A pesquisa analisa comparativamente as formas de apropriação de espaços históricos restaurados em cidades cuja cultura e morfologia possuem semelhanças, devido à sua relação histórica colonial. A realização de pesquisa iconográfica e de entrevistas em Coimbra objetivou traçar um paralelo entre o tratamento de áreas preservadas no bairro inaugural da cidade de Belém do Pará e no Centro Histórico de uma cidade portuguesa. Desta forma, selecionou-se a área intramuros da Almedina (Coimbra) e a região de entorno do
Complexo Feliz Lusitânia (Belém) com o objetivo de detectar as percepções da população moradora e dos personagens envolvidos nessas ações. Destaca-se na análise a repercussão das intervenções no cotidiano dessas áreas.
Da Almedina à Feliz Lusitânia: personagens do patrimônio histórico
1. Da Almedina
Feliz Lusitân
personagens
patrimôn
348
2. aà Da Almedina à
nia: Feliz Lusitânia:
s do personagens do
patrimônio
ônio
CYBELLE SALVADOR MIRANDA
Universidade Federal do Pará, Brasil
349
3. Miranda, C. S.
DA ALMEDINA À FELIZ LUSITÂNIA: PERSONAGENS DO
PATRIMÔNIO
Resumo
A pesquisa analisa comparativamente as formas de apropriação de espaços
históricos restaurados em cidades cuja cultura e morfologia possuem se-
melhanças, devido à sua relação histórica colonial. A realização de pesquisa
iconográfica e de entrevistas em Coimbra objetivou traçar um paralelo entre
o tratamento de áreas preservadas no bairro inaugural da cidade de Belém
do Pará e no Centro Histórico de uma cidade portuguesa. Desta forma, sele-
cionou-se a área intramuros da Almedina (Coimbra) e a região de entorno do
Complexo Feliz Lusitânia (Belém) com o objetivo de detectar as percepções
da população moradora e dos personagens envolvidos nessas ações. Destaca-
se na análise a repercussão das intervenções no cotidiano dessas áreas.
Palavras-chave: Patrimônio, restauração, centro histórico, percepções das
pessoas.
FROM ALMEDINA TO FELIZ LUSITÂNIA: CHARACTERS OF
PATRIMONY
Abstract
This article compares the forms of appropriation of restored historic places
in cities whose cultures and morphologies share similarities, because of their
colonial history. Combining iconographic research and interviews, a compar-
ison between the historical downtown in both Coimbra and Belém enabled
me to trace a parallel between both cities. I have selected the walled area of
Almedida (Coimbra) and the vicinities of Feliz Lusitânia (Belém) in order to
investigate the perceptions of the people who lived there and were involved
in the restoration processes. I have highlighted the impacts of the remodeling
in their daily lives.
Keywords: Patrimony, restoration, historical center, people’s perceptions.
DE ALMEDINA A LA FELIZ LUSITÂNIA: LOS PERSONAJES DEL
PATRIMÓNIO
Resumen
La investigación analiza comparativamente las formas de apropiación de es-
pacios históricos restaurados de ciudades cuya cultura y morfología tienen
similitudes, por su relación colonial histórico. La realización de la investig-
ación iconográfica y entrevistas en Coimbra objetivó trazar un paralelo en-
tre el tratamiento de áreas preservadas en la ciudad inaugural del distrito de
350 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
4. Da Almedina à Feliz Lusitânia
Belém do Pará y el Centro Histórico de una ciudad portuguesa. Por lo tanto,
hemos seleccionado la zona de intramuros Almedina (Coimbra) y la región
que rodea el complejo Feliz Lusitania (Belém) con el fin de detectar las per-
cepciones de la población residente y los personajes involucrados en estas
acciones. Se destaca en el análisis el impacto de las intervenciones en estas
áreas cotidianamente.
Palabras-clave: Patrimonio, restauración, centro histórico, percepciones de la
población.
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 351
5. Miranda, C. S.
“Reclinada molemente na sua
verdejante colina, como odalisca
em seus aposentos, está a sábia
Coimbra, a Lusa Atenas. Beija-lhe
os pés, segredando-lhe de amor,
o saudoso Mondego. (...) vê-de-la
branquejando, coroado do edifício
imponente da Universidade, asilo
da sabedoria.” “O Primo Basílio”,
Eça de Queiroz (2000: 328-329)
Figura 1. Feliz Lusitânia. Foto de Ronaldo
Marques de Carvalho, 2002.
SOBRE O MÉTODO
“aura” estetizada do bairro da Cidade Velha
A cultura é um contexto dentro do qual os (Benjamin 1985). Na Almedina, as pessoas
acontecimentos sociais podem ser descritos são personagens de um cenário que não é
de forma inteligível, isto é, descritos com monumental, mas formado pela aparência
densidade. A descrição etnográfica é inter- medieval das edificações e do traçado ur-
pretativa, fruto de um discurso social, que bano, onde aqui e ali surgem marcas da mu-
tenta salvar o “dito” num tal discurso da sua ralha, com limites claramente definidos pelo
possibilidade de extinguir-se e descreve um Arco de Almedina (Figura 2). No caminho
universo de forma microscópica. A partir entre a baixa e a Universidade, Almedina é
de um locus definido, pode o antropólogo moradia de estudantes e de idosos, é percur-
estudar seu objeto preferencial: as relações so turístico, é referência histórica, é candidata
sociais. Assim, neste trabalho, os espaços a Patrimônio Mundial.
delineados pelo Complexo Feliz Lusitânia e
pelo Quarteirão Almedina são o palco para a O lugar antropológico é o meio onde se
manifestação de idéias e conceitos dos atores exprime a identidade do grupo, e se define
que circulam neles. Os atores tornam-se per- de acordo com a flutuação de fronteiras
sonagens a medida que o patrimônio é en- ocorrida na história do grupo. Diz Augè:
tendido e recriado como cenário. Assim, se “reservamos o termo ‘lugar antropológico’
na Feliz Lusitânia tudo é belo e iluminado, os àquela construção concreta e sim-
atores sobem ao palco histórico como per- bólica do espaço que não poderia
sonagens, bem no sentido dos tipos ideais dar conta, somente por ela, das
weberianos (Figura 1). Os comerciantes in- vicissitudes e contradições da vida
terpretam e saúdam as mudanças esquecen- social, mas à qual se referem todos
aqueles a quem ela se designa um
do do restante do bairro abandonado, pois
lugar, por mais humilde e modesto
no espaço ‘restaurado” podem circular com
que seja” (Augè 2001:51).
tranqüilidade, freqüentando o “Boteco das
11”, substituto do antigo restaurante, local O lugar antropológico é identitário, relacio-
de sociabilidade das antigas elites. Do mes- nal e histórico, no sentido da vida, situado
mo modo os novos moradores vêem-se portanto no extremo oposto dos “lugares
contemplados nessa dinâmica, atraídos pela de memória”, pois nesses os antigos mora-
dores são “turistas do íntimo”. Buscamos
352 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
6. Da Almedina à Feliz Lusitânia
manece fechada, privando o ambiente de luz
natural. Dentro dela, sentimos devaneios de
tempos de outrora, enquanto admiramos os
púlpitos entalhados em contraste flagrante
com as poltronas estofadas.
No intuito de captar as diversas visões que
possuem sobre a temática da preservação
do patrimônio em Belém, realizou-se docu-
mentação fotográfica e entrevistas com os
usuários do Complexo Feliz Lusitânia2 se-
guindo o método etnográfico, bem como
foi realizada coleta de depoimentos dos
moradores da Cidade Velha e com técnicos
dos órgãos de preservação. A pesquisa de
campo foi realizada entre os anos de 2003 e
2005, tendo como objetivo a elaboração de
Tese de Doutorado.
Figura 2. Arco de Almedina. Foto de Ronaldo
Marques de Carvalho, 2009. Em Coimbra, a pesquisa tomou o método
qualitativo, com observações registradas em
então entender se a Cidade Velha e a Alme- forma de Diário de Campo, acompanhado
dina estão sendo transformados em lugares de percurso fotográfico e de entrevistas
de memória, em cenários sem alma. estruturadas e livres, conforme a oportuni-
“Os centros urbanos no seu esplendor dade. Desenvolveu-se durante o mês de
pós-moderno são algo assim como as julho de 2009, sendo uma aproximação
imponentes cenografias operísticas em breve com o objeto de estudo. A área eleita
que só a contraluz (à revelia da orienta- foi o Quarteirão Almedina, compreendido
ção dos focos de iluminação) deixa ver a pelos limites: Arco de Almedina, Pátio do
urdidura caótica da trama” (Baptista & Castilho, Rua Fernandes Tomás, Beco das
Pujadas apud Frias & Peixoto 2002:20). Cruzes, Rua das Esteirinhas, Rua Joaquim
Os monumentos são expressões tangíveis Antonio de Aguiar, Beco da Carqueja, Rua
da permanência, garantindo a visibilidade do Quebra-Costas, Beco da Imprensa e
da história, contudo, vestidos em roupagens Rua de Sobre-Ripas. A área de Almedina foi
modernas, os edifícios perdem a sua carac- tratada pelo Programa de Recuperação de
terística de ‘autenticidade’ (termo tão caro Áreas Urbanas Degradadas em 1990, 1997
aos estudiosos do patrimônio), passando a e em 2002, com obras de recuperação de
figurar apenas enquanto ruínas de um lugar edificações habitacionais e edifícios públicos,
habitado há tempos e que só possui valor inclusão de pavimentos acessíveis nas vias e
evocativo do passado. Após a ‘revitalização’,1 recuperação de infra-estrutura urbana e com
a Igreja de Santo Alexandre perdeu sua fun- a implantação do Gabinete para o Centro
ção de culto religioso, passando a ambiente Histórico no Arco de Almedina.
do culto artístico onde a porta principal per- A realização de pesquisa iconográfica e de
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 353
7. Miranda, C. S.
entrevistas em Coimbra objetivou traçar do Gabinete para o Centro Histórico de
um paralelo entre o tratamento de áreas Coimbra. Descortina-se um panorama de
preservadas no bairro inaugural da cidade prédios simpáticos de quatro pavimentos e
de Belém do Pará e no Centro Histórico três pavimentos mais sótão, um deles com
de uma cidade portuguesa. Desta forma, café instalado no térreo e esplanada. Um
selecionou-se a área intramuros da Almedina aviso anuncia apoio técnico à Reabilitação de
(Coimbra) e a região de entorno do Complexo imóveis e convida proprietários a candidatar-
Feliz Lusitânia (Belém) com o objetivo de de- se às reformas. Inicia-se a Rua de Fernandes
tectar as percepções da população moradora Thomás, e o primeiro imóvel contém um
e dos personagens envolvidos nessas ações de banner azul com o título “A Alta em alta”,
reabilitação do patrimônio edificado. o que indica que o proprietário do imóvel
aderiu ao Programa PRAUD-OBRAS.
Dobro o Beco das Cruzes, seguindo à
OLHARES SOBRE A ALMEDINA direta até avistar uma bifurcação, ten-
do ao centro o prédio onde funciona a
Real República Prakystão.
ALMEDINA COMO CASA
O prédio à direita encontra-se reformado, e
Hoje Freguesia de Coimbra, a denomi- sigo pela Rua das esteirinhas, à procura do
nação Almedina remonta à tomada pe- Beco da Carqueja. Inquiro uma senhora que
los mouros, e significa “a cidade”, ou acaba de sair de casa, no Beco da Amoreira,
seja, a parte intra-muros. Configura-se e ela indica onde se situa o Beco. Durante
como parte da Alta, a meio caminho a descida, pergunto informalmente sobre as
entre a Baixa comercial e Alta Univer- obras, e ela conta que a sua casa está sendo
sitária. Caracteriza-se culturalmente reformada, mas ela decidiu não mudar-se,
pelas festas dos estudantes, dentre elas, permanecendo na mesma durante as obras
a Serenata Monumental, ato que ante- por medo de perder o valor baixo da renda
cede a Queima das Fitas. Há também que pagam, ela e marido, ambos reformados.
a Feira Medieval, organizada no Largo Dona Maria Olinda Serra e Silva, de 83 anos,
da Sé Velha pela Delegação de Coim- gosta de morar no local, e no momento de
bra do Inatel, Associação para o De- nosso encontro, está se dirigindo ao Centro
senvolvimento e Defesa da Alta de Co- de Convivência Ateneu, para onde vai
imbra (ADDAC) e Câmara de Coimbra, todas as tardes. Ao ser questionada so-
tentativa de recriar as tradições da cidade. bre a possibilidade de me receber em
Na Rua Visconde da Luz, principal artéria sua casa para uma entrevista, não acei-
comercial da Baixa, situa-se a entrada da Al- ta pois teme que o marido não goste.
medina, com a Porta de Barbacã. Olhando Sente-se um pouco incomodada com
para cima, avista-se a Torre de Almedina, as reformas, diante da insegurança de o
e sinto-me numa cabine do tempo. Mas proprietário querer aumentar as rendas.
logo volto ao presente ao olhar as lojas de Despede-se de mim no Largo da Sé Velha,
souvenires que emolduram a porta. À di- onde encontro o Sr. Antonio, morador da
reita, no interior do Arco, abre-se a porta Rua de Quebra-costas, cuja casa está
354 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
8. Da Almedina à Feliz Lusitânia
em obras. O Sr. Antonio Silva, de 83 anos, rassem o fotógrafo que contratara para
mora há 53 em uma residência arrendada, registrar a casa, e mostrou-me com
atualmente com a esposa: “meus filhos são carinho as quatro imagens que restaram.
todos casados, e vivi com a minha sogra. Ao ser questionado se mudaria da casa, afir-
Minha sogra já é falecida.” Nascido em Co- mou que “se fosse pra melhor, pois ia. E se
imbra, na Freguesia de Santa Cruz, ao casar fosse uma renda acessível, porque a minha
viveu na Rua Direita em duas pensões. “De- reforma são 360 euros, são sessenta e pou-
pois saía da Rua Direita e fui para Montes cos contos. (...) Eu vim pra cá a pagar 250 es-
Claros, eram três divisões. E depois vim para cudos, e já era muito dinheiro. A única irmã
aqui há 53 anos, tem quatro divisões: tem ainda viva mora no cimo da Rua das Covas,
estes dois quartos, esta sala e a cozinha, e a hoje Rua Borges Carneiro.
casa de banho. Mas a casa de banho já foi
feita por mim.”3 Durante o dia, “quando me aparece qual-
quer serviços eu faço um fato novo, enquan-
As obras de reforma da casa, da qual ocupa to não tiver ordem pra me mudar pra li, faço
uma das duas frações, começou em novem- uns consertos, porque antes tive muito
bro passado. Comenta que trabalho. Fatos que eu tenho foram todos
“Quando esta casa ali estiver pronta, é feitos por mim.” Quando não há serviço, sai
do mesmo Senhorio a casa ao lado, eu para um passeio pelos arredores, toma um
passo pra lá e depois de arranjado eu café no Bar Sé Velha e lê o jornal.
volto a passar pra qui. Isto estava muito
velho. Este teto fui eu que mandei ar- A Almedina é casa também de estudantes...
ranjar, está agora pra deitar abaixo. Aqui Na República Prakystão converso com
a cozinha, o ladrilho também fui eu Nuno, Catarina, Ana e Tota,4 estudantes da
que mandei arranjar. (Anda pela casa UC que, apesar de algumas divergências, em
e mostra infiltração no quarto). Vê? geral tem uma visão crítica em relação
Quando chove isto molha tudo. Eu tive às obras, como afirma Catarina:
que tirar a cama, queixei-me, A Câmara
contactou o senhorio e eles decidiram É curioso, porque nós vivemos
arranjar-me a casa. Este é o meu quarto: numa casa que está a precisar de
minha mulher dorme aqui e eu durmo ser reabilitada, e temos noção de
ali onde dormia a minha sogra, a cama que, apesar de estar a fazer algumas
de casal está desarmada, para mudar- coisas, não sei com os melhores
mos para lá.” objetivos, não sei até que ponto é
a questão de querer candidatar-se a
Sr. Antonio tem a profissão de al- Patrimônio Mundial da UNESCO,
faiate, e trabalhava no próprio quarto. a ser uma fonte de turismo, porque
Queixa-se da miséria e do desemprego esta zona se vai tornando cara, isto
em Portugal, e da migração que traz é uma zona essencialmente de jo-
insegurança. Conta com emoção o vens e de pessoas mais idosas, só
momento em que os operários iriam que as pessoas mais idosas também
devagarinho vão morrendo e isto
demolir a casa onde nasceu, na Rua
também vai se renovando e não sei
João Cabreiro, em razão das obras para até que ponto não vai se tornar uma
a passagem do Metro. Pediu que espe- zona mais cara, e depois parece-me
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 355
9. Miranda, C. S.
às vezes que são obras de fachada, Dentro da loja (e em expositores
eu já tive em algumas casas reabilita- colocados na rua), para lá de exem-
das mas dá a impressão que a maior plares antigos de livros, alguns deles
parte da reabilitação é exterior, mas ligados à vida acadêmica coimbrã, en-
não tenho a certeza disso. contram-se à venda, sob a forma de
postais e de azulejos, as marcas mais
Nas falas dos entrevistados, personagens estereotipadas do país e da cidade
desse teatro urbano, percebe-se o apego a (...). Subindo para a Sé Velha, na Rua
moradia e a incerteza em relação ao resulta- de Quebra Costas, encontramos um
do das mudanças que a dimensão “patrimo- número crescente de lojas de artesan-
nial” vem agregando ao espaço. As Repúbli- ato. A sua instalação é relativamente
cas fazem parte da identidade de Coimbra recente, tendo ocorrido, na maio-
como setor da vida acadêmica cujo valor ria dos casos, nos últimos 10 anos,
memorial é reconhecido (Frias & Peixoto e os produtos que comercializam
restringem-se quase exclusivamente
2002). No interior da Prakistão observam-se
às cerâmicas “tradicionais” de Coim-
desenhos, pinturas, grafites, testemunhos da bra” (Frias & Peixoto 2002:22-23).
passagem de estudantes ao longo das déca-
das, que marcam a história da curta duração, Durante a caminhada do dia seis de julho, re-
pois a despeito de o imóvel ter uma história tornando ao Largo da Sé Velha, adentro no
de séculos, a micro história contada pelos Cabido Bar e avisto a Srª Rosa Maria,5 que
grafismos também merece atenção durante concede uma entrevista a duas pesquisado-
as reformas. ras da Geografia. Segundo a comerciante, é
preciso dar condições de vida melhor às pes-
soas que habitam a Alta. Habitante da Rua
ALMEDINA COMO PONTO TURÍSTICO do Cabido há 14 anos, tem o Bar do Cabido
desde outubro do ano passado, o qual ad-
Segundo Frias & Peixoto (2002), em Coim-
ministra com o filho. Nascida em Coimbra,
bra a dimensão plástica da patrimonialização
passou muitos anos fora, mas retornou à ci-
não tem sido destacada, apenas aspectos da
dade “porque Coimbra é uma cidade muito
sua economia simbólica. Destaca-se na Al-
especial e quem passa por aqui adora estar
medina o eixo pedonal que se inicia no Arco
aqui. Não se esquece facilmente Coimbra.
de Almedina e, percorrendo a Rua de Que-
Sobretudo quem esteve na Universidade e
bra-costas, termina no Largo da Sé Velha.
viveu vida acadêmica. Tenho um amor mui-
Vejamos o que narram a respeito:
to especial à cidade de Coimbra. É difícil não
“Quem percorre este eixo (ponto de gostar de Coimbra.”
passagem obrigatório para qualquer
turista) depara-se, debaixo do Arco Segundo ela, há poucas mudanças na área:
de Almedina, com uma loja de alfar- “Dessas poucas coisas, umas pra
rabista, como que a simbolizar a melhor outras pra pior. Para melhor
vetustez da cidade. O patrimônio so- tem-se aqui um carro pequenino que
noro de Coimbra faz-se ouvir através passa por essas ruas estreitas, que aju-
de uma música de fundo, audível a da as pessoas mais velhas a dar-lhe
quem passa na rua, que reproduz as perninhas que elas já não tem.
incessantemente fados de Coimbra. Para poder deslocar-se. Essa é uma
356 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
10. Da Almedina à Feliz Lusitânia
das coisas boas. Coisas más por ALMEDINA COMO CAMINHO PARA A
exemplo é que quando as pessoas UNIVERSIDADE
fazem projetos e planos deveriam
vir mais ao terreno estudar, veri- Segundo o histórico da cidade de Coimbra,
ficar e depois aplicar as medidas. a sede da Universidade é a base das relações
O pantufinhas é muito bom, mas que se estabelecem no Centro antigo, em es-
tem o horário que deveria ser mais pecial na Almedina, que se configura como
completo, do meio dia e meia às zona de transição entre a Alta Universitária
três horas não existe”. e a Baixa comercial. Esta visão é veiculada
Segundo Rosa, há dificuldade de os também nas revistas de turismo, que desta-
proprietários recuperarem os imóveis cam o Arco de Almedina “que funcionava
devido às rendas baratas, muito anti- como a entrada principal do burgo. Ainda
gas, e por outro lado os arrendatários hoje o arco é utilizado por muitos estu-
não se preocupam em manter o imóvel dantes como um atalho para a universi-
em boas condições, o que, segundo ela, dade.” (Melo 2009:73)
deveria ser sua responsabilidade. Segundo a comerciante Celeste Antunes,
Como sugestão para o CH, que trabalha na Rua do Quebra-costas há 20
anos, primeiro com uma tabacaria, depois
“(...) seria às pessoas mais velhas com loja de roupas pronto a vestir e hoje
dar-lhes opção de se manterem
vende atoalhados e alguns souvenires, os
aqui ou de irem para um sítio mais
tranqüilo. E depois trazer pra qui a negócios estão piores por causa da crise, que
maior quantidade de gente jovem é mundial. “As grandes superfícies tendem a
possível, e dar-lhe movimento. atrofiar os mais pequenos. Tenho uma clien-
Bons bares, boas esplanadas, bons tela minha que já fiz, portanto, pra atoalha-
espetáculos de rua, é claro que isso dos, pra coisas, facilito os pagamentos, tenho
atrai pessoas, atrai jovens, traz nova essa clientela que é minha. E depois tenho
vida, afasta porque estas ruas escu- os que passam, os turistas, que compram as
ras, afasta os roubos, afasta a droga, coisas como você.”6
que hoje é um dos problemas que
nós temos”. Mora na Rua das Flores nº 20, e aluga quar-
tos para meninas universitárias. Acha que
Neste ponto de vista, a renovação dos hoje os prédios estão mais bonitos, e que
moradores seria a forma de dinamizar mais prédios precisam de melhorias. Quanto
a área, criando atrações culturais que aos turistas, o segmento em que atua, embo-
atraísse turistas. Contudo, o que se vê, ra venda lembranças, não é exclusivamente
apesar da tentativa da Câmara e das dedicado a este público, e possui clientes
associações em divulgar e dinamizar permanentes que “Trabalham nas Univer-
as atrações, como apresentações dos sidades, são de mais perto, mais longe, nós
Fados de Coimbra nas escadarias de já temos clientes já é uma amizade, é quase
Quebra-costas, é o movimento tímido como uma família. Já são muitos anos a
dos moradores idosos e dos jovens, viver com as mesmas pessoas. Qualquer dia
que aos finais de semana deixam a ci- vou-me embora e vai me custar muito, já es-
dade para visitar a família. tou muito habituada com eles.”
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 357
11. Miranda, C. S.
A Sra. Alzenda Lopes, de 70 anos, dona neste momento uma candidatura a
do Mercado no nº 120 da Rua Joaquim de património mundial da UNESCO.
Aguiar acredita que a saída de alguns cursos A envolvente desta zona a candida-
da UC para outros locais de Coimbra tar a património foi chamada de Zona
Tampão da qual faz parte a Alta e a zona
é responsável pelo declínio no movimento
a candidatar a fundos PRAUD. Dessa
da área. “Tínhamos a Faculdade de Letras, forma é necessário oferecer garan-
há pouco tempo saiu a Faculdade de tias a que este espaço seja tratado
Medicina, de Farmácia. Conta que há cerca da melhor forma estando prevista
de 20 anos quando retornou do Brasil, ven- a criação de alguns planos de por-
dia 500 pães de tarde e agora a procura caiu menor e salvaguarda” (Gabinete
para 50. “Quando eu cheguei aqui era muito para o Centro Histórico 2006:8).
freqüentado, nem tem comparação, os
À noite do dia 3 de julho, houve na Via La-
estudantes das ilhas, as pessoas antigas
tina espetáculo da cantora Dulce Pontes, em
que viviam já morreram, e as que fi-
comemoração à premiação internacional
caram se queixam que aqui é muito ba-
recebida pela intervenção no local. Na fala
rulhento. Chega a noite e as pessoas querem
do reitor da Universidade, destaca-se a in-
descansar e não descansam. Eu como cá
dignação do mesmo diante das críticas aos
não moro não sei.”
altos custos da restauração, sob o pejorativo
Com relação ao futuro da Almedina, é pes- apelido de “pedras velhas”, acentuando a
simista, pois acredita que as casas ficarão importância histórica da Universidade e sua
devolutas, sem ter quem as queira habitar. candidatura a Patrimônio da Humanidade
Percebe-se, portanto, que o dinamismo pro- pela UNESCO.
movido pela presença dos universitários é
Em entrevista, a Arquiteta Claudia Ascenso
essencial para que a Almedina permaneça
do Gabinete para o Centro Histórico relata o
viva e renovada, como bem observam as
processo de recuperação utilizado no Quar-
comerciantes. O contato permanente com
teirão Almedina, como parte do Programa
os clientes torna-se hábito e até amizade, ao
de Recuperação de Áreas Urbanas Degrada-
contrário da relação com o turista, marcada
das (PRAUD 2002), o qual coordena desde
pela impessoalidade.
2006. Inicia o relato:
“A situação que nos deparamos há al-
ALMEDINA: ÁREA CRÍTICA OU guns anos é assim: as casas estão devolu-
PATRIMÔNIO MUNDIAL? tas, algumas estão mesmo a necessitar de
obras, condições de habitabilidade, por
No site da Câmara, a política de Reabilitação vezes sem casa de banho e sem alguma
é definida: “Mais do que recuperar, importa espécie de cozinha. Essa é a situação que
reabilitar.” Percebe-se a ênfase no sentido de nós encontramos hoje em dia. Para nós
devolver as qualidades perdidas nas edifica- fazermos face a todas essas condições,
ções, em busca da autenticidade (ver Peixoto a Câmara conseguiu estabelecer um
2006). Segundo o Dossiê de Candidatura ao programa municipal, que é o PRAUD,
Programa de Reabilitação de Áreas Ur-
PRAUD 2006:
banas Degradadas, em que ela con-
“A Universidade de Coimbra organiza tribui com 25% do valor das obras
358 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
12. Da Almedina à Feliz Lusitânia
previstas. Outros 25 % é do estado, turo” arca com as obras, e dá ao proprietário
ficando os restantes 50% a cargo do uma percentagem de custo do terreno com
proprietário. Ou seja, como é que isso se o imóvel como estava. “O proprietário fica
processa: nós analisamos um quarteirão, sempre com uma fração. O objetivo da Câ-
que é o chamado Quarteirão Almedina,
mara é por esses imóveis a venda por preços
depois posso falar temos outros tipos
de quarteirão mas o mais emblemático
muito mais reduzidos, porque aqui a especu-
e o Quarteirão da Almedina, que se vê lação imobiliária é muito grande, porque isso
mais obras, que foi inicial, nós fizemos uma vai ser classificado como Patrimônio Mun-
candidatura e essa candidatura foi aceita”.7 dial da UNESCO, toda compra, toda venda
é tudo especulação.”
Aponta como principal questão o congela-
mento das rendas, que data de 25 de abril de Percebe-se na fala da Arquiteta semelhança
1974, o que torna o investimento nas casas com a da dona do Bar do Cabido, quando
de aluguel sem retorno. A Câmara divide aponta a pertinência de “renovar” não só os
com o proprietário das casas algumas tarefas imóveis, mas também seus habitantes.
de obra consideradas fundamentais como
instalação de casas de banho e cozinhas, e
reforma de cobertura, contudo os propri- PENSARES SOBRE A CIDADE VELHA
etários são “induzidos” a realizar os demais
serviços que se fizerem necessários. Os pro-
A CIDADE VELHA COMO CASA
jetos de reforma baseiam-se na melhoria das
condições de habitabilidade das pessoas que Quanto à população moradora do bairro da
vivem no imóvel, segundo a Arquiteta, que Cidade Velha, existem interpretações múlti-
envolve as áreas de infra-estrutura, acústica, plas que dependem do sentido que o Feliz
comportamento térmico, além de pesquisas Lusitânia adquire em sua visão de mundo.8
arqueológicas obrigatórias por tratar-se de A Cidade Velha é um bairro residencial
área de proteção. muito antigo e permanece como local de
moradia para famílias que se apegaram a
Com relação aos moradores, em princípio
ele. As origens desses moradores é em
parecem temerosos ao ter que se realojar, o
geral portuguesa e sírio-libanesa, além
que é feito ou pelo proprietário, ou pela Câ-
de contar com emigrantes do interior
mara. Algumas obras são feitas por etapas,
do estado (Tocantins, 1976).
para manter os inquilinos no imóvel, o que
acontece em quase a totalidade dos casos. Falar sobre a Cidade Velha é lembrar outra
Assim afirma Cláudia: “Mas a maior parte fase na vida de Maria de Belém e Oneide.
