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“A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo.



I.   A história e suas histórias

     1
     Confronte o tempo que Joaquim Manuel de Macedo, no prefácio de A Moreninha, diz ter gasto na feitura
     do romance, com o tempo que dura o desenrolar da história romanesca.
     Em "Duas palavras", Macedo confessa ter gasto "trinta noites garatujando o que por aí vai", ou seja, o romance
     escrito por um estudante em seu mês de férias. No capítulo I de A Moreninha, a data de 20 de julho (dia da
     aposta entre os amigos) surge como o dia de início da trama, cujo epílogo se vai dar exatamente no dia 20 de
     agosto, dia do pedido de casamento e do pagamento da aposta. Em suma, tanto a feitura do romance, pelo autor,
     como o desenrolar da história de suas personagens duram exatamente um mês.

     2
     A trama de A Moreninha desenvolve-se linearmente, mas há capítulos que retomam capítulos anteriores e
     que, por assim dizer, amarram-se com estes. Quais são eles?
     O capítulo XVII, em que Augusto desmascara as moças, retoma elementos do capítulo II (as exigências de D.
     Joaninha) e, principalmente, os elementos do capítulo XII, em que o rapaz, escondido no gabinete das moças,
     ouve todos os segredinhos delas. O capítulo XVIII — em que Carolina desmascara Augusto — amarra-se com o
     capítulo I — em que se faz a aposta — e os capítulos VII e VIII, o que torna claro que a Moreninha ouvira de fato
     as confissões do rapaz à sua avó, no episódio da gruta.

     3
     Em A Moreninha, uma das personagens, em determinado episódio, passa a ser a narradora de outra
     história dentro da história do romance. Qual é essa personagem e de que episódio se trata?
     No capítulo IX, D. Ana — nome dado à personagem da avó de Carolina — conta a Augusto uma história
     intitulada, dentro da narrativa, ' 'As lágrimas de amor'', Essa história — ficção dentro da ficção — prepara a ação
     dramática de várias cenas que se passam dentro da gruta e que aludem ao poder miraculoso da água da fonte.

     4
     Em que sentido se pode dizer que A Moreninha é um texto de ficção e de metaficção? Para responder,
     tome como base o epílogo do livro.
     O epílogo esclarece, em seu diálogo final, que, perdida a aposta — capítulo I —, Augusto pagou-a conforme o
     trato:
          “— Minha boa avó, exclamou Filipe, isto quer dizer que Augusto deve-me um romance.
          — Já está pronto, respondeu o noivo.
          — Como se intitula?
          — A Moreninha.”
     Isso significa que A Moreninha é o romance da elaboração de um romance, o que caracteriza um texto de
     metaficção: o romance da personagem se vai escrevendo à medida que se escreve o romance do autor.

II. O ano de...

     1
     É possível determinar em que ano se passam os acontecimentos narrados em A Moreninha?
     A Moreninha foi publicado em folhetins, em 1844. Já o ano em que se passam os acontecimentos narrados no
     romance é indeterminado por reticências: 18... No entanto as referências da história permitem dizer que ela tem
     como pano de fundo o Segundo Império, época em que foi escrito o romance.

     2
     Numa época sem rádio, televisão ou cinema, qual era um dos grandes divertimentos públicos, apontado
     no capítulo I?
     No capítulo I, discutindo o tributo da aposta, Leopoldo sugere que Augusto pague "um camarote no primeiro
     drama novo que representar o nosso João Caetano". Referindo-se a João Caetano dos Santos (1808-1863),
     pioneiro da renovação teatral no Brasil, o narrador faz entrever aquele que ao lado da música, era um dos
     grandes passatempos artísticos do século XIX: o teatro.
3
    A que costume de época se refere o capítulo XVI e em que consistia?
    Saraus eram reuniões festivas muito em moda no século XIX, fundamentalmente de caráter lítero-musical.
    Abrangiam diversas atividades, como deixa entrever o capítulo XVI: jogos, conversação variada, cantos e danças
    Neles se praticava a sociabilidade e se propiciava o relacionamento amoroso.

    4
    No capítulo II, o sistema de namoro de Fabrício, exposto em carta a Augusto, revela uma das
    preocupações materiais dos estudantes da época. Qual é ela?
    Sustentados na corte pelos pais, os estudantes viviam de mesada, portanto com pouco dinheiro para gastar.
    Assim, Fabrício busca "não pagar moleque" de recados; não gastar dinheiro em teatros e bailes com namorada
    rica; e não namorar por ocasião de festas dispendiosas.

    5
    As exigências de Joana em relação a Fabrício, explicitadas no capítulo II, mostram o tipo de namoro no
    tempo do Império. Como era esse namoro?
    Era um namoro à distância, com a presença do namorado nos lugares habitados ou frequentados pela moça:
    fosse passando diante de sua casa, fosse indo a teatros e bailes ou outros lugares públicos onde ela estivesse.
    Os contatos se faziam por cartas e bilhetes, geralmente levados pelos "moleques de recados".

    6
    Quais eram os hábitos galantes, do tempo do Império, que aparecem no romance?
    Dar o braço às senhoras era um costume cavalheiresco da época, conforme se narra no capítulo VI. Brindar às
    namoradas era outro, conforme se deduz do capítulo V. E, no capítulo XV, fica bem claro o costume do galanteio,
    ou seja, da conquista da mulher feita por palavras elegantes e expressões atenciosas e envaidecedoras.

