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Sustentabilidade
inovação para uma economia verde
                                                                           ano IV • edição no 3
                                                                     outubro/novembro 2011
                                                           Impressa: R$ 22,50 Online: R$ 5,99



          EDIÇÃO ESPECIAL DE ENERGIA: EFICIÊNCIA E RENOVÁVEIS




                                              Smart Grid: país entra de vez
                                                     na geração distribuída

                                       Hidrelétricas vs Energias Renováveis:
                                                         para onde vamos?

                                                     Educação e Tecnologia:
                                                          soluções para o
                                                     consumo responsável




                                             O BARATO SAI CARO
                      Sem foco e planejamento, o custo de economizar
                      1 MWh nos programas oficiais é três vezes maior
                           que o da geração de 1 MWh em Belo Monte

dia mundial da água
                        www.revistasustentabilidade.com.br            dia mundial da água
Sustentabilidade é inovação.
                 Sustentabilidade é inteligência.

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3
                                                                                                                        editorial }




A ineficiência energética brasileira

G
          ostaria de escrever sobre avanços tecnológicos, inves-      está em crise e não há outro lugar para investir com tamanha
          timentos em novos projetos, programas de educação           rentabilidade já que nos países desenvolvidos as taxas de juros
          das empresas, universidades e governos para melhorar        rondam o zero. A enxurrada de dinheiro fortalece o real e força
o desempenho energético do país e a relação entre consumo e           o Banco Central a ‘enxugar’ este capital comprando direta-
produção de energia, qualidade de vida e meio ambiente.               mente os dólares no mercado e vendendo títulos, tirando da
   No entanto, o que relatamos nas matérias desta edição – fora       economia dinheiro essencial para investir. Aumentamos nossas
algumas iniciativas pontuais – é uma série de entraves legais,        reservas cambiais – hoje acima de US$ 340 bilhões –, mas im-
gerenciais e macroeconômicos que conjuram contra botar o              possibilitamos o aumento da taxa bruta de investimento – hoje
Brasil no pódio da corrida pelas novas energias renováveis e efi-      abaixo de 20% do PIB.
ciência energética.                                                      Juros altos também retiram a capacidade do governo de in-
   O ambiente macroeconômico desencoraja qualquer investi-            vestir e planejar. Nos primeiros sete meses de 2011, o governo
mento nestas áreas. De um lado temos taxas de juros escor-            federal criou um superávit primário de R$ 91 bilhões, enquanto
chantes de, no mínimo, 12% ao ano. Do outro, temos uma moeda          os investimentos ficaram em R$ 25 bilhões.
fortalecida artificialmente frente ao dólar e ao euro. Juntos, estes      Os reflexos para a eficiência energética são óbvios: por que in-
fatores impossibilitam ganhos de competitividade, investimen-         vestir em novos equipamentos e processos e obter ganhos
tos em inovação e ameaçam fortemente nosso parque industrial,         econômicos na conta de luz de um dígito se a aplicação na
pois, para as empresas, é mais barato importar equipamentos e         ciranda financeira rende no mínimo 12% anuais, sem risco? É uma
produtos do que investir.                                             lógica perversa, apesar do alto custo da eletricidade no Brasil.
   Câmbio e juros estão intimamente ligados. Juros altos                 Há quem diga que temos um potencial para economizar ime-
atraem capital especulativo, principalmente quando o mundo            diatamente 30% de todos os 420 terawatts-hora consumidos


                                                                                            Revista Sustentabilidade Edição Especial
4
editorial }




anualmente no país. Mas, no Plano Decenal de Energia (PDE) e      biomassa e etanol celulósico, tecnologias que já vêm sendo
no Plano Nacional de Eficiência Energética (PNE ) foram iden-      viabilizadas em outros países.
tificados potenciais de economia energética de 5% e 10% em            Os entraves, contudo, persistem. A capacidade de geração de
2020 e 2030, respectivamente.                                     conhecimento de nossas universidades é imensa, mas não con-
   É pouco. Afinal, parte do plano prevê investimentos e ino-      seguimos transformá-la em inovação efetiva. Falta criar meca-
vação, por parte das empresas, em melhorias do desempenho         nismos que aproximem centros de conhecimento e empresas,
energético de produtos e processos, que podem não vir à luz por   para que estas invistam em inovação.
conta do nefasto ambiente macroeconômico.                            A criação deste ciclo de investimento é improvável num
   Do lado das energias renováveis, podemos até comemorar o       cenário de escassez de dinheiro. O mundo está numa corrida
sucesso da eólica que, com preço baixo, acabou se instalando de   pelo controle das novas tecnologias energéticas limpas. O
fato no Brasil com mais de meia dúzia de fabricantes de equipa-   Brasil, apesar de seus abundantes recursos naturais – sol, vento,
mentos investindo no país após uma década de tentativas. O        biomassa, água – custa a entrar nesta corrida. Falta foco em
sucesso vem da política de obrigar um índice mínimo de 60% de     políticas públicas e pragmatismo contra os entraves micro e
nacionalização da tecnologia como contrapartida para o finan-      macroeconômicos.
ciamento barato do BNDES. Vem também, sobretudo, da neces-
sidade das empresas eólicas estrangeiras buscarem mercados
ativos após o colapso dos mercados na Europa e EUA.
                                                                     Boa leitura,
   Deveríamos fazer dessa janela de oportunidade uma
política consistente e concreta, de olho nas demais renováveis       Alexandre Spatuzza
como a solar fotovoltaica, células a combustível, termossolar,       Diretor de conteúdo




Revista Sustentabilidade Edição Especial
5
                                                                                                                                             sumário }
              6 Capa Eficiência Energética                                            30 Artigo
                   O barato sai caro                                                     Energia: o que muda
                                                                                         com a Convenção do Clima?
            17 Eficiência Energética
                   Educação e Tecnologia: soluções                                    32 Geração distribuída
                   para o consumo responsável                                            Brasil entra na era da smart grid
                                                                                         em 2012
            19 Artigo
                  Demandas tecnológicas para                                          37 Artigo
                  a eficiência energética                                                 Eficiência e sustentabilidade

            22 Entrevista                                                             38 Entrevista
                   Hamilton Moss de Souza                                                Maurício Tolmasquim

            25 Estudos de casos                                                       41 Artigo
                   Gerenciamento do calor                                                Leilões de energias renováveis
                   em equipamentos
                                                                                      42 Capa Energias Renováveis
            27 Perspectiva                                                               Hidrelétrica vs Solar,
                   Projeções de consumo ascendente                                       Eólica e Biomassa
                   e desenvolvimento responsável
                                                                                      50 Energia Eólica
            29 Artigo                                                                    Promessas de um mercado promissor
                   Economia de baixo carbono
                   e a eficiência energética




                                                  Colaboradores                                    Aliança estratégica e comercialização
                                                  Eugênio Melloni, Janaina Simões e Marcel Gomes   InvestVida Brasil

                                                  Projeto gráfico e direção de arte                Diretor Executivo Ailton Oliveira
A edição especial da Revista Sustentabilidade –   Lu Cury
Energias Renováveis/Eficiência Energética é uma                                                    Distribuição online ou em bancas
publicação do portal Revista Sustentabilidade     Assistência de arte                              com exclusividade própria
                                                  Ione Gomes Franco
Projeto editorial e reportagem                                                                     Para anunciar
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                                                  Revisão Elmo Odorizzi                            Encontre-nos também nas redes sociais:
Diretor de conteúdo
Alexandre Spatuzza (MtB 42261/SP)                                                                         www.facebook.com/RevistaSustentabilidade
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Editor executivo                                  Telefone: (+ 55 11) 3467-9008
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6
eficiência
energética }




         O BARATO

         A falta de planejamento tem um preço amargo:
         no Brasil, hoje, é mais barato construir novas
         usinas do que economizar energia

          Por Alexandre Spatuzza




O
            s sinais econômicos e o desempenho brasileiro na        construir novas usinas com potência total de 1,7 mil megawatts.
            área de eficiência energética são no mínimo confli-          Isso equivale a um investimento de R$ 347,00 para cada
            tantes. Cresce o rigor da legislação ambiental e o      megawatt-hora economizado. A falta de foco e eficácia desses
preço da energia elétrica se mantém alto – principalmente para      programas de eficiência energética, entretanto, é revelada por
as empresas –, incentivando fortemente a implantação de me-         uma simples comparação: o investimento a ser feito em Belo
didas de eficiência energética. Enquanto isso, entretanto, os es-    Monte para gerar 1 megawatt-hora será de R$ 77,97.
forços nesse sentido são diminuídos e diluídos por problemas           Gilberto Jannuzzi, pesquisador do Departamento de Energia
como a falta de financiamento adequado, taxas de juros altas e a     da Faculdade de Engenharia da Unicamp, a falta de foco é gri-
falta de foco das políticas.                                        tante. Mesmo considerando a vida útil dos equipamentos e dos
   Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),   programas, que diminuem os custos, a conta na ponta do lápis
entre 1998 e 2007, foram investidos R$ 1,9 bilhão em mais 3 mil     mostra o desperdício. “A taxa de retorno é muito baixa e a falta
projetos que economizaram 5,6 mil megawatts-hora (MW/h) por         de transparência dos números e de monitoramento não nos per-
ano. Esse investimento resultou no adiamento da necessidade de      mite verificar se os critérios foram adotados corretamente”, diz.


Revista Sustentabilidade Edição Especial
7




   Segundo estudo de Jannuzzi, a conta fica ainda mais crítica          o custo marginal de expansão do sistema de energia elétrica foi es-
ao incluirmos os programas mais recentes dos quais 64% são des-        timado em R$ 138,00 por MWh no Plano Decenal 2007/2016 da
tinados à troca de equipamentos, que duram menos de dois               Empresa de Planejamento Energético (EPE), do principal órgão do
anos, para a baixa renda: foram R$ 3,8 bilhões para economizar         governo federal responsável pela incumbência que o batiza.
7, 3 mil MWh/ano, ou seja, R$ 520,00 por MWh.                             “Há um potencial de 30% de economia no uso da eletricidade,
   Isto está longe do que se pratica mundo afora. Um estudo da         na média,” afirma Máximo Pompermayer, superintendente dos
Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que os progra-        programas de eficiência energética da Aneel. “Mas temos uma le-
mas podem ser bem mais compensadores. Na análise de 217 proje-         gislação amarrada, que direciona os recursos obrigatórios para uma
tos de eficiência energética de 13 setores industriais, o custo médio   camada da população cujo efeito no consumo total é o irrisório”.
do MWh economizado foi de R$ 79,00 por MWh. Em comparação,                Pompermayer se refere ao Programa de Eficiência Energética




                                                                                                                                             NASA Visible Earth/site: http://www.fourmilab.ch/cgi-bin/Earth




Foto de satélite, registrada em 18/10/2011, revela a luz das cidades brasileiras vistas do espaço.
As duas maiores manchas de iluminação encontram-se nas macrometrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro

                                                                                              Revista Sustentabilidade Edição Especial
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                                     EM UM ANO, A TAXA BÁSICA
                                     DE JUROS É DE 12%, MAS OS
                                      GANHOS FINANCEIROS EM
                                      EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
                                       LIMITAM-SE, EM GERAL,
                                           A UM DÍGITO



(PEE) que, ao completar mais de uma década, já arrecadou mais          O Ministério de Minas e Energia (MME) está elaborando
de R$ 3 bilhões das distribuidoras de eletricidade para implemen-   há mais de três anos o PNEf, que, apesar de pronto, ainda não
tar projetos e programas para reduzir o consumo de eletricidade.    havia sido lançado até o fechamento desta edição da Revista
A lei determina que 0,5% do faturamento líquido dessas empresas     Sustentabilidade.
– que são mais de uma centena – seja destinado a estes programas.


                                                                    AÇÃO GOVERNAMENTAL
PLANEJAMENTO                                                        A timidez do governo brasileiro frente à questão da eficiência
“A energia menos impactante e mais barata é a energia econo-        energética contrasta com a urgência dos especialistas da área.
mizada, o que chamamos de negawatt”, disse o presidente da          Estes últimos demandam ações mais concretas e focadas para
EPE, Maurício Tolmasquim. “Por isso eficiência energética é im-      desmantelar o ciclo vicioso no segmento da energia. Iniciativas
portante para o planejamento, mas não exclui a necessidade de       sem as quais, dizem, será necessário buscar novas fontes de ener-
planejar o fornecimento”.                                           gia cada vez mais distantes e caras, tanto para o bolso, quanto
   O potencial de economia energética de 30% estimados por          para o meio ambiente.
Pompermayer está bem acima dos 5% previstos no Plano de De-            “Nossos estudos mostraram que a economia de energia faz
senvolvimento Energético 2020 (PDE), bem com dos 10% pre-           mais sentido que construir novas usinas”, afirma Rodrigo Garcia,
conizados até 2030 nas premissas básicas do Plano Nacional de       analista de eficiência energética da CNI. “Os atrasos no PNEf
Eficiência Energética (PNE ). “Projetamos nos planos o que           mostram que governo não está dando prioridade para a questão”.
achamos que vai acontecer e o que não queremos que aconteça”,          Em comparação, o governo federal dos EUA, frente à crise fi-
afirmou Tolmasquim.                                                  nanceira de 2008, aprovou no congresso o Recovery Act, em

Revista Sustentabilidade Edição Especial
9




   A GRANDE MURALHA DO FINANCIAMENTO INDUSTRIAL


As empresas brasileiras enfrentam uma gran-       mas de eficiência energética, chamadas Escos.
de barreira à eficiência energética: faltam li-   Apesar de ter anunciado em 2008 que pre-
nhas de financiamento acessíveis e sobram         tendia assinar contratos somando R$ 85 mi-
taxas de juros abusivas.                          lhões até final de 2010, só R$ 33 milhões
   Figueiredo da SustentaX é categórico:          foram liberados em 15 operações e, destes,
“Investir em eficiência não paga a comissão.      apenas R$ 1,8 milhões foram para as Escos.
Só a taxa de juros que recai sobre o emprés-         Sendo pequenas empresas, as Escos não
timo ultrapassa a eficiência da bomba que         conseguem apresentar garantias suficientes
você compra”.                                     para obter o dinheiro que é essencial para im-
   Na ponta do lápis, a conta é simples: a taxa   plementar os programas de eficiência. O agra-
básica de juros é de 12% ao ano e os ganhos       vante é que a remuneração dessas empresas,
em eficiência energética são, em geral, de um     regidas por contratos de desempenho, pro-
dígito por ano.                                   vém da economia de energia gerada nesses
   “Financeiramente, não faz sentido investir     mesmos programas.
em eficiência energética. Então, as empresas         Apesar de iniciativas pontuais – como algu-
focam em enfrentar problemas conjunturais         mas cidades que começam a oferecer descon-
como dólar baixo e desindustrialização” diz       tos no Imposto Predial e Territorial Urbano
Garcia da CNI.                                    (IPTU) para edifícios mais eficientes – o ciclo
   De fato, há aí um grave problema com os        vicioso de financiamento às Escos ilustra a
programas brasileiros de eficiência energética.   falta de foco do governo na questão.
Nos EUA e Europa os programas têm como               “O governo tem que ser a força motriz e de-
opção de financiamento os créditos de car-        veria dar uma gama de incentivos fiscais, mudar
bono, já que a redução no consumo corta di-       a lei de licitações para o poder público comprar
retamente a queima de combustíveis fósseis        as tecnologias mais eficientes, mesmo que mais
nas centrais elétricas térmicas que represen-     caras, e focar os programas de eficiência ener-
tam 70% da geração. No Brasil, cerca de 70%       gética nas indústrias e nos edifícios públicos”,
da geração elétrica é de fonte renovável hí-      resume Cutri.
drica, o que torna difícil contar com o seques-      Apesar de tarde, no final, todos acham o
tro de CO2 para financiar as ações.               PNEf benvindo, pois traz as diretrizes básicas.
   Desde 2006, o governo oferece, por meio        O desafio, como salientou Garcia, é transfor-
do BNDES, uma linha chamada Proesco para          mar os planos em ações efetivas e não apenas
empresas de engenharia que projetam progra-       numa lista de desejos.




