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Protestos.com.br: perspectivas e análises da 
mobilização nas ruas e redes sociais 
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COLETIVO PPJ/UFPB 
Cláudio C. Paiva e Thiago Soares 
Organizadores 
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Editora UFPB 
2014 
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2 
SUMÁRIO 
Apresentação .......................................................................... 4 
Cândida Nobre 
Corpo e discurso no Movimento “Passe Livre”: Patrícia Poeta, 
estratégias enunciativas do JN e crítica nas redes sociais ......... 7 
Amanda Evangelista | Virgínia Sá Barreto 
As rotinas produtivas e as experiências da TV Cabo Branco na 
cobertura dos protestos em João Pessoa ................................. 36 
Roberta Matias | Virgínia Sá Barreto 
O Radiojornalismo da CBN nos Protestos em João Pessoa: 
Relatos de Cobertura ............................................................. 71 
Edileide Bezerra | Olga Tavares 
Convergência de conteúdo e uso do Facebook na cobertura da 
“voz das ruas” pela Agência Brasil ........................................ 93 
Angélica Carneiro | Sandra Moura 
A rua é a maior arquibancada do Brasil. Publicidade e 
agendamento do jornalismo na capa do Diário de Pernambuco 
........................................................................................... 120 
Maria Helena Monteiro | Thiago Soares 
Cobertura ao vivo das manifestações populares - Tecnologias 
móveis, mídias independentes e jornalismo ......................... 139 
Thiago Almeida | Cláudio C. Paiva 
Sobre o que se protesta mesmo? .......................................... 169 
Jonara Siqueira | Thiago Soares 
Vândalos ou ativistas: cobertura jornalística dos protestos ... 186 
Hallita Avelar | Hildeberto Barbosa Filho
3 
Ciberativimo nos protestos do Brasil - Hashtags como 
agregadores de informação em redes sociais ........................ 202 
Mariah Araújo | Pedro Nunes 
Redes Sociais e Agendamento do Jornalismo ...................... 221 
Sinaldo Barbosa | Joana Belarmino 
“Não é por 20 centavos!”: cultura dos memes e viralização . 236 
Evaniene Mascena | Cláudio C. Paiva 
A Revolta do Vinagre: Humor nos Protestos do Brasil ........ 262 
Andréa Mesquita | Joana Belarmino 
Jornalismo e transmídia: estratégias para um debate ............ 283 
| Valter Araújo | Joana Belarmino 
Mea Culpa e autorreferencialidade na cobertura dos protestos 
no Brasil ............................................................................. 299 
Rackel Guimarães | Thiago Soares
4 
Apresentação 
O ano de 2013 apresentou o Brasil em nova perspectiva. 
Em junho, o país do futebol foi palco da Copa das 
Confederações, todavia o espetáculo principal não aconteceu 
dentro dos estádios, mas fora dele. Ruas e redes foram tomadas 
por manifestantes e o jogo foi comandado por uma multidão de 
inconformados com o status quo. Esta partida sem capitães ou 
juízes não possuía pauta uníssona de reivindicação, mas à 
imagem e semelhança das redes sociais, apresentava uma 
miríade de discursos que apontavam para as mais variadas 
direções, do transporte público e ocupação da cidade à 
educação, respeito às minorias e crítica a propostas de emendas 
constitucionais. 
Neste contexto, o campo jornalístico enfrentou o que 
talvez possa ser considerado o seu máximo desafio: tornar 
inteligível a polifonia e a policromia das vozes e imagens 
compartilhadas pelos indivíduos no tecido social que agora 
incorpora a malha das ruas e das redes digitais. 
Este e-book reúne diversos olhares de pesquisadores em 
Jornalismo empenhados na analise dos chamados Manifestos 
de Junho. São reflexões sobre a cobertura e as rotinas
5 
produtivas das diversas mídias: rádio, televisão e internet, 
considerando as funções massivas e pós-massivas. 
À luz das teorias do jornalismo como o agendamento, 
passando pelas operações discursivas do corpo, da linguagem 
humorística dos memes, da linguagem publicitária como 
produção de sentido e as mais recentes contribuições 
acadêmicas sobre a estrutura transmídia dos conteúdos, o leitor 
é convidado a ampliar o debate e compreender o fenômeno que 
se espraia e se consolida como reflexo do sentimento da 
contemporaneidade. 
Ademais, há a preocupação em refletir sobre os 
elementos da estrutura e mobilidade da rede como a utilização 
de smartphones e tablets e compartilhamento de hashtags 
capazes de organizar melhor as informações a serem 
recuperadas na memória cibernética. Deparamo-nos com a 
emergência dos novos modos de fazer jornalismo a partir do 
coletivo Mídia Ninja e o impasse da mídia tradicional que ora 
compreende e apropria-se das novas dinâmicas do seu público 
ora minimiza os danos à sua imagem fazendo o mea culpa. 
Esta obra organizada pelo Programa de Pós-Graduação 
em Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba tomou para 
si o desafio de compreender melhor um período recente, porém 
emblemático da História brasileira. É leitura instigante para
6 
estudantes e profissionais da área de Comunicação que desejam 
captar o espírito de seu tempo. 
Cândida Nobre
7 
Corpo e discurso no Movimento “Passe Livre”: Patrícia 
Poeta, estratégias enunciativas do JN e crítica nas redes 
sociais 
Amanda Falcão EVANGELISTA1 
Virgínia SÁ BARRETO2 
Introdução 
Dentre todas as teorias desenvolvidas para tentar 
explicar porque a comunicação é o que é, em especial o 
produto noticioso, a Teoria do Espelho é a mais contestada, 
tanto pelos pesquisadores quanto pelos profissionais do 
jornalismo. Há muito tempo a ideia de que as notícias são a 
representação fiel da realidade caiu por terra. Sabe-se hoje que 
é praticamente impossível – para não se dizer impossível - 
dissociar a prática jornalística da subjetividade. 
Mesmo que todos os ângulos da notícia sejam 
abordados, contar um fato significa escolher quais informações 
devem ser divulgadas - ou não -, e faz parte de um processo 
interno, pessoal, subjetivo, e que por isso, torna tão difícil a 
notícia, através de imagens, falas (discurso), gestos, 
1 Jornalista e mestranda do Programa de Mestrado em Jornalismo Profissional; 
UFPB. E-mail: amanda.falcoa@gmail.com 
2 Doutora em Ciências da Comunicação, professora do Mestrado em Jornalismo 
Profissional; UFPB. Orientadora. E-mail: virginiasabarreto@yahoo.com.br
8 
entonações, e até mesmo as cores que compõem o cenário e as 
vestimentas. Para Marcondes Filho (1988), o “DNA” que a TV 
carrega pode explicar a busca pela atuação, mesmo fora das 
novelas: 
No começo da televisão brasileira, no início dos 
anos 50, o que se fazia era um rádio 
televisionado, pois a TV ainda não havia 
conquistado sua linguagem. A influência do circo 
sobre a TV brasileira é vista não apenas pela 
presença dos palhaços ou do homem do auditório, 
mas também pelo estilo circense de alguns 
animadores, como Chacrinha, Silvio Santos, 
Bolinha (MARCONDES FILHO, 1988, p. 43). 
O rádio também foi outra fonte da qual a televisão 
brasileira se nutriu. Na década de 50, ao trazer a primeira 
emissora de televisão para o Brasil, a Rede Tupi de São Paulo, 
PRF-3, Assis Chateubriand, então dono de uma rede de jornais 
e emissoras de rádio chamada de Diário dos Associados 
(constituído por cinco emissoras de rádio, 12 jornais e uma 
revista), convidou alguns de seus funcionários da rádio para se 
aventurarem no novo meio. A locução e o poder de improviso 
foram alguns dos elementos que fizeram com que os jornalistas 
se saíssem bem na empreitada. Mas, acostumados com a
9 
ausência de imagens, os profissionais não tinham noção de 
movimentos e espaço, algo que só foi mudando com o tempo. 
Santaella (2004, p. 80) acredita que o surgimento da 
videoarte e das videoinstalações nos, anos 70, impulsionou a 
atração da arte pelo corpo humano. 
Hoje, diante de tecnologias que possibilitam interação e 
alta qualidade da imagem, os jornalistas continuam se 
redescobrindo. Presenciamos a era de decadência do 
teleprompter. Cada vez mais, assim como os atores, os 
jornalistas precisam entender seu texto, saber o que dizer, 
como dizer, além de se preocupar com figurino adequado, 
impostação de voz e “driblar” os empecilhos da “cobertura ao 
vivo”. 
O interesse pela performance dos atores não 
constitui um abandono pelo trabalho dos meios 
jornalísticos em si. Pelo contrário, enseja a 
emergência de uma complexificação do trabalho 
de produção de sentido realizado no âmbito da 
comunicação midiática, e na qual a atividade 
enunciativa dos atores e suas próprias identidades 
sofrem mutações muito complexas. (FAUSTO 
NETO, 1988, p. 265) 
Várias dessas mutações atuais decorrem com o advento 
da TV digital. Cenários, cores, maquiagens, e principalmente
10 
figurinos, pois “os corpos são socializados pelas roupas que 
vestem” (SANTAELLA, 2004, p. 121), estão sendo repensados 
no telejornalismo, assim como em telenovelas, filmes e 
comerciais. A ideia é simular o real com uma precisão ainda 
maior, pois se o telespectador não acreditar no que está vendo, 
também não receberá com confiança as informações 
absorvidas. É o que Santaella (2004, p.10), ao citar Ihde 
(2002), classifica como terceira dimensão do corpo: a das 
relações tecnológicas, das simbioses entre o corpo e as 
tecnologias. Porém, para a autora, estes avanços tecnológicos, 
atrelados aos corpos, podem causar confusões sobre a 
delimitação da fronteira entre real e o fictício: 
O que as novas tecnologias colocam em 
movimento, o que elas transformam são as 
“fronteiras do humano”. Essa transformação se 
revela sob vários pontos de vista: os limites que 
definem o que é propriamente humano e o que os 
diferencia dos não-humanos (natureza / artifício, 
orgânico / inorgânico); “os limites que o habitam 
e o constituem (matéria / espírito) e os limites que 
diferenciam a experiência imediata e suportada 
por sua corporeidade biológica, natural e 
territorial e a experiência mediada por artefatos 
tecnológicos (presença / ausência, real / 
simulacro, próximo / longíquo)”. (BRUNO, 1999, 
apud SANTAELLA, 2004, p. 29).
11 
O que o mercado da comunicação procura é atenuar a 
fronteira entre o real e o simulacro, e se valer dos artifícios 
tecnológicos para assim, através do artificial, transportar uma 
veracidade. É o que acontece nos telejornais. O protagonismo 
noticioso, por mais teatral que seja, busca representar o real 
para informar, e mais que isso, instruir no público valores 
como: credibilidade, compromisso com a informação, 
idoneidade, etc. Mais do que nunca, o jornalista de TV precisa 
usar o recurso da atorização para cativar o público, e assim, 
ganhar fidedignidade. 
O noticiário da atualidade constrói pequenas 
novelas diárias ou semanais cujos protagonistas 
são tipos de vida real absorvidos por uma 
narrativa, que funciona como se fosse ficção. 
Programas jornalísticos na televisão 
desenvolvem-se como se fossem filmes – de 
ação, de suspense, de romance de horror. O 
telejornalismo disputa mercado não apenas com 
outros veículos informativos, mas também com 
opções de lazer. Precisa ser envolvente, divertido, 
leve, colorido, ou perde o público sedento de 
novas sensações. [...] A realidade que interessa, 
para um (jornalismo com base nos fatos) e para 
outro (entretenimento com base na ficção), é a 
realidade espetacular, uma realidade que se 
confecciona para seduzir e emocionar a plateia. 
(BUCCI, 2000, p. 142).
12 
A composição do ator não se limita apenas ao físico. 
Tão ou mais importante que a estética na TV é saber o que 
dizer e como dizer. As operações enunciativas compõem as 
narrativas midiáticas e dão sentido à notícia. Uma entonação 
usada de forma incorreta pode trazer um significado totalmente 
diferente do que se pretendia. Não se pode noticiar uma 
enchente com ares de alegria, como quem informa que o Brasil 
goleou a seleção da Argentina na final da Copa do Mundo. O 
“tom” que se traz na notícia é um dos elementos primordiais na 
construção dos sentidos. Os jornalistas atuam como dispositivo 
de operação de sentidos (FAUSTO NETO, 2012). Os corpos 
jornalísticos, na forma de signos, dão sentido “ao que se quer 
dizer” e quais efeitos pretendem causar no telespectador. 
Diante deste cenário, analisaremos aqui a corporeidade 
discursiva de Patrícia Poeta na edição do Jornal Nacional do 
dia 17 de junho, dia em que saiu em defesa da TV Globo, após 
a emissora ser alvo de crítica dos manifestantes que 
participavam do protesto do “Passe Livre” e que desaguou em 
outras reivindicações. As críticas se fundamentavam no 
discurso de que a mídia, em especial a TV Globo, apontava os 
manifestantes como vândalos e distorcia o caráter 
reivindicativo do movimento.
13 
Além do editorial lido por Patrícia Poeta em defesa da 
Rede Globo, abordaremos aqui também as primeiras 
informações do JN sobre as manifestações; a cobertura do JN 
do dia 17 de junho, fazendo um levantamento do que mudou no 
discurso do telejornal após as reivindicações do público, além 
do tempo destinado às manifestações; bem como o movimento 
“anti-Globo” que se disseminou na internet e foi transportado 
para as ruas. 
Tudo começou com 20 centavos 
A primeira notícia que o Jornal Nacional exibiu sobre 
as manifestações foi ao ar no dia 10 de junho de 2013. O link 
ao vivo, feito pelo repórter André Trigueiro, durou pouco mais 
de um minuto e foi feito a bordo do “Globocop”, helicóptero da 
Rede Globo utilizado para a produção de imagens aéreas. Em 
sua fala, o repórter relatou a situação em uma das principais 
avenidas do Rio de Janeiro, a Presidente Vargas, que ficou 
interditada pelos manifestantes que depredaram algumas lojas. 
A segunda notícia que o JN divulgou acerca das 
manifestações nas ruas foi ao ar dois dias após a exibição da 
primeira divulgação, ou seja, em 12 de junho de 2013. A 
cabeça da matéria foi lida por Patrícia Poeta e relatou o
14 
protesto no centro de São Paulo contra o aumento da tarifa do 
transporte público. O começo da matéria trouxe manifestantes 
com os rostos cobertos, gritando “a cidade é nossa” e cenas de 
um dos participantes pichando um ônibus. A ideia era trazer 
nos primeiros minutos o clima de “guerra civil” causado pela 
população. 
[...] as parcelas de real não correspondem a 
seleções arbitrárias: é o que fica enquadrado, é o 
movimento das câmeras, é o trabalho de edição e 
sonoplastia, que determinam o que e como vai ser 
mostrado. Nessa perspectiva, está-se frente a uma 
construção de linguagens, não mais o real, mas a 
uma realidade discursiva. (DUARTE, 2007, p. 
11) 
Com detalhes, o repórter Fábio Turci informou que 85 
(ênfase no número) ônibus, agências bancárias e a estação de 
metrô haviam sido danificados pelos manifestantes que foram 
adjetivados como vândalos (mais uma ênfase oral). “Uma 
batalha nas ruas”, “Nem os ônibus escaparam de um protesto 
que era pelo transporte público”, “A Avenida Paulista e o 
centro de São Paulo amanheceram assim, com as marcas do 
vandalismo de ontem à noite”, foram algumas das expressões 
usadas pelo jornalista para caracterizar o clima encontrado na 
manifestação. As palavras em destaque foram as mesmas que
15 
tiveram ênfase na fala do repórter. Para reforçar o “pesadelo” 
que foi o movimento, Fábio Turci gravou depoimentos de civis 
que não participavam da manifestação, mas que passavam pelo 
local na hora do acontecimento. 
Sonora - Entrevistado 1 
“Milhares de pessoas estão voltando do trabalho, depois de um 
dia cansativo, em baixo de chuva, e passar por esse pânico. Eu 
tô aqui sem saber pra onde vou correr.” 
Sonora - Entrevistado 2 
“Não dava pra ir pra frente, nem pra trás. Fiquei preso aqui.” 
Indignação, tristeza, revolta, foram alguns dos 
sentimentos expostos através das entrevistas concedidas pelos 
cidadãos que não participavam do protesto contra o aumento 
das tarifas. Na mesma reportagem, o repórter ouviu autoridades 
como funcionários do Ministério Público, prefeito e 
governador de São Paulo, além da OAB. Em entrevista, todos 
repudiaram o acontecimento. 
OFF- Fábio Turci 
“Hoje em Paris, o prefeito de São Paulo e o governador 
condenaram o vandalismo.”
16 
Sonora -Geraldo Alckmin(Governador de SP) 
“[...] Precisa ser investigado pra identificar a origem disso [dos 
atos de vandalismo], e devem ressarcir ao erário público, pois 
isso é patrimônio de todos.” 
OFF- Fábio Turci (Repórter) 
“Para a OAB, o que aconteceu ontem em São Paulo passou dos 
limites.” 
Sonora -Marcos da Costa (Presidente OAB) 
“As pessoas se reúnem para mostrar uma indignação, no caso 
do aumento de ônibus. Agora, tem um limite. Então, quando o 
movimento passa a violar patrimônios [...] ou prejudicar os 
direitos de ir e vir das pessoas, ele ultrapassou os limites dele.” 
Santaella (2004, p.19) lembra que, em uma de suas 
obras, Foucault arrematou a ideia de que o corpo não só recebe 
sentido pelo discurso, mas é inteiramente constituído pelo 
discurso. E é justamente o “modo de dizer” que constitui o 
contorno do noticiário, influenciando inclusive na composição 
do gênero jornalístico. 
A seleção do(s) plano(s) da realidade sobre o(s) 
qual (is) se vai (vão) operar, aliada ao regime de 
crença proposto e ao tom, isto é, às inflexões 
conferidas à realidade a ser enunciada – 
seriedade, humor, ironia – etc., seriam os 
elementos definidores da promessa que fala Jost
17 
(2003), veiculada pelo nome gênero. (DUARTE, 
2007). 
O tom em que se dá ao enunciado é carregado de 
signos, responsáveis por dar sentido ao discurso. Em nenhum 
momento da matéria foram ouvidos líderes do movimento. 
Apesar de se mostrar imagens dos supostos “cabeças” do 
“Passe Livre” em reuniões - durante a matéria de mais de três 
minutos - as únicas referências aos manifestantes se limitaram 
a imagens, e a maior parte retratava o confronto com a polícia. 
As primeiras reportagens produzidas pelo JN 
divulgaram as manifestações atreladas apenas ao aumento das 
passagens, que subiram no início de junho de 2013 para R$ 
3,20 em São Paulo. Pouco depois, os jornalistas começavam a 
divulgar que as reivindicações haviam se expandido, para áreas 
temáticas como reforma política, Copa de 2014, educação, 
saúde, etc., assim como outras cidades do país. 
A maior parte das matérias exibidas pelo Jornal 
Nacional sobre os protestos hostilizava os manifestantes, 
muitas vezes atrelados aos atos de vandalismo, de forma 
generalizada. E foi justamente a cobertura “distorcida”, 
segundo os apoiadores dos protestos, que fez com que o 
repúdio à emissora entrasse como uma nova pauta no 
movimento que se chamou inicialmente de “Passe Livre”. Só
18 
após a edição do dia 17 de junho, objeto de pesquisa deste 
artigo, é que o discurso do JN muda diante do tratamento dado 
aos manifestantes. 
A cobertura das manifestações que ocorriam no país foi 
tão intensa, que o JN disponibilizou em seu site, uma “ala” 
especial com o nome “Protestos pelo Brasil”, trazendo os 
vídeos que fizeram parte da cobertura completa do noticiário. 
O dia em que Patrícia Poeta saiu em defesa da Rede Globo 
A edição do dia 
De toda a cobertura que a Globo fez dos protestos pelo 
Brasil, o do dia 17 de junho, segunda-feira, foi o mais intenso, 
principalmente no que se refere à programação do Jornal 
Nacional. Patrícia Poeta entrou no ar já no início da noite, logo 
após “Malhação”, no “Globo Notícia” e seguiu até o horário 
habitual do JN. Neste mesmo dia, a programação da emissora 
sofreu mudanças que causaram estranheza ao telespectador 
acostumado com o padrão da empresa. Além de não exibir o 
jogo da Espanha x Taiti, pela Copa das Confederações, a Globo 
cancelou os capítulos das novelas “Flor do Caribe” e “Sangue
19 
Bom”. Os jornais locais foram cancelados, só relatando os 
protestos promovidos a nível local no dia posterior. 
Trataremos a edição do JN da data em análise 
juntamente com os fragmentos do Globo Notícia, por 
entendermos que, nesta data em especial, o mininoticiário se 
mostrou como extensão do Jornal Nacional. 
A edição do Jornal Nacional do dia 17 de junho dedicou 
um pouco mais de 51 minutos de seu noticiário para a 
cobertura das manifestações. Dos 22VTs exibidos, 11 
abordavam os protestos espalhados pelo país, os outros traziam 
informações sobre a Copa das Confederações, Guerra Civil na 
Síria, SISU, dentre outros temas - a maioria sobre protestos 
fora do país. Além disso, a edição extrapolou na quantidade de 
“ao vivo”. Ao todo, foram feitos 22links, um número bem 
acima do que tradicionalmente acontece nas edições. Todos os 
“vivos” traziam informações sobre os protestos e aconteciam 
no cenário das manifestações. “[...] a gravação ao vivo, a 
transmissão direta, em tempo real, sempre funcionam como 
garantia [...] dos efeitos de autenticidade e veracidade” 
(DUARTE, 2007, p.13). 
A duração das matérias exibidas também saiu da rotina 
jornalística do JN. Alguns VTs chegaram a durar cerca de 3 
minutos, quando o habitual é 1 e meio, no máximo 2 minutos.
20 
A exaustão na cobertura do “Passe Livre” foi tal, que 
Patrícia Poeta parecia estar perdida diante de tantas 
informações sobre o mesmo tema, e Willian Bonner 
desconfortado por estar longe da “bancada”, acompanhando 
tudo de Fortaleza, onde entrava “ao vivo” trazendo 
informações sobre a Copa das Confederações. 
Segundo levantamento feito pela empresa Controle de 
Concorrência3, entre os dias 17 e 26 de junho, o JN exibiu oito 
horas de reportagens e transmissões dos protestos. Das 140 
horas de exibição, somando as transmissões de todas as 
emissoras abertas, 34 horas foram produzidas pela TV Globo.4 
Diante da efervescência reivindicativa, a Globo se 
sentiu obrigada a trazer de volta o âncora do JN. No dia 
seguinte, 18 de junho, terça-feira, Bonner abria o JN trazendo 
mais informações sobre a manifestação em São Paulo. 
O foco da cobertura das manifestações se encontrava no 
eixo Rio - São Paulo, além da capital Brasília. Porém, a edição 
do dia 17 de junho trouxe uma nota coberta fazendo um 
aparato geral dos protestos em outras cidades, como: Curitiba, 
Belém, Porto Alegre, Fortaleza, Maceió e Vitória. 
3Empresa que monitora inserções comerciais na TV para o mercado publicitário 
4Cf. Blog Folha.com. Disponível em: http://migre.me/jCLO7. Acesso: 04.06.2014
21 
As palavras de protesto contra a Globo e o editorial do JN 
Em artigo publicado no site Observatório da Imprensa5, 
Sylvia Moretzsohn escreveu: “tanto os jornais paulistas quanto 
O Globo e as redes de televisão carregavam nas tintas contra os 
atos de vandalismo praticados por uma minoria que sempre se 
infiltra em manifestações desse tipo”. O pensamento da 
jornalista reflete bem o motivo de sentimento de revolta que os 
manifestantes sentiram ao ouvir inúmeras vezes nos noticiários 
a palavra “vandalismo”, em especial no Jornal Nacional. 
Durante a cobertura das manifestações no país, os 
noticiários em sua maioria hostilizavam os participantes em sua 
totalidade, devido às ações de vandalismo praticadas por uma 
minoria. Além disso, em seus discursos, repórteres e 
apresentadores deixavam claro que a violência se dava 
unilateralmente, e a polícia tentava apenas “manter a ordem”. 
Esta situação causou revolta nos manifestantes, que 
mostraram sua indignação dificultando o trabalho dos 
repórteres de rua, levantando cartazes contra as emissoras e, 
principalmente, disseminando na internet a imparcialidade das 
empresas jornalísticas. 