    7
    No capítulo II, a demora do moleque Rafael em voltar para casa faz Augusto referir-se a um dos muitos
    castigos impostos aos escravos na época. Segundo o texto, que tipo de ação do negro esse castigo
    estaria punindo?
    Mesmo a serviço do amo, o escravo não podia circular à noite depois do toque de recolher. Se isso acontecesse,
    seria preso e teria o seu cabelo rapado. Posteriormente poderia ser solto, pelo dono, mediante pagamento de
    fiança.

    8
    À vista da leitura do livro, você acha válido considerar A Moreninha um "romance de costumes"?
    Justifique sua resposta.
    Gravitando em torno do tema do amor, A Moreninha apresenta um sugestivo painel dos hábitos e usos da
    sociedade escravocrata e aristocrática da segunda metade do século XIX, com suas práticas amorosas, suas di-
    versões públicas e domésticas, o relacionamento entre os dois sexos e entre gerações diversas. Assim, há
    referências não só ao respeito dos homens para com as mulheres, como ao respeito dos mais moços em relação
    aos mais velhos, dos filhos em relação aos pais. Alude-se a bailes, espetáculos teatrais, saraus, passeios pelo
    jardim, jogos de salão e jogos de azar, que distraem tanto os habitantes da corte quanto os da província. Fala-se
    nas práticas da medicina (alopática e homeopática) da época, nas crendices e superstições. Alude-se a gêneros
    musicais, há referências a bebidas e comidas nacionais, além de referência a outros hábitos, hoje totalmente
    desusados e que eram próprios da época, como o uso do rapé.

III. A ilha de...

    1
    Qual é o cenário principal em que se desenvolve a ação de A Moreninha?
    A história do romance tem parte da ação na corte, ou seja, no Rio de Janeiro, espaço onde se situa a casa dos
    estudantes (capítulos I, II, XIX e XXII). Como a historiarem vinte e três capítulos — excluindo-se o preâmbulo e o
    epílogo —, torna-se evidente que o cenário principal é a ilha onde vivem Carolina e sua avó.

    2
    Esse cenário principal de A Moreninha é identificado no romance?
    O narrador usa do recurso das reticências para deixar à imaginação do leitor a identificação do local dos
    acontecimentos principais: ' 'a ilha de...''. Apesar disso, existe na Ilha de Paquetá, pitoresco lugar de passeios
    para quem visita o Rio de Janeiro, uma chamada "Pedra da Moreninha", que se associa à personagem principal
    do romance de Joaquim Manuel de Macedo.
3
   A descrição minuciosa de um quarto de estudante, no capítulo II, remete para várias características da
   época em que se desenrolam os acontecimentos. Quais são elas?
   A existência de um castiçal faz lembrar uma época anterior à iluminação elétrica; as canastras de roupa sugerem
   um tipo de mobiliário caído em desuso; a casaca, o chapéu e a bengala evocam a moda masculina do século
   XIX; e a existência da bacia lembra a precariedade das instalações de asseio e higiene da época. De maneira
   geral, esse cenário interior evoca os primórdios do ensino universitário no país: as repúblicas de estudantes eram
   indispensáveis nas poucas cidades que sediavam faculdades e era para onde convergiam os rapazes que
   desejavam completar os estudos.

   4
   Numa época sem telefone, como era feita a comunicação entre pessoas que moravam em lugares
   distantes um do outro, como o continente e a ilha? E como isso interfere na ação dramática do livro?
   A comunicação, demorada, era feita ou por cartas ou por recados orais e escritos transmitidos pessoalmente por
   portadores. Em A Moreninha, essa falta de comunicação rápida e imediata cria, por exemplo, toda a tensão
   dramática do capítulo XXII, em que Augusto e Carolina sofrem, distantes um do outro, sem saber o que se passa
   na vida de cada um.

IV. Augusto, Carolina & Cia.

   1
   Qual é o traço comum que identifica as principais personagens masculinas?
   As principais personagens masculinas são jovens estudantes, no caso, estudantes de medicina. Pertencem,
   portanto, à classe pensante do país, no século XIX, e que constituía, junto com as mulheres, o grande público
   leitor do Romantismo.

   2
   O que se sabe do universo familiar de Augusto? E o que esse universo representa no século XIX?
   No capítulo XXII aparece claramente o back-ground familiar de Augusto: é estudante de medicina, sustentado na
   corte pelo pai, fazendeiro, típico homem da roça, cuja autoridade advém justamente do fato de manter o filho no
   Rio de Janeiro, a suas expensas, a fim de proporcionar-lhe os meios profissionais de ascender socialmente. Isso
   reflete a mentalidade bacharelesca da época: filho de fazendeiro sempre tinha de ser "doutor", para que a família
   realizasse as suas aspirações de ascensão aristocrática.

   3
   Qual é a atitude que Augusto ostenta diante do amor e quando é que se desmascara?
   Augusto apresenta-se, diante de todos, como inconstante, não-confiável, volúvel e superficial. Nos capítulos VI,
   VII e VIII, no entanto, ao fazer o relato de seu amor secreto à avó de Carolina, Augusto mostra que toda a sua
   aparência donjuanesca era uma autodefesa contra a sua extrema fragilidade diante do amor.

   4
   Como se caracteriza fisicamente a figura de Carolina?
   Fisicamente, Carolina não é uma beleza arrebatadora, como outras heroínas do Romantismo. Sua beleza, no
   entanto, vai adquirindo destaque, à medida que a extrema vivacidade de movimentos se vai revelando. Jovem
   entre seus catorze e quinze anos, moreninha, é típica representante do ideal brasileiro de beleza feminina, que a
   graça, malícia e picardia tornam irresistível.

