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Este artigo é a síntese de uma pesquisa
realizada junto a assistentes sociais que
trabalham com mulheres que vivem em
situação de violência, e tem como objetivo
analisar o papel do Serviço Social nessa
questão. A violência contra a mulher tem
sido apontada pela ONU como uma
violaçãodosDireitosHumanosecomoum
problema de Saúde Pública, ou seja, como
uma das principais causas de doenças de
mulheres; da mesma forma, a violência
cometida contra as mulheres é apontada
como um dos principais entraves ao
desenvolvimento de países do mundo
inteiro. Historicamente, o Serviço Social,
enquanto profissão, caminhou paralelo às
conquistas do movimento feminista e
apenas recentemente integrou na sua
agenda a discussão relativa à problemática
da violência contra a mulher. Pretende-se,
neste artigo, discorrer sobre a intervenção
do Serviço Social junto à violência contra
a mulher, propondo aportes teórico-
metodológicos e políticas públicas para
essa questão.
Palavras-chave:violênciacontraamulher,
intervenção profissional, Serviço Social.
7HUHVD .OHED /LVERD7HUHVD .OHED /LVERD7HUHVD .OHED /LVERD7HUHVD .OHED /LVERD7HUHVD .OHED /LVERD
Doutora em Sociologia.
Professora do Dep. de Serviço Social da
UFSC.
(OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR(OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR(OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR(OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR(OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR
Mestre em Serviço Social pela UFSC.
Assistente Social.
$$$$$ EVWUDFWEVWUDFWEVWUDFWEVWUDFWEVWUDFW
This article is a synthesis of a study
conducted among social workers who
attendwomenwhoarevictimsofviolence.
The purpose of the paper is to analyze the
roleofSocialWorkinthisfield.TheUnited
Nations considers violence against women
to be a Human Rights violations as well as
a Public Health problem and one of the
leading causes of illness among women.
Violence against women is one of the main
impediments to development in countries
throughout the world. Historically, Social
Work as a profession advanced in parallel
to the conquests of the feminist
movement, yet only recently has violence
against women been on the social service
agenda.Thearticlepresentstheoreticaland
methodological approaches to the problem
and discusses related public policy.
Key words: violence against women,
professional intervention, Social Work.
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2
presente artigo resulta de uma pesquisa re-
alizada junto a assistentes sociais que tra-
balham em instituições que atendem mu-
lheres que vivem em situação de violência e tem como
objetivo analisar o papel do Serviço Social junto à questão
da violência contra a mulher.
Um primeiro ponto a ser ressaltado é a inexistência do
profissional de Serviço Social junto às Delegacias de Pro-
teção à Mulher em toda a região sul do Brasil. Raro, o
atendimento, quando ocorre, é feito por um profissional de
Psicologia que, por sua vez, reconhece a importância e a
necessidade do trabalho do assistente social na instituição.
Depois de exaustivo levantamento nos três estados da
Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul),
em delegacias de atendimento a mulheres e em institui-
ções que trabalham com essa questão, como o Centro de
Atendimento à Vítima de Crime (CEVIC)1
– e postos de
atendimento sociojurídico dos cursos de Serviço Social e
Direito das universidades, o universo de pesquisa ficou
delimitado em sete assistentes sociais, sendo uma do es-
tado do Rio Grande do Sul e seis do estado de Santa
Catarina.
A violência contra a mulher tem sido apontada pela
ONU como uma violação dos Direitos Humanos e como
um problema de Saúde Pública, ou seja, como uma das
principais causas de doenças das mulheres (hipertensão,
angústia, depressão, sofrimento psíquico, e outras). Da
mesma forma, a violência cometida contra as mulheres é
consideradaumdosprincipaisentravesaodesenvolvimento
de países do mundo inteiro.
Portanto, a interlocução do Serviço Social com essa
questão se faz necessária. Uma vez que a violência de
gênero é um fenômeno social, deve ser enfrentada atra-
vés de um conjunto de estratégias políticas e de interven-
ção social direta.
9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR
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Analisar de que forma os pressupostos teórico-
metodológicos estão orientando a intervenção dos assis-
tentes sociais junto às mulheres que vivenciam situações
de violência nos remete a buscar, na história da socieda-
de, elementos para compreender como foi o papel da so-
ciedade civil e do Estado frente a essa problemática.
