O documento discute a importância da avaliação na formação humana ao longo da história e na educação escolar. A avaliação deve ser vista como um processo contínuo que ocorre em diferentes espaços e momentos, e não apenas por meio de testes e provas. As concepções do professor sobre sociedade, educação e sujeito influenciam como ele avalia os estudantes.
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
A avaliação da aprendizagem e o desenvolvimento da autoria na educação
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3. Na trajetória da humanidade verifica-se que a história do homem foi produzida com base em um
elemento importante: a avaliação das condições e expectativas da existência humana que fez surgir a
logística a arquitetura, as artes a linguagem, a filosofia, a economia, a tecnologia e a ciência.
Em cada momento da humanidade, a produção das condições de vida imediata, a manutenção das
conquistas tecnológicas já acumuladas e a geração de novas realidades tiveram na avaliação, na
reflexão, na análise e na busca de novas alternativas viáveis, adequadas e compatíveis com as suas
necessidades humanas o seu elemento provocador e estimulador de descobertas.
O juízo de valores e a busca do novo sempre estiveram no topo das demandas do homem. Por
exemplo: durante os períodos de seca o homem que mudava de localidade para encontrar alimentos
para sua sobrevivência, com os excedentes armazenados em um local fixo, teve de buscar novas
tecnologias que lhe assegurassem uma vida confortável e segura para os seus.
Com a superação das condições adversas da natureza pode permanecer no mesmo local e preservar
as suas riquezas, foi desafiado pela necessidade imediata, avaliou as condições, aceitou o
desafio, foi em busca de uma saída viável e encontrou uma alternativa adequada e compatível com o
seu grau de exigência e demandas históricas. Hoje, temos verdadeiros arsenais de alimentos que, no
seu conjunto não se reduz durante as diversas fases ou ciclos climáticos.
4. Na educação escolar dos nossos dias a avaliação da aprendizagem é um elemento importante que requer
atenção e cuidado. Os educadores, os pesquisadores, os gestores e os pais devem voltar a sua atenção
para este fazer pedagógico, dada a sua relevância no cenário da vida escolar e educativa das crianças e
jovens matriculados na educação básica. A massificação da educação básica apresenta novos desafios
para os sujeitos envolvidos com prática pedagógica, aqui será tratada a avaliação da aprendizagem a
partir da ótica da prática docente, em quanto uma ação de autoria e desenvolvimento da produção de
conhecimento.
Em todas as ocupações e profissões os sujeitos autônomos envolvidos com as respectivas práticas e
tecnologias foram os responsáveis pelos questionamentos, descobertas de alternativas e avanços
tecnológicos correspondentes. Não há outra alternativa para os docentes da educação básica. E eles são
os responsáveis pelo êxito ou fracassos deste nível de ensino, ou seja, não haverá uma resposta
mágica, sobrenatural ou extraterrestre para os males, problemas, necessidades e desafios da educação
brasileira. As experiências vividas pelos professores, suas escolhas e sua ações aliadas e articuladas (ou
não) com as ações e políticas institucionais implementadas pelos gestores da educação na respectiva rede
serão os balizadores da qualidade da educação do século 21.
Roffmann (2005), ao tratar da avaliação formativa ou avaliação formadora, afirma;
Ao avaliar efetiva-se um conjunto de procedimentos didáticos
que se estendem sempre por um longo tempo e se dão em
vários espaços escolares, procedimentos de caráter múltiplo e
complexo tal como se delineia um processo. (HOFFMAN.
2005. P. 13).
5. Ao conceber a avaliação como um “um conjunto de procedimentos didáticos” Hoffman (2005. P. 13)
alerta para um fato importante: “não se deve denominar por avaliação testes provas ou exercícios
(instrumentos de avaliação)”. No seu entendimento há outros elementos que não são avaliação: não
“se deve nomear por avaliação boletins, fichas, relatórios, dossiês dos alunos (registros de
avaliação)”. Portanto, os instrumentos de avaliação e os registros de avaliação não são a avaliação.
No entanto estes instrumentos e procedimentos estão presentes no cotidiano das escolas
brasileiras, sendo usados pelos professores em larga escola. Como se observa no posicionamento da
autora, os processos avaliativos “se estendem sempre por um longo tempo e se dão em vários
espaços escolares”.
O “fazer avaliativo” resultam das concepções de mundo:
Métodos e instrumentos de avaliação estão
fundamentados em valores morais, concepções de
educação, de sociedade, de sujeito. São essas concepções
que regem o fazer avaliativo e que lhe dão sentido.
(HOFFMAN. 2005. p. 13).