   5
   Qual é o traço comum entre a personalidade de Carolina e a de Augusto?
   Assim como Augusto, Carolina também apresenta duas faces: a exterior, brejeira, inconstante, insensível ao
   assédio amoroso; e a interior, sincera, contida, fiel à sua verdade íntima.

   6
   Qual a importância que a personagem de D. Ana tem no romance?
   A personagem D. Ana adquire grande importância nos capítulos em que o segredo de Augusto se revela. Depois,
   gradativamente, a personagem se vai obscurecendo e volta a ser secundária como no início. É personagem que
   funciona como elemento auxiliar do desencadeamento da trama.

   7
   Qual a função da personagem Paula?
   Paula, personagem tão obscura quanto os demais figurantes que povoam a história, emerge da obscuridade no
   capítulo XIII, quando serve à revelação do lado humano do caráter de Carolina.
8
   Que personagens secundárias dão a nota cômica do livro nos capítulos em que a história se passa na
   ilha?
   O alemão Keblerc, que aparece sempre como um amante da bebida, é quem desencadeia a bebedeira de Paula;
   personagem obscura, o seu lado cômico é mais implícito que explicitado. A grande nota cômica é dada pela
   personagem D. Violante, que, no capítulo III, vive uma das cenas mais engraçadas do livro, condizente com a
   história, que gira em torno de estudantes de medicina: a das hemorróidas, doença bem pouco romântica.

   9
   No capítulo XIV, Augusto, referindo-se elogiosamente às mãos de Carolina, implicitamente reflete a
   mentalidade escravocrata vigente na época. Explicite essa referência.
   Ao querer poupar Carolina, remetendo a escravos o trabalho grosseiro de mergulhar as mãos em água quente,
   Augusto revela a mentalidade de uma sociedade que considerava o africano um ser humano inferior e a raça ne-
   gra necessariamente submissa à branca.

V. Duas e mais palavras

   1
   Tomando como ponto de referência o diálogo do capítulo XVIII, quais os pronomes pessoais e de
   tratamento usados pelos interlocutores na conversação comum?
   Carolina utiliza-se da segunda pessoa do plural ("vós") para dirigir-se a Augusto, enquanto ele a trata por
   “senhora”, pronome de tratamento de terceira pessoa do singular. Em ambos os casos, nota-se a forma
   cerimoniosa e de respeito com que se tratam os interlocutores.

   2
   Tomando como ponto de referência os diálogos do capítulo I, quais são os pronomes pessoais utilizados
   pelos estudantes no trato comum?
   Numa linguagem mais solta e mais íntima, os estudantes utilizam o "tu" para a conversação a dois. E usam o
   "vocês" quando a fala abrange todos. Exemplos:
   "E tu, Augusto?... perguntou Filipe."
   "Eu?... Eu não conheço tua avó." ou
   "Que me importa?... Deixem-me. Vocês sabem o meu fraco e caem-me logo com ele: moças!... moças!..."

   3
   No capítulo XIX, aparece um hoje raro e pouco usado feminino da palavra "cidadão". Qual é essa forma e
   que indica ela?
   O feminino "cidadoa" aparece como forma que se opõe a "roceira". Ou seja, está sendo usado não no sentido
   geral de indivíduo do sexo feminino no gozo dos direitos civis e políticos (cidadão-cidadã), mas no de mulher
   habitante da cidade, em contraposição à mulher habitante da roça.

   4
   Em A Moreninha, a palavra "sabatina" aparece empregada, nos capítulos II e XII, em seu sentido
   etimológico. Qual é ele e qual a sua transformação no tempo?
   A palavra "sabatina" origina-se de sábado, ou seja, o dia em que se recordavam as lições da semana.
   Atualmente, as "sabatinas" são feitas em qualquer dia da semana, com o sentido apenas de prova de
   aproveitamento da matéria ensinada.

   5
   Assim como atualmente se fala em "economês", satirizando o emprego excessivo de termos técnicos de
   determinada área, só compreendidos pelos iniciados, em A Moreninha o narrador satiriza o "medicinês".
   Em que episódio isso acontece?
   No capítulo XIII, ao fingir que fazem junta médica para examinar a doente Paula, os estudantes brincam com a
   linguagem, criando um verdadeiro bestialógico em que termos técnicos da medicina e de outras áreas são
   combinados aleatoriamente, provocando um efeito sonoro impressionante, mas desprovido de qualquer conteúdo.

   6
   "O que outrora se chamava, em bom português, moça feia, os reformadores dizem: menina simpática!... O
   que em uma moça era antigamente desenxabimento, hoje é ao contrário: sublime languidez!... Já não há
   mais meninas importunas e vaidosas. As que forem, chamam-se agora espirituosas!" Qual a figura
   literária de que o autor se utiliza, neste trecho em que ironiza o Romantismo?
   O autor esta trabalhando com eufemismos, ou seja, expressões que substituem, de maneira atenuada, o sentido
   forte, desagradável, pejorativo de certos termos.
7
   O que era o "dicionário das flores", referido no capítulo VI?
   Cada flor tinha um significado próprio, representando a linguagem amorosa que servia de comunicação entre os
   enamorados.

   8
   No final do capítulo VIII, qual a simbologia que se estabelece em torno da imagem da borboleta?
   Ao justificar sua inconstância, Augusto se proclama uma "borboleta de amor". Na mesma cena, Carolina é vista
   em perseguição a uma borboleta que foge e que ela procura prender. Com isto, o leitor é induzido a visualizar a
   rendição de Augusto ao amor de Carolina.

