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X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.
Avaliação comportamental após a castração de machos de Felis catus
L. abandonados em áreas do prédio central da Universidade Federal
Rural de Pernambuco – UFRPE – Dois Irmãos – Recife.
Bruna Paula Torres Quinto1
, Lady Mary Caraciolo Maia2
e Carlos Fernando Rodrigues Guaraná3

___________________________________________________________________________________________________________
1.Primeira Autora é Aluna do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco.
2. Segunda Autora é Professora Associada do Departamento de Biologia,Área de Ecologia-UFRPE-Universidade Federal Rural de Pernambuco.
3.Terceiro Autor é Professor Adjunto do Departamento de Biologia-Área de Ecologia-UFRPE-Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Introdução
O abandono de felinos domésticos (Felis catus, L.)
por seus proprietários em áreas do Campus da UFRPE
em Dois Irmãos, vem ocorrendo com grande
frequência, embora seja uma prática considerada crime
pela Constituição Federal Brasileira. A justificativa
para essa atitude irresponsável e cruel se baseia
segundo os proprietários no fato da UFRPE ser uma
instituição de ensino, com cursos voltados para
animais, como Medicina Veterinária, Zootecnia e
Ciências Biológicas. O crescimento da população de
felinos tem causado sérios transtornos, levando a
necessidade do controle desta população, o que tem
sido feito através da implantação de um programa de
castração dos animais para posterior adoção. Cada
animal possui uma identidade comportamental e se
caracteriza individualmente e estas diferenças
individuais influenciam as relações do indivíduo no
grupo. Os que são abandonados apresentam
dificuldades para se livrar dos perigos e agressões,
perdendo parte de sua capacidade de defesa, tornando-
se carentes ou arredios e agressivos (ferais) A
castração, método eficaz no controle populacional,
influencia de diferentes formas o comportamento dos
felinos domésticos de acordo com o sexo, idade e
temperamento individual, podendo afetar os
comportamentos sexual, espacial e social [1], [2]. Os
gatos domésticos,quando abandonados se associam em
grupos hierárquicos podendo desempenhar o papel de
líder machos ou fêmeas, bastando para isso provar sua
superioridade. Os grupos que se formam são de
fêmeas, ou de fêmeas com seus filhotes e de machos (1
líder) e suas fêmeas [3], [4].
Este trabalho foi desenvolvido visando avaliar o
efeito comportamental da castração em machos de
diferentes faixas etárias que foram abandonados em
áreas do Prédio Central da UFRPE- Dois Irmãos.
Material e métodos
A. Grupo selecionado
O grupo de felinos, objeto desta avaliação é
composto de animais, com diferentes faixas etárias,
todos foram abandonados por seus proprietários no
Campus da UFRPE, em áreas do Prédio Central.
Foram selecionados 5 gatos machos pertencentes a
um grupo de 13 animais com 5 machos e 8 fêmeas .Os
machos selecionados: “Galego” (líder do grupo, tem 2
anos de idade foi orquiectomizado quando completou
1 ano); “Tonho” (2 anos de idade foi orquiectomizado
aos 8 meses de idade antes de manifestar interesse
sexual por fêmeas); “Euro” (2 anos de idade foi
orquiectomizado quando completou 1 ano); “Raj” (1
ano e meio de idade, não orquiectomizado) e “Heron”
(1 ano de idade, não orquiectomizado).
B. Trato cultural
Os 13 animais foram vacinados e vermifugados,
receberam ração própria para gatos, em comedouros
individuais, e tiveram água disponível em bebedouros
automáticos trocadas duas vezes ao dia. Os gatos como
os felinos em geral, são predispostos a cálculos
urinários, devido a forte concentração de sua urina, o
que é causado em grande parte pela baixa ingestão de
água [5].
C. Período de observação
Os animais foram observados em seu comportamento
alimentar, de demarcação de território, ambiente de
repouso e comportamento social. As observações
foram feitas diariamente em horários alternados pela
manhã, tarde e noite durante o período de um ano.
Resultados
A. Comportamento alimentar
Os treze animais comiam a ração em comedouros
individuais, em alguns casos partilhando o mesmo
comedouro, sem brigas em função da comida, exceto
os animais denominados “Galego” e “Tonho”,
conforme pode ser visto na Figura 1e 1a.