5 Cf. Site do Observatório da Imprensa, 15/06/2013, ed. 750. Disponível em: 
http://migre.me/jCM5X
22 
A maior revolta se deu contra a TV Globo, por esta ser 
uma empresa de maior força e disseminação da informação, 
além de já carregar em sua história situações claras de 
manipulação da informação6. O movimento de repúdio à TV 
Globo, diante das manifestações que ocorriam, começou nas 
redes sociais, principalmente no Twitter7e no Facebook8. As 
hashtags #aglobonãomerepresenta e #abaixoaredeglobo 
ficaram comuns nas twittadas de quem discordava da cobertura 
da emissora. O mesmo aconteceu no facebook, em que 
fanpages adjetivavam a Globo como manipuladora. 
Imagem 1: Twitter, 17.06.2013 Imagem 2: Facebook, 17.06.2013 
6 Para aprofundamentos, ver “A Síndrome da Antena Parabólica: Ética no 
Jornalismo Brasileiro” (Kucinsk, 1998). 
7 Cf. www.twitter.com 
8 Cf. www.facebook.com
23 
Taxonomia no Twitter: #AGloboNãoMeRepresenta / FanPage 
“Anti Globo” ganhou quase cinco mil curtidas no facebook 
Como ressalta Alex Primo (2013, p.17) “não se pode 
ignorar a força dos movimentos espontâneos em rede, cujos 
efeitos não eram possíveis em uma sociedade caracterizada 
pela mídia de massa”. Sendo assim, as manifestações contra a 
TV Globo indexadas através das taxonomias nas redes sociais 
migraram para o cotidiano, ocupando cartazes de manifestantes 
que iam às ruas contestar a cobertura da emissora. A 
atualização contínua das “postagens” nas redes, como propõe 
Correia (2010), potencializa a circulação no ciberespaço, 
circulação esta que se transporta do campo virtual para o real. 
A onda de revolta contra a emissora se espalhou 
também para outras empresas de comunicação, que tiveram 
carros queimados, repórteres impedidos de fazer a livre 
cobertura, prédios depredados, etc. Mas o foco das 
manifestações se voltou especificamente para a TV Globo, que 
ficou adjetivada de “manipuladora”. Nas ruas, cartazes com 
inúmeras mensagens “anti-Globo” traziam um desafio ainda 
maior para os cinegrafistas, que além de se preocuparem com a 
troca de munições entre polícia e civis, deviam evitar mostrar 
imagens abertas com mensagens denegrindo a emissora.
24 
Imagem 4: Imagem 3: Facebook, 17.06.2013 Facebook, 17.06.2013 
Nas ruas, cartazes mostravam insatisfação com a cobertura da 
TV Globo. / Manifestantes depredam o prédio da emissora no 
Rio de Janeiro no dia 17 de julho. 
A revolta com a cobertura que a Globo estava fazendo 
diante das manifestações tomou proporções cada vez maiores. 
Se para a imprensa a violência entre manifestantes e policiais 
dificultava o trabalho, a revolta do povo contra jornalistas 
praticamente os impedia de trabalhar. Fazer links “ao vivo” 
durante os protestos, no meio da multidão, era um ato de 
coragem. Muitos repórteres tentaram, mas tiveram que ser 
interrompidos pelos âncoras que, em sua maioria, teciam 
comentários de reprovação, quase sempre fazendo alusão à 
liberdade de imprensa.
25 
Durante o Jornal Nacional a cobertura foi feita, na 
maior parte do tempo, longe da multidão, a bordo do GloboCop 
- helicóptero da emissora dedicado à grandes coberturas. Em 
terra, os repórteres faziam passagens em locais distantes do 
aglomerado. E quando arriscavam a descer - em presença do 
povo - retiravam a canopla do microfone, evitando assim, 
mostrar o símbolo da emissora a que estavam subordinados. 
Imagem 5: site Rede Globo Imagem Imagem 6: site Rede Globo 7: site Rede Globo 
Para preservar a integridade de profissionais, repórteres fazem 
cobertura à distância da multidão e sem canopla. O uso do 
helicóptero da emissora, o GloboCop, ajudou nos links ao vivo. 
3.3. A defesa da Globo por Patrícia Poeta 
O movimento “anti-globo” nas redes sociais e nas ruas 
tomou proporções cada vez maiores. “As palavras de ordem” - 
como foram adjetivados os gritos de repúdio dos manifestantes
26 
pelos funcionários da empresa - eram cada vez mais freqüentes, 
e se disseminavam com tal força e rapidez que barreira alguma 
poderia impedir. Impossibilitada de “calar a boca” dos 
manifestantes, a estratégia da TV Globo foi colocar no 
principal telejornal do país, o JN, uma nota de esclarecimento, 
que, em defesa dos interesses da empresa, tomou características 
de editorial. O texto, lido por Patrícia Poeta, durou pouco mais 
de 20 segundos e tentou esclarecer para a população que ali 
existia um “mal-entendido” por parte dos manifestantes, e que 
a Globo estava apenas “cumprindo seu papel”, o de informar. 
Quem deu o “gancho” para que o editorial entrasse no 
ar, foi o repórter que durante uma tomada “ao vivo”, a bordo 
do “Globocop”, trouxe informações sobre as manifestações na 
cidade de São Paulo: 
Repórter 
“[...] Um outro grupo que saiu do Largo da Batata, por volta 
das 5 horas da tarde, percorreu a Avenida Faria Lima,e nesse 
caminho eles seguiram até a Avenida Luiz Carlos Berrini, que 
fica muito perto da TV Globo, e nesse caminho foram gritando 
palavras de ordem contra a TV Globo. Patrícia.”
27 
Patrícia Poeta 
“Olha, a TV Globo vem fazendo reportagens sobre as 
manifestações desde seu início e sem nada a esconder. Os 
excessos da polícia, as reivindicações do “Movimento Passe 
Livre”, o caráter pacífico dos protestos e quando houve 
depredações e destruição de ônibus. É nossa obrigação e dela 
nós não nos afastaremos. O direito de protestar e de se 
manifestar pacificamente é um direito dos cidadãos”. 
Patrícia Poeta leu o editorial com ar de seriedade, e ao 
citar os diversos ângulos abordados no telejornal - “excessos da 
polícia, reivindicações do “Movimento Passe Livre”, caráter 
pacífico dos protestos e depredações e destruição de ônibus” – 
pontuou nos dedos a contagem dos temas, reforçando o sentido 
de “diversificação” trazida pelo JN. 
Imagem 8: site da Rede Globo
28 
Ao usar a interjeição “Olha”, no início do editorial, a 
apresentadora tenta agir sobre o espectador, o convidando para 
a “conversa”, que – como mostra o seu linguajar – seria mais 
informal, por isto, ele poderia ficar à vontade para escutá-la. 
Patrícia Poeta também se vale dos movimentos do 
corpo em outros momentos do editorial, com o objetivo de 
reiterar seu discurso. Ao falar do compromisso da emissora 
com a informação - “É nossa obrigação e dela nós não nos 
afastaremos” - a apresentadora gestua negativamente com a 
cabeça, ao mesmo tempo em que pronuncia enfaticamente a 
palavra “não”, reafirmando que a TV Globo não deixará de 
informar os cidadãos, mesmo diante da pressão do público. 
Mesmo que de forma sutil, a gesticulação da 
apresentadora atua em consonância com seu discurso, 
assegurando que o receptor entenda o que se quer dizer. 
É esse corpo que se faz representar e que também 
representa, não apenas como interpretação pura, 
mas até mesmo como simulacro. A arma do 
apresentador é a encenação da naturalidade, a 
simulação do - falso - imprevisto: que o faz 
parecer surpreso, agir como se não soubesse o 
que vai acontecer, fingir que improvisa falas e 
parentar intimidade com seus convidados 
(ROSÁRIO; AGUIAR, p. 3).
29 
Assim como os signos corporais, o discurso de Patrícia 
Poeta também tenta reconstruir a postura da emissora diante da 
cobertura distorcida. A ênfase antes dada a palavras como 
“vandalismo” e “confronto”, agora dão destaque a palavra 
“pacífico”, e pela primeira vez, fala dos “excessos da polícia”. 
Logo no início do texto, a apresentadora informa que a Globo 
não tem “nada a esconder”, e reforça a informação ao dar 
destaque à palavra “nada”. 
Outra estratégia de defesa da Globo usada no editorial 
do Jornal Nacional do dia 17 de junho diz respeito à ordem 
dada as informações. Patrícia Poeta ao citar os diversos ângulos 
trazidos no noticiário menciona em primeiro lugar os “excessos 
da polícia”, algo pouco divulgado em outras edições e que 
agora também ganha ênfase na fala da apresentadora. Só após 
essa informação, ela cita as reivindicações do movimento e o 
“caráter pacífico dos protestos”, que por sinal, foi usado de 
maneira exaustiva nesta edição, contradizendo o que se 
mostrava anteriormente no discurso usado pelo JN, ao atrelar 
os manifestantes aos atos de vandalismo, e em confronto com a 
polícia. 
Só após pronunciar de maneira fatídica “os excessos da 
polícia” e o “caráter pacífico dos protestos”, é que Patrícia
30 
afirma também ter noticiado no JN “quando houve depredações 
e destruição de ônibus”, porém, de maneira bem mais sutil, 
sem alterações na voz, e por isso, sem dar destaque a este 
fragmento de texto. 
A apresentadora finaliza o editorial dizendo que “O 
direito de protestar e de se manifestar pacificamente é um 
direito dos cidadãos”, mostrando que a Globo reconhece os 
direitos dos manifestantes, e que em contrapartida, esses 
mesmos manifestantes devem entender que a emissora também 
tem o direito de se manifestar livremente, porém, - mais uma 
vez – ambos os lados devem agir “pacificamente”. 
A locução tem que emitir uma impressão 
compatível com os conteúdos do que está sendo 
dito. Nesse ponto, os personagens recorrem a 
recursos teatrais, máscaras, modos de ser 
empáticos com o outro que lhes vê e ouve. Para 
tanto, há o recurso do uso da voz, da impostação, 
da dicção, da entonação e das pausas conjugadas 
à mímica facial e gestual. (BARRETO, 2011, p. 
246). 
Após ler o editorial, Patrícia Poeta lê a “cabeça” de 
outra matéria sobre o movimento “Passe Livre” e outra vez traz 
o caráter pacífico do movimento. Porém, ao falar sobre a 
violência, destaca que esta ação diz respeito a um grupo
31 
específico de manifestantes, não generalizando os participantes 
dos protestos como em edições anteriores do JN. 
Patrícia Poeta 
“[...] segundo especialistas [a manifestação] reuniu 100 mil 
pessoas. No fim do protesto um pequeno grupo agiu com 
violência e atacou a assembleia legislativa do estado.” 
Para a TV Globo, quanto mais o seu principal telejornal 
tentasse amenizar a discórdia com o público, através de 
estratégias de reconstrução da imagem dirigidas aos 
manifestantes, melhor para a imagem da empresa, e assim, 
talvez acalmasse os ânimos dos que repudiavam a emissora. 
Além de trazer de modo excessivo a palavra 
“pacificamente”, a edição do JN do dia 17 de junho ouviu pela 
primeira vez os manifestantes, abrindo espaços no noticiário 
para entrevistas com os líderes do movimento. O JN também se 
valeu de falas “amigáveis” aos protestos para mudar o seu 
discurso, a exemplo do governador de São Paulo, Geraldo 
Alckmin, que na edição do dia 12 de junho - já mostrada neste 
trabalho - afirmou que os manifestantes deveriam arcar com as 
despesas das violações ao patrimônio público e privado. Já na
32 
edição do dia 17 de junho, o JN traz uma entrevista com a 
mesma fonte, onde o governador faz elogios aos manifestantes. 
Sonora de Geraldo Alckmin 
“Quero aqui publicamente elogiar também as lideranças do 
movimento, a policia militar e a segurança pública.” 
Conclusão 
Verificamos durante a pesquisa que o noticiário se 
estrutura, em sua dinâmica discursiva, a partir de 
encadeamentos de dispositivos (FAUSTO NETO, 2012), sejam 
físicos (gestos, vestes, cores, expressões faciais, etc.) ou 
abstratos (o que se diz e como se diz). As construções tecno-discursivas 
assumem um papel primordial na composição da 
linha editorial de um telejornal. E foi se valendo dessas 
construções que a TV Globo, através do JN, em especial na 
figura de Patrícia Poeta – enunciadora aqui pesquisada – criou 
estratégias de comunicação para mudar o composer de seu 
discurso que, antes da pressão popular, mostrava em sua 
cobertura noticiosa os vandalismos generalizados ligados ao 
Movimento “Passe Livre”. 
Após uma onda de protestos surgida nas redes sociais, 
em especial no Facebook e Twitter, que migraram dessas
33 
taxonomias virtuais para o cotidiano, tornando-se conteúdos de 
diversos cartazes nas ruas, a TV Globo se viu obrigada a 
esclarecer para o público que sua cobertura estava pautada na 
parcialidade. A atitude da emissora gerou um editorial, lido por 
Patrícia Poeta, que se valeu do recurso de “atorização” e das 
estratégias enunciativas para levar a mensagem até o local mais 
próximo possível do campo real, da não-ficção televisiva. 
Resultando das pressões populares ou não, o fato é que 
o JN mudou seu discurso. Palavras como “vandalismo”, 
“baderna” e “confronto”, usadas com exaustão durante edições 
anteriores ao dia 17 de junho – dia em que o editorial foi ao ar 
– foram substituídas bruscamente por “protesto pacifico” e por 
frases tais como “um pequeno grupo agiu com brutalidade”. O 
discurso dos entrevistados também ajudou a emissora nas 
estratégias de conciliação com o público. O governador de São 
Paulo, Geraldo Alckmin, após afirmar que os manifestantes 
iriam ressarcir o Estado e as empresas privadas devido às 
depredações - no JN do dia 12 de junho -, deu uma entrevista 
elogiando os manifestantes na edição do dia 17. Foi neste dia 
também, que foram divulgadas as primeiras entrevistas dos 
líderes do movimento. Antes, os manifestantes não tinham voz, 
e só eram retratados durante confrontos com a polícia.
34 
Então, verificou-se, como pensa Primo (2013), a 
cibercultura transformou substancialmente a vida em vários 
aspectos, e não podemos ignorar a força dos movimentos em 
rede, pois foi o movimento de insatisfação com a TV Globo, 
que fez a emissora mais importante do país mudar seu discurso. 
Referências 
BARRETO, Virgínia de Sá. A encenação no telejornalismo: 
Jornalista ou ator? In: FAUSTO NETO, A. et. All. (Orgs.) 
Interfaces Jornalísticas: Ambientes, tecnologias e linguagens. João 
Pessoa: Editora da UFPB, 2011. 
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo, Companhia 
das Letras, 2000. 
CORREIA, Ben-Hur. A circulação da informação jornalística no 
ciberespaço: conceitos e proposta de classificação de estruturas. In: 
SCHWINGLE, Carla; ZANOTTI, Carlos A. Produção e 
colaboração no Jornalismo Digital. Florianópolis: Insular, 2010. 
DUARTE, Elizabeth B.; CASTRO, Maria Lilia de. Comunicação 
Audiovisual: gêneros e formatos. Porto Alegre: Sulina, 2007. 
FAUSTO NETO, Antônio. Cap. XIII – Transformações nos 
discursos jornalísticos – a atorização do acontecimento. In: 
MOULLIAUD, Maurice. O Jornal: da forma ao sentido. Brasília: 
Editora Universidade de Brasília, 2012. 
MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão: A vida pelo vídeo. São 
Paulo, Editora Moderna, 1988.
35 
MORETZSOHN, S.D. “Muito além dos 20 centavos”. In: 
Observatório da Imprensa, 15/06/2013, ed. 750. Disponível em: 
http://migre.me/jCOqA. Acesso em: 04.06.2014 
PRIMO, A. Interações em rede. Porto Alegre, Editora Sulina, 2013. 
ROSÁRIO, Nísia Martins do; AGUIAR, Lisiane Machado. Corpos 
televisivos: artifício e naturalidade na compensação de sentidos entre 
o masculino e o feminino. In: ATAS do Congresso da INTERCOM, 
2005. Disponível em: http://migre.me/jCP3F. Acesso: 04.06.2014 
SANTAELLA, Lúcia. Corpo e comunicação: Sintoma de cultura. 
São Paulo, Paulus, 2004 
TV ABERTA EXIBIU 140 horas de protestos em dez dias (Fabiana 
Futema). In: Blog Folha, 01.07.2013. Disponível em: 
http://migre.me/jCOBn Acesso em: 04.06.2014
36 
As rotinas produtivas e as experiências da TV Cabo Branco 
na cobertura dos protestos em João Pessoa 
Roberta Matias9 
Virgínia SÁ BARRETO 
Introdução 
O Brasil tem vivido momentos de protesto e 
mobilização, deste o início de junho deste ano, mês no qual as 
festas juninas, normalmente, pautam os telejornais do Nordeste 
e quando a mídia nacional deveria estar voltada para a 
cobertura da Copa das Confederações10, o que ganhou destaque 
nos jornais impressos, nos telejornais, nas rádios de todo o 
Brasil e nas redes sociais foram as manifestações e protestos 
realizados em várias cidades brasileiras. 
Tudo começou na primeira semana de junho. No dia 6, 
representantes do Movimento Passe Livre (MPL)11 foram às 
ruas, inicialmente em São Paulo, reivindicar a reversão do 
9 Jornalista, editora da TV Cabo Branco e discente do Programa de Mestrado em 
Jornalismo Profissional da UFPB. Email: robertamatias10@hotmail.com 
10 A Copa das Confederações ou Taça das Confederações é um torneio de futebol, 
organizado pela Federação Internacional de Futebol – FIFA, entre seleções 
nacionais. Antes de 2005 era realizada a cada dois anos e a partir dali, passou a ser 
feita a cada quatro anos. Os participantes são os seis campeões continentais mais o 
país-sede e o campeão mundial, com um total de oito países. Este ano o Brasil, a 
sede da competição e os gastos com o evento foram motivos dos protestos do mês de 
junho, pelo país. 
11 MPL é formado por um grupo de pessoas para discutir e lutar por outro projeto 
de transporte para a cidade. Cf. site Movimento Passe Livre - S. Paulo - Por uma 
vida sem catacras. Disponível: http://saopaulo.mpl.org.br/. Acesso: 07.07.2013.
37 
aumento da tarifa de ônibus e do metrô de R$ 3,00 para R$ 
3,20. Cerca de 150 jovens manifestantes ocuparam parte da 
Avenida Paulista, no horário de rush. Era o início de um 
movimento que, nos dias seguintes, atraiu os holofotes da 
imprensa e se espalhou pelas principais cidades brasileiras. 
A cobertura da imprensa, inicialmente, foi contra as 
manifestações. Entre os dias 12 e 13, os grandes jornais do 
país, como Folha de São Paulo, Estadão e O Globo 
praticamente convocavam a polícia para conter os 
manifestantes. Os pedidos foram atendidos e, no mesmo dia, o 
que se viu no Rio de Janeiro e em São Paulo foi a violência da 
polícia contra os manifestantes, que atingiu inclusive 
jornalistas, que trabalhavam na cobertura dos protestos. De 
acordo com o site Observatório da Imprensa, estaria aí a 
“virada na cobertura” 12. 
A partir de então, os jornais nacionais começaram a 
mostrar as manifestações de outra forma. Elas foram crescendo 
nas redes sociais, tomaram corpo e se espalharam pelo país 
com momentos de beleza e de tensão. O que passamos a 
acompanhar pelas emissoras de televisão, pelos jornais e pelas 
redes sociais, foram protestos reunindo multidões vestidas de 
12 Cf. “Uma virada na cobertura” (Luciano Martins Costa). In: site do Observatório 
da Imprensa, 04.06.2013, ed. 750. Acesso 08/07/2013
38 
branco pelas principais ruas do país pedindo melhorias nos 
transportes coletivos, mudanças no sistema de saúde, educação 
de qualidade, contra a corrupção, contra o comportamento 
abusivo de políticos, etc. Em contraponto, eram mostrados 
também pequenos grupos revoltados, que quebravam prédios 
públicos, enfrentavam a polícia, machucavam até quem não 
estava participando do protesto. 
Em João Pessoa, esse movimento só chegou às ruas no 
dia 20 de junho de 2013. Mas, a abordagem do tema na TV 
Cabo Branco, emissora afiliada a Rede Globo na capital 
paraibana, foi iniciada no dia 18 de junho de 2013 e o 
planejamento da cobertura para o dia da mobilização, também, 
passou a ser tratado, a partir do início da semana do evento, 
mudando as rotinas produtivas da redação de emissora, como 
veremos a seguir. 
TV Cabo Branco: Planejamento e cobertura das 
manifestações de junho 
As manifestações em João Pessoa ocorreram no dia 20 
de junho de 2013, uma quinta-feira. De acordo com a Polícia 
Militar, mais de 22 mil pessoas foram às ruas da cidade 
protestar de forma pacífica e pedir redução no valor da
39 
passagem dos ônibus, transporte público de qualidade, saúde e 
educação para todos. Mas, o tema manifestações e os reclames 
feitos pela comunidade, naquele momento, entraram em pauta 
na TV Cabo Branco no início da semana. 
O primeiro jornal do dia 18 de junho de 2013, o Bom 
Dia Paraíba, trouxe em sua abertura um texto ilustrado com 
imagens disponibilizadas numa rede social por Paola Janaína e 
outras enviadas pela telespectadora Ângela Medeiros, 
mostrando situações de descaso com portadores de deficiência 
e com usuários do transporte coletivo da capital. As imagens 
foram relacionadas com o momento de protestos, por melhorias 
nos transportes coletivos e outros serviços. A apresentadora 
Patrícia Rocha leu, no ar, o texto que segue abaixo: 
A gente começa o Bom Dia Paraíba desta terça-feira 
com cenas de um absurdo. No momento 
histórico em que a população vai pras ruas, em 
que o Brasil se manifesta contra tantos maus 
serviços prestados, inclusive o transporte público, 
a gente se depara com essas cenas... SOLTA 
IMAGENS Essas imagens aí foram feitas na 
principal avenida de João Pessoa, a Epitácio. Se 
fala muito em acessibilidade, direitos iguais e 
espaço para todo mundo, mas nessa imagem aí, o 
deficiente precisou entrar no ônibus e o elevador 
estava aparentemente quebrado. O jeito foi subir 
os degraus sentado. Outro passageiro ajudou a 
subir a cadeira de rodas. O vídeo foi divulgado 
por Paola Janaína, em uma rede social. Ela relata
40 
ainda que o deficiente ficou muito nervoso 
porque era o quarto ônibus que passava e ele não 
conseguia entrar. Fazia mais de uma hora que ele 
esperava no local, impedido de exercer o direito 
de ir e vir. Se pra subir foi assim, pra descer no 
local destinado deve ter sido uma situação 
parecida. 
A nossa telespectadora Ângela Medeiros também 
nos mandou esse material... SOLTA IMAGENS e 
disse que ela ontem esperou duas horas pelo 
ônibus que pretendia pegar porque os três que 
passaram estavam superlotados e ela estava com 
uma criança de um ano no colo, não dava para 
entrar. E mesmo diante dessas imagens ai, olha o 
que diz o chefe de tráfego da empresa de ônibus 
Marcos da Silva. Mailson Dantas informou que 
nenhum dos veículos com acessibilidade está 
quebrado ou com defeito. O problema é que 
foram contratados novos cobradores e que eles 
ainda estão em fase de treinamento para saber 
operar o elevador, que permite que os cadeirantes 
subam nos ônibus. 
O telejornal seguinte, o JPB Primeira Edição, que vai ao 
ar ao meio-dia de segunda a sábado, seguiu explorando o tema. 
Na terça-feira, 18 de junho de 2013, o JPB abriu espaço para 
discutir as manifestações, em curso no país com mais força 
desde a semana anterior e para falar dos preparativos da 
manifestação local, a ser realizada dois dias depois. 
O JPB Primeira Edição tem, normalmente, 38 minutos 
de produção, divididos em quatro blocos. De uma forma geral
41 
o programa é preparado, diariamente, com dois ou três links13, 
seis reportagens ou matérias14, uma média de quatro notas 
cobertas15, além de seis notas peladas16 e de uma a duas 
entrevistas de estúdio, estas últimas com duração média de três 
minutos cada. Neste dia 18, o JPB Primeira Edição teve 37'34” 
e aproximadamente 14 minutos foram dedicados ao tema 
“manifestação nacional e local”. 
A pauta do início da semana foi sugerida pela editora-chefe 
do telejornal, Cristina Dias, e discutida na redação, num 
primeiro momento, com as editores adjuntas, Roberta Matias, 
Débora Cristina e Mirela Vasconcellos, além da chefe de 
produção do turno da manhã, Cláudia Richelle. A ideia era 
levar para o telejornal uma discussão mais aprofundada sobre 
os fatos ocorridos nas cidades do Sudeste do país e, além disso, 
trazer o tema para a realidade local. 