VI. Moços X Moças

   1
   No capítulo IV, ao usar os verbos "iscar, pescar e casar", Fabrício faz transparecer, ao leitor de hoje, a
   condição da mulher no século XIX. Qual era essa condição?
   Toda a formação da mulher, na época, tendia para o casamento como única forma de realização pessoal e
   ascensão social. Daí a corrida ao casamento e a caçada aos homens, a que se refere Fabrício, utilizando outros
   três verbos, que significam a defesa masculina relativamente a essa situação: "fingir, rir e fugir". O
   relacionamento entre homens e mulheres, portanto, nem sempre era centrado em torno da sinceridade amorosa,
   mas em torno da inexorável expectativa em relação aos interesses matrimoniais.

   2
   No capítulo XI, Leopoldo refere-se em tom depreciativo às ideias da moça que é o seu par. Que ideias são
   essas?
   As palavras de Leopoldo refletem o sentido pejorativo que se dava ao feminismo e às lutas feministas nascentes
   no século XIX, a que chama de os "tais direitos das mulheres".

   3
   Tanto no capítulo XVI quanto no capítulo XX, os pés de Carolina são encarados como elemento de
   atração para o sexo oposto. Como se pode explicar isso, tomando por base os costumes do século XIX?
   Os pés femininos, na literatura romântica, funcionaram como fetiche amoroso, a tal ponto que José de Alencar,
   radicalizando o exemplo, tornou-os como objeto central de seu romance A Pata da Gazela. A explicação se deve
   à moda do século XIX, que, escondendo o corpo feminino, tornava excitante qualquer parte dele que, porventura,
   fosse posta à mostra, voluntária ou involuntariamente. No capítulo XVI, Carolina, consciente de seus atrativos,
   transgride a moda e usa um vestido mais curto do que os das outras moças, apenas para exibir o seu "pezinho
   mais bem-feito".

   4
   Como é apresentado o erotismo de Augusto e o despertar da sexualidade de Carolina no capítulo XXI?
   Numa época em que a virgindade era um valor que se levava para o casamento, a sensualidade de Augusto se
   revela por delicados toques de amor e pela proximidade física da pessoa amada, sem chegar jamais a uma
   abordagem direta. Por outro lado, em Carolina, à vista das tolinhas que se amam, as sensações amorosas físicas
   levam a uma atitude de timidez e perturbação, revelada em significativas frases, como: “os olhos da virgem
   modestamente se abaixaram” ou “A virgem tremeu toda e não pôde responder”.

VII. A paixão romântica

   1
   A trama de A Moreninha desenvolve-se em vários episódios que gravitam em torno de um tema central,
   que constitui um dos mitos do Romantismo. Qual é esse tema?
   O romance gira em torno do mito do primeiro amor e da fidelidade à infância, idealizada pelos românticos.

   2
   Transcreva, do capítulo XVIII, a frase em que se critica o estilo da época em relação à forma narrativa.
   "Mas a desordem hoje é moda! O belo está no desconcerto; o sublime no que se não entende; o feio é só o que
   podemos compreender: isto é romântico (...)"

   3
   No capítulo XIX, a defesa da sinceridade das moças da roça caracteriza uma das constantes temáticas do
   Romantismo. Qual é ela?
   Estabelecendo uma antinomia cidade x campo, os românticos exaltavam a natureza e os elementos que viviam
   em contato com ela, não contaminados, segundo eles, das impurezas da civilização urbana.
4
    No capítulo XIX, Augusto atribui à água da fonte o seu enfeitiçamento por Carolina. De que maneira a
    referência a esse tipo de superstição entronca A Moreninha no âmbito da literatura universal?
    O tema da poção mágica, a que sucumbem inevitavelmente os corações apaixonados e que lhes tira toda a
    responsabilidade de seus sentimentos e atos, é um tema de raízes universais, que aparece em grandes obras,
    como, por exemplo, Tristão e Isolda. Liga-se à ideia de fatalismo e de destino, que, em A Moreninha, porém, não
    tem conotação trágica, já que desemboca num final feliz.

VIII. Leitura e releitura

    Confronte os diálogos do romance do romântico Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha, 1844), abaixo
    transcritos, e o poema "Teresa", do modernista Manuel Bandeira (Libertinagem, 1930). Discuta, com
    colegas de equipe, as afinidades temáticas entre os textos dos séculos XIX e XX.

     “— E o que pensas da irmã de Filipe?
     — A melhor resposta que te posso dar, é... não sei... porque, ao meio-dia, a julgava travessa, importuna e feia,
    mas era-me completamente indiferente.
     — À uma hora?...
     — Eu a supus estouvada e desagradável.
     — Às duas horas?...
     — Má, e desejava vê-la longe de mim.
     — Durante o jantar?...
     — Fico achando-lhe algum espírito e acusei-me por havê-la julgado feia.
     — E agora?
     — Parece que me sinto inclinado a declará-la engraçada e bonitinha.
     — E daqui a pouco?
     — Eu direi.” (Capítulo V.)

