A falta de chuvas e altas temperaturas na Região Metropolitana de Campinas estão causando perdas significativas nas lavouras. Produtores relatam que entre 10% a 30% das plantações de milho, soja e cana-de-açúcar já foram comprometidas, podendo aumentar caso não chova em breve. As noites quentes também prejudicam o desenvolvimento das culturas. Alguns produtores dizem que nunca passaram por situação semelhante em janeiro, mês que normalmente tem muita chuva.
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Calor e estiagem levam caos para o agronegócio na rmc
1. A+4
CORREIO POPULAR
REGIÃO METROPOLITANA
Campinas, domingo, 9 de fevereiro de 2014
Fotos: Edu Fortes/AAN
Reynaldo Carr produz feno, forragem para o gado, em Santa Bárbara d’Oeste, e tem aparelho para medir índice de chuvas em sua propriedade: em janeiro choveu 26mm, contra 330mm no mesmo mês do ano passado
Bruno Bacchetti
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
bruno.bacchetti@rac.com.br
O Verão atípico e a escassez
de chuva que assola boa parte
do País já provocam reflexos
na área rural da Região
Metropolitana de Campinas
(RMC). Produtores agrícolas
da região sofrem com a seca e
o calor recorde, causando a
perda de plantações inteiras.
Lavouras de milho, cana de
açúcar, feijão e soja são as
mais afetadas pela ausência
de chuva inesperada para a
época do ano, quando
normalmente o volume
pluviométrico é maior.
Somada à falta de chuva, a
temperatura elevada torna a
combinação prejudicial ao
campo.
“A fase de grão é a mais
afetada e proporcional ao
tempo que faltar água. É um
processo anormal e acredito
que de 10% a 15% das
plantações já foram afetadas.
Isso pode aumentar
dependendo de quanto tempo
mais vai ficar sem chover.
Chega uma hora que é
irreversível” explica José
Augusto Maiorano, diretor do
escritório de Campinas da
Coordenadoria de Assistência
Técnica Integral (Cati).
De acordo com o
pesquisador Orivaldo Brunini,
do Instituto Agronômico de
Campinas (IAC), um
fenômeno climático também
provoca prejuízos. É que a
região não tinha variações de
temperatura tão pequenas
entre o dia e a noite nesta
época do ano. O milho, por
exemplo, precisa de dias
quentes e noites mais frias
para se desenvolver. O fato é
que, neste começo de
fevereiro, houve madrugada
em que os termômetros
marcaram até 24˚C.
Dono de uma plantação de
milho em Monte Mor, o
produtor Paulo da Cruz
Brischi, de 64 anos, afirma que
metade da colheita foi perdida
pela falta de chuva. Há 50
anos trabalhando no campo, o
produtor diz que jamais
passou por situação
semelhante. “Todo ano nessa
época sobra água. Mas sem
chuva, está secando antes da
época, e tem milho que nem
espiga deu. Vou colher o que
Calor e estiagem
levam caos para o
agronegócio na RMC
FALTA DE CHUVAS e alta temperatura levam a perda de lavouras
inteiras; produtores improvisam para reduzir danos e prejuízos
Paulo da Cruz Brischi, que cultiva milho em Monte Mor: ele diz que já perdeu metade da produção e que vai esperar para investir em pimentões
“Se chover, vai
melhorar. Se não
chover, só Deus
sabe o que vai
acontecer.”
FRANCISCO HOMERO MARCONDES
Gerente de Mercado da Ceasa
Campinas
der e depois contar o prejuízo.
Desde os 11 anos de idade
trabalho na lavoura e nunca vi
situação assim em janeiro”,
conta.
Brischi tem outra área
preparada para o cultivo de
pimentão, mas diz que vai
esperar o clima melhorar para
que a situação não se repita.
“A terra está pronta, mas vou
ter que segurar o pimentão”,
completa.
Em Sumaré, o produtor
Wilson Ravagnani é outro que
sofre com a falta de chuva.
Proprietário de uma lavoura
de soja, ele assiste de braços
atados a planta secar e
contabiliza os prejuízos. Sem
opção, Ravagnani espera a
ajuda de São Pedro para
amenizar a baixa. “A chuva faz
muita falta, estamos com um
verão atípico. Vou perder
cerca de 30% da colheita,
porque a planta não está
enchendo. Dependo de chuva,
e o que resta é torcer. Mas
mesmo se chover já perdi, não
dá para recuperar”, lamenta.
Produtor de feno (planta
utilizada para forragem do
gado) e de palmeiras
ornamentais em Santa
Bárbara d’Oeste, Reynaldo
Carr utiliza um pluviômetro
para acompanhar a incidência
de chuva em sua propriedade.
Segundo ele, em janeiro
choveu míseros 26 milímetros,
e em dezembro do ano
passado, 55 mm. Há dois
anos, o instrumento captou
330 mm de chuva em janeiro e
225 mm em dezembro. A seca
reduziu consideravelmente a
produção de feno. Já a
palmeira ornamental não é
tão afetada, embora a falta de
chuva deixe a planta menos
vistosa e com aspecto que não
favorece a comercialização.
“Minha produção é
dividida em cinco cortes
anuais, e o maior deles é no
Verão. Mas colhi apenas um
terço do que era para ter
colhido. Tive uma defasagem
de aproximadamente 170 mil
quilos. Tenhos 25 anos no
ramo e nunca vi isso”, relata
Carr. “A palmeira não sofre
tanto, mas fica mais feia com
a falta de chuva”, acrescenta.
15%
24˚
De grãos da RMC foram
afetadas pelo clima, na
estimativa da Cati
Tem sido a temperatura mínima
nas madrugadas, o que também
prejudica as lavouras
DAS PLANTAÇÕES
CELSIUS
Plantação de soja em Sumaré: produtor diz que ao menos 30% da colheita está comprometida e que, mesmo que volte a chover, prejuízo é irreparável