O documento descreve a evolução da igreja de Cacela, a Velha, no século XVI, com base em visitações eclesiásticas entre 1518 e 1565. A igreja passou por transformações espaciais com a adição de altares laterais, capela-mor e sacristia. Também houve melhorias nos objetos litúrgicos como cálices, custódias e campanário. O documento explica como estas mudanças refletiam os desenvolvimentos políticos, económicos e religiosos do período quinhentista.
2. Documentação privilegiada
• Constituições diocesanas: instrumento
jurídico-pastoral constituído pelas leis,
decretos ou disposições que regulamentavam
a vida de uma diocese, incluindo orientações
litúrgicas e doutrinais.
3. Constituiçom xiiª: Que façam emvemtairos dos ornamentos das egrejas
e mosteiros per que os emtreguem ao samchristãao que de novo entrar
e per elle dê conto quando sayr
(…) E per este modo a egreja nom perderá o seu e senpre saberá em
certo o que tem assy do passado como do que lhe em cada huum anno
for dado, leixado ou ofericido.”
Sínodo de Braga de 1477, D. Luís Pires
CANTELLAR RODRÍGUEZ, Francisco (co-autor), 1982 – Synodicon Hispanum.
Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, vol. 2, p. 88.
4. Constituiçom xiii.ª: Que pesem toda a prata das egrejas e moesteiros
(…) porque muitas vezes vimos em alguuas egrejas e moesteiros que
falecia prata em peças e outra achavamos quebrada e mingoada em
alguuas partes de pedaços que lhes tiram e furtam e outra transmudada,
scilicet levando huum calez grande e leixando outro pequeno e assy de
cruzes, turibullos, custodias etc., e todo por causa de a prata nom seer
pesada e escripta no emventairo com os signaaes que cada huua peça tem
(…)
Sínodo de Braga de 1477, D. Luís Pires
CANTELLAR RODRÍGUEZ, Francisco (co-autor), 1982 – Synodicon Hispanum.
Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, vol. 2, p. 89.
5. (…) abbades, priores e beneficiados (…) façam mui fielmente pesar e
escrepver toda a prata cada huua peça per sy, scilicet cada huua peça
quanto pesa e se he dourada ou branca e se he toda dourada ou em
partes e assy com quaaesquer signaaes evidentes que tever, em
guisa que se nom possa perder nem emlhear, mas que senpre se
possa conhocer . (…)
CANTELLAR RODRÍGUEZ, Francisco (co-autor), 1982 – Synodicon
Hispanum. Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, vol. 2, p. 89.
7. Regra e Statutos da Hordem d’Avis, de 1516
Dever dos visitadores de providenciar de todas as coisas necessárias ao
serviço de Deus
“(…) altares callizes cruzes e outra prata joyas vestimentas almaticas e
capas frontaes curtinas e quaesquer outros ornamentos livros e castiçaees
e cousas necessárias ao culto divino como lhes parecer e a custa de quem
for obrigado (…).
FERREIRA, Maria Isabel Rodrigues, 2004 – A Normativa das Ordens Militares
Portuguesas (séculos XII-XVI). Poderes, Sociedade, Espiritualidade. Porto, Dissertação de
Doutoramento no ramo de Conhecimento em História apresentada à Faculdade de Letras do
Porto (ed. policopiada),Vol. II, p. 81.
10. . Um século de transformações políticas, económicas,
sociais e religiosas que se reflectiram profundamente
na produção artística.
11. Evolução esquemática da matriz de Cacela, a Velha a
partir das Visitações quinhentistas
1518 1534 1554
1565
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais e formas na construção
religiosa quinhentista. Porto: dissertação de Mestrado de História da Arte
Portuguesa, FLUP.
13. O papel da igreja
“A igreja com os seus valores, os santos e suas
relíquias, com as suas cerimónias tais como as
ladainhas, e com o som apotropaico do seu
sino, é o pólo sacralizador e protector de toda
a freguesia. É a sua cidadela contra o mal. E
também o melhor símbolo para evidenciar
que um território está possuído e organizado.”
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - O Românico. História da Arte em Portugal 1. Lisboa: Presença, 2001. ISBN 972-23-2827-1. p.59
14. Raízes tipológicas
A matriz tipológica de uma grande
percentagem de construções encontra as suas
raízes no românico.
