este feito.
Por interferência do capital in-
ternacional, através de políticos en-
treguistas, o monopólio foi extin-
to em 1995. Havendo a imposição
de empresas privadas participarem
da exploração e produção de pe-
tróleo, existem no mundo três mo-
delos de contratação delas: a con-
cessão, o contrato de partilha da
produção e o de prestação de servi-
ço. Como não existe, no Brasil, pe-
trolífera privada nacional que con-
siga competir com a Petrobras e as
9
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Petrobras e petróleo
estrangeiras em águas profundas,
a contratação aqui é destas duas,
consorciadas ou não.
Nas concessões, a empresa pe-
trolífera fica com a posse total do
petróleo descoberto e paga tributos.
Se não descobrir petróleo, os inves-
timentos realizados não são ressarci-
dos pelo Estado. Nos contratos de
partilha da produção, a empresa pe-
trolífera, descobrindo petróleo, terá
posse só da sua parcela da produção,
constante do acordo de partilha. O
restante do petróleo ficará com o
Estado. A empresa poderá ainda pa-
gar tributos sobre a sua parcela. Se
não descobrir petróleo, os investi-
mentos realizados pelo contrata-
do não são ressarcidos pelo Estado.
Nos contratos de prestação de ser-
viços, a empresa petrolífera não terá
posse do petróleo descoberto e será
remunerada pelos serviços prestados
de prospecção, perfuração, produ-
ção e outros. Se não for descoberto
petróleo, será remunerada da mes-
ma forma pelo Estado.
A concessão tende a beneficiar
mais as petrolíferas em detrimen-
to do Estado, enquanto, no contra-
to de partilha, o maior beneficiário
tende a ser o Estado. Supondo que
este irá repassar o acréscimo de be-
nefícios para a sociedade, então o
contrato de partilha é melhor para
ela. Muitos porta-vozes de grupos
estrangeiros dizem, buscando con-
fundir a população, que os contratos
de concessão são mais comuns entre
os países desenvolvidos e os contra-
tos de partilha da produção são ado-
tados com mais frequência por pa-
íses em desenvolvimento. Este fato
realmente ocorre, mas a intenção ao
divulgá-lo é dizer que a concessão é
melhor que o contrato de partilha.
A maioria dos países desenvol-
vidos não tem reservas, como é o
caso da Alemanha, Japão, Fran-
ça, Itália e Coréia do Sul. As exce-
ções são Canadá, Estados Unidos,
Noruega e Reino Unido, que têm
reservas e adotam o modelo da
concessão, porque a maioria das
petrolíferas de porte, muitos for-
necedores e centros de desenvol-
vimento tecnológico do setor pe-
trolífero têm sede nestes países. Os
Estados Unidos proíbem a expor-
tação do seu petróleo, não permi-
tindo que empresas, visando uma
maior lucratividade no curto pra-
zo, contribuam para um desabas-
tecimento futuro. Isto não ocorre
no Brasil, pois, quando só exis-
tiam reservas garantidas para 17
anos, empresas estrangeiras expor-
tavam suas produções do Brasil.
A Noruega e o Reino Unido
adotam as concessões, mas tomam
medidas de repercussão social. A
Noruega destina as áreas com gran-
de expectativa da existência de pe-
tróleo para a estatal Statoil, res-
tando áreas menos nobres para as
petrolíferas estrangeiras e, mesmo
assim, com a imposição eventual
de participação da Statoil. No Bra-
sil, só recentemente, o artigo 12 da
lei do contrato de partilha foi usa-
do, permitindo a entrega direta de
áreas para a Petrobras, para tristeza
do capital internacional, que que-
ria vê-las leiloadas.
No Reino Unido, quando a ex-
ploração do Mar do Norte come-
çava, foi criado o órgão governa-
mental Offshore Supplies Office, que
determinava aos concessionários
onde, neste Reino, alguns equipa-
mentos deveriam ser comprados.
Uma atitude análoga no Brasil seria
considerada cerceamento da liber-
dade empresarial. A política brasi-
leira de conteúdo local é baseada
na indução para a compra no país e
não veta a compra no exterior. Ain-
da assim, é combatida pela mídia,
que representa o capital internacio-
nal, visando maximizar seus lucros
e pouco se importando com o pa-
ís que quer aproveitar a existência
das reservas para alavancar seu de-
senvolvimento.
Olhando as escolhas pela con-
cessão ou o contrato de partilha,
já feitas pelos países em desenvol-
vimento, a regra que pode ser de-
duzida é que aqueles com maior
grau de soberania escolhem os con-
tratos de partilha e os com baixo
grau se subordinam às concessões.
A argumentação de que em áreas de
maior risco, as empresas estrangei-
ras só se motivam a participar se ti-
verem concessões, é compreensível.
Mas isto não significa que elas não
venham a fechar contratos de par-
tilha. Com dados de 2004, África
do Sul, Argentina e Peru tinham só
concessões. Angola, Bolívia e Egi-
to tinham só contratos de partilha.
Argélia, Colômbia, Nigéria e Rússia
tinham concessões e contratos de
partilha. Países podem ter conces-
sões da época de administrações ne-
oliberais e contratos de partilha de
períodos com administrações sobe-
ranas, que deve ser o caso da Rússia.
Os contratos de serviço podem
ser prestados para o Estado dire-
tamente ou para estatais do setor.
Neste caso, tem-se grande controle
do Estado sobre o setor. As petrolí-
feras estrangeiras não gostam de ser
assim contratadas porque isso res-
tringe seus ganhos e não há o rece-
bimento de parcela alguma do óleo
produzido. O Irã só usa este tipo de
contrato. O México o usava, mas,
como o monopólio estatal foi der-
rubado recentemente, a concessão
deve estar sendo usada. A Venezuela
tem contratos de partilha e de servi-
ços. Países do Oriente Médio, ainda
nos anos 70, nacionalizaram seus se-
tores petrolíferos. A Líbia e o Iraque
invadidos têm seus setores de petró-
leo tutelados, o que representa a op-
ção de desorganização do setor.
O abastecimento do Brasil,
graças ao Pré-Sal, está garantido
por muitos anos. A produção atu-
al da Petrobras satisfaz a deman-
da nacional. Contudo, pode-se
aumentar a produção do Pré-Sal,
acima do acréscimo de demanda,
para permitir ao Brasil exportar e
acumular divisas. Mas, para a ex-
portação ocorrer com o máximo
usufruto da nossa sociedade, a em-
presa exportadora precisa ser a Pe-
trobras. Os entreguistas argumen-
tam que ela não tem capacidade
financeira para explorar sozinha a
região, o que é verdade para os ní-
veis de produção que eles não ex-
plicitam. Ao nível de produção de
máxima satisfação da sociedade, a
Petrobras tem capacidade.
Sendo politicamente difícil re-
vogar a lei dos contratos de parti-
lha, o capital internacional busca
derrubar pontos positivos desta lei,
como a obrigatoriedade de a Petro-
bras ser a operadora única do Pré-
-Sal, dela ter 30% em todos os con-
sórcios desta área e as exigências de
conteúdo nacional. A operadora
em qualquer consórcio é a respon-
sável pelas compras do consórcio e,
sendo a Petrobras, sabe-se que as
compras no Brasil serão maximiza-
das. E não existe operadora de con-
sórcio que detenha menos de 30%
de participação.
A lei das concessões tem embu-
tida a pressa de interesse das empre-
sas estrangeiras. A ANP não busca
baixar a frequência dos leilões, cuja
necessidade não é explicada para a
sociedade. Enfim, existe muito en-
tulho neoliberal no setor. Um pon-
to é crucial: não podem mais existir
leilões de áreas na região do Pré-Sal,
que a Petrobras descobriu e conhece
bem. Estas áreas devem ser entregues
a ela diretamente, seguindo o artigo
12 da lei da partilha, adequando a
necessidade de investimentos ao flu-
xo de caixa da empresa.
* É mestre em Engenharia Industrial e
conselheiro do Clube de Engenharia.
10
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Petrobras e petróleo
Claudio Weber Abramo*
O
escândalo da Petrobras,
posto a nu pela operação
Lava-Jato, confirmou as
piores previsões que se faziam des-
de que se determinou, em 1998,
que a estatal contaria com um re-
gime especial de licitações.
Desde aquela época se tem
apontado que o regulamento da
Petrobras contém inúmeras bre-
chas para o direcionamento de su-
as compras.
Compras são assunto estraté-
gico em qualquer empresa, pois
têm impacto direto em sua efici-
ência alocativa. Comprar mal sig-
nifica, no final das contas, erosão
de resultados.
Em qualquer empresa é agu-
da a consciência de que uma das
formas de pagar mais caro por al-
go que poderia ser comprado mais
barato se dá pelo mecanismo de
o vendedor do fornecedor de um
bem ou serviço pagar um suborno
ao comprador da empresa para es-
te direcionar-lhe as compras.
Por isso, os antigos códigos de
conduta de empresas sempre in-
cluíam advertências quanto a isso.
A propósito, tipicamente, tais
códigos jamais mencionavam a
situação complementar, a saber,
vedações a seus próprios vende-
dores pagarem propinas aos com-
pradores de seus clientes. Usar
dois pesos e duas medidas pa-
ra a mesma interação caracteriza
uma situação que só se pode des-
crever como esquizofrênica, pois
o conjunto geral de compradores
e vendedores compõe uma só co-
munidade de indivíduos.
É o caso de anotar: quem su-
põe que a condução de negócios
incorpora, em alguma medida,
noções de moralidade, melhor fa-
ria se refletisse novamente.
De volta à Petrobras, a existên-
cia de um regulamento para licita-
ções permissivo, aliada à consciên-
cia de que a eficiência em compras
é componente central da eficiência
geral da empresa, deveria de for-
ma natural levar à implantação de
mecanismos de acompanhamento
e controle capazes de enfrentar os
riscos de direcionamento. É o que
se faria em qualquer empresa.
O que a Lava-Jato desvendou
é que tais mecanismos simples-
mente inexistem na estatal. Da-
do que as regras para encomen-
dar refinarias são as mesmas que
governam a compra de copinhos
plásticos, papel para impressora e
todo o resto dos milhares de bens
e serviços necessários para tocar
uma empresa com mais de 70 mil
funcionários, pode-se especular
com razoável dose de convicção
que não há caneta esferográfica
usada na Petrobras que não car-
regue um sobrepreço oriundo de
propina paga ao funcionário res-
ponsável pela compra.
Como nesse tipo de coisa é so-
cioeconomicamente impossível
que indivíduos ajam de forma iso-
lada, pode-se também inferir que
as áreas de compras da Petrobras
são dominadas por quadrilhas es-
truturadas.
Se existe real intenção do con-
trolador da Petrobras (o governo,
representando a União) de sanear
a empresa, a segunda providência
crucial a tomar (sobre a primeira ver
mais abaixo) é montar mecanismos
internos de prevenção e controle
que não sejam só para inglês ver.
Qualquer mecanismo adminis-
trativo desse tipo precisa basear-se
em dois aspectos: a qualidade das
Desgoverno estrutural
informações usadas nos processos
decisórios e a checagem sistemática
dos elos da cadeia decisória.
Assim, o levantamento per-
manente de preços praticados no
mercado, a prospecção de forne-
cedores onde quer que estejam e
a submissão de decisões de gesto-
res à crítica são elementos que não
podem faltar.
Observe-se que não é costumei-
ro, no poder público brasileiro, se
prospectar preços de mercado. Co-
mo se levantou no caso Siemens
em São Paulo (por insistência da
Transparência Brasil, diga-se), “pre-
ços de mercado” costumam ser en-
tendidos como “preços ofertados”,
e não “preços praticados”.
Naquele escândalo, envolven-
do o mercado metro-ferroviário,
verificou-se que, para determinar
os preços de referência para suas li-
citações, os compradores (a Com-
panhia do Metrô e a Companhia
de Trens Metropolitanos) pergun-
tavam aos fornecedores por quan-
to ofereceriam bens e serviços nu-
ma licitação. Usavam as respostas
para fixar os preços de referência
para licitações de que participa-
vam exatamente as empresas que
haviam sido indagadas.
Semelhante comportamento,
que não resiste à primeira análise,
é a norma no Brasil.
Outro aspecto que se constatou
no caso Siemens foi a virtual ausên-
cia de controles. Sequer há disponi-
bilidade dos documentos internos
de registro das decisões tomadas ao
longo do processo de compra de
trens e encomenda de reformas em
composições existentes: as compa-
nhias não os arquivavam.
Ignora-se se a Petrobras tem si-
do gerida com o mesmo grau de
irresponsabilidade, mas pelo sim,
pelo não, o mais prudente é ima-
ginar o pior.
As providências iniciais toma-
das pelo governo federal na Petro-
bras parecem indicar intenção sa-
neadora. Criou-se uma diretoria de
governança que, embora (ao tem-
po em que estas linhas são escritas)
ainda não se conheça os poderes, te-
ria como função instituir melhores
controles internos (além de outras
responsabilidades cosméticas, do ti-
po compliance verbal, que de pouco
serve para qualquer coisa material).
O governo também levou ao
Conselho dde Administração da
estatal o advogado Luiz Navarro,
que foi durante anos o secretário-
-executivo da Controladoria-Ge-
ral da União. De todas as pesso-
as envolvidas com o processo de
saneamento da empresa, é o que
mais experiência tem na preven-
ção e combate à corrupção.
Resta saber se tais medidas de
natureza administrativa não serão
neutralizadas pela ausência da se-
gunda providência que se exigiria:
a eliminação da distribuição políti-
ca dos cargos de responsabilidade na
estatal, raiz do esquema Lava-Jato.
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Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Petrobras e petróleo
www.corecon-rj.org.br
O loteamento de cargos na
administração entre partidos po-
líticos é o mecanismo de “gover-
nabilidade” (como se costuma,
equivocadamente, dizer) central
dos governantes brasileiros das
três esferas. Do último dos muni-
cípios ao governo federal, o gover-
nante adquire o apoio de partidos
nos respectivos parlamentos por
meio da distribuição de cargos.
O negócio é simples: em tro-
ca dos cargos, os partidos se com-
prometem a votar com o gover-
tno e, principalmente, eximir-se
de fiscalizá-lo.
Isso não apenas comprome-
te de modo terminal a eficiên-
cia administrativa como constitui
um dos elementos importantes na
desmoralização dos partidos polí-
ticos como representantes de ten-
dências ideológicas na sociedade.
O que, afinal, um partido po-
lítico deseja ao controlar uma di-
retoria de estatal, uma superin-
tendência regional do INSS ou do
Departamento Nacional de Infra-
estrutura de Transportes? Ou uma
subprefeitura?
Boa coisa não é, e o noticiário
político, transmudado em crônica
policial, mostra o que, de fato, a car-
tolagem partidária e os membros do
Legislativo querem com tudo isso.
