2. 2ª Geração Romântica: mal-do-século
Inspirados nas obras dos poetas Lord Byron, Goethe, Chateaubriand e Alfred de Musset, os
autores dessa geração também são conhecidos como "byronianos". As principais características da
geração são: o individualismo, egocentrismo, negativismo, dúvida, desilusão, tédio e sentimentos
relacionados à fuga da realidade, que caracterizam o chamado ultrarromantismo. São temas
recorrentes nas obra dos autores da segunda geração: a idealização da infância, a representação das
mulheres virgens sonhadas e a exaltação da morte. Seus principais poetas são Álvares de Azevedo,
Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.
3. Quem foi Lord Byron? (1788 - 1824)
George Gordon Byron foi um poeta romântico inglês que influenciou
toda uma geração de escritores com sua poesia ultrarromântica. A ele estão
associados termos como o spleen, que significa tédio, mau humor e
melancolia, geralmente causados por amores não correspondidos ou pela
descrença na vida em razão da aproximação da morte, temáticas comuns na
poesia ultrarromântica.
De família aristocrática (porém, com dívidas), passava a vida a escrever
poesia e a gastar dinheiro, vivendo no ócio. Suas principais obras são Horas
de Lazer (1870), A Peregrinação de Childe Harrold (1812-1818) e Don Juan
(1819-1824).
4. Álvares de Azevedo (1831 - 1852)
Poeta romântico por excelência, Álvares de Azevedo nasceu em São
Paulo e estudou na Faculdade de Direito, porém, não chegou a concluir o curso.
Faleceu jovem, aos 21 anos, vítima da tuberculose e da infecção resultante de
um acidente de cavalo. A partir de então, desenvolveu verdadeira fixação com a
própria morte, escrevendo a respeito da passagem do tempo, do sentido da vida
e do amor - esse último, jamais realizado.
Seu livro de poesias, Lira dos Vinte Anos (publicada postumamente em
1853), carrega consigo a melancolia de um poeta empenhado em expressar
seus sentimentos mais profundos. O conjunto de poesias também evidencia um
poeta sensível, imaginativo e harmonioso.
Pode-se dizer que sua obra possui características góticas, pois retratam
paisagens sombrias, donzelas em perigo, personagens misteriosas, envoltas em
vultos e véus entre outros.
5. Álvares de Azevedo (1831 - 1852)
Além de poeta, Álvares de Azevedo produziu a peça de teatro Macário (1852), escrita após
haver sonhado com o diabo. A peça conta a história de um personagem que, em uma viagem de
estudos, faz amizade com um desconhecido e descobre ser ninguém mais, ninguém menos que o
próprio satã. Não há menções sobre o nome da cidade em que eles se encontram, porém, há
referências diretas à cidade de São Paulo. Assim, o poeta aproveita para fazer uma crítica à
devassidão na qual a cidade estava imersa.
Azevedo também escreveu um romance chamado Noite na Taverna (publicada postumamente
em 1855), uma narrativa composta por cinco histórias paralelas sobre cinco homens que relatam, em
um bar, histórias de terror vivenciadas pelos mesmos. São eles: Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius
Hermann e Johann. Os nomes são claramente europeus e fazem referência aos romances
românticos produzidos naquele continente (especialmente os italianos e os alemães), bem como sua
temática macabra, inspirada nos romances góticos.
6. Obras Álvares de Azevedo
● Lira dos Vinte Anos
● Poesias Diversas
● Poema do Frade
● O Conde Lopo
● Noite na Taverna (prosa)
● Macário (teatro)
7. Casimiro de Abreu (1839 - 1860)
Nasceu em Capivary (RJ) e aos quatorze anos embarcou com o pai para Portugal,
onde escreveu a maior parte de sua obra, em que denota a saudade da família e da
terra nativa. Poeta da segunda geração romântica, Casimiro escreveu poemas onde o
sentimento nativista e a busca pela inocência da infância estão presentes. Pertenceu,
graças à amizade com Machado de Assis, à então recém fundada Academia Brasileira
de Letras, ocupando a cadeira de número seis. Vítima da tuberculose, faleceu na cidade
de Nova Friburgo (RJ).
Os aspectos formais de sua obra são considerados fracos, porém, sua temática
revela grande importância no desenvolvimento da poesia romântica para as letras
brasileiras. Sua linguagem simples, acompanhada por um ritmo fácil, rima pobre e
repetitiva revelam um poeta empenhado na expressão dos sentimentos saudosistas com
relação à pátria e à infância. Essa última, em tom de profunda nostalgia, revela um
tempo em que a vida era mais prazerosa, junto à natureza e longe dos afazeres e das
responsabilidades da vida adulta.
8. Obras Casimiro de Abreu
Poesias e prosas
● Primaveras (1860)
Prosa
● Carolina, romance (1856)
● A Cabana (1858)
● A Virgem Loura, prosa poética
Teatro
● Camões e o Jau (1856)
9. Junqueira Freire (1832 - 1855)
Monge beneditino, sacerdote e poeta, é conhecido por seus versos em que a
tensão da vida religiosa está presente. Faleceu jovem, aos vinte e três anos e deixou
uma obra poética permeada pelo sofrimento em decorrência da saúde debilitada e da
vida clerical, que impunha severas restrições ao espírito do jovem sacerdote. Foi
escolhido patrono da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número
vinte e cinco por indicação de Franklin Távora.
Sua obra é conhecida pela tensão presente nos versos, que oscilam entre a
vida espiritual, a religiosa e o mundo material. Junqueira Freire também é produto do
seu tempo, revelando interesse em aspectos então contemporâneos, como a postura
republicana e antimonárquica, fruto de sua desilusão com a vida religiosa. A busca
pela liberdade viria apenas com a morte. Sua obra mais famosa é Inspirações do
claustro (1855) cujo poema mais famoso é Louco.
10. Fagundes Varela (1841 - 1875)
Abandonou a faculdade de Direito, casou aos vinte e um anos e teve um filho.
A morte do filho, aos três meses de vida, que serviu de inspiração para a
composição de um dos seus poemas mais importantes, Cântico do Calvário. A
este fato também é atribuida a sua entrega ao alcoolismo, levando o poeta à
depressão e à vida boêmia pelos bares. Ocupante da cadeira número onze da
Academia Brasileira de Letras, por escolha de Lúcio de Mendonça.
Em contrapartida, sua obra cresce consideravelmente em função das
amarguras da vida causadas pelas perdas dos filhos (outro filho seu morre, também
prematuramente) e da esposa. Ela é variada e gira em torno da exaltação da
natureza e da pátria, da morte, do mal-do-século, do sentimento religioso, além de
poemas que tratam da abolição da escravatura em que prega uma América livre,
como é o caso dos poemas presentes no conjunto Vozes da América (1864).
Faleceu jovem, aos trinta e três anos.
11. Obras Fagundes Varela
● Noturnas - 1860
● Vozes da América - 1864
● Pendão Auri-verde - poemas patrióticos, acerca da Questão Christie.
● Cantos e Fantasias - 1865
● Cantos Meridionais - 1869
● Cantos do Ermo e da Cidade - 1869
● Anchieta ou O Evangelho nas Selvas - 1875 (publicação póstuma)
● Diário de Lázaro - 1880
12. 3ª geração romântica: condoreira
A terceira geração romântica é caracterizada pela poesia
libertária influenciada, principalmente, pela obra político-social do
escritor e poeta francês Victor Hugo, que originou a expressão
"geração hugoana". Além disso, a ave símbolo da geração é o
condor, ave que habita o alto das cordilheiras dos Andes, e que
representa a liberdade daí o nome da geração ser condoeira. A
poesia dessa geração é combativa e prima pela denúncia das
condições dos escravos, decorrência do sistema econômico
brasileiro, baseado no trabalho escravo. Os poetas dessa geração
também clamam por uma poesia social em que a humanidade
trabalhe por igualdade, justiça e liberdade.
13. Castro Alves (1847 - 1871)
Considerado um dos poetas brasileiros mais brilhantes, Castro Alves tem sua
obra dividida em duas grandes temáticas: poesia lírico-amorosa e a poesia social e das
causas humanas.
Começou a escrever cedo e aos dezessete anos já tinha seus primeiros poemas
e peças declamados e encenados. Aos vinte e um já havia conseguido a consagração
entre os maiores escritores daquele tempo, como José de Alencar e Machado de Assis.
Uma das principais características de sua obra é a eloquência, de diversas
figuras de linguagem, além da sugestão de imagens e do apelo auditivo. O poeta
também faz referência a diversos fatos históricos ocorridos no país, tais como a
Independência da Bahia, a Inconfidência Mineira (presente na peça O Gonzaga ou a
Revolução de Minas),
Nasceu em Curralinho
e faleceu em Salvador
(ambas na Bahia) em
decorrência da
tuberculose e de uma
infecção no pé
causada por acidente
em uma caçada.
14. Castro Alves (1847 - 1871)
Diferentemente dos poetas da primeira geração, individualistas e preocupados com a expressão
dos próprios sentimentos, Castro Alves demonstra preocupação com os problemas sociais presentes
na sua época. Demonstra também um certo questionamento aos ideais de nacionalidade, pois, de
que adiantava louvar um país cuja economia estava baseada na exploração de sua população (mais
especificamente dos índios e dos negros)?
A visão do poeta demonstra paixão e fulgor pela vida, diferentemente dos poetas
ultrarromânticos da geração precedente.
15. Castro Alves: poesia lírico-amorosa
A poesia lírico-amorosa está associada ao período em que o poeta esteve envolvido com
a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Assim, a virgem idealizada dá lugar a uma mulher de carne e
osso e sensualizada. No entanto, o poeta ainda é um jovem inocente e terno em face a sua amada
corporificada e cheia de desejo.
Seus poemas mais famosos dessa fase estão presentes em sua primeira publicação, Espumas
Flutuantes (1870), conjunto de 53 poemas que versam sobre a transitoriedade da vida frente à
morte, sobre o amor no plano espiritual e físico, que apela para o sentimental e para o sensual e
sensorial. Além disso, o romance com a atriz portuguesa acendeu no poeta o desejo de escrever
sobre esperança e desespero.
16. Castro Alves: poesia social
Poeta da liberdade, Castro denuncia as desigualdades sociais e a situação da escravidão no
país, além de solidarizar-se com os negros, que eram trazidos de modo precário dentro dos navios
negreiros. Castro clamava à natureza e às entidades divinas para que vissem a injustiça cometida
pelos homens sobre os homens e intervissem para que a viagem rumo ao Brasil fosse interrompida.
Graças a sua obra empenhada na denúncia das condições dos negros, ficou conhecido como "o
poeta dos escravos", por solidarizar-se com a situação dos que aqui vinham e eram submetidos a
todo tipo de trabalho em condições desumanas.
As obras mais importantes dessa fase são:
Vozes D'África: Navio Negreiro (1869)
A Cachoeira de Paulo Afonso (1876)
Os Escravos (1883)
17. Curiosidades
● A poesia de Castro Alves já demonstra aspectos, temáticas e tendências do
movimento chamado Realista, que "nega" os preceitos românticos embora sua obra
seja romântica.
● Em 1941 o escritor baiano Jorge Amado escreveu o ABC de Castro Alves, uma
biografia sobre o poeta e sua obra.
18. Sousândrade (1833 - 1902)
O aspecto que mais o diferencia dos outros poetas brasileiros é a originalidade da
sua poesia, principalmente com relação à ousadia de vocabulário com o uso de palavras
em inglês e neologismos, bem como de palavras indígenas.
Seu trabalho, então esquecido, foi resgatado na década de 1960 pela crítica
literária, principalmente pelos poetas Haroldo e Augusto de Campos, responsáveis pela
análise de sua obra.
Seu poema mais famoso é o Guesa Errante, escrito entre 1858 e 1888, composto
por treze cantos e inspirado em uma lenda andina na qual um adolescente, o Guesa,
seria sacrificado em oferecimento aos deuses. O índio, porém, consegue fugir e passa a
morar em uma das maiores ruas de Nova York, a Wall Street. Os sacerdotes que o
perseguiam estão agora transformados em capitalistas da grande cidade de Nova York e
ainda querem o sangue do Guesa, que vê o capitalismo consolidado como uma doença.