15. A igreja quinhentista
• 2 módulos de génese basilical: nave (ou 3 naves)
da igreja, para e a cargo dos fregueses, e a
cabeceira (capela-mor) e por vezes sacristia a
cargo dos párocos ou dos comendatários;
• Modelo simples e eficaz que respondeu às
necessidades litúrgicas e devocionais
emergentes;
• Modelo estruturante de grande parte das
construções religiosas até ao século XIX.
16. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação 1554)
1534
Sacristia
Nave lateral Altar-
colateral
Pia baptismal
(Evangelho)
Nave central
Capela-mor
Entrada principal
Altar-mor
Púlpito
Portal “ao romano” Pia de água benta
Nave lateral Altar-
colateral
(Epístola) 1554
Entrada lateral
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais e formas na construção religiosa quinhentista. Porto: dissertação de Mestrado de História da Arte
Portuguesa, FLUP, p. 35 e 43.
17. Matriz de Cacela, a Velha (interior)
Igreja do Espírito Santo (Aldeia Igreja de Santa Maria Igreja de São Clemente de
Galega) (Catedral de Faro) Loulé
18. A tradição tardo-gótica
Da esquerda para a direita: matriz de Alte (Loulé), matriz de Torrão e ermida da Senhora das
Salas (Salvas).
A decoração exterior é quase reservada aos portais de
inspiração manuelina.
20. Portal axial da matriz de Cacela
1518 – De pedra, novo e bom.
1538 – O portal não estava feito.
1554 – De pedra , “lavrado de romano”, de um lado uma medalha e do outro outra.
1565 – De pedra, lavrado de “obra romana”, bem feito e grande, com medalhas.
21. A igreja quinhentista
• As igrejas quinhentistas reflectem duas
concepções construtivas em confronto: os da
tradição gótica e manuelina e o de cariz
renascentista introduzido em alguns vectores
da construção.
22. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação de 1534)
Campanário
1518
1534 Alpendre
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais e formas
na construção religiosa quinhentista. Porto: dissertação de
Mestrado de História da Arte Portuguesa, FLUP, p. 30 e 36.
23. Titollo dos synos (…) campãas e campaynhas
“(…) levantem se em todo tempo aas tanto que
ouvirem a campaam da sua igreja se esteverem sãos
ou nom esteverem cansados de grandes trabalhos
(…)”.
Texto registado na nova Regra da Ordem de Santiago de 1540. FERREIRA, Maria Isabel Rodrigues, 2004 – A
Normativa das Ordens Militares Portuguesas (séculos XII-XVI). Poderes, Sociedade, Espiritualidade. Porto,
Dissertação de Doutoramento no ramo de Conhecimento em História apresentada à Faculdade de Letras do
Porto (ed. policopiada), Vol. I, p. 359; Vol. II, p. 131.
“(…) huua das jmsinias da jgreja parrochiall he
campanairo com sinos (…)”
Texto registado na visitação de 1511 à igreja de São João de Casével (Alentejo), determinando-se ao comendador, no espaço de
dois anos, a construção do campanário para os sinos. SANTOS, Vítor Pavão dos, 1969 – “Visitações de Alvalade, Casével, Aljustrel
e Setúbal” in Documentos para a História da Arte em Portugal. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, nº 7, p. 39.
24. Cacela, a Velha
“em frente à igreja um campanário
em um torreão.” (Visitação de
1518)
“manda-se por visitação ao povo
que faça um campanário sobre a
porta principal da igreja ou onde
melhor pareça para porem os
sinos.” (1518)
25. Inscrições: ano de fundição, frase
de invocação cristã e apotropaica,
encomendador, mais tarde o nome
do fundidor;
Baptizados e ungidos com o Óleo
dos Enfermos.
Sino da Igreja do Convento
de Jesus, oferta de D.
Manuel I. MS-CJ
26. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação de 1534)
1518 Capela-mor
1534
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais e formas
na construção religiosa quinhentista. Porto: dissertação de
Mestrado de História da Arte Portuguesa, FLUP, p. 30 e 36.
27. A capela-mor
A importância litúrgica da capela-mor,
assumindo o protagonismo cultual do templo,
reflecte-se nos materiais e técnicas de
construção.
28. Ermida de Nª Sª do Castelo, Aljustrel
1510 – Uma só casa sem ousia e tem um altar
de taipa forrado de tijolo.
1533 – com capela-mor.
29. Ermida de Nossa Senhora da Conceição,
Matriz de Alte, Loulé
Faro
Matriz de Tavira Matriz de Alvalade, Alentejo.
30. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação de 1518)
Colocação do altar-
Sacristia
mor (pinturas).
Pia baptismal
Pia de água
Alpendre Altar-mor
benta
Capela-mor
Nave
Altar colateral
(pinturas)
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais e formas na construção religiosa quinhentista. Porto: dissertação de Mestrado de História da
Arte Portuguesa, FLUP, p. 29 e 30.
31. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação de 1534)
Santo Sacramento
3 Óleos Santos
Sacrário
Altar-mor
Tríptico
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais e formas
na construção religiosa quinhentista. Porto: dissertação de
Mestrado de História da Arte Portuguesa, FLUP, p. 36.
33. Afirmação do culto da
Eucaristia
Missa de São Gregório
Autor:
Francisco de Campos
Séc. XVI (1560-1570)
Óleo sobre madeira
128,5 x 105 cm
34. Corpo de Nosso Senhor
Obradeiras
Galhetas
Cálices e patenas
Caixas de hóstias
Copas
Custódias
Sacristia
35. Ferro de Hóstias ou obradeira, EV.AN.1.001 apl
Fonte: Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora [Inventário online], disponível em
www.inventarioaevora.com.pt
Obradeiras ou
ferro de hóstias
36. Galhetas
Par de galhetas
Igreja de Nossa da Encarnação de Valverde (Alfândega da Fé)
[1495-1510]
Fonte: LEAL e SILVA: 2007, 8.
37. Cálice de estanho, inv. MS/CJ 393/T.6
Séc. XVI
Alt. 32,5 x 19 cm
Setúbal, Museu Setúbal /Convento de Jesus
Fotografia: MS/CJ
38. Cálice Cálice da Misericórdia de Setúbal
Salamanca, Aldeanueva de la Sierra MS/CJ
PÉREZ HERNÁNDEZ e AZOFRA AGUSTÍN: Inv. Ms/CJ 361/O. 21
2006, 253-254 Fotografia: Mário Cunha
39. Cálice-custódia (base)
Cálice
Séc. XVI (2ª met.)
MAS O-36
MNAA, 629 Our
Fonte: MAS
IMC, I.P. / MC
Fotografia: José Pessoa, 1992
Fonte: www.matrizpix.pt
47. Apresentação do Menino no Templo (pormenor da lâmpada)
MNAA, 6 Pint
Séc. XVI [1524], Gregório Lopes e Jorge Leal
IMC, I.P. /MC
Fotografia: Carlos Monteiro, 1993.
Fonte: www.matrizpix.pt
49. (…) huma baçia velha que foy d’alampada (1508)
(…) huua bacia com suas cadeas em que estaa huua alampada
diamte do altar de Nosa Senhora pemdurada per suas cadeas
(1523)
(…) dous bacios de cobre em que estam duas alampadas
(…) não tinha alampada de baçia pera estar amte ho sacrário (…)
hua alampada de baçia com suas cadeas pera sempre ardemdo
amte ho sacramento (1533).
Algumas passagens das Visitações às igrejas das Ordens
Militares de Santiago, Cristo e Avis ao longo da primeira metade
do século XVI.
50. Temas
Religiosos
dous bacyos d’acofra de Frandes pera oferta com Adão e Eva no meo. (…)
(1534)
dous bacyos grandes de latom hum delles com Adão e Eva no meo (1534)
duas basias de latão (…) outra que serve as ofertas que tem as figuras de
Adão e Eva (1607)
O tema mais frequente das bacias arroladas no Inventário Artístico de
Portugal.
51. Casa Museu Guerra Junqueiro Vitória & Albert Museum Igreja paroquial de Orus (França)
Datação: Finais séc. XV/XVI Datação: primórdios século XVI Datação: XVI
Origem: colecção Guerra Junqueiro Origem: Alemanha.
52. Outros temas religiosos:
Josué e Caleb na Terra Prometida
O Sacrifício de Isaac
Anunciação
Nossa Senhora com o Menino
Agnus Dei
São Jorge
São Cristovão
Josué e Caleb na Terra Agnus Dei São Jorge
Prometida
Casa Museu Guerra Junqueiro
53. Igreja Everöds (Suécia) Vitória & Albert Museum
Casa Museu Guerra Junqueiro Prato dito de Nurembergue, c. 1500
Datação: Finais séc. XV/XVI Datação: 1500-1550
Origem: colecção Guerra Junqueiro Origem: Nurembergue (provável centro d
produção).
54. Inscrições (latim ou alemão):
Que Deus nos auxilie na desgraça
Eu trouxe sempre a felicidade
Aquele está conservado em paz
Vingança não desejes
Deus connosco
Afasta-nos da Miséria
Maria ajuda-nos no perigo (…)
Igreja paroquial de Longroiva (Meda)
Inscrição: ICH WART DER IN FRIDE (Eu vigio na Paz)
Datação: início século XVI.
Oferta: D. Manuel I
55. Par de Castiçais
MNAA, Inv. 1162 / 1163 Our
Séc. XV [?]
IMC, I.P. / MC
Fotografia: José Pessoa, 1995
Fonte: www.matrizpix.pt
Castiçais de
latão
Ig. de Cedovim
Castiçal de latão (Vila Nova de
MNMC , 0760 Foz Côa)
IMC, I.P. /MC Fotografia:
Fotografia: José Pessoa, 1992 Mário Cunha.
Fonte: www.matrizpix.pt
57. Castiçais
. Grandes e altos: altar-mor
. Pequenos ou meãos: altares laterais ou colaterais.
dous castiçais gramdes d’arame do altar mor e quatro castiçais dos
altares de fora pequenos e bõos (…)
Visitação da igreja paroquial de Nosso Senhor de Castelo-Novo, 1537 (Ordem de Cristo). HORMIGO, 1981:
21.
58. Casa Museu Guerra
Junqueiro
Campainha de mão
Bronze
. campainha pequena de mão que serve nas procisõoes e quando vão comungar
(1510)
. huua campainha pera as cominhões e pera quando levantar a Deus (1505)
. Comunhão aos enfermos: levem diante tangendo uma campainha (1500).
60. Cruz de galhos (latão)
MGV 727 Cruz de galhos (prata dourada)
Séc. XVI [1500-1520] MNMC 6084 O-21
Transferência: Sé de Viseu, Sala do Capítulo Séc. XVI
IMC, I.P. / MC IMC, I.P. / MC
Fotografia: Carlos Monteiro, 2004 Fotografia: Manuel Palma, 1991
Fonte: www.matrizpix.pt Fonte: www.matrizpix.pt
64. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação 1554)
Escada amovível de
madeira (campanário)
1534
Sacristia
Nave lateral Altar-
colateral
Pia baptismal
(Evangelho)
Nave central
Capela-mor
Entrada principal
Altar-mor
Púlpito
Portal “ao romano” Pia de água benta
Nave lateral Altar-
colateral
(Epístola) 1554
Entrada lateral
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais e formas na construção religiosa quinhentista. Porto: dissertação de Mestrado de História da Arte
Portuguesa, FLUP, p. 43.
68. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação 1554)
1534
1554
Altar-mor:
Santos Óleos junto da pia
. Mesa de alvenaria
baptismal; sem grades.
. Retábulo
. Sacrário (Santo
Sacramento)
. Tabuleiro com 6
degraus
Portal renascentista,
executado entre 1538
e 1554.
69. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação 1565)
“Pia de baptizar:
(…) estaa entramdo polla porta primcipall
a mão esquerda cercada de grades novas
de bordo fechadas com sua chave;
(…) dous almareos em que estão os
Santos Oleos, baptisteiro, livros de
baptizados, casados e difuntos; os Santos
Oleos estavão como compria.”
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais e formas na construção religiosa
Pormenor - pia baptismal quinhentista. Porto: dissertação de Mestrado de História da Arte Portuguesa, FLUP,.
73. Cofre dos Óleos Santos (oferecido por D. Jorge de Lencastre)
Setúbal, Igreja de São Julião
Fotografias: Mário Cunha.
74. Âmbula (Garrafa dos Santos Óleos no Inventário do Âmbula dos Santos Óleos
Museu). Nº Inv. RE.SA.1.158 our
Nº Inv. MS/CJ 2920/O.54 – 13,2x10cm Prata, séc. XVII/XVIII, 40,2g
Origem e propriedade: Santa Casa da Misericórdia de Fonte: www.inventarioaevora.com.pt
Setúbal
Fotografias: Mário Cunha.
Óleo dos Catecúmenos , Óleo do Crisma e Óleo dos Enfermos
75. Matriz de Cacela, a Velha
(Visitação 1565)
Determina-se a colocação de grades de
bordo, torneadas, na capela-mor e a
abertura de uma fresta fechada com
vidro.
1565
NEVES, Francisco Manuel Coelho, 2008/2009 – Materiais
e formas na construção religiosa quinhentista. Porto: Projecção tridimensional dos confessionários do arco
dissertação de Mestrado de História da Arte Portuguesa,
FLUP. cruzeiro