desses moradores são pessoas que pagam Ambas são professoras, formadas pela Es-
rendas baixíssimas, mas tem uma casa na al- cola Normal. A professora Belém é filha do
deia. Há pessoas que só se mantém à espera poeta Bruno de Menezes, intelectual
de indenização por parte do proprietário.” paraense, e participa ativamente da vida
cultural da cidade, além de ser a guardiã da
Em situações nas quais o proprietário não
igreja de São João. D. Oneide é viúva de
pode arcar com a contrapartida nas obras,
Joaquim Bastos, comerciante pertencente a
o Programa “Bem presente para o bem fu-
uma das famílias abastadas do bairro, fun-
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 359
13. Miranda, C. S.
cionária aposentada da Companhia de Cor- tinha de desaparecer e (...) essa parte
reios e Telégrafos. da gente ficar se deliciando com nossas
comidas e ao mesmo tempo olhando
Sobre o projeto, assim opinou Maria de a Baía. Aí essa parte ficou um pouco
Belém: prejudicada. Mas ficou um bonito tra-
“olha, o projeto Feliz Lusitânia os balho ficou bom acabado. A gente tem
entendidos dizem que foi uma boa de novo aí o pessoal mesmo, a comu-
coisa para mostrar ao pessoal da nidade local, né, aceitou, aprovou e vai
cidade e aos turistas a paisagem da muita gente é ...muita procura de pra ir
cidade, a paisagem da orla marítima se distrair lá, passeio, né, que lá dentro
ficou realmente mais devassada né, nunca fui ainda naquele restaurante das
mais apreciada para o (...) Agora ar- 11 janelas eu ainda não fui.”12
quitetonicamente não sei lhe falar, D. Oneide conta das várias propriedades
mas, nós tínhamos uma amiga, uma
da família Bastos na Cidade Velha, e relata
família muito amiga que morava lá,
a família Barroso e morava naquele
histórias sobre o Palacete Pinho, descreven-
pedaço onde hoje tem aqueles es- do com detalhes a distribuição dos cômo-
guichos de chafariz. Era ali.” dos da casa, e as memórias da convivência
com suas moradoras. Lembra que, à época
Nesta parte a entrevistada relata as lembran- do Leilão dos objetos do Palacete, não se
ças da família Barroso, muito religiosa e que valorizava antiguidades, que eram chama-
tinha no térreo um Colégio freqüentado pela das “velharias”. Acredita que é tarde demais
população do bairro, acrescentando que: para preservar a Cidade Velha, pois o bairro
“ali já tinha sido desapropriado a casa já está em ruínas, e o tombamento não im-
para fazer nela aquele estabelecimento pede que os moradores sem recursos
de subsistência,9 que realmente era um mantenham seus imóveis em bom estado.
estafermo aquilo ali. Então, o agora Como membro de uma classe tradicional,
desse projeto Feliz Lusitânia o que eu seja pelas origens, seja pelo poder econômi-
lamento é o desaparecimento do restau-
co, Oneide sente orgulho em ser testemun-
rante do Círculo Militar.10 Isso eu acho
ho vivo de uma época de requinte no bairro,
uma pena vou te dizer porque: porque
nós nos habituamos a ir lá, então a gente ao qual ela assistiu o declínio. Hoje, a revi-
gostava de ver porque a gente comia talização do entorno do Forte do Castelo
olhando a paisagem, o que a gente não significa para ela um eco distante, já que obs-
vê na Estação das Docas11 que a gente ervou ao longo das décadas a substituição de
fica mais retraído, a não ser quem vá pro seus vizinhos por novos moradores de ori-
lado de lá. Mas aqui lá não, no restau- gem ribeirinha, aos quais atribui a desfigura-
rante do Círculo Militar a gente ficava, ção da aparência das casas, “modernizadas”
fazia refeição olhando o barco passar a pelos comerciantes que passaram a dominar
canoinha passar ... aquilo ajudava até o
setores do bairro.13
psíquico da pessoa, a gente ficava mais
descontraído.” A casa do Sr. Aprígio e de D Zoraide fica
ao lado do prédio da FUMBEL,14 em frente
Porém completa argumentando que
à Praça Frei Caetano Brandão.15 Nascido
“para fazer o trabalho realmente ele em Marabá em 1935, Sr. Aprígio vive em
360 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
14. Da Almedina à Feliz Lusitânia
Belém desde a infância e D. Zoraide plexo Feliz Lusitânia. A iniciativa privada vai
nasceu em Igarapé-miri em 1935 e veio seguindo o interesse público, de forma que
para Belém com 7 anos, e desde então reside a rua onde mora passou por um processo
nesta casa. Ela me conseguiu fotos antigas de intensificação comercial na década de 90.
que mostram a casa com a fachada antiga, Contudo, em alguns pontos, essa reocupa-
antes da reforma modernizadora feita pelo ção está se fazendo de maneira diferenciada,
seu pai por volta de 1946. Aprígio já conhe- ou seja, os empreendimentos comerciais es-
ceu o Museu de Arte Sacra, mas não o im- tão tirando partido do Patrimônio Histórico
pressionou muito: como atrativo, como ocorre no caso de
“(...)já passei por aí, já vi coisas e bares e restaurantes, bem como novos mo-
catalogaram, reuniram e eu acho radores estão se deslocando para o bairro
válido mas, não me chama assim em função de sua valorização.
atenção. Eu conheço aquilo como A recuperação da área do Complexo Fe-
a palma da minha mão, sabe como
liz Lusitânia e a construção do Mangal das
é, e igreja de Santo Alexandre por
exemplo, depois dessa reforma, in- Garças são fontes de estímulo para que o
clusive ar condicionado, poltronas bairro atraia novos moradores e atividades
estofadas, entendeu, mas eu era comerciais, tirando partido das formas
mais aquela antiga, daqueles ga- antigas dos imóveis para criar ambientes
vetões que dizem, eu não cheguei diferenciados em bares e boates. Contudo,
a constatar isso, mas dizem que os nota-se que o efeito difusor esperado pelas
puxadores dos gavetões dos altares intervenções públicas não se concretizou,
eram de ouro ou banhados a ouro e de modo que comércios voltados ao fluxo
que depois desapareceram”. turístico não tem tido vida longa, como no
O bairro, apesar de manter uma população caso do casario contíguo à Igreja de Santo
estável, também vem atraindo novos mora- Alexandre, onde a loja de souvenirs, a lancho-
dores, interessados no diferencial histórico nete e a sorveteria foram substituídas por
do local, como o arquiteto José Fernandez,16 repartições culturais do governo do Estado.
que ocupa com a mãe, a artista plástica Dina
Oliveira, um mini-condomínio formado
por uma casa antiga e uma edificação adap- SOBREVIVÊNCIA NA CIDADE VELHA
tada em terreno que possui duas frentes, As dificuldades em manter uma casa an-
contando com piscina, escritório e atelier tiga, com proporções adaptadas às famílias
onde trabalham. A família de arquitetos grandes e com muitos empregados para cui-
optou por restaurar uma casa antiga pelo dar dos serviços domésticos são fatores que
prazer de morar em casa, num bairro central propiciam a saída desses habitantes para casa
e que vem se beneficiando, na última década, menores, em geral apartamentos, nos quais
por intervenções públicas. podem adaptar-se melhor às condições da
Para José, o bairro sofreu uma transfor- “vida moderna”. A comerciante Ana Lúcia
mação rápida em função das intervenções nasceu na Cidade Velha e é filha do Sr. João,
operadas pelo poder público em alguns dono da Casa de Ferragens São João e da
pontos do bairro, como no caso do Com- Fábrica de Velas São João.17 A casa em que
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 361
15. Miranda, C. S.
mora, junto com o marido, as duas filhas e o liberdade de utilizar a rua como área de lazer
pai pertenceu ao arquiteto José Sidrim. “Eu e sociabilidade, realizando as festas juninas
moro na Cidade Velha numa casa de Cidade nas ruas.19
Velha!”, afirmou Ana Lúcia. Morar numa
Segue a entrevistada narrando as festas de
casa desse tipo “é lindo, mas é um elefante
carnaval, de fim de ano realizadas em famí-
branco!(...) já é uma construção que não
lia, essa família incluindo naturalmente os
comporta mais a vida moderna...”.
vizinhos, considerados como tal. A razão
Reclama da infra-estrutura precária no da mudança, segundo ela, é a falta de segu-
bairro, decorrente do não investimento do rança. Essa condição a faz sentir “tolhida”
poder público em pavimentação das vias, de realizar sua rotina de trabalho, de frequen-
em segurança ou em limpeza, “a não ser nas tar a igreja da Sé aos domingos, de fazer a
vésperas do Círio, quando a Prefeitura caminhada na Praça Felipe Patroni. Recla-
trabalha para melhorar o visual da passa- ma a falta de um posto policial no bairro, rei-
gem da romaria.”18 O que Ana observa de vindicação já feita “pra uma outra moça que
melhoria no bairro é passou fazendo uma pesquisa, parece que
“essa parte aqui do Feliz Lusitânia, que para esse departamento de ... Patrimônio
realmente foi uma obra muito boa, Histórico que tem.” As histórias que se se-
muito bonita, acho que pro bairro foi guiram insistiram no moto continuo da falta
excelente, mudou, deu uma outra de segurança.
