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1. ENQUADRAMENTO SOCIAL E CULTURAL
«Childbirth is an intimate and complex
transaction whose topic is physiological
and whose language is cultural. Neither
element is available without the other»
(Lozoff, Jordan, & Malone, 1988, p. 37).
Na maior parte das sociedades, considera-se
que o parto e o pós-parto imediato são períodos
de risco para a mãe e o bebé, pelo que se produ-
ziu um sistema de crenças e de práticas bastante
uniformes e ritualizadas, para lidar com o perigo
e a incerteza ligados ao parto. Este sistema espe-
cifica a forma de enfrentar os aspectos psicoló-
gicos e sociais do parto, pelo que, embora as prá-
ticas relativas ao parto sejam bastante distintas
entre culturas, não são grandes as variações sus-
ceptíveis de serem observadas no quadro de
uma mesma cultura.
A visão do parto, nomeadamente enquanto fe-
nómeno natural ou médico, varia muito de cultu-
ra para cultura, assim como varia o lugar que é
dado à dor neste processo. A forma como o parto
é considerado determina muitas outras diferen-
ças que são também observadas, inclusive nas
sociedades ocidentais (por exemplo, entre os
EUA, a Alemanha, a Holanda e a Suécia), em
importantes aspectos do parto – como seja, no
tipo de preparação, local (casa ou hospital), pes-
soas que assistem e que estão envolvidas (técni-
cos ou pessoas significativas), recurso à tecnolo-
gia médica e à medicação e participação da mu-
lher nas decisões a tomar (Lozoff et al., 1988) –
fazendo com que a experiência de parto seja cul-
turalmente determinada. Para além disso, como
veremos ao longo deste artigo, a visão acerca do
modo como o parto deve decorrer mudou radi-
calmente nos últimos tempos, o que igualmente
se traduziu em mudanças muito significativas
nos aspectos acima assinalados (Figueiredo,
2000).
Mesmo assim, em todas as sociedades, inclu-
sivamente nas não industrializadas, existe eleva-
da preocupação com a dor e a morte associadas
ao parto, dimensões que são sempre reconheci-
203
Análise Psicológica (2002), 2 (XX): 203-217
Experiência de parto: Alguns factores e
consequências associadas (*)
BÁRBARA FIGUEIREDO (**)
RAQUEL COSTA (**)
ALEXANDRA PACHECO (**)
(*) Este estudo foi desenvolvido com o apoio do
Serviço de Saúde e Desenvolvimento Humano da
Fundação Calouste Gulbenkian.
(**) Departamento de Psicologia da Universidade
do Minho. Maternidade Júlio Dinis (Porto).
das como integrantes da experiência de parto
(Lozoff et al., 1988). Em função disso, todas as
sociedades procuraram produzir métodos com
vista à redução da dor e do perigo de morte en-
volvidos no parto.
Em Portugal, por exemplo, o Plano Nacional
de Luta Contra a Dor da Direcção Geral de
Saúde contempla especificamente a dor de parto.
Este documento recomenda a utilização de anes-
tesia epidural e aponta a necessidade de informar
as futuras mães acerca desta técnica, no sentido
de proporcionar uma escolha consciente. Apre-
senta ainda as vantagens e riscos da analgesia
epidural e dá indicações particulares para a sua
utilização. Considera que «a analgesia do parto,
adquire contornos de um direito universal, ao
qual todas as mulheres devem ter igualdade de
acesso, o que pressupõe, por parte destas, infor-
mação detalhada e direito de opção consciente
perante este acontecimento tão importante» (Di-
recção Geral de Saúde, 2001).
2. A EXPERIÊNCIA DE PARTO
A maior parte das mães descreve um mesmo
conjunto de acontecimentos, que são específicos,
a propósito da sua experiência de gravidez e
parto. No entanto, se as mães tendem a falar da
sua vivência de gravidez, o parto em si, geral-
mente considerado como uma experiência difícil,
não parece ser um acontecimento que esponta-
neamente apontem como importante, embora o
momento em que contactam pela primeira vez
com o bebé seja referido como significativo por
quase todas as mães.
Lee (1995), por exemplo, conduziu um pri-
meiro estudo sobre uma amostra de 36 mulheres
(80% caucasianas, 20% afro-americanas), primí-
paras (42%) e multíparas (58%), com idades en-
tre os 18 e os 41 anos, as quais foram entrevis-
tadas acerca da sua experiência de gravidez e
parto, durante o primeiro ano do puerpério. Os
resultados desta investigação mostram que,
embora alguns acontecimentos sejam referidos
por apenas algumas mães, existe uma concordân-
cia substancial nos seguintes oitos aspectos, assi-
nalados como os mais importantes acontecimen-
tos da gravidez por uma elevada percentagem de
sujeitos da amostra: saber que está grávida
(100%), dizer que está grávida (100%), sentir os
movimentos do bebé (100%), comprar roupas de
grávida (100%), realizar testes pré-natais (ultra-
sons e amniocentese) e receber os resultados dos
mesmos (92%), frequentar aulas de preparação
para o parto (84%), ruptura das membranas
(92%), ver o bebé pela primeira vez (100%). Es-
te investigador salienta que apenas algumas
mães falam do parto (17%), e um reduzido nú-
mero (8%) refere os aspectos negativos da expe-
riência de parto (tais como, a longa duração e o
desconforto sentido).
Numa segunda fase deste mesmo estudo, Lee
realiza uma entrevista estruturada a uma amostra
de 63 mulheres (82% caucasianas, 18% afro-
americanas), primíparas (49%) e multíparas
(51%), com idades entre os 20 e os 45 anos.
Com base nesta entrevista concluiu que os acon-
tecimentos seleccionados na fase anterior podem
realmente ser considerados significativos para a
grande parte das mulheres, mesmo que alguns
sejam mais significativos que outros, em termos
do seu impacto emocional. Por ordem decrescen-
te de importância, os acontecimentos foram or-
denados do seguinte modo pelas participantes no
estudo, no que se refere à primeira gravidez: ver
o bebé pela primeira vez, saber que está grávida,
realizar testes pré-natais (ultra-sons e amniocen-
tese) e receber os resultados dos mesmos, sentir
os movimentos do bebé, ruptura das membranas,
dizer que está grávida, comprar roupas de grávi-
da, frequentar aulas de preparação para o parto.
Ligeiras diferenças na ordenação foram contudo
observadas quando as mães foram inquiridas no
que se refere à sua segunda gravidez. O autor
considera que, tendo em conta o seu impacto
emocional, os acontecimentos assinalados refe-
rem-se aos mais importantes marcos dos proces-
sos psicológicos relativos à gravidez e ao parto.
No que diz mais propriamente respeito ao par-
to, que é o principal alvo do nosso interesse, a
maior parte das vezes a experiência de parto é,
sob diversos aspectos, relatada como uma expe-
riência difícil, sendo que quanto mais difícil é a
experiência de parto pior é o ajustamento emo-
cional da mulher no puerpério, assim como me-
nos adequada a relação que estabelece com o be-
bé.
Thune-Larsen e Pedersen (1988), por exem-
plo, estudaram a experiência de parto numa
amostra heterogénea de 161 mulheres noruegue-
sas: casadas (86%), a viver em regime coabita-
204
ção (12%), ou solteiras (2%), primíparas (39%)
ou multíparas (61%). No dia seguinte ao parto,
entrevistam as mães no que se refere à dificul-
dade, dor, ansiedade, perda de controlo, confusão
e emoções sentidas durante o parto, bem como à
cooperação com o companheiro e com a equipa
médica. Mais tarde, no 5.º dia após o parto, as
participantes foram novamente entrevistadas
(por exemplo, quanto à relação com o bebé) e
uma avaliação global do seu funcionamento
emocional foi efectuada. Os resultados obtidos
neste estudo mostram que a maior parte das
mães considera a experiência de parto como difí-
cil (60%), mas está satisfeita ou muito satisfeita
com a forma como lidou com o parto (71%). Du-
rante o parto, a maior parte das mães sentiu:
muita dor (80%) (para 47% a experiência foi
realmente dolorosa e para 33% a dor foi insu-
portável), alguma ou muita ansiedade (58%), al-
guma ou muita falta de controlo (74%), perda da
noção de tempo e de lugar (50%), e alguma ou
muita emocionalidade negativa, mais frequente-
mente tristeza e zanga (87%).
Estes autores encontram evidências de que a
qualidade da experiência da mulher durante o
parto se relaciona com o seu estado emocional
após o parto. As mães que relatam um parto mais
difícil, assim como aquelas que referem mais
dor, mais ansiedade, mais perda de controlo, da
noção de tempo e espaço, e aquelas que exibem
uma reacção emocional mais negativa para com
o parto e apontam que tiveram menos suporte
por parte dos técnicos, apresentam níveis mais
elevados de perturbação emocional no 5.º dia do
puerpério. Embora não se verifique uma relação
entre a preparação para o parto ou a presença de
companhia durante o parto e a ocorrência de per-
turbação emocional no 5.º dia após o parto, ob-
serva-se uma relação entre a insatisfação com a
capacidade própria para lidar com o parto e a
presença de perturbação emocional no 5.º dia do
pós-parto.
A investigação tem vindo a mostrar que as ex-
periências relativas ao parto são de extrema im-
portância, interferindo de forma muito significa-
tiva no funcionamento emocional das mães e no
estabelecimento de uma relação adequada com o
bebé. Tendo em conta o impacto da experiência
de parto no funcionamento global das mães e
bebés, alguns autores dedicaram-se ao estudo
dos factores susceptíveis de influenciar esta
experiência, evidenciando a importância particu-
lar das seguintes circunstâncias: presença de
uma pessoa significativa que proporcione apoio
emocional, tipo de parto, dor sentida durante o
parto e possibilidade de contacto imediato com o
bebé. É destes e de outros factores que falaremos
em seguida, tentando expor alguns dos trabalhos
realizados nestes domínios.
3. FACTORES SUSCEPTÍVEIS DE
INFLUENCIAR A EXPERIÊNCIA DE PARTO
3.1. Presença de pessoa significativa durante
o parto
Poder ter o marido ou outra pessoa significa-
tiva junto de si durante o parto e poder ver e to-
car no bebé logo a seguir ao parto são aspectos
que, hoje em dia, as mulheres geralmente valori-
zam e consideram como mais determinantes pa-
ra uma boa experiência de parto (Cranley, Hed-
hal, & Pegg, 1983; Figueiredo & Alegre, in
press). No entanto, nas sociedades não industria-
lizadas, os homens foram geralmente excluídos
do parto, à excepção do pai que pode permanecer
junto da mãe, embora em apenas um quarto das
diferentes sociedades que têm sido observadas
(Lozoff et al., 1988).
Por sua vez, nas sociedades industrializadas, o
tipo de companhia escolhida e as expectativas
quanto ao que se espera dessa companhia podem
variar significativamente de uma mulher para a
outra. Rofé e Lewin (1986), por exemplo, estu-
daram uma amostra heterogénea, constituída por
300 mulheres residentes na área de Tel-Aviv (Is-
rael), entrevistadas, minutos antes da sua admis-
são no hospital e após o parto, quanto ao desejo
de companhia e tipo de companhia durante o
parto (por exemplo, uma enfermeira que propor-
cione suporte ou o marido) e quanto ao nível de
ansiedade, avaliado através de 3 itens, numa es-
cala de tipo Likert, de 1 a 5. No dia seguinte ao
parto, as participantes preencheram a Repres-
sion-Sensitization Scale (RSS, Byrne et al.,
1963) para avaliar o tipo de resposta emocional a
acontecimentos stressantes.
Estes autores observam que, antes do parto, as
mulheres geralmente tendem a querer ficar so-
zinhas e no caso de terem uma companhia prefe-
205
rem estar em silêncio ou a falar de temas irrele-
vantes para o parto; enquanto que, depois do par-
to, as mulheres geralmente desejam estar na
companhia de outras pessoas e a maioria prefere
uma companhia significativa e interessada em
falar acerca de assuntos relacionados com o par-
to.
No entanto, esta investigação assinala diferen-
ças individuais significativas que importa igual-
mente referir. Com efeito, a tendência para que-
rer estar sozinha e não desejar a companhia de
outras mulheres nos momentos que precedem o
parto é mais elevada nas participantes que apre-
sentam maior tendência para reprimir as emo-
ções, menor ansiedade, níveis educacionais mais
elevados e são primíparas. Embora este estudo
verifique uma associação positiva entre o nível
educacional e a preferência da mãe pela presença
do companheiro durante o parto, essa associação
não se mostrou significativa quando o nível de
ansiedade ou a tendência da mãe para reprimir as
emoções foi considerado.
Os autores concluem que, no período que an-
tecede o parto, as mulheres evitam estar com ou-
tras pessoas e falar acerca de assuntos relacio-
nados com o parto; esta seria uma forma de lidar
com o stress gerado pela aproximação do parto,
situação considerada de stress inevitável. No
entanto, no período pós-parto, a presença de
outras pessoas e o relato da experiência de parto
são geralmente desejados pela mulher.
Contudo, vários estudos têm vindo a mostrar
que a presença do pai ou de uma outra figura de
suporte durante o parto tem efeitos muito posi-
tivos no bem estar físico e emocional da mulher,
tanto no caso do parto normal (Brazelton, 1981;
Cranley et al., 1983), como no caso do parto por
cesariana (Marut & Mercer, 1979; Gainer &
Van Bonn, 1977). Em particular, no caso do par-
to por cesariana, verifica-se que quando o pai es-
tá presente, a mãe tem mais prazer, sente-se me-
nos sozinha e revela menos preocupação com o
estado de saúde do bebé (Gainer & Van Bonn,
1977).
Mesmo assim, Keinan e Hobfoll (1989, cit.
por Freitas, 2001), numa investigação realizada
também em Israel, sobre 31 mulheres primíparas
e 36 multíparas, casadas e com uma média de 27
anos de idade, verificaram que apenas as mães
mais dependentes e as mães primíparas revelam
menor tensão emocional, especificamente,
menor ansiedade e revolta, quando o marido está
presente durante o parto. Este estudo remete-nos
mais uma vez para a influência de factores rela-
cionados com as características individuais e
situacionais, a ter em conta quando nos repor-
tamos ao efeito geralmente benéfico de determi-
nadas condições de parto, neste caso a presença
do cônjuge durante o parto.
