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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             47
          (Corresponde ao décimo-primeiro tópico do Capítulo 7,
             intitulado Alterando a estrutura das sociosferas)




            Máquinas para privatizar a política

Os partidos são artifícios para nos proteger da experiência de política
pública

No velho mundo fracamente conectado as pessoas erigiam corporações –
grupos privados hierarquizados – para fazer valer seus interesses.
Simplesmente parecia ser a coisa “lógica” a ser feita em um mundo regido
pela “lógica” da escassez. Assim também surgiram os partidos como um
tipo especial de corporação: eles foram constituídos para fazer prevalecer
os interesses de um grupo sobre os interesses de outros grupos e pessoas
com base em (ou tomando como pretexto) um programa, um conjunto de
idéias a partir das quais fosse possível conquistar e reter o poder para
tornar legítimo o exercício (ilegítimo do ponto de vista social, quer dizer, do
ponto de vista das redes sociais distribuídas) de comandar e controlar os
outros.

Partidos são organizações pro-estatais. Não é a toa que decalcam o padrão
de organização piramidal do Estado. Mas, ao contrário do que se pensa, os
partidos vieram antes do Estado e nesse sentido são também organizações
proto-estatais. Os primeiros partidos foram religiosos: as castas sacerdotais
que erigiram o Estado.

Sim, o Estado é, geneticamente, um ente privado. Estado como esfera
pública só surgiu (isso deveria ser uma obviedade, conquanto não soe como
tal) quando se constituiu uma esfera pública, com a invenção da
democracia. Antes disso – por três milênios ou mais – os Estados foram o
resultado da privatização dos assuntos comuns das cidades pelos
autocratas. E depois disso, por quase dois milênios, os Estados continuaram
sendo organizações privadas (só nos últimos dois ou três séculos eles se
constituiram, aqui e ali e, mesmo assim, em parte, como instâncias
públicas, mais ou menos democratizadas; embora continuassem infestados
por enclaves autocráticos privatizantes).

Os partidos são artifícios para nos proteger da experiência de política
pública. São um modo político de nos proteger da experiência de fluzz. Para
tanto – em um regime de monopólio (nas ditaduras) ou de oligopólio (nas
democracias formais) – eles privatizam a política pública. Sua existência
legal indica que as pessoas, como tais, não precisam fazer política pública
no seu cotidiano e na base da sociedade (nas suas comunidades): alguém
fará tal política por elas! Mesmo nas democracias dos modernos entende-se
que as pessoas não devem fazer política pública, a menos que entrem em
um partido: uma espécie de agência de empregos estatais, uma
organização privada autorizada a disputar com outras organizações privadas
congêneres o acesso às instituições estatais reconhecidas legalmente como
públicas e, portanto, encarregada com exclusividade de fazer política
pública. Enxugando de toda literatura legitimatória as teorias liberais sobre
o papel dos partidos na democracia, o que sobra é mais ou menos isso aí.

Ora, por mais esforço que se faça para justificar esse acesso diferencial ao
exercício da política pública, parece óbvio que o sistema de partidos
privatiza a política. Ao se conferir aos partidos o condão de transformar
politics em policy, as pessoas viram automaticamente clientela do sistema.

As teorias liberais da democracia, é claro, não concordam com isso. Mas as
teorias liberais da democracia são próprias de um mundo de baixa