      “— Então, como a achas agora?... disse Leopoldo, apontando para a irmã de Filipe.
      — Interessante, espirituosa e capaz de levar a glória ao mais destro casuísta. Olha, Fabrício vê-se doido com
    ela.
      — Só isto?...
      — Acho-a bonita.
      — Nada mais?...
      — Tem voz muito agradável.
      — É tudo o que pensas?...
      — Tem a boca mais engraçada que se pode imaginar.
      — Só?...
      — Muito esbelta.
      — Que mais?
      — E tão ligeira como um juramento de mulher.
      — Dize tudo de uma vez.
      — Pois que queres mais que diga?
      — Que a amas!... que dás o cavaco por ela." (Capítulo XI.)

    Teresa

    A primeira vez que vi Teresa
    achei que ela tinha pernas estúpidas
    achei também que a cara parecia uma perna

    Quando vi Teresa de novo
    achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
    (os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

    Da terceira vez não vi mais nada
    os céus se misturaram com a terra
    e o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

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Amoreninha

  • 1. “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo. I. A história e suas histórias 1 Confronte o tempo que Joaquim Manuel de Macedo, no prefácio de A Moreninha, diz ter gasto na feitura do romance, com o tempo que dura o desenrolar da história romanesca. Em "Duas palavras", Macedo confessa ter gasto "trinta noites garatujando o que por aí vai", ou seja, o romance escrito por um estudante em seu mês de férias. No capítulo I de A Moreninha, a data de 20 de julho (dia da aposta entre os amigos) surge como o dia de início da trama, cujo epílogo se vai dar exatamente no dia 20 de agosto, dia do pedido de casamento e do pagamento da aposta. Em suma, tanto a feitura do romance, pelo autor, como o desenrolar da história de suas personagens duram exatamente um mês. 2 A trama de A Moreninha desenvolve-se linearmente, mas há capítulos que retomam capítulos anteriores e que, por assim dizer, amarram-se com estes. Quais são eles? O capítulo XVII, em que Augusto desmascara as moças, retoma elementos do capítulo II (as exigências de D. Joaninha) e, principalmente, os elementos do capítulo XII, em que o rapaz, escondido no gabinete das moças, ouve todos os segredinhos delas. O capítulo XVIII — em que Carolina desmascara Augusto — amarra-se com o capítulo I — em que se faz a aposta — e os capítulos VII e VIII, o que torna claro que a Moreninha ouvira de fato as confissões do rapaz à sua avó, no episódio da gruta. 3 Em A Moreninha, uma das personagens, em determinado episódio, passa a ser a narradora de outra história dentro da história do romance. Qual é essa personagem e de que episódio se trata? No capítulo IX, D. Ana — nome dado à personagem da avó de Carolina — conta a Augusto uma história intitulada, dentro da narrativa, ' 'As lágrimas de amor'', Essa história — ficção dentro da ficção — prepara a ação dramática de várias cenas que se passam dentro da gruta e que aludem ao poder miraculoso da água da fonte. 4 Em que sentido se pode dizer que A Moreninha é um texto de ficção e de metaficção? Para responder, tome como base o epílogo do livro. O epílogo esclarece, em seu diálogo final, que, perdida a aposta — capítulo I —, Augusto pagou-a conforme o trato: “— Minha boa avó, exclamou Filipe, isto quer dizer que Augusto deve-me um romance. — Já está pronto, respondeu o noivo. — Como se intitula? — A Moreninha.” Isso significa que A Moreninha é o romance da elaboração de um romance, o que caracteriza um texto de metaficção: o romance da personagem se vai escrevendo à medida que se escreve o romance do autor. II. O ano de... 1 É possível determinar em que ano se passam os acontecimentos narrados em A Moreninha? A Moreninha foi publicado em folhetins, em 1844. Já o ano em que se passam os acontecimentos narrados no romance é indeterminado por reticências: 18... No entanto as referências da história permitem dizer que ela tem como pano de fundo o Segundo Império, época em que foi escrito o romance. 2 Numa época sem rádio, televisão ou cinema, qual era um dos grandes divertimentos públicos, apontado no capítulo I? No capítulo I, discutindo o tributo da aposta, Leopoldo sugere que Augusto pague "um camarote no primeiro drama novo que representar o nosso João Caetano". Referindo-se a João Caetano dos Santos (1808-1863), pioneiro da renovação teatral no Brasil, o narrador faz entrever aquele que ao lado da música, era um dos grandes passatempos artísticos do século XIX: o teatro.
  • 2. 3 A que costume de época se refere o capítulo XVI e em que consistia? Saraus eram reuniões festivas muito em moda no século XIX, fundamentalmente de caráter lítero-musical. Abrangiam diversas atividades, como deixa entrever o capítulo XVI: jogos, conversação variada, cantos e danças Neles se praticava a sociabilidade e se propiciava o relacionamento amoroso. 4 No capítulo II, o sistema de namoro de Fabrício, exposto em carta a Augusto, revela uma das preocupações materiais dos estudantes da época. Qual é ela? Sustentados na corte pelos pais, os estudantes viviam de mesada, portanto com pouco dinheiro para gastar. Assim, Fabrício busca "não pagar moleque" de recados; não gastar dinheiro em teatros e bailes com namorada rica; e não namorar por ocasião de festas dispendiosas. 