‘repaginada’ nessa área que tava muito
Porém, aponta como vantagens da Cidade
feia, muito abandonada. Agora você vê,
as pessoas vêm, são lugares bonitos, eu Velha o comércio e os transportes variados,
acho que tem que ser por aí.” além da proximidade ao mais antigo
Shopping da cidade. Não se referiu ao
Como comerciante, Ana comentou o Complexo Feliz Lusitânia, sendo para ela
problema que causou aos comerciantes inexistente no seu roteiro de passeios. Per-
da área a interrupção no trânsito de ônibus cebe-se que para os moradores antigos as
com a queda do bloco central do Palacete igrejas tornam-se importante local de vida
Pinho: concorda que o bairro não suporta social, sendo vistas não como patrimônio
um fluxo intenso de veículos pesados, mas histórico ou artístico, mas como locais tradi-
pensa no fluxo de passageiros dos portos cionais de visitação e reunião, desde a infân-
Arapari e Jarumã, que é intenso. Re- cia. Esta identidade se alia à referência do
conhece que os cidadãos têm pouca comércio, a ligação com o Mercado e feira
participação coletiva e não se preocu- do Ver-o-peso para fazer as compras, que
pam com o patrimônio público. se este estende a todo o bairro da Campina,
A visão de D. Marilza da Conceição Lima principal centro comercial de Belém.
Bastos em relação à Cidade Velha revela o
pensamento dos pequenos comerciantes do
bairro, que vivem também de renda de alu- MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO PATRIMÔNIO
guel de imóveis no bairro. Nascida no bairro, NA CIDADE VELHA
aos 62 anos de idade, ela percebe que a vida Para os técnicos do projeto “Feliz Lu-
na Cidade Velha mudou devido a falta de sitânia”, como o historiador Allan Watrin
362 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
16. Da Almedina à Feliz Lusitânia
Coelho, “... o mote do projeto Feliz Lusitâ- Uns visitam para “lembrar o passado”; uns
nia é devolver à Cidade Velha, e con- reclamam por mais sombra, mais bancos
sequentemente aos monumentos e aos para sentar, telefones públicos, sinalização,
prédios da Cidade Velha, as suas carac- coberturas para se abrigar da chuva. Uma
terísticas originais.”20 Para tal, foram visitante chegou a dizer que é preciso ajeitar
realizadas pesquisas em Arqueologia e o muro do forte, pois assim está muito feio,
História, com a finalidade “de resgatar ao referindo-se à retirada do reboco que reco-
máximo as características arquitetônicas e bria as paredes do Forte.
funcionais do Forte.” Como foi impossível
Para a moradora da Cidade Velha “é legal, é
trazer o Forte como este foi erigido em
melhor do que estava antes, antes o lugar era
1616, a data mais aproximada encontrada
largado, abandonado, era perigoso, não tinha
nos vestígios foi a de 1808. Porém, a arquite-
nem iluminação. Hoje o ponto é um bene-
ta Dorotéa Lima, que participou do proces-
fício para o bairro, pois vem muito turista,
so enquanto técnica do IPHAN, pensa que
valoriza o comércio imobiliário, entre coisas,
“aquilo é um Forte do século XX.” Critica
é muito bom. Poderia ficar melhor se a di-
a ausência de referências explicativas quanto
reção daí (Complexo) fizesse programações,
às escolhas adotadas na reforma do Forte
eventos, para chamar mais pessoas.” Em-
do Castelo, tornando obscura a leitura
basado na reconquista da “auto-estima dos
histórica do monumento quanto aos
paraenses”, o projeto Feliz Lusitânia vem
seus vários momentos.21
atraindo um fluxo contínuo de visitantes ao
Como pólo de atração ao lazer, o Com- local. No outro extremo do bairro, próximo
plexo Feliz Lusitânia vem cumprindo seu ao Arsenal de Marinha, foi recentemente
papel. As impressões são bastante positivas, inaugurado o Mangal das Garças, Parque
destacando-se a paz, a vista da baía e a segu- Ecológico situado às margens do rio
rança como qualidades mais apreciadas pe- Guamá, e que faz parte dos atrativos
los visitantes.22 A maioria dos entrevistados turísticos da cidade.
não freqüentava o local antes da restauração,
Mas a Cidade Velha não pode ser enten-
e só após a reforma passou a valorizá-lo
dida apenas como patrimônio material, há
como vista para o rio e referencial histórico
manifestações significativas que caracterizam
da cidade de Belém. Os belemenses sentem
o bairro, como as procissões religiosas da
orgulho de ter um lugar bonito para mostrar
Semana Santa, de Santa Maria de Belém
aos visitantes de fora.
e a mais importante, o Círio de Nazaré.
Maior volume de visitantes se encontra nas Compõem também o mosaico cultural da
partes externas, sendo que muitos jovens Cidade Velha os boêmios e os carnavalescos,
que visitaram os museus foram levados como o Rubão, proprietário de um pequeno
pelas escolas. Os que nunca adentraram os bar para onde se dirigem intelectuais, artistas
Museus alegam como motivos o preço alto e jornalistas atraídos pela mística do bairro.
dos ingressos para visitar todos os es- Ele se orgulha em dizer que artistas plásticos
paços de exposição com a família, ou preferem seu bar ao da Casa das 11 janelas,
o desconhecimento sobre o que há de o “Boteco das 11”.23 No Carnaval, Rubão
interessante para ser visto. organiza o Baile da Sereia; o início da festa se
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 363
17. Miranda, C. S.
deve à Sereia como referência das tigação, por tratar-se do berço da cidade, e
“[...] famílias portuguesas anti- pela presença acentuada de uma população
gas que moravam aqui na Cidade moradora formada por pessoas mais idosas,
Velha e era um bar e mercearia. An- que nele residem há muitas décadas, e do
tigamente a Cidade Velha ela existia qual não desejam desapegar-se.
muito, em cada esquina dessa aqui
A configuração espacial da Almedina é de-
era mercearia, era um bar... O baile
da Sereia hoje está se tomando assim marcada pelos muros, objeto que se repete
uma... é pode-se dizer, uma agenda no Complexo Feliz Lusitânia em Belém.
cultural daqui do bairro, aonde as Em Almedina, as portas de Barbacã e de Al-
famílias todas descem (...). ”24 medina assinalam a entrada em um lugar de-
marcado física e socialmente, cujo extremo é
Rubão é dono do bar que movimenta o o cimo da Rua das Covas, que coincide com
pedaço25 da Gurupá entre a Cametá e a Ro- o Criptopórtico romano. Este realiza a tran-
drigues dos Santos. Organizador do Baile sição temporal das etapas de formação da
da Sereia, carnaval de rua que homenageia a cidade de Coimbra, bem como é o caminho
imagem da Sereia que permanece na facha- que leva até a Alta Universitária, com a qual
da do antigo Armazém Sereia, que hoje não a Almedina mantém fortes relações de
funciona mais, ele veste a figura com fanta- dependência.
sias de acordo com a época do ano.
Em Belém, a relação com o Rio Guamá
O movimento carnavalesco no bairro vem e a Baia de Guajará, velada em tempos de
de muito longe. Por volta da década de 40, sua formação colonial nos mil e seiscentos,
existiam no bairro núcleos de concentra- é também essencial a sua vitalidade, pois
ção de blocos carnavalescos, como na casa através dos barcos chegam e saem merca-
da Dona Branca, na Gurupá entre Cametá dorias e pessoas dos interiores ribeirinhos
e Rodrigues dos Santos e na casa dos do Pará. Há setores da Cidade Velha que se
‘Mangabeira’, na Cametá. Ainda hoje mantém através da dinâmica com os portos,
existem os blocos “Jambú do Kaveira” bem como sua situação contígua ao Centro
e “Charanga do Fofó”, este organizado Comercial mais antigo da Cidade favorece
pelo cantor Eloy Iglesias, que arrastam a interação entre eles. Fenômeno similar ao
pessoas pelas ruas do bairro. de Almedina, que limita com a Baixa comer-
cial, para onde acorrem seus moradores nas
compras diárias e nos passeios.
PERCEPÇÕES COMPARADAS
Assim, a configuração geográfica determina
Também o presente é criado por persona-
a escolha do sítio da povoação em ambos
gens, cada uma representando um conjunto
os casos, sob a ótica da defesa do território,
de falas e pensamentos que convergem para
e trás em conseqüência o traçado labiríntico
faces diferentes da memória desses lugares,
da Alta de Coimbra, bem como a configu-
dentre as quais algumas tratam de criá-los
ração radial de ruas estreitas em Belém, cujo
como “lugares da memória”, na visão de
foco é o Forte do Presépio.
Pierre Nora. A pesquisadora elegeu em
Coimbra a Almedina como lócus de inves- Alvo de múltiplos discursos, a Cidade Velha
364 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
18. Da Almedina à Feliz Lusitânia
é um bairro residencial em fase de declínio, Françoise Choay (2000) aponta alguns
em função do avanço da metrópole em di- problemas ou efeitos perversos da massi-
reção a áreas de cota mais alta e que permiti- ficação no processo de preservação de es-
ram um novo traçado urbano, mais retilíneo paços históricos, dentre os quais a transfor-
e com espaços mais amplos. Os moradores mação dos monumentos em “shopping centers
mais abastados, oriundos de famílias “de da cultura” e as intervenções a pretexto de
tradição”, aplaudem as reformas, pois as preservação do aspecto histórico de certos
associa com a valorização material e sim- centros antigos, mas que aplicam estereóti-
bólica de seu próprio imóvel como pos do lazer urbano, como cafés ao ar livre,
patrimônio, porém os remanescentes tendas de artesanato, galerias de arte, redes
de famílias da elite intelectual vêem de lanchonetes internacionais, restaurantes,
de maneira crítica as mudanças nos desfigurando os aspectos peculiares destes
espaços de seu usufruto permanente, lugares, banalizando-os.
assinalando conflitos entre as visões
Em Belém, contudo, é inegável que os turis-
“estética” e “vivencial” dos centros
tas, bem como os próprios moradores vão
históricos. Para outros segmentos, de
aos poucos se integrando ao “Feliz Lusitâ-
famílias decadentes economicamente e
nia”, que se redescobre como vista para o
de comerciantes, para os quais o bair-
rio, local de passeio, pois que para a popu-
ro é local de sobrevivência, ganham
lação local os espaços externos são muito
destaque fatores de ordem primária,
mais atrativos que os museus. Contemplar
como a insegurança, mais relevantes
as várias imagens que os belemenses for-
que a “consciência histórica”. Fazem-
mam sobre o núcleo inicial da colonização
nos lembrar que, acima da preservação
do Pará: de postal, de praça, de janela para o
dos Valores, há a necessidade de se
rio, de museu ao ar livre, de referência para a
garantir os direitos essenciais aos ci-
memória social, é cada vez mais o papel do
dadãos. Caso contrário corre-se o risco
Forte do Castelo.
de que esse bairro perca sua vitalidade
natural e que os espaços de preservação Como parte do processo de revitalização,
sejam totalmente excluídos do mapa ocorre a absorção de uma população exó-
mental cotidiano de seus habitantes. gena interessada em ‘Cultura e Patrimônio’,
que passa a habitar e/ou utilizar imóveis an-
Na Almedina o foco das intervenções
tigos do bairro com atividades comerciais.
públicas são as habitações, e não os grandes
Este “enobrecimento”, na visão de Zukin
monumentos, as quais, valorizadas em cores
(1996), acontece quando um grupo não
contrastantes, tentam encobrir o que se
nativo se apropria da paisagem e do lugar,
passa com sua população, que carece
impondo sua visão transformadora do ver-
de atenção a saúde, a segurança, a acessibi-
nacular em paisagem, conduzindo a um
lidade. O cenário que os governos ten-
processo de apropriação espacial. Assim, a
tam exaltar, reforçando imagens me-
valorização do cenário antigo leva estes no-
moriais, não inclui seus habitantes, que
vos grupos a buscar a integração ao lugar,
são vistos como estorvos aos planos
que se dá pela inserção de novos hábitos e
modernizadores e progressistas.
modos de vida que mudam o caráter des-
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 365
19. Miranda, C. S.
tas áreas. Esse processo pode ser positivo maior concentração nas faixas entre 16 e 24
à medida que revigora e valoriza o bairro, anos, ou entre maiores de 65 anos, sendo
participando de sua tradição, mas incluindo que a maioria das habitações é arrendada.
novos usos. A chegada de novos moradores
Outra conclusão dos estudos é de que as
à Cidade Velha, bem como a utilização de
obras realizadas nos últimos 10 anos nos
espaços como a Praça do Carmo em ativi-
edifícios da zona restringem-se a pequenas
dades de lazer e cultura trazem novos ares
melhorias, que não contribuíram para a
ao bairro, servindo de incentivadores de mu-
preservação dessa zona ou para a qualidade
danças benéficas.
de vida de seus moradores. O desejo de per-
Na Almedina, os moradores mais antigos manência na área é justificado pela relação
temem serem expulsos pela valorização do afetiva com a casa, bem como pela vizinhan-
espaço, da mesma forma que os estudantes ça. Para os jovens, a área é ideal pela centrali-
das Repúblicas. Para os comerciantes, em es- dade e pela proximidade do local de estudo.
pecial os que se voltam ao turismo é que as
Porém, a visão reabilitadora continua a pen-
reformas tornam-se oportunidade de negó-
sar o espaço como cenário, esvaziado dos
cios. A sede da Universidade é a base das re-
problemas humanos, e se esquece que as
lações que se estabelecem no Centro antigo,
pessoas é que criam a cidade. Carlos For-
em especial na Almedina, que se configura
tuna fala sobre a autoimagem de Coimbra,
como zona de transição entre a Alta Univer-
que há tempos assimilava a autocomplacên-
sitária e a Baixa comercial.
cia e a idéia da perda, bem como o caráter
Em relação a candidatura “Universidade de provinciano, idéias também encontradas em
Coimbra: Património Mundial”, o Centro Belém. Permanece o desafio de “como in-
de Estudos Sociais realizou um levantamen- jectar modernidade no Centro histórico da
to de cunho sociológico da zona tampão cidade” (Fortuna 2006). Para tal, é preciso
de candidatura, que inclui cinco freguesias que as práticas culturais sejam vivas, que as
da cidade: Santa Cruz, São Bartolomeu, Sé personagens contribuam para um
Nova, Almedina e Olivais (Fortuna 2006). patrimônio que se reinventa, através da
Dentre os resultados, pode-se perceber a “ancoragem das tradições nas práticas quo-
predominância residencial da zona, sendo tidianas.” (Peixoto 2006: 1)
que quase a metade dos alojamentos coleti-
vos situa-se na Alta, ou seja, as proximidades
da Universidade, o que é coerente com o AGRADECIMENTOS
fato de a maioria deles ser destinada ao pú- Pesquisa realizada com o apoio da Bolsa para Jo-
blico estudantil. vens Investigadores 2009 do Centro de Estudos
Sociais da Universidade de Coimbra, durante o
A pesquisa atesta que a maioria absoluta
mês de julho de 2009.
dos habitantes nasceu em Portugal, sendo
que dos estrangeiros a composição maior
é de angolanos, brasileiros e franceses, de-
NOTAS
notando uma composição homogênea em
termos de origem e pelo matiz lusófono.
1
O termo revitalização é utilizado pela equipe
A composição etária da população atinge técnica que concebeu o Projeto Feliz Lusitâ-
366 Amazônica 3 (2): 348-368, 2011
20. Da Almedina à Feliz Lusitânia
nia, como parte de um processo de valorização Forte do Castelo, cujo restaurante era aberto à
da cultura e do patrimônio como geradores comunidade.
econômicos, em que os altos investimentos 11
Estação das Docas é o complexo de bares e
em obras são justificados pelo suposto retorno
restaurantes que funcionam em antigos galpões
turístico, o que determina um componente
do Porto de Belém que foram reformulados na
político forte nas escolhas e critérios de inter-
década de 90.
venção, que por vezes não correspondem às
diretrizes previstas nas Cartas Patrimoniais. Ver 12
Entrevista concedida a autora pela professora Ma-
Miranda (2009). ria de Belém Menezes em 18 de fevereiro de 2004.
2
O Projeto Feliz Lusitânia foi iniciado em 1997 Entrevista concedida a autora pela Srª Oneide
13
e concluído em 2002, sendo coordenado pela Bastos em 20 de fevereiro de 2004.
Secretaria Executiva de Cultura do Estado do 14
Fundação Cultural do Município de Belém.
Pará. Abrangeu o núcleo inicial da colonização
de Belém, incluindo o Forte do Presépio, 15
Entrevista concedida à autora por Aprí-
Antigo Hospital Militar, Igreja e Colégio gio Melo Dutra, em 6 de outubro de 2004.
de Santo Alexandre, casario da Rua Padre Da sacada de sua casa, vê-se todo o Com-
Champagnat e seu entorno. plexo Feliz Lusitânia.
3
Entrevista concedida à autora pelo Sr. António 16
Entrevista concedida a autora pelo arquiteto
Silva em 6 de julho de 2009. José Fernandez em 22 de setembro de 2004.
4
Entrevista concedida a autora pelos estudantes Entrevista concedida à autora por Ana Lúcia
17
Nuno Lopes, Catarina Fernandes, Ana Costa e Chaves Brahuna, em 23 de setembro de 2004.
Catarina Alves (Tota) no dia 15 de julho de 2009. 18
O Círio de N. Srª. de Nazaré é o evento religio-
5
Entrevista concedida à autora pela Srª Rosa so mais importante dos paraenses. Realizado não
Maria Silveirinha em 6 de julho de 2009. só na capital, como no interior, o Círio ocorre
num período de quinze dias do mês de outubro,
6
Entrevista concedida à autora pela Srª Celeste
que começa com a procissão da Trasladação da
Antunes em 6 de julho de 2009.
imagem da Virgem da Capela do Colégio Gentil
7
Entrevista concedida à autora pela arquiteta Bittencourt até a Catedral da Sé, percorrendo os
Cláudia Ascenso em 8 de julho de 2009. bairros de Nazaré, Comércio e Cidade Velha. Na
manhã seguinte à Trasladação, a imagem sai da
8
A Tese “Cidade Velha e Feliz Lusitânia: cenários
Catedral percorrendo o mesmo trajeto, em di-
do patrimônio cultural em Belém” teve por obje-
reção à Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. Ao
tivo detectar as percepções da população mora-
lado da Igreja forma-se um arraial com brinque-
dora da área de entorno de bens tombados que
dos e barracas de comidas típicas.
fazem parte do Complexo Feliz Lusitânia em
relação às mudanças promovidas pelas interven- Entrevista concedida à autora pela Sra. Marilza da
19
ções do referido projeto. Conceição Lima Bastos, em 11 de março de 2004.
9
Estabelecimento de subsistência era um galpão 20
Entrevista concedida a autora pelo historiador
do Exército onde funcionava a Companhia de Allan Watrin Coelho, diretor do Museu do Forte
Abastecimento deste, mas que uma vez por se- do Presépio, em 1º de abril de 2004.
mana era aberto à população para que pudessem 21
Entrevista com Dorotéa Lima, Superintendente
lá comprar gêneros alimentícios.
do IPHAN no Pará, em 13 de agosto de 2009.
10
Círculo Militar é o Clube dos Militares do 22
Aplicação de questionários feita com usuários
Exército, que tinha a sede social funcionando no
Amazônica 3 (2): 348-368, 2011 367
21. Miranda, C. S.
do Complexo nos dias 14 a 21 de março de 2004, Coimbra. Câmara Municipal. 2006. Can-
em diversos horários, como atividade do Grupo de didatura ao Programa de Recuperação de Áreas
Pesquisa Cidade, Aldeia e Patrimônio do Laboratório de Urbanas Degradadas. Coimbra: Gabinete
Antropologia da UFPA. O perfil dos 127 entrevista- para o Centro Histórico.
dos abrangeu desde crianças até pessoas com mais
Fortuna, C. 1997. Destradicionalização e ima-
de 60 anos, sendo que a maioria dos entrevistados
gem da cidade, in Cidade, cultura e globalização – En-
possui entre 21 e 35 anos, é morador dos bairros da
saios de sociologia. Organizado por C. Fortuna, pp.
1ª légua patrimonial de Belém.
231-257. Lisboa: Celta Editora.
23
A Casa das 11 janelas foi Hospital Militar e Quartel
Fortuna, C.; C. Ferreira; P. Abreu; P. Peixoto e C.
do Exército até a restauração da área denominada
Gomes. 2006. A Alta da Cidade de Coimbra: pro-
“Feliz Lusitânia” pelo Governo do Estado do Pará.
cessos de revalorização patrimonial e dinâmicas
24
Entrevista concedida a autora por Rubem Es- de recomposição sócio-cultural. Coimbra: CES.
tevam Lobato, em 11 de fevereiro de 2004. Relatório Final de Pesquisa.
25
Magnani esclarece o sentido de “pedaço” Frias, A. & P. Peixoto. 2000. Representação
como uma “intricada rede de relações for- imaginária da cidade. Processos de racionaliza-
mada por laços de parentesco, vizinhança e ção e de estetização do patrimônio urbano de
coleguismo.”(Magnani 1998:113) São dois os Coimbra. Oficinas do CES Nº 183.
elementos constituintes do “pedaço”: um com-
Magnani, J. G. C. 1998. Festa no pedaço: cultura popu-
ponente espacial a que corresponde uma deter-
lar e lazer na cidade. São Paulo: Hucitec; UNESP.
minada rede de relações sociais. Alguns pontos
de referência delimitam seu núcleo: o telefone Melo, M. 2009. Coimbra. Viagem e Turismo 10: 73-74.
público, a padaria, alguns bares e comércios, o
Miranda, C. S. 2009. Cultura e Patrimônio em Belém-
terreiro e o templo, o campo de futebol e algum
PA: uma história de profissionalização. 80 p.
salão de baile. Não basta, contudo, morar perto
Monografia (1º Edital de Seleção de Pesquisas
do pedaço para pertencer a ele – é preciso estar
A Preservação do Patrimônio Cultural no Bra-
situado numa rede de relações que combina par-
sil) Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
entesco, vizinhança e procedência.
Nacional. Brasil, Belém.
Nora, P 1997. Les Lieux de Mémoire. Paris: Gallimard.
.
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Escolhidas v. 1. Tradução de José Carlos Brasileira; Brasília: INL.
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