                                      2
conectividade social, em que somente eram concebíveis as formas políticas
representativas de regulação de conflitos. Para os defensores dessas
teorias, só existem, basicamente, os indivíduos. E a democracia é, via de
regra, baseada em uma teoria das elites (mais Platão, menos Protágoras).
Sua análise é coerente com que eles pensam. E eles pensam mais ou
menos assim: é melhor o Estado-nação com todos seus enclaves
autocráticos – e, inclusive, é melhor o império – garantindo a ordem, do
que a barbárie da anarquia. No fundo essa é mais uma variação, em linha
direta, da visão hobbesiana. Abandonados à nossa própria sorte, sem
sermos domesticados por um poder acima de nós, nos engalfinharíamos em
uma guerra de todos contra todos. Então o Estado tem, para eles, um papel
civilizador (assim como, para alguns, também tem esse papel a religião:
pois se não houver um deus – dizem – tudo é permitido, tudo seria possível
em termos morais). O que se requer, apenas, é que esse Estado seja
legitimado pelos cidadãos em eleições limpas e períodicas e que os
governos eleitos respeitem as regras do direito (interpretadas também, é
claro, pelas tais “elites civilizadoras”).

Essa é a visão da democracia dos modernos na sua versão liberal, baseada
no indivíduo. Mas tal visão não está mais adequada aos mundos altamente
conectados que estão emergindo. Por muitas razões (dentre as quais a
principal é que o indivíduo é uma abstração) a democracia não pode ser o
resultado de um pacto feito e refeito continuamente pelos indivíduos que se
ilustraram e que se comprometeram a manter uma ordem capaz de garantir
aos (e exigir dos) demais indivíduos que eles continuem a conformar sua
liberdade aos limites impostos pelos sistemas de poder que formalmente
permanecerem legitimados por eleições e respeitarem as leis. Isso, é claro,
deve ser garantido, mas não para ser reproduzido indefinidamente como é e
sim para possibilitar que os cidadãos continuem - com liberdade -
inventando novas formas de regular seus conflitos.

Em mundos altamente conectados essa forma representativo-político-formal
da democracia (a democracia no sentido "fraco" do conceito: como sistema
de governo ou modo político de administração do Estado) deverá dar lugar
a novas formas mais substantivas e interativas (a democracia no sentido
"forte" do conceito, das pessoas que se associam para conviver em suas
comunidades de vizinhança, de prática, de aprendizagem ou de projeto).

A democracia no sentido “forte” do conceito é uma democracia
+democratizada, que recupera a linha da "tradição" democrática – uma
imaginária linhagem-fluzz – que começa com o “think tank” de Péricles – do
qual “participava”, entre vários outros, Protágoras –, passa por Althusius
(1603), por Spinoza (1670-1677) e pelos reinventores da democracia dos



                                    3
modernos, por Rosseau (1754-1762), por Jefferson (1776) e por aquele
“network da Filadélfia” que conectava os redatores americanos da
Declaração de Independência dos Estados Unidos e pelos Federalistas
(1787-1788), pelos autores europeus (desconhecidos) da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão (1789), por Paine (1791), por Tocqueville
(1835-1856), por Thoreau (1849) e por Stuart Mill (1859-1861), até chegar
às formas radicais antecipadas pela primeira vez por Dewey (1927-1939): a
democracia na base da sociedade e no cotidiano do cidadão, a democracia
como expressão da vida comunitária (31). Esta última será uma espécie de
metabolismo das redes mais distribuídas do que centralizadas, algo assim
como uma pluriarquia.

É claro que os chamados cientistas políticos, em boa parte, não acreditam
nisso. O que não significa nada, de vez que não existe uma ciência política.
Se existisse uma ciência política, em qualquer medida para além de uma
ciência do estudo da política, não poderia haver democracia (pois neste
caso os governantes deveriam ser os cientistas e decairíamos na república
platônica dos sábios: uma autocracia). A despeito do que pensam os que
foram ordenados nas academias da modernidade para legitimar a política
realmente existente, há um argumento fatal contra suas (des)crenças: se a
democracia não pudesse ser reinventada novamente (pois ela já o foi uma
vez, pelos modernos) ela também não poderia ter sido inventada (pela
primeira vez, pelos atenienses).




                                     4
Nota

(31) Para uma explicação abrangente dessa imaginária linhagem-fluzz da “tradição”
democrática confira FRANCO, Augusto (2007-2010). Democracia: um programa
autodidático de aprendizagem. Slideshare [1022 views em 29/01/2011]

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/democracia-um-programa-
autodidatico-de-aprendizagem>




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Fluzz pilulas 47

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 47 (Corresponde ao décimo-primeiro tópico do Capítulo 7, intitulado Alterando a estrutura das sociosferas) Máquinas para privatizar a política Os partidos são artifícios para nos proteger da experiência de política pública No velho mundo fracamente conectado as pessoas erigiam corporações – grupos privados hierarquizados – para fazer valer seus interesses. Simplesmente parecia ser a coisa “lógica” a ser feita em um mundo regido pela “lógica” da escassez. Assim também surgiram os partidos como um tipo especial de corporação: eles foram constituídos para fazer prevalecer os interesses de um grupo sobre os interesses de outros grupos e pessoas com base em (ou tomando como pretexto) um programa, um conjunto de idéias a partir das quais fosse possível conquistar e reter o poder para
  • 2. tornar legítimo o exercício (ilegítimo do ponto de vista social, quer dizer, do ponto de vista das redes sociais distribuídas) de comandar e controlar os outros. Partidos são organizações pro-estatais. Não é a toa que decalcam o padrão de organização piramidal do Estado. Mas, ao contrário do que se pensa, os partidos vieram antes do Estado e nesse sentido são também organizações proto-estatais. Os primeiros partidos foram religiosos: as castas sacerdotais que erigiram o Estado. Sim, o Estado é, geneticamente, um ente privado. Estado como esfera pública só surgiu (isso deveria ser uma obviedade, conquanto não soe como tal) quando se constituiu uma esfera pública, com a invenção da democracia. Antes disso – por três milênios ou mais – os Estados foram o resultado da privatização dos assuntos comuns das cidades pelos autocratas. E depois disso, por quase dois milênios, os Estados continuaram sendo organizações privadas (só nos últimos dois ou três séculos eles se constituiram, aqui e ali e, mesmo assim, em parte, como instâncias públicas, mais ou menos democratizadas; embora continuassem infestados por enclaves autocráticos privatizantes). Os partidos são artifícios para nos proteger da experiência de política pública. São um modo político de nos proteger da experiência de fluzz. Para tanto – em um regime de monopólio (nas ditaduras) ou de oligopólio (nas democracias formais) – eles privatizam a política pública. Sua existência legal indica que as pessoas, como tais, não precisam fazer política pública no seu cotidiano e na base da sociedade (nas suas comunidades): alguém fará tal política por elas! Mesmo nas democracias dos modernos entende-se que as pessoas não devem fazer política pública, a menos que entrem em um partido: uma espécie de agência de empregos estatais, uma organização privada autorizada a disputar com outras organizações privadas congêneres o acesso às instituições estatais reconhecidas legalmente como públicas e, portanto, encarregada com exclusividade de fazer política pública. Enxugando de toda literatura legitimatória as teorias liberais sobre o papel dos partidos na democracia, o que sobra é mais ou menos isso aí. Ora, por mais esforço que se faça para justificar esse acesso diferencial ao exercício da política pública, parece óbvio que o sistema de partidos privatiza a política. Ao se conferir aos partidos o condão de transformar politics em policy, as pessoas viram automaticamente clientela do sistema. As teorias liberais da democracia, é claro, não concordam com isso. Mas as teorias liberais da democracia são próprias de um mundo de baixa 2
  • 3. conectividade social, em que somente eram concebíveis as formas políticas representativas de regulação de conflitos. Para os defensores dessas teorias, só existem, basicamente, os indivíduos. E a democracia é, via de regra, baseada em uma teoria das elites (mais Platão, menos Protágoras). Sua análise é coerente com que eles pensam. E eles pensam mais ou menos assim: é melhor o Estado-nação com todos seus enclaves autocráticos – e, inclusive, é melhor o império – garantindo a ordem, do que a barbárie da anarquia. No fundo essa é mais uma variação, em linha direta, da visão hobbesiana. Abandonados à nossa própria sorte, sem sermos domesticados por um poder acima de nós, nos engalfinharíamos em uma guerra de todos contra todos. Então o Estado tem, para eles, um papel civilizador (assim como, para alguns, também tem esse papel a religião: pois se não houver um deus – dizem – tudo é permitido, tudo seria possível em termos morais). O que se requer, apenas, é que esse Estado seja legitimado pelos cidadãos em eleições limpas e períodicas e que os governos eleitos respeitem as regras do direito (interpretadas também, é claro, pelas tais “elites civilizadoras”). Essa é a visão da democracia dos modernos na sua versão liberal, baseada no indivíduo. Mas tal visão não está mais adequada aos mundos altamente conectados que estão emergindo. Por muitas razões (dentre as quais a principal é que o indivíduo é uma abstração) a democracia não pode ser o resultado de um pacto feito e refeito continuamente pelos indivíduos que se ilustraram e que se comprometeram a manter uma ordem capaz de garantir aos (e exigir dos) demais indivíduos que eles continuem a conformar sua liberdade aos limites impostos pelos sistemas de poder que formalmente permanecerem legitimados por eleições e respeitarem as leis. Isso, é claro, deve ser garantido, mas não para ser reproduzido indefinidamente como é e sim para possibilitar que os cidadãos continuem - com liberdade - inventando novas formas de regular seus conflitos. Em mundos altamente conectados essa forma representativo-político-formal da democracia (a democracia no sentido "fraco" do conceito: como sistema de governo ou modo político de administração do Estado) deverá dar lugar a novas formas mais substantivas e interativas (a democracia no sentido "forte" do conceito, das pessoas que se associam para conviver em suas comunidades de vizinhança, de prática, de aprendizagem ou de projeto). A democracia no sentido “forte” do conceito é uma democracia +democratizada, que recupera a linha da "tradição" democrática – uma imaginária linhagem-fluzz – que começa com o “think tank” de Péricles – do qual “participava”, entre vários outros, Protágoras –, passa por Althusius (1603), por Spinoza (1670-1677) e pelos reinventores da democracia dos 3
  • 4. modernos, por Rosseau (1754-1762), por Jefferson (1776) e por aquele “network da Filadélfia” que conectava os redatores americanos da Declaração de Independência dos Estados Unidos e pelos Federalistas (1787-1788), pelos autores europeus (desconhecidos) da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), por Paine (1791), por Tocqueville (1835-1856), por Thoreau (1849) e por Stuart Mill (1859-1861), até chegar às formas radicais antecipadas pela primeira vez por Dewey (1927-1939): a democracia na base da sociedade e no cotidiano do cidadão, a democracia como expressão da vida comunitária (31). Esta última será uma espécie de metabolismo das redes mais distribuídas do que centralizadas, algo assim como uma pluriarquia. É claro que os chamados cientistas políticos, em boa parte, não acreditam nisso. O que não significa nada, de vez que não existe uma ciência política. Se existisse uma ciência política, em qualquer medida para além de uma ciência do estudo da política, não poderia haver democracia (pois neste caso os governantes deveriam ser os cientistas e decairíamos na república platônica dos sábios: uma autocracia). A despeito do que pensam os que foram ordenados nas academias da modernidade para legitimar a política realmente existente, há um argumento fatal contra suas (des)crenças: se a democracia não pudesse ser reinventada novamente (pois ela já o foi uma vez, pelos modernos) ela também não poderia ter sido inventada (pela primeira vez, pelos atenienses). 4
  • 5. Nota (31) Para uma explicação abrangente dessa imaginária linhagem-fluzz da “tradição” democrática confira FRANCO, Augusto (2007-2010). Democracia: um programa autodidático de aprendizagem. Slideshare [1022 views em 29/01/2011] <http://www.slideshare.net/augustodefranco/democracia-um-programa- autodidatico-de-aprendizagem> 5