3.2. Tipo de parto
Tem havido um grande debate a propósito do
impacto da intervenção médica durante o parto,
nomeadamente na satisfação da mulher com o
parto, no seu bem-estar físico e emocional e na
relação que estabelece com o bebé no pós-parto,
sendo que os resultados dos estudos conduzidos
com o objectivo de avaliar esse mesmo impacto
são por vezes contraditórios. A diversidade de
resultados pode ficar a dever-se ao facto de as
mães não terem a mesma concepção que os mé-
dicos quanto ao que consideram intervenção
médica. Com efeito, as mães, por exemplo, dão
muita importância à episotomia que não é geral-
mente considerada uma intervenção médica
significativa e dão igual importância à cesariana,
ao fórceps e à analgesia epidural, enquanto que
os médicos dão muito mais importância à cesa-
riana (Clement, Wilson, & Sikorski, 1999).
Não obstante, a investigação realizada no
sentido de perceber a influência do tipo de parto
na experiência de parto e no estabelecimento da
relação com o bebé, tem vindo persistentemente
a assinalar que o tipo de parto interfere na expe-
riência da mulher e, consequentemente, na per-
cepção e satisfação com o parto, assim como no
estabelecimento da ligação inicial da mãe ao
bebé e nos cuidados que lhe dedica. Para além
dos efeitos benéficos que decorrem da possibili-
dade de a mãe entrar e permanecer em contacto
com o bebé logo a seguir ao parto, assinalados
nos estudos realizados nos anos 70 por Klaus e
Kennell1
, outros efeitos foram mais recentemente
206
1
Na investigação de Klaus e Kennell (1976), junto
das mães a quem o bebé não foi retirado e se permitiu
o contacto corporal com o bebé nos momentos que se
seguiram parto, verificou-se uma maior proximidade
observados, especificamente em consequência
do tipo de parto, como veremos de seguida.
O estudo do impacto do tipo de parto tem sido
alvo do interesse de vários investigadores, os
quais, como passamos a apresentar, verificaram
que geralmente as mulheres com um parto nor-
mal relatam maior satisfação, têm uma percep-
ção mais positiva do parto, assim como estabe-
lecem uma relação mais adequada com o bebé.
Marut e Mercer (1979), por exemplo, admi-
nistraram, 48 horas após o parto, a «Perception
of Birth Scale», com vista a avaliar as percep-
ções acerca da experiência de parto, em dois gru-
pos de mulheres primíparas norte-americanas
(N=50): 30 que tiveram um parto normal e 20
que tiveram um parto por cesariana.
Verificam que as mulheres com um parto nor-
mal percepcionam de forma muito mais positiva
a experiência de parto do que as mulheres que
foram sujeitas a uma cesariana, as quais, entre
outros aspectos, hesitam mais e demoram mais
tempo a dar um nome ao bebé, tendem a ver o
seu parto como não normal e a ter um estigma
social. No grupo das puérperas que fizeram uma
cesariana, observam que as que tiveram aneste-
sia local têm melhor percepção do parto do que
as que foram submetidas à anestesia geral, assim
como verificam que a presença de uma figura de
suporte durante o parto torna mais positiva a ex-
periência da mulher.
Estes autores concluem que a cesariana tem
um profundo impacto adverso sobre a percepção
e satisfação da mulher com o parto, o que se re-
percute nos sentimentos da mãe para com o be-
bé, sendo que a presença do pai e o sentimento
de participar na decisão tomada diminuem esse
impacto negativo. Consideram que a anestesia
geral não permite que a mulher se certifique do
que se está a passar e estabeleça de imediato
uma relação com o bebé, o que interfere nos sen-
timentos maternos para com o bebé que são
neste caso menos positivos.
Também Cranley et al. (1983) estudaram a
percepção e satisfação das mulheres sujeitas a
diferentes tipos de parto, tendo em conta o grau
em que participaram nessa decisão, o tipo de
anestesia no parto e a presença do marido. Para
esse efeito, avaliaram, entre o 2.º e o 4.º dia após
o parto, uma amostra de 122 mulheres, das quais
40 tiveram parto normal, 39 fizeram uma cesa-
riana de emergência e 43 uma cesariana planea-
da.
As respostas dadas no «Perception of Birth
Scale» (Marut & Mercer, 1979) e na «Leifer
Scale» (Leifer, 1977), mostram que as mulheres
que fizeram uma cesariana não planeada percep-
cionam mais negativamente a experiência de
parto, têm menor apetência por aleitar ao peito e
exibem menor envolvimento emocional com o
bebé do que as restantes, que tiveram um parto
normal ou uma cesariana planeada.
Mas este estudo evidencia também que a
satisfação com o parto depende da conjugação
de outros factores. Principalmente, da presença
de suporte emocional durante o parto – pois as
mulheres que foram acompanhadas por uma
pessoa significativa têm melhor percepção da ex-
periência de parto do que as que estiveram sozi-
nhas – e da participação da mulher nas decisões
relativas ao parto dado que as mães que sentiram
estar a participar na decisão quanto ao tipo de
parto mostram-se mais satisfeitas e com uma
percepção mais positiva do parto o que se veri-
ficou ainda mais no caso da cesariana planeada e
revela a importância de a mulher ser considerada
na decisão a tomar, sobretudo nesta última con-
dição. Por último, os resultados indicam ainda
que existe uma associação significativa entre a
satisfação da mulher com a experiência do parto
e a qualidade dos sentimentos que dirige ao bebé
durante a semana que se segue ao parto, sendo
que quanto maior é a satisfação da mãe, maior é
o seu envolvimento emocional positivo com o
bebé. Esta associação é particularmente marcada
para as mulheres que fizeram uma cesariana de
emergência.
Quando a mãe e o bebé ainda se encontram no
hospital e se observa a interacção entre eles, ve-
207
com o bebé um mês depois do parto, estratégias mais
eficazes de apaziguamento do mal-estar do bebé ao
ano de idade e mais estimulação verbal do bebé aos 2
anos de idade. Resultados semelhantes foram obtidos
em outros estudos realizados em diversos contextos
culturais (e.g., DeVries, Wellemans-Camus, & Lan-
deur-Heyrant, 1983; Windstrom, Wahlberg, Matthie-
sen, Eneroth, et al., 1990), designadamente no nosso
país (Gomes Pedro, 1982), e mostram a importância do
contacto imediato com o bebé na qualidade da inter-
acção e dos cuidados que a mãe providencia ao bebé
(para uma revisão ver Figueiredo, 2001).
rifica-se que as mães que fizeram uma cesariana,
passam menos tempo, cuidam menos, pegam
menos ao colo e interagem menos com o bebé,
em comparação com as mães que tiveram um
parto normal. Este resultado foi encontrado nos
seguintes estudos: Bradley, Ross, e Warnyca
(1983), que consideram 90 mães com parto nor-
mal e 25 mães que foram alvo de uma cesariana
não planeada; Tulman (1986), cuja amostra é
composta por 452 mães com parto normal e 36
mães com parto por cesariana; Cummins, Scrim-
shaw, e Engle (1988), que investigam 36 mães
que fizeram uma cesariana e um igual número de
mães com parto normal. Por sua vez, as mães
que tiveram uma cesariana avaliam menos posi-
tivamente o bebé e exibem menor envolvimento
emocional positivo com ele (Bradley et al.,
1983; Cranley et al., 1983; Cummins et al.,
1988; Garel, Lelong & Caminsky, 1987; Hwang,
1987), assim como aleitam menos ao peito o
bebé (Bradley et al., 1983; Cranley et al., 1983;
Cummins et al., 1988; Tulman, 1986).
Uma razão para estas evidências empíricas
pode ser o facto de, no caso de a mãe realizar
uma cesariana, ser habitualmente maior o espaço
de tempo que decorre entre o parto e o primeiro
contacto com o bebé, o que compromete a qua-
lidade da interacção e o envolvimento emocional
que pode ocorrer entre ambos (Kearney, Cronen-
wett, & Reinhart, 1990; Tulman, 1986).
No entanto, os efeitos do tipo de parto sobre a
qualidade da interacção mãe-bebé, observados
durante os primeiros dias, não parecem manter-
se em níveis estatisticamente significativos
quando a interacção mãe-bebé é avaliada mais
tarde no puerpério (e.g., Tulman, 1986); pois,
alguns estudos que observam a interacção mãe-
bebé quando a mãe e o bebé já regressaram a ca-
sa não verificam tais efeitos.
Gottlieb e Barrett (1986), por exemplo, não
encontram efeitos adversos decorrentes do tipo
de parto na qualidade da interacção mãe-bebé,
avaliada ao 2.º e 30.º dias do pós-parto, quando
compararam um grupo de 103 mães primíparas
que tiveram parto por cesariana com um grupo
de 103 mães primíparas que tiveram parto nor-
mal. Garel et al. (1988) também não verificam
diferenças significativas na qualidade da inter-
acção mãe-bebé, aos 2 e 12 meses depois do par-
to, num estudo que envolveu uma amostra de 34
mães que fizeram ou não uma cesariana. No en-
tanto, Pederson, Zaslow, Cain, e Anderson
(1981), num estudo sobre 17 mães com parto
normal e 6 mães que foram sujeitas a cesariana,
observam que as mães que tinham tido uma ce-
sariana providenciam menos estimulação táctil
ao bebé, numa observação realizada em casa, 5
meses depois do parto.
Em clara oposição com os resultados dos es-
tudos apresentados no parágrafo anterior, Field e
Windmayer (1980) verificam que, embora as
mães com parto por cesariana percepcionem de
forma mais negativa o trabalho de parto e o par-
to, 4 e 8 meses após o parto, estas mães per-
cepcionam de forma mais favorável o tempera-
mento e têm expectativas mais realistas acerca
do desenvolvimento dos seus filhos, do que as
mães que tiveram um parto normal.
DiMatteo, Morton, Lepper, Damush, Carney,
Pearson, e Kahn (1996) realizam uma extensa
revisão da literatura que inclui 358 artigos e
apresentam uma meta-análise sobre 74 estudos,
publicados entre 1979 e 1993, os quais exami-
nam as diferenças entre parto normal e parto por
cesariana, em termos das repercussões numa sé-
rie de 23 variáveis relativas à mãe e ao bebé.
Tendo em conta esses estudos, os autores
concluem que o parto por cesariana implica um
vasto conjunto de consequências adversas sobre
a mãe e o bebé. Os resultados mais robustos su-
gerem que as mães que fizeram uma cesariana,
sobretudo quando a cesariana não foi planeada,
quando são comparadas com as mães que tive-
ram um parto normal: estão menos satisfeitas
com a experiência de parto, quer no imediato
quer até 12 meses depois do parto; têm menos
probabilidade de vir a amamentar ao seio o bebé;
expressam uma reacção inicial menos positiva
para com o bebé, a qual se mantém 6 semanas
depois do parto; demoram mais tempo a interagir
pela primeira vez com o bebé; interagem menos
com o bebé em casa, por exemplo, providenciam
menos estimulação táctil, prestam menos cuida-
dos, e têm menos brincadeiras íntimas com o
bebé durante os seus primeiros 6 meses de vida.
As mães que tiveram parto normal têm ainda
menos probabilidade de vir a ter mais filhos. No
entanto, não foram observados efeitos do tipo de
parto em outras importantes variáveis, como se-
ja, nos níveis de stress no hospital e em casa, na
autoconfiança materna e na incidência de depres-
são pós-parto.
208
Tendo em conta os estudos apresentados até
ao momento, pode concluir-se que o tipo de par-
to tem efeitos claros sobre a percepção e satis-
fação da mulher com a experiência de parto e
efeitos menos claros sobre o bem-estar físico e
emocional da mãe e a qualidade da relação que
estabelece com o bebé. Para além disso, são mais
visíveis os efeitos imediatos do que os efeitos a
posteriori do tipo de parto sobre a qualidade da
interacção da mãe com o bebé; o mesmo sugere
que, como se verifica para o efeito de outras va-
riáveis, a título de exemplo, a prematuridade do
bebé (e.g., Alfasi, 1985; Crawford, 1982), os
efeitos adversos que decorrem do tipo de parto
podem vir a esbater-se com o tempo, à medida
que outros aspectos vão interferindo no processo
que determina a qualidade da interacção e dos
cuidados da mãe ao bebé.
A investigação conduzida neste domínio mos-
tra ainda que, de acordo com as práticas que são
definidas pela instituição, quanto mais a mãe
está envolvida e participa nas decisões relativas
ao parto e também nos cuidados a prestar ao be-
bé logo a seguir ao parto, melhor é a experiência
da mulher e a qualidade da interacção que esta-
belece com a criança (e.g., Devries, Wellemans-
-Camus, & Landeur-Heyrant, 1983).
Como pudemos verificar, na maior parte dos
estudos atrás apresentados, o parto por cesariana
pode ter um impacto negativo sobre a percepção
e satisfação da mulher com o parto, assim como
sobre outras dimensões que se referem ao ajus-
tamento emocional e à relação e cuidados com o
bebé. Os estudos acerca das consequências psi-
cossociais do parto por cesariana evidenciam que
este procedimento é susceptível não só de ate-
nuar a experiência de vida positiva de dar à luz,
como pode ainda implicar consequências psicos-
sociais negativas (Fisher, Stanley, & Burrows,
1990; Fraser, 1983; Oakley, 1983). Na cesariana,
a experiência cirúrgica potencialmente pertur-
badora do ponto de vista físico e psicológico,
justapõe-se com a experiência de dar à luz, o que
pode interferir nas tarefas psicológicas relativas
à transição bem sucedida para o papel parental
(DiMatteo et al., 1996). Por sua vez, os proce-
dimentos médicos, particularmente quando
acontecem de forma intrusiva, inesperada e sem
conhecimento da mulher, tal como se verifica
principalmente na cesariana não planeada, limi-
tam a capacidade da mãe para assimilar adequa-
damente a experiência a que é sujeita (Cranley et
al., 1983). Assim, quando uma cesariana acon-
tece, sobretudo no caso de não ter sido planeada,
existe um impacto adverso sobre a mulher, que
se verifica a nível físico e psicológico. A nível
psicológico, observa-se que a mãe está menos
satisfeita com o parto e com ela própria, assim
como vivencia um conjunto de sentimentos ne-
gativos de culpa e receio de ter falhado (Marut &
Mercer, 1979). Esta situação parece dificultar o
estabelecimento da vinculação da mãe ao bebé,
interferindo adversamente na qualidade da
relação e dos cuidados que estabelece com ele.