                                                                        Revista Sustentabilidade Edição Especial
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 Eficiência Energética no Brasil: Ganhos e Custos Comparados (% e MWh)
                                                                   Custos em R$/MWh

       %                                                           400
                                                                             347
 15%                                                               300
                12
 10%                               10                              200
                                                                                              138
  5%
                                                                                                               99
                                                                   100                                                           77,97
                                                       2,6


                   ual de           ual de               dústria                   ia nos         arginal            as               de
                                                                                                                               Energia nte
           Taxa an ica      Taxa an édio de     EE na in média           Econom as EE     Custo m o do      Program is de EE
                   ás                                                                                                               Mo
           juros b          reto rno m          (projeção 19)            pr ogram 000) de expansã ico       ind ustria         Belo
            Brasil                   as de EE            té 20                     91/2            elétr
                             program             anual a                  (Lei 9.9         sistema


                                                                                                                        Fontes: EPE/CNI/PROCEL




2009, um pacote de recuperação econômica que alia a criação              (BNDES) para financiar projetos das empresas de conservação
de empregos com a melhora da matriz energética suja e progra-            de energia por meio de contratos de desempenho.
mas de eficiência energética. Desde sua criação, US$ 8,9 bilhões             Em termos financeiros, o mais importante é o PEE que, am-
foram destinados a programas de racionalização do consumo em             parado por lei, arrecada cerca de R$ 300 milhões ao ano. No en-
empresas e residencial. O Recovery Act inclui R$ 5 bilhões em            tanto, especialistas do setor – e até da Aneel – são unânimes ao
subsídios diretos para financiar a melhoria do isolamento tér-            dizer que o PEE é direcionado à camada errada da população e
mico de 377 mil residências, o que reduziu as contas de luz de           tem pouco efeito, pois concentra-se em programas de trocas por
cada casa beneficiada pelo programa em mais de US$ 300 anuais,            equipamentos mais eficientes – na maioria, itens de linha branca,
segundo dados do governo estadunidense.                                  como geladeiras – orientados à população de baixa renda. Assim,
   No Brasil, a ação governamental, apesar de centralizada, é            pouco sobra para implantar projetos no setor industrial, que con-
confusa e calcada em três pilares: os programas de etiquetagem           some quase metade de toda a energia elétrica do país, e no setor
e selos, o PEE da Aneel e o Proesco que é uma linha de crédito           público, seja no plano federal, estadual ou municipal.
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social                     “É um clientelismo muito grande, as pessoas recebem o equipa-

Revista Sustentabilidade Edição Especial
11


                                      ESTIMA-SE QUE O BRASIL
                                     TEM POTENCIAL IMEDIATO
                                     DE ECONOMIA ENERGÉTICA
                                     DE 30%. MAS AS PROJEÇÕES
                                          DO GOVERNO SÃO
                                       CONSERVADORAS: 10%
                                              ATÉ 2030

mento e as empresas distribuidoras de energia aproveitam para        presa nas comunidades pobres para aliar geração de renda, edu-
combater furto de energia e expandir suas bases de consumidores”,    cação e ganhos ambientais. Pompemayer destaca o programa im-
avalia Garcia da CNI. “Este dinheiro poderia ser direcionado para    plementado pela Neoenergia que apoia a criação de oficinas e a
os setores que mais consomem e, no final, nós que pagamos por         produção de artesanato reutilizando resíduos descartados.
estes projetos que são decididos pelas concessionárias”.                Segundo ele, entretanto, o processo educativo mais ade-
   Segundo Jannuzzi, quando há uma obrigação de investir o           quado deve incluir alguma contrapartida econômica por parte
dinheiro em camadas específicas, as empresas se preocupam             dos beneficiários, estabelecendo a responsabilidade comparti-
muito mais em gastar o dinheiro para cumprir a legislação do         lhada. O executivo da Aneel sugere uma contribuição adicional
que buscar os melhores resultados. E mesmo assim não con-            feita na própria conta de luz, longamente parcelada até que
seguem gastar todo o dinheiro, pois o número de famílias             pague o equipamento adquirido. Isto também ampliaria os fun-
cadastradas na tarifa social é de algumas dezenas de milhares.       dos disponíveis para eficiência energética e evitaria casos de
   “Se este dinheiro fosse aplicado com os critérios certos, seria   revenda dos equipamentos e lâmpadas fluorescentes compactas
bem fácil atingir, em 20 anos, a meta de 10% do PNEf,” calcula       mais caras como registrado pelas pesquisas de Jannuzzi. “No
Jannuzzi. Essa opinião é compartilhada por Pompemayer, cujos         final, estes programas não foram inteligentes e não resolvem o
cálculos revelam que esse foco inadequado destina 60% dos re-        problema principal que é a falta de renda”, disse.
cursos para eficiência energética a uma camada da população
que consome apenas cerca de 4%.
                                                                     ETIQUETAGEM E INOVAÇÃO
                                                                     O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) do Instituto Na-
LINHA BRANCA                                                         cional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (In-
E BAIXA RENDA                                                        metro) tem sido mais eficaz. Apesar de estar em fase inicial e
“Reconheço que estes programas têm seu valor social, principal-      incluir, até agora, menos de 10 equipamentos, a iniciativa do In-
mente quando aplicado inteligentemente com campanhas edu-            metro vem, desde 2001, estabelecendo exigências de eficiência
cacionais e de conscientização, já que não adianta trocar a          cada vez maiores. Hoje, existem níveis mínimos para ares-condi-
geladeira ou dar uma lâmpada se as pessoas não são orientadas        cionados, lâmpadas e motores elétricos.
a melhorar os padrões de consumo”, explica.                             O PBE não deve, contudo, ser confundido com o selo do Pro-
   Alguns programas brasileiros aproveitam a entrada da em-          cel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) que

                                                                                           Revista Sustentabilidade Edição Especial
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                                         FOCO INADEQUADO:
                                      60% DOS RECURSOS PARA
                                      EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
                                       SÃO DESTINADOS A UMA
                                       CAMADA DA POPULAÇÃO
                                      QUE CONSOME APENAS 4%




                                                               tem 22 programas de pesquisa de consumo de equipamentos, faz
                                                               apenas indicações do nível de consumo de cada produto e é
                                                               coordenado pelo MME por intermédio da Eletrobrás.
                                                                   O governo, diz Alexandre Paes Leme, técnico do PBE, já fez
        Consumo por segmento no Brasil                         um cronograma para incluir mais itens que, ao ingressarem no
                                                               PBE, deverão ampliar sua eficiência em 10% a cada três ou quatro
                                                               anos. “Esta previsibilidade fará com que as empresas planejem a
            outros 14%                                         inovação para atingir as metas”, diz Leme.
                                                                  Em 2013, micro-ondas e edificações, entre outros itens, pas-
       comercial 17%              industrial 43%               sam a fazer parte do PBE. Em 2014, será a vez dos chuveiros
                                                               elétricos. Além disso, o comitê Gestor de Indicadores e Níveis
                                                               Eficiência Energética (CGIEE) já encomendou estudos para in-
             residencial 26%
                                                               cluir equipamentos de informática e ventiladores, bem como, a
                                                               pedido da CNI, capacitores industriais.
                                                                  A decisão de dar um período de quatro anos para cada ciclo

                   Fonte: EPE Resenha mensal do mercado de
                                                               não foi aleatória, pois leva em conta os ciclos de inovação nas
                      energia elétrica – Julho 2011 (consumo   diferentes indústrias. É um esforço de inovação para o qual as
                        acumulado 12 meses – 423.829GWh)
                                                               empresas deverão se adequar.
                                                                  A Embraco, maior fabricante de compressores usados em
                                                               vários equipamentos incluindo refrigeradores, mantém uma
                                                               equipe de 500 pessoas para pesquisa e desenvolvimento dos seus

Revista Sustentabilidade Edição Especial
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produtos, além de parcerias com a Universidade Federal de                 em prédios que têm certificação ambiental, como LEED ou
Santa Catarina (UFSC).                                                    Aqua, o desempenho energético pode ser menor que o espe-
    “Investimos 3% do faturamento líquido em pesquisa e ino-              rado se não for mantido corretamente. Por isso, o Aqua, por
vação, independente da conjuntura econômica”, afirma o diretor             exemplo, já inclui manutenção como quesito. O LEED agora
de Relações Institucionais de Pesquisa e Desenvolvimento da               está introduzindo no Brasil a certificação para operação e
Embraco, Guilherme Lima.                                                  manutenção em prédios existentes.
   Os campos de desenvolvimento dos produtos da Embraco                      “A eficiência energética no edifício depois de construído tem
concentram-se na eficiência energética, mas também focam na                que ser pensada desde a concepção do projeto, contando com
redução de consumo de matérias-primas e a diminuição do uso               itens como automação e um plano de operação e manutenção”,
de componentes danosos ao meio ambiente.                                  explica Rodrigo Cutri, coordenador do programa de eficiência
                                                                          energética na Fundação Santo André.
                                                                             Inovar em detalhes simples pode fazer a diferença num plano
PROCESSOS INOVADORES                                                      de manutenção. Cerca de 80% da sujeira de um edifício entra
Inovação de produtos, no entanto, não é tudo. Grande parte dos            pelos pés e, se não for controlada, resulta em custos mais altos
ganhos em eficiência requer mais a inovação em sistemas de                 de limpeza dos pisos, carpetes e filtros de ar-condicionado, o que
manutenção, processos e hábitos.                                          resulta em maior consumo elétrico. A solução chega a ser banal:
   Um exemplo disso é o setor imobiliário, onde reside um dos             basta colocar um capacho para captar a poeira.
maiores potenciais de contribuição para o aumento da eficiên-                “Não é questão de projeto, mas de falta de controle” diz New-
cia energética, principalmente no segmento de edificações já              ton Figueiredo, CEO da consultoria Sustentax que concluiu a
construídas. No mundo inteiro, os imóveis já existentes são res-          primeira certificação LEED de Operação e Manutenção no Brasil
ponsáveis por cerca de 40% de todas as emissões CO2. Mesmo                em um edifício paulista.




       Uso final da energia

                                     som 3%       lava-roupas 0,4%
                              ferro 3%
                                                       micro-ondas 0,3%
                         freezer 5%                                                                  outros 14%

                               tv 9%               chuveiro 24%
                                                                                            equipamentos de
        Residencial                                                           Comercial     escritório 15%              ar-condicionado 48%

                       lâmpadas 14%
                                                    geladeira 22%
                                                                                                 iluminação 23%

                            ar condicionado 20%




                                                                                                         Fonte: Robert Lamberts – LabEEE – UFSC




                                                                                                Revista Sustentabilidade Edição Especial
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                                    O PREÇO DA ENERGIA PARA
                                    A INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                         É 57% MAIS ALTO
                                       DO QUE A MÉDIA DE
                                        OUTROS 27 PAÍSES



                                                                   questão de sobrevivência,” explicou Marcelo Massarani, coor-
ISO 50001                                                          denador de cursos da Fundação para o Desenvolvimento Tec-
Além destes selos, o Brasil está começando a implantar a ISO       nológico e da Engenharia (FDTE) que foca em educação
50001 de eficiência energética, que será representada no Brasil     continuada, pesquisas e oferece um curso de eficiência ener-
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Lançada      gética. “O setor químico, o de alumínio, papel e celulose e me-
em julho de 2011, a certificação vai além dos processos produ-      talúrgico estarão na frente por necessidade”.
tivos, inclui edifícios e foi bem recebida pelo mercado que já a      Entre as micro e pequenas empresas – que consomem 32%
está demandando, principalmente por causa do altos custos da       da energia do país, excluindo-se as irregulares – a eficiência
energia. Como em todas as ISO, para renová-la é preciso sempre     também está em alta, mas por uma questão de legislação e de
melhorar o desempenho.                                             crescimento econômico.
   “A ISO 50001 oferece padrões internacionais e mostra que se        “A demanda é devida ao processo natural de intensificação
pode efetivamente economizar dinheiro”, explicou José Cunha, di-   de carga à medida que as MPE investem em automação e a
retor de Certificação da consultoria Bureau Veritas Certification.   energia elétrica tem mais peso nos custos”, explicou Ricar-
                                                                   do Wargas, coordenador do Programa de Eficiência Energética
                                                                   do Sebrae-RJ.
QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA                                              Além do custo, explica Wargas, as empresas acabam sendo
Um estudo publicado, em agosto de 2011, pela Federação das         pressionadas pela população que não aceita mais desperdício e
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revelou que        pela legislação urbana que força evitar sistemas antigos, como,
o preço da energia para setor industrial brasileiro é 57% mais     por exemplo, os que jogam o calor na rua ou geradores a diesel
alto que a média de 27 países medidos. Enquanto a média            antigos que soltam fumaça.
brasileira está em R$ 329,00 por MWh, a média dos países              “Mostramos que não é só a troca de equipamentos que gera o
avaliados é de R$ 215,50.                                          resultado. Pensar em todo o processo gera eficiência na produção
   Isso faz com que empresas naturalmente busquem a efi-           em geral. A eficiência energética é uma chave para a melhora da
ciência, começando pelas mais eletrointensivas. “É uma             eficiência econômica”, diz. k
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                                                                                                              eficiência
                                                                                                              energética }




É A NOVA FRONTEIRA
A renda da população aumenta, eleva-se o consumo e o efeito dominó
se estende ao desafio da eficiência energética. Ao lado da tecnologia,
a educação é o novo consenso entre especialistas.

 Por Alexandre Spatuzza




U
          ma crise social, econômica e ambiental sem prece-           Uma típica representante dessa nova classe emergente
          dentes se anuncia e ameaça não apenas a hu-              brasileira é a empregada doméstica Andréia Noemi Pereira da
          manidade, mas o planeta como um todo. O que nos          Silva, 31 anos, casada e mãe de uma filha. Residente em Ribeirão
empurra para esse beco sem saída do século 21 é nossa forma        Preto, polo sucroalcooleiro paulista, ela conquistou acesso a
perdulária de consumir e utilizar os recursos naturais. Tal con-   novos bens de consumo antes inacessíveis a sua família: nos úl-
clusão vem de um amplo movimento político, empresarial e so-       timos três anos, adquiriu um carro, uma motocicleta e um com-
cial que exige novos hábitos, preceitos, conceitos e padrões de    putador com banda larga. “Vou menos ao cabeleireiro, compro
consumo de matérias-primas – sobretudo, de energia – para          menos roupas e até comida, mas é bom poder se movimentar
garantir o bem estar socioambiental mundial.                       com mais liberdade na cidade”, diz, insatisfeita com o transporte
   Diante desse quadro, o Brasil atira-se num paradoxo. Afinal,     público local, que segundo ela é “caro e lotado”.
o surto de crescimento econômico sem precedentes no qual o
país se regala pode ser colocado em cheque na medida em que é
conduzido de forma socioeconomicamente insustentável. Hoje,        ELASTICIDADE ENERGÉTICA
95 milhões de brasileiros, quase metade da população do país,      A nova condição de Silva revela um mecanismo econômico im-
encontram-se na classe média, segmento para onde ascenderam        placável: à medida que aumenta a renda da população, aumenta
29 milhões de pessoas entre 2003 e 2009, segundo estudo da         também o consumo, principalmente o energético. A geração de
Fundação Getúlio Vargas.                                           resíduos no Brasil – indicador do nível de consumo da sociedade

                                                                                         Revista Sustentabilidade Edição Especial
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                                     O CRESCIMENTO MÉDIO
                                        PROJETADO DE 5%
                                     DO PIB BRASILEIRO ATÉ
                                    2020 SERÁ ACOMPANHADO
                                        POR UM AUMENTO
                                      DE 4,6% NO CONSUMO
                                        DE ELETRICIDADE


- aumentou de 359 quilos por habitante ao ano em 2009, para         Popermayer da Aneel, que é crítico dos programas de troca pura
378 quilos em 2010, um acréscimo de 5,3%, segundo dados da As-      e simples de equipamentos para a população de baixa renda. Se-
sociação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos       gundo ele, a Aneel contratará consultores para melhor guiar os
Especiais (Abrelpe).                                                programas de eficiência energética previstos na lei que obriga in-
   No consumo energético, vemos uma tendência parecida: em          vestimento de cerca de R$300 milhões por ano.
2010 o consumo de eletricidade no país atingiu 419 tWh, um au-
mento de 7,9% em relação aos 388 tWh consumidos em 2009.
Paralelamente, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu     EDUCAÇÃO
7,5% no mesmo período.                                              “O melhor caminho para a educação e conscientização é mostrar
   Da mesma maneira, o crescimento médio projetado de 5%            que é preciso pensar no jeito de consumir e até aliar os progra-
do PIB brasileiro até 2020 será acompanhado pelo um aumento         mas com geração de renda e uma contrapartida do consumidor
do consumo de eletricidade estimado pela EPE em 4,6%. Ou            para ele saber o custo”, diz Popermayer.
seja, para cada ponto percentual de aumento do PIB o consumo           A opinião é compartilhada por Ricardo Wargas, supervisor
de energia cresce um pouco abaixo de um ponto percentual.           do Programa de Eficiência Energética do Sebrae-RJ. Ele é
   Comparativamente, apesar dos EUA e Europa terem uma in-          categórico: “o primeiro passo é sempre a conscientização”. War-
tensidade energética – sinônimo de eficiência energética – me-       gas afirma que o pequeno empresário só investirá em novos
lhor que o Brasil, o consumo per capita é bem mais alto que o       equipamentos mais eficientes quando estiver ciente dos re-
brasileiro e fica em torno de 14 mil kWh e 8 mil kWh por ano,        tornos, principalmente os econômicos. “A partir daí o em-
respectivamente, segundo dados do Banco Mundial. No Brasil,         presário começa a ter ganhos em todos os lados, pois começa
este consumo está em 2,2 mil kWh por ano.                           pensar mais racionalmente sobre seu processo de produção”, diz.
   Os programas de eficiência energética visam sempre reduzir           Rodrigo Cutri, coordenador dos cursos de eficiência ener-
a relação entre renda, preço e consumo de energia, conhecida        gética na Fundação Santo André, diz considerar a Educação um
pelos especialistas como elasticidade energética. Há, no entanto,   fator essencial quando se trata dessa temática. Cutri defende a
dois caminhos para atingir este objetivo, não excludentes: a        que a disciplina deva constar das grades curriculares de cursos
educação e a tecnologia.                                            de Arquitetura e Engenharia.
   “Há que se ter um equilíbrio entre estes dois,” disse Máximo        O foco educacional está no centro dos programas de

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Atividades das instituições universitárias e de pesquisa em eficiência energética


                                                    Diagnósticos
Instituição              Ensaios     Metrologia     energéticos        Treinamento

CATE - CEPEL                •            •              •                     •
CDEAM - UFAM                •                           •                     •
CTEC - UFAL                                             •                     •
EXCEN - UNIFEI              •                           •                     •
GEE - PUC / RS                                          •                     •
GOSE - Unesp                                            •                     •
Green Solar - PUC / MG      •            •                                    •
INMETRO                     •            •
INT                         •            •              •                     •
IPT                         •            •              •                     •
LABAUT - USP                •                           •
LABEEE - UFSC               •            •              •                     •
LACTEC                      •            •              •                     •
LAI - UFMG                                              •
LENHS - UFPB                •                           •                     •
NIPE - Unicamp              •                           •                     •
NUCAM - Unesp               •                           •
PEC - UFG                                               •                     •
PEE - COPPE                 •                           •                     •
                                                              Fonte: CNI/PROCEL/Eletrobras



