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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
              INSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM




              ANA REGINA BRESOLIN




 O PROFESSOR DE LÍNGUAS EM FORMAÇÃO: UMA
       EXPERIÊNCIA REFLEXIVA COM BLOG




                   CUIABÁ-MT
                      2011
i



             ANA REGINA BRESOLIN




O PROFESSOR DE LÍNGUAS EM FORMAÇÃO: UMA
    EXPERIÊNCIA REFLEXIVA COM BLOG




        Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos
        de Linguagem da Universidade Federal de Mato Grosso como parte
        dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Estudos de
        Linguagem.
        Área de Concentração: Paradigmas do Ensino de Línguas
        Orientador: Prof. Dr. Dánie Marcelo de Jesus
        Instituto de Linguagens




                     CUIABÁ-MT
                        2011
FICHA CATALOGRÁFICA 

  B842p     Bresolin, Ana Regina.
               O professor de línguas em formação: uma experiência reflexiva com blog /
            Ana Regina Bresolin. – 2011.
               146 f. : il. color.

               Orientador: Prof. Dr. Dánie Marcelo de Jesus.
               Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de
            Linguagens, Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, Área de Concentração:
            Paradigmas do Ensino de Línguas, 2011.

               Bibliografia: f. 135-146.

                1. Professores – Línguas – Formação. 2. Educação – Ambiente virtual. 3.
            Internet. 4. Professor de línguas – Ambiente virtual. 5. Comunicação de massa.
            6. Blogs – Formação de professores. I. Título.

                                                            CDU – 371.13:811:004.738.5
            Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931
ii
iii




DEDICATÓRIA



Dedico este trabalho à minha amada
família pelo carinho e dedicação
constantes. Também ao querido Hugo
pelo apoio e amor incondicionais.
iv



                                  AGRADECIMENTOS




                                                          A Deus que dá a vida e ensina o caminho.


       Quando jogamos a semente na terra na esperança que de lá brote vida nova, o fazemos
na confiança de que o universo conspirará a favor dessa empreitada. O mesmo ocorre quando
nos lançamos na experiência científica: a semente precisa, além de vontade intrínseca, água,
luz, terra e substratos. Quem envereda neste campo, conta com a ajuda de muitos amigos para
                                      _         _
poder desabrochar e, a tempo, fazer       sua       parte nos jardins espalhados pelo mundo. Sendo
assim, gostaria de agradecer a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para
meu crescimento intelectual e emocional. Em especial agradeço...


Ao Dr. Dánie Marcelo de Jesus, que me abraçou do primeiro ao último instante com muita
dedicação, firmeza, carinho e paciência. Obrigada por ter sido em muitos momentos o vento
que em meu jardim fazia alvoroço, instigando assim novas possibilidades. Desabrochei graças
também ao seu esforço.


Ao Programa de Mestrado em Estudos de Linguagem da UFMT, incluindo aqui todos os
professores que diversificam e iluminam aquele jardim, fazendo nele vingar, além da ciência,
a fraternidade.


Aos alunos participantes do projeto do blog, bem como os seus professores que acreditaram e
fizeram-no acontecer. Minha imensa gratidão por compartilharmos das mesmas vontades, das
mesmas dúvidas: fomos realmente parceiros.


Aos professores Dr. Rodrigo Camargo Aragão e Dra. Simone de Jesus Padilha, que
gentilmente contribuíram com uma leitura atenciosa e apurada do texto, deixando a paisagem
deste jardim mais agradável.


Aos amigos e pós-graduandos do MeEl, especialmente Ana Raquel Diamante, Perla Haydée,
Carmen Zirr Azurro, Sandra Pinotti, Fernando Zolin Vesz, Viviane Carrijo, Anderson Simão
e Verônica Hirata.
v




Aos colegas do IFMT _ Campus Parecis, por terem acreditado em meu sonho e dado espaço
para que ele se confirmasse.


Às minhas amigas e amigos, professores que dividem os momentos diversos de trabalho, de
vida: Marisol, Ana Lúcia, Cassiana, Rosane, Adriana, Rodolfo, Tiago, Arnaldo, Fábio e
Rogério.


As minhas irmãs, delícias da vida que Deus me deu de presente: Analice, Daniela e Ana
Maria.


Aos meus pais, Neiva e Arlindo, que nunca pouparam esforços para nos ver estudando,
crescendo e conquistando novos espaços. A vocês devoto minha eterna gratidão.


Ao meu então noivo e agora esposo, Hugo Ricardo, por sua enorme dedicação, cuidados,
apoio, carinho e amizade. Se não fosse por você, meu amor, não teria me tornado flor.


Aos meus avôs, Olivo e Regina, exemplos de sabedoria, caridade e paixão. Noninho, que
Deus acalente e envolva seu coração no belo jardim que você deve estar passando suas tardes.
Sempre amaremos vocês...
vi




"A Educação sozinha não transforma
a sociedade, sem ela tão pouco a
sociedade muda”.
(Paulo Freire)
vii



                                         RESUMO



Ao considerarmos a égide tecnológica sob a qual temos construído muitas de nossas relações
nas últimas décadas, perceberemos que esse tipo de interação tem modificado e ressignificado
as formas como aprendemos e ensinamos, fazendo com que tanto professores quanto alunos
vejam este lugar social, a internet, propício também para aprender línguas. Considerando esse
cenário, este trabalho se insere no contexto de educação em ambiente virtual e tem como
objetivo investigar indícios de processos reflexivos e de que forma eles se desenvolvem em
um blog colaborativo educacional. Os participantes que compunham a comunidade discursiva
foram alunos do curso de Letras Português/Inglês de quatro universidades brasileiras durante
um período de seis meses. A partir das interações ocorridas no e por causa do blog, ou seja, as
postagens, comentários e e-mails, analisei de que forma o grupo desenvolveu processos
reflexivo-críticos em ambiente colaborativo. O trabalho contou com suporte teórico em Smyth
(1992), Zeichner (1994) e Mateus (2010) no que tange a reflexão crítica. Em Gomes (1995),
Primo & Smaniotto (2006) e Signorini & Cavalcanti (2010) no que diz respeito ao processo
de ensino-aprendizagem em ambiente virtual e os blogs. As questões que nortearam a
pesquisa foram as seguintes: 1) Quais possíveis indícios de processos reflexivos podem ser
observados nas interações entre os participantes? e 2) De que forma o grupo procurou
construir processos reflexivos neste ambiente virtual? O percurso teórico-metodológico
utilizado foi o interpretativismo de base netnográfica com apoio nos autores Erickson
(1986/1990) e Kozinets (2010). Os resultados sugerem algumas evidências linguísticas que
podem ser sinalizadores de que no blog ocorreram processos reflexivo-críticos e colaboração,
em graus diferentes de complexidade, contribuindo assim na formação inicial do professor de
línguas.


Palavras-chave: blogs, reflexão crítica, formação de professores.
viii



                                          ABSTRACT



Considering the technology support under which we have built many of our relations in recent
decades, we realize that this type of interaction has changed and reframed the ways we learn
and teach, so that both teachers and students begin to see this social place, internet, also
suitable for learning languages. The context of this research is education in virtual
environment and taking this situation into account, it aims to investigate evidences of
reflective processes and how they develop in a collaborative educational blog. The
                                                                                                 _
participants that took part in the speech community were students of Letras Course
Portuguese/English _ of four brazilian universities over a period of six months. Based on the
interactions which occurred in and because of the blog, like posts, comments and emails, I
analyzed how the group developed critical-reflective processes in a collaborative
environment. The research theoretical foundation is provided by Smyth (1992), Zeichner
(1994) and Mateus (2010) with respect to critical reflection. In Gomes (1995), Primo &
Smaniotto (2006) and Signorini & Cavalcanti (2010) with regard to teaching and learning in a
virtual environment and blogs. The research questions were: 1) What possible evidence of
reflective processes can be observed in the interactions among the participants? And 2) How
the group sought to build reflective processes in this virtual environment? The theoretical and
methodological paradigm is based on interpretative and netnography approaches
(ERICKSON, 1986/1990; KOZINETS, 2010). Results suggest some linguistic evidences that
can characterize reflective-critical processes and collaboration in the blog, in different degrees
of   complexity,   contributing    to   these   language   teachers’      starting   constitution.


Keywords: blogs, critical reflection, teacher training.
ix



                          LISTA DE FIGURAS


Figura 1: Postagem “Brazilian public school system”………………………………………..74
x



                                             LISTA DE QUADROS



Quadro 1: Fluxo simplificado de um projeto de pesquisa netnográfico...................................63
Quadro 2: Quadro de análise dos dados....................................................................................74
xi



                                                                   SUMÁRIO


 i 
DEDICATÓRIA ......................................................................................................................iii 
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ iv 
RESUMO................................................................................................................................. vii 
ABSTRACT ...........................................................................................................................viii 
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................. ix 
LISTA DE QUADROS............................................................................................................. x

O GERMINAR DA SEMENTE ............................................................................................ 13

1       ADUBO TEÓRICO ........................................................................................................ 23

     1.1 Primeiro canteiro: blogs, um jardim cibernético em plena primavera ........................... 24

     1.2 Segundo canteiro: cultivando o profissional crítico-reflexivo ....................................... 38

2 RAÍZES METODOLÓGICAS........................................................................................... 55

     2.1 A pesquisa interpretativista de cunho netnográfico: para buscar compreender o jardim é
     preciso ser jardineiro ............................................................................................................ 56

     2.2 Conhecendo o jardim ...................................................................................................... 66

     2.3 Apresentando os jardineiros ........................................................................................... 69

     2.4 Coletando as sementes .................................................................................................... 71

     2.5 Os olhares sobre o jardim ............................................................................................... 77

3 O DESABROCHAR DE UM JARDIM VIRTUAL: DESCREVENDO E
DISCUTINDO OS RESULTADOS ...................................................................................... 82

     3.1 Cada flor desabrocha ao seu tempo ................................................................................ 84

        3.1.1 Momento de observar a paisagem ........................................................................... 84 

        3.1.2 Momento de compreender minhas práticas de cultivo ............................................ 93 

        3.1.3 Momento de espiar por cima dos muros de meu jardim ....................................... 104 

     3.2 As primaveras de nosso jardim..................................................................................... 111
xii



      3.2.1 Tema 1: Tentativas de construção ......................................................................... 112 

      3.2.2 Tema 2: A procura dos culpados ........................................................................... 116 

      3.2.3      Tema 3: O que é mesmo refletir? ..................................................................... 120 

      3.2.4 Tema 4: Quero ser um bom professor ................................................................... 123 

4 COLHENDO OS FRUTOS .............................................................................................. 126 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 135 
O GERMINAR DA SEMENTE


                                                                                       a terra


                                                                                arada de novo
                                                                         com a alma de artista
                                                                          no chão de setembro
                                                                            e no dia de ontem
                                                                               a terra é macia
                                                                             e cobre de flores
                                                                             de todas as cores
                                                                            de todos os nomes
                                                                             a pele do outono.
                                                                             De manhã morna
                                                                               de tarde quente
                                                                              de noite tão fria
                                                                            ela espera a chuva
                                                                         a semente e o homem.


                                                                  ( Carlos Rodrigues Brandão)


       Estou convencida de que o estilo metafórico com o qual inicio este capítulo, bem
como os demais que se seguem, possa causar certa curiosidade. Penso igualmente, que a
escolha pelo uso da primeira pessoa, somada ao fato de iniciar esse trabalho contando um
pouco de minha experiência docente, também pode instigar indagações. Dessa maneira,
gostaria de explicar as razões de tais escolhas, bem como outras que serão observadas no
decorrer do texto: advêm da concepção que qualquer conhecimento é historicamente situado,
portanto sofre o efeito da situacionalidade do pesquisador.
       Proponho descrever o blog, objeto de estudo deste trabalho, tal como um jardim, em
decorrência da multiplicidade de gêneros textuais, de sua natureza hipertextual e da
possibilidade de construção de um ambiente mais colaborativo. Sendo assim, recorrer a blogs
para o ensino-aprendizagem de línguas é caminhar entre as várias espécies que têm sido
cultivadas nesse ambiente, e assim plantar canteiros diferenciados. Nessa perspectiva, eu, na
qualidade de pesquisadora-participante, fui encarregada de adubar o terreno, lançar as
14



sementes e animar os jardineiros para que o jardim viesse a florescer. Os participantes do
blog, os quais serão apresentados logo mais, foram os jardineiros que trabalharam nesses
canteiros. Tanto eu quanto eles cuidamos do jardim, observando o clima e quais práticas
seriam mais propícias para seu desenvolvimento.
       O uso de metáforas é muito comum, por exemplo, na perspectiva teórico-
metodológica da Pesquisa Narrativa (CLANDININ & CONNELY, 2000), que as utilizam
justamente como forma de compreensão do contexto estudado. Embora essa não seja a
perspectiva que seguirei, necessariamente, acredito seja uma maneira ímpar de dividir com os
leitores o que sinto em relação a meu objeto de estudo. Desse modo, a metáfora do jardim
cibernético é a minha forma de representar a problematização que proponho nesta dissertação.
       Os blogs, por sua vez, fazem parte desse lugar, e neles as formas híbridas se
constituem a cada escolha de seus jardineiros. As sementes são as mesmas dos jardins “reais”,
e as plantas do jardim cibernético são polinizadas por abelhas, insetos e pássaros que migram
dos mais remotos lugares onde a rede tenha alcance. Tal como a terra espera pela semente
para que a vida possa acontecer, o ambiente digital floresce a partir da experiência e da
vontade humana de interagir por meio da linguagem.
       Mas por que investigar as experiências que ocorrem nos blogs? Acredito que muitas
pessoas do século XXI vivam sob uma nova égide tecnológica. Compram, vendem, estudam e
dialogam com pessoas dos lugares mais remotos do mundo conectado pelo ciberespaço. Essa
interação vem me intrigando nos últimos anos. Bem por isso, penso que poderia acrescentar a
esta resposta, algumas inevitáveis perguntas: qual o efeito dessa tecnologia no processo de
aprendizagem dos alunos? Como professores lidam com essa tecnologia em sua vida
cotidiana escolar? O que o professor pode fazer com vistas a oferecer maiores oportunidades
para o uso crítico da internet na sala de aula? Certamente, para muitos professores, essas
perguntas assim se exteriorizam: de que maneira posso aliar minhas aulas ao universo digital?
Esses questionamentos nasceram de minha própria vivência como professora e aluna, e
também da observação das atitudes de meus colegas e alunos nos últimos anos.
       Relembrando um pouco de minha história acadêmica, percebo que sempre que os
professores de língua estrangeira associavam às suas práticas pedagógicas artefatos
multimidiáticos, tais como músicas, filmes, clipes, ou alargavam o espaço de sala de aula com
pesquisas extraclasse, bem quando usavam a internet como ferramenta de busca e acesso à
informação, havia certa comoção entre os alunos, causada, a meu ver, pelo fato de estarmos
em contato com a língua em uso, viva, “em seu habitat natural”. Ficava entre nós, os
15



aprendizes, certa satisfação, possivelmente provocada pelo fato de estarmos experimentando
nosso potencial enquanto usuários da língua à qual estávamos nos dedicando.
       Atualmente, sou professora de língua inglesa em um dos campi do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso. A escola onde trabalho se localiza no
interior do estado e há, em meu contexto educacional, além de uma forte vocação
notadamente agrícola, expectativas de desenvolvimento e apropriação de tecnologias que
possam dar suporte às atividades econômicas desenvolvidas na região, formando ou
instrumentalizando os trabalhadores. Porém, uma das questões que não podem deixar de ser
levadas em consideração em minha realidade geográfica é a distância de grandes centros, ou
mesmo a distância das propriedades rurais e das cidades que rodeiam o Instituto. Nesse andar,
mediar a educação por meio da internet faz com que nos apropriemos dos mais diversos
artefatos e experimentemos novas formas de conhecer o mundo, e de nos conhecermos
também, uma vez que essa prática diferenciada pode ser uma forma de democratizar o acesso
a uma formação de qualidade para muitos jovens e adultos.
       Penso por igual que a escolha da metáfora do jardim tenha sido influenciada por essa
experiência assentada no ambiente rural. Convivendo com as práticas de cultivo
desenvolvidas por meus colegas, traço um paralelo entre o que acontece com a dinâmica da
semente se tornando árvore, em plena transformação, com o que temos vivenciado em relação
ao uso e à pertinência da internet em nossa sociedade. Parece-me que o crescimento da rede
em todo o mundo já passou da fase de semente, ou seja, da fase embrionária, e está em
constante desenvolvimento. Seus galhos e suas nuanças já são parte de nosso jardim
cibernético e já estamos colhendo os frutos, os mais diversos inclusive, de nossa construção e
da relação com esse objeto.
       Voltando um pouco à minha história como professora, mas também na condição de
aluna, recordo que minha experiência com o ensino de idiomas começou quando eu era
adolescente e trabalhava em uma escola de línguas, na função de secretária. Nesta escola,
tanto trabalhava quanto aprendia Língua Inglesa e Língua Espanhola, e acabei tendo contato
desde cedo com o que os professores sentiam em relação ao cotidiano escolar, assim como
com o que estavam ensinando. Mesmo que a escola usasse livros didáticos, havia certa
abertura para que os professores incrementassem suas aulas, tanto a partir de seus anseios
quanto dos alunos. Dessa forma, os alunos podiam se expressar em relação ao que gostariam
de aprender, bem como de que maneira aprendiam mais. Lembro-me de que, dentre os
pedidos mais recorrentes da parte dos alunos, sempre estavam as músicas.
16



          Quando estava no 1º ano do curso de Letras, comecei a trabalhar em outra escola de
idiomas. Lá as coisas eram bem diferentes do lugar onde eu havia aprendido inglês e
espanhol. O método utilizado era o audiolingual, e todas as lições recheadas de muita
repetição. Nem o professor nem os alunos podiam fugir das regras do jogo. Recordo com
clareza, enquanto preparava minha primeira aula, não conseguia compreender como eles iriam
aprender daquela forma. Mesmo utilizando televisores, fones de ouvido, CDs, Cd roms,
DVDs, ou seja, muita tecnologia, eu acabava por perceber pouquíssima interação entre os
alunos.
          Também trabalhei durante o curso de Letras em escolas particulares de ensino
fundamental e médio. Nessas escolas, equipadas com laboratórios de informática, projetores
de dados e internet, eu mesma, pouquíssimas vezes, dava conta de usar essas ferramentas de
forma realmente interessante. Fazíamos pesquisas, leituras, mas nada que pudesse nos levar
para um contexto de ensino mais reflexivo, quanto mais crítico e colaborativo.
          Quando terminei a graduação, resolvi fazer um intercâmbio e estudar inglês em outro
país. Passei desta forma seis meses estudando em Londres. Essa experiência foi marcante em
minha vida, pois eu acredito que passei por mudanças profundas a respeito de minha
concepção acerca da postura do professor de línguas, do aluno e da importância de um grupo
multicultural, sabedora de que a miscigenação enriquece muito as aulas. Por conviver com
colegas do mundo todo, passei a observar como eles buscavam aprender, como os professores
tentavam fazer para que asiáticos, africanos e latinos, por exemplo, conseguissem
compreender as matizes da língua e da cultura na qual estavam inseridos. Essa vivência ímpar
me fez expandir minhas concepções, meu fazer em sala de aula, e percebi isso quando voltei e
comecei a lecionar novamente aqui no Brasil.
          Hoje, acredito que a internet seja a ferramenta que pode mediar essa ampliação de
conceitos, essa vivência multicultural, pois ela possibilita, cada vez mais, a um número maior
de pessoas saber o que se pensa sobre os mais diversos assuntos nos recantos mais longínquos
do globo terrestre. Porém, acredito que a grande maioria ainda não tenha acesso à rede, ou até
mesmo não tenha criado a cultura de uso e acesso à ela.
          Diante dessas observações, acredito que a internet se tornou ambiente propício para
aprendizagem de língua inglesa, independentemente de perceber que muitos colegas
professores não compreendem ainda a dinâmica do processo de ensino-aprendizagem de
línguas em contexto online. À luz desse quadro, a comunidade escolar, de modo geral, parece
mostrar-se ansiosa em usar as ferramentas da Web em seu dia a dia. De outra parte, há muitos
profissionais com um olhar ainda muito romântico em relação a esse ambiente, assim como há
17



os que desconfiam totalmente de sua eficácia no processo educativo. Observo, no entanto, que
ambas as posturas fazem parte do processo de acomodação de toda e qualquer nova
tecnologia, tal como aponta Paiva (2010).
       Se bem assim, existem também aqueles cuja preocupação não subjaz necessariamente
às já citadas, mas sim recaem justamente em como fazer/ter um uso crítico e contextualizado
do ambiente digital na aprendizagem de línguas. Ou seja, observar esse jardim cibernético
como algo propício para o uso efetivo da linguagem, e não só como uma repetição sem fim de
frases feitas. Aprender uma língua e usá-la a fim de compreender as relações sociais
estabelecidas na e por ela nos mais diversos contextos, inclusive no seu imediato. Em adendo,
por meio da linguagem, construir novos sentidos, novas maneiras de olhar e sentir o mundo, e
por que não, modificar-se a si próprio e o mundo que nos rodeia.
       Essas percepções acerca de um ensino crítico de línguas me fizeram constatar um
vácuo existente entre a dinâmica social da sociedade da informação e a formação de
profissionais que deem conta da aprendizagem crítica mediada pelo computador. O fato de
termos certa familiaridade com o uso da internet no meio pessoal e/ou profissional não
garante que nós, professores, sejamos bem-sucedidos nesse contexto específico. Embora o
ambiente virtual possa ser altamente produtivo, crítico, hipertextual, diverso, dinâmico, e
além, em minha opinião, muito propício à aprendizagem, ainda há uma demanda gritante na
escola por conhecer e ressignificar as práticas dentro desse novo contexto.
       Em decorrência dessa preocupação, decidi direcionar meu olhar para o uso dos blogs
como um terreno fértil para a aprendizagem reflexiva. A escolha do blog se deu em
consequência de ele constituir uma ferramenta relativamente popular para os usuários da
internet, por ser de fácil utilização, além de ter potencial para se revelar um espaço educativo,
no qual alunos e professores podem construir sentidos colaborativamente.
       Minhas sensações acerca do ambiente digital é que não estamos criando um mundo
paralelo, virtual, mas sim um novo espaço de (com) vivências permeado pela linguagem, que
é tão “real” como outro qualquer. Por isso, proponho neste trabalho a metáfora do jardim. Em
minha concepção, o ambiente digital vem se tornando o chão das experiências de vida das
pessoas, terreno nos quais pequenas ideias têm se transformado de meras sementes em árvores
frondosas, cujos galhos, flores, frutos, raízes e por que não as sombras alcançam as mais
diversas vizinhanças. Sendo assim, ao comparar a experiência educacional em ambiente
digital com um jardim, busco fazer com que os leitores deste trabalho não vejam esse terreno
como um lugar desordenado e infértil intelectualmente. Pelo contrário, a experiência humana
nesse ambiente é plena de anseios, objetivos e práticas muito interessantes.
18



       Olhando para etimologia da palavra jardim, observo que ela se refere a algo fechado,
por ter sua origem no radical garth, o qual provém das línguas nórdicas e saxãs, a significar
“cintura ou cerca”. Em latim temos hortus gardinus, “local cercado para plantar flores e
ervas”, que deriva justamente do frâncisco gardo, que de sua vez dimana do germânico
gardaz. Dessa forma, o jardim é sempre algo construído, fechado, mas, ao mesmo tempo
heterogêneo. Lugar de encontros que conduzem à paz de espírito, à meditação, à
sensibilização, à experimentação de cheiros, gostos, ao conhecimento das artes, da cultura.
Em suma, é um lugar de deleite e experimentação.
       Tanto na tradição ocidental quanto oriental, os jardins são tidos como lugares de
harmonização e segurança, como uma amostra do trabalho do homem sob a natureza, dando
certeza que ele poderia usufruir do selvagem, mas de maneira despreocupada, pois estaria
cercado. E isso, de certa forma acontece no jardim cibernético. Quando criamos categorias,
espaços, estilos, maneiras para que as interações ocorram, estamos a cercear os sujeitos,
possibilitando o que e como eles podem fazer as coisas.
       A representação dos jardins, portanto, é algo inerente ao trabalho humano, ou até
mesmo divino, já que, conforme a cultura das religiões abraâmicas, tenha sido um jardim, o
Jardim do Éden ou o Paraíso, o lugar construído por Deus para que o homem e a mulher
primeiro habitassem e do qual posteriormente foram expulsos por transgredir regras,
provando a famigerada maçã por influência da uma serpente. Em hebraico temos, portanto, o
Gan Eden.
       Na mitologia grega também temos o Jardim das Hespérides, famoso por suas lindas e
desejadas maças de ouro (pomos). Conta o mito que as Hespérides eram as deusas primaveris
guardiãs desse jardim e das fronteiras celestes entre o céu, a terra e o mundo subterrâneo. A
Hércules lhe foi pedido que buscasse uma dessas maças durante um de seus onze trabalhos. A
festa de casamento de Zeus e de Hera também se realizou no Jardim das Hespérides, tido
como símbolo de fecundidade sempre renascente.
       É, portanto, por meio desses e de outros mitos e histórias que permeiam o nosso
imaginário que criamos a ideia do que seja um jardim. Percebo-o como um lugar delimitado,
dentro de um ambiente maior, o qual é planejado e organizado conforme os anseios do que ali
se pretende viver. O ambiente virtual se parece com um jardim dado que é um lugar
estruturado. Embora as coisas pareçam estar ao acaso, na verdade são construídas a partir das
experiências e conhecimentos de seus idealizadores. As espécies que habitam o jardim
cibernético vêm de outros lugares, e nada impede que elas se entrecruzem nesse novo
ambiente e que, dessa hibridização, aflorem as mais novas e diversas possibilidades.
19



          Para introduzir cada capítulo o leitor também perceberá que eu lanço mão de poesias.
Elas foram pinçadas da obra O jardim de todos, de Carlos Rodrigues Brandão. Conheci este
autor em uma de minhas andanças por congressos Brasil fora. Encantou-me a maneira ímpar
como esse ilustre professor-pesquisador cantava a experiência humana a partir da metáfora do
jardim. Quando optei por fazer o mesmo neste trabalho, não tive dúvidas de que sua poesia
me ajudaria na tentativa de desfilar meus sentimentos em relação a alguns aspectos de minha
caminhada.
          Passeando por esse jardim, então, comecei a ler vários blogs relacionados com o tema
do ensino de língua inglesa e com o ensino em ambiente virtual. Passei a perceber que o
ambiente específico dos blogs pode ser propício à criação de comunidades de aprendizagem
que cultivem uma postura reflexiva, pois dá chance aos usuários desse serviço de criarem uma
rede de colaboração com leitores e escritores voltada a um assunto que lhes seja interessante.
Um espaço onde podemos apreciar pontos de vista e experiências muito diversas, as quais
podem, inclusive, ser muito distintas de nossas representações.
          Os blogs também se diferenciam de outras ferramentas disponíveis na web por conta
de algumas características especiais, tal como a facilidade de formatação, o modo de
organizar as ideias, a gratuidade e a dinamicidade. Dessa forma, eles podem ser utilizados em
favor de uma formação, que ao mesmo tempo em que é reflexiva e colaborativa, proporciona
aos professores em formação inicial uma experiência efetiva com a língua inglesa em
ambiente virtual.
          Passei, então, a refletir sobre esse contexto específico, com o intento de compreender
de que maneira os blogs poderiam contribuir para a formação mais reflexiva de professores de
língua estrangeira, bem como para o desenvolvimento de comunidades de aprendizagem
online.
          Partindo dessas concepções iniciais em relação ao papel do ambiente digital na e para
a aprendizagem de línguas, construí um blog com a finalidade proporcionar uma experiência
de postura reflexiva e colaborativa em ambiente digital para alunos do curso de Letras de
                                                      _
quatro universidades brasileiras, a saber: UFMT           Universidade Federal de Mato Grosso,
          _                                                 _
UESC          Universidade Estadual de Santa Cruz, UFV          Universidade Federal de Viçosa e
FECILCAM _ Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Campo Mourão.
          Vários estudos (SILVA, 2001; BAKER, GUIGNARD, LUND & SEJOURNÉ, 2008;
ARAÚJO JR, 2008; SALOMÃO, SILVA & DANIEL, 2009) indicam que o ambiente digital
pode propiciar a criação de redes de aprendizagem colaborativa e, se trabalhado para isso,
promover um processo de ensino-aprendizagem na esteira da reflexão. Para que o processo de
20



aprendizagem colaborativa possa ocorrer são necessárias, por igual, alterações profundas nas
relações entre professores e alunos. Há que observar que, inevitavelmente ou felizmente, essas
mudanças já vêm se dando em diversas escalas e proporções, e suas consequências principiam
a fazer parte do cotidiano escolar. Alguns professores, por exemplo, começam a
compreendem que seu papel centralizador está mudando, e também os alunos, de certa forma,
parecem se tornar um pouco mais independentes em relação a seu próprio processo de
aprendizagem. Obviamente, tudo isso comporta inúmeras distinções de contexto.
           A pertinência desse tema é clara, tendo em vista que cada vez mais estudos são
realizados buscando compreender as relações humanas permeadas pelo uso das tecnologias
(LÉVY, 1998 e 1999; MORIN, 2000; CRYSTAL, 2001 e SIGNORINI & CAVALCANTI,
2010), relacionados também com o fazer e com a formação docente para o uso das
Tecnologias de Informação e Comunicação, doravante TIC (LEFFA, 2002; COLLINS, 2004;
JESUS, 2007; MACHADO, 2008 e PAIVA, 2010). Em muitos casos, com o uso específico
dos blogs educativos (GOMES, 2005; RECUERO, 2010).
           Este trabalho sinaliza um momento de discussão e reflexão sobre os blogs e seu
potencial educativo nos cursos de formação de professores de línguas a partir de uma
experiência prática relativa a alunos em formação e a professores do curso de Letras da
UFMT, UESC, UFV e FECILCAM. Os envolvidos participaram, de junho a dezembro de
2010, de um blog educacional intitulado Reflection in Action1, o qual foi idealizado na
expectativa de ensejar aos acadêmicos em formação uma experiência em ambiente virtual,
com vista a potencializar uma comunidade de aprendizagem colaborativa, e instigar a reflexão
acerca de alguns temas discutidos por pesquisadores da área da linguística aplicada e/ou da
educação, especialmente alguns que dizem respeito ao ensino de inglês na escola pública
brasileira.
           Sendo assim, compreendo também ser papel da universidade, dos cursos de formação
continuada e demais cursos de formação de professores promover ou fomentar espaços
reflexivos, tal como um blog, que pode constituir espaço muito interessante para trocarmos
experiências.
           Partindo dos conceitos e questões revitalizadas até aqui, intento voltar meu olhar para
a questão do uso de ferramentas da internet, em especial dos blogs educacionais durante a
formação de professores de línguas, até mesmo para observar de que forma os professores de




1
    http://reflectionaction.blogspot.com
21



línguas em formação inicial constroem sentidos em relação à sua área de atuação e se o blog
apresenta potencial na formação de um profissional mais reflexivo, crítico e colaborativo.
        Assim, o estudo empírico tem sido construído assentado nestas perguntas de pesquisa:


        1- Quais possíveis indícios de processos reflexivos podem ser observados nas
              interações entre os participantes?
        2- De que forma o grupo procurou construir processos reflexivos neste ambiente
              virtual?


        Nesta pesquisa, assumo a metodologia interpretativista, de base netnográfica2, pois
acredito que a netnografia possibilita ao pesquisador compreender a atuação online dos
sujeitos, bem como os processos sociais que os geram, e acaba por desenvolver uma melhor
interpretação das relações que se estabelecem neste ambiente, ao passo que, por sua
característica que vai além da observação, faculta ao pesquisador também participar desse
lugar social que é a internet.
        No primeiro capítulo, metaforicamente intitulado “o adubo teórico”, descortino as
teorias que irão embasar a minha análise. Digo que se trata de adubo, porque foram
justamente esses estudos relativos ao ensino em ambiente digital, e em especial a partir do uso
dos blogs educacionais, a importância do trabalho reflexivo-crítico durante a formação
docente, que alimentaram e fizeram crescer em mim um olhar diferenciado acerca desses
assuntos. Baseio-me nesta empreitada no trabalho de Collins (2004), Gimenez (1999), Gomes
(2005), Magalhães & Celani (2005), Paiva (2010), Primo & Smaniotto (2006), Signorini e
Cavalcanti (2010), Sacristán (2010), Smyth (1992) e Zeichner (2008).
        No segundo capítulo, evidencio as “raízes” metodológicas, trazendo o contexto
pesquisado, a metodologia que fundamentou o trabalho, bem como detalhamento sobre a
coleta de dados, perguntas de pesquisa, os procedimentos e os participantes. Acredito que esse
capítulo pode ser assim intitulado, porque são justamente as raízes que dão sustentação e
articulação a um projeto de pesquisa. Nesse capítulo, procuro montar um painel do jardim de
onde colhi meus textos de campo, os participantes, o contexto de pesquisa e o olhar que lanço
sobre eles.
        No terceiro capítulo, busco mostrar o desabrochar cibernético do blog, através da
interpretação dos textos colhidos no blog e nas demais interações entre o grupo. Procuro dar

2 Baseada em Erickson (1986/1990), no que tange à pesquisa interpretativista, e em Kozinets (2010), no que diz
respeito à pesquisa netnográfica.
22



ênfase à natureza das relações estabelecidas entre os participantes do blog, evidenciando os
indícios de processos reflexivos que surgiram neste ambiente e a forma como o grupo
intentou construir esses processos.
       Finalmente, colhendo os frutos, apresento as limitações deste trabalho, bem como
algumas possíveis contribuições para o ensino e para as pesquisas preocupadas em
compreender o ambiente digital e suas possibilidades educativas.
23



1   ADUBO TEÓRICO


                                                                             tudo, todos e o todo


                                                                  Somos feitos de barro e do fogo
                                                              e por isso somos o desejo e o amor.
                                                                  Fomos feitos de terra e de água
                                                              e assim somos eternos como a vida
                                                                e somos passageiros como a flor.
                                                    Somos a luz a sombra, o claro, a escuridão
                                                       a memória de deus, a história e a poesia.
                                                     Somos o espaço e o tempo, a casa e a janela
                                                      e a noite e o dia, e o sol e o céu e o chão.


                                                               Somos o silêncio e o som da vida.
                                                       O estudo, a lembrança e o esquecimento.
                                                                    Somos o medo e o abandono.
                                                        A espera somos nós e somos a esperança.
                                                 Pois não somos mais e nem menos do que o todo
                                                       e nem somos menos e nem mais que tudo.
                                                  Somos o perene e o momento, a pedra e o vento
                                                     a energia e a paz, a vida criada e o criador.


                                                     Somos o mundo que sente, e irmãos da vida
                                                     somos a aventura de ser vida e sentimento.
                                                    E assim em cada ave que voa há nossa alma,
                                                          e em cada ave que morre, a nossa dor.


                                                                     (Carlos Rodrigues Brandão)




       Um jardim é feito de várias espécies, e sua beleza se revela justamente na diversidade,
no colorido que se contrapõe, e, misturando-se, revela nuanças nunca antes observadas. Parto
dessa linguagem metafórica para trazer à baila os insumos teóricos que fertilizaram minhas
análises, problematizações e discussões e que, de certa forma, no decorrer da caminhada,
balizaram o conteúdo veiculado no próprio blog Reflection in Action. Assim, as sementes em
24



meu jardim foram dispostas em dois canteiros: o primeiro sobre os blogs e o ambiente digital,
e o segundo sobre processos reflexivos na esteira crítica.
       No primeiro canteiro semeio sobre os blogs, especialmente, seu potencial pedagógico
como uma ferramenta/artefato digital para o processo de ensino-aprendizagem de línguas e
também para a formação dos professores de língua estrangeira segundo Buzato (2006),
Gomes (2005), Gomes & Lopes (2007), Komesu (2005), Marcuschi (2005), Paiva (2010),
Primo & Smanioto (2006) e Signorini & Cavalcanti (2010).
       No segundo canteiro, proponho um panorama das correntes teóricas sobre reflexão
docente e discorro sobre algumas perspectivas atuais sobre a formação do professor crítico-
reflexivo e o uso de tecnologias, discorrendo sobre as concepções que historicamente foram
construídas ao redor da expressão reflexão docente, segundo Dewey (1933), Libâneo (2010),
Perrenoud (2002), Pimenta (2010), Sacristán (2010), Schön (1992; 2000). Também alinho
definições e considerações sobre o processo reflexivo, enfatizando como isso poderia formar
um professor mais crítico, seguindo os conceitos de Gimenez (1999), Mateus (2010),
Magalhães & Celani (2005) e Zeichner (1994). Apresento, posteriormente, as contribuições
que uma prática reflexiva traria ao processo de ensino-aprendizagem em ambiente digital,
especialmente nos blogs.
       Gostaria de observar que este estudo se insere nos estudos da Linguística Aplicada e
que, tal como defendem Bastos & Mattos (1993), o enfoque dos trabalhos nesta área não é o
de resolver problemas, mas sim o de explicar fenômenos, problematizar o que já está
instituído. Sendo assim, este trabalho buscará discutir, com a ajuda de um aporte teórico,
como o jardim cibernético constitui novas formas de aprender e ensinar.



1.1 Primeiro canteiro: blogs, um jardim cibernético em plena primavera



       Os blogs nascem da necessidade humana de interação, ou seja, são essencialmente
sociais. Fumero (2005) assevera que esta tecnologia, como todas, voltar-se-á para seu criador,
o homem, tendente a mudá-lo, gerando novas formas de relação social e novas convenções
que surgirão de sua utilização. Atualmente o número de blogs cresce vertiginosamente entre
25



os internautas do mundo todo3, e a escola, por sua vez, passa a enxergar, nessa ferramenta,
certa potencialidade educativa.
        Eles tiveram sua origem mais especificamente na década de 90, nos Estados Unidos,
onde jornalistas e pessoas ligadas à informática começaram a elencar o que mais gostavam no
mundo virtual por meio de listas de links. Blood (2000) propõe um histórico relatando que ela
era uma das pessoas que começaram a usar seu site pessoal, no final da década de 90, para
postar pequenos pensamentos, comentários, textos. Conforme a Wikipédia4, John Barger
inaugurou, em 1997, o termo weblog (diário de bordo da rede), começou a postar pequenas
notas de cunho pessoal em seu site sobre o conflito israelense-palestino. Contudo, foi 1998,
em sua página pessoal, que Peter Merholz, propôs a frase “we blog”, inaugurando a utilização
do verbo blogar. Embora, no final da década de 90, já houvesse alguns aplicativos na rede,
cujas ferramentas davam ao usuário certa facilidade de criação, editoração e manutenção de
seus blogs, ainda era necessário saber, em muitos casos, como fazer programação em HTML5
para criar seu blog. Foi somente no ano de 1999, com a criação do software Blogger, pela
empresa Pyra Lab, que os blogs se espalharam-se na rede. O software dispensava, no caso, o
conhecimento de linguagem de programação, oferecendo aos usuários facilidade de criação,
editoração, publicação e gratuidade. Era o que faltava para que um número cada vez maior de
usuários se sentisse à vontade para ter e manter seus blogs.
        Passados mais de 10 anos desde o surgimento do blogger.com, pesquisas em sites
especializados, embora não tenham valor acadêmico, medem a blogosfera mundial e acabam
traçando um perfil deste espaço online. Geograficamente falando, conforme o site Technorati,
em 2010, dos 70 milhões de blogs no mundo, somente 8% pertenceriam aos latino-
americanos. O perfil dos usuários seria composto por uma maioria de jovens e adultos, sendo
que 65% teriam entre 18 a 44 anos e, dos quais dois terços seriam homens. O nível de
escolarização também chama atenção: 43% teriam dito possuir nível superior6.



3
  No início eram somente especialistas em informática que o utilizavam, até que, em 1999, a mais famosa
ferramenta de produção e hospedagens de blogs até hoje foi lançada, o Blogger.com. O ano de 2002 também foi
marcante, pois, com a criação da Web 2.0, outras ferramentas como Facebook, Myspace e o Twitter, (atualmente
são as mais populares), têm sido disseminadas no contexto brasileiro, evidenciando o caráter social da internet.
4 Fonte: Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog>. Acessado em 27 set. 2011.
5 HTML (acrônimo para a expressão inglesa Hyper Text Markup Language, que significa Linguagem de
Marcação de Hipertexto) é uma linguagem de marcação utilizada para produzir páginas na Web. Fonte:
Wikipedia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/HTML>. Acessado em 27 set. 2011.
6 Sobre os demais blogueiros, 33% deste total estariam nos Estados Unidos da América, 38% no restante da
América do Norte, 19% seriam europeus e o restante, 2%, em outros países. Fonte: Site Technorati. Disponível
em: <http://technorati.com/blogging/article/who-bloggers-brands-and-consumers-day/>. Acessado em 27 set.
2011.
26



        Embora os números possam nos chamar a atenção, não menos importante é observar
as possíveis motivações para o surgimento e a manutenção das redes sociais na
contemporaneidade. Sibilia (2008), por exemplo, defende que os textos (auto) biográficos e os
diários íntimos seriam os primos românticos dos blogs. Assim, os blogs seriam uma espécie
de ressurgimento deste ato impulsivo de as pessoas revelarem sua intimidade.
         Entretanto, penso ser interessante relativizar esse desejo de mostrar a intimidade e, até
mesmo, em que ponto isso ocorre na rede. Não que essa não possa ser uma das motivações,
mas me preocupa o olhar leigo, no que tange à crença7 de que, por ter esse tom intimista, os
textos que circulam nos blogs encartam a realidade ipsis litteris da vida de seus escritores ou
de qualquer um que seja. Baseio-me em Lejeune (1994) e Foucault (1996, apud KOMESU,
2010, p. 349)8 para asseverar que esse tom intimista e revelador funciona, na verdade, como
um dos ingredientes entre o escritor do blog e seu público-leitor no processo de produção e
leitura do texto, vincando que, não necessariamente, estes textos produzidos nos blogs trariam
“a verdade”, até mesmo, como afirma Maciel (2004), “os gêneros confessionais são, como
qualquer discurso, uma produção humana entrecortada de ficção”.
        Por isso, observo que tanto as redes sociais, quanto os programas de TV (reality
shows), ou a expressiva vendagem de livros dos gêneros confessionais, podem até ser
interpretados como um culto ao individualismo, a subjetividade, e especialmente ao “ser
diferente”. No entanto, mais do que isso, acredito que essas “novas-antigas técnicas da
confissão” são, tal como defende Foucault (1976, apud SIBILIA, 2003, p. 144-147),
modalidades de construção da “verdade”.
        Diante da sucinta contextualização, surgem dúvidas do que seriam os blogs, ou como
poderíamos enquadrá-los dentro do escopo comum aos estudos relacionados com a
linguagem. Seriam os blogs gêneros textuais? Como poderíamos delimitar o objeto de estudos
blog? Será que, em sua maioria, são jardins em que se cultiva grande diversidade de espécies
de maneira organizada ou será que tudo se dá quase ao acaso?
        Creio que, primeiramente, em virtude das ressignificações possibilitadas pelo advento
do uso da linguagem em ambiente digital, inúmeros gêneros textuais têm aflorado e/ou sido
renovados nesse novo contexto discursivo, e também ganharam, observando pela óptica
bakhtiniana (2000), novas características estilísticas e composicionais. Conceituar o que seja

7
  Aqui a palavra crença é utilizada no sentido do senso comum.
8
  Lejeune (1994), por sua vez, explica que há entre o leitor e o escritor um “acordo” de legitimidade ou, nos
termos dele, um “pacto autobiográfico”, a qual se entende como uma atitude na hora da leitura onde quem
escreve se compromete em ser sincero e quem lê passa a buscar fatos externos para comprovar essa suposta
verdade. Foucault (1996) contribui neste aspecto pontuando que um dos mecanismos de exclusão que atravessa
o discurso é a vontade da verdade, que faz com que o sujeito se constitua, assim como seu enunciado.
27



um blog, conforme Gomes (2005, p. 312), não parece ser muito consensual, uma vez que ele
oferece uma diversidade de formas e objetivo, conectados aos mais diversos contextos, de
seus também diferentes criadores. Acrescento também que diversas são as lentes teóricas que
podemos usar para observar esse mesmo objeto, as quais contribuem no sentido de ampliar a
gama de possibilidades.
       O que se observa nos blogs é que praticamente todos os gêneros que circulam no
ambiente digital podem estar presentes lá, como o chat, a enquete, a poesia, o conto, a
propaganda, a crítica, entre outros. Assim, há quem compreenda o blog como um suporte para
esses diversos gêneros distintos (PEREIRA, 2007), como um gênero híbrido (KOMESU,
2005) ou, nos termos cunhados por Bakhtin (2000), como um gênero secundário, que
absorveria por sua vez gêneros primários (LIMA, 2008b), sem perder sua característica
principal, funcionando tal como num romance que contenha, por exemplo, uma carta,
registrando que a carta, exemplarmente, tem seu propósito subordinado ao gênero secundário
romance. É como se concebêssemos que a crônica veiculada por meio do blog fosse
subordinada ao gênero secundário blog.
       Os blogs, assim, têm se mostrado um espaço ou suporte, ou um gênero, que tanto têm
servido para os gêneros já consagrados dentro das diversas esferas de produção, quanto para
os que estão se reinventando neste novo contexto de produção. Penso que, no caso desta
pesquisa, mais importante que discutir se os blogs são ou não gêneros, buscando categorizá-
los e enquadrá-los, está a necessidade de observar de que forma as pessoas se servem deste
dispositivo de linguagem para se relacionar neste contexto. Acrescentaria que eles são
também, na qualidade de software, uma ferramenta para a editoração dos mais variados
gêneros. Assim, as postagens são, no meu conceito, o espaço onde se veiculam diversos
gêneros, que vão desde uma poesia até tutoriais ensinando as pessoas a costurar, por exemplo.
Já os comentários são, a meu ver, também gêneros distintos, que se assemelham muito aos
gêneros orais, tal como o debate. A grande diferença entre o leitor de jornais impressos e o
dos blogs é que estes são mais impelidos a dar sua opinião, uma vez que dispõem, inclusive,
de espaço para isso. Os comentários do leitor do jornal impresso, de sua vez, poderiam se dar
na presença de outra pessoa, nos monólogos silenciosos, ou nas cartas de leitores, por
exemplo.
       Em contrapartida, para Marcuschi (2005, p. 29), os blogs são entendidos como um
gênero, mais especificadamente “como diários pessoais na rede; uma escrita autobiográfica
com observações diárias ou não, agendas, anotações, em geral muito praticados pelos
adolescentes na forma de diários participativos”. Ele ainda compara o blog ao e-mail,
28



observando que naquele existe mais liberdade e menos preocupação com a pontuação e/ou
com os aspectos morfológicos. Acredito que Marcuschi tenha dado sua contribuição, mas
acaba não levando em consideração a amplitude que os blogs têm assumido na rede,
desconsiderando, por exemplo, outros tipos/funções que atualmente são possíveis e muito
usados tal como os blogs políticos, jornalísticos, para vendas, em meio a outras inúmeras
possibilidades.
       O blog é observado como um gênero discursivo ou como um gênero híbrido também
por Komesu (2005), baseando-se nos construtos teóricos da Análise do Discurso de linha
francesa. Ela propõe um trabalho que busca compreender os efeitos de poder provenientes de
enunciados que são criados numa condição histórica que privilegia a exposição exacerbada da
intimidade no domínio público. Seus estudos são feitos a partir da aproximação de enunciados
intergenéricos para levar-nos às semelhanças, bem como os possíveis traços estilísticos do
gênero em apreço. A pesquisadora estabelece, portanto, que existe uma aproximação entre os
blogs e os diários íntimos. Porém, ressalta diferenças endossadas pelo contexto diverso de
produção (dos diários íntimos no século XIX e dos blogs, contemporaneamente), a saber:
enquanto os escritores de diários íntimos escreviam para a historização de si mesmos, os
blogueiros são impelidos a falar de si para os outros, com o intuito de se mostrar, de “fazer-se
ver e ser visto”, numa relação permeada pela instantaneidade mediada pelo computador. Por
isso, dentre algumas de suas constatações, Komesu afirma:


                        Acreditamos que as atuais condições de produção dos discursos fazem com que o
                        modo de enunciação dos escreventes dos blogs esteja muito mais próximo ao do das
                        páginas eletrônicas (home pages ou websites) pessoais da internet do que ao do
                        modo de enunciação dos escreventes dos diários íntimos.
                       (KOMESU, 2005, p.155)



       Em pesquisas posteriores, Komesu acrescenta que, embora muitos blogueiros sejam
movidos ainda pelo desejo narrativo do “eu”, com conteúdo temático ligado ao cotidiano, às
relações familiares e afetivas, o foco dos blogs atualmente está se voltando para as atividades
profissionais, para o marketing pessoal nas redes sociais e na monetização da informação
propagada na rede. Assim, também os microblogs, tais como o Twitter (que só permite
postagens de, no máximo, 140 caracteres), têm sido usados para divulgar, por exemplo, a
insatisfação de determinado grupo social ou nacional diante de aspectos políticos. Os
microblogs, assim como os blogs, constituem espaços discursivos em que se apresentam
29



“efeitos de sentido (poder) resultantes das relações entre linguagem e novas tecnologias”.
(KOMESU, 2010, p. 345).
       Quando observamos nosso objeto de estudo e suas várias facetas, no meu modo de ver,
podemos refletir mais atentamente para as limitações desenvolvidas no decorrer da
caminhada. Dessa forma, trago para o seio da discussão as pesquisas desenvolvidas na área
da Comunicação (PRIMO & SMANIOTTO, 2006; PRIMO, 2008), que tendem a observar os
blogs com outro olhar, que apontam que eles não são, necessariamente, ou tão somente, um
gênero discursivo, nem mesmo enunciados intergenéricos. Penso ser interessante
compreender, mesmo que sucintamente, como outras áreas, tal como a Comunicação ou
Jornalismo compreendem e ressignificam essas novas práticas de uso da linguagem, pelo
motivo de alargar um pouco nosso campo de visão acerca do mesmo tema.
       Primo & Smaniotto (2006) são pesquisadores que elucidam claramente que o termo
blog pode fazer referência a um texto, a um espaço, mas também a um programa da internet.
Ele esclarece que, embora os programas como o Blogguer ou o Wordpress, exemplificando os
mais usados atualmente no Brasil, possam ajudar na produção e manutenção de um blog, eles
podem ser substituídos por qualquer programa, até mesmo os mais convencionais, para fazer
sites pessoais (os quais usam outras linguagens de programação como HTML, PHP, MySQL,
FTP, etc.). O pesquisador explicita, nesse diapasão, que:


                        Mesmo reconhecendo os condicionamentos da materialidade do meio, é preciso
                        enfatizar que o blog/texto não é estritamente determinado pelo blog/programa. As
                        ferramentas de blog normalmente não determinam um limite máximo de caracteres
                        por post. Como o blog/programa não pode compreender o que é publicado (se trata-
                        se de uma poesia, uma foto, ou um conjunto aleatório de caracteres), já que a
                        semântica lhe é estranha, não pode impor que os posts sejam necessariamente curtos
                        nem que sigam um certo gênero discursivo. Logo, as definições de blogs como
                        publicação de microconteúdo ou como diário íntimo na Internet revelam suas
                        limitações, pois relacionam um tipo específico de blog/texto ao uso do
                        blog/programa.
                       (PRIMO & SMANIOTTO, 2006, p. 2)


       Portanto, como bem descrevem os autores, essa possibilidade de agregação de todo e
qualquer gênero textual em um blog não o faz parecer necessariamente com os diários, antes
faz com que eles tenham mais características em comum com os sites pessoais, onde o usuário
“os recheia” com os mais variados gêneros, muitas vezes multimodais e multimidiáticos e
estabelece links com publicação que não são necessariamente de sua autoria. Isso sem contar
o papel fundamental dos comentários, que fazem parte do processo enunciativo, e que podem
ser considerados outro gênero, mas que estão dentro do blog, sendo característica marcante
30



dele, e até muito mais interessantes para nossa pesquisa, ao passo que acreditamos residem
nos comentários boa parte dos processos reflexivos.
        Também é interessante pontuar que, não raro, o conteúdo dos blogs acaba se
desvinculando de sua plataforma inicial e finda por fazer parte de outros espaços por meio dos
recursos de feed9, que podem ser compreendidos como pontos de agregação de informação
que circula na rede. O usuário, portanto, não precisa visitar o blog para ler seu conteúdo, pois
ele estará disponível, por meio desses recursos como os feeds (RSS10, por exemplo) em outros
lugares da rede.
        Recuero (2003, apud PRIMO & SMANIOTTO, 2006), por sua vez, incorpora uma
tipologia um pouco diferenciada, que, a meu ver, apresenta uma caracterização um pouco
mais abrangente do universo da linguagem dos blogs, podendo ser:


                           a) diários, tratam basicamente da vida pessoal do autor; b) publicações,
                           comentários sobre diversas informações; c) literários, os posts trazem contos,
                           crônicas ou poesias; d) clippings, agregam links ou recortes de outras publicações;
                           e) mistos, misturam posts pessoais e informativos, comentados pelo      autor.”
                            (RECUERO, 2003 apud PRIMO & SMANIOTTO, 2006, p. 3)


        Já a definição abaixo, talvez, se revele mais esclarecedora. Acrescento entretanto que,
embora as postagens obedeçam a uma ordem cronológica, hoje, a maioria dos programas que
hospedam os blogs possibilita aos usuários mostrar o arquivo daquilo que já foi postado tanto
em ordem ascendente como descendente.


                           De modo geral, o “blog” ou blogue (em uma versão mais próxima à grafia
                           portuguesa), é uma página comparada a um diário virtual, uma vez que apresenta
                           registros freqüentes de informações, atualizados por meio de inserção de mensagens,
                           mais conhecidas como posts, e cuja apresentação obedece à ordem cronológica
                           ascendente (inicia-se a página pelo post mais atual). Os posts podem pertencer ou
                           não ao mesmo gênero de escrita, fazer referência ao mesmo assunto ou ter sido
                           escrito pela mesma pessoa ou por pessoas diferentes, isso vai depender de
                           divulgação, interesse e aceitação do usuário proprietário do blog para publicação do
                           comentário. O blog é caracterizado pelo tom informal e pela diversidade de temas
                           que pode abordar. Como pode ser escrito por uma ou mais pessoas, costuma
                           expressar uma gama ampla de idéias e opiniões.
                           (RODRIGUES, 2008, p. 43)


9
  Feed (vindo do verbo em inglês "alimentar") é um formato de dados usados para distribuir informação na rede
no momento em que o conteúdo é atualizado. É frequentemente usado em sites de notícias ou blogs. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Feed. Acessado em 27 set. 2011.
10
   RSS é um subconjunto de "dialetos" XML que servem para agregar conteúdo ou "Web syndication", podendo
ser acessado mediante programas ou sites agregadores. É usado principalmente em sites de notícias e blogs.
A abreviatura do RSS é usada para se referir aos seguintes padrões: Rich Site Summary (RSS 0.91), RDF Site
Summary (RSS 0.9 e 1.0), Really Simple Syndication (RSS 2.0). Fonte: http://pt.wikipedia.org. Acessado em 27
set. 2011.
31



          Os blogs são, em meu entendimento, páginas na internet que se assemelham às home
pages comuns, porém o que os diferencia são aspectos como a facilidade de diagramação, a
gratuidade, o aspecto dinâmico, plástico, hipertextual e hipermidiático, uma vez que abrigam
além de texto, imagens, links, vídeos e músicas, por exemplo. Os blogs também dão o ensejo
ao visitante, ou aos seguidores, de poderem acessar todas as postagens e comentários que
foram feitos desde a sua criação, a partir do histórico das postagens, além de discutir o
assunto que esteja sendo veiculado (se assim permitido pelo autor do blog) com comentários.
O histórico das postagens se auto-organiza normalmente em ordem cronológica ascendente,
ainda que os sites que hospedam os blogs, atualmente, possibilitam aos blogueiros, como são
denominados os usuários dos blogs, inúmeras maneiras de dispor a informação. Os blogs
podem ser tanto individuais quanto coletivos, e os assuntos são tão variados quanto o desejo
de seus usuários. Embora, a princípio, o estilo e os gêneros dos textos produzidos tenham
certa proximidade com o diário íntimo, hoje, a pluralidade de funções, estilos e gêneros é algo
latente no universo dos blogs.
          De posse dessas tentativas de definição, interessantes que são, pois ajudam os
pesquisadores a olhar com mais perspicácia seu objeto de estudo, ficam estas perguntas: como
usar os blogs no processo de ensino-aprendizagem de línguas? Como fazer isso na escola?
Como fazê-lo sobretudo na escola pública?
          A escola tende a incorporar em suas práticas cotidianas as TIC11. Assim como outras
ascensões, (re)produções e disseminação de informação que tiveram como berço a internet, os
blogs estão sendo incluídos no processo de ensino-aprendizagem como ferramentas que
dinamizam o processo e possibilitam novas formas de interação e de trabalho. Isso se dá tanto
pela pressão social quanto pela necessidade de incluir nas aulas, práticas que satisfaçam os
anseios dos próprios estudantes, deixando-as em sintonia com as expectativas da classe
estudantil.
          Podemos denotar certo incentivo governamental para que isso ocorra, especialmente
com as tentativas de massificação de laboratórios de informática ligados à internet nas escolas
públicas, como o proposto pelo Programa ProInfo do Governo Federal, ou com as políticas de
inserção desses laboratórios levadas a cabo pelos governos estaduais e municipais. Em
portais oficiais como Portal do Professor12, desenvolvido e monitorado pelo Ministério da
Educação e Cultura, observa-se uma tentativa de organização do material disponível na rede



11
     Tecnologias de Informação e Comunicação.
12
     http://portaldoprofessor.mec.gov.br
32



para os professores. Também é pulsante a movimentação social e governamental em prol do
letramento digital, da inserção de grupos sociais na dinâmica virtual.
       Segundo Paiva, (2010, p. 3), há uma tendência internacional para que as políticas
governamentais persigam a criação de redes digitais e a informatização. “Os governos no
mundo inteiro estão preocupados em possibilitar o acesso às tecnologias digitais a todas as
camadas das populações, especialmente no setor educacional.” Entretanto, como
posteriormente afirma essa pesquisadora, parece que os esforços governamentais
aparentemente não estão convergindo na apropriação de tecnologia por parte dos professores,
ao menos de maneira não tão rápida, tal como a sociedade e o governo parecem esperar.
       Vale a pena ressaltar que esse descompasso entre os anseios da sociedade capitalista e
a apropriação da escola e dos professores de novas tecnologias e/ou novas formas de ensinar é
passível de ser relativizado. Baseada em Bax (2003), Paiva (2010) frisa que a apropriação das
novas tecnologias pelos professores se sucede processualmente, e oferece-nos até um
esquema dos estágios de normalização das tecnologias. Por isso, o uso dos computadores e de
suas ferramentas ocorrerá de maneira processual, mas não necessariamente com todos os
profissionais, muito menos ao mesmo tempo, uma vez que são vários os fatores que
concorrem para que essa normalização do uso ocorra.


                        [...] será inevitável a convivência com as tensões e ciclos concomitantes de adeptos
                        iniciais, resistências, tentativas, medo ou veneração, normalização ou morte de uma
                        tecnologia. Enquanto alguns professores já se apropriaram do Orkurt, Second Life, e
                        Twitter para fins educacionais, a maioria ainda não tem blog nem página pessoal e
                        mal usa o e-mail. Muitos demandam programas de capacitação e outros preferem se
                        manter à margem das inovações.
                        (PAIVA, 2010, p. 8)


       Falando em exemplos práticos, se mergulharmos na rede, facilmente encontraremos
blogs de alunos e professores, tanto individuais quanto coletivos. Seja nas escolas seja nas
aulas dos professores que buscam aportar para o ambiente escolar, ferramentas como os blogs,
isso vem se caracterizando como uma prática corriqueira. Hoje, observamos, por exemplo,
blogs de professores que buscam expor na rede seu perfil, suas aulas, suas opiniões, suas
sugestões, enfim, um recorte de seu trabalho docente. Temos alunos criando blogs individuais
e coletivos, por “incentivo” do professor, para a apresentação e desenvolvimento de trabalhos
de pesquisa, para manter um portfólio de seu desenvolvimento intelectual, entre outras coisas.
Os blogs podem ser de uma disciplina específica ou transdisciplinares e acabam sendo uma
representação na rede de escolas, grupos sociais, grupos de alunos, grupos profissionais, em
meio a outros.
33



         Em decorrência dessa ânsia pelo uso das TIC em sala de aula, alguns estudos têm
contribuído para entendermos como e em que proporção essas novas ferramentas têm sido ou
poderiam estar sendo utilizadas em prol da melhoria do processo de ensino-aprendizagem, no
contexto brasileiro atualmente. Embora não sejam abundantes as pesquisas relacionadas com
o uso pedagógico dos blogs, já temos, no meio acadêmico, trabalhos que levam em linha de
conta as possibilidades do uso deles na ressignificação desse processo, tanto de língua
materna quanto de língua estrangeira.
         Rodrigues (2008) é um bom exemplo disso. Partindo do pressuposto que os recursos
tecnológicos dos quais algumas escolas já dispõem não têm sido explorados a contento,
propôs duas tarefas de produção de texto, as quais utilizavam os blogs como lugar de
publicação. Assim, tal como Gomes & Lopes (2007), suas observações levaram-na a
compreender que, quando o professor formata o blog, centralizando seu uso, pedindo ao aluno
que simplesmente entre no blog e escreva o que o próprio professor propôs e delimitou, ao
invés de uma prática ressignificada, há um engessamento do cotidiano escolar.
         Lanza (2007), por sua vez, utilizou o blog como material didático no ensino de língua
espanhola em sua pesquisa. Ela organizou uma tarefa que utilizava blogs pré-selecionados,
como fonte de informação. A autora criou um banco de blogs que possuíam textos ligados à
realidade social brasileira, aos temas transversais e que são, por natureza, autênticos. Ela
conclui que o blog é um ótimo material didático (se assim concebido), mas que, ao mesmo
tempo em que tem essa qualidade de ser atualizado, também é volátil, pois seus usuários
podem simplesmente deixar de atualizá-los, tornando-os inativos, ou até mesmo excluir sua
conta.
         Na pesquisa de Kosikoski (2007), a qual envolve a ato de escrever em língua
estrangeira, o blog é tido, na representação dos alunos de língua inglesa do ensino médio e da
pesquisadora, como uma interface diferenciada e mais produtiva no quesito “interação”
durante o processo de escrita. A pesquisadora contrasta o ato de escrever em diferentes
“interfaces” propondo atividades de produção textual que tinham, como objetivo, preparar o
aluno para o mercado de trabalho. Quando essas atividades eram feitas na interface papel, as
dificuldades de escrita, conforme a pesquisadora, pareciam aflorar, enquanto que, usando o
blog como interface, os alunos experimentaram não só nova forma de interação entre eles,
mas entre os alunos e a ferramenta blog, e entre eles e a internet.
         O trabalho de Gomes (2005) defende a ideia que blogs educacionais podem ser usados
tanto como ferramenta quanto como recurso e/ou também como suporte para a publicação de
textos. O blog educacional em seu caráter de ferramenta, é visto como aquele que abre uma
34



dinamização dos processos de pesquisa, enfatizando o processo de filtragem e observação da
relevância da informação. Pode também, conforme a autora, ser apreendido na condição de
recurso, porque faculta a prática colaborativa, a criação de comunidades de aprendizagem e
certa descentralização da figura do professor no processo de ensino-aprendizagem. Pode,
ainda, ser simplesmente o suporte para a publicação de textos escritos na escola em práticas
de produção textual que não necessariamente se utilizam das outras possibilidades que o blog
proporciona aos seus usuários, podendo neste caso ser comparado a um mural virtual.
        Observando toda essa movimentação das/nas redes sociais é que Fumero (2005)
sinaliza que os blogs são, entre outras ferramentas, marca fortíssima da tendência de
socialização da rede, o que, para ele, seria o primeiro passo para nos tornarmos a verdadeira
“Sociedade da Informação”, onde o ciberespaço não é considerado como algo para viver além
da vida cotidiana, mas como mais um espaço de desenvolvimento da experiência humana
social em sua totalidade.
        Justapondo-se a este ponto de vista temos também Signorini & Cavalcanti (2010, p.
423) que apresentam algumas das perspectivas a serem observadas quando lidamos com
artefatos tecnológicos. As autoras apontam que é relevante, na pesquisa sobre os artefatos
tecnológicos, compreender este fato:


                           1-      Eles são desenhados e construídos por pessoas13, portanto não são naturais,
                           neutros, dados e, que eles são carregados, tal qual como qualquer uso linguístico, de
                           interesses, valores, (pré) conceitos;
                           2-      Sua materialidade é forjada e determinada dentro de um dado contexto
                           histórico e social, fazendo-os desta forma, integradores de uma certa comunidade, de
                           um certo discurso, marcado no tempo e no espaço;
                           3-      São feitos a partir de uma multiplicidade de componentes, o que não os
                           fazem uniformes, mas pelo contrário, frágeis e fragmentários. É necessário integrar
                           e articular as suas diversas “peças”, para que eles funcionem14;
                           4-      Reconfiguram-se o tempo todo, desde o seu “nascimento” até a sua alteração
                           drástica, quando se transforma em outro artefato ou “desaparecem”. Essa
                           característica mutável é dada pelo fato de que as tecnologias coexistem e coevoluem
                           e, também porque inúmeras adequações e adaptações são criadas pelos usuários.


        Portanto, quando observo o espaço dos blogs, vejo que eles são, por excelência,
criadores de e criados por comunidades discursivas15 na rede. Um espaço onde justamente as


13
   Grifo meu.
14
   Grifo meu.
15
   Embora este não seja o enfoque do trabalho, penso ser importante balizar teoricamente dentro de quais termos
trago a expressão Comunidade Discursiva (doravante CD). Um dos autores que é deveras citado em se tratando
da locução CD é John Swales (1992), o qual inclusive propõe critérios para delimitar o que seria e o que não
seria uma CD. Após inúmeras reformulações conceituais, Swales (1998, apud Lima, 2008a) estabeleceu que
trabalharia com a expressão CD local, que compreenderia “um grupo de pessoas que trabalhariam juntas
(embora nem sempre), possuindo geralmente um nome, consciência dos papéis designados a cada membro, um
35



práticas sociais ocorrem. Sendo assim, eles não podem ser observados tão somente como um
“ponto de encontro” na rede, visto que, como bem pontuam as autoras supracitadas, a
materialidade linguística dos blogs só ocorre (e só poderia se dar) dentro daquele contexto
histórico e social, sendo forjada para tal.
        Os blogs, também se exibem com chances de gerar resultados significativos no que
tange à qualidade dos textos produzidos, da quantidade de leituras feitas, do serviço de
pesquisa e seleção de fontes, enfim, de contribuir para o letramento digital dos alunos, desde
que haja um real e coletivo envolvimento dos sujeitos em sua produção. Rodrigues (2008), em
sua pesquisa, enfatiza que, além do trabalho com novas práticas de ensino, o que mais se
modifica nessa nova relação professor-aluno-escola-tecnologia ao usar blogs, por exemplo, é
que nós, professores, deixamos de ser o centro do processo, ou aquele para quem
(unicamente) se escreve e o qual avalia. Um novo perfil, o de professor orientador, o de leitor
críticos dos textos parece estar sendo requisitado pela nova prática social.
        Acrescento que os blogs, de igual maneira, podem ser justificados nas aulas de língua
estrangeira, por atenderem a um dos grandes desafios enfrentados durante o processo de
formação docente dos professores de língua, que é a questão do uso da língua escrita
significativamente. Não bastasse, os blogueiros podem visitar e ser visitados por usuários da
internet que não pertençam necessariamente ao ambiente escolar, ampliando, assim, as
fronteiras do ambiente escolarizado, fazendo com que ele se aproxime do uso real da língua
na/pela sociedade em geral.
        Embora ainda haja muita resistência da comunidade escolar e da sociedade em geral
quando o assunto é educação a distância e/ou em ambiente virtual, de certa forma elas têm
crescido, em decorrência do já exposto panorama histórico vivenciado por todos nós. Dados
de 2010 da Associação Brasileira de Educação a Distância relatam que já são mais de 200 as
instituições que oferecem cursos e, mais de dois milhões de alunos matriculados16. A
educação a distância cresce significativamente em nosso país. Em adendo, a busca por uma


conjunto de gêneros, ritmo de trabalho e vocabulário próprios e uma consciência de sua história”. Finalmente,
Lima (2008b), em estudos sobre blogs e CD, propôs um realinhamento da teoria swalesiana, defendendo os
seguintes termos: CD global seriam “redes sóciorretóricas amplas formadas a partir de múltiplos subgrupos
organizados hierarquicamente e interelacionados entre si por um ou mais objetivos, gêneros, valores e léxico
comuns”. Já uma CD local seria “um grupo menor pertencente a uma comunidade com quem compartilha
objetivos, valores, léxico e gêneros, mas que no entanto apresenta em sua constituição traços próprios relativos a
essas categorias, o que identifica como um grupo menor formado a partir de objetivos, valores, léxico e gêneros
específicos, podendo também ter uma hierarquia própria, sempre situando-se no todo hierárquico maior da
comunidade global a que pertence”. Desta forma, alio-me ao conceito reformulado por Lima e me baseio nele ao
compreender o blog Reflection in Action como uma CD local e também global.
16
   Fonte: Censo ead.br / organização Associação Brasileira de Educação a Distância Disponível em
<http://www.abed.org.br/censoead/CensoEaDbr0809_portugues.pdf>. Acessado em 25 nov. de 2011.
36



formação docente alicerçada na colaboração em rede tem sido algo almejado, tanto por quem
trabalha com esse segmento educacional quanto por quem trabalha com o ensino presencial.
Zulian (2003) já considerava que as TIC tinham um potencial afirmativo na formação
docente, ao passo que possibilitam ressignificações das metodologias utilizadas no processo
de aprendizagem, das relações interpessoais, bem como do papel da universidade neste
contexto. Entretanto, ainda são inúmeras as dúvidas que pairam no ar quando o assunto é a
formação de professores diante dos desafios da dita pós-modernidade. Eu adiciono a estas
perguntas: como os blogs poderiam ajudar nessa empreitada?
       Reichmann (2009) descortina um interessante estudo relativo a narrativas de formação
em blogs reflexivos, relatos e diários na formação de professores de língua estrangeira.
Conforme a autora, o espaço do blog foi capaz de proporcionar aos professores em formação
uma ressignificação de objeto de estudo e de si mesmos, pois permitiu-lhes reposicionar-se
em sua própria história narrada. Nesta pesquisa, a autora também observou que as postagens
(as quais foram escritas em língua materna) favoreceram o processo de ensino-aprendizagem
de língua estrangeira, revitalizando o ensino presencial e a sala de aula, pois construíram
significados e ampliaram o lugar do aluno neste contexto específico.
       Já Machado (2008), em sua pesquisa sobre a formação de educadores e o uso de blogs,
compreendeu que é importante, quando trabalhamos e/ou produzimos blogs de cunho
educacional, redigir as postagens e/ou os comentários com “bases de argumentação, troca de
ideias, experimentação, ousadia [sem temer os riscos], interpretação, análise, crítica, síntese e
proposição de hipóteses que sejam perenes” (idem, p.103). Conforme o autor, o conteúdo
discutido no blog fará parte de uma grande base de dados e se tornará referência na internet,
podendo ser acessado por mecanismos de busca como o Google, por exemplo. Por esse
motivo, o pesquisador advoga que os educadores ainda carecem de esclarecimentos,
informações e de um uso mais corrente das tecnologias, evidenciando que a própria internet
pode ser um canal de formação continuada, de busca e de trocas de experiências relevantes.
        A pesquisa desenvolvida por Fonseca (2009) investigou a relação dos professores
com os blogs, enfatizando as dificuldades mostradas por eles, além de observar o
relacionamento dos ainda alunos com a ferramenta. Dentre suas averiguações, Fonseca aponta
a falta de estrutura física tecnológica da escola pública brasileira que, mesmo tendo
laboratórios de informática, em virtude da falta de manutenção e de técnicos de suporte,
acabam por se tornar sucata e inviabilizar o trabalho de professores e alunos interessados em
se inserir no ambiente digital.
37



        A autora supracitada também tece crítica a programas de formação digital, como o
caso do ProInfo, mantido pelo Governo Federal. Ela o considera um projeto insipiente, uma
vez que, mesmo tendo como objetivo equipar 100% das escolas básicas com laboratórios de
informática, não capacita os professores (acentuando que ela observa que muitos também não
buscam sua capacitação), nem dá suporte técnico especializado para a manutenção desses
laboratórios. O Brasil parece ter longo caminho a percorrer no que tange à informatização das
escolas e à inserção da comunidade no ambiente digital.
         Outra observação de Fonseca, que cabe inclusive à nossa proposta de blog
colaborativo, é que as práticas de inserções de Processos Imperativos17 num blog que busca
ser colaborativo “destoam da proposta e acabam por afastar os alunos” (idem, p.117). O
professor tem que ter uma postura pró-ativa. De nada adianta, na opinião de Fonseca, termos
blogs educativos que não proporcionem a interação, as buscas, as descobertas. Caso contrário,
teremos blogs/livros didáticos no velho estilo “donos da verdade”, que de nada se parecerão
com a proposta criada pelos grupos sociais que a princípio os desenvolveram e os utilizam
contemporaneamente.
        Atentando para as pesquisas e para a produção teórica que vem sendo desenvolvida
sobre o assunto blogs em diversas universidades, fica clara a preocupação em perceber como
essa ferramenta pode ser incorporada em sala de aula de língua materna e língua estrangeira,
pontuando que o objetivo mais recorrente parece ser este: envolver o uso de blogs com a
prática de escrita para alunos de ensino médio. Porém, são ainda raras as pesquisas que dão
conta dos blogs como promotores de um ensino mais reflexivo e colaborativo. Esta pesquisa
se torna válida, uma vez que buscará averiguar como os blogs podem ser uma ferramenta
utilizável na formação de professores de línguas, trabalhando tanto o uso/aprendizagem da
própria língua estrangeira quanto proporcionando um ambiente em que através da
colaboração, os envolvidos poderiam estar ressignificando o conhecimento e pondo em
prática posturas mais reflexivas e críticas.
        Para ter um pouco mais de clareza acerca dessas representações e da influência dos
blogs educacionais como catalisadores de processos reflexivos e do desenvolvimento de uma
postura crítica, é necessário também observar que as práticas em sala de aula fazem parte da
formação do sujeito-professor, mas não são as únicas responsáveis pelo processo. Por isso,
devemos levar em consideração que, quando os professores em pré-serviço chegam a seu


17
  De acordo com a Gramática Sistêmico-Funcional, baseada em Halliday (2004), as ações são trocas linguísticas
que podem ser mapeadas, e elas nos permitem investigar a maneira como os envolvidos com a interação
expressam suas atitudes, ou seja, como processos imperativos, declarativos e interrogativos, por exemplo.
38



curso de graduação, carregam muitos conceitos pré-estabelecidos em relação, por exemplo, à
escola pública e ao ensino de línguas. Isso se dá pela própria vivência que eles provavelmente
tiveram neste contexto e é reforçada pelas vozes sociais, a exemplo da mídia, e pelas crenças
ou representações18 de seu ambiente cultural. Por sua vez, os blogs educacionais podem se
constituir um ambiente que pode favorecer aos alunos contato com diversas opiniões acerca
de um assunto em pauta.



1.2 Segundo canteiro: cultivando o profissional crítico-reflexivo



        Crer na prática reflexiva no fazer docente é acreditar que essa postura traz melhoria
para o processo de formação do professor e também para o processo de ensino-aprendizagem
em geral, e que ambos não se dão pelo simples acúmulo de teorias, mas sim a partir de um
processo de reflexão sobre a prática e os construtos teóricos em uma constante reformulação
deles (SCHÖN, 1995; NÓVOA, 1995).
        Libâneo (2010, p. 62), por sua vez, assevera que essa preocupação com a reflexão em
sala de aula não é um fenômeno tão contemporâneo, uma vez que em diversos outros autores,
como Dewey, Schön, Vigotsky e Piaget, há uma clara preocupação de que é (ou deveria ser) o
papel da escola desenvolver o pensar, já que essa capacidade pode ser aperfeiçoada e
estimulada para o empoderamento dos sujeitos. Mas, ao mesmo tempo, o autor observa que a
reflexão docente, tal como tem sido apreendida na época moderna, foi concebida em berço
iluminista, tendo crença na supremacia da razão e no potencial reflexivo como um ato
intrínseco, ou seja, nato ao ser humano. Acrescento ainda que, em muitos casos, as correntes
teóricas que discutem a reflexão docente acabam por desconsiderar as forças sócio-histórico-
ideológicas nas e pelas quais a sociedade se constrói.
        Libâneo (2010) aponta para o fato de que entre as versões para o termo reflexão,
distinguem-se a visão idealista, a prática e a dialética. Na idealista, o sujeito é autorreflexivo e
se orienta a uma nova prática que muda sua realidade. Na visão prática, ou pragmática, o
sujeito está centrado em pensar a experiência prática e, assentado nisso, definir como serão as

18
   Embora esta não seja a discussão desenvolvida neste trabalho, acredito ser importante expor em que termos
utilizo as palavras crença e representação, pois são dois conceitos amplamente discutidos pela Linguística
Aplicada. Sigo a partir deste momento em meu texto o que conceitua Barcelos (2006, p.18) sobre o termo
crença: “como uma forma de pensamento, como construções da realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e
seus fenômenos, co-construída em nossas experiências e resultante de um processo interativo de interpretação e
ressignificação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais). Dinâmicas, contextuais e paradoxais”.
Enfatizo que utilizo ambos os termos, crença e representação, como sinônimos.
39



próximas. Já na concepção dialética, a realidade é entendida como uma construção teórico-
prática, que é captada com base em nossa experiência, a qual é notadamente subjetiva. Por
isso, antes mesmo da reflexão exercida pelo sujeito, há uma realidade dada, que independe de
minha reflexão, e outra, essa, construída pelo sujeito, tendo como alicerce a reflexão. Pelo
caminho dialético de compreender reflexão, o autor ainda pontua que essa concepção pode
desencadear em uma postura crítica emancipatória ou num viés que, além de ser crítico, leva
em consideração que também a reflexão agasalha as suas próprias limitações, inerentes a este
trabalho intelectual.

                        “[...] a chamada teoria crítica acentua o caráter político da teoria em relação à
                        prática, pois o conhecimento teórico tem a função de operar o desvendamento das
                        condições que produzem a alienação, as injustiças, as relações de dominação. Mas
                        esse conhecimento precisa ser crítico, implicando uma auto-reflexão sobre si
                        próprio, seus compromissos e seus limites.”
                        (LIBÂNEO, 2010, p. 57)


       Sacristán (2010) corrobora essa explicitação das tendências investigativas na formação
de professores ao incitar a discussão sobre as grandes correntes teórico-pedagógicas que
influenciaram e influenciam o que se entende por reflexão docente. Para o autor, há uma
vertente pós-positivista e uma pós-weberiana. Retomando o que fora em outro passo exposto,
convém lembrar que, num dado momento histórico, político e social, há uma tendência que
prevalece. Contudo, conforme o autor, ambas as tendências têm caminhado desde seu
surgimento na modernidade, até contemporaneamente, com o objetivo de intelectualização e
reestruturação do processo produtivo para o empoderamento dos sujeitos, ou seja, o que era e
ainda é necessário, afina com flexibilidade profissional.
       Assim, Sacristán compreende que, entre as teorias pós-positivistas, ou neoliberalistas,
estariam as de cunho behaviorista, que posteriormente vieram a ser chamadas de cognitiva e
cognitivista. Dentro dessa linha, conforme o autor, estão Dewey e Scho n.
       Já a pós-weberiana, baseia-se na teoria marxista/neomarxista, a qual, conforme
Sacristán, busca o conhecimento usando lentes políticas. Essa visão leva em conta que a
ciência social é construída baseada na subjetividade do pesquisador, de seus interesses. Ele, o
pesquisador, seleciona, conforme sua realidade complexa e caótica, elementos para montar
seu “tipo ideal” e então poder trabalhar com ele.
       Dessa forma, podemos observar que a preocupação em formar profissionais que
atuassem de maneira reflexiva não é algo tão recente nas discussões acadêmicas, nem
40



tampouco consensual, uma vez que na década de 30, nos Estados Unidos, igualmente no
Brasil e na Europa, já a partir da década de 70, esse assunto esteve em pauta de discussão.
       Pimenta (2010) argumenta que houve uma preocupação exacerbada sobre esse tema
no meio acadêmico brasileiro após a década de 90. Ela constata que isso acorreu após a
publicação do livro Os professores e sua formação, coordenado pelo professor português
Antônio Nóva, (1992), obra cujos textos se devem a autores europeus e norte-americanos. A
pesquisadora aponta para o fato de que, por questões contextuais, o tema obteve na época um
terreno fértil em nosso país, por inúmeros motivos, entre eles as preocupações do governo
com a formação docente (o que já estava, inclusive, nas leis e propostas para a educação), o
crescimento dos cursos de pós-graduação no país e com eles a pesquisa e as (re)organizações
e (re)valoração tanto do papel da escola quanto do professor nas transformações
socioeconômicas e políticas da sociedade. Após um tempo de efervescentes discussões, não
somente no Brasil mas principalmente no ocidente, as discussões acadêmicas acabaram por
guiar-se por caminhos tão diversos, que tal como avalia Rodgers (2002, apud ZEICHNER,
2008), tornaram-se tudo para todos e acabaram perdendo sua visibilidade.
       Se bem assim, muitos trabalhos de pesquisa relacionados com a prática e com a
formação docentes com ênfase reflexiva têm sido desenvolvidos nos últimos anos em nosso
país, entre os quais cito Assis-Peterson & Silva (2010), Freire (2009), Geraldini (2003),
Liberali (1994; 1999), Magalhães & Celani (2005), Melão (2001), Moita-Lopes (1996),
Oliveira (2008) e Pimenta (2010). Penso que, de antemão, é interessante ressaltar que, embora
sigam diversas tendências, percebo que, em sua maioria, os pesquisadores dessa área fazem
esforços em no mínimo dois sentidos que se entrecruzam na caminhada. Primeiramente,
dialogam em busca de compreender o que é a reflexão e como ela funciona. Posteriormente,
discutem como as pesquisas e a universidade em si (dentro da formação inicial e também da
continuada) podem contribuir de forma mais eficaz na valorização de uma cultura reflexiva no
meio educacional, asseverando quanto essa prática pode(ria) ser útil neste contexto.
       Ao propor uma retomada histórica, penso ser John Dewey, provavelmente, um dos
autores mais citados quando o assunto é reflexão. Ele foi um dos educadores que, já no início
do século passado, começou a se preocupar com aquilo que denominou de extremos da
educação de seu país, Estados Unidos. Mas, afinal, quais foram as angústias que fizeram este
tema aflorar em seus estudos? Para ele, alguns dos extremos que ocorriam em seu contexto
eram ou centralizar a educação nos programas, o que era tido naquele momento como
pedagogia tradicional, ou, focar na criança, que era concebido como algo “romântico”. Sua
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Formação de professores de línguas através da reflexão crítica em blog

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM ANA REGINA BRESOLIN O PROFESSOR DE LÍNGUAS EM FORMAÇÃO: UMA EXPERIÊNCIA REFLEXIVA COM BLOG CUIABÁ-MT 2011
  • 2. i ANA REGINA BRESOLIN O PROFESSOR DE LÍNGUAS EM FORMAÇÃO: UMA EXPERIÊNCIA REFLEXIVA COM BLOG Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal de Mato Grosso como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Estudos de Linguagem. Área de Concentração: Paradigmas do Ensino de Línguas Orientador: Prof. Dr. Dánie Marcelo de Jesus Instituto de Linguagens CUIABÁ-MT 2011
  • 3. FICHA CATALOGRÁFICA  B842p Bresolin, Ana Regina. O professor de línguas em formação: uma experiência reflexiva com blog / Ana Regina Bresolin. – 2011. 146 f. : il. color. Orientador: Prof. Dr. Dánie Marcelo de Jesus. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Linguagens, Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, Área de Concentração: Paradigmas do Ensino de Línguas, 2011. Bibliografia: f. 135-146. 1. Professores – Línguas – Formação. 2. Educação – Ambiente virtual. 3. Internet. 4. Professor de línguas – Ambiente virtual. 5. Comunicação de massa. 6. Blogs – Formação de professores. I. Título. CDU – 371.13:811:004.738.5 Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931
  • 4. ii
  • 5. iii DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha amada família pelo carinho e dedicação constantes. Também ao querido Hugo pelo apoio e amor incondicionais.
  • 6. iv AGRADECIMENTOS A Deus que dá a vida e ensina o caminho. Quando jogamos a semente na terra na esperança que de lá brote vida nova, o fazemos na confiança de que o universo conspirará a favor dessa empreitada. O mesmo ocorre quando nos lançamos na experiência científica: a semente precisa, além de vontade intrínseca, água, luz, terra e substratos. Quem envereda neste campo, conta com a ajuda de muitos amigos para _ _ poder desabrochar e, a tempo, fazer sua parte nos jardins espalhados pelo mundo. Sendo assim, gostaria de agradecer a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para meu crescimento intelectual e emocional. Em especial agradeço... Ao Dr. Dánie Marcelo de Jesus, que me abraçou do primeiro ao último instante com muita dedicação, firmeza, carinho e paciência. Obrigada por ter sido em muitos momentos o vento que em meu jardim fazia alvoroço, instigando assim novas possibilidades. Desabrochei graças também ao seu esforço. Ao Programa de Mestrado em Estudos de Linguagem da UFMT, incluindo aqui todos os professores que diversificam e iluminam aquele jardim, fazendo nele vingar, além da ciência, a fraternidade. Aos alunos participantes do projeto do blog, bem como os seus professores que acreditaram e fizeram-no acontecer. Minha imensa gratidão por compartilharmos das mesmas vontades, das mesmas dúvidas: fomos realmente parceiros. Aos professores Dr. Rodrigo Camargo Aragão e Dra. Simone de Jesus Padilha, que gentilmente contribuíram com uma leitura atenciosa e apurada do texto, deixando a paisagem deste jardim mais agradável. Aos amigos e pós-graduandos do MeEl, especialmente Ana Raquel Diamante, Perla Haydée, Carmen Zirr Azurro, Sandra Pinotti, Fernando Zolin Vesz, Viviane Carrijo, Anderson Simão e Verônica Hirata.
  • 7. v Aos colegas do IFMT _ Campus Parecis, por terem acreditado em meu sonho e dado espaço para que ele se confirmasse. Às minhas amigas e amigos, professores que dividem os momentos diversos de trabalho, de vida: Marisol, Ana Lúcia, Cassiana, Rosane, Adriana, Rodolfo, Tiago, Arnaldo, Fábio e Rogério. As minhas irmãs, delícias da vida que Deus me deu de presente: Analice, Daniela e Ana Maria. Aos meus pais, Neiva e Arlindo, que nunca pouparam esforços para nos ver estudando, crescendo e conquistando novos espaços. A vocês devoto minha eterna gratidão. Ao meu então noivo e agora esposo, Hugo Ricardo, por sua enorme dedicação, cuidados, apoio, carinho e amizade. Se não fosse por você, meu amor, não teria me tornado flor. Aos meus avôs, Olivo e Regina, exemplos de sabedoria, caridade e paixão. Noninho, que Deus acalente e envolva seu coração no belo jardim que você deve estar passando suas tardes. Sempre amaremos vocês...
  • 8. vi "A Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”. (Paulo Freire)
  • 9. vii RESUMO Ao considerarmos a égide tecnológica sob a qual temos construído muitas de nossas relações nas últimas décadas, perceberemos que esse tipo de interação tem modificado e ressignificado as formas como aprendemos e ensinamos, fazendo com que tanto professores quanto alunos vejam este lugar social, a internet, propício também para aprender línguas. Considerando esse cenário, este trabalho se insere no contexto de educação em ambiente virtual e tem como objetivo investigar indícios de processos reflexivos e de que forma eles se desenvolvem em um blog colaborativo educacional. Os participantes que compunham a comunidade discursiva foram alunos do curso de Letras Português/Inglês de quatro universidades brasileiras durante um período de seis meses. A partir das interações ocorridas no e por causa do blog, ou seja, as postagens, comentários e e-mails, analisei de que forma o grupo desenvolveu processos reflexivo-críticos em ambiente colaborativo. O trabalho contou com suporte teórico em Smyth (1992), Zeichner (1994) e Mateus (2010) no que tange a reflexão crítica. Em Gomes (1995), Primo & Smaniotto (2006) e Signorini & Cavalcanti (2010) no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem em ambiente virtual e os blogs. As questões que nortearam a pesquisa foram as seguintes: 1) Quais possíveis indícios de processos reflexivos podem ser observados nas interações entre os participantes? e 2) De que forma o grupo procurou construir processos reflexivos neste ambiente virtual? O percurso teórico-metodológico utilizado foi o interpretativismo de base netnográfica com apoio nos autores Erickson (1986/1990) e Kozinets (2010). Os resultados sugerem algumas evidências linguísticas que podem ser sinalizadores de que no blog ocorreram processos reflexivo-críticos e colaboração, em graus diferentes de complexidade, contribuindo assim na formação inicial do professor de línguas. Palavras-chave: blogs, reflexão crítica, formação de professores.
  • 10. viii ABSTRACT Considering the technology support under which we have built many of our relations in recent decades, we realize that this type of interaction has changed and reframed the ways we learn and teach, so that both teachers and students begin to see this social place, internet, also suitable for learning languages. The context of this research is education in virtual environment and taking this situation into account, it aims to investigate evidences of reflective processes and how they develop in a collaborative educational blog. The _ participants that took part in the speech community were students of Letras Course Portuguese/English _ of four brazilian universities over a period of six months. Based on the interactions which occurred in and because of the blog, like posts, comments and emails, I analyzed how the group developed critical-reflective processes in a collaborative environment. The research theoretical foundation is provided by Smyth (1992), Zeichner (1994) and Mateus (2010) with respect to critical reflection. In Gomes (1995), Primo & Smaniotto (2006) and Signorini & Cavalcanti (2010) with regard to teaching and learning in a virtual environment and blogs. The research questions were: 1) What possible evidence of reflective processes can be observed in the interactions among the participants? And 2) How the group sought to build reflective processes in this virtual environment? The theoretical and methodological paradigm is based on interpretative and netnography approaches (ERICKSON, 1986/1990; KOZINETS, 2010). Results suggest some linguistic evidences that can characterize reflective-critical processes and collaboration in the blog, in different degrees of complexity, contributing to these language teachers’ starting constitution. Keywords: blogs, critical reflection, teacher training.
  • 11. ix LISTA DE FIGURAS Figura 1: Postagem “Brazilian public school system”………………………………………..74
  • 12. x LISTA DE QUADROS Quadro 1: Fluxo simplificado de um projeto de pesquisa netnográfico...................................63 Quadro 2: Quadro de análise dos dados....................................................................................74
  • 13. xi SUMÁRIO i  DEDICATÓRIA ......................................................................................................................iii  AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ iv  RESUMO................................................................................................................................. vii  ABSTRACT ...........................................................................................................................viii  LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................. ix  LISTA DE QUADROS............................................................................................................. x O GERMINAR DA SEMENTE ............................................................................................ 13 1  ADUBO TEÓRICO ........................................................................................................ 23 1.1 Primeiro canteiro: blogs, um jardim cibernético em plena primavera ........................... 24 1.2 Segundo canteiro: cultivando o profissional crítico-reflexivo ....................................... 38 2 RAÍZES METODOLÓGICAS........................................................................................... 55 2.1 A pesquisa interpretativista de cunho netnográfico: para buscar compreender o jardim é preciso ser jardineiro ............................................................................................................ 56 2.2 Conhecendo o jardim ...................................................................................................... 66 2.3 Apresentando os jardineiros ........................................................................................... 69 2.4 Coletando as sementes .................................................................................................... 71 2.5 Os olhares sobre o jardim ............................................................................................... 77 3 O DESABROCHAR DE UM JARDIM VIRTUAL: DESCREVENDO E DISCUTINDO OS RESULTADOS ...................................................................................... 82 3.1 Cada flor desabrocha ao seu tempo ................................................................................ 84 3.1.1 Momento de observar a paisagem ........................................................................... 84  3.1.2 Momento de compreender minhas práticas de cultivo ............................................ 93  3.1.3 Momento de espiar por cima dos muros de meu jardim ....................................... 104  3.2 As primaveras de nosso jardim..................................................................................... 111
  • 14. xii 3.2.1 Tema 1: Tentativas de construção ......................................................................... 112  3.2.2 Tema 2: A procura dos culpados ........................................................................... 116  3.2.3   Tema 3: O que é mesmo refletir? ..................................................................... 120  3.2.4 Tema 4: Quero ser um bom professor ................................................................... 123  4 COLHENDO OS FRUTOS .............................................................................................. 126  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 135 
  • 15. O GERMINAR DA SEMENTE a terra arada de novo com a alma de artista no chão de setembro e no dia de ontem a terra é macia e cobre de flores de todas as cores de todos os nomes a pele do outono. De manhã morna de tarde quente de noite tão fria ela espera a chuva a semente e o homem. ( Carlos Rodrigues Brandão) Estou convencida de que o estilo metafórico com o qual inicio este capítulo, bem como os demais que se seguem, possa causar certa curiosidade. Penso igualmente, que a escolha pelo uso da primeira pessoa, somada ao fato de iniciar esse trabalho contando um pouco de minha experiência docente, também pode instigar indagações. Dessa maneira, gostaria de explicar as razões de tais escolhas, bem como outras que serão observadas no decorrer do texto: advêm da concepção que qualquer conhecimento é historicamente situado, portanto sofre o efeito da situacionalidade do pesquisador. Proponho descrever o blog, objeto de estudo deste trabalho, tal como um jardim, em decorrência da multiplicidade de gêneros textuais, de sua natureza hipertextual e da possibilidade de construção de um ambiente mais colaborativo. Sendo assim, recorrer a blogs para o ensino-aprendizagem de línguas é caminhar entre as várias espécies que têm sido cultivadas nesse ambiente, e assim plantar canteiros diferenciados. Nessa perspectiva, eu, na qualidade de pesquisadora-participante, fui encarregada de adubar o terreno, lançar as
  • 16. 14 sementes e animar os jardineiros para que o jardim viesse a florescer. Os participantes do blog, os quais serão apresentados logo mais, foram os jardineiros que trabalharam nesses canteiros. Tanto eu quanto eles cuidamos do jardim, observando o clima e quais práticas seriam mais propícias para seu desenvolvimento. O uso de metáforas é muito comum, por exemplo, na perspectiva teórico- metodológica da Pesquisa Narrativa (CLANDININ & CONNELY, 2000), que as utilizam justamente como forma de compreensão do contexto estudado. Embora essa não seja a perspectiva que seguirei, necessariamente, acredito seja uma maneira ímpar de dividir com os leitores o que sinto em relação a meu objeto de estudo. Desse modo, a metáfora do jardim cibernético é a minha forma de representar a problematização que proponho nesta dissertação. Os blogs, por sua vez, fazem parte desse lugar, e neles as formas híbridas se constituem a cada escolha de seus jardineiros. As sementes são as mesmas dos jardins “reais”, e as plantas do jardim cibernético são polinizadas por abelhas, insetos e pássaros que migram dos mais remotos lugares onde a rede tenha alcance. Tal como a terra espera pela semente para que a vida possa acontecer, o ambiente digital floresce a partir da experiência e da vontade humana de interagir por meio da linguagem. Mas por que investigar as experiências que ocorrem nos blogs? Acredito que muitas pessoas do século XXI vivam sob uma nova égide tecnológica. Compram, vendem, estudam e dialogam com pessoas dos lugares mais remotos do mundo conectado pelo ciberespaço. Essa interação vem me intrigando nos últimos anos. Bem por isso, penso que poderia acrescentar a esta resposta, algumas inevitáveis perguntas: qual o efeito dessa tecnologia no processo de aprendizagem dos alunos? Como professores lidam com essa tecnologia em sua vida cotidiana escolar? O que o professor pode fazer com vistas a oferecer maiores oportunidades para o uso crítico da internet na sala de aula? Certamente, para muitos professores, essas perguntas assim se exteriorizam: de que maneira posso aliar minhas aulas ao universo digital? Esses questionamentos nasceram de minha própria vivência como professora e aluna, e também da observação das atitudes de meus colegas e alunos nos últimos anos. Relembrando um pouco de minha história acadêmica, percebo que sempre que os professores de língua estrangeira associavam às suas práticas pedagógicas artefatos multimidiáticos, tais como músicas, filmes, clipes, ou alargavam o espaço de sala de aula com pesquisas extraclasse, bem quando usavam a internet como ferramenta de busca e acesso à informação, havia certa comoção entre os alunos, causada, a meu ver, pelo fato de estarmos em contato com a língua em uso, viva, “em seu habitat natural”. Ficava entre nós, os
  • 17. 15 aprendizes, certa satisfação, possivelmente provocada pelo fato de estarmos experimentando nosso potencial enquanto usuários da língua à qual estávamos nos dedicando. Atualmente, sou professora de língua inglesa em um dos campi do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso. A escola onde trabalho se localiza no interior do estado e há, em meu contexto educacional, além de uma forte vocação notadamente agrícola, expectativas de desenvolvimento e apropriação de tecnologias que possam dar suporte às atividades econômicas desenvolvidas na região, formando ou instrumentalizando os trabalhadores. Porém, uma das questões que não podem deixar de ser levadas em consideração em minha realidade geográfica é a distância de grandes centros, ou mesmo a distância das propriedades rurais e das cidades que rodeiam o Instituto. Nesse andar, mediar a educação por meio da internet faz com que nos apropriemos dos mais diversos artefatos e experimentemos novas formas de conhecer o mundo, e de nos conhecermos também, uma vez que essa prática diferenciada pode ser uma forma de democratizar o acesso a uma formação de qualidade para muitos jovens e adultos. Penso por igual que a escolha da metáfora do jardim tenha sido influenciada por essa experiência assentada no ambiente rural. Convivendo com as práticas de cultivo desenvolvidas por meus colegas, traço um paralelo entre o que acontece com a dinâmica da semente se tornando árvore, em plena transformação, com o que temos vivenciado em relação ao uso e à pertinência da internet em nossa sociedade. Parece-me que o crescimento da rede em todo o mundo já passou da fase de semente, ou seja, da fase embrionária, e está em constante desenvolvimento. Seus galhos e suas nuanças já são parte de nosso jardim cibernético e já estamos colhendo os frutos, os mais diversos inclusive, de nossa construção e da relação com esse objeto. Voltando um pouco à minha história como professora, mas também na condição de aluna, recordo que minha experiência com o ensino de idiomas começou quando eu era adolescente e trabalhava em uma escola de línguas, na função de secretária. Nesta escola, tanto trabalhava quanto aprendia Língua Inglesa e Língua Espanhola, e acabei tendo contato desde cedo com o que os professores sentiam em relação ao cotidiano escolar, assim como com o que estavam ensinando. Mesmo que a escola usasse livros didáticos, havia certa abertura para que os professores incrementassem suas aulas, tanto a partir de seus anseios quanto dos alunos. Dessa forma, os alunos podiam se expressar em relação ao que gostariam de aprender, bem como de que maneira aprendiam mais. Lembro-me de que, dentre os pedidos mais recorrentes da parte dos alunos, sempre estavam as músicas.
  • 18. 16 Quando estava no 1º ano do curso de Letras, comecei a trabalhar em outra escola de idiomas. Lá as coisas eram bem diferentes do lugar onde eu havia aprendido inglês e espanhol. O método utilizado era o audiolingual, e todas as lições recheadas de muita repetição. Nem o professor nem os alunos podiam fugir das regras do jogo. Recordo com clareza, enquanto preparava minha primeira aula, não conseguia compreender como eles iriam aprender daquela forma. Mesmo utilizando televisores, fones de ouvido, CDs, Cd roms, DVDs, ou seja, muita tecnologia, eu acabava por perceber pouquíssima interação entre os alunos. Também trabalhei durante o curso de Letras em escolas particulares de ensino fundamental e médio. Nessas escolas, equipadas com laboratórios de informática, projetores de dados e internet, eu mesma, pouquíssimas vezes, dava conta de usar essas ferramentas de forma realmente interessante. Fazíamos pesquisas, leituras, mas nada que pudesse nos levar para um contexto de ensino mais reflexivo, quanto mais crítico e colaborativo. Quando terminei a graduação, resolvi fazer um intercâmbio e estudar inglês em outro país. Passei desta forma seis meses estudando em Londres. Essa experiência foi marcante em minha vida, pois eu acredito que passei por mudanças profundas a respeito de minha concepção acerca da postura do professor de línguas, do aluno e da importância de um grupo multicultural, sabedora de que a miscigenação enriquece muito as aulas. Por conviver com colegas do mundo todo, passei a observar como eles buscavam aprender, como os professores tentavam fazer para que asiáticos, africanos e latinos, por exemplo, conseguissem compreender as matizes da língua e da cultura na qual estavam inseridos. Essa vivência ímpar me fez expandir minhas concepções, meu fazer em sala de aula, e percebi isso quando voltei e comecei a lecionar novamente aqui no Brasil. Hoje, acredito que a internet seja a ferramenta que pode mediar essa ampliação de conceitos, essa vivência multicultural, pois ela possibilita, cada vez mais, a um número maior de pessoas saber o que se pensa sobre os mais diversos assuntos nos recantos mais longínquos do globo terrestre. Porém, acredito que a grande maioria ainda não tenha acesso à rede, ou até mesmo não tenha criado a cultura de uso e acesso à ela. Diante dessas observações, acredito que a internet se tornou ambiente propício para aprendizagem de língua inglesa, independentemente de perceber que muitos colegas professores não compreendem ainda a dinâmica do processo de ensino-aprendizagem de línguas em contexto online. À luz desse quadro, a comunidade escolar, de modo geral, parece mostrar-se ansiosa em usar as ferramentas da Web em seu dia a dia. De outra parte, há muitos profissionais com um olhar ainda muito romântico em relação a esse ambiente, assim como há
  • 19. 17 os que desconfiam totalmente de sua eficácia no processo educativo. Observo, no entanto, que ambas as posturas fazem parte do processo de acomodação de toda e qualquer nova tecnologia, tal como aponta Paiva (2010). Se bem assim, existem também aqueles cuja preocupação não subjaz necessariamente às já citadas, mas sim recaem justamente em como fazer/ter um uso crítico e contextualizado do ambiente digital na aprendizagem de línguas. Ou seja, observar esse jardim cibernético como algo propício para o uso efetivo da linguagem, e não só como uma repetição sem fim de frases feitas. Aprender uma língua e usá-la a fim de compreender as relações sociais estabelecidas na e por ela nos mais diversos contextos, inclusive no seu imediato. Em adendo, por meio da linguagem, construir novos sentidos, novas maneiras de olhar e sentir o mundo, e por que não, modificar-se a si próprio e o mundo que nos rodeia. Essas percepções acerca de um ensino crítico de línguas me fizeram constatar um vácuo existente entre a dinâmica social da sociedade da informação e a formação de profissionais que deem conta da aprendizagem crítica mediada pelo computador. O fato de termos certa familiaridade com o uso da internet no meio pessoal e/ou profissional não garante que nós, professores, sejamos bem-sucedidos nesse contexto específico. Embora o ambiente virtual possa ser altamente produtivo, crítico, hipertextual, diverso, dinâmico, e além, em minha opinião, muito propício à aprendizagem, ainda há uma demanda gritante na escola por conhecer e ressignificar as práticas dentro desse novo contexto. Em decorrência dessa preocupação, decidi direcionar meu olhar para o uso dos blogs como um terreno fértil para a aprendizagem reflexiva. A escolha do blog se deu em consequência de ele constituir uma ferramenta relativamente popular para os usuários da internet, por ser de fácil utilização, além de ter potencial para se revelar um espaço educativo, no qual alunos e professores podem construir sentidos colaborativamente. Minhas sensações acerca do ambiente digital é que não estamos criando um mundo paralelo, virtual, mas sim um novo espaço de (com) vivências permeado pela linguagem, que é tão “real” como outro qualquer. Por isso, proponho neste trabalho a metáfora do jardim. Em minha concepção, o ambiente digital vem se tornando o chão das experiências de vida das pessoas, terreno nos quais pequenas ideias têm se transformado de meras sementes em árvores frondosas, cujos galhos, flores, frutos, raízes e por que não as sombras alcançam as mais diversas vizinhanças. Sendo assim, ao comparar a experiência educacional em ambiente digital com um jardim, busco fazer com que os leitores deste trabalho não vejam esse terreno como um lugar desordenado e infértil intelectualmente. Pelo contrário, a experiência humana nesse ambiente é plena de anseios, objetivos e práticas muito interessantes.
  • 20. 18 Olhando para etimologia da palavra jardim, observo que ela se refere a algo fechado, por ter sua origem no radical garth, o qual provém das línguas nórdicas e saxãs, a significar “cintura ou cerca”. Em latim temos hortus gardinus, “local cercado para plantar flores e ervas”, que deriva justamente do frâncisco gardo, que de sua vez dimana do germânico gardaz. Dessa forma, o jardim é sempre algo construído, fechado, mas, ao mesmo tempo heterogêneo. Lugar de encontros que conduzem à paz de espírito, à meditação, à sensibilização, à experimentação de cheiros, gostos, ao conhecimento das artes, da cultura. Em suma, é um lugar de deleite e experimentação. Tanto na tradição ocidental quanto oriental, os jardins são tidos como lugares de harmonização e segurança, como uma amostra do trabalho do homem sob a natureza, dando certeza que ele poderia usufruir do selvagem, mas de maneira despreocupada, pois estaria cercado. E isso, de certa forma acontece no jardim cibernético. Quando criamos categorias, espaços, estilos, maneiras para que as interações ocorram, estamos a cercear os sujeitos, possibilitando o que e como eles podem fazer as coisas. A representação dos jardins, portanto, é algo inerente ao trabalho humano, ou até mesmo divino, já que, conforme a cultura das religiões abraâmicas, tenha sido um jardim, o Jardim do Éden ou o Paraíso, o lugar construído por Deus para que o homem e a mulher primeiro habitassem e do qual posteriormente foram expulsos por transgredir regras, provando a famigerada maçã por influência da uma serpente. Em hebraico temos, portanto, o Gan Eden. Na mitologia grega também temos o Jardim das Hespérides, famoso por suas lindas e desejadas maças de ouro (pomos). Conta o mito que as Hespérides eram as deusas primaveris guardiãs desse jardim e das fronteiras celestes entre o céu, a terra e o mundo subterrâneo. A Hércules lhe foi pedido que buscasse uma dessas maças durante um de seus onze trabalhos. A festa de casamento de Zeus e de Hera também se realizou no Jardim das Hespérides, tido como símbolo de fecundidade sempre renascente. É, portanto, por meio desses e de outros mitos e histórias que permeiam o nosso imaginário que criamos a ideia do que seja um jardim. Percebo-o como um lugar delimitado, dentro de um ambiente maior, o qual é planejado e organizado conforme os anseios do que ali se pretende viver. O ambiente virtual se parece com um jardim dado que é um lugar estruturado. Embora as coisas pareçam estar ao acaso, na verdade são construídas a partir das experiências e conhecimentos de seus idealizadores. As espécies que habitam o jardim cibernético vêm de outros lugares, e nada impede que elas se entrecruzem nesse novo ambiente e que, dessa hibridização, aflorem as mais novas e diversas possibilidades.
  • 21. 19 Para introduzir cada capítulo o leitor também perceberá que eu lanço mão de poesias. Elas foram pinçadas da obra O jardim de todos, de Carlos Rodrigues Brandão. Conheci este autor em uma de minhas andanças por congressos Brasil fora. Encantou-me a maneira ímpar como esse ilustre professor-pesquisador cantava a experiência humana a partir da metáfora do jardim. Quando optei por fazer o mesmo neste trabalho, não tive dúvidas de que sua poesia me ajudaria na tentativa de desfilar meus sentimentos em relação a alguns aspectos de minha caminhada. Passeando por esse jardim, então, comecei a ler vários blogs relacionados com o tema do ensino de língua inglesa e com o ensino em ambiente virtual. Passei a perceber que o ambiente específico dos blogs pode ser propício à criação de comunidades de aprendizagem que cultivem uma postura reflexiva, pois dá chance aos usuários desse serviço de criarem uma rede de colaboração com leitores e escritores voltada a um assunto que lhes seja interessante. Um espaço onde podemos apreciar pontos de vista e experiências muito diversas, as quais podem, inclusive, ser muito distintas de nossas representações. Os blogs também se diferenciam de outras ferramentas disponíveis na web por conta de algumas características especiais, tal como a facilidade de formatação, o modo de organizar as ideias, a gratuidade e a dinamicidade. Dessa forma, eles podem ser utilizados em favor de uma formação, que ao mesmo tempo em que é reflexiva e colaborativa, proporciona aos professores em formação inicial uma experiência efetiva com a língua inglesa em ambiente virtual. Passei, então, a refletir sobre esse contexto específico, com o intento de compreender de que maneira os blogs poderiam contribuir para a formação mais reflexiva de professores de língua estrangeira, bem como para o desenvolvimento de comunidades de aprendizagem online. Partindo dessas concepções iniciais em relação ao papel do ambiente digital na e para a aprendizagem de línguas, construí um blog com a finalidade proporcionar uma experiência de postura reflexiva e colaborativa em ambiente digital para alunos do curso de Letras de _ quatro universidades brasileiras, a saber: UFMT Universidade Federal de Mato Grosso, _ _ UESC Universidade Estadual de Santa Cruz, UFV Universidade Federal de Viçosa e FECILCAM _ Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Campo Mourão. Vários estudos (SILVA, 2001; BAKER, GUIGNARD, LUND & SEJOURNÉ, 2008; ARAÚJO JR, 2008; SALOMÃO, SILVA & DANIEL, 2009) indicam que o ambiente digital pode propiciar a criação de redes de aprendizagem colaborativa e, se trabalhado para isso, promover um processo de ensino-aprendizagem na esteira da reflexão. Para que o processo de
  • 22. 20 aprendizagem colaborativa possa ocorrer são necessárias, por igual, alterações profundas nas relações entre professores e alunos. Há que observar que, inevitavelmente ou felizmente, essas mudanças já vêm se dando em diversas escalas e proporções, e suas consequências principiam a fazer parte do cotidiano escolar. Alguns professores, por exemplo, começam a compreendem que seu papel centralizador está mudando, e também os alunos, de certa forma, parecem se tornar um pouco mais independentes em relação a seu próprio processo de aprendizagem. Obviamente, tudo isso comporta inúmeras distinções de contexto. A pertinência desse tema é clara, tendo em vista que cada vez mais estudos são realizados buscando compreender as relações humanas permeadas pelo uso das tecnologias (LÉVY, 1998 e 1999; MORIN, 2000; CRYSTAL, 2001 e SIGNORINI & CAVALCANTI, 2010), relacionados também com o fazer e com a formação docente para o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação, doravante TIC (LEFFA, 2002; COLLINS, 2004; JESUS, 2007; MACHADO, 2008 e PAIVA, 2010). Em muitos casos, com o uso específico dos blogs educativos (GOMES, 2005; RECUERO, 2010). Este trabalho sinaliza um momento de discussão e reflexão sobre os blogs e seu potencial educativo nos cursos de formação de professores de línguas a partir de uma experiência prática relativa a alunos em formação e a professores do curso de Letras da UFMT, UESC, UFV e FECILCAM. Os envolvidos participaram, de junho a dezembro de 2010, de um blog educacional intitulado Reflection in Action1, o qual foi idealizado na expectativa de ensejar aos acadêmicos em formação uma experiência em ambiente virtual, com vista a potencializar uma comunidade de aprendizagem colaborativa, e instigar a reflexão acerca de alguns temas discutidos por pesquisadores da área da linguística aplicada e/ou da educação, especialmente alguns que dizem respeito ao ensino de inglês na escola pública brasileira. Sendo assim, compreendo também ser papel da universidade, dos cursos de formação continuada e demais cursos de formação de professores promover ou fomentar espaços reflexivos, tal como um blog, que pode constituir espaço muito interessante para trocarmos experiências. Partindo dos conceitos e questões revitalizadas até aqui, intento voltar meu olhar para a questão do uso de ferramentas da internet, em especial dos blogs educacionais durante a formação de professores de línguas, até mesmo para observar de que forma os professores de 1 http://reflectionaction.blogspot.com
  • 23. 21 línguas em formação inicial constroem sentidos em relação à sua área de atuação e se o blog apresenta potencial na formação de um profissional mais reflexivo, crítico e colaborativo. Assim, o estudo empírico tem sido construído assentado nestas perguntas de pesquisa: 1- Quais possíveis indícios de processos reflexivos podem ser observados nas interações entre os participantes? 2- De que forma o grupo procurou construir processos reflexivos neste ambiente virtual? Nesta pesquisa, assumo a metodologia interpretativista, de base netnográfica2, pois acredito que a netnografia possibilita ao pesquisador compreender a atuação online dos sujeitos, bem como os processos sociais que os geram, e acaba por desenvolver uma melhor interpretação das relações que se estabelecem neste ambiente, ao passo que, por sua característica que vai além da observação, faculta ao pesquisador também participar desse lugar social que é a internet. No primeiro capítulo, metaforicamente intitulado “o adubo teórico”, descortino as teorias que irão embasar a minha análise. Digo que se trata de adubo, porque foram justamente esses estudos relativos ao ensino em ambiente digital, e em especial a partir do uso dos blogs educacionais, a importância do trabalho reflexivo-crítico durante a formação docente, que alimentaram e fizeram crescer em mim um olhar diferenciado acerca desses assuntos. Baseio-me nesta empreitada no trabalho de Collins (2004), Gimenez (1999), Gomes (2005), Magalhães & Celani (2005), Paiva (2010), Primo & Smaniotto (2006), Signorini e Cavalcanti (2010), Sacristán (2010), Smyth (1992) e Zeichner (2008). No segundo capítulo, evidencio as “raízes” metodológicas, trazendo o contexto pesquisado, a metodologia que fundamentou o trabalho, bem como detalhamento sobre a coleta de dados, perguntas de pesquisa, os procedimentos e os participantes. Acredito que esse capítulo pode ser assim intitulado, porque são justamente as raízes que dão sustentação e articulação a um projeto de pesquisa. Nesse capítulo, procuro montar um painel do jardim de onde colhi meus textos de campo, os participantes, o contexto de pesquisa e o olhar que lanço sobre eles. No terceiro capítulo, busco mostrar o desabrochar cibernético do blog, através da interpretação dos textos colhidos no blog e nas demais interações entre o grupo. Procuro dar 2 Baseada em Erickson (1986/1990), no que tange à pesquisa interpretativista, e em Kozinets (2010), no que diz respeito à pesquisa netnográfica.
  • 24. 22 ênfase à natureza das relações estabelecidas entre os participantes do blog, evidenciando os indícios de processos reflexivos que surgiram neste ambiente e a forma como o grupo intentou construir esses processos. Finalmente, colhendo os frutos, apresento as limitações deste trabalho, bem como algumas possíveis contribuições para o ensino e para as pesquisas preocupadas em compreender o ambiente digital e suas possibilidades educativas.
  • 25. 23 1 ADUBO TEÓRICO tudo, todos e o todo Somos feitos de barro e do fogo e por isso somos o desejo e o amor. Fomos feitos de terra e de água e assim somos eternos como a vida e somos passageiros como a flor. Somos a luz a sombra, o claro, a escuridão a memória de deus, a história e a poesia. Somos o espaço e o tempo, a casa e a janela e a noite e o dia, e o sol e o céu e o chão. Somos o silêncio e o som da vida. O estudo, a lembrança e o esquecimento. Somos o medo e o abandono. A espera somos nós e somos a esperança. Pois não somos mais e nem menos do que o todo e nem somos menos e nem mais que tudo. Somos o perene e o momento, a pedra e o vento a energia e a paz, a vida criada e o criador. Somos o mundo que sente, e irmãos da vida somos a aventura de ser vida e sentimento. E assim em cada ave que voa há nossa alma, e em cada ave que morre, a nossa dor. (Carlos Rodrigues Brandão) Um jardim é feito de várias espécies, e sua beleza se revela justamente na diversidade, no colorido que se contrapõe, e, misturando-se, revela nuanças nunca antes observadas. Parto dessa linguagem metafórica para trazer à baila os insumos teóricos que fertilizaram minhas análises, problematizações e discussões e que, de certa forma, no decorrer da caminhada, balizaram o conteúdo veiculado no próprio blog Reflection in Action. Assim, as sementes em
  • 26. 24 meu jardim foram dispostas em dois canteiros: o primeiro sobre os blogs e o ambiente digital, e o segundo sobre processos reflexivos na esteira crítica. No primeiro canteiro semeio sobre os blogs, especialmente, seu potencial pedagógico como uma ferramenta/artefato digital para o processo de ensino-aprendizagem de línguas e também para a formação dos professores de língua estrangeira segundo Buzato (2006), Gomes (2005), Gomes & Lopes (2007), Komesu (2005), Marcuschi (2005), Paiva (2010), Primo & Smanioto (2006) e Signorini & Cavalcanti (2010). No segundo canteiro, proponho um panorama das correntes teóricas sobre reflexão docente e discorro sobre algumas perspectivas atuais sobre a formação do professor crítico- reflexivo e o uso de tecnologias, discorrendo sobre as concepções que historicamente foram construídas ao redor da expressão reflexão docente, segundo Dewey (1933), Libâneo (2010), Perrenoud (2002), Pimenta (2010), Sacristán (2010), Schön (1992; 2000). Também alinho definições e considerações sobre o processo reflexivo, enfatizando como isso poderia formar um professor mais crítico, seguindo os conceitos de Gimenez (1999), Mateus (2010), Magalhães & Celani (2005) e Zeichner (1994). Apresento, posteriormente, as contribuições que uma prática reflexiva traria ao processo de ensino-aprendizagem em ambiente digital, especialmente nos blogs. Gostaria de observar que este estudo se insere nos estudos da Linguística Aplicada e que, tal como defendem Bastos & Mattos (1993), o enfoque dos trabalhos nesta área não é o de resolver problemas, mas sim o de explicar fenômenos, problematizar o que já está instituído. Sendo assim, este trabalho buscará discutir, com a ajuda de um aporte teórico, como o jardim cibernético constitui novas formas de aprender e ensinar. 1.1 Primeiro canteiro: blogs, um jardim cibernético em plena primavera Os blogs nascem da necessidade humana de interação, ou seja, são essencialmente sociais. Fumero (2005) assevera que esta tecnologia, como todas, voltar-se-á para seu criador, o homem, tendente a mudá-lo, gerando novas formas de relação social e novas convenções que surgirão de sua utilização. Atualmente o número de blogs cresce vertiginosamente entre
  • 27. 25 os internautas do mundo todo3, e a escola, por sua vez, passa a enxergar, nessa ferramenta, certa potencialidade educativa. Eles tiveram sua origem mais especificamente na década de 90, nos Estados Unidos, onde jornalistas e pessoas ligadas à informática começaram a elencar o que mais gostavam no mundo virtual por meio de listas de links. Blood (2000) propõe um histórico relatando que ela era uma das pessoas que começaram a usar seu site pessoal, no final da década de 90, para postar pequenos pensamentos, comentários, textos. Conforme a Wikipédia4, John Barger inaugurou, em 1997, o termo weblog (diário de bordo da rede), começou a postar pequenas notas de cunho pessoal em seu site sobre o conflito israelense-palestino. Contudo, foi 1998, em sua página pessoal, que Peter Merholz, propôs a frase “we blog”, inaugurando a utilização do verbo blogar. Embora, no final da década de 90, já houvesse alguns aplicativos na rede, cujas ferramentas davam ao usuário certa facilidade de criação, editoração e manutenção de seus blogs, ainda era necessário saber, em muitos casos, como fazer programação em HTML5 para criar seu blog. Foi somente no ano de 1999, com a criação do software Blogger, pela empresa Pyra Lab, que os blogs se espalharam-se na rede. O software dispensava, no caso, o conhecimento de linguagem de programação, oferecendo aos usuários facilidade de criação, editoração, publicação e gratuidade. Era o que faltava para que um número cada vez maior de usuários se sentisse à vontade para ter e manter seus blogs. Passados mais de 10 anos desde o surgimento do blogger.com, pesquisas em sites especializados, embora não tenham valor acadêmico, medem a blogosfera mundial e acabam traçando um perfil deste espaço online. Geograficamente falando, conforme o site Technorati, em 2010, dos 70 milhões de blogs no mundo, somente 8% pertenceriam aos latino- americanos. O perfil dos usuários seria composto por uma maioria de jovens e adultos, sendo que 65% teriam entre 18 a 44 anos e, dos quais dois terços seriam homens. O nível de escolarização também chama atenção: 43% teriam dito possuir nível superior6. 3 No início eram somente especialistas em informática que o utilizavam, até que, em 1999, a mais famosa ferramenta de produção e hospedagens de blogs até hoje foi lançada, o Blogger.com. O ano de 2002 também foi marcante, pois, com a criação da Web 2.0, outras ferramentas como Facebook, Myspace e o Twitter, (atualmente são as mais populares), têm sido disseminadas no contexto brasileiro, evidenciando o caráter social da internet. 4 Fonte: Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog>. Acessado em 27 set. 2011. 5 HTML (acrônimo para a expressão inglesa Hyper Text Markup Language, que significa Linguagem de Marcação de Hipertexto) é uma linguagem de marcação utilizada para produzir páginas na Web. Fonte: Wikipedia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/HTML>. Acessado em 27 set. 2011. 6 Sobre os demais blogueiros, 33% deste total estariam nos Estados Unidos da América, 38% no restante da América do Norte, 19% seriam europeus e o restante, 2%, em outros países. Fonte: Site Technorati. Disponível em: <http://technorati.com/blogging/article/who-bloggers-brands-and-consumers-day/>. Acessado em 27 set. 2011.
  • 28. 26 Embora os números possam nos chamar a atenção, não menos importante é observar as possíveis motivações para o surgimento e a manutenção das redes sociais na contemporaneidade. Sibilia (2008), por exemplo, defende que os textos (auto) biográficos e os diários íntimos seriam os primos românticos dos blogs. Assim, os blogs seriam uma espécie de ressurgimento deste ato impulsivo de as pessoas revelarem sua intimidade. Entretanto, penso ser interessante relativizar esse desejo de mostrar a intimidade e, até mesmo, em que ponto isso ocorre na rede. Não que essa não possa ser uma das motivações, mas me preocupa o olhar leigo, no que tange à crença7 de que, por ter esse tom intimista, os textos que circulam nos blogs encartam a realidade ipsis litteris da vida de seus escritores ou de qualquer um que seja. Baseio-me em Lejeune (1994) e Foucault (1996, apud KOMESU, 2010, p. 349)8 para asseverar que esse tom intimista e revelador funciona, na verdade, como um dos ingredientes entre o escritor do blog e seu público-leitor no processo de produção e leitura do texto, vincando que, não necessariamente, estes textos produzidos nos blogs trariam “a verdade”, até mesmo, como afirma Maciel (2004), “os gêneros confessionais são, como qualquer discurso, uma produção humana entrecortada de ficção”. Por isso, observo que tanto as redes sociais, quanto os programas de TV (reality shows), ou a expressiva vendagem de livros dos gêneros confessionais, podem até ser interpretados como um culto ao individualismo, a subjetividade, e especialmente ao “ser diferente”. No entanto, mais do que isso, acredito que essas “novas-antigas técnicas da confissão” são, tal como defende Foucault (1976, apud SIBILIA, 2003, p. 144-147), modalidades de construção da “verdade”. Diante da sucinta contextualização, surgem dúvidas do que seriam os blogs, ou como poderíamos enquadrá-los dentro do escopo comum aos estudos relacionados com a linguagem. Seriam os blogs gêneros textuais? Como poderíamos delimitar o objeto de estudos blog? Será que, em sua maioria, são jardins em que se cultiva grande diversidade de espécies de maneira organizada ou será que tudo se dá quase ao acaso? Creio que, primeiramente, em virtude das ressignificações possibilitadas pelo advento do uso da linguagem em ambiente digital, inúmeros gêneros textuais têm aflorado e/ou sido renovados nesse novo contexto discursivo, e também ganharam, observando pela óptica bakhtiniana (2000), novas características estilísticas e composicionais. Conceituar o que seja 7 Aqui a palavra crença é utilizada no sentido do senso comum. 8 Lejeune (1994), por sua vez, explica que há entre o leitor e o escritor um “acordo” de legitimidade ou, nos termos dele, um “pacto autobiográfico”, a qual se entende como uma atitude na hora da leitura onde quem escreve se compromete em ser sincero e quem lê passa a buscar fatos externos para comprovar essa suposta verdade. Foucault (1996) contribui neste aspecto pontuando que um dos mecanismos de exclusão que atravessa o discurso é a vontade da verdade, que faz com que o sujeito se constitua, assim como seu enunciado.
  • 29. 27 um blog, conforme Gomes (2005, p. 312), não parece ser muito consensual, uma vez que ele oferece uma diversidade de formas e objetivo, conectados aos mais diversos contextos, de seus também diferentes criadores. Acrescento também que diversas são as lentes teóricas que podemos usar para observar esse mesmo objeto, as quais contribuem no sentido de ampliar a gama de possibilidades. O que se observa nos blogs é que praticamente todos os gêneros que circulam no ambiente digital podem estar presentes lá, como o chat, a enquete, a poesia, o conto, a propaganda, a crítica, entre outros. Assim, há quem compreenda o blog como um suporte para esses diversos gêneros distintos (PEREIRA, 2007), como um gênero híbrido (KOMESU, 2005) ou, nos termos cunhados por Bakhtin (2000), como um gênero secundário, que absorveria por sua vez gêneros primários (LIMA, 2008b), sem perder sua característica principal, funcionando tal como num romance que contenha, por exemplo, uma carta, registrando que a carta, exemplarmente, tem seu propósito subordinado ao gênero secundário romance. É como se concebêssemos que a crônica veiculada por meio do blog fosse subordinada ao gênero secundário blog. Os blogs, assim, têm se mostrado um espaço ou suporte, ou um gênero, que tanto têm servido para os gêneros já consagrados dentro das diversas esferas de produção, quanto para os que estão se reinventando neste novo contexto de produção. Penso que, no caso desta pesquisa, mais importante que discutir se os blogs são ou não gêneros, buscando categorizá- los e enquadrá-los, está a necessidade de observar de que forma as pessoas se servem deste dispositivo de linguagem para se relacionar neste contexto. Acrescentaria que eles são também, na qualidade de software, uma ferramenta para a editoração dos mais variados gêneros. Assim, as postagens são, no meu conceito, o espaço onde se veiculam diversos gêneros, que vão desde uma poesia até tutoriais ensinando as pessoas a costurar, por exemplo. Já os comentários são, a meu ver, também gêneros distintos, que se assemelham muito aos gêneros orais, tal como o debate. A grande diferença entre o leitor de jornais impressos e o dos blogs é que estes são mais impelidos a dar sua opinião, uma vez que dispõem, inclusive, de espaço para isso. Os comentários do leitor do jornal impresso, de sua vez, poderiam se dar na presença de outra pessoa, nos monólogos silenciosos, ou nas cartas de leitores, por exemplo. Em contrapartida, para Marcuschi (2005, p. 29), os blogs são entendidos como um gênero, mais especificadamente “como diários pessoais na rede; uma escrita autobiográfica com observações diárias ou não, agendas, anotações, em geral muito praticados pelos adolescentes na forma de diários participativos”. Ele ainda compara o blog ao e-mail,
  • 30. 28 observando que naquele existe mais liberdade e menos preocupação com a pontuação e/ou com os aspectos morfológicos. Acredito que Marcuschi tenha dado sua contribuição, mas acaba não levando em consideração a amplitude que os blogs têm assumido na rede, desconsiderando, por exemplo, outros tipos/funções que atualmente são possíveis e muito usados tal como os blogs políticos, jornalísticos, para vendas, em meio a outras inúmeras possibilidades. O blog é observado como um gênero discursivo ou como um gênero híbrido também por Komesu (2005), baseando-se nos construtos teóricos da Análise do Discurso de linha francesa. Ela propõe um trabalho que busca compreender os efeitos de poder provenientes de enunciados que são criados numa condição histórica que privilegia a exposição exacerbada da intimidade no domínio público. Seus estudos são feitos a partir da aproximação de enunciados intergenéricos para levar-nos às semelhanças, bem como os possíveis traços estilísticos do gênero em apreço. A pesquisadora estabelece, portanto, que existe uma aproximação entre os blogs e os diários íntimos. Porém, ressalta diferenças endossadas pelo contexto diverso de produção (dos diários íntimos no século XIX e dos blogs, contemporaneamente), a saber: enquanto os escritores de diários íntimos escreviam para a historização de si mesmos, os blogueiros são impelidos a falar de si para os outros, com o intuito de se mostrar, de “fazer-se ver e ser visto”, numa relação permeada pela instantaneidade mediada pelo computador. Por isso, dentre algumas de suas constatações, Komesu afirma: Acreditamos que as atuais condições de produção dos discursos fazem com que o modo de enunciação dos escreventes dos blogs esteja muito mais próximo ao do das páginas eletrônicas (home pages ou websites) pessoais da internet do que ao do modo de enunciação dos escreventes dos diários íntimos. (KOMESU, 2005, p.155) Em pesquisas posteriores, Komesu acrescenta que, embora muitos blogueiros sejam movidos ainda pelo desejo narrativo do “eu”, com conteúdo temático ligado ao cotidiano, às relações familiares e afetivas, o foco dos blogs atualmente está se voltando para as atividades profissionais, para o marketing pessoal nas redes sociais e na monetização da informação propagada na rede. Assim, também os microblogs, tais como o Twitter (que só permite postagens de, no máximo, 140 caracteres), têm sido usados para divulgar, por exemplo, a insatisfação de determinado grupo social ou nacional diante de aspectos políticos. Os microblogs, assim como os blogs, constituem espaços discursivos em que se apresentam
  • 31. 29 “efeitos de sentido (poder) resultantes das relações entre linguagem e novas tecnologias”. (KOMESU, 2010, p. 345). Quando observamos nosso objeto de estudo e suas várias facetas, no meu modo de ver, podemos refletir mais atentamente para as limitações desenvolvidas no decorrer da caminhada. Dessa forma, trago para o seio da discussão as pesquisas desenvolvidas na área da Comunicação (PRIMO & SMANIOTTO, 2006; PRIMO, 2008), que tendem a observar os blogs com outro olhar, que apontam que eles não são, necessariamente, ou tão somente, um gênero discursivo, nem mesmo enunciados intergenéricos. Penso ser interessante compreender, mesmo que sucintamente, como outras áreas, tal como a Comunicação ou Jornalismo compreendem e ressignificam essas novas práticas de uso da linguagem, pelo motivo de alargar um pouco nosso campo de visão acerca do mesmo tema. Primo & Smaniotto (2006) são pesquisadores que elucidam claramente que o termo blog pode fazer referência a um texto, a um espaço, mas também a um programa da internet. Ele esclarece que, embora os programas como o Blogguer ou o Wordpress, exemplificando os mais usados atualmente no Brasil, possam ajudar na produção e manutenção de um blog, eles podem ser substituídos por qualquer programa, até mesmo os mais convencionais, para fazer sites pessoais (os quais usam outras linguagens de programação como HTML, PHP, MySQL, FTP, etc.). O pesquisador explicita, nesse diapasão, que: Mesmo reconhecendo os condicionamentos da materialidade do meio, é preciso enfatizar que o blog/texto não é estritamente determinado pelo blog/programa. As ferramentas de blog normalmente não determinam um limite máximo de caracteres por post. Como o blog/programa não pode compreender o que é publicado (se trata- se de uma poesia, uma foto, ou um conjunto aleatório de caracteres), já que a semântica lhe é estranha, não pode impor que os posts sejam necessariamente curtos nem que sigam um certo gênero discursivo. Logo, as definições de blogs como publicação de microconteúdo ou como diário íntimo na Internet revelam suas limitações, pois relacionam um tipo específico de blog/texto ao uso do blog/programa. (PRIMO & SMANIOTTO, 2006, p. 2) Portanto, como bem descrevem os autores, essa possibilidade de agregação de todo e qualquer gênero textual em um blog não o faz parecer necessariamente com os diários, antes faz com que eles tenham mais características em comum com os sites pessoais, onde o usuário “os recheia” com os mais variados gêneros, muitas vezes multimodais e multimidiáticos e estabelece links com publicação que não são necessariamente de sua autoria. Isso sem contar o papel fundamental dos comentários, que fazem parte do processo enunciativo, e que podem ser considerados outro gênero, mas que estão dentro do blog, sendo característica marcante
  • 32. 30 dele, e até muito mais interessantes para nossa pesquisa, ao passo que acreditamos residem nos comentários boa parte dos processos reflexivos. Também é interessante pontuar que, não raro, o conteúdo dos blogs acaba se desvinculando de sua plataforma inicial e finda por fazer parte de outros espaços por meio dos recursos de feed9, que podem ser compreendidos como pontos de agregação de informação que circula na rede. O usuário, portanto, não precisa visitar o blog para ler seu conteúdo, pois ele estará disponível, por meio desses recursos como os feeds (RSS10, por exemplo) em outros lugares da rede. Recuero (2003, apud PRIMO & SMANIOTTO, 2006), por sua vez, incorpora uma tipologia um pouco diferenciada, que, a meu ver, apresenta uma caracterização um pouco mais abrangente do universo da linguagem dos blogs, podendo ser: a) diários, tratam basicamente da vida pessoal do autor; b) publicações, comentários sobre diversas informações; c) literários, os posts trazem contos, crônicas ou poesias; d) clippings, agregam links ou recortes de outras publicações; e) mistos, misturam posts pessoais e informativos, comentados pelo autor.” (RECUERO, 2003 apud PRIMO & SMANIOTTO, 2006, p. 3) Já a definição abaixo, talvez, se revele mais esclarecedora. Acrescento entretanto que, embora as postagens obedeçam a uma ordem cronológica, hoje, a maioria dos programas que hospedam os blogs possibilita aos usuários mostrar o arquivo daquilo que já foi postado tanto em ordem ascendente como descendente. De modo geral, o “blog” ou blogue (em uma versão mais próxima à grafia portuguesa), é uma página comparada a um diário virtual, uma vez que apresenta registros freqüentes de informações, atualizados por meio de inserção de mensagens, mais conhecidas como posts, e cuja apresentação obedece à ordem cronológica ascendente (inicia-se a página pelo post mais atual). Os posts podem pertencer ou não ao mesmo gênero de escrita, fazer referência ao mesmo assunto ou ter sido escrito pela mesma pessoa ou por pessoas diferentes, isso vai depender de divulgação, interesse e aceitação do usuário proprietário do blog para publicação do comentário. O blog é caracterizado pelo tom informal e pela diversidade de temas que pode abordar. Como pode ser escrito por uma ou mais pessoas, costuma expressar uma gama ampla de idéias e opiniões. (RODRIGUES, 2008, p. 43) 9 Feed (vindo do verbo em inglês "alimentar") é um formato de dados usados para distribuir informação na rede no momento em que o conteúdo é atualizado. É frequentemente usado em sites de notícias ou blogs. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Feed. Acessado em 27 set. 2011. 10 RSS é um subconjunto de "dialetos" XML que servem para agregar conteúdo ou "Web syndication", podendo ser acessado mediante programas ou sites agregadores. É usado principalmente em sites de notícias e blogs. A abreviatura do RSS é usada para se referir aos seguintes padrões: Rich Site Summary (RSS 0.91), RDF Site Summary (RSS 0.9 e 1.0), Really Simple Syndication (RSS 2.0). Fonte: http://pt.wikipedia.org. Acessado em 27 set. 2011.
  • 33. 31 Os blogs são, em meu entendimento, páginas na internet que se assemelham às home pages comuns, porém o que os diferencia são aspectos como a facilidade de diagramação, a gratuidade, o aspecto dinâmico, plástico, hipertextual e hipermidiático, uma vez que abrigam além de texto, imagens, links, vídeos e músicas, por exemplo. Os blogs também dão o ensejo ao visitante, ou aos seguidores, de poderem acessar todas as postagens e comentários que foram feitos desde a sua criação, a partir do histórico das postagens, além de discutir o assunto que esteja sendo veiculado (se assim permitido pelo autor do blog) com comentários. O histórico das postagens se auto-organiza normalmente em ordem cronológica ascendente, ainda que os sites que hospedam os blogs, atualmente, possibilitam aos blogueiros, como são denominados os usuários dos blogs, inúmeras maneiras de dispor a informação. Os blogs podem ser tanto individuais quanto coletivos, e os assuntos são tão variados quanto o desejo de seus usuários. Embora, a princípio, o estilo e os gêneros dos textos produzidos tenham certa proximidade com o diário íntimo, hoje, a pluralidade de funções, estilos e gêneros é algo latente no universo dos blogs. De posse dessas tentativas de definição, interessantes que são, pois ajudam os pesquisadores a olhar com mais perspicácia seu objeto de estudo, ficam estas perguntas: como usar os blogs no processo de ensino-aprendizagem de línguas? Como fazer isso na escola? Como fazê-lo sobretudo na escola pública? A escola tende a incorporar em suas práticas cotidianas as TIC11. Assim como outras ascensões, (re)produções e disseminação de informação que tiveram como berço a internet, os blogs estão sendo incluídos no processo de ensino-aprendizagem como ferramentas que dinamizam o processo e possibilitam novas formas de interação e de trabalho. Isso se dá tanto pela pressão social quanto pela necessidade de incluir nas aulas, práticas que satisfaçam os anseios dos próprios estudantes, deixando-as em sintonia com as expectativas da classe estudantil. Podemos denotar certo incentivo governamental para que isso ocorra, especialmente com as tentativas de massificação de laboratórios de informática ligados à internet nas escolas públicas, como o proposto pelo Programa ProInfo do Governo Federal, ou com as políticas de inserção desses laboratórios levadas a cabo pelos governos estaduais e municipais. Em portais oficiais como Portal do Professor12, desenvolvido e monitorado pelo Ministério da Educação e Cultura, observa-se uma tentativa de organização do material disponível na rede 11 Tecnologias de Informação e Comunicação. 12 http://portaldoprofessor.mec.gov.br
  • 34. 32 para os professores. Também é pulsante a movimentação social e governamental em prol do letramento digital, da inserção de grupos sociais na dinâmica virtual. Segundo Paiva, (2010, p. 3), há uma tendência internacional para que as políticas governamentais persigam a criação de redes digitais e a informatização. “Os governos no mundo inteiro estão preocupados em possibilitar o acesso às tecnologias digitais a todas as camadas das populações, especialmente no setor educacional.” Entretanto, como posteriormente afirma essa pesquisadora, parece que os esforços governamentais aparentemente não estão convergindo na apropriação de tecnologia por parte dos professores, ao menos de maneira não tão rápida, tal como a sociedade e o governo parecem esperar. Vale a pena ressaltar que esse descompasso entre os anseios da sociedade capitalista e a apropriação da escola e dos professores de novas tecnologias e/ou novas formas de ensinar é passível de ser relativizado. Baseada em Bax (2003), Paiva (2010) frisa que a apropriação das novas tecnologias pelos professores se sucede processualmente, e oferece-nos até um esquema dos estágios de normalização das tecnologias. Por isso, o uso dos computadores e de suas ferramentas ocorrerá de maneira processual, mas não necessariamente com todos os profissionais, muito menos ao mesmo tempo, uma vez que são vários os fatores que concorrem para que essa normalização do uso ocorra. [...] será inevitável a convivência com as tensões e ciclos concomitantes de adeptos iniciais, resistências, tentativas, medo ou veneração, normalização ou morte de uma tecnologia. Enquanto alguns professores já se apropriaram do Orkurt, Second Life, e Twitter para fins educacionais, a maioria ainda não tem blog nem página pessoal e mal usa o e-mail. Muitos demandam programas de capacitação e outros preferem se manter à margem das inovações. (PAIVA, 2010, p. 8) Falando em exemplos práticos, se mergulharmos na rede, facilmente encontraremos blogs de alunos e professores, tanto individuais quanto coletivos. Seja nas escolas seja nas aulas dos professores que buscam aportar para o ambiente escolar, ferramentas como os blogs, isso vem se caracterizando como uma prática corriqueira. Hoje, observamos, por exemplo, blogs de professores que buscam expor na rede seu perfil, suas aulas, suas opiniões, suas sugestões, enfim, um recorte de seu trabalho docente. Temos alunos criando blogs individuais e coletivos, por “incentivo” do professor, para a apresentação e desenvolvimento de trabalhos de pesquisa, para manter um portfólio de seu desenvolvimento intelectual, entre outras coisas. Os blogs podem ser de uma disciplina específica ou transdisciplinares e acabam sendo uma representação na rede de escolas, grupos sociais, grupos de alunos, grupos profissionais, em meio a outros.
  • 35. 33 Em decorrência dessa ânsia pelo uso das TIC em sala de aula, alguns estudos têm contribuído para entendermos como e em que proporção essas novas ferramentas têm sido ou poderiam estar sendo utilizadas em prol da melhoria do processo de ensino-aprendizagem, no contexto brasileiro atualmente. Embora não sejam abundantes as pesquisas relacionadas com o uso pedagógico dos blogs, já temos, no meio acadêmico, trabalhos que levam em linha de conta as possibilidades do uso deles na ressignificação desse processo, tanto de língua materna quanto de língua estrangeira. Rodrigues (2008) é um bom exemplo disso. Partindo do pressuposto que os recursos tecnológicos dos quais algumas escolas já dispõem não têm sido explorados a contento, propôs duas tarefas de produção de texto, as quais utilizavam os blogs como lugar de publicação. Assim, tal como Gomes & Lopes (2007), suas observações levaram-na a compreender que, quando o professor formata o blog, centralizando seu uso, pedindo ao aluno que simplesmente entre no blog e escreva o que o próprio professor propôs e delimitou, ao invés de uma prática ressignificada, há um engessamento do cotidiano escolar. Lanza (2007), por sua vez, utilizou o blog como material didático no ensino de língua espanhola em sua pesquisa. Ela organizou uma tarefa que utilizava blogs pré-selecionados, como fonte de informação. A autora criou um banco de blogs que possuíam textos ligados à realidade social brasileira, aos temas transversais e que são, por natureza, autênticos. Ela conclui que o blog é um ótimo material didático (se assim concebido), mas que, ao mesmo tempo em que tem essa qualidade de ser atualizado, também é volátil, pois seus usuários podem simplesmente deixar de atualizá-los, tornando-os inativos, ou até mesmo excluir sua conta. Na pesquisa de Kosikoski (2007), a qual envolve a ato de escrever em língua estrangeira, o blog é tido, na representação dos alunos de língua inglesa do ensino médio e da pesquisadora, como uma interface diferenciada e mais produtiva no quesito “interação” durante o processo de escrita. A pesquisadora contrasta o ato de escrever em diferentes “interfaces” propondo atividades de produção textual que tinham, como objetivo, preparar o aluno para o mercado de trabalho. Quando essas atividades eram feitas na interface papel, as dificuldades de escrita, conforme a pesquisadora, pareciam aflorar, enquanto que, usando o blog como interface, os alunos experimentaram não só nova forma de interação entre eles, mas entre os alunos e a ferramenta blog, e entre eles e a internet. O trabalho de Gomes (2005) defende a ideia que blogs educacionais podem ser usados tanto como ferramenta quanto como recurso e/ou também como suporte para a publicação de textos. O blog educacional em seu caráter de ferramenta, é visto como aquele que abre uma
  • 36. 34 dinamização dos processos de pesquisa, enfatizando o processo de filtragem e observação da relevância da informação. Pode também, conforme a autora, ser apreendido na condição de recurso, porque faculta a prática colaborativa, a criação de comunidades de aprendizagem e certa descentralização da figura do professor no processo de ensino-aprendizagem. Pode, ainda, ser simplesmente o suporte para a publicação de textos escritos na escola em práticas de produção textual que não necessariamente se utilizam das outras possibilidades que o blog proporciona aos seus usuários, podendo neste caso ser comparado a um mural virtual. Observando toda essa movimentação das/nas redes sociais é que Fumero (2005) sinaliza que os blogs são, entre outras ferramentas, marca fortíssima da tendência de socialização da rede, o que, para ele, seria o primeiro passo para nos tornarmos a verdadeira “Sociedade da Informação”, onde o ciberespaço não é considerado como algo para viver além da vida cotidiana, mas como mais um espaço de desenvolvimento da experiência humana social em sua totalidade. Justapondo-se a este ponto de vista temos também Signorini & Cavalcanti (2010, p. 423) que apresentam algumas das perspectivas a serem observadas quando lidamos com artefatos tecnológicos. As autoras apontam que é relevante, na pesquisa sobre os artefatos tecnológicos, compreender este fato: 1- Eles são desenhados e construídos por pessoas13, portanto não são naturais, neutros, dados e, que eles são carregados, tal qual como qualquer uso linguístico, de interesses, valores, (pré) conceitos; 2- Sua materialidade é forjada e determinada dentro de um dado contexto histórico e social, fazendo-os desta forma, integradores de uma certa comunidade, de um certo discurso, marcado no tempo e no espaço; 3- São feitos a partir de uma multiplicidade de componentes, o que não os fazem uniformes, mas pelo contrário, frágeis e fragmentários. É necessário integrar e articular as suas diversas “peças”, para que eles funcionem14; 4- Reconfiguram-se o tempo todo, desde o seu “nascimento” até a sua alteração drástica, quando se transforma em outro artefato ou “desaparecem”. Essa característica mutável é dada pelo fato de que as tecnologias coexistem e coevoluem e, também porque inúmeras adequações e adaptações são criadas pelos usuários. Portanto, quando observo o espaço dos blogs, vejo que eles são, por excelência, criadores de e criados por comunidades discursivas15 na rede. Um espaço onde justamente as 13 Grifo meu. 14 Grifo meu. 15 Embora este não seja o enfoque do trabalho, penso ser importante balizar teoricamente dentro de quais termos trago a expressão Comunidade Discursiva (doravante CD). Um dos autores que é deveras citado em se tratando da locução CD é John Swales (1992), o qual inclusive propõe critérios para delimitar o que seria e o que não seria uma CD. Após inúmeras reformulações conceituais, Swales (1998, apud Lima, 2008a) estabeleceu que trabalharia com a expressão CD local, que compreenderia “um grupo de pessoas que trabalhariam juntas (embora nem sempre), possuindo geralmente um nome, consciência dos papéis designados a cada membro, um
  • 37. 35 práticas sociais ocorrem. Sendo assim, eles não podem ser observados tão somente como um “ponto de encontro” na rede, visto que, como bem pontuam as autoras supracitadas, a materialidade linguística dos blogs só ocorre (e só poderia se dar) dentro daquele contexto histórico e social, sendo forjada para tal. Os blogs, também se exibem com chances de gerar resultados significativos no que tange à qualidade dos textos produzidos, da quantidade de leituras feitas, do serviço de pesquisa e seleção de fontes, enfim, de contribuir para o letramento digital dos alunos, desde que haja um real e coletivo envolvimento dos sujeitos em sua produção. Rodrigues (2008), em sua pesquisa, enfatiza que, além do trabalho com novas práticas de ensino, o que mais se modifica nessa nova relação professor-aluno-escola-tecnologia ao usar blogs, por exemplo, é que nós, professores, deixamos de ser o centro do processo, ou aquele para quem (unicamente) se escreve e o qual avalia. Um novo perfil, o de professor orientador, o de leitor críticos dos textos parece estar sendo requisitado pela nova prática social. Acrescento que os blogs, de igual maneira, podem ser justificados nas aulas de língua estrangeira, por atenderem a um dos grandes desafios enfrentados durante o processo de formação docente dos professores de língua, que é a questão do uso da língua escrita significativamente. Não bastasse, os blogueiros podem visitar e ser visitados por usuários da internet que não pertençam necessariamente ao ambiente escolar, ampliando, assim, as fronteiras do ambiente escolarizado, fazendo com que ele se aproxime do uso real da língua na/pela sociedade em geral. Embora ainda haja muita resistência da comunidade escolar e da sociedade em geral quando o assunto é educação a distância e/ou em ambiente virtual, de certa forma elas têm crescido, em decorrência do já exposto panorama histórico vivenciado por todos nós. Dados de 2010 da Associação Brasileira de Educação a Distância relatam que já são mais de 200 as instituições que oferecem cursos e, mais de dois milhões de alunos matriculados16. A educação a distância cresce significativamente em nosso país. Em adendo, a busca por uma conjunto de gêneros, ritmo de trabalho e vocabulário próprios e uma consciência de sua história”. Finalmente, Lima (2008b), em estudos sobre blogs e CD, propôs um realinhamento da teoria swalesiana, defendendo os seguintes termos: CD global seriam “redes sóciorretóricas amplas formadas a partir de múltiplos subgrupos organizados hierarquicamente e interelacionados entre si por um ou mais objetivos, gêneros, valores e léxico comuns”. Já uma CD local seria “um grupo menor pertencente a uma comunidade com quem compartilha objetivos, valores, léxico e gêneros, mas que no entanto apresenta em sua constituição traços próprios relativos a essas categorias, o que identifica como um grupo menor formado a partir de objetivos, valores, léxico e gêneros específicos, podendo também ter uma hierarquia própria, sempre situando-se no todo hierárquico maior da comunidade global a que pertence”. Desta forma, alio-me ao conceito reformulado por Lima e me baseio nele ao compreender o blog Reflection in Action como uma CD local e também global. 16 Fonte: Censo ead.br / organização Associação Brasileira de Educação a Distância Disponível em <http://www.abed.org.br/censoead/CensoEaDbr0809_portugues.pdf>. Acessado em 25 nov. de 2011.
  • 38. 36 formação docente alicerçada na colaboração em rede tem sido algo almejado, tanto por quem trabalha com esse segmento educacional quanto por quem trabalha com o ensino presencial. Zulian (2003) já considerava que as TIC tinham um potencial afirmativo na formação docente, ao passo que possibilitam ressignificações das metodologias utilizadas no processo de aprendizagem, das relações interpessoais, bem como do papel da universidade neste contexto. Entretanto, ainda são inúmeras as dúvidas que pairam no ar quando o assunto é a formação de professores diante dos desafios da dita pós-modernidade. Eu adiciono a estas perguntas: como os blogs poderiam ajudar nessa empreitada? Reichmann (2009) descortina um interessante estudo relativo a narrativas de formação em blogs reflexivos, relatos e diários na formação de professores de língua estrangeira. Conforme a autora, o espaço do blog foi capaz de proporcionar aos professores em formação uma ressignificação de objeto de estudo e de si mesmos, pois permitiu-lhes reposicionar-se em sua própria história narrada. Nesta pesquisa, a autora também observou que as postagens (as quais foram escritas em língua materna) favoreceram o processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira, revitalizando o ensino presencial e a sala de aula, pois construíram significados e ampliaram o lugar do aluno neste contexto específico. Já Machado (2008), em sua pesquisa sobre a formação de educadores e o uso de blogs, compreendeu que é importante, quando trabalhamos e/ou produzimos blogs de cunho educacional, redigir as postagens e/ou os comentários com “bases de argumentação, troca de ideias, experimentação, ousadia [sem temer os riscos], interpretação, análise, crítica, síntese e proposição de hipóteses que sejam perenes” (idem, p.103). Conforme o autor, o conteúdo discutido no blog fará parte de uma grande base de dados e se tornará referência na internet, podendo ser acessado por mecanismos de busca como o Google, por exemplo. Por esse motivo, o pesquisador advoga que os educadores ainda carecem de esclarecimentos, informações e de um uso mais corrente das tecnologias, evidenciando que a própria internet pode ser um canal de formação continuada, de busca e de trocas de experiências relevantes. A pesquisa desenvolvida por Fonseca (2009) investigou a relação dos professores com os blogs, enfatizando as dificuldades mostradas por eles, além de observar o relacionamento dos ainda alunos com a ferramenta. Dentre suas averiguações, Fonseca aponta a falta de estrutura física tecnológica da escola pública brasileira que, mesmo tendo laboratórios de informática, em virtude da falta de manutenção e de técnicos de suporte, acabam por se tornar sucata e inviabilizar o trabalho de professores e alunos interessados em se inserir no ambiente digital.
  • 39. 37 A autora supracitada também tece crítica a programas de formação digital, como o caso do ProInfo, mantido pelo Governo Federal. Ela o considera um projeto insipiente, uma vez que, mesmo tendo como objetivo equipar 100% das escolas básicas com laboratórios de informática, não capacita os professores (acentuando que ela observa que muitos também não buscam sua capacitação), nem dá suporte técnico especializado para a manutenção desses laboratórios. O Brasil parece ter longo caminho a percorrer no que tange à informatização das escolas e à inserção da comunidade no ambiente digital. Outra observação de Fonseca, que cabe inclusive à nossa proposta de blog colaborativo, é que as práticas de inserções de Processos Imperativos17 num blog que busca ser colaborativo “destoam da proposta e acabam por afastar os alunos” (idem, p.117). O professor tem que ter uma postura pró-ativa. De nada adianta, na opinião de Fonseca, termos blogs educativos que não proporcionem a interação, as buscas, as descobertas. Caso contrário, teremos blogs/livros didáticos no velho estilo “donos da verdade”, que de nada se parecerão com a proposta criada pelos grupos sociais que a princípio os desenvolveram e os utilizam contemporaneamente. Atentando para as pesquisas e para a produção teórica que vem sendo desenvolvida sobre o assunto blogs em diversas universidades, fica clara a preocupação em perceber como essa ferramenta pode ser incorporada em sala de aula de língua materna e língua estrangeira, pontuando que o objetivo mais recorrente parece ser este: envolver o uso de blogs com a prática de escrita para alunos de ensino médio. Porém, são ainda raras as pesquisas que dão conta dos blogs como promotores de um ensino mais reflexivo e colaborativo. Esta pesquisa se torna válida, uma vez que buscará averiguar como os blogs podem ser uma ferramenta utilizável na formação de professores de línguas, trabalhando tanto o uso/aprendizagem da própria língua estrangeira quanto proporcionando um ambiente em que através da colaboração, os envolvidos poderiam estar ressignificando o conhecimento e pondo em prática posturas mais reflexivas e críticas. Para ter um pouco mais de clareza acerca dessas representações e da influência dos blogs educacionais como catalisadores de processos reflexivos e do desenvolvimento de uma postura crítica, é necessário também observar que as práticas em sala de aula fazem parte da formação do sujeito-professor, mas não são as únicas responsáveis pelo processo. Por isso, devemos levar em consideração que, quando os professores em pré-serviço chegam a seu 17 De acordo com a Gramática Sistêmico-Funcional, baseada em Halliday (2004), as ações são trocas linguísticas que podem ser mapeadas, e elas nos permitem investigar a maneira como os envolvidos com a interação expressam suas atitudes, ou seja, como processos imperativos, declarativos e interrogativos, por exemplo.
  • 40. 38 curso de graduação, carregam muitos conceitos pré-estabelecidos em relação, por exemplo, à escola pública e ao ensino de línguas. Isso se dá pela própria vivência que eles provavelmente tiveram neste contexto e é reforçada pelas vozes sociais, a exemplo da mídia, e pelas crenças ou representações18 de seu ambiente cultural. Por sua vez, os blogs educacionais podem se constituir um ambiente que pode favorecer aos alunos contato com diversas opiniões acerca de um assunto em pauta. 1.2 Segundo canteiro: cultivando o profissional crítico-reflexivo Crer na prática reflexiva no fazer docente é acreditar que essa postura traz melhoria para o processo de formação do professor e também para o processo de ensino-aprendizagem em geral, e que ambos não se dão pelo simples acúmulo de teorias, mas sim a partir de um processo de reflexão sobre a prática e os construtos teóricos em uma constante reformulação deles (SCHÖN, 1995; NÓVOA, 1995). Libâneo (2010, p. 62), por sua vez, assevera que essa preocupação com a reflexão em sala de aula não é um fenômeno tão contemporâneo, uma vez que em diversos outros autores, como Dewey, Schön, Vigotsky e Piaget, há uma clara preocupação de que é (ou deveria ser) o papel da escola desenvolver o pensar, já que essa capacidade pode ser aperfeiçoada e estimulada para o empoderamento dos sujeitos. Mas, ao mesmo tempo, o autor observa que a reflexão docente, tal como tem sido apreendida na época moderna, foi concebida em berço iluminista, tendo crença na supremacia da razão e no potencial reflexivo como um ato intrínseco, ou seja, nato ao ser humano. Acrescento ainda que, em muitos casos, as correntes teóricas que discutem a reflexão docente acabam por desconsiderar as forças sócio-histórico- ideológicas nas e pelas quais a sociedade se constrói. Libâneo (2010) aponta para o fato de que entre as versões para o termo reflexão, distinguem-se a visão idealista, a prática e a dialética. Na idealista, o sujeito é autorreflexivo e se orienta a uma nova prática que muda sua realidade. Na visão prática, ou pragmática, o sujeito está centrado em pensar a experiência prática e, assentado nisso, definir como serão as 18 Embora esta não seja a discussão desenvolvida neste trabalho, acredito ser importante expor em que termos utilizo as palavras crença e representação, pois são dois conceitos amplamente discutidos pela Linguística Aplicada. Sigo a partir deste momento em meu texto o que conceitua Barcelos (2006, p.18) sobre o termo crença: “como uma forma de pensamento, como construções da realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, co-construída em nossas experiências e resultante de um processo interativo de interpretação e ressignificação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais). Dinâmicas, contextuais e paradoxais”. Enfatizo que utilizo ambos os termos, crença e representação, como sinônimos.
  • 41. 39 próximas. Já na concepção dialética, a realidade é entendida como uma construção teórico- prática, que é captada com base em nossa experiência, a qual é notadamente subjetiva. Por isso, antes mesmo da reflexão exercida pelo sujeito, há uma realidade dada, que independe de minha reflexão, e outra, essa, construída pelo sujeito, tendo como alicerce a reflexão. Pelo caminho dialético de compreender reflexão, o autor ainda pontua que essa concepção pode desencadear em uma postura crítica emancipatória ou num viés que, além de ser crítico, leva em consideração que também a reflexão agasalha as suas próprias limitações, inerentes a este trabalho intelectual. “[...] a chamada teoria crítica acentua o caráter político da teoria em relação à prática, pois o conhecimento teórico tem a função de operar o desvendamento das condições que produzem a alienação, as injustiças, as relações de dominação. Mas esse conhecimento precisa ser crítico, implicando uma auto-reflexão sobre si próprio, seus compromissos e seus limites.” (LIBÂNEO, 2010, p. 57) Sacristán (2010) corrobora essa explicitação das tendências investigativas na formação de professores ao incitar a discussão sobre as grandes correntes teórico-pedagógicas que influenciaram e influenciam o que se entende por reflexão docente. Para o autor, há uma vertente pós-positivista e uma pós-weberiana. Retomando o que fora em outro passo exposto, convém lembrar que, num dado momento histórico, político e social, há uma tendência que prevalece. Contudo, conforme o autor, ambas as tendências têm caminhado desde seu surgimento na modernidade, até contemporaneamente, com o objetivo de intelectualização e reestruturação do processo produtivo para o empoderamento dos sujeitos, ou seja, o que era e ainda é necessário, afina com flexibilidade profissional. Assim, Sacristán compreende que, entre as teorias pós-positivistas, ou neoliberalistas, estariam as de cunho behaviorista, que posteriormente vieram a ser chamadas de cognitiva e cognitivista. Dentro dessa linha, conforme o autor, estão Dewey e Scho n. Já a pós-weberiana, baseia-se na teoria marxista/neomarxista, a qual, conforme Sacristán, busca o conhecimento usando lentes políticas. Essa visão leva em conta que a ciência social é construída baseada na subjetividade do pesquisador, de seus interesses. Ele, o pesquisador, seleciona, conforme sua realidade complexa e caótica, elementos para montar seu “tipo ideal” e então poder trabalhar com ele. Dessa forma, podemos observar que a preocupação em formar profissionais que atuassem de maneira reflexiva não é algo tão recente nas discussões acadêmicas, nem
  • 42. 40 tampouco consensual, uma vez que na década de 30, nos Estados Unidos, igualmente no Brasil e na Europa, já a partir da década de 70, esse assunto esteve em pauta de discussão. Pimenta (2010) argumenta que houve uma preocupação exacerbada sobre esse tema no meio acadêmico brasileiro após a década de 90. Ela constata que isso acorreu após a publicação do livro Os professores e sua formação, coordenado pelo professor português Antônio Nóva, (1992), obra cujos textos se devem a autores europeus e norte-americanos. A pesquisadora aponta para o fato de que, por questões contextuais, o tema obteve na época um terreno fértil em nosso país, por inúmeros motivos, entre eles as preocupações do governo com a formação docente (o que já estava, inclusive, nas leis e propostas para a educação), o crescimento dos cursos de pós-graduação no país e com eles a pesquisa e as (re)organizações e (re)valoração tanto do papel da escola quanto do professor nas transformações socioeconômicas e políticas da sociedade. Após um tempo de efervescentes discussões, não somente no Brasil mas principalmente no ocidente, as discussões acadêmicas acabaram por guiar-se por caminhos tão diversos, que tal como avalia Rodgers (2002, apud ZEICHNER, 2008), tornaram-se tudo para todos e acabaram perdendo sua visibilidade. Se bem assim, muitos trabalhos de pesquisa relacionados com a prática e com a formação docentes com ênfase reflexiva têm sido desenvolvidos nos últimos anos em nosso país, entre os quais cito Assis-Peterson & Silva (2010), Freire (2009), Geraldini (2003), Liberali (1994; 1999), Magalhães & Celani (2005), Melão (2001), Moita-Lopes (1996), Oliveira (2008) e Pimenta (2010). Penso que, de antemão, é interessante ressaltar que, embora sigam diversas tendências, percebo que, em sua maioria, os pesquisadores dessa área fazem esforços em no mínimo dois sentidos que se entrecruzam na caminhada. Primeiramente, dialogam em busca de compreender o que é a reflexão e como ela funciona. Posteriormente, discutem como as pesquisas e a universidade em si (dentro da formação inicial e também da continuada) podem contribuir de forma mais eficaz na valorização de uma cultura reflexiva no meio educacional, asseverando quanto essa prática pode(ria) ser útil neste contexto. Ao propor uma retomada histórica, penso ser John Dewey, provavelmente, um dos autores mais citados quando o assunto é reflexão. Ele foi um dos educadores que, já no início do século passado, começou a se preocupar com aquilo que denominou de extremos da educação de seu país, Estados Unidos. Mas, afinal, quais foram as angústias que fizeram este tema aflorar em seus estudos? Para ele, alguns dos extremos que ocorriam em seu contexto eram ou centralizar a educação nos programas, o que era tido naquele momento como pedagogia tradicional, ou, focar na criança, que era concebido como algo “romântico”. Sua