É sintomático que, tendo o ca-
so Lava-Jato eclodido no período
pós-eleitoral, numa página se no-
ticiava sobre relações escusas entre
partidos, diretorias da Petrobras,
doleiros e fornecedores da estatal,
enquanto na página ao lado trans-
corria a descrição das idas e vindas
do loteamento de cargos no go-
verno federal (quanto aos gover-
nos estaduais recém-eleitos, afeta-
dos pelos mesmíssimos problemas
e condutores do mesmíssimo lote-
amento, manteve-se o usual silên-
cio noticioso).
O loteamento político é con-
sequência direta da liberdade que
governantes têm de nomear pesso-
as livremente para ocupar cargos
na administração, por sua vez ga-
rantida explicitamente na Consti-
tuição (Art. 37, Inciso V).
A partilha dos cargos é origina-
dora de ineficiências de toda na-
tureza, resultando em desempe-
nho governamental sub-standard.
É também responsável por mais
uma – ou várias – voltas no para-
fuso da falta de representatividade
de partidos políticos.
Por isso, é nada menos que es-
pantoso que a conversa sobre “refor-
ma política” deixe a questão de lado.
Que os políticos prefiram escamote-
ar o assunto é compreensível: nin-
guém quer mudar um estado de
coisas que o beneficie. Não é, contu-
do, inteligível que observadores do
Estado, e em particular a imprensa,
persistam em ignorar o assunto.
Caso a liberdade de nomea-
ção não seja drasticamente redu-
zida por emenda à Constituição,
nenhuma providência adminis-
trativa conseguirá contrabalançar
a ineficiência que provoca, não só
em estatais como em toda a admi-
nistração pública do país.
* Claudio Weber Abramo é vice-presi-
dente da Transparência Brasil. É bacha-
rel em Matemática (USP) e mestre em
Filosofia da Ciência (Unicamp). É au-
tor de artigos em publicações acadêmi-
cas nacionais e internacionais a respeito
do tema da corrupção e seu combate, e
colabora frequentemente para órgãos da
imprensa como articulista.
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Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Petrobras e petróleo
Mauro Santayana*
A
questão da Petrobras man-
tém, neste momento, a si-
tuação do país em suspenso.
Trata-se não apenas de um proble-
ma jurídico, mas do futuro da nossa
maior empresa nacional e de deze-
nas de setores da economia brasi-
leira, que vão da indústria naval à
química, com implicações de toda
ordem e a ameaça de eliminação de
milhares de empresas e empregos.
Mas os problemas vão além
dos casos de corrupção na empre-
sa? Como poderia estar sua situa-
ção se não fosse isso?
Do nosso ponto de vista, a que-
da do petróleo não atrapalha a ex-
ploração do pré-sal para a Petro-
bras, porque o grande mercado da
Petrobras é o brasileiro. O que ba-
liza o preço que a Petrobras obtém
pelo óleo extraído no pré-sal ou pe-
lo óleo que ela troca pelo petróleo
do pré-sal lá fora é o custo final do
combustível no mercado nacional. 
É a Petrobras que forma o pre-
ço do petróleo no mercado brasi-
leiro, e essa condição de formação
de preço só se veria ameaçada se
houvesse importação de combus-
tível em enorme escala por empre-
sas concorrentes, para substituir a
produção nacional da empresa.
Essa é uma possibilidade dis-
tante, que não poderia se dar sem
um tremendo esforço logístico,
que implicaria, por sua vez, no
aumento do custo, diminuindo a
margem de lucro de suas concor-
rentes, o que neste momento não
interessaria a ninguém. 
O grande problema é o câm-
bio, considerando-se que muitos
dos insumos e serviços da Petro-
bras são importados. Mas ainda as-
sim, a manutenção desse quadro,
bertos – que têm sido várias vezes
multiplicadas pela mídia e por to-
do o tipo de “fontes” e “analistas”
– e que a está empurrando para a
realização de desinvestimentos. Is-
so é muito mais grave do que as su-
as perspectivas reais de produção e
de mercado, mesmo quando leva-
da em consideração a situação vi-
vida neste momento pela indústria
de óleo e gás em todo o mundo.
Essa é uma situação que só po-
deria ser minorada, por exemplo,
se a empresa tomasse uma deci-
são que revertesse as expectativas e
contornasse os problemas que tem
tido nas bolsas ocidentais e com a
má vontade de agências de qualifi-
cação como a Moody´s.
Esse seria o caso, por exemplo,
do estabelecimento de uma alian-
ça que lhe garantisse a obtenção
de recursos e de apoio alternativos
– para a execução dos projetos que
estão em andamento – com par-
ceiros alternativos que fossem fi-
nanceira e tecnicamente podero-
sos, como a China.  
A Petrobras tem excelente tec-
nologia (acaba de ganhar, pela ter-
ceira vez, o maior prêmio do mun-
do, outorgado pela OTC, nessa
área), produção e gigantescas re-
servas de petróleo e gás, em as-
censão neste momento, e uma si-
tuação predominante em um dos
maiores mercados do mundo. 
A única coisa que pode atrapa-
lhá-la é o fator político.
* Vencedor do Prêmio Esso de Reporta-
gem de 1971 e ex-correspondente no ex-
terior do Jornal do Brasil e da Folha de
São Paulo, trabalhou em várias publica-
ções como Gazeta Mercantil, Correio Bra-
ziliense, Última Hora e Revista Manchete.
É articulista do Jornal do Brasil Online, da
Revista do Brasil, da Carta Maior e do Jor-
nal Hoje em Dia e mantém o blog www.
maurosantayana.com.
A Petrobras e o fator político
tensão na Ucrânia, que pode vir a
prejudicar o fornecimento russo
de gás para a União Europeia.   
Em uma situação normal, em
que fosse considerada apenas a ló-
gica produtiva e de mercado, a Pe-
trobras estaria vivendo um exce-
lente momento. 
A expectativa negativa criada
em torno da empresa, no entan-
to, gerou uma posição institucio-
nal que não condiz com as perdas
efetivamente detectadas até agora
com os casos de corrupção desco-
em que o grande foco é o mercado
interno, com o aumento paulatino
da produção nacional de petróleo e
a de refino, só tende a ajudar a Pe-
trobras, com a recuperação de suas
margens de lucro no futuro. 
Com relação ao mercado in-
ternacional, em médio prazo, a re-
composição do preço do petróleo
tende a ocorrer por várias razões.
Primeiro, a concorrência do petró-
leo saudita mais barato com o óleo
e o gás de xisto dos EUA, que pode
diminuir a oferta de produção lo-
cal no maior mercado do mundo.
Em segundo lugar, pela pres-
são de outros membros da OPEP
para que haja corte na produção.
Em terceiro lugar, pela diminui-
ção dos estoques norte-americanos
e chineses, que deve ocorrer devido
ao aquecimento da economia dos
EUA e das exportações chinesas,
como já se viu no início deste ano.
Depois, vem a possibilidade
de recuperação da economia euro-
peia, caso seja bem sucedido o pa-
cote de estímulo do BCE, e, por
último, a de haver um aumento da
13
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Petrobras e petróleo
Estado de direito ameaçado
www.corecon-rj.org.br
Wadih Damous*
E
m nome do combate à cor-
rupção cometem-se aten-
tados de toda sorte à or-
dem jurídica.
O desenvolvimento da cha-
mada Operação Lava Jato mostra
como, de forma paulatina, o es-
tado de exceção vai contaminan-
do as práticas judiciais, os atos do
Ministério Público e o comporta-
mento da polícia.
Mas as consciências também
vão sendo contaminadas. Boa par-
te da população está convencida
de que contra a corrupção vale tu-
do. Direitos constitucionais dura-
mente conquistados pela demo-
cracia são tidos como obstáculos
à “santa cruzada”. Amplo direito
de defesa, presunção de inocência
e outras garantias individuais, na
prática, estão revogados.
A grande imprensa cumpre um
papel lamentável nesse cenário. A
mídia transformou-se em partido
político. E de oposição. Fomenta
ódio, fabrica “inimigos do povo”
e articula e incentiva abertamente
manifestações de natureza golpis-
ta. Aliás, o comportamento da im-
prensa nos dias que correm é bem
parecido com o método que ado-
tou nas vésperas do golpe de 1964.
O processo judicial se transfor-
ma em espetáculo. O juiz do pro-
cesso vira herói nacional sob a luz
dos holofotes e afagos da mídia.
As “confissões” obtidas se trans-
formam automaticamente em ver-
dade e ganham as manchetes dos
jornais. Permitem-se vazamentos
criminosos e seletivos que man-
charão por toda a vida a honra dos
atingidos, ainda que considerados,
ao final, inocentes.
Além dessas máculas, alguns
colegas advogados apontam ou-
tras diversas irregularidades prá-
ticas na condução da ação penal:
1) prisões desnecessárias, sem que
existisse risco à efetividade do pro-
cesso, ou seja, o sucesso das inves-
tigações não requer a efetivação de
prisões; 2) as prisões são utiliza-
das como instrumento de coação
para obter confissões e delações;
3) violação de regras de compe-
tência: nem todos os fatos investi-
gados são da competência do juiz
Sergio Moro; 4) desconsideração
de formalidades processuais que
são garantia contra a opressão do
Estado; 5) medidas de força ilegais
e desnecessárias, como a requisi-
ção do tesoureiro do PT, já que ele
não havia se recusado a compare-
cer para prestar depoimento; 6)
desconsideração das consequên-
cias sociais e econômicas das de-
cisões, pois os danos econômicos à
Petrobras produzidos com a con-
dução do procedimento e divul-
gação seletiva das investigações já
são maiores do que os das condu-
tas criminosas que se pretende pu-
nir; 7) provas produzidas sem res-
peito ao devido processo legal.
E diga-se mais. A delação pre-
miada é abertamente inconstitu-
cional porque fere, entre outros, os
princípios da moralidade pública,
da isonomia e do contraditório, já
que os delatados e a sua defesa não
têm acesso ao ato de delação nem a
chance de confrontar o delator. Le-
gitima-se a hipótese da pena sem
obediência a limites éticos e jurídi-
cos, como nos “velhos tempos”.
Tenta-se consolidar um padrão
jurisprudencial inaugurado no
julgamento do chamado “mensa-
lão”, onde os direitos fundamen-
tais dos acusados e a necessidade
de provar os fatos que ensejam a
acusação cedem lugar à teoria do
domínio fato, mal e porcamente
importada do direito alemão.
A esperança de que isso não
aconteça é o Ministro Teori Za-
vascki, que se mostra bastante di-
ferente – ainda bem! – de Joaquim
Barbosa. O ministro Teori é aves-
so a holofotes e, ao que se sabe,
não se intimida com clamores da
“opinião pública” insuflados pela
grande mídia.
O quadro sombrio que se de-
senha é considerar o Estado de
Direito, a Democracia, a Consti-
tuição e as leis como incompatí-
veis com o combate à corrupção.
A conclusão é enganosa. A nossa
ordem jurídica contém um arsenal
de normas e princípios suficientes
para o enfrentamento, que se faz
necessário, dos saqueadores do di-
nheiro público.
Agredir o Direito não levará ao
êxito da empreitada. Antes, pelo
contrário: significará a derrota da
Democracia e o reconhecimento
absurdo de que o crime só se com-
bate se nos livrarmos da Consti-
tuição, que só “atrapalha”.
*Advogado. Ex-presidente da OAB/RJ.
14 Fórum Popular do Orçamento
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Em razão de sua conduta (com as
drogas), a criança deverá ser inclu-
ída em programa de auxílio, orien-
tação e tratamento a alcoólatras e
toxicômanos.
(Estatuto da Criança e do
Adolescente, artigos 98 e 101)
Introdução
Em sequência às matérias pu-
blicadas nas duas últimas edi-
ções, visando avaliar as políticas
públicas relativas ao Orçamento
Criança e Adolescente (OCA), o
tema desta edição é Assistência
Social, com destaque para a po-
lítica de combate ao uso de cra-
ck – questão eleita pelos conse-
lheiros como prioritária há dois
anos. Para analisar os valores re-
ferentes a essa política pública, os
dados apresentados foram corri-
gidos monetariamente pelo IP-
CA de janeiro de 2015.
O tratamento e
o combate ao crack
Há uma enorme discussão em
torno de como se pode combater e
tratar o uso desta substância. É al-
go que na verdade vai muito além
da simples busca pela cura do ví-
cio, e passa por questões como o
direito à cidade e inclusão social.
Durante muito tempo houve um
estigma muito forte de “loucu-
ra” que obrigava os pacientes com
problemas mentais a serem ex-
cluídos da sociedade, vivendo em
manicômios e sendo basicamen-
te medicados. Esse tipo de pen-
samento pode ser ligado a pre-
conceitos bem antigos da cultura
ocidental, como descreve Foucault
(2004), dizendo que, antes do sé-
culo XVIII, “Hospital servia para
recolher pobres e proteger a socie-
dade do perigo que eles represen-
tavam”. Ao longo da história, no
entanto, a Luta Antimanicomial
serviu para desconstruir tal con-
cepção, de modo a entender que o
processo de tratamento deve con-
tar com políticas públicas inclu-
sivas e acolhimento humanitário.
Nessa perspectiva, cabe uma aná-
lise dos problemas pessoais e fami-
liares sofridos pelo usuário.
Ainda não há um tipo de tra-
tamento consensual, porém as in-
formações disponíveis parecem
corroborar com o tratamento aco-
lhedor; dados de 2013 da Fiocruz1
mostram que quase 80% dos usu-
ários no país têm vontade de re-
ceber tratamento, o que esvazia a
retrógrada proposta de tratamen-
to via internação compulsória. De
fato, no Rio, de acordo com le-
vantamento da Secretaria Muni-
cipal de Desenvolvimento Social,
esse tipo de tratamento possui efi-
cácia duvidosa.
“Às vésperas de completar dois
anos, a internação compulsória de
crianças e adolescentes no Rio de
Janeiro está surtindo pouco efeito
na recuperação dos pequenos usu-
ários de crack e outras drogas. Le-
vantamento obtido pelo Jornal do
Brasil junto à Secretaria Municipal
de Desenvolvimento Social reve-
la que apenas 24,88% das crianças
levadas forçosamente para abrigos
tiveram êxito no tratamento. Ou
seja, das 200 crianças já acolhidas,
apenas 50 alcançaram a tão fala-
da reinserção social. Os dados in-
dicam ainda que outros 59,7% fu-
giram dos abrigos mantidos pela
Prefeitura do Rio para onde foram
levados. Outra parcela – 15,42% –
refere-se aos transferidos para abri-
gos de outras cidades.” (Jornal do
Brasil, março de 2013)
Coerentemente ao processo
evolutivo citado anteriormente, o
tratamento de usuários se encami-
nha para ser na esfera psicossocial,
buscando a integração do pacien-
te com a sociedade. Assim sendo,
o plano de combate ao crack do
município do Rio de Janeiro tem
como carro-chefe o programa na-
cional “Crack: é possível vencer”,
que tem como objetivo a capaci-
tação de profissionais do SUS, a
criação de estrutura adequada nos
locais de tratamento e a promoção
da inserção social, prevenção nas
escolas e conscientização do pú-
blico jovem.