B. Demarcação de território
X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.
Mesmo os castrados, como o “Galego”, “Euro” e
“Tonho” continuaram a demarcar seus territórios com
borrifos de urina. “Heron” e “Raj” continuam
disputando o território com o “Galego”, borrifam urina
e brigam sendo as vezes expulsos da área pelo
“Galego”.
C. Ambiente de repouso
Todos os animais observados dormiram ou
repousaram em atitude relaxada, nas horas mais
quentes do dia, geralmente nos horários de 11h as 16
horas, dormindo em galhos de árvores, telhados,
mesmo no chão se sombreado, ou dentro de caixas de
papelão. Foi constatado que a maioria dos animais
observados prefere se refugiar para repousar e dormir
em galhos das arvores, o que é uma estratégia de
proteção contra o ataque de predadores como os cães e
humanos que freqüentam o campus (figura 2).
D. Comportamento social
Cada um dos 13 felinos observados possui um
comportamento social próprio.
“Galego” (figura 3) líder do grupo, sua pelagem de
cor laranja e branca, comia na área do grupo mais em
local afastado dos demais membros não admitindo a
proximidade de nenhum animal do seu comedouro,
mesmo após a orquiectomia, permaneceu como líder
do grupo. Engordou, não apresentou queda de
pelagem, a qual permaneceu com brilho e crescimento
normais. Manteve seu território demarcado com
borrifos de urina, não admitindo a proximidade de
machos estranhos ao grupo. Não perdeu o interesse
sexual por fêmeas no cio. Sua convivência com as
fêmeas adultas e machos jovens e castrados é pacífica,
mas as vezes agredia as fêmeas castradas.
“Tonho” (figura 4) de pelagem cinza grafite, após a
castração afastou-se do grupo, tornou-se um animal
muito dócil mas solitário, circulando sempre em busca
de pessoas para receber carinho e atenção. Fazia suas
refeições sozinho, totalmente afastado do grupo em
local fora do território original, geralmente nas
dependências do Diretório Acadêmico de Química.
Engordou, não apresentou queda de pelagem após a
castração a qual manteve o brilho e crescimento
normais. Não apresentou nenhum interesse por fêmeas
no cio agredindo as fêmeas castradas ou inteiras que se
aproximavam.
“Euro” (Figuras 5 e 6) com pelagem preta e branca,
após a castração, comia com os demais membros do
grupo, sem brigas ou problemas, dividindo o
comedouro com outros gatos machos ou fêmeas.
Apresentou queda da pelagem quatro meses após a
castração, chegando a perder quase completamente seu
pelo. Manteve o interesse sexual por fêmeas no cio.
Não agredindo as castradas. Por vezes desaparecia por
um dia ou dois, retornando com mordeduras e
arranhões.
“Raj” (Figura 7) Pelagem cinza esverdeada e parte
branca, macho jovem inteiro, de temperamento feral,
não aceitava a aproximação de humanos, disputava
constantemente o território com o líder “Galego”,
alimentava-se junto com o grupo, mas sem dividir seu
comedouro. Na ausência de fêmeas em idade
reprodutiva no grupo, insistiu na copula com as
fêmeas jovens de dois a três meses, chegando a
provocar em duas delas o cio precoce e a gestação em
uma. Desaparecia passando dois três dias fora,
retornando machucado com mordeduras e arranhões.
“Heron” (figura 8) Pelagem branca com partes
amareladas no dorso, macho jovem inteiro, fazia sua
refeição junto ao grupo sem brigas, apresentando
temperamento dócil, admitindo a aproximação de
humanos e permitindo ser acariciado. Insistia na
copula com fêmeas castradas e com fêmeas jovens de
dois a três meses. Desaparecia às vezes durante um
dia, retornando normalmente sem machucaduras, só
com a pelagem suja, talvez pela coloração do pelo.
Conclusões
1. A castração alterou os comportamentos sexual,
social e espacial dos felinos observados;
2. Com a castração ocorreram alterações na
fisiologia de alguns animais, como queda de pelagem,
além de alterações de peso;
3. Os machos jovens inteiros causaram o cio precoce
em fêmeas de dois a três meses, provocando inclusive
a prenhes em uma delas.
Agradecimentos
A pró-reitoria de Atividades de Extensão pela
aprovação do projeto e concessão de bolsa para aluno.
REFERÊNCIAS
[1] MERTENS, C. & SCHAR, R. PRACTICAL ASPECTS OF RESEARCH
ON CATS TURNER. D. C. & BATESON. P. “THE DOMESTIC CAT” 5TH
REPUNTING CAMBRIDGE. CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS, 1988.
CAP 13. P. 179-190
[2] HART, B. L. & ECKSTEIN, A. R. THE ROLE OF GONADAL
HORMONES IN THE OCCURRENCE OF OBJECTIONABLE
BEHAVIOURS IN DOGS AND CATS. APPL. ANIM. BEHAV. SCI., 52, P.
331-344, 1997.
[3] CROWELL-DAVIS S, L., & BARRY K WOLFER R. SOCIAL
BEHAVIOR AND AGGRESSIVE PROBLEMS OF CATS. VETERINARY
CLINICS OF NORTH AMERICA SMALL ANIMAL PRATICE, V. 27 P.
549-568, 1997.
[4] DURR, R. & SMITH, C. INDIVIDUAL DIFFERENCES AND THEIR
RELATION TO SOCIAL STRUCTURE IN DOMESTIC CATS. J. COMP.
PSYCH., 111(4), P. 412-418 ,1997.
[5] LAZZAROTTO , J. J. DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR
DOS FELINOS ASSOCIADA AOS CRISTAIS DE ESTRUVITA. REV. FAC.
ZOOTEC. VET. AGRO. URUGUAIANA, V. 718, N. 1, P. 53-56,
2000/01.
X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.
Figuras: 1. e 1ª. “Galego” e “Tonho” se alimentando separados do grupo. 2. “Galego” repousando no telhado. 3. Pelagem do
“Galego” após castração sem queda de pelos. 4. “Tonho” repousando no DA de Química. 5. “Euro” se alimentando junto ao grupo.
6. Queda de pelo de “Euro” após castração. 7. “Raj”, após alimentar-se com o grupo. 8. “Heron” se alimentando junto ao grupo.

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Comportamento de gatos após castração

  • 1. X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro. Avaliação comportamental após a castração de machos de Felis catus L. abandonados em áreas do prédio central da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE – Dois Irmãos – Recife. Bruna Paula Torres Quinto1 , Lady Mary Caraciolo Maia2 e Carlos Fernando Rodrigues Guaraná3  ___________________________________________________________________________________________________________ 1.Primeira Autora é Aluna do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco. 2. Segunda Autora é Professora Associada do Departamento de Biologia,Área de Ecologia-UFRPE-Universidade Federal Rural de Pernambuco. 3.Terceiro Autor é Professor Adjunto do Departamento de Biologia-Área de Ecologia-UFRPE-Universidade Federal Rural de Pernambuco. Introdução O abandono de felinos domésticos (Felis catus, L.) por seus proprietários em áreas do Campus da UFRPE em Dois Irmãos, vem ocorrendo com grande frequência, embora seja uma prática considerada crime pela Constituição Federal Brasileira. A justificativa para essa atitude irresponsável e cruel se baseia segundo os proprietários no fato da UFRPE ser uma instituição de ensino, com cursos voltados para animais, como Medicina Veterinária, Zootecnia e Ciências Biológicas. O crescimento da população de felinos tem causado sérios transtornos, levando a necessidade do controle desta população, o que tem sido feito através da implantação de um programa de castração dos animais para posterior adoção. Cada animal possui uma identidade comportamental e se caracteriza individualmente e estas diferenças individuais influenciam as relações do indivíduo no grupo. Os que são abandonados apresentam dificuldades para se livrar dos perigos e agressões, perdendo parte de sua capacidade de defesa, tornando- se carentes ou arredios e agressivos (ferais) A castração, método eficaz no controle populacional, influencia de diferentes formas o comportamento dos felinos domésticos de acordo com o sexo, idade e temperamento individual, podendo afetar os comportamentos sexual, espacial e social [1], [2]. Os gatos domésticos,quando abandonados se associam em grupos hierárquicos podendo desempenhar o papel de líder machos ou fêmeas, bastando para isso provar sua superioridade. Os grupos que se formam são de fêmeas, ou de fêmeas com seus filhotes e de machos (1 líder) e suas fêmeas [3], [4]. Este trabalho foi desenvolvido visando avaliar o efeito comportamental da castração em machos de diferentes faixas etárias que foram abandonados em áreas do Prédio Central da UFRPE- Dois Irmãos. Material e métodos A. Grupo selecionado O grupo de felinos, objeto desta avaliação é composto de animais, com diferentes faixas etárias, todos foram abandonados por seus proprietários no Campus da UFRPE, em áreas do Prédio Central. Foram selecionados 5 gatos machos pertencentes a um grupo de 13 animais com 5 machos e 8 fêmeas .Os machos selecionados: “Galego” (líder do grupo, tem 2 anos de idade foi orquiectomizado quando completou 1 ano); “Tonho” (2 anos de idade foi orquiectomizado aos 8 meses de idade antes de manifestar interesse sexual por fêmeas); “Euro” (2 anos de idade foi orquiectomizado quando completou 1 ano); “Raj” (1 ano e meio de idade, não orquiectomizado) e “Heron” (1 ano de idade, não orquiectomizado). B. Trato cultural Os 13 animais foram vacinados e vermifugados, receberam ração própria para gatos, em comedouros individuais, e tiveram água disponível em bebedouros automáticos trocadas duas vezes ao dia. Os gatos como os felinos em geral, são predispostos a cálculos urinários, devido a forte concentração de sua urina, o que é causado em grande parte pela baixa ingestão de água [5]. C. Período de observação Os animais foram observados em seu comportamento alimentar, de demarcação de território, ambiente de repouso e comportamento social. As observações foram feitas diariamente em horários alternados pela manhã, tarde e noite durante o período de um ano. Resultados A. Comportamento alimentar Os treze animais comiam a ração em comedouros individuais, em alguns casos partilhando o mesmo comedouro, sem brigas em função da comida, exceto os animais denominados “Galego” e “Tonho”, conforme pode ser visto na Figura 1e 1a. B. Demarcação de território
  • 2. X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro. Mesmo os castrados, como o “Galego”, “Euro” e “Tonho” continuaram a demarcar seus territórios com borrifos de urina. “Heron” e “Raj” continuam disputando o território com o “Galego”, borrifam urina e brigam sendo as vezes expulsos da área pelo “Galego”. C. Ambiente de repouso Todos os animais observados dormiram ou repousaram em atitude relaxada, nas horas mais quentes do dia, geralmente nos horários de 11h as 16 horas, dormindo em galhos de árvores, telhados, mesmo no chão se sombreado, ou dentro de caixas de papelão. Foi constatado que a maioria dos animais observados prefere se refugiar para repousar e dormir em galhos das arvores, o que é uma estratégia de proteção contra o ataque de predadores como os cães e humanos que freqüentam o campus (figura 2). D. Comportamento social Cada um dos 13 felinos observados possui um comportamento social próprio. “Galego” (figura 3) líder do grupo, sua pelagem de cor laranja e branca, comia na área do grupo mais em local afastado dos demais membros não admitindo a proximidade de nenhum animal do seu comedouro, mesmo após a orquiectomia, permaneceu como líder do grupo. Engordou, não apresentou queda de pelagem, a qual permaneceu com brilho e crescimento normais. Manteve seu território demarcado com borrifos de urina, não admitindo a proximidade de machos estranhos ao grupo. Não perdeu o interesse sexual por fêmeas no cio. Sua convivência com as fêmeas adultas e machos jovens e castrados é pacífica, mas as vezes agredia as fêmeas castradas. “Tonho” (figura 4) de pelagem cinza grafite, após a castração afastou-se do grupo, tornou-se um animal muito dócil mas solitário, circulando sempre em busca de pessoas para receber carinho e atenção. Fazia suas refeições sozinho, totalmente afastado do grupo em local fora do território original, geralmente nas dependências do Diretório Acadêmico de Química. Engordou, não apresentou queda de pelagem após a castração a qual manteve o brilho e crescimento normais. Não apresentou nenhum interesse por fêmeas no cio agredindo as fêmeas castradas ou inteiras que se aproximavam. “Euro” (Figuras 5 e 6) com pelagem preta e branca, após a castração, comia com os demais membros do grupo, sem brigas ou problemas, dividindo o comedouro com outros gatos machos ou fêmeas. Apresentou queda da pelagem quatro meses após a castração, chegando a perder quase completamente seu pelo. Manteve o interesse sexual por fêmeas no cio. Não agredindo as castradas. Por vezes desaparecia por um dia ou dois, retornando com mordeduras e arranhões. “Raj” (Figura 7) Pelagem cinza esverdeada e parte branca, macho jovem inteiro, de temperamento feral, não aceitava a aproximação de humanos, disputava constantemente o território com o líder “Galego”, alimentava-se junto com o grupo, mas sem dividir seu comedouro. Na ausência de fêmeas em idade reprodutiva no grupo, insistiu na copula com as fêmeas jovens de dois a três meses, chegando a provocar em duas delas o cio precoce e a gestação em uma. Desaparecia passando dois três dias fora, retornando machucado com mordeduras e arranhões. “Heron” (figura 8) Pelagem branca com partes amareladas no dorso, macho jovem inteiro, fazia sua refeição junto ao grupo sem brigas, apresentando temperamento dócil, admitindo a aproximação de humanos e permitindo ser acariciado. Insistia na copula com fêmeas castradas e com fêmeas jovens de dois a três meses. Desaparecia às vezes durante um dia, retornando normalmente sem machucaduras, só com a pelagem suja, talvez pela coloração do pelo. Conclusões 1. A castração alterou os comportamentos sexual, social e espacial dos felinos observados; 2. Com a castração ocorreram alterações na fisiologia de alguns animais, como queda de pelagem, além de alterações de peso; 3. Os machos jovens inteiros causaram o cio precoce em fêmeas de dois a três meses, provocando inclusive a prenhes em uma delas. Agradecimentos A pró-reitoria de Atividades de Extensão pela aprovação do projeto e concessão de bolsa para aluno. REFERÊNCIAS [1] MERTENS, C. & SCHAR, R. PRACTICAL ASPECTS OF RESEARCH ON CATS TURNER. D. C. & BATESON. P. “THE DOMESTIC CAT” 5TH REPUNTING CAMBRIDGE. CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS, 1988. CAP 13. P. 179-190 [2] HART, B. L. & ECKSTEIN, A. R. THE ROLE OF GONADAL HORMONES IN THE OCCURRENCE OF OBJECTIONABLE BEHAVIOURS IN DOGS AND CATS. APPL. ANIM. BEHAV. SCI., 52, P. 331-344, 1997. [3] CROWELL-DAVIS S, L., & BARRY K WOLFER R. SOCIAL BEHAVIOR AND AGGRESSIVE PROBLEMS OF CATS. VETERINARY CLINICS OF NORTH AMERICA SMALL ANIMAL PRATICE, V. 27 P. 549-568, 1997. [4] DURR, R. & SMITH, C. INDIVIDUAL DIFFERENCES AND THEIR RELATION TO SOCIAL STRUCTURE IN DOMESTIC CATS. J. COMP. PSYCH., 111(4), P. 412-418 ,1997. [5] LAZZAROTTO , J. J. DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS ASSOCIADA AOS CRISTAIS DE ESTRUVITA. REV. FAC. ZOOTEC. VET. AGRO. URUGUAIANA, V. 718, N. 1, P. 53-56, 2000/01.
  • 3. X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro. Figuras: 1. e 1ª. “Galego” e “Tonho” se alimentando separados do grupo. 2. “Galego” repousando no telhado. 3. Pelagem do “Galego” após castração sem queda de pelos. 4. “Tonho” repousando no DA de Química. 5. “Euro” se alimentando junto ao grupo. 6. Queda de pelo de “Euro” após castração. 7. “Raj”, após alimentar-se com o grupo. 8. “Heron” se alimentando junto ao grupo.