No entanto, três factores afectam esta circuns-
tância: o tipo de anestesia, a presença ou não de
uma figura de suporte, e o nível de controlo que
a mulher tem sobre a situação. Geralmente, a
percepção e satisfação com o parto, tanto quanto
os aspectos que decorrem ao nível da relação
com o bebé, aumentam quando a anestesia é ape-
nas local, nomeadamente porque permite um
contacto imediato com o bebé; quando pai está
presente, o que é sentido como uma fonte de pro-
tecção e de suporte (Marut & Mercer, 1979; Gai-
ner & Van Bonn, 1977); e quando é maior o sen-
timento de controlo da mãe sobre a situação
(Cranley et al., 1983).
O número de cesarianas que é hoje em dia
praticado corresponde a um aumento de 25% em
relação ao número de há 20 anos a esta data. Es-
te aumento nem sempre se ficou a dever a pro-
blemas atribuíveis a mãe ou ao bebé, pelo que os
autores consideram que as implicações físicas e
psicológicas, bem como os benefícios e riscos,
desta ou de qualquer outra alternativa em termos
de tipo de parto, devem ser considerados na de-
cisão a tomar (DiMatteo et al., 1996). Por sua
vez, quando a decisão de realizar uma cesariana
tem mesmo que ser tomada, importa atender a
um conjunto de circunstâncias psicológicas, no
sentido de atenuar o impacto negativo que pode
ter sobre o bem-estar da mãe. Principalmente, é
de valorizar a preparação da mãe para a possibi-
lidade de uma cesariana, aumentando a sua
participação na decisão a tomar e, por conse-
guinte, a sua satisfação com o parto, assim co-
mo, durante o puerpério, é de valorizar o seu
acompanhamento, com vista à promoção do
aleitamento materno que neste caso se verifica
com menor frequência (DiMatteo et al., 1996).
Cranley et al. (1983), por exemplo, alertam
209
particularmente para a necessidade de reformular
a preparação para o parto, de modo a que seja
considerada a cesariana, dada a elevada taxa com
que hoje em dia este tipo de parto é praticado.
Alertam ainda para a necessidade de, no caso de
uma cesariana se justificar, explicar com a maior
antecedência possível a situação e preparar devi-
damente a mãe para o que vai acontecer, procu-
rando minimizar a interferência negativa desta
circunstância sobre a satisfação com o parto, e,
por consequência, sobre o envolvimento emocio-
nal e a qualidade dos cuidados prestados ao be-
bé.
Os recentes avanços da tecnologia obstétrica
asseguraram que a mortalidade e a morbilidade
peri-natal materna e infantil seja praticamente
inexistente nos dias de hoje; porém, colocam um
elevado número de novas exigências, físicas e
psicológicas, a todos os intervenientes no pro-
cesso. Por sua vez, a preparação para o parto tem
sido uma das áreas privilegiadas da intervenção
do psicólogo em contextos de saúde. No entanto,
continua a existir um significativo hiato entre as
expectativas e valores das mães e as novas for-
mas de parto. Muitas mulheres não têm qualquer
conhecimento das opções que dispõem para o
parto, nomeadamente não sabem que podem es-
colher uma anestesia epidural, bem como desco-
nhecem por completo o impacto que cada uma
destas opções pode ter na sua experiência física e
psicológica (Cranley et al., 1983). Isto é tanto
mais importante quando se sabe que o maior co-
nhecimento da mãe quanto ao processo de parto
garante o seu melhor ajustamento psicológico a
este acontecimento.
3.3. Dor no parto
O medo é a resposta mais prevalecente quan-
do as mulheres são questionadas acerca da expe-
riência de parto, este medo refere-se sobretudo à
dor que podem vir a experimentar durante o par-
to, assim como ao bem-estar e sobrevivência da
mãe e do bebé (Matthews, 1964). A dor parece
ser uma experiência reconhecida como intrínseca
e esperada durante o parto em todas as socie-
dades. No entanto, a importância que é dada à
dor varia de sociedade para sociedade, sendo que
em algumas sociedades, como por exemplo na
Suécia, a experiência de dor é valorizada assim
como são considerados os meios existentes para
reduzir a dor no parto. Noutras sociedades, como
por exemplo nos EUA e na Alemanha, a dor é
considerada como algo natural, sendo portanto
minimizada a necessidade de interferir sobre
este fenómeno (Lozoff et al., 1988).
A dor experimentada durante o parto não é
facilmente esquecida e algumas mulheres relem-
bram muitas vezes a dor intensa que sentiram,
como se de uma situação traumática se tratasse,
o que impede algumas delas de voltar a engra-
vidar (Niven, 1988). A resposta de dor aquando
do parto verifica-se, mesmo quando as mulheres
são sujeitas a programas de preparação para o
parto que visam reduzir essa circunstância (ver
Wideman & Singer, 1984, para uma revisão) ou
quando receberam analgésicos durante o traba-
lho de parto (Niven, 1988). Para além disso, uma
experiência de parto dolorosa e complicada pode
levar a problemas psicológicos adicionais no
pós-parto, tais como distúrbios emocionais, pro-
blemas na amamentação e uma necessidade extra
de ajuda prática em casa após a alta do hospital
(Almgreen et al., 1972; cit. por Thune-Larsen &
Pedersen, 1988), interferindo também de forma
muito adversa na disposição positiva da mulher
para se envolver emocionalmente com o bebé.
Robson e Kumar (1980), por exemplo, verifica-
ram que o envolvimento emocional da mãe com
o bebé é significativamente mais demorado
quando o parto é muito doloroso.
No estudo de Niven (1988), a dor sentida du-
rante o trabalho de parto e o parto é avaliada nu-
ma amostra de 33 mulheres, das quais 17 são pri-
míparas e 16 são multíparas. A administração do
«McGill Pain Questionnaire» (MPQ, Melzack,
1975) e da «Visual Analogue Scale» (VAS, Scott
& Huskisson, 1976) permitiu estimar a percep-
ção da intensidade da dor, em duas ocasiões dis-
tintas: na fase activa do primeiro estádio do tra-
balho de parto, e novamente, entre as 24 e as 48
horas que se seguiram ao parto. Três a quatro
anos depois, as mães foram reavaliadas com re-
curso aos mesmos instrumentos quanto à dor que
lembram ter experimentado durante o parto.
Os resultados mostram que apenas duas par-
ticipantes nunca mais pensaram espontaneamen-
te na dor que tiveram no parto; enquanto que a
generalidade das mães pensou novamente na
dor que teve no parto (85%): uma participante
pensou com muita frequência, onze pensaram
210
com bastante frequência, nove pensaram de vez
em quando e dez pensaram muito raramente.
Os resultados mostram ainda que todas as
mães, passados três a quatro anos, estão capazes
de recordar o parto e de completar as escalas da
avaliação da dor, sendo que a memória da expe-
riência de parto é bastante exacta e correlaciona-
se altamente com o relato que se fez na altura do
parto. A lembrança da dor sentida durante o par-
to gerou ansiedade e mal-estar em 20% das mu-
lheres do estudo, sobretudo nos casos em que é
extrema a dor relatada na altura do parto. A
maior parte das mulheres que tiveram outra ex-
periência de parto nos 3-4 anos que decorreram
até à realização do follow-up relata que pensou
na sua experiência prévia de parto por ocasião do
parto mais recente.
As mães que experienciaram níveis mais
elevados de dor durante o parto tendiam a ter ex-
pectativas irrealistas a respeito do parto e tende-
ram menos a ter mais filhos depois desse parto.
Mesmo assim, a maioria das participantes re-
conhece que a sua experiência de dor durante o
parto deu também lugar a algumas consequên-
cias positivas, aumentando a sua capacidade pa-
ra lidar com situações de stress e de dor.
Por sua vez, Algom e Lubel (1994) avaliam
durante o parto a acuidade da percepção da dor
associada às contracções uterinas, bem como
avaliam a acuidade da memória da dor associada
a estas mesmas contracções, depois do parto. Pa-
ra esse efeito, procedem à monitorização do pa-
drão de contracções uterinas ao longo do parto e,
através de uma elaboração matemática, chegam
ao nível de dor susceptível de estar associado a
cada contracção. As 69 participantes no estudo
(primíparas e multíparas) são levadas a estimar a
dor associada às contracções uterinas, quer du-
rante o parto (julgamento perceptivo), quer 8, 24
e 48 horas após o parto (julgamento memorati-
vo).
Estes investigadores observam que durante o
parto as puérperas têm uma correcta apreciação
da intensidade da dor associada a cada contrac-
ção que vai acontecendo, dado que esta avalia-
ção foi funcionalmente relacionada com a ma-
gnitude da contracção objectivamente medida
pelos seus parâmetros biométricos. Verificam
ainda que a experiência de dor relatada através
da memória é bastante semelhante à experiência
perceptiva e espelha da mesma forma os dados
fisiológicos de intensidade da contracção uterina.
No entanto, a experiência de dor associada a ca-
da contracção uterina é maior quando relatada de
memória do que no momento em que é sentida.
Embora a dor de parto continue a ser uma das
maiores causas de ansiedade para a maior parte
das grávidas, tem-se verificado que nem todas as
parturientes recorrem a fármacos analgésicos
durante o parto. Alguns estudos foram realizados
no sentido de perceber os factores que estão na
origem desta opção. Nieland e Roger (1983), por
exemplo, procuraram estimar a importância das
variáveis de personalidade da grávida no recurso
a analgesia durante parto. Para esse efeito, admi-
nistram o Eysenck Personality Inventory (EPI,
Eysenck & Eysenck, 1964) e o Emotion Control
Questionnaire (ECQ, Roger & Nesshoever,
1987; Roger & Najarian, 1989) a uma amostra
de 55 mulheres. Estes autores verificaram que as
grávidas que cotam mais elevado nas escalas de
hipocondria e ruminação recorrem significativa-
mente mais a analgesia durante o parto, mostran-
do a interferência de dimensões individuais na
dor e capacidade para lidar com a dor de parto.
Podemos portanto concluir que a maior parte
das mulheres espera vir a sentir e sente dor por
ocasião do parto, sendo que a dor é uma das di-
mensões mais preponderantes da experiência de
parto (Leventhal, Leventhal, Shacham, & Easter-
ling, 1989), a qual não parece diminuir conside-
ravelmente em função das técnicas de controlo
de dor que têm sido usadas (Wideman & Singer,
1984). Tendo em conta os estudos que apresentá-
mos importa também concluir que as mulheres
avaliam correctamente e lembram-se com acui-
dade da dor que sentiram durante o parto (e.g.,
Algom & Lubel, 1994), assim como importa
concluir que a dor durante o parto é um dos ele-
mentos que mais negativamente interfere na
experiência de parto da mulher, condicionando
adversamente a sua disponibilidade para se en-
volver emocionalmente com o bebé (Robson &
Kumar, 1980) e para voltar a engravidar (Niven,
1988).
3.3.1. Técnicas de controlo da dor no parto
O parto é assim uma experiência difícil para a
grande maioria das mulheres. À medida que o
parto se desenrola, geralmente a parturiente sen-
te mais dor, mais emoções negativas e mais
211
cansaço, embora sinta menos energia e menos
emoções positivas (Leventhal et al., 1989).
O desejo de reduzir a ansiedade e o mal-estar
associado ao parto conduziu ao desenvolvimento
de diferentes métodos de preparação para o par-
to, os quais, no entanto, não foram ainda sufici-
entemente validados. Nesse sentido, Leventhal et
al. (1989) procuraram testar, sobre uma amostra
de 89 mulheres com gravidez normal (a quase
totalidade tinha formação académica de nível su-
perior e estava empregada), o efeito da instrução
de monitorização das contracções durante o tra-
balho de parto, na dor sentida e no estado emo-
cional da mulher durante o parto. A quando da
sua admissão no serviço de obstetrícia, as par-
ticipantes foram distribuídas aleatoriamente por
quatro grupos: o primeiro e segundo grupo assis-
tiu a aulas de preparação para o parto (LaMaze),
sendo que algumas grávidas foram e outras não
foram instruídas para atender a aspectos espe-
cíficos das contracções e para monitorizar cuida-
dosamente o trabalho de parto e as sensações as-
sociadas; o terceiro e quarto grupo não assistiu a
aulas de preparação para o parto (LaMaze), sen-
do que a algumas grávidas foram e a outras não
foram dadas sugestões de distracção para lidar
com as contracções de parto.
Seguidamente, os autores avaliam, o tempo e
a progressão no trabalho de parto, o tipo e a
frequência de medicação para as dores e as com-
plicações obstétricas; assim como, consideram o
estado neo-natal e os índices de apgar dos bebés
das participantes no estudo. As mães foram ain-
da entrevistadas, 8 a 18 horas depois do parto, no
que se refere à experiência de parto (nomeada-
mente, relativa à primeira fase, à fase de tran-
sição e à fase expulsiva do parto) e ao estado de
humor, avaliado através de uma checklist de 15
itens organizados em 7 medidas: dor, raiva, me-
do, cansaço, energia, tristeza, humor positivo.
Estes autores observam que, à medida que o
trabalho de parto progride, que as contracções
aumentam de intensidade e que a dilatação se
torna maior, as mulheres relatam cada vez mais
dor, raiva, medo, tristeza e cansaço e cada vez
menos energia e emoções positivas.
Verificam um efeito geral positivo da fre-
quência das aulas de preparação para o parto e
da monitorização das contracções durante o
parto, pois as mulheres pertencentes a estes gru-
pos apresentam uma diminuição da dor e das
emoções negativas durante a fase activa do
parto, que não foi observada no grupo de contro-
lo. Mais especificamente, as mulheres que fre-
quentaram as aulas reportam mais energia na
fase 1, menos dor na fase 2, e menos medo, me-
nos cansaço, menos tristeza em geral, pelo que
os autores concluem que a preparação para o
parto ajuda a mãe a formar expectativas realistas
em relação ao parto e gera um sentimento de se-
gurança que reduz a dor e o mal-estar inicial e
beneficia emoções positivas na finalização do
parto.
