Este documento fornece perguntas para guiar o estudo de casos de dengue e apresenta vários casos clínicos para discussão. As perguntas incluem confirmar o diagnóstico de dengue, identificar a fase da doença, avaliar sinais de alarme e comorbidades, e orientar o manejo e monitoramento do paciente. Os casos exemplificam diferentes apresentações da dengue em diversas faixas etárias.
1. PERGUNTAS PARA NORTEAR ESTUDO DOS CASOS
É dengue?
Qual diagnóstico diferencial?
Como confirmar diagnóstico?
Qual a fase da dengue? (febril/ crítica/ recuperação)
Há sinais de alarme? Há dano de orgãos?
Há comorbidades?
Há condições que dificultam o manejo?
Qual é o estado hemodinâmico e da hidratação?
O doente requer internação?
Como hidratar?
Como monitorar melhora /piora?
Quando parar hidratação?
CASOS PARA DISCUSSÃO
Na primeira consulta, Pedro, 36 anos, professor, queixa-se de febre de até
39oC, intermitente, com duração de dois dias, que não cede com paracetamol,
associada a intensa mialgia em membros inferiores, cefaleia holocraniana e dor
retro-orbitária. Há um dia apresenta hiporexia e sensação de plenitude gástrica e
está bastante preocupado com isso, pois há dois anos fez gastroplastia e seu
médico informou que ele precisa cuidar muito de sua alimentação. Nega
alterações urinárias e sangramentos. Nega outras doenças e refere tomar
vitaminas diariamente.
Apresenta-se em bom estado geral, consciente, lúcido, com mucosas
normocoradas e normohidratadas, anictérico, acianótico, sem edema, perfusão
periférica menor que 2 segundos, com rush eritematoso em tronco. T: 38,6oC FC:
100bpm FR: 18irpm PA: 124/82mmHg (sentado) Prova do laço: negativa. Peso:
70kg Altura: 1,80m.
Pupilas isocóricas e fotorreagentes. Oroscopia, otoscopia e rinoscopia sem
alterações, não há sinais de sangramento em mucosas. Tórax normal,
elasticidade e expansibilidade preservadas e simétricas, FTV simétrico, som
claro-pulmonar à percussão e murmúrio vesicular presente, simétrico, sem
ruídos adventícios em campos pleuro-pulmonares. Bulhas cardíacas
normofonéticas, sem sopros. Abdome flácido, indolor à palpação, sem
visceromegalias, ruído hidroaéreo presente. Não há empastamento de
panturrilhas. Mobilidade, força e reflexos de membros preservados. Sem rigidez
de nuca.
Na segunda consulta, Pedro trouxe os seguintes resultados de exame:
Hb 13,6 Ht: 41,0 VCM: 81,0 leucócitos: 11300 (1B/ 27S/ 59L/ 10M/ 3E)
plaquetas: 230mil TGO: 97 TGP: 120
Luís, 22 anos, motoboy, sem doenças prévias, apresentou febre por 3
dias, de até 39oC, que cedeu há 1 dia. Nos primeiros 3 dias de doença apresentou
mialgia em todo corpo, cefaleia e tontura. Recebeu soro de rehidratação oral.
2. Hoje persiste apenas tontura ao se levantar rapidamente e surgiu um rush
eritemato-pruriginoso em tronco e abdome.
Apresenta-se em bom estado geral, consciente, lúcido, com mucosas
normocoradas e normohidratadas, anictérico, acianótico, sem edema, perfusão
periférica menor que 2 segundos, com rush eritematoso em tronco e abdome. T:
36,5oC FC: 110bpm FR: 18irpm PA: 100/72mmHg (sentado) e 128/84mmHg
(deitado) Prova do laço: negativa. Peso: 72kg Altura: 1,75m.
Pupilas isocóricas e fotorreagentes. Oroscopia, otoscopia e rinoscopia sem
alterações, não há sinais de sangramento em mucosas. Tórax normal,
elasticidade e expansibilidade preservadas e simétricas, FTV simétrico, som
claro-pulmonar à percussão e murmúrio vesicular presente, simétrico, sem
ruídos adventícios em campos pleuro-pulmonares. Bulhas cardíacas
normofonéticas, sem sopros. Abdome flácido, indolor à palpação, sem
visceromegalias, ruído hidroaéreo presente. Não há empastamento de
panturrilhas. Mobilidade, força e reflexos de membros preservados.
Seus resultados de exame são:
1o exame (2 dias atrás):
Hb 12,7 Ht: 39,0 VCM: 79,0 Leucócitos: 6400 (5B/44S/ 39L/ 9M/3E)
Plaquetas: 230mil
2o exame (hoje):
Hb 12,9 Ht: 42,6 VCM 78,0 Leucócitos: 3900 (2B/ 27S/ 59L/ 10M/ 2E)
Plaquetas: 220 mil
Ana, 21 anos, manicure, apresentou 2 dias de febre de 38oC, que cediam
com uso de diclofenaco, e também náuseas e cefaleia. Há 3 dias não apresenta
mais febre e sente-se bem. Retorna hoje ao médico para checar os exames que
colheu no 2o dia de febre. (Hb 12,0 Ht 37 VCM 81 leucócitos: 5100 (2B/ 27S/
59L/ 10M/ 2E) plaq: 310mil. Quando questionada, nega dores, náuseas, vômitos
e sangramentos, excetuando-se sua menstruação que está no segundo dia, com
fluxo normal, porém antecipada em 10 dias em relação ao ciclo habitual. Refere
que estas variações em seu ciclo menstrual são comuns.
Apresenta exame físico normal, exceto pela presença de petéquias em palato.
Margareth, 56 anos, bancária, suspeita estar com dengue, pois ocorreram
vários casos na sua vizinhança e porque apresentou febre por dois dias (que
cedeu há 5 dias), associada a cefaleia, dor no corpo e diarreia. No 3o dia de
doença colheu hemograma, recebeu hidratação venosa e foi liberada para casa.
Hoje volta a se queixar de forte dor no corpo, fraqueza e cansaço. Seu
marido refere ela está dormindo demais, que até dormiu sentada na sala de
espera. Sem alterações de diurese. É portadora de síndrome metabólica e usa
enalapril, propranolol, fenofibrato, puranT4, glimepirida e metformina.
Os exames do 3o dia de doença mostravam:
Hb: 13,2 Ht: 42 Leucócitos: 5240 Plaquetas: 115mil TGO: 120 TGP: 148
Teste rápido imunocromatográfico NS1: reagente
3. Hoje ao exame físico: Regular estado geral, sonolenta, orientada em
tempo e espaço, mucosas normohidratadas e normocoradas, eupnéica, sem
edema, com boa perfusão. PA: 150/90 mmHg (sentada e deitada) FC: 58bpm
FR: 16irpm T:36,8oC. Prova do laço negativa. Sem linfonodomegalias, sem sinais
meníngeos. MV presente, simétrico, s/ RA, BCRNF s/sopros. Abdome globoso,
flácido, indolor à papação, sem visceromegalia, ruídos hidroaéreos presentes.
Ausência de petéquias.
Exames de hoje:
Hb: 13,1 Ht: 41 Leucócitos: 2500 Plaquetas: 110mil AST:120 ALT 150
USG abdome: discreta hepatomegalia + esteatose hepática moderada com calibre
de veia porta 14mm (normal até 13mm)
Brenda, 2 anos, está acompanhando há 7 dias por suspeita de dengue: nos
primeiros 4 dias fez febre de 38oC, irritabilidade, hiperemia conjuntival e
redução do apetite, a partir do 2o dia de febre iniciou hidratação oral, porém com
baixa aceitação do soro. No 3o dia apresentou vômitos biliosos 3 vezes, com
redução do volume urinário e iniciou hidratação venosa, que foi mantida até
hoje. A mãe refere que a criança está bastante chorosa e não quer ingerir água.
Na história pregressa a criança apresentou 2 episódios de “bronquite”.
Ao exame: FR: 42irpm, FC: 110, PA: 90/64mmHG, T: 36,4oC. REG, mucosas
normocoradas e normohidratadas, ativa, reativa, chorosa, edema palpebral, boa
perfusão periférica. Ausência de sinais de sangramento, ausência de sinais
meníngeos. MV presente, simétrico, com estertores crepitantes em bases
pulmonares. BCRNF s/sopros. Abdome flácido, indolor, fígado a 2 cm do RCD,
ruídos hidroaéreos presentes. Otoscopia e oroscopia normais.
Evolução dos exames:
2o dia: Hb 11,7 Ht: 37 Leucócitos: 4800, com neutrofilia. Plaquetas: 350mil
3o dia: Hb 11,9 Ht: 38,5 Leucócitos: 5700, com linfocitose. Plaquetas: 344mil
4o dia: Hb 11, 4 Ht: 35 Leucócitos: 5200. Plaquetas: 280 mil
6o dia: Hb 11, 2 Ht: 35,1 Leucocitos 4800. Plaquetas 130 mil
Denise, 40 anos, portadora de insuficiência adrenal crônica idiopática
com diagnóstico há 10 anos, em uso crônico de prednisona, refere mal-estar,
diarréia, náuseas e cefaléia com início há 4 dias. Nega sangramentos, sem
alterações menstruais. Ao exame: REG, orientada, eupneica, hipocorada +/4,
anicterica. PA=110x60 sentada e deitada. Petéquias em pernas. O hemograma
coletado no 4o dia evidencia: Hb= 11,9 Ht=38% leucócitos=1800 Plaquetas=
89.000.
No 5o dia apresentou desconforto respiratório e o seguinte exame:
Hb= 9,8 Ht=32% leucócitos=2100 Plaquetas= 96.000.
PA=100x60 sentada e deitada, FC=100bpm, FR=28ipm, Diurese=1ml/kg/h nas
últimas 24h
Presença de edema em pés com cacifo +/4.
4. Celina, 38 anos, com história prévia de Sd de Marfan e cirurgia cardíaca há
10 anos, deu entrada na unidade de saúde trazida pelo seu esposo, com história
de febre alta, cefaleia, astenia, náuseas e mal-estar há 2 dias. Acompanhante
refere que a paciente se automedicou com dipirona e que apresentou melhora
temporária dos sintomas, mas que retornaram. Faz uso crônico de marevan e
digoxina. Nega sangramentos. Ao exame: Sonolenta, confusão mental, pele fria
em extremidades, pulsos filiformes e taquicárdicos, pressão arterial inaudível.
Após 2 horas chegou o seguinte resultado de HMG: Ht = 49% Hb=15,2
leucócitos=11200 bastões=6% plaquetas=230.000, AST=78 ALT=98, TAP=89%
INR= 1,12.
Mariana, 2 anos, chega ao PS trazida pela mãe. Está confusa, sonolenta e
pálida. O exame inicial revela sufusões hemorrágicas em membros inferiores,
pulso fino, respiração superficial, extremidades frias e hipofonese de bulhas
cardíacas. A mãe refere que há menos de 2 horas a menina estava correndo pelo
jardim, que não tinha essas “manchas” nas pernas e estava apenas com seu
primeiro pico febril.