5 As exigências de Joana em relação a Fabrício, explicitadas no capítulo II, mostram o tipo de namoro no tempo do Império. Como era esse namoro? Era um namoro à distância, com a presença do namorado nos lugares habitados ou frequentados pela moça: fosse passando diante de sua casa, fosse indo a teatros e bailes ou outros lugares públicos onde ela estivesse. Os contatos se faziam por cartas e bilhetes, geralmente levados pelos "moleques de recados". 6 Quais eram os hábitos galantes, do tempo do Império, que aparecem no romance? Dar o braço às senhoras era um costume cavalheiresco da época, conforme se narra no capítulo VI. Brindar às namoradas era outro, conforme se deduz do capítulo V. E, no capítulo XV, fica bem claro o costume do galanteio, ou seja, da conquista da mulher feita por palavras elegantes e expressões atenciosas e envaidecedoras. 7 No capítulo II, a demora do moleque Rafael em voltar para casa faz Augusto referir-se a um dos muitos castigos impostos aos escravos na época. Segundo o texto, que tipo de ação do negro esse castigo estaria punindo? Mesmo a serviço do amo, o escravo não podia circular à noite depois do toque de recolher. Se isso acontecesse, seria preso e teria o seu cabelo rapado. Posteriormente poderia ser solto, pelo dono, mediante pagamento de fiança. 8 À vista da leitura do livro, você acha válido considerar A Moreninha um "romance de costumes"? Justifique sua resposta. Gravitando em torno do tema do amor, A Moreninha apresenta um sugestivo painel dos hábitos e usos da sociedade escravocrata e aristocrática da segunda metade do século XIX, com suas práticas amorosas, suas di- versões públicas e domésticas, o relacionamento entre os dois sexos e entre gerações diversas. Assim, há referências não só ao respeito dos homens para com as mulheres, como ao respeito dos mais moços em relação aos mais velhos, dos filhos em relação aos pais. Alude-se a bailes, espetáculos teatrais, saraus, passeios pelo jardim, jogos de salão e jogos de azar, que distraem tanto os habitantes da corte quanto os da província. Fala-se nas práticas da medicina (alopática e homeopática) da época, nas crendices e superstições. Alude-se a gêneros musicais, há referências a bebidas e comidas nacionais, além de referência a outros hábitos, hoje totalmente desusados e que eram próprios da época, como o uso do rapé. III. A ilha de... 1 Qual é o cenário principal em que se desenvolve a ação de A Moreninha? A história do romance tem parte da ação na corte, ou seja, no Rio de Janeiro, espaço onde se situa a casa dos estudantes (capítulos I, II, XIX e XXII). Como a historiarem vinte e três capítulos — excluindo-se o preâmbulo e o epílogo —, torna-se evidente que o cenário principal é a ilha onde vivem Carolina e sua avó. 2 Esse cenário principal de A Moreninha é identificado no romance? O narrador usa do recurso das reticências para deixar à imaginação do leitor a identificação do local dos acontecimentos principais: ' 'a ilha de...''. Apesar disso, existe na Ilha de Paquetá, pitoresco lugar de passeios para quem visita o Rio de Janeiro, uma chamada "Pedra da Moreninha", que se associa à personagem principal do romance de Joaquim Manuel de Macedo.
  • 3. 3 A descrição minuciosa de um quarto de estudante, no capítulo II, remete para várias características da época em que se desenrolam os acontecimentos. Quais são elas? A existência de um castiçal faz lembrar uma época anterior à iluminação elétrica; as canastras de roupa sugerem um tipo de mobiliário caído em desuso; a casaca, o chapéu e a bengala evocam a moda masculina do século XIX; e a existência da bacia lembra a precariedade das instalações de asseio e higiene da época. De maneira geral, esse cenário interior evoca os primórdios do ensino universitário no país: as repúblicas de estudantes eram indispensáveis nas poucas cidades que sediavam faculdades e era para onde convergiam os rapazes que desejavam completar os estudos. 4 Numa época sem telefone, como era feita a comunicação entre pessoas que moravam em lugares distantes um do outro, como o continente e a ilha? E como isso interfere na ação dramática do livro? A comunicação, demorada, era feita ou por cartas ou por recados orais e escritos transmitidos pessoalmente por portadores. Em A Moreninha, essa falta de comunicação rápida e imediata cria, por exemplo, toda a tensão dramática do capítulo XXII, em que Augusto e Carolina sofrem, distantes um do outro, sem saber o que se passa na vida de cada um. IV. Augusto, Carolina & Cia. 1 Qual é o traço comum que identifica as principais personagens masculinas? As principais personagens masculinas são jovens estudantes, no caso, estudantes de medicina. Pertencem, portanto, à classe pensante do país, no século XIX, e que constituía, junto com as mulheres, o grande público leitor do Romantismo. 2 O que se sabe do universo familiar de Augusto? E o que esse universo representa no século XIX? No capítulo XXII aparece claramente o back-ground familiar de Augusto: é estudante de medicina, sustentado na corte pelo pai, fazendeiro, típico homem da roça, cuja autoridade advém justamente do fato de manter o filho no Rio de Janeiro, a suas expensas, a fim de proporcionar-lhe os meios profissionais de ascender socialmente. Isso reflete a mentalidade bacharelesca da época: filho de fazendeiro sempre tinha de ser "doutor", para que a família realizasse as suas aspirações de ascensão aristocrática. 