Verificam ainda um efeito específico das ins-
truções de monitorização das contracções, pois
observam que o grupo que fez monitorização de-
monstra menos dor e raiva e mais emoções po-
sitivas, principalmente na fase expulsiva. Nesta
fase, as contracções são menos dolorosas e por
isso induzem menos raiva se a mãe monitorizou
as suas contracções e está capaz de assistir ao
processo de forma eficiente. As mulheres que
realizaram a monitorização e que foram às aulas
reportam reduções substanciais no nível de mal-
-estar durante o trabalho de parto e são mais ca-
pazes de coordenar a respiração com as contrac-
ções e a sua participação no parto.
No entanto, a frequência das aulas tem efeitos
mais vastos e mais consistentes do que as instru-
ções de monitorização. Os autores concluem as-
sim que, quer a instrução para monitorizar, quer
as aulas de preparação, facilitam a participação
activa da mulher e diminuem o mal estar e a dor
que possa sentir na fase activa do parto, as clas-
ses podem ainda ter um papel importante na for-
mação de expectativas realistas, beneficiando a
energia e o humor positivo principalmente no fi-
nal do parto. No entanto, não foram observados
efeitos significativos em nenhuma das restantes
variáveis consideradas.
Manning e Wright (1983) estudaram igual-
mente o efeito de uma série de variáveis suscep-
tíveis de interferir no controlo da dor durante o
parto, numa amostra de 52 mulheres primíparas,
com idades compreendidas entre os 19 e os 36,
que frequentam aulas de preparação para o parto.
Diversas variáveis foram consideradas neste
estudo: variáveis de auto-eficácia – por exemplo,
expectativas de auto-eficácia no controlo da dor,
expectativas quanto ao resultado e importância
do controlo da dor e de ter um trabalho de parto
e parto sem analgésicos; variáveis individuais –
212
tais como, o locus de controlo (medido através
da Escala de Locus de controlo de Rotter, 1966)
e a desejabilidade social (avaliada com a Escala
de Desejabilidade Social de Marlowe-Crowne,
1960); variáveis de preparação para o parto – tais
como, o treino de controlo da dor e a experiência
no controlo da dor; e variáveis relativas ao parto
– tempo de trabalho de parto e tipo de parto. Os
dados foram recolhidos na semana que seguiu a
última aula de preparação para o parto (1.ª fase),
na fase inicial do parto (2.ª fase) e alguns dias
após o parto (3.ª fase).
Estes autores observam que as expectativas de
auto-eficácia da mulher, nomeadamente as suas
expectativas positivas quanto à importância de
controlar a dor e quanto ao facto de conseguir
controlar a dor, predizem melhor a sua persistên-
cia no controlo da dor sem recorrer a medicação
(percentagem de tempo no trabalho de parto
sem analgésicos), do que qualquer uma outra das
variáveis consideradas no estudo. Observam que
as expectativas de auto-eficácia da mulher con-
tribuem mais para explicar a persistência no
controlo da dor do que as expectativas quanto ao
resultado ou importância de controlar a dor. As-
sim sendo, assinalam a importância de imple-
mentar as expectativas de auto-eficácia nos pro-
gramas de preparação para o parto, variável que
pode interferir no sucesso dos mesmos, quando
se considera o seu efeito sobre a dor associada
ao parto.
3.3.2 Analgesia de parto pelo método epidural
A analgesia de parto pelo método epidural
teve o seu início nos anos 60 (Walker & O’Brien,
1999). É a técnica mais difundida, mais indicada
e mais usada de analgesia local com vista à
redução da dor e compreende a administração de
anestésicos por via epidural. Esta técnica cons-
titui o melhor método para possibilitar um maior
bem-estar fetal e neonatal e para aliviar a dor
materna, sem risco de depressão cardiorrespira-
tória para o recém nascido, corrigindo, em situa-
ções de hipertensão materna, o vasoespasmo
das artérias uterinas (Direcção Geral de Saúde,
2001). Embora considerada por muitos como
«opção de ouro» para reduzir a dor no parto, os
seus riscos têm sido também largamente debati-
dos (Walker & O’Brien, 1999). De facto, alguns
estudos apontam que esta anestesia pode inter-
ferir negativamente no progresso normal do
parto em algumas pacientes, aumentando o risco
de parto por cesariana, que, para além de impli-
car mais custos, aumenta também o risco de
mortalidade e morbilidade materna. No entanto,
outras investigações com amostras randomizadas
têm vindo a sugerir que o uso de analgesia epi-
dural não aumenta o risco de parto por cesariana
(Chestnut, 1999).
Como veremos de seguida, há ainda estudos
que problematizam o efeito da analgesia de
parto pelo método epidural sobre o comporta-
mento neonatal do bebé e, por consequência, na
sua disposição para interagir com a mãe.
Apesar da controvérsia existente acerca da
analgesia epidural, este é actualmente conside-
rado o método mais eficaz no alívio da dor de
parto. O alívio da dor durante o trabalho de parto
ajuda a evitar a sua descoordenação, bem como a
diminuição do fluxo de sangue uterino, os quais
condicionam prejuízos na reserva de oxigénio da
placenta; mais ainda, a analgesia contribui para a
melhoria da oxigenação fetal (Direcção Geral da
Saúde, 2001). Outros estudos, por sua vez, mos-
tram que a satisfação da mulher com o parto é
maior no caso de ter tido uma analgesia de parto
pelo método epidural.
Paech (1991), por exemplo, verificou que o
alívio da dor e a satisfação com a experiência de
parto eram maiores nas mulheres que optaram
pela anestesia epidural. Neste estudo os autores
utilizaram uma amostra de 1000 pacientes que
escolheram uma variedade de técnicas de analge-
sia para o parto normal, incluindo métodos não
farmacológicos, estimulação eléctrica dos nervos
transcutâneos, meperidina intramuscular, inala-
ção de óxido nitroso, anestesia epidural ou uma
combinação destes métodos. De igual forma, ou-
tros estudos que comparam a anestesia epidural
com meperidina intramuscular e/ou inalação de
óxido nitroso, mostram que os níveis de dor são
menores e as pacientes sentem-se mais satisfeitas
com a anestesia epidural (Glosten, 1999).
Para além disso, a investigação têm vindo a
comprovar que as mulheres que recebem anes-
tesia local têm uma percepção mais positiva e
uma satisfação maior com o parto do que as que
recebem anestesia geral. Tal verifica-se, pelo
menos em parte, na medida em que a anestesia
local garante um conjunto de condições que be-
neficiam que o parto se processe de uma forma
213
que está mais de acordo com as expectativas da
mulher e possibilita a relação imediata com o be-
bé.
No entanto, os estudos que atenderam a qua-
lidade da relação e dos cuidados que são ofereci-
dos ao bebé pelas mães que foram objecto de
analgesia epidural, não oferecem uma visão tão
positiva do problema.
Muhlen, Pryke, e Wade (1986), por exemplo,
estudam o efeito do tipo de parto (parto normal,
estimulado, induzido, e por cesariana) e da anes-
tesia epidural sobre o comportamento neo-natal
do bebé. Uma amostra de 106 bebés é avaliada,
através da Escala de Avaliação do Comporta-
mento Neo-natal de Brazelton (Neonatal Beha-
vioral Assessment Scale, NBAS), no 1.º, 5.º e
28.º dias de vida. As mães são todas primíparas,
têm idades entre os 18 e os 44 anos e são predo-
minantemente de classe média. Os resultados
mostram que as maiores diferenças, observadas
no comportamento neo-natal dos bebés, se devem
à analgesia epidural e não ao tipo de parto. Os
bebés das mães que receberam analgesia epidu-
ral de parto exibem aos 28 dias resultados signi-
ficativamente mais baixos nas seguintes escalas
do NBAS: processos motores e resposta ao
stress. A desorganização que observam no com-
portamento do bebé, na opinião dos referidos
autores, em consequência da analgesia epidural,
pode perturbar a relação com a mãe, o que deve-
ria ser considerado quando a decisão de analge-
sia epidural é tomada. Consideram ainda neces-
sário desenvolver drogas de baixa toxicidade e
técnicas para remover a dor que não recorram a
medicação.
Estes resultados foram mais recentemente re-
plicados por Sepkoski, Lester, Ostheimer, e Bra-
zelton (1992). Estes investigadores quiseram de
igual forma estudar o efeito da analgesia epidu-
ral de parto sobre o comportamento neo-natal do
bebé, durante o primeiro mês de vida. Nesse sen-
tido, avaliam através da NBAS, administrada no
1.º, 3.º, 7.º e 28.º dias, 20 bebés que nasceram de
um parto com anestesia epidural e 20 bebés cujas
mães não foram medicadas durante o parto. Veri-
ficam que os bebés cujas mães tinham feito uma
anestesia epidural exibem um pior desempenho
na escala (e isso, sobretudo no respeitante à
resposta de orientação e ao desenvolvimento
motor) do que os bebés cujas mães não tinham
sido sujeitas a intervenção anestésica. Conside-
ram então que os efeitos encontrados – da anes-
tesia epidural materna sobre o comportamento
neo-natal do bebé – são susceptíveis de desorga-
nizar, e, nesse sentido, de afectar negativamente,
a interacção precoce mãe-bebé.
Também mais recentemente, Walker e O’Brien
(1999) pretenderam avaliar o efeito da analgesia
de parto pelo método epidural sobre um conjunto
de dimensões do trabalho de parto e o estado
neo-natal do bebé. Para esse efeito, analisaram
os processos médicos de 233 parturientes primí-
paras, com idades entre os 14 e os 39 anos.
Quando comparam o grupo de mulheres que teve
com o grupo de mulheres que não teve analgesia
epidural de parto, observaram um maior número
de partos instrumentais e um maior número de
cesarianas no primeiro grupo. Para além disso,
no grupo com analgesia epidural, a segunda fase
do trabalho de parto foi significativamente mais
longa do que no grupo sem epidural. Por sua
vez, os índices de apgar do bebé ao 1.º e 5.º mi-
nutos são significativamente menos elevados no
grupo com epidural do que no grupo sem epidu-
ral; mas também significativamente menos ele-
vados no grupo em que a epidural foi adminis-
trada mais cedo (dilatação inferior a 5 cm) do
que nos restantes grupos, em que a epidural foi
administrada mais tarde (dilatação superior a 5
cm) ou não foi administrada.
4. CONCLUSÃO
Ao longo deste artigo, os autores procuraram
descrever a experiência de parto, bem como os
factores que interferem na experiência de parto
da mulher. Partindo das circunstâncias sociais e
culturais que determinam muito do que acontece
por altura do parto, os autores pretenderam re-
latar o que a investigação mostra ser hoje o parto
para a generalidade das mulheres.
Os estudos mostram que as mulheres tendem
espontaneamente a falar mais da gravidez do que
do parto, embora o momento em que viram o be-
bé pela primeira vez seja muito significativo do
ponto de vista emocional para a maior parte de-
las (e.g., Lee, 1995). Geralmente referem o parto
como uma experiência difícil, pautada pela dor,
medo, e emocionalidade negativa (e.g., Thune-
Larsen & Pedersen, 1988), e têm no momento
uma apreciação correcta e mais tarde uma me-
214
mória precisa do que aconteceu (e.g., Algom &
Lubel, 1994). A dor no parto, por exemplo, é
correctamente avaliada e é um dos elementos
mais recordado, sendo também correctamente
memorizada pela maior parte das mulheres. A
dor no parto interfere muito significativamente
na qualidade da experiência da mulher (e.g.,
Paech, 1991), assim como na sua disponibilidade
para voltar a engravidar (e.g., Niven, 1988) e
para se envolver emocionalmente com o bebé
(e.g., Robson & Kumar, 1980), sendo por conse-
quência uma das dimensões a privilegiar na in-
vestigação e na prática psicológica.
Para além da dor, neste artigo os autores pro-
curaram analisar outros factores relativos às cir-
cunstâncias de parto que muito determinam a
qualidade da experiência da mulher (nomeada-
mente a sua percepção positiva e satisfação com
o parto) e que, por consequência, mais interfe-
rem no estado emocional da mulher e na qualida-
de da relação que estabelece com o bebé. Muito
embora existam diferenças individuais que de-
vem sempre ser consideradas, da revisão da lite-
ratura apresentada pode concluir-se que, a expe-
riência de parto é positivamente afectada, no que
se refere à percepção e satisfação da mulher,
pelas seguintes condições: presença de uma pes-
soa significativa (e.g., Cranley et al., 1983);
parto normal e não por cesariana (DiMatteo et
al., 1996); anestesia apenas local e não geral, no
caso do parto por cesariana (e.g., Marut & Mer-
cer, 1979); participação activa nas decisões rela-
tivas ao parto (e.g., Cranley et al., 1983) e no tra-
balho de parto (Leventhal et al., 1989); parto
sem dor, tal como se verifica, por exemplo, na
sequência de analgesia pelo método epidural
(e.g., Glosten, 1999). Todas e cada uma das
circunstâncias atrás enunciadas favorecem ainda
o estado emocional da mulher durante o pós-par-
to e, em geral, beneficiam a qualidade da relação
e dos cuidados que a mãe presta ao bebé (e.g.,
Kearney et al., 1990). Nesse sentido, a investi-
gação aponta que são estas as condições que a
intervenção psicológica deverá geralmente favo-
recer para possibilitar que a mulher tenha uma
experiência de parto mais positiva, que propicie
o seu bem estar e o do bebé durante o puerpério.
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early suckling and touch of the nipple on maternal
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RESUMO
Neste artigo os autores começam por fazer uma
breve explanação da diversidade cultural na concepção
do parto e das consequências que advêm desta diver-
sidade, quer em termos dos métodos utilizados, quer
em termos da experiência de parto proporcionada à
mulher. Seguidamente, apresentam uma revisão teóri-
ca e empírica dos estudos que investigam a experiên-
cia de parto, tal como é geralmente descrita pela mu-
lher, nomeadamente, os acontecimentos tidos como
mais significativos durante o gravidez e parto. Final-
mente, analisam alguns dos factores susceptíveis de
influenciar a experiência de parto, o comportamento
neonatal e o estabelecimento da relação mãe-bebé,
dando particular atenção ao suporte emocional durante
o parto, ao tipo de parto, à preparação e participação
no parto e à dor associada ao parto. São ainda pro-
postas algumas sugestões de intervenção, no âmbito da
Psicologia da Saúde, no sentido de promover e benefi-
ciar positivamente a experiência de parto da mulher.