                                                            Revista Sustentabilidade Edição Especial
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                                           “NÃO PRECISAMOS
                                          NECESSARIAMENTE
                                        DE NOVAS TECNOLOGIAS.
                                        OS NOVOS HÁBITOS TÊM
                                          UM GRANDE PODER”



eficiência energética promovidos pelo Governo do Estado de             em 40 laboratórios nas escolas até o final de 2011 e chegar a 200
São Paulo. Arnaldo Neto, coordenador da área de Eficiência             em todo estado até 2013.
Energética da Secretaria Estadual de Energia de São Paulo, des-           Os ganhos pragmáticos em eficiência têm outro poderoso
creveu com exclusividade para a Revista Sustentabilidade as            aliado em potencial.
propostas do governo.                                                     Além de cursos e campanhas de conscientização, governo
   “Não precisamos necessariamente de novas tecnologias.               também pode propor regulamentos e normatizações que tornem
Os novos hábitos têm um grande poder e devem ser baseados              obrigatórias as ações de eficiência.
em dois pilares: o primeiro é dar o exemplo e o segundo é                 “As ações de comando e controle visam obrigar a sociedade
educar”, afirma.                                                       atingir níveis mínimos de eficiência”, lembra Maurício Tol-
   Operando em parceria com as distribuidoras locais (AES              masquim, presidente da Empresa de Planejamento Energético
Eletropaulo, CPFL, Bandeirante e Elektro), o programa paulista         (EPE). O grande exemplo da eficácia destes programas ocorreu
tem disponível R$30 milhões ao ano, que inclui a melhoria da           no apagão de 2001-2002. A população foi obrigada a reduzir o
eficiência em prédios públicos, priorizando hospitais e incluindo       consumo em 20% por meio de multas para os que não atingis-
escolas estaduais. A meta é, em quatro anos, reduzir o consumo         sem as metas. O resultado: o nível de consumo médio pré-
do estado em 10%.                                                      -apagão só foi alcançado novamente depois de 6 anos.
   Entretanto, a viabilidade da principal inovação do programa            Tolmasquim frisa, contudo, que para implementar progra-
está em análise na Aneel: a idéia é usar o dinheiro das dis-           mas de eficiência energética é preciso mesclar programas obri-
tribuidoras para montar disciplinas de eficiência energética nos        gatórios com incentivos fiscais, o que decorre na troca de
cursos de Mecatrônica, Eletrônica e Edificações nas escolas e           equipamentos perdulários por novos.
colégios de Ensino Técnico do estado (Etecs e Fatecs).                    As tecnologias já estão disponíveis no mercado, oferecendo
   “Há uma carência de profissionais que entendem de eficiência          significativos saltos de eficiência anualmente. O desafio é romper
energética. A maioria dos alunos está empregada e pode influenciar      com os comportamentos perdulários de uma época há muito pas-
suas gerências para melhorar o desempenho energético. Isto é au-       sada em que a única preocupação com a energia era garantia de
tomático”, disse Neto. Segundo ele, a meta é introduzir a disciplina   suprimento e preço acessível (Colaborou Marcel Gomes). k

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                                                                                                                       artigo }




Novos Projetos de Eficiência
Energética Dependerão
Necessariamente do Emprego
de Tecnologia
Por Jose Starosta *




A
         abordagem clássica inicial dos projetos relacionados        1. Ferramentas de controle e automação, baseadas
         com eficiência energética em instalações industriais e       em inovação tecnológica e novos sistemas
         prédios comerciais trata classicamente de ações vincu-      de gestão de instalações e utilidades, apoiadas
ladas a práticas de retrofit em sistemas de iluminação, análise e     nas informações disponibilizadas e na aplicação
intervenção das instalações de ar-condicionado e outros sistemas,    do conceito de smart-grid.
no caso dos prédios comerciais. Nas industriais, as utilidades       Os equipamentos instalados deverão ser necessariamente mon-
complementam os pontos de intervenção com atenção nos sis-           itorados e controlados remotamente por redes lógicas a eles as-
temas de produção e uso de ar comprimido, calor e frio, bombas       sociados. Não somente grandes equipamentos com potências
e ventiladores. A análise do processo industrial é outro ponto que   nominais da ordem de centenas de kW (quilowatt), mas simples
merece consideração, mas as intervenções têm menos peso.             reatores aplicados em sistemas de iluminação, ou mesmo os re-
   A busca contínua do melhor desempenho dos sistemas e              frigeradores de uma padaria.
melhores indicadores de consumo de energia traz à tona uma inte-        Considerando-se que equipamentos ligados às redes elétricas
ressante discussão: Teremos limites para imaginar que determi-       também o são às redes de informação, pode-se obter com abso-
nada instalação ou sistema atingiu uma situação adequada?            luta precisão sua forma de operação e energia gasta a cada in-
   Claro que não! E a própria recém lançada ISO 50001 cor-           stante, o que subsidiará sua gestão e melhor controle de
robora esta conclusão. Os modelos dessa norma, que recomenda         operação. E ainda: os controles de operação não serão mais con-
o uso da técnica do “PDCA” inspirada nas normas de qualidade,        cebidos em combinações binárias (liga-desliga), mas inseridos
sugerem a busca contínua dos melhores indicadores de eficiência       no controle do processo, quer em uma operação clássica de in-
energética, além do compromisso da alta direção da empresas          versor de frequência em motores nas indústrias e grandes pré-
nestes “propósitos verdes”.                                          dios comerciais, quer em reatores eletrônicos “dimerizáveis”, não
   O que nos parece claro é que os conceitos clássicos de projetos   só em interiores, mas, por exemplo, em estradas com lâmpadas
de eficiência energética apontados serão complementados por:          acionadas por reatores dotados de recursos para reduzir o fluxo

                                                                                           Revista Sustentabilidade Edição Especial
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luminoso na falta de movimento (isso mesmo: dimerização em         conheça com precisão o carregamento de transformadores, per-
lâmpadas de vapor metálico ou sódio), ou ainda nos campos de       das elétricas, perfil de correntes e tensões harmônicas nos bar-
futebol nos horários de pré-jogo e intervalos.                     ramentos, presença de ressonâncias, capacitores em sistemas
   Evidentemente outras conveniências de operação podem            obsoletos que operam inadequadamente incrementando as per-
estar associadas a processos em que a eficiência energética é       das e causando perda da qualidade da energia.
obtida, como o prolongamento da vida de componentes e me-
lhor controle da instalação.                                       4. Integração de fontes de energia
                                                                   e concessionárias/poder regulador.
2. Aumento da produtividade,                                       Fontes renováveis de energia como fotovoltaicas, eólicas e bio-
influência da qualidade de energia.                                massa são boas alternativas para alimentação das cargas das
De uma vez por todas, a qualidade de energia deve ser conside-     plantas com os sistemas típicos de alimentação pelas conces-
rada como insumo de qualquer processo produtivo. Quando não        sionárias locais. Geração distribuída, conforme as possibilidades
consideradas, perdas na produção, devido a paradas não expli-      de cada planta, além da integração aos processos produtivos, é
cadas sem que se entenda ou que se esclareça o que estaria ocor-   um caminho possível e muito próximo. A regulamentação da
rendo, são um mal comum que afeta estas plantas. Paradas de        conexão deve ser concluída em breve, deixando os consumidores
equipamentos sem claras informações e tomadas de ações cor-        livres para escolher de que forma vão se conectar à rede, inclu-
retivas induzem os processos a retrabalhos e perdas exageradas     sive injetando seus excedentes de produção de energia.
de energia, além das perdas operacionais. É comum verificar pro-       Outra discussão deve considerar novos modelos de tarifas de
jetos de incremento de qualidade de energia com aumentos de        energia que incentivem o uso de energia em períodos mais ade-
produtividade maiores que 20%. Por outro lado, sistemas elétri-    quados às curvas de carga das concessionárias. A discussão do
cos adequados às premissas e conceitos usuais das normas de        modelo de cobrança do fator de potência é outro ponto que deve
qualidade de energia têm como característica uma significativa      ser considerado.
redução de perdas elétricas.
                                                                   5. Green IT
3. Nova abordagem na especificação de equipamen-                   Usuários e fabricantes das cargas de tecnologia de informação têm
tos e instrumentos para as instalações elétricas.                  buscado novas formas de economizar energia em seus processos.
A tecnologia disponível em sistemas de monitoração e medi-         As discussões nos grandes bancos comerciais e datacenters in-
dores de variáveis elétricas atuais, onde a tensão de alimen-      cluem não somente aspectos de confiabilidade dos equipamentos
tação pode ser acompanhada a cada ciclo na alimentação nos         e da operação, mas também suas eficiências e a relação de com-
barramentos em que as cargas são alimentadas, é outra excep-       promisso das duas variáveis. Fabricantes de UPS (sistemas inin-
cional oportunidade para se eliminar os vícios presentes           terruptos de energia) que alimentam as cargas de tecnologia de
na alimentação de equipamentos. Monitoração online de dis-         informação (TI) desenvolvem equipamentos e modos de operação
torções, desbalanceamentos e afundamentos de tensão, com           mais eficientes, associados a componentes mais precisos. É o caso
indicação de ações corretivas e principalmente evitando recor-     de sistemas redundantes em que pelo menos um dos sistemas
rências, é uma poderosa ferramenta com alta tecnologia em-         opera em regime de bypass com redução de perdas.
barcada. Tudo isso, sem que os operadores das instalações             Outro ponto de discussão é a aplicação dos sistemas de re-
abram as portas dos painéis.                                       frigeração de ambientes e equipamentos em datacenters. Os
   A monitoração adequada permitirá, por exemplo, que se           racks que abrigam as cargas TI são submetidos a analises e com-

Revista Sustentabilidade Edição Especial
21



portamento térmico com sofisticadas modelagens na busca pela         custo operacional. Este tipo de prática é bastante comum quando
otimização que inclui também a eficiência energética. Entram         o empreendimento não é construído pelo usuário final do imóvel.
nessa discussão a temperatura de operação e os equipamentos         Neste aspecto, devem ser desenvolvidos e colocados à disposição
de precisão de atendimento a essas cargas TI.                       indicadores de edificações relacionados com o uso de energia.
                                                                       As normas técnicas, procedimentos e recomendações aplicadas
6. Aspectos de arquitetura e construção civil.                      às instalações deverão “correr atrás” daquelas já desenvolvidas no
Um importante desafio que vem sendo solucionado nos projetos         âmbito de construções sustentáveis, como as publicações do Procel
atuais é a definição da melhor solução de “casca” ou “envoltório”    (etiquetagem de edifícios), ISO 50001 e as normas LEED.
das edificações que considera as relações entre os aspectos de in-
solação, melhor uso da iluminação natural, adequação à carga        8. Novos modelos de financiamento, nova abordagem
                                                                    financeira de projetos e competividade com outros
térmica e outras variáveis relacionadas.
                                                                    países com destaque para os BRIC.
   Na Europa estão em execução projetos de aplicação de sofisti-
                                                                    Estão em desenvolvimento no âmbito da Abesco diversas dis-
cados sistemas de automação e controle para, por exemplo, dirigir
                                                                    cussões sobre modelos de financiamento, contratos de perfor-
a posição das células fotovoltaicas em relação ao Sol ou mesmo
                                                                    mance, uso de facilidades de crédito pré-aprovadas e outras
ajustar a posição de “brises” de proteção de fachadas em função
                                                                    ferramentas que viabilizem os projetos de retrofit ou mesmo novas
da posição do Sol, adequando-os às necessidades dos interiores.
                                                                    construções em que tecnologias sustentáveis sejam empregadas.
   Janelas com concepção de construção relacionada com o uso
                                                                       Contudo, caso as tarifas, taxas de financiamento, de impor-
eficiente de energia já são uma realidade: o Empire State em Nova
                                                                    tação e impostos praticados não seguirem na linha de incentivo
Iorque já economiza 40% em relação ao sistema anterior. No úl-
                                                                    a estas praticas, a viabilização financeira de novos projetos será
timo Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, realizado pela   muito difícil.
Abesco, nos dias 1 e 2 de junho de 2011, em São Paulo, tivemos         Enquanto nossos concorrentes no mundo já fabricam seus
um case de proteção de janelas de um importante hospital com        próprios equipamentos e sistemas aplicados ao melhor uso da ener-
película adequada, também com resultado impressionante.             gia, nós continuamos pagando valores expressivos para se dar ao
                                                                    luxo de usar estes equipamentos com alta tecnologia embarcada.
7. Normas Técnicas e certificações.                                    Nossa sociedade merece um modelo mais sustentável de uso
Não é mais possível que instalações sejam concebidas sem que        de energia e este não depende somente do governo, mas “tam-
sejam consideradas a eficiência energética e a sustentabilidade.     bém” dele. Exemplo disso é o Plano Nacional de Eficiência Ener-
Muito em breve começaremos a ver as normas técnicas aproxi-         gética (PNE ) do Ministério de Minas e Energia, que está pronto
marem-se dessas variáveis. Temas como os materiais aplicados        para ser lançado e certamente será outro importante motivador
na construção e manutenção das instalações, descartes dos ma-       para ações de eficiência energética, que já é contemplada nos
teriais – como as lâmpadas que possuem metais pesados – e apli-     planos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e, por conse-
cação de mão de obra na manutenção devem ser mais discutidos.       quência, nos planos do governo federal. k
   Por outro lado, a disponibilidade de energia pelas conces-
sionárias aos empreendimentos deveria ser regulamentada de
forma a que as edificações procurem por equipamentos mais efi-        * Jose Starosta é engenheiro, Master of Science, diretor da Ação En-
                                                                      genharia e Instalações e Presidente da Associação Brasileira das Em-
cientes logo na aquisição, evitando a compra daqueles que pos-        presas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco).
suem menor custo inicial (preço de compra), porém, com maior          jstarosta@acaoenge.com.br

                                                                                            Revista Sustentabilidade Edição Especial
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entrevista }




                         EFICIÊNCIA ENERGÉTICA:
Francisco Stuckert/MME




                                                                Segundo Hamilton Moss
                                                                de Souza, diretor
                                                                do Departamento de
                                                                Desenvolvimento
                                                                Energético do Ministério
                                                                de Minas e Energia
                                                                (MME) ações educativas
                                                                para uma cultura de
                                                                eficiência energética são
                                                                prioritárias para o país.

                                                                Por Eugênio Melloni




                     Revista Sustentabilidade Edição Especial
23




O
            lançamento do derradeiro Plano Nacional de Eficiência      RS: É possível o país crescer com redução do consumo de energia?
           Energética está na cabeça do governo, mas ainda não        Souza: É possível, desde que sejam utilizados equipamentos mais
           está na sua agenda. Apesar do documento preparatório       eficientes ou que os equipamentos sejam utilizados de forma a
com premissas e diretrizes básicas que já foi publicado e avalizado   se evitar o desperdício. Há situações que envolvem o comporta-
por diversos segmentos da economia, o lançamento do texto final,       mento, a consciência das pessoas. Não é preciso colocar o ar-
que deve definir responsabilidades, focos de diagnóstico e dire-       -condicionado na função “gelada” e depois ter de puxar o cobertor.
                                                                      O uso da energia tem vários aspectos: o técnico, de melhoria da
cionamento de recursos, é ainda um tema em suspenso. Uma das
                                                                      eficiência dos equipamentos, e o comportamental, incorporando
poucas certezas, por ora, é que o plano deve dar prioridade para
                                                                      o combate ao desperdício como um eixo central na vida das pes-
ações educativas sobre consumo energético, segundo indicou            soas. É preciso incorporar a questão da energia como parte do
Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvi-        dia a dia, assim como se alimentar direito e fazer atividade física,
mento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), em           dentro do chamamos de qualidade de vida.
entrevista à Revista Sustentabilidade.
                                                                      RS: Focar somente na questão comportamental não é insufi-
Revista Sustentabilidade: Em que pé está o trabalho de pro-           ciente? E a indústria?
dução do Plano Nacional de Eficiência Energética? Quando o             Souza: A indústria representa cerca de 47% do consumo de
plano será lançado oficialmente?                                       energia no país. Então, é importantíssima. Contudo, trata-se de
Hamilton Moss de Souza: Não posso responder a segunda per-            um setor que busca a eficiência de uma maneira mais intensa. Por
gunta. Isso dependerá de uma série de instâncias, ministérios e       isso, colocamos a questão do comportamento. Apesar de o im-
vários níveis de decisão. Obviamente temos uma data na cabeça,        pacto ser menor, há nessa frente uma ineficiência maior, onde os
mas não vou dizer. Já aconteceu no passado de termos uma data         ganhos podem ser maiores. Mas é importante que sejam atacadas
e acabou complicando. Terminamos uma primeira fase muito im-          todas as frentes. Não há uma contraposição entre uma coisa e
portante, que foi a elaboração de um documento, o “Plano Na-          outra. A eficiência energética é uma questão de conscientização
cional de Eficiência Energética – Premissas e Diretrizes Básicas”,    tanto do lado profissional, em que se procura utilizar melhores
que foi colocado em consulta pública entre o final do ano passado     equipamentos, como no lado pessoal, em que se buscará deixar de
e começo desse ano. Esse documento recebeu cerca de 90 con-           usar energia quando não for necessário e utilizar melhor quando
tribuições. Ficamos felizes com o envolvimento da sociedade e         for indispensável. O plano terá todas essas frentes. Haverá um
com a receptividade do plano. Várias das contribuições vieram de      capítulo para a educação, relacionado tanto com a questão com-
instituições do peso de uma Confederação Nacional da Indústria        portamental, como com treinamentos profissionais. Nos trans-
(CNI), de indústrias importantes do país, de associações. A           portes podemos, por um lado, melhorar a eficiência dos
primeira fase foi concluída. Incorporamos as modificações e esta-     automóveis. Por outro lado, quando optamos pelo transporte
mos montando um grupo de trabalho com representantes de               hidroviário ao invés do rodoviário, por exemplo, ocorre um im-
centros de pesquisas, universidades e de entidades, como a Aneel      pacto muito maior do que quando se trata de motores, que já são
(Agência Nacional de Energia Elétrica), da ANP (Agência Nacional      relativamente eficientes.
do Petróleo) e o Procel (Programa Nacional de Energia Elétrica) da
                                                                      RS: Alguns especialistas consideram que há um conflito de in-
Eletrobras. Esse grupo depende apenas da publicação de uma
                                                                      teresses no fato de as distribuidoras de energia elétrica con-
portaria para que comece a trabalhar na elaboração de um plano.
                                                                      duzirem o programa de eficiência energética da Aneel.
Temos as diretrizes básicas, os encaminhamentos, os setores em
que faremos diagnósticos. E agora vamos elaborar um plano de          Souza: Pode haver ou não um conflito de interesses. As dis-
trabalho operacional, de duração bianual. Um plano mais efetivo,      tribuidoras têm como função vender energia, sim. Mas a energia
no sentido de estabelecer recursos e responsabilidades.               que se economiza em um consumidor pode ser vendida para

                                                                                            Revista Sustentabilidade Edição Especial
24



outro. A redução do consumo contribui, também, para se adiar         por outro lado, quando eu faço a junção do setor de energia com o
investimentos. A empresa pode ter uma subestação complicada,         setor de informática, com toda essa quantidade de informação
instalada em área com alta densidade populacional e de elevado       circulando por aí, os novos equipamentos e as novas maneiras de
consumo energético. Se conseguir economizar energia naquela          se fazer as mesmas coisas – maneiras que a gente nem pensava
região, poderá investir em outra subestação mais distante, com       que podiam ser feitas – também têm dado frutos na área de
um investimento menor. Os custos da eficiência energética            eficiência. Você pode fazer sistemas que trocam informações
muitas vezes são menores dos que os investimentos                    com o usuário, que fazem o controle de processos dentro de sua
necessários para ampliar o suprimento de energia. Além disso,        residência, que dão indicações de consumo sobre vários equipa-
os grandes consumidores industriais são consumidores livres, ou      mentos. Essa tecnologia da informação, que a gente pode conjugar
seja, podem comprar a energia de diferentes concessionárias.         por meio de redes elétricas, tem o nome genérico de smart grid, é
Há muitos casos de concessionárias que fazem a fidelização do        uma novidade importante que o Brasil tem trabalhado tanto de
cliente por meio de serviços de eficiência energética. Além disso,   forma internacional, quanto nas universidades brasileiras.
há uma série de preocupações ambientais e de regulações a que
                                                                     RS: O Brasil está atrasado na tarefa de consolidar uma política
essas companhias têm de se sujeitar.
                                                                     voltada para a eficiência energética?
RS: Como é hoje a estrutura de fomento à pesquisa em relação         Souza: Em alguns aspectos, sim. Em outros, não. Não é eficiên-
à eficiência energética?                                              cia energética propriamente dita, mas quando eu pego o setor
Souza: Nós temos uma estrutura de pesquisa no país que é bas-        sucroalcooleiro, por exemplo, o Brasil está 30 anos na frente. É
tante importante. Temos algumas universidades, principalmente        um setor bastante eficiente. Temos a cogeração de energia, que
as federais e algumas estaduais de porte maior, que já desen-        é utilizada bastante na produção de álcool. É um setor que
volvem trabalhos de eficiência energética há algum tempo. Na         movimenta alguns bilhões de reais. É claro que há outros seg-
área de arquitetura, engenharia elétrica ou mecânica há grupos       mentos, como o de aquecimento solar. Israel tem 80% a 90%
fortes no Brasil que vem trabalhando com tecnologias de eficiên-     de aquecimento de água utilizando a energia solar. Fazemos
cia energética também já há algum tempo. Esses grupos se rela-       ainda muito pouco nessa área. Por outro lado, na Indústria, nos
cionam: além de produzirem material próprio – teses de mestrado      últimos anos, a preocupação aumentou bastante. Acho que é
e de doutorado, laboratórios, criação de infraestrutura para         importante, quando a gente se compara com outros países,
testes de equipamentos –, contam com forte interação com o ex-       verificar as especificidades, as diferenças que a gente tem.
terior, o que proporciona uma troca grande de tecnologias. Temos     Quando se questiona, por exemplo, as perdas de energia de
uma estrutura de centros de pesquisas ligados diretamente ao         até 10% ocorridas no sistema de transmissão do Brasil, é im-
ministério, como o Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica)   portante considerar as dimensões do país. Uma coisa é Portugal,
da Eletrobrás e o Cenpes (Centro de Pesquisas) da Petrobras que      que tem o tamanho de um estado brasileiro. Quando a distância
é um importante centro da área de petróleo e gás natural, mas        aumenta, nos sistemas de transmissão, as perdas são maiores.
atua também na questão da eficiência energética. Há os fundos        Muitas vezes, não se trata de um país não ter feito isso ou
setoriais que têm alimentado e melhorado muito a pesquisa tec-       aquilo. É que houve um atraso em determinados segmentos.
nológica no Brasil. Na questão da tecnologia há dois aspectos im-    Há também a questão cultural. Quando o país passou por um
portantes. Há equipamentos que já são muito eficientes e que o       período de energia abundante e barata criou-se uma cultura de
ganho esperado é pequeno, no que se refere à pesquisa, mas são       desperdício, de deixar a luz acesa. Isso, no entanto, tem mudado
pouco utilizados nos processos. Então, é uma pesquisa mais de        bastante. Aprendemos com o passar do tempo. Volto, aí, para a
aplicação desses equipamentos em novos processos, não há             questão dos aspectos comportamentais, que me parecem muito
grandes novidades. E na outra ponta, é pensar em tecnologias que     importantes, a cultura da eficiência. E o importante não é o
tragam soluções e aplicações inovadoras. No geral, podemos dizer     que você deixou de fazer, mas o que está se propondo a fazer.
que a área de energia é uma área mais conservadora – se com-         O importante é olhar o que foi feito e não foi feito e caminhar,
parada com a informática, que a cada seis meses tudo muda. Mas,      evoluir, incorporando o que há de melhor. k

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                                                                                                                estudos
                                                                                                                de casos }




    É A ALMA DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
     Por Marcel Gomes




    A
             pesar do atraso do governo federal brasileiro em     graus, bem abaixo os 200 graus de caldeiras tradicionais”,
             gerenciar a temática de maneira a consolidar uma     explica Waldenilson Muniz, gerente de Energia e Utili-
             cultura de consumo energético mais eficiente no       dades da Basf na América do Sul. O desenvolvimento do
    país, a eficiência energética já é fato em andamento no        novo equipamento exigiu investimentos de € 5milhões
    Brasil. A Revista Sustentabilidade apresenta três casos       (equivalente a R$ 11,8 milhões) e trará uma redução de 20%
    exemplares nos âmbitos industrial, comercial e residencial.   nos custos de energia da empresa.
       A Basf, gigante química de origem alemã com diversas          O ganho, segundo ele, também é ambiental, na medida
    fábricas no Brasil, acaba de inaugurar uma nova caldeira      em que a mesma energia final é produzida com menor quan-
    para geração de vapor em sua unidade de Guaratinguetá         tidade de energia primária. Muniz afirma que a experiência já
    (SP). O equipamento, movido a gás natural, é capaz de gerar   serve de exemplo para outras unidades da Basf no mundo: em
    até 2,3 megawatts, o equivalente a 25% da demanda de ener-    outubro, uma fábrica da companhia na Argentina inaugurará
    gia elétrica da companhia.                                    uma caldeira com inovações testadas e aprovadas em
       A caldeira está longe de ser um modelo de sustentabili-    Guaratinguetá.
    dade, pois não trabalha com uma fonte de energia re-
    novável. Isso não impede, contudo, que seja possível, a       AR FRIO, NEGÓCIO QUENTE
    partir dela, produzir boas práticas de melhoria da intensi-   Não é preciso ser uma transnacional bilionária para inovar.
    dade do consumo energético.                                   Prova disso é a história da Viva Equipamentos, empresa de
       A principal novidade é que os técnicos da Basf, em         Campinas (SP), mais conhecida por sua inovadora linha de
    parceria com seus colegas da CBC Indústrias Pesadas, de-      climatizadores evaporativos. Fundada em 1994, por dois en-
    senvolveram pré-aquecedores e recuperadores de calor que      genheiros oriundos da Unicamp, a Viva desenvolve, produz
    permitem o máximo aproveitamento da energia gerada pela       e instala climatizadores, produto que pode substituir o ar
    queima do gás natural.                                        condicionado em ambientes comerciais com um gasto até
       “Com esses instrumentos, os gases liberados para a at-     95% menor de energia elétrica.
    mosfera após a queima saem com temperatura de 90                 O funcionamento do equipamento é simples: um




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     ventilador aspira ar externo, que passa através de um painel        Com mais eficiência na dissipação de calor, o refrige-
     composto por um tipo de filtro, sobre o qual água circula         rador com o kit passa a gastar 15% menos energia do que os
     continuamente movida por uma pequena bomba. A água               modelos convencionais, o que representaria uma economia
     que evapora com o ar quente é reposta por ação de uma            de pelo menos R$ 25 mensais na conta de luz.
     boia, que mantém o nível constante no reservatório. Ao sair         Gutiérrez se preocupou em criar um modelo prático de
     do sistema, o ar está até 12 graus mais frio, limpo e úmido.     montar, que pode ser instalado sem auxílio de assistência
        O climatizador pode ser usado em residências, indús-          técnica. O usuário teria apenas de verificar periodicamente
     trias ou unidades comerciais como farmácias e supermer-          o nível de água do reservatório e colocar algumas gotas de
     cados, onde o uso de aparelhos de ar condicionado pode           cloro para evitar a proliferação de micro-organismos.
     representar entre 25% e 50% dos gastos com energia                  O registro da patente do “kit geladeira” saiu há apenas
     elétrica. O custo de instalação também é menor, pois não         dois meses e é dividido entre o estudante, o orientador e
     é necessário isolar os ambientes – uma obrigatoriedade           a universidade. “Agora estamos mais tranquilos para
     no caso do ar condicionado.                                      procurar empresas interessadas em investir e massificar
        Ainda que alguns itens do equipamento sejam impor-            o produto”, diz Gutiérrez. k
     tados, como explica Amanda Melo, que trabalha na área




                                                                                                                              Divulgação/Basf
     comercial da empresa, o espírito inovador persiste no de-
     senvolvimento de equipamentos sob demanda para aten-
     der peculiaridades de cada ambiente.
        Também no ramo da refrigeração, uma inovação cria-
     da na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp
     aguarda interessados na indústria ou entre conces-
     sionárias de energia para chegar ao consumidor final. O
     engenheiro e doutorando peruano Mirko Chaves Gutiér-
     rez criou um equipamento batizado como “kit geladeira”
     durante suas pesquisas para o mestrado.
        Junto ao professor orientador Vivaldo Silveira Júnior,
     Gutiérrez introduziu o princípio da condensação evapora-
     tiva à geladeira residencial. Isso significa que, além de ar, o
     sistema utiliza também a água para dissipar o calor na parte
     de trás do equipamento. O kit é formado por um reser-
     vatório que usa uma pequena bomba para pingar água no
     tubo e fazer o líquido circular. Como a bomba fica ligada
                                                                         Movida a gás natural, a nova caldeira para geração
     ao compressor, o sistema funciona em conjunto com a
                                                                         de vapor da Basf em Guaratinguetá reduzirá em
     geladeira, desligando quando o motor está parado.                   20% os custos de energia da empresa




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                                                                                                      perspect
                                                                                                                            iva }




A ROTA DE COLISÃO?
 A saída para o mundo escapar do desastre da escalada energética
 está em novos padrões de consumo, políticas públicas focadas e
 investimento pesado em pesquisa e desenvolvimento

 Por Marcel Gomes




N
           o futuro, trocaremos o transporte individual      efeito estufa de 38,9% do que seria emitido até 2020, os
           pelo coletivo? Esta simples decisão reduziria     planos energéticos ainda preveem um aumento no con-
           as emissões pessoais de CO2 para cerca de um      sumo per capita, mesmo levando em conta os ganhos ‘na-
quinto do valor. Hoje, isto é impensável, pois a lógica      turais’ de eficiência dos equipamentos.
atual é: se a renda melhora, o indivíduo não só compra          No Plano Decenal Energético em 2020 teremos quase
um carro, mas também televisores, computadores, celu-        duas televisões por domicílio, todos os lares terão
lares, DVDs, geladeiras etc.                                 geladeiras, 74% dos brasileiros terão máquinas de lavar
   No Brasil, cada cidadão consome em média, por ano,        roupas e as casas serão iluminadas com 1% a mais de lâm-
2,2 mil quilowatts-hora (kWh) de eletricidade e 150 litros   padas em média. Para atender a toda esta demanda, está
de gasolina. Em comparação, um americano consome 14          previsto um aumento de 48% no consumo de eletricidade
mil kWh e 1,2 mil litros por ano. Chegaremos lá se não       no mesmo período.
fizermos nada. Mas hoje, este padrão de consumo sus-            Existirão ainda 50 milhões de carros circulando no Brasil
cita questões importantes: podemos suportar isso e tere-     (um aumento de 66% dos atuai 30 milhões). No final, se-
mos fontes energéticas suficientes? Uma resposta já está     gundo as projeções do governo, em 2020 consumiremos 11%
clara: é inexorável a necessidade de melhorar de vida        mais gás natural, 16% mais óleo diesel, 4,5% mais gasolina e
consumindo menos.                                            1,6% mais querosene, para destacar as principais fontes. No
   Entretanto, estamos longe disso. Mesmo que o governo      plano 2020, para um aumento anual médio de renda de
brasileiro tenha uma meta de redução de emissões de gases    4,3%, o consumo final de energia deverá crescer 5,3%.



                                                                                   Revista Sustentabilidade Edição Especial
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                                                                    energias renováveis modernas”, afirma. O ambientalista é
     ALTERNATIVAS                                                   reticente sobre as vantagens que a exploração da camada
     ENERGÉTICAS                                                    pré-sal trará ao Brasil. Para ele, os custos das energias re-
     Mas não precisa ser assim. No início de 2011, a ONG am-        nováveis estão em queda, o que as torna mais competitivas
     bientalista WWF, em parceria com a consultoria Ecofys,         em relação aos derivados de petróleo.
     divulgou uma pesquisa que mostra que é possível diminuir          O estudo também mostrou que as mudanças neces-
     o consumo de energia. Segundo o estudo, a incorporação         sitarão de investimentos de 170 bilhões de euros em
     de inovação, modernização das redes elétricas e equipa-        pesquisa e desenvolvimento até 2050 por meio de sistemas
     mentos mais eficientes poderão levar a um consumo ener-         colaborativos entre indústria e governos nacionais.
     gético mundial em 2050 15% menor que em 2005. No final,            “Não quer dizer que vai ser fácil”, diz Mano Janssen,
     conclui o estudo, isso gerará uma economia acumulada de        presidente da Ecofys. “As políticas públicas atuais são clara-
     4 trilhões de euros em gastos com energia. O primeiro          mente insuficientes. Mas precisamos perceber que neces-
     passo é investir.                                              sitamos agir para garantir os benefícios no futuro. E o
        A meta estipulada pela pesquisa é diminuir as emis-         papel das empresas é primordial neste processo”.
     sões de carbono em cerca de 80% até 2050, mantendo o              O foco, no entanto, é reorganizar nossas cidades e as
     aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus. Para atingir        cadeias produtivas. Entre uma das propostas do estudo
     isso, seria necessário alterar uma série de orientações vi-    da Eofys está a reforma de 2 a 3% de toda a área cons-
     gentes nas políticas públicas, na produção das empresas        truída no mundo para tornar os edifícios menos per-
     e no consumo das famílias, com o incentivo às formas           dulários, o que significa um investimento pesado. Para
     renováveis de energia, à reciclagem de materiais e ao uso      os países em desenvolvimento o caminho é impor bar-
     de transporte coletivo.                                        reiras aos produtos ineficientes, mas, sobretudo, pensar
        Carlos Rittl, coordenador do programa de Mudanças           mais sobre como agimos sem levar em conta a importân-
     Climáticas e Energia do WWF no Brasil, diz acreditar que       cia das políticas públicas.
     o Brasil poderia contribuir com esse “projeto global” por         “Consciência e ganho de mercado são fatores impor-
     meio de seu potencial para a bioenergia, desde que             tantes mas, na nossa experiência, a legislação e as políticas
     critérios rigorosos de sustentabilidade fossem seguidos. Ele   públicas alinhadas são os principais fatores para mudanças
     aponta, porém, que o país precisa investir mais em ino-        no mundo empresarial”, lembra Wal Flor, sócia da consul-
     vação. “Temos oportunidades de diversificação de nossas         toria paulista Lynx que implementa programas socioam-
     fontes, com mais investimentos eficiência energética e em       bientais em grandes empresas de segmentos diversos. k



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                                                                                                                             { artigo
O papel das tecnologias
de eficiência energética na
economia de baixo carbono
Por Sizenando Silveira Alves e Marco Antonio Saidel *




A
          expressão Eficiência Energética é um termo guarda-          verter a tendência de carbonização da nossa matriz energética.
          -chuva, que abriga sob si todas as facetas do uso              Observando-se a tendência dos últimos leilões de energia
          racional e eficiente de recursos energéticos. Como          elétrica e o crescimento da quantidade de veículos automotores
veremos a seguir, todas elas são relevantes para a chamada            no Brasil, bem como nossa opção histórica preferencial pelo
economia de baixo carbono.                                            transporte de cargas e passageiros do tipo terrestre rodoviário,
   Uma vez que, dentro de uma perspectiva de ciclo de vida            observa-se uma nítida tendência ao incremento proporcional,
completo, mesmo a produção de energia a partir de fontes re-          ao longo do tempo, de fontes energéticas fortemente emissoras
nováveis pode apresentar emissões de carbono em suas fases            de carbono em nossa matriz.
de construção e desativação (ao fim da vida útil da planta ge-            Há dois meios de se reverter tal tendência. Uma é o aumento
radora/produtora), a melhor alternativa para suprimento de            da participação de fontes limpas ou renováveis na matriz ener-
demandas energéticas, quando se pensa em termos de minimiza-          gética por aumento da disponibilidade de tais fontes, outra é a
ção das emissões de carbono, é a disponibilização de energia a        redução dos consumos energéticos, acompanhada pela prioriza-
partir da redução do consumo necessário para a realização de          ção ao uso das fontes renováveis para o atendimento das neces-
cada atividade humana consumidora de energia.                         sidades energéticas assim reduzidas.
   O desenvolvimento de tecnologias de eficiência energética,             Mesmo que o aumento puro e simples da disponibilidade de
tecnologias voltadas à obtenção de produtos ou processos pro-         fontes de energia limpa venha a se tornar uma alternativa eco-
dutivos que oferecem mais produtos ou serviços por unidade de         nomicamente viável no Brasil, a disponibilização e disseminação
insumo energético consumido, é uma rota importante para essa          de tecnologias de uso racional e eficiente de energia é um curso
disponibilização de insumos energéticos.                              de ação do tipo “sem arrependimento” para reverter essa car-

   Além da redução do consumo de insumos energéticos na               bonização de nossa matriz energética. Isso por que, mesmo que

economia como um todo, os investimentos no desenvolvimento            não importasse reduzir as emissões de carbono da economia na-

de tal tipo de tecnologia podem trazer avanços para a ciência e a     cional, ainda haveria os benefícios à economia (menos consumos

tecnologia do país, já que a obtenção de processos e produtos mais    energéticos para uma mesma produtividade industrial resultam

eficientes energeticamente, passa também pelo desenvolvimento          em maior competitividade da indústria nacional) e ao parque
                                                                      técnico-científico nacional. k
de novos materiais e técnicas, tais como cerâmicas resistentes a
temperaturas extremas e bombas de calor de alta eficiência.
   Para o caso nacional, o papel destes desenvolvimentos tec-         * Sizenando Silveira Alves é doutorando do curso de Engenharia Elétrica
nológicos é ainda mais importante. Primeiro pelo potencial de           da Escola Politécnica da USP.

catálise de desenvolvimento tecnológico decorrente da busca e apri-   * Marco Antonio Saidel é professor da Escola Politécnica da Universidade
                                                                        de São Paulo (USP) onde coordena o Programa para Uso Eficiente de
moramento destes novos processos e materiais e, segundo, para re-       Energia.

                                                                                              Revista Sustentabilidade Edição Especial
Revista Sustentabilidade Edição especial de energia - eficiência e renováveis
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Revista Sustentabilidade Edição especial de energia - eficiência e renováveis

  • 1. revista Sustentabilidade inovação para uma economia verde ano IV • edição no 3 outubro/novembro 2011 Impressa: R$ 22,50 Online: R$ 5,99 EDIÇÃO ESPECIAL DE ENERGIA: EFICIÊNCIA E RENOVÁVEIS Smart Grid: país entra de vez na geração distribuída Hidrelétricas vs Energias Renováveis: para onde vamos? Educação e Tecnologia: soluções para o consumo responsável O BARATO SAI CARO Sem foco e planejamento, o custo de economizar 1 MWh nos programas oficiais é três vezes maior que o da geração de 1 MWh em Belo Monte dia mundial da água www.revistasustentabilidade.com.br dia mundial da água
  • 2. Sustentabilidade é inovação. Sustentabilidade é inteligência. Surpreenda com suas escolhas! Acompanhe a Revista Sustentabilidade na Internet e nas redes sociais. Fique por dentro das últimas novidades sobre inovação para a sustentabilidade no Brasil e no mundo. Saiba quais são as últimas tendências e contribua para o debate! No Facebook: http://www.facebook.com/RevistaSustentabilidade No Twitter: http://www.twitter.com/cleantechbr /escolaverde No LinkedIn: Grupo Empreendedor Verde Junte-se a nós! www.revistasustentabilidade.com.br comercial@revistasustentabilidade.com.br As edições anteriores impressas (água/construção verde e inovação/resíduos) podem ser adquiridas pela Internet no endereço: http://assinesustentabilidade.com.br As versões PDFs destas edições também estão à venda. Consulte-nos para distribuição para bibliotecas, universidades, associações de profissionais e cursos especializados.
  • 3. 3 editorial } A ineficiência energética brasileira G ostaria de escrever sobre avanços tecnológicos, inves- está em crise e não há outro lugar para investir com tamanha timentos em novos projetos, programas de educação rentabilidade já que nos países desenvolvidos as taxas de juros das empresas, universidades e governos para melhorar rondam o zero. A enxurrada de dinheiro fortalece o real e força o desempenho energético do país e a relação entre consumo e o Banco Central a ‘enxugar’ este capital comprando direta- produção de energia, qualidade de vida e meio ambiente. mente os dólares no mercado e vendendo títulos, tirando da No entanto, o que relatamos nas matérias desta edição – fora economia dinheiro essencial para investir. Aumentamos nossas algumas iniciativas pontuais – é uma série de entraves legais, reservas cambiais – hoje acima de US$ 340 bilhões –, mas im- gerenciais e macroeconômicos que conjuram contra botar o possibilitamos o aumento da taxa bruta de investimento – hoje Brasil no pódio da corrida pelas novas energias renováveis e efi- abaixo de 20% do PIB. ciência energética. Juros altos também retiram a capacidade do governo de in- O ambiente macroeconômico desencoraja qualquer investi- vestir e planejar. Nos primeiros sete meses de 2011, o governo mento nestas áreas. De um lado temos taxas de juros escor- federal criou um superávit primário de R$ 91 bilhões, enquanto chantes de, no mínimo, 12% ao ano. Do outro, temos uma moeda os investimentos ficaram em R$ 25 bilhões. fortalecida artificialmente frente ao dólar e ao euro. Juntos, estes Os reflexos para a eficiência energética são óbvios: por que in- fatores impossibilitam ganhos de competitividade, investimen- vestir em novos equipamentos e processos e obter ganhos tos em inovação e ameaçam fortemente nosso parque industrial, econômicos na conta de luz de um dígito se a aplicação na pois, para as empresas, é mais barato importar equipamentos e ciranda financeira rende no mínimo 12% anuais, sem risco? É uma produtos do que investir. lógica perversa, apesar do alto custo da eletricidade no Brasil. Câmbio e juros estão intimamente ligados. Juros altos Há quem diga que temos um potencial para economizar ime- atraem capital especulativo, principalmente quando o mundo diatamente 30% de todos os 420 terawatts-hora consumidos Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 4. 4 editorial } anualmente no país. Mas, no Plano Decenal de Energia (PDE) e biomassa e etanol celulósico, tecnologias que já vêm sendo no Plano Nacional de Eficiência Energética (PNE ) foram iden- viabilizadas em outros países. tificados potenciais de economia energética de 5% e 10% em Os entraves, contudo, persistem. A capacidade de geração de 2020 e 2030, respectivamente. conhecimento de nossas universidades é imensa, mas não con- É pouco. Afinal, parte do plano prevê investimentos e ino- seguimos transformá-la em inovação efetiva. Falta criar meca- vação, por parte das empresas, em melhorias do desempenho nismos que aproximem centros de conhecimento e empresas, energético de produtos e processos, que podem não vir à luz por para que estas invistam em inovação. conta do nefasto ambiente macroeconômico. A criação deste ciclo de investimento é improvável num Do lado das energias renováveis, podemos até comemorar o cenário de escassez de dinheiro. O mundo está numa corrida sucesso da eólica que, com preço baixo, acabou se instalando de pelo controle das novas tecnologias energéticas limpas. O fato no Brasil com mais de meia dúzia de fabricantes de equipa- Brasil, apesar de seus abundantes recursos naturais – sol, vento, mentos investindo no país após uma década de tentativas. O biomassa, água – custa a entrar nesta corrida. Falta foco em sucesso vem da política de obrigar um índice mínimo de 60% de políticas públicas e pragmatismo contra os entraves micro e nacionalização da tecnologia como contrapartida para o finan- macroeconômicos. ciamento barato do BNDES. Vem também, sobretudo, da neces- sidade das empresas eólicas estrangeiras buscarem mercados ativos após o colapso dos mercados na Europa e EUA. Boa leitura, Deveríamos fazer dessa janela de oportunidade uma política consistente e concreta, de olho nas demais renováveis Alexandre Spatuzza como a solar fotovoltaica, células a combustível, termossolar, Diretor de conteúdo Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 5. 5 sumário } 6 Capa Eficiência Energética 30 Artigo O barato sai caro Energia: o que muda com a Convenção do Clima? 17 Eficiência Energética Educação e Tecnologia: soluções 32 Geração distribuída para o consumo responsável Brasil entra na era da smart grid em 2012 19 Artigo Demandas tecnológicas para 37 Artigo a eficiência energética Eficiência e sustentabilidade 22 Entrevista 38 Entrevista Hamilton Moss de Souza Maurício Tolmasquim 25 Estudos de casos 41 Artigo Gerenciamento do calor Leilões de energias renováveis em equipamentos 42 Capa Energias Renováveis 27 Perspectiva Hidrelétrica vs Solar, Projeções de consumo ascendente Eólica e Biomassa e desenvolvimento responsável 50 Energia Eólica 29 Artigo Promessas de um mercado promissor Economia de baixo carbono e a eficiência energética Colaboradores Aliança estratégica e comercialização Eugênio Melloni, Janaina Simões e Marcel Gomes InvestVida Brasil Projeto gráfico e direção de arte Diretor Executivo Ailton Oliveira A edição especial da Revista Sustentabilidade – Lu Cury Energias Renováveis/Eficiência Energética é uma Distribuição online ou em bancas publicação do portal Revista Sustentabilidade Assistência de arte com exclusividade própria Ione Gomes Franco Projeto editorial e reportagem Para anunciar Vespa Serviços de Comunicação e Capa Arte sobre imagem do iStockphoto.com comercial@revistasustentabilidade.com.br Abaporu Comunicação Revisão Elmo Odorizzi Encontre-nos também nas redes sociais: Diretor de conteúdo Alexandre Spatuzza (MtB 42261/SP) www.facebook.com/RevistaSustentabilidade spatuzza@revistasustentabilidade.com.br Revista Sustentabilidade www.linkedin.com/company/revista-sustentabilidade Editor executivo Telefone: (+ 55 11) 3467-9008 Vinícius Gorgulho (MtB 31230/SP) E-mail: redacao@revistasustentabilidade.com.br vinicius@revistasustentabilidade.com.br www.revistasustentabilidade.com.br www.twitter.com/cleantechbr Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 6. 6 eficiência energética } O BARATO A falta de planejamento tem um preço amargo: no Brasil, hoje, é mais barato construir novas usinas do que economizar energia Por Alexandre Spatuzza O s sinais econômicos e o desempenho brasileiro na construir novas usinas com potência total de 1,7 mil megawatts. área de eficiência energética são no mínimo confli- Isso equivale a um investimento de R$ 347,00 para cada tantes. Cresce o rigor da legislação ambiental e o megawatt-hora economizado. A falta de foco e eficácia desses preço da energia elétrica se mantém alto – principalmente para programas de eficiência energética, entretanto, é revelada por as empresas –, incentivando fortemente a implantação de me- uma simples comparação: o investimento a ser feito em Belo didas de eficiência energética. Enquanto isso, entretanto, os es- Monte para gerar 1 megawatt-hora será de R$ 77,97. forços nesse sentido são diminuídos e diluídos por problemas Gilberto Jannuzzi, pesquisador do Departamento de Energia como a falta de financiamento adequado, taxas de juros altas e a da Faculdade de Engenharia da Unicamp, a falta de foco é gri- falta de foco das políticas. tante. Mesmo considerando a vida útil dos equipamentos e dos Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), programas, que diminuem os custos, a conta na ponta do lápis entre 1998 e 2007, foram investidos R$ 1,9 bilhão em mais 3 mil mostra o desperdício. “A taxa de retorno é muito baixa e a falta projetos que economizaram 5,6 mil megawatts-hora (MW/h) por de transparência dos números e de monitoramento não nos per- ano. Esse investimento resultou no adiamento da necessidade de mite verificar se os critérios foram adotados corretamente”, diz. Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 7. 7 Segundo estudo de Jannuzzi, a conta fica ainda mais crítica o custo marginal de expansão do sistema de energia elétrica foi es- ao incluirmos os programas mais recentes dos quais 64% são des- timado em R$ 138,00 por MWh no Plano Decenal 2007/2016 da tinados à troca de equipamentos, que duram menos de dois Empresa de Planejamento Energético (EPE), do principal órgão do anos, para a baixa renda: foram R$ 3,8 bilhões para economizar governo federal responsável pela incumbência que o batiza. 7, 3 mil MWh/ano, ou seja, R$ 520,00 por MWh. “Há um potencial de 30% de economia no uso da eletricidade, Isto está longe do que se pratica mundo afora. Um estudo da na média,” afirma Máximo Pompermayer, superintendente dos Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que os progra- programas de eficiência energética da Aneel. “Mas temos uma le- mas podem ser bem mais compensadores. Na análise de 217 proje- gislação amarrada, que direciona os recursos obrigatórios para uma tos de eficiência energética de 13 setores industriais, o custo médio camada da população cujo efeito no consumo total é o irrisório”. do MWh economizado foi de R$ 79,00 por MWh. Em comparação, Pompermayer se refere ao Programa de Eficiência Energética NASA Visible Earth/site: http://www.fourmilab.ch/cgi-bin/Earth Foto de satélite, registrada em 18/10/2011, revela a luz das cidades brasileiras vistas do espaço. As duas maiores manchas de iluminação encontram-se nas macrometrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 8. 8 EM UM ANO, A TAXA BÁSICA DE JUROS É DE 12%, MAS OS GANHOS FINANCEIROS EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA LIMITAM-SE, EM GERAL, A UM DÍGITO (PEE) que, ao completar mais de uma década, já arrecadou mais O Ministério de Minas e Energia (MME) está elaborando de R$ 3 bilhões das distribuidoras de eletricidade para implemen- há mais de três anos o PNEf, que, apesar de pronto, ainda não tar projetos e programas para reduzir o consumo de eletricidade. havia sido lançado até o fechamento desta edição da Revista A lei determina que 0,5% do faturamento líquido dessas empresas Sustentabilidade. – que são mais de uma centena – seja destinado a estes programas. AÇÃO GOVERNAMENTAL PLANEJAMENTO A timidez do governo brasileiro frente à questão da eficiência “A energia menos impactante e mais barata é a energia econo- energética contrasta com a urgência dos especialistas da área. mizada, o que chamamos de negawatt”, disse o presidente da Estes últimos demandam ações mais concretas e focadas para EPE, Maurício Tolmasquim. “Por isso eficiência energética é im- desmantelar o ciclo vicioso no segmento da energia. Iniciativas portante para o planejamento, mas não exclui a necessidade de sem as quais, dizem, será necessário buscar novas fontes de ener- planejar o fornecimento”. gia cada vez mais distantes e caras, tanto para o bolso, quanto O potencial de economia energética de 30% estimados por para o meio ambiente. Pompermayer está bem acima dos 5% previstos no Plano de De- “Nossos estudos mostraram que a economia de energia faz senvolvimento Energético 2020 (PDE), bem com dos 10% pre- mais sentido que construir novas usinas”, afirma Rodrigo Garcia, conizados até 2030 nas premissas básicas do Plano Nacional de analista de eficiência energética da CNI. “Os atrasos no PNEf Eficiência Energética (PNE ). “Projetamos nos planos o que mostram que governo não está dando prioridade para a questão”. achamos que vai acontecer e o que não queremos que aconteça”, Em comparação, o governo federal dos EUA, frente à crise fi- afirmou Tolmasquim. nanceira de 2008, aprovou no congresso o Recovery Act, em Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 9. 9 A GRANDE MURALHA DO FINANCIAMENTO INDUSTRIAL As empresas brasileiras enfrentam uma gran- mas de eficiência energética, chamadas Escos. de barreira à eficiência energética: faltam li- Apesar de ter anunciado em 2008 que pre- nhas de financiamento acessíveis e sobram tendia assinar contratos somando R$ 85 mi- taxas de juros abusivas. lhões até final de 2010, só R$ 33 milhões Figueiredo da SustentaX é categórico: foram liberados em 15 operações e, destes, “Investir em eficiência não paga a comissão. apenas R$ 1,8 milhões foram para as Escos. Só a taxa de juros que recai sobre o emprés- Sendo pequenas empresas, as Escos não timo ultrapassa a eficiência da bomba que conseguem apresentar garantias suficientes você compra”. para obter o dinheiro que é essencial para im- Na ponta do lápis, a conta é simples: a taxa plementar os programas de eficiência. O agra- básica de juros é de 12% ao ano e os ganhos vante é que a remuneração dessas empresas, em eficiência energética são, em geral, de um regidas por contratos de desempenho, pro- dígito por ano. vém da economia de energia gerada nesses “Financeiramente, não faz sentido investir mesmos programas. em eficiência energética. Então, as empresas Apesar de iniciativas pontuais – como algu- focam em enfrentar problemas conjunturais mas cidades que começam a oferecer descon- como dólar baixo e desindustrialização” diz tos no Imposto Predial e Territorial Urbano Garcia da CNI. (IPTU) para edifícios mais eficientes – o ciclo De fato, há aí um grave problema com os vicioso de financiamento às Escos ilustra a programas brasileiros de eficiência energética. falta de foco do governo na questão. Nos EUA e Europa os programas têm como “O governo tem que ser a força motriz e de- opção de financiamento os créditos de car- veria dar uma gama de incentivos fiscais, mudar bono, já que a redução no consumo corta di- a lei de licitações para o poder público comprar retamente a queima de combustíveis fósseis as tecnologias mais eficientes, mesmo que mais nas centrais elétricas térmicas que represen- caras, e focar os programas de eficiência ener- tam 70% da geração. No Brasil, cerca de 70% gética nas indústrias e nos edifícios públicos”, da geração elétrica é de fonte renovável hí- resume Cutri. drica, o que torna difícil contar com o seques- Apesar de tarde, no final, todos acham o tro de CO2 para financiar as ações. PNEf benvindo, pois traz as diretrizes básicas. Desde 2006, o governo oferece, por meio O desafio, como salientou Garcia, é transfor- do BNDES, uma linha chamada Proesco para mar os planos em ações efetivas e não apenas empresas de engenharia que projetam progra- numa lista de desejos. Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 10. 10 Eficiência Energética no Brasil: Ganhos e Custos Comparados (% e MWh) Custos em R$/MWh % 400 347 15% 300 12 10% 10 200 138 5% 99 100 77,97 2,6 ual de ual de dústria ia nos arginal as de Energia nte Taxa an ica Taxa an édio de EE na in média Econom as EE Custo m o do Program is de EE ás Mo juros b reto rno m (projeção 19) pr ogram 000) de expansã ico ind ustria Belo Brasil as de EE té 20 91/2 elétr program anual a (Lei 9.9 sistema Fontes: EPE/CNI/PROCEL 2009, um pacote de recuperação econômica que alia a criação (BNDES) para financiar projetos das empresas de conservação de empregos com a melhora da matriz energética suja e progra- de energia por meio de contratos de desempenho. mas de eficiência energética. Desde sua criação, US$ 8,9 bilhões Em termos financeiros, o mais importante é o PEE que, am- foram destinados a programas de racionalização do consumo em parado por lei, arrecada cerca de R$ 300 milhões ao ano. No en- empresas e residencial. O Recovery Act inclui R$ 5 bilhões em tanto, especialistas do setor – e até da Aneel – são unânimes ao subsídios diretos para financiar a melhoria do isolamento tér- dizer que o PEE é direcionado à camada errada da população e mico de 377 mil residências, o que reduziu as contas de luz de tem pouco efeito, pois concentra-se em programas de trocas por cada casa beneficiada pelo programa em mais de US$ 300 anuais, equipamentos mais eficientes – na maioria, itens de linha branca, segundo dados do governo estadunidense. como geladeiras – orientados à população de baixa renda. Assim, No Brasil, a ação governamental, apesar de centralizada, é pouco sobra para implantar projetos no setor industrial, que con- confusa e calcada em três pilares: os programas de etiquetagem some quase metade de toda a energia elétrica do país, e no setor e selos, o PEE da Aneel e o Proesco que é uma linha de crédito público, seja no plano federal, estadual ou municipal. do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social “É um clientelismo muito grande, as pessoas recebem o equipa- Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 11. 11 ESTIMA-SE QUE O BRASIL TEM POTENCIAL IMEDIATO DE ECONOMIA ENERGÉTICA DE 30%. MAS AS PROJEÇÕES DO GOVERNO SÃO CONSERVADORAS: 10% ATÉ 2030 mento e as empresas distribuidoras de energia aproveitam para presa nas comunidades pobres para aliar geração de renda, edu- combater furto de energia e expandir suas bases de consumidores”, cação e ganhos ambientais. Pompemayer destaca o programa im- avalia Garcia da CNI. “Este dinheiro poderia ser direcionado para plementado pela Neoenergia que apoia a criação de oficinas e a os setores que mais consomem e, no final, nós que pagamos por produção de artesanato reutilizando resíduos descartados. estes projetos que são decididos pelas concessionárias”. Segundo ele, entretanto, o processo educativo mais ade- Segundo Jannuzzi, quando há uma obrigação de investir o quado deve incluir alguma contrapartida econômica por parte dinheiro em camadas específicas, as empresas se preocupam dos beneficiários, estabelecendo a responsabilidade comparti- muito mais em gastar o dinheiro para cumprir a legislação do lhada. O executivo da Aneel sugere uma contribuição adicional que buscar os melhores resultados. E mesmo assim não con- feita na própria conta de luz, longamente parcelada até que seguem gastar todo o dinheiro, pois o número de famílias pague o equipamento adquirido. Isto também ampliaria os fun- cadastradas na tarifa social é de algumas dezenas de milhares. dos disponíveis para eficiência energética e evitaria casos de “Se este dinheiro fosse aplicado com os critérios certos, seria revenda dos equipamentos e lâmpadas fluorescentes compactas bem fácil atingir, em 20 anos, a meta de 10% do PNEf,” calcula mais caras como registrado pelas pesquisas de Jannuzzi. “No Jannuzzi. Essa opinião é compartilhada por Pompemayer, cujos final, estes programas não foram inteligentes e não resolvem o cálculos revelam que esse foco inadequado destina 60% dos re- problema principal que é a falta de renda”, disse. cursos para eficiência energética a uma camada da população que consome apenas cerca de 4%. ETIQUETAGEM E INOVAÇÃO O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) do Instituto Na- LINHA BRANCA cional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (In- E BAIXA RENDA metro) tem sido mais eficaz. Apesar de estar em fase inicial e “Reconheço que estes programas têm seu valor social, principal- incluir, até agora, menos de 10 equipamentos, a iniciativa do In- mente quando aplicado inteligentemente com campanhas edu- metro vem, desde 2001, estabelecendo exigências de eficiência cacionais e de conscientização, já que não adianta trocar a cada vez maiores. Hoje, existem níveis mínimos para ares-condi- geladeira ou dar uma lâmpada se as pessoas não são orientadas cionados, lâmpadas e motores elétricos. a melhorar os padrões de consumo”, explica. O PBE não deve, contudo, ser confundido com o selo do Pro- Alguns programas brasileiros aproveitam a entrada da em- cel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) que Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 12. 12 FOCO INADEQUADO: 60% DOS RECURSOS PARA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA SÃO DESTINADOS A UMA CAMADA DA POPULAÇÃO QUE CONSOME APENAS 4% tem 22 programas de pesquisa de consumo de equipamentos, faz apenas indicações do nível de consumo de cada produto e é coordenado pelo MME por intermédio da Eletrobrás. O governo, diz Alexandre Paes Leme, técnico do PBE, já fez Consumo por segmento no Brasil um cronograma para incluir mais itens que, ao ingressarem no PBE, deverão ampliar sua eficiência em 10% a cada três ou quatro anos. “Esta previsibilidade fará com que as empresas planejem a outros 14% inovação para atingir as metas”, diz Leme. Em 2013, micro-ondas e edificações, entre outros itens, pas- comercial 17% industrial 43% sam a fazer parte do PBE. Em 2014, será a vez dos chuveiros elétricos. Além disso, o comitê Gestor de Indicadores e Níveis Eficiência Energética (CGIEE) já encomendou estudos para in- residencial 26% cluir equipamentos de informática e ventiladores, bem como, a pedido da CNI, capacitores industriais. A decisão de dar um período de quatro anos para cada ciclo Fonte: EPE Resenha mensal do mercado de não foi aleatória, pois leva em conta os ciclos de inovação nas energia elétrica – Julho 2011 (consumo diferentes indústrias. É um esforço de inovação para o qual as acumulado 12 meses – 423.829GWh) empresas deverão se adequar. A Embraco, maior fabricante de compressores usados em vários equipamentos incluindo refrigeradores, mantém uma equipe de 500 pessoas para pesquisa e desenvolvimento dos seus Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 13. 13 produtos, além de parcerias com a Universidade Federal de em prédios que têm certificação ambiental, como LEED ou Santa Catarina (UFSC). Aqua, o desempenho energético pode ser menor que o espe- “Investimos 3% do faturamento líquido em pesquisa e ino- rado se não for mantido corretamente. Por isso, o Aqua, por vação, independente da conjuntura econômica”, afirma o diretor exemplo, já inclui manutenção como quesito. O LEED agora de Relações Institucionais de Pesquisa e Desenvolvimento da está introduzindo no Brasil a certificação para operação e Embraco, Guilherme Lima. manutenção em prédios existentes. Os campos de desenvolvimento dos produtos da Embraco “A eficiência energética no edifício depois de construído tem concentram-se na eficiência energética, mas também focam na que ser pensada desde a concepção do projeto, contando com redução de consumo de matérias-primas e a diminuição do uso itens como automação e um plano de operação e manutenção”, de componentes danosos ao meio ambiente. explica Rodrigo Cutri, coordenador do programa de eficiência energética na Fundação Santo André. Inovar em detalhes simples pode fazer a diferença num plano PROCESSOS INOVADORES de manutenção. Cerca de 80% da sujeira de um edifício entra Inovação de produtos, no entanto, não é tudo. Grande parte dos pelos pés e, se não for controlada, resulta em custos mais altos ganhos em eficiência requer mais a inovação em sistemas de de limpeza dos pisos, carpetes e filtros de ar-condicionado, o que manutenção, processos e hábitos. resulta em maior consumo elétrico. A solução chega a ser banal: Um exemplo disso é o setor imobiliário, onde reside um dos basta colocar um capacho para captar a poeira. maiores potenciais de contribuição para o aumento da eficiên- “Não é questão de projeto, mas de falta de controle” diz New- cia energética, principalmente no segmento de edificações já ton Figueiredo, CEO da consultoria Sustentax que concluiu a construídas. No mundo inteiro, os imóveis já existentes são res- primeira certificação LEED de Operação e Manutenção no Brasil ponsáveis por cerca de 40% de todas as emissões CO2. Mesmo em um edifício paulista. Uso final da energia som 3% lava-roupas 0,4% ferro 3% micro-ondas 0,3% freezer 5% outros 14% tv 9% chuveiro 24% equipamentos de Residencial Comercial escritório 15% ar-condicionado 48% lâmpadas 14% geladeira 22% iluminação 23% ar condicionado 20% Fonte: Robert Lamberts – LabEEE – UFSC Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 14. 14 O PREÇO DA ENERGIA PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA É 57% MAIS ALTO DO QUE A MÉDIA DE OUTROS 27 PAÍSES questão de sobrevivência,” explicou Marcelo Massarani, coor- ISO 50001 denador de cursos da Fundação para o Desenvolvimento Tec- Além destes selos, o Brasil está começando a implantar a ISO nológico e da Engenharia (FDTE) que foca em educação 50001 de eficiência energética, que será representada no Brasil continuada, pesquisas e oferece um curso de eficiência ener- pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Lançada gética. “O setor químico, o de alumínio, papel e celulose e me- em julho de 2011, a certificação vai além dos processos produ- talúrgico estarão na frente por necessidade”. tivos, inclui edifícios e foi bem recebida pelo mercado que já a Entre as micro e pequenas empresas – que consomem 32% está demandando, principalmente por causa do altos custos da da energia do país, excluindo-se as irregulares – a eficiência energia. Como em todas as ISO, para renová-la é preciso sempre também está em alta, mas por uma questão de legislação e de melhorar o desempenho. crescimento econômico. “A ISO 50001 oferece padrões internacionais e mostra que se “A demanda é devida ao processo natural de intensificação pode efetivamente economizar dinheiro”, explicou José Cunha, di- de carga à medida que as MPE investem em automação e a retor de Certificação da consultoria Bureau Veritas Certification. energia elétrica tem mais peso nos custos”, explicou Ricar- do Wargas, coordenador do Programa de Eficiência Energética do Sebrae-RJ. QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA Além do custo, explica Wargas, as empresas acabam sendo Um estudo publicado, em agosto de 2011, pela Federação das pressionadas pela população que não aceita mais desperdício e Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revelou que pela legislação urbana que força evitar sistemas antigos, como, o preço da energia para setor industrial brasileiro é 57% mais por exemplo, os que jogam o calor na rua ou geradores a diesel alto que a média de 27 países medidos. Enquanto a média antigos que soltam fumaça. brasileira está em R$ 329,00 por MWh, a média dos países “Mostramos que não é só a troca de equipamentos que gera o avaliados é de R$ 215,50. resultado. Pensar em todo o processo gera eficiência na produção Isso faz com que empresas naturalmente busquem a efi- em geral. A eficiência energética é uma chave para a melhora da ciência, começando pelas mais eletrointensivas. “É uma eficiência econômica”, diz. k Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 15. 15 eficiência energética } É A NOVA FRONTEIRA A renda da população aumenta, eleva-se o consumo e o efeito dominó se estende ao desafio da eficiência energética. Ao lado da tecnologia, a educação é o novo consenso entre especialistas. Por Alexandre Spatuzza U ma crise social, econômica e ambiental sem prece- Uma típica representante dessa nova classe emergente dentes se anuncia e ameaça não apenas a hu- brasileira é a empregada doméstica Andréia Noemi Pereira da manidade, mas o planeta como um todo. O que nos Silva, 31 anos, casada e mãe de uma filha. Residente em Ribeirão empurra para esse beco sem saída do século 21 é nossa forma Preto, polo sucroalcooleiro paulista, ela conquistou acesso a perdulária de consumir e utilizar os recursos naturais. Tal con- novos bens de consumo antes inacessíveis a sua família: nos úl- clusão vem de um amplo movimento político, empresarial e so- timos três anos, adquiriu um carro, uma motocicleta e um com- cial que exige novos hábitos, preceitos, conceitos e padrões de putador com banda larga. “Vou menos ao cabeleireiro, compro consumo de matérias-primas – sobretudo, de energia – para menos roupas e até comida, mas é bom poder se movimentar garantir o bem estar socioambiental mundial. com mais liberdade na cidade”, diz, insatisfeita com o transporte Diante desse quadro, o Brasil atira-se num paradoxo. Afinal, público local, que segundo ela é “caro e lotado”. o surto de crescimento econômico sem precedentes no qual o país se regala pode ser colocado em cheque na medida em que é conduzido de forma socioeconomicamente insustentável. Hoje, ELASTICIDADE ENERGÉTICA 95 milhões de brasileiros, quase metade da população do país, A nova condição de Silva revela um mecanismo econômico im- encontram-se na classe média, segmento para onde ascenderam placável: à medida que aumenta a renda da população, aumenta 29 milhões de pessoas entre 2003 e 2009, segundo estudo da também o consumo, principalmente o energético. A geração de Fundação Getúlio Vargas. resíduos no Brasil – indicador do nível de consumo da sociedade Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 16. 16 O CRESCIMENTO MÉDIO PROJETADO DE 5% DO PIB BRASILEIRO ATÉ 2020 SERÁ ACOMPANHADO POR UM AUMENTO DE 4,6% NO CONSUMO DE ELETRICIDADE - aumentou de 359 quilos por habitante ao ano em 2009, para Popermayer da Aneel, que é crítico dos programas de troca pura 378 quilos em 2010, um acréscimo de 5,3%, segundo dados da As- e simples de equipamentos para a população de baixa renda. Se- sociação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos gundo ele, a Aneel contratará consultores para melhor guiar os Especiais (Abrelpe). programas de eficiência energética previstos na lei que obriga in- No consumo energético, vemos uma tendência parecida: em vestimento de cerca de R$300 milhões por ano. 2010 o consumo de eletricidade no país atingiu 419 tWh, um au- mento de 7,9% em relação aos 388 tWh consumidos em 2009. Paralelamente, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu EDUCAÇÃO 7,5% no mesmo período. “O melhor caminho para a educação e conscientização é mostrar Da mesma maneira, o crescimento médio projetado de 5% que é preciso pensar no jeito de consumir e até aliar os progra- do PIB brasileiro até 2020 será acompanhado pelo um aumento mas com geração de renda e uma contrapartida do consumidor do consumo de eletricidade estimado pela EPE em 4,6%. Ou para ele saber o custo”, diz Popermayer. seja, para cada ponto percentual de aumento do PIB o consumo A opinião é compartilhada por Ricardo Wargas, supervisor de energia cresce um pouco abaixo de um ponto percentual. do Programa de Eficiência Energética do Sebrae-RJ. Ele é Comparativamente, apesar dos EUA e Europa terem uma in- categórico: “o primeiro passo é sempre a conscientização”. War- tensidade energética – sinônimo de eficiência energética – me- gas afirma que o pequeno empresário só investirá em novos lhor que o Brasil, o consumo per capita é bem mais alto que o equipamentos mais eficientes quando estiver ciente dos re- brasileiro e fica em torno de 14 mil kWh e 8 mil kWh por ano, tornos, principalmente os econômicos. “A partir daí o em- respectivamente, segundo dados do Banco Mundial. No Brasil, presário começa a ter ganhos em todos os lados, pois começa este consumo está em 2,2 mil kWh por ano. pensar mais racionalmente sobre seu processo de produção”, diz. Os programas de eficiência energética visam sempre reduzir Rodrigo Cutri, coordenador dos cursos de eficiência ener- a relação entre renda, preço e consumo de energia, conhecida gética na Fundação Santo André, diz considerar a Educação um pelos especialistas como elasticidade energética. Há, no entanto, fator essencial quando se trata dessa temática. Cutri defende a dois caminhos para atingir este objetivo, não excludentes: a que a disciplina deva constar das grades curriculares de cursos educação e a tecnologia. de Arquitetura e Engenharia. “Há que se ter um equilíbrio entre estes dois,” disse Máximo O foco educacional está no centro dos programas de Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 17. 17 Atividades das instituições universitárias e de pesquisa em eficiência energética Diagnósticos Instituição Ensaios Metrologia energéticos Treinamento CATE - CEPEL • • • • CDEAM - UFAM • • • CTEC - UFAL • • EXCEN - UNIFEI • • • GEE - PUC / RS • • GOSE - Unesp • • Green Solar - PUC / MG • • • INMETRO • • INT • • • • IPT • • • • LABAUT - USP • • LABEEE - UFSC • • • • LACTEC • • • • LAI - UFMG • LENHS - UFPB • • • NIPE - Unicamp • • • NUCAM - Unesp • • PEC - UFG • • PEE - COPPE • • • Fonte: CNI/PROCEL/Eletrobras Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 18. 18 “NÃO PRECISAMOS NECESSARIAMENTE DE NOVAS TECNOLOGIAS. OS NOVOS HÁBITOS TÊM UM GRANDE PODER” eficiência energética promovidos pelo Governo do Estado de em 40 laboratórios nas escolas até o final de 2011 e chegar a 200 São Paulo. Arnaldo Neto, coordenador da área de Eficiência em todo estado até 2013. Energética da Secretaria Estadual de Energia de São Paulo, des- Os ganhos pragmáticos em eficiência têm outro poderoso creveu com exclusividade para a Revista Sustentabilidade as aliado em potencial. propostas do governo. Além de cursos e campanhas de conscientização, governo “Não precisamos necessariamente de novas tecnologias. também pode propor regulamentos e normatizações que tornem Os novos hábitos têm um grande poder e devem ser baseados obrigatórias as ações de eficiência. em dois pilares: o primeiro é dar o exemplo e o segundo é “As ações de comando e controle visam obrigar a sociedade educar”, afirma. atingir níveis mínimos de eficiência”, lembra Maurício Tol- Operando em parceria com as distribuidoras locais (AES masquim, presidente da Empresa de Planejamento Energético Eletropaulo, CPFL, Bandeirante e Elektro), o programa paulista (EPE). O grande exemplo da eficácia destes programas ocorreu tem disponível R$30 milhões ao ano, que inclui a melhoria da no apagão de 2001-2002. A população foi obrigada a reduzir o eficiência em prédios públicos, priorizando hospitais e incluindo consumo em 20% por meio de multas para os que não atingis- escolas estaduais. A meta é, em quatro anos, reduzir o consumo sem as metas. O resultado: o nível de consumo médio pré- do estado em 10%. -apagão só foi alcançado novamente depois de 6 anos. Entretanto, a viabilidade da principal inovação do programa Tolmasquim frisa, contudo, que para implementar progra- está em análise na Aneel: a idéia é usar o dinheiro das dis- mas de eficiência energética é preciso mesclar programas obri- tribuidoras para montar disciplinas de eficiência energética nos gatórios com incentivos fiscais, o que decorre na troca de cursos de Mecatrônica, Eletrônica e Edificações nas escolas e equipamentos perdulários por novos. colégios de Ensino Técnico do estado (Etecs e Fatecs). As tecnologias já estão disponíveis no mercado, oferecendo “Há uma carência de profissionais que entendem de eficiência significativos saltos de eficiência anualmente. O desafio é romper energética. A maioria dos alunos está empregada e pode influenciar com os comportamentos perdulários de uma época há muito pas- suas gerências para melhorar o desempenho energético. Isto é au- sada em que a única preocupação com a energia era garantia de tomático”, disse Neto. Segundo ele, a meta é introduzir a disciplina suprimento e preço acessível (Colaborou Marcel Gomes). k Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 19. 19 artigo } Novos Projetos de Eficiência Energética Dependerão Necessariamente do Emprego de Tecnologia Por Jose Starosta * A abordagem clássica inicial dos projetos relacionados 1. Ferramentas de controle e automação, baseadas com eficiência energética em instalações industriais e em inovação tecnológica e novos sistemas prédios comerciais trata classicamente de ações vincu- de gestão de instalações e utilidades, apoiadas ladas a práticas de retrofit em sistemas de iluminação, análise e nas informações disponibilizadas e na aplicação intervenção das instalações de ar-condicionado e outros sistemas, do conceito de smart-grid. no caso dos prédios comerciais. Nas industriais, as utilidades Os equipamentos instalados deverão ser necessariamente mon- complementam os pontos de intervenção com atenção nos sis- itorados e controlados remotamente por redes lógicas a eles as- temas de produção e uso de ar comprimido, calor e frio, bombas sociados. Não somente grandes equipamentos com potências e ventiladores. A análise do processo industrial é outro ponto que nominais da ordem de centenas de kW (quilowatt), mas simples merece consideração, mas as intervenções têm menos peso. reatores aplicados em sistemas de iluminação, ou mesmo os re- A busca contínua do melhor desempenho dos sistemas e frigeradores de uma padaria. melhores indicadores de consumo de energia traz à tona uma inte- Considerando-se que equipamentos ligados às redes elétricas ressante discussão: Teremos limites para imaginar que determi- também o são às redes de informação, pode-se obter com abso- nada instalação ou sistema atingiu uma situação adequada? luta precisão sua forma de operação e energia gasta a cada in- Claro que não! E a própria recém lançada ISO 50001 cor- stante, o que subsidiará sua gestão e melhor controle de robora esta conclusão. Os modelos dessa norma, que recomenda operação. E ainda: os controles de operação não serão mais con- o uso da técnica do “PDCA” inspirada nas normas de qualidade, cebidos em combinações binárias (liga-desliga), mas inseridos sugerem a busca contínua dos melhores indicadores de eficiência no controle do processo, quer em uma operação clássica de in- energética, além do compromisso da alta direção da empresas versor de frequência em motores nas indústrias e grandes pré- nestes “propósitos verdes”. dios comerciais, quer em reatores eletrônicos “dimerizáveis”, não O que nos parece claro é que os conceitos clássicos de projetos só em interiores, mas, por exemplo, em estradas com lâmpadas de eficiência energética apontados serão complementados por: acionadas por reatores dotados de recursos para reduzir o fluxo Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 20. 20 luminoso na falta de movimento (isso mesmo: dimerização em conheça com precisão o carregamento de transformadores, per- lâmpadas de vapor metálico ou sódio), ou ainda nos campos de das elétricas, perfil de correntes e tensões harmônicas nos bar- futebol nos horários de pré-jogo e intervalos. ramentos, presença de ressonâncias, capacitores em sistemas Evidentemente outras conveniências de operação podem obsoletos que operam inadequadamente incrementando as per- estar associadas a processos em que a eficiência energética é das e causando perda da qualidade da energia. obtida, como o prolongamento da vida de componentes e me- lhor controle da instalação. 4. Integração de fontes de energia e concessionárias/poder regulador. 2. Aumento da produtividade, Fontes renováveis de energia como fotovoltaicas, eólicas e bio- influência da qualidade de energia. massa são boas alternativas para alimentação das cargas das De uma vez por todas, a qualidade de energia deve ser conside- plantas com os sistemas típicos de alimentação pelas conces- rada como insumo de qualquer processo produtivo. Quando não sionárias locais. Geração distribuída, conforme as possibilidades consideradas, perdas na produção, devido a paradas não expli- de cada planta, além da integração aos processos produtivos, é cadas sem que se entenda ou que se esclareça o que estaria ocor- um caminho possível e muito próximo. A regulamentação da rendo, são um mal comum que afeta estas plantas. Paradas de conexão deve ser concluída em breve, deixando os consumidores equipamentos sem claras informações e tomadas de ações cor- livres para escolher de que forma vão se conectar à rede, inclu- retivas induzem os processos a retrabalhos e perdas exageradas sive injetando seus excedentes de produção de energia. de energia, além das perdas operacionais. É comum verificar pro- Outra discussão deve considerar novos modelos de tarifas de jetos de incremento de qualidade de energia com aumentos de energia que incentivem o uso de energia em períodos mais ade- produtividade maiores que 20%. Por outro lado, sistemas elétri- quados às curvas de carga das concessionárias. A discussão do cos adequados às premissas e conceitos usuais das normas de modelo de cobrança do fator de potência é outro ponto que deve qualidade de energia têm como característica uma significativa ser considerado. redução de perdas elétricas. 5. Green IT 3. Nova abordagem na especificação de equipamen- Usuários e fabricantes das cargas de tecnologia de informação têm tos e instrumentos para as instalações elétricas. buscado novas formas de economizar energia em seus processos. A tecnologia disponível em sistemas de monitoração e medi- As discussões nos grandes bancos comerciais e datacenters in- dores de variáveis elétricas atuais, onde a tensão de alimen- cluem não somente aspectos de confiabilidade dos equipamentos tação pode ser acompanhada a cada ciclo na alimentação nos e da operação, mas também suas eficiências e a relação de com- barramentos em que as cargas são alimentadas, é outra excep- promisso das duas variáveis. Fabricantes de UPS (sistemas inin- cional oportunidade para se eliminar os vícios presentes terruptos de energia) que alimentam as cargas de tecnologia de na alimentação de equipamentos. Monitoração online de dis- informação (TI) desenvolvem equipamentos e modos de operação torções, desbalanceamentos e afundamentos de tensão, com mais eficientes, associados a componentes mais precisos. É o caso indicação de ações corretivas e principalmente evitando recor- de sistemas redundantes em que pelo menos um dos sistemas rências, é uma poderosa ferramenta com alta tecnologia em- opera em regime de bypass com redução de perdas. barcada. Tudo isso, sem que os operadores das instalações Outro ponto de discussão é a aplicação dos sistemas de re- abram as portas dos painéis. frigeração de ambientes e equipamentos em datacenters. Os A monitoração adequada permitirá, por exemplo, que se racks que abrigam as cargas TI são submetidos a analises e com- Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 21. 21 portamento térmico com sofisticadas modelagens na busca pela custo operacional. Este tipo de prática é bastante comum quando otimização que inclui também a eficiência energética. Entram o empreendimento não é construído pelo usuário final do imóvel. nessa discussão a temperatura de operação e os equipamentos Neste aspecto, devem ser desenvolvidos e colocados à disposição de precisão de atendimento a essas cargas TI. indicadores de edificações relacionados com o uso de energia. As normas técnicas, procedimentos e recomendações aplicadas 6. Aspectos de arquitetura e construção civil. às instalações deverão “correr atrás” daquelas já desenvolvidas no Um importante desafio que vem sendo solucionado nos projetos âmbito de construções sustentáveis, como as publicações do Procel atuais é a definição da melhor solução de “casca” ou “envoltório” (etiquetagem de edifícios), ISO 50001 e as normas LEED. das edificações que considera as relações entre os aspectos de in- solação, melhor uso da iluminação natural, adequação à carga 8. Novos modelos de financiamento, nova abordagem financeira de projetos e competividade com outros térmica e outras variáveis relacionadas. países com destaque para os BRIC. Na Europa estão em execução projetos de aplicação de sofisti- Estão em desenvolvimento no âmbito da Abesco diversas dis- cados sistemas de automação e controle para, por exemplo, dirigir cussões sobre modelos de financiamento, contratos de perfor- a posição das células fotovoltaicas em relação ao Sol ou mesmo mance, uso de facilidades de crédito pré-aprovadas e outras ajustar a posição de “brises” de proteção de fachadas em função ferramentas que viabilizem os projetos de retrofit ou mesmo novas da posição do Sol, adequando-os às necessidades dos interiores. construções em que tecnologias sustentáveis sejam empregadas. Janelas com concepção de construção relacionada com o uso Contudo, caso as tarifas, taxas de financiamento, de impor- eficiente de energia já são uma realidade: o Empire State em Nova tação e impostos praticados não seguirem na linha de incentivo Iorque já economiza 40% em relação ao sistema anterior. No úl- a estas praticas, a viabilização financeira de novos projetos será timo Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, realizado pela muito difícil. Abesco, nos dias 1 e 2 de junho de 2011, em São Paulo, tivemos Enquanto nossos concorrentes no mundo já fabricam seus um case de proteção de janelas de um importante hospital com próprios equipamentos e sistemas aplicados ao melhor uso da ener- película adequada, também com resultado impressionante. gia, nós continuamos pagando valores expressivos para se dar ao luxo de usar estes equipamentos com alta tecnologia embarcada. 7. Normas Técnicas e certificações. Nossa sociedade merece um modelo mais sustentável de uso Não é mais possível que instalações sejam concebidas sem que de energia e este não depende somente do governo, mas “tam- sejam consideradas a eficiência energética e a sustentabilidade. bém” dele. Exemplo disso é o Plano Nacional de Eficiência Ener- Muito em breve começaremos a ver as normas técnicas aproxi- gética (PNE ) do Ministério de Minas e Energia, que está pronto marem-se dessas variáveis. Temas como os materiais aplicados para ser lançado e certamente será outro importante motivador na construção e manutenção das instalações, descartes dos ma- para ações de eficiência energética, que já é contemplada nos teriais – como as lâmpadas que possuem metais pesados – e apli- planos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e, por conse- cação de mão de obra na manutenção devem ser mais discutidos. quência, nos planos do governo federal. k Por outro lado, a disponibilidade de energia pelas conces- sionárias aos empreendimentos deveria ser regulamentada de forma a que as edificações procurem por equipamentos mais efi- * Jose Starosta é engenheiro, Master of Science, diretor da Ação En- genharia e Instalações e Presidente da Associação Brasileira das Em- cientes logo na aquisição, evitando a compra daqueles que pos- presas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). suem menor custo inicial (preço de compra), porém, com maior jstarosta@acaoenge.com.br Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 22. 22 entrevista } EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: Francisco Stuckert/MME Segundo Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME) ações educativas para uma cultura de eficiência energética são prioritárias para o país. Por Eugênio Melloni Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 23. 23 O lançamento do derradeiro Plano Nacional de Eficiência RS: É possível o país crescer com redução do consumo de energia? Energética está na cabeça do governo, mas ainda não Souza: É possível, desde que sejam utilizados equipamentos mais está na sua agenda. Apesar do documento preparatório eficientes ou que os equipamentos sejam utilizados de forma a com premissas e diretrizes básicas que já foi publicado e avalizado se evitar o desperdício. Há situações que envolvem o comporta- por diversos segmentos da economia, o lançamento do texto final, mento, a consciência das pessoas. Não é preciso colocar o ar- que deve definir responsabilidades, focos de diagnóstico e dire- -condicionado na função “gelada” e depois ter de puxar o cobertor. O uso da energia tem vários aspectos: o técnico, de melhoria da cionamento de recursos, é ainda um tema em suspenso. Uma das eficiência dos equipamentos, e o comportamental, incorporando poucas certezas, por ora, é que o plano deve dar prioridade para o combate ao desperdício como um eixo central na vida das pes- ações educativas sobre consumo energético, segundo indicou soas. É preciso incorporar a questão da energia como parte do Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvi- dia a dia, assim como se alimentar direito e fazer atividade física, mento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), em dentro do chamamos de qualidade de vida. entrevista à Revista Sustentabilidade. RS: Focar somente na questão comportamental não é insufi- Revista Sustentabilidade: Em que pé está o trabalho de pro- ciente? E a indústria? dução do Plano Nacional de Eficiência Energética? Quando o Souza: A indústria representa cerca de 47% do consumo de plano será lançado oficialmente? energia no país. Então, é importantíssima. Contudo, trata-se de Hamilton Moss de Souza: Não posso responder a segunda per- um setor que busca a eficiência de uma maneira mais intensa. Por gunta. Isso dependerá de uma série de instâncias, ministérios e isso, colocamos a questão do comportamento. Apesar de o im- vários níveis de decisão. Obviamente temos uma data na cabeça, pacto ser menor, há nessa frente uma ineficiência maior, onde os mas não vou dizer. Já aconteceu no passado de termos uma data ganhos podem ser maiores. Mas é importante que sejam atacadas e acabou complicando. Terminamos uma primeira fase muito im- todas as frentes. Não há uma contraposição entre uma coisa e portante, que foi a elaboração de um documento, o “Plano Na- outra. A eficiência energética é uma questão de conscientização cional de Eficiência Energética – Premissas e Diretrizes Básicas”, tanto do lado profissional, em que se procura utilizar melhores que foi colocado em consulta pública entre o final do ano passado equipamentos, como no lado pessoal, em que se buscará deixar de e começo desse ano. Esse documento recebeu cerca de 90 con- usar energia quando não for necessário e utilizar melhor quando tribuições. Ficamos felizes com o envolvimento da sociedade e for indispensável. O plano terá todas essas frentes. Haverá um com a receptividade do plano. Várias das contribuições vieram de capítulo para a educação, relacionado tanto com a questão com- instituições do peso de uma Confederação Nacional da Indústria portamental, como com treinamentos profissionais. Nos trans- (CNI), de indústrias importantes do país, de associações. A portes podemos, por um lado, melhorar a eficiência dos primeira fase foi concluída. Incorporamos as modificações e esta- automóveis. Por outro lado, quando optamos pelo transporte mos montando um grupo de trabalho com representantes de hidroviário ao invés do rodoviário, por exemplo, ocorre um im- centros de pesquisas, universidades e de entidades, como a Aneel pacto muito maior do que quando se trata de motores, que já são (Agência Nacional de Energia Elétrica), da ANP (Agência Nacional relativamente eficientes. do Petróleo) e o Procel (Programa Nacional de Energia Elétrica) da RS: Alguns especialistas consideram que há um conflito de in- Eletrobras. Esse grupo depende apenas da publicação de uma teresses no fato de as distribuidoras de energia elétrica con- portaria para que comece a trabalhar na elaboração de um plano. duzirem o programa de eficiência energética da Aneel. Temos as diretrizes básicas, os encaminhamentos, os setores em que faremos diagnósticos. E agora vamos elaborar um plano de Souza: Pode haver ou não um conflito de interesses. As dis- trabalho operacional, de duração bianual. Um plano mais efetivo, tribuidoras têm como função vender energia, sim. Mas a energia no sentido de estabelecer recursos e responsabilidades. que se economiza em um consumidor pode ser vendida para Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 24. 24 outro. A redução do consumo contribui, também, para se adiar por outro lado, quando eu faço a junção do setor de energia com o investimentos. A empresa pode ter uma subestação complicada, setor de informática, com toda essa quantidade de informação instalada em área com alta densidade populacional e de elevado circulando por aí, os novos equipamentos e as novas maneiras de consumo energético. Se conseguir economizar energia naquela se fazer as mesmas coisas – maneiras que a gente nem pensava região, poderá investir em outra subestação mais distante, com que podiam ser feitas – também têm dado frutos na área de um investimento menor. Os custos da eficiência energética eficiência. Você pode fazer sistemas que trocam informações muitas vezes são menores dos que os investimentos com o usuário, que fazem o controle de processos dentro de sua necessários para ampliar o suprimento de energia. Além disso, residência, que dão indicações de consumo sobre vários equipa- os grandes consumidores industriais são consumidores livres, ou mentos. Essa tecnologia da informação, que a gente pode conjugar seja, podem comprar a energia de diferentes concessionárias. por meio de redes elétricas, tem o nome genérico de smart grid, é Há muitos casos de concessionárias que fazem a fidelização do uma novidade importante que o Brasil tem trabalhado tanto de cliente por meio de serviços de eficiência energética. Além disso, forma internacional, quanto nas universidades brasileiras. há uma série de preocupações ambientais e de regulações a que RS: O Brasil está atrasado na tarefa de consolidar uma política essas companhias têm de se sujeitar. voltada para a eficiência energética? RS: Como é hoje a estrutura de fomento à pesquisa em relação Souza: Em alguns aspectos, sim. Em outros, não. Não é eficiên- à eficiência energética? cia energética propriamente dita, mas quando eu pego o setor Souza: Nós temos uma estrutura de pesquisa no país que é bas- sucroalcooleiro, por exemplo, o Brasil está 30 anos na frente. É tante importante. Temos algumas universidades, principalmente um setor bastante eficiente. Temos a cogeração de energia, que as federais e algumas estaduais de porte maior, que já desen- é utilizada bastante na produção de álcool. É um setor que volvem trabalhos de eficiência energética há algum tempo. Na movimenta alguns bilhões de reais. É claro que há outros seg- área de arquitetura, engenharia elétrica ou mecânica há grupos mentos, como o de aquecimento solar. Israel tem 80% a 90% fortes no Brasil que vem trabalhando com tecnologias de eficiên- de aquecimento de água utilizando a energia solar. Fazemos cia energética também já há algum tempo. Esses grupos se rela- ainda muito pouco nessa área. Por outro lado, na Indústria, nos cionam: além de produzirem material próprio – teses de mestrado últimos anos, a preocupação aumentou bastante. Acho que é e de doutorado, laboratórios, criação de infraestrutura para importante, quando a gente se compara com outros países, testes de equipamentos –, contam com forte interação com o ex- verificar as especificidades, as diferenças que a gente tem. terior, o que proporciona uma troca grande de tecnologias. Temos Quando se questiona, por exemplo, as perdas de energia de uma estrutura de centros de pesquisas ligados diretamente ao até 10% ocorridas no sistema de transmissão do Brasil, é im- ministério, como o Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica) portante considerar as dimensões do país. Uma coisa é Portugal, da Eletrobrás e o Cenpes (Centro de Pesquisas) da Petrobras que que tem o tamanho de um estado brasileiro. Quando a distância é um importante centro da área de petróleo e gás natural, mas aumenta, nos sistemas de transmissão, as perdas são maiores. atua também na questão da eficiência energética. Há os fundos Muitas vezes, não se trata de um país não ter feito isso ou setoriais que têm alimentado e melhorado muito a pesquisa tec- aquilo. É que houve um atraso em determinados segmentos. nológica no Brasil. Na questão da tecnologia há dois aspectos im- Há também a questão cultural. Quando o país passou por um portantes. Há equipamentos que já são muito eficientes e que o período de energia abundante e barata criou-se uma cultura de ganho esperado é pequeno, no que se refere à pesquisa, mas são desperdício, de deixar a luz acesa. Isso, no entanto, tem mudado pouco utilizados nos processos. Então, é uma pesquisa mais de bastante. Aprendemos com o passar do tempo. Volto, aí, para a aplicação desses equipamentos em novos processos, não há questão dos aspectos comportamentais, que me parecem muito grandes novidades. E na outra ponta, é pensar em tecnologias que importantes, a cultura da eficiência. E o importante não é o tragam soluções e aplicações inovadoras. No geral, podemos dizer que você deixou de fazer, mas o que está se propondo a fazer. que a área de energia é uma área mais conservadora – se com- O importante é olhar o que foi feito e não foi feito e caminhar, parada com a informática, que a cada seis meses tudo muda. Mas, evoluir, incorporando o que há de melhor. k Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 25. 25 estudos de casos } É A ALMA DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Por Marcel Gomes A pesar do atraso do governo federal brasileiro em graus, bem abaixo os 200 graus de caldeiras tradicionais”, gerenciar a temática de maneira a consolidar uma explica Waldenilson Muniz, gerente de Energia e Utili- cultura de consumo energético mais eficiente no dades da Basf na América do Sul. O desenvolvimento do país, a eficiência energética já é fato em andamento no novo equipamento exigiu investimentos de € 5milhões Brasil. A Revista Sustentabilidade apresenta três casos (equivalente a R$ 11,8 milhões) e trará uma redução de 20% exemplares nos âmbitos industrial, comercial e residencial. nos custos de energia da empresa. A Basf, gigante química de origem alemã com diversas O ganho, segundo ele, também é ambiental, na medida fábricas no Brasil, acaba de inaugurar uma nova caldeira em que a mesma energia final é produzida com menor quan- para geração de vapor em sua unidade de Guaratinguetá tidade de energia primária. Muniz afirma que a experiência já (SP). O equipamento, movido a gás natural, é capaz de gerar serve de exemplo para outras unidades da Basf no mundo: em até 2,3 megawatts, o equivalente a 25% da demanda de ener- outubro, uma fábrica da companhia na Argentina inaugurará gia elétrica da companhia. uma caldeira com inovações testadas e aprovadas em A caldeira está longe de ser um modelo de sustentabili- Guaratinguetá. dade, pois não trabalha com uma fonte de energia re- novável. Isso não impede, contudo, que seja possível, a AR FRIO, NEGÓCIO QUENTE partir dela, produzir boas práticas de melhoria da intensi- Não é preciso ser uma transnacional bilionária para inovar. dade do consumo energético. Prova disso é a história da Viva Equipamentos, empresa de A principal novidade é que os técnicos da Basf, em Campinas (SP), mais conhecida por sua inovadora linha de parceria com seus colegas da CBC Indústrias Pesadas, de- climatizadores evaporativos. Fundada em 1994, por dois en- senvolveram pré-aquecedores e recuperadores de calor que genheiros oriundos da Unicamp, a Viva desenvolve, produz permitem o máximo aproveitamento da energia gerada pela e instala climatizadores, produto que pode substituir o ar queima do gás natural. condicionado em ambientes comerciais com um gasto até “Com esses instrumentos, os gases liberados para a at- 95% menor de energia elétrica. mosfera após a queima saem com temperatura de 90 O funcionamento do equipamento é simples: um Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 26. 26 ventilador aspira ar externo, que passa através de um painel Com mais eficiência na dissipação de calor, o refrige- composto por um tipo de filtro, sobre o qual água circula rador com o kit passa a gastar 15% menos energia do que os continuamente movida por uma pequena bomba. A água modelos convencionais, o que representaria uma economia que evapora com o ar quente é reposta por ação de uma de pelo menos R$ 25 mensais na conta de luz. boia, que mantém o nível constante no reservatório. Ao sair Gutiérrez se preocupou em criar um modelo prático de do sistema, o ar está até 12 graus mais frio, limpo e úmido. montar, que pode ser instalado sem auxílio de assistência O climatizador pode ser usado em residências, indús- técnica. O usuário teria apenas de verificar periodicamente trias ou unidades comerciais como farmácias e supermer- o nível de água do reservatório e colocar algumas gotas de cados, onde o uso de aparelhos de ar condicionado pode cloro para evitar a proliferação de micro-organismos. representar entre 25% e 50% dos gastos com energia O registro da patente do “kit geladeira” saiu há apenas elétrica. O custo de instalação também é menor, pois não dois meses e é dividido entre o estudante, o orientador e é necessário isolar os ambientes – uma obrigatoriedade a universidade. “Agora estamos mais tranquilos para no caso do ar condicionado. procurar empresas interessadas em investir e massificar Ainda que alguns itens do equipamento sejam impor- o produto”, diz Gutiérrez. k tados, como explica Amanda Melo, que trabalha na área Divulgação/Basf comercial da empresa, o espírito inovador persiste no de- senvolvimento de equipamentos sob demanda para aten- der peculiaridades de cada ambiente. Também no ramo da refrigeração, uma inovação cria- da na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp aguarda interessados na indústria ou entre conces- sionárias de energia para chegar ao consumidor final. O engenheiro e doutorando peruano Mirko Chaves Gutiér- rez criou um equipamento batizado como “kit geladeira” durante suas pesquisas para o mestrado. Junto ao professor orientador Vivaldo Silveira Júnior, Gutiérrez introduziu o princípio da condensação evapora- tiva à geladeira residencial. Isso significa que, além de ar, o sistema utiliza também a água para dissipar o calor na parte de trás do equipamento. O kit é formado por um reser- vatório que usa uma pequena bomba para pingar água no tubo e fazer o líquido circular. Como a bomba fica ligada Movida a gás natural, a nova caldeira para geração ao compressor, o sistema funciona em conjunto com a de vapor da Basf em Guaratinguetá reduzirá em geladeira, desligando quando o motor está parado. 20% os custos de energia da empresa Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 27. 27 perspect iva } A ROTA DE COLISÃO? A saída para o mundo escapar do desastre da escalada energética está em novos padrões de consumo, políticas públicas focadas e investimento pesado em pesquisa e desenvolvimento Por Marcel Gomes N o futuro, trocaremos o transporte individual efeito estufa de 38,9% do que seria emitido até 2020, os pelo coletivo? Esta simples decisão reduziria planos energéticos ainda preveem um aumento no con- as emissões pessoais de CO2 para cerca de um sumo per capita, mesmo levando em conta os ganhos ‘na- quinto do valor. Hoje, isto é impensável, pois a lógica turais’ de eficiência dos equipamentos. atual é: se a renda melhora, o indivíduo não só compra No Plano Decenal Energético em 2020 teremos quase um carro, mas também televisores, computadores, celu- duas televisões por domicílio, todos os lares terão lares, DVDs, geladeiras etc. geladeiras, 74% dos brasileiros terão máquinas de lavar No Brasil, cada cidadão consome em média, por ano, roupas e as casas serão iluminadas com 1% a mais de lâm- 2,2 mil quilowatts-hora (kWh) de eletricidade e 150 litros padas em média. Para atender a toda esta demanda, está de gasolina. Em comparação, um americano consome 14 previsto um aumento de 48% no consumo de eletricidade mil kWh e 1,2 mil litros por ano. Chegaremos lá se não no mesmo período. fizermos nada. Mas hoje, este padrão de consumo sus- Existirão ainda 50 milhões de carros circulando no Brasil cita questões importantes: podemos suportar isso e tere- (um aumento de 66% dos atuai 30 milhões). No final, se- mos fontes energéticas suficientes? Uma resposta já está gundo as projeções do governo, em 2020 consumiremos 11% clara: é inexorável a necessidade de melhorar de vida mais gás natural, 16% mais óleo diesel, 4,5% mais gasolina e consumindo menos. 1,6% mais querosene, para destacar as principais fontes. No Entretanto, estamos longe disso. Mesmo que o governo plano 2020, para um aumento anual médio de renda de brasileiro tenha uma meta de redução de emissões de gases 4,3%, o consumo final de energia deverá crescer 5,3%. Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 28. 28 energias renováveis modernas”, afirma. O ambientalista é ALTERNATIVAS reticente sobre as vantagens que a exploração da camada ENERGÉTICAS pré-sal trará ao Brasil. Para ele, os custos das energias re- Mas não precisa ser assim. No início de 2011, a ONG am- nováveis estão em queda, o que as torna mais competitivas bientalista WWF, em parceria com a consultoria Ecofys, em relação aos derivados de petróleo. divulgou uma pesquisa que mostra que é possível diminuir O estudo também mostrou que as mudanças neces- o consumo de energia. Segundo o estudo, a incorporação sitarão de investimentos de 170 bilhões de euros em de inovação, modernização das redes elétricas e equipa- pesquisa e desenvolvimento até 2050 por meio de sistemas mentos mais eficientes poderão levar a um consumo ener- colaborativos entre indústria e governos nacionais. gético mundial em 2050 15% menor que em 2005. No final, “Não quer dizer que vai ser fácil”, diz Mano Janssen, conclui o estudo, isso gerará uma economia acumulada de presidente da Ecofys. “As políticas públicas atuais são clara- 4 trilhões de euros em gastos com energia. O primeiro mente insuficientes. Mas precisamos perceber que neces- passo é investir. sitamos agir para garantir os benefícios no futuro. E o A meta estipulada pela pesquisa é diminuir as emis- papel das empresas é primordial neste processo”. sões de carbono em cerca de 80% até 2050, mantendo o O foco, no entanto, é reorganizar nossas cidades e as aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus. Para atingir cadeias produtivas. Entre uma das propostas do estudo isso, seria necessário alterar uma série de orientações vi- da Eofys está a reforma de 2 a 3% de toda a área cons- gentes nas políticas públicas, na produção das empresas truída no mundo para tornar os edifícios menos per- e no consumo das famílias, com o incentivo às formas dulários, o que significa um investimento pesado. Para renováveis de energia, à reciclagem de materiais e ao uso os países em desenvolvimento o caminho é impor bar- de transporte coletivo. reiras aos produtos ineficientes, mas, sobretudo, pensar Carlos Rittl, coordenador do programa de Mudanças mais sobre como agimos sem levar em conta a importân- Climáticas e Energia do WWF no Brasil, diz acreditar que cia das políticas públicas. o Brasil poderia contribuir com esse “projeto global” por “Consciência e ganho de mercado são fatores impor- meio de seu potencial para a bioenergia, desde que tantes mas, na nossa experiência, a legislação e as políticas critérios rigorosos de sustentabilidade fossem seguidos. Ele públicas alinhadas são os principais fatores para mudanças aponta, porém, que o país precisa investir mais em ino- no mundo empresarial”, lembra Wal Flor, sócia da consul- vação. “Temos oportunidades de diversificação de nossas toria paulista Lynx que implementa programas socioam- fontes, com mais investimentos eficiência energética e em bientais em grandes empresas de segmentos diversos. k Revista Sustentabilidade Edição Especial
  • 29. 29 { artigo O papel das tecnologias de eficiência energética na economia de baixo carbono Por Sizenando Silveira Alves e Marco Antonio Saidel * A expressão Eficiência Energética é um termo guarda- verter a tendência de carbonização da nossa matriz energética. -chuva, que abriga sob si todas as facetas do uso Observando-se a tendência dos últimos leilões de energia racional e eficiente de recursos energéticos. Como elétrica e o crescimento da quantidade de veículos automotores veremos a seguir, todas elas são relevantes para a chamada no Brasil, bem como nossa opção histórica preferencial pelo economia de baixo carbono. transporte de cargas e passageiros do tipo terrestre rodoviário, Uma vez que, dentro de uma perspectiva de ciclo de vida observa-se uma nítida tendência ao incremento proporcional, completo, mesmo a produção de energia a partir de fontes re- ao longo do tempo, de fontes energéticas fortemente emissoras nováveis pode apresentar emissões de carbono em suas fases de carbono em nossa matriz. de construção e desativação (ao fim da vida útil da planta ge- Há dois meios de se reverter tal tendência. Uma é o aumento radora/produtora), a melhor alternativa para suprimento de da participação de fontes limpas ou renováveis na matriz ener- demandas energéticas, quando se pensa em termos de minimiza- gética por aumento da disponibilidade de tais fontes, outra é a ção das emissões de carbono, é a disponibilização de energia a redução dos consumos energéticos, acompanhada pela prioriza- partir da redução do consumo necessário para a realização de ção ao uso das fontes renováveis para o atendimento das neces- cada atividade humana consumidora de energia. sidades energéticas assim reduzidas. O desenvolvimento de tecnologias de eficiência energética, Mesmo que o aumento puro e simples da disponibilidade de tecnologias voltadas à obtenção de produtos ou processos pro- fontes de energia limpa venha a se tornar uma alternativa eco- dutivos que oferecem mais produtos ou serviços por unidade de nomicamente viável no Brasil, a disponibilização e disseminação insumo energético consumido, é uma rota importante para essa de tecnologias de uso racional e eficiente de energia é um curso disponibilização de insumos energéticos. de ação do tipo “sem arrependimento” para reverter essa car- Além da redução do consumo de insumos energéticos na bonização de nossa matriz energética. Isso por que, mesmo que economia como um todo, os investimentos no desenvolvimento não importasse reduzir as emissões de carbono da economia na- de tal tipo de tecnologia podem trazer avanços para a ciência e a cional, ainda haveria os benefícios à economia (menos consumos tecnologia do país, já que a obtenção de processos e produtos mais energéticos para uma mesma produtividade industrial resultam eficientes energeticamente, passa também pelo desenvolvimento em maior competitividade da indústria nacional) e ao parque técnico-científico nacional. k de novos materiais e técnicas, tais como cerâmicas resistentes a temperaturas extremas e bombas de calor de alta eficiência. Para o caso nacional, o papel destes desenvolvimentos tec- * Sizenando Silveira Alves é doutorando do curso de Engenharia Elétrica nológicos é ainda mais importante. Primeiro pelo potencial de da Escola Politécnica da USP. catálise de desenvolvimento tecnológico decorrente da busca e apri- * Marco Antonio Saidel é professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) onde coordena o Programa para Uso Eficiente de moramento destes novos processos e materiais e, segundo, para re- Energia. Revista Sustentabilidade Edição Especial