3 Qual é a atitude que Augusto ostenta diante do amor e quando é que se desmascara? Augusto apresenta-se, diante de todos, como inconstante, não-confiável, volúvel e superficial. Nos capítulos VI, VII e VIII, no entanto, ao fazer o relato de seu amor secreto à avó de Carolina, Augusto mostra que toda a sua aparência donjuanesca era uma autodefesa contra a sua extrema fragilidade diante do amor. 4 Como se caracteriza fisicamente a figura de Carolina? Fisicamente, Carolina não é uma beleza arrebatadora, como outras heroínas do Romantismo. Sua beleza, no entanto, vai adquirindo destaque, à medida que a extrema vivacidade de movimentos se vai revelando. Jovem entre seus catorze e quinze anos, moreninha, é típica representante do ideal brasileiro de beleza feminina, que a graça, malícia e picardia tornam irresistível. 5 Qual é o traço comum entre a personalidade de Carolina e a de Augusto? Assim como Augusto, Carolina também apresenta duas faces: a exterior, brejeira, inconstante, insensível ao assédio amoroso; e a interior, sincera, contida, fiel à sua verdade íntima. 6 Qual a importância que a personagem de D. Ana tem no romance? A personagem D. Ana adquire grande importância nos capítulos em que o segredo de Augusto se revela. Depois, gradativamente, a personagem se vai obscurecendo e volta a ser secundária como no início. É personagem que funciona como elemento auxiliar do desencadeamento da trama. 7 Qual a função da personagem Paula? Paula, personagem tão obscura quanto os demais figurantes que povoam a história, emerge da obscuridade no capítulo XIII, quando serve à revelação do lado humano do caráter de Carolina.
  • 4. 8 Que personagens secundárias dão a nota cômica do livro nos capítulos em que a história se passa na ilha? O alemão Keblerc, que aparece sempre como um amante da bebida, é quem desencadeia a bebedeira de Paula; personagem obscura, o seu lado cômico é mais implícito que explicitado. A grande nota cômica é dada pela personagem D. Violante, que, no capítulo III, vive uma das cenas mais engraçadas do livro, condizente com a história, que gira em torno de estudantes de medicina: a das hemorróidas, doença bem pouco romântica. 9 No capítulo XIV, Augusto, referindo-se elogiosamente às mãos de Carolina, implicitamente reflete a mentalidade escravocrata vigente na época. Explicite essa referência. Ao querer poupar Carolina, remetendo a escravos o trabalho grosseiro de mergulhar as mãos em água quente, Augusto revela a mentalidade de uma sociedade que considerava o africano um ser humano inferior e a raça ne- gra necessariamente submissa à branca. V. Duas e mais palavras 1 Tomando como ponto de referência o diálogo do capítulo XVIII, quais os pronomes pessoais e de tratamento usados pelos interlocutores na conversação comum? Carolina utiliza-se da segunda pessoa do plural ("vós") para dirigir-se a Augusto, enquanto ele a trata por “senhora”, pronome de tratamento de terceira pessoa do singular. Em ambos os casos, nota-se a forma cerimoniosa e de respeito com que se tratam os interlocutores. 2 Tomando como ponto de referência os diálogos do capítulo I, quais são os pronomes pessoais utilizados pelos estudantes no trato comum? Numa linguagem mais solta e mais íntima, os estudantes utilizam o "tu" para a conversação a dois. E usam o "vocês" quando a fala abrange todos. Exemplos: "E tu, Augusto?... perguntou Filipe." "Eu?... Eu não conheço tua avó." ou "Que me importa?... Deixem-me. Vocês sabem o meu fraco e caem-me logo com ele: moças!... moças!..." 3 No capítulo XIX, aparece um hoje raro e pouco usado feminino da palavra "cidadão". Qual é essa forma e que indica ela? O feminino "cidadoa" aparece como forma que se opõe a "roceira". Ou seja, está sendo usado não no sentido geral de indivíduo do sexo feminino no gozo dos direitos civis e políticos (cidadão-cidadã), mas no de mulher habitante da cidade, em contraposição à mulher habitante da roça. 4 Em A Moreninha, a palavra "sabatina" aparece empregada, nos capítulos II e XII, em seu sentido etimológico. Qual é ele e qual a sua transformação no tempo? A palavra "sabatina" origina-se de sábado, ou seja, o dia em que se recordavam as lições da semana. Atualmente, as "sabatinas" são feitas em qualquer dia da semana, com o sentido apenas de prova de aproveitamento da matéria ensinada. 5 Assim como atualmente se fala em "economês", satirizando o emprego excessivo de termos técnicos de determinada área, só compreendidos pelos iniciados, em A Moreninha o narrador satiriza o "medicinês". Em que episódio isso acontece? No capítulo XIII, ao fingir que fazem junta médica para examinar a doente Paula, os estudantes brincam com a linguagem, criando um verdadeiro bestialógico em que termos técnicos da medicina e de outras áreas são combinados aleatoriamente, provocando um efeito sonoro impressionante, mas desprovido de qualquer conteúdo. 6 "O que outrora se chamava, em bom português, moça feia, os reformadores dizem: menina simpática!... O que em uma moça era antigamente desenxabimento, hoje é ao contrário: sublime languidez!... Já não há mais meninas importunas e vaidosas. As que forem, chamam-se agora espirituosas!" Qual a figura literária de que o autor se utiliza, neste trecho em que ironiza o Romantismo? O autor esta trabalhando com eufemismos, ou seja, expressões que substituem, de maneira atenuada, o sentido forte, desagradável, pejorativo de certos termos.