Nesse contexto, os Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) se
mostram essenciais no procedi-
mento de combate ao crack. Es-
ses centros dispõem de serviços
comunitários para o tratamento
de pessoas com transtornos men-
tais graves e/ou com problemas
mentais decorrentes do uso de
álcool e outras substâncias. Leva
em consideração o ambiente no
qual o usuário vive, construindo
assim um modelo assistencialis-
Crack, um problema de saúde
e social, nunca de segurança
ta e complexo, que envolve, além
dos profissionais da saúde, a pró-
pria comunidade.
No caso da faixa etária em
questão, existem os CAPS infan-
tis (CAPSi), voltados para crian-
ças e adolescentes que possuem
sofrimento mental. Desse modo,
foram levantados dados sobre os
CAPSis do município e demais
ações governamentais pertinentes,
que trataremos a seguir.
Políticas públicas
A única ação destinada exclusi-
vamente à criança e ao adolescen-
te é o “Acolhimento especializado
a crianças e adolescentes usuários
de crack e outras substâncias”; no
entanto, existem outras ações que
também podem atingir o jovem
indiretamente através do Programa
Atendimento Psicossocial, como
por exemplo, a “Reforma, adequa-
ção e estruturação de unidades de
atenção psicossocial”, que abran-
ge os CAPSis. Em 2010, a previsão
do gasto para essa área se dava por
uma única ação, “Ações de Aten-
ção Psicossocial”, mas no decorrer
dos anos ela foi se dividindo, che-
gando em 2014 a quatro ações. Os
gastos realizados e a previsão para
2015 estão na Tabela 1.
Percebe-se um expressivo cres-
cimento dos gastos até 2013 e uma
retração em 2014, além de um no-
vo aumento previsto para 2015.
A diminuição no ano passado só
pode ser entendida como decisão
política, pois o patamar de recur-
sos federais transferidos se man-
15
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ
(fporiodejaneiro@gmail.com / 2103-0121 e 2103-0120)
Coordenação: Econ. Luiz Mario Behnken. Assistentes: Est. Camila Bockhorny, Est. Karina Melo e Est. Mariana Vantine.
Esta matéria contou com a colaboração dos assessores parlamentares Pâmela Matos (Gab. Ver. Reimont) e Talita Araujo (Gab. Ver. Renato Cinco).
teve na casa dos R$30 milhões.
Destaque para as Ações de
Atenção Psicossocial, que rece-
bem o maior valor, cujos produ-
tos são a implantação de CAPS,
capacitação de profissionais e nú-
mero de usuários matriculados na
unidade de atenção. Já a ação es-
pecífica (2021) merece uma aten-
ção especial pela execução tercei-
rizada, que será tratada a seguir.
Quem acolhe
(e prendia) é ONG
A Prefeitura tem diversos con-
tratos com ONGs e empresas pri-
vadas no âmbito de gerir alguns
projetos em conjunto. No assun-
to referente ao texto, podemos
destacar as Casas Vivas, especia-
lizadas no acolhimento de jovens
usuários de drogas, principalmen-
te de crack, onde vivem 20 jovens
e crianças; são geridas pela ONG
Viva Rio e tinham como parcei-
ra também a Tesloo/ Obra Social
João Batista, que por algum tem-
po ficou encarregada de realizar as
internações compulsórias.
Buscando dados no Rio Trans-
parente, podemos encontrar os va-
lores dos contratos da ONG Viva
Rio e da ONG Tesloo; no mesmo
site podemos encontrar seu CNPJ
com outro nome (Obra Social
João Batista). Esse dinheiro pro-
vém do Fundo Municipal de As-
sistência Social, onde também se
encontram muitos outros contra-
tos com a esfera privada (Tabela 2).
Não foi possível identificar se
a razão do crescimento do valor
repassado de 2013 para 2014 foi
pelo aumento de usuários ou de
atendimentos.
Considerações finais
Ao revisitarmos os dados da
política municipal de combate ao
uso do crack por crianças e ado-
lescentes, constatamos dois as-
pectos positivos: o abandono da
agressiva internação compulsória
e a elevação dos recursos, com a
ressalva da significativa queda em
2014. Sem dúvida, duas postu-
ras governamentais necessárias e
urgentes. Todavia, algumas ques-
tões colocam em risco e em dúvi-
da a efetividade da política públi-
ca, tais como:
• Por que a adesão ao plano nacio-
nal não significou um maior apor-
Tabela 1 – Ações Psicossociais
Em R$				
AÇÃO 2010 2011 2012 2013 2014 PLOA 2015
2021 - ACOLHIMENTO ESPECIALIZADO
A CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS
DE CRACK E OUTRAS SUBSTÂNCIAS
2.042.889,37
3.646.450,12 4.183.068,89
7.256.339,43 5.884.174,49 7.074.016,68
1766 - REFORMA, ADEQUAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO
DE UNIDADES DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
0 0 1.044,13
2746 - AÇÕES DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
8.431.925,46 13.939.210,67
42.836.811,33 32.950.978,10 60.949.237,38
2748 - AÇÕES DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
EM SAUDE MENTAL
17.663.633,42 12.912.687,03 22.991.630,72
SOMA 2.042.889,37 12.078.375,58 18.122.279,56 67.756.784,18 51.747.839,62 91.015.928,91
Fontes: Prestação de Contas 2010 -2013, Rio Transparente para 2014 e PLOA de 2015.
Tabela 2 – ONGs favorecidas
Em R$						
ONG favorecida 2011 2012 2013 2014 2015
TESLOO/JOAO BATISTA 16.684.449,58 13.869.093,04 11.421.512,59-
VIVA RIO 3.802.884,69 55.251.431,93 40.371.658,33
Fonte: Rio Transparente - acesso 16/03/2015						
te de recursos federais?
• Por que o tema crack não cons-
ta como prioridade no Plano de
Ação para 2015 do Conselho Mu-
nicipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente – CMDCA?
• Por que é difícil verificar se as
metas do Plano Plurianual estão
sendo cumpridas, como o núme-
ro de usuários atendidos/matricu-
lados e crianças atendidas nas Ca-
sas Vivas?
• Por que permanece a prática de
se terceirizar ações governamen-
tais de caráter eminentemente so-
cial com ONGs que acabam em
escândalos de corrupção?
1 http://www.icict.fiocruz.br/sites/www.
icict.fiocruz.br/files/Pesquisa%20Nacio-
nal%20sobre%20o%20Uso%20de%20
Crack.pdf
Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br
Escolas da Macroeconomia16
n Em março de 2014 o JE iniciou a
publicação mensal de uma série de
12 artigos sobre Escolas de Macroe-
conomia. Esse projeto institucional
do Corecon-RJ contou com a cola-
boração de mais de uma dezena de
economistas de diferentes estados.
Os artigos trataram das seguintes es-
Escolas de Macroeconomia: Quadro-síntese
Quadro-síntese das Escolas da Macroeconomia
Questão/
Escola
Macroeconomia
Clássica
Macroeconomia
Neoclássica
(antes de Keynes)
Keynes e
a Teoria Geral
Síntese
Neoclássica
Monetarismo
Novo-
clássica
Novo-
keynesiana
Sraffianos
Pós-
keynesiana
Kaleckianos
Novo
Consenso
Crítica Marxista
Economias
capitalistas
estáveis,
possibilidade
de crises
temporárias
estáveis
potencialmente
instáveis
estáveis
estáveis no
LP (NUR)
estáveis já
no CP (NUR)
estáveis
estáveis, com
possibilidades
de crises
instáveis
potencialmente
instáveis, com
possibilidade
de crises
estáveis
estruturalmente
instáveis
Causa das
flutuações
distúrbios
monetários
e reais
distúrbios
monetários e
distúrbios reais
variação
de investimento
variações
de gastos
autônomos
política
monetária
inapropriada
distúrbios
monetários
(choques
não
antecipados
DA) e reais
(choques
de OA)
choques de
DA e OA
variação na
DA
variações
de gastos
autônomos;
efeito dual do
investimento
e variação
dos gastos
autônomos
choques
de oferta e
de DA
dissociação entre
produção e con-
sumo causada
pela separação
entre as instân-
cias da produção
e realização do
valor.
Ajustamen-
to mercado:
preços/sa-
lários e ve-
locidade do
ajustamento
preços das mer-
cadorias flexí-
veis, preços de
oferta de longo
prazo das mer-
cadorias e salá-
rio real rígidos
rigidez nominal
aceita no curto
prazo e flexibili-
dade de preços
e salários no lon-
go prazo
fraco; debate
rigidez x flexibi-
lidade é irrele-
vante
fraco; ênfase
na rigidez do
salário no-
minal
forte; flexível
muito forte;
perfeitamen-
te flexível
lento; ênfa-
se na rigi-
dez nominal
de preços e
real de sa-
lários
ajustes len-
tos ou rápidos
(depende da
estrutura do
mercado); in-
flação de cus-
tos, conflito
distributivo
muito fraco; de-
bate sobre rigi-
dez não possui
papel relevante.
não há ten-
dência ao ple-
no emprego,
mas a oferta se
ajusta à de-
manda; preços
determinados
pelo grau de
monopólio
lento, ênfa-
se na rigi-
dez nomi-
nal e real
forte, com trajetó-
ria inerentemente
cíclica da acu-
mulação de capi-
tal, concentração
e centralização
de capitais.
Noção de
equilíbrio
restrição de ca-
pacidade pro-
dutiva e desem-
prego no longo
prazo
tendência ao ple-
no emprego (ca-
pital e trabalho)
no longo prazo
abaixo do pleno
emprego
repouso, pro-
vavelmente
abaixo pleno
emprego
zeragem de
mercado à
taxa natural
zeragem de
mercado à
taxa natural
consisten-
te com de-
semprego
involuntário
repouso com
desemprego e
utilização nor-
mal da capa-
cidade (com
tendência)
repouso, prova-
velmente abaixo
pleno emprego
não há! A nor-
ma é flutu-
ações sem
tendência ao
pleno em-
prego
consistente
com de-
semprego
involuntá-
rio no curto
prazo
inexistente
Expecta-
tivas
papel secundário
papel relevan-
te nas flutuações
de curto prazo e
pouca relevância
no longo prazo
formadas sob
incerteza, fre-
quentemente
baseadas em
convenções
adaptativas adaptativas racionais racionais
papel secun-
dário na teoria
do produto
razoáveis (sub-
jetivas, com
base na incer-
teza)
papel secun-
dário na teoria
do produto
híbridas –
racionais
e adapta-
tivas
papel secundário
Horizonte
temporal
dominante
longo longo curto curto
curto e lon-
go prazo
longo=curto
curto, pre-
dominante
longo curto curto e Longo
curto, pre-
dominante
longo
Diretriz:
Livre mer-
cado (LM)
ou interven-
cionismo
(INT)
LM LM INT INT LM LM INT (?)
intervencionis-
mo em geral
INT
intervencionis-
mo em geral
LM (?)
superação da
ordem capitalista
Política mo-
netária
(Y, N)
eficaz no curto
prazo
eficaz no longo
prazo
eficaz condicio-
nalmente
eficaz
CP: eficaz
LP: ineficaz
ineficaz (no
curtíssimo
prazo so-
mente se a
política não
for antecipa-
da); LP: Ine-
ficaz
Eficaz menos eficaz eficaz
eficaz (via cré-
dito)
eficaz no
curto pra-
zo devido à
rigidez de
preços
NA
Política
fiscal (Y, N)
eficaz
ineficaz no longo
prazo
eficaz eficaz ineficaz ineficaz eficaz eficaz eficaz eficaz eficaz NA
Regra (R)
ou discri-
cionarieda-
de (D)
R R D D R R
aproxima-se
mais de re-
gras do que
de discricio-
nariedade
D D D
aproxima-
-se mais de
regras
NA
Notas: (NA) não se aplica. (NUR) Taxa natural de desemprego. (OA) Oferta agregada. (DA) Demanda agregada. (CP) Curto prazo. (LP) Longo prazo. (D) Discricionariedade: as políticas macroeconômicas dependem das
avaliações e decisões dos formuladores de políticas. (R) Aplicação de regras na adoção de políticas macroeconômicas; regras anunciadas antecipadamente. Eficácia das políticas macroeconômicas refere-se ao impacto
sobre emprego e renda real.
colas: Macroeconomia clássica; Ma-
croeconomia neoclássica (Macroe-
conomia antes de Keynes); Keynes
e a Teoria Geral; Síntese Neoclássi-
ca; Monetarismo; Novo-Clássica;
Novo-Keynesiana; Sraffiana; Pós-
-keynesiana;Kaleckiana;NovoCon-
senso; e Macroeconomia Marxista.
O último produto da série é um
quadro-síntese que envolve a com-
paração dos entendimentos de cada
escola em relação às questões-cha-
ve da Macroeconomia. Vale desta-
car que esse quadro-síntese não está
isento de controvérsias. A organiza-
ção do projeto ficou sob a respon-
sabilidade de Fábio N. P. de Frei-
tas, Maria Isabel Busato, Marcelo
Carcanholo e Reinaldo Gonçalves.
Com a conclusão desse projeto, o
Corecon-RJ atinge seu objetivo de
fornecer mais um serviço de utili-
dade pública para estudantes e pro-
fessionais na área de Economia.