A produção logo trouxe a informação de que o prefeito 
de João Pessoa, Luciano Cartaxo, anunciaria no meio da manhã 
a redução no valor da passagem de ônibus. A pauta chegou via 
13 Quando o repórter mostra imagens em tempo real de determinado pondo da 
cidade e dá informações sobre um tema definido pelos editores do telejornal. 
14 Forma como os jornalistas de televisão costumam chamar as reportagens mais 
longas com passagem e entrevistas, feitas pelos repórteres e que passam por edição 
de imagens e texto. 
15 Textos lidos pelo apresentador e que são ilustrados na ilha de edição, com 
imagens ou arte, ou durante a exibição do telejornal. 
16 Texto lido pelo apresentador e que não recebe ilustração com imagens nem arte.
42 
e-mail, através da assessoria da Prefeitura de João Pessoa. Num 
primeiro momento foi definido que uma equipe de externa17, 
acompanhada do estagiário, Gilmar Lima, se deslocaria para 
acompanhar a coletiva, marcada para 10h da manhã, e que essa 
equipe gravaria sonora18 com o prefeito, explicando a decisão. 
Também ficou definido que, para o estúdio, seriam 
convidados um representante da Polícia Militar, um cientista 
político e um especialista em segurança pública. Com eles 
ficaria a discussão sobre as manifestações no Sudeste do país e, 
também, os comentários sobre situações locais de descaso 
público, mostradas com freqüência pelo telejornal do meio-dia 
e que se encaixavam perfeitamente nos temas reclamados pela 
população durante as manifestações. 
Vale salientar que o estúdio da TV Cabo Branco 
comporta, atualmente, no máximo três convidados para 
entrevista, ao mesmo tempo. Normalmente, só se utiliza esse 
número máximo de entrevistados no estúdio quando o tema é 
muito relevante. Isso gera mais riscos de erros durante a 
exibição do telejornal, considerando-se os microfones que 
17 Equipe de televisão que vai à rua gravar imagens. Geralmente, é composta por 
cinegrafista, assistente e um repórter. Na TV Cabo Branco, em alguns casos, o 
repórter é substituído por um produtor ou por um estagiário da redação. 
18 Entrevista gravada fora do estúdio.
43 
precisam ser utilizados e os cortes de câmeras a serem feitos 
em tais situações. 
Para dar mais dinamismo à entrevista e agregar 
conteúdo, foi decidido pela editora-chefe que, pouco antes e 
durante a conversa no estúdio, seriam exibidas algumas 
sonoras e imagens sobre temas, como: saúde, problemas com 
transportes públicos e acessibilidade para usuários cadeirantes. 
No caso foram selecionados para exibição o vídeo 
disponibilizado por Paola Janaína, na rede social, exibido pela 
manhã no Bom Dia Paraíba e as imagens enviadas pela 
telespectadora Ângela Medeiros, que também tinham ganho 
destaque no primeiro jornal daquele dia na emissora. A escolha 
desse material foi planejada levando em conta a força das 
imagens, naquele momento de mobilização por melhoria no 
transporte público, e o fato delas terem sido usadas na rede 
social e enviadas por uma telespectadora, via e-mail. 
Em determinado momento da manhã foi sugerida a 
possibilidade de colocar o prefeito ao vivo, no link19 do 
telejornal, anunciando a redução no valor da tarifa de ônibus. A 
ideia da editora-chefe era oferecer um material diferenciado 
das outras emissoras. Uma entrevista ao vivo certamente 
19 É quando o repórter entra ao vivo no telejornal, no momento exato que a 
entrevista está sendo feita, por exemplo.
44 
renderia muito mais informações, teria mais qualidade técnica 
e se destacaria do material que seria exibido pelas 
concorrentes, a coletiva, com imagens e áudio poluídos. A 
chefe de redação, Giulliana Costa, passou a buscar esse ao 
vivo, entrando em contato com a assessoria do prefeito e com o 
secretário de Comunicação da Prefeitura de João Pessoa. 
A partir dessas definições, editores assistentes20 
passaram a trabalhar nas ilhas de edição21 com materiais sem 
ligação com as manifestações, mas que faziam parte do 
telejornal, para evitar congestionamento de edição, nos 
momentos finais de preparação do telejornal. Enquanto isso, as 
informações iam chegando à redação e, dentro do que foi 
planejado e do que ia se modificando a cada momento, a 
editora-chefe do telejornal fechou o prelim22, definindo uma 
ordem para exibição de todo o material que iria ao ar no JPB 
Primeira Edição daquele início de tarde. 
20 São os editores que auxiliam os editores-chefes de cada telejornal. Eles são 
responsáveis pela edição das reportagens nas ilhas de edição, pela correção dos 
textos dos repórteres e pelos textos que são lidos pelos apresentadores durante o 
telejornal. Além disso, auxiliam na indicação de pautas e definição de temas que 
serão abordados. 
21 Local da emissora de televisão onde as reportagens são editadas e todas as 
imagens são preparadas para exibição nos telejornais. Atualmente a TV Cabo 
Branco possui quatro ilha de edição. 
22 Prelim ou espelho do telejornal é a lista numerada das reportagens, notas cobertas 
e notas peladas, com tudo que será exibido dentro de uma ordem definida pela 
editora-chefe e sua equipe. É a capa do roteiro do telejornal.
45 
O telejornal do meio-dia da TV Cabo Branco de 18 de 
junho de 2013 começou com uma entrada ao vivo, com 
participação do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Uma 
das perguntas mais importantes naquele momento era se o 
prefeito tinha tomado a decisão de reduzir o valor das 
passagens para conter o movimento, previsto para o dia 20. A 
indagação foi feita no vivo no JPB Primeira Edição, mas 
Luciano Cartaxo negou. Disse que a redução já vinha sendo 
pensada e que tinha relação com o corte de alguns impostos, 
feito dias antes, pelo Governo Federal. 
A entrada ao vivo do prefeito foi seguida por um outro 
link com os estudantes, que estavam organizando a 
mobilização do dia 20, imagens dos vídeos da internauta Paola 
Janaína e da telespectadora Ângela Medeiros e com as 
entrevistas de estúdio com o cientista político, Jaldes Menezes; 
o coronel Euller Chaves, comandante da Polícia Militar e 
Deusimar Guedes, especialista em segurança pública, 
discutindo as manifestações ocorridas no Sudeste do país e a 
expectativa para o movimento do dia 20, em João Pessoa. O 
tema foi abordado durante 14 minutos, o que representou 
37,83% do tempo total do programa jornalístico. 
No mesmo dia, no jornal da noite, o JPB Segunda 
Edição, que foi ao ar às 19h15, o tema manifestações e redução
46 
das passagens de transportes coletivos teve três minutos dos 16, 
abertos pela Rede Globo para o telejornal local. Ou seja, 
18,75% do JPB. Para que possamos compreender melhor o 
tempo dado por cada editor de telejornal ao tema manifestações 
e redução da tarifa dos transportes coletivos no dia 18 de junho, 
segue um quadro demonstrativo: 
Tempo total Tempo para o 
tema 
% do tema no 
telejornal 
Bom Dia 
Paraíba 
48'07" 2'37" 5,00% 
JPB 1 37'34” 14' 37,83% 
JPB 2 16' 3' 18,75% 
Mas, bem antes do jornal da noite do dia 18 ir ao ar, 
ainda no início da tarde, ao final do JPB Primeira Edição, a 
equipe de produtores e editores da TV Cabo Branco já 
começou a pensar e a planejar a cobertura do dia 20 de junho 
de 2013, como veremos em seguida. 
Planejamento, véspera da manifestação e dia da cobertura 
A tarde do dia 18 de junho foi de preocupação e início 
do planejamento da cobertura do dia da mobilização. Durante a
47 
entrevista ao vivo dos estudantes envolvidos com o 
movimento, no JPB Primeira Edição, eles garantiram que 
participariam à tarde de uma reunião, com a Polícia Militar, 
para definir as ruas por onde os manifestantes iriam passar. 
Porém, pouco tempo depois do fim do jornal, os estudantes 
decidiram não mais participar dessa reunião e não divulgaram 
o percurso completo do protesto. 
Sabia-se que iriam concentrar os grupos em frente ao 
Lyceu Paraibano, seguiriam para o Parque Solon de Lucena, 
passariam pelo Palácio da Redenção e de lá iriam para a orla da 
capital. Mas, não se sabia quais ruas exatamente. Em uma rede 
social foi postada a informação que um grupo passaria pela 
porta da TV Cabo Branco e isso gerou preocupação. 
No mesmo dia, em São Paulo, um carro de uma 
emissora de TV23 foi queimado. Além disso, jornalistas já 
tinham sido hostilizados por manifestantes, inclusive 
profissionais da Rede Globo24. Era preciso cuidar da segurança 
dos profissionais e da emissora. A partir daí várias decisões 
foram tomadas. 
23 Cf. “Manifestantes tentam invadir e apedrejam Prefeitura de S. Paulo”. In: 
Globo.com, 18.06.2013. Disponível em: http://migre.me/jCWFv. Acesso em: 
15/07/2013. 
24 Cf. “Caco Barcellos é hostilizado por manifestantes em São Paulo”. In: Último 
segundo. Portal ig.com.br. Disponível em: http://migre.me/jCXhv. Acesso em: 
15/07/2013.
48 
Normalmente à tarde a TV Cabo Branco trabalha com 
três equipes de externa e à noite com mais duas. No dia da 
manifestação a chefe de redação, Giulliana Costa, e a editora 
regional de jornalismo, Tatiana Ramos, decidiram colocar, 
inicialmente, quatro equipes à tarde. Além disso, teríamos 
também um cinegrafista de moto, para trabalhar mais próximo 
da polícia, e um motoboy para recolher com mais agilidade as 
fitas de cada repórter na rua. 
Na manhã do dia 19 de junho, a Rede Globo mostrou 
interesse em ter a cobertura da manifestação de João Pessoa, 
pediu o repórter de Rede25 e decidiu manter aberto, durante 
todo o dia, o canal para ao vivo26. Normalmente este canal é 
aberto quando temos algum material para gerar, ou seja, por 
tempo limitado. Só em casos excepcionais a Rede abre o sinal 
de vivo durante todo o dia. 
Pelas redes sociais se observava um crescimento do 
movimento em João Pessoa e, a partir daí, a editora regional de 
Jornalismo e a chefe de redação acharam importante termos 
imagens aéreas do movimento. Foi decidido que teríamos um 
25 São repórteres preparados pela Rede Globo para entrar nos telejornais nacionais 
da emissora. No caso da TV Cabo Branco, Bruno Sakaue, Hildebrando Neto e 
Laerte Cerqueira foram preparados para essa atividade, porém, cada telejornal da 
Rede Globo pode solicitar o repórter que achar mais apropriado para ele e a 
emissora local, em alguns casos, indica outros repórteres para entradas nos 
telejornais da Rede. 
26 Canal da Embratel para entradas ao vivo na Rede Globo.
49 
helicóptero na cobertura com mais uma equipe, a quinta, esta 
com o repórter de Rede, Bruno Sakaue e o cinegrafista 
Alexandre Frazão. A TV Cabo Branco não tem helicóptero e a 
editora regional de jornalismo precisou convencer a direção da 
empresa a alugar e conseguir uma aeronave, na véspera do 
movimento. Deu certo. As equipes ficaram distribuídas como 
mostra o quadro abaixo: 
Repórter Cinegrafista/Assistente Cobertura 
Larissa Pereira Wellington Campos/Jardel 
Mangueira 
Centro/Antes - Saída 
do Lyceu 
e acompanhamento 
Zuila David Severino Ramos/ Raphael 
Barbosa 
Manifestação vista 
dos prédios 
do Centro e detalhes 
Hildebrando Neto Sílvio Vieira Flashs ao vivo e 
concentração no 
Lyceu 
Bruno Sakaue Alexandre Frazão/ Manifestação vista do 
helicóptero 
e ao vivo para a Rede 
Antônio Vieira Edvaldo Júnior Geral/outras pautas 
fora da 
manifestação 
Sem reporter Walter Paparazzo Manifestação ao lado 
da Polícia 
Os horários dos editores de texto e de imagens também 
sofreram modificação no dia do protesto em João Pessoa. Foi 
decidido que uma das editoras assistentes do JPB Primeira
50 
Edição, eu mesma, ao invés de entrar às 7h30 da manhã, 
entraria às 13h. Na minha responsabilidade ficaram os flashs27 
locais, que seriam ao vivo, e o apoio ao editor-chefe do JPB 
Segunda Edição, Eisenhower Almeida. Giovana Rossini, outra 
editora assistente do JPB Primeira Edição, que normalmente 
trabalha a partir das 11h da manhã, no dia 20 foi deslocada 
para trabalhar à noite. O objetivo era adiantar a edição das 
reportagens do telejornal de meio-dia de 21 de junho. Dois 
editores de imagens tiveram seus horários modificados para 
atender a essas editoras. 
Além de definir as equipes e as mudanças nos horários 
do pessoal do jornalismo, a chefe de Redação, Giulliana Costa, 
e a editora regional de Jornalismo, Tatiana Ramos, decidiram 
pedir segurança para a equipe que ficaria no carro de ao vivo, 
fazendo os flashes, em frente ao ponto de concentração. 
Também ficou definido que as equipes trabalhariam em carros 
alugados, sem a marca da emissora. Inicialmente, todos foram 
para a rua com fardamento e canopla28 nos microfones. A Rede 
Paraíba de Comunicação também contratou seguranças para 
trabalhar na frente do prédio, onde funcionam a TV Cabo 
27 Entrada do repórter, neste caso ao vivo, dando informações do local da 
manifestação. 
28 É a parte do microfone, geralmente em formato de cubo, que recebe a marca da 
emissora de televisão.
51 
Branco, o Jornal da Paraíba, o G1 Paraíba e as emissoras de 
rádio FM Cabo Branco e CBN. 
Ainda na tarde do dia 18 de junho, a editora regional de 
Jornalismo da TV Cabo Branco recebeu um e-mail da Rede 
Globo reforçando a recomendação sobre a abordagem do tema 
manifestações. A partir daquele momento, era importante mais 
cautela. Deveríamos informar o que iria mudar na rotina da 
cidade, no dia da manifestação, mas tendo o cuidado para não 
convocar o cidadão. A orientação da Rede fazia sentido, pois, 
nas redes sociais muitos acusavam a Globo de instigar o 
movimento e a violência no Sudeste. 
Na realidade, em nenhum momento a afiliada de João 
Pessoa recebeu orientação da Rede Globo para incentivar nem 
para boicotar o movimento. O que deveríamos fazer era 
informar o que fosse importante para o cidadão naquele 
momento. Se ele iria ficar sem ônibus, quais as vias que seriam 
interditadas e se haveria policiamento nas ruas, ou seja, 
serviço, se havia quebra-quebra, e como a maioria dos 
manifestantes tinha participado do protesto. No dia da 
manifestação a cobertura deveria mostrar todos os lados e 
assim foi feito. 
Um fato curioso e inédito nessa cobertura: as emissoras 
de televisão de João Pessoa (TV Tambaú, TV Correio da
52 
Paraíba, TV Arapuan e TV Cabo Branco) decidiram concentrar 
as Unidades de link29, num mesmo ponto, por receio de 
represália dos manifestantes. A sugestão veio do editor de 
jornalismo da TV Tambaú, que ligou para as outras emissoras. 
A ideia foi aceita, como mostra a imagem: 
Imagem postada no Facebook do jornalista Renato Félix 
O comentário de um internauta chamou a atenção 
naquele momento. Daslei Emerson Ribeiro Bandeira insinuou, 
claramente, que os carros de link das emissoras seriam 
queimados. Isso, aparentemente, gerou inquietação em quem 
comanda as emissoras de comunicação na capital paraibana. Os 
carros foram disponibilizados no Lyceu só durante as primeiras 
29 Veículos preparados com antenas e equipamentos especiais para geração do sinal 
de ao vivo. Os repórteres que entram ao vivo nos telejornais ficam sempre próximos 
a essas unidades. No caso da TV Cabo Branco, além do cinegrafista, do assistente de 
externa e do repórter, mais um técnico de manutenção trabalha na unidade para 
garantir a exibição do ao vivo.
53 
horas da manhã. Mas, durante a manifestação, apenas o carro 
da TV Cabo Branco se manteve no ponto próximo ao local de 
concentração dos manifestantes. 
Outra informação curiosa: a postagem acima foi 
retirada da página do Facebook do jornalista Renato Félix. Só 
conseguimos a imagem porque a jornalista Giulliana Costa tem 
como hábito fazer print das páginas que chamam a atenção 
dela nas redes sociais. 
No dia 19, o Bom Dia Paraíba, o JPB Primeira Edição e 
o JPB Segunda Edição abriram espaços para os serviços e as 
orientações sobre os protestos. Ao todo, foram cinco minutos 
de informações nos três telejornais da TV Cabo Branco. 
Já no dia 20, dos 45'47” do Bom Dia Paraíba apenas 
dois minutos foram dedicados aos serviços da manifestação. Já 
o JPB Primeira Edição, abriu pouco mais de seis minutos dos 
40'10” do telejornal. Entre as notícias sobre o movimento 
estava a pichação do Lyceu Paraibano. A escola estadual mais 
antiga da cidade, ponto de concentração dos manifestantes no 
protesto marcado para as 14h deste dia, amanheceu pichada. 
Na manhã do dia 20 foram preparadas as pautas para 
cada repórter e definido o que seria produzido para o JPB 
Segunda Edição, o primeiro telejornal após a manifestação. Na 
produção também houve mudança de horário neste dia. A chefe
54 
de produção da manhã, Cláudia Richelle, que normalmente 
trabalha até às 14h, ficou na redação até às 17h, para coordenar 
a saída das equipes e acompanhar o que estava sendo feito e 
acontecendo na rua. Já a chefe de produção da tarde, Keli 
Farias, entrou às 17h, para dar seguimento ao trabalho de 
Richelle e ficar até mais tarde na redação, dando cobertura às 
equipes de externa. 
Também estavam programadas para o mesmo dia 
manifestações em Campina Grande, Patos e Sousa, no interior 
do Estado. Essa cobertura foi organizada pela equipe da TV 
Paraíba, sobre o comando da editora regional de jornalismo, 
Tatiana Ramos. Tudo estava preparado para garantir uma boa 
cobertura estadual das manifestações no telejornal da noite e do 
dia seguinte. 
Manifestação, hostilidade à imprensa, sem cobertura local 
A tarde da manifestação começou com ligações falsas 
para a redação dando informações sobre vandalismo, em uma 
praça no bairro dos Bancários. Nada se confirmou. As 
primeiras imagens que chegaram à redação dos manifestantes 
foram feitas pelo cinegrafista Walter Paparazzo, no bairro de 
Jaguaribe. Estudantes com faixas e gritando palavras de ordem
55 
saíram desse, que é um dos bairros mais antigos da capital 
paraibana, em direção ao local da concentração. 
As imagens foram exibidas durante o primeiro flash ao 
vivo do repórter Hildebrando Neto. Nesse ao vivo, que foi ao 
ar dentro do primeiro intervalo comercial do Vídeo Show, 
também foram exibidas imagens da câmera instalada no alto da 
torre da TV Cabo Branco, que mostravam os primeiros 
manifestantes chegando ao Lyceu Paraibano e a interdição do 
trânsito de veículos na área próxima à escola. 
Depois deste flash o mesmo repórter fez mais dois 
flashes locais, um Nacional para o Globo Notícia e outros dois 
para a Globo News. Hildebrando Neto ficou no carro do vivo, 
numa plataforma montada especialmente para essas entradas. A 
Unidade de ao Vivo, que durante toda a manhã estava bem em 
frente a calçada do Lyceu, foi deslocada para o outro lado da 
rua, para facilitar uma saída de emergência, caso houvesse 
necessidade. Mas, nesse ponto tudo ocorreu tranquilamente. O 
repórter e a equipe de técnicos trabalharam sem imprevistos. 
Porém, pela quantidade de entradas ao vivo foi necessário 
repassar a pauta do repórter, a matéria sobre a concentração, 
para outro profissional. Esta foi apenas a primeira mudança no 
planejamento para a cobertura daquele dia.
56 
Quem assumiu a pauta de Hildebrando Neto foi a 
repórter Zuila David, que inicialmente faria uma matéria do 
alto dos prédios e dos detalhes da manifestação. Ela acabou 
entregando para o JPB Segunda Edição uma reportagem sobre 
a concentração e a saída dos manifestantes do Lyceu. 
Larissa Pereira conseguiu concluir a matéria sobre o 
fechamento das lojas do Centro da cidade, pouco antes da 
manifestação, e seguiu para fazer o material sobre a 
concentração. Só que esta pauta ela não conseguiu fazer. Desde 
os primeiros momentos da chegada da equipe ao Lyceu 
Paraibano, um pequeno grupo de manifestantes começou a 
insultar a equipe da TV Cabo Branco. Por várias vezes, Larissa 
Pereira, Wellington Campos e Jardel Mangueira tentaram 
gravar entrevistas e fazer passagens30, mas foram impedidos. 
No mesmo instante a repórter entrou em contato com a redação 
e a chefia recomendou que ela fosse para outro ponto do 
protesto e fizesse um pré-gravado31. O tempo exíguo não 
permitia que fosse feita uma reportagem mais completa. 
De nada adiantou a equipe mudar de lugar, pois, o 
pequeno grupo de manifestantes seguiu e impediu os 
profissionais de trabalhar, gritando insultos durante as 
30 Parte da reportagem quando o repórter aparece no vídeo com alguma informação. 
31 Quando o repórter faz uma passagem maior, resumindo o que aconteceu no local. 
Eventualmente, na hora da edição, são inseridas imagens e sonoras no material.
57 
tentativas de gravações. Segundo Larissa, a equipe chegou a 
ser encurralada, em frente ao Palácio da Redenção, por mais de 
500 pessoas, que foram incentivadas pelo pequeno grupo 
inicial a insultar e agredir os profissionais. 
O cinegrafista e o assistente de externa receberam socos 
nas costas e foram atingidos por garrafas plásticas, a repórter 
escapou dessas agressões porque foi protegida pelos colegas. 
“Naquele momento o meu sentimento era de terror. Temia que 
eles estivessem com pedras, facas ou armas de fogo”, lembra 
Larissa Pereira. Mesmo com muito medo, a equipe conseguiu 
registrar parte da hostilidade sofrida e foi esse material que 
acabou sendo levado para exibir no telejornal da noite. 
A equipe de Larissa Pereira só conseguiu sair da 
manifestação depois que a polícia interveio. Por segurança, os 
profissionais voltaram para a emissora dentro de um carro da 
Polícia Militar. Muito assustada e nervosa, a repórter precisou 
ser retirada da cobertura. O cinegrafista e o assistente foram 
orientados a tirar a canopla e a farda da empresa, e voltaram 
para a rua com uma jornalista/produtora, que não costuma 
aparecer no vídeo, para garantir a cobertura do protesto. 
A mesma estratégia teve que ser usada com a equipe da 
repórter Zuìla David, que também sofreu agressões verbais e 
empurrões, durante o protesto. No momento que esses
58 
profissionais desceram do prédio de onde acompanhavam a 
manifestação, para fazer a cobertura no chão, um pequeno 
grupo de manifestantes tentou impedir o trabalho deles, com 
faixas contra a Globo e gritando insultos contra os 
trabalhadores da TV Cabo Branco. 
Zuila David ainda conseguiu fechar a reportagem sobre 
a concentração dos manifestantes e outra, sobre a passagem 
deles por ruas do centro até a chegada ao Palácio da Redenção. 
Esta última matéria mostrava pequenos grupos quebrando 
vidraças de um estabelecimento comercial e manifestantes 
destruindo lixeiras públicas. As imagens da violência no 
Centro foram registradas pelos cinegrafistas Severino Ramos e 
Walter Paparazzo. 
“Já vivi muita coisa nesses anos trabalhando nas ruas 
como cinegrafista, mas nunca vi nada igual. Fomos agredidos 
num momento que estávamos fazendo a nossa parte, a nossa 
obrigação profissional”, relatou o cinegrafista Severino Ramos 
que, junto com o assistente Raphael Barbosa e a repórter Zuila 
David precisou da ajuda da polícia para sair da manifestação e 
voltou para a sede da TV Cabo Branco dentro de um carro da 
Polícia Militar. Por volta das 17h30 a equipe estava na 
emissora. A repórter foi trocada por uma jornalista/produtora e
59 
o cinegrafista junto com o assistente voltaram à rua sem farda e 
sem a canopla. 
Pelo que acompanhamos nas redes sociais e nos jornais 
das outras emissoras, profissionais da imprensa de outros 
veículos também foram hostilizados. Alguns foram xingados 
com palavras de baixo calão, mas não tivemos notícia de 
agressões físicas graves. 
Neste momento, a chefe de redação decidiu mudar, 
também, a pauta do repórter Antônio Vieira. Este, inicialmente, 
estava designado para cobrir o cotidiano da cidade fora da 
manifestação. Diante dos novos fatos, a equipe de Antônio 
Vieira foi relocada para o Busto de Tamandaré, ponto da orla 
da capital para onde os manifestantes estavam seguindo e 
terminariam a manifestação. 
Do alto, no helicóptero, o repórter de Rede Bruno 
Sakaue e o cinegrafista Alexandre Frazão conseguiram 
registrar a multidão que foi às ruas na capital paraibana, em 20 
de junho de 2013. O vôo foi feito entre às 16h e às 17h30, para 
garantir a segurança do pouso da aeronave. As imagens foram 
um diferencial na cobertura da manifestação em João Pessoa, a 
TV Cabo Branco foi a única a publicar essas imagens. 
No início da tarde, a concorrência chegou a fazer uma 
“brincadeira” ao vivo, no estúdio, garantindo que era a
60 
primeira emissora a mostrar imagens aéreas da concentração da 
manifestação. Enquanto o apresentador falava no estúdio e 
mostrava imagens do alto, um áudio da hélice de um 
helicóptero, em funcionamento, era ouvido ao fundo. Uma 
terceira emissora mostrou o cinegrafista forjando as imagens 
“aéreas” do alto de um prédio próximo à concentração, como 
se estivesse em um helicóptero. Quando desfeita a farsa, a cena 
ocupou as redes sociais chegando ao topo do twitter nacional, 
naquele dia, e ganhando o Top Five de um programa de humor 
na TV32, que premia os maiores absurdos dos programas de 
televisão do país durante a semana, sempre às segundas-feiras. 
Enquanto as equipes estavam nas ruas, na TV Cabo 
Branco, tudo era acompanhado pelos editores, pelos produtores 
e pela chefia de redação. As reportagens só começaram a 
chegar depois das 17h e o editor-chefe do telejornal ia 
modificando o prelim a cada nova mudança que a ocasião 
exigia. Foi uma tarde tensa, todos preocupados com os colegas 
nas ruas e com a qualidade do conteúdo que iria ao ar nos 
flashs ao vivo e no telejornal. Além disso, outras manifestações 
ocorriam pelo país naquela mesma tarde do dia 20 de junho e, 
em alguns locais, houve violência. 
32 Cf. “Helicóptero fajuto é o campeão do Top Five”. In: TV UOL.com.br. 
Disponível em: http://migre.me/jCZoj. Acesso em 15/07/2013.
61 
O horário do telejornal da noite ia se aproximando e, a 
cada momento, a Rede exibia mais imagens dos protestos pelo 
país. Em um determinado momento, o coordenador de exibição 
da TV Cabo Branco foi informado que a Rede Globo não iria 
mais exibir a novela das seis horas, Flor do Caribe, para 
continuar com a cobertura nacional dos protestos. Isso poderia 
mudar o tempo do telejornal local e o editor-chefe do JPB 
Segunda Edição foi avisado que tanto poderia haver um 
aumento quanto uma redução desse tempo. 
A partir daí os editores e as chefias da redação e do 
jornalismo ficaram em alerta. Diante das imagens mostradas, 
em várias cidades do país, todos compreenderam que a 
exibição do telejornal local estava em risco e poderia ficar 
comprometida, com um tempo bastante reduzido. Além disso, 
a produtora de rede, Jô Vital, foi orientada pela editora regional 
de Jornalismo a conseguir uma entrada ao vivo da Paraíba, 
dentro da cobertura nacional das manifestações, que tinha 
tomado conta da Globo33. Isso não aconteceu. A Rede não 
abriu espaço para João Pessoa nesse horário. 
33 Cf. “Globo abandona grade do horário nobre” (Nelson de Sá). In: Observatório 
da Imprensa, 25/06/2013, ed. 752.
62 
O Editor-Chefe do JPB Segunda Edição fechou o 
prelim, imprimiu o script34 e seguiu para a produção35 para 
colocar o jornal no ar. A cada segundo chegava uma 
informação nova da Rede Globo e a última delas surpreendeu 
todos os envolvidos naquela operação de exibição do 
telejornal. A Globo decidiu ocupar o tempo dos telejornais 
locais de todo o país com a cobertura nacional da manifestação 
e, excepcionalmente, numa situação que nunca se viu na 
emissora, seguiu com essa cobertura até o Jornal Nacional 
deixando de exibir, também, a novela das 19h, Sangue Bom. 
Tudo, inclusive a comercialização da emissora, foi substituído 
pela transmissão ao vivo. 
O que segue abaixo é o depoimento do editor-chefe do 
JPB Segunda Edição, Eisenhower Almeida, e que certamente 
representa o sentimento dos editores-chefes dos telejornais 
locais de todo o país que, naquele dia, prepararam um 
telejornal local que não foi ao ar, em uma noite que os 
telespectadores das cidades onde havia manifestações 
esperavam ansiosos pela cobertura local: 
34 Roteiro do telejornal que é impresso e entregue a todos os técnicos envolvidos na 
exibição do telejornal e ao apresentador. 
35 Sala da TV Cabo Branco de onde o jornal é cortado e exibido para chegar à casa 
do telespectador.
63 
“Todo editor de fechamento sente um friozinho 
na barriga quando prepara um telejornal. E no dia 
das manifestações a preocupação era maior. 
Todas as pautas estavam voltadas para o evento. 
E não sabíamos ao certo o que iria acontecer nas 
ruas. Depois das capitais do Sudeste, era a vez 
dos paraibanos protestarem. 
Montamos um esquema para garantir a cobertura 
total. Foi um corre-corre daqueles que muitos 
jornalistas gostam nas redações. Sempre em 
contato com os repórteres por telefone. A pressa 
em querer o off36. Repórter gravando texto num 
canto da rua para evitar ruídos (não tinha 
condições logísticas de voltar para a redação). A 
expectativa de que Bruno Sakaue conseguiria 
mesmo gravar um stand up37 do helicóptero. 
Bem... a tarde foi passando e tudo foi se 
encaixando. Aí soubemos que a repórter Larissa 
Pereira foi hostilizada por manifestantes. Ela não 
tinha condições psicológicas de fechar mais um 
material para o jornal (ela já havia fechado um 
primeiro VT). E rapidamente encontrou-se a 
solução para dar o caso no jornal. 
Estava tudo certo até dentro do prazo, sem muitos 
atropelos. Eis que recebemos a notícia de que a 
novela das 6h havia sido interrompida para a 
transmissão das manifestações pela Globo. E que 
da transmissão ia direto para o jornal. Isso iria 
aumentar o tempo do jornal. 
Tínhamos material dos protestos em Campina 
Grande e em outras cidades do Estado para ajudar 
a preencher o fade38. Estávamos com a cobertura 
36 Texto do repórter que faz parte da reportagem e que é revisado pelos editores 
antes de ser gravado. 
37 Quando o repórter grava o texto aparecendo a maior parte do tempo no vídeo. 
Assim, passa todas as informações sem necessidade de gravar off. 
38 É o espaço aberto pela Rede para exibição do telejornal e dos comerciais locais.
64 
estadualizada do movimento. Aí, fomos 
informados que o fade havia diminuído, mas 
ainda ficamos com um bom tempo para dar a 
cobertura de João Pessoa. Os minutos foram 
passando e nada de a Globo abrir o fade, até que 
veio a notícia de que o jornal poderia não ser 
exibido. Pouco tempo depois a confirmação. 
Se aquele dia era histórico para o Brasil, também 
era para nós. Não havia JPB Segunda Edição 
naquela noite. Saí desolado do Controle Mestre,39 
quando recebi a notícia. Confesso que até com 
vergonha de dar a notícia aos meu colegas. Pelo 
que me lembro, na verdade nem dei. Foi o 
coordenador da exibição quem confirmou para 
eles.” Eisenhower Almeida – Editor-Chefe do 
JPB Segunda Edição. 
O sentimento de desolação do editor-chefe já tinha 
tomado conta dos jornalistas que estavam na redação da TV 
Cabo Branco, naquela noite. Ninguém queria acreditar no que 
estava acontecendo. Uma grande operação foi montada durante 
dias e, em um segundo, descobriu-se que nada iria ao ar no 
telejornal de maior audiência da emissora. 
Os telefones da redação não paravam. A cada instante 
um telespectador ligava perguntando pelo telejornal, querendo 
saber o que estava acontecendo. Coube a quem estava na 
39 Local onde é feito o controle de tudo que é exibido pela emissora e no qual 
ocorre a comunicação entre a emissora local e o Controle Mestre Rede Globo.
65 
redação explicar a decisão da Rede Globo e garantir que toda a 
cobertura estaria nos telejornais do dia seguinte. 
E foi exatamente isso que aconteceu. O Bom Dia 
Paraíba do dia 21 de junho de 2013 trouxe a cobertura 
completa da manifestação na capital e nos municípios 
paraibanos. Dos 46'56” do tempo do telejornal, 24' foram 
dedicados à cobertura das manifestações locais. Nos telejornais 
seguintes a cobertura se repetiu com destaque. 
No JPB Primeira Edição aquela era uma sexta-feira 
especial, pois o jornal deveria ser totalmente transmitido de 
Campina Grande, com atrações juninas e, unicamente, os fatos 
mais relevantes da manhã. Era dia do “JPB São João”40, mas, 
os fatos da quinta-feira, 20 de junho de 2013, superaram o que 
estava programado e planejado para o dia 21. Dos 34'22” 
abertos pela Rede para o JPB Primeira Edição, 17' reportaram 
as manifestações da tarde do dia anterior. 
E o JPB Segunda Edição encontrou uma forma 
diferente de destacar a manifestação. O editor-chefe optou por 
exibir clips41 com pouco mais de um minuto, cada, antes das 
40 No mês de junho, todas as sextas-feiras o JPB Primeira Edição é transmitido de 
Campina Grande. São programas especiais, programados com antecedência e que 
valorizam as festas juninas dessa época. 
41 Edição que reúne áudio e imagens, sem texto. O áudio pode ser o da imagem ou 
uma música e junto com as imagens transmitem uma mensagem determinada. No 
caso em questão, a participação dos paraibanos na manifestação em 20/13/2013.
66 
duas passagens de bloco42, com imagens e áudios das 
manifestações em João Pessoa. Antes da entrada dos clips foi 
dada uma explicação ao telespectador. O texto antes da 
primeira entrada foi o que segue abaixo. 
Ontem, por causa da transmissão nacional das 
manifestações em várias capitais e cidades 
brasileiras, o JPB Segunda Edição não foi 
exibido. Para o jornal desta sexta-feira, nós 
separamos as melhores imagens e depoimentos 
gravados pelas equipes da TV Cabo Branco, 
desde o início da tarde até o término da 
caminhada, no Busto de Tamandaré. Veja a 
primeira parte agora. 
E esta foi a forma encontrada pelos profissionais da TV 
Cabo Branco para levar aos paraibanos as imagens e os fatos 
daquele dia 20 de junho de 2013. 
No dia seguinte, a gerência de Programação da Rede 
Globo entrou em contato com a direção do jornalismo local e 
pediu uma avaliação do que tinha ocorrido, como as pessoas 
tinham recebido aquela decisão de exibir a cobertura nacional e 
não deixar espaço para o telejornal local, para balizar futuras 
decisões. A editora regional de jornalismo informou que a 
repercussão tinha sido muito negativa e lembrou o grande 
42 Momento em que o apresentador diz quais os destaques do bloco seguinte e 
entram os comerciais.
67 
número de ligações e reclamações recebidas pela redação, 
naquela noite, além da frustração dos profissionais envolvidos 
na cobertura. 
Conclusões 
Como funcionária da TV Cabo Branco, com mais de 20 
anos de casa, afirmo que a afiliada mobilizou-se, envolveu 
vários departamentos e deu todo o apoio ao jornalismo para 
que, no dia 20 de junho de 2013, fosse feita uma grande 
cobertura das manifestações por melhorias no sistema de 
transporte público e outros serviços. Recebemos tudo que 
pedimos: do motoboy ao helicóptero. 
Cada profissional chamado para trabalhar estava lá, 
disposto a fazer o melhor e em alguns casos, arriscar a vida 
para garantir uma cobertura de qualidade. Até quem não foi 
chamado não se furtou ao trabalho, como o caso da 
apresentadora e repórter Patrícia Rocha. Ela não foi convocada, 
mas passou a tarde na empresa adiantando o prelim do 
telejornal, a ser apresentado no dia seguinte, o Bom Dia 
Paraíba, e ajudando a produção nos contatos com as equipes 
que estavam na rua.
68 
Na verdade era lá fora que Patrícia queria estar. Em 
determinado momento da tarde ela virou para mim e disse 
“Não sei como vocês aguentam ficar aqui dentro, enquanto 
tudo está acontecendo lá fora. Eu quero ir pra rua!” Eu sorri e 
disse: “Amiga, esta é nossa agonia diária. Sabemos que tudo 
está acontecendo lá fora, há momentos em que desejamos ir lá 
fora, mas compreendemos que é preciso ter alguém aqui 
dentro, para organizar o que vem da rua e levar o melhor para 
os telespectadores, em tempo e no prazo que temos, durante a 
manhã ou à tarde, para deixar tudo pronto. Cada um faz a sua 
parte e precisa administrar suas agonias. Acalme seu coração”. 
Não consigo esquecer os rostinhos dos jornalistas mais 
novos da redação, que em nenhum momento imaginavam que o 
jornal poderia não ir ao ar. Para quem estava ali há muito 
tempo, essa possibilidade passou a ser real quando observamos 
o movimento de exibição da Rede Globo. Porém, mesmo os 
mais antigos, diante dos fatos locais daquele dia, tinham a 
esperança de que a Programação da Rede deixaria pelo menos 
alguns minutos para as emissoras mostrarem os protestos das 
suas cidades. Não foi o que aconteceu. 
Como jornalista só pensava nos telespectadores fiéis, 
naqueles que não paravam de ligar querendo uma explicação e 
reclamando. Procurei dar ainda mais atenção a cada um que
69 
atendi naquele dia. Como cidadã paraibana compreendia todos 
eles. Era um momento histórico, a Paraíba tinha demorado para 
entrar no processo das manifestações, mas entrou, e, naquele 
dia, todos queriam ver como nosso povo tinha se comportado, 
o que tinha acontecido naquela tarde, em cada canto da cidade 
e do Estado onde houve protesto. 
Confesso que, como jornalista e cidadã, me emocionei 
ao ver na ilha de edição aquelas imagens. E foi lindo ver as 
pessoas na rua de forma civilizada, pedindo o que é direito e 
deveríamos ter desde sempre: saúde, educação, transporte 
público. Além disso, observar que aquela multidão também 
queria algo que acho fundamental para o país: mudanças no 
comportamento dos políticos. Acredito que o recado das ruas 
foi simples: se vocês não mudam, nós mudamos vocês. Claro 
que não aceitamos, nem gostamos de ver as agressões físicas e 
verbais aos nossos colegas, mas compreendemos que esse foi 
um comportamento isolado e de uma minoria. 
De maneira geral, a Paraíba deu exemplo de bom 
comportamento na manifestação de 20 de junho de 2013. Uma 
imagem marcante do que falamos aqui foi a de cidadão 
distribuindo rosas com os policiais que trabalhavam, para dar 
segurança a todos. Segundo balanço da Polícia Militar, nenhum 
incidente grave foi registrado durante os protestos.
70 
Enquanto funcionária, não posso julgar a decisão da 
Rede Globo de mudar toda a grade de programação e não 
deixar espaço para as emissoras locais exibirem seus telejornais 
naquele dia, mas, como cidadã, posso afirmar que o sentimento 
da maioria dos paraibanos, naquele dia, foi de desrespeito. A 
jornalista compreende o peso da cobertura nacional da 
manifestação e a decisão tomada, por quem comanda a Globo, 
mas, a paraibana gostaria muito de ter tido o direito de assistir 
a cobertura local, com as imagens da minha cidade, no JPB 
Segunda Edição, naquele dia histórico.
71 
O Radiojornalismo da CBN nos Protestos em João Pessoa: 
Relatos de Cobertura 
Edileide Oliveira BEZERRA43 
Olga TAVARES 
Introdução 
Quando os protestos começaram em São Paulo, 
acompanhamos as notícias principalmente pela televisão. 
Inicialmente, causou certo estranhamento o fato de o motivo 
divulgado pelos telejornais ser somente o preço das tarifas de 
transporte público na capital. 
É verdade que, meses antes, Porto Alegre tinha vivido 
uma série de protestos violentos por conta do aumento das 
tarifas, mas, no caso de São Paulo, o fato se prolongou e, como 
um rastilho de pólvora, se espalhou para o Rio de Janeiro e 
outras capitais, à medida que os dias passavam, tornando 
algumas questões mais claras. 
As manifestações tinham um quartel general nas redes 
sociais. Assim, como quase tudo na internet, a matriz de 
pensamento era completamente heterogênea. As tarifas foram 
apenas o motivo inicial para a eclosão de uma série de 
43 Mestranda do PPJ/UFPB; email: edileidejp@gmail.com; 
olgatavares@hotmail.com (orientadora)
72 
insatisfações. Corrupção, cura gay, saúde, educação, 
mobilidade, PEC 37, PEC 33, enfim, tudo aquilo que parecia 
injusto aos olhos da população. Esta diversidade, sim, 
justificava a proporção das manifestações. 
O fato é que a onda de protestos nas ruas e avenidas 
importantes das principais cidades brasileiras, organizada pelo 
Movimento Passe Livre, com o lema “não é por centavos, mas 
por direitos”, entrou para a história da democracia brasileira no 
século XXI. Transformou-se em um marco histórico para a 
ciberdemocracia ao levar às ruas, quase que simultaneamente, 
milhares de brasileiros, especialmente jovens estudantes, 
inquestionavelmente mobilizados nacionalmente, por meio da 
computação social e suas redes de mídias sociais. 
Levy (2010) afirma que, no tocante aos efeitos sobre a 
democracia, essa nova realidade, metamorfose da esfera 
pública, afeta positivamente a capacidade de aquisição de 
informação, de expressão, de associações e de deliberação dos 
cidadãos. 
Segundo este autor, 
A computação social aumenta as possibilidades 
da inteligência coletiva e, por sua vez, a potência 
do “povo”. Outro efeito notável dessa mutação da 
esfera pública é a pressão que ela exerce sobre os 
administradores estatais e sobre os governos para
73 
mais transparência, abertura e diálogo. (LÉVY, 
2010, p.14) (grifo do autor) 
Corroborando com essa linha de raciocínio, Primo 
(2013, p.17) ressalta que, com a “emergência das tecnologias 
de comunicação e informação a liberdade de expressão dos 
cidadãos pode ser potencializada via mídias digitais”. Um 
exemplo são esses protestos que ganharam proporções 
gigantescas em nível nacional, a partir de práticas de 
ciberativismo, sendo assim uma verdadeira prova da força dos 
meios digitais, no aspecto de articulação, mobilização e ações 
políticas, como bem coloca este autor. 
A rigor, não há como deixar de reconhecer a 
importância política da liberdade de expressão 
promovida pelas interfaces fáceis e baratas (ou 
gratuitas) dos meios digitais. Nem tampouco 
pode-se ignorar a força dos movimentos 
espontâneos em rede, cujos efeitos antes não 
eram possíveis em uma sociedade caracterizada 
pela mídia de massa. (PRIMO, 2013, p.17) 
Por outro lado, vale lembrar que nem mesmo o 
imediatismo da rede mundial de computadores superou a 
agilidade do rádio no que se refere à cobertura jornalística. 
O rádio brasileiro, principalmente as estações que 
dispõem de departamentos de jornalismo, um exemplo disso, 
são as rádios All News, emissoras 100% notícias, utilizando-se
74 
também da praticidade das tecnologias móveis, possibilitou 
acompanhar de perto os protestos ocorridos nas principais 
cidades do país, exercendo, plenamente, uma das principais 
características no fazer jornalístico em rádio: o imediatismo. 
Este artigo tem por objetivo relatar a experiência dos 
jornalistas da CBN na cobertura dos protestos de rua 
acontecidos em João Pessoa. 
Emoção nas ondas do rádio 
Um episódio que pode comprovar a presença marcante 
dos repórteres das rádios nas manifestações, direto dos locais 
das passeatas, foi vivido por Genilson Araújo, da CBN Rio, 
quando narrou, ao vivo, os confrontos entre a polícia e 
manifestantes no entorno do Maracanã, na tarde do domingo, 
16 de junho de 2013, com entradas durante a transmissão do 
jogo México e Itália, pela Copa das Confederações. De acordo 
com o radialista, a manifestação seguia de forma pacífica até a 
ação do batalhão de choque, que tentou dispersar cerca de 500 
pessoas, com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Na 
CBN João Pessoa, nos momentos de análises dos protestos, 
esse relato foi reprisado e pudemos perceber a emoção e até o 
choro do repórter:
75 
Não houve, por parte, pelo menos dos estudantes, 
qualquer ato de agressividade. Eles paravam 
quando a polícia fazia bloqueio e tentavam por 
outra via e assim faziam. Quando, de repente, 
apareceu um grupo do batalhão de choque, 
disparando bombas de efeito moral, com 
cachorros e bombas de gás lacrimogêneo, 
dispersando essas pessoas.3 
A narrativa de Genilson Araújo ganhou clima de tensão 
no momento em que ele tentava convencer os policiais a 
pararem com a investida porque havia crianças no local. Sem 
perceber que estava no ar, o radialista discutiu com a polícia e, 
rapidamente, foi parada a transmissão. Pouco tempo depois, 
ainda na zona de conflito, o repórter voltou ao vivo para 
explicar a situação. 
Estamos aqui em uma batalha que só tem um lado 
atacando, que é o lado do batalhão de choque. 
Não satisfeitos em afastar os manifestantes do 
entorno do Maracanã, alguns pelotões 
permanecem acompanhando os manifestantes que 
buscaram refúgio na Quinta da Boa Vista, 
tradicional área de lazer aqui no Rio de Janeiro. 
Muitas crianças, muitas pessoas idosas. Os 
policiais ameaçaram entrar com bombas de gás 
lacrimogêneo quando receberam apelos dos 
jornalistas para que não entrassem. Eles acabaram 
acatando.44 
44 Cf. Reporter da CBN chorando ao vivo. In: [Audio CBN/RJ]. Disponível em: 
http://migre.me/jD2BO. Acesso: 04.06.2014
76 
O relato de Genilson, por meio das tecnologias móveis, 
com a utilização do celular, ampliou a sua presença no palco 
dos acontecimentos, mostrando o quanto o repórter é 
imprescindível na emissão da mensagem radiofônica. 
No que se refere ao imediatismo no campo jornalístico, 
Traquina (2013, p. 35) considera as notícias um ‘bem 
altamente perecível’, e que, por isso, necessitam de velocidade, 
evitando a deterioração do valor da informação. Para tanto, 
“em termos logísticos, o valor do imediatismo leva ao reforço 
da importância da capacidade performativa dos jornalistas de 
uma empresa na montagem da cobertura”. 
As redes nacionais de rádio tiveram papéis importantes 
na cobertura dos protestos, em algumas cidades do Brasil, 
realizando giros de notícias ao vivo, entre as praças que 
compõem essas cadeias, repassando informações de todos os 
locais com manifestações, como foi o caso da Central 
Brasileira de Notícias (CBN) que, em vários momentos, 
acionou, durante os protestos, as equipes que, por telefone 
celular, relataram os episódios. Mas antes de prosseguir com 
narrativa dos relatos de cobertura dos protestos, é importante 
entender a estrutura básica da rádio CBN João Pessoa.
77 
CBN João Pessoa 
Intercalados com os programas nacionais, a CBN João 
Pessoa tem dois programas de produção jornalística local, o 
CBN João Pessoa, de segunda à sexta-feira, das 9h às 12h, 
abordando os principais assuntos da atualidade, em áreas 
diversas, como política, saúde, economia e cultura. O programa 
apresenta, diariamente, reportagens externas e entrevistas em 
estúdio, além de colunas e quadros com temas variados. 
Já o programa CBN Cotidiano, de segunda à sexta-feira, 
das 15h às 17h, aborda, como o próprio nome sugere, assuntos 
que se relacionam ao cotidiano do ouvinte, por meio de 
entrevistas e colunas. Nesses dois programas, a CBN João 
Pessoa procurou fazer um trabalho com informação e prestação 
de serviço, abordando assuntos relacionados ao protesto, na 
cidade de João Pessoa, desde o início da semana de 
mobilização, do período de 17 a 20 de junho de 2013. 
Entre as pautas, inserem-se: 
 Registro do anúncio do Prefeito de João Pessoa, Luciano 
Cartaxo, sobre a redução da tarifa do transporte público da 
capital. Esta medida repercutiu nacionalmente com entrada 
ao vivo da repórter local na CBN nacional; 
 Participação do presidente da Associação das Empresas de 
Transporte Coletivo de João Pessoa (AETC-JP), Mário
78 
Tourinho, que falou sobre a redução da tarifa de ônibus, 
provocada pela onda de protestos; 
 Entrevista, por telefone, com um dos estudantes da comissão 
organizadora do movimento Passe Livre em João Pessoa, 
Israel Lucena; 
 Cobertura na reunião entre representantes de Secretarias dos 
governos estadual e municipal, para discutir e traçar, 
conjuntamente, estratégias e plano de ação para garantir a 
segurança e a mobilidade dos cidadãos e dos integrantes do 
movimento, durante protestos; 
 Entrevista com o representante da Polícia Militar da Paraíba, 
que apresentou detalhes sobre o plano de ação da PM, 
previsto para o dia da manifestação; 
 Mesa redonda sobre os protestos desencadeados pelo 
Movimento pelo Passe Livre (MPL) paulista, que ganharam 
uma dimensão nacional e internacional. Para conversar sobre 
essa verdadeira “revolução” social, nós recebemos, no 
estúdio, o antropólogo Wallace Ferreira; o cientista político 
Ítalo Fittipaldi; coordenador de mídias digitais da Rede 
Paraíba de Comunicação, Ricardo Oliveira, e o advogado e 
coordenador do Movimento nas Ruas, de combate à 
corrupção, advogado Marcos Pires. 
 Participação do presidente do PT em João Pessoa, Antônio 
Barbosa, analisando os protestos;
79 
 Entrevista com o especialista em mídias digitais e redes 
sociais, Xhico Raimerson, que analisou a força das redes 
sociais, principais ferramentas utilizadas na divulgação dos 
protestos pelo país; 
 Análises diárias dos principais assuntos que constavam na 
agenda midiática referente aos protestos, com os jornalistas 
comentaristas do quadro da CBN JP; 
 Entrevista com o professor universitário, doutor em 
sociologia, Adriano de León, que analisou os protestos. 
Estrutura de cobertura 
No dia da mobilização, 20 de junho de 2013, a 
reportagem da rádio CBN João Pessoa, ao vivo, entrevistou o 
diretor de Operações da Secretaria de Mobilidade Urbana 
(SEMOB), Cristiano Nóbrega, que anunciou o esquema de 
trânsito e o suposto trajeto dos manifestantes. 
Nesta data, também ao vivo, entrevistou o Presidente da 
Ordem dos Advogados do Brasil, na Paraíba, Dr. Odon 
Bezerra, que anunciou o apoio da OAB-PB ao protesto. 
Acrescentou que disponibilizaria um plantão extraordinário 
com, pelo menos, vinte advogados, para fazer a defesa de 
algum participante do protesto, caso fosse necessário, mas 
nunca, dos vândalos.
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Corpo e discurso na cobertura do movimento Passe Livre

  • 1. qwertyuiopasdfghjklzxcv bnmqwertyuiopasdfghjkl zxcvbnmqwertyuiopasdfg hjklzxcvbnmqwertyuiopa Protestos.com.br: perspectivas e análises da mobilização nas ruas e redes sociais sdfghjklzxcvbnmqwertyui COLETIVO PPJ/UFPB Cláudio C. Paiva e Thiago Soares Organizadores opasdfghjklzxcvbnmqwer Editora UFPB 2014 tyuiopasdfghjklzxcvbnmq nmqwertyuiopasdfghjklzx cvbnmqwertyuiopasdfghj klzxcvbnmqwertyuiopasd fghjklzxcvbnmqwertyuiop asdfghjklzxcvbnmqwerty uiopasdfghjklzxcvbnmqw ertyuiopasdfghjklzxcvbn
  • 2. 2 SUMÁRIO Apresentação .......................................................................... 4 Cândida Nobre Corpo e discurso no Movimento “Passe Livre”: Patrícia Poeta, estratégias enunciativas do JN e crítica nas redes sociais ......... 7 Amanda Evangelista | Virgínia Sá Barreto As rotinas produtivas e as experiências da TV Cabo Branco na cobertura dos protestos em João Pessoa ................................. 36 Roberta Matias | Virgínia Sá Barreto O Radiojornalismo da CBN nos Protestos em João Pessoa: Relatos de Cobertura ............................................................. 71 Edileide Bezerra | Olga Tavares Convergência de conteúdo e uso do Facebook na cobertura da “voz das ruas” pela Agência Brasil ........................................ 93 Angélica Carneiro | Sandra Moura A rua é a maior arquibancada do Brasil. Publicidade e agendamento do jornalismo na capa do Diário de Pernambuco ........................................................................................... 120 Maria Helena Monteiro | Thiago Soares Cobertura ao vivo das manifestações populares - Tecnologias móveis, mídias independentes e jornalismo ......................... 139 Thiago Almeida | Cláudio C. Paiva Sobre o que se protesta mesmo? .......................................... 169 Jonara Siqueira | Thiago Soares Vândalos ou ativistas: cobertura jornalística dos protestos ... 186 Hallita Avelar | Hildeberto Barbosa Filho
  • 3. 3 Ciberativimo nos protestos do Brasil - Hashtags como agregadores de informação em redes sociais ........................ 202 Mariah Araújo | Pedro Nunes Redes Sociais e Agendamento do Jornalismo ...................... 221 Sinaldo Barbosa | Joana Belarmino “Não é por 20 centavos!”: cultura dos memes e viralização . 236 Evaniene Mascena | Cláudio C. Paiva A Revolta do Vinagre: Humor nos Protestos do Brasil ........ 262 Andréa Mesquita | Joana Belarmino Jornalismo e transmídia: estratégias para um debate ............ 283 | Valter Araújo | Joana Belarmino Mea Culpa e autorreferencialidade na cobertura dos protestos no Brasil ............................................................................. 299 Rackel Guimarães | Thiago Soares
  • 4. 4 Apresentação O ano de 2013 apresentou o Brasil em nova perspectiva. Em junho, o país do futebol foi palco da Copa das Confederações, todavia o espetáculo principal não aconteceu dentro dos estádios, mas fora dele. Ruas e redes foram tomadas por manifestantes e o jogo foi comandado por uma multidão de inconformados com o status quo. Esta partida sem capitães ou juízes não possuía pauta uníssona de reivindicação, mas à imagem e semelhança das redes sociais, apresentava uma miríade de discursos que apontavam para as mais variadas direções, do transporte público e ocupação da cidade à educação, respeito às minorias e crítica a propostas de emendas constitucionais. Neste contexto, o campo jornalístico enfrentou o que talvez possa ser considerado o seu máximo desafio: tornar inteligível a polifonia e a policromia das vozes e imagens compartilhadas pelos indivíduos no tecido social que agora incorpora a malha das ruas e das redes digitais. Este e-book reúne diversos olhares de pesquisadores em Jornalismo empenhados na analise dos chamados Manifestos de Junho. São reflexões sobre a cobertura e as rotinas
  • 5. 5 produtivas das diversas mídias: rádio, televisão e internet, considerando as funções massivas e pós-massivas. À luz das teorias do jornalismo como o agendamento, passando pelas operações discursivas do corpo, da linguagem humorística dos memes, da linguagem publicitária como produção de sentido e as mais recentes contribuições acadêmicas sobre a estrutura transmídia dos conteúdos, o leitor é convidado a ampliar o debate e compreender o fenômeno que se espraia e se consolida como reflexo do sentimento da contemporaneidade. Ademais, há a preocupação em refletir sobre os elementos da estrutura e mobilidade da rede como a utilização de smartphones e tablets e compartilhamento de hashtags capazes de organizar melhor as informações a serem recuperadas na memória cibernética. Deparamo-nos com a emergência dos novos modos de fazer jornalismo a partir do coletivo Mídia Ninja e o impasse da mídia tradicional que ora compreende e apropria-se das novas dinâmicas do seu público ora minimiza os danos à sua imagem fazendo o mea culpa. Esta obra organizada pelo Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba tomou para si o desafio de compreender melhor um período recente, porém emblemático da História brasileira. É leitura instigante para
  • 6. 6 estudantes e profissionais da área de Comunicação que desejam captar o espírito de seu tempo. Cândida Nobre
  • 7. 7 Corpo e discurso no Movimento “Passe Livre”: Patrícia Poeta, estratégias enunciativas do JN e crítica nas redes sociais Amanda Falcão EVANGELISTA1 Virgínia SÁ BARRETO2 Introdução Dentre todas as teorias desenvolvidas para tentar explicar porque a comunicação é o que é, em especial o produto noticioso, a Teoria do Espelho é a mais contestada, tanto pelos pesquisadores quanto pelos profissionais do jornalismo. Há muito tempo a ideia de que as notícias são a representação fiel da realidade caiu por terra. Sabe-se hoje que é praticamente impossível – para não se dizer impossível - dissociar a prática jornalística da subjetividade. Mesmo que todos os ângulos da notícia sejam abordados, contar um fato significa escolher quais informações devem ser divulgadas - ou não -, e faz parte de um processo interno, pessoal, subjetivo, e que por isso, torna tão difícil a notícia, através de imagens, falas (discurso), gestos, 1 Jornalista e mestranda do Programa de Mestrado em Jornalismo Profissional; UFPB. E-mail: amanda.falcoa@gmail.com 2 Doutora em Ciências da Comunicação, professora do Mestrado em Jornalismo Profissional; UFPB. Orientadora. E-mail: virginiasabarreto@yahoo.com.br
  • 8. 8 entonações, e até mesmo as cores que compõem o cenário e as vestimentas. Para Marcondes Filho (1988), o “DNA” que a TV carrega pode explicar a busca pela atuação, mesmo fora das novelas: No começo da televisão brasileira, no início dos anos 50, o que se fazia era um rádio televisionado, pois a TV ainda não havia conquistado sua linguagem. A influência do circo sobre a TV brasileira é vista não apenas pela presença dos palhaços ou do homem do auditório, mas também pelo estilo circense de alguns animadores, como Chacrinha, Silvio Santos, Bolinha (MARCONDES FILHO, 1988, p. 43). O rádio também foi outra fonte da qual a televisão brasileira se nutriu. Na década de 50, ao trazer a primeira emissora de televisão para o Brasil, a Rede Tupi de São Paulo, PRF-3, Assis Chateubriand, então dono de uma rede de jornais e emissoras de rádio chamada de Diário dos Associados (constituído por cinco emissoras de rádio, 12 jornais e uma revista), convidou alguns de seus funcionários da rádio para se aventurarem no novo meio. A locução e o poder de improviso foram alguns dos elementos que fizeram com que os jornalistas se saíssem bem na empreitada. Mas, acostumados com a
  • 9. 9 ausência de imagens, os profissionais não tinham noção de movimentos e espaço, algo que só foi mudando com o tempo. Santaella (2004, p. 80) acredita que o surgimento da videoarte e das videoinstalações nos, anos 70, impulsionou a atração da arte pelo corpo humano. Hoje, diante de tecnologias que possibilitam interação e alta qualidade da imagem, os jornalistas continuam se redescobrindo. Presenciamos a era de decadência do teleprompter. Cada vez mais, assim como os atores, os jornalistas precisam entender seu texto, saber o que dizer, como dizer, além de se preocupar com figurino adequado, impostação de voz e “driblar” os empecilhos da “cobertura ao vivo”. O interesse pela performance dos atores não constitui um abandono pelo trabalho dos meios jornalísticos em si. Pelo contrário, enseja a emergência de uma complexificação do trabalho de produção de sentido realizado no âmbito da comunicação midiática, e na qual a atividade enunciativa dos atores e suas próprias identidades sofrem mutações muito complexas. (FAUSTO NETO, 1988, p. 265) Várias dessas mutações atuais decorrem com o advento da TV digital. Cenários, cores, maquiagens, e principalmente
  • 10. 10 figurinos, pois “os corpos são socializados pelas roupas que vestem” (SANTAELLA, 2004, p. 121), estão sendo repensados no telejornalismo, assim como em telenovelas, filmes e comerciais. A ideia é simular o real com uma precisão ainda maior, pois se o telespectador não acreditar no que está vendo, também não receberá com confiança as informações absorvidas. É o que Santaella (2004, p.10), ao citar Ihde (2002), classifica como terceira dimensão do corpo: a das relações tecnológicas, das simbioses entre o corpo e as tecnologias. Porém, para a autora, estes avanços tecnológicos, atrelados aos corpos, podem causar confusões sobre a delimitação da fronteira entre real e o fictício: O que as novas tecnologias colocam em movimento, o que elas transformam são as “fronteiras do humano”. Essa transformação se revela sob vários pontos de vista: os limites que definem o que é propriamente humano e o que os diferencia dos não-humanos (natureza / artifício, orgânico / inorgânico); “os limites que o habitam e o constituem (matéria / espírito) e os limites que diferenciam a experiência imediata e suportada por sua corporeidade biológica, natural e territorial e a experiência mediada por artefatos tecnológicos (presença / ausência, real / simulacro, próximo / longíquo)”. (BRUNO, 1999, apud SANTAELLA, 2004, p. 29).
  • 11. 11 O que o mercado da comunicação procura é atenuar a fronteira entre o real e o simulacro, e se valer dos artifícios tecnológicos para assim, através do artificial, transportar uma veracidade. É o que acontece nos telejornais. O protagonismo noticioso, por mais teatral que seja, busca representar o real para informar, e mais que isso, instruir no público valores como: credibilidade, compromisso com a informação, idoneidade, etc. Mais do que nunca, o jornalista de TV precisa usar o recurso da atorização para cativar o público, e assim, ganhar fidedignidade. O noticiário da atualidade constrói pequenas novelas diárias ou semanais cujos protagonistas são tipos de vida real absorvidos por uma narrativa, que funciona como se fosse ficção. Programas jornalísticos na televisão desenvolvem-se como se fossem filmes – de ação, de suspense, de romance de horror. O telejornalismo disputa mercado não apenas com outros veículos informativos, mas também com opções de lazer. Precisa ser envolvente, divertido, leve, colorido, ou perde o público sedento de novas sensações. [...] A realidade que interessa, para um (jornalismo com base nos fatos) e para outro (entretenimento com base na ficção), é a realidade espetacular, uma realidade que se confecciona para seduzir e emocionar a plateia. (BUCCI, 2000, p. 142).
  • 12. 12 A composição do ator não se limita apenas ao físico. Tão ou mais importante que a estética na TV é saber o que dizer e como dizer. As operações enunciativas compõem as narrativas midiáticas e dão sentido à notícia. Uma entonação usada de forma incorreta pode trazer um significado totalmente diferente do que se pretendia. Não se pode noticiar uma enchente com ares de alegria, como quem informa que o Brasil goleou a seleção da Argentina na final da Copa do Mundo. O “tom” que se traz na notícia é um dos elementos primordiais na construção dos sentidos. Os jornalistas atuam como dispositivo de operação de sentidos (FAUSTO NETO, 2012). Os corpos jornalísticos, na forma de signos, dão sentido “ao que se quer dizer” e quais efeitos pretendem causar no telespectador. Diante deste cenário, analisaremos aqui a corporeidade discursiva de Patrícia Poeta na edição do Jornal Nacional do dia 17 de junho, dia em que saiu em defesa da TV Globo, após a emissora ser alvo de crítica dos manifestantes que participavam do protesto do “Passe Livre” e que desaguou em outras reivindicações. As críticas se fundamentavam no discurso de que a mídia, em especial a TV Globo, apontava os manifestantes como vândalos e distorcia o caráter reivindicativo do movimento.
  • 13. 13 Além do editorial lido por Patrícia Poeta em defesa da Rede Globo, abordaremos aqui também as primeiras informações do JN sobre as manifestações; a cobertura do JN do dia 17 de junho, fazendo um levantamento do que mudou no discurso do telejornal após as reivindicações do público, além do tempo destinado às manifestações; bem como o movimento “anti-Globo” que se disseminou na internet e foi transportado para as ruas. Tudo começou com 20 centavos A primeira notícia que o Jornal Nacional exibiu sobre as manifestações foi ao ar no dia 10 de junho de 2013. O link ao vivo, feito pelo repórter André Trigueiro, durou pouco mais de um minuto e foi feito a bordo do “Globocop”, helicóptero da Rede Globo utilizado para a produção de imagens aéreas. Em sua fala, o repórter relatou a situação em uma das principais avenidas do Rio de Janeiro, a Presidente Vargas, que ficou interditada pelos manifestantes que depredaram algumas lojas. A segunda notícia que o JN divulgou acerca das manifestações nas ruas foi ao ar dois dias após a exibição da primeira divulgação, ou seja, em 12 de junho de 2013. A cabeça da matéria foi lida por Patrícia Poeta e relatou o
  • 14. 14 protesto no centro de São Paulo contra o aumento da tarifa do transporte público. O começo da matéria trouxe manifestantes com os rostos cobertos, gritando “a cidade é nossa” e cenas de um dos participantes pichando um ônibus. A ideia era trazer nos primeiros minutos o clima de “guerra civil” causado pela população. [...] as parcelas de real não correspondem a seleções arbitrárias: é o que fica enquadrado, é o movimento das câmeras, é o trabalho de edição e sonoplastia, que determinam o que e como vai ser mostrado. Nessa perspectiva, está-se frente a uma construção de linguagens, não mais o real, mas a uma realidade discursiva. (DUARTE, 2007, p. 11) Com detalhes, o repórter Fábio Turci informou que 85 (ênfase no número) ônibus, agências bancárias e a estação de metrô haviam sido danificados pelos manifestantes que foram adjetivados como vândalos (mais uma ênfase oral). “Uma batalha nas ruas”, “Nem os ônibus escaparam de um protesto que era pelo transporte público”, “A Avenida Paulista e o centro de São Paulo amanheceram assim, com as marcas do vandalismo de ontem à noite”, foram algumas das expressões usadas pelo jornalista para caracterizar o clima encontrado na manifestação. As palavras em destaque foram as mesmas que
  • 15. 15 tiveram ênfase na fala do repórter. Para reforçar o “pesadelo” que foi o movimento, Fábio Turci gravou depoimentos de civis que não participavam da manifestação, mas que passavam pelo local na hora do acontecimento. Sonora - Entrevistado 1 “Milhares de pessoas estão voltando do trabalho, depois de um dia cansativo, em baixo de chuva, e passar por esse pânico. Eu tô aqui sem saber pra onde vou correr.” Sonora - Entrevistado 2 “Não dava pra ir pra frente, nem pra trás. Fiquei preso aqui.” Indignação, tristeza, revolta, foram alguns dos sentimentos expostos através das entrevistas concedidas pelos cidadãos que não participavam do protesto contra o aumento das tarifas. Na mesma reportagem, o repórter ouviu autoridades como funcionários do Ministério Público, prefeito e governador de São Paulo, além da OAB. Em entrevista, todos repudiaram o acontecimento. OFF- Fábio Turci “Hoje em Paris, o prefeito de São Paulo e o governador condenaram o vandalismo.”
  • 16. 16 Sonora -Geraldo Alckmin(Governador de SP) “[...] Precisa ser investigado pra identificar a origem disso [dos atos de vandalismo], e devem ressarcir ao erário público, pois isso é patrimônio de todos.” OFF- Fábio Turci (Repórter) “Para a OAB, o que aconteceu ontem em São Paulo passou dos limites.” Sonora -Marcos da Costa (Presidente OAB) “As pessoas se reúnem para mostrar uma indignação, no caso do aumento de ônibus. Agora, tem um limite. Então, quando o movimento passa a violar patrimônios [...] ou prejudicar os direitos de ir e vir das pessoas, ele ultrapassou os limites dele.” Santaella (2004, p.19) lembra que, em uma de suas obras, Foucault arrematou a ideia de que o corpo não só recebe sentido pelo discurso, mas é inteiramente constituído pelo discurso. E é justamente o “modo de dizer” que constitui o contorno do noticiário, influenciando inclusive na composição do gênero jornalístico. A seleção do(s) plano(s) da realidade sobre o(s) qual (is) se vai (vão) operar, aliada ao regime de crença proposto e ao tom, isto é, às inflexões conferidas à realidade a ser enunciada – seriedade, humor, ironia – etc., seriam os elementos definidores da promessa que fala Jost
  • 17. 17 (2003), veiculada pelo nome gênero. (DUARTE, 2007). O tom em que se dá ao enunciado é carregado de signos, responsáveis por dar sentido ao discurso. Em nenhum momento da matéria foram ouvidos líderes do movimento. Apesar de se mostrar imagens dos supostos “cabeças” do “Passe Livre” em reuniões - durante a matéria de mais de três minutos - as únicas referências aos manifestantes se limitaram a imagens, e a maior parte retratava o confronto com a polícia. As primeiras reportagens produzidas pelo JN divulgaram as manifestações atreladas apenas ao aumento das passagens, que subiram no início de junho de 2013 para R$ 3,20 em São Paulo. Pouco depois, os jornalistas começavam a divulgar que as reivindicações haviam se expandido, para áreas temáticas como reforma política, Copa de 2014, educação, saúde, etc., assim como outras cidades do país. A maior parte das matérias exibidas pelo Jornal Nacional sobre os protestos hostilizava os manifestantes, muitas vezes atrelados aos atos de vandalismo, de forma generalizada. E foi justamente a cobertura “distorcida”, segundo os apoiadores dos protestos, que fez com que o repúdio à emissora entrasse como uma nova pauta no movimento que se chamou inicialmente de “Passe Livre”. Só
  • 18. 18 após a edição do dia 17 de junho, objeto de pesquisa deste artigo, é que o discurso do JN muda diante do tratamento dado aos manifestantes. A cobertura das manifestações que ocorriam no país foi tão intensa, que o JN disponibilizou em seu site, uma “ala” especial com o nome “Protestos pelo Brasil”, trazendo os vídeos que fizeram parte da cobertura completa do noticiário. O dia em que Patrícia Poeta saiu em defesa da Rede Globo A edição do dia De toda a cobertura que a Globo fez dos protestos pelo Brasil, o do dia 17 de junho, segunda-feira, foi o mais intenso, principalmente no que se refere à programação do Jornal Nacional. Patrícia Poeta entrou no ar já no início da noite, logo após “Malhação”, no “Globo Notícia” e seguiu até o horário habitual do JN. Neste mesmo dia, a programação da emissora sofreu mudanças que causaram estranheza ao telespectador acostumado com o padrão da empresa. Além de não exibir o jogo da Espanha x Taiti, pela Copa das Confederações, a Globo cancelou os capítulos das novelas “Flor do Caribe” e “Sangue
  • 19. 19 Bom”. Os jornais locais foram cancelados, só relatando os protestos promovidos a nível local no dia posterior. Trataremos a edição do JN da data em análise juntamente com os fragmentos do Globo Notícia, por entendermos que, nesta data em especial, o mininoticiário se mostrou como extensão do Jornal Nacional. A edição do Jornal Nacional do dia 17 de junho dedicou um pouco mais de 51 minutos de seu noticiário para a cobertura das manifestações. Dos 22VTs exibidos, 11 abordavam os protestos espalhados pelo país, os outros traziam informações sobre a Copa das Confederações, Guerra Civil na Síria, SISU, dentre outros temas - a maioria sobre protestos fora do país. Além disso, a edição extrapolou na quantidade de “ao vivo”. Ao todo, foram feitos 22links, um número bem acima do que tradicionalmente acontece nas edições. Todos os “vivos” traziam informações sobre os protestos e aconteciam no cenário das manifestações. “[...] a gravação ao vivo, a transmissão direta, em tempo real, sempre funcionam como garantia [...] dos efeitos de autenticidade e veracidade” (DUARTE, 2007, p.13). A duração das matérias exibidas também saiu da rotina jornalística do JN. Alguns VTs chegaram a durar cerca de 3 minutos, quando o habitual é 1 e meio, no máximo 2 minutos.
  • 20. 20 A exaustão na cobertura do “Passe Livre” foi tal, que Patrícia Poeta parecia estar perdida diante de tantas informações sobre o mesmo tema, e Willian Bonner desconfortado por estar longe da “bancada”, acompanhando tudo de Fortaleza, onde entrava “ao vivo” trazendo informações sobre a Copa das Confederações. Segundo levantamento feito pela empresa Controle de Concorrência3, entre os dias 17 e 26 de junho, o JN exibiu oito horas de reportagens e transmissões dos protestos. Das 140 horas de exibição, somando as transmissões de todas as emissoras abertas, 34 horas foram produzidas pela TV Globo.4 Diante da efervescência reivindicativa, a Globo se sentiu obrigada a trazer de volta o âncora do JN. No dia seguinte, 18 de junho, terça-feira, Bonner abria o JN trazendo mais informações sobre a manifestação em São Paulo. O foco da cobertura das manifestações se encontrava no eixo Rio - São Paulo, além da capital Brasília. Porém, a edição do dia 17 de junho trouxe uma nota coberta fazendo um aparato geral dos protestos em outras cidades, como: Curitiba, Belém, Porto Alegre, Fortaleza, Maceió e Vitória. 3Empresa que monitora inserções comerciais na TV para o mercado publicitário 4Cf. Blog Folha.com. Disponível em: http://migre.me/jCLO7. Acesso: 04.06.2014
  • 21. 21 As palavras de protesto contra a Globo e o editorial do JN Em artigo publicado no site Observatório da Imprensa5, Sylvia Moretzsohn escreveu: “tanto os jornais paulistas quanto O Globo e as redes de televisão carregavam nas tintas contra os atos de vandalismo praticados por uma minoria que sempre se infiltra em manifestações desse tipo”. O pensamento da jornalista reflete bem o motivo de sentimento de revolta que os manifestantes sentiram ao ouvir inúmeras vezes nos noticiários a palavra “vandalismo”, em especial no Jornal Nacional. Durante a cobertura das manifestações no país, os noticiários em sua maioria hostilizavam os participantes em sua totalidade, devido às ações de vandalismo praticadas por uma minoria. Além disso, em seus discursos, repórteres e apresentadores deixavam claro que a violência se dava unilateralmente, e a polícia tentava apenas “manter a ordem”. Esta situação causou revolta nos manifestantes, que mostraram sua indignação dificultando o trabalho dos repórteres de rua, levantando cartazes contra as emissoras e, principalmente, disseminando na internet a imparcialidade das empresas jornalísticas. 5 Cf. Site do Observatório da Imprensa, 15/06/2013, ed. 750. Disponível em: http://migre.me/jCM5X
  • 22. 22 A maior revolta se deu contra a TV Globo, por esta ser uma empresa de maior força e disseminação da informação, além de já carregar em sua história situações claras de manipulação da informação6. O movimento de repúdio à TV Globo, diante das manifestações que ocorriam, começou nas redes sociais, principalmente no Twitter7e no Facebook8. As hashtags #aglobonãomerepresenta e #abaixoaredeglobo ficaram comuns nas twittadas de quem discordava da cobertura da emissora. O mesmo aconteceu no facebook, em que fanpages adjetivavam a Globo como manipuladora. Imagem 1: Twitter, 17.06.2013 Imagem 2: Facebook, 17.06.2013 6 Para aprofundamentos, ver “A Síndrome da Antena Parabólica: Ética no Jornalismo Brasileiro” (Kucinsk, 1998). 7 Cf. www.twitter.com 8 Cf. www.facebook.com
  • 23. 23 Taxonomia no Twitter: #AGloboNãoMeRepresenta / FanPage “Anti Globo” ganhou quase cinco mil curtidas no facebook Como ressalta Alex Primo (2013, p.17) “não se pode ignorar a força dos movimentos espontâneos em rede, cujos efeitos não eram possíveis em uma sociedade caracterizada pela mídia de massa”. Sendo assim, as manifestações contra a TV Globo indexadas através das taxonomias nas redes sociais migraram para o cotidiano, ocupando cartazes de manifestantes que iam às ruas contestar a cobertura da emissora. A atualização contínua das “postagens” nas redes, como propõe Correia (2010), potencializa a circulação no ciberespaço, circulação esta que se transporta do campo virtual para o real. A onda de revolta contra a emissora se espalhou também para outras empresas de comunicação, que tiveram carros queimados, repórteres impedidos de fazer a livre cobertura, prédios depredados, etc. Mas o foco das manifestações se voltou especificamente para a TV Globo, que ficou adjetivada de “manipuladora”. Nas ruas, cartazes com inúmeras mensagens “anti-Globo” traziam um desafio ainda maior para os cinegrafistas, que além de se preocuparem com a troca de munições entre polícia e civis, deviam evitar mostrar imagens abertas com mensagens denegrindo a emissora.
  • 24. 24 Imagem 4: Imagem 3: Facebook, 17.06.2013 Facebook, 17.06.2013 Nas ruas, cartazes mostravam insatisfação com a cobertura da TV Globo. / Manifestantes depredam o prédio da emissora no Rio de Janeiro no dia 17 de julho. A revolta com a cobertura que a Globo estava fazendo diante das manifestações tomou proporções cada vez maiores. Se para a imprensa a violência entre manifestantes e policiais dificultava o trabalho, a revolta do povo contra jornalistas praticamente os impedia de trabalhar. Fazer links “ao vivo” durante os protestos, no meio da multidão, era um ato de coragem. Muitos repórteres tentaram, mas tiveram que ser interrompidos pelos âncoras que, em sua maioria, teciam comentários de reprovação, quase sempre fazendo alusão à liberdade de imprensa.
  • 25. 25 Durante o Jornal Nacional a cobertura foi feita, na maior parte do tempo, longe da multidão, a bordo do GloboCop - helicóptero da emissora dedicado à grandes coberturas. Em terra, os repórteres faziam passagens em locais distantes do aglomerado. E quando arriscavam a descer - em presença do povo - retiravam a canopla do microfone, evitando assim, mostrar o símbolo da emissora a que estavam subordinados. Imagem 5: site Rede Globo Imagem Imagem 6: site Rede Globo 7: site Rede Globo Para preservar a integridade de profissionais, repórteres fazem cobertura à distância da multidão e sem canopla. O uso do helicóptero da emissora, o GloboCop, ajudou nos links ao vivo. 3.3. A defesa da Globo por Patrícia Poeta O movimento “anti-globo” nas redes sociais e nas ruas tomou proporções cada vez maiores. “As palavras de ordem” - como foram adjetivados os gritos de repúdio dos manifestantes
  • 26. 26 pelos funcionários da empresa - eram cada vez mais freqüentes, e se disseminavam com tal força e rapidez que barreira alguma poderia impedir. Impossibilitada de “calar a boca” dos manifestantes, a estratégia da TV Globo foi colocar no principal telejornal do país, o JN, uma nota de esclarecimento, que, em defesa dos interesses da empresa, tomou características de editorial. O texto, lido por Patrícia Poeta, durou pouco mais de 20 segundos e tentou esclarecer para a população que ali existia um “mal-entendido” por parte dos manifestantes, e que a Globo estava apenas “cumprindo seu papel”, o de informar. Quem deu o “gancho” para que o editorial entrasse no ar, foi o repórter que durante uma tomada “ao vivo”, a bordo do “Globocop”, trouxe informações sobre as manifestações na cidade de São Paulo: Repórter “[...] Um outro grupo que saiu do Largo da Batata, por volta das 5 horas da tarde, percorreu a Avenida Faria Lima,e nesse caminho eles seguiram até a Avenida Luiz Carlos Berrini, que fica muito perto da TV Globo, e nesse caminho foram gritando palavras de ordem contra a TV Globo. Patrícia.”
  • 27. 27 Patrícia Poeta “Olha, a TV Globo vem fazendo reportagens sobre as manifestações desde seu início e sem nada a esconder. Os excessos da polícia, as reivindicações do “Movimento Passe Livre”, o caráter pacífico dos protestos e quando houve depredações e destruição de ônibus. É nossa obrigação e dela nós não nos afastaremos. O direito de protestar e de se manifestar pacificamente é um direito dos cidadãos”. Patrícia Poeta leu o editorial com ar de seriedade, e ao citar os diversos ângulos abordados no telejornal - “excessos da polícia, reivindicações do “Movimento Passe Livre”, caráter pacífico dos protestos e depredações e destruição de ônibus” – pontuou nos dedos a contagem dos temas, reforçando o sentido de “diversificação” trazida pelo JN. Imagem 8: site da Rede Globo
  • 28. 28 Ao usar a interjeição “Olha”, no início do editorial, a apresentadora tenta agir sobre o espectador, o convidando para a “conversa”, que – como mostra o seu linguajar – seria mais informal, por isto, ele poderia ficar à vontade para escutá-la. Patrícia Poeta também se vale dos movimentos do corpo em outros momentos do editorial, com o objetivo de reiterar seu discurso. Ao falar do compromisso da emissora com a informação - “É nossa obrigação e dela nós não nos afastaremos” - a apresentadora gestua negativamente com a cabeça, ao mesmo tempo em que pronuncia enfaticamente a palavra “não”, reafirmando que a TV Globo não deixará de informar os cidadãos, mesmo diante da pressão do público. Mesmo que de forma sutil, a gesticulação da apresentadora atua em consonância com seu discurso, assegurando que o receptor entenda o que se quer dizer. É esse corpo que se faz representar e que também representa, não apenas como interpretação pura, mas até mesmo como simulacro. A arma do apresentador é a encenação da naturalidade, a simulação do - falso - imprevisto: que o faz parecer surpreso, agir como se não soubesse o que vai acontecer, fingir que improvisa falas e parentar intimidade com seus convidados (ROSÁRIO; AGUIAR, p. 3).
  • 29. 29 Assim como os signos corporais, o discurso de Patrícia Poeta também tenta reconstruir a postura da emissora diante da cobertura distorcida. A ênfase antes dada a palavras como “vandalismo” e “confronto”, agora dão destaque a palavra “pacífico”, e pela primeira vez, fala dos “excessos da polícia”. Logo no início do texto, a apresentadora informa que a Globo não tem “nada a esconder”, e reforça a informação ao dar destaque à palavra “nada”. Outra estratégia de defesa da Globo usada no editorial do Jornal Nacional do dia 17 de junho diz respeito à ordem dada as informações. Patrícia Poeta ao citar os diversos ângulos trazidos no noticiário menciona em primeiro lugar os “excessos da polícia”, algo pouco divulgado em outras edições e que agora também ganha ênfase na fala da apresentadora. Só após essa informação, ela cita as reivindicações do movimento e o “caráter pacífico dos protestos”, que por sinal, foi usado de maneira exaustiva nesta edição, contradizendo o que se mostrava anteriormente no discurso usado pelo JN, ao atrelar os manifestantes aos atos de vandalismo, e em confronto com a polícia. Só após pronunciar de maneira fatídica “os excessos da polícia” e o “caráter pacífico dos protestos”, é que Patrícia
  • 30. 30 afirma também ter noticiado no JN “quando houve depredações e destruição de ônibus”, porém, de maneira bem mais sutil, sem alterações na voz, e por isso, sem dar destaque a este fragmento de texto. A apresentadora finaliza o editorial dizendo que “O direito de protestar e de se manifestar pacificamente é um direito dos cidadãos”, mostrando que a Globo reconhece os direitos dos manifestantes, e que em contrapartida, esses mesmos manifestantes devem entender que a emissora também tem o direito de se manifestar livremente, porém, - mais uma vez – ambos os lados devem agir “pacificamente”. A locução tem que emitir uma impressão compatível com os conteúdos do que está sendo dito. Nesse ponto, os personagens recorrem a recursos teatrais, máscaras, modos de ser empáticos com o outro que lhes vê e ouve. Para tanto, há o recurso do uso da voz, da impostação, da dicção, da entonação e das pausas conjugadas à mímica facial e gestual. (BARRETO, 2011, p. 246). Após ler o editorial, Patrícia Poeta lê a “cabeça” de outra matéria sobre o movimento “Passe Livre” e outra vez traz o caráter pacífico do movimento. Porém, ao falar sobre a violência, destaca que esta ação diz respeito a um grupo
  • 31. 31 específico de manifestantes, não generalizando os participantes dos protestos como em edições anteriores do JN. Patrícia Poeta “[...] segundo especialistas [a manifestação] reuniu 100 mil pessoas. No fim do protesto um pequeno grupo agiu com violência e atacou a assembleia legislativa do estado.” Para a TV Globo, quanto mais o seu principal telejornal tentasse amenizar a discórdia com o público, através de estratégias de reconstrução da imagem dirigidas aos manifestantes, melhor para a imagem da empresa, e assim, talvez acalmasse os ânimos dos que repudiavam a emissora. Além de trazer de modo excessivo a palavra “pacificamente”, a edição do JN do dia 17 de junho ouviu pela primeira vez os manifestantes, abrindo espaços no noticiário para entrevistas com os líderes do movimento. O JN também se valeu de falas “amigáveis” aos protestos para mudar o seu discurso, a exemplo do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que na edição do dia 12 de junho - já mostrada neste trabalho - afirmou que os manifestantes deveriam arcar com as despesas das violações ao patrimônio público e privado. Já na
  • 32. 32 edição do dia 17 de junho, o JN traz uma entrevista com a mesma fonte, onde o governador faz elogios aos manifestantes. Sonora de Geraldo Alckmin “Quero aqui publicamente elogiar também as lideranças do movimento, a policia militar e a segurança pública.” Conclusão Verificamos durante a pesquisa que o noticiário se estrutura, em sua dinâmica discursiva, a partir de encadeamentos de dispositivos (FAUSTO NETO, 2012), sejam físicos (gestos, vestes, cores, expressões faciais, etc.) ou abstratos (o que se diz e como se diz). As construções tecno-discursivas assumem um papel primordial na composição da linha editorial de um telejornal. E foi se valendo dessas construções que a TV Globo, através do JN, em especial na figura de Patrícia Poeta – enunciadora aqui pesquisada – criou estratégias de comunicação para mudar o composer de seu discurso que, antes da pressão popular, mostrava em sua cobertura noticiosa os vandalismos generalizados ligados ao Movimento “Passe Livre”. Após uma onda de protestos surgida nas redes sociais, em especial no Facebook e Twitter, que migraram dessas
  • 33. 33 taxonomias virtuais para o cotidiano, tornando-se conteúdos de diversos cartazes nas ruas, a TV Globo se viu obrigada a esclarecer para o público que sua cobertura estava pautada na parcialidade. A atitude da emissora gerou um editorial, lido por Patrícia Poeta, que se valeu do recurso de “atorização” e das estratégias enunciativas para levar a mensagem até o local mais próximo possível do campo real, da não-ficção televisiva. Resultando das pressões populares ou não, o fato é que o JN mudou seu discurso. Palavras como “vandalismo”, “baderna” e “confronto”, usadas com exaustão durante edições anteriores ao dia 17 de junho – dia em que o editorial foi ao ar – foram substituídas bruscamente por “protesto pacifico” e por frases tais como “um pequeno grupo agiu com brutalidade”. O discurso dos entrevistados também ajudou a emissora nas estratégias de conciliação com o público. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, após afirmar que os manifestantes iriam ressarcir o Estado e as empresas privadas devido às depredações - no JN do dia 12 de junho -, deu uma entrevista elogiando os manifestantes na edição do dia 17. Foi neste dia também, que foram divulgadas as primeiras entrevistas dos líderes do movimento. Antes, os manifestantes não tinham voz, e só eram retratados durante confrontos com a polícia.
  • 34. 34 Então, verificou-se, como pensa Primo (2013), a cibercultura transformou substancialmente a vida em vários aspectos, e não podemos ignorar a força dos movimentos em rede, pois foi o movimento de insatisfação com a TV Globo, que fez a emissora mais importante do país mudar seu discurso. Referências BARRETO, Virgínia de Sá. A encenação no telejornalismo: Jornalista ou ator? In: FAUSTO NETO, A. et. All. (Orgs.) Interfaces Jornalísticas: Ambientes, tecnologias e linguagens. João Pessoa: Editora da UFPB, 2011. BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo, Companhia das Letras, 2000. CORREIA, Ben-Hur. A circulação da informação jornalística no ciberespaço: conceitos e proposta de classificação de estruturas. In: SCHWINGLE, Carla; ZANOTTI, Carlos A. Produção e colaboração no Jornalismo Digital. Florianópolis: Insular, 2010. DUARTE, Elizabeth B.; CASTRO, Maria Lilia de. Comunicação Audiovisual: gêneros e formatos. Porto Alegre: Sulina, 2007. FAUSTO NETO, Antônio. Cap. XIII – Transformações nos discursos jornalísticos – a atorização do acontecimento. In: MOULLIAUD, Maurice. O Jornal: da forma ao sentido. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012. MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão: A vida pelo vídeo. São Paulo, Editora Moderna, 1988.
  • 35. 35 MORETZSOHN, S.D. “Muito além dos 20 centavos”. In: Observatório da Imprensa, 15/06/2013, ed. 750. Disponível em: http://migre.me/jCOqA. Acesso em: 04.06.2014 PRIMO, A. Interações em rede. Porto Alegre, Editora Sulina, 2013. ROSÁRIO, Nísia Martins do; AGUIAR, Lisiane Machado. Corpos televisivos: artifício e naturalidade na compensação de sentidos entre o masculino e o feminino. In: ATAS do Congresso da INTERCOM, 2005. Disponível em: http://migre.me/jCP3F. Acesso: 04.06.2014 SANTAELLA, Lúcia. Corpo e comunicação: Sintoma de cultura. São Paulo, Paulus, 2004 TV ABERTA EXIBIU 140 horas de protestos em dez dias (Fabiana Futema). In: Blog Folha, 01.07.2013. Disponível em: http://migre.me/jCOBn Acesso em: 04.06.2014
  • 36. 36 As rotinas produtivas e as experiências da TV Cabo Branco na cobertura dos protestos em João Pessoa Roberta Matias9 Virgínia SÁ BARRETO Introdução O Brasil tem vivido momentos de protesto e mobilização, deste o início de junho deste ano, mês no qual as festas juninas, normalmente, pautam os telejornais do Nordeste e quando a mídia nacional deveria estar voltada para a cobertura da Copa das Confederações10, o que ganhou destaque nos jornais impressos, nos telejornais, nas rádios de todo o Brasil e nas redes sociais foram as manifestações e protestos realizados em várias cidades brasileiras. Tudo começou na primeira semana de junho. No dia 6, representantes do Movimento Passe Livre (MPL)11 foram às ruas, inicialmente em São Paulo, reivindicar a reversão do 9 Jornalista, editora da TV Cabo Branco e discente do Programa de Mestrado em Jornalismo Profissional da UFPB. Email: robertamatias10@hotmail.com 10 A Copa das Confederações ou Taça das Confederações é um torneio de futebol, organizado pela Federação Internacional de Futebol – FIFA, entre seleções nacionais. Antes de 2005 era realizada a cada dois anos e a partir dali, passou a ser feita a cada quatro anos. Os participantes são os seis campeões continentais mais o país-sede e o campeão mundial, com um total de oito países. Este ano o Brasil, a sede da competição e os gastos com o evento foram motivos dos protestos do mês de junho, pelo país. 11 MPL é formado por um grupo de pessoas para discutir e lutar por outro projeto de transporte para a cidade. Cf. site Movimento Passe Livre - S. Paulo - Por uma vida sem catacras. Disponível: http://saopaulo.mpl.org.br/. Acesso: 07.07.2013.
  • 37. 37 aumento da tarifa de ônibus e do metrô de R$ 3,00 para R$ 3,20. Cerca de 150 jovens manifestantes ocuparam parte da Avenida Paulista, no horário de rush. Era o início de um movimento que, nos dias seguintes, atraiu os holofotes da imprensa e se espalhou pelas principais cidades brasileiras. A cobertura da imprensa, inicialmente, foi contra as manifestações. Entre os dias 12 e 13, os grandes jornais do país, como Folha de São Paulo, Estadão e O Globo praticamente convocavam a polícia para conter os manifestantes. Os pedidos foram atendidos e, no mesmo dia, o que se viu no Rio de Janeiro e em São Paulo foi a violência da polícia contra os manifestantes, que atingiu inclusive jornalistas, que trabalhavam na cobertura dos protestos. De acordo com o site Observatório da Imprensa, estaria aí a “virada na cobertura” 12. A partir de então, os jornais nacionais começaram a mostrar as manifestações de outra forma. Elas foram crescendo nas redes sociais, tomaram corpo e se espalharam pelo país com momentos de beleza e de tensão. O que passamos a acompanhar pelas emissoras de televisão, pelos jornais e pelas redes sociais, foram protestos reunindo multidões vestidas de 12 Cf. “Uma virada na cobertura” (Luciano Martins Costa). In: site do Observatório da Imprensa, 04.06.2013, ed. 750. Acesso 08/07/2013
  • 38. 38 branco pelas principais ruas do país pedindo melhorias nos transportes coletivos, mudanças no sistema de saúde, educação de qualidade, contra a corrupção, contra o comportamento abusivo de políticos, etc. Em contraponto, eram mostrados também pequenos grupos revoltados, que quebravam prédios públicos, enfrentavam a polícia, machucavam até quem não estava participando do protesto. Em João Pessoa, esse movimento só chegou às ruas no dia 20 de junho de 2013. Mas, a abordagem do tema na TV Cabo Branco, emissora afiliada a Rede Globo na capital paraibana, foi iniciada no dia 18 de junho de 2013 e o planejamento da cobertura para o dia da mobilização, também, passou a ser tratado, a partir do início da semana do evento, mudando as rotinas produtivas da redação de emissora, como veremos a seguir. TV Cabo Branco: Planejamento e cobertura das manifestações de junho As manifestações em João Pessoa ocorreram no dia 20 de junho de 2013, uma quinta-feira. De acordo com a Polícia Militar, mais de 22 mil pessoas foram às ruas da cidade protestar de forma pacífica e pedir redução no valor da
  • 39. 39 passagem dos ônibus, transporte público de qualidade, saúde e educação para todos. Mas, o tema manifestações e os reclames feitos pela comunidade, naquele momento, entraram em pauta na TV Cabo Branco no início da semana. O primeiro jornal do dia 18 de junho de 2013, o Bom Dia Paraíba, trouxe em sua abertura um texto ilustrado com imagens disponibilizadas numa rede social por Paola Janaína e outras enviadas pela telespectadora Ângela Medeiros, mostrando situações de descaso com portadores de deficiência e com usuários do transporte coletivo da capital. As imagens foram relacionadas com o momento de protestos, por melhorias nos transportes coletivos e outros serviços. A apresentadora Patrícia Rocha leu, no ar, o texto que segue abaixo: A gente começa o Bom Dia Paraíba desta terça-feira com cenas de um absurdo. No momento histórico em que a população vai pras ruas, em que o Brasil se manifesta contra tantos maus serviços prestados, inclusive o transporte público, a gente se depara com essas cenas... SOLTA IMAGENS Essas imagens aí foram feitas na principal avenida de João Pessoa, a Epitácio. Se fala muito em acessibilidade, direitos iguais e espaço para todo mundo, mas nessa imagem aí, o deficiente precisou entrar no ônibus e o elevador estava aparentemente quebrado. O jeito foi subir os degraus sentado. Outro passageiro ajudou a subir a cadeira de rodas. O vídeo foi divulgado por Paola Janaína, em uma rede social. Ela relata
  • 40. 40 ainda que o deficiente ficou muito nervoso porque era o quarto ônibus que passava e ele não conseguia entrar. Fazia mais de uma hora que ele esperava no local, impedido de exercer o direito de ir e vir. Se pra subir foi assim, pra descer no local destinado deve ter sido uma situação parecida. A nossa telespectadora Ângela Medeiros também nos mandou esse material... SOLTA IMAGENS e disse que ela ontem esperou duas horas pelo ônibus que pretendia pegar porque os três que passaram estavam superlotados e ela estava com uma criança de um ano no colo, não dava para entrar. E mesmo diante dessas imagens ai, olha o que diz o chefe de tráfego da empresa de ônibus Marcos da Silva. Mailson Dantas informou que nenhum dos veículos com acessibilidade está quebrado ou com defeito. O problema é que foram contratados novos cobradores e que eles ainda estão em fase de treinamento para saber operar o elevador, que permite que os cadeirantes subam nos ônibus. O telejornal seguinte, o JPB Primeira Edição, que vai ao ar ao meio-dia de segunda a sábado, seguiu explorando o tema. Na terça-feira, 18 de junho de 2013, o JPB abriu espaço para discutir as manifestações, em curso no país com mais força desde a semana anterior e para falar dos preparativos da manifestação local, a ser realizada dois dias depois. O JPB Primeira Edição tem, normalmente, 38 minutos de produção, divididos em quatro blocos. De uma forma geral
  • 41. 41 o programa é preparado, diariamente, com dois ou três links13, seis reportagens ou matérias14, uma média de quatro notas cobertas15, além de seis notas peladas16 e de uma a duas entrevistas de estúdio, estas últimas com duração média de três minutos cada. Neste dia 18, o JPB Primeira Edição teve 37'34” e aproximadamente 14 minutos foram dedicados ao tema “manifestação nacional e local”. A pauta do início da semana foi sugerida pela editora-chefe do telejornal, Cristina Dias, e discutida na redação, num primeiro momento, com as editores adjuntas, Roberta Matias, Débora Cristina e Mirela Vasconcellos, além da chefe de produção do turno da manhã, Cláudia Richelle. A ideia era levar para o telejornal uma discussão mais aprofundada sobre os fatos ocorridos nas cidades do Sudeste do país e, além disso, trazer o tema para a realidade local. A produção logo trouxe a informação de que o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, anunciaria no meio da manhã a redução no valor da passagem de ônibus. A pauta chegou via 13 Quando o repórter mostra imagens em tempo real de determinado pondo da cidade e dá informações sobre um tema definido pelos editores do telejornal. 14 Forma como os jornalistas de televisão costumam chamar as reportagens mais longas com passagem e entrevistas, feitas pelos repórteres e que passam por edição de imagens e texto. 15 Textos lidos pelo apresentador e que são ilustrados na ilha de edição, com imagens ou arte, ou durante a exibição do telejornal. 16 Texto lido pelo apresentador e que não recebe ilustração com imagens nem arte.
  • 42. 42 e-mail, através da assessoria da Prefeitura de João Pessoa. Num primeiro momento foi definido que uma equipe de externa17, acompanhada do estagiário, Gilmar Lima, se deslocaria para acompanhar a coletiva, marcada para 10h da manhã, e que essa equipe gravaria sonora18 com o prefeito, explicando a decisão. Também ficou definido que, para o estúdio, seriam convidados um representante da Polícia Militar, um cientista político e um especialista em segurança pública. Com eles ficaria a discussão sobre as manifestações no Sudeste do país e, também, os comentários sobre situações locais de descaso público, mostradas com freqüência pelo telejornal do meio-dia e que se encaixavam perfeitamente nos temas reclamados pela população durante as manifestações. Vale salientar que o estúdio da TV Cabo Branco comporta, atualmente, no máximo três convidados para entrevista, ao mesmo tempo. Normalmente, só se utiliza esse número máximo de entrevistados no estúdio quando o tema é muito relevante. Isso gera mais riscos de erros durante a exibição do telejornal, considerando-se os microfones que 17 Equipe de televisão que vai à rua gravar imagens. Geralmente, é composta por cinegrafista, assistente e um repórter. Na TV Cabo Branco, em alguns casos, o repórter é substituído por um produtor ou por um estagiário da redação. 18 Entrevista gravada fora do estúdio.
  • 43. 43 precisam ser utilizados e os cortes de câmeras a serem feitos em tais situações. Para dar mais dinamismo à entrevista e agregar conteúdo, foi decidido pela editora-chefe que, pouco antes e durante a conversa no estúdio, seriam exibidas algumas sonoras e imagens sobre temas, como: saúde, problemas com transportes públicos e acessibilidade para usuários cadeirantes. No caso foram selecionados para exibição o vídeo disponibilizado por Paola Janaína, na rede social, exibido pela manhã no Bom Dia Paraíba e as imagens enviadas pela telespectadora Ângela Medeiros, que também tinham ganho destaque no primeiro jornal daquele dia na emissora. A escolha desse material foi planejada levando em conta a força das imagens, naquele momento de mobilização por melhoria no transporte público, e o fato delas terem sido usadas na rede social e enviadas por uma telespectadora, via e-mail. Em determinado momento da manhã foi sugerida a possibilidade de colocar o prefeito ao vivo, no link19 do telejornal, anunciando a redução no valor da tarifa de ônibus. A ideia da editora-chefe era oferecer um material diferenciado das outras emissoras. Uma entrevista ao vivo certamente 19 É quando o repórter entra ao vivo no telejornal, no momento exato que a entrevista está sendo feita, por exemplo.
  • 44. 44 renderia muito mais informações, teria mais qualidade técnica e se destacaria do material que seria exibido pelas concorrentes, a coletiva, com imagens e áudio poluídos. A chefe de redação, Giulliana Costa, passou a buscar esse ao vivo, entrando em contato com a assessoria do prefeito e com o secretário de Comunicação da Prefeitura de João Pessoa. A partir dessas definições, editores assistentes20 passaram a trabalhar nas ilhas de edição21 com materiais sem ligação com as manifestações, mas que faziam parte do telejornal, para evitar congestionamento de edição, nos momentos finais de preparação do telejornal. Enquanto isso, as informações iam chegando à redação e, dentro do que foi planejado e do que ia se modificando a cada momento, a editora-chefe do telejornal fechou o prelim22, definindo uma ordem para exibição de todo o material que iria ao ar no JPB Primeira Edição daquele início de tarde. 20 São os editores que auxiliam os editores-chefes de cada telejornal. Eles são responsáveis pela edição das reportagens nas ilhas de edição, pela correção dos textos dos repórteres e pelos textos que são lidos pelos apresentadores durante o telejornal. Além disso, auxiliam na indicação de pautas e definição de temas que serão abordados. 21 Local da emissora de televisão onde as reportagens são editadas e todas as imagens são preparadas para exibição nos telejornais. Atualmente a TV Cabo Branco possui quatro ilha de edição. 22 Prelim ou espelho do telejornal é a lista numerada das reportagens, notas cobertas e notas peladas, com tudo que será exibido dentro de uma ordem definida pela editora-chefe e sua equipe. É a capa do roteiro do telejornal.
  • 45. 45 O telejornal do meio-dia da TV Cabo Branco de 18 de junho de 2013 começou com uma entrada ao vivo, com participação do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Uma das perguntas mais importantes naquele momento era se o prefeito tinha tomado a decisão de reduzir o valor das passagens para conter o movimento, previsto para o dia 20. A indagação foi feita no vivo no JPB Primeira Edição, mas Luciano Cartaxo negou. Disse que a redução já vinha sendo pensada e que tinha relação com o corte de alguns impostos, feito dias antes, pelo Governo Federal. A entrada ao vivo do prefeito foi seguida por um outro link com os estudantes, que estavam organizando a mobilização do dia 20, imagens dos vídeos da internauta Paola Janaína e da telespectadora Ângela Medeiros e com as entrevistas de estúdio com o cientista político, Jaldes Menezes; o coronel Euller Chaves, comandante da Polícia Militar e Deusimar Guedes, especialista em segurança pública, discutindo as manifestações ocorridas no Sudeste do país e a expectativa para o movimento do dia 20, em João Pessoa. O tema foi abordado durante 14 minutos, o que representou 37,83% do tempo total do programa jornalístico. No mesmo dia, no jornal da noite, o JPB Segunda Edição, que foi ao ar às 19h15, o tema manifestações e redução
  • 46. 46 das passagens de transportes coletivos teve três minutos dos 16, abertos pela Rede Globo para o telejornal local. Ou seja, 18,75% do JPB. Para que possamos compreender melhor o tempo dado por cada editor de telejornal ao tema manifestações e redução da tarifa dos transportes coletivos no dia 18 de junho, segue um quadro demonstrativo: Tempo total Tempo para o tema % do tema no telejornal Bom Dia Paraíba 48'07" 2'37" 5,00% JPB 1 37'34” 14' 37,83% JPB 2 16' 3' 18,75% Mas, bem antes do jornal da noite do dia 18 ir ao ar, ainda no início da tarde, ao final do JPB Primeira Edição, a equipe de produtores e editores da TV Cabo Branco já começou a pensar e a planejar a cobertura do dia 20 de junho de 2013, como veremos em seguida. Planejamento, véspera da manifestação e dia da cobertura A tarde do dia 18 de junho foi de preocupação e início do planejamento da cobertura do dia da mobilização. Durante a
  • 47. 47 entrevista ao vivo dos estudantes envolvidos com o movimento, no JPB Primeira Edição, eles garantiram que participariam à tarde de uma reunião, com a Polícia Militar, para definir as ruas por onde os manifestantes iriam passar. Porém, pouco tempo depois do fim do jornal, os estudantes decidiram não mais participar dessa reunião e não divulgaram o percurso completo do protesto. Sabia-se que iriam concentrar os grupos em frente ao Lyceu Paraibano, seguiriam para o Parque Solon de Lucena, passariam pelo Palácio da Redenção e de lá iriam para a orla da capital. Mas, não se sabia quais ruas exatamente. Em uma rede social foi postada a informação que um grupo passaria pela porta da TV Cabo Branco e isso gerou preocupação. No mesmo dia, em São Paulo, um carro de uma emissora de TV23 foi queimado. Além disso, jornalistas já tinham sido hostilizados por manifestantes, inclusive profissionais da Rede Globo24. Era preciso cuidar da segurança dos profissionais e da emissora. A partir daí várias decisões foram tomadas. 23 Cf. “Manifestantes tentam invadir e apedrejam Prefeitura de S. Paulo”. In: Globo.com, 18.06.2013. Disponível em: http://migre.me/jCWFv. Acesso em: 15/07/2013. 24 Cf. “Caco Barcellos é hostilizado por manifestantes em São Paulo”. In: Último segundo. Portal ig.com.br. Disponível em: http://migre.me/jCXhv. Acesso em: 15/07/2013.
  • 48. 48 Normalmente à tarde a TV Cabo Branco trabalha com três equipes de externa e à noite com mais duas. No dia da manifestação a chefe de redação, Giulliana Costa, e a editora regional de jornalismo, Tatiana Ramos, decidiram colocar, inicialmente, quatro equipes à tarde. Além disso, teríamos também um cinegrafista de moto, para trabalhar mais próximo da polícia, e um motoboy para recolher com mais agilidade as fitas de cada repórter na rua. Na manhã do dia 19 de junho, a Rede Globo mostrou interesse em ter a cobertura da manifestação de João Pessoa, pediu o repórter de Rede25 e decidiu manter aberto, durante todo o dia, o canal para ao vivo26. Normalmente este canal é aberto quando temos algum material para gerar, ou seja, por tempo limitado. Só em casos excepcionais a Rede abre o sinal de vivo durante todo o dia. Pelas redes sociais se observava um crescimento do movimento em João Pessoa e, a partir daí, a editora regional de Jornalismo e a chefe de redação acharam importante termos imagens aéreas do movimento. Foi decidido que teríamos um 25 São repórteres preparados pela Rede Globo para entrar nos telejornais nacionais da emissora. No caso da TV Cabo Branco, Bruno Sakaue, Hildebrando Neto e Laerte Cerqueira foram preparados para essa atividade, porém, cada telejornal da Rede Globo pode solicitar o repórter que achar mais apropriado para ele e a emissora local, em alguns casos, indica outros repórteres para entradas nos telejornais da Rede. 26 Canal da Embratel para entradas ao vivo na Rede Globo.
  • 49. 49 helicóptero na cobertura com mais uma equipe, a quinta, esta com o repórter de Rede, Bruno Sakaue e o cinegrafista Alexandre Frazão. A TV Cabo Branco não tem helicóptero e a editora regional de jornalismo precisou convencer a direção da empresa a alugar e conseguir uma aeronave, na véspera do movimento. Deu certo. As equipes ficaram distribuídas como mostra o quadro abaixo: Repórter Cinegrafista/Assistente Cobertura Larissa Pereira Wellington Campos/Jardel Mangueira Centro/Antes - Saída do Lyceu e acompanhamento Zuila David Severino Ramos/ Raphael Barbosa Manifestação vista dos prédios do Centro e detalhes Hildebrando Neto Sílvio Vieira Flashs ao vivo e concentração no Lyceu Bruno Sakaue Alexandre Frazão/ Manifestação vista do helicóptero e ao vivo para a Rede Antônio Vieira Edvaldo Júnior Geral/outras pautas fora da manifestação Sem reporter Walter Paparazzo Manifestação ao lado da Polícia Os horários dos editores de texto e de imagens também sofreram modificação no dia do protesto em João Pessoa. Foi decidido que uma das editoras assistentes do JPB Primeira
  • 50. 50 Edição, eu mesma, ao invés de entrar às 7h30 da manhã, entraria às 13h. Na minha responsabilidade ficaram os flashs27 locais, que seriam ao vivo, e o apoio ao editor-chefe do JPB Segunda Edição, Eisenhower Almeida. Giovana Rossini, outra editora assistente do JPB Primeira Edição, que normalmente trabalha a partir das 11h da manhã, no dia 20 foi deslocada para trabalhar à noite. O objetivo era adiantar a edição das reportagens do telejornal de meio-dia de 21 de junho. Dois editores de imagens tiveram seus horários modificados para atender a essas editoras. Além de definir as equipes e as mudanças nos horários do pessoal do jornalismo, a chefe de Redação, Giulliana Costa, e a editora regional de Jornalismo, Tatiana Ramos, decidiram pedir segurança para a equipe que ficaria no carro de ao vivo, fazendo os flashes, em frente ao ponto de concentração. Também ficou definido que as equipes trabalhariam em carros alugados, sem a marca da emissora. Inicialmente, todos foram para a rua com fardamento e canopla28 nos microfones. A Rede Paraíba de Comunicação também contratou seguranças para trabalhar na frente do prédio, onde funcionam a TV Cabo 27 Entrada do repórter, neste caso ao vivo, dando informações do local da manifestação. 28 É a parte do microfone, geralmente em formato de cubo, que recebe a marca da emissora de televisão.
  • 51. 51 Branco, o Jornal da Paraíba, o G1 Paraíba e as emissoras de rádio FM Cabo Branco e CBN. Ainda na tarde do dia 18 de junho, a editora regional de Jornalismo da TV Cabo Branco recebeu um e-mail da Rede Globo reforçando a recomendação sobre a abordagem do tema manifestações. A partir daquele momento, era importante mais cautela. Deveríamos informar o que iria mudar na rotina da cidade, no dia da manifestação, mas tendo o cuidado para não convocar o cidadão. A orientação da Rede fazia sentido, pois, nas redes sociais muitos acusavam a Globo de instigar o movimento e a violência no Sudeste. Na realidade, em nenhum momento a afiliada de João Pessoa recebeu orientação da Rede Globo para incentivar nem para boicotar o movimento. O que deveríamos fazer era informar o que fosse importante para o cidadão naquele momento. Se ele iria ficar sem ônibus, quais as vias que seriam interditadas e se haveria policiamento nas ruas, ou seja, serviço, se havia quebra-quebra, e como a maioria dos manifestantes tinha participado do protesto. No dia da manifestação a cobertura deveria mostrar todos os lados e assim foi feito. Um fato curioso e inédito nessa cobertura: as emissoras de televisão de João Pessoa (TV Tambaú, TV Correio da
  • 52. 52 Paraíba, TV Arapuan e TV Cabo Branco) decidiram concentrar as Unidades de link29, num mesmo ponto, por receio de represália dos manifestantes. A sugestão veio do editor de jornalismo da TV Tambaú, que ligou para as outras emissoras. A ideia foi aceita, como mostra a imagem: Imagem postada no Facebook do jornalista Renato Félix O comentário de um internauta chamou a atenção naquele momento. Daslei Emerson Ribeiro Bandeira insinuou, claramente, que os carros de link das emissoras seriam queimados. Isso, aparentemente, gerou inquietação em quem comanda as emissoras de comunicação na capital paraibana. Os carros foram disponibilizados no Lyceu só durante as primeiras 29 Veículos preparados com antenas e equipamentos especiais para geração do sinal de ao vivo. Os repórteres que entram ao vivo nos telejornais ficam sempre próximos a essas unidades. No caso da TV Cabo Branco, além do cinegrafista, do assistente de externa e do repórter, mais um técnico de manutenção trabalha na unidade para garantir a exibição do ao vivo.
  • 53. 53 horas da manhã. Mas, durante a manifestação, apenas o carro da TV Cabo Branco se manteve no ponto próximo ao local de concentração dos manifestantes. Outra informação curiosa: a postagem acima foi retirada da página do Facebook do jornalista Renato Félix. Só conseguimos a imagem porque a jornalista Giulliana Costa tem como hábito fazer print das páginas que chamam a atenção dela nas redes sociais. No dia 19, o Bom Dia Paraíba, o JPB Primeira Edição e o JPB Segunda Edição abriram espaços para os serviços e as orientações sobre os protestos. Ao todo, foram cinco minutos de informações nos três telejornais da TV Cabo Branco. Já no dia 20, dos 45'47” do Bom Dia Paraíba apenas dois minutos foram dedicados aos serviços da manifestação. Já o JPB Primeira Edição, abriu pouco mais de seis minutos dos 40'10” do telejornal. Entre as notícias sobre o movimento estava a pichação do Lyceu Paraibano. A escola estadual mais antiga da cidade, ponto de concentração dos manifestantes no protesto marcado para as 14h deste dia, amanheceu pichada. Na manhã do dia 20 foram preparadas as pautas para cada repórter e definido o que seria produzido para o JPB Segunda Edição, o primeiro telejornal após a manifestação. Na produção também houve mudança de horário neste dia. A chefe
  • 54. 54 de produção da manhã, Cláudia Richelle, que normalmente trabalha até às 14h, ficou na redação até às 17h, para coordenar a saída das equipes e acompanhar o que estava sendo feito e acontecendo na rua. Já a chefe de produção da tarde, Keli Farias, entrou às 17h, para dar seguimento ao trabalho de Richelle e ficar até mais tarde na redação, dando cobertura às equipes de externa. Também estavam programadas para o mesmo dia manifestações em Campina Grande, Patos e Sousa, no interior do Estado. Essa cobertura foi organizada pela equipe da TV Paraíba, sobre o comando da editora regional de jornalismo, Tatiana Ramos. Tudo estava preparado para garantir uma boa cobertura estadual das manifestações no telejornal da noite e do dia seguinte. Manifestação, hostilidade à imprensa, sem cobertura local A tarde da manifestação começou com ligações falsas para a redação dando informações sobre vandalismo, em uma praça no bairro dos Bancários. Nada se confirmou. As primeiras imagens que chegaram à redação dos manifestantes foram feitas pelo cinegrafista Walter Paparazzo, no bairro de Jaguaribe. Estudantes com faixas e gritando palavras de ordem
  • 55. 55 saíram desse, que é um dos bairros mais antigos da capital paraibana, em direção ao local da concentração. As imagens foram exibidas durante o primeiro flash ao vivo do repórter Hildebrando Neto. Nesse ao vivo, que foi ao ar dentro do primeiro intervalo comercial do Vídeo Show, também foram exibidas imagens da câmera instalada no alto da torre da TV Cabo Branco, que mostravam os primeiros manifestantes chegando ao Lyceu Paraibano e a interdição do trânsito de veículos na área próxima à escola. Depois deste flash o mesmo repórter fez mais dois flashes locais, um Nacional para o Globo Notícia e outros dois para a Globo News. Hildebrando Neto ficou no carro do vivo, numa plataforma montada especialmente para essas entradas. A Unidade de ao Vivo, que durante toda a manhã estava bem em frente a calçada do Lyceu, foi deslocada para o outro lado da rua, para facilitar uma saída de emergência, caso houvesse necessidade. Mas, nesse ponto tudo ocorreu tranquilamente. O repórter e a equipe de técnicos trabalharam sem imprevistos. Porém, pela quantidade de entradas ao vivo foi necessário repassar a pauta do repórter, a matéria sobre a concentração, para outro profissional. Esta foi apenas a primeira mudança no planejamento para a cobertura daquele dia.
  • 56. 56 Quem assumiu a pauta de Hildebrando Neto foi a repórter Zuila David, que inicialmente faria uma matéria do alto dos prédios e dos detalhes da manifestação. Ela acabou entregando para o JPB Segunda Edição uma reportagem sobre a concentração e a saída dos manifestantes do Lyceu. Larissa Pereira conseguiu concluir a matéria sobre o fechamento das lojas do Centro da cidade, pouco antes da manifestação, e seguiu para fazer o material sobre a concentração. Só que esta pauta ela não conseguiu fazer. Desde os primeiros momentos da chegada da equipe ao Lyceu Paraibano, um pequeno grupo de manifestantes começou a insultar a equipe da TV Cabo Branco. Por várias vezes, Larissa Pereira, Wellington Campos e Jardel Mangueira tentaram gravar entrevistas e fazer passagens30, mas foram impedidos. No mesmo instante a repórter entrou em contato com a redação e a chefia recomendou que ela fosse para outro ponto do protesto e fizesse um pré-gravado31. O tempo exíguo não permitia que fosse feita uma reportagem mais completa. De nada adiantou a equipe mudar de lugar, pois, o pequeno grupo de manifestantes seguiu e impediu os profissionais de trabalhar, gritando insultos durante as 30 Parte da reportagem quando o repórter aparece no vídeo com alguma informação. 31 Quando o repórter faz uma passagem maior, resumindo o que aconteceu no local. Eventualmente, na hora da edição, são inseridas imagens e sonoras no material.
  • 57. 57 tentativas de gravações. Segundo Larissa, a equipe chegou a ser encurralada, em frente ao Palácio da Redenção, por mais de 500 pessoas, que foram incentivadas pelo pequeno grupo inicial a insultar e agredir os profissionais. O cinegrafista e o assistente de externa receberam socos nas costas e foram atingidos por garrafas plásticas, a repórter escapou dessas agressões porque foi protegida pelos colegas. “Naquele momento o meu sentimento era de terror. Temia que eles estivessem com pedras, facas ou armas de fogo”, lembra Larissa Pereira. Mesmo com muito medo, a equipe conseguiu registrar parte da hostilidade sofrida e foi esse material que acabou sendo levado para exibir no telejornal da noite. A equipe de Larissa Pereira só conseguiu sair da manifestação depois que a polícia interveio. Por segurança, os profissionais voltaram para a emissora dentro de um carro da Polícia Militar. Muito assustada e nervosa, a repórter precisou ser retirada da cobertura. O cinegrafista e o assistente foram orientados a tirar a canopla e a farda da empresa, e voltaram para a rua com uma jornalista/produtora, que não costuma aparecer no vídeo, para garantir a cobertura do protesto. A mesma estratégia teve que ser usada com a equipe da repórter Zuìla David, que também sofreu agressões verbais e empurrões, durante o protesto. No momento que esses
  • 58. 58 profissionais desceram do prédio de onde acompanhavam a manifestação, para fazer a cobertura no chão, um pequeno grupo de manifestantes tentou impedir o trabalho deles, com faixas contra a Globo e gritando insultos contra os trabalhadores da TV Cabo Branco. Zuila David ainda conseguiu fechar a reportagem sobre a concentração dos manifestantes e outra, sobre a passagem deles por ruas do centro até a chegada ao Palácio da Redenção. Esta última matéria mostrava pequenos grupos quebrando vidraças de um estabelecimento comercial e manifestantes destruindo lixeiras públicas. As imagens da violência no Centro foram registradas pelos cinegrafistas Severino Ramos e Walter Paparazzo. “Já vivi muita coisa nesses anos trabalhando nas ruas como cinegrafista, mas nunca vi nada igual. Fomos agredidos num momento que estávamos fazendo a nossa parte, a nossa obrigação profissional”, relatou o cinegrafista Severino Ramos que, junto com o assistente Raphael Barbosa e a repórter Zuila David precisou da ajuda da polícia para sair da manifestação e voltou para a sede da TV Cabo Branco dentro de um carro da Polícia Militar. Por volta das 17h30 a equipe estava na emissora. A repórter foi trocada por uma jornalista/produtora e
  • 59. 59 o cinegrafista junto com o assistente voltaram à rua sem farda e sem a canopla. Pelo que acompanhamos nas redes sociais e nos jornais das outras emissoras, profissionais da imprensa de outros veículos também foram hostilizados. Alguns foram xingados com palavras de baixo calão, mas não tivemos notícia de agressões físicas graves. Neste momento, a chefe de redação decidiu mudar, também, a pauta do repórter Antônio Vieira. Este, inicialmente, estava designado para cobrir o cotidiano da cidade fora da manifestação. Diante dos novos fatos, a equipe de Antônio Vieira foi relocada para o Busto de Tamandaré, ponto da orla da capital para onde os manifestantes estavam seguindo e terminariam a manifestação. Do alto, no helicóptero, o repórter de Rede Bruno Sakaue e o cinegrafista Alexandre Frazão conseguiram registrar a multidão que foi às ruas na capital paraibana, em 20 de junho de 2013. O vôo foi feito entre às 16h e às 17h30, para garantir a segurança do pouso da aeronave. As imagens foram um diferencial na cobertura da manifestação em João Pessoa, a TV Cabo Branco foi a única a publicar essas imagens. No início da tarde, a concorrência chegou a fazer uma “brincadeira” ao vivo, no estúdio, garantindo que era a
  • 60. 60 primeira emissora a mostrar imagens aéreas da concentração da manifestação. Enquanto o apresentador falava no estúdio e mostrava imagens do alto, um áudio da hélice de um helicóptero, em funcionamento, era ouvido ao fundo. Uma terceira emissora mostrou o cinegrafista forjando as imagens “aéreas” do alto de um prédio próximo à concentração, como se estivesse em um helicóptero. Quando desfeita a farsa, a cena ocupou as redes sociais chegando ao topo do twitter nacional, naquele dia, e ganhando o Top Five de um programa de humor na TV32, que premia os maiores absurdos dos programas de televisão do país durante a semana, sempre às segundas-feiras. Enquanto as equipes estavam nas ruas, na TV Cabo Branco, tudo era acompanhado pelos editores, pelos produtores e pela chefia de redação. As reportagens só começaram a chegar depois das 17h e o editor-chefe do telejornal ia modificando o prelim a cada nova mudança que a ocasião exigia. Foi uma tarde tensa, todos preocupados com os colegas nas ruas e com a qualidade do conteúdo que iria ao ar nos flashs ao vivo e no telejornal. Além disso, outras manifestações ocorriam pelo país naquela mesma tarde do dia 20 de junho e, em alguns locais, houve violência. 32 Cf. “Helicóptero fajuto é o campeão do Top Five”. In: TV UOL.com.br. Disponível em: http://migre.me/jCZoj. Acesso em 15/07/2013.
  • 61. 61 O horário do telejornal da noite ia se aproximando e, a cada momento, a Rede exibia mais imagens dos protestos pelo país. Em um determinado momento, o coordenador de exibição da TV Cabo Branco foi informado que a Rede Globo não iria mais exibir a novela das seis horas, Flor do Caribe, para continuar com a cobertura nacional dos protestos. Isso poderia mudar o tempo do telejornal local e o editor-chefe do JPB Segunda Edição foi avisado que tanto poderia haver um aumento quanto uma redução desse tempo. A partir daí os editores e as chefias da redação e do jornalismo ficaram em alerta. Diante das imagens mostradas, em várias cidades do país, todos compreenderam que a exibição do telejornal local estava em risco e poderia ficar comprometida, com um tempo bastante reduzido. Além disso, a produtora de rede, Jô Vital, foi orientada pela editora regional de Jornalismo a conseguir uma entrada ao vivo da Paraíba, dentro da cobertura nacional das manifestações, que tinha tomado conta da Globo33. Isso não aconteceu. A Rede não abriu espaço para João Pessoa nesse horário. 33 Cf. “Globo abandona grade do horário nobre” (Nelson de Sá). In: Observatório da Imprensa, 25/06/2013, ed. 752.
  • 62. 62 O Editor-Chefe do JPB Segunda Edição fechou o prelim, imprimiu o script34 e seguiu para a produção35 para colocar o jornal no ar. A cada segundo chegava uma informação nova da Rede Globo e a última delas surpreendeu todos os envolvidos naquela operação de exibição do telejornal. A Globo decidiu ocupar o tempo dos telejornais locais de todo o país com a cobertura nacional da manifestação e, excepcionalmente, numa situação que nunca se viu na emissora, seguiu com essa cobertura até o Jornal Nacional deixando de exibir, também, a novela das 19h, Sangue Bom. Tudo, inclusive a comercialização da emissora, foi substituído pela transmissão ao vivo. O que segue abaixo é o depoimento do editor-chefe do JPB Segunda Edição, Eisenhower Almeida, e que certamente representa o sentimento dos editores-chefes dos telejornais locais de todo o país que, naquele dia, prepararam um telejornal local que não foi ao ar, em uma noite que os telespectadores das cidades onde havia manifestações esperavam ansiosos pela cobertura local: 34 Roteiro do telejornal que é impresso e entregue a todos os técnicos envolvidos na exibição do telejornal e ao apresentador. 35 Sala da TV Cabo Branco de onde o jornal é cortado e exibido para chegar à casa do telespectador.
  • 63. 63 “Todo editor de fechamento sente um friozinho na barriga quando prepara um telejornal. E no dia das manifestações a preocupação era maior. Todas as pautas estavam voltadas para o evento. E não sabíamos ao certo o que iria acontecer nas ruas. Depois das capitais do Sudeste, era a vez dos paraibanos protestarem. Montamos um esquema para garantir a cobertura total. Foi um corre-corre daqueles que muitos jornalistas gostam nas redações. Sempre em contato com os repórteres por telefone. A pressa em querer o off36. Repórter gravando texto num canto da rua para evitar ruídos (não tinha condições logísticas de voltar para a redação). A expectativa de que Bruno Sakaue conseguiria mesmo gravar um stand up37 do helicóptero. Bem... a tarde foi passando e tudo foi se encaixando. Aí soubemos que a repórter Larissa Pereira foi hostilizada por manifestantes. Ela não tinha condições psicológicas de fechar mais um material para o jornal (ela já havia fechado um primeiro VT). E rapidamente encontrou-se a solução para dar o caso no jornal. Estava tudo certo até dentro do prazo, sem muitos atropelos. Eis que recebemos a notícia de que a novela das 6h havia sido interrompida para a transmissão das manifestações pela Globo. E que da transmissão ia direto para o jornal. Isso iria aumentar o tempo do jornal. Tínhamos material dos protestos em Campina Grande e em outras cidades do Estado para ajudar a preencher o fade38. Estávamos com a cobertura 36 Texto do repórter que faz parte da reportagem e que é revisado pelos editores antes de ser gravado. 37 Quando o repórter grava o texto aparecendo a maior parte do tempo no vídeo. Assim, passa todas as informações sem necessidade de gravar off. 38 É o espaço aberto pela Rede para exibição do telejornal e dos comerciais locais.
  • 64. 64 estadualizada do movimento. Aí, fomos informados que o fade havia diminuído, mas ainda ficamos com um bom tempo para dar a cobertura de João Pessoa. Os minutos foram passando e nada de a Globo abrir o fade, até que veio a notícia de que o jornal poderia não ser exibido. Pouco tempo depois a confirmação. Se aquele dia era histórico para o Brasil, também era para nós. Não havia JPB Segunda Edição naquela noite. Saí desolado do Controle Mestre,39 quando recebi a notícia. Confesso que até com vergonha de dar a notícia aos meu colegas. Pelo que me lembro, na verdade nem dei. Foi o coordenador da exibição quem confirmou para eles.” Eisenhower Almeida – Editor-Chefe do JPB Segunda Edição. O sentimento de desolação do editor-chefe já tinha tomado conta dos jornalistas que estavam na redação da TV Cabo Branco, naquela noite. Ninguém queria acreditar no que estava acontecendo. Uma grande operação foi montada durante dias e, em um segundo, descobriu-se que nada iria ao ar no telejornal de maior audiência da emissora. Os telefones da redação não paravam. A cada instante um telespectador ligava perguntando pelo telejornal, querendo saber o que estava acontecendo. Coube a quem estava na 39 Local onde é feito o controle de tudo que é exibido pela emissora e no qual ocorre a comunicação entre a emissora local e o Controle Mestre Rede Globo.
  • 65. 65 redação explicar a decisão da Rede Globo e garantir que toda a cobertura estaria nos telejornais do dia seguinte. E foi exatamente isso que aconteceu. O Bom Dia Paraíba do dia 21 de junho de 2013 trouxe a cobertura completa da manifestação na capital e nos municípios paraibanos. Dos 46'56” do tempo do telejornal, 24' foram dedicados à cobertura das manifestações locais. Nos telejornais seguintes a cobertura se repetiu com destaque. No JPB Primeira Edição aquela era uma sexta-feira especial, pois o jornal deveria ser totalmente transmitido de Campina Grande, com atrações juninas e, unicamente, os fatos mais relevantes da manhã. Era dia do “JPB São João”40, mas, os fatos da quinta-feira, 20 de junho de 2013, superaram o que estava programado e planejado para o dia 21. Dos 34'22” abertos pela Rede para o JPB Primeira Edição, 17' reportaram as manifestações da tarde do dia anterior. E o JPB Segunda Edição encontrou uma forma diferente de destacar a manifestação. O editor-chefe optou por exibir clips41 com pouco mais de um minuto, cada, antes das 40 No mês de junho, todas as sextas-feiras o JPB Primeira Edição é transmitido de Campina Grande. São programas especiais, programados com antecedência e que valorizam as festas juninas dessa época. 41 Edição que reúne áudio e imagens, sem texto. O áudio pode ser o da imagem ou uma música e junto com as imagens transmitem uma mensagem determinada. No caso em questão, a participação dos paraibanos na manifestação em 20/13/2013.
  • 66. 66 duas passagens de bloco42, com imagens e áudios das manifestações em João Pessoa. Antes da entrada dos clips foi dada uma explicação ao telespectador. O texto antes da primeira entrada foi o que segue abaixo. Ontem, por causa da transmissão nacional das manifestações em várias capitais e cidades brasileiras, o JPB Segunda Edição não foi exibido. Para o jornal desta sexta-feira, nós separamos as melhores imagens e depoimentos gravados pelas equipes da TV Cabo Branco, desde o início da tarde até o término da caminhada, no Busto de Tamandaré. Veja a primeira parte agora. E esta foi a forma encontrada pelos profissionais da TV Cabo Branco para levar aos paraibanos as imagens e os fatos daquele dia 20 de junho de 2013. No dia seguinte, a gerência de Programação da Rede Globo entrou em contato com a direção do jornalismo local e pediu uma avaliação do que tinha ocorrido, como as pessoas tinham recebido aquela decisão de exibir a cobertura nacional e não deixar espaço para o telejornal local, para balizar futuras decisões. A editora regional de jornalismo informou que a repercussão tinha sido muito negativa e lembrou o grande 42 Momento em que o apresentador diz quais os destaques do bloco seguinte e entram os comerciais.
  • 67. 67 número de ligações e reclamações recebidas pela redação, naquela noite, além da frustração dos profissionais envolvidos na cobertura. Conclusões Como funcionária da TV Cabo Branco, com mais de 20 anos de casa, afirmo que a afiliada mobilizou-se, envolveu vários departamentos e deu todo o apoio ao jornalismo para que, no dia 20 de junho de 2013, fosse feita uma grande cobertura das manifestações por melhorias no sistema de transporte público e outros serviços. Recebemos tudo que pedimos: do motoboy ao helicóptero. Cada profissional chamado para trabalhar estava lá, disposto a fazer o melhor e em alguns casos, arriscar a vida para garantir uma cobertura de qualidade. Até quem não foi chamado não se furtou ao trabalho, como o caso da apresentadora e repórter Patrícia Rocha. Ela não foi convocada, mas passou a tarde na empresa adiantando o prelim do telejornal, a ser apresentado no dia seguinte, o Bom Dia Paraíba, e ajudando a produção nos contatos com as equipes que estavam na rua.
  • 68. 68 Na verdade era lá fora que Patrícia queria estar. Em determinado momento da tarde ela virou para mim e disse “Não sei como vocês aguentam ficar aqui dentro, enquanto tudo está acontecendo lá fora. Eu quero ir pra rua!” Eu sorri e disse: “Amiga, esta é nossa agonia diária. Sabemos que tudo está acontecendo lá fora, há momentos em que desejamos ir lá fora, mas compreendemos que é preciso ter alguém aqui dentro, para organizar o que vem da rua e levar o melhor para os telespectadores, em tempo e no prazo que temos, durante a manhã ou à tarde, para deixar tudo pronto. Cada um faz a sua parte e precisa administrar suas agonias. Acalme seu coração”. Não consigo esquecer os rostinhos dos jornalistas mais novos da redação, que em nenhum momento imaginavam que o jornal poderia não ir ao ar. Para quem estava ali há muito tempo, essa possibilidade passou a ser real quando observamos o movimento de exibição da Rede Globo. Porém, mesmo os mais antigos, diante dos fatos locais daquele dia, tinham a esperança de que a Programação da Rede deixaria pelo menos alguns minutos para as emissoras mostrarem os protestos das suas cidades. Não foi o que aconteceu. Como jornalista só pensava nos telespectadores fiéis, naqueles que não paravam de ligar querendo uma explicação e reclamando. Procurei dar ainda mais atenção a cada um que
  • 69. 69 atendi naquele dia. Como cidadã paraibana compreendia todos eles. Era um momento histórico, a Paraíba tinha demorado para entrar no processo das manifestações, mas entrou, e, naquele dia, todos queriam ver como nosso povo tinha se comportado, o que tinha acontecido naquela tarde, em cada canto da cidade e do Estado onde houve protesto. Confesso que, como jornalista e cidadã, me emocionei ao ver na ilha de edição aquelas imagens. E foi lindo ver as pessoas na rua de forma civilizada, pedindo o que é direito e deveríamos ter desde sempre: saúde, educação, transporte público. Além disso, observar que aquela multidão também queria algo que acho fundamental para o país: mudanças no comportamento dos políticos. Acredito que o recado das ruas foi simples: se vocês não mudam, nós mudamos vocês. Claro que não aceitamos, nem gostamos de ver as agressões físicas e verbais aos nossos colegas, mas compreendemos que esse foi um comportamento isolado e de uma minoria. De maneira geral, a Paraíba deu exemplo de bom comportamento na manifestação de 20 de junho de 2013. Uma imagem marcante do que falamos aqui foi a de cidadão distribuindo rosas com os policiais que trabalhavam, para dar segurança a todos. Segundo balanço da Polícia Militar, nenhum incidente grave foi registrado durante os protestos.
  • 70. 70 Enquanto funcionária, não posso julgar a decisão da Rede Globo de mudar toda a grade de programação e não deixar espaço para as emissoras locais exibirem seus telejornais naquele dia, mas, como cidadã, posso afirmar que o sentimento da maioria dos paraibanos, naquele dia, foi de desrespeito. A jornalista compreende o peso da cobertura nacional da manifestação e a decisão tomada, por quem comanda a Globo, mas, a paraibana gostaria muito de ter tido o direito de assistir a cobertura local, com as imagens da minha cidade, no JPB Segunda Edição, naquele dia histórico.
  • 71. 71 O Radiojornalismo da CBN nos Protestos em João Pessoa: Relatos de Cobertura Edileide Oliveira BEZERRA43 Olga TAVARES Introdução Quando os protestos começaram em São Paulo, acompanhamos as notícias principalmente pela televisão. Inicialmente, causou certo estranhamento o fato de o motivo divulgado pelos telejornais ser somente o preço das tarifas de transporte público na capital. É verdade que, meses antes, Porto Alegre tinha vivido uma série de protestos violentos por conta do aumento das tarifas, mas, no caso de São Paulo, o fato se prolongou e, como um rastilho de pólvora, se espalhou para o Rio de Janeiro e outras capitais, à medida que os dias passavam, tornando algumas questões mais claras. As manifestações tinham um quartel general nas redes sociais. Assim, como quase tudo na internet, a matriz de pensamento era completamente heterogênea. As tarifas foram apenas o motivo inicial para a eclosão de uma série de 43 Mestranda do PPJ/UFPB; email: edileidejp@gmail.com; olgatavares@hotmail.com (orientadora)
  • 72. 72 insatisfações. Corrupção, cura gay, saúde, educação, mobilidade, PEC 37, PEC 33, enfim, tudo aquilo que parecia injusto aos olhos da população. Esta diversidade, sim, justificava a proporção das manifestações. O fato é que a onda de protestos nas ruas e avenidas importantes das principais cidades brasileiras, organizada pelo Movimento Passe Livre, com o lema “não é por centavos, mas por direitos”, entrou para a história da democracia brasileira no século XXI. Transformou-se em um marco histórico para a ciberdemocracia ao levar às ruas, quase que simultaneamente, milhares de brasileiros, especialmente jovens estudantes, inquestionavelmente mobilizados nacionalmente, por meio da computação social e suas redes de mídias sociais. Levy (2010) afirma que, no tocante aos efeitos sobre a democracia, essa nova realidade, metamorfose da esfera pública, afeta positivamente a capacidade de aquisição de informação, de expressão, de associações e de deliberação dos cidadãos. Segundo este autor, A computação social aumenta as possibilidades da inteligência coletiva e, por sua vez, a potência do “povo”. Outro efeito notável dessa mutação da esfera pública é a pressão que ela exerce sobre os administradores estatais e sobre os governos para
  • 73. 73 mais transparência, abertura e diálogo. (LÉVY, 2010, p.14) (grifo do autor) Corroborando com essa linha de raciocínio, Primo (2013, p.17) ressalta que, com a “emergência das tecnologias de comunicação e informação a liberdade de expressão dos cidadãos pode ser potencializada via mídias digitais”. Um exemplo são esses protestos que ganharam proporções gigantescas em nível nacional, a partir de práticas de ciberativismo, sendo assim uma verdadeira prova da força dos meios digitais, no aspecto de articulação, mobilização e ações políticas, como bem coloca este autor. A rigor, não há como deixar de reconhecer a importância política da liberdade de expressão promovida pelas interfaces fáceis e baratas (ou gratuitas) dos meios digitais. Nem tampouco pode-se ignorar a força dos movimentos espontâneos em rede, cujos efeitos antes não eram possíveis em uma sociedade caracterizada pela mídia de massa. (PRIMO, 2013, p.17) Por outro lado, vale lembrar que nem mesmo o imediatismo da rede mundial de computadores superou a agilidade do rádio no que se refere à cobertura jornalística. O rádio brasileiro, principalmente as estações que dispõem de departamentos de jornalismo, um exemplo disso, são as rádios All News, emissoras 100% notícias, utilizando-se
  • 74. 74 também da praticidade das tecnologias móveis, possibilitou acompanhar de perto os protestos ocorridos nas principais cidades do país, exercendo, plenamente, uma das principais características no fazer jornalístico em rádio: o imediatismo. Este artigo tem por objetivo relatar a experiência dos jornalistas da CBN na cobertura dos protestos de rua acontecidos em João Pessoa. Emoção nas ondas do rádio Um episódio que pode comprovar a presença marcante dos repórteres das rádios nas manifestações, direto dos locais das passeatas, foi vivido por Genilson Araújo, da CBN Rio, quando narrou, ao vivo, os confrontos entre a polícia e manifestantes no entorno do Maracanã, na tarde do domingo, 16 de junho de 2013, com entradas durante a transmissão do jogo México e Itália, pela Copa das Confederações. De acordo com o radialista, a manifestação seguia de forma pacífica até a ação do batalhão de choque, que tentou dispersar cerca de 500 pessoas, com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Na CBN João Pessoa, nos momentos de análises dos protestos, esse relato foi reprisado e pudemos perceber a emoção e até o choro do repórter:
  • 75. 75 Não houve, por parte, pelo menos dos estudantes, qualquer ato de agressividade. Eles paravam quando a polícia fazia bloqueio e tentavam por outra via e assim faziam. Quando, de repente, apareceu um grupo do batalhão de choque, disparando bombas de efeito moral, com cachorros e bombas de gás lacrimogêneo, dispersando essas pessoas.3 A narrativa de Genilson Araújo ganhou clima de tensão no momento em que ele tentava convencer os policiais a pararem com a investida porque havia crianças no local. Sem perceber que estava no ar, o radialista discutiu com a polícia e, rapidamente, foi parada a transmissão. Pouco tempo depois, ainda na zona de conflito, o repórter voltou ao vivo para explicar a situação. Estamos aqui em uma batalha que só tem um lado atacando, que é o lado do batalhão de choque. Não satisfeitos em afastar os manifestantes do entorno do Maracanã, alguns pelotões permanecem acompanhando os manifestantes que buscaram refúgio na Quinta da Boa Vista, tradicional área de lazer aqui no Rio de Janeiro. Muitas crianças, muitas pessoas idosas. Os policiais ameaçaram entrar com bombas de gás lacrimogêneo quando receberam apelos dos jornalistas para que não entrassem. Eles acabaram acatando.44 44 Cf. Reporter da CBN chorando ao vivo. In: [Audio CBN/RJ]. Disponível em: http://migre.me/jD2BO. Acesso: 04.06.2014
  • 76. 76 O relato de Genilson, por meio das tecnologias móveis, com a utilização do celular, ampliou a sua presença no palco dos acontecimentos, mostrando o quanto o repórter é imprescindível na emissão da mensagem radiofônica. No que se refere ao imediatismo no campo jornalístico, Traquina (2013, p. 35) considera as notícias um ‘bem altamente perecível’, e que, por isso, necessitam de velocidade, evitando a deterioração do valor da informação. Para tanto, “em termos logísticos, o valor do imediatismo leva ao reforço da importância da capacidade performativa dos jornalistas de uma empresa na montagem da cobertura”. As redes nacionais de rádio tiveram papéis importantes na cobertura dos protestos, em algumas cidades do Brasil, realizando giros de notícias ao vivo, entre as praças que compõem essas cadeias, repassando informações de todos os locais com manifestações, como foi o caso da Central Brasileira de Notícias (CBN) que, em vários momentos, acionou, durante os protestos, as equipes que, por telefone celular, relataram os episódios. Mas antes de prosseguir com narrativa dos relatos de cobertura dos protestos, é importante entender a estrutura básica da rádio CBN João Pessoa.
  • 77. 77 CBN João Pessoa Intercalados com os programas nacionais, a CBN João Pessoa tem dois programas de produção jornalística local, o CBN João Pessoa, de segunda à sexta-feira, das 9h às 12h, abordando os principais assuntos da atualidade, em áreas diversas, como política, saúde, economia e cultura. O programa apresenta, diariamente, reportagens externas e entrevistas em estúdio, além de colunas e quadros com temas variados. Já o programa CBN Cotidiano, de segunda à sexta-feira, das 15h às 17h, aborda, como o próprio nome sugere, assuntos que se relacionam ao cotidiano do ouvinte, por meio de entrevistas e colunas. Nesses dois programas, a CBN João Pessoa procurou fazer um trabalho com informação e prestação de serviço, abordando assuntos relacionados ao protesto, na cidade de João Pessoa, desde o início da semana de mobilização, do período de 17 a 20 de junho de 2013. Entre as pautas, inserem-se:  Registro do anúncio do Prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, sobre a redução da tarifa do transporte público da capital. Esta medida repercutiu nacionalmente com entrada ao vivo da repórter local na CBN nacional;  Participação do presidente da Associação das Empresas de Transporte Coletivo de João Pessoa (AETC-JP), Mário
  • 78. 78 Tourinho, que falou sobre a redução da tarifa de ônibus, provocada pela onda de protestos;  Entrevista, por telefone, com um dos estudantes da comissão organizadora do movimento Passe Livre em João Pessoa, Israel Lucena;  Cobertura na reunião entre representantes de Secretarias dos governos estadual e municipal, para discutir e traçar, conjuntamente, estratégias e plano de ação para garantir a segurança e a mobilidade dos cidadãos e dos integrantes do movimento, durante protestos;  Entrevista com o representante da Polícia Militar da Paraíba, que apresentou detalhes sobre o plano de ação da PM, previsto para o dia da manifestação;  Mesa redonda sobre os protestos desencadeados pelo Movimento pelo Passe Livre (MPL) paulista, que ganharam uma dimensão nacional e internacional. Para conversar sobre essa verdadeira “revolução” social, nós recebemos, no estúdio, o antropólogo Wallace Ferreira; o cientista político Ítalo Fittipaldi; coordenador de mídias digitais da Rede Paraíba de Comunicação, Ricardo Oliveira, e o advogado e coordenador do Movimento nas Ruas, de combate à corrupção, advogado Marcos Pires.  Participação do presidente do PT em João Pessoa, Antônio Barbosa, analisando os protestos;
  • 79. 79  Entrevista com o especialista em mídias digitais e redes sociais, Xhico Raimerson, que analisou a força das redes sociais, principais ferramentas utilizadas na divulgação dos protestos pelo país;  Análises diárias dos principais assuntos que constavam na agenda midiática referente aos protestos, com os jornalistas comentaristas do quadro da CBN JP;  Entrevista com o professor universitário, doutor em sociologia, Adriano de León, que analisou os protestos. Estrutura de cobertura No dia da mobilização, 20 de junho de 2013, a reportagem da rádio CBN João Pessoa, ao vivo, entrevistou o diretor de Operações da Secretaria de Mobilidade Urbana (SEMOB), Cristiano Nóbrega, que anunciou o esquema de trânsito e o suposto trajeto dos manifestantes. Nesta data, também ao vivo, entrevistou o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, na Paraíba, Dr. Odon Bezerra, que anunciou o apoio da OAB-PB ao protesto. Acrescentou que disponibilizaria um plantão extraordinário com, pelo menos, vinte advogados, para fazer a defesa de algum participante do protesto, caso fosse necessário, mas nunca, dos vândalos.