Orwell acreditava que os governos controlariam as pessoas através da vigilância constante e da opressão, enquanto Huxley acreditava que as pessoas seriam controladas através do bombardeamento com informações triviais e distrações para mantê-las passivas. Embora Orwell pareça mais preciso para regimes autoritários, Huxley se mostra mais preciso para as sociedades capitalistas modernas, onde as pessoas são constantemente bombardeadas com distrações.
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Orwell vs Huxley: Contraste entre as visões anti-utópicas dos escritores sobre o futuro da sociedade
1. MARGARIDA CATELA Nº14/12ºN
ORWELL VS HUXLEY
O Contraste Anti-Utópico
O desenvolvimento da tecnologia e as mudanças drásticas na
sociedade que ocorreram ao longo do século XX originaram várias teorias
acerca da evolução da nossa civilização e os novos desafios que poderiam
apresentar-se.
Dentro destas, dois escritores – George Orwell e Aldous Huxley –
destacaram-se através dos seus trabalhos literários, que serviram ambos
como alegorias dos problemas que se estariam a formar na nossa sociedade.
Orwell centrou o seu trabalho na opressão governamental –
provavelmente inspirado pelos regimes autoritários que surgiram na primeira
metade do século XX. Segundo Orwell, os livros seriam banidos, a
informação seria-nos privada e a verdade escondida. A sociedade seria
controlada com o auxílio da tecnologia, estando os cidadãos
permanentemente vigiados e obrigados a viver segundo as normas pré-
definidas e limitadas. Tornar-nos-íamos uma cultura cativa, controlada
através da dor e de constantes ameaças de tortura e aprisionamento, caso
ambicionássemos algo mais do que aquilo que éramos suposto receber
(tanto a nível material como intelectual).
Huxley, por outro lado, era da opinião de que os livros nem sequer
precisariam de ser banidos, uma vez que ninguém os quereria ler de
qualquer maneira. A consequente queima de livros seria por questões
higiénicas ou de limpeza, e não ideológicas ou repressivas. As pessoas
seriam bombardeadas com informação excessiva, ficando reduzidas à
passividade e ao egotismo. A verdade seria afogada num mar de irrelevância
e nós tornar-nos-íamos uma cultura trivial, com preocupações superficiais. As
pessoas seriam controladas pelo prazer ao invés da dor.
Em síntese, Orwell temia que seria o que odiamos a destruir-nos,
enquanto que Huxley defendia que seria o que amamos.
Huxley dizia que o que os revolucionários sempre atentos à oposição
da tirania falharam em notar era o apetite infinito do ser humano por
distrações, e seriam essas a razão da nossa decadência.
Se analisarmos estas teorias de uma perspectiva histórica, será a de
Orwell a mais correcta. De facto, desde os tiranos bárbaros aos reis
absolutistas e ditadores modernos, o controlo da sociedade foi sempre feito
ao apelo do terror e do medo.
Contudo, à medida que a sociedade capitalista de consumo se foi
desenvolvendo, é Huxley quem se mostra mais correcto. A introdução da
televisão e da internet, a criação do espaço virtual e das redes sociais, tudo
contribuiu para essa construção anti-utópica de Huxley.
O caso português é um bom exemplo de ambas as teorias. A ditadura
salazarista insere-se no modelo orwelliano de repressão – contudo, com a
chegada do 25 de Abril e da democracia, a nossa sociedade seguiu o rumo
que Huxley tinha delineado. O nosso país representa, por isso, a mudança
drástica da noção de repressão - uma óbvia, a outra camuflada.
2. É importante salientar que ambas as teorias pretendem ser alegorias,
exageros – mas ambas carregam mensagens importantes de alerta para a
nossa sociedade.
*Bibliografia : http://www.prosebeforehos.com/image-of-the-day/08/24/huxley-
vs-orwell-infinite-distraction-or-government-oppression/ - cartoon ilustrativo
de ambas as teorias.