Palavras-chave: Experiência de parto, tipo de par-
to, dor, analgesia epidural, comportamento neonatal.
ABSTRACT
In this article, the authors present a brief explana-
tion of cultural diversity concerning childbirth and it’s
consequences regarding methods of delivery and wo-
men’s experiences. They also present a conceptual and
empiric framework, attending to the studies about
childbirth experience as it is usually described by wo-
men, namely, the most important events regarding
pregnancy and labor. Finally, they analyse some varia-
bles that might influence childbirth experience, neo-
natal behaviour and mother-infant relationship, such
as: preparation for labour and delivery, emotional
support, participation and pain during labour and deli-
very as well as method of delivery. Some Health Psy-
chology suggestions of intervention are given, to pro-
mote and benefit positively the childbirth experience.
Key words: Childbirth experience, method of deli-
very, pain, epidural anaesthesia, neonatal behaviour.
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Experiência de parto

  • 1. 1. ENQUADRAMENTO SOCIAL E CULTURAL «Childbirth is an intimate and complex transaction whose topic is physiological and whose language is cultural. Neither element is available without the other» (Lozoff, Jordan, & Malone, 1988, p. 37). Na maior parte das sociedades, considera-se que o parto e o pós-parto imediato são períodos de risco para a mãe e o bebé, pelo que se produ- ziu um sistema de crenças e de práticas bastante uniformes e ritualizadas, para lidar com o perigo e a incerteza ligados ao parto. Este sistema espe- cifica a forma de enfrentar os aspectos psicoló- gicos e sociais do parto, pelo que, embora as prá- ticas relativas ao parto sejam bastante distintas entre culturas, não são grandes as variações sus- ceptíveis de serem observadas no quadro de uma mesma cultura. A visão do parto, nomeadamente enquanto fe- nómeno natural ou médico, varia muito de cultu- ra para cultura, assim como varia o lugar que é dado à dor neste processo. A forma como o parto é considerado determina muitas outras diferen- ças que são também observadas, inclusive nas sociedades ocidentais (por exemplo, entre os EUA, a Alemanha, a Holanda e a Suécia), em importantes aspectos do parto – como seja, no tipo de preparação, local (casa ou hospital), pes- soas que assistem e que estão envolvidas (técni- cos ou pessoas significativas), recurso à tecnolo- gia médica e à medicação e participação da mu- lher nas decisões a tomar (Lozoff et al., 1988) – fazendo com que a experiência de parto seja cul- turalmente determinada. Para além disso, como veremos ao longo deste artigo, a visão acerca do modo como o parto deve decorrer mudou radi- calmente nos últimos tempos, o que igualmente se traduziu em mudanças muito significativas nos aspectos acima assinalados (Figueiredo, 2000). Mesmo assim, em todas as sociedades, inclu- sivamente nas não industrializadas, existe eleva- da preocupação com a dor e a morte associadas ao parto, dimensões que são sempre reconheci- 203 Análise Psicológica (2002), 2 (XX): 203-217 Experiência de parto: Alguns factores e consequências associadas (*) BÁRBARA FIGUEIREDO (**) RAQUEL COSTA (**) ALEXANDRA PACHECO (**) (*) Este estudo foi desenvolvido com o apoio do Serviço de Saúde e Desenvolvimento Humano da Fundação Calouste Gulbenkian. (**) Departamento de Psicologia da Universidade do Minho. Maternidade Júlio Dinis (Porto).
  • 2. das como integrantes da experiência de parto (Lozoff et al., 1988). Em função disso, todas as sociedades procuraram produzir métodos com vista à redução da dor e do perigo de morte en- volvidos no parto. Em Portugal, por exemplo, o Plano Nacional de Luta Contra a Dor da Direcção Geral de Saúde contempla especificamente a dor de parto. Este documento recomenda a utilização de anes- tesia epidural e aponta a necessidade de informar as futuras mães acerca desta técnica, no sentido de proporcionar uma escolha consciente. Apre- senta ainda as vantagens e riscos da analgesia epidural e dá indicações particulares para a sua utilização. Considera que «a analgesia do parto, adquire contornos de um direito universal, ao qual todas as mulheres devem ter igualdade de acesso, o que pressupõe, por parte destas, infor- mação detalhada e direito de opção consciente perante este acontecimento tão importante» (Di- recção Geral de Saúde, 2001). 2. A EXPERIÊNCIA DE PARTO A maior parte das mães descreve um mesmo conjunto de acontecimentos, que são específicos, a propósito da sua experiência de gravidez e parto. No entanto, se as mães tendem a falar da sua vivência de gravidez, o parto em si, geral- mente considerado como uma experiência difícil, não parece ser um acontecimento que esponta- neamente apontem como importante, embora o momento em que contactam pela primeira vez com o bebé seja referido como significativo por quase todas as mães. Lee (1995), por exemplo, conduziu um pri- meiro estudo sobre uma amostra de 36 mulheres (80% caucasianas, 20% afro-americanas), primí- paras (42%) e multíparas (58%), com idades en- tre os 18 e os 41 anos, as quais foram entrevis- tadas acerca da sua experiência de gravidez e parto, durante o primeiro ano do puerpério. Os resultados desta investigação mostram que, embora alguns acontecimentos sejam referidos por apenas algumas mães, existe uma concordân- cia substancial nos seguintes oitos aspectos, assi- nalados como os mais importantes acontecimen- tos da gravidez por uma elevada percentagem de sujeitos da amostra: saber que está grávida (100%), dizer que está grávida (100%), sentir os movimentos do bebé (100%), comprar roupas de grávida (100%), realizar testes pré-natais (ultra- sons e amniocentese) e receber os resultados dos mesmos (92%), frequentar aulas de preparação para o parto (84%), ruptura das membranas (92%), ver o bebé pela primeira vez (100%). Es- te investigador salienta que apenas algumas mães falam do parto (17%), e um reduzido nú- mero (8%) refere os aspectos negativos da expe- riência de parto (tais como, a longa duração e o desconforto sentido). Numa segunda fase deste mesmo estudo, Lee realiza uma entrevista estruturada a uma amostra de 63 mulheres (82% caucasianas, 18% afro- americanas), primíparas (49%) e multíparas (51%), com idades entre os 20 e os 45 anos. Com base nesta entrevista concluiu que os acon- tecimentos seleccionados na fase anterior podem realmente ser considerados significativos para a grande parte das mulheres, mesmo que alguns sejam mais significativos que outros, em termos do seu impacto emocional. Por ordem decrescen- te de importância, os acontecimentos foram or- denados do seguinte modo pelas participantes no estudo, no que se refere à primeira gravidez: ver o bebé pela primeira vez, saber que está grávida, realizar testes pré-natais (ultra-sons e amniocen- tese) e receber os resultados dos mesmos, sentir os movimentos do bebé, ruptura das membranas, dizer que está grávida, comprar roupas de grávi- da, frequentar aulas de preparação para o parto. Ligeiras diferenças na ordenação foram contudo observadas quando as mães foram inquiridas no que se refere à sua segunda gravidez. O autor considera que, tendo em conta o seu impacto emocional, os acontecimentos assinalados refe- rem-se aos mais importantes marcos dos proces- sos psicológicos relativos à gravidez e ao parto. No que diz mais propriamente respeito ao par- to, que é o principal alvo do nosso interesse, a maior parte das vezes a experiência de parto é, sob diversos aspectos, relatada como uma expe- riência difícil, sendo que quanto mais difícil é a experiência de parto pior é o ajustamento emo- cional da mulher no puerpério, assim como me- nos adequada a relação que estabelece com o be- bé. Thune-Larsen e Pedersen (1988), por exem- plo, estudaram a experiência de parto numa amostra heterogénea de 161 mulheres noruegue- sas: casadas (86%), a viver em regime coabita- 204
  • 3. ção (12%), ou solteiras (2%), primíparas (39%) ou multíparas (61%). No dia seguinte ao parto, entrevistam as mães no que se refere à dificul- dade, dor, ansiedade, perda de controlo, confusão e emoções sentidas durante o parto, bem como à cooperação com o companheiro e com a equipa médica. Mais tarde, no 5.º dia após o parto, as participantes foram novamente entrevistadas (por exemplo, quanto à relação com o bebé) e uma avaliação global do seu funcionamento emocional foi efectuada. Os resultados obtidos neste estudo mostram que a maior parte das mães considera a experiência de parto como difí- cil (60%), mas está satisfeita ou muito satisfeita com a forma como lidou com o parto (71%). Du- rante o parto, a maior parte das mães sentiu: muita dor (80%) (para 47% a experiência foi realmente dolorosa e para 33% a dor foi insu- portável), alguma ou muita ansiedade (58%), al- guma ou muita falta de controlo (74%), perda da noção de tempo e de lugar (50%), e alguma ou muita emocionalidade negativa, mais frequente- mente tristeza e zanga (87%). Estes autores encontram evidências de que a qualidade da experiência da mulher durante o parto se relaciona com o seu estado emocional após o parto. As mães que relatam um parto mais difícil, assim como aquelas que referem mais dor, mais ansiedade, mais perda de controlo, da noção de tempo e espaço, e aquelas que exibem uma reacção emocional mais negativa para com o parto e apontam que tiveram menos suporte por parte dos técnicos, apresentam níveis mais elevados de perturbação emocional no 5.º dia do puerpério. Embora não se verifique uma relação entre a preparação para o parto ou a presença de companhia durante o parto e a ocorrência de per- turbação emocional no 5.º dia após o parto, ob- serva-se uma relação entre a insatisfação com a capacidade própria para lidar com o parto e a presença de perturbação emocional no 5.º dia do pós-parto. A investigação tem vindo a mostrar que as ex- periências relativas ao parto são de extrema im- portância, interferindo de forma muito significa- tiva no funcionamento emocional das mães e no estabelecimento de uma relação adequada com o bebé. Tendo em conta o impacto da experiência de parto no funcionamento global das mães e bebés, alguns autores dedicaram-se ao estudo dos factores susceptíveis de influenciar esta experiência, evidenciando a importância particu- lar das seguintes circunstâncias: presença de uma pessoa significativa que proporcione apoio emocional, tipo de parto, dor sentida durante o parto e possibilidade de contacto imediato com o bebé. É destes e de outros factores que falaremos em seguida, tentando expor alguns dos trabalhos realizados nestes domínios. 3. FACTORES SUSCEPTÍVEIS DE INFLUENCIAR A EXPERIÊNCIA DE PARTO 3.1. Presença de pessoa significativa durante o parto Poder ter o marido ou outra pessoa significa- tiva junto de si durante o parto e poder ver e to- car no bebé logo a seguir ao parto são aspectos que, hoje em dia, as mulheres geralmente valori- zam e consideram como mais determinantes pa- ra uma boa experiência de parto (Cranley, Hed- hal, & Pegg, 1983; Figueiredo & Alegre, in press). No entanto, nas sociedades não industria- lizadas, os homens foram geralmente excluídos do parto, à excepção do pai que pode permanecer junto da mãe, embora em apenas um quarto das diferentes sociedades que têm sido observadas (Lozoff et al., 1988). Por sua vez, nas sociedades industrializadas, o tipo de companhia escolhida e as expectativas quanto ao que se espera dessa companhia podem variar significativamente de uma mulher para a outra. Rofé e Lewin (1986), por exemplo, estu- daram uma amostra heterogénea, constituída por 300 mulheres residentes na área de Tel-Aviv (Is- rael), entrevistadas, minutos antes da sua admis- são no hospital e após o parto, quanto ao desejo de companhia e tipo de companhia durante o parto (por exemplo, uma enfermeira que propor- cione suporte ou o marido) e quanto ao nível de ansiedade, avaliado através de 3 itens, numa es- cala de tipo Likert, de 1 a 5. No dia seguinte ao parto, as participantes preencheram a Repres- sion-Sensitization Scale (RSS, Byrne et al., 1963) para avaliar o tipo de resposta emocional a acontecimentos stressantes. Estes autores observam que, antes do parto, as mulheres geralmente tendem a querer ficar so- zinhas e no caso de terem uma companhia prefe- 205
  • 4. rem estar em silêncio ou a falar de temas irrele- vantes para o parto; enquanto que, depois do par- to, as mulheres geralmente desejam estar na companhia de outras pessoas e a maioria prefere uma companhia significativa e interessada em falar acerca de assuntos relacionados com o par- to. No entanto, esta investigação assinala diferen- ças individuais significativas que importa igual- mente referir. Com efeito, a tendência para que- rer estar sozinha e não desejar a companhia de outras mulheres nos momentos que precedem o parto é mais elevada nas participantes que apre- sentam maior tendência para reprimir as emo- ções, menor ansiedade, níveis educacionais mais elevados e são primíparas. Embora este estudo verifique uma associação positiva entre o nível educacional e a preferência da mãe pela presença do companheiro durante o parto, essa associação não se mostrou significativa quando o nível de ansiedade ou a tendência da mãe para reprimir as emoções foi considerado. Os autores concluem que, no período que an- tecede o parto, as mulheres evitam estar com ou- tras pessoas e falar acerca de assuntos relacio- nados com o parto; esta seria uma forma de lidar com o stress gerado pela aproximação do parto, situação considerada de stress inevitável. No entanto, no período pós-parto, a presença de outras pessoas e o relato da experiência de parto são geralmente desejados pela mulher. Contudo, vários estudos têm vindo a mostrar que a presença do pai ou de uma outra figura de suporte durante o parto tem efeitos muito posi- tivos no bem estar físico e emocional da mulher, tanto no caso do parto normal (Brazelton, 1981; Cranley et al., 1983), como no caso do parto por cesariana (Marut & Mercer, 1979; Gainer & Van Bonn, 1977). Em particular, no caso do par- to por cesariana, verifica-se que quando o pai es- tá presente, a mãe tem mais prazer, sente-se me- nos sozinha e revela menos preocupação com o estado de saúde do bebé (Gainer & Van Bonn, 1977). Mesmo assim, Keinan e Hobfoll (1989, cit. por Freitas, 2001), numa investigação realizada também em Israel, sobre 31 mulheres primíparas e 36 multíparas, casadas e com uma média de 27 anos de idade, verificaram que apenas as mães mais dependentes e as mães primíparas revelam menor tensão emocional, especificamente, menor ansiedade e revolta, quando o marido está presente durante o parto. Este estudo remete-nos mais uma vez para a influência de factores rela- cionados com as características individuais e situacionais, a ter em conta quando nos repor- tamos ao efeito geralmente benéfico de determi- nadas condições de parto, neste caso a presença do cônjuge durante o parto. 3.2. Tipo de parto Tem havido um grande debate a propósito do impacto da intervenção médica durante o parto, nomeadamente na satisfação da mulher com o parto, no seu bem-estar físico e emocional e na relação que estabelece com o bebé no pós-parto, sendo que os resultados dos estudos conduzidos com o objectivo de avaliar esse mesmo impacto são por vezes contraditórios. A diversidade de resultados pode ficar a dever-se ao facto de as mães não terem a mesma concepção que os mé- dicos quanto ao que consideram intervenção médica. Com efeito, as mães, por exemplo, dão muita importância à episotomia que não é geral- mente considerada uma intervenção médica significativa e dão igual importância à cesariana, ao fórceps e à analgesia epidural, enquanto que os médicos dão muito mais importância à cesa- riana (Clement, Wilson, & Sikorski, 1999). Não obstante, a investigação realizada no sentido de perceber a influência do tipo de parto na experiência de parto e no estabelecimento da relação com o bebé, tem vindo persistentemente a assinalar que o tipo de parto interfere na expe- riência da mulher e, consequentemente, na per- cepção e satisfação com o parto, assim como no estabelecimento da ligação inicial da mãe ao bebé e nos cuidados que lhe dedica. Para além dos efeitos benéficos que decorrem da possibili- dade de a mãe entrar e permanecer em contacto com o bebé logo a seguir ao parto, assinalados nos estudos realizados nos anos 70 por Klaus e Kennell1 , outros efeitos foram mais recentemente 206 1 Na investigação de Klaus e Kennell (1976), junto das mães a quem o bebé não foi retirado e se permitiu o contacto corporal com o bebé nos momentos que se seguiram parto, verificou-se uma maior proximidade
  • 5. observados, especificamente em consequência do tipo de parto, como veremos de seguida. O estudo do impacto do tipo de parto tem sido alvo do interesse de vários investigadores, os quais, como passamos a apresentar, verificaram que geralmente as mulheres com um parto nor- mal relatam maior satisfação, têm uma percep- ção mais positiva do parto, assim como estabe- lecem uma relação mais adequada com o bebé. Marut e Mercer (1979), por exemplo, admi- nistraram, 48 horas após o parto, a «Perception of Birth Scale», com vista a avaliar as percep- ções acerca da experiência de parto, em dois gru- pos de mulheres primíparas norte-americanas (N=50): 30 que tiveram um parto normal e 20 que tiveram um parto por cesariana. Verificam que as mulheres com um parto nor- mal percepcionam de forma muito mais positiva a experiência de parto do que as mulheres que foram sujeitas a uma cesariana, as quais, entre outros aspectos, hesitam mais e demoram mais tempo a dar um nome ao bebé, tendem a ver o seu parto como não normal e a ter um estigma social. No grupo das puérperas que fizeram uma cesariana, observam que as que tiveram aneste- sia local têm melhor percepção do parto do que as que foram submetidas à anestesia geral, assim como verificam que a presença de uma figura de suporte durante o parto torna mais positiva a ex- periência da mulher. Estes autores concluem que a cesariana tem um profundo impacto adverso sobre a percepção e satisfação da mulher com o parto, o que se re- percute nos sentimentos da mãe para com o be- bé, sendo que a presença do pai e o sentimento de participar na decisão tomada diminuem esse impacto negativo. Consideram que a anestesia geral não permite que a mulher se certifique do que se está a passar e estabeleça de imediato uma relação com o bebé, o que interfere nos sen- timentos maternos para com o bebé que são neste caso menos positivos. Também Cranley et al. (1983) estudaram a percepção e satisfação das mulheres sujeitas a diferentes tipos de parto, tendo em conta o grau em que participaram nessa decisão, o tipo de anestesia no parto e a presença do marido. Para esse efeito, avaliaram, entre o 2.º e o 4.º dia após o parto, uma amostra de 122 mulheres, das quais 40 tiveram parto normal, 39 fizeram uma cesa- riana de emergência e 43 uma cesariana planea- da. As respostas dadas no «Perception of Birth Scale» (Marut & Mercer, 1979) e na «Leifer Scale» (Leifer, 1977), mostram que as mulheres que fizeram uma cesariana não planeada percep- cionam mais negativamente a experiência de parto, têm menor apetência por aleitar ao peito e exibem menor envolvimento emocional com o bebé do que as restantes, que tiveram um parto normal ou uma cesariana planeada. Mas este estudo evidencia também que a satisfação com o parto depende da conjugação de outros factores. Principalmente, da presença de suporte emocional durante o parto – pois as mulheres que foram acompanhadas por uma pessoa significativa têm melhor percepção da ex- periência de parto do que as que estiveram sozi- nhas – e da participação da mulher nas decisões relativas ao parto dado que as mães que sentiram estar a participar na decisão quanto ao tipo de parto mostram-se mais satisfeitas e com uma percepção mais positiva do parto o que se veri- ficou ainda mais no caso da cesariana planeada e revela a importância de a mulher ser considerada na decisão a tomar, sobretudo nesta última con- dição. Por último, os resultados indicam ainda que existe uma associação significativa entre a satisfação da mulher com a experiência do parto e a qualidade dos sentimentos que dirige ao bebé durante a semana que se segue ao parto, sendo que quanto maior é a satisfação da mãe, maior é o seu envolvimento emocional positivo com o bebé. Esta associação é particularmente marcada para as mulheres que fizeram uma cesariana de emergência. Quando a mãe e o bebé ainda se encontram no hospital e se observa a interacção entre eles, ve- 207 com o bebé um mês depois do parto, estratégias mais eficazes de apaziguamento do mal-estar do bebé ao ano de idade e mais estimulação verbal do bebé aos 2 anos de idade. Resultados semelhantes foram obtidos em outros estudos realizados em diversos contextos culturais (e.g., DeVries, Wellemans-Camus, & Lan- deur-Heyrant, 1983; Windstrom, Wahlberg, Matthie- sen, Eneroth, et al., 1990), designadamente no nosso país (Gomes Pedro, 1982), e mostram a importância do contacto imediato com o bebé na qualidade da inter- acção e dos cuidados que a mãe providencia ao bebé (para uma revisão ver Figueiredo, 2001).
  • 6. rifica-se que as mães que fizeram uma cesariana, passam menos tempo, cuidam menos, pegam menos ao colo e interagem menos com o bebé, em comparação com as mães que tiveram um parto normal. Este resultado foi encontrado nos seguintes estudos: Bradley, Ross, e Warnyca (1983), que consideram 90 mães com parto nor- mal e 25 mães que foram alvo de uma cesariana não planeada; Tulman (1986), cuja amostra é composta por 452 mães com parto normal e 36 mães com parto por cesariana; Cummins, Scrim- shaw, e Engle (1988), que investigam 36 mães que fizeram uma cesariana e um igual número de mães com parto normal. Por sua vez, as mães que tiveram uma cesariana avaliam menos posi- tivamente o bebé e exibem menor envolvimento emocional positivo com ele (Bradley et al., 1983; Cranley et al., 1983; Cummins et al., 1988; Garel, Lelong & Caminsky, 1987; Hwang, 1987), assim como aleitam menos ao peito o bebé (Bradley et al., 1983; Cranley et al., 1983; Cummins et al., 1988; Tulman, 1986). Uma razão para estas evidências empíricas pode ser o facto de, no caso de a mãe realizar uma cesariana, ser habitualmente maior o espaço de tempo que decorre entre o parto e o primeiro contacto com o bebé, o que compromete a qua- lidade da interacção e o envolvimento emocional que pode ocorrer entre ambos (Kearney, Cronen- wett, & Reinhart, 1990; Tulman, 1986). No entanto, os efeitos do tipo de parto sobre a qualidade da interacção mãe-bebé, observados durante os primeiros dias, não parecem manter- se em níveis estatisticamente significativos quando a interacção mãe-bebé é avaliada mais tarde no puerpério (e.g., Tulman, 1986); pois, alguns estudos que observam a interacção mãe- bebé quando a mãe e o bebé já regressaram a ca- sa não verificam tais efeitos. Gottlieb e Barrett (1986), por exemplo, não encontram efeitos adversos decorrentes do tipo de parto na qualidade da interacção mãe-bebé, avaliada ao 2.º e 30.º dias do pós-parto, quando compararam um grupo de 103 mães primíparas que tiveram parto por cesariana com um grupo de 103 mães primíparas que tiveram parto nor- mal. Garel et al. (1988) também não verificam diferenças significativas na qualidade da inter- acção mãe-bebé, aos 2 e 12 meses depois do par- to, num estudo que envolveu uma amostra de 34 mães que fizeram ou não uma cesariana. No en- tanto, Pederson, Zaslow, Cain, e Anderson (1981), num estudo sobre 17 mães com parto normal e 6 mães que foram sujeitas a cesariana, observam que as mães que tinham tido uma ce- sariana providenciam menos estimulação táctil ao bebé, numa observação realizada em casa, 5 meses depois do parto. Em clara oposição com os resultados dos es- tudos apresentados no parágrafo anterior, Field e Windmayer (1980) verificam que, embora as mães com parto por cesariana percepcionem de forma mais negativa o trabalho de parto e o par- to, 4 e 8 meses após o parto, estas mães per- cepcionam de forma mais favorável o tempera- mento e têm expectativas mais realistas acerca do desenvolvimento dos seus filhos, do que as mães que tiveram um parto normal. DiMatteo, Morton, Lepper, Damush, Carney, Pearson, e Kahn (1996) realizam uma extensa revisão da literatura que inclui 358 artigos e apresentam uma meta-análise sobre 74 estudos, publicados entre 1979 e 1993, os quais exami- nam as diferenças entre parto normal e parto por cesariana, em termos das repercussões numa sé- rie de 23 variáveis relativas à mãe e ao bebé. Tendo em conta esses estudos, os autores concluem que o parto por cesariana implica um vasto conjunto de consequências adversas sobre a mãe e o bebé. Os resultados mais robustos su- gerem que as mães que fizeram uma cesariana, sobretudo quando a cesariana não foi planeada, quando são comparadas com as mães que tive- ram um parto normal: estão menos satisfeitas com a experiência de parto, quer no imediato quer até 12 meses depois do parto; têm menos probabilidade de vir a amamentar ao seio o bebé; expressam uma reacção inicial menos positiva para com o bebé, a qual se mantém 6 semanas depois do parto; demoram mais tempo a interagir pela primeira vez com o bebé; interagem menos com o bebé em casa, por exemplo, providenciam menos estimulação táctil, prestam menos cuida- dos, e têm menos brincadeiras íntimas com o bebé durante os seus primeiros 6 meses de vida. As mães que tiveram parto normal têm ainda menos probabilidade de vir a ter mais filhos. No entanto, não foram observados efeitos do tipo de parto em outras importantes variáveis, como se- ja, nos níveis de stress no hospital e em casa, na autoconfiança materna e na incidência de depres- são pós-parto. 208
  • 7. Tendo em conta os estudos apresentados até ao momento, pode concluir-se que o tipo de par- to tem efeitos claros sobre a percepção e satis- fação da mulher com a experiência de parto e efeitos menos claros sobre o bem-estar físico e emocional da mãe e a qualidade da relação que estabelece com o bebé. Para além disso, são mais visíveis os efeitos imediatos do que os efeitos a posteriori do tipo de parto sobre a qualidade da interacção da mãe com o bebé; o mesmo sugere que, como se verifica para o efeito de outras va- riáveis, a título de exemplo, a prematuridade do bebé (e.g., Alfasi, 1985; Crawford, 1982), os efeitos adversos que decorrem do tipo de parto podem vir a esbater-se com o tempo, à medida que outros aspectos vão interferindo no processo que determina a qualidade da interacção e dos cuidados da mãe ao bebé. A investigação conduzida neste domínio mos- tra ainda que, de acordo com as práticas que são definidas pela instituição, quanto mais a mãe está envolvida e participa nas decisões relativas ao parto e também nos cuidados a prestar ao be- bé logo a seguir ao parto, melhor é a experiência da mulher e a qualidade da interacção que esta- belece com a criança (e.g., Devries, Wellemans- -Camus, & Landeur-Heyrant, 1983). Como pudemos verificar, na maior parte dos estudos atrás apresentados, o parto por cesariana pode ter um impacto negativo sobre a percepção e satisfação da mulher com o parto, assim como sobre outras dimensões que se referem ao ajus- tamento emocional e à relação e cuidados com o bebé. Os estudos acerca das consequências psi- cossociais do parto por cesariana evidenciam que este procedimento é susceptível não só de ate- nuar a experiência de vida positiva de dar à luz, como pode ainda implicar consequências psicos- sociais negativas (Fisher, Stanley, & Burrows, 1990; Fraser, 1983; Oakley, 1983). Na cesariana, a experiência cirúrgica potencialmente pertur- badora do ponto de vista físico e psicológico, justapõe-se com a experiência de dar à luz, o que pode interferir nas tarefas psicológicas relativas à transição bem sucedida para o papel parental (DiMatteo et al., 1996). Por sua vez, os proce- dimentos médicos, particularmente quando acontecem de forma intrusiva, inesperada e sem conhecimento da mulher, tal como se verifica principalmente na cesariana não planeada, limi- tam a capacidade da mãe para assimilar adequa- damente a experiência a que é sujeita (Cranley et al., 1983). Assim, quando uma cesariana acon- tece, sobretudo no caso de não ter sido planeada, existe um impacto adverso sobre a mulher, que se verifica a nível físico e psicológico. A nível psicológico, observa-se que a mãe está menos satisfeita com o parto e com ela própria, assim como vivencia um conjunto de sentimentos ne- gativos de culpa e receio de ter falhado (Marut & Mercer, 1979). Esta situação parece dificultar o estabelecimento da vinculação da mãe ao bebé, interferindo adversamente na qualidade da relação e dos cuidados que estabelece com ele. No entanto, três factores afectam esta circuns- tância: o tipo de anestesia, a presença ou não de uma figura de suporte, e o nível de controlo que a mulher tem sobre a situação. Geralmente, a percepção e satisfação com o parto, tanto quanto os aspectos que decorrem ao nível da relação com o bebé, aumentam quando a anestesia é ape- nas local, nomeadamente porque permite um contacto imediato com o bebé; quando pai está presente, o que é sentido como uma fonte de pro- tecção e de suporte (Marut & Mercer, 1979; Gai- ner & Van Bonn, 1977); e quando é maior o sen- timento de controlo da mãe sobre a situação (Cranley et al., 1983). O número de cesarianas que é hoje em dia praticado corresponde a um aumento de 25% em relação ao número de há 20 anos a esta data. Es- te aumento nem sempre se ficou a dever a pro- blemas atribuíveis a mãe ou ao bebé, pelo que os autores consideram que as implicações físicas e psicológicas, bem como os benefícios e riscos, desta ou de qualquer outra alternativa em termos de tipo de parto, devem ser considerados na de- cisão a tomar (DiMatteo et al., 1996). Por sua vez, quando a decisão de realizar uma cesariana tem mesmo que ser tomada, importa atender a um conjunto de circunstâncias psicológicas, no sentido de atenuar o impacto negativo que pode ter sobre o bem-estar da mãe. Principalmente, é de valorizar a preparação da mãe para a possibi- lidade de uma cesariana, aumentando a sua participação na decisão a tomar e, por conse- guinte, a sua satisfação com o parto, assim co- mo, durante o puerpério, é de valorizar o seu acompanhamento, com vista à promoção do aleitamento materno que neste caso se verifica com menor frequência (DiMatteo et al., 1996). Cranley et al. (1983), por exemplo, alertam 209
  • 8. particularmente para a necessidade de reformular a preparação para o parto, de modo a que seja considerada a cesariana, dada a elevada taxa com que hoje em dia este tipo de parto é praticado. Alertam ainda para a necessidade de, no caso de uma cesariana se justificar, explicar com a maior antecedência possível a situação e preparar devi- damente a mãe para o que vai acontecer, procu- rando minimizar a interferência negativa desta circunstância sobre a satisfação com o parto, e, por consequência, sobre o envolvimento emocio- nal e a qualidade dos cuidados prestados ao be- bé. Os recentes avanços da tecnologia obstétrica asseguraram que a mortalidade e a morbilidade peri-natal materna e infantil seja praticamente inexistente nos dias de hoje; porém, colocam um elevado número de novas exigências, físicas e psicológicas, a todos os intervenientes no pro- cesso. Por sua vez, a preparação para o parto tem sido uma das áreas privilegiadas da intervenção do psicólogo em contextos de saúde. No entanto, continua a existir um significativo hiato entre as expectativas e valores das mães e as novas for- mas de parto. Muitas mulheres não têm qualquer conhecimento das opções que dispõem para o parto, nomeadamente não sabem que podem es- colher uma anestesia epidural, bem como desco- nhecem por completo o impacto que cada uma destas opções pode ter na sua experiência física e psicológica (Cranley et al., 1983). Isto é tanto mais importante quando se sabe que o maior co- nhecimento da mãe quanto ao processo de parto garante o seu melhor ajustamento psicológico a este acontecimento. 3.3. Dor no parto O medo é a resposta mais prevalecente quan- do as mulheres são questionadas acerca da expe- riência de parto, este medo refere-se sobretudo à dor que podem vir a experimentar durante o par- to, assim como ao bem-estar e sobrevivência da mãe e do bebé (Matthews, 1964). A dor parece ser uma experiência reconhecida como intrínseca e esperada durante o parto em todas as socie- dades. No entanto, a importância que é dada à dor varia de sociedade para sociedade, sendo que em algumas sociedades, como por exemplo na Suécia, a experiência de dor é valorizada assim como são considerados os meios existentes para reduzir a dor no parto. Noutras sociedades, como por exemplo nos EUA e na Alemanha, a dor é considerada como algo natural, sendo portanto minimizada a necessidade de interferir sobre este fenómeno (Lozoff et al., 1988). A dor experimentada durante o parto não é facilmente esquecida e algumas mulheres relem- bram muitas vezes a dor intensa que sentiram, como se de uma situação traumática se tratasse, o que impede algumas delas de voltar a engra- vidar (Niven, 1988). A resposta de dor aquando do parto verifica-se, mesmo quando as mulheres são sujeitas a programas de preparação para o parto que visam reduzir essa circunstância (ver Wideman & Singer, 1984, para uma revisão) ou quando receberam analgésicos durante o traba- lho de parto (Niven, 1988). Para além disso, uma experiência de parto dolorosa e complicada pode levar a problemas psicológicos adicionais no pós-parto, tais como distúrbios emocionais, pro- blemas na amamentação e uma necessidade extra de ajuda prática em casa após a alta do hospital (Almgreen et al., 1972; cit. por Thune-Larsen & Pedersen, 1988), interferindo também de forma muito adversa na disposição positiva da mulher para se envolver emocionalmente com o bebé. Robson e Kumar (1980), por exemplo, verifica- ram que o envolvimento emocional da mãe com o bebé é significativamente mais demorado quando o parto é muito doloroso. No estudo de Niven (1988), a dor sentida du- rante o trabalho de parto e o parto é avaliada nu- ma amostra de 33 mulheres, das quais 17 são pri- míparas e 16 são multíparas. A administração do «McGill Pain Questionnaire» (MPQ, Melzack, 1975) e da «Visual Analogue Scale» (VAS, Scott & Huskisson, 1976) permitiu estimar a percep- ção da intensidade da dor, em duas ocasiões dis- tintas: na fase activa do primeiro estádio do tra- balho de parto, e novamente, entre as 24 e as 48 horas que se seguiram ao parto. Três a quatro anos depois, as mães foram reavaliadas com re- curso aos mesmos instrumentos quanto à dor que lembram ter experimentado durante o parto. Os resultados mostram que apenas duas par- ticipantes nunca mais pensaram espontaneamen- te na dor que tiveram no parto; enquanto que a generalidade das mães pensou novamente na dor que teve no parto (85%): uma participante pensou com muita frequência, onze pensaram 210
  • 9. com bastante frequência, nove pensaram de vez em quando e dez pensaram muito raramente. Os resultados mostram ainda que todas as mães, passados três a quatro anos, estão capazes de recordar o parto e de completar as escalas da avaliação da dor, sendo que a memória da expe- riência de parto é bastante exacta e correlaciona- se altamente com o relato que se fez na altura do parto. A lembrança da dor sentida durante o par- to gerou ansiedade e mal-estar em 20% das mu- lheres do estudo, sobretudo nos casos em que é extrema a dor relatada na altura do parto. A maior parte das mulheres que tiveram outra ex- periência de parto nos 3-4 anos que decorreram até à realização do follow-up relata que pensou na sua experiência prévia de parto por ocasião do parto mais recente. As mães que experienciaram níveis mais elevados de dor durante o parto tendiam a ter ex- pectativas irrealistas a respeito do parto e tende- ram menos a ter mais filhos depois desse parto. Mesmo assim, a maioria das participantes re- conhece que a sua experiência de dor durante o parto deu também lugar a algumas consequên- cias positivas, aumentando a sua capacidade pa- ra lidar com situações de stress e de dor. Por sua vez, Algom e Lubel (1994) avaliam durante o parto a acuidade da percepção da dor associada às contracções uterinas, bem como avaliam a acuidade da memória da dor associada a estas mesmas contracções, depois do parto. Pa- ra esse efeito, procedem à monitorização do pa- drão de contracções uterinas ao longo do parto e, através de uma elaboração matemática, chegam ao nível de dor susceptível de estar associado a cada contracção. As 69 participantes no estudo (primíparas e multíparas) são levadas a estimar a dor associada às contracções uterinas, quer du- rante o parto (julgamento perceptivo), quer 8, 24 e 48 horas após o parto (julgamento memorati- vo). Estes investigadores observam que durante o parto as puérperas têm uma correcta apreciação da intensidade da dor associada a cada contrac- ção que vai acontecendo, dado que esta avalia- ção foi funcionalmente relacionada com a ma- gnitude da contracção objectivamente medida pelos seus parâmetros biométricos. Verificam ainda que a experiência de dor relatada através da memória é bastante semelhante à experiência perceptiva e espelha da mesma forma os dados fisiológicos de intensidade da contracção uterina. No entanto, a experiência de dor associada a ca- da contracção uterina é maior quando relatada de memória do que no momento em que é sentida. Embora a dor de parto continue a ser uma das maiores causas de ansiedade para a maior parte das grávidas, tem-se verificado que nem todas as parturientes recorrem a fármacos analgésicos durante o parto. Alguns estudos foram realizados no sentido de perceber os factores que estão na origem desta opção. Nieland e Roger (1983), por exemplo, procuraram estimar a importância das variáveis de personalidade da grávida no recurso a analgesia durante parto. Para esse efeito, admi- nistram o Eysenck Personality Inventory (EPI, Eysenck & Eysenck, 1964) e o Emotion Control Questionnaire (ECQ, Roger & Nesshoever, 1987; Roger & Najarian, 1989) a uma amostra de 55 mulheres. Estes autores verificaram que as grávidas que cotam mais elevado nas escalas de hipocondria e ruminação recorrem significativa- mente mais a analgesia durante o parto, mostran- do a interferência de dimensões individuais na dor e capacidade para lidar com a dor de parto. Podemos portanto concluir que a maior parte das mulheres espera vir a sentir e sente dor por ocasião do parto, sendo que a dor é uma das di- mensões mais preponderantes da experiência de parto (Leventhal, Leventhal, Shacham, & Easter- ling, 1989), a qual não parece diminuir conside- ravelmente em função das técnicas de controlo de dor que têm sido usadas (Wideman & Singer, 1984). Tendo em conta os estudos que apresentá- mos importa também concluir que as mulheres avaliam correctamente e lembram-se com acui- dade da dor que sentiram durante o parto (e.g., Algom & Lubel, 1994), assim como importa concluir que a dor durante o parto é um dos ele- mentos que mais negativamente interfere na experiência de parto da mulher, condicionando adversamente a sua disponibilidade para se en- volver emocionalmente com o bebé (Robson & Kumar, 1980) e para voltar a engravidar (Niven, 1988). 3.3.1. Técnicas de controlo da dor no parto O parto é assim uma experiência difícil para a grande maioria das mulheres. À medida que o parto se desenrola, geralmente a parturiente sen- te mais dor, mais emoções negativas e mais 211
  • 10. cansaço, embora sinta menos energia e menos emoções positivas (Leventhal et al., 1989). O desejo de reduzir a ansiedade e o mal-estar associado ao parto conduziu ao desenvolvimento de diferentes métodos de preparação para o par- to, os quais, no entanto, não foram ainda sufici- entemente validados. Nesse sentido, Leventhal et al. (1989) procuraram testar, sobre uma amostra de 89 mulheres com gravidez normal (a quase totalidade tinha formação académica de nível su- perior e estava empregada), o efeito da instrução de monitorização das contracções durante o tra- balho de parto, na dor sentida e no estado emo- cional da mulher durante o parto. A quando da sua admissão no serviço de obstetrícia, as par- ticipantes foram distribuídas aleatoriamente por quatro grupos: o primeiro e segundo grupo assis- tiu a aulas de preparação para o parto (LaMaze), sendo que algumas grávidas foram e outras não foram instruídas para atender a aspectos espe- cíficos das contracções e para monitorizar cuida- dosamente o trabalho de parto e as sensações as- sociadas; o terceiro e quarto grupo não assistiu a aulas de preparação para o parto (LaMaze), sen- do que a algumas grávidas foram e a outras não foram dadas sugestões de distracção para lidar com as contracções de parto. Seguidamente, os autores avaliam, o tempo e a progressão no trabalho de parto, o tipo e a frequência de medicação para as dores e as com- plicações obstétricas; assim como, consideram o estado neo-natal e os índices de apgar dos bebés das participantes no estudo. As mães foram ain- da entrevistadas, 8 a 18 horas depois do parto, no que se refere à experiência de parto (nomeada- mente, relativa à primeira fase, à fase de tran- sição e à fase expulsiva do parto) e ao estado de humor, avaliado através de uma checklist de 15 itens organizados em 7 medidas: dor, raiva, me- do, cansaço, energia, tristeza, humor positivo. Estes autores observam que, à medida que o trabalho de parto progride, que as contracções aumentam de intensidade e que a dilatação se torna maior, as mulheres relatam cada vez mais dor, raiva, medo, tristeza e cansaço e cada vez menos energia e emoções positivas. Verificam um efeito geral positivo da fre- quência das aulas de preparação para o parto e da monitorização das contracções durante o parto, pois as mulheres pertencentes a estes gru- pos apresentam uma diminuição da dor e das emoções negativas durante a fase activa do parto, que não foi observada no grupo de contro- lo. Mais especificamente, as mulheres que fre- quentaram as aulas reportam mais energia na fase 1, menos dor na fase 2, e menos medo, me- nos cansaço, menos tristeza em geral, pelo que os autores concluem que a preparação para o parto ajuda a mãe a formar expectativas realistas em relação ao parto e gera um sentimento de se- gurança que reduz a dor e o mal-estar inicial e beneficia emoções positivas na finalização do parto. Verificam ainda um efeito específico das ins- truções de monitorização das contracções, pois observam que o grupo que fez monitorização de- monstra menos dor e raiva e mais emoções po- sitivas, principalmente na fase expulsiva. Nesta fase, as contracções são menos dolorosas e por isso induzem menos raiva se a mãe monitorizou as suas contracções e está capaz de assistir ao processo de forma eficiente. As mulheres que realizaram a monitorização e que foram às aulas reportam reduções substanciais no nível de mal- -estar durante o trabalho de parto e são mais ca- pazes de coordenar a respiração com as contrac- ções e a sua participação no parto. No entanto, a frequência das aulas tem efeitos mais vastos e mais consistentes do que as instru- ções de monitorização. Os autores concluem as- sim que, quer a instrução para monitorizar, quer as aulas de preparação, facilitam a participação activa da mulher e diminuem o mal estar e a dor que possa sentir na fase activa do parto, as clas- ses podem ainda ter um papel importante na for- mação de expectativas realistas, beneficiando a energia e o humor positivo principalmente no fi- nal do parto. No entanto, não foram observados efeitos significativos em nenhuma das restantes variáveis consideradas. Manning e Wright (1983) estudaram igual- mente o efeito de uma série de variáveis suscep- tíveis de interferir no controlo da dor durante o parto, numa amostra de 52 mulheres primíparas, com idades compreendidas entre os 19 e os 36, que frequentam aulas de preparação para o parto. Diversas variáveis foram consideradas neste estudo: variáveis de auto-eficácia – por exemplo, expectativas de auto-eficácia no controlo da dor, expectativas quanto ao resultado e importância do controlo da dor e de ter um trabalho de parto e parto sem analgésicos; variáveis individuais – 212
  • 11. tais como, o locus de controlo (medido através da Escala de Locus de controlo de Rotter, 1966) e a desejabilidade social (avaliada com a Escala de Desejabilidade Social de Marlowe-Crowne, 1960); variáveis de preparação para o parto – tais como, o treino de controlo da dor e a experiência no controlo da dor; e variáveis relativas ao parto – tempo de trabalho de parto e tipo de parto. Os dados foram recolhidos na semana que seguiu a última aula de preparação para o parto (1.ª fase), na fase inicial do parto (2.ª fase) e alguns dias após o parto (3.ª fase). Estes autores observam que as expectativas de auto-eficácia da mulher, nomeadamente as suas expectativas positivas quanto à importância de controlar a dor e quanto ao facto de conseguir controlar a dor, predizem melhor a sua persistên- cia no controlo da dor sem recorrer a medicação (percentagem de tempo no trabalho de parto sem analgésicos), do que qualquer uma outra das variáveis consideradas no estudo. Observam que as expectativas de auto-eficácia da mulher con- tribuem mais para explicar a persistência no controlo da dor do que as expectativas quanto ao resultado ou importância de controlar a dor. As- sim sendo, assinalam a importância de imple- mentar as expectativas de auto-eficácia nos pro- gramas de preparação para o parto, variável que pode interferir no sucesso dos mesmos, quando se considera o seu efeito sobre a dor associada ao parto. 3.3.2 Analgesia de parto pelo método epidural A analgesia de parto pelo método epidural teve o seu início nos anos 60 (Walker & O’Brien, 1999). É a técnica mais difundida, mais indicada e mais usada de analgesia local com vista à redução da dor e compreende a administração de anestésicos por via epidural. Esta técnica cons- titui o melhor método para possibilitar um maior bem-estar fetal e neonatal e para aliviar a dor materna, sem risco de depressão cardiorrespira- tória para o recém nascido, corrigindo, em situa- ções de hipertensão materna, o vasoespasmo das artérias uterinas (Direcção Geral de Saúde, 2001). Embora considerada por muitos como «opção de ouro» para reduzir a dor no parto, os seus riscos têm sido também largamente debati- dos (Walker & O’Brien, 1999). De facto, alguns estudos apontam que esta anestesia pode inter- ferir negativamente no progresso normal do parto em algumas pacientes, aumentando o risco de parto por cesariana, que, para além de impli- car mais custos, aumenta também o risco de mortalidade e morbilidade materna. No entanto, outras investigações com amostras randomizadas têm vindo a sugerir que o uso de analgesia epi- dural não aumenta o risco de parto por cesariana (Chestnut, 1999). Como veremos de seguida, há ainda estudos que problematizam o efeito da analgesia de parto pelo método epidural sobre o comporta- mento neonatal do bebé e, por consequência, na sua disposição para interagir com a mãe. Apesar da controvérsia existente acerca da analgesia epidural, este é actualmente conside- rado o método mais eficaz no alívio da dor de parto. O alívio da dor durante o trabalho de parto ajuda a evitar a sua descoordenação, bem como a diminuição do fluxo de sangue uterino, os quais condicionam prejuízos na reserva de oxigénio da placenta; mais ainda, a analgesia contribui para a melhoria da oxigenação fetal (Direcção Geral da Saúde, 2001). Outros estudos, por sua vez, mos- tram que a satisfação da mulher com o parto é maior no caso de ter tido uma analgesia de parto pelo método epidural. Paech (1991), por exemplo, verificou que o alívio da dor e a satisfação com a experiência de parto eram maiores nas mulheres que optaram pela anestesia epidural. Neste estudo os autores utilizaram uma amostra de 1000 pacientes que escolheram uma variedade de técnicas de analge- sia para o parto normal, incluindo métodos não farmacológicos, estimulação eléctrica dos nervos transcutâneos, meperidina intramuscular, inala- ção de óxido nitroso, anestesia epidural ou uma combinação destes métodos. De igual forma, ou- tros estudos que comparam a anestesia epidural com meperidina intramuscular e/ou inalação de óxido nitroso, mostram que os níveis de dor são menores e as pacientes sentem-se mais satisfeitas com a anestesia epidural (Glosten, 1999). Para além disso, a investigação têm vindo a comprovar que as mulheres que recebem anes- tesia local têm uma percepção mais positiva e uma satisfação maior com o parto do que as que recebem anestesia geral. Tal verifica-se, pelo menos em parte, na medida em que a anestesia local garante um conjunto de condições que be- neficiam que o parto se processe de uma forma 213
  • 12. que está mais de acordo com as expectativas da mulher e possibilita a relação imediata com o be- bé. No entanto, os estudos que atenderam a qua- lidade da relação e dos cuidados que são ofereci- dos ao bebé pelas mães que foram objecto de analgesia epidural, não oferecem uma visão tão positiva do problema. Muhlen, Pryke, e Wade (1986), por exemplo, estudam o efeito do tipo de parto (parto normal, estimulado, induzido, e por cesariana) e da anes- tesia epidural sobre o comportamento neo-natal do bebé. Uma amostra de 106 bebés é avaliada, através da Escala de Avaliação do Comporta- mento Neo-natal de Brazelton (Neonatal Beha- vioral Assessment Scale, NBAS), no 1.º, 5.º e 28.º dias de vida. As mães são todas primíparas, têm idades entre os 18 e os 44 anos e são predo- minantemente de classe média. Os resultados mostram que as maiores diferenças, observadas no comportamento neo-natal dos bebés, se devem à analgesia epidural e não ao tipo de parto. Os bebés das mães que receberam analgesia epidu- ral de parto exibem aos 28 dias resultados signi- ficativamente mais baixos nas seguintes escalas do NBAS: processos motores e resposta ao stress. A desorganização que observam no com- portamento do bebé, na opinião dos referidos autores, em consequência da analgesia epidural, pode perturbar a relação com a mãe, o que deve- ria ser considerado quando a decisão de analge- sia epidural é tomada. Consideram ainda neces- sário desenvolver drogas de baixa toxicidade e técnicas para remover a dor que não recorram a medicação. Estes resultados foram mais recentemente re- plicados por Sepkoski, Lester, Ostheimer, e Bra- zelton (1992). Estes investigadores quiseram de igual forma estudar o efeito da analgesia epidu- ral de parto sobre o comportamento neo-natal do bebé, durante o primeiro mês de vida. Nesse sen- tido, avaliam através da NBAS, administrada no 1.º, 3.º, 7.º e 28.º dias, 20 bebés que nasceram de um parto com anestesia epidural e 20 bebés cujas mães não foram medicadas durante o parto. Veri- ficam que os bebés cujas mães tinham feito uma anestesia epidural exibem um pior desempenho na escala (e isso, sobretudo no respeitante à resposta de orientação e ao desenvolvimento motor) do que os bebés cujas mães não tinham sido sujeitas a intervenção anestésica. Conside- ram então que os efeitos encontrados – da anes- tesia epidural materna sobre o comportamento neo-natal do bebé – são susceptíveis de desorga- nizar, e, nesse sentido, de afectar negativamente, a interacção precoce mãe-bebé. Também mais recentemente, Walker e O’Brien (1999) pretenderam avaliar o efeito da analgesia de parto pelo método epidural sobre um conjunto de dimensões do trabalho de parto e o estado neo-natal do bebé. Para esse efeito, analisaram os processos médicos de 233 parturientes primí- paras, com idades entre os 14 e os 39 anos. Quando comparam o grupo de mulheres que teve com o grupo de mulheres que não teve analgesia epidural de parto, observaram um maior número de partos instrumentais e um maior número de cesarianas no primeiro grupo. Para além disso, no grupo com analgesia epidural, a segunda fase do trabalho de parto foi significativamente mais longa do que no grupo sem epidural. Por sua vez, os índices de apgar do bebé ao 1.º e 5.º mi- nutos são significativamente menos elevados no grupo com epidural do que no grupo sem epidu- ral; mas também significativamente menos ele- vados no grupo em que a epidural foi adminis- trada mais cedo (dilatação inferior a 5 cm) do que nos restantes grupos, em que a epidural foi administrada mais tarde (dilatação superior a 5 cm) ou não foi administrada. 4. CONCLUSÃO Ao longo deste artigo, os autores procuraram descrever a experiência de parto, bem como os factores que interferem na experiência de parto da mulher. Partindo das circunstâncias sociais e culturais que determinam muito do que acontece por altura do parto, os autores pretenderam re- latar o que a investigação mostra ser hoje o parto para a generalidade das mulheres. Os estudos mostram que as mulheres tendem espontaneamente a falar mais da gravidez do que do parto, embora o momento em que viram o be- bé pela primeira vez seja muito significativo do ponto de vista emocional para a maior parte de- las (e.g., Lee, 1995). Geralmente referem o parto como uma experiência difícil, pautada pela dor, medo, e emocionalidade negativa (e.g., Thune- Larsen & Pedersen, 1988), e têm no momento uma apreciação correcta e mais tarde uma me- 214
  • 13. mória precisa do que aconteceu (e.g., Algom & Lubel, 1994). A dor no parto, por exemplo, é correctamente avaliada e é um dos elementos mais recordado, sendo também correctamente memorizada pela maior parte das mulheres. A dor no parto interfere muito significativamente na qualidade da experiência da mulher (e.g., Paech, 1991), assim como na sua disponibilidade para voltar a engravidar (e.g., Niven, 1988) e para se envolver emocionalmente com o bebé (e.g., Robson & Kumar, 1980), sendo por conse- quência uma das dimensões a privilegiar na in- vestigação e na prática psicológica. Para além da dor, neste artigo os autores pro- curaram analisar outros factores relativos às cir- cunstâncias de parto que muito determinam a qualidade da experiência da mulher (nomeada- mente a sua percepção positiva e satisfação com o parto) e que, por consequência, mais interfe- rem no estado emocional da mulher e na qualida- de da relação que estabelece com o bebé. Muito embora existam diferenças individuais que de- vem sempre ser consideradas, da revisão da lite- ratura apresentada pode concluir-se que, a expe- riência de parto é positivamente afectada, no que se refere à percepção e satisfação da mulher, pelas seguintes condições: presença de uma pes- soa significativa (e.g., Cranley et al., 1983); parto normal e não por cesariana (DiMatteo et al., 1996); anestesia apenas local e não geral, no caso do parto por cesariana (e.g., Marut & Mer- cer, 1979); participação activa nas decisões rela- tivas ao parto (e.g., Cranley et al., 1983) e no tra- balho de parto (Leventhal et al., 1989); parto sem dor, tal como se verifica, por exemplo, na sequência de analgesia pelo método epidural (e.g., Glosten, 1999). Todas e cada uma das circunstâncias atrás enunciadas favorecem ainda o estado emocional da mulher durante o pós-par- to e, em geral, beneficiam a qualidade da relação e dos cuidados que a mãe presta ao bebé (e.g., Kearney et al., 1990). Nesse sentido, a investi- gação aponta que são estas as condições que a intervenção psicológica deverá geralmente favo- recer para possibilitar que a mulher tenha uma experiência de parto mais positiva, que propicie o seu bem estar e o do bebé durante o puerpério. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alfasi, G. (1985). Mother-infant feeding interactions in preterm and full-term infants. Infant Behaviour De- velopment, 8 (2), 167-180. Algom, D., & Lubel, S. (1994). Psychophysics in the field: perception and memory for labor pain. Per- ception & Psychophysics, 55 (2), 133-141. Bradley, C. F., Ross, S. E., & Warnyca, J. (1983). A prospective study of mother’s attitudes and feelings following cesarean and vaginal births. Birth, 10, 79-83. Brazelton, T. B. (1981). On becoming a father. New York: Delacort Press. Chestnut, D. H. (1999). Effects on the progress of labor and method of delivery. In D. H. Chestnut (Ed.), Obstetric anesthesia – Principles and prac- tice (pp. 386-407). St. Louis, Missouri: Mosby, Inc. Clement, S., Wilson, J., & Sikorski, J. (1999). The de- velopment of an intrapartum intervention score based on women’s experiences. Journal of Repro- ductive and Infant Psychology, 17 (1), 53-62. Copstick, S., Taylor, K., Hayes, R., & Morris, N. (1999). The relation of time of day to childbirth. Journal of Reproductive and Infant Psychology, 4, 13-22. Cranley, M. S., Hedhal, K. J., & Pegg, S. H. (1983). Women’s perceptions of vaginal and cesarean deli- veries. Nursing Research, 32 (1), 10-15. Crawford, J. W. (1982). Mother-infant interaction in premature and full-term infants. Child Develop- ment, 53, 957-962. Cummins, L. H., Scrimshaw, S. C. M., & Engle, P. L. (1988). Views of cesarean birth among primiparous women of Mexican origin in Los Angeles. Birth, 15, 164-170. DeVries, F. G., Wellemans-Camus, M., & Candeur- Meyrant, S. (1993). Influence du climat institution- nel entourant la naissance sur les comportements et les interactions précoces entre la mère et son bébé. Enfance, 1 (2), 85-98. DiMatteo, M. R., Morton, S. C., Lepper, H. S., Damush, T. M., Carney, M. F., Pearson, M., & Kahn, K. L. (1996). Cesarean childbirth and psychosocial out- comes: A meta-analysis. Health Psychology, 15 (4), 303-324. Direcção Geral de Saúde (2001). Plano nacional de luta contra a dor. Aprovado por Despacho Ministerial de 26 de Março de 2001. Field, T. M., & Windmayer, S. M. (1980). Develop- mental follow-up of infants delivered by cesarean section and general anesthesia. Infant Behaviour Development, 3, 253-264. Figueiredo, B. (2000). Psicopatologia do desenvolvi- mento na maternidade. In I. Soares (org.), Trajec- tórias (in)adaptadas de desenvolvimento (pp. 347- -380). Coimbra: Quarteto Editora. 215
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