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Petrobras emergirá forte da crise

  • 1. Nº 309 Abril de 2015 Órgão Oficial do Corecon-Rj e Sindecon-Rj Escolas da Macroeconomia Quadro-síntese encerra publicações dos 12 artigos da série Fórum Popular do Orçamento Terceiro artigo sobre o OCA aborda combate ao uso de crack Entrevista exclusiva com Guilherme Estrela, o descobridor do pré-sal, e artigos de Paulo Metri, Claudio Abramo, Mauro Santayana e Wadih Damous discutem Petrobras, pré-sal, mercado mundial de petróleo e impactos da Lava Jato. Petrobras e petróleo
  • 2. Órgão Oficial do CORECON - RJ E SINDECON - RJ Issn 1519-7387 Conselho Editorial: Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, José Ricardo de Moraes Lopes, Sidney Pas- coutto da Rocha, Gilberto Caputo Santos, Marcelo Pereira Fernandes, Gisele Rodrigues, João Paulo de Almeida Magalhães, Sergio Carvalho C. da Motta, Paulo Mibielli Gonzaga. Jornalista Responsá- vel: Mar­celo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME (CNPJ: 74.155.763/0001-48; tel.: 21 2232-3866). Projeto Gráfico e diagramação: Rossana Henriques (rossana.henriques@gmail. com). Ilustração: Aliedo. Revisão: Bruna Gama. Fotolito e Impressão: Ediouro. Tiragem: 13.000 exemplares. Periodicidade: Mensal. Correio eletrônico: imprensa@corecon-rj.org.br As matérias assinadas por colaboradores não refletem, necessariamente, a posição das entidades. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte. CORECON - CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA/RJ Av. Rio Branco, 109 – 19º andar – Rio de Janeiro – RJ – Centro – Cep 20040-906 Telefax: (21) 2103-0178 – Fax: (21) 2103-0106 Correio eletrônico: corecon-rj@corecon-rj.org.br Internet: http://www.corecon-rj.org.br Presidente: José Antonio Lutterbach Soares. Vice-presidente: Sidney Pascoutto da Rocha. Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2014-2016) Arthur Câmara Cardozo, Gisele Mello Sen- ra Rodrigues, João Paulo de Almeida Magalhães – 2º TERÇO: (2015-2017) Antônio dos Santos Magalhães, Gilberto Caputo Santos, Jorge de Oliveira Camargo – 3º TERÇO: (2013-2015) Car- los Henrique Tibiriçá Miranda, Sidney Pascoutto Rocha, José Antonio Lutterbach Soares. Con- selheiros Suplentes: 1º TERÇO: (2014-2016) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fernandes – 2º TERÇO: (2015-2017) André Luiz Rodrigues Osório, Flavia Vinhaes Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno – 3º TERÇO: (2013-2015) Cesar Homero Fernandes Lopes, José Ricardo de Moraes Lopes, Sérgio Carvalho Cunha da Motta. Sindecon - Sindicato dos Economistas do estado do RJ Av. Treze de Maio, 23 – salas 1607 a 1609 – Rio de Janeiro – RJ – Cep 20031-000. Tel.: (21)2262- 2535 Telefax: (21)2533-7891 e 2533-2192. Correio eletrônico: sindecon@sindecon.org.br Mandato – 2014/2017 Coordenação de Assuntos Institucionais: Sidney Pascoutto da Rocha (Coordenador Geral), Antonio Melki Júnior, Jose Ricardo de Moraes Lopes e Wellington Leonardo da Silva Coordenação de Relações Sindicais: João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Tibi- riçá Miranda, César Homero Fernandes Lopes, Gilberto Caputo Santos. Coordenação de Divulgação Administração e Finanças: Gilberto Alcântara da Cruz, José Antonio Lutterbach, José Jannotti Viegas e André Luiz Silva de Souza. Conselho Fiscal: Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Luciano Amaral Pereira e Jorge de Oliveira Camargo O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Pas- sarinho, de segunda à sexta-feira, das 9h às 10h30, na Rádio Livre, AM, do Rio, 1440 khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br ou www.radiolivream.com.br 2 Editorial Sumário Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Petrobras e petróleo A crise na maior empresa brasileira levou o JE a tratar do tema da Petro- bras. Buscamos uma abordagem alternativa à manipulação rasa e monocór- dia apresentada ao público por grupos de mídia vinculados a interesses eco- nômicos e partidários e travestidos de cruzados anticorrupção. O bloco temático começa com a entrevista de Guilherme Estrella, di- retor de exploração e produção da Petrobras no período de 2003 a 2012, quando a empresa apresentou a imensa riqueza do pré-sal. Pouco afeito a en- trevistas, Estrella concordou em falar ao JE e apresentou ao longo de cinco páginas sua visão abalizada sobre a situação e o futuro da Petrobras e do mer- cado mundial de petróleo, além de avaliar o potencial do pré-sal, o modelo de partilha, a construção de refinarias e o escândalo de corrupção na estatal. Paulo Metri, do Clube de Engenharia, defendeu a manutenção do mo- delo de partilha com as atuais prerrogativas de conteúdo nacional e partici- pação da Petrobras como operadora única e detentora de 30% de todos os consórcios. A discussão é pertinente considerando que há um projeto de lei do senador José Serra que retira da Petrobras a exclusividade de operação dos campos do pré-sal. Claudio Abramo, da Transparência Brasil, ressalta que o escândalo da Petrobras confirmou as piores previsões que se faziam desde que se determi- nou, em 1998, que a estatal contaria com um regime especial de licitações. O autor defende uma emenda constitucional que reduza a nomeação de pessoas indicadas por partidos políticos a cargos na administração pública. O respeitado jornalista Mauro Santayana avalia que, em uma situação em que fosse considerada apenas a lógica produtiva e de mercado, a Petro- bras estaria vivendo um excelente momento, o que só não acontece em fun- ção do fator político. Wadih Damous, ex-presidente da OAB/RJ, afirma que a Operação La- va Jato atenta contra direitos constitucionais. Os danos econômicos à Petro- bras produzidos pela operação já são maiores do que os das condutas crimi- nosas que se pretende punir. O artigo do FPO é o terceiro de uma série dedicada a avaliar as políti- cas públicas relativas ao Orçamento Criança e Adolescente (OCA) no Rio. O tema é Assistência Social, com destaque para o combate ao uso de crack. A série Escolas de Macroeconomia, um projeto institucional do Core- con-RJ que contou com 12 artigos, chega ao fim nesta edição com a publi- cação de um quadro-síntese comparativo dos entendimentos de cada escola em relação a questões-chave. Em linha com o tema desta edição, gostaríamos de registrar o nosso profundo pesar com o falecimento de Maria Augusta Tibiriçá Miranda, 97 anos, veterana da histórica campanha “O Petróleo é nosso”. Entrevista: Guilherme Estrella............................................................3 “Qual crise pode abalar uma empresa petrolífera que detém mais de 30 bilhões de barris de reservas e possui conhecimento, tecnologia e excelência operacional para produzi-los com excepcional lu- cratividade?” Petrobras e petróleo...........................................................................8 Paulo Metri Modelos de organização do setor de petróleo Petrobras e petróleo.........................................................................10 Claudio Weber Abramo Desgoverno estrutural Petrobras e petróleo.........................................................................12 Mauro Santayana A Petrobras e o fator político Petrobras e petróleo.........................................................................13 Wadih Damous Estado de direito ameaçado Fórum Popular do Orçamento.........................................................14 Crack, um problema de saúde e social, nunca de segurança Escolas da Macroeconomia.............................................................16 Escolas de Macroeconomia: Quadro-síntese
  • 3. 3 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Entrevista: Guilherme Estrella “Qual crise pode abalar uma empresa petrolífera que detém mais de 30 bilhões de barris de reservas e possui conhecimento, tecnologia e excelência operacional para produzi-los com excepcional lucratividade?” O geólogo Guilherme Estrella trabalhou na Petrobras por mais de 40 anos, quando exerceu vários cargos no Brasil e no exterior. De 2003 a 2012, foi di- retor de exploração e produção da estatal. Foi neste período que a Petrobras e o governo federal divulgaram as informações sobre as imensas reservas brasileiras de petróleo e gás em águas profundas, o que valeu a Estrella a designação de “descobridor do pré-sal” ou “pai do pré-sal”. Os serviços prestados por Estrella à sociedade brasileira e uma trajetória pro- fissional sem máculas não o livraram da fúria inquisitória da grande imprensa brasileira. Na edição do Jornal Nacional de 5 de fevereiro, Estrella foi acusado de ligação com o esquema de corrupção de Pedro Barusco, inverdade que foi desmentida no mesmo programa quatro dias depois com direito a um pedido de desculpas de William Bonner. Avesso à exposição pública, Estrella concedeu esta entrevista exclusiva ao JE, em que detalhou sua visão sobre a Petrobras, o pré-sal e o mercado de petróleo. P: Que Petrobras vai emergir da crise atual? Como você vê a em- presa em médio e longo prazos? R: Qual crise pode abalar uma empresa petrolífera que detém mais de 30 bilhões de barris de reservas de petróleo e gás natu- ral, possui conhecimento, tec- nologia e excelência operacio- nal para produzi-los em grandes e crescentes volumes (hoje mais de 2,8 milhões de bbl equivalen- tes) com excepcional lucrativi- dade – mesmo aos atuais preços internacionais? Acrescente-se a isto 11 refinarias (mais uma em construção), três terminais de GNL, duas fábricas de fertilizan- tes e certamente o mais impor- tante ativo estratégico a garan- tir a sua sustentabilidade a longo prazo, que é sua posição hegemô- nica num mercado praticamente cativo de um dos mais importan- tes países do mundo, em todos os sentidos, e com gigantescas oportu- nidades de permanente e contínuo crescimento econômico e social, como já vem acontecendo? Crise seria se o corpo de empre- gados da Petrobras não estivesse a demonstrar através de excepcionais resultados empresariais a compe- tência, a dedicação e o compromis- so com o Brasil e com a empresa em níveis como sempre de excelên- cia profissional. Se isto estivesse a ocorrer, aí sim, investidores, acio- nistas e, mais importante, os cida- dãos brasileiros teriam razões para perder a confiança na Petrobras Vejamos a mais recente con-
  • 4. 4 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Entrevista: Guilherme Estrella quista, pela terceira vez, a única em- presa petrolífera do mundo a atin- gir este feito: o prêmio maior da indústria petrolífera mundial, na conferência de tecnologia offsho- re (OTC), pelo megaprojeto de ex- ploração e produção do pré-sal. É inquestionável, portanto, que o que está a acontecer justifica não a desconfiança, mas o contrá- rio, o integral apoio do chamado “mais amplo público de interesse” da Petrobras nos destinos da com- panhia, ainda mais quando gen- te corrupta está finalmente a ser identificada e devidamente puni- da pela justiça brasileira, num pro- cesso criminoso que atinge a com- panhia há décadas – como tem sido confessado por muitos dos envolvidos – e que só agora está sendo corrigido exemplarmente. Na verdade, a repetir opinião de cidadãos brasileiros muito im- portantes, reflexivos e conscientes de nossa importância como na- ção neste século XXI, esta “crise” – isso mesmo, entre aspas – é uma tentativa de desconstrução não só da Petrobras, mas do Brasil. Há amplo reconhecimento in- ternacional que o nosso país es- tá destinado a transformar-se num decisivo protagonis- ta da cena geopolítica mundial. Sem querer ser repe- titivo, não se está aqui a su- bestimar a total negatividade da imoralidade que ocorreu na Petrobras, mas este é o campo de atuação da justiça brasileira que pela primeira vez em nossa história adquiriu a independência e a autonomia para cumprir sua mis- são constitucional. Está definitiva- mente enterrada a era do “Engave- tador Geral da República”. Resumo da ópera, os extraor- dinários resultados empresariais da Petrobras na última década, co- mo de resto ao longo de seus mais de 60 anos, desmascaram e põem a nu os reais objetivos desta cam- panha lesa-pátria em que insistem os poderosos defensores de interes- ses não brasileiros na tentativa de desestabilizar a Petrobras e o Brasil. P: Qual é a sua análise do mer- cado mundial do petróleo no to- cante ao preço do barril? O pre- ço tende a se estabilizar no baixo patamar atual ou se recuperar? Qual o custo de produção do barril do pré-sal hoje e como es- se custo deve evoluir nos próxi- mos anos? O Brasil corre o risco de “micar” com o pré-sal? R: O registro histórico exibe uma marca incontestável, que é a peri- ódica oscilação, para cima e para baixo, do preço do petróleo. A causa principal para as gran- des altas é a instabilidade política das regiões produtoras mais im- portantes – leia-se Oriente Médio. A causa maior das baixas mais ex- pressivas são as crises econômicas globais. O Oriente Médio está mergu- lhado numa crise sem fim, provo- cada pela descarada intervenção de potências militares estrangeiras nas políticas internas dos países da região. Logo, o preço do petróleo não deveria ter despencado. O mundo atravessa há mais de uma década uma profunda cri- se econômica que começou com a criminosa crise do sistema financei- ro norte-americano e se espalhou planeta afora, produzindo acentu- ada queda nas taxas de crescimen- to dos países, quando não períodos de recessão e demolição das econo- mias nacionais, como vimos prin- cipalmente na Europa, com as trá- gicas consequências sociais que todos conhecemos. Logo, o petró- leo deveria estar em patamares bai- xos em relação ao passado pré-crise. O que diferencia o momen- to que estamos a atravessar são as importantes descobertas de óleo e gás de “xisto” nas bacias sedimen- tares interiores norte-americanas, que passaram a desempenhar um item importante no suprimento do maior – de longe – consumi- dor de energia do planeta. Neste contexto há dois pontos críticos para se refletir sobre um cenário prospectivo minimamen- te confiável. O primeiro é que a demanda mundial não caiu – as previsões continuam a apontar para o cres- cimento do consumo apesar da crise econômica mundial. O segundo é que preços baixos como o que estamos a praticar in- viabilizam a produção do óleo/gás de “xisto” norte-americano. As em- presas de serviços especializados na indústria petrolífera já indicam que as atividades de E&P nas bacias se- dimentares norte-americanas estão decrescendo significativamente, o que traz certo realismo na previsão de que a produção do maior con- sumidor mundial chegou ao limi- te econômico e pode diminuir ra- pidamente. Estas considerações levam- -nos a considerar o atual pata- mar de preços baixos como um “ciclo”, que, repito, como nos mostram os dados históricos, passará. Retornaremos a preços em patamares bem mais eleva- dos num futuro próximo. Um fato que reforça esta previ- são é a manutenção, por parte do governo norte-americano, da proi- da Petrobras, mas do Brasil. Há amplo reconhecimento in- ternacional que o nosso país es- tá destinado a transformar-se num decisivo protagonis- ta da cena geopolítica mundial. Sem querer ser repe- titivo, não se está aqui a su- bestimar a total negatividade da imoralidade que ocorreu na Petrobras, mas este é o campo de atuação da justiça brasileira que pela primeira vez em nossa
  • 5. 5 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Entrevista: Guilherme Estrella bição de exportação do óleo pro- duzido em seu território nacional, que dá a entender que há incerte- zas concretas quanto à sustentabili- dade de sua produção interna. Quanto ao pré-sal brasileiro, nada a ameaçar sua produção. O chamado “CTPP” – custo total do petróleo produzido – da Petrobras não só é muito atrativo em rela- ção aos preços atuais como tende a diminuir a partir dos resultados obtidos pelos programas de desen- volvimento tecnológico e de me- lhorias operacionais, iniciados há mais de 10 anos, cujos impactos positivos no CTPP já são sentidos. Em relação a reservas de petró- leo e gás natural, a primeira e bási- ca, elementar lição que a realidade geopolítica mundial concernente à segurança energética estratégi- ca das nações nos dá é que não há “micos” neste assunto. Ao contrário, as grandes potên- cias mundiais surgidas ao longo do século passado têm nos ensinado à exaustão que a identificação e apro- priação de reservas petrolíferas no planeta Terra, onde quer que exis- tam, necessárias para a sustentabi- lidade e preservação de suas hege- monias globais, são prioritárias em suas estratégias de segurança nacio- nal. E os exemplos estão aí a nos mostrar à exaustão que as soluções adotadas para que isto lhes seja as- segurado extrapolam frequente- mente o trabalho de seus geólogos, e passam a ser tratadas por seus ge- nerais e almirantes. Simplesmente porque energia – leia-se petróleo e gás natural – é ponto central da so- berania de qualquer nação impor- tante no mundo, como o Brasil. Aliás, na opinião de muitos ana- listas, a reativação da quarta frota norte-americana – para o Atlântico Sul – está aí para não deixar dúvi- das quanto a isto. O pré-sal brasileiro é uma das mais importantes e estraté- gicas riquezas da nossa pátria, absolutamente indispensável para que o Brasil, como nação soberana e detentora real de au- tonomia de decisão, se desen- volva social, econômica, tecno- lógica e politicamente. P: Considerando a perda do grau de investimento, a Petro- bras terá recursos para fazer os investimentos necessários para cumprir as condições estipula- das no modelo atual de partilha de exploração do pré-sal, que prevê que a empresa será a ope- radora e terá 30% de todos os campos? A Petrobras conseguirá cumprir os cronogramas estipu- lados pela ANP? R: Muito me impacta, como cida- dão brasileiro, a importância que se dá, entre nós, às avaliações das chamadas “agências de risco” e ou- tros prestigiados analistas de mer- cado a respeito do Brasil e de nossas maiores empresas. O que são estas instituições e quem estas pessoas? A que interesses se subordinam e servem? Eu mesmo – pessoalmen- te e num evento interno – cheguei a ouvir a declaração de um destes “profissionais” a recomendar que se comprassem ações da OGX e da HRT, “mais atrativas que as da Pe- trobras”. Uma barbaridade sem ta- manho, mas acatada pela sinistra entidade chamada de “mercado”; e muita gente honesta acreditou e colocou suas economias naquelas ações. Deu no que deu. É indispensável que se veja o filme Trabalho Interno, do diretor Charles Ferguson, premiado em 2010 em Cannes, Toronto e No- va Iorque. O DVD está nas lojas já há algum tempo. Conta nua e cru- amente a história da crise econômi- ca mundial que resultou na falência do sistema financeiro norte-ameri- cano, salvo pela módica mesada, durante anos, de US$ 85 bilhões mantida pelo governo daquele pa- ís para empresas, bancos e outros. Pois bem, estas mesmas “agências de risco” avaliaram continuamen- te papéis do mercado financeiro in- ternacional como “AAA”, “triple A” na língua deles, até que estes pa- péis valessem zero! Esse pessoal não tem demonstrado competência pa- ra cumprir, exercer minimamente o papel de avaliadores confiáveis a que se propõem. Mesmo que se conceda con- siderar a opinião destas agências, não faz qualquer sentido, agri- de a mais rudimentar racionali- dade econômica que a Petrobras, a maior empresa petrolífera mun- dial com ações em bolsa, com mais de 30 bilhões de barris de reservas totais de petróleo e gás natural e a produzir mais 2,8 milhões de bar- ris equivalentes, tenha sua “avalia- ção” diminuída. Prova disto foi, no ano pas- sado, a Petrobras ter ido ao exte- rior buscar financiamento e con- seguir US$ 8 bilhões e ter oferta de US$ 22 bilhões, a significar de forma inconteste a confiança dos investidores externos na saúde fi- nanceira e econômica da empre- sa e na competência de seu quadro de empregados para a transforma- ção de seus imensos recursos em riquezas que garantam o retorno adequado de seus investimentos. São inúmeras as opiniões que indicam haver outros inte- resses por detrás desta avalia- ção e que o foco central destas avaliações seria concretamente enfraquecer a empresa e tentar extinguir o marco regulatório do pré-sal, centrado na opera- ção única por parte da Petro- bras. Portanto a Petrobras tem todas as condições necessárias e suficientes para obter o finan- ciamento destinado à implan- tação de seus projetos e para o integral cumprimento de todos os seus compromissos, mais que com a ANP, com o Brasil. P: Como você avalia a proposta de mudança do modelo de par- tilha para o de concessão? O que é melhor para a sociedade brasi- leira? Por quê? R: Primeiro vamos analisar os fun- damentos básicos que diferenciam os dois modelos – concessão e par- tilha de produção – o que é muito simples. O ponto central de ambos é representado pelo risco explora- tório para se descobrir uma acumu- lação de óleo/gás cuja produção se- ja economicamente viável. A estatística mundial apon- ta para índice de sucesso de poços exploratórios em torno dos 10%. Quer dizer, para cada 10 poços ex- ploratórios que as empresas pe- trolíferas perfuram, somente um resulta em descoberta que vai desa- guar num campo com produção de óleo/gás economicamente viável. Para correr este risco – que não é pequeno, principalmente pelo elevado custo de perfuração dos poços no mar, a maioria maior que US$ 60 milhões, não raro ex-
  • 6. 6 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Entrevista: Guilherme Estrella trapolando US$ 100 milhões – há que se atrair o investidor com con- dições compensadoras. No caso das concessões, este atrativo é a propriedade integral do petróleo e gás produzidos sem a imposição de condicionante polí- tica, social ou econômica por parte do poder concedente, no nosso ca- so o Estado brasileiro. O modelo de concessão tem co- mo coluna de sustentação negocial o risco exploratório que o investi- dor enfrenta. Em caso de sucesso, ele é proprietário integral do petró- leo e gás produzidos, sem qualquer interferência do concedente. Agora considero importante para a compreensão integral do ca- so brasileiro falar algo sobre o que aconteceu na nossa bacia de San- tos. Objeto de pesados investi- mentos exploratórios por parte da Petrobras, ainda sob o regime do monopólio, as águas rasas desta imensa bacia sedimentar brasilei- ra hoje totalmente submersa, sem dúvida a mais extensa bacia marí- tima de nosso país, mostraram-se em sua maior parte estéreis com respeito às condições geológicas mínimas para a ocorrência de acu- mulações de petróleo e gás natural. Aberta aos chamados contratos de risco na década de 70 do sécu- lo passado, houve apenas uma pe- quena descoberta de gás em águas rasas – merluza – pela Shell, cuja economicidade foi muito discuti- da à época, mas que afinal foi de- senvolvida. Pouco mais tarde a Petrobras descobriu óleo leve no Paraná/Santa Catarina, os campos de Coral, Estrela-do-mar e outros campos pequenos, muito proble- máticos e com baixas produtivida- de e atratividade econômica. Com a quebra do monopólio, em 1997, blocos em águas profun- das e ultraprofundas foram adqui- ridos por várias empresas estran- participação nos consórcios ven- cedores das licitações; e participar – o governo brasileiro – nos con- sórcios através de uma empresa pública – a Petróleo Pré-sal. Esta estruturação do modelo garante ao país, tendo sua empre- sa como operadora – que é quem tudo decide nos consórcios – o cumprimento de políticas gover- namentais voltadas ao desenvolvi- mento científico, tecnológico e in- dustrial brasileiro e a promoção de empresas genuinamente brasileiras em todo o amplo espectro da in- dústria petrolífera. Assegura desta forma a consolidação da engenha- ria verdadeiramente brasileira num setor estratégico para o país ao lon- go deste século XXI. A proposta de desmonte des- te modelo e retorno ao modelo de concessão é lesiva, portanto, aos reais interesses estratégicos nacionais e por isso representa um inaceitável retrocesso pela nação brasileira. P: Considerando os problemas enfrentados pela Sete Brasil e ou- tros fornecedores e a queda no preço do barril, é viável manter as exigências de conteúdo nacional? R: O Brasil parou por décadas. Atravessou um longo período de desindustrialização, mais do que isso, de desnacionalização do par- que industrial que sobrou após este período. O país foi submeti- do a um processo de privatização de suas empresas estatais acompa- nhado pelo criminoso desmon- te de seus respectivos órgãos de pesquisa, desenvolvimento e en- genharia (P,D&E). Só sobrou o Cenpes, da Petrobras, que a onda neoliberal-colonialista não conse- guiu arrastar, apesar dos enormes esforços para isto. O governo que entra em 2003 decide retomar o desenvolvimento nacional com extrema rapidez, co- meçando pelo setor petrolífero, a exigir que a Petrobras “contrate no Brasil o que pode ser feito no Bra- sil”. Logo em seguida surge o pré- -sal, a aprofundar a demanda por novos equipamentos. Certamente não é fácil dar es- te pulo a partir de uma “terra ar- rasada” como era a situação da in- dústria naval brasileira. Muitos “avaliadores do contexto nacio- nal” externaram seu total ceticis- mo quanto à possibilidade disso se materializar. Quebraram a cara, como sabemos. Estão aí os inúme- ros navios de produção, barcos de apoio e navios petroleiros fabrica- dos nos estaleiros aqui localizados. Mas o pré-sal trouxe uma novi- dade entre suas necessidades mais essenciais: diferentemente dos na- vios de produção – equipamentos cuja construção emprega tecnolo- gias correntes, dominadas – para perfurar em águas ultraprofundas exigem-se sondas de perfuração superespeciais, de tecnologia ultra- -avançada, principalmente na au- tomação e nos requisitos de segu- rança operacional. Como a faixa de águas ul- traprofundas é a última frontei- ra exploratória para petróleo e gás natural do planeta, estas sondas es- peciais serão extremamente requi- sitadas ao longo deste século XXI e as dificuldades iniciais da Petro- bras em contratar estes equipa- mentos comprovam isso. Para permitir a produção desta imensa riqueza nacio- nal é indispensável a capacita- ção da indústria naval brasilei- ra, de maneira que o Brasil não dependa dos estaleiros no exte- rior para construir estas sondas. Dentro deste contexto absoluta- mente estratégico foi constituí- da a empresa Sete Brasil. Trata- -se, portanto, de uma iniciativa geiras, mas foi a Petrobras que, de longe, conseguiu a maioria deles e a empresa que, também de longe, mais investiu em exploração na ba- cia de Santos desde então. Como resultado direto desta decisão de concreta retomada pe- la Petrobras das atividades explo- ratórias na bacia de Santos, logo surgiram descobertas do pós-sal (campos de Mexilhão – o maior campo de gás brasileiro – Uruguá e Tambaú, com óleo pesado “ti- po Campos”, mais tarde os cam- pos de Baúna e Piracaba) e depois – em águas ultraprofundas, mais de 2.000m de lâmina d’água – vá- rios megacampos (mais de um bi- lhão de barris de reservas) de óleo leve no pré-sal – Lula, Sapinhoá, “Franco”, “Libra” e tantos outros. As descobertas do pré-sal por parte da Petrobras se deram em todos os poços perfurados com aquele objetivo específico, revelan- do que os exploracionistas da com- panhia haviam construído com in- questionável sucesso geocientífico o que se denomina de “sistema pe- trolífero”. A partir daí o risco ex- ploratório desapareceu, eliminan- do o pilar principal do modelo de concessão. Quando isto ocorre, em qualquer parte do planeta, o mo- delo de concessão é imediatamen- te substituído pelo de “partilha de produção”, segundo o qual, em li- nhas bem gerais, os governos na- cionais tornam-se proprietários do petróleo e gás produzidos pelos campos descobertos e ressarcem as empresas operadoras pelos gastos operacionais. Mas o modelo de partilha es- colhido pelo governo brasileiro adota características especiais: le- vando em conta ter sua empresa estatal como a principal operadora em águas ultraprofundas de todo o mundo, designá-la como operado- ra única, com no mínimo 30% de
  • 7. 7 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Entrevista: Guilherme Estrella do mais alto interesse nacio- nal brasileiro, e todas as medi- das que sejam necessárias pa- ra torná-la realidade devem ser tomadas pelo governo brasilei- ro, levando em conta que preços atuais do petróleo não devem afetar a imperativa necessidade do Brasil de ser um país sobera- no e autossuficiente em energia. P: Você acredita na retomada da construção das refinarias no Ma- ranhão e Ceará e das ampliações no Coperj e na Abreu e Lima ou o abandono destes projetos é de- finitivo? R: O Brasil está entre as dez maio- res economias do mundo. Mas nosso consumo de energia per ca- pita é extremamente pequeno. Em dados de 2010 – não devem ser muito diferentes hoje – os va- lores em tep/ano eram: mundo (1,83); OCDE (4,56); América Latina (1,24); China (1,60); Rús- sia (7,50); Brasil (1,29). Como consumo de energia equivale a qualidade de vida, po- demos deduzir o abismo que exis- te entre a qualidade de vida de um brasileiro e a de seu igual em qual- quer dos países que compõem o grupo das 10 maiores economias mundiais, o que é uma realidade concreta. Logo, mantido o processo de desenvolvimento econômico-so- cial que estamos a experimentar na última década, nosso consumo de energia per capita deve crescer em taxas muito elevadas ao longo da primeira metade deste século. Dentro deste contexto, leia-se con- sumo de gás natural e de derivados de petróleo. Gente do ramo conside- ra que o Brasil – um país sobre pneus – deverá consumir entre cinco e seis milhões de barris de petróleo/dia por volta de 2030. Logo, novas refinarias deverão ser construídas para atender a demanda doméstica de deriva- dos. Como a produção nacional, com o pré-sal e demais desco- bertas em águas ultraprofun- das ao longo de nosso mar ter- ritorial, excederá este volume, o Brasil deverá exportar, na mes- ma época, cerca de um a dois milhões de barris/dia de petró- leo bruto. Agregar valor, pelo refino, a este excedente nacional será indispensável e estas novas refinarias atenderão a estas im- posições econômicas para valo- rizar nossas exportações. As regiões nordeste e norte- -oceânica brasileiras carecem de refinarias para suprir seu próprio consumo. Ao mesmo tempo, por localizarem-se ao longo da linha do Equador e às portas do Atlânti- co Norte, com suas economias al- tamente consumidoras de energia, refinarias ali localizadas – além da Abreu e Lima – serão importantes para exportar seus produtos. Não tenho dúvidas quanto a estas pre- missas. Agora, capacidade produ- tiva, (re) localização e época de construção podem ser objeto de (re) estudos ou não. O Comperj – localizado em nossa região industrial mais desen- volvida – é um importante ativo em construção da Petrobras para a produção de matéria prima petro- química e para a produção de com- bustíveis, principalmente diesel, de que somos carentes. Seu projeto original foi modificado para aten- der a estas exigências, e a produ- ção do óleo do pré-sal da bacia de Santos, com sua elevada razão gás/ óleo, é crítica, decisiva para garan- tir a viabilidade do projeto. P: Que medidas a Petrobras de- veria ter tomado no passado, e não tomou, visando o combate à corrupção na empresa? A Petro- bras criou mecanismos para im- pedir a repetição destes casos? R: Corrupção é um problema universal, como sabemos todos. Existem inclusive “agências” que “medem” índices de corrupção. Corrupção ocorre nas famílias – famílias reais, inclusive, e por que não? – clubes, instituições e gru- pamentos humanos de todos os ti- pos, governos também de todos os tipos, democracias, ditaduras, em- presas estatais e privadas, pequenas e gigantescas, instituições religio- sas, bancos de todos os tamanhos, países organizados com este fim, como um todo – alguns são cha- mados de “lavanderias” – enfim, é uma mazela que caracteriza a so- ciedade humana, inclusive nos ór- gãos que a sociedade criou para fa- zer cumprir as leis e combatê-la. Repito, todos sabemos disto. Mas ter consciência desta rea- lidade não significa aceitá-la, pe- lo contrário, e longe de mim que- rer ensinar isso a qualquer pessoa. Trabalhei a vida inteira numa grande empresa e construí uma opinião que – da mesma forma – nada tem de inédita tampouco inovadora: são as pessoas, os se- res humanos os agentes, os cria- dores de um ambiente em que a corrupção possa se instalar. Minha experiência de vida en- sina-me uma realidade concreta: a simples existência de leis rigorosas ou “mecanismos” não evitam, por si só, a corrupção. Há que man- ter-se um esforço permanente na criação, preservação e valorização coletiva de ambientes de trabalho – no caso das instituições de todos os tipos – cuja cultura rejeite, por princípio e valores fundamentais, qualquer iniciativa que, de algu- ma forma, facilite o desvio de con- duta que desague em corrupção e que, paralelamente, na mesma in- tensidade, seja completamente in- tolerante com qualquer postura de impunidade em relação a atos de corrupção. De modo que seja por todos muito bem entendida a ideia de que toda e qualquer tendência de qualquer pessoa a atos ilegais não será de forma alguma aceita - mais do que isso, será exemplar- mente punida. E que todos, verda- deiramente todos saibam, enten- dam, conheçam e pratiquem estas diretrizes.
  • 8. 8 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Petrobras e petróleo Paulo Metri* U m modelo de organização do setor de petróleo, para ser adotado por um país, deve conter o máximo de impactos sociais positivos e o mínimo de ne- gativos. Alternativas de modelo não devem ser analisadas olhando-se só um aspecto, como é o caso frequen- te do uso do aumento da atividade econômica, resultante dos modelos, para que a decisão seja tomada. As- sim, a melhor opção pode ser lucra- tiva para as empresas e não acarretar grande benefício social. Os seguintes critérios de ava- liação dos modelos, para apoiar o processo de escolha, são sugeridos a seguir. O modelo deve: (1) prio- rizar a posse pelo Estado brasileiro do máximo de petróleo produzido, visando à realização de ações estra- tégicas; (2) maximizar a arrecada- ção de tributos para permitir ao Es- tado suportar programas sociais; (3) minimizar o preço de venda dos derivados de maior consumo pela classe pobre; (4) gerar o máximo de compras e empregos no país, com ênfase na fase de implantação dos empreendimentos; (5) contratar ao máximo no Brasil os serviços de desenvolvimento tecnológico e de engenharia; (6) minimizar a possi- bilidade de acidentes em unidades operacionais e de transporte e os impactos ao meio ambiente. O primeiro modelo do setor do petróleo a ser considerado é o do monopólio estatal, que maxi- miza os benefícios sociais em um país em desenvolvimento, des- de que haja controle social sobre a estatal executora do monopó- lio, para evitar o seu uso políti- co e corporativo. A afirmação que “o monopólio é prejudicial à socie- dade, porque a empresa monopolis- ta fixa livremente o preço de venda dos seus produtos” só é verdade para um monopólio privado. Um mo- nopólio estatal controlado pela so- ciedade não a extorque. O monopólio estatal pode ser usado como instrumento eficaz para a consecução de políticas pú- blicas, o que é impossível através de empresas privadas. Por exem- plo, a Petrobras foi explorar petró- leo na bacia de Campos, nos anos 1970, quando o barril custava só Modelos de organização do setor de petróleo US$12, para reduzir a dependên- cia do Brasil ao petróleo impor- tado, que chegava a 85%. De- senvolveu fornecedores nacionais para evitar compras no exterior. Priorizou desenvolver tecnologia no país, o que já lhe rendeu três premiações da Offshore Technology Conference e muita economia de divisas. Se o monopólio não tives- se sido criado, o Brasil seria, desde 1953, o paraíso das empresas es- trangeiras. Aí, o Pré-Sal ainda não teria sido descoberto, pois o petró- leo não está escasso a ponto de elas irem buscá-lo a 7.000 metros de profundidade, tendo que transpor uma camada de sal de 2.000 me- tros. Só uma petrolífera do Esta- do, que tem como lógica o benefí- cio da sociedade, realiza este feito. Por interferência do capital in- ternacional, através de políticos en- treguistas, o monopólio foi extin- to em 1995. Havendo a imposição de empresas privadas participarem da exploração e produção de pe- tróleo, existem no mundo três mo- delos de contratação delas: a con- cessão, o contrato de partilha da produção e o de prestação de servi- ço. Como não existe, no Brasil, pe- trolífera privada nacional que con- siga competir com a Petrobras e as
  • 9. 9 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Petrobras e petróleo estrangeiras em águas profundas, a contratação aqui é destas duas, consorciadas ou não. Nas concessões, a empresa pe- trolífera fica com a posse total do petróleo descoberto e paga tributos. Se não descobrir petróleo, os inves- timentos realizados não são ressarci- dos pelo Estado. Nos contratos de partilha da produção, a empresa pe- trolífera, descobrindo petróleo, terá posse só da sua parcela da produção, constante do acordo de partilha. O restante do petróleo ficará com o Estado. A empresa poderá ainda pa- gar tributos sobre a sua parcela. Se não descobrir petróleo, os investi- mentos realizados pelo contrata- do não são ressarcidos pelo Estado. Nos contratos de prestação de ser- viços, a empresa petrolífera não terá posse do petróleo descoberto e será remunerada pelos serviços prestados de prospecção, perfuração, produ- ção e outros. Se não for descoberto petróleo, será remunerada da mes- ma forma pelo Estado. A concessão tende a beneficiar mais as petrolíferas em detrimen- to do Estado, enquanto, no contra- to de partilha, o maior beneficiário tende a ser o Estado. Supondo que este irá repassar o acréscimo de be- nefícios para a sociedade, então o contrato de partilha é melhor para ela. Muitos porta-vozes de grupos estrangeiros dizem, buscando con- fundir a população, que os contratos de concessão são mais comuns entre os países desenvolvidos e os contra- tos de partilha da produção são ado- tados com mais frequência por pa- íses em desenvolvimento. Este fato realmente ocorre, mas a intenção ao divulgá-lo é dizer que a concessão é melhor que o contrato de partilha. A maioria dos países desenvol- vidos não tem reservas, como é o caso da Alemanha, Japão, Fran- ça, Itália e Coréia do Sul. As exce- ções são Canadá, Estados Unidos, Noruega e Reino Unido, que têm reservas e adotam o modelo da concessão, porque a maioria das petrolíferas de porte, muitos for- necedores e centros de desenvol- vimento tecnológico do setor pe- trolífero têm sede nestes países. Os Estados Unidos proíbem a expor- tação do seu petróleo, não permi- tindo que empresas, visando uma maior lucratividade no curto pra- zo, contribuam para um desabas- tecimento futuro. Isto não ocorre no Brasil, pois, quando só exis- tiam reservas garantidas para 17 anos, empresas estrangeiras expor- tavam suas produções do Brasil. A Noruega e o Reino Unido adotam as concessões, mas tomam medidas de repercussão social. A Noruega destina as áreas com gran- de expectativa da existência de pe- tróleo para a estatal Statoil, res- tando áreas menos nobres para as petrolíferas estrangeiras e, mesmo assim, com a imposição eventual de participação da Statoil. No Bra- sil, só recentemente, o artigo 12 da lei do contrato de partilha foi usa- do, permitindo a entrega direta de áreas para a Petrobras, para tristeza do capital internacional, que que- ria vê-las leiloadas. No Reino Unido, quando a ex- ploração do Mar do Norte come- çava, foi criado o órgão governa- mental Offshore Supplies Office, que determinava aos concessionários onde, neste Reino, alguns equipa- mentos deveriam ser comprados. Uma atitude análoga no Brasil seria considerada cerceamento da liber- dade empresarial. A política brasi- leira de conteúdo local é baseada na indução para a compra no país e não veta a compra no exterior. Ain- da assim, é combatida pela mídia, que representa o capital internacio- nal, visando maximizar seus lucros e pouco se importando com o pa- ís que quer aproveitar a existência das reservas para alavancar seu de- senvolvimento. Olhando as escolhas pela con- cessão ou o contrato de partilha, já feitas pelos países em desenvol- vimento, a regra que pode ser de- duzida é que aqueles com maior grau de soberania escolhem os con- tratos de partilha e os com baixo grau se subordinam às concessões. A argumentação de que em áreas de maior risco, as empresas estrangei- ras só se motivam a participar se ti- verem concessões, é compreensível. Mas isto não significa que elas não venham a fechar contratos de par- tilha. Com dados de 2004, África do Sul, Argentina e Peru tinham só concessões. Angola, Bolívia e Egi- to tinham só contratos de partilha. Argélia, Colômbia, Nigéria e Rússia tinham concessões e contratos de partilha. Países podem ter conces- sões da época de administrações ne- oliberais e contratos de partilha de períodos com administrações sobe- ranas, que deve ser o caso da Rússia. Os contratos de serviço podem ser prestados para o Estado dire- tamente ou para estatais do setor. Neste caso, tem-se grande controle do Estado sobre o setor. As petrolí- feras estrangeiras não gostam de ser assim contratadas porque isso res- tringe seus ganhos e não há o rece- bimento de parcela alguma do óleo produzido. O Irã só usa este tipo de contrato. O México o usava, mas, como o monopólio estatal foi der- rubado recentemente, a concessão deve estar sendo usada. A Venezuela tem contratos de partilha e de servi- ços. Países do Oriente Médio, ainda nos anos 70, nacionalizaram seus se- tores petrolíferos. A Líbia e o Iraque invadidos têm seus setores de petró- leo tutelados, o que representa a op- ção de desorganização do setor. O abastecimento do Brasil, graças ao Pré-Sal, está garantido por muitos anos. A produção atu- al da Petrobras satisfaz a deman- da nacional. Contudo, pode-se aumentar a produção do Pré-Sal, acima do acréscimo de demanda, para permitir ao Brasil exportar e acumular divisas. Mas, para a ex- portação ocorrer com o máximo usufruto da nossa sociedade, a em- presa exportadora precisa ser a Pe- trobras. Os entreguistas argumen- tam que ela não tem capacidade financeira para explorar sozinha a região, o que é verdade para os ní- veis de produção que eles não ex- plicitam. Ao nível de produção de máxima satisfação da sociedade, a Petrobras tem capacidade. Sendo politicamente difícil re- vogar a lei dos contratos de parti- lha, o capital internacional busca derrubar pontos positivos desta lei, como a obrigatoriedade de a Petro- bras ser a operadora única do Pré- -Sal, dela ter 30% em todos os con- sórcios desta área e as exigências de conteúdo nacional. A operadora em qualquer consórcio é a respon- sável pelas compras do consórcio e, sendo a Petrobras, sabe-se que as compras no Brasil serão maximiza- das. E não existe operadora de con- sórcio que detenha menos de 30% de participação. A lei das concessões tem embu- tida a pressa de interesse das empre- sas estrangeiras. A ANP não busca baixar a frequência dos leilões, cuja necessidade não é explicada para a sociedade. Enfim, existe muito en- tulho neoliberal no setor. Um pon- to é crucial: não podem mais existir leilões de áreas na região do Pré-Sal, que a Petrobras descobriu e conhece bem. Estas áreas devem ser entregues a ela diretamente, seguindo o artigo 12 da lei da partilha, adequando a necessidade de investimentos ao flu- xo de caixa da empresa. * É mestre em Engenharia Industrial e conselheiro do Clube de Engenharia.
  • 10. 10 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Petrobras e petróleo Claudio Weber Abramo* O escândalo da Petrobras, posto a nu pela operação Lava-Jato, confirmou as piores previsões que se faziam des- de que se determinou, em 1998, que a estatal contaria com um re- gime especial de licitações. Desde aquela época se tem apontado que o regulamento da Petrobras contém inúmeras bre- chas para o direcionamento de su- as compras. Compras são assunto estraté- gico em qualquer empresa, pois têm impacto direto em sua efici- ência alocativa. Comprar mal sig- nifica, no final das contas, erosão de resultados. Em qualquer empresa é agu- da a consciência de que uma das formas de pagar mais caro por al- go que poderia ser comprado mais barato se dá pelo mecanismo de o vendedor do fornecedor de um bem ou serviço pagar um suborno ao comprador da empresa para es- te direcionar-lhe as compras. Por isso, os antigos códigos de conduta de empresas sempre in- cluíam advertências quanto a isso. A propósito, tipicamente, tais códigos jamais mencionavam a situação complementar, a saber, vedações a seus próprios vende- dores pagarem propinas aos com- pradores de seus clientes. Usar dois pesos e duas medidas pa- ra a mesma interação caracteriza uma situação que só se pode des- crever como esquizofrênica, pois o conjunto geral de compradores e vendedores compõe uma só co- munidade de indivíduos. É o caso de anotar: quem su- põe que a condução de negócios incorpora, em alguma medida, noções de moralidade, melhor fa- ria se refletisse novamente. De volta à Petrobras, a existên- cia de um regulamento para licita- ções permissivo, aliada à consciên- cia de que a eficiência em compras é componente central da eficiência geral da empresa, deveria de for- ma natural levar à implantação de mecanismos de acompanhamento e controle capazes de enfrentar os riscos de direcionamento. É o que se faria em qualquer empresa. O que a Lava-Jato desvendou é que tais mecanismos simples- mente inexistem na estatal. Da- do que as regras para encomen- dar refinarias são as mesmas que governam a compra de copinhos plásticos, papel para impressora e todo o resto dos milhares de bens e serviços necessários para tocar uma empresa com mais de 70 mil funcionários, pode-se especular com razoável dose de convicção que não há caneta esferográfica usada na Petrobras que não car- regue um sobrepreço oriundo de propina paga ao funcionário res- ponsável pela compra. Como nesse tipo de coisa é so- cioeconomicamente impossível que indivíduos ajam de forma iso- lada, pode-se também inferir que as áreas de compras da Petrobras são dominadas por quadrilhas es- truturadas. Se existe real intenção do con- trolador da Petrobras (o governo, representando a União) de sanear a empresa, a segunda providência crucial a tomar (sobre a primeira ver mais abaixo) é montar mecanismos internos de prevenção e controle que não sejam só para inglês ver. Qualquer mecanismo adminis- trativo desse tipo precisa basear-se em dois aspectos: a qualidade das Desgoverno estrutural informações usadas nos processos decisórios e a checagem sistemática dos elos da cadeia decisória. Assim, o levantamento per- manente de preços praticados no mercado, a prospecção de forne- cedores onde quer que estejam e a submissão de decisões de gesto- res à crítica são elementos que não podem faltar. Observe-se que não é costumei- ro, no poder público brasileiro, se prospectar preços de mercado. Co- mo se levantou no caso Siemens em São Paulo (por insistência da Transparência Brasil, diga-se), “pre- ços de mercado” costumam ser en- tendidos como “preços ofertados”, e não “preços praticados”. Naquele escândalo, envolven- do o mercado metro-ferroviário, verificou-se que, para determinar os preços de referência para suas li- citações, os compradores (a Com- panhia do Metrô e a Companhia de Trens Metropolitanos) pergun- tavam aos fornecedores por quan- to ofereceriam bens e serviços nu- ma licitação. Usavam as respostas para fixar os preços de referência para licitações de que participa- vam exatamente as empresas que haviam sido indagadas. Semelhante comportamento, que não resiste à primeira análise, é a norma no Brasil. Outro aspecto que se constatou no caso Siemens foi a virtual ausên- cia de controles. Sequer há disponi- bilidade dos documentos internos de registro das decisões tomadas ao longo do processo de compra de trens e encomenda de reformas em composições existentes: as compa- nhias não os arquivavam. Ignora-se se a Petrobras tem si- do gerida com o mesmo grau de irresponsabilidade, mas pelo sim, pelo não, o mais prudente é ima- ginar o pior. As providências iniciais toma- das pelo governo federal na Petro- bras parecem indicar intenção sa- neadora. Criou-se uma diretoria de governança que, embora (ao tem- po em que estas linhas são escritas) ainda não se conheça os poderes, te- ria como função instituir melhores controles internos (além de outras responsabilidades cosméticas, do ti- po compliance verbal, que de pouco serve para qualquer coisa material). O governo também levou ao Conselho dde Administração da estatal o advogado Luiz Navarro, que foi durante anos o secretário- -executivo da Controladoria-Ge- ral da União. De todas as pesso- as envolvidas com o processo de saneamento da empresa, é o que mais experiência tem na preven- ção e combate à corrupção. Resta saber se tais medidas de natureza administrativa não serão neutralizadas pela ausência da se- gunda providência que se exigiria: a eliminação da distribuição políti- ca dos cargos de responsabilidade na estatal, raiz do esquema Lava-Jato.
  • 11. 11 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Petrobras e petróleo www.corecon-rj.org.br O loteamento de cargos na administração entre partidos po- líticos é o mecanismo de “gover- nabilidade” (como se costuma, equivocadamente, dizer) central dos governantes brasileiros das três esferas. Do último dos muni- cípios ao governo federal, o gover- nante adquire o apoio de partidos nos respectivos parlamentos por meio da distribuição de cargos. O negócio é simples: em tro- ca dos cargos, os partidos se com- prometem a votar com o gover- tno e, principalmente, eximir-se de fiscalizá-lo. Isso não apenas comprome- te de modo terminal a eficiên- cia administrativa como constitui um dos elementos importantes na desmoralização dos partidos polí- ticos como representantes de ten- dências ideológicas na sociedade. O que, afinal, um partido po- lítico deseja ao controlar uma di- retoria de estatal, uma superin- tendência regional do INSS ou do Departamento Nacional de Infra- estrutura de Transportes? Ou uma subprefeitura? Boa coisa não é, e o noticiário político, transmudado em crônica policial, mostra o que, de fato, a car- tolagem partidária e os membros do Legislativo querem com tudo isso. É sintomático que, tendo o ca- so Lava-Jato eclodido no período pós-eleitoral, numa página se no- ticiava sobre relações escusas entre partidos, diretorias da Petrobras, doleiros e fornecedores da estatal, enquanto na página ao lado trans- corria a descrição das idas e vindas do loteamento de cargos no go- verno federal (quanto aos gover- nos estaduais recém-eleitos, afeta- dos pelos mesmíssimos problemas e condutores do mesmíssimo lote- amento, manteve-se o usual silên- cio noticioso). O loteamento político é con- sequência direta da liberdade que governantes têm de nomear pesso- as livremente para ocupar cargos na administração, por sua vez ga- rantida explicitamente na Consti- tuição (Art. 37, Inciso V). A partilha dos cargos é origina- dora de ineficiências de toda na- tureza, resultando em desempe- nho governamental sub-standard. É também responsável por mais uma – ou várias – voltas no para- fuso da falta de representatividade de partidos políticos. Por isso, é nada menos que es- pantoso que a conversa sobre “refor- ma política” deixe a questão de lado. Que os políticos prefiram escamote- ar o assunto é compreensível: nin- guém quer mudar um estado de coisas que o beneficie. Não é, contu- do, inteligível que observadores do Estado, e em particular a imprensa, persistam em ignorar o assunto. Caso a liberdade de nomea- ção não seja drasticamente redu- zida por emenda à Constituição, nenhuma providência adminis- trativa conseguirá contrabalançar a ineficiência que provoca, não só em estatais como em toda a admi- nistração pública do país. * Claudio Weber Abramo é vice-presi- dente da Transparência Brasil. É bacha- rel em Matemática (USP) e mestre em Filosofia da Ciência (Unicamp). É au- tor de artigos em publicações acadêmi- cas nacionais e internacionais a respeito do tema da corrupção e seu combate, e colabora frequentemente para órgãos da imprensa como articulista.
  • 12. 12 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Petrobras e petróleo Mauro Santayana* A questão da Petrobras man- tém, neste momento, a si- tuação do país em suspenso. Trata-se não apenas de um proble- ma jurídico, mas do futuro da nossa maior empresa nacional e de deze- nas de setores da economia brasi- leira, que vão da indústria naval à química, com implicações de toda ordem e a ameaça de eliminação de milhares de empresas e empregos. Mas os problemas vão além dos casos de corrupção na empre- sa? Como poderia estar sua situa- ção se não fosse isso? Do nosso ponto de vista, a que- da do petróleo não atrapalha a ex- ploração do pré-sal para a Petro- bras, porque o grande mercado da Petrobras é o brasileiro. O que ba- liza o preço que a Petrobras obtém pelo óleo extraído no pré-sal ou pe- lo óleo que ela troca pelo petróleo do pré-sal lá fora é o custo final do combustível no mercado nacional.  É a Petrobras que forma o pre- ço do petróleo no mercado brasi- leiro, e essa condição de formação de preço só se veria ameaçada se houvesse importação de combus- tível em enorme escala por empre- sas concorrentes, para substituir a produção nacional da empresa. Essa é uma possibilidade dis- tante, que não poderia se dar sem um tremendo esforço logístico, que implicaria, por sua vez, no aumento do custo, diminuindo a margem de lucro de suas concor- rentes, o que neste momento não interessaria a ninguém.  O grande problema é o câm- bio, considerando-se que muitos dos insumos e serviços da Petro- bras são importados. Mas ainda as- sim, a manutenção desse quadro, bertos – que têm sido várias vezes multiplicadas pela mídia e por to- do o tipo de “fontes” e “analistas” – e que a está empurrando para a realização de desinvestimentos. Is- so é muito mais grave do que as su- as perspectivas reais de produção e de mercado, mesmo quando leva- da em consideração a situação vi- vida neste momento pela indústria de óleo e gás em todo o mundo. Essa é uma situação que só po- deria ser minorada, por exemplo, se a empresa tomasse uma deci- são que revertesse as expectativas e contornasse os problemas que tem tido nas bolsas ocidentais e com a má vontade de agências de qualifi- cação como a Moody´s. Esse seria o caso, por exemplo, do estabelecimento de uma alian- ça que lhe garantisse a obtenção de recursos e de apoio alternativos – para a execução dos projetos que estão em andamento – com par- ceiros alternativos que fossem fi- nanceira e tecnicamente podero- sos, como a China.   A Petrobras tem excelente tec- nologia (acaba de ganhar, pela ter- ceira vez, o maior prêmio do mun- do, outorgado pela OTC, nessa área), produção e gigantescas re- servas de petróleo e gás, em as- censão neste momento, e uma si- tuação predominante em um dos maiores mercados do mundo.  A única coisa que pode atrapa- lhá-la é o fator político. * Vencedor do Prêmio Esso de Reporta- gem de 1971 e ex-correspondente no ex- terior do Jornal do Brasil e da Folha de São Paulo, trabalhou em várias publica- ções como Gazeta Mercantil, Correio Bra- ziliense, Última Hora e Revista Manchete. É articulista do Jornal do Brasil Online, da Revista do Brasil, da Carta Maior e do Jor- nal Hoje em Dia e mantém o blog www. maurosantayana.com. A Petrobras e o fator político tensão na Ucrânia, que pode vir a prejudicar o fornecimento russo de gás para a União Europeia.    Em uma situação normal, em que fosse considerada apenas a ló- gica produtiva e de mercado, a Pe- trobras estaria vivendo um exce- lente momento.  A expectativa negativa criada em torno da empresa, no entan- to, gerou uma posição institucio- nal que não condiz com as perdas efetivamente detectadas até agora com os casos de corrupção desco- em que o grande foco é o mercado interno, com o aumento paulatino da produção nacional de petróleo e a de refino, só tende a ajudar a Pe- trobras, com a recuperação de suas margens de lucro no futuro.  Com relação ao mercado in- ternacional, em médio prazo, a re- composição do preço do petróleo tende a ocorrer por várias razões. Primeiro, a concorrência do petró- leo saudita mais barato com o óleo e o gás de xisto dos EUA, que pode diminuir a oferta de produção lo- cal no maior mercado do mundo. Em segundo lugar, pela pres- são de outros membros da OPEP para que haja corte na produção. Em terceiro lugar, pela diminui- ção dos estoques norte-americanos e chineses, que deve ocorrer devido ao aquecimento da economia dos EUA e das exportações chinesas, como já se viu no início deste ano. Depois, vem a possibilidade de recuperação da economia euro- peia, caso seja bem sucedido o pa- cote de estímulo do BCE, e, por último, a de haver um aumento da
  • 13. 13 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Petrobras e petróleo Estado de direito ameaçado www.corecon-rj.org.br Wadih Damous* E m nome do combate à cor- rupção cometem-se aten- tados de toda sorte à or- dem jurídica. O desenvolvimento da cha- mada Operação Lava Jato mostra como, de forma paulatina, o es- tado de exceção vai contaminan- do as práticas judiciais, os atos do Ministério Público e o comporta- mento da polícia. Mas as consciências também vão sendo contaminadas. Boa par- te da população está convencida de que contra a corrupção vale tu- do. Direitos constitucionais dura- mente conquistados pela demo- cracia são tidos como obstáculos à “santa cruzada”. Amplo direito de defesa, presunção de inocência e outras garantias individuais, na prática, estão revogados. A grande imprensa cumpre um papel lamentável nesse cenário. A mídia transformou-se em partido político. E de oposição. Fomenta ódio, fabrica “inimigos do povo” e articula e incentiva abertamente manifestações de natureza golpis- ta. Aliás, o comportamento da im- prensa nos dias que correm é bem parecido com o método que ado- tou nas vésperas do golpe de 1964. O processo judicial se transfor- ma em espetáculo. O juiz do pro- cesso vira herói nacional sob a luz dos holofotes e afagos da mídia. As “confissões” obtidas se trans- formam automaticamente em ver- dade e ganham as manchetes dos jornais. Permitem-se vazamentos criminosos e seletivos que man- charão por toda a vida a honra dos atingidos, ainda que considerados, ao final, inocentes. Além dessas máculas, alguns colegas advogados apontam ou- tras diversas irregularidades prá- ticas na condução da ação penal: 1) prisões desnecessárias, sem que existisse risco à efetividade do pro- cesso, ou seja, o sucesso das inves- tigações não requer a efetivação de prisões; 2) as prisões são utiliza- das como instrumento de coação para obter confissões e delações; 3) violação de regras de compe- tência: nem todos os fatos investi- gados são da competência do juiz Sergio Moro; 4) desconsideração de formalidades processuais que são garantia contra a opressão do Estado; 5) medidas de força ilegais e desnecessárias, como a requisi- ção do tesoureiro do PT, já que ele não havia se recusado a compare- cer para prestar depoimento; 6) desconsideração das consequên- cias sociais e econômicas das de- cisões, pois os danos econômicos à Petrobras produzidos com a con- dução do procedimento e divul- gação seletiva das investigações já são maiores do que os das condu- tas criminosas que se pretende pu- nir; 7) provas produzidas sem res- peito ao devido processo legal. E diga-se mais. A delação pre- miada é abertamente inconstitu- cional porque fere, entre outros, os princípios da moralidade pública, da isonomia e do contraditório, já que os delatados e a sua defesa não têm acesso ao ato de delação nem a chance de confrontar o delator. Le- gitima-se a hipótese da pena sem obediência a limites éticos e jurídi- cos, como nos “velhos tempos”. Tenta-se consolidar um padrão jurisprudencial inaugurado no julgamento do chamado “mensa- lão”, onde os direitos fundamen- tais dos acusados e a necessidade de provar os fatos que ensejam a acusação cedem lugar à teoria do domínio fato, mal e porcamente importada do direito alemão. A esperança de que isso não aconteça é o Ministro Teori Za- vascki, que se mostra bastante di- ferente – ainda bem! – de Joaquim Barbosa. O ministro Teori é aves- so a holofotes e, ao que se sabe, não se intimida com clamores da “opinião pública” insuflados pela grande mídia. O quadro sombrio que se de- senha é considerar o Estado de Direito, a Democracia, a Consti- tuição e as leis como incompatí- veis com o combate à corrupção. A conclusão é enganosa. A nossa ordem jurídica contém um arsenal de normas e princípios suficientes para o enfrentamento, que se faz necessário, dos saqueadores do di- nheiro público. Agredir o Direito não levará ao êxito da empreitada. Antes, pelo contrário: significará a derrota da Democracia e o reconhecimento absurdo de que o crime só se com- bate se nos livrarmos da Consti- tuição, que só “atrapalha”. *Advogado. Ex-presidente da OAB/RJ.
  • 14. 14 Fórum Popular do Orçamento Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Em razão de sua conduta (com as drogas), a criança deverá ser inclu- ída em programa de auxílio, orien- tação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. (Estatuto da Criança e do Adolescente, artigos 98 e 101) Introdução Em sequência às matérias pu- blicadas nas duas últimas edi- ções, visando avaliar as políticas públicas relativas ao Orçamento Criança e Adolescente (OCA), o tema desta edição é Assistência Social, com destaque para a po- lítica de combate ao uso de cra- ck – questão eleita pelos conse- lheiros como prioritária há dois anos. Para analisar os valores re- ferentes a essa política pública, os dados apresentados foram corri- gidos monetariamente pelo IP- CA de janeiro de 2015. O tratamento e o combate ao crack Há uma enorme discussão em torno de como se pode combater e tratar o uso desta substância. É al- go que na verdade vai muito além da simples busca pela cura do ví- cio, e passa por questões como o direito à cidade e inclusão social. Durante muito tempo houve um estigma muito forte de “loucu- ra” que obrigava os pacientes com problemas mentais a serem ex- cluídos da sociedade, vivendo em manicômios e sendo basicamen- te medicados. Esse tipo de pen- samento pode ser ligado a pre- conceitos bem antigos da cultura ocidental, como descreve Foucault (2004), dizendo que, antes do sé- culo XVIII, “Hospital servia para recolher pobres e proteger a socie- dade do perigo que eles represen- tavam”. Ao longo da história, no entanto, a Luta Antimanicomial serviu para desconstruir tal con- cepção, de modo a entender que o processo de tratamento deve con- tar com políticas públicas inclu- sivas e acolhimento humanitário. Nessa perspectiva, cabe uma aná- lise dos problemas pessoais e fami- liares sofridos pelo usuário. Ainda não há um tipo de tra- tamento consensual, porém as in- formações disponíveis parecem corroborar com o tratamento aco- lhedor; dados de 2013 da Fiocruz1 mostram que quase 80% dos usu- ários no país têm vontade de re- ceber tratamento, o que esvazia a retrógrada proposta de tratamen- to via internação compulsória. De fato, no Rio, de acordo com le- vantamento da Secretaria Muni- cipal de Desenvolvimento Social, esse tipo de tratamento possui efi- cácia duvidosa. “Às vésperas de completar dois anos, a internação compulsória de crianças e adolescentes no Rio de Janeiro está surtindo pouco efeito na recuperação dos pequenos usu- ários de crack e outras drogas. Le- vantamento obtido pelo Jornal do Brasil junto à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social reve- la que apenas 24,88% das crianças levadas forçosamente para abrigos tiveram êxito no tratamento. Ou seja, das 200 crianças já acolhidas, apenas 50 alcançaram a tão fala- da reinserção social. Os dados in- dicam ainda que outros 59,7% fu- giram dos abrigos mantidos pela Prefeitura do Rio para onde foram levados. Outra parcela – 15,42% – refere-se aos transferidos para abri- gos de outras cidades.” (Jornal do Brasil, março de 2013) Coerentemente ao processo evolutivo citado anteriormente, o tratamento de usuários se encami- nha para ser na esfera psicossocial, buscando a integração do pacien- te com a sociedade. Assim sendo, o plano de combate ao crack do município do Rio de Janeiro tem como carro-chefe o programa na- cional “Crack: é possível vencer”, que tem como objetivo a capaci- tação de profissionais do SUS, a criação de estrutura adequada nos locais de tratamento e a promoção da inserção social, prevenção nas escolas e conscientização do pú- blico jovem. Nesse contexto, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se mostram essenciais no procedi- mento de combate ao crack. Es- ses centros dispõem de serviços comunitários para o tratamento de pessoas com transtornos men- tais graves e/ou com problemas mentais decorrentes do uso de álcool e outras substâncias. Leva em consideração o ambiente no qual o usuário vive, construindo assim um modelo assistencialis- Crack, um problema de saúde e social, nunca de segurança ta e complexo, que envolve, além dos profissionais da saúde, a pró- pria comunidade. No caso da faixa etária em questão, existem os CAPS infan- tis (CAPSi), voltados para crian- ças e adolescentes que possuem sofrimento mental. Desse modo, foram levantados dados sobre os CAPSis do município e demais ações governamentais pertinentes, que trataremos a seguir. Políticas públicas A única ação destinada exclusi- vamente à criança e ao adolescen- te é o “Acolhimento especializado a crianças e adolescentes usuários de crack e outras substâncias”; no entanto, existem outras ações que também podem atingir o jovem indiretamente através do Programa Atendimento Psicossocial, como por exemplo, a “Reforma, adequa- ção e estruturação de unidades de atenção psicossocial”, que abran- ge os CAPSis. Em 2010, a previsão do gasto para essa área se dava por uma única ação, “Ações de Aten- ção Psicossocial”, mas no decorrer dos anos ela foi se dividindo, che- gando em 2014 a quatro ações. Os gastos realizados e a previsão para 2015 estão na Tabela 1. Percebe-se um expressivo cres- cimento dos gastos até 2013 e uma retração em 2014, além de um no- vo aumento previsto para 2015. A diminuição no ano passado só pode ser entendida como decisão política, pois o patamar de recur- sos federais transferidos se man-
  • 15. 15 Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ (fporiodejaneiro@gmail.com / 2103-0121 e 2103-0120) Coordenação: Econ. Luiz Mario Behnken. Assistentes: Est. Camila Bockhorny, Est. Karina Melo e Est. Mariana Vantine. Esta matéria contou com a colaboração dos assessores parlamentares Pâmela Matos (Gab. Ver. Reimont) e Talita Araujo (Gab. Ver. Renato Cinco). teve na casa dos R$30 milhões. Destaque para as Ações de Atenção Psicossocial, que rece- bem o maior valor, cujos produ- tos são a implantação de CAPS, capacitação de profissionais e nú- mero de usuários matriculados na unidade de atenção. Já a ação es- pecífica (2021) merece uma aten- ção especial pela execução tercei- rizada, que será tratada a seguir. Quem acolhe (e prendia) é ONG A Prefeitura tem diversos con- tratos com ONGs e empresas pri- vadas no âmbito de gerir alguns projetos em conjunto. No assun- to referente ao texto, podemos destacar as Casas Vivas, especia- lizadas no acolhimento de jovens usuários de drogas, principalmen- te de crack, onde vivem 20 jovens e crianças; são geridas pela ONG Viva Rio e tinham como parcei- ra também a Tesloo/ Obra Social João Batista, que por algum tem- po ficou encarregada de realizar as internações compulsórias. Buscando dados no Rio Trans- parente, podemos encontrar os va- lores dos contratos da ONG Viva Rio e da ONG Tesloo; no mesmo site podemos encontrar seu CNPJ com outro nome (Obra Social João Batista). Esse dinheiro pro- vém do Fundo Municipal de As- sistência Social, onde também se encontram muitos outros contra- tos com a esfera privada (Tabela 2). Não foi possível identificar se a razão do crescimento do valor repassado de 2013 para 2014 foi pelo aumento de usuários ou de atendimentos. Considerações finais Ao revisitarmos os dados da política municipal de combate ao uso do crack por crianças e ado- lescentes, constatamos dois as- pectos positivos: o abandono da agressiva internação compulsória e a elevação dos recursos, com a ressalva da significativa queda em 2014. Sem dúvida, duas postu- ras governamentais necessárias e urgentes. Todavia, algumas ques- tões colocam em risco e em dúvi- da a efetividade da política públi- ca, tais como: • Por que a adesão ao plano nacio- nal não significou um maior apor- Tabela 1 – Ações Psicossociais Em R$ AÇÃO 2010 2011 2012 2013 2014 PLOA 2015 2021 - ACOLHIMENTO ESPECIALIZADO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS DE CRACK E OUTRAS SUBSTÂNCIAS 2.042.889,37 3.646.450,12 4.183.068,89 7.256.339,43 5.884.174,49 7.074.016,68 1766 - REFORMA, ADEQUAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DE UNIDADES DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 0 0 1.044,13 2746 - AÇÕES DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 8.431.925,46 13.939.210,67 42.836.811,33 32.950.978,10 60.949.237,38 2748 - AÇÕES DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO EM SAUDE MENTAL 17.663.633,42 12.912.687,03 22.991.630,72 SOMA 2.042.889,37 12.078.375,58 18.122.279,56 67.756.784,18 51.747.839,62 91.015.928,91 Fontes: Prestação de Contas 2010 -2013, Rio Transparente para 2014 e PLOA de 2015. Tabela 2 – ONGs favorecidas Em R$ ONG favorecida 2011 2012 2013 2014 2015 TESLOO/JOAO BATISTA 16.684.449,58 13.869.093,04 11.421.512,59- VIVA RIO 3.802.884,69 55.251.431,93 40.371.658,33 Fonte: Rio Transparente - acesso 16/03/2015 te de recursos federais? • Por que o tema crack não cons- ta como prioridade no Plano de Ação para 2015 do Conselho Mu- nicipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – CMDCA? • Por que é difícil verificar se as metas do Plano Plurianual estão sendo cumpridas, como o núme- ro de usuários atendidos/matricu- lados e crianças atendidas nas Ca- sas Vivas? • Por que permanece a prática de se terceirizar ações governamen- tais de caráter eminentemente so- cial com ONGs que acabam em escândalos de corrupção? 1 http://www.icict.fiocruz.br/sites/www. icict.fiocruz.br/files/Pesquisa%20Nacio- nal%20sobre%20o%20Uso%20de%20 Crack.pdf
  • 16. Jornal dos Economistas / Abril 2015www.corecon-rj.org.br Escolas da Macroeconomia16 n Em março de 2014 o JE iniciou a publicação mensal de uma série de 12 artigos sobre Escolas de Macroe- conomia. Esse projeto institucional do Corecon-RJ contou com a cola- boração de mais de uma dezena de economistas de diferentes estados. Os artigos trataram das seguintes es- Escolas de Macroeconomia: Quadro-síntese Quadro-síntese das Escolas da Macroeconomia Questão/ Escola Macroeconomia Clássica Macroeconomia Neoclássica (antes de Keynes) Keynes e a Teoria Geral Síntese Neoclássica Monetarismo Novo- clássica Novo- keynesiana Sraffianos Pós- keynesiana Kaleckianos Novo Consenso Crítica Marxista Economias capitalistas estáveis, possibilidade de crises temporárias estáveis potencialmente instáveis estáveis estáveis no LP (NUR) estáveis já no CP (NUR) estáveis estáveis, com possibilidades de crises instáveis potencialmente instáveis, com possibilidade de crises estáveis estruturalmente instáveis Causa das flutuações distúrbios monetários e reais distúrbios monetários e distúrbios reais variação de investimento variações de gastos autônomos política monetária inapropriada distúrbios monetários (choques não antecipados DA) e reais (choques de OA) choques de DA e OA variação na DA variações de gastos autônomos; efeito dual do investimento e variação dos gastos autônomos choques de oferta e de DA dissociação entre produção e con- sumo causada pela separação entre as instân- cias da produção e realização do valor. Ajustamen- to mercado: preços/sa- lários e ve- locidade do ajustamento preços das mer- cadorias flexí- veis, preços de oferta de longo prazo das mer- cadorias e salá- rio real rígidos rigidez nominal aceita no curto prazo e flexibili- dade de preços e salários no lon- go prazo fraco; debate rigidez x flexibi- lidade é irrele- vante fraco; ênfase na rigidez do salário no- minal forte; flexível muito forte; perfeitamen- te flexível lento; ênfa- se na rigi- dez nominal de preços e real de sa- lários ajustes len- tos ou rápidos (depende da estrutura do mercado); in- flação de cus- tos, conflito distributivo muito fraco; de- bate sobre rigi- dez não possui papel relevante. não há ten- dência ao ple- no emprego, mas a oferta se ajusta à de- manda; preços determinados pelo grau de monopólio lento, ênfa- se na rigi- dez nomi- nal e real forte, com trajetó- ria inerentemente cíclica da acu- mulação de capi- tal, concentração e centralização de capitais. Noção de equilíbrio restrição de ca- pacidade pro- dutiva e desem- prego no longo prazo tendência ao ple- no emprego (ca- pital e trabalho) no longo prazo abaixo do pleno emprego repouso, pro- vavelmente abaixo pleno emprego zeragem de mercado à taxa natural zeragem de mercado à taxa natural consisten- te com de- semprego involuntário repouso com desemprego e utilização nor- mal da capa- cidade (com tendência) repouso, prova- velmente abaixo pleno emprego não há! A nor- ma é flutu- ações sem tendência ao pleno em- prego consistente com de- semprego involuntá- rio no curto prazo inexistente Expecta- tivas papel secundário papel relevan- te nas flutuações de curto prazo e pouca relevância no longo prazo formadas sob incerteza, fre- quentemente baseadas em convenções adaptativas adaptativas racionais racionais papel secun- dário na teoria do produto razoáveis (sub- jetivas, com base na incer- teza) papel secun- dário na teoria do produto híbridas – racionais e adapta- tivas papel secundário Horizonte temporal dominante longo longo curto curto curto e lon- go prazo longo=curto curto, pre- dominante longo curto curto e Longo curto, pre- dominante longo Diretriz: Livre mer- cado (LM) ou interven- cionismo (INT) LM LM INT INT LM LM INT (?) intervencionis- mo em geral INT intervencionis- mo em geral LM (?) superação da ordem capitalista Política mo- netária (Y, N) eficaz no curto prazo eficaz no longo prazo eficaz condicio- nalmente eficaz CP: eficaz LP: ineficaz ineficaz (no curtíssimo prazo so- mente se a política não for antecipa- da); LP: Ine- ficaz Eficaz menos eficaz eficaz eficaz (via cré- dito) eficaz no curto pra- zo devido à rigidez de preços NA Política fiscal (Y, N) eficaz ineficaz no longo prazo eficaz eficaz ineficaz ineficaz eficaz eficaz eficaz eficaz eficaz NA Regra (R) ou discri- cionarieda- de (D) R R D D R R aproxima-se mais de re- gras do que de discricio- nariedade D D D aproxima- -se mais de regras NA Notas: (NA) não se aplica. (NUR) Taxa natural de desemprego. (OA) Oferta agregada. (DA) Demanda agregada. (CP) Curto prazo. (LP) Longo prazo. (D) Discricionariedade: as políticas macroeconômicas dependem das avaliações e decisões dos formuladores de políticas. (R) Aplicação de regras na adoção de políticas macroeconômicas; regras anunciadas antecipadamente. Eficácia das políticas macroeconômicas refere-se ao impacto sobre emprego e renda real. colas: Macroeconomia clássica; Ma- croeconomia neoclássica (Macroe- conomia antes de Keynes); Keynes e a Teoria Geral; Síntese Neoclássi- ca; Monetarismo; Novo-Clássica; Novo-Keynesiana; Sraffiana; Pós- -keynesiana;Kaleckiana;NovoCon- senso; e Macroeconomia Marxista. O último produto da série é um quadro-síntese que envolve a com- paração dos entendimentos de cada escola em relação às questões-cha- ve da Macroeconomia. Vale desta- car que esse quadro-síntese não está isento de controvérsias. A organiza- ção do projeto ficou sob a respon- sabilidade de Fábio N. P. de Frei- tas, Maria Isabel Busato, Marcelo Carcanholo e Reinaldo Gonçalves. Com a conclusão desse projeto, o Corecon-RJ atinge seu objetivo de fornecer mais um serviço de utili- dade pública para estudantes e pro- fessionais na área de Economia.