Aviolência contra a mulher, enquanto objeto de denún-
cia, não é recente; porém, o esforço para combatê-la e
preveni-la ocorre somente a partir dos anos 80, quando esse
tema passa a incorporar as lutas dos movimentos feminis-
tas que tornam o debate público. Até então a mulher bra-
sileira sofria em silêncio a violência que lhe era infligida,
geralmente, no espaço privado de sua casa e praticada por
alguém com quem ela mantinha uma relação afetivo-con-
jugal, porque, aos olhos do poder público e da sociedade,
“em briga de marido e mulher não se metia a colher”.
Em decorrência dessas lutas, o tema da violência con-
tra a mulher passou a ser publicizado no cenário brasilei-
ro, com o slogan: “Quem ama não mata”. Nessa época
dois assassinatos de mulheres da classe média pelos seus
companheiros, crimes justificados pela tese de defesa da
honra, tiveram repercussão nacional. Foram os de Ângela
Diniz (Minas Gerais) e de Eliane de Grammont (Rio de
Janeiro)2
. Estes crimes serviram para denunciar a reali-
dade de milhões de mulheres que estavam submetidas a
situações de violência doméstica.
Nesse percurso, o movimento feminista teve um pa-
pel preponderante no que tange a lutas e conquistas de
políticas sociais para as mulheres que sofrem violência.
Inicialmente, a atuação das feministas esteve mais ligada
à perspectiva de denunciar a violência contra a mulher e,
num segundo momento, desenvolveu ações buscando ga-
rantir o atendimento e o apoio através de serviços especí-
ficos para as mulheres que viviam situações de violência,
como os SOS Mulher e as Delegacias Especiais de Aten-
dimento a Mulher (DEAM)3
.
Em função dessa mobilização, em 1985 foi criado o
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, como um ór-
gão consultivo, com o objetivo de promover políticas soci-
ais para as mulheres, no sentido de eliminar qualquer tipo
de discriminação e garantir condições de igualdade para o
exercício da cidadania. Esse Conselho exigiu a modifica-
ção da legislação que discriminava a mulher e apresentou
propostas para a Constituinte de 1988, com o slogan:
“Constituinte pra valer tem que ter direitos da mulher”.
Em janeiro de 2003 foi criada a Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres, pelo então Presidente da Re-
pública Luiz Inácio Lula da Silva. A Secretaria assumiu
status de Ministério e tem como função elaborar, articu-
lar e executar políticas direcionadas à eqüidade de gêne-
ro. Um dos principais serviços que está sendo viabilizado
por essa Secretaria tem sido a construção de abrigos/ca-
sas de apoio. Os abrigos são parte integrante do “Progra-
ma de Prevenção,Assistência e Combate à Violência Con-
tra a Mulher”, proposto pelo poder executivo federal em
parceria com os municípios, e é considerado o tipo de ser-
viço que deve estar presente na constituição de uma rede
de atendimento para mulheres em situação de violência.
O grande desafio no enfrentamento da violência contra
a mulher é a efetivação de uma rede de serviços que agre-
gue os diferentes programas e projetos, consolidando uma
política social de atendimento. Os serviços existentes ainda
não conseguem atender as mulheres de forma integral, con-
forme identificado na pesquisa realizada nos três municípi-
os e expresso na fala de umas das entrevistadas:
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re tanto no espaço interno como externo e é resultado de
relações violentas entre os membros da família. Para o
Ministério da Saúde, “a violência intrafamiliar é toda ação
ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade físi-
ca, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desen-
volvimento de outro membro da família” (BRASIL, 2002,
p.14). Família, aqui, deve ser compreendida não apenas
como o grupo formado por pessoas ligadas por laços de
consangüinidade, mas também como o daquelas que as-
sumem relações de parentesco entre si. O argumento do
conceito se pauta na questão de que ele envolveria todos
os familiares que, por suas situações de vulnerabilidade,
estariam sujeitos a sofrer a violência.
Violência de gênero é uma expressão mais recente,
e busca designar um padrão de comportamento que “[...]
visa à preservação da organização social de gênero, fun-
dada na hierarquia e desigualdade de lugares sociais
sexuados que subalternizam o gênero feminino”
(SAFFIOTI; ALMEIDA, 1995, p.159).
A violência de gênero deve ser entendida como uma
relação de poder, caracterizada pela dominação do ho-
mem e pela submissão da mulher. Esses padrões de com-
portamento foram incutidos ao longo de um processo
sociocultural e civilizatório, através de uma educação di-
ferenciada para homens e mulheres, induzindo e fortale-
cendo papéis e estereótipos. Assim, a violência de gênero
é produzida e reproduzida nas relações de poder e, quan-
do a soberania masculina se sente ameaçada, a violência
aparece como um mecanismo que tem o poder de manter
a ordem estabelecida.
Partindo dessa discussão, duas categorias são impor-
tantes para a compreensão da temática da violência con-
tra a mulher: gênero e poder.
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HP TXHVWmRHP TXHVWmRHP TXHVWmRHP TXHVWmRHP TXHVWmR
No Brasil, a utilização da categoria gênero, enquanto
uma categoria analítica, é introduzida pelas estudiosas
do feminismo, a partir da década de 1980. Partindo de
questionamentos sobre as categorias patriarcado, divi-
são sexual do trabalho e relações entre os sexos, a dis-
cussão sobre relações de gênero tenta mostrar que as
diferenças sexuais superam a “simples” definição bioló-
gica, pois agregam em si características socialmente
construídas, podendo os papéis de homem e mulher va-
riar conforme a cultura. Parte-se do pressuposto de que
os estudos relacionados às mulheres devem necessaria-
mente incluir os homens.
Segundo Scott (1995), a discussão do conceito de gê-
nero e a introdução do mesmo como categoria de análi-
se aconteceu através das feministas norte-americanas,
que tinham como objetivo refutar o determinismo bioló-
Não tem parcerias com a rede de atendimento,
com a assistência social, é muito difícil. Procu-
ro sempre o centro comunitário do bairro para
encaminhar as mulheres. A relação com a Fun-
dação para o encaminhamento das famílias
para o Programa de Renda Mínima é boa. Na
rede de educação, no que diz respeito à creche
e programas socioeducativos, é difícil de arti-
cular. Com a habitação não conseguimos esta-
belecer relações. No fundo a rede não funcio-
na... (Depoimento de uma assistente social).
As dificuldades presentes no cotidiano dos profissio-
nais, em razão de não possuírem uma rede de proteção
para as mulheres atendidas, acaba gerando outros tipos
de relações. Quando os profissionais necessitam articular
os serviços oferecidos, acabam acessando a rede através
de relações de amizade ou coleguismo, e não como deve-
ria ser, como garantia de direito.
9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D
PXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLVPXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLVPXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLVPXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLVPXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLV
Para a compreensão da questão da “violência contra a
mulher”, diferentes concepções são utilizadas: violência
contraamulher,violênciadoméstica,violênciaintrafamiliar,
violência de gênero e outras.
O termo violência contra a mulher surge nos anos
70, através do movimento feminista, ao denunciar para a
sociedade que as mulheres eram o alvo principal da vio-
lência praticada pelos homens. A violência contra a mu-
lher tanto pode ocorrer dentro de casa como fora dela.
Muitas vezes ela é praticada por pessoas não relaciona-
das à família, mas que mantêm um certo poder sobre a
mulher. A justificativa para os atos de violência estaria
somente no fato de ser mulher, portanto um ser submisso,
que deve obediência ao homem.
Violência doméstica, por sua vez, é definida por Teles
e Melo (2002, p. 19), como “[...] a que ocorre dentro de
casa, nas relações entre pessoas da família, entre homens
e mulheres, pais/mães e filhos, entre jovens e pessoas ido-
sas”. Este conceito delimita o espaço da ocorrência para
dentro de casa (espaço doméstico), deixando aberto o
campo de quem seja o agressor, principalmente na violên-
cia contra crianças e adolescentes.
As violências que ocorrem dentro das casas, na maioria
dasvezes,sãocometidaspeloscompanheiros,maridos,namo-
rados, amantes, ou seja, por aquela pessoa com a qual a mu-
lher mantém uma relação afetiva/conjugal. A violência do-
méstica não interfere apenas na relação do casal, mas gera
conseqüênciasdesastrosasparatodososmembrosdafamília.
Violência intrafamiliar, é um termo que está sendo
muito utilizado pelos programas governamentais. Ela ocor-
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gico entre os sexos e for-
talecer o caráter social
das relações entre ho-
mens e mulheres.
Com base na discus-
são proposta por Scott,
gênero pode ser conside-
rado como uma categoria
de análise que tem sua
“origem” nas relações so-
ciais, interligada com ou-
trascategoriascomoclas-
se, raça, etnia, etc.
O gênero é um elemento constitutivo de relações
sociais fundadas sobre as diferenças percebi-
das entre os sexos, e o gênero é uma forma pri-
mária de dar significado às relações de poder
(SCOTT, 1995, p. 86).
Esta definição, trabalhada pela autora, implica com-
preender gênero como um elemento constitutivo das rela-
ções sociais baseadas nas diferenças perceptíveis entre
os sexos e como uma forma básica de identificar relações
de poder em que as representações dominantes são apre-
sentadas como naturais e inquestionáveis.
Para Scott (1995), trabalhar com o conceito de gênero
nos remete a superar as análises dicotômicas, ou seja, a
polarização entre o que seja feminino e masculino. A auto-
ra destaca que comumente pensamos o homem e a mulher
comodoissujeitosempólosopostos.Superaressadicotomia
é visualizar homem e mulher como componentes de uma
mesma relação e não como opositores entre si. Homens e
mulheres estabelecendo constantes relações, que segundo
Foucault (1990), se estruturam em forma de rede.
Para este autor, as discussões sobre as relações de
poder têm agregado novos elementos para a perspectiva
de gênero. Para Foucault (1990, p.183), o poder
[...] não é algo que se possa dividir entre aque-
les que o possuem e o detêm exclusivamente e
aqueles que não o possuem e lhe são submeti-
dos. O poder deve ser analisado como algo que
circula, ou melhor, como algo que só funciona
em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali,
nunca está nas mãos de alguns, nunca é apro-
priado como uma riqueza ou um bem. O poder
funciona e se exerce em rede.
Esta concepção de poder vem ao encontro da discus-
são sobre relações de gênero, mais precisamente no âm-
bito de instituições como a família, oferecendo argumen-
tos que poderão auxiliar na compreensão da violência con-
tra a mulher, buscando superar uma visão essencialmente
vitimista da mulher. Uti-
lizando o conceito de po-
der em Foucault (1990),
a mulher é sujeito na re-
lação, ou seja, ela tam-
bém utiliza estratégias de
poder e de negociações
nas relações violentas
entre o casal.
Foucault (1990) afir-
ma que onde existe po-
der também encontra-
mos resistência, sendo
esta última inerente ao
exercício do poder. Partindo desta perspectiva, a mulher
que está vivenciando situações de violência nem sempre
a recebe passivamente; nem sempre pode ser conside-
rada vítima ou a única “culpada”. Ela é sujeito na rela-
ção, portanto, ela também resiste e cria “contrapoderes
que circulam”.
O poder tem um lugar significativo nos estudos de
Foucault (1990). Ele supera as concepções tradicionais
de poder, onde este é central e exercido de forma linear.
O autor entende que o poder é exercido em diferentes e
variadas direções, como uma rede que engloba toda a
sociedade: ninguém está livre dele. O poder é concebido
como uma estratégia; portanto, ele não é um privilégio
que alguém possui e transmite.
Simplificar a relação homem e mulher em agressor e
vítima ou eleger um fator como causador da violência con-
tra a mulher reduz a discussão e compreensão da proble-
mática da violência, pois esta ocorre sempre numa relação,
ou de dominação do homem e extrema submissão da mu-
lher, ou onde ambos são atores e sujeitos do conflito.
Portanto, analisar a violência contra a mulher, supe-
rando a leitura oposicionista entre os pólos homem e mu-
lher, ter claro que a relação conjugal é formada por duas
pessoas e ambas exercem influência nessa relação, re-
pensar nossa tendência de julgamento, que é considerar o
homem sempre como o único responsável pela violência
e a mulher apenas como vítima, assim como perceber que
a violência é construída social e historicamente pode au-
xiliar na compreensão do problema e na busca de alterna-
tivas para a intervenção profissional.
$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV
LQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDOLQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDOLQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDOLQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDOLQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDO
O avanço do sistema neoliberal tem repercutido dire-
tamente nas transformações do Serviço Social. A
desresponsabilização do Estado face às suas atribuições
na garantia dos direitos dos cidadãos tem atingido as rela-
ções de trabalho e também as profissões, o que tem exigi-
2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR
GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p DGD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p DGD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p DGD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p DGD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p D
HIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRVHIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRVHIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRVHIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRVHIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRV
TXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHVTXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHVTXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHVTXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHVTXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHV
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.$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&
do redefinições em termos de competências frente às no-
vas demandas das questões que implicam a ação profissi-
onal. No panorama das novas interfaces que se apresen-
tam, a questão da violência contra a mulher tornou-se cada
vez mais visível e passou a ser discutida como um proble-
ma público a ser enfrentado.
Nesse novo quadro conjuntural, Iamamoto (1999) lem-
bra que o momento presente desafia os assistentes soci-
ais a se qualificarem para acompanhar, atualizar e expli-
car as mudanças da realidade social. Entre as novas com-
petências exigidas está, sobretudo, a produção de conhe-
cimento sobre a realidade social em que cada profissional
atua, para dar suporte ao processo de intervenção.
Seja no espaço da violência contra a mulher ou em
qualquer outro espaço ocupacional, o assistente social in-
tervém sobre um objeto de trabalho, ou seja, sobre este
incide alguma ação profissional. Por isso, para o assisten-
te social, é essencial o conhecimento da realidade em que
atua, a fim de compreender como os sujeitos sociais ex-
perimentam e vivenciam as situações sociais. No caso,
trabalhando com a temática da violência contra a mulher,
o profissional de Serviço Social necessita aprofundar seu
conhecimento sobre as múltiplas determinações que de-
correm da mesma.
Nessa perspectiva, conforme Iamamoto (1999, p.52),
O grande desafio na atualidade é, pois, transi-
tar da bagagem teórica acumulada ao
enraizamento da profissão na realidade, atri-
buindo, ao mesmo tempo, uma maior atenção
às estratégias e técnicas do trabalho profissio-
nal, em função das particularidades dos temas
que são objetos de estudo e ação do assistente
social.
Discussões em torno do objeto de trabalho do Serviço
Social têm sido feitas ao longo da história da profissão.
Contextualizando o Serviço Social na contemporaneidade,
Iamamoto define que o objeto de trabalho do Serviço So-
cial compõe-se das expressões da questão social, enten-
didas como as conseqüências das desigualdades origina-
das pelo sistema capitalista. Para a autora, o objeto de
trabalho, ou matéria-prima, do Serviço Social passam a
ser as particularidades das expressões sociais e como estas
são experimentadas pelos sujeitos que as vivenciam, so-
bretudo na relação com o trabalho e a classe social.
A partir de 1990, o processo de globalização passa a
fazer novas configurações no mundo do trabalho, como a
flexibilização e a terceirização das contratações, dando
um novo enfoque para a questão social. Os movimentos
socioculturais trazem à tona temas como o respeito às
diferenças, os processos migratórios, e as lutas das cha-
madas “minorias”4
. As reivindicações desses grupos exi-
giram uma nova organização e prestação de serviços so-
ciais, incidindo diretamente na profissão do Serviço Soci-
al, que passou a reconstruir e “reprocessar” o seu objeto
de intervenção.
Outras formas de expressão, sobretudo culturais, como
a violência contra a mulher, injustiças cometidas contra
negros e índios, exploração de crianças, movimento dos
sem terra, etc., também passam a constituir manifesta-
ções da questão social.
Faleiros (1999) lembra que toda a construção de um ob-
jeto profissional deve levar em conta a história, as discus-
sões, os debates e os projetos de sociedade. Para esse autor,
mantendo-se uma concepção classista, a heterogeneidade
dos campos de atuação da profissão de Serviço Social fica
restrita, uma vez que esta não se limita a atuar somente nas
questões de trabalho ou na perspectiva de classe.
O foco da atuação profissional do assistente social, se-
gundo Faleiros, ou seja, o seu objeto, constrói-se no proces-
so de articulação do poder dos sujeitos, no enfrentamento
das questões relacionais complexas que devem ser capta-
das e entendidas em cada espaço profissional ocupado e
em cada especificidade institucional. Assim, essas inter-
venções exigem dinâmicas, recursos, organização e infor-
mação e vão construindo e desconstruindo a identidade pro-
fissional nas condições históricas.
Para esse autor, o objeto da intervenção profissional se
definenarelaçãoestrutural/conjuntural/situacional,compre-
endendo, porém, que atualmente a intervenção profissional
do Serviço Social se exerce dentro de um contexto
institucional, com particularidades e interesses que exigem
uma correlação de forças e mediações para que seja possí-
vel a sua realização. Afirma que a questão social não pode
ser tomada como objeto profissional do Serviço Social bra-
sileiro a partir de uma única concepção, pois entram em
jogo novas configurações das relações sociais.
Na atual conjuntura, os enfrentamentos de in-
teresses, grupos e projetos, estão sendo vistos
num processo complexo de relações de classe,
gênero, raça, etnia, cultura, religiões, parentes-
cos, trazendo à discussão as mediações da sub-
jetividade e que não se resumem tout court na
noção de questão social (FALEIROS, 1999, p.40).
Dessa forma, é necessário trazer para a discussão e
colocar na pauta da ação profissional dos assistentes so-
ciais essas outras dimensões da realidade, sobretudo a
relação de gênero, que repercute diretamente na questão
do poder e da violência. Trabalhar com os novos dilemas
familiares, incluindo a questão da violência, da dependên-
cia química e das doenças crônicas, de um lado, e a
agudização da pobreza, a ampliação e o fortalecimento da
filantropia com os parcos recursos e deficiências das po-
líticas sociais, de outro, tem-se apresentado como desafio
para os profissionais de Serviço Social.
77777HUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR
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As instituições (entre elas a família) passam a ser vis-
tas como local de lutas de poderes, e o objeto da interven-
ção deve responder a um processo complexo de relações
sociais em que se entrecruzam demandas políticas, confi-
gurando uma área de intervenção dos assistentes sociais.
É na perspectiva relacional que vamos
visualizar a questão do objeto profissional [...].
É com referência às relações de poder que vi-
mos considerando a teoria e a prática do Servi-
ço Social. O poder em si é uma relação. Uma
relação complexa que passa pelos processos de
hegemonia e contra-hegemonia, de dominação
de raça, etnia, gênero, culturas... (FALEIROS,
1999, p.41).
Assim, a temática da violência de gênero, com seus di-
ferentes desdobramentos – violência doméstica, violência
contra a mulher, violência intrafamiliar e outras – tem sido
definida como uma relação de poder e de permanente con-
flito, principalmente no
locusfamiliar,demandan-
do atendimento, encami-
nhamentos,orientação,in-
formação, recursos e
capacitação por parte de
assistentes sociais.
A violência contra a
mulhertornou-seobjetode
intervençãoprofissionaldo
assistentesocialcomoum
desafiopostonocotidiano,
sobre o qual ele deverá
formular um conjunto de
reflexão e de proposições
para a intervenção.
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A história mostra que o Serviço Social, enquanto profis-
são,caminhouparaleloàsconquistasdomovimentofeminis-
ta e apenas recentemente integrou na sua agenda a discus-
são relativa à problemática da violência contra a mulher.
Essa falta de aproximação com a temática talvez tenha
ocorrido porque, enquanto o movimento feminista lutava
pelos direitos da mulher, publicizando e dando visibilidade
para a questão da violência contra ela, o Serviço Social,
como profissão, tentava avançar na superação de um pata-
mar conservador, conforme Netto (1991), deixando para
trás suas raízes vinculadas à doutrina social da Igreja para
assumir uma postura mais crítica frente à sociedade.
A conjuntura social brasileira da década de 1980 ser-
viu de palco para que um novo projeto ético-político do
Serviço Social fosse gestado, rompendo com uma trajetó-
ria conservadora. Vários fatos contribuíram para esse
rompimento, dentre eles o movimento de reconceituação,
a crise da ditadura militar, a abertura democrática e as
mobilizações de diferentes categorias de trabalhadores.
Ocontextohistóricovividopelasociedadelevouacatego-
riaprofissionalaumredimensionamentopolíticocomprometi-
do, optando pela construção de uma sociedade mais justa.
Como todo o universo heterogêneo, a catego-
ria profissional não se comportou de modo idên-
tico. Mas as suas vanguardas conquistaram,
então, vivência democrática e se mobilizaram
ativamente na contestação política [...], os seg-
mentos mais ativos da categoria profissional vin-
cularam-se ao movimento social dos trabalha-
dores, rompendo com a dominância do
conservadorismo [...] (NETTO, 1999, p.100).
Conforme exposto a-
cima, nem toda a cate-
goriaassumiuonovopro-
jeto profissional, ou seja,
a construção do novo
projeto ético e político do
Serviço Social teve como
precursores alguns assis-
tentes sociais, denomina-
dos por Netto (1999) de
a “vanguarda do Serviço
Social”, os quais, por sua
vez, gestaram e formu-
laram uma direção soci-
al estratégica.
O fato é que o Serviço Social tem-se projetado no
universo das profissões com muita seriedade e compe-
tência, configurando um espaço na divisão sociotécnica
do trabalho que tem merecido confiança e angariado elo-
gios. Em várias temáticas atuais, como os Projetos de
Renda Mínima, Fome Zero, implantação do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), os profissionais do
Serviço Social têm sido chamados para prestar assesso-
ria e contribuir com pesquisas e intervenção em áreas
estratégicas. Essa valorização da profissão tem contri-
buído para demarcar a identidade dos profissionais da
assistência social.
A opção por uma determinada teoria, portanto, e em
conseqüência, pelo método proposto por ela, é também uma
escolha política, ou seja, a dimensão ético-política não pode
ser concebida separada da dimensão teórico-metodológica.
A dimensão teórico-metodológica da profissão está direta-
mente relacionada com o processo de intervenção.
R 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGRR 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGRR 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGRR 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGRR 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGR
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PHUHFLGR FRQILDQoDPHUHFLGR FRQILDQoDPHUHFLGR FRQILDQoDPHUHFLGR FRQILDQoDPHUHFLGR FRQILDQoD
Os instrumentos ou meios de trabalho são elementos
fundamentais de qualquer processo de trabalho. São eles
que potencializam a ação do trabalhador sobre seu objeto
de trabalho ou matéria-prima. O ser humano é o único ser
capaz de criar meios e instrumentos de trabalho.
Segundo Iamamoto (1999), é possível identificar três
tipos de instrumentos presentes no processo de trabalho
dos assistentes sociais: a) as bases teórico-metodoló-
gicas, que se constituem no conjunto de conhecimentos e
possibilitam a aproximação e conhecimento do objeto; b) o
instrumental técnico-operativo, que realiza efetivamente
a transformação do objeto e do Serviço Social, compondo-
se de instrumentos como a entrevista, a observação, o es-
tudo, o parecer social e os encaminhamentos, entre outros;
e c) as condições institucionais, que dizem respeito, so-
bretudo, às condições materiais de realização do trabalho,
ou seja, os recursos financeiros, técnicos e humanos. Dis-
correremos, a seguir, sobre cada um desses instrumentos.
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Tem como objetivo proporcionar a base de explicação e
interpretação do real, para que o assistente social possa
propor estratégias de intervenção para o enfrentamento da
realidade. A intencionalidade da ação vai estar presente no
exercício profissional e é explicitada quando a intervenção
se realiza.
Iamamotto (1999) destaca que o conhecimento é um
meio de trabalho do assistente social, deixando claro que
as bases teórico-metodológicas são essenciais para o exer-
cício profissional. Esta dimensão contribui para direcionar
a intervenção.
Da mesma forma, Guerra (1997) enfatiza que todo o
fazer profissional deve estar amparado por uma teoria social
que, geralmente, depende da escolha do assistente social.
Mas esta escolha não é aleatória,
[...] trata-se de uma escolha que requer o co-
nhecimento dos fundamentos filosóficos e
epistemológicos, da vinculação dessa teoria a
um projeto de sociedade e, sobretudo, do senti-
do que ela possui para as forças políticas mais
avançadas. E ainda o fazer a que nos referimos
exige que o profissional detenha o domínio do
método que lhe possa servir de guia ao conhe-
cimento, conhecimento que lhe possibilitará es-
tabelecer estratégias e táticas de intervenção
profissional (GUERRA, 1997, p. 61-2).
O aprofundamento teórico e a vinculação deste com
o processo de intervenção são de responsabilidade do pro-
fissional, no esforço constante de ser um assistente social
propositivo, que extrapole o mecanicismo da prática de
atendimento no cotidiano das instituições, que busque ar-
ticular-se em redes com outros colegas, para juntos pen-
sarem em possíveis caminhos de intervenção. A produ-
ção da prática pressupõe aproximação constante com a
teoria: é como se prática e teoria fizessem parte de um
movimento dialético de ação, reflexão, ação; é como se
ocorresse um ato coletivo e político entre os sujeitos soci-
ais, sejam eles agentes ou usuários institucionais.
O Código de Ética da profissão também tem sido um
marco orientador para a intervenção dos assistentes soci-
ais, na medida em que explicita a dimensão ético-política
que os profissionais devem assumir perante os usuários,
através de seus onze princípios fundamentais.
Igualmente o projeto ético-político da profissão tem ori-
entado as bases teórico-metodológicas, na medida em que
pretende despertar o profissional de Serviço Social para o
seu compromisso com a população excluída, na perspec-
tiva de tornar-se um intelectual orgânico que atua na
viabilização e no fortalecimento do saber e do poder po-
pular no cotidiano. Em relação à temática da violência
contra a mulher, o projeto ético-político convida os profis-
sionais de Serviço Social a desempenhar seu papel, orien-
tando, discutindo estratégias e encaminhando as mulhe-
res para onde possam receber atendimento eficiente e ter
os seus direitos garantidos. Chama-os, ainda, para lutar
por políticas que venham ao encontro das necessidades
básicas dessas mulheres, instigando-as a participarem de
movimentos que visem ao fim da violência e à conquista
dos seus direitos. Para tanto, é essencial que sejam
aprofundados os conhecimentos teóricos sobre o objeto
de intervenção da prática, para uma atuação competente
e compromissada com este projeto ético-político.
2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR
OServiçoSocialéumaprofissãointerventiva,socialmente
construída, inserida na divisão sociotécnica do trabalho. O
assistente social tem a tarefa de responder com competên-
cia às demandas sociais apresentadas no seu cotidiano pro-
fissional, pois a natureza interventiva da profissão exige dos
profissionaisautilizaçãodeinstrumentosetécnicasarticula-
dos com as dimensões teórica, ética, e política.
O cotidiano é o espaço que oferece as oportunidades,
os desafios e os limites para a ação profissional. Conhecer
os contornos, as potencialidades, as demandas e as respos-
tas possíveis é condição primeira para um exercício profis-
sional competente e comprometido com os usuários.
Apresentaremos a seguir os principais instrumen-
tais técnico-operativos utilizados na intervenção profissi-
onal junto a mulheres que sofrem violência.
• Entrevista – A entrevista com o profissional de
Serviço Social é geralmente a primeira conversa
realizada com a mulher que, quando chega à Insti-
tuição, ainda está sob efeitos da agressão ou vio-
lência sofrida. É também chamada de abordagem
.$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&
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individual, e possibilita a escuta social e o acolhi-
mento da mulher. A entrevista se desenrola num
processo de escuta da queixa apresentada e do mo-
tivo que a levou a procurar o serviço. Neste mo-
mento, as mulheres expõem suas preocupações,
queixas, desejos, necessidades. No processo de en-
trevista é importante ouvir e observar. A observa-
ção permite, ao olhar com atenção, perceber as
reações, os sentimentos expressos pela usuária, suas
relações, o ambiente onde está inserida. É o mo-
mento de articular o maior número possível de in-
formações sobre a situação apresentada, possibili-
ta fazer a tipificação da violência e o diagnóstico
da situação. O assistente social deve primar pela
escuta sem julgamentos, pela compreensão e re-
flexão em relação aos encaminhamentos, sempre
numa atitude de respeito à pessoa usuária. A partir
deste primeiro encontro, outras entrevistas podem
ser realizadas, na própria instituição ou no domicílio
da mulher agredida.
• Visita domiciliar –Avisita domiciliar é um instru-
mento muito importante para conhecer a realidade
na qual vive a mulher, principalmente em proces-
sos que demandam o trabalho com a família, ou
quando envolvem a guarda de crianças, exigindo
um melhor acompanhamento da situação com es-
tudo sociofamiliar. Também é indicada quando a
abordagem com a vizinhança é necessária para sub-
sidiar os dados da situação.
• Reuniões com grupos de mulheres – As reuni-
ões realizadas com grupos de mulheres que sofrem
violência têm contribuído de maneira significativa
para tirá-las de um processo de angústia e baixa
auto-estima, na medida em que vão, aos poucos,
socializando informações, constatando que muitas
estão em igual situação, e sentindo-se mais segu-
ras e fortificadas para levarem adiante possíveis
encaminhamentos como, por exemplo, a denúncia.
As dinâmicas de grupo são indicadas para este tipo
de reuniões.
• Reuniões com a equipe multiprofissional – As
reuniões com a equipe multiprofissional – de assis-
tentes sociais, psicólogos, médicos, enfermeiros, ad-
vogados e outros – são decisivas para o encami-
nhamento correto das situações de violência. O as-
sistente social geralmente é o primeiro contato das
pessoas que chegam às instituições, realiza a pri-
meira entrevista, faz visitas domiciliares e elabora
um estudo social, emitindo parecer (em caso de so-
licitação do juiz) e procedendo aos encaminhamen-
tos. A psicóloga vai atuar dando apoio psicológico,
principalmente quando a mulher está traumatizada.
O médico e a enfermeira vão prestar atendimento,
na área da saúde, por ocasião de ferimentos resul-
tantes da agressão. O advogado orientará em rela-
ção à forma correta de efetuar a denúncia, bem
como às penas previstas para os culpados pela
agressão, emitirá mandato de apreensão e busca,
enfim entre outras ações, encaminhará o processo
para as instâncias pertinentes. Reuniões
interdisciplinares com a equipe que atendeu a mes-
ma situação são importantes, com o objetivo de
socialização dos dados (ou do diagnóstico), para que
os encaminhamentos possam ser realizados da for-
ma mais correta possível.
• Documentação, elaboração de relatórios, pa-
recer social – A elaboração de relatórios é de fun-
damental importância. Os relatórios são a história
familiar de cada uma das pessoas, atendidas, de
cada uma das mulheres. Ali se desencadeia toda a
trama da situação vulnerável em que se encontra a
família ou o casal. Muitos dados resultantes de um
estudo minucioso e bem fundamentado são essen-
ciais para posteriores encaminhamentos. Os assis-
tentes sociais, “são administradores de vidas”. Mui-
tas vezes têm extrema responsabilidade por enca-
minhamentos errôneos decorrentes da falta de es-
tudo e de apontamentