1. ORGANIZAÇÃO DA SAGRADA FAMÍLIA
Os ensinamentos de Nazaré— Pe. Júlio Maria Lombarde
SANTOS E
FESTAS DO MÊS:
3– São Francisco Xavier;
4– São Pedro Crisólogo e Sta.
Bárbara;
6– São Nicolau;
8– Festa da Imaculada Concei-
ção;
12– Nossa Senhora da Guada-
lupe;
13– Sta. Luzia;
25– Natal do Senhor;
26– Sto. Estevão;
27. São João, Apóstolo e
Evangelista;
29– São Tomás de Canterbury.
31– São Silvestre I.
N E S T A
E D I Ç Ã O :
Nascimento de N. Senhor 1, 2
Soneto da Imaculada 3
Vida de São Nicolau 4
Comentário Apologético do
Evangelho
5, 6
Escritos São Bernardo 6
Dezembro/ 2014Edição 19
A Família CatólicaC A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S
E D I Ç Ã O E S P E C I A L D E N A T A L
Senhor nos manifestou”. E foram com grande
pressa: e encontraram Maria e José, e o Menino
deitado na manjedoura.
E vendo isto compreenderam o que lhes havia
sido dito acerca deste Menino. E todos os que
ouviram se admiravam das coisas que lhes diziam
os pastores. Ora, Maria conservava todas estas
coisas, meditando-as em seu coração” – (Lucas,
II.6)
Tal é a narração evangélica em sua sublime e
sobrenatural sobriedade.
Observemos nela o que se refere ao nosso as-
sunto: o estabelecimento, a formação da Sagrada
Família.
Jesus vinha a este mundo para ser o modelo de
todos: de todas as posições sociais, de todas as
condições, de todas as idades e sexos.
Como nobre: ele será de família real; como po-
bre: ele estará na miséria mais absoluta; como
menino: será humilde e submisso; mais tarde,
como adolescente e como jovem: será a consola-
ção de seus pais.
E não podendo, ele só, ser o modelo da família
cristã, escolheu uma família: pai e mãe, afim de
lhes obedecer, e para apresentar, deste modo, à
nossa imitação, a família modelo, a Sagrada Famí-
lia.
É pois, neste estábulo, nesta manjedoura, dian-
te das adorações dos anjos e sob homenagens
dos pastores, nos braços da Sma. Virgem, que se
constituiu, definitivamente, a Sagrada Família.
O Espírito Santo parece insistir neste ponto,
recordando em minudências, que os pastores
encontraram Maria e José com o menino.
Ó santa, ó divina Família! Permiti que me prostre
e vos apresente as minhas homenagens, imedia-
tamente após a vossa formação, antes mesmo
que o mundo conheça a vossa existência.
Mas, retomemos o fio de nossas reflexões.
Tudo estava preparado para o nascimento do
Redentor. São José retirara-se a um canto para
repousar um pouco das fadigas da viagem, depois
de ter certificado de que nada faltava à sua santa
Esposa.
Era a noite entre 24 e 25 de dezembro. Celebra-
va-se em Jerusalém a bela festa das luzes, instituí-
da por Judas Macabeus.
Fogos de alegria brilhavam nos arredores de
Belém.
Tudo estava pronto...tudo estava divinamente
disposto para a realização do grande mistério.
O templo de Jano estava fechado pela terceira
vez.
Augusto formará a unidade romana.
Todos os povos estavam sob as asas da águia
romana.
A Judéia, então província romana, perdera a sua
independência.
Um príncipe de raça Iduméia assentara-se sobre
o trono de Davi, e tinha nas mãos o cetro de Judá.
A paz reinava em todo o império.
Chegou, pois, o grande dia do despertar, anunci-
ado pelos profetas: Impleti sunt dies. – (Luc. II.6)
De fato, enquanto Roma queima incenso aos
pés do seu imperador, deste deus, o único em
quem ela crê, uma filha do povo, Virgem tímida e
pobre, e um humilde operário, seu esposo, estão
prostrados ante um presépio, em que repousa
uma criancinha, a quem oferecem o verdadeiro
incenso da adoração e do amor.
Ouvi esta narração tocante do Evangelho:
“E José foi também da Galileia, da cidade de
Nazareth, à Judéia, à cidade de Davi, que se cha-
mava Belém, porque era da casa e família de Da-
vi, para se recensear juntamente com sua esposa
Maria, que estava grávida.
E estando ali, aconteceu completarem-se os
dias para dar à luz. E deu à luz o seu filho primo-
gênito, e o enfaixou e o reclinou numa manjedou-
ra, porque não havia para eles lugar na estala-
gem.
Ora, naquela mesma região haviam pastores
que vigiavam e faziam de noite guarda ao seu
rebanho. E eis que apareceu junto deles um anjo
do Senhor, e a claridade de Deus os cercou, e
tiveram temor. Mas lhes disse o anjo: Não temais!
Porque eis que vos anuncio uma grande alegria,
que caberá a todo o povo: porque vos nasceu na
cidade de Davi um Salvador que é o Cristo Senhor.
E este sinal vos dou. Encontrareis um menino
envolto em panos, e deitado numa manjedoura. E
subitamente apareceu com o anjo uma multidão
da milícia celeste, louvando a Deus, e dizendo:
Glória a Deus no mais alto dos céus!
E paz na terra aos homens de boa vontade!
E depois que os anjos se retiraram deles para o
céu, os pastores diziam entre si: “Vamos até Be-
lém e vejamos o que ali sucedeu e o que é que o
2. Nada interrompia o silêncio da noite, a
não ser, talvez, os cânticos rústicos, con-
fundidos com o som das flautas e das
charamelas.
Maria, dizem os pios autores, entrou
insensivelmente em êxtase, durante o qual
gerou sem dor, sem auxílios, e sem prejuí-
zo da sua virgindade, o Salvador do mun-
do, a luz do alto: Oriens ex alto. Como os
raios do sol atravessam o cristal puro sem
alterá-lo, assim vem à luz o divino infante.
(S. Basílio)
Maria vê o seu augusto Filho deitado
sobre a palha, mas circundado, sem dúvi-
da, pela auréola da divindade.
De que emoção não foi tomada!
Que sentimentos inefáveis devem ter
feito estremecer seu maternal coração!
Ela vê diante de si o seu Deus, pequeno,
fraco, débil, tremendo de frio.
Olha-o...contempla-o...fita-a Ele também.
É o primeiro olhar trocado entre o Deus
feito homem e a sua criatura.
Olhar de Deus...olhar da Virgem...
Um vagido comovedor escapa dos lábios
suavemente rosados da divina criança.
Vagit infans...Ele parece estender as
mãozinhas para sua Mãe.
Voltando a si, Maria toma nos braços
este Filho adorável e o aperta afetuosa-
mente contra o coração.
Que anjo nos poderá falar da suavidade
destes primeiros e castos abraços? Como
exprimir as impressões que Maria experi-
menta, bem como o transbordamento de
santificação e de graça, que se comunica
do Filho à Mãe?
Despertado pela voz da sua Esposa, José
se levanta e vê o estábulo inundado de
uma luz extraordinária.
Dirige-se imediatamente para junto da
santa companheira, em cujos braços vê o
Verbo feito carne.
“A língua humana, diz São João Crisósto-
mo, é incapaz de descrever os sentimen-
tos que nele despertou este espetáculo”. A
alegria, a admiração e o amor disputam
um lugar no seu coração.
Ele fica estarrecido, dominado por um
temor santo, ao pensar que tem diante de
si o Salvador, o Messias esperado desde
há séculos... ajoelha-se, inclina-se com
veneração, e deixa correr, ali aos pés de
seu Deus, as lágrimas que não mais pode
conter nos olhos.
- Meu Senhor e meu Deus, perdoai a
minha ousadia!
- Meu Senhor e Meu Deus, sou indigno
de aproximar-me de Vós!
Ó Mãe de Deus, devo afastar-me ou ocul-
tar-me? E, chorando de júbilo e de humil-
dade, ao mesmo tempo, São José nem
ousa fixar os olhos em tão inefável apari-
ção: Deus nos braços de sua Esposa.
Mas, chega, enfim o auge da felicidade!
Maria, ocupada em compor um berço para
o seu recém nascido, confia a José o Meni-
no-Deus. Ele pode, então, aproximá-lo do
coração, tocar com os seus lábios as mãos
sagradas da divina criança, e, com respei-
tosa confiança, prodigalizar-lhe as mais
ternas provas de amor.
A Sagrada Família estava constituída.
Assim devem constituir-se as nossas
famílias: Jesus Cristo deve ser o seu cen-
tro, o seu vínculo e o seu coroamento.
O centro:
É para Ele que tudo deve convergir.
Ele é a luz que ilumina.
Ele é o pão que sustenta.
Ele é o caminho que conduz ao céu.
O vínculo:
O seu amor deve prender os nossos
corações.
A sua voz deve cativar a nossa alma.
A sua contemplação deve fixar-nos
perto dele.
O coroamento:
Toda a nossa vida deve tender para
Ele.
Todos os nossos esforços devem ser
coroados por Ele.
Uma família em que Jesus é tudo isso, é
uma família feliz.
Mas não convém que o Messias fique
assim oculto. É preciso que o seu nasci-
mento seja conhecido e que a sua Família
sirva de modelo a todas as famílias.
O texto sagrado já no-lo disse.
Pastores que guardavam os seus reba-
nhos nas circunvizinhanças foram os pri-
meiros adoradores de Jesus Cristo.
Trouxeram-lhe os seus pequenos dons,
tão pobres como eles, mas o que a genero-
sidade e a boa vontade apresentam, é
sempre rico, porque elas dão tudo o que
tem.
Tal é, depois do mistério do seu nasci-
mento, o das adorações que recebeu o
Salvador do mundo, no seu berço, que são
os braços de sua Mãe.
É Maria quem o apresenta às adorações
dos pastores, Maria acompanhada de Jo-
sé. Eles são as duas testemunhas da sua
humanidade.
A humilde Virgem nos aparece aqui com
o ostensório de Jesus para os pastores, e,
por eles, para todos os adoradores que
virão mais tarde, pois os mistérios de Je-
sus Cristo são perpétuos; sempre encon-
tramos Jesus com Maria.
É a parte que Maria dá de si a este mis-
tério.
A parte que dele toma para si não é me-
nor.
É ela indicada por estas simples, mas
profundas palavras: “Maria conservava
todas estas coisas, meditando-as no seu
coração”.
É uma frase tão sóbria, quão significati-
va.
Estas palavras nos abrem o Coração de
Maria e nos mostram o que nele se encon-
tra e o que nele se passa. Ela conservou,
cultivou, fecundou, aumentou, pelo traba-
lho interior da sua fidelidade, as ações e
as palavras da Sabedoria eterna.
E, conservando estas coisas no seu cora-
ção, ela as conservava para nós, para a
Igreja e para o mundo, como a digna depo-
sitária destes mistérios, de que seria teste-
munha mais tarde.
Alguns dias depois dos pastores, vem os
Reis Magos. Depositam as suas oferendas
aos pés do Menino Deus e nas mãos da
Mãe virginal. Era provavelmente o terceiro
dia após o nascimento de Jesus.
A Sagrada Família, muito provavelmente,
ainda não tinha deixado a gruta do Nasci-
mento. Era, portanto, a pobreza mais com-
pleta que se oferecia aos olhos dos Magos.
Longe, porém, de recuar ante estas apa-
rências, a fé dos Magos parecia ficar mais
sólida ao contato delas.
Sem hesitar, entram na gruta subterrâ-
nea. Aí encontram uma pobre mãe, tendo
sobre os joelhos uma criancinha envolta
em faixas.
Convidados por este espetáculo, viva-
mente impressionados pelo olhar angelical
e pela beleza celeste das feições da Vir-
gem, deslumbrados e subjugados pelo
sorriso do divino Infante, os Magos se
prostram e adoram o Filho do Altíssimo.
Depois, abrindo os tesouros, oferecem-lhe
ouro, incenso e mirra: as mais ricas produ-
ções dos seus países.
De modo que todos são representados
junto ao presépio do Deus feito homem:
Os pobres, pelos pastores.
Os ricos, pelos Magos.
Todos, conforme os seus recursos, apre-
sentam a Jesus as suas oferendas.
E nós, que iremos oferecer-Lhe?
Porventura, nada mais possuís?
Examinai...ouvi:
Em uma noite de Natal, o Menino Jesus
apareceu ao grande São Jerônimo, o feliz
contemplativo de Belém.
- Jerônimo, que queres dar-Me no dia do
meu nascimento?
- Divino Infante, sabeis que deixei tudo
por Vós. Deixei a corte dos Pontífices, os
esplendores de Roma, e as delícias da
opulência. Abandonei tudo, só por ser vos-
so. O meu espírito, o meu coração, os
meus pensamentos, o meu amor, a minha
vida, tudo é vosso. Que mais vos posso eu
dar?
- Jerônimo, há alguma coisa de que te
esqueces, e é esta que me refiro.
- Mas, ó Menino que adoro e amo! Amor
de meu amor, coração de meu coração,
vida de minha vida! Que me resta que vos
possa dar? Seria eu então assaz infeliz e
traidor ao meu Deus, guardando ainda
algo do dom que fiz de mim mesmo?
- Dá-me os teus pecados...
- Meus pecados? Ó Deus três vezes san-
to! E o que quereis fazer deles?
- Dá-m’os todos, para eu os perdoar!
E à face desta prova de misericordiosa
ternura do seu Deus, rebentou em lágri-
mas de piedade e amor o coração do pie-
doso ancião.
Oh, vamos nós também a Ele! Procure-
mos Jesus com Maria e José! E, si já temos
a ventura de ter dado tudo como S. Jerôni-
mo, demos ainda os nossos pecados...para
que Jesus os perdoe todos!
3. “- Senhor, quem vos fez tão pequeno?Senhor, quem vos fez tão pequeno?Senhor, quem vos fez tão pequeno?
--- O amor, Bernardo”O amor, Bernardo”O amor, Bernardo”
Nosso Senhor à São Bernardo durante meditação do santo no Tempo de Natal.Nosso Senhor à São Bernardo durante meditação do santo no Tempo de Natal.Nosso Senhor à São Bernardo durante meditação do santo no Tempo de Natal.
“ Sou verdadeira mãe de um Deus que é filho
E sou sua filha, ainda ao ser-Lhe mãe;
Ele de eterno existe e é meu filho,
E eu nasci no tempo e sou sua mãe.
Ele é meu Criador e é meu filho,
E eu sou sua criatura e sua mãe;
Foi divinal prodígio ser meu filho
Um Deus eterno e ter a mim por mãe.
O ser da mãe é quase o ser do filho,
Visto que o filho deu o ser à mãe
E foi a mãe que deu o ser ao filho;
Se, pois, do filho teve o ser a mãe,
Ou há de se dizer manchado o filho
Ou se dirá Imaculada a mãe.”
Soneto composto pelo demônio, para demonstrar a veracidade da Ima-
culada Conceição, por ordem de dois sacerdotes exorcistas, e dito pela
boca de um possesso de 12 anos, em 1823.
4. São Nicolau, bispo de Mira, na Lícia, tão celebrado em todo o
mundo pelo clarão das virtudes, pelo número dos milagres e pela
confiança do povo, pelo qual intercedia sempre, nasceu em Atáris,
cidade da Lícia, na Ásia Menor. Os pais eram riquíssimos; mais
ainda, piedosos. Quando já se encontravam desesperançados de
terem filho, nasceu-lhes Nicolau, que lhes foi um presente do Céu.
Deus dotou-o visivelmente de bênçãos, desde o nascimento. O
tio, também Nicolau, também bispo de Mira, indo à Igreja agrade-
cer a Deus por aquele nascimento, teve, durante a oração, uma
revelação, na qual ficou sabendo que aquela criança seria um
astro luminoso, que pela virtude iluminaria a terra toda.
Tais presságios da futura santidade do jovem Nicolau animaram
os virtuosos pais a redobrar de cuidados. E a educação que o me-
nino teve foi toda ela cristã, esmeradamente cristã.
Aplicando-se às ciências, em breve tornou-se sábio, mas, ao
mesmo tempo, mais santo. A doçura, a mansidão, a modéstia,
eram nele coisas tão características que impunham como modelo
aos moços. Todos lhe admiravam a regularidade, a meiga devo-
ção, a sabedoria, numa idade em que a vivacidade e o amor ao
prazer dominam, onde as paixões são, ordinariamente, a grande
impulsionadora das ações.
Era São Nicolau bastante jovem quando perdeu os pais. Sentiu a
perda grandemente, mas não foi ela obstáculo às virtudes. A mor-
te do pai e da mãe, aos quais amava ternamente e muito queria, e
que lhe legaram bem enorme, serviu para mais piedoso torná-lo,
mais arredio e retirado, mais caridoso do que já era.
Um dia, ao saber que um gentil homem da cidade, pobre, muito
pobre, estava a ponto de fazer prostituir as três filhas, porque não
tinha nada de seu para casá-las, São Nicolau ficou tremendamen-
te emocionado. Depois de pensar, esperou que a noite caísse, e,
enchendo de moedas de ouro uma grande bolsa, saiu em deman-
da da casa do desolado pai. Então, quando percebeu que estava
só, defronte à casa, diante de uma janela providencialmente aber-
ta, atirou a bolsa e deixou o local às carreiras, furtivamente, rente
à parede das casas, para que a escuridão mais o ocultasse.
No dia seguinte, quando o gentil homem deu com a bolsa, febril-
mente pôs-se a contar o dinheiro, certificando-se de que continha
uma grande quantia. Dando graças a Deus, pode dotar a filha mais
velha, procurando casá-la imediatamente, certo de que a Providên-
cia se ocuparia das outras duas.
E assim foi, porque, logo na noite seguinte, sempre à socapada,
o nosso bom santo arremessou pela janela outra bolsa, que conti-
nha a mesma soma da anterior.
O pai, no auge da alegria, pressentiu que quem assim fazia faria
ainda a terceira vez. E um grande insopitável desejo de conhecer o
benfeitor o levou a emboscar-se, bem caíra a noite.
São Nicolau, de fato, com uma terceira bolsa, protegido pela
escuridão, rumou para a casa do gentil homem e, nem sequer
caíra ainda a bolsa no cômodo costumeiro, já era efusivamente
abraçado pelo pai das três jovens, que saíra das sombras duma
porta, onde se ocultara e tudo vira.
São Nicolau, surpreso e, ao mesmo tempo, grandemente cons-
trangido por ver-se descoberto, sem saber o que dizer. Afinal, recu-
perando-se, ordenou, com veemência:
-Isto deve ficar absolutamente em segredo.
- Absolutamente!
O gentil homem prometeu-lhe que assim seria, categoricamente.
Mas, no dia seguinte, já de manhã, toda a cidade sabia, encanta-
da, daquela liberalidade, daquela caridade imensa.
Virtude tão resplandecente e tão pura não era para o mundo.
Com efeito, São Nicolau pensava em deixar o século. Deus esco-
lhera-o para dele fazer um dos mais belos ornamentos da Igreja. E
foi com a aprovação pública que o vira integrar o clero.
O bispo de Mira, conhecendo-lhe a grande piedade e a não me-
nor sabedoria, apressou-se em fazê-lo padre. Tal dignidade deu
um novo lustre à santidade de Nicolau, e o sacerdócio, encontran-
do meios tão puros e alma tão cristã, comunicou-lhe um novo bri-
lho à virtude, imprimindo novo vigor ao seu zelo.
O tio, pronto para fazer uma viagem de devoção à Terra Santa,
deixou a direção da diocese ao sobrinho. E Nicolau governou-a
com tanta sabedoria e edificação geral que todos passaram a de-
sejá-lo para bispo.
Falecendo o tio pouco depois do regresso, Nicolau, que nada
temia mais do que o episcopado, aproveitou-se para deixar o país
e demandou à Palestina. (…)
Após visitar os lugares santos, retirou-se ele a uma caverna onde
se diz que o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José, ao fugirem
da Judéia, passaram uma noite, em demanda do Egito. Deseja ali
ficar para o resto da vida, mas Deus deu-lhe a conhecer que devia
retornar a Mira. E assim fez o santo.
Chegando a Mira, enfurnou-se num mosteiro, aspirando à obscu-
ridade, para dar-se aos exercícios das mais austeras penitências.
No entanto, o bispo João, que sucedera ao tio de Nicolau, vinha
a falecer. Os bispos da província reuniram-se em Mira para dar à
Igreja um bispo. A escolha ia difícil, não se chegava a um acordo,
quando um dos mais veneráveis da assembléia, por um movimen-
to do Espírito Santo, disse que Deus desejava que se escolhesse
para bispo de Mira o santo homem que primeiro entrasse na Igreja
para orar, no dia seguinte.
São Nicolau foi o eleito de Deus, porque, sem nada saber do que
se passava, certo dia, que era o que o velho bispo dissera, saiu do
mosteiro, o que raramente fazia, para rezar na Igreja.
Todos ficaram agradavelmente surpresos quando viram que era
Nicolau aquele que devia preencher a vaga deixada pelo bispo
morto.
Bem que o santo quis fugir, mas não houve alternativa, e foi, em
meio à ruidosa alegria do povo e do clero, sagrado bispo. (…)
Elevado ao episcopado, preparou-se para cumprir todos os deve-
res que se lhe impunham, e conquistar na perfeição todas as virtu-
des dum santo bispo. Passava quase toda a noite ao pé dos alta-
res a pedir por si e pelo povo. Quando rezava a Missa, um clarão
lhe iluminava o rosto, tão repleto lhe estava o coração dum fogo
sagrado. O fervor crescia-lhe dia a dia, e a solicitude pastoral es-
tendia-se por todas as necessidades do povo. O que recebia, dava-
o imediatamente aos pobres. (…)
A caridade do santo com todos os infelizes era extrema, e nada
podia detê-lo quando se tratava de ser útil aos irmãos. (…)
Tantas maravilhas tornaram o nome de Nicolau célebre por todo
o universo.
Quis o Senhor, então, recompensar todos os trabalhos do servi-
dor fiel, e deu-lhe a conhecer o dia e a hora da morte. Tal revela-
ção o encheu de alegria pouco conhecida dos homens.
Depois de ter dito adeus ao povo, ao fim duma Missa Pontifical,
retirou-se São Nicolau ao Mosteiro de Sião. Ali, depois de curta
enfermidade, administrados que lhe foram os últimos sacramen-
tos, entregou a santa alma a Deus. Era a 06 de dezembro de 327.
Ignora-se-lhe a idade. Enterrado na Igreja do mosteiro, do túmulo
logo principiou a correr um líquido miraculoso, que tinha virtude de
curar todas as doenças.
Pilhando os turcos toda a Síria, o corpo foi transportado para
Bári, na Apúlia, Itália, onde se conservou com grande veneração
numa Igreja magnífica em que o túmulo veio a ser dos mais céle-
bres pelo número de milagres prodigiosos que se deram.
SÃO NICOLAUSÃO NICOLAUSÃO NICOLAU ——— Bispo de MiraBispo de MiraBispo de Mira
Vida dos santosVida dos santosVida dos santos––– Pe. RohrbacherPe. RohrbacherPe. Rohrbacher
5. Evangelho da festa de Natal
Comentário apologético do Evangelho Dominical— Pe. Júlio
Maria Lombarde
Nota da edição: Na festa do Santo Natal cada sacerdote celebra
três Missas. No Evangelho da 1ª missa a Igreja propõe à nossa
consideração o nascimento do Salvador na gruta em Belém. No
da 2º missa, a visita dos pastores. E no Evangelho da 3º missa,
nos faz considerar que este Menino, nascido da Santíssima Vir-
gem, é o Filho de Deus desde toda a eternidade. O comentário
que aqui se faz é referente a este 3º Evangelho.
Evangelho—(João, I. 1-14)
1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Ver-
bo era Deus.
2. Ele estava no princípio em Deus.
3. Todas as coisas foram feitas por ele: e nada do que foi feito,
foi feito sem ele.
4. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5. E a luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compre-
enderam.
6. Houve um homem enviado por Deus, que se chamava João.
7. Este veio por testemunha, para dar testemunho da luz, afim
de que todos cressem por meio dele.
8. Ele não era a luz, mas era para dar testemunho da luz.
9. (O Verbo) era a luz verdadeira, que ilumina todo o homem
que vem a este mundo.
10. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo
não o conheceu.
11. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12. Mas a todos que o receberam, deu poder de se tornarem
filhos de Deus, aos que crêem em seu nome.
13. Os quais não nasceram do sangue nem da vontade da car-
ne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
14. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós: e nós vimos a
sua glória, glória como de (Filho) Unigênito do Pai, cheio de graça
e de verdade.
I. O DEUS CRIADOR
O Evangelho da 3ª missa é o grandioso e sublime início do Evan-
gelho de S. João.
Num voo de águia celeste, João penetra a eternidade, e ali
contempla o Verbo de Deus, dizendo que por Ele tudo foi feito, e
que é Ele o Deus Criador de tudo o que existe.
Depois desce num relance, da luz suprema da glória, até às
trevas deste mundo, e inclinando-se sobre um presépio onde
está deitada uma criancinha, o Evangelista exclama: O Verbo se
fez carne e habitou entre nós.
Isto é: o Criador de tudo o que existe, está ali deitado numa
gruta, feito homem.
Contemplemos hoje este sublime assunto, em continuação da
existência de Deus, que já provamos. Vejamos:
1º Que Deus é o Criador.
2º É o governador de tudo.
I. Deus é o Criador
A palavra Criador, aplicada a Deus, significa que Deus, por um
efeito da sua onipotência, fez existir o que não existia: o firma-
mento com seus astros luminosos, a terra com suas produções,
numa palavra: o universo.
O artista faz uma estátua de um bloco de mármore, porém
nunca fará uma estátua de mármore, sem mármore.
O homem apenas modifica, arranja; somente Deus pode criar.
O mundo não é eterno: isto salta aos olhos ao primeiro aspecto.
O que é eterno é necessariamente: imutável, necessário e inde-
pendente.
Ora, nenhum destes atributos convém ao mundo.
Vejamos que o universo está numa mudança contínua, pela
forma e pelas suas qualidades, enquanto a essência do ser eter-
no é de se sempre o que é, sem se poder mudar, aumentar ou
diminuir. O eterno é sempre o que é.
O universo não é necessário, pois um ser necessário não pode
ser concebido como não existente.
Ora, concebemos perfeitamente a não existência do universo,
enquanto não se pode conceber a não existência de um primeiro
ser, princípio e causa de tudo.
Logo, o universo teve um princípio, foi criado.
Um ser necessário deve ser independente, isto é, deve possuir
em si mesmo e por si mesmo tudo o que lhe é necessário, não
recebendo nada de ninguém, nem precisando de ninguém, e
continuando a existir, mesmo si fora dele nada mais existisse.
Ora, o universo não tem esta independência absoluta. Pode-
mos conceber a ideia do seu aniquilamento.
Logo, não é necessário: foi criado.
E o Criador de tudo o que existe fora dele, é Deus.
Se Deus é Criador, Ele é também o Senhor de tudo o que exis-
te, pois Deus devia, criando, propor-se um fim digno de si.
Este fim é a sua própria glória, como fim principal; e a felicida-
de dos seres racionais, como fim secundário.
II. O DEUS GOVERNADOR
Não somente Deus criou, mas governa tudo; e este governo
chama-se: a Providência.
Que se diria de um artista que, tendo criado uma obra prima de
pintura ou de escultura, ficasse completamente indiferente para
com ela, recusando ocupar-se dela, não tomando as precauções
para que não fosse destruída?
Que se diria de um roceiro, que comprasse um terreno fértil, e
depois abandonasse sem cultura?
Seriam ambos insensatos.
Deus é nosso Criador; nós somos a sua propriedade, o seu
bem.
Sendo Deus sapientíssimo, não pode desinteressar-se de nós,
que somos sua obra.
Na terra, muitos homens desejam ocupar-se mais das coisas
de que estão encarregados, porém não o podem por falta de
tempo, de força, etc.
Para Deus tal obstáculo não existe.
Ele vê tudo: logo, está ao par de tudo.
Ele é infinitamente bom: logo, quer prover as nossas necessida-
des.
Ele é todo-poderoso: logo, pode valer-nos.
Todas as perfeições de Deus exigem que se ocupe de nós, que
não nos abandone, depois de nos ter criado, mas preveja as
nossas necessidades e proveja a tudo.
Prever e prover; é a união destas duas palavras que vem o belo
nome de Providência—providere.
Deus é ainda infinitamente justo.
Ora, a justiça exige que o bem seja recompensado e que o mal
seja castigado: último motivo porque Deus não deixa a humani-
dade correr sem amparo, mas se faz o seu Governador, excitador
e Moderador, antes de ser o seu Juiz Supremo.
III. CONCLUSÃO
A Providência de Deus é, pois, Deus conservando e governando
o mundo por Ele criado, e conduzindo todos os seres ao fim que
Ele, na sua sabedoria, predeterminou.
Não é propriamente um atributo divino, desde que implica a
criação, mas é antes: o conjunto dos atributos de Deus: ciência,
sabedoria, poder, bondade, justiça, aplicados à regência do uni-
verso.
6. Não objetem a existência do mal neste mundo. Sim, o mal
existe e deve existir.
Há o mal moral, ou pecado. Deus não o quer, mas deve permi-
ti-lo, porque criou o homem livre, e o homem, a menos de deixar
de ser livre, pode abusar desta liberdade e cometer o mal moral.
Não pode ser imputado a Deus, mas unicamente a nós.
Há o mal psíquico. É também inevitável, porque Deus criou o
homem mortal. Ora, todo ser mortal, tende à decomposi-
ção...gasta-se, estraga-se, debilita-se. Ora, tal debilitação, tal
estrago causa, necessariamente, o sofrimento. É uma condição
da nossa vida.
Há desigualdades sociais, e deve haver. Pois, como poderia
haver ricos, se não houvesse pobres? Como poderia haver gran-
des, se não houvesse pequenos? Como poderia haver monta-
nhas se não houvesse vales?
Deus deve permitir tudo isso; mas sabe tirar o bem do mal.
São meios de expiração e de merecimento para conquistarmos
a felicidade eterna.
EXEMPLOS
1.No leme
Num navio, no meio de horrível tempestade, os passageiros
lançavam brados de aflição: só um menino de 12 anos perma-
necia calmo. Como todos ficassem admirados:
- Nada tenho a recear, disse ele, é meu pai que está no leme.
Porque temer? É o bom Deus que tem nas mãos o leme deste
mundo.
Confiemos-lhe também o leme da nossa alma, e Ele nos fará
alcançar o céu!
2.Apólogo de Tolstoi
Ouvem-se bastantes vezes murmúrios contra a Providência de
Deus. Provém geralmente da falta de reflexão, de não compre-
endermos o que Deus nos outorgou, e de vermos apenas o que
nos falta.
Tolstoi tem este expressivo apólogo a respeito:
Um homem, descontente da sua sorte, queixava-se de Deus.
- Deus, disse ele, dá as riquezas aos outros e a mim não dá na-
da! Como posso iniciar a minha vida, não tenho nada?
Um ancião ouviu estas queixas.
- És tu tão pobre como pensas? Responde. Deus não te deu saú-
de e força?
- Não digo que não, e ufano-me da minha saúde e força.
- Queres deixar cortar a tua mão direita por um conto de réis?
- Ah! Isso nunca! Nem por dez contos!
- E a mão esquerda?
- Nem esta!
- E os pés?
- Deus me livre! Por dinheiro nenhum!
- Olha, ajuntou o ancião, que fortuna Deus te deu, e estás te quei-
xando.
3. A lua
A torto e a direito, os homens reclamam contra a Providência
de Deus.
É pena não terem estado presentes quando Deus criou as coi-
sas! O verão é quente demais; o inverno tem um frio insuportá-
vel...É um capítulo que convém não começar, pois não acabaría-
mos.
Lembro-me de ter lido outrora num jornal esta palavra espiritu-
osa de um bebê de 3 anos de idade. O bebê estava com a ma-
mãe, no jardim da casa, ao cair da noite, para colher umas flores.
A lua estava no quarto crescente! O bebê olhou espantado e
disse à sua mãe: “Mamãe, olha lá em cima! O bom Deus não
teve tempo hoje de acabar a lua”.
Nós somos homens, mas falamos às vezes como bebês. Quan-
tas luas encontramos que o bom Deus não teve o tempo de aca-
bar!
Edição:
Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES.
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“Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira e a última há uma vinda
intermediária. Aquelas são visíveis, mas esta, não. Na primeira vinda o Senhor apareceu
na terra e conviveu com os homens. Foi então, como ele próprio declara, que viram-no e
não o quiseram receber. Na última, todo homem verá a salvação de Deus (Lc 3,6)
e olharão para aquele que transpassaram (Zc 12,10). A vinda intermediária é oculta e nela
somente os eleitos o vêem em si mesmos e recebem a salvação. Na primeira, o Senhor
veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando o poder
de sua graça; na última, virá com todo o esplendor da sua glória. Esta vinda intermediária
é, portanto, como um caminho que conduz da primeira à última; na primeira, Cristo foi
nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; na intermediária, é nosso repouso
e consolação.”
São Bernardo de Claraval