  • 5. 7 O que era o "dicionário das flores", referido no capítulo VI? Cada flor tinha um significado próprio, representando a linguagem amorosa que servia de comunicação entre os enamorados. 8 No final do capítulo VIII, qual a simbologia que se estabelece em torno da imagem da borboleta? Ao justificar sua inconstância, Augusto se proclama uma "borboleta de amor". Na mesma cena, Carolina é vista em perseguição a uma borboleta que foge e que ela procura prender. Com isto, o leitor é induzido a visualizar a rendição de Augusto ao amor de Carolina. VI. Moços X Moças 1 No capítulo IV, ao usar os verbos "iscar, pescar e casar", Fabrício faz transparecer, ao leitor de hoje, a condição da mulher no século XIX. Qual era essa condição? Toda a formação da mulher, na época, tendia para o casamento como única forma de realização pessoal e ascensão social. Daí a corrida ao casamento e a caçada aos homens, a que se refere Fabrício, utilizando outros três verbos, que significam a defesa masculina relativamente a essa situação: "fingir, rir e fugir". O relacionamento entre homens e mulheres, portanto, nem sempre era centrado em torno da sinceridade amorosa, mas em torno da inexorável expectativa em relação aos interesses matrimoniais. 2 No capítulo XI, Leopoldo refere-se em tom depreciativo às ideias da moça que é o seu par. Que ideias são essas? As palavras de Leopoldo refletem o sentido pejorativo que se dava ao feminismo e às lutas feministas nascentes no século XIX, a que chama de os "tais direitos das mulheres". 3 Tanto no capítulo XVI quanto no capítulo XX, os pés de Carolina são encarados como elemento de atração para o sexo oposto. Como se pode explicar isso, tomando por base os costumes do século XIX? Os pés femininos, na literatura romântica, funcionaram como fetiche amoroso, a tal ponto que José de Alencar, radicalizando o exemplo, tornou-os como objeto central de seu romance A Pata da Gazela. A explicação se deve à moda do século XIX, que, escondendo o corpo feminino, tornava excitante qualquer parte dele que, porventura, fosse posta à mostra, voluntária ou involuntariamente. No capítulo XVI, Carolina, consciente de seus atrativos, transgride a moda e usa um vestido mais curto do que os das outras moças, apenas para exibir o seu "pezinho mais bem-feito". 4 Como é apresentado o erotismo de Augusto e o despertar da sexualidade de Carolina no capítulo XXI? Numa época em que a virgindade era um valor que se levava para o casamento, a sensualidade de Augusto se revela por delicados toques de amor e pela proximidade física da pessoa amada, sem chegar jamais a uma abordagem direta. Por outro lado, em Carolina, à vista das tolinhas que se amam, as sensações amorosas físicas levam a uma atitude de timidez e perturbação, revelada em significativas frases, como: “os olhos da virgem modestamente se abaixaram” ou “A virgem tremeu toda e não pôde responder”. VII. A paixão romântica 1 A trama de A Moreninha desenvolve-se em vários episódios que gravitam em torno de um tema central, que constitui um dos mitos do Romantismo. Qual é esse tema? O romance gira em torno do mito do primeiro amor e da fidelidade à infância, idealizada pelos românticos. 2 Transcreva, do capítulo XVIII, a frase em que se critica o estilo da época em relação à forma narrativa. "Mas a desordem hoje é moda! O belo está no desconcerto; o sublime no que se não entende; o feio é só o que podemos compreender: isto é romântico (...)" 3 No capítulo XIX, a defesa da sinceridade das moças da roça caracteriza uma das constantes temáticas do Romantismo. Qual é ela? Estabelecendo uma antinomia cidade x campo, os românticos exaltavam a natureza e os elementos que viviam em contato com ela, não contaminados, segundo eles, das impurezas da civilização urbana.
  • 6. 4 No capítulo XIX, Augusto atribui à água da fonte o seu enfeitiçamento por Carolina. De que maneira a referência a esse tipo de superstição entronca A Moreninha no âmbito da literatura universal? O tema da poção mágica, a que sucumbem inevitavelmente os corações apaixonados e que lhes tira toda a responsabilidade de seus sentimentos e atos, é um tema de raízes universais, que aparece em grandes obras, como, por exemplo, Tristão e Isolda. Liga-se à ideia de fatalismo e de destino, que, em A Moreninha, porém, não tem conotação trágica, já que desemboca num final feliz. VIII. Leitura e releitura Confronte os diálogos do romance do romântico Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha, 1844), abaixo transcritos, e o poema "Teresa", do modernista Manuel Bandeira (Libertinagem, 1930). Discuta, com colegas de equipe, as afinidades temáticas entre os textos dos séculos XIX e XX. “— E o que pensas da irmã de Filipe? — A melhor resposta que te posso dar, é... não sei... porque, ao meio-dia, a julgava travessa, importuna e feia, mas era-me completamente indiferente. — À uma hora?... — Eu a supus estouvada e desagradável. — Às duas horas?... — Má, e desejava vê-la longe de mim. — Durante o jantar?... — Fico achando-lhe algum espírito e acusei-me por havê-la julgado feia. — E agora? — Parece que me sinto inclinado a declará-la engraçada e bonitinha. — E daqui a pouco? — Eu direi.” (Capítulo V.) “— Então, como a achas agora?... disse Leopoldo, apontando para a irmã de Filipe. — Interessante, espirituosa e capaz de levar a glória ao mais destro casuísta. Olha, Fabrício vê-se doido com ela. — Só isto?... — Acho-a bonita. — Nada mais?... — Tem voz muito agradável. — É tudo o que pensas?... — Tem a boca mais engraçada que se pode imaginar. — Só?... — Muito esbelta. — Que mais? — E tão ligeira como um juramento de mulher. — Dize tudo de uma vez. — Pois que queres mais que diga? — Que a amas!... que dás o cavaco por ela." (Capítulo XI.) Teresa A primeira vez que vi Teresa achei que ela tinha pernas estúpidas achei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novo achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada os céus se misturaram com a terra e o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.