Neste sentido a avaliação da aprendizagem como um princípio no desenvolvimento da autoria passa
pela concepção de sociedade, de educação e de sujeito dos professores:
É preciso, então pensar primeiro em como os educadores
pensam a avaliação antes de mudar a
metodologias, instrumentos de testagem e formas de
registro. (HOFFMAN. 2005. P. 13)
Diante deste posicionamento conclui-se que o processo de desenvolvimento da autoria na prática
educativa está vinculado ao modo como o professor concebe o sujeito, a educação e a sociedade. A
visão do professor delimita o modo de ver atuar no processo avaliativo: “Reconstruir as práticas
avaliativas sem discutir o significado desse processo como preparar as malas sem saber o destino da
viagem” (HOFFMAN. 2005. P. 13).
6. No entendimento de Hoffmam (2005) ficou demonstrado que a concepção do professor é
imprescindível, a forma como este concebe o sujeito que se encontra em processo de educação em
uma sociedade complexa, consumista como a nossa é a base para a definição dos processos
avaliativos que serão por ele implementados.
Além das complexidades da concepção própria do professor, há um desafio importante a ser
enfrentado nos processos avaliativos, trata-se da ética na avaliação.
Ao entendermos a educação como formação do
humano, como acontecimento ético, supomos uma
concepção da tarefa pedagógica e, portanto, da avaliação
como radical novidade [...] a constituição do sujeito passa
a ser a preocupação central em torno da qual se estrutura
um processo em que as aprendizagens ocorrem em função
desta finalidade ampla. (LOCH. 2003. p. 105).
Ao reconhecer a importância do fator ético na aprendizagem e especificamente na avaliação
reconhece-se também que há ampliação da concepção de educando. Este passa a ser visto como um
sujeito em processo de formação humana que exigem um posicionamento e um fazer pedagógico
voltado ser humano integral:
Não se trata, portanto, de justaposição de aprendizagens
fragmentadas dos conteúdos das várias áreas, mas se
concebe o conhecimento como parte integrante da
formação humana, o que inclui a dimensão ética da
aquisição, a distribuição e o uso do conhecimento.
(LOCH. 2003. p. 105).
7. No entendimento de Loch (2005. P. 105), “é importante considerar que aprendemos durante toda a
nossa vida desde o nascimento até a morte, portanto a aprendizagem nos caracteriza como seres
humanos”. Ao entender o homem como ser aprendiz, em constante aprendizagem, somos levados a
concluir que os estudantes também são seres em aprendizagem permanente. Assim, os processos
educativos, incluindo os avaliativos, estão subordinados a esta concepção de homem.
Neste sentido Loch (2005. p. 105) afirmou: “Aprendemos porque avaliamos, refletimos sobre as
ações que empreendemos e a partir dessa reflexão iniciamos novas ações”. Em síntese
precária, pode-se afirmar que somos seres produzidos e delimitados pela avaliação. No entanto, é
preciso considera que:
As pessoas não nascem éticas, elas se tornam éticas a
partir de sua formação e se formam na medida em que
tomam conhecimento de si mesmas nas relações que
estabelecem consigo mesmas, com os outros e com o
mundo, e a avaliação tem papel decisivo nesse processo
de autoconhecimento. (LOCH. 2005. P. 106).
È relevante destacar que as práticas educativas centradas na autoridade do professor ou do conteúdo
não contribuem para o autoconhecimento. Ao valorizarem a memorização ou assimilação dos
conteúdos de forma acumulativa e a presença do professor como o detentor da verdade reduzem os
estudantes à condição de meros acumuladores de informações, muitas vezes são submetidos a
situações degradantes, chegando ao ponto de ficarem por horas copiando o do quadro de giz ou
transcrevendo de livros. Em outras palavras, são copistas escolarizados.
8. Neste caso, o autoconhecimento foi negligenciado e a avaliação é um instrumento técnico pra
registro de notas e conceitos para aprovação e reprovação.
Para além das concepções de sociedade, homem, educação e sujeito encontram-se as discussões
avaliação:
Novos estudos subsidiam as discussões em torno da
avaliação no espaço escolar, da organização da
escolaridade fundamental, do papel dos professores e dos
alunos. Também acrescentam às reflexões sobre avaliação
a discussão em torno de novas formas de organização do
tempo e espaço escolares. (FERNANDES. 2003. p. 95).
Este texto demonstrou que o homem é resultante dos processos avaliativos dos quais ele fez (e faz)
uso no transcorrer de sua história. Estes processos avaliativos são fundamentais para a sua formação
humana, contribuindo decisivamente para a sua formação ética. O seu posicionamento frente aos
desafios e possibilidades que enfrentará no seu cotidiano será por meio da a avaliação da
aprendizagem, que se entendida como um princípio relevante para o desenvolvimento da autoria da
prática educativa e da produção do conhecimento dos estudantes e dos docentes será relevante tal
avaliação, do ponto de vista macro,a qual resulta na formação do homem.
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12. HOFFMANN,Jussara
O Jogo do contrário em avaliação/jussara Hoffmann - Porto
Alegre: mediação, 2005, 192 p.