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Pôr o lcitor directamentcem contacto
com textos Ínârsrntcs d.r história da 6loso6a
a todrs es épocase a todos os tipos
c cstilrs dc 6loso6a,
Drocurandoincluir os tcxtos
maissignificatirbsdo lrcnsamento6losó6co
nâ sua multiplicidade e riqucza.
Scrá assimum rcflcxo da vibratiÍidadc
do esplrito filosófico pcrantc o scu tempg,
Dcra,ntca qcncla
c o orobìcma do homem
c do mr.rndo.
TextosÍilosóÍicos
DircctorrJaColccção:ArturMorão
ProÍcssornoDcpanarncntodcFilosofirdaFacuklarJcdcCi0ncias
Ilurnanas da Univcnidudc Carólica Portugucsa
l. Críti<'udu Ru:rirrl'nÍrriz. Inrrn:nul Krnl
2. httcttigução uiltrc o È'l,enlintcnro líuar<rro, Dlrid llunr
!. Cnpúuttlo ilor ílrúrr, lÌicrlrich Nicrrrchc
4. Dix'urto lc llcntfiti<tt,CtrlíticrÚ Whilhclm triboir
5. Ot l'ntcttor th llcn{Ítin,Jmuucl Kant
6. Rcg,mtym u Dincçdo do t3píúo. Rcné llscancs
7, l'unthunalluçtio du lletufitico lot Cottumct.l:ticrdltich Nictar<hc
E. À llcio th I'enoncnohryiu,lllnvnJ llusrcrl
9. Dircurn tb llürxlo. Rcré l)csrancs
lO. trtto.k ll*, t)t1lütniw du llinlut Obm amt t3crirrr. Sffrn KicrtcgurrJ
ll. Ã l'ihuoftu no hhulc Tnlgico dot Cngor. Fricdrkh Nicrrt|r
12. C.rrril urhn u 7iíralrr<'irr. Jrün lrrc
13. I'ailcgóncur u ftxh a llcndíúcc f'rrrnr. Inrmrrl Kant
11. Tnnolo ilt Raltntn lo t)úenilinrtrrír. llcnto dc l:rpitxrc
15. Sinlxilinn: Scu Signifituh c Êlcr1o,Âlírcd Nonh Whirchcal
16. t)ttuio Sobn or luhr hnaliuos tht Ctuttt'iênciu. llcnti llcrgvn
17. ttrci<lq{úfuúuCihu'iutl:tkrtifintscnlitlnxnc(v/. l).CrrrgìYhillrlnrljricrlrichllcgcl
18. À ltt l'crttétta, c Outnrt Opút(ulor. Inrnunlrl Krnt
19. Diúhtgo xún c á'aljrrla/c. SantoÁgrntinho
N. I'rincípios tht l:ihutfia do funn. l.ulsig ljcucrbrh
21. Èu'i<lo1>llüt lur Ciènctut t|hróficos cn Ë1úttnc írrrl l/l.Cnrg Yhillxlm llriclrkh llcgcl
22. ll onnxtitos t)<tnt&nicot. t' rktsrificor. Karl Èl:n
2J. l'ntlrlãutittt lìlorr'fico. Crrrg 'hilhclm lïicrlrich I lcAcl
21. O Antü rito.lÌicrlrich Nictr.rclx
25. I)ir<'uno y,lrc u Dignühulc tb llmcm. Giovmni PicorJcllr Minnúrlr
26" tlcc I hnn. lÌicrlrich Nictrschc
27. O llutcrioliwo lüa'irrrrl. Grrtrn llxhclul
2ll. l'riu'Qtüu lltn{íúvs lu Ciènctuilo Nutunu,l:ric,JÍich Nictr-Í{hc
7). Di<lhryoile utn llót{o Cri*lo c ilc un l:ikttófit Chrirãr. Nicohr Àhlcbne."lr
!J. O Siucnn ilu lïrla Éritr, Crrrg ì'hi lhclnr tÌicrtrich I lcacl
31. lntnrhtção à llitóriu ilu l'iloutfia. Cnrg Whillrlnt lÌicJrich llcgcl
12. A t Co fc rênt iur /r lÌrrrr. l'rJmunJ I lurrcrl
13 Tcoút lur Cou c14iks lo lttarlo.  ilhclm l)ilthcy
It. A Rcligüio not ünitcr ilo Sinl>lcr lfrrcio. Inrnunwl Krnl
75 |lu'ültryúliu ilut Ciiu'üts l:rlottificut cnt tpÍunnc (rr/ /l/J. Ccrrg  hillxlnr lÌicrJrich I lcgcl
16 luvttigol,irt t'ilttuifi<'<rt&iltn o |stêncfu du Ulxntutc tlunxnn. F.W J x-lrlling
17. O Cutf ito lu l'rrrrllrrlc. lnrnunucl Krnt
It llone c Sobnritin< i<t.Àhr Schclcr
19. À llu:io m I liÍ.iÍür. Crc(x8Whilhclm lÌicdrich I lcgcl
411. O No*t t)rphito Cicntífrco,Gtt<n llrhchrü
4 |. &ún u ltctofíti<rt ilo Scrno Tonlxt. l lcnriquc rlc Gand
12. t'rincúúts ila t|hutfrt, Rcrú l)csrncs
41. Trutuh ilo l'rüncint l'riucípüt. hül l)un: lircrro
4. Í)rsirt yilrn o ltnhulciru Orig,cm.c rrenuin cfitn thrGovmo Cinl,hilrn lrxlc
15. A Unühulc do hrtclccttt t-tttrtruor Árvrarirlor. Sio Trxnásdc Âquimr
46. À Gucrm c Quciw ilu lt:.|:lrsnrudc Rdcrúio
17. Uçìr s u ú n u lfucç ão do &ihi o, JrilrannCxrtlicb lichtc
4lf. Llrr l)rrrrr I Ih OlJiciit),Cíecm
4). Do Alnw (lkiairrrr.
^íirlúclcr9. A Ew,luçdoCrialora, llcnri llcrgsn
Sl. l'útilogio e Ctrn2rcrrlirr. ì'illrlm l)ilthcy
REGRAS
PAKAADTRECçÃO
DOESPÍKITO
Títulooriginrl: Regulacad Dincticlrteulngcniì
@Erliçõcs70
Truluçtrodclolo Gama
Cap dcEdiçÕcs70
DcJúsirobgrl n.'283l0rìE9
tsBN97244-0599.0
TqJososdircitosrcscrvadosJnraalÍnguaponugucsa
Jrcr&liçòcs 70
ED!çÔES?0.LD^.
RuaLucirnoConlcirc.123- 2."Esq.o- 1069-|J7LISBOÂ/ Irorrugrl
TclcÍ.:213190240
Far:213190249
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Estaóra csráprorcgidapclalci.NtropcrlcscrrcpnxJuzi<ta
notodooucmÍErtc.qualqucrquc scjro modoutiliado.
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pmccrlimcnrojudicial.
René
DESCARTES
KEGRAS
PARAADIRECçAO
DOESPÍKITO
BREVENOTÍCIA
Unropúsculoinconrpletode Descanes,masquão signifi-
cativo!Osestudiososdiscutemadataemgueterãosidorcdigidas
asRegrasParaaDirccçãodoEspÍrito.Asváriasopiniõessiruam
a suarcdacçãoentrc1620e 1635,tendoemcontaalgumasalusões
biográlìcasnasRegras2.4, 10.
SegundoH. Gouhiernasuaedição(r),asRegrasnãodevem
seranterioresa 1623:constituiriamumaespéciedercsukadodo
trobolhointelectualfeitoentrcI6?3e 1628eloi nesteúltimoano
queDescartesasteriapostopor escrito.
Porseuturno,ahistóriafisicadotextotemalgunsmeandrcs.
Há três nnnuscritosintponantes:a) o manuscritooriginal,que
pertenciaa Clerseliecnlr.sperdeu-se;b) umacópiaquefoi de
LeibnizeseencontnounabibliotecadeHan6ver;ec)a cópiade
quesesemiramoseditorcsdosOpusculaposthumanaprimeira
ediçãodo texto latino entAmesterdão,1701,e que também
desapareceu.CharlesAdam(e Paul Tannery),na suagrande
r9ó5.
(f) Dcscartcs.Rctulacaddinctioncmingcnii.Preí&iodcHcnriGouhicr.Puir. Vrin
cdiçc-ndoscscritoscerte.ïieno-$,OcuvrcsclcDcscancs,I'aris,Ccrf
1908(lulc, cditukx pcla Vrin), ,rlcorrcu ao tc.topublicado mts
Opusculac às variantcsdo nranuscritodc Hurtôver.
É essetcxto (,to tomo X da ediçtio de Atlamc Thnncry)quc
scrve de busccpresc,ttcediçïtoc tratluç[io pura português.
Sco lcitor esrivcrimcrcssado,hú algunnsobrusfunduncntuis
quc o podcrãoajutlar a cstudara.sRcgulac:
l) E. Gilson,Irulcxscolastico-carttisictt,ltris, Alcan, 19/,3.
2) E. Gilson,Rcnél)cscuilcs.Discoursc<lcla Méthcxle.I'c.rut
c co,,tc,rlúrio,I'uris, Vrin 1925,/,967tIR.I)cscurtcs,Discursodo
Métotfo,anotculoeutnrcntadopor E. Gilxn, Ediç't'ics70,Lisboal.
3) L J. IJeck,Thc Mcthodof Dcscartcs, u studyof rlrcRcgu-
lae,Oxfttnl 1952.
ArturMorão
REGRI I
A finalidade dos estudosdeve ser e orienteÉo do
espírito pere cmitir iuÍzos sólidos e veÍdedeiros sobre
tudo o que se lhe depara.
Os h<lmenscostumam,semprequereconheccmelgu-
ma semelhançaentreduascoisas,avaliarâmbas,mesmo
naquilo cm que são diversas,medianteo que reconhe-
ceram numa dclas como verdadeiro.Rcalizam assim
falsasaproximaçõesentreesciências,queconsistemexclu-
sivamentcno conhccimcntointelectual,e as artes,que
exigenralgum exercícioe hábito corporal; e vêem que
nemtodasasartcsdevemseraprendidassimultaneamente
pekr mesmo homem e que só a<1ueleque exerceuma
única se transformamais facilmentcnum artistaconsu-
mado;asmesmasmãosquesededicama cultivaros câm-
pos c a tocar cítara,ou que se entregama vários ofícios
diferentes,nã<>os podem cxccutar com tanto desafogo
como sea unì só sc dcdicassem.Julgaramque o mesmo
se passarircom as ciênciasc, ao distingui-lasumasdas
outrâs segundoa diversidadedos seus objectos,pensa-
IO II
nrm quc cr:rneccsário adquirir cadeurnascplnrdamcnte,
dcixandodc lado todasrs ()utÍ:ls.Iingantram-scrotunde-
menrc.Glm cfcito, visto quc t(des as ciênciasnedameis
sàodo quc 1 sebcdorialtumrnr, a qual pcrmtncccscnìprc
une c idênricrr [xrr nruito difercnrcs quc sciam ()s
obicctos e quc sc rpliquc, c rúo reccbc dclcs nreis
disrinçircsdo que r luz do sol dr varicdrdc das coisas
<1ueiluminl, nio há ncccssidadcdc imJxrratr cspíritos
quais<;ucrlimircs. Ncm () conlrecimcntodc um:l só
vcrda<lc,com() sc firra a práricr dc umt única ane, nos
dcsvia da dcscobcnr dc (,utn; pckr contúrio, aiuda-
-nos. Scnr dúvide, paÍccc-mcdc cspantarquc a meior
lnnc indague,c()nìír nìai()rcntJrcnho,()sc()stumcsdos
Iromens, as propricdadcs des phnrrs, ()s movimenttx
dos astros,as tmnsmutaçirs dos ntctaisc os rtbjccttts
dc scnrcllrrnresdisciplinasc que, entÍctant(),quascnin-
gudnrpcnscno lxrm scns()ou ncla Sabcdoriaunivcrsal,
guando rudo o mris dcvc scr eprcciado,nào tlnt() lxrr
si mcsnì() qulnto [rkr contributo quc I csta tnü2.
Assim, ni,r d scm motir() quc Íx)m()scst1 regÍr lntc
de t<xlasas ()uras, Íx)rquc nrdr nos afasta tmto d<>
recto caminho da pr(xur:r da vcrdadecomo oricnttr oo
tì()ss(rsatlgdos,nio prrr cstcfint gcral,maslnm dguns 6ns
panicuhrcs. Não falo jâ dos mausc condcúvcis, como
a r'ã glória ou o lucro vergonhoso: c óbvio quc as
rrzr'>csdc nuu quihtc c ()s cmbustcs próprios dos
cspÍritosvulgarcsabrcmncstcscntidoum caminhomuit<r
mais trntaioso do quc () prdcria ftz.crt> sólido c<tnhc-
cimcnto da vcrde<lc.IÍas prctcndo falar drx fins honcs-
r()s c kruvárcis, Íx)Íquc nnis subtilmcntcsomos por
clcs ntuitas ïczc cntnnados: F)r cxcmPlo,âo PÍrrcurar-
nros adquirir as ciêncirsútcis parr o bcm-cstarde cxis.
têncir (ru prÍ:l () prezcrquc sc cnc()ntrane contcmplaçàrt
dr rcrdadc, e gue c quasc a única fclicidadccomplcte
ncstavi<lac (luc ncnhumador vcm Jrnurbar. Sãocstcs
rrs frutos lcgírimosdas ciêncirs quc cfcctivamcnrcgxlc-
rÌì()s6[rcrar; mes,sc nclcspcÍtsarmosdurentc o estudr.l,
fzzcm muitasvcz6 quc omitamosmuirrr nrciosncccssá-
rirr Jrrra o conhccinrcntodc (rutnÉ coisas,F)rquc sc
úgunri<1, à primcire
-visra,
()u Íx)uc() útcis ou ixruco
dignos dc intercssc. É, prcciso icrcdinr <1ucr.rdas rs
ciênciasesrãodc ral mrxÌr concxascnrrc si {uc d muitís-
simo nrais fácil aprcndê-lasrrxlas a() mcsmo tcmpo
do quc scpamruma só quc scjadrs outras. Porttnto,'se
alguém quiscr inrcsrigar a sdrio a rcrdedc des coises,
não dcvc cscolhcr uma ciência lnnicular: csrão ruhs
unides cntrc si c dcpcndcnrcsúmas d's ourras; rÌuls
pcnT a[rcnascm aumenrera luz narunlda razlo, não1nm
rcsolvcr csta ()u rquch dificuldedc dc cscoh, mas fan
que, cÍn cede circunsrâncirde vida, o intclccto mostrc
à vontadc () quc dcvc cscollrcr.D,mbrcvc ficaú 6paÍl-
tado dc rcr fcito progrcss()smuito supriorcs atrs dc
quantosscdcdicrm r csrudospartiorlarcs,c dc rcr obrido
não só tudo o quc os ourÍos dcsciem,nrasrinde coisrs
mais clcvedes do quc es quc podem 6ÍrcnrÍ.
,2 ,l
REGRÂ II
Importa lidar unicamente com aqueles.obiectos
para cuio conhecimento certo e indubitável os
irossot espíritos Parecem ser suficientes.
T<ldaa ciônciai utn c<lnhccinrcntoccrto c cvidcnte;
os lcvou a não rcflectirsobrctris conhccinrcntos,c()mo
dcmasiadofáccisc accssír'cisa t()d()s.
^o crÌtantr),s()u
dc opiniàodc <1uccstcss:ì(,nruitonraisnunrcr()s()sd()
quc pcnsenìe suficicntes pxra pr()'ar, c()m ccrtcza,
inúmcrasproposiçircs,accrcsdascluaisnão pudcramdis-
corrcr atcicntlio x lìrìo ser dc un'tarììrnciraprovável.
Porquc julgaranrindigrro dc urrr homcm lctrado con-
fcssarquc irnorevr algunrecoisx,hrbituarrm-sedc tal
modo a adornar as suxs íllsrs razòcsquc, inscnsivcl-
nìcntc,acabarantpor a si prripriossc pcrsuadiremc as
t()rììxrcmc()nì()r'crdadciras.
No cntanto,sc obscrvrrnìosbcm csta rcgra,muito
poucascois:rsseeprcscntanra cujo cstudonos possxmos
aplicar.Dificilmcntc sc crìconrraránasciênciasqualquer
qucstãosobrc a qual os lrontcnsversld<lsnão tenham
muitasvezcsdiscordadocntrc si. ìÍas, scmprcquc duas
pessoastônr sobrc a ntcsrnl coisajuízos contrários,dc
certczrquc pelonrcn()sutÌìa()u()utrasccngana,c nenhu-
ma delasprrecenlesmotcr ciôncia;porquc,sers razõcs
de uma fossenrccrtasc cvidcntcs,podcria cxpô-lasà
outra de modo a finalmcnteconvencer() seu entendi-
mcnt(). I)arcce,pois, cluc sobrc todos os assuntosdeste
géncro podcmos obter opiniires provár'cis, mas úo a
ciência pcrfcita, visto quc nâo nos é pcrmitido scm
temcridade esperar mais de nós mcsmos do que os
outros fizcranr. Âssim, das ciênciasiá encontradas,res-
tam só a Âritméticac a Geometria,àsquaisnos reduza
observaçãodestaregra.
Âpesarde tudo, não condcnamospor issoa maneira
de filosofar atéagoraencontradapclosoutrose, nosesco-
lásticos,a maquinariados silogismosprovávcis,perfei-
tamenteadcquadaàs suasguerres.Na verdade,são até
um cxercíciopara os cspíritosdas criançase com certa
emula$o os fazemprogredir: é muito mclhor formá-los
medianteopiniões dcstc jaez, ainda que aperentementc
incertas devido às controvérsiasdos eruditos, do que
abandoná-loslivrementea si próprios. Talvez sem guia
sermosseriamcntedeterminarparanós próprios esregras
que nos aiudema chegarao cume do conhecimentohu-
mano,há queadmitir entreasprimeirasa quenosprcvine
contra o abusod<lócio, em quc tantosceem;dcixam de
lado o que é fácil, só se ocupam de coisasárduassobre
asquaiselaboramengenhosamenteconiecturasPor certo
muito subtisc razõesdeverasprováveis.IÍas, apósmuito
trabalho,advertemiá tardeque não fizeram maisdo que
aumentaro número das dúvidas, sem terem aprcndido
uma ciência.
E agora, por há pouco termos dito que, entre as
disciplinasconhecidaspelos outros, só a Aritnrética e
^Geometriaestavamisentasde todo o defeitode falsidade
ou de incefteza,vam()s examinar mais atcntamentea
razão disto mesmo, observandoque há uma dupla via
que nos lcva ao conhecimentodascoisas,a sabcr,a exPe-
riênciaou a dedução.É precisonotar, alémdisso,que es
ainda o menos racional. E pouco úteis me Parecem
ser pare isso os laços com que os DialécticosPensam
governara ttzão humana,sebem que cu não negueque
scjam muito apropriadospara outros usos.Com efeito,
todo o erro possível- falo dos homense não dos ani-
mais- nuncr resultade uma inferênciaerrada,masapc-
naqde sc partir dc certasexpcriênciaspouco comprecn-
didas ou dc se cmitirem juízos de nrodo temerârioe
scnrfundanÌento.
De tais consideraçoesinfere-seclaramenteporque
é que a rritméticac a Gcometriasãomuito maiscertas
que as ()utrasdisciplinas:são cfectivamenteas únicas
de todas,e têm um objectotal como o exigimosjá que,
exceptopor inadvcrtêncir,pareccdifícil nelasum homem
enlÌanar-sc.Âpesardc tudo,nãoé de espantarquc muitos
espíritosse apliquem espontancanrcntea outras arres
ou à filosofia:isto aconteceporquccadaqual se pcrmite
a si mcsmomais confiadamentcser adivinho em matéria
obscurado quc em matériacvidente,€ é muito mais
mas somenteque, na procura do rccto caminhoda ver-
dade, não há que ocupar-sede objecto algum sobre
o qualnãosepossatcr uma ccrtezaigualàsdemonstraçõcs
da rritméticae da Geometria.
t6 I7
REGRAIII
No quc respeita aos obiectos considerados, há
quc pÍocurar não o que os outÌos pensaram ou
o que nós próprios euspeitamos, mas aquilo de
que podemos teÌ uma intuição clara e evidente
ou que podemos deduzir com certeza;de nenhum
outro modo se adquire a ciência.
Dcvemlcr-seoslivros dosÂntigos,poiséumagrandc
vantaÍ{cnìpodermosaproveitar os trabalhosde um tão
elcvado número de honrcnsrQucÍ para conheccras dcs-
cobcrtas iá feitas no passadocom êxitor Qu€r também
para n()s inf<rrmarnrosdo quc ainda falta descobrir cm
todas as disciplinas.FIá, contudo, um grandc pcrigo
dc se c()rrtraircnìtalvez algumasmanchasde erro na lci-
tura derrrasiadoatenta desscs livros, manchas que I
nós se agrrÍanì sejamquais f<-rremas nossesresistências
c prccauçõcs.Com efeito, os escritorescostumam tcr
um cspírito tal que, todas as vczes que sc cmbrcnham
p()r un'tacrcdulidadeirrcflectidana crítica de uma opi-
niào controverse, se esforçam sempre poÍ nos atrair
mediante os mais subtis argumentos. Pclo contúrio,
scmprcquetiverama felicidadede cncontraralgode ccrto
c evidente,nuncao expõemscnãocom rodeios,receando
eparcntementediminuir pcla simplicidade das razõcs
o mérito da invcn$o, ou cntão porque nos inveiam
a verdade às claras.
rinda que todos f<rssemdc boa índole e francos,
impedindo-nos de tomar coisas duvidosas por verda-
dcirase expondo-nostudo dc boa fé, porquedificilmente
um afirma dgo cuio contrário não seja proposto por
outro, nuncâ sabemosem qual dcles acreditar. E não
valcria dc nada conter os votos para aderir à opinião
panilhada por mais Âutores; porque, sc sc trata dc
uma questão difÍcil, é mais credÍvcl que a sua vcrdadc
tcnhe sido descobertapor um reduzido número do que
por muitos. Mcsmo se todos estivessemdc acordo, o
seuensinonão nos bastaria:nuncenos tornaremosmete-
máticos, por exemplo, embora saibamosde cor todas
as demonstraçõesfeitaspelos outros, se com o espÍrito
não formos capezcsdc rcsolvcr todo e qualqucr pro-
blcnra; nem nos tornaremos filósofos se, terido lido
todos os raciocÍniosdc Platãoc Âristótelcs,não puder-
mosformar um iuízo sólido sobrequentonosé proposto.
Com efcito, darÍamos a impressãode termos aprcndido
não ciências,rns histórias.
Âlém disso, somos admoestadosa não misrurar
absolutamcntenenhumaconiccturacom os nossosiuízos
sobrc a vcrdade das coisas. Esta advertência não é de
somenosimportância: pois, a melhor razão pela qual
não se cncontra ainda na filosofia vulgar nâda dc tão
cvidcnte c tão ccrto que não possaqucstioÍÌaÍ-se,é que
primciramente os cstudiosos, não contentcs com reco-
nheccr as coisas claras c certes, ousaram defender
coisasobscurase dcsconhecidas,quc só por coniecturas
prováveisdcançavam.Depois, pouco a pouco, elcspró-
prios lhcs dcram crédito total e confundiram-nas indis-
tintamentccom as coisasvcrdadcirase cvidcntcs,sem
podcrcrn tirar ncnhuma conclusãoquc não parecessc
dcpendcrdc algumaproposi$o semclhantec quc, por
conscguintc,não fossc inccrta.
, fim dc não cairmosultcriormenteno mcsmoerro,
vâmos aqui pessarcm rcvistatodos os actosdo nosso
cntcndimcnt()quc nos pcrmitcmchcgarao conhecimento
das coisas,scnr ncnhum rcccio de cngano; admitcnr-se
apcnxsdois, a sabcr,a intuição e a dcdução.
l'or intniçãocntcndo, nâo a convicçãofutuantc for-
necida pclos scntidos ou o iuíz<>cnganador cle uma
imaginaçãode conrposiçõcsinadcquldas,nìas o con-
ceito dr rììcrìrcpurÍrc atcntatão fácil c distinto que ne-
nhuma dúviclanos 6ca acercado quc conrprccndemos;
ou cntã(),() quc é a mcsmac<lisa,O conceitodr mente
pura e atcrlta,scm dúvida possívcl,quc nasccapcnas
da luz da razio e quc, por scr maissinrplcs,ó aindamais
ccrto do quc a dcdução,sc benr quc cstx última nâ<r
possascrnralfeitapclo homcm,como acinraobsen'amos.
rssim, cadaqual podc ver pcla intuiçãointelectualque
cxistc,que pcnsa,que unr triânguloé dclinritadoapenas
por trôs linhas,quc r csferao é apcnaspor umr super-
fícic, c outras coisasscrnclhantcs,gue são nruito mais
numcrosasdo quc a maioria obserr'â,porque nã<lsc
dignenraplicara tììcrìtcr coisastio fáceis.
Quurto ao mris, faço ac;uiunra advcrtônciagcral
não r'á alguim talvcz surprcender-sccom () novo uso
dr palavra intaiçtìr.,c de outras clue igualmente serci
f<rrçadoa dcsviarda sua significaçãovulgar: não penso
scqucrno nroclocomo cadacxprcssãofoi, nestcsúltimos
tcmpos, usadanas cscolas,porque seriadificílimo scr-
vir-nredos mcsnrostermosc exprimir idciastotalmente
diversas;nìasvou atcr-mcunicamcntcà significaçãode
cadaprlavracm latimparaquc,à faltade tcrmospróprios,
transíiraparx a minha idcia, os que me pareccmmais
adcquados.
Ora, estaevidênciae estacertezada intui$o não são
apenasexigidasplr.aa: gimpleqenunciações,mastambém
para quaisquerraciocÍnios.Seja,por exemplo,estacon-
sequência:zezé iguala l maisl; éprccisoverintuitiva-
mentenãosó que 2 e z são4, e que ; e r sãoigualmente
4, mas,alim disso,quedestasduasproposiçõcsseconclui
necessariamenteaquelatcrccira.
PoderáagoraperÍlunrar-sep()rqueé quc à intuiçâo
juntámos um outro m<ldo de conhecinrento,que se
raliza, por dedaçtoipor cla entcndcmoso que sc con-
clui necessariamentede outras coisas conhècidasconr
certeza-.lìoi imperiosoproccdcrassim,porque a maior
partedrs coisassãoconhecidrscom ccrtcza,ômboranão
scjamcm si evidentes,contanto que scjam deduzidas
de princípios vcrdadeiros,c i^ conhecidosrpor um
nrovirrrcnrocontínuoc inintcrruptodo pensamento,que
intui nitidamentecadacoisacm particular:eis o único
nrododc sabermosque o último clo dc uma cadeiaestá
ligado ao primeiro,mesmoque não aprcndanrosintuiti-
vamentcnum sóe mesmoolharo conjuntodoselosinter-
midios,dc quc dependea ligação;bastaqueos tenhamos
cxaminadosuccssivamentec quc nos lembremosque,
do primeiroao últinro,cadaum delesestáligadoaosstus
vizinhosimediatos.Distinguimosportanto,aqui,a intui-
ção intelectual dr dcdu$o certa pclo facto de 9uc,
nesta,seconccbcumaespcíciedc movimento ou suceslão
c na outra,não; alémdisso,paraa deduçãonão é neces-
sário,como para a intuição,uma evidênciaactual,mts
i antesà nremóriaque, dc certo nrodo,vai buscara sua
certez^.Pclo que sc podc dizer quc estasproposições,
qu€ sc concluemimcdiatanrcntcI partir dos primeiros
princípios,são conhecidas,de um ponto de vista dife-
rente,.ora por intuição,ora por dedução,mas que os
primeirosprincípiosse conhccemsomentepor iniuição,
e, pelo contrário, as conclusõcsdistantesió o podem
scr por dcdução.
2I
F,isas duasvias mais scgurasÍtarr chcgarà ciôncir;
do hdo <ftrcspírit. não se dcrcm adnritir mais,c trdes
as()utrasdcvcnt scr rcicitadssc()mosusJritesc pssÍvcis
dc crro; () quc, ap6rr dc tudo, não nos impcdedcacre'
ditar <1uca<luiloquc firi obiccto de rcvch.çãodivine c
ntais ccrto do quc qualqucr()ulr(t conhccimcnto;c()m
cfciro, a fr:, Jxrr tisrr coisesobscuras,não d um acto
do cspírito,rnrs da vontrdc. F, sc tcnr fundement()sno
cntcntlintcltto, Jxxlcrãrtc dcvcrirl t<xlosclcs ser dcsco-
bcrros Jx,r unri ()u ()utÍìl clrs virs iá indicades'como
trlrcz únr dir o demonstclÍcmosmeisrmphmentc.
REGRÂIv
O mâodo é neccuÁrio parar pnocusrde verdede.
C)slÍorteis sãodominedosÍx)r umt orriosidedcrão
ccgl quc, muitasvczcs,cnvcrcdrmo espÍriropor cemi-
nh<x dcsconhccidos,scm qualqucrcÍrcnrnçarazoávcl,
mesunicamcntclÌrçr sc arriscarem1 cncontnrro quc
procunrm:é como sc rlgudm, inccndiedoplo dcscio
tão cstúpidode cncontrerum t6íJuro, vrgucrsscscm
ccsslr plas prags públicr ÍÌlnr vcr se, c?sualmcntc,
cncontÍ:rvarlgum pcrdido [x)r um tnrnscunte.rlssim
cstudemquesctrdos os quimisras,r maiorit dos gcó-
mctnrsc um gmndc número de 6lósofos;nio ncgcr
quc tcnhrm por vcz6 muiras()nc nos scusceminh<>s
crnrntc c encontremalgumevcrdtdc; contudo, não
nrturd c ccgemos cspÍriros.Qucmscecosrunua andar
,t
assimnis tÍcì'ascnfnquccc dc ral nt.rdoa acuidrdcd,t
ollrrr que,dcJxris,nio Jxdc suÍx)ntr r luz do plcn,rdir.
Ê r cxpcriôncirquc o cliz: 'cnì(rsntuitíssimrsvczcti()s
quc nunc? sc clcdicrrrm às lsras iulgar o guc sc llrcs
dçrrr conì nruito nttriors,rlidezc clarczado <pc acluclcs
quc scnìprcfrc<;ucntamntls cscohs.IintcndoJxrrn:ct<xftr
Ícgrrs ccnasc fáccis,<;ucpcrnritenìI guenìcxadinìentc
as obscrrar nuncl tottìtrÍJxrr vcrdrdciro elg,r dc falso
c, scrììtlcspcrrligrrinutilntcntcncnltuntcsf<rrço<h tttcnte,
nìtrsaurììcntr:tdosctììpÍcgradurlrrrcntc(, stl)cr,atingir rr
conlrccirttcntovcrdrdciro dc tudo () quc scrá crPrz
dc srbcr.
rc;rri,hi durs obscrraçircsa frzcr: nào totlìaÍ ebso'
lutantcntclredadc frlsoJr,'rvcrchdcir,t,c cltcgara<tconhc'
cin:cntoclctud,t.(ìrnr cfcito,sci:llt,rrarttì,rstltlo dc<1uent,r
Jxxlcmos srlrcr c apcnrs [x)rquc (,u nuncl divisámos
umr tir quc n()sconduzissea td conltccimentrr,()u [x)r-
quc crínros no crÍ() ()[x)st().]las sc o nritrxlr nrts dá
unrr crplic:rçio pcrfcitr do uso dl inruiçio intclcctuel
prrr nàoclirmos n(, cÍrr) contrârioà rcrdrdc, c d<lnrcio
dc cnc,,ntrrr dcduçr'rs plra clreger ao cottltc<imcnto
dc rurl,r, prrccc-nrcquc nrdr mais sc crigc prn clc
scr conrplcto,ii quc ncnlruntrcii'rtci.tsc gxlc rdquirir
a n:ro scr pch intuigâo intclccturl ()u pch dccluçio,
c()nì() anrcs f ic,,rr ditrr. Ncnt clc sc Ítxlc cstcndcr
atc:ensinrr conì()sc dcrcrtt íazcrcstasoPcr:rç('És,Íx)Íquc
sàoas nraissirrrplcsc printcirasdc t<xlas,dc rrl mancira
que,sc (, Ít()ssocntcnclintcnt()as nã()pudcsseuslr trnlcst
nàoconrprccndcrirncnltuntrlosprcccitosdo priprio ntd-
1ralo,Jxrrrrraisficcis clucfosscnt.Quentoàsoutrts ttJrc.
rrçips intclccturis,quc a Dialccricrsccsfirrçayrr rtricntar
c()tìra ajudr dcsrrsprinrcirrs,sio rqui inútcis,()u antcsr
dcrcnr corìrer-sccntrc ()sobstáculos,ji quc nio lri nadr
quc sc F)ssaiuntarà pur:rluz da nzào, scnrI obscurcccr
dc unra ou dc outra mencirr.
Umr vcz quc. utilidedcdestcmúrdo é tio grendc
quc o cultivo das lctras 1Ìrrece,scm ele, dcstinedoa scr
nuis prciudiciel do quc úril, facilmcntc mc convcnço
dc quc os cspÍritossupcri<.rrcs,mcsmosó sob 1 condutl
de naturez:, já entcs o divisrram de dg;ume mencirr.
(nm cfciro,I mcntehumenrtem não sci quêdc divino,
cm quc as primcins scmentc dos Jrnsrmcntos úteis
firram hngrdas de tal mrrdo quc, muitrs vc:26, rinde
cluc dcso.rradrsc abafadesp>r cstudos fcitos indirccra-
mente,prrxluzcm um fruto 6pontânc(r. É o <1uccrgrri-
mentlmos, nrs ciôncirs meis fáccis, r rrirméticl c a
Gcomctria: dc facto,r'emosbastrntcbcm quc os mtigos
(icrinrcrms urilizerem ume cspdciedc aúlisc quc elten-
diarrr à soluçãr>dc trxftrs os problemrs, ainde quc Íúo
r tcnham transrrritidoà lxrsteridrdc. E agora ílorcscc
um gdncroclcAritnritica,quc sechamarlgcbra,quc pcr-
mitc frzcr prnr r)s núntcros o quc os .'ntitlos frzirm
prm as figurrs. l'lstasdurs coisesnio prssamde frutos
csgrntâncosdos princípios naturris do n()ss()m&odo,
c não mc admir<lquc tcnhesido ncstrsencs,cujosobicc-
tos slo muito simplcs,quc clcs atd aqui cÍccctlm com
mais frcilidedc do quc nrs ()urÍ:ls,on<lcmeiorcsobstâ-
culos gcralmcntc ()s c()srurrulnrabafer, mas onde tam-
bém, no cntlnro, sc sc cultiveÍcm com sum()cuidedo,
sc frrio infalivclmcntc chcger à pcrfcire meturidedc.
lìri o quc mc pÍopus principrlnrcntcfazcrncsteTra-
rado. frlle daria nruira inrJxrrtânciae 6ras ÍcgÍas, sc
sri scrvisscmpara rcsolvcr os r'âos problcmrs com quc
costumamcntÍcter-sc os elcuhd()rcs ()u ()s gcómctms
nos scuspassrrcmpm:iulgaria, ncsrccuro, não rer drdo
outm provl dc suJrrioridadc quc I dc mc cnrpr dc
bagatclas,trlvcz conr nuis subrilczado quc ()s outros.
Ë aindequc cstciadccidido r frl:rr rqui muito dc figrras
c de númcros, lx)rquc não sc g>dcm pdir a ncnhume
das ()utms disciplinas ercmplos tã<>cvidcntcs c tio
cert()s,qucnr,no entânto,pÍ6rar etcnçãoà minha idcie,
2t
apcrccbcÍ-se-áfrcilmcntc dc gue 6t()u r pcnsar nede
mcn(rsdo quc nas .lrtcnráricrsvulgarcsc quc cxpoúo
umtr()utm disciplinadc quc classão mris roulagcnrd<r
quc ÍÌlÍ16. Ibra disciplinadcvc efcctivamcntcc()nteÍ()s
Primciros rudimcntos {a rrzj' humanl c cstcnder-sc
lnn hzet brrrtarvcrdadcse rcslrcitgdc quelqucrlttsunto;
c, prÊl faler livrcrncnre!d prcfcrÍvcl a trxÌr o ()utÍo
conhccimcnf(,trtrnsnritidolrumanamcnle,visto quc d a
filntc dC trxl,rs r)s (rutÍ()S:c cstt e minlrr pCrSurSiíJ.
Sc falci dc roupagcntnào sirlnificequc cu qucirr cobrir
c cnrolvcr cstccnsinoparaeÍast:rro tulgo, 1nt6 o qucÍo
vcstirc rdornarprrr nrclhorscadaptaraocspíritohumrno.
Qurndo prinrciranrcntcnìc rplicluci às disciplinas
metcmáticas,li logo intcgralnrcnrcr nreior prnc das
coisasquc habirualnrcntc()sscuspr()nìot()r6ensinrmc
culrirci dc prcfcrt'nciar Âritnrcticac a (ìconrctrir,
Jxrr-
quc cr:rm - <lizir-sc- as meis sinrJxls c como gue
uma scnda para rs Í6t1ntcs. Ilas, tant<)numr c()mo
n()utm,nào tivc tr s()nc dc mc rircm às mãos Âutorcs
anÍn:zcsclcnrcsatisfrzcrplcnrrncnrc;lir nclcs,ccnamente,
ntuitascorstrsaccrcados núntcros,cujo cilcukr rrtcfazie
coÍÌstatrr a vcrdrclc; <;uentoàs figuras, hevir muitas
coisas quc dc rlgunre mencirr clcs nrc metirrrr 5rclos
rillrrn dcntr,r c quc crtrnl () rcsultadodc conscqui'ncias
rigorosas;nust Íx,Í(luc c c;uccnr assrnre conto lá se
chcgara nio n1s parccir {uc . pttcnt€sscnì bastrntc
à rttcntc; Jxrr isso, nào ficava surprccnclid,,eo ver I
maior partc d,r lrontcns,nlcsmoos bcnr drxadosc cru-
clitos,aíÌ,rar cstrsanesprrr logo asaband,rntÍcnìc()nìo
rnfantisc inútcisou, pclr conrrário,dctcr-scà cntrrdr,
dissurdid,,sdc asaprcndcrJxla itlcir dc t;trccmnt cxtre-
nìlnlcntc difíccisc inrrincadrs.(ìrnt cfcit,r, nrde lrá dc
nnis inútil do quc lidrr dc tel nrrxl,, conr simplcs
núntcrrx c figuras inrrginárias(luc e n()ssrvontadc
plÍccc satisfrzcr-scc()m o conlrccinrcnrodc scnrclhan-
rcs banrlidadcs;c n6tas clcm<,nstraçirssupcrficiais,cm
que () âçls() faz meis dcscobcrtas do quc I lnc c quc
sc dirigcm mais aos olhr>sc à imagine$o do quc 1<l
cntendimcnto, nrda de mais fútil do quc a clas sc
aplicarâo 1x)ntodc pcrdcrmos,dc elgum modo, o hábito
dc urilizer r própria ruÀo. ro mcsmo tcm[x), mdr d
meis complicrdo do quc - c()m scmclh2ntcmancirr dc
fazcrdcmonstraçitcs- supcr:rrn(rTâsdificuldadcs6con-
didesnumr desordcmdc númcrrn.
Scguidamcntc,intcrroguci-mc sobrc t nzl<> quc
()utr(rçl lcvou .o çiildorcs da FikxoÍir 1 não qucrcrcm
admirir n() cstudo dr srbcdoria ningudm quc fossc
ignoranrccnr ìÍatcnráticr,como scdc t<dascstadisciplina
lhcs prcccssc r meis fácil c neccssáÍiaÍ)aracnsinâÍ c pÍc-
prmÍ os cspÍritosprm ()utnrsciênciasmais imponantc.
Suspitci cntão que tivcsscm conlrccido umâ cs[Éie
de lUatcmáticanruito difcrcntc dr lÍarcmátice vulgar de
n()ssaé1xxr, scm quc lxrr isso lrnsessc que dcla tivcs-
scm tido um conhecimcntoJrrfcito, pois rs suâsloucrs
dcgrirs c srcrifícios lxlr irrelcvrntcs invcnç<)csm()strun
claramcntc com() cmm incultos. Ncm me dcmovem
dt minha opiniio elgunus das suas máquims cclcbra-
das pckrs llistoriadorcs, Jxris, rpcsr ulvcz d. sur
ertrcnu simplicidadc,facilmcntc conseguiremcm cclc-
bridadc scr clcvrdos à catcgorir dc pr<xlígiospla muki-
dão ignorantcc cmbrsbrcade.Grntudo,cstou pcrsuadido
dc quc as primcins scnìcntc dc vcrdadcs,dcposirades
pcla neturczan()scspÍritrx humantr c Íxrr nós abrfrdr,
dcvido à lcitura ou à audiçãogurxidirnasde tantoscrro6,
rinhamnl forganaquclarudc c simplcsanriguidadcquc
os homcns, mcdiantc e mcsma luz intclcctud com que
viam hrvcr que prcfcrir a tinudc ro pÍ:r:zcre o honcsto
ao útil, cmbore ignorrscnì Íx)rquc cra assim, também
chcgrram e conhcccr as idcirs rcrdrdciras dr Filosofie
c da lÍrtcmática,sem tcrcm ainde Sxdido alcançarpr-
feitamcnrccstasm6Ínes ciôncias.Na vcrdrdc, lrtrGce-mc
que algunsvcstígiosdcstr vcrdedeiraltlarcmáticasurgcm
,7
einda
.cnr
Pappusc Diofanto, os quais,senrseremdos
prinrcirostcmp()s,'tveranì n() entant()rrruitOsséculos
antesda n()ssacra.I'l nio nrecustaacrcditarquc,ulterior-
rììcntc,rls próprit)s aut()resa fizeramdcsaparcccrpor
urnacspcícicde astúciapcrniciosa.Contcfeito,assinrcomo
sc rcconhcceu(lucnruitosarrcsirlstinharrrprrrcedidorcla-
rivarr:crrtcàs strrs irrvcnçr'les,rccearinìclcs quc talvez,
dcvicl,rà sur {rrnclc facilidadce sinrplicidade,se desva-
Iorizesscpcla suedivulgaçãt>,c prcferiram,parase faze-
renr edmirer,rprcscÍrrxr-n()scnì scu lugar algunìasver-
dadesestcreisdcnrrxrstradasc()r'rìurn subtil rigor lógic<r
como efeitosch sua erte, enì r'ez dc nos cnsinarema
prdrprirxrtc, quc clirrrinrriatotalmcntea nossaadnri-
reçà<1.ll<>uvc,cníinr,ilgtrns honrensmuito engenhosos
quc sc esforça.rlnrn() n()ssosciculop()r-rcssuscitara
rììcsrììearte,p<lisx quc sc dcsiqnac()nì() bárbaronomc
dc .lqebrt nìo parcceser outri coisa,c()ntant()que
apcnesscir dc tal nrodolibcrtados múltiplosnúnrcrose
incxplicár'cisfi.r;urasque a complicrm,clucnão nraislhe
falte aquclc qriu dc pcrspicácilc facilidaclecxtremas
quc, p()r suposiçàon()ssx,devenrcxistir na verdadeira
latcuráticr.'isto quc cstcspcnsxmenrosnìe levaram
dos cstucìosprrticulercsda rritrréticae da Geometria
p.lr'r urììe invcsrisaçìoaprofundadae .qeralda ìÍate-
rrrática,intcrrtl.quei-tÌìc,antes de nrais, acercado que
todos cntcndcrrrcxactrrÌìcntcp()r cssapalavra,e porquc
d quc rìàosrìoxpcrìxsesciclncias,dc rluc já sc falou,que
sedizcrttprrtc clasìlrtcmáticas,nì:ìsrindaa .rstronomia,a
lúrsicr, r. ()ptica, :r lccinicr c nruitasourras.Nào
brstr rcluicousiderara oriqcurda palavra;uma vez que
() tcrt'tìolatcrrráticatcnì rrpcrì.tso scntidodc disciplina,
as ciôrtcirsrcinn citadasnào tôrrrnìen()sdireitodo que
e (ìc,''u:ctriaà dcsrtnrçrìodc l:rtcrrráricas.Conrovcmos,
nào há qursc ningucur,dcsdcquc rcnhaapenaspisado
,' liurirr drs cscoles,Qucnào distin.qafacilmente,erìtre
t, !uc sc lhc xprcscntr.aquiloqueperrenceà ìlatemáticlr
e o que pertenccàs outrasdisciplinas.Reflectindornais
atentamente,pareceu-mePor 6m óbvio relacionarcom
a }Íatemáticatudo aquilo enì que apenasse examina
a clrdcmc rnedida,scm tcr em contase é em números,
6guras, astros, sons, ou cm qualqucr outro obiecto
que semelhantemedidase deve procurar; e, por con-
seguintc,deve lnver uma ciência geral que expliquc
tudo o que se podc investigaracercada ordem e da
medida,semasaplicara uma mxtériacspccial:estaciên-
cia designa-se,não pelo vocábulo suposto, mes pelo
r'ocábulojá antigo e aceitcpelo uso de lÍatcmáticauni-
vcrsal, porque esta contim tudr-ro que contribui para
que as outras ciênciasse chamem partes da ÌVatcmá-
tica. Quanto a illatemáticauniversalsobrepujaem uti-
lidadee facilidadeasoutrasciênciasque lhe estãosubor-
dinadas,r'ê-seperfcitamenteno facto de abarcaros mes-
mos objectosque estasúltimas e, além disso, muitos
outros; no facto aindade quc as suasdificuldades,se é
que contém algumas,existem tambinr nestasúltimas
ciências,conì outrasaindaprovenicntesdos seusobiec-
ros particularesc que ela não tem. E agora,visto que
todos sabemo scu nonìe e aquilo de que trata,embora
não lhe prestem atenção,como explicar que a maior
parte invcstigue laboriosamcnteas outras disciplinas,
que dela dependem,e que ninguém se preocupe por
aprendercsta?Âdmirar-mc-iacertamcntesenãosoubcsse
quetodosaconsideranrrnuitofácile senãotivcssenotado,
há muito, que o espírit<,rhumanodcixa semprede lado
() que iulga podcr. falzerfacilmentee.se precipitalogo
para o que é novidadee mais clevado.
Eu, porim, conscienteda nrinha fraqueza,decidi
obsen'ar pertinazmentena buscado conhecimentodas
coisasuma ordem tal que, principiandosemprepclos
objectosmaissimplese maisfáceis,nuncapassca outros
senìme parccerquc os primeiros nada mais me deixam
paradesejar.Foi por isso que cultivei até agora,tanto
gulnt(, pudc, cssa .Íarcmáriceunivcrsal, de mencira
quc julgo SxxlcrtÍ:lttr drqui grr dirntc asciêncirsmeis
clcvedas,scm r clas prcmarurâmcntemc aplicer. IÍas,
antcsde ir cm frcntc, rudo o quc achei dc mais dign<r
dc n()ta n()s nreus cstudos antcriorc, csfirrger-mc.ci
[x)r c()ngÍcgá-lonunr trxÌr c o Jx)rcm ordcm, qucr [Ìrra
() rctotn:lr um dir com<danrcntcnestcopúsculo,sc iss()
frrr ncccssáriocm virtudc da dirninuigâo da mcmória
c()m o aumcnt()da idadc,qucr ÍÌrm diviar a mcmórir
c mc gxlcr aplicar a(, 1cslrrconr maior libcrchdc dc
cspírito.
RI:GRÂ '
Todo o método concistc na ordem c na diepo-
cigão doe obiectos para oe quaie é necccúrio
dirigir e pcnetragão da mcnte, a 6m dc dcco-
brirmog alguma verdadc. E obecryá-lo-cmoo6el-
mcnte, sc rcduzirmoe gradualmcnte .s pÍopo-
eigõce complicadar e obscures . propoeiçõce
maie eimplcs c rc, em ocguid., e panir da intui-
$o das meie eimples dc todac, tcnterrnor clever-
-nor pcloi mcrmoe dcgraur ao conhccimcnro
de todas ar outrrr.
Ê nist,r rpcnasquc sc c()ntdnì() Íesum(,dc trxla
t lturtrenaindústrir, c cste rc1;ratlcvc scr scguicla[x)r
qucnr ansciapclo conlrccinrcntodas coisrs nào nrcnos
do quc o fro dc Tcscu per:l qucnr dcsciasscpcnctrer
no labirinro. .t6, ltá ntuitos<;ucnão rcílcctcnrn() gue
cla prcscrcvc,()u r ignoranr r()ttlnìcnrcrou pÍGunrcm
dch não tcr ncccssicladc,c rrruitasì'crzcscxaminamqucs-
rocsdificilinrasdc unr nrrxlr tàodcsor<lcnackrquc pareccm
prrrcdcr c(rm(, sc tcntesscnrchegar,conì um só selto,
n
da partcrttaishrisaaofasti.r;iodc um cclifício,dcscurand<'
asóscedesdcstinadasx csteuso,()u não notand()atéquc
cxistcmunrascscadas.rssitttfazcnttodos os astrólt>gos
pccxrìÌcvidcntcntcntccontra csta rcgra. ì[as, porquc
ruruitasvczcs a ordcttr quc aqui sc csi.r;ci dc tll
nr<xloobscurrc conrplicadaquc n:ìocstáao alcaqcede
todos rcconltcccrqual scia ch, dificilmcntc t()marão
prccauçircssuficientespara não sc perclcrem'a nã() scr
que cll>scrvcntcuidadosantcntc() quc scrá expost()nÍt
ProPosrçr()scqulntc.
REGRA VI
Para dietinguir as coisas mais simplee dae maig
complex$ e pÍosseguir ordenadamente na inves-
tigação, é necessário, em cada série de coises
em que directamente deduzimos algumes veÍ-
dades umas das outras, notar o que é maig
simples e como todo o resto dele cetá mais,
ou menos, ou igualmente afastado.
Se bcm que csta proposiçã<-rnão parcça ensinar
nada clc totalmentenovo, contém, no entanto, o prin-
cipal segrcdoda ârte e nenhumahá mais útil em todo
este Tratado. Ensina-nos, com efcito, que todas as
coisas se podem dispor em certâs séries,não cviden-
tenÌenteenquantosereferema algum génerode scr, tais
como as dividiram os Filósofosnas suascategorias,mas
enquantouÍrÌasse podem conhecera partir das outras,
de tal modo que,semprcqueseaprescnteumadificuldade,
possemosimcdiatamcnteadvcrtir se será útil examinar
algumasoutras, quais, c por quc ordem.
.t2
isoladamcnte,mas as conìParamosentrc st Para as
conhccerumas a Partit das outras- sc podcm dizcr
ou absolutasou rclativas.
nrais sinrplcse o mais fácil, cm função do uso quc
dclc farcnx)sna rcsoluçãodas questõcs.
Quanto ao rclativo, é o que ParticiPadcstanresma
naturcza()u, ao menos,de alg'unrd<lsscuselcmentos;
por isso,podc rcfcrir-scao absoluto,e delc se deduzir
nrcdiantcuma certa série; mas,além diss<-r,enccrrano
scu conceitooutras coisas,quc chamo relaçt-rs;assim
i tudo o que se diz depcndentc,cfcito, conìPosto'Par-
ticular, múltiplo, desigual,dissemelhante,obliqut)' etc.
Dstas coisas rclativas afastam-setento mais das
absolutasquantomaisrelaçricsdestetipo contôm,subor-
dinadasudrasàs outras; e e Prescnteregra advcrtc-nt>s
quc é prccisodistinguirtodrs estasrclaçõcs,e atcntarna
sur c,inexãomútua c na sue ordcm natural,de modo
al13rrna,sob um ponto de vista, mais absolutasdo
quc outras,masque, considcradas-de outra mancira,são
mais relativas.risim, o universalé mais absolutoque
o particular,Porquetem uÍne naturezamaissimples'ma:;
pode dizcr-sémais rclativo do que este ütimo' Porque
dependc dos indivlduos para existir, etc. Do mcsmo
modo, certascoisassão por vezesrealmentemais abso-
lutas que outres sem, no entanto, sereÍnainda as mais
absolutasde todas; por exemplo,se tornrmos em con-
sideraçãoos indivÍduos,a espécieé algo dc absoluto;
sc nos referirmos ao género, cla é algo de rclativo;
entrc os objectos mensuráveis,a extensãoé qualquer
coisa de absoluto, mas,entÍe as cspéciesde extensão,é
o comprimento que é absoluto,etc. Da mesmamaneira,
por 6m, para melhor se comproendcrque consideramos
aqui sériesde coisasa conhccerc não â naturezede cada
uma delas,foi de propósito que contámosâ causae
r.rigual entre as coisasabsolutas,cmbora as surs nâru-
rezassejamverdadeiramentcrelativas.Com efeitor para
os Filósofos, a causae o efeito são coisascorrclativas;
aqui, porém, se invcstigarmos o que é um efeito,
importa antes conhecer a causa, e não inversamente.
Âs coisasiguaistambémsccorrcspondcmumasàsoutras,
mes só reconhecemosas desiguais comparando-asàs
iguais, e não inversamente,etc.
Ë nccessárionotar, em scgundo lugar, que são
poucasas naturezaspuras e simplcs,que se podcm ver
p<lr intuição imediatamentee por si nÌesnìâs,indepen-
dcntcmentede quaisqueroutras, mas nas próprias expc-
riênciasou graçasa uma certa luz que nos é inata;
dizcnrosque importa considerá-lasdiligcntemente,por-
que são as mesmasque, em cada série, chamamosas
mais simples.Quanto a todas es outras,só podem ser
perccbidasdeduzindo-asdas primciras,quer por uma
infcrência imediata e próximar Tucr apenasmediante
duas, três ou mais conclusõesdiferentes,cuio número
tambémdeve ser notado, a fim dc sabcrmosse mais ou
mcnos graus as afastamda proposiçãogue é a primeira
c a maissimples.Tal é, em todo o lado, o cncadeamento
das consequênciasquc origina estâssériesdc obiectos
de invcstigação,aosquaissedcvc rcduzir todr a questão,
pare que examinarse possacom unì mitodo seguro.
Ìrías,como não é fácil a totlas rcccnseâr,e, além disso,
como é nrais importante discerni-laspor uma ccrta
pcnctraçãodo espÍritodo que retê-lasna memória,há
que procurar um mcio de dar aos espÍritosuma fcrr-
nração que lhcs permita reconhecê-lasimediatamcntc,
semprequc for necessário.Paratal, certamente,nada é
nraisconveniente,segundoa minha cxpcriência,do que
habituar-nosa reíìcctir com certe perspicáciasobre cada
uma das mÍnimascoisasque já vimos antcriormente.
Note-se,finalmente,em tercciro lugar, que não se
dcvcm começeros estudospela investigaçãodas coisas
difíceis, mas que importa, antes de nos aprontarmos
para algumas qucstõcs determinadas,rccolhcr previa-
mentc, sem fazer nenhunraescolha,as verdadcsque se
apresentcnìespontaneamntc,r'er dcpois, gradualmente,
se outrasdclasse p<ldemdeduzir,e dcstasoutrâsainda,
c assimpor diante.Feito isto, é prccis<.rreflcctiratenta-
nìcntc nas verdadcscncontradasc examinarcuidadosa-
rÌìcntc p()rqueé quc pudcmos acltar umas nraiscedo e
mais facilmcntedo quc outrasc quaissãoessas.Âssint
sabcrcmosjulgar, ao abordar uma determinadaquestão,
e quc outras investigaçõcsscrá útil cntregar-nosprcvia-
nìcntc. Por cxemplo, se nre viesseao pensâmentoquc ()
númcro 6 c o dobro de três, procurariaem seguidao
dobro do número 6, qucr dizer rz; procurariaigual-
mcntc, sc bcnr nìc parece,o dobro destc último, ou
scja, 2,4,e tanrbénro dobro desteúltimo, a saber,48,
etc. Daqui dcduziria facilmentequc há a mesnìarclaçãr.r
entre , c 6 que entrc 6 c rz, igualnìenteentrc 12 e 24,
ctc., e que, por conscquência,os núnreros1,6, rz, 24,
48, etc., são continuanlenteproporcionais.Do mcsmo
nrodo,aindaquc tudo isto scjatão claroquequasepercce
infantil,unrarcflcxãoatcntafaz-nrecomprecnderamaneira
conì() se complicanrtodas as questricsrelativasàs pro-
porçõcs ou rclaçõesentre as coisasque sc podem pro-
por, c a ordem que a sua invcstigaÉo exige: só isso
abrangeo conjunto de toda a ciênciadas matcmáticas
Puras.
mesmaproporção.Não semudae naturezada dificuldadc
quando se procÌrÍiln t ou 4 grandczasou mesmo mais,
porque - como é evidente- têm de cncontrar-seuma
a uma separadamcntce sem relaçãoàs outras. Observo,
em..scguida,que, dadas as grandezest e 6, apcsarda
facilidadeque há em achar uma terceirequc elteia em
propor$o contÍnua, ou seja, rz, não é, no entanto,
tão fácil, dadasduasgrandezasextremas,a sabery e 12,
poder achar a grandezamédia, isto é, 6, porque, para
qucm disto examina intuitivamentc a, razão,-é claro
qrre existe um ou outÍo género de dificuldade,que
difcrc muito do precedcnte.Com cfeito, para achar úm
meio proporcional,é precisoprestâraten$o, eo mcsmo
a duas, mas a três diferentesao mesmo tempo, perÍr
achar uma quarta. É permitido ir mais longc-ainàa e
ver se,dadosepenas) e 48,teria sido mais difícil achar
uma das três médiasproporcionais,ou scia,6, tz e 24.
De facto, pereceser assim,à primeira vista; mas logo
36
nos (rc()rreque estadificuldadesepode dividir e simpli-
6car s€, obviamcnte, se procurar primeiro ume só
nrédiaproporcionalcntrc t e 48, ou seja, 12, c sc se
procurar scguidanrenteuma outre média proporcional
entrc t e 12,ou seia6, e uma outra entre rz e 48, ist<>
é 24. Destc modo sc reduz ela ao scgundogéncro de
dificuldadejá cxposto.
Tudo isto nrepermiteobservar,alémdisso,c()mose
podc buscaro conhecimentoda mesmacoisapor vias
difcrentes,cm que uma é nruito mais difícil c obscura
que a outra. Por exemplo: achar estesquatro tcrnìos
continuamcnteproporcionais: 3, 6, 12, 24. Se supu-
scrnìosdois se.rguidos,ou scja,3 c 6, ou 6 e tz, ou 12
c 24, será facilimo achar os outros c direnrosentã()
quc a proporçãoa encontraré dircctamentecxaminada.
Sc supuscrmosdois alternados,isto é, t e 12,ou 6 e 24,
para acharnìosos ()utros,então diremos que a dificul-
dadc é exanúnadaindircctamentcda primcira nrancira.
Sc igualnrcntesupuserm()sos dois externos,, c 24,p^Ít
atravis dclcs sc procurarcnros intermcdiári<;s6 e tz,
cntão cla será examinadaindirectamenteda scgunda
maneira.Podcriaaindacontinuar assime extrair destc
único cxcnrplo muitas outras deduçõcs:estasbastarão
paraquc <>lcitor compreendao quc cu prctendoao clizcr
quc uma propr>siçãosedcduzdirectaou indircctanlcnte,
c pcnsequc, a partir do que há de maisfácil e do que se
conhccc cgr primciro lu13ar,nruitas dcscobcrtaspodcm
scr fcitas rnesnìon()utrasdisciplinaspor aquclcsque
rcílcctcnr com atcnçã<lc sc cntrcganÌ às investigaçrjcs
conr argúcia.
REGRA VII
Para completar a ciência, é precieo analisar,
uma poÍ uma, todas as coisae que Betelacionam
com o nosso obiectivo, por um movimento
contlnuo e iamais interrompido do p€nsamento,
abarcando-asnuma enumeração suficiente e me-
tódica. .
A observa$o do quc aqui se propõe é neccssária
para admitir como certas as verdadesque, dissemo-lo
mais acima, se deduzem dos princlpios primeiros c
conhecidosem si mesmos,mas não de um modo ime-
diato. Com efcito, isto faz-sepor vezespoÍ um encadea-
mento tão longo de conscquênciasque, após termos
alcançadocstasverdades,não é fácil lcmbrar-nosde todo
o caminho que até aí n'oslevou; por isso dizemosquc
é preciso remediar e fraqueza da memória por uma
cspécie de movimento continuo do pcnsamento.Por
exemplo, sc divcrsas operaçõesmc lcvaram primeira-
mente ao conhecimentoda rela$o entre as grandezas
A e B, depois entre B e C, em seguidaentre C e D e,
JE
por 6nì, entre D e E, nem por isso vejo qual é a quc
cxistcentrc A e E, e não possofazerumr ideiaprccisa
a pa,rtirdas relaçc-rcsjá conhecidas,a não ser que me
recordcdc todas. Por isso, pcrcorrê-las-civáriasvezes
por unìacsyrccicde nrovinrentocontlnuoda imaginação
qucr'ôintuitivanrcntecadaobjcctoenrpsrticularenquant()
vai passanckraosoutr()s,ati tcr aprendid<la transitarda
primeirarclaçãoparaa últinraconrtal rapidczque, sem
dcixar quascncnhum papcl à menrória,rìÌe pxrcçavcr
simultaneamcntco todo por intuição.Assinr,ao ajudar
a mcnrória,corrige-sctanrbéma lcntidão do csplrito
e aumcnta-scde certo modo a sua capacidadc.
Âcrcscentamos,porénÌ,quecstcnrovinrentonãodeve
interronrpcr-scenl nenhunraparte; frcqucntcrmente,os
quc tcntarÌì fazer algunra dedução dernasiadorápida,
partin<l,rdc princÍpiosrcnrotos,não pcrc()rrcnÌtod<lo
cncadcanrentodasconclusricsintermédiascom o cuidad<r
suficientcparanão onritircm nruitasinconsidera<larnentc.
Todavia, é cert<.rque nrcsmoa mcnor das onrissricsfaz
imcdiatamcntequcbrara cadciae arruinaco:npletarr,cnte
l ccrtcz^ da conclusão.
rlinr disso,dizcmosaquiquea cnunÌeraçãoé exigida
para c()nrplctara ciência;pois, se ()s outr()s prcccitos
nos scrvcrn,ccrtamentc,para rcsolvcr a maioria das
qucstfos,st'ra cnunrcraçãonos podc ajudara aplicaro
n()ssocspírito a qualquer unra delas, a, ftzer sempre
sobrc ela unr juizr>seguroe certo c, por consequência,
a não dcixar escaparabsolutamentenada, pareccndo
assinrque dc todassallcm<lsalgunracoisa.
Ilstacnumeração,ou indução,é, pois,a investigação
dc tutlo () que se rclacionacom uma questã()proposta,
investigaçãotão diligentee tão cuidadaquedcla tirem<>s
a conclusãoccrta c evidente de que nada omitimos
por descuido;de tal forma que, depois dc a termos
usado, se o objecto da nossa investigaçãocontinuar
oculto, fiquemospelo nrenosmais sábiospor nos aper-
cebermosdc quc não poderÍamosencontrálo por nenhu-
ma dasviasde nós conhecidas;e que se,por acâso,como
nruitasvezcsacontece,pudemospcrcorrer todas as vias
pelasquaisos homensal chegam,nos seiapermitido afir-
nrar audaci<>samcnteque o scu conhecimentoestá fora
de todo o alcancedo esplrito humano.
Note-se,alim dissoriluc, por enumcra$o suficicnte
ou indu$o, entendemosapenasaquela que nos dá a
verdadena suaconclusãocom maiscertezado que todo
() outro género de prova, salvo a simples intuição.
Senrprequc não é possÍvel reduzir um conhecimento
à intuição, depoisde reieitadostodos os encadeamentos
dos silogismos,reste-nosunicamentcesta vie, na qual
devemostotalmenteacreditar.Pois, todasas coisasquc
deduzimosimediatanrenteunìasdas outras,se a ilação
tivcr sido evidente,foram já reduzidasâ uma verdadeira
intuição.ìÍas, setirarmosumaúnicaconsequênciade um
grandcnúnrerodc coisasseparadas,nruitasvezesa capa-
cidadc do nosso entendimentonão é suficientep^r^
conscguir abrangê-lasa todas nume única intuição;
nesteceso,deve contentar-secom e certezadessaopcra-
ção. Do mesmomodo, não podcmos por meio de uma
única intuiçãoda vista distinguir todos os clos de uma
cadeiademasiadocomprida; no entanto, se virmos a
ligaçã<ldc cadaelo com os seguintes,isso bastarápara
dizermostambémque percebemoscomo é quc o últirno
seli.gaao primeiro.
pcrfeitamenteevidentes,se,apesarde tudo, cometcrmos
a menor omissão,dá-sea ruptura da cadeiac toda a cer-
tezl.de conclusãose dcsvanèce.Às vezes,tambémesta-
mos certos de tudo abarcarcom uma enumcração,mas
t
/
1l
scm distinguirmosas coisasuÍnâ por uma, de forma
quc só conhcccmoso todo confusamcnte.
Álim disso, essacnuneraçãodeve, às vezes,ser
conrplcta,()utras,distinta e, de temposa tempos,nem
unìa colsa ncm outrai por iss<lse disse apenasque
dcvc scr suficicnte.Com efeito, se quisessepr()varpor
cnumeraçãoquant()sgéneroshá de serescorporaisou
conìo são aprccndidospelossentidos,não afirnrariaque
há uma dcternrinadaquantidadee não nrais, a nã<r
scr quc, antes,soubcsscscguranìenteque os comprcendi
toclosna minhacnumeraçãoe os distinguiem particular
uns dos outros. Suponhamos,p()r outro lado, que, pela
nrcsnìavia, queria mostrar que e alma racionalnão é
corporal; não será dc modo algum necessárioquc a
enunrcraçãoscia conrplcta,mas bastarájuntar simulta-
neantcntctodosos corposem algunsgrupos,de nrancira
a dcmonstrarquea almaracionala ncnhumdelessepode
rcfcrir. Suponhamos,por fim, quc cu queria mostrar,
por nrcio claenumeração,quc a supcrficiedo círculo é
maiorquc todasassulrcrficiesdas()utrasfigurasde igual
pcrimctro: tanrbérnnão é necessáriopassarem rcvista
t<rdasas figuras, mas basta Íazct csta demonstração
para algumascm particuler,a 6m dc daÍ cxtrair, igual-
mcntcpor indução,idônticaconclusãoa respcitode todas
as ()utras.
Âcrcscenteitambim quc a enumeraçãodcve ser
mctódica,não sCrporque não há rcnridio mais efiaz
c()ntra os dcfeitos iá cnumeradosdo clue aprofundar
tudo conr ordem, mas também porquc acontecefre-
quentemcnteque, se fosse preciso percorrer separada-
mente cada uma das coisasem perticularque se rcla-
cionamcom o obiectoproposto,nenhumavida humana
bastariaparatal, quer por causado seunúnrcrocxcessivo,
quer em virtude das repetiçõesdemasiadofrequentes
quc sc aprcsentariamdos mesmos objcctos. ÌtÍas, se
dispusermostodâs estascoisasna melhor ordem, redu-
zir-se-ãotanto quento possÍvel a detcrminedasclasses,
das quais bastará examiner cuidadosamenteou uma
única, ou algum pormenor de cada ume em particular,
ou então,algumasmais do que outras ou, pelo menos,
nada algum^ vez percorreremosem vã<l duas vezes;
esta maneira de proceder é tão útil que, muitas vezes,
por causade uma ordem bem estabelccida,se levam
a cabo,ao fim de pouco tempo - e graçasa um trabalho
fácil- numerosastarefasque, à primeira vista, pareciam
enormes.
Quanto à ordem dc enumera$o das coisas,pode
geralmentevariar c dependedo arbítrio de cada um;
por isso, para que o pensamentoesteiaem condições
de a cstabclecercom maisacuidadc,i prccisorecordaro
que se dissc na quinta proposi$o. Há ainda muitas
coisas,nas arteshumanasde menor importância,que se
descobremfazendoconsistir todo o mit<>dono estabe-
lecimentodcstaordem. Âssim, sc se quiser fazer um
anaÍyamapcrfeito transpclndoaslctrasde um nome,não
é nccessáriopassardo mais fácil para o mais difÍcil,
nem distinguirascoisasabsolutasdasrelativas:nem isso
tem lugar aqui. Bastará propor-se, pelo exame das
transposiçõcsdas letras, uma ordem tal que nunca se
percorram duas vezesas mesmase quc o seu número
seja,por exemplo,repartidopor determinadasclasses,de
tal modo que seveja logo em quaishá maishipótesesde
se achar o que se procura. Por este meio, com efeito,
muitas vezes o trabalho não será longo, Ínâs âpeÍrâs
uma brincadeirade crianças.
De resto,estastrês últimas proposiçõesnão devem
ser separadas,porque é preciso, geralmentc, rcflectir
nelas ao mesmo tempo e porque todas contribuem
igualmentcp^r^
^
perfeiçãodo método.Não teria grande
interessedeterminarqud dclassedeveensinaremprimeiro
1t
lugar; explicánro-lasaqui em poucaspalavras,Porque
quasenraisnadatemost fazerno resto do Tratado, em
quc m()strircmoscm pormenor o quc aqui abordámos
cnr gcral.
REGRÂ VIII
Se, na eérie de obiectos a pÌocuÍaÍ, depararmos
com alguma coisa que o nosso entendimento
não possa intuir suficientemente bem, há que
deter-seaÍ, sem examinar o que seguee evitando
'um
úabalho supérfluo.
Ás três rcgres precedentcsprescrevema ordem e
explicam-na;estaagore mostraem que casosé absoluta-
nìente necessáriae em que casos é apenasútil. Com
efeito,o queconstituium greucompletonasériequeserve
parair dascoisasrelativasao absoluto,ou inversamente,
deve necessariamenteserexaminadoantesde tudo o que
se lhe segue.Se, por outro lado, como frequentemente
acontece,muitas coisassc referem ao mesmo grau, é
sem dúvida útil passá-lassempreem revistapor ordem.
Quanto à ordem, não somos contudo obrigados
^observá-latão estritae rigorosamente;Íegra geral,ainda
que não conhccêssemosclaramentetodas as coisas,mas
apeÍìas um reduzido número ou urn só, pode, no
cntento, passer-scà frente.
44
Iìsta regradecorrenccessariamentedas raz<icsdadas
para a scgunda.Contudo, não se iulgue quc cla nada
contim denovo pareprom()vera erudição,emboraparcça
quc apenasnos desviada investigaçãodc ccrtascoisas,
nãr>nos cxpondo vcrdade algy1l. Claro quc apenas
ensinaos principiantesa não trabalharemem vão, quase
pclo mcsmomotivo que a scgundaregra.ÌÍas,aos que
conhecercmperfeitamcnteas sete relÌras precedentes,
cla mostrapor quc ttzio a si mcsmossepodemcontentar
cm qualquerciência,aopontodenadamaistercmadeseiar.
Pois, quem quer que tenha observadocuidadosamente
as regrasprccedcntespara resolveralguma dificuldade
c scja, no cntanto, obrigado por esta última regra a
dcter-secm algumapartc, saberáentãocertamentcque,
apcsarde t<da a sua aplicação,nuncapoderáencontrar
a ciência quc procura, e isso não por culpa do seu
espírito,maspeloimpcdimcntoprocedenteda naturezada
própria dificuldade,ou pela sua condiçãode homem.
Estcconhccimcntonãoé umaciênciamenordo quea que
manifcstaa naturezada própria coisa; e quem lcvasse
mais longc a sua curiosidadenão pareceriater bom
scns().
Tudo isto deveser ilustradopor um ou dois exem-
plos. Âssim, suponhamosque alguém procura, entre-
gando-seexclusivamenteàs Ìríatemáticas,essalinha que
em Dióptrica se chamaanaclástica,ou seja,aquelaem
quc ()sraiosparalelossercfractamde tal forma quetodos,
depois da refracção,têm um só ponto de intersecção.
Facilnrcnteobservará,sem dúvida, segundoâs regras
quinta e scxta,que a dcterminaçãodestalinha depende
da rclaçãoque os ângul<lsde refracçãomantêmcom os
ângulos.deincidência;mas,como não serác p^z 9" p--
curar mrnuctosamenteestarclação,que diz respeitonão
à Ìrlatcmáticamas à Física,seráforçado a dctcr-seaqui
no limiar. Dc nada lhe servirá querer aprendereste
conhccimcntodos Filósofcrsou cxtraí-lo da experiência,
pois pecariaconma e regra terceira. Âlém disso, esta
proposi$o é ainde composta e relativa; ora, só de
coisaspuramentesimplese absolutasé quc se pode ter
uma experiênciaccrta; dir-sc-áno seu lugar. Seriatam-
bém inútil supor entre os ângulosem questãouma rela-
$o que, por suspeita,lhe parecessca mais verdadeira
de todas, pois iá não procuraria,e xvclâstica, masepenes
uma linha quc scria a conscquêncialógica da sua
suposi$o.
Se, por outro lado, alguém que não se dedique só
às ÌrÍatemáticas,mes que, segundo a primeira regra,
deseje procurar a verdade em tudo quanto se lhe
depare,cair na mesmadificuldade,descobrirá,alémdisso,
que a relaçãoentreos ângulosde incidênciac os ângulos
de refrac$o depcndeda sua mudançadcvido à diversi-
dadedos meios;que,por seuturno, estamudang depende
da mancira como o raio penctra aravés de todo o corpo
diáfano, e que o conhecimcntodestapenetra$o supõc
o conhecimentoda naturezada ac$o da luz; e quc,
por fim, pâra compreendera ac$o da luz, é preciso
saber o que é cm geral uma potência natural: é, cm
última análise,o que há de mais absolutoem toda csta
série.Ponanto, dcpoisde ter feito claramentee em por-
menor esteexameatravésda intuição intelectual,voltará
a pessarpelos mesmosgraus, seguindo a quinta regre,
e se, a partir do segundo grau, não puder descobrir
a naturezeda acçãoda luz, enumerará,de acordo com e
sétimaregra,todasasoutrespotênciasnaturais,a 6m dc
que o conhccimento dc alguma dcstas potências lhe
faça compreendercssaac$o, pclo mcnos por anâlogia;
falaremos,depois, da andogia. Feito isto, investig"ú
de que maneira o raio penetra atravésde todo o co{po
diáfano e procederáassim por ordem cm tudo o mais,
até chcgarà própria anaclástica.Esta constituiu até hoic
cm vão o obiccto de muitas inquiriçõcs; contudo, nada
veio que possaimpedir alguémde vir a cr.rnhecê-lade
manciraevidentc,pclo uso correctodo nossométodo.
ÀÍasdemoso exemplomaisnobredetodos.Sealguém
se propusercomo questãoa análisede todasas verdades
pare cujo conhecimentoa razão humrna. é suficiente
- e parcce-mequc issodeve ser feito ume vez na vida
por todos os que sc esfcrrçamseriamentepor alcançar
a sabedoria- descobrirácertamentc,e partir das regras
cladas,que nadasepodeconhecerantesdo entendimento,
visto que dele dependeo conhccimetnode todo o mais,
c não o inverso.Depois de, em seguida,ter examinado
cm pormenor tudo o que vcm imediatamentea seguir
ao conhecimentodo entendimentopuro, enumerará,no
rcst(), todos os outros instrumentosde conhecimentcr
quc temosalinr do entendimento,e que sãoapenasdois:
a imaginaçãoc os sentidos.Empregará,pois,todo o seu
cuidadoem distinguir e enr examinarestestrês modos
de conhccimcnto,c ao vcr quc, propriamcnte,a vcr-
cladcc () erro sripodemexistirno entendimento,embora
dcrivcnr frequentementea sua origem dos outros dois
modos dc conhecimento,prcstarácuidadosaatençãoa
tudcl quanto o possaenÍlanarpara se precaver,e enu-
mcrará exactamentctodas as vias abertasaos homens
parx a vcrdade,a fim de seguir uma que scja segura:
ncm elas,com efeito, são tão numerosasque as nã<>
achca trdas facilmentce por unìaenumeraçãosuficiente.
E -:, que parccerámaravilhosoe incrívelaosqueo não
espcrinrcntaram- logo após ter distinguido,a propó-
sito dc cadr objccto em perticular,os conhecimentos
quc cnchcmou apcnasornamentama memóriados que
sã<>r'erdadeiramentecausapor que um homcm sc deva
dizcr mais crudito, o que será einda fácil de Ítzer...,
scntiráinteiramentequc nada mais ignora por falta de
cspírito ou de arte, e que nada há que outro homem
possasaber,sem que ele próprio também o consiga,
bastandoaplicar a sue mente como convém. Âinda que
muitas vezesse possampropor-lhc muitas coisas,cuia
investigaçãolhe seráproibida por estaregra, devido ao
facto de, no entanto, ter a percepçãoclara de que elas
estãofora do alcancedo espírito humano,nem por isso
sejulgarámaisignorante; mâso sabersimplesmentcque
aquilo que procura não pode ser sabido por ninguém,
satisfaráplcnamentea sua curiosidade,se for sensato.
Ora, para não ficarmossemprena incertezaquanto
à capacidadeda inteligênciae para que ela não trabalhe
em vão e ao acâso, antes de nos preparermospara
conheceras coisasem panicular, importa uÍÌvr vez, rra
vida ter investigado cuidadosamentede que conheci-
mentosa.razãohumanaé ca;parz.Paramelhoro fazer,entre
ascoisasigualmcntefáceisde conhecer,é por aquilo que
há de mais útil que se deve encetara inquirição.
Estc método, na vcrdade,assemelha-seao das anes
mecânicasque não precisamda ajudadasoutras,maselas
mestnasfornecemo meiode fabricarosseusinstrumcntos.
Se,com efeito,alguémquisesseexerceruma destasartes,
por.cxcmplo, a dc ferreiro, e estivesseprivado-de todos
os instrumentos, seria certamenteforçado, de inÍcio,
a servir-sc de uma pedra dura ou de qualquer bloco
informe de ferro como bigorna,e pegarnum calhaupara
martelo, a dispor de pedaçosde madciraem forma de
tenÍrzesc e iuntar, conforme âs necessidades,outros
obiectos deste género. Âpós tais prcpararivos,não se
csforçarialogo por foriar, perâ uso dos outros, espadas
c cÍrpacetesou quaisqueroutros objectosde ferro; mas,
antes de mais, fabricaria manelos, uma bigorna, teÍrâzes
e tudo o mais que lhe viessea scr útil. Este exemplo
ensina-nosgue,no princípio,depoisde tcrmosencontrado
apenâsdguns preceitosrudimentaresque mais parecem
inatosàsnossasmentesdo que fornecidospelaarte, não
é preciso tenter logo, com o seu auxílio, resolver os
diferendos dos Filósof<rsou tirar de âpuros os líate-
máticos; mes importa delcs nos scrvirmos primeiro
4E
para procurar com o maior cuidado tudo o que há de
mais ncccssárioao exameda verdade,sobrcrudoquando
nãolrouvcr razãoquet frcp,perecermaisdifícil de encon-
trar do que algumasdas qucstí5espropostesgeralmente
na Gcomctria,ou na Físicac nasoutrasdisciplinas.
Por ()utro lado, nada podc havcr aqui de mais útil
do quc invcstigaro que é o conhecimentohumanoe até
onde se estende. Eis p()rque trataremos
^gor^
este
assuntonuma só qucstãoc pcnsamosque é precisoexa-
miná-lacomo a primcira dc todas, scgundoas regras
já antcriormcntccstabclccidas.É o que deve fazcruma
vcz na vid:r qucnr qucr quc amc um Poucoa verdade,
pois a invcstigaçãoaprofundadr dcstc ponto contém
r>svcrdadcirosinstrumcntosdo sabcrc todo o método.
E, nada mc parece mais inadcquado do quc disputar
audaznrcntcsobrc os scgredosda naturca,
^
influência
dos cius no nosso mundo infcrior, a predição do
futuro c coisas scmclhntcs,como muitos fazcm, scm,
n() cntanto,jamaistcrcm inquirido se a razãohumana
podc fazcr tais dcscobcrtas.E não deve considerar-sc
tarcfa árdua ou difícil detcrminar os limites desteespí-
rito, quc em nós próprios sentimos, quando, muitas
vczcs, não hcsitamoscm formular um juÍzo sobre o
quc cxistc fora de nr'rs c que nos é completamente
cstranho.E não é um trabalhoinrensoquerer abarcar
pck> pcnsamentotodas as coisas contides neste uni-
vcrso,.para Ícconhcccrcomo cada uma_cm particular
sc sujcitaao cxamcda nossamcnte.Nada há, com efeito,
tão múltiplo ou tão dispcrsoquc não se possa,mediante
a enunrcração,dc que tratánros,incluir cm limites detcr-
nrinad<-rse rcduzir a alguns pontos essenciais.Paradisso
fa;zert cxpcriônciana qucstãoproposta,dividimos pri-
mciro tudo o quc lhc diz respcito em duas partes:
pois, há que relacioná-lorlu€r coÍrnosco que somos
capazesde conhecimcntos,quer com as próprias coisas
que se podem conhecer.Vamos discutir separadamente
estesdois pontos.
Na verdadc,advertimosque em nós só o entendi-
a fim dc nos precaveffnos;ou então,em que é que elas
nos podemser úteis,dc modo a lançarmosmão de todos
osrccursos.Assim,estapartescrádiscutidamcdianteuma
enumeraçãosuficientc,sujeitaà discussão,como se mos-
trará na proposiçãoseguinte.
Em scguida,importa vir às própriascoisasc consi-
derá-lassó enquantoo cntendimentoas atingc. Ncste
sentido,dividimo-lascm naturczasintciramcntesimples
c em complexasou compostas.Entre as naturezassim-
plcs, só podc haver naturczasespirituais,ou corporais,
ou pertcncentcsa ambas ao mcsmo tempo; por fim,
entre as naturczascompostas,umassãodc facto captadas
como taispclo cntendimento,antesdc ele asdcterminar
por um iuízo,cnquantoasoutrassãopor elc compostas.
Far-se-áuma exposição mais pormenorizadadC tudo
isto na duodécimaproposição,com a demonstraçãodc
que só pode havcr crro ncstasúltimas naturezascom-
postaspcla inteligência.Eis porque distinguimos,nas
naturczascornpostâs,as que sc deduzcm das naturezas
mais simplcse são conhecidaspor si mesmas,das quais
trataremosem todo o livro seguintc,e as que pressu-
põcm outras, cuja experiêncianos mostra a composição
na rcalidade, e a cuja explicaçãodcstinamos todo o
tcrceiro livro.
Em todo cste Tratado, csforçar-nos-emospor pro-
curar com tanto cuidado c tornar tão fáceis todas as
viasabcrtasaoshomensparao conhecimcntoda verdade,
que quem quer que tenhaperfeitamenteaprendidotodo
o nossométodo - ainda que sejao mais mcdíocrcdos
espíritos- verá que nenhumadcstasvias lhe estámds
vedadado que aosoutros e que iá nadaignora por falta
deespíritoou de arte.trlas,semprcqueaplicara suamente
^o
cclnhecimentode alguma coisa, ou a encontrará
complctamente,ou aperceber-se-á,pelo menos, de que
eladependedc umaexperiênciaquenãoestáemseupoder,
e é p<lrissoque não se queixarádo seuespírito,se bem
que seja.forçadoa deter-se;ou, por 6m, demonstraú
quc a coisaprocuradaultrapassatotalmentea aprecnsão
do espírito humano e, por conseguinte,nlo se julgará
por isso como mais ignorante, porque não há menos
ciônciancsteconhecimentodo quc cm qualqueroutro.
REGRÂ IX
É precieo diÍigiÍ toda a acuidade do eepÍrito
peÍa as coieas menos importantes e mais fáceis
e nelas noe determos tempo euficiente até nog
' habituarmoE e ver a verdade por intuifo de uma
maneira dietinta e clara.
Dçois de termosexpostoasduasopcraçõcsdo nosso
cntendimcnto,a inruiÉo c a dedu$o, que sãoas únicas
dc quc nos dcvcmos scrvir par:r aprender as ciências,
como dissemos,vamos
^Bor^
cxplicar, ncstepÍoposi$o
c na scguinte, como nos podcmos tornar meis aptos
ptra, fuer cstasopcrâçõcse cultivar, ao mcsmo tempo, as
duas principais faculdadesdo nossocspírito, a saber,a
pcrspidcia, vendo distintamcntcpor inrui$o cadacoisa
cm pefticuler, e a sagacidadc,dcduzindo-ascom arte
umas das outras.
Conhecemosceftamentc a maneira como utilizar a
innri$o intclcctual,quento maisnãosciapor compara$o
com os nossosolhos. Pois,quem quiscr obscrvarmútos
obiectos eo mcsmo tempo com um só olhar, não vê
5t52
distintamentenenhumdeles;e, do mesmomodo, quem
tiver o costunìede prestaratençãoa muitas coisasao
mesmo tempo, por um só acto de pcnsamento,fica
com espÍritoconfuso.ÀÍasos artesãosque scocupamde
obrasminuciosase quesehabituaramadirigir atentàmenre
a penetraçãodo seuolhar paracadaponto cm particular,
adquircm,com o uso, a capacidadcde distinguirperfci-
tamenteas coisasmais ínfimase subtis; assimtambém,
os que nunca dissipamo seu pensamentoem vários
obicctos ao mesmo tempo, mas o ocupam continua-
nìcnte na considera$o do que há dc mais simples
e de mais fácil, tornam-se perspicazes.
N<l cntanto,é um dcfcito comunì aos mortaiscon-
sidcrar nraisbclo o quc i diflcil, c a ntaioriadas pcs-
soasjulgamnadasaberquandor'êemacausamuitosimplcs
c claradc unra coisa,clas quc cntrctantoadnúramnos
I:ilósofosccrtesrazõessublimesc de longe tiradas,ainda
quc quascsenìprcelassc apoiemem fundamentosnunca
por alguénrsuficicntementcexaminadosem pornÌenor:
são, scnr dúvida, insensatas,iá quc gostam mais das
trcvas do quc da luz. Ora, importa obscn'ar guc ()s
vcrdadciranrcntcsábiostênr igual facilidadecm disccrnir
a verdadc,quer a cxtraiamde um assuntosimplcsou dc
dc unr assrult()obscuro.Pois,em cadaunr dcstescasos,
i por urìì act()scnrclhante,único c distinto,quc cles a
captanì,dcpois que aÍ chcgaram:toda a difercnçaestá
na via, quc dcvc scr ccrtanìentemais longa, se conduz
a uma vcrdadc nraisafastadados principios primeiros
c mais absolutos.
É preciso,pois, quc todos se habituema abarcar
pclo pcnsanìent()tão poucascoisasao Ínesmo temp()
c coisastão sinrplcsquc nuncaiulgucnrsaberalgo, que
não o vcjanr tanrbinr por intuição tão distintamcntc
c()rììoaquikr quc de tudo maisdistintamcnteconhecem.
rlguns, claro, são p<lr naturczamuito nraisaptos para
isto do quc outros, nìaso nritodo e o exercíciclpoâem
tornar também os csplritos müto mais aptos. A única
recomenda$o que, scgundo mc parccc, dentre todas
aqú importa, fazer é que cada qual se persuada6rme-
mentc dc quc não é das coisasgrandese obscuras,mas
âpenasdas fáceise mais ao nossoalcance,que é preciso
dcduzir as ciências,por maisescondidasque se possam
suPor.
Âssim, por cxemplo, se cu qüscsse examinar se
alg,rmapotêncianaruralpodc, no mcsmoinstantc,excr-
cer-senum l<rcalafastado,aravessan<lotodo o cspaço
intcrmédio, Ílão é logo p^r^
^
força magnéticaou a
influênciados astros,não é scquer p^Í^
^
rapidez da
ac$o da luz, que dirigirei a minha mcnte, a fim dc
inquirir se,.porvcntu-ra, tais acçõcs são instantâneas,
pois issoscriamaisdifÍcil dc provar do quc o objccto da
minha pesquisa;masrcflectirei,de prcferência,no movi-
nlcnto local dos corpos, porque nada pode havcr cm
nrdo isto quc seiamais lrcrccptlvclaosscntidos.E nota-
rei,,certamcÍrte,que uma lrcdra não podc passarinstan-
taneamentedc um localparaoutÍo, porqueé um corpo;
cnquanto quc utwr potênciascmclhantcà que move a
Fd.a só sc comunica de uma mancira instantânca,sc
pessârno estadonu dcum suicitoaoutro. Assinr,aoimpri-
mir um movimcnto na cxtrcmidadcdc tun pau,por mais
comprido quc cle seia,facilmenteconceboque a potência
que scrve para movcÍ esta parte do pâu movc ncccsse-
riamcntcnum só e mcsmo instantetodas as suesoutras
pertcs,porque secomunicano estadonu, semexistircm
qualquercoÍpo como, por exemplo,urnapcdra, quc scÍ-
vtna PaÌaa transPortar.
Da mesmamaneira, se cu qúscr sabercomo é que
uma só e mcsÍrrecausasimples podc produzir simulta-
ncâÍnentecfeitos contrários, não é aos remédios dos
médicos,quc cxpulsarncertos humores c Íetêm outÍos,
que vou rccorÍer, não é sobrc e Lua, quc aquccepcla
sua luz e arrefecepor uma qualidadcoculta, que dirci
bagatelas,mas considerareiantcspor intüção a-balança,
cm que o mesmo pcso num só e mesmoinstanteclcva
um dos pratos e baixa o outro, e coisassemclhantes.
REGRA X
Para que o esplrito se tornc pcrepicaz, deve
cxerciteÍ-re em pÍocuÍírÍ o que iá por outroe foi
cncontrado, e em lreÍaortes metodicamentc tdâs
eE aÍter ou oflcioe dos homene, ainda os menor
imponantee, mae sobretudo or que manifegtam
ou eup,õem ordem.
Nasci, confesso,com um cspÍrito tal que o maior
pÍüzcr dos esrudosconsistiurpera mim, não em ouvir
asrazõcsdos outros, rus ern exercitar-mca mim próprio
na su:r descobcrta; pois, foi apcnasisso qtrc me atm,iu
quandoaindeiovcm perâo esrudodasciências,c sempre
que o tlrulo de um livro me prometie uma nova des-
cobcrta, antesde continuar a ler, tcntava sabcr,sc pot
uma pcrspicáciainata, não podcria porvcnrure cheger
a semclhantcrcsultado,e cvitavacuidadosamcntcdcstruir
csseprezer inoccntepor uma leitura aprcssada.Fui tan-
tas vezesbcm sucedido que finalmente recoúeci quc iá
não chcgariaà vcrdade, scguindo o hábito dos outros
homens,por invcstigaçõcsfeitas de modo inceno e às
56
cegas,com a ajudada sortemaisd<lqucdaarte,masque
uma krngaexperiênciame tinha permitido captardetcr-
nrinadasÍcgres, quc pare este cfcito nre f<rramde não
p()ucautilidade e de que me vali para planczr muitas
mais. rssinr, aperfciçrrcicuidadosamcntetodo () mcu
método e persuadi-nrcdc quc, desdco princípio, tinha
adoptadoa maneirade cstudarmais útil de todas.
trles,porquc os csplritosdc todos não têm uÍnÂtão
grandcinclinaçàonaturalpara pr()curarminuciosamente
ascoisaspclassuasprópriesf<rrças,estaproposiçãocnsi-
nâ-nosguc não é frrrçoso(xupxr-n()slogo conr o mais
diflcil c árduo, rììasque é prccisocxanrinarantcs t(das
asartcstììcnosimportantcse maissimplcs,principalnrcnte
aquelascnr que maisrcinaa ordcm; por cxcmplo,asdos
artesãosquc tccenÌtclasc tapcçarias,as<lasmulhercsque
lnrdanr à agulha ()u cntrcnrciamos fios dc um tccido
de cambiantcsinfinitamcntevariados;dtt mesmomodo,
todos os jogos numéricosc tudo o quc. se rclaciona
com e Âritmética,e excrclciossemclhantcs.E maravilhoso
constatarcom() todas estascoisascultivam o csplrito,
c()ntant()quc não vamosbuscara dcscobertaaosoutros,
rÌìasa tirenrosdenrispr<iprios.Comefeito,dadoquenelas
nadaháquc pernìencçacscondidoc porquecorrespondcm
intciramentcàcapacidadedo conhccimentohumano,epre-
sentam-n()smuito distintamentcinúmcrasordens todas
clifcrentcscntre si, subnrctidas,porém, t Íegrase cuia
cxacta obsen'ânciaconstitui quase toda a sagacidade
humana.
E, por isso,advertinrosa que se aplicassema cstas
invcstigaçircscom nrétodo, ntétodo que, nestasmâté-
rias dc menor importância,não difere habitualmentc
da obsen'ânciaconstantcda ordenrque existena própria
coisa ,ru quc se inventa com subtileza.Suponhamos,
por cxenÌpkr,que qucrenì()slcr unracscritade caracteres
desconhecidos:ncnhuma ordenr aí aparecccertamente,
nìas,apesardisso, inuginamos uma, quer para cxâminar
todas as hipótesesque se podem fazer rclartivamentee
cada símbolo, ou cada palavra ou cada frasecm parti-
cular, quer ainda para es dispor de manciraa conhecer
pírr enumeraçãotudo o que dclas se pode dcduzir.
Importa, sobrerudo,evitar perdcr tempo cm adivinhar
scmelhantcscoisasfortuitamentee sem arte, pois, ainda
que possamnruitas vezesenconrar-se sem arte c, poÍ
vezes,talvezmaisrapidamenteà sortcdo que com a ajuda
de um método, cnfraqueceriama luz do espÍrito c o
habituariamde tal modo a vãs puerilidadcsquc, dçois,
sedcteriasempÍeà superfície_dascoisas,semnelaspoder
penetrar nrais intimemcnte. rÍas,entretanto,não vamos
nós cair no crro dos que só pcnsamem coisassériasc
dcmasiadoelcvadas,das quais,após múltiplos trabdhos,
adquirem u-ma ciência confusa, cmbora desejem uma
profunda?E, pois, no que há de maisfácil que devemos
primeiramentccxcrcitar-nos,mâscom método,a fim de
quc, por vias abcrtase conhecidas,nos âcostuÍnernos,
como qucnr brinca, a penetrârsemprcaté à íntima ver-
dadedascoisas:por cstcmcio,com cfcito, seráem seguida
pouco e pouco, c num tempo mais crrrto do que ousa-
rÍamos esperar, que também teremos consciônciadc
podcr,com igualfacilidadc,deduzirdc princípioseviden-
tes várias proposiçõesque pareccm muito difíceis c
complicadas.
Alguns cspantar-sc-ão,talvczr luc ncste lugar em
quc proorÍamos os nrciosde nos torneÍmos mais aptos
para deduzir es verdadesumas das ()utras, omitamos
todos os preceitosdos Dialécticos,com os quaisiulgam
clcs govcrnat a,rtzío, prcscrevendo-lhecertasformasde
raciocínio tão neccssariamenteconcludentesquc a, razÃ,o
nclcs confiante, cmbora de certa maneira dispcnsc a
evidênciac a atençãoda própriainferência,pode,todavia,
em virtude da f<rrma,concluir por vezesalgo de acer-
tado.Efcctivamcnre,observamosquea vcrdadescsubtrai
muitasvezcsa cstcslaços,enquantoaquelcsquc dclcsse
59
selem ncles permanecemenredados.Isto nào âcontoce
tão frcqucntementeaos outros; e a experiênciamostra-
-nos guc todos os sofismasmaissubtis quasenuncâcos-
tumam enganere quem se serve de razão,mas sinr os
próprios sofistas.
Por isso,i sobretudopara cvitar aqui quc a nossâ
razàosc dcsintcresse,enquantoexaminam<lsa vcrdadcdc
algumacoisa,quc rejeitamosestasfcrrmaslógicascomo
contráriasao nossoobiectivo e procurÍrmosantescuida-
dosamentetudo o que nos ajudee mantero pcnsamento
atento, como se mostraÍá a seguir. Ora, plra quc sc
torne ainda mais cvidente que csra lrte de raciôcinar
cm nada contribui pare o conhccimento da verdade,
importaobservarqueos Dialécticosnãopodemconstruir
corn e sue aÍte nenhunr silogismocuir conclusãoscja
verdadcira,a menosque sc tenhaiá a sua matéria,isio
é, a não ser quc já antes conheçame nìcsmevcrdadc
que-nelesc dcduz. Daqui clarementeseconclü que uÍna
tal forma lógica não lheslrcrmite conhccernadaãe novo
c que, por conscguintc,a Dialécticavulgar é totalmentc
inútil paraos quedesejamdescobrira verdadedascoisas.
Só pode senrir, por vezes,pare cxpor mais facilmentea
outros a-srazõcs já conhecidase, por conscquência,é
prcciso fazê-lapassarda Filoso6^ p^r^ a Rctórica.
REGRÂ XI
Depoie da intuição de algumas proposiçõeeeim-
ples, se delas tirarmos outra conclusão, convém
PeÍcotleÌ a8 mesmaa com o P€nsemento num
movimento contlnuo e em nenhum lado inter-
Ìompido, reflectir na8 Buer relações mútuac, e
conceber distintamente váriag coieas ao mermo
tempo, tânto quanto se pudcr; efectivamente,
é aesim que o nooso conhecimento se torna
muito mais ceno e sc auÍnenta a capacidade
do eepÍrito.
Eis aqú a ocasiãode cxpor mais claramentco quc
anteriormentcse disse sobrc a inrui$o intclccrual,nas
Íegres terccira e sétima, pois, numa dcssaspassagens,
opusemo-laà dedu$o e, na outra, apenasà cnumeração.
Dcfinimos cstacomo uma infcrência a partir de inúmeras
coisas scparadas,ao passo 9ue, como disscmos no
mesmo local, a simplcs dedu$o de uma coisa a peÍtir
de outra seÍaz por inrui$o.
I
I
I
60
lìri precis()agir assinÌ Porquc, Para a intuiçãtr
intclcctual,cluascondiçircssc cxigcnt, a sabcr,que a
proposiçãoscja conrprccncli<laclara c distintamcntcc
quc,cnì seguida,scjr tarttbcrììcomPrccndidatodaao nres-
mo tcnÌp() c não succssivanrcntc.r dcdução,porinr,
sc pcnsarnrosfazê-la,conÌo na tcrcciraregra,não Parecc
quc se rcalizctoda ao nÌcsmotcntPo' nrasimplicx unì
cirto rnovinrcnt()do nossoespiritoque infercuma coisa
dc ()utra;por isso,f<riconr razãoquc aí a distinguinros
daintuição.ìÍas scaconsidcrarnrosiáfcitr, scgundoo que
sc dissc na sétintarcgrx, iá não dcsignacntã() nrovi-
dc algunr modo, da nrcnrória,na qual sc dcvem con-
scrvaÍos juízoscmitidossobrccadaunradaspartcscnu-
nrcradas,paradc todasclassctirar unraúnicaconclusão.
Outrastantasdistinçõeshaviaa Íazcrpa'n'intcrprctar
parcccrcrììfundir-sc ctlniuntanrcntcnunìa só, graçasa
urrr nrovimcoto do pcnsanìcntoque consideraatcnta-
nìcntcpr.rrintuiçãocrdaobicctocnì Particular,ao mcsmo
tcrÌÌpoquc vai prssandoaosoutros.
Há nisto unn <luplavintaÍ{ctÌìque indicanìose quc
consistccrnconhcccra conclusão,quc nosocuPa,de uma
maneira mais certa c cm tornxr o nosso cspÍrito mais
ficada"devido aos seusesquccimentose fraquezas,por
um movimento contlnuo c repctido do pensamento.
Suponhamos,por cxemplo,quc, por váriasoperações,
eu tcnha chegadoa conhecer,primeiro, qual a rcla$o
existenteentre unìe primeira grandezac uma scgunda,
depois, cntrc uma segundae urla tcrccira,em següda,
entÌc unÌa terceira c uma qu:rna e, finalmcnte, cÍltre
uma qurrta e ,.Te guinta: ncm por issovcjo quc relaSo
existeentre a primcira c a quinta e não a possodcduzir
das que já são conhecidas,a não ser que me lembre de
todas. Eis p<lrqueé ncrcssáriogue o meu [rcnsamento
as pcrcorra de novo, até quc passeda primcira à última
com tal rapidez que, scnr qwrsc deixar nenhum pâp€l
à memória, pareçavcr toda a coisa ao mesmo tcmpo
por intuição.
.
Não há ninguém-que-não
-veia
como é que por estc
meio se corrigc a lcntidão do espÍrito e aumenta a
sua capacidadc.Âlém disso, importa obscrvar que
a nraior utilidade da nossa Íegra consiste em que a
reflexão sobrc a mútua dcpcndênciadas proposições
simplcsnos faz adquirir o hábito de distinguir subita-
mentc o que é maisou menosrclativ<,r,e por quc grâus
se rcduz ao absoluto. Suponhamos,por exenìplo, que
pcrcorro al.r;unrasgrandczascontinuamcntc pÍoporci<>
nais:eis tudo aquilo sobrcque vou rcflectir.Ë por unr
conceitoscmelhantc,nenìnuis nem nlcnosfácil,quercco-
nheço a rela$o existcntecnrrc a primeira e a icgunda,
entrc â segundac a terccira,entre a terceirae a guarta,
etc. ìÍas não posso concebcrassimtão facilmcntc qual
a dcpcndênciada scgundarelativamenteà primeira e à
tcrceiraao mcsnto tcmpo, c é ainda múto mais diflcil
concebcr a depcndênciadcsta segrurdarelativrmente à
primeira e à quarta,ctc. Dal chcgo,em seguida,r cÍrptar
poÍque é que, dadassomentc a primeira e a scgunda,
posso facilmenteencontrar a terccira c a querta, ctc.:
é quc isto sefaz por meio de conccitosparticularesc dis-
6t
rintos. Ora, dadas apcnasa primeira e a terceira,não
dcscobrircitão facilmcntca média,pois isso só se pode
fazcrmedianteum conceitoqueenvolvaeo mesmotempo
dois dos precedcntes.Dadasapenasa primeirac e quarte,
scr-me-á ainda mais difÍcil ver por intuição as duas
médias,porque há aqui três conceitossimultaneamente
implicados. Por isso, também me pareceriamais difícil
ainda achar três médias entre a primeira c a quinta.
Há, no entânto, outre ttzão ptra, que isto se passede
outra fcrrma: é que, âpesarda ligação simultâneaque
existe aqui entre qutÍo conceitos,cles podem contudo
scr separados,dado que quatro é divislvel por outro
número, dc manciraa possibilitaÍ-mea brsca da terceira
apenaspor meio da primeira e da quinta, em seguida,da
segundapor meio da primeira e dr terceira,ctc. Quem
se habituou a fazerestasreflexõcse outres scmelhantes
reconheceimediatamente,semprcque examinaurna nova
questão,o que é quc nela gera a dificuldadec qual é
de cntre todos o meio nraissimplcsparâ a resolver: é o
que constitui a maior aiuda para conheccr a verdade.
RE,GRA XII
Finalmente, há que utilizaÍ todoe os tecursog
do entendimento, da imaginâÉo, dos sentidos
e da memória, quer pare termoe umâ intui$o
distintâ das proposições simples, queÍ pâra eEtâ-
belecermc, enre às coisas que se procuÍem
e as conhecidas, uma liga$o adequada que a8
permita reconhecer, queÍ ainda pera enaontrar
as coisas que entne ei ee devem comparaÍ, a 6m
de ee não omitir nenhum recureo da indúetda
humana.
fista rcgra é a conclusãodc tudo o quc antcrior-
mente sc dissc c ensina em geral o que cra necessário
explicar cm perticular: eis como.
No conhc.cimcnto,há apcnasdois pontos a consi-
derar, a sabcr: nós, que conhcccmos,e os obicctos a
conhecer. Em nós, há apcnas quatro faorldades que
p<xlemosutilizar par:resseobjcctivo: o cntendimcnto, a
imagina$o, os sentidos e a memória. Só o entendi-
mcnto é ctpzz dc ver a verdade; deve, no cÍltanto, scr
61
ajudadopcla inraginação,pclosscntidosc pelamenrCrria,
paranadaonritirnrr-rsdc <luantoseofercceà nossaindús-
tria. Do lado da rcalidadc,bastacxaminartrôs coisas;
a saber:primciro, () quc sc aprcscntacsponraneanìcntc;
cnr seguida,com()scconhcccp()r()utrounr dcternrinado
objccto; c, por fim, quc deduçr)essc podcm tirar dc
cada unr delcs. Esta cnunrcraçâoparcce-nìcconrplcta,
não r.rmitindoabsolutanrcnrenada daquilo a que se
podc cstcndera indústriahunrana.
l)or isso,passandoao prinrciroponro,desejariaaqui
cp()r () que i a nrcnte do homcm, () que é o seu
c()rpo,conìo c quc cste é inftrrmadopor aqucla,quais
sãocnr todo o comp()stohumanoasfaculdadcsquc ser-
vcnÌ para o conhccimcnt()c o que cadauma delasfaz
enr particrrlar,sc estelugar não me parecessedemasiado
cstrcito para incluir todos os preliminaresnecessários,
antcsdc a todos se t()rnar manifestaa vcrdadedcstas
coisas.Dcsejo,com efcito, escÍevcrsemprede maneira
a nadaasserirde quanto se costumapôr ern discussão,
a não scr que prcviarnentetenha exposto as razõesquc
nrc lcvaranràs minhas deduçõese medianteas quais
creioquc ()soutr()stambémpodemserpersuadidos.
ìlas, iá que não () posso fazer agora, bastar-nrc-á
cxplìcarc()m a máxinra brevidadepossÍvel,qual dos
nrodos dc conccbertudo o que enr nós sc destinaa
conhcccras coisasé nraisútil ao mcu propósito.Não
acrcditarcis,exccpto sc 'os agradar,que assim seia;
mas, que i que vos impcdirá de seguir as mesmas
suposiçocsse é evidenteque, sem em nada diminuir a
verdadcdas coisas,elasunicamentctornam tudcl nruito
nraisclaro?Nã<.rscrádiversodo quc acontecena Geo-
nrctria, cnÌ que fazeissobre a quantidadeccrtas supo-
sjÇòcsque nâo cnfraquccenrde mancira alguma a força
das denronstraçÕes,ainda que tenhaismuitas vezes,na
Iìísica,uma ideia diferenteaccrcada sua narureza.
É preciso,pois, conceber,em primeiro lugar, que
todos ós sentidosexternos enquanto Partesdo corpo,
recebeassima 6gura, impressapela ac$o da luz, reves-
tidadediversascores;e a primeiramembranadasorelhas,
das narinase da língua, impérvia ao obiecto, vai igual-
nìente buscar uma nova 6gura ao som, ao odor e ao
sabor.
É muito útil uma tal concepçãode todascstascoisas,
pois nada cai mais facilmentesob os sentidosdo q-uc
ã 6guta: na verdade,toce-see vê-se. Por outro lado,
csta suposiçãonem sequer implica mais consequências
falsasdo que qualquer'outra: a Prova estáem que o
conceito de 6gura é tão comum e tão simplesque está
incluído em todo o sensível.Por cxemplo, podessuPor
melho, etc., como
exPostasou outras
a que existeentre es figuras aqui
scmclhantcs,etc.?
O mcsnroscpodedizerdc tudo o mais,poisa quanti-
dadc infinita das figuras basta,é certo, para exprimir
todas as diferençasdos objectos sensíveis.
Em scgundolugar, é prccisoconccberque, visto
o scntidocxrernoserpostocm movimentopeloobiecto,
a figura quc ele rccebeé transpostapara outra parte do
corpo,chamadascntidocomum,instantaneanrcntec sem
passagcmrcal de ser algum de um sítio para outro.
E prccisamenteassimquc agora,aoescrcvcr,comprecndo
que, no mesmoinstanteem que cadaletra particularé
traçadano papel,não só a parte inferi<lrda minha pcna
cstá'a nìover-se,mas ainda que nem sequerncla pode
existir o menor movimento, sem que seja igualnrentc
rcccbido xo mcsnlo tempo em toda a pena, cuja parte
supcriordescreveno er todasestasdifercntesf<rrmasde
movinrentos,aindaque na rninhaconcep$onadade real
passedc uma cxtremidadcà outra. Quem pensaria,com
cfcito, que há menosconexãoentre as partcsdo corpo
humanodo que entÍc as de uma pena,e que é que se
podc imaginarde nraissimplesparacxprimir estefacto?
Enr terccirolugar,é precisoconceberque o sentido
conìumdesempcnhatambénro papelde um seloparafor-
n'rarna fantasiaou imaginação,tal como na cera,asmes-
mas figuras ou ideias que vêm dos sentidosexternos,
movidos de maneirasdiferentes, tal como o sentido
comum o é pclo scntidocxternoou como e Penainteira
pelasuapartéinferior. Esteexemplomostratambémcomo
ë que a fantasiapode scr a causade muitos movimentos
nos nervosscm, no entanto,ter as suasimagensexPrcs-
sasem si, masoutrasde quepodemseguir-seestesmovi-
mentos. Com efeito, a Pena inteira não cstá em mo-
vimento tal como acontececom a sua Parte inferior;
pelo contrário, parece,na sua parte maior, animadapor
üm movimentototalmentediferentee contrário.E assim
se compreendecomo podcm fazer-setodos os movi-
mentos dos outros animais ainda que ncles não se
admita absolutamentenenhum conhecimentodas coisas,
mas ap€nasuma fantasiapuramentecorpórea; também
assimse comprcendecomo em nós próprios se fazem
todas aquclasoperaçõesque realizamossem qualqucr
ajuda da rrzão.
Finalmente,em quinto lugar, é preciso conceber
69
m()trizsegundoa simplesorganiza$ocorporal.Em todos
cstescasos,csta fr>rçacognoscentcé ora passiva,ora
activa; ora imita o selo, ora a cera; contudo, cstas
exprcssircssó devcmaqui tomar-seanalogicamente,pois
nadase encontrana-scoisascorpóreasque lhe sejatótal-
mcntcsemclhante.E unrasó e mesmaf<rrçaque,ao apli-
car-secom a imaginaçãoao sentidocomum,sc diz: vcr,
tocar, ctc.,;9u€, ao aplicar-seapcnasà imaginação,
enquantoestaseacharcvestidade diversas6guras,scdiz:
recordar;que,a()aplicar-seaelaparaformaroutrasnovas,
se diz: imaginarou conceber;que, finalmente,ao agir
só, se diz: comprcender.No seu dcvido lugar, exporei
nraislongamentedequemodosefazestaúltimaoperação.
Segundocstasdiversrsfunções,a mesmaf<rrçachama-sc
aindr<lucntcndinrentopur(),ou inraginação,ou mcmória,
()u sentidos,mas dá-se-lhepropriamenteo nome de
cspírito,sempreque f<rrmcnovasideiasna fantasia,ou
se ()cupcdas já fcitas.Consideramo-laapta para estas
divcrsasopcraçõcse há que ter em conta,ultcriormente,
a distinção das denominaçriesprcccdentes.Unra vez
assinrfornruladastodasestasconcepções,o leitor atcnto
divisará facilmentequais as ajudasque deve pcdir a
cadafaculdadce até onde se pode estendcra indústria
dos honrensparasuprir os defeitosdo cspírito.
Com efcito, assimcomo o entendimentopode ser
movido pcle inra.ginaçãoou, pclo contrário,agir sobre
cla, assim tambim a imaginaçãopode agir sobrc os
scntidospela frrrçanrotriz, aplicando-osaos seusobiec-
tos ()u, pclo contrário, clcs podem agir sobre ela,
pintando nela as imasensdos corpos; por outro lado,
a memriria,pclo men()sa corpórcae scmelhrnteà recor-
daçãodos aninrais,não é de forma algumadistintada
inraginação.Conclui-scassim com ccrteza 9u€, se o
entcndinrcntosc ocupr do quc nadatem de corporal ou
dc scmelhantcao corporal, não pode scr aiudadopor
essrsfaculdades;mas, pelo contrário, para que nelas
não encontrcobstáculoalgum, é precisoafastaros scnti-
dos e despojar,tanto quanto possível,a imagina$o dc
toda impressãodistinta. Se, por outro lado, o cntendi-
mento se propõc examinar um objecto que sc pode
relacionarcom um corpo, é a ideia desteobiecto quc é
prccisoformar com a maior distinçãopossÍvclna imagi-
nação; para mais comodamentco Íazer,dcvc mostrar-se
eos sentidosexternoso próprio obiecto quc esta ideiâ
representará.Uma pluralidade de obiectos não pode
facilitar ao cntendimento a intui$o distinta dc cada
um delesem particular.IUas,pâratirer dc umapluraüdadc
uma só dcdução,o quc muitas vczes se tcm de fize4
há que rcjcitar das ideias,que das coisasse têm, tudo
o que não exigir uma atençãoimediata,a 6m dc quc o
rcsto maisfacilmentesc retenhana memória.Do mesmo
modo, não scrãoentão as próprias coisasque se devem
propor aos scntidos extcrnos, ffns antcs dgumas das
suasfigurasabrcviadas,e cstas,contentoque bastemperâ
evitar um lapso de mcmória, serãotanto mais cómodas
quanto mais breves forcm. Qucm tudo isto obscrvar
nadaomitirá, assimme parece,do que sc rclacionacom
estapartc da nossacxposi$o.
E vamos,agora,abordartambémo segundoponto:
distinguir cuidadosamentees noçõesdas coisassimplcs,
das noçriesquc e partir dclassc compõcm e ver numas
e noutrasonde podc rcsidir o erro, a 6m de o evitarmos,
c quais as que se podem conhecercom certczea 6m
de apenasdelasnos ocupâÍmos.Nestclugar, tal como no
que precede,é prcciso ftzer certrs suposiçõcsque talvez
nem todos nos concedem;Ínaspouco importa que nem
scqucr as julguem mais verdadeirasdo quc os círculos
imagiúri<ls com que os Astrónomos dcscrevemos seus
fenómenos,contanto que, pela sua ajuda, se distinga, a
propósito dc qualquercoisa,que conhecimentopodc scr
vcrdadeiroou falso.
Dizemos, pois, cm primeiro lugar, que é prcciso
considerer âs coisas singulares em ordem ao nosso
conlrecimentode forma diferentedc quando delasfala-
mos tal como existemrcelmcntc.Sc,por exemplo,consi-
dcrarmos um corpo extcnso e 6gurado, confcssaremos
que cle, por parte da rcalidade,é algo dc uno e dc
simples.Grm efeito, não podcria ncste scntido dizcr-se
c()mpostodc narurezacorporal,de extcnsãoe dc figura,
pois cstesclcmentosnunql existiramdistintos uns dos
()utros.ÌÍas,em rclaçãoao nossocntendimcnto,dize-
mos quc é composto dcstas três naturezas,porque
captámoscadauma delasseparadamenteantesdc termos
podido iulgar quc se cncontram as três iuntas num só
ã mesmosujcitó. É por isso que, não tratando aqui dc
coisas senão enquanto pcrccbidas pclo cntendimento,
chamamossimplcs só àquelascuio conhccimcntoé tão
claroc distinto que o cntcndimcntonão as podc dividir
cm váriasoutrasconhecidasmaisdistintamcntc:taissã<l
a Íìgura,a extcnsão,o movimcnt(),ctc. Quant<làsoutras,
conccbcmo-lastodascom()sc,deccrto modo,fosscmcom-
lnstas dcstas.É prcciso cntcndcr isso dc mancira tão
gcral quc não há scquercxcep$o parÍras quc, às vezes,
obtcmos gxrr abstracção..das próprias
-coisas
simplcs:.
assimaconteccquando dizcmos quc a figura é o limitc
do <lbiect<-lcxtcnso,conccbcndopcla palavralimitc algo
mais gcral que pcla palavra figura, visto que sc prrde,
scm dúvida alguma,falar tambémdo limite do movi-
mcnto, ctc. NestccÍlso,sebem que <llimite dcsigncuma
abstrac$o tirada da 6gura, não dcvem, porém, consi-
derar-sepor isso mais simplcs do que a figura; antes,
umavczqueseatribuiaindaa outrascoisas,comoo tcrmo
dc uma dura$o ou de um movimento, etc., coisasque
são dc um géncro totalmente diferente do da fiÍjrra,
houvc tambim quc abstraËlodos scusobjectos,e, por
conscguinte,é um compostode váriasnaturezascomple-
tamcntcdifercntcse àsquaissc aplicaapcnasdc maneira
cquív<rca.
Dizemos, cm segundolugar, que ascoisaschamadas
buídas indistintamentc om,aos obicctos corpóreos' ora
aos espíritos, como a eristência, a unidade,
-a
dura$o- e
coisas'semelhantc.
^
isto se devem igualmcntc rcfe-
rir essasnoçõcscomuns que sãocomo laçosunindo cntre
sioutrasnaturczâssimplcsc sobrecuiacvidênciaseapoiam
todas as conclusõcs dos raciocínios. São as scguintes:
duas coisasidênticas a urn terceira são idênticas entre
si; assimtambém,duas coisasque não podcm rclacio-
nar-sc com uma tcrceira do mcsmo modo, têm também
72
c assirììi quando,alémdo que nelasvemospor intuição
()u (luc () n()ssopcnsamcntoaí capta,suspeitamosque há
algurrracoisa quc nos cstá escondida,e quand<icste
noss()perìsamentoi falso. Por estemoti'o, i cr.idente
quc nos cngananìossc, por vezes,julgam<lsque não
conhccenroscomplctanlcntcalgumadestasnaturezassim-
ples;conrcfcito,scdelaapreendôssemosintelectualmentc
uma nrínimx parre,o que é seguramentenecessáriona
lripótescdc quc sobreelaemitimosalgum iuíz<>,havcria
quc concluir, pclr isso mesmo,que a conhecemosper-
fcitanrcnte.rliás, nem a poderíamoschamar simples,
nrasconìp()srerem virtude do que nela captamose do
clue dela julgamosignorar.
Dizcmos,cm quarto lugar, que a conjunçãodestas
c.oisassiruplescnrre si é neccssárir()u contingente.
[:]ncccssária,quandounìaestáimplicadatão intimamentc
no conccitoclaoutra quc não podemosconcebcrdistin-
tanìcntcurÌìx ou ()utra,se as julgarm()sseparadasentre
si. É destanraneiraquc a 6guia èstáunidaã extcnsão,o
nrovirrrcntoà duraçãoou ao tempo, erc., porque nã<l
c possír'clconceberuma lìguraprivadadc cxtensão,nem
unr nrovinrcntoprivado de toda a duraçãr>.Do mesm<r
rrrocl<rrinda,scdigo quc quatroe trêsfaacmsete,trata-se
dc unrl conrposi$o necessária;com cfeito, não conce-
bemosdistintamenteo número setesem ncle incluirmos
numx certa relaçãoconfusao número três e o númcro
quatro. Do mesmo modo, tudo o que se demonstraa
respeito das figuras e dos números conecta-senecessa-
riamentccom o obiectode quesea6rma.E nãoé apenas
nascoisassensíveisque seencontraestanecessidade,mas
tambim noutrascircunstâncias:por exemplo,se Sócra-
tcs diz que duvida de tudo, segue-senecessariamente
que compreendeâo menosquc duvida; do mesmomodo,
que sabe que pode haver algo de verdadeiro ou de
falso, etc., pois estas conscquênciasestão necessaria-
mentc ligadasà naturezada dúr'ida. Â suaunião contin-
gentcé a que não implicanenhumaliga$o indissolúvel
entreascoisas:como quandosediz que um corpo é ani-
mado,que um homem estávestido,etc. Há aindauma
grandcquantidadcde coisasque,muitasvezes,estãoliga-
das entre si necessariamentee que a maioriadas pcssoas
situa entre as continÍlentes,não notando a relaçãoque
entre elasexiste,como, por exemplo,estaproposição:
sou, portanto,Deusé; e do mesmomodo: contpreendo,
portxnto, tenho uma mentedistinta do corpo, etc. Final-
mente, importa observar que es proposiçõesconverses
da maior partedasproposiçõesneccssáriessãocontingen-
tes: assim,aindaque do facto de eu existir tire a con-
clusãode que Deus existe,não é contudo permitido,
em virtude do facto de Deus existir, afirmar que eu
tambinr existo.
Dizemos, em quinto lugar, que nada podemos
compreendcrpara além destasnaturezassimples e da
espéciede misturaou composi$o que entreelasexiste.
E, claro, é muitasvezesmais fácil considerarao mesmo
tempo várias juntas do que separar das outras uma
única; por exemplo, posso conhecero triângulo sem
nunca ter pcnsadoque, ncste conhecimento,está ainda
contido o do ângulo, da liúa, do número três, da
figura, da extensão,ctc.; isto não nos impede, no
cntanto,de dizer que a nârurezado triângulo é composta
de todasestasmturezase que elassão mais conhecidas
do queo triângulo,poissãoelasprópriasqueaintcligência
nele descobre.No mesmo triângulo estão talvez anda
cncerradasmuitas outras naturezasque nos escepam,
como a grandczados ângulos, cuja somaé igual a dois
rectos,e as relaçõesinumeráveis que existem entre os
lados e os ângulos, ou a capacidadeda área,etc.
Dizemos,em scxto Íugar,que as naturczaspor nós
chamadascompostasnos são conhecidasrQu€r porque
experimentamos() que elas.são, quer porque nós pró-
prios as compomos.Experimentam()studo o quc per-
cepcionamospela sensação,tudo o que ouvimos dos
()utr()se, de um modo geral,tudo o que chegaao nosso
entendimento,ou de algum lado, ou da contemplação
rcflectidaque ele tcm de si próprio. Há que notar, a
esterespeito,que o entendimentonunca pode ser enga-
nado por experiênciaalguma, desdc que unicamente
tenhaa intuiçãoprecisada coisaque lhe é apresentada,
conformea possuicm si ou numa imagem,e contanto
quc, além disso, não iulgue quc a imaginaçãorepro-
duz fielmcntc os obiectos dos sentidos, nem que os
sentidosrevestemas verdadeirasfigurasdas coisa,nem,
finalmentc,que as coisasexternassãoscmprctais quais
nos apareccm.E em todos estespontos que, efectiva-
mcnte, cstâmossujeitosao erro, como se alguém nos
contar uma fábula,iulgarmosque o acontccimentotem
lu.gar;ou se um doentcatingido de icteríciajulgar que
tudo é amarelo,porquetem o olho tingido de amarelo;
ou, por finr,sedevid<>a uma lesãoda imagina$o,como
aconteccaosmelancólicos,julgarmosque assuasimagens
pcrturbadasreprcsentamrealidades.Ìíasnadadisto enga-
naráo entcndimentodo sábio,porquetudo o quc recebcr
da imaginaçãoseráevidentementepor ele julgadocomo
realmentenelapintado; todavia,nunca rfrrmarâque isso
nìesmoacontcccutal qual e sem qualquer mudançadas
coisasexternespere os sentidose dos sentidosp^ra
^imaginação,a não ser gue o tcnha conhecidoantes,por
qualqueroutro meio. Por outro lado, compomosnós
próprios ascoisasque entendemos,sempreque iulgamos
existirnelasalgo que nenhumaexperiênciaimediatamente
mostrou à nossamente.Por excmplo,seâcontecerque o
doentc de icterícia sc persuadede que as coisasvistas
sãoamarelas,esteseupensâmentoseú compostodaquilo
que a suafantasialhe rcpresentae da suposi$o que faz,
a saber,que e cor amarelalhe aparcce,não por defeito
do seu olho, mas porquc as coisasvistassão realmente
amarelas.r conclusãoé que só podemosser enganados
compondonós próprios de certo modo ascoisasem que
ecrcditamos.
Dizenros,em sdtimo lugar, que estacomposi$o sc
pode fazer de três maneiras,a saber,por impulso, por
conjecturaou por dedução.É por impulso que compõem
os seusiuízossobreascoisasaquelescuio espÍritoos leva
a algumacreng, semserempcrsuadidospor razãoalguma,
mas determinadosapenasou por algumapotênciasupe-
rior, ou pela sua própria liberdade,ou por uma dispo-
sição da fantasia:a primcira influência nunca engana,
a segundararamente,a terceira quese sempre; mas a
primeira não tem o seu lugar aqui, porque não depende
da arte. A composi$o faz-se por coniectura quando,
por exemplo,do facto de t âgue,por cstârmaisafastada
do centro do mundo do que a terra, ser também de
uma essênciamais subtil, c ainda do facto de o ar, por
seencontraracimada água,sertambémmaislcve,conjec-
turamos que, acima do ar, nada mais há do que étcr
muito puro e muito mais subtil que o próprio ar, etc.
Tudo o que dcste modo compomos não nos engena,
certamente,se julgarmos quc é apenasprovável e sc
iamais afirmarmosque é verdadeiro,rnas também não
nos torna mais sábios.
Descartes, r. regras para a direção do espírito
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Descartes, r. regras para a direção do espírito

  • 1.
  • 2. Pôr o lcitor directamentcem contacto com textos Ínârsrntcs d.r história da 6loso6a a todrs es épocase a todos os tipos c cstilrs dc 6loso6a, Drocurandoincluir os tcxtos maissignificatirbsdo lrcnsamento6losó6co nâ sua multiplicidade e riqucza. Scrá assimum rcflcxo da vibratiÍidadc do esplrito filosófico pcrantc o scu tempg, Dcra,ntca qcncla c o orobìcma do homem c do mr.rndo.
  • 3. TextosÍilosóÍicos DircctorrJaColccção:ArturMorão ProÍcssornoDcpanarncntodcFilosofirdaFacuklarJcdcCi0ncias Ilurnanas da Univcnidudc Carólica Portugucsa l. Críti<'udu Ru:rirrl'nÍrriz. Inrrn:nul Krnl 2. httcttigução uiltrc o È'l,enlintcnro líuar<rro, Dlrid llunr !. Cnpúuttlo ilor ílrúrr, lÌicrlrich Nicrrrchc 4. Dix'urto lc llcntfiti<tt,CtrlíticrÚ Whilhclm triboir 5. Ot l'ntcttor th llcn{Ítin,Jmuucl Kant 6. Rcg,mtym u Dincçdo do t3píúo. Rcné llscancs 7, l'unthunalluçtio du lletufitico lot Cottumct.l:ticrdltich Nictar<hc E. À llcio th I'enoncnohryiu,lllnvnJ llusrcrl 9. Dircurn tb llürxlo. Rcré l)csrancs lO. trtto.k ll*, t)t1lütniw du llinlut Obm amt t3crirrr. Sffrn KicrtcgurrJ ll. à l'ihuoftu no hhulc Tnlgico dot Cngor. Fricdrkh Nicrrt|r 12. C.rrril urhn u 7iíralrr<'irr. Jrün lrrc 13. I'ailcgóncur u ftxh a llcndíúcc f'rrrnr. Inrmrrl Kant 11. Tnnolo ilt Raltntn lo t)úenilinrtrrír. llcnto dc l:rpitxrc 15. Sinlxilinn: Scu Signifituh c Êlcr1o,Âlírcd Nonh Whirchcal 16. t)ttuio Sobn or luhr hnaliuos tht Ctuttt'iênciu. llcnti llcrgvn 17. ttrci<lq{úfuúuCihu'iutl:tkrtifintscnlitlnxnc(v/. l).CrrrgìYhillrlnrljricrlrichllcgcl 18. À ltt l'crttétta, c Outnrt Opút(ulor. Inrnunlrl Krnt 19. Diúhtgo xún c á'aljrrla/c. SantoÁgrntinho N. I'rincípios tht l:ihutfia do funn. l.ulsig ljcucrbrh 21. Èu'i<lo1>llüt lur Ciènctut t|hróficos cn Ë1úttnc írrrl l/l.Cnrg Yhillxlm llriclrkh llcgcl 22. ll onnxtitos t)<tnt&nicot. t' rktsrificor. Karl Èl:n 2J. l'ntlrlãutittt lìlorr'fico. Crrrg 'hilhclm lïicrlrich I lcAcl 21. O Antü rito.lÌicrlrich Nictr.rclx 25. I)ir<'uno y,lrc u Dignühulc tb llmcm. Giovmni PicorJcllr Minnúrlr 26" tlcc I hnn. lÌicrlrich Nictrschc 27. O llutcrioliwo lüa'irrrrl. Grrtrn llxhclul 2ll. l'riu'Qtüu lltn{íúvs lu Ciènctuilo Nutunu,l:ric,JÍich Nictr-Í{hc 7). Di<lhryoile utn llót{o Cri*lo c ilc un l:ikttófit Chrirãr. Nicohr Àhlcbne."lr !J. O Siucnn ilu lïrla Éritr, Crrrg ì'hi lhclnr tÌicrtrich I lcacl 31. lntnrhtção à llitóriu ilu l'iloutfia. Cnrg Whillrlnt lÌicJrich llcgcl 12. A t Co fc rênt iur /r lÌrrrr. l'rJmunJ I lurrcrl 13 Tcoút lur Cou c14iks lo lttarlo. ilhclm l)ilthcy It. A Rcligüio not ünitcr ilo Sinl>lcr lfrrcio. Inrnunwl Krnl 75 |lu'ültryúliu ilut Ciiu'üts l:rlottificut cnt tpÍunnc (rr/ /l/J. Ccrrg hillxlnr lÌicrJrich I lcgcl 16 luvttigol,irt t'ilttuifi<'<rt&iltn o |stêncfu du Ulxntutc tlunxnn. F.W J x-lrlling 17. O Cutf ito lu l'rrrrllrrlc. lnrnunucl Krnt It llone c Sobnritin< i<t.Àhr Schclcr 19. À llu:io m I liÍ.iÍür. Crc(x8Whilhclm lÌicdrich I lcgcl 411. O No*t t)rphito Cicntífrco,Gtt<n llrhchrü 4 |. &ún u ltctofíti<rt ilo Scrno Tonlxt. l lcnriquc rlc Gand 12. t'rincúúts ila t|hutfrt, Rcrú l)csrncs 41. Trutuh ilo l'rüncint l'riucípüt. hül l)un: lircrro 4. Í)rsirt yilrn o ltnhulciru Orig,cm.c rrenuin cfitn thrGovmo Cinl,hilrn lrxlc 15. A Unühulc do hrtclccttt t-tttrtruor Árvrarirlor. Sio Trxnásdc Âquimr 46. À Gucrm c Quciw ilu lt:.|:lrsnrudc Rdcrúio 17. Uçìr s u ú n u lfucç ão do &ihi o, JrilrannCxrtlicb lichtc 4lf. Llrr l)rrrrr I Ih OlJiciit),Cíecm 4). Do Alnw (lkiairrrr. ^íirlúclcr9. A Ew,luçdoCrialora, llcnri llcrgsn Sl. l'útilogio e Ctrn2rcrrlirr. ì'illrlm l)ilthcy REGRAS PAKAADTRECçÃO DOESPÍKITO
  • 4. Títulooriginrl: Regulacad Dincticlrteulngcniì @Erliçõcs70 Truluçtrodclolo Gama Cap dcEdiçÕcs70 DcJúsirobgrl n.'283l0rìE9 tsBN97244-0599.0 TqJososdircitosrcscrvadosJnraalÍnguaponugucsa Jrcr&liçòcs 70 ED!çÔES?0.LD^. RuaLucirnoConlcirc.123- 2."Esq.o- 1069-|J7LISBOÂ/ Irorrugrl TclcÍ.:213190240 Far:213190249 E-mail:cdi.?0@mail.tclcpc.Jr Estaóra csráprorcgidapclalci.NtropcrlcscrrcpnxJuzi<ta notodooucmÍErtc.qualqucrquc scjro modoutiliado. incluindoÍotocópiac xcrocópia.scmprúviarurorizaçàodoEdircr. Qualqucrtnnsgrcssàoàki dosDircitos<toÂutorscrápassÍvcldc pmccrlimcnrojudicial. René DESCARTES KEGRAS PARAADIRECçAO DOESPÍKITO
  • 5. BREVENOTÍCIA Unropúsculoinconrpletode Descanes,masquão signifi- cativo!Osestudiososdiscutemadataemgueterãosidorcdigidas asRegrasParaaDirccçãodoEspÍrito.Asváriasopiniõessiruam a suarcdacçãoentrc1620e 1635,tendoemcontaalgumasalusões biográlìcasnasRegras2.4, 10. SegundoH. Gouhiernasuaedição(r),asRegrasnãodevem seranterioresa 1623:constituiriamumaespéciedercsukadodo trobolhointelectualfeitoentrcI6?3e 1628eloi nesteúltimoano queDescartesasteriapostopor escrito. Porseuturno,ahistóriafisicadotextotemalgunsmeandrcs. Há três nnnuscritosintponantes:a) o manuscritooriginal,que pertenciaa Clerseliecnlr.sperdeu-se;b) umacópiaquefoi de LeibnizeseencontnounabibliotecadeHan6ver;ec)a cópiade quesesemiramoseditorcsdosOpusculaposthumanaprimeira ediçãodo texto latino entAmesterdão,1701,e que também desapareceu.CharlesAdam(e Paul Tannery),na suagrande r9ó5. (f) Dcscartcs.Rctulacaddinctioncmingcnii.Preí&iodcHcnriGouhicr.Puir. Vrin
  • 6. cdiçc-ndoscscritoscerte.ïieno-$,OcuvrcsclcDcscancs,I'aris,Ccrf 1908(lulc, cditukx pcla Vrin), ,rlcorrcu ao tc.topublicado mts Opusculac às variantcsdo nranuscritodc Hurtôver. É essetcxto (,to tomo X da ediçtio de Atlamc Thnncry)quc scrve de busccpresc,ttcediçïtoc tratluç[io pura português. Sco lcitor esrivcrimcrcssado,hú algunnsobrusfunduncntuis quc o podcrãoajutlar a cstudara.sRcgulac: l) E. Gilson,Irulcxscolastico-carttisictt,ltris, Alcan, 19/,3. 2) E. Gilson,Rcnél)cscuilcs.Discoursc<lcla Méthcxle.I'c.rut c co,,tc,rlúrio,I'uris, Vrin 1925,/,967tIR.I)cscurtcs,Discursodo Métotfo,anotculoeutnrcntadopor E. Gilxn, Ediç't'ics70,Lisboal. 3) L J. IJeck,Thc Mcthodof Dcscartcs, u studyof rlrcRcgu- lae,Oxfttnl 1952. ArturMorão REGRI I A finalidade dos estudosdeve ser e orienteÉo do espírito pere cmitir iuÍzos sólidos e veÍdedeiros sobre tudo o que se lhe depara. Os h<lmenscostumam,semprequereconheccmelgu- ma semelhançaentreduascoisas,avaliarâmbas,mesmo naquilo cm que são diversas,medianteo que reconhe- ceram numa dclas como verdadeiro.Rcalizam assim falsasaproximaçõesentreesciências,queconsistemexclu- sivamentcno conhccimcntointelectual,e as artes,que exigenralgum exercícioe hábito corporal; e vêem que nemtodasasartcsdevemseraprendidassimultaneamente pekr mesmo homem e que só a<1ueleque exerceuma única se transformamais facilmentcnum artistaconsu- mado;asmesmasmãosquesededicama cultivaros câm- pos c a tocar cítara,ou que se entregama vários ofícios diferentes,nã<>os podem cxccutar com tanto desafogo como sea unì só sc dcdicassem.Julgaramque o mesmo se passarircom as ciênciasc, ao distingui-lasumasdas outrâs segundoa diversidadedos seus objectos,pensa- IO II
  • 7. nrm quc cr:rneccsário adquirir cadeurnascplnrdamcnte, dcixandodc lado todasrs ()utÍ:ls.Iingantram-scrotunde- menrc.Glm cfcito, visto quc t(des as ciênciasnedameis sàodo quc 1 sebcdorialtumrnr, a qual pcrmtncccscnìprc une c idênricrr [xrr nruito difercnrcs quc sciam ()s obicctos e quc sc rpliquc, c rúo reccbc dclcs nreis disrinçircsdo que r luz do sol dr varicdrdc das coisas <1ueiluminl, nio há ncccssidadcdc imJxrratr cspíritos quais<;ucrlimircs. Ncm () conlrecimcntodc um:l só vcrda<lc,com() sc firra a práricr dc umt única ane, nos dcsvia da dcscobcnr dc (,utn; pckr contúrio, aiuda- -nos. Scnr dúvide, paÍccc-mcdc cspantarquc a meior lnnc indague,c()nìír nìai()rcntJrcnho,()sc()stumcsdos Iromens, as propricdadcs des phnrrs, ()s movimenttx dos astros,as tmnsmutaçirs dos ntctaisc os rtbjccttts dc scnrcllrrnresdisciplinasc que, entÍctant(),quascnin- gudnrpcnscno lxrm scns()ou ncla Sabcdoriaunivcrsal, guando rudo o mris dcvc scr eprcciado,nào tlnt() lxrr si mcsnì() qulnto [rkr contributo quc I csta tnü2. Assim, ni,r d scm motir() quc Íx)m()scst1 regÍr lntc de t<xlasas ()uras, Íx)rquc nrdr nos afasta tmto d<> recto caminho da pr(xur:r da vcrdadecomo oricnttr oo tì()ss(rsatlgdos,nio prrr cstcfint gcral,maslnm dguns 6ns panicuhrcs. Não falo jâ dos mausc condcúvcis, como a r'ã glória ou o lucro vergonhoso: c óbvio quc as rrzr'>csdc nuu quihtc c ()s cmbustcs próprios dos cspÍritosvulgarcsabrcmncstcscntidoum caminhomuit<r mais trntaioso do quc () prdcria ftz.crt> sólido c<tnhc- cimcnto da vcrde<lc.IÍas prctcndo falar drx fins honcs- r()s c kruvárcis, Íx)Íquc nnis subtilmcntcsomos por clcs ntuitas ïczc cntnnados: F)r cxcmPlo,âo PÍrrcurar- nros adquirir as ciêncirsútcis parr o bcm-cstarde cxis. têncir (ru prÍ:l () prezcrquc sc cnc()ntrane contcmplaçàrt dr rcrdadc, e gue c quasc a única fclicidadccomplcte ncstavi<lac (luc ncnhumador vcm Jrnurbar. Sãocstcs rrs frutos lcgírimosdas ciêncirs quc cfcctivamcnrcgxlc- rÌì()s6[rcrar; mes,sc nclcspcÍtsarmosdurentc o estudr.l, fzzcm muitasvcz6 quc omitamosmuirrr nrciosncccssá- rirr Jrrra o conhccinrcntodc (rutnÉ coisas,F)rquc sc úgunri<1, à primcire -visra, ()u Íx)uc() útcis ou ixruco dignos dc intercssc. É, prcciso icrcdinr <1ucr.rdas rs ciênciasesrãodc ral mrxÌr concxascnrrc si {uc d muitís- simo nrais fácil aprcndê-lasrrxlas a() mcsmo tcmpo do quc scpamruma só quc scjadrs outras. Porttnto,'se alguém quiscr inrcsrigar a sdrio a rcrdedc des coises, não dcvc cscolhcr uma ciência lnnicular: csrão ruhs unides cntrc si c dcpcndcnrcsúmas d's ourras; rÌuls pcnT a[rcnascm aumenrera luz narunlda razlo, não1nm rcsolvcr csta ()u rquch dificuldedc dc cscoh, mas fan que, cÍn cede circunsrâncirde vida, o intclccto mostrc à vontadc () quc dcvc cscollrcr.D,mbrcvc ficaú 6paÍl- tado dc rcr fcito progrcss()smuito supriorcs atrs dc quantosscdcdicrm r csrudospartiorlarcs,c dc rcr obrido não só tudo o quc os ourÍos dcsciem,nrasrinde coisrs mais clcvedes do quc es quc podem 6ÍrcnrÍ. ,2 ,l
  • 8. REGR II Importa lidar unicamente com aqueles.obiectos para cuio conhecimento certo e indubitável os irossot espíritos Parecem ser suficientes. T<ldaa ciônciai utn c<lnhccinrcntoccrto c cvidcnte; os lcvou a não rcflectirsobrctris conhccinrcntos,c()mo dcmasiadofáccisc accssír'cisa t()d()s. ^o crÌtantr),s()u dc opiniàodc <1uccstcss:ì(,nruitonraisnunrcr()s()sd() quc pcnsenìe suficicntes pxra pr()'ar, c()m ccrtcza, inúmcrasproposiçircs,accrcsdascluaisnão pudcramdis- corrcr atcicntlio x lìrìo ser dc un'tarììrnciraprovável. Porquc julgaranrindigrro dc urrr homcm lctrado con- fcssarquc irnorevr algunrecoisx,hrbituarrm-sedc tal modo a adornar as suxs íllsrs razòcsquc, inscnsivcl- nìcntc,acabarantpor a si prripriossc pcrsuadiremc as t()rììxrcmc()nì()r'crdadciras. No cntanto,sc obscrvrrnìosbcm csta rcgra,muito poucascois:rsseeprcscntanra cujo cstudonos possxmos aplicar.Dificilmcntc sc crìconrraránasciênciasqualquer qucstãosobrc a qual os lrontcnsversld<lsnão tenham muitasvezcsdiscordadocntrc si. ìÍas, scmprcquc duas pessoastônr sobrc a ntcsrnl coisajuízos contrários,dc certczrquc pelonrcn()sutÌìa()u()utrasccngana,c nenhu- ma delasprrecenlesmotcr ciôncia;porquc,sers razõcs de uma fossenrccrtasc cvidcntcs,podcria cxpô-lasà outra de modo a finalmcnteconvencer() seu entendi- mcnt(). I)arcce,pois, cluc sobrc todos os assuntosdeste géncro podcmos obter opiniires provár'cis, mas úo a ciência pcrfcita, visto quc nâo nos é pcrmitido scm temcridade esperar mais de nós mcsmos do que os outros fizcranr. Âssim, das ciênciasiá encontradas,res- tam só a Âritméticac a Geometria,àsquaisnos reduza observaçãodestaregra. Âpesarde tudo, não condcnamospor issoa maneira de filosofar atéagoraencontradapclosoutrose, nosesco- lásticos,a maquinariados silogismosprovávcis,perfei- tamenteadcquadaàs suasguerres.Na verdade,são até um cxercíciopara os cspíritosdas criançase com certa emula$o os fazemprogredir: é muito mclhor formá-los medianteopiniões dcstc jaez, ainda que aperentementc incertas devido às controvérsiasdos eruditos, do que
  • 9. abandoná-loslivrementea si próprios. Talvez sem guia sermosseriamcntedeterminarparanós próprios esregras que nos aiudema chegarao cume do conhecimentohu- mano,há queadmitir entreasprimeirasa quenosprcvine contra o abusod<lócio, em quc tantosceem;dcixam de lado o que é fácil, só se ocupam de coisasárduassobre asquaiselaboramengenhosamenteconiecturasPor certo muito subtisc razõesdeverasprováveis.IÍas, apósmuito trabalho,advertemiá tardeque não fizeram maisdo que aumentaro número das dúvidas, sem terem aprcndido uma ciência. E agora, por há pouco termos dito que, entre as disciplinasconhecidaspelos outros, só a Aritnrética e ^Geometriaestavamisentasde todo o defeitode falsidade ou de incefteza,vam()s examinar mais atcntamentea razão disto mesmo, observandoque há uma dupla via que nos lcva ao conhecimentodascoisas,a sabcr,a exPe- riênciaou a dedução.É precisonotar, alémdisso,que es ainda o menos racional. E pouco úteis me Parecem ser pare isso os laços com que os DialécticosPensam governara ttzão humana,sebem que cu não negueque scjam muito apropriadospara outros usos.Com efeito, todo o erro possível- falo dos homense não dos ani- mais- nuncr resultade uma inferênciaerrada,masapc- naqde sc partir dc certasexpcriênciaspouco comprecn- didas ou dc se cmitirem juízos de nrodo temerârioe scnrfundanÌento. De tais consideraçoesinfere-seclaramenteporque é que a rritméticac a Gcometriasãomuito maiscertas que as ()utrasdisciplinas:são cfectivamenteas únicas de todas,e têm um objectotal como o exigimosjá que, exceptopor inadvcrtêncir,pareccdifícil nelasum homem enlÌanar-sc.Âpesardc tudo,nãoé de espantarquc muitos espíritosse apliquem espontancanrcntea outras arres ou à filosofia:isto aconteceporquccadaqual se pcrmite a si mcsmomais confiadamentcser adivinho em matéria obscurado quc em matériacvidente,€ é muito mais mas somenteque, na procura do rccto caminhoda ver- dade, não há que ocupar-sede objecto algum sobre o qualnãosepossatcr uma ccrtezaigualàsdemonstraçõcs da rritméticae da Geometria. t6 I7
  • 10. REGRAIII No quc respeita aos obiectos considerados, há quc pÍocurar não o que os outÌos pensaram ou o que nós próprios euspeitamos, mas aquilo de que podemos teÌ uma intuição clara e evidente ou que podemos deduzir com certeza;de nenhum outro modo se adquire a ciência. Dcvemlcr-seoslivros dosÂntigos,poiséumagrandc vantaÍ{cnìpodermosaproveitar os trabalhosde um tão elcvado número de honrcnsrQucÍ para conheccras dcs- cobcrtas iá feitas no passadocom êxitor Qu€r também para n()s inf<rrmarnrosdo quc ainda falta descobrir cm todas as disciplinas.FIá, contudo, um grandc pcrigo dc se c()rrtraircnìtalvez algumasmanchasde erro na lci- tura derrrasiadoatenta desscs livros, manchas que I nós se agrrÍanì sejamquais f<-rremas nossesresistências c prccauçõcs.Com efeito, os escritorescostumam tcr um cspírito tal que, todas as vczes que sc cmbrcnham p()r un'tacrcdulidadeirrcflectidana crítica de uma opi- niào controverse, se esforçam sempre poÍ nos atrair mediante os mais subtis argumentos. Pclo contúrio, scmprcquetiverama felicidadede cncontraralgode ccrto c evidente,nuncao expõemscnãocom rodeios,receando eparcntementediminuir pcla simplicidade das razõcs o mérito da invcn$o, ou cntão porque nos inveiam a verdade às claras. rinda que todos f<rssemdc boa índole e francos, impedindo-nos de tomar coisas duvidosas por verda- dcirase expondo-nostudo dc boa fé, porquedificilmente um afirma dgo cuio contrário não seja proposto por outro, nuncâ sabemosem qual dcles acreditar. E não valcria dc nada conter os votos para aderir à opinião panilhada por mais Âutores; porque, sc sc trata dc uma questão difÍcil, é mais credÍvcl que a sua vcrdadc tcnhe sido descobertapor um reduzido número do que por muitos. Mcsmo se todos estivessemdc acordo, o seuensinonão nos bastaria:nuncenos tornaremosmete- máticos, por exemplo, embora saibamosde cor todas as demonstraçõesfeitaspelos outros, se com o espÍrito não formos capezcsdc rcsolvcr todo e qualqucr pro- blcnra; nem nos tornaremos filósofos se, terido lido todos os raciocÍniosdc Platãoc Âristótelcs,não puder- mosformar um iuízo sólido sobrequentonosé proposto. Com efcito, darÍamos a impressãode termos aprcndido não ciências,rns histórias. Âlém disso, somos admoestadosa não misrurar absolutamcntenenhumaconiccturacom os nossosiuízos sobrc a vcrdade das coisas. Esta advertência não é de somenosimportância: pois, a melhor razão pela qual não se cncontra ainda na filosofia vulgar nâda dc tão cvidcnte c tão ccrto que não possaqucstioÍÌaÍ-se,é que primciramente os cstudiosos, não contentcs com reco- nheccr as coisas claras c certes, ousaram defender coisasobscurase dcsconhecidas,quc só por coniecturas prováveisdcançavam.Depois, pouco a pouco, elcspró- prios lhcs dcram crédito total e confundiram-nas indis-
  • 11. tintamentccom as coisasvcrdadcirase cvidcntcs,sem podcrcrn tirar ncnhuma conclusãoquc não parecessc dcpendcrdc algumaproposi$o semclhantec quc, por conscguintc,não fossc inccrta. , fim dc não cairmosultcriormenteno mcsmoerro, vâmos aqui pessarcm rcvistatodos os actosdo nosso cntcndimcnt()quc nos pcrmitcmchcgarao conhecimento das coisas,scnr ncnhum rcccio de cngano; admitcnr-se apcnxsdois, a sabcr,a intuição e a dcdução. l'or intniçãocntcndo, nâo a convicçãofutuantc for- necida pclos scntidos ou o iuíz<>cnganador cle uma imaginaçãode conrposiçõcsinadcquldas,nìas o con- ceito dr rììcrìrcpurÍrc atcntatão fácil c distinto que ne- nhuma dúviclanos 6ca acercado quc conrprccndemos; ou cntã(),() quc é a mcsmac<lisa,O conceitodr mente pura e atcrlta,scm dúvida possívcl,quc nasccapcnas da luz da razio e quc, por scr maissinrplcs,ó aindamais ccrto do quc a dcdução,sc benr quc cstx última nâ<r possascrnralfeitapclo homcm,como acinraobsen'amos. rssim, cadaqual podc ver pcla intuiçãointelectualque cxistc,que pcnsa,que unr triânguloé dclinritadoapenas por trôs linhas,quc r csferao é apcnaspor umr super- fícic, c outras coisasscrnclhantcs,gue são nruito mais numcrosasdo quc a maioria obserr'â,porque nã<lsc dignenraplicara tììcrìtcr coisastio fáceis. Quurto ao mris, faço ac;uiunra advcrtônciagcral não r'á alguim talvcz surprcender-sccom () novo uso dr palavra intaiçtìr.,c de outras clue igualmente serci f<rrçadoa dcsviarda sua significaçãovulgar: não penso scqucrno nroclocomo cadacxprcssãofoi, nestcsúltimos tcmpos, usadanas cscolas,porque seriadificílimo scr- vir-nredos mcsnrostermosc exprimir idciastotalmente diversas;nìasvou atcr-mcunicamcntcà significaçãode cadaprlavracm latimparaquc,à faltade tcrmospróprios, transíiraparx a minha idcia, os que me pareccmmais adcquados. Ora, estaevidênciae estacertezada intui$o não são apenasexigidasplr.aa: gimpleqenunciações,mastambém para quaisquerraciocÍnios.Seja,por exemplo,estacon- sequência:zezé iguala l maisl; éprccisoverintuitiva- mentenãosó que 2 e z são4, e que ; e r sãoigualmente 4, mas,alim disso,quedestasduasproposiçõcsseconclui necessariamenteaquelatcrccira. PoderáagoraperÍlunrar-sep()rqueé quc à intuiçâo juntámos um outro m<ldo de conhecinrento,que se raliza, por dedaçtoipor cla entcndcmoso que sc con- clui necessariamentede outras coisas conhècidasconr certeza-.lìoi imperiosoproccdcrassim,porque a maior partedrs coisassãoconhecidrscom ccrtcza,ômboranão scjamcm si evidentes,contanto que scjam deduzidas de princípios vcrdadeiros,c i^ conhecidosrpor um nrovirrrcnrocontínuoc inintcrruptodo pensamento,que intui nitidamentecadacoisacm particular:eis o único nrododc sabermosque o último clo dc uma cadeiaestá ligado ao primeiro,mesmoque não aprcndanrosintuiti- vamentcnum sóe mesmoolharo conjuntodoselosinter- midios,dc quc dependea ligação;bastaqueos tenhamos cxaminadosuccssivamentec quc nos lembremosque, do primeiroao últinro,cadaum delesestáligadoaosstus vizinhosimediatos.Distinguimosportanto,aqui,a intui- ção intelectual dr dcdu$o certa pclo facto de 9uc, nesta,seconccbcumaespcíciedc movimento ou suceslão c na outra,não; alémdisso,paraa deduçãonão é neces- sário,como para a intuição,uma evidênciaactual,mts i antesà nremóriaque, dc certo nrodo,vai buscara sua certez^.Pclo que sc podc dizer quc estasproposições, qu€ sc concluemimcdiatanrcntcI partir dos primeiros princípios,são conhecidas,de um ponto de vista dife- rente,.ora por intuição,ora por dedução,mas que os primeirosprincípiosse conhccemsomentepor iniuição, e, pelo contrário, as conclusõcsdistantesió o podem scr por dcdução. 2I
  • 12. F,isas duasvias mais scgurasÍtarr chcgarà ciôncir; do hdo <ftrcspírit. não se dcrcm adnritir mais,c trdes as()utrasdcvcnt scr rcicitadssc()mosusJritesc pssÍvcis dc crro; () quc, ap6rr dc tudo, não nos impcdedcacre' ditar <1uca<luiloquc firi obiccto de rcvch.çãodivine c ntais ccrto do quc qualqucr()ulr(t conhccimcnto;c()m cfciro, a fr:, Jxrr tisrr coisesobscuras,não d um acto do cspírito,rnrs da vontrdc. F, sc tcnr fundement()sno cntcntlintcltto, Jxxlcrãrtc dcvcrirl t<xlosclcs ser dcsco- bcrros Jx,r unri ()u ()utÍìl clrs virs iá indicades'como trlrcz únr dir o demonstclÍcmosmeisrmphmentc. REGRÂIv O mâodo é neccuÁrio parar pnocusrde verdede. C)slÍorteis sãodominedosÍx)r umt orriosidedcrão ccgl quc, muitasvczcs,cnvcrcdrmo espÍriropor cemi- nh<x dcsconhccidos,scm qualqucrcÍrcnrnçarazoávcl, mesunicamcntclÌrçr sc arriscarem1 cncontnrro quc procunrm:é como sc rlgudm, inccndiedoplo dcscio tão cstúpidode cncontrerum t6íJuro, vrgucrsscscm ccsslr plas prags públicr ÍÌlnr vcr se, c?sualmcntc, cncontÍ:rvarlgum pcrdido [x)r um tnrnscunte.rlssim cstudemquesctrdos os quimisras,r maiorit dos gcó- mctnrsc um gmndc número de 6lósofos;nio ncgcr quc tcnhrm por vcz6 muiras()nc nos scusceminh<>s crnrntc c encontremalgumevcrdtdc; contudo, não nrturd c ccgemos cspÍriros.Qucmscecosrunua andar ,t
  • 13. assimnis tÍcì'ascnfnquccc dc ral nt.rdoa acuidrdcd,t ollrrr que,dcJxris,nio Jxdc suÍx)ntr r luz do plcn,rdir. Ê r cxpcriôncirquc o cliz: 'cnì(rsntuitíssimrsvczcti()s quc nunc? sc clcdicrrrm às lsras iulgar o guc sc llrcs dçrrr conì nruito nttriors,rlidezc clarczado <pc acluclcs quc scnìprcfrc<;ucntamntls cscohs.IintcndoJxrrn:ct<xftr Ícgrrs ccnasc fáccis,<;ucpcrnritenìI guenìcxadinìentc as obscrrar nuncl tottìtrÍJxrr vcrdrdciro elg,r dc falso c, scrììtlcspcrrligrrinutilntcntcncnltuntcsf<rrço<h tttcnte, nìtrsaurììcntr:tdosctììpÍcgradurlrrrcntc(, stl)cr,atingir rr conlrccirttcntovcrdrdciro dc tudo () quc scrá crPrz dc srbcr. rc;rri,hi durs obscrraçircsa frzcr: nào totlìaÍ ebso' lutantcntclredadc frlsoJr,'rvcrchdcir,t,c cltcgara<tconhc' cin:cntoclctud,t.(ìrnr cfcito,sci:llt,rrarttì,rstltlo dc<1uent,r Jxxlcmos srlrcr c apcnrs [x)rquc (,u nuncl divisámos umr tir quc n()sconduzissea td conltccimentrr,()u [x)r- quc crínros no crÍ() ()[x)st().]las sc o nritrxlr nrts dá unrr crplic:rçio pcrfcitr do uso dl inruiçio intclcctuel prrr nàoclirmos n(, cÍrr) contrârioà rcrdrdc, c d<lnrcio dc cnc,,ntrrr dcduçr'rs plra clreger ao cottltc<imcnto dc rurl,r, prrccc-nrcquc nrdr mais sc crigc prn clc scr conrplcto,ii quc ncnlruntrcii'rtci.tsc gxlc rdquirir a n:ro scr pch intuigâo intclccturl ()u pch dccluçio, c()nì() anrcs f ic,,rr ditrr. Ncnt clc sc Ítxlc cstcndcr atc:ensinrr conì()sc dcrcrtt íazcrcstasoPcr:rç('És,Íx)Íquc sàoas nraissirrrplcsc printcirasdc t<xlas,dc rrl mancira que,sc (, Ít()ssocntcnclintcnt()as nã()pudcsseuslr trnlcst nàoconrprccndcrirncnltuntrlosprcccitosdo priprio ntd- 1ralo,Jxrrrrraisficcis clucfosscnt.Quentoàsoutrts ttJrc. rrçips intclccturis,quc a Dialccricrsccsfirrçayrr rtricntar c()tìra ajudr dcsrrsprinrcirrs,sio rqui inútcis,()u antcsr dcrcnr corìrer-sccntrc ()sobstáculos,ji quc nio lri nadr quc sc F)ssaiuntarà pur:rluz da nzào, scnrI obscurcccr dc unra ou dc outra mencirr. Umr vcz quc. utilidedcdestcmúrdo é tio grendc quc o cultivo das lctras 1Ìrrece,scm ele, dcstinedoa scr nuis prciudiciel do quc úril, facilmcntc mc convcnço dc quc os cspÍritossupcri<.rrcs,mcsmosó sob 1 condutl de naturez:, já entcs o divisrram de dg;ume mencirr. (nm cfciro,I mcntehumenrtem não sci quêdc divino, cm quc as primcins scmentc dos Jrnsrmcntos úteis firram hngrdas de tal mrrdo quc, muitrs vc:26, rinde cluc dcso.rradrsc abafadesp>r cstudos fcitos indirccra- mente,prrxluzcm um fruto 6pontânc(r. É o <1uccrgrri- mentlmos, nrs ciôncirs meis fáccis, r rrirméticl c a Gcomctria: dc facto,r'emosbastrntcbcm quc os mtigos (icrinrcrms urilizerem ume cspdciedc aúlisc quc elten- diarrr à soluçãr>dc trxftrs os problemrs, ainde quc Íúo r tcnham transrrritidoà lxrsteridrdc. E agora ílorcscc um gdncroclcAritnritica,quc sechamarlgcbra,quc pcr- mitc frzcr prnr r)s núntcros o quc os .'ntitlos frzirm prm as figurrs. l'lstasdurs coisesnio prssamde frutos csgrntâncosdos princípios naturris do n()ss()m&odo, c não mc admir<lquc tcnhesido ncstrsencs,cujosobicc- tos slo muito simplcs,quc clcs atd aqui cÍccctlm com mais frcilidedc do quc nrs ()urÍ:ls,on<lcmeiorcsobstâ- culos gcralmcntc ()s c()srurrulnrabafer, mas onde tam- bém, no cntlnro, sc sc cultiveÍcm com sum()cuidedo, sc frrio infalivclmcntc chcger à pcrfcire meturidedc. lìri o quc mc pÍopus principrlnrcntcfazcrncsteTra- rado. frlle daria nruira inrJxrrtânciae 6ras ÍcgÍas, sc sri scrvisscmpara rcsolvcr os r'âos problcmrs com quc costumamcntÍcter-sc os elcuhd()rcs ()u ()s gcómctms nos scuspassrrcmpm:iulgaria, ncsrccuro, não rer drdo outm provl dc suJrrioridadc quc I dc mc cnrpr dc bagatclas,trlvcz conr nuis subrilczado quc ()s outros. Ë aindequc cstciadccidido r frl:rr rqui muito dc figrras c de númcros, lx)rquc não sc g>dcm pdir a ncnhume das ()utms disciplinas ercmplos tã<>cvidcntcs c tio cert()s,qucnr,no entânto,pÍ6rar etcnçãoà minha idcie, 2t
  • 14. apcrccbcÍ-se-áfrcilmcntc dc gue 6t()u r pcnsar nede mcn(rsdo quc nas .lrtcnráricrsvulgarcsc quc cxpoúo umtr()utm disciplinadc quc classão mris roulagcnrd<r quc ÍÌlÍ16. Ibra disciplinadcvc efcctivamcntcc()nteÍ()s Primciros rudimcntos {a rrzj' humanl c cstcnder-sc lnn hzet brrrtarvcrdadcse rcslrcitgdc quelqucrlttsunto; c, prÊl faler livrcrncnre!d prcfcrÍvcl a trxÌr o ()utÍo conhccimcnf(,trtrnsnritidolrumanamcnle,visto quc d a filntc dC trxl,rs r)s (rutÍ()S:c cstt e minlrr pCrSurSiíJ. Sc falci dc roupagcntnào sirlnificequc cu qucirr cobrir c cnrolvcr cstccnsinoparaeÍast:rro tulgo, 1nt6 o qucÍo vcstirc rdornarprrr nrclhorscadaptaraocspíritohumrno. Qurndo prinrciranrcntcnìc rplicluci às disciplinas metcmáticas,li logo intcgralnrcnrcr nreior prnc das coisasquc habirualnrcntc()sscuspr()nìot()r6ensinrmc culrirci dc prcfcrt'nciar Âritnrcticac a (ìconrctrir, Jxrr- quc cr:rm - <lizir-sc- as meis sinrJxls c como gue uma scnda para rs Í6t1ntcs. Ilas, tant<)numr c()mo n()utm,nào tivc tr s()nc dc mc rircm às mãos Âutorcs anÍn:zcsclcnrcsatisfrzcrplcnrrncnrc;lir nclcs,ccnamente, ntuitascorstrsaccrcados núntcros,cujo cilcukr rrtcfazie coÍÌstatrr a vcrdrclc; <;uentoàs figuras, hevir muitas coisas quc dc rlgunre mencirr clcs nrc metirrrr 5rclos rillrrn dcntr,r c quc crtrnl () rcsultadodc conscqui'ncias rigorosas;nust Íx,Í(luc c c;uccnr assrnre conto lá se chcgara nio n1s parccir {uc . pttcnt€sscnì bastrntc à rttcntc; Jxrr isso, nào ficava surprccnclid,,eo ver I maior partc d,r lrontcns,nlcsmoos bcnr drxadosc cru- clitos,aíÌ,rar cstrsanesprrr logo asaband,rntÍcnìc()nìo rnfantisc inútcisou, pclr conrrário,dctcr-scà cntrrdr, dissurdid,,sdc asaprcndcrJxla itlcir dc t;trccmnt cxtre- nìlnlcntc difíccisc inrrincadrs.(ìrnt cfcit,r, nrde lrá dc nnis inútil do quc lidrr dc tel nrrxl,, conr simplcs núntcrrx c figuras inrrginárias(luc e n()ssrvontadc plÍccc satisfrzcr-scc()m o conlrccinrcnrodc scnrclhan- rcs banrlidadcs;c n6tas clcm<,nstraçirssupcrficiais,cm que () âçls() faz meis dcscobcrtas do quc I lnc c quc sc dirigcm mais aos olhr>sc à imagine$o do quc 1<l cntendimcnto, nrda de mais fútil do quc a clas sc aplicarâo 1x)ntodc pcrdcrmos,dc elgum modo, o hábito dc urilizer r própria ruÀo. ro mcsmo tcm[x), mdr d meis complicrdo do quc - c()m scmclh2ntcmancirr dc fazcrdcmonstraçitcs- supcr:rrn(rTâsdificuldadcs6con- didesnumr desordcmdc númcrrn. Scguidamcntc,intcrroguci-mc sobrc t nzl<> quc ()utr(rçl lcvou .o çiildorcs da FikxoÍir 1 não qucrcrcm admirir n() cstudo dr srbcdoria ningudm quc fossc ignoranrccnr ìÍatcnráticr,como scdc t<dascstadisciplina lhcs prcccssc r meis fácil c neccssáÍiaÍ)aracnsinâÍ c pÍc- prmÍ os cspÍritosprm ()utnrsciênciasmais imponantc. Suspitci cntão que tivcsscm conlrccido umâ cs[Éie de lUatcmáticanruito difcrcntc dr lÍarcmátice vulgar de n()ssaé1xxr, scm quc lxrr isso lrnsessc que dcla tivcs- scm tido um conhecimcntoJrrfcito, pois rs suâsloucrs dcgrirs c srcrifícios lxlr irrelcvrntcs invcnç<)csm()strun claramcntc com() cmm incultos. Ncm me dcmovem dt minha opiniio elgunus das suas máquims cclcbra- das pckrs llistoriadorcs, Jxris, rpcsr ulvcz d. sur ertrcnu simplicidadc,facilmcntc conseguiremcm cclc- bridadc scr clcvrdos à catcgorir dc pr<xlígiospla muki- dão ignorantcc cmbrsbrcade.Grntudo,cstou pcrsuadido dc quc as primcins scnìcntc dc vcrdadcs,dcposirades pcla neturczan()scspÍritrx humantr c Íxrr nós abrfrdr, dcvido à lcitura ou à audiçãogurxidirnasde tantoscrro6, rinhamnl forganaquclarudc c simplcsanriguidadcquc os homcns, mcdiantc e mcsma luz intclcctud com que viam hrvcr que prcfcrir a tinudc ro pÍ:r:zcre o honcsto ao útil, cmbore ignorrscnì Íx)rquc cra assim, também chcgrram e conhcccr as idcirs rcrdrdciras dr Filosofie c da lÍrtcmática,sem tcrcm ainde Sxdido alcançarpr- feitamcnrccstasm6Ínes ciôncias.Na vcrdrdc, lrtrGce-mc que algunsvcstígiosdcstr vcrdedeiraltlarcmáticasurgcm ,7
  • 15. einda .cnr Pappusc Diofanto, os quais,senrseremdos prinrcirostcmp()s,'tveranì n() entant()rrruitOsséculos antesda n()ssacra.I'l nio nrecustaacrcditarquc,ulterior- rììcntc,rls próprit)s aut()resa fizeramdcsaparcccrpor urnacspcícicde astúciapcrniciosa.Contcfeito,assinrcomo sc rcconhcceu(lucnruitosarrcsirlstinharrrprrrcedidorcla- rivarr:crrtcàs strrs irrvcnçr'les,rccearinìclcs quc talvez, dcvicl,rà sur {rrnclc facilidadce sinrplicidade,se desva- Iorizesscpcla suedivulgaçãt>,c prcferiram,parase faze- renr edmirer,rprcscÍrrxr-n()scnì scu lugar algunìasver- dadesestcreisdcnrrxrstradasc()r'rìurn subtil rigor lógic<r como efeitosch sua erte, enì r'ez dc nos cnsinarema prdrprirxrtc, quc clirrrinrriatotalmcntea nossaadnri- reçà<1.ll<>uvc,cníinr,ilgtrns honrensmuito engenhosos quc sc esforça.rlnrn() n()ssosciculop()r-rcssuscitara rììcsrììearte,p<lisx quc sc dcsiqnac()nì() bárbaronomc dc .lqebrt nìo parcceser outri coisa,c()ntant()que apcnesscir dc tal nrodolibcrtados múltiplosnúnrcrose incxplicár'cisfi.r;urasque a complicrm,clucnão nraislhe falte aquclc qriu dc pcrspicácilc facilidaclecxtremas quc, p()r suposiçàon()ssx,devenrcxistir na verdadeira latcuráticr.'isto quc cstcspcnsxmenrosnìe levaram dos cstucìosprrticulercsda rritrréticae da Geometria p.lr'r urììe invcsrisaçìoaprofundadae .qeralda ìÍate- rrrática,intcrrtl.quei-tÌìc,antes de nrais, acercado que todos cntcndcrrrcxactrrÌìcntcp()r cssapalavra,e porquc d quc rìàosrìoxpcrìxsesciclncias,dc rluc já sc falou,que sedizcrttprrtc clasìlrtcmáticas,nì:ìsrindaa .rstronomia,a lúrsicr, r. ()ptica, :r lccinicr c nruitasourras.Nào brstr rcluicousiderara oriqcurda palavra;uma vez que () tcrt'tìolatcrrráticatcnì rrpcrì.tso scntidodc disciplina, as ciôrtcirsrcinn citadasnào tôrrrnìen()sdireitodo que e (ìc,''u:ctriaà dcsrtnrçrìodc l:rtcrrráricas.Conrovcmos, nào há qursc ningucur,dcsdcquc rcnhaapenaspisado ,' liurirr drs cscoles,Qucnào distin.qafacilmente,erìtre t, !uc sc lhc xprcscntr.aquiloqueperrenceà ìlatemáticlr e o que pertenccàs outrasdisciplinas.Reflectindornais atentamente,pareceu-mePor 6m óbvio relacionarcom a }Íatemáticatudo aquilo enì que apenasse examina a clrdcmc rnedida,scm tcr em contase é em números, 6guras, astros, sons, ou cm qualqucr outro obiecto que semelhantemedidase deve procurar; e, por con- seguintc,deve lnver uma ciência geral que expliquc tudo o que se podc investigaracercada ordem e da medida,semasaplicara uma mxtériacspccial:estaciên- cia designa-se,não pelo vocábulo suposto, mes pelo r'ocábulojá antigo e aceitcpelo uso de lÍatcmáticauni- vcrsal, porque esta contim tudr-ro que contribui para que as outras ciênciasse chamem partes da ÌVatcmá- tica. Quanto a illatemáticauniversalsobrepujaem uti- lidadee facilidadeasoutrasciênciasque lhe estãosubor- dinadas,r'ê-seperfcitamenteno facto de abarcaros mes- mos objectosque estasúltimas e, além disso, muitos outros; no facto aindade quc as suasdificuldades,se é que contém algumas,existem tambinr nestasúltimas ciências,conì outrasaindaprovenicntesdos seusobiec- ros particularesc que ela não tem. E agora,visto que todos sabemo scu nonìe e aquilo de que trata,embora não lhe prestem atenção,como explicar que a maior parte invcstigue laboriosamcnteas outras disciplinas, que dela dependem,e que ninguém se preocupe por aprendercsta?Âdmirar-mc-iacertamcntesenãosoubcsse quetodosaconsideranrrnuitofácile senãotivcssenotado, há muito, que o espírit<,rhumanodcixa semprede lado () que iulga podcr. falzerfacilmentee.se precipitalogo para o que é novidadee mais clevado. Eu, porim, conscienteda nrinha fraqueza,decidi obsen'ar pertinazmentena buscado conhecimentodas coisasuma ordem tal que, principiandosemprepclos objectosmaissimplese maisfáceis,nuncapassca outros senìme parccerquc os primeiros nada mais me deixam paradesejar.Foi por isso que cultivei até agora,tanto
  • 16. gulnt(, pudc, cssa .Íarcmáriceunivcrsal, de mencira quc julgo SxxlcrtÍ:lttr drqui grr dirntc asciêncirsmeis clcvedas,scm r clas prcmarurâmcntemc aplicer. IÍas, antcsde ir cm frcntc, rudo o quc achei dc mais dign<r dc n()ta n()s nreus cstudos antcriorc, csfirrger-mc.ci [x)r c()ngÍcgá-lonunr trxÌr c o Jx)rcm ordcm, qucr [Ìrra () rctotn:lr um dir com<danrcntcnestcopúsculo,sc iss() frrr ncccssáriocm virtudc da dirninuigâo da mcmória c()m o aumcnt()da idadc,qucr ÍÌrm diviar a mcmórir c mc gxlcr aplicar a(, 1cslrrconr maior libcrchdc dc cspírito. RI:GRÂ ' Todo o método concistc na ordem c na diepo- cigão doe obiectos para oe quaie é necccúrio dirigir e pcnetragão da mcnte, a 6m dc dcco- brirmog alguma verdadc. E obecryá-lo-cmoo6el- mcnte, sc rcduzirmoe gradualmcnte .s pÍopo- eigõce complicadar e obscures . propoeiçõce maie eimplcs c rc, em ocguid., e panir da intui- $o das meie eimples dc todac, tcnterrnor clever- -nor pcloi mcrmoe dcgraur ao conhccimcnro de todas ar outrrr. Ê nist,r rpcnasquc sc c()ntdnì() Íesum(,dc trxla t lturtrenaindústrir, c cste rc1;ratlcvc scr scguicla[x)r qucnr ansciapclo conlrccinrcntodas coisrs nào nrcnos do quc o fro dc Tcscu per:l qucnr dcsciasscpcnctrer no labirinro. .t6, ltá ntuitos<;ucnão rcílcctcnrn() gue cla prcscrcvc,()u r ignoranr r()ttlnìcnrcrou pÍGunrcm dch não tcr ncccssicladc,c rrruitasì'crzcscxaminamqucs- rocsdificilinrasdc unr nrrxlr tàodcsor<lcnackrquc pareccm prrrcdcr c(rm(, sc tcntesscnrchegar,conì um só selto, n
  • 17. da partcrttaishrisaaofasti.r;iodc um cclifício,dcscurand<' asóscedesdcstinadasx csteuso,()u não notand()atéquc cxistcmunrascscadas.rssitttfazcnttodos os astrólt>gos pccxrìÌcvidcntcntcntccontra csta rcgra. ì[as, porquc ruruitasvczcs a ordcttr quc aqui sc csi.r;ci dc tll nr<xloobscurrc conrplicadaquc n:ìocstáao alcaqcede todos rcconltcccrqual scia ch, dificilmcntc t()marão prccauçircssuficientespara não sc perclcrem'a nã() scr que cll>scrvcntcuidadosantcntc() quc scrá expost()nÍt ProPosrçr()scqulntc. REGRA VI Para dietinguir as coisas mais simplee dae maig complex$ e pÍosseguir ordenadamente na inves- tigação, é necessário, em cada série de coises em que directamente deduzimos algumes veÍ- dades umas das outras, notar o que é maig simples e como todo o resto dele cetá mais, ou menos, ou igualmente afastado. Se bcm que csta proposiçã<-rnão parcça ensinar nada clc totalmentenovo, contém, no entanto, o prin- cipal segrcdoda ârte e nenhumahá mais útil em todo este Tratado. Ensina-nos, com efcito, que todas as coisas se podem dispor em certâs séries,não cviden- tenÌenteenquantosereferema algum génerode scr, tais como as dividiram os Filósofosnas suascategorias,mas enquantouÍrÌasse podem conhecera partir das outras, de tal modo que,semprcqueseaprescnteumadificuldade, possemosimcdiatamcnteadvcrtir se será útil examinar algumasoutras, quais, c por quc ordem. .t2
  • 18. isoladamcnte,mas as conìParamosentrc st Para as conhccerumas a Partit das outras- sc podcm dizcr ou absolutasou rclativas. nrais sinrplcse o mais fácil, cm função do uso quc dclc farcnx)sna rcsoluçãodas questõcs. Quanto ao rclativo, é o que ParticiPadcstanresma naturcza()u, ao menos,de alg'unrd<lsscuselcmentos; por isso,podc rcfcrir-scao absoluto,e delc se deduzir nrcdiantcuma certa série; mas,além diss<-r,enccrrano scu conceitooutras coisas,quc chamo relaçt-rs;assim i tudo o que se diz depcndentc,cfcito, conìPosto'Par- ticular, múltiplo, desigual,dissemelhante,obliqut)' etc. Dstas coisas rclativas afastam-setento mais das absolutasquantomaisrelaçricsdestetipo contôm,subor- dinadasudrasàs outras; e e Prescnteregra advcrtc-nt>s quc é prccisodistinguirtodrs estasrclaçõcs,e atcntarna sur c,inexãomútua c na sue ordcm natural,de modo al13rrna,sob um ponto de vista, mais absolutasdo quc outras,masque, considcradas-de outra mancira,são mais relativas.risim, o universalé mais absolutoque o particular,Porquetem uÍne naturezamaissimples'ma:; pode dizcr-sémais rclativo do que este ütimo' Porque dependc dos indivlduos para existir, etc. Do mcsmo modo, certascoisassão por vezesrealmentemais abso- lutas que outres sem, no entanto, sereÍnainda as mais absolutasde todas; por exemplo,se tornrmos em con- sideraçãoos indivÍduos,a espécieé algo dc absoluto; sc nos referirmos ao género, cla é algo de rclativo; entrc os objectos mensuráveis,a extensãoé qualquer coisa de absoluto, mas,entÍe as cspéciesde extensão,é o comprimento que é absoluto,etc. Da mesmamaneira, por 6m, para melhor se comproendcrque consideramos aqui sériesde coisasa conhccerc não â naturezede cada uma delas,foi de propósito que contámosâ causae r.rigual entre as coisasabsolutas,cmbora as surs nâru- rezassejamverdadeiramentcrelativas.Com efeitor para os Filósofos, a causae o efeito são coisascorrclativas; aqui, porém, se invcstigarmos o que é um efeito, importa antes conhecer a causa, e não inversamente. Âs coisasiguaistambémsccorrcspondcmumasàsoutras, mes só reconhecemosas desiguais comparando-asàs iguais, e não inversamente,etc. Ë nccessárionotar, em scgundo lugar, que são poucasas naturezaspuras e simplcs,que se podcm ver p<lr intuição imediatamentee por si nÌesnìâs,indepen- dcntcmentede quaisqueroutras, mas nas próprias expc- riênciasou graçasa uma certa luz que nos é inata; dizcnrosque importa considerá-lasdiligcntemente,por- que são as mesmasque, em cada série, chamamosas mais simples.Quanto a todas es outras,só podem ser perccbidasdeduzindo-asdas primciras,quer por uma infcrência imediata e próximar Tucr apenasmediante duas, três ou mais conclusõesdiferentes,cuio número tambémdeve ser notado, a fim dc sabcrmosse mais ou mcnos graus as afastamda proposiçãogue é a primeira c a maissimples.Tal é, em todo o lado, o cncadeamento das consequênciasquc origina estâssériesdc obiectos de invcstigação,aosquaissedcvc rcduzir todr a questão,
  • 19. pare que examinarse possacom unì mitodo seguro. Ìrías,como não é fácil a totlas rcccnseâr,e, além disso, como é nrais importante discerni-laspor uma ccrta pcnctraçãodo espÍritodo que retê-lasna memória,há que procurar um mcio de dar aos espÍritosuma fcrr- nração que lhcs permita reconhecê-lasimediatamcntc, semprequc for necessário.Paratal, certamente,nada é nraisconveniente,segundoa minha cxpcriência,do que habituar-nosa reíìcctir com certe perspicáciasobre cada uma das mÍnimascoisasque já vimos antcriormente. Note-se,finalmente,em tercciro lugar, que não se dcvcm começeros estudospela investigaçãodas coisas difíceis, mas que importa, antes de nos aprontarmos para algumas qucstõcs determinadas,rccolhcr previa- mentc, sem fazer nenhunraescolha,as verdadcsque se apresentcnìespontaneamntc,r'er dcpois, gradualmente, se outrasdclasse p<ldemdeduzir,e dcstasoutrâsainda, c assimpor diante.Feito isto, é prccis<.rreflcctiratenta- nìcntc nas verdadcscncontradasc examinarcuidadosa- rÌìcntc p()rqueé quc pudcmos acltar umas nraiscedo e mais facilmcntedo quc outrasc quaissãoessas.Âssint sabcrcmosjulgar, ao abordar uma determinadaquestão, e quc outras investigaçõcsscrá útil cntregar-nosprcvia- nìcntc. Por cxemplo, se nre viesseao pensâmentoquc () númcro 6 c o dobro de três, procurariaem seguidao dobro do número 6, qucr dizer rz; procurariaigual- mcntc, sc bcnr nìc parece,o dobro destc último, ou scja, 2,4,e tanrbénro dobro desteúltimo, a saber,48, etc. Daqui dcduziria facilmentequc há a mesnìarclaçãr.r entre , c 6 que entrc 6 c rz, igualnìenteentrc 12 e 24, ctc., e que, por conscquência,os núnreros1,6, rz, 24, 48, etc., são continuanlenteproporcionais.Do mcsmo nrodo,aindaquc tudo isto scjatão claroquequasepercce infantil,unrarcflcxãoatcntafaz-nrecomprecnderamaneira conì() se complicanrtodas as questricsrelativasàs pro- porçõcs ou rclaçõesentre as coisasque sc podem pro- por, c a ordem que a sua invcstigaÉo exige: só isso abrangeo conjunto de toda a ciênciadas matcmáticas Puras. mesmaproporção.Não semudae naturezada dificuldadc quando se procÌrÍiln t ou 4 grandczasou mesmo mais, porque - como é evidente- têm de cncontrar-seuma a uma separadamcntce sem relaçãoàs outras. Observo, em..scguida,que, dadas as grandezest e 6, apcsarda facilidadeque há em achar uma terceirequc elteia em propor$o contÍnua, ou seja, rz, não é, no entanto, tão fácil, dadasduasgrandezasextremas,a sabery e 12, poder achar a grandezamédia, isto é, 6, porque, para qucm disto examina intuitivamentc a, razão,-é claro qrre existe um ou outÍo género de dificuldade,que difcrc muito do precedcnte.Com cfeito, para achar úm meio proporcional,é precisoprestâraten$o, eo mcsmo a duas, mas a três diferentesao mesmo tempo, perÍr achar uma quarta. É permitido ir mais longc-ainàa e ver se,dadosepenas) e 48,teria sido mais difícil achar uma das três médiasproporcionais,ou scia,6, tz e 24. De facto, pereceser assim,à primeira vista; mas logo 36
  • 20. nos (rc()rreque estadificuldadesepode dividir e simpli- 6car s€, obviamcnte, se procurar primeiro ume só nrédiaproporcionalcntrc t e 48, ou seja, 12, c sc se procurar scguidanrenteuma outre média proporcional entrc t e 12,ou seia6, e uma outra entre rz e 48, ist<> é 24. Destc modo sc reduz ela ao scgundogéncro de dificuldadejá cxposto. Tudo isto nrepermiteobservar,alémdisso,c()mose podc buscaro conhecimentoda mesmacoisapor vias difcrentes,cm que uma é nruito mais difícil c obscura que a outra. Por exemplo: achar estesquatro tcrnìos continuamcnteproporcionais: 3, 6, 12, 24. Se supu- scrnìosdois se.rguidos,ou scja,3 c 6, ou 6 e tz, ou 12 c 24, será facilimo achar os outros c direnrosentã() quc a proporçãoa encontraré dircctamentecxaminada. Sc supuscrmosdois alternados,isto é, t e 12,ou 6 e 24, para acharnìosos ()utros,então diremos que a dificul- dadc é exanúnadaindircctamentcda primcira nrancira. Sc igualnrcntesupuserm()sos dois externos,, c 24,p^Ít atravis dclcs sc procurarcnros intermcdiári<;s6 e tz, cntão cla será examinadaindirectamenteda scgunda maneira.Podcriaaindacontinuar assime extrair destc único cxcnrplo muitas outras deduçõcs:estasbastarão paraquc <>lcitor compreendao quc cu prctendoao clizcr quc uma propr>siçãosedcduzdirectaou indircctanlcnte, c pcnsequc, a partir do que há de maisfácil e do que se conhccc cgr primciro lu13ar,nruitas dcscobcrtaspodcm scr fcitas rnesnìon()utrasdisciplinaspor aquclcsque rcílcctcnr com atcnçã<lc sc cntrcganÌ às investigaçrjcs conr argúcia. REGRA VII Para completar a ciência, é precieo analisar, uma poÍ uma, todas as coisae que Betelacionam com o nosso obiectivo, por um movimento contlnuo e iamais interrompido do p€nsamento, abarcando-asnuma enumeração suficiente e me- tódica. . A observa$o do quc aqui se propõe é neccssária para admitir como certas as verdadesque, dissemo-lo mais acima, se deduzem dos princlpios primeiros c conhecidosem si mesmos,mas não de um modo ime- diato. Com efcito, isto faz-sepor vezespoÍ um encadea- mento tão longo de conscquênciasque, após termos alcançadocstasverdades,não é fácil lcmbrar-nosde todo o caminho que até aí n'oslevou; por isso dizemosquc é preciso remediar e fraqueza da memória por uma cspécie de movimento continuo do pcnsamento.Por exemplo, sc divcrsas operaçõesmc lcvaram primeira- mente ao conhecimentoda rela$o entre as grandezas A e B, depois entre B e C, em seguidaentre C e D e, JE
  • 21. por 6nì, entre D e E, nem por isso vejo qual é a quc cxistcentrc A e E, e não possofazerumr ideiaprccisa a pa,rtirdas relaçc-rcsjá conhecidas,a não ser que me recordcdc todas. Por isso, pcrcorrê-las-civáriasvezes por unìacsyrccicde nrovinrentocontlnuoda imaginação qucr'ôintuitivanrcntecadaobjcctoenrpsrticularenquant() vai passanckraosoutr()s,ati tcr aprendid<la transitarda primeirarclaçãoparaa últinraconrtal rapidczque, sem dcixar quascncnhum papcl à menrória,rìÌe pxrcçavcr simultaneamcntco todo por intuição.Assinr,ao ajudar a mcnrória,corrige-sctanrbéma lcntidão do csplrito e aumcnta-scde certo modo a sua capacidadc. Âcrcscentamos,porénÌ,quecstcnrovinrentonãodeve interronrpcr-scenl nenhunraparte; frcqucntcrmente,os quc tcntarÌì fazer algunra dedução dernasiadorápida, partin<l,rdc princÍpiosrcnrotos,não pcrc()rrcnÌtod<lo cncadcanrentodasconclusricsintermédiascom o cuidad<r suficientcparanão onritircm nruitasinconsidera<larnentc. Todavia, é cert<.rque nrcsmoa mcnor das onrissricsfaz imcdiatamcntequcbrara cadciae arruinaco:npletarr,cnte l ccrtcz^ da conclusão. rlinr disso,dizcmosaquiquea cnunÌeraçãoé exigida para c()nrplctara ciência;pois, se ()s outr()s prcccitos nos scrvcrn,ccrtamentc,para rcsolvcr a maioria das qucstfos,st'ra cnunrcraçãonos podc ajudara aplicaro n()ssocspírito a qualquer unra delas, a, ftzer sempre sobrc ela unr juizr>seguroe certo c, por consequência, a não dcixar escaparabsolutamentenada, pareccndo assinrque dc todassallcm<lsalgunracoisa. Ilstacnumeração,ou indução,é, pois,a investigação dc tutlo () que se rclacionacom uma questã()proposta, investigaçãotão diligentee tão cuidadaquedcla tirem<>s a conclusãoccrta c evidente de que nada omitimos por descuido;de tal forma que, depois dc a termos usado, se o objecto da nossa investigaçãocontinuar oculto, fiquemospelo nrenosmais sábiospor nos aper- cebermosdc quc não poderÍamosencontrálo por nenhu- ma dasviasde nós conhecidas;e que se,por acâso,como nruitasvezcsacontece,pudemospcrcorrer todas as vias pelasquaisos homensal chegam,nos seiapermitido afir- nrar audaci<>samcnteque o scu conhecimentoestá fora de todo o alcancedo esplrito humano. Note-se,alim dissoriluc, por enumcra$o suficicnte ou indu$o, entendemosapenasaquela que nos dá a verdadena suaconclusãocom maiscertezado que todo () outro género de prova, salvo a simples intuição. Senrprequc não é possÍvel reduzir um conhecimento à intuição, depoisde reieitadostodos os encadeamentos dos silogismos,reste-nosunicamentcesta vie, na qual devemostotalmenteacreditar.Pois, todasas coisasquc deduzimosimediatanrenteunìasdas outras,se a ilação tivcr sido evidente,foram já reduzidasâ uma verdadeira intuição.ìÍas, setirarmosumaúnicaconsequênciade um grandcnúnrerodc coisasseparadas,nruitasvezesa capa- cidadc do nosso entendimentonão é suficientep^r^ conscguir abrangê-lasa todas nume única intuição; nesteceso,deve contentar-secom e certezadessaopcra- ção. Do mesmomodo, não podcmos por meio de uma única intuiçãoda vista distinguir todos os clos de uma cadeiademasiadocomprida; no entanto, se virmos a ligaçã<ldc cadaelo com os seguintes,isso bastarápara dizermostambémque percebemoscomo é quc o últirno seli.gaao primeiro. pcrfeitamenteevidentes,se,apesarde tudo, cometcrmos a menor omissão,dá-sea ruptura da cadeiac toda a cer- tezl.de conclusãose dcsvanèce.Às vezes,tambémesta- mos certos de tudo abarcarcom uma enumcração,mas t / 1l
  • 22. scm distinguirmosas coisasuÍnâ por uma, de forma quc só conhcccmoso todo confusamcnte. Álim disso, essacnuneraçãodeve, às vezes,ser conrplcta,()utras,distinta e, de temposa tempos,nem unìa colsa ncm outrai por iss<lse disse apenasque dcvc scr suficicnte.Com efeito, se quisessepr()varpor cnumeraçãoquant()sgéneroshá de serescorporaisou conìo são aprccndidospelossentidos,não afirnrariaque há uma dcternrinadaquantidadee não nrais, a nã<r scr quc, antes,soubcsscscguranìenteque os comprcendi toclosna minhacnumeraçãoe os distinguiem particular uns dos outros. Suponhamos,p()r outro lado, que, pela nrcsnìavia, queria mostrar que e alma racionalnão é corporal; não será dc modo algum necessárioquc a enunrcraçãoscia conrplcta,mas bastarájuntar simulta- neantcntctodosos corposem algunsgrupos,de nrancira a dcmonstrarquea almaracionala ncnhumdelessepode rcfcrir. Suponhamos,por fim, quc cu queria mostrar, por nrcio claenumeração,quc a supcrficiedo círculo é maiorquc todasassulrcrficiesdas()utrasfigurasde igual pcrimctro: tanrbérnnão é necessáriopassarem rcvista t<rdasas figuras, mas basta Íazct csta demonstração para algumascm particuler,a 6m dc daÍ cxtrair, igual- mcntcpor indução,idônticaconclusãoa respcitode todas as ()utras. Âcrcscenteitambim quc a enumeraçãodcve ser mctódica,não sCrporque não há rcnridio mais efiaz c()ntra os dcfeitos iá cnumeradosdo clue aprofundar tudo conr ordem, mas também porquc acontecefre- quentemcnteque, se fosse preciso percorrer separada- mente cada uma das coisasem perticularque se rcla- cionamcom o obiectoproposto,nenhumavida humana bastariaparatal, quer por causado seunúnrcrocxcessivo, quer em virtude das repetiçõesdemasiadofrequentes quc sc aprcsentariamdos mesmos objcctos. ÌtÍas, se dispusermostodâs estascoisasna melhor ordem, redu- zir-se-ãotanto quento possÍvel a detcrminedasclasses, das quais bastará examiner cuidadosamenteou uma única, ou algum pormenor de cada ume em particular, ou então,algumasmais do que outras ou, pelo menos, nada algum^ vez percorreremosem vã<l duas vezes; esta maneira de proceder é tão útil que, muitas vezes, por causade uma ordem bem estabelccida,se levam a cabo,ao fim de pouco tempo - e graçasa um trabalho fácil- numerosastarefasque, à primeira vista, pareciam enormes. Quanto à ordem dc enumera$o das coisas,pode geralmentevariar c dependedo arbítrio de cada um; por isso, para que o pensamentoesteiaem condições de a cstabclecercom maisacuidadc,i prccisorecordaro que se dissc na quinta proposi$o. Há ainda muitas coisas,nas arteshumanasde menor importância,que se descobremfazendoconsistir todo o mit<>dono estabe- lecimentodcstaordem. Âssim, sc se quiser fazer um anaÍyamapcrfeito transpclndoaslctrasde um nome,não é nccessáriopassardo mais fácil para o mais difÍcil, nem distinguirascoisasabsolutasdasrelativas:nem isso tem lugar aqui. Bastará propor-se, pelo exame das transposiçõcsdas letras, uma ordem tal que nunca se percorram duas vezesas mesmase quc o seu número seja,por exemplo,repartidopor determinadasclasses,de tal modo que seveja logo em quaishá maishipótesesde se achar o que se procura. Por este meio, com efeito, muitas vezes o trabalho não será longo, Ínâs âpeÍrâs uma brincadeirade crianças. De resto,estastrês últimas proposiçõesnão devem ser separadas,porque é preciso, geralmentc, rcflectir nelas ao mesmo tempo e porque todas contribuem igualmentcp^r^ ^ perfeiçãodo método.Não teria grande interessedeterminarqud dclassedeveensinaremprimeiro 1t
  • 23. lugar; explicánro-lasaqui em poucaspalavras,Porque quasenraisnadatemost fazerno resto do Tratado, em quc m()strircmoscm pormenor o quc aqui abordámos cnr gcral. REGRÂ VIII Se, na eérie de obiectos a pÌocuÍaÍ, depararmos com alguma coisa que o nosso entendimento não possa intuir suficientemente bem, há que deter-seaÍ, sem examinar o que seguee evitando 'um úabalho supérfluo. Ás três rcgres precedentcsprescrevema ordem e explicam-na;estaagore mostraem que casosé absoluta- nìente necessáriae em que casos é apenasútil. Com efeito,o queconstituium greucompletonasériequeserve parair dascoisasrelativasao absoluto,ou inversamente, deve necessariamenteserexaminadoantesde tudo o que se lhe segue.Se, por outro lado, como frequentemente acontece,muitas coisassc referem ao mesmo grau, é sem dúvida útil passá-lassempreem revistapor ordem. Quanto à ordem, não somos contudo obrigados ^observá-latão estritae rigorosamente;Íegra geral,ainda que não conhccêssemosclaramentetodas as coisas,mas apeÍìas um reduzido número ou urn só, pode, no cntento, passer-scà frente. 44
  • 24. Iìsta regradecorrenccessariamentedas raz<icsdadas para a scgunda.Contudo, não se iulgue quc cla nada contim denovo pareprom()vera erudição,emboraparcça quc apenasnos desviada investigaçãodc ccrtascoisas, nãr>nos cxpondo vcrdade algy1l. Claro quc apenas ensinaos principiantesa não trabalharemem vão, quase pclo mcsmomotivo que a scgundaregra.ÌÍas,aos que conhecercmperfeitamcnteas sete relÌras precedentes, cla mostrapor quc ttzio a si mcsmossepodemcontentar cm qualquerciência,aopontodenadamaistercmadeseiar. Pois, quem quer que tenha observadocuidadosamente as regrasprccedcntespara resolveralguma dificuldade c scja, no cntanto, obrigado por esta última regra a dcter-secm algumapartc, saberáentãocertamentcque, apcsarde t<da a sua aplicação,nuncapoderáencontrar a ciência quc procura, e isso não por culpa do seu espírito,maspeloimpcdimcntoprocedenteda naturezada própria dificuldade,ou pela sua condiçãode homem. Estcconhccimcntonãoé umaciênciamenordo quea que manifcstaa naturezada própria coisa; e quem lcvasse mais longc a sua curiosidadenão pareceriater bom scns(). Tudo isto deveser ilustradopor um ou dois exem- plos. Âssim, suponhamosque alguém procura, entre- gando-seexclusivamenteàs Ìríatemáticas,essalinha que em Dióptrica se chamaanaclástica,ou seja,aquelaem quc ()sraiosparalelossercfractamde tal forma quetodos, depois da refracção,têm um só ponto de intersecção. Facilnrcnteobservará,sem dúvida, segundoâs regras quinta e scxta,que a dcterminaçãodestalinha depende da rclaçãoque os ângul<lsde refracçãomantêmcom os ângulos.deincidência;mas,como não serác p^z 9" p-- curar mrnuctosamenteestarclação,que diz respeitonão à Ìrlatcmáticamas à Física,seráforçado a dctcr-seaqui no limiar. Dc nada lhe servirá querer aprendereste conhccimcntodos Filósofcrsou cxtraí-lo da experiência, pois pecariaconma e regra terceira. Âlém disso, esta proposi$o é ainde composta e relativa; ora, só de coisaspuramentesimplese absolutasé quc se pode ter uma experiênciaccrta; dir-sc-áno seu lugar. Seriatam- bém inútil supor entre os ângulosem questãouma rela- $o que, por suspeita,lhe parecessca mais verdadeira de todas, pois iá não procuraria,e xvclâstica, masepenes uma linha quc scria a conscquêncialógica da sua suposi$o. Se, por outro lado, alguém que não se dedique só às ÌrÍatemáticas,mes que, segundo a primeira regra, deseje procurar a verdade em tudo quanto se lhe depare,cair na mesmadificuldade,descobrirá,alémdisso, que a relaçãoentreos ângulosde incidênciac os ângulos de refrac$o depcndeda sua mudançadcvido à diversi- dadedos meios;que,por seuturno, estamudang depende da mancira como o raio penctra aravés de todo o corpo diáfano, e que o conhecimcntodestapenetra$o supõc o conhecimentoda naturezada ac$o da luz; e quc, por fim, pâra compreendera ac$o da luz, é preciso saber o que é cm geral uma potência natural: é, cm última análise,o que há de mais absolutoem toda csta série.Ponanto, dcpoisde ter feito claramentee em por- menor esteexameatravésda intuição intelectual,voltará a pessarpelos mesmosgraus, seguindo a quinta regre, e se, a partir do segundo grau, não puder descobrir a naturezeda acçãoda luz, enumerará,de acordo com e sétimaregra,todasasoutrespotênciasnaturais,a 6m dc que o conhccimento dc alguma dcstas potências lhe faça compreendercssaac$o, pclo mcnos por anâlogia; falaremos,depois, da andogia. Feito isto, investig"ú de que maneira o raio penetra atravésde todo o co{po diáfano e procederáassim por ordem cm tudo o mais, até chcgarà própria anaclástica.Esta constituiu até hoic cm vão o obiccto de muitas inquiriçõcs; contudo, nada
  • 25. veio que possaimpedir alguémde vir a cr.rnhecê-lade manciraevidentc,pclo uso correctodo nossométodo. ÀÍasdemoso exemplomaisnobredetodos.Sealguém se propusercomo questãoa análisede todasas verdades pare cujo conhecimentoa razão humrna. é suficiente - e parcce-mequc issodeve ser feito ume vez na vida por todos os que sc esfcrrçamseriamentepor alcançar a sabedoria- descobrirácertamentc,e partir das regras cladas,que nadasepodeconhecerantesdo entendimento, visto que dele dependeo conhccimetnode todo o mais, c não o inverso.Depois de, em seguida,ter examinado cm pormenor tudo o que vcm imediatamentea seguir ao conhecimentodo entendimentopuro, enumerará,no rcst(), todos os outros instrumentosde conhecimentcr quc temosalinr do entendimento,e que sãoapenasdois: a imaginaçãoc os sentidos.Empregará,pois,todo o seu cuidadoem distinguir e enr examinarestestrês modos de conhccimcnto,c ao vcr quc, propriamcnte,a vcr- cladcc () erro sripodemexistirno entendimento,embora dcrivcnr frequentementea sua origem dos outros dois modos dc conhecimento,prcstarácuidadosaatençãoa tudcl quanto o possaenÍlanarpara se precaver,e enu- mcrará exactamentctodas as vias abertasaos homens parx a vcrdade,a fim de seguir uma que scja segura: ncm elas,com efeito, são tão numerosasque as nã<> achca trdas facilmentce por unìaenumeraçãosuficiente. E -:, que parccerámaravilhosoe incrívelaosqueo não espcrinrcntaram- logo após ter distinguido,a propó- sito dc cadr objccto em perticular,os conhecimentos quc cnchcmou apcnasornamentama memóriados que sã<>r'erdadeiramentecausapor que um homcm sc deva dizcr mais crudito, o que será einda fácil de Ítzer..., scntiráinteiramentequc nada mais ignora por falta de cspírito ou de arte, e que nada há que outro homem possasaber,sem que ele próprio também o consiga, bastandoaplicar a sue mente como convém. Âinda que muitas vezesse possampropor-lhc muitas coisas,cuia investigaçãolhe seráproibida por estaregra, devido ao facto de, no entanto, ter a percepçãoclara de que elas estãofora do alcancedo espírito humano,nem por isso sejulgarámaisignorante; mâso sabersimplesmentcque aquilo que procura não pode ser sabido por ninguém, satisfaráplcnamentea sua curiosidade,se for sensato. Ora, para não ficarmossemprena incertezaquanto à capacidadeda inteligênciae para que ela não trabalhe em vão e ao acâso, antes de nos preparermospara conheceras coisasem panicular, importa uÍÌvr vez, rra vida ter investigado cuidadosamentede que conheci- mentosa.razãohumanaé ca;parz.Paramelhoro fazer,entre ascoisasigualmcntefáceisde conhecer,é por aquilo que há de mais útil que se deve encetara inquirição. Estc método, na vcrdade,assemelha-seao das anes mecânicasque não precisamda ajudadasoutras,maselas mestnasfornecemo meiode fabricarosseusinstrumcntos. Se,com efeito,alguémquisesseexerceruma destasartes, por.cxcmplo, a dc ferreiro, e estivesseprivado-de todos os instrumentos, seria certamenteforçado, de inÍcio, a servir-sc de uma pedra dura ou de qualquer bloco informe de ferro como bigorna,e pegarnum calhaupara martelo, a dispor de pedaçosde madciraem forma de tenÍrzesc e iuntar, conforme âs necessidades,outros obiectos deste género. Âpós tais prcpararivos,não se csforçarialogo por foriar, perâ uso dos outros, espadas c cÍrpacetesou quaisqueroutros objectosde ferro; mas, antes de mais, fabricaria manelos, uma bigorna, teÍrâzes e tudo o mais que lhe viessea scr útil. Este exemplo ensina-nosgue,no princípio,depoisde tcrmosencontrado apenâsdguns preceitosrudimentaresque mais parecem inatosàsnossasmentesdo que fornecidospelaarte, não é preciso tenter logo, com o seu auxílio, resolver os diferendos dos Filósof<rsou tirar de âpuros os líate- máticos; mes importa delcs nos scrvirmos primeiro 4E
  • 26. para procurar com o maior cuidado tudo o que há de mais ncccssárioao exameda verdade,sobrcrudoquando nãolrouvcr razãoquet frcp,perecermaisdifícil de encon- trar do que algumasdas qucstí5espropostesgeralmente na Gcomctria,ou na Físicac nasoutrasdisciplinas. Por ()utro lado, nada podc havcr aqui de mais útil do quc invcstigaro que é o conhecimentohumanoe até onde se estende. Eis p()rque trataremos ^gor^ este assuntonuma só qucstãoc pcnsamosque é precisoexa- miná-lacomo a primcira dc todas, scgundoas regras já antcriormcntccstabclccidas.É o que deve fazcruma vcz na vid:r qucnr qucr quc amc um Poucoa verdade, pois a invcstigaçãoaprofundadr dcstc ponto contém r>svcrdadcirosinstrumcntosdo sabcrc todo o método. E, nada mc parece mais inadcquado do quc disputar audaznrcntcsobrc os scgredosda naturca, ^ influência dos cius no nosso mundo infcrior, a predição do futuro c coisas scmclhntcs,como muitos fazcm, scm, n() cntanto,jamaistcrcm inquirido se a razãohumana podc fazcr tais dcscobcrtas.E não deve considerar-sc tarcfa árdua ou difícil detcrminar os limites desteespí- rito, quc em nós próprios sentimos, quando, muitas vczcs, não hcsitamoscm formular um juÍzo sobre o quc cxistc fora de nr'rs c que nos é completamente cstranho.E não é um trabalhoinrensoquerer abarcar pck> pcnsamentotodas as coisas contides neste uni- vcrso,.para Ícconhcccrcomo cada uma_cm particular sc sujcitaao cxamcda nossamcnte.Nada há, com efeito, tão múltiplo ou tão dispcrsoquc não se possa,mediante a enunrcração,dc que tratánros,incluir cm limites detcr- nrinad<-rse rcduzir a alguns pontos essenciais.Paradisso fa;zert cxpcriônciana qucstãoproposta,dividimos pri- mciro tudo o quc lhc diz respcito em duas partes: pois, há que relacioná-lorlu€r coÍrnosco que somos capazesde conhecimcntos,quer com as próprias coisas que se podem conhecer.Vamos discutir separadamente estesdois pontos. Na verdadc,advertimosque em nós só o entendi- a fim dc nos precaveffnos;ou então,em que é que elas nos podemser úteis,dc modo a lançarmosmão de todos osrccursos.Assim,estapartescrádiscutidamcdianteuma enumeraçãosuficientc,sujeitaà discussão,como se mos- trará na proposiçãoseguinte. Em scguida,importa vir às própriascoisasc consi- derá-lassó enquantoo cntendimentoas atingc. Ncste sentido,dividimo-lascm naturczasintciramcntesimples c em complexasou compostas.Entre as naturezassim- plcs, só podc haver naturczasespirituais,ou corporais, ou pertcncentcsa ambas ao mcsmo tempo; por fim, entre as naturczascompostas,umassãodc facto captadas como taispclo cntendimento,antesdc ele asdcterminar por um iuízo,cnquantoasoutrassãopor elc compostas. Far-se-áuma exposição mais pormenorizadadC tudo isto na duodécimaproposição,com a demonstraçãodc que só pode havcr crro ncstasúltimas naturezascom- postaspcla inteligência.Eis porque distinguimos,nas naturczascornpostâs,as que sc deduzcm das naturezas mais simplcse são conhecidaspor si mesmas,das quais trataremosem todo o livro seguintc,e as que pressu- põcm outras, cuja experiêncianos mostra a composição na rcalidade, e a cuja explicaçãodcstinamos todo o tcrceiro livro. Em todo cste Tratado, csforçar-nos-emospor pro- curar com tanto cuidado c tornar tão fáceis todas as viasabcrtasaoshomensparao conhecimcntoda verdade, que quem quer que tenhaperfeitamenteaprendidotodo
  • 27. o nossométodo - ainda que sejao mais mcdíocrcdos espíritos- verá que nenhumadcstasvias lhe estámds vedadado que aosoutros e que iá nadaignora por falta deespíritoou de arte.trlas,semprcqueaplicara suamente ^o cclnhecimentode alguma coisa, ou a encontrará complctamente,ou aperceber-se-á,pelo menos, de que eladependedc umaexperiênciaquenãoestáemseupoder, e é p<lrissoque não se queixarádo seuespírito,se bem que seja.forçadoa deter-se;ou, por 6m, demonstraú quc a coisaprocuradaultrapassatotalmentea aprecnsão do espírito humano e, por conseguinte,nlo se julgará por isso como mais ignorante, porque não há menos ciônciancsteconhecimentodo quc cm qualqueroutro. REGRÂ IX É precieo diÍigiÍ toda a acuidade do eepÍrito peÍa as coieas menos importantes e mais fáceis e nelas noe determos tempo euficiente até nog ' habituarmoE e ver a verdade por intuifo de uma maneira dietinta e clara. Dçois de termosexpostoasduasopcraçõcsdo nosso cntendimcnto,a inruiÉo c a dedu$o, que sãoas únicas dc quc nos dcvcmos scrvir par:r aprender as ciências, como dissemos,vamos ^Bor^ cxplicar, ncstepÍoposi$o c na scguinte, como nos podcmos tornar meis aptos ptra, fuer cstasopcrâçõcse cultivar, ao mcsmo tempo, as duas principais faculdadesdo nossocspírito, a saber,a pcrspidcia, vendo distintamcntcpor inrui$o cadacoisa cm pefticuler, e a sagacidadc,dcduzindo-ascom arte umas das outras. Conhecemosceftamentc a maneira como utilizar a innri$o intclcctual,quento maisnãosciapor compara$o com os nossosolhos. Pois,quem quiscr obscrvarmútos obiectos eo mcsmo tempo com um só olhar, não vê 5t52
  • 28. distintamentenenhumdeles;e, do mesmomodo, quem tiver o costunìede prestaratençãoa muitas coisasao mesmo tempo, por um só acto de pcnsamento,fica com espÍritoconfuso.ÀÍasos artesãosque scocupamde obrasminuciosase quesehabituaramadirigir atentàmenre a penetraçãodo seuolhar paracadaponto cm particular, adquircm,com o uso, a capacidadcde distinguirperfci- tamenteas coisasmais ínfimase subtis; assimtambém, os que nunca dissipamo seu pensamentoem vários obicctos ao mesmo tempo, mas o ocupam continua- nìcnte na considera$o do que há dc mais simples e de mais fácil, tornam-se perspicazes. N<l cntanto,é um dcfcito comunì aos mortaiscon- sidcrar nraisbclo o quc i diflcil, c a ntaioriadas pcs- soasjulgamnadasaberquandor'êemacausamuitosimplcs c claradc unra coisa,clas quc cntrctantoadnúramnos I:ilósofosccrtesrazõessublimesc de longe tiradas,ainda quc quascsenìprcelassc apoiemem fundamentosnunca por alguénrsuficicntementcexaminadosem pornÌenor: são, scnr dúvida, insensatas,iá quc gostam mais das trcvas do quc da luz. Ora, importa obscn'ar guc ()s vcrdadciranrcntcsábiostênr igual facilidadecm disccrnir a verdadc,quer a cxtraiamde um assuntosimplcsou dc dc unr assrult()obscuro.Pois,em cadaunr dcstescasos, i por urìì act()scnrclhante,único c distinto,quc cles a captanì,dcpois que aÍ chcgaram:toda a difercnçaestá na via, quc dcvc scr ccrtanìentemais longa, se conduz a uma vcrdadc nraisafastadados principios primeiros c mais absolutos. É preciso,pois, quc todos se habituema abarcar pclo pcnsanìent()tão poucascoisasao Ínesmo temp() c coisastão sinrplcsquc nuncaiulgucnrsaberalgo, que não o vcjanr tanrbinr por intuição tão distintamcntc c()rììoaquikr quc de tudo maisdistintamcnteconhecem. rlguns, claro, são p<lr naturczamuito nraisaptos para isto do quc outros, nìaso nritodo e o exercíciclpoâem tornar também os csplritos müto mais aptos. A única recomenda$o que, scgundo mc parccc, dentre todas aqú importa, fazer é que cada qual se persuada6rme- mentc dc quc não é das coisasgrandese obscuras,mas âpenasdas fáceise mais ao nossoalcance,que é preciso dcduzir as ciências,por maisescondidasque se possam suPor. Âssim, por cxemplo, se cu qüscsse examinar se alg,rmapotêncianaruralpodc, no mcsmoinstantc,excr- cer-senum l<rcalafastado,aravessan<lotodo o cspaço intcrmédio, Ílão é logo p^r^ ^ força magnéticaou a influênciados astros,não é scquer p^Í^ ^ rapidez da ac$o da luz, que dirigirei a minha mcnte, a fim dc inquirir se,.porvcntu-ra, tais acçõcs são instantâneas, pois issoscriamaisdifÍcil dc provar do quc o objccto da minha pesquisa;masrcflectirei,de prcferência,no movi- nlcnto local dos corpos, porque nada pode havcr cm nrdo isto quc seiamais lrcrccptlvclaosscntidos.E nota- rei,,certamcÍrte,que uma lrcdra não podc passarinstan- taneamentedc um localparaoutÍo, porqueé um corpo; cnquanto quc utwr potênciascmclhantcà que move a Fd.a só sc comunica de uma mancira instantânca,sc pessârno estadonu dcum suicitoaoutro. Assinr,aoimpri- mir um movimcnto na cxtrcmidadcdc tun pau,por mais comprido quc cle seia,facilmenteconceboque a potência que scrve para movcÍ esta parte do pâu movc ncccsse- riamcntcnum só e mcsmo instantetodas as suesoutras pertcs,porque secomunicano estadonu, semexistircm qualquercoÍpo como, por exemplo,urnapcdra, quc scÍ- vtna PaÌaa transPortar. Da mesmamaneira, se cu qúscr sabercomo é que uma só e mcsÍrrecausasimples podc produzir simulta- ncâÍnentecfeitos contrários, não é aos remédios dos médicos,quc cxpulsarncertos humores c Íetêm outÍos, que vou rccorÍer, não é sobrc e Lua, quc aquccepcla
  • 29. sua luz e arrefecepor uma qualidadcoculta, que dirci bagatelas,mas considerareiantcspor intüção a-balança, cm que o mesmo pcso num só e mesmoinstanteclcva um dos pratos e baixa o outro, e coisassemclhantes. REGRA X Para que o esplrito se tornc pcrepicaz, deve cxerciteÍ-re em pÍocuÍírÍ o que iá por outroe foi cncontrado, e em lreÍaortes metodicamentc tdâs eE aÍter ou oflcioe dos homene, ainda os menor imponantee, mae sobretudo or que manifegtam ou eup,õem ordem. Nasci, confesso,com um cspÍrito tal que o maior pÍüzcr dos esrudosconsistiurpera mim, não em ouvir asrazõcsdos outros, rus ern exercitar-mca mim próprio na su:r descobcrta; pois, foi apcnasisso qtrc me atm,iu quandoaindeiovcm perâo esrudodasciências,c sempre que o tlrulo de um livro me prometie uma nova des- cobcrta, antesde continuar a ler, tcntava sabcr,sc pot uma pcrspicáciainata, não podcria porvcnrure cheger a semclhantcrcsultado,e cvitavacuidadosamcntcdcstruir csseprezer inoccntepor uma leitura aprcssada.Fui tan- tas vezesbcm sucedido que finalmente recoúeci quc iá não chcgariaà vcrdade, scguindo o hábito dos outros homens,por invcstigaçõcsfeitas de modo inceno e às 56
  • 30. cegas,com a ajudada sortemaisd<lqucdaarte,masque uma krngaexperiênciame tinha permitido captardetcr- nrinadasÍcgres, quc pare este cfcito nre f<rramde não p()ucautilidade e de que me vali para planczr muitas mais. rssinr, aperfciçrrcicuidadosamcntetodo () mcu método e persuadi-nrcdc quc, desdco princípio, tinha adoptadoa maneirade cstudarmais útil de todas. trles,porquc os csplritosdc todos não têm uÍnÂtão grandcinclinaçàonaturalpara pr()curarminuciosamente ascoisaspclassuasprópriesf<rrças,estaproposiçãocnsi- nâ-nosguc não é frrrçoso(xupxr-n()slogo conr o mais diflcil c árduo, rììasque é prccisocxanrinarantcs t(das asartcstììcnosimportantcse maissimplcs,principalnrcnte aquelascnr que maisrcinaa ordcm; por cxcmplo,asdos artesãosquc tccenÌtclasc tapcçarias,as<lasmulhercsque lnrdanr à agulha ()u cntrcnrciamos fios dc um tccido de cambiantcsinfinitamcntevariados;dtt mesmomodo, todos os jogos numéricosc tudo o quc. se rclaciona com e Âritmética,e excrclciossemclhantcs.E maravilhoso constatarcom() todas estascoisascultivam o csplrito, c()ntant()quc não vamosbuscara dcscobertaaosoutros, rÌìasa tirenrosdenrispr<iprios.Comefeito,dadoquenelas nadaháquc pernìencçacscondidoc porquecorrespondcm intciramentcàcapacidadedo conhccimentohumano,epre- sentam-n()smuito distintamentcinúmcrasordens todas clifcrentcscntre si, subnrctidas,porém, t Íegrase cuia cxacta obsen'ânciaconstitui quase toda a sagacidade humana. E, por isso,advertinrosa que se aplicassema cstas invcstigaçircscom nrétodo, ntétodo que, nestasmâté- rias dc menor importância,não difere habitualmentc da obsen'ânciaconstantcda ordenrque existena própria coisa ,ru quc se inventa com subtileza.Suponhamos, por cxenÌpkr,que qucrenì()slcr unracscritade caracteres desconhecidos:ncnhuma ordenr aí aparecccertamente, nìas,apesardisso, inuginamos uma, quer para cxâminar todas as hipótesesque se podem fazer rclartivamentee cada símbolo, ou cada palavra ou cada frasecm parti- cular, quer ainda para es dispor de manciraa conhecer pírr enumeraçãotudo o que dclas se pode dcduzir. Importa, sobrerudo,evitar perdcr tempo cm adivinhar scmelhantcscoisasfortuitamentee sem arte, pois, ainda que possamnruitas vezesenconrar-se sem arte c, poÍ vezes,talvezmaisrapidamenteà sortcdo que com a ajuda de um método, cnfraqueceriama luz do espÍrito c o habituariamde tal modo a vãs puerilidadcsquc, dçois, sedcteriasempÍeà superfície_dascoisas,semnelaspoder penetrar nrais intimemcnte. rÍas,entretanto,não vamos nós cair no crro dos que só pcnsamem coisassériasc dcmasiadoelcvadas,das quais,após múltiplos trabdhos, adquirem u-ma ciência confusa, cmbora desejem uma profunda?E, pois, no que há de maisfácil que devemos primeiramentccxcrcitar-nos,mâscom método,a fim de quc, por vias abcrtase conhecidas,nos âcostuÍnernos, como qucnr brinca, a penetrârsemprcaté à íntima ver- dadedascoisas:por cstcmcio,com cfcito, seráem seguida pouco e pouco, c num tempo mais crrrto do que ousa- rÍamos esperar, que também teremos consciônciadc podcr,com igualfacilidadc,deduzirdc princípioseviden- tes várias proposiçõesque pareccm muito difíceis c complicadas. Alguns cspantar-sc-ão,talvczr luc ncste lugar em quc proorÍamos os nrciosde nos torneÍmos mais aptos para deduzir es verdadesumas das ()utras, omitamos todos os preceitosdos Dialécticos,com os quaisiulgam clcs govcrnat a,rtzío, prcscrevendo-lhecertasformasde raciocínio tão neccssariamenteconcludentesquc a, razÃ,o nclcs confiante, cmbora de certa maneira dispcnsc a evidênciac a atençãoda própriainferência,pode,todavia, em virtude da f<rrma,concluir por vezesalgo de acer- tado.Efcctivamcnre,observamosquea vcrdadescsubtrai muitasvezcsa cstcslaços,enquantoaquelcsquc dclcsse 59
  • 31. selem ncles permanecemenredados.Isto nào âcontoce tão frcqucntementeaos outros; e a experiênciamostra- -nos guc todos os sofismasmaissubtis quasenuncâcos- tumam enganere quem se serve de razão,mas sinr os próprios sofistas. Por isso,i sobretudopara cvitar aqui quc a nossâ razàosc dcsintcresse,enquantoexaminam<lsa vcrdadcdc algumacoisa,quc rejeitamosestasfcrrmaslógicascomo contráriasao nossoobiectivo e procurÍrmosantescuida- dosamentetudo o que nos ajudee mantero pcnsamento atento, como se mostraÍá a seguir. Ora, plra quc sc torne ainda mais cvidente que csra lrte de raciôcinar cm nada contribui pare o conhccimento da verdade, importaobservarqueos Dialécticosnãopodemconstruir corn e sue aÍte nenhunr silogismocuir conclusãoscja verdadcira,a menosque sc tenhaiá a sua matéria,isio é, a não ser quc já antes conheçame nìcsmevcrdadc que-nelesc dcduz. Daqui clarementeseconclü que uÍna tal forma lógica não lheslrcrmite conhccernadaãe novo c que, por conscguintc,a Dialécticavulgar é totalmentc inútil paraos quedesejamdescobrira verdadedascoisas. Só pode senrir, por vezes,pare cxpor mais facilmentea outros a-srazõcs já conhecidase, por conscquência,é prcciso fazê-lapassarda Filoso6^ p^r^ a Rctórica. REGRÂ XI Depoie da intuição de algumas proposiçõeeeim- ples, se delas tirarmos outra conclusão, convém PeÍcotleÌ a8 mesmaa com o P€nsemento num movimento contlnuo e em nenhum lado inter- Ìompido, reflectir na8 Buer relações mútuac, e conceber distintamente váriag coieas ao mermo tempo, tânto quanto se pudcr; efectivamente, é aesim que o nooso conhecimento se torna muito mais ceno e sc auÍnenta a capacidade do eepÍrito. Eis aqú a ocasiãode cxpor mais claramentco quc anteriormentcse disse sobrc a inrui$o intclccrual,nas Íegres terccira e sétima, pois, numa dcssaspassagens, opusemo-laà dedu$o e, na outra, apenasà cnumeração. Dcfinimos cstacomo uma infcrência a partir de inúmeras coisas scparadas,ao passo 9ue, como disscmos no mesmo local, a simplcs dedu$o de uma coisa a peÍtir de outra seÍaz por inrui$o. I I I 60
  • 32. lìri precis()agir assinÌ Porquc, Para a intuiçãtr intclcctual,cluascondiçircssc cxigcnt, a sabcr,que a proposiçãoscja conrprccncli<laclara c distintamcntcc quc,cnì seguida,scjr tarttbcrììcomPrccndidatodaao nres- mo tcnÌp() c não succssivanrcntc.r dcdução,porinr, sc pcnsarnrosfazê-la,conÌo na tcrcciraregra,não Parecc quc se rcalizctoda ao nÌcsmotcntPo' nrasimplicx unì cirto rnovinrcnt()do nossoespiritoque infercuma coisa dc ()utra;por isso,f<riconr razãoquc aí a distinguinros daintuição.ìÍas scaconsidcrarnrosiáfcitr, scgundoo que sc dissc na sétintarcgrx, iá não dcsignacntã() nrovi- dc algunr modo, da nrcnrória,na qual sc dcvem con- scrvaÍos juízoscmitidossobrccadaunradaspartcscnu- nrcradas,paradc todasclassctirar unraúnicaconclusão. Outrastantasdistinçõeshaviaa Íazcrpa'n'intcrprctar parcccrcrììfundir-sc ctlniuntanrcntcnunìa só, graçasa urrr nrovimcoto do pcnsanìcntoque consideraatcnta- nìcntcpr.rrintuiçãocrdaobicctocnì Particular,ao mcsmo tcrÌÌpoquc vai prssandoaosoutros. Há nisto unn <luplavintaÍ{ctÌìque indicanìose quc consistccrnconhcccra conclusão,quc nosocuPa,de uma maneira mais certa c cm tornxr o nosso cspÍrito mais ficada"devido aos seusesquccimentose fraquezas,por um movimento contlnuo c repctido do pensamento. Suponhamos,por cxemplo,quc, por váriasoperações, eu tcnha chegadoa conhecer,primeiro, qual a rcla$o existenteentre unìe primeira grandezac uma scgunda, depois, cntrc uma segundae urla tcrccira,em següda, entÌc unÌa terceira c uma qu:rna e, finalmcnte, cÍltre uma qurrta e ,.Te guinta: ncm por issovcjo quc relaSo existeentre a primcira c a quinta e não a possodcduzir das que já são conhecidas,a não ser que me lembre de todas. Eis p<lrqueé ncrcssáriogue o meu [rcnsamento as pcrcorra de novo, até quc passeda primcira à última com tal rapidez que, scnr qwrsc deixar nenhum pâp€l à memória, pareçavcr toda a coisa ao mesmo tcmpo por intuição. . Não há ninguém-que-não -veia como é que por estc meio se corrigc a lcntidão do espÍrito e aumenta a sua capacidadc.Âlém disso, importa obscrvar que a nraior utilidade da nossa Íegra consiste em que a reflexão sobrc a mútua dcpcndênciadas proposições simplcsnos faz adquirir o hábito de distinguir subita- mentc o que é maisou menosrclativ<,r,e por quc grâus se rcduz ao absoluto. Suponhamos,por exenìplo, que pcrcorro al.r;unrasgrandczascontinuamcntc pÍoporci<> nais:eis tudo aquilo sobrcque vou rcflectir.Ë por unr conceitoscmelhantc,nenìnuis nem nlcnosfácil,quercco- nheço a rela$o existcntecnrrc a primeira e a icgunda, entrc â segundac a terccira,entre a terceirae a guarta, etc. ìÍas não posso concebcrassimtão facilmcntc qual a dcpcndênciada scgundarelativamenteà primeira e à tcrceiraao mcsnto tcmpo, c é ainda múto mais diflcil concebcr a depcndênciadcsta segrurdarelativrmente à primeira e à quarta,ctc. Dal chcgo,em seguida,r cÍrptar poÍque é que, dadassomentc a primeira e a scgunda, posso facilmenteencontrar a terccira c a querta, ctc.: é quc isto sefaz por meio de conccitosparticularesc dis- 6t
  • 33. rintos. Ora, dadas apcnasa primeira e a terceira,não dcscobrircitão facilmcntca média,pois isso só se pode fazcrmedianteum conceitoqueenvolvaeo mesmotempo dois dos precedcntes.Dadasapenasa primeirac e quarte, scr-me-á ainda mais difÍcil ver por intuição as duas médias,porque há aqui três conceitossimultaneamente implicados. Por isso, também me pareceriamais difícil ainda achar três médias entre a primeira c a quinta. Há, no entânto, outre ttzão ptra, que isto se passede outra fcrrma: é que, âpesarda ligação simultâneaque existe aqui entre qutÍo conceitos,cles podem contudo scr separados,dado que quatro é divislvel por outro número, dc manciraa possibilitaÍ-mea brsca da terceira apenaspor meio da primeira e da quinta, em seguida,da segundapor meio da primeira e dr terceira,ctc. Quem se habituou a fazerestasreflexõcse outres scmelhantes reconheceimediatamente,semprcque examinaurna nova questão,o que é quc nela gera a dificuldadec qual é de cntre todos o meio nraissimplcsparâ a resolver: é o que constitui a maior aiuda para conheccr a verdade. RE,GRA XII Finalmente, há que utilizaÍ todoe os tecursog do entendimento, da imaginâÉo, dos sentidos e da memória, quer pare termoe umâ intui$o distintâ das proposições simples, queÍ pâra eEtâ- belecermc, enre às coisas que se procuÍem e as conhecidas, uma liga$o adequada que a8 permita reconhecer, queÍ ainda pera enaontrar as coisas que entne ei ee devem comparaÍ, a 6m de ee não omitir nenhum recureo da indúetda humana. fista rcgra é a conclusãodc tudo o quc antcrior- mente sc dissc c ensina em geral o que cra necessário explicar cm perticular: eis como. No conhc.cimcnto,há apcnasdois pontos a consi- derar, a sabcr: nós, que conhcccmos,e os obicctos a conhecer. Em nós, há apcnas quatro faorldades que p<xlemosutilizar par:resseobjcctivo: o cntendimcnto, a imagina$o, os sentidos e a memória. Só o entendi- mcnto é ctpzz dc ver a verdade; deve, no cÍltanto, scr 61
  • 34. ajudadopcla inraginação,pclosscntidosc pelamenrCrria, paranadaonritirnrr-rsdc <luantoseofercceà nossaindús- tria. Do lado da rcalidadc,bastacxaminartrôs coisas; a saber:primciro, () quc sc aprcscntacsponraneanìcntc; cnr seguida,com()scconhcccp()r()utrounr dcternrinado objccto; c, por fim, quc deduçr)essc podcm tirar dc cada unr delcs. Esta cnunrcraçâoparcce-nìcconrplcta, não r.rmitindoabsolutanrcnrenada daquilo a que se podc cstcndera indústriahunrana. l)or isso,passandoao prinrciroponro,desejariaaqui cp()r () que i a nrcnte do homcm, () que é o seu c()rpo,conìo c quc cste é inftrrmadopor aqucla,quais sãocnr todo o comp()stohumanoasfaculdadcsquc ser- vcnÌ para o conhccimcnt()c o que cadauma delasfaz enr particrrlar,sc estelugar não me parecessedemasiado cstrcito para incluir todos os preliminaresnecessários, antcsdc a todos se t()rnar manifestaa vcrdadedcstas coisas.Dcsejo,com efcito, escÍevcrsemprede maneira a nadaasserirde quanto se costumapôr ern discussão, a não scr que prcviarnentetenha exposto as razõesquc nrc lcvaranràs minhas deduçõese medianteas quais creioquc ()soutr()stambémpodemserpersuadidos. ìlas, iá que não () posso fazer agora, bastar-nrc-á cxplìcarc()m a máxinra brevidadepossÍvel,qual dos nrodos dc conccbertudo o que enr nós sc destinaa conhcccras coisasé nraisútil ao mcu propósito.Não acrcditarcis,exccpto sc 'os agradar,que assim seia; mas, que i que vos impcdirá de seguir as mesmas suposiçocsse é evidenteque, sem em nada diminuir a verdadcdas coisas,elasunicamentctornam tudcl nruito nraisclaro?Nã<.rscrádiversodo quc acontecena Geo- nrctria, cnÌ que fazeissobre a quantidadeccrtas supo- sjÇòcsque nâo cnfraquccenrde mancira alguma a força das denronstraçÕes,ainda que tenhaismuitas vezes,na Iìísica,uma ideia diferenteaccrcada sua narureza. É preciso,pois, conceber,em primeiro lugar, que todos ós sentidosexternos enquanto Partesdo corpo, recebeassima 6gura, impressapela ac$o da luz, reves- tidadediversascores;e a primeiramembranadasorelhas, das narinase da língua, impérvia ao obiecto, vai igual- nìente buscar uma nova 6gura ao som, ao odor e ao sabor. É muito útil uma tal concepçãode todascstascoisas, pois nada cai mais facilmentesob os sentidosdo q-uc ã 6guta: na verdade,toce-see vê-se. Por outro lado, csta suposiçãonem sequer implica mais consequências falsasdo que qualquer'outra: a Prova estáem que o conceito de 6gura é tão comum e tão simplesque está incluído em todo o sensível.Por cxemplo, podessuPor
  • 35. melho, etc., como exPostasou outras a que existeentre es figuras aqui scmclhantcs,etc.? O mcsnroscpodedizerdc tudo o mais,poisa quanti- dadc infinita das figuras basta,é certo, para exprimir todas as diferençasdos objectos sensíveis. Em scgundolugar, é prccisoconccberque, visto o scntidocxrernoserpostocm movimentopeloobiecto, a figura quc ele rccebeé transpostapara outra parte do corpo,chamadascntidocomum,instantaneanrcntec sem passagcmrcal de ser algum de um sítio para outro. E prccisamenteassimquc agora,aoescrcvcr,comprecndo que, no mesmoinstanteem que cadaletra particularé traçadano papel,não só a parte inferi<lrda minha pcna cstá'a nìover-se,mas ainda que nem sequerncla pode existir o menor movimento, sem que seja igualnrentc rcccbido xo mcsnlo tempo em toda a pena, cuja parte supcriordescreveno er todasestasdifercntesf<rrmasde movinrentos,aindaque na rninhaconcep$onadade real passedc uma cxtremidadcà outra. Quem pensaria,com cfcito, que há menosconexãoentre as partcsdo corpo humanodo que entÍc as de uma pena,e que é que se podc imaginarde nraissimplesparacxprimir estefacto? Enr terccirolugar,é precisoconceberque o sentido conìumdesempcnhatambénro papelde um seloparafor- n'rarna fantasiaou imaginação,tal como na cera,asmes- mas figuras ou ideias que vêm dos sentidosexternos, movidos de maneirasdiferentes, tal como o sentido comum o é pclo scntidocxternoou como e Penainteira pelasuapartéinferior. Esteexemplomostratambémcomo ë que a fantasiapode scr a causade muitos movimentos nos nervosscm, no entanto,ter as suasimagensexPrcs- sasem si, masoutrasde quepodemseguir-seestesmovi- mentos. Com efeito, a Pena inteira não cstá em mo- vimento tal como acontececom a sua Parte inferior; pelo contrário, parece,na sua parte maior, animadapor üm movimentototalmentediferentee contrário.E assim se compreendecomo podcm fazer-setodos os movi- mentos dos outros animais ainda que ncles não se admita absolutamentenenhum conhecimentodas coisas, mas ap€nasuma fantasiapuramentecorpórea; também assimse comprcendecomo em nós próprios se fazem todas aquclasoperaçõesque realizamossem qualqucr ajuda da rrzão. Finalmente,em quinto lugar, é preciso conceber 69
  • 36. m()trizsegundoa simplesorganiza$ocorporal.Em todos cstescasos,csta fr>rçacognoscentcé ora passiva,ora activa; ora imita o selo, ora a cera; contudo, cstas exprcssircssó devcmaqui tomar-seanalogicamente,pois nadase encontrana-scoisascorpóreasque lhe sejatótal- mcntcsemclhante.E unrasó e mesmaf<rrçaque,ao apli- car-secom a imaginaçãoao sentidocomum,sc diz: vcr, tocar, ctc.,;9u€, ao aplicar-seapcnasà imaginação, enquantoestaseacharcvestidade diversas6guras,scdiz: recordar;que,a()aplicar-seaelaparaformaroutrasnovas, se diz: imaginarou conceber;que, finalmente,ao agir só, se diz: comprcender.No seu dcvido lugar, exporei nraislongamentedequemodosefazestaúltimaoperação. Segundocstasdiversrsfunções,a mesmaf<rrçachama-sc aindr<lucntcndinrentopur(),ou inraginação,ou mcmória, ()u sentidos,mas dá-se-lhepropriamenteo nome de cspírito,sempreque f<rrmcnovasideiasna fantasia,ou se ()cupcdas já fcitas.Consideramo-laapta para estas divcrsasopcraçõcse há que ter em conta,ultcriormente, a distinção das denominaçriesprcccdentes.Unra vez assinrfornruladastodasestasconcepções,o leitor atcnto divisará facilmentequais as ajudasque deve pcdir a cadafaculdadce até onde se pode estendcra indústria dos honrensparasuprir os defeitosdo cspírito. Com efcito, assimcomo o entendimentopode ser movido pcle inra.ginaçãoou, pclo contrário,agir sobre cla, assim tambim a imaginaçãopode agir sobrc os scntidospela frrrçanrotriz, aplicando-osaos seusobiec- tos ()u, pclo contrário, clcs podem agir sobre ela, pintando nela as imasensdos corpos; por outro lado, a memriria,pclo men()sa corpórcae scmelhrnteà recor- daçãodos aninrais,não é de forma algumadistintada inraginação.Conclui-scassim com ccrteza 9u€, se o entcndinrcntosc ocupr do quc nadatem de corporal ou dc scmelhantcao corporal, não pode scr aiudadopor essrsfaculdades;mas, pelo contrário, para que nelas não encontrcobstáculoalgum, é precisoafastaros scnti- dos e despojar,tanto quanto possível,a imagina$o dc toda impressãodistinta. Se, por outro lado, o cntendi- mento se propõc examinar um objecto que sc pode relacionarcom um corpo, é a ideia desteobiecto quc é prccisoformar com a maior distinçãopossÍvclna imagi- nação; para mais comodamentco Íazer,dcvc mostrar-se eos sentidosexternoso próprio obiecto quc esta ideiâ representará.Uma pluralidade de obiectos não pode facilitar ao cntendimento a intui$o distinta dc cada um delesem particular.IUas,pâratirer dc umapluraüdadc uma só dcdução,o quc muitas vczes se tcm de fize4 há que rcjcitar das ideias,que das coisasse têm, tudo o que não exigir uma atençãoimediata,a 6m dc quc o rcsto maisfacilmentesc retenhana memória.Do mesmo modo, não scrãoentão as próprias coisasque se devem propor aos scntidos extcrnos, ffns antcs dgumas das suasfigurasabrcviadas,e cstas,contentoque bastemperâ evitar um lapso de mcmória, serãotanto mais cómodas quanto mais breves forcm. Qucm tudo isto obscrvar nadaomitirá, assimme parece,do que sc rclacionacom estapartc da nossacxposi$o. E vamos,agora,abordartambémo segundoponto: distinguir cuidadosamentees noçõesdas coisassimplcs, das noçriesquc e partir dclassc compõcm e ver numas e noutrasonde podc rcsidir o erro, a 6m de o evitarmos, c quais as que se podem conhecercom certczea 6m de apenasdelasnos ocupâÍmos.Nestclugar, tal como no que precede,é prcciso ftzer certrs suposiçõcsque talvez nem todos nos concedem;Ínaspouco importa que nem scqucr as julguem mais verdadeirasdo quc os círculos imagiúri<ls com que os Astrónomos dcscrevemos seus fenómenos,contanto que, pela sua ajuda, se distinga, a propósito dc qualquercoisa,que conhecimentopodc scr vcrdadeiroou falso. Dizemos, pois, cm primeiro lugar, que é prcciso
  • 37. considerer âs coisas singulares em ordem ao nosso conlrecimentode forma diferentedc quando delasfala- mos tal como existemrcelmcntc.Sc,por exemplo,consi- dcrarmos um corpo extcnso e 6gurado, confcssaremos que cle, por parte da rcalidade,é algo dc uno e dc simples.Grm efeito, não podcria ncste scntido dizcr-se c()mpostodc narurezacorporal,de extcnsãoe dc figura, pois cstesclcmentosnunql existiramdistintos uns dos ()utros.ÌÍas,em rclaçãoao nossocntendimcnto,dize- mos quc é composto dcstas três naturezas,porque captámoscadauma delasseparadamenteantesdc termos podido iulgar quc se cncontram as três iuntas num só ã mesmosujcitó. É por isso que, não tratando aqui dc coisas senão enquanto pcrccbidas pclo cntendimento, chamamossimplcs só àquelascuio conhccimcntoé tão claroc distinto que o cntcndimcntonão as podc dividir cm váriasoutrasconhecidasmaisdistintamcntc:taissã<l a Íìgura,a extcnsão,o movimcnt(),ctc. Quant<làsoutras, conccbcmo-lastodascom()sc,deccrto modo,fosscmcom- lnstas dcstas.É prcciso cntcndcr isso dc mancira tão gcral quc não há scquercxcep$o parÍras quc, às vezes, obtcmos gxrr abstracção..das próprias -coisas simplcs:. assimaconteccquando dizcmos quc a figura é o limitc do <lbiect<-lcxtcnso,conccbcndopcla palavralimitc algo mais gcral que pcla palavra figura, visto que sc prrde, scm dúvida alguma,falar tambémdo limite do movi- mcnto, ctc. NestccÍlso,sebem que <llimite dcsigncuma abstrac$o tirada da 6gura, não dcvem, porém, consi- derar-sepor isso mais simplcs do que a figura; antes, umavczqueseatribuiaindaa outrascoisas,comoo tcrmo dc uma dura$o ou de um movimento, etc., coisasque são dc um géncro totalmente diferente do da fiÍjrra, houvc tambim quc abstraËlodos scusobjectos,e, por conscguinte,é um compostode váriasnaturezascomple- tamcntcdifercntcse àsquaissc aplicaapcnasdc maneira cquív<rca. Dizemos, cm segundolugar, que ascoisaschamadas buídas indistintamentc om,aos obicctos corpóreos' ora aos espíritos, como a eristência, a unidade, -a dura$o- e coisas'semelhantc. ^ isto se devem igualmcntc rcfe- rir essasnoçõcscomuns que sãocomo laçosunindo cntre sioutrasnaturczâssimplcsc sobrecuiacvidênciaseapoiam todas as conclusõcs dos raciocínios. São as scguintes: duas coisasidênticas a urn terceira são idênticas entre si; assimtambém,duas coisasque não podcm rclacio- nar-sc com uma tcrceira do mcsmo modo, têm também 72
  • 38. c assirììi quando,alémdo que nelasvemospor intuição ()u (luc () n()ssopcnsamcntoaí capta,suspeitamosque há algurrracoisa quc nos cstá escondida,e quand<icste noss()perìsamentoi falso. Por estemoti'o, i cr.idente quc nos cngananìossc, por vezes,julgam<lsque não conhccenroscomplctanlcntcalgumadestasnaturezassim- ples;conrcfcito,scdelaapreendôssemosintelectualmentc uma nrínimx parre,o que é seguramentenecessáriona lripótescdc quc sobreelaemitimosalgum iuíz<>,havcria quc concluir, pclr isso mesmo,que a conhecemosper- fcitanrcnte.rliás, nem a poderíamoschamar simples, nrasconìp()srerem virtude do que nela captamose do clue dela julgamosignorar. Dizcmos,cm quarto lugar, que a conjunçãodestas c.oisassiruplescnrre si é neccssárir()u contingente. [:]ncccssária,quandounìaestáimplicadatão intimamentc no conccitoclaoutra quc não podemosconcebcrdistin- tanìcntcurÌìx ou ()utra,se as julgarm()sseparadasentre si. É destanraneiraquc a 6guia èstáunidaã extcnsão,o nrovirrrcntoà duraçãoou ao tempo, erc., porque nã<l c possír'clconceberuma lìguraprivadadc cxtensão,nem unr nrovinrcntoprivado de toda a duraçãr>.Do mesm<r rrrocl<rrinda,scdigo quc quatroe trêsfaacmsete,trata-se dc unrl conrposi$o necessária;com cfeito, não conce- bemosdistintamenteo número setesem ncle incluirmos numx certa relaçãoconfusao número três e o númcro quatro. Do mesmo modo, tudo o que se demonstraa respeito das figuras e dos números conecta-senecessa- riamentccom o obiectode quesea6rma.E nãoé apenas nascoisassensíveisque seencontraestanecessidade,mas tambim noutrascircunstâncias:por exemplo,se Sócra- tcs diz que duvida de tudo, segue-senecessariamente que compreendeâo menosquc duvida; do mesmomodo, que sabe que pode haver algo de verdadeiro ou de falso, etc., pois estas conscquênciasestão necessaria- mentc ligadasà naturezada dúr'ida. Â suaunião contin- gentcé a que não implicanenhumaliga$o indissolúvel entreascoisas:como quandosediz que um corpo é ani- mado,que um homem estávestido,etc. Há aindauma grandcquantidadcde coisasque,muitasvezes,estãoliga- das entre si necessariamentee que a maioriadas pcssoas situa entre as continÍlentes,não notando a relaçãoque entre elasexiste,como, por exemplo,estaproposição: sou, portanto,Deusé; e do mesmomodo: contpreendo, portxnto, tenho uma mentedistinta do corpo, etc. Final- mente, importa observar que es proposiçõesconverses da maior partedasproposiçõesneccssáriessãocontingen- tes: assim,aindaque do facto de eu existir tire a con- clusãode que Deus existe,não é contudo permitido, em virtude do facto de Deus existir, afirmar que eu tambinr existo. Dizemos, em quinto lugar, que nada podemos compreendcrpara além destasnaturezassimples e da espéciede misturaou composi$o que entreelasexiste. E, claro, é muitasvezesmais fácil considerarao mesmo tempo várias juntas do que separar das outras uma única; por exemplo, posso conhecero triângulo sem nunca ter pcnsadoque, ncste conhecimento,está ainda contido o do ângulo, da liúa, do número três, da figura, da extensão,ctc.; isto não nos impede, no
  • 39. cntanto,de dizer que a nârurezado triângulo é composta de todasestasmturezase que elassão mais conhecidas do queo triângulo,poissãoelasprópriasqueaintcligência nele descobre.No mesmo triângulo estão talvez anda cncerradasmuitas outras naturezasque nos escepam, como a grandczados ângulos, cuja somaé igual a dois rectos,e as relaçõesinumeráveis que existem entre os lados e os ângulos, ou a capacidadeda área,etc. Dizemos,em scxto Íugar,que as naturczaspor nós chamadascompostasnos são conhecidasrQu€r porque experimentamos() que elas.são, quer porque nós pró- prios as compomos.Experimentam()studo o quc per- cepcionamospela sensação,tudo o que ouvimos dos ()utr()se, de um modo geral,tudo o que chegaao nosso entendimento,ou de algum lado, ou da contemplação rcflectidaque ele tcm de si próprio. Há que notar, a esterespeito,que o entendimentonunca pode ser enga- nado por experiênciaalguma, desdc que unicamente tenhaa intuiçãoprecisada coisaque lhe é apresentada, conformea possuicm si ou numa imagem,e contanto quc, além disso, não iulgue quc a imaginaçãorepro- duz fielmcntc os obiectos dos sentidos, nem que os sentidosrevestemas verdadeirasfigurasdas coisa,nem, finalmentc,que as coisasexternassãoscmprctais quais nos apareccm.E em todos estespontos que, efectiva- mcnte, cstâmossujeitosao erro, como se alguém nos contar uma fábula,iulgarmosque o acontccimentotem lu.gar;ou se um doentcatingido de icteríciajulgar que tudo é amarelo,porquetem o olho tingido de amarelo; ou, por finr,sedevid<>a uma lesãoda imagina$o,como aconteccaosmelancólicos,julgarmosque assuasimagens pcrturbadasreprcsentamrealidades.Ìíasnadadisto enga- naráo entcndimentodo sábio,porquetudo o quc recebcr da imaginaçãoseráevidentementepor ele julgadocomo realmentenelapintado; todavia,nunca rfrrmarâque isso nìesmoacontcccutal qual e sem qualquer mudançadas coisasexternespere os sentidose dos sentidosp^ra ^imaginação,a não ser gue o tcnha conhecidoantes,por qualqueroutro meio. Por outro lado, compomosnós próprios ascoisasque entendemos,sempreque iulgamos existirnelasalgo que nenhumaexperiênciaimediatamente mostrou à nossamente.Por excmplo,seâcontecerque o doentc de icterícia sc persuadede que as coisasvistas sãoamarelas,esteseupensâmentoseú compostodaquilo que a suafantasialhe rcpresentae da suposi$o que faz, a saber,que e cor amarelalhe aparcce,não por defeito do seu olho, mas porquc as coisasvistassão realmente amarelas.r conclusãoé que só podemosser enganados compondonós próprios de certo modo ascoisasem que ecrcditamos. Dizenros,em sdtimo lugar, que estacomposi$o sc pode fazer de três maneiras,a saber,por impulso, por conjecturaou por dedução.É por impulso que compõem os seusiuízossobreascoisasaquelescuio espÍritoos leva a algumacreng, semserempcrsuadidospor razãoalguma, mas determinadosapenasou por algumapotênciasupe- rior, ou pela sua própria liberdade,ou por uma dispo- sição da fantasia:a primcira influência nunca engana, a segundararamente,a terceira quese sempre; mas a primeira não tem o seu lugar aqui, porque não depende da arte. A composi$o faz-se por coniectura quando, por exemplo,do facto de t âgue,por cstârmaisafastada do centro do mundo do que a terra, ser também de uma essênciamais subtil, c ainda do facto de o ar, por seencontraracimada água,sertambémmaislcve,conjec- turamos que, acima do ar, nada mais há do que étcr muito puro e muito mais subtil que o próprio ar, etc. Tudo o que dcste modo compomos não nos engena, certamente,se julgarmos quc é apenasprovável e sc iamais afirmarmosque é verdadeiro,rnas também não nos torna mais sábios.