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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                              48
          (Corresponde ao décimo-segundo tópico do Capítulo 7,
             intitulado Alterando a estrutura das sociosferas)




                 Autocratizando a democracia

É um absurdo pactuar que o acesso ao público só se dê a partir da guerra
entre organizações privadas

A democracia foi a mais formidável antecipação de uma época-fluzz que já
ocorreu nos seis milênios considerados de “civilização”. Foi uma invenção
fortuita e gratuita de pessoas que logrou abrir uma fenda no firewall erigido
para nos proteger do caos, para que não caíssemos no abismo.

Na verdade as pessoas que inventaram a democracia não tinham a menor
consciência das implicações e consequências do que estavam fazendo.
Talvez tivessem motivos estéticos. Ou talvez quisessem, simplesmente,
abrir uma janela para poder respirar melhor. Em consequência, abriram
uma janela para o simbionte social poder respirar, sufocado que estava, há
milênios, em sociedades de predadores (e de senhores). Como já foi
mencionado aqui, não é por acaso que no primeiro escrito onde aparece a
democracia (dos atenienses) – em Os Persas, de Ésquilo (427 a. E. C.) – ela
tenha sido apresentada como uma realidade oposta à daqueles povos que
têm um senhor.

Era tão improvável que isso acontecesse, na época que aconteceu, como foi
o surgimento e a continuidade da vida neste planeta, perigosamente
instável em virtude da composição atmosférica tão improvável que
alcançou. Com efeito, um gás instável (comburente), corrosivo e
extremamente venenoso como o oxigênio, que chegou a alcançar a
impressionante concentração de 20%, é uma loucura em qualquer planeta:
mas foi assim que o simbionte natural – essa surpreendente capa biosférica
que envolve a Terra – conseguiu respirar.

Do ponto de vista social, a democracia é um erro no script da Matrix. Não
se explica de outra maneira. Não era necessária. Nem foi o resultado de
qualquer “evolução” social. Não surgiu dos interesses privatizantes de
qualquer corporação. Surgiu em uma cidade no mesmo momento em que
nela se conformou um espaço público.

Isso significa que, geneticamente, a democracia é um projeto local e não
nacional. O grupo de Péricles (às vezes chamado indevidamente de “partido
democrático”) não foi constituído para tentar converter os espartanos ou
qualquer outro povo da liga ateniense à democracia (e nem para empalmar
e reter indefinidamente o poder em suas mãos, como grupo privado) e sim
para realizar a democracia na cidade, na base da sociedade e no cotidiano
do cidadão enquanto integrante da comunidade (koinonia) política.

Foram os modernos que tentaram transformar a democracia em um projeto
inter-nacional (ou seja, válido para um conjunto de nações-Estado). Mas ela
só pode se materializar plenamente – como percebeu com toda a clareza
John Dewey (1927) – no local: é um projeto vicinal, comunitário, que tem a
ver com um modo-de-vida compartilhado (32). E é mais o “metabolismo”
de uma comunidade de projeto do que o projeto de alguns interessados em
conduzir uma comunidade para algum lugar segundo seus pontos de vista
particulares ou para satisfazer seus interesses (outra definição de partido).

A democracia surgiu como uma experiência de redes de conversações em
um espaço público, quer dizer, não privatizado pelo Estado (no caso,
representado pelos autocratas que governaram Atenas). Não teria surgido



                                     2
sem a formação de uma rede local distribuída em Atenas e em outras
cidades que experimentaram a democracia. Quando surge, a democracia já
surge como movimento de desconstituição de autocracia e não como
modelo de sociedade ideal. As instituições democráticas foram criadas –
casuísticamente mesmo – para afastar qualquer risco de retorno ao poder
do tirano Psístrato e seus filhos a partir da experimentação de redes de
conversações em um espaço (que se tornou) público (33). Sim, público não
é um dado, não é uma condição inicial que possa ser estabelecida ou
decretada por alguma instância a partir ‘de cima’ (como uma norma
exarada ex ante pelo Estado-nação). Público é o resultado de um processo.
Só é público o que foi publicizado. Depois, é claro, pode-se pactuar
politicamente o resultado que se estabeleceu a partir do processo social,
gerando uma norma, sempre transitória, válida para o âmbito da instância
de governança vigente.

Mas não se pode pactuar que o acesso ao público só se dê a partir da
guerra (ou da política como continuação da guerra por outros meios – o que
é mesma coisa) entre organizações privadas. Um pacto absurdo como esse
– baseado na perversa fórmule inversa de Clausewitz-Lenin (34) – é
contraditório nos seus termos e investe contra o próprio sentido de público.
Por isso, diga-se o que se quiser dizer, do ponto de vista da democracia
(uma realidade coeva à da esfera pública), partidos são instituições contra-
fluzz, regressivas na medida em que concorrem para autocratizar a
democracia.

Não é necessário argumentar muito para mostrar como tudo isso está no
contra-fluzz. Esse tipo de organização partidária e de regime partidocrático
a ela associado não tem muito a ver com a construção de uma governança
democrática e sim com a manutenção de uma governabilidade autocrática,
quer dizer, com a capacidade de manter as regras de uma luta, de um
combate permanente entre grupos privados, assegurando que o vencedor
tenha o direito de privatizar a esfera pública de modo a prorrogar o seu
poder sobre a sociedade (no fundo há sempre uma disputa pelo butim, na
base do spoil system). Tal como o Estado-nação, partidos são instituições
guerreiras: ainda quando não se dediquem ao conflito violento, operam a
política como arte da guerra, como uma continuação da guerra por outros
meios. Nesta exata medida, são organizações antidemocráticas. Só pessoas
tontas – e pelo visto destas há muitas – podem acreditar que o resultado
desse embate constante, dessa interação adversarial permanente,
conseguirá constituir um sentido público (35).




                                     3
Notas

(32) Cf. DEWEY, John (1927). O público e seus problemas in (excertos) FRANCO,
Augusto & POGREBINSCHI, Thamy (orgs.) (2008). Democracia cooperativa:
escritos políticos escolhidos de John Dewey. Porto Alegre: CMDC / EdiPUCRS, 2008.

(33) Cf. FRANCO, Augusto (2007-2010). Democracia: um programa autodidático de
aprendizagem. Op. cit. Cf. também MATURANA, Humberto (1993). La democracia
es una obra de arte: Ed. cit.

(34) Chama-se de formule inversa de Clausewitz-Lenin (com base nas anotações
marginais de leitura do segundo ao tratado Da Guerra, do primeiro) à inversão do
postulado clausewitziano “a guerra é uma continuação da política por outros
meios”. Como, para Lenin, a luta de classes era uma espécie de guerra
permanentemente presente, então ele avaliou que se poderia afirmar que, inclusive
em tempos de paz, “a política é uma continuação da guerra por outros meios”.

(35) De um ponto de vista político, não há problema com a competição entre
grupos privados quando seus objetivos são privados. O problema surge quando se
quer gerar um sentido público por meio da competição entre grupos privados
(como os partidos). Foi assim que, decalcando a racionalidade do mercado, os
modernos cometeram uma confusão brutal entre tipos diferentes de agenciamento
que levou à irresponsável identificação entre democracia e capitalismo (e tão
perdidos ficaram em sua confusão que agora não sabem nem explicar direito a
onda de capitalismo autoritário que nos atinge nos últimos anos, sobretudo a partir
da China). Para acompanhar uma discussão inovadora sobre a questão do público
cf. o tópico “Sobre a questão do publico”:

<http://escoladeredes.ning.com/group/redesnapoltica/forum/topics/sobre-a-
questao-do-publico>




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Fluzz pilulas 48

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 48 (Corresponde ao décimo-segundo tópico do Capítulo 7, intitulado Alterando a estrutura das sociosferas) Autocratizando a democracia É um absurdo pactuar que o acesso ao público só se dê a partir da guerra entre organizações privadas A democracia foi a mais formidável antecipação de uma época-fluzz que já ocorreu nos seis milênios considerados de “civilização”. Foi uma invenção fortuita e gratuita de pessoas que logrou abrir uma fenda no firewall erigido para nos proteger do caos, para que não caíssemos no abismo. Na verdade as pessoas que inventaram a democracia não tinham a menor consciência das implicações e consequências do que estavam fazendo. Talvez tivessem motivos estéticos. Ou talvez quisessem, simplesmente,
  • 2. abrir uma janela para poder respirar melhor. Em consequência, abriram uma janela para o simbionte social poder respirar, sufocado que estava, há milênios, em sociedades de predadores (e de senhores). Como já foi mencionado aqui, não é por acaso que no primeiro escrito onde aparece a democracia (dos atenienses) – em Os Persas, de Ésquilo (427 a. E. C.) – ela tenha sido apresentada como uma realidade oposta à daqueles povos que têm um senhor. Era tão improvável que isso acontecesse, na época que aconteceu, como foi o surgimento e a continuidade da vida neste planeta, perigosamente instável em virtude da composição atmosférica tão improvável que alcançou. Com efeito, um gás instável (comburente), corrosivo e extremamente venenoso como o oxigênio, que chegou a alcançar a impressionante concentração de 20%, é uma loucura em qualquer planeta: mas foi assim que o simbionte natural – essa surpreendente capa biosférica que envolve a Terra – conseguiu respirar. Do ponto de vista social, a democracia é um erro no script da Matrix. Não se explica de outra maneira. Não era necessária. Nem foi o resultado de qualquer “evolução” social. Não surgiu dos interesses privatizantes de qualquer corporação. Surgiu em uma cidade no mesmo momento em que nela se conformou um espaço público. Isso significa que, geneticamente, a democracia é um projeto local e não nacional. O grupo de Péricles (às vezes chamado indevidamente de “partido democrático”) não foi constituído para tentar converter os espartanos ou qualquer outro povo da liga ateniense à democracia (e nem para empalmar e reter indefinidamente o poder em suas mãos, como grupo privado) e sim para realizar a democracia na cidade, na base da sociedade e no cotidiano do cidadão enquanto integrante da comunidade (koinonia) política. Foram os modernos que tentaram transformar a democracia em um projeto inter-nacional (ou seja, válido para um conjunto de nações-Estado). Mas ela só pode se materializar plenamente – como percebeu com toda a clareza John Dewey (1927) – no local: é um projeto vicinal, comunitário, que tem a ver com um modo-de-vida compartilhado (32). E é mais o “metabolismo” de uma comunidade de projeto do que o projeto de alguns interessados em conduzir uma comunidade para algum lugar segundo seus pontos de vista particulares ou para satisfazer seus interesses (outra definição de partido). A democracia surgiu como uma experiência de redes de conversações em um espaço público, quer dizer, não privatizado pelo Estado (no caso, representado pelos autocratas que governaram Atenas). Não teria surgido 2
  • 3. sem a formação de uma rede local distribuída em Atenas e em outras cidades que experimentaram a democracia. Quando surge, a democracia já surge como movimento de desconstituição de autocracia e não como modelo de sociedade ideal. As instituições democráticas foram criadas – casuísticamente mesmo – para afastar qualquer risco de retorno ao poder do tirano Psístrato e seus filhos a partir da experimentação de redes de conversações em um espaço (que se tornou) público (33). Sim, público não é um dado, não é uma condição inicial que possa ser estabelecida ou decretada por alguma instância a partir ‘de cima’ (como uma norma exarada ex ante pelo Estado-nação). Público é o resultado de um processo. Só é público o que foi publicizado. Depois, é claro, pode-se pactuar politicamente o resultado que se estabeleceu a partir do processo social, gerando uma norma, sempre transitória, válida para o âmbito da instância de governança vigente. Mas não se pode pactuar que o acesso ao público só se dê a partir da guerra (ou da política como continuação da guerra por outros meios – o que é mesma coisa) entre organizações privadas. Um pacto absurdo como esse – baseado na perversa fórmule inversa de Clausewitz-Lenin (34) – é contraditório nos seus termos e investe contra o próprio sentido de público. Por isso, diga-se o que se quiser dizer, do ponto de vista da democracia (uma realidade coeva à da esfera pública), partidos são instituições contra- fluzz, regressivas na medida em que concorrem para autocratizar a democracia. Não é necessário argumentar muito para mostrar como tudo isso está no contra-fluzz. Esse tipo de organização partidária e de regime partidocrático a ela associado não tem muito a ver com a construção de uma governança democrática e sim com a manutenção de uma governabilidade autocrática, quer dizer, com a capacidade de manter as regras de uma luta, de um combate permanente entre grupos privados, assegurando que o vencedor tenha o direito de privatizar a esfera pública de modo a prorrogar o seu poder sobre a sociedade (no fundo há sempre uma disputa pelo butim, na base do spoil system). Tal como o Estado-nação, partidos são instituições guerreiras: ainda quando não se dediquem ao conflito violento, operam a política como arte da guerra, como uma continuação da guerra por outros meios. Nesta exata medida, são organizações antidemocráticas. Só pessoas tontas – e pelo visto destas há muitas – podem acreditar que o resultado desse embate constante, dessa interação adversarial permanente, conseguirá constituir um sentido público (35). 3
  • 4. Notas (32) Cf. DEWEY, John (1927). O público e seus problemas in (excertos) FRANCO, Augusto & POGREBINSCHI, Thamy (orgs.) (2008). Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey. Porto Alegre: CMDC / EdiPUCRS, 2008. (33) Cf. FRANCO, Augusto (2007-2010). Democracia: um programa autodidático de aprendizagem. Op. cit. Cf. também MATURANA, Humberto (1993). La democracia es una obra de arte: Ed. cit. (34) Chama-se de formule inversa de Clausewitz-Lenin (com base nas anotações marginais de leitura do segundo ao tratado Da Guerra, do primeiro) à inversão do postulado clausewitziano “a guerra é uma continuação da política por outros meios”. Como, para Lenin, a luta de classes era uma espécie de guerra permanentemente presente, então ele avaliou que se poderia afirmar que, inclusive em tempos de paz, “a política é uma continuação da guerra por outros meios”. (35) De um ponto de vista político, não há problema com a competição entre grupos privados quando seus objetivos são privados. O problema surge quando se quer gerar um sentido público por meio da competição entre grupos privados (como os partidos). Foi assim que, decalcando a racionalidade do mercado, os modernos cometeram uma confusão brutal entre tipos diferentes de agenciamento que levou à irresponsável identificação entre democracia e capitalismo (e tão perdidos ficaram em sua confusão que agora não sabem nem explicar direito a onda de capitalismo autoritário que nos atinge nos últimos anos, sobretudo a partir da China). Para acompanhar uma discussão inovadora sobre a questão do público cf. o tópico “Sobre a questão do publico”: <http://escoladeredes.ning.com/group/redesnapoltica/forum/topics/sobre-a- questao-do-publico> 4