1) Latour critica as abordagens dicotômicas entre natureza e sociedade nos estudos da ciência, propondo uma fusão dos polos onde ambos se tornam mediadores na construção do conhecimento científico.
2) Ele defende uma "Constituição Não-Moderna" onde não há separação entre objetivo e subjetivo, e sim uma pluralidade de atores que constroem o conhecimento sem se enquadrarem nessas categorias.
3) Isso permite entender fenômenos científicos como híbridos socion
1. One More Turn after the Social
Turn: Easing Science Studies into
the Non-Modern World
Bruno Latour - 1992
Apresentação: Bruno de Pierro – Labjor/Unicamp
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2. -O artigo antecipa a discussão que Latour desenvolve em Jamais fomos Modernos, lançado
em 1994.
-Hibridismo
- Mundo Não Moderno
- Redes
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4. O problema com alguns programas é que eles explicam muito
bem os detalhes da prática científica, mas perdem inteiramente o
controle dos principais objetivos da macro-sociologia - que é um
relato do que mantém a sociedade unida. Esses programas foram
acusados, e com razão, de promover agradáveis estudos de caso,
sem sequer considerar os primórdios da teoria social ou a
relevância política.
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6. teoria literária, biologia, ciência
cognitiva, história cultural, etnologia,
etnografia de habilidades, economia
moral, interacionismo, teorias de rede
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7. É como se nós não pudéssemos ter a
sociologia e o conteúdo da ciência sob
o mesmo olhar de uma só vez!
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9. • Há os que defendem que a pesquisa se faz exclusivamente dentro do
laboratório. Estes seriam os "internalistas" ou "difusionistas". Por outro lado, há
os que entendem que a atividade do laboratório só sobrevive graças à
mobilização política e financeira que se faz do lado de fora do laboratório. Estes
seriam denominados "externalistas“.
• Latour condena tanto os "internalistas" quanto os "externalistas". A crítica que
faz aos internalistas relaciona-se ao fato de pretenderem analisar o processo de
produção científica como sendo exclusivamente fruto do trabalho de
pesquisadores, construindo uma imagem idílica, pura e desinteressada da
atividade científica. Quando se fala de ciência, os leitores, convencidos por esta
perspectiva, pensam logo em sábios célebres, em disciplinas e universidades
com prestígio que produzem novas idéias e conhecimentos completamente
dissociados do que se passa na sociedade.
• Latour: "Não é possível que esta minoria consiga, sozinha, recrutar os fundos
necessários para produzir conhecimento e convencer toda a população de sua
eficácia“.
- Fonte: Tornar-se cientista: o ponto de vista de Bruno Latour - André de Faria Pereira Neto, em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1997000100021
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10. -Alguns estudos amarram, de forma convincente, o tecido da macro-
sociedade aos conteúdos da ciência, e muitos acompanham pedaços de
redes, cujas extremidades são deixadas soltas.
-O que os melhores estudos conseguem alcançar é espalhar (spread)
sucessíveis níveis em cima do outro, o primeiro dos quais é “macro”
enquanto o último é claramente técnico.
- Etnometodologistas: afirmam que o conteúdo técnico local dos
praticantes da ciência deve ser usado para explicar seu próprio mundo.
(Exemplo de internacionalismo e sociologia radical).
- Depois Latour critica o relativismo com que pode ser interpretada a
Teoria Ator-Rede: “Everything being a network, nothing is”.
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13. Um radical é alguém que afirma que o conhecimento científico é
inteiramente construido a partir das relações sociais.
Um progressista é aquele que diria que o conhecimento é
“parcialmente” construído fora das relações sociais, mas que a
natureza de algum modo “vaza” no final.
Um reacionário é alguém que afirmaria que a ciência torna-se
realmente científica somente quando ela finalmente lança (perde)
qualquer vestígio de construção social.
Enquanto um conservador diria que embora a ciência escape da
sociedade, há ainda fatores da sociedade que “vazam” e
influenciam seu desenvolvimento.
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15. A única forma de continuar nosso trabalho é abandonar este
quadro de referências e estabelecer um outro padrão.
Nós não queremos divisões mais finas e
novas escolas de filosofia da ciência. Nós
queremos que a filosofia faça seu
trabalho e descubra a origem do
critério para podermos superá-lo.
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18. É possível construir uma outra
escala que nos permitiria avaliar
trabalhos e argumentos em uma
segunda dimensão não redutível à
única escala descrita no slide
anterior?
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19. Desde que muitos filósofos tem
tentado superar a dicotomia
subjetivo-objetivo, ele têm sido
incapazes de nos oferecer uma
descrição precisa da prática
científica e estão muitas vezes
em volta de uma nuvem
espessa.
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20. O primeiro movimento é uma contra-
revolução copernicana que força os dois
polos Natureza e Sociedade a se mudarem
para o centro e a se fundirem um ao outro.
Esta fusão, porém, não é uma questão
simples e as propriedades dos dois polos
tem de ser completamente redistribuídas,
uma vez que que foi sua separação que os
definiu.
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21. A principal propriedade do polo objetivo foi garantir
que nosso mundo de conhecimento não seja um
feito humano (definições possíveis de humano:
mente, cérebro, self, coletivo).
Enquanto a principal propriedade do polo subjetivo
foi, ao contrário, garantir que nosso conhecimento
seja proveniente do humano (atividade humana:
ego, sociedade, subjetivo, mente, cérebro,
epistemes, jogos de linguagem, praxis, trabalho).
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22. Nós sempre sentimos necessário alternar entre duas
explicações assimétricas para a solidez da realidade -
construtivismo ou realismo.
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23. Como podemos fundir os dois polos juntos e
ainda reter suas três principais propriedades?
a) a origem não-humana do conhecimento.
b) a origem humana do conhecimento.
c) a completa separação dos dois.
As duas garantias remanescentes são fortemente afetadas pelo abandono da terceira.
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24. “Os dois repositórios assimétricos do realismo e do
construtivismo são imagens de espelho um do
outro. A simetria deles é tão exata que um
completamente coerente quadro pode ser fornecido
se nós retemos as das primeiras garantias a
descartamos a terceira. O preço a pagar por isso:
abandonar a Crítica, ou em outras palavras,
reescrever a Constituição Moderna”.
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26. Etnografia e o Construtivismo Social (Antropologia da Ciência I;
Karin Knorr-Cetina, Bruno Latour) A tese de que a ciência é
"construída" pelos homens, e não dada pela natureza, tem
levado a estudos nos quais os cientistas sociais vão ao
laboratório de outro cientista observar como o conhecimento é
construído. Aqui a descrição é mais importante do que a
explicação, ao contrário dos casos anteriores. Dentre as teses
construtivistas apresentadas por Knorr-Cetina estão: i) A
realidade é um artefato com o qual o cientista opera; ii)
Operações cientificas estão impregnadas de decisões; iii)
Seleção dos tópicos de pesquisa depende do contexto.
Fonte: Filosofia e Sociologia da Ciência, Uma Introdução, de Osvaldo Pessoa Jr.:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/sociociencia.htm
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27. Mudanças que ocorrem quando se
abandona a ideia de separação
entre Objetivo e Subjetivo
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28. 1) Em vez da oposição de transcendências entre Natureza e
Sociedade, nós temos somente uma transcendência.
Nós vivemos em uma Sociedade que nós não fizemos,
individualmente ou coletivamente, e em uma Natureza que
não é resultado de nossa fabricação. Mas a Natureza “lá
fora” e a Sociedade “lá em cima” já não são ontologicamente
diferentes. Nós não fazemos, ou fabricamos, Sociedade, mais
do que fazemos ou fabricamos Natureza. E, portanto, a
oposição entre ambas não é necessária.
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29. 2) Sociedade (ou subjetividade, mente, cérebro...) não pode
ser usada para explicar a prática científica e, claro, a
Natureza também não pode - uma vez que ambas são
resultado da prática do fazer ciência e tecnologia. Este novo
princípio generalizado de simetria flui diretamente do
desenvolvimento do science studies e é sua mais importante
descoberta filosófica. Mesmo quando a ciência estabelecida
e a sociedade estável foram estudadas juntas, sua produção
comum ainda não era visível. Somente quando ciência em
ação e sociedade “in the making” foram estudadas
simultaneamente este fenômeno se tornou observável.
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30. 3) Na Constituição Não-Moderna (de que fala
Latour): tudo de interessante começa em o que já
não é um ponto de encontro, mas a origem da
realidade. Na Constituição Moderna, alguém
poderia dizer que esta produção foi um híbrido das
duas formas puras.
Na Constituição Não-Moderna, poderia ser dito
que isso é um eufemismo para falar de híbridos ou
monstros.
Latour cita exemplos, como ondas de gravidade e
micróbios de Geison, como coisas que não são
metade natural e metade social. Eles não são nem
objetivo, nem subjetivo, nem a simples mistura das
duas coisas. São “quasi-objects”.
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31. 4) Uma história comum das sociedades e das coisas. Os
micróbios de Pasteur não eram entidades atemporais
descobertas por Pasteur, nem dominação política imposta
ao laboratório pelo estrutura social do Segundo Império.
Nem mesmo eles eram uma simples mistura da pureza de
elementos sociais e forças estritamente naturais. Eles, os
micróbios, são uma nova ligação social (social link) que
redefine imediatamente do que a natureza é feita e do que
a sociedade é feita.
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32. 5) Temos a permissão de ter muitos polos, de acordo com a
quantidade de atores. Este princípio irreducionista é
provavelmente a consequência mais contra-intuitiva dos
science studies. Monstros que a Constituição Moderna
desejou decompor em das formas puras estão de volta,
reivindicando um status ontológico que não se assemelha ao
das desamparadas e passivas coisas em-si-mesmas, nem se
assemelham aos humanos entre si. Meros intermediários na
Constituição Moderna, eles agora se tornaram completos
mediadores na Constituição Não-Moderna, que é mais
democrática.
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34. Até então, fomos moldados pela ideia de que nós
fomos algum dia modernos. O que estamos
testemunhando, e o que explica o presente
interesse em science studies, é o fim dessa crença
e o fim dos dois Esclarecimentos. O primeiro
Esclarecimento usava o polo Natureza a fim de
desmascarar a falsa pretensão do social. As
ciências naturais foram finalmente revelando a
natureza e destruindo o obscurantismo, a
dominação e a intolerância. O segundo
Esclarecimento usava o polo social para
desmascarar o falso pretexto da natureza. As
ciências sociais - economia, psicanálise, sociologia,
semiótica - foram finalmente revelando as falsas
alegações do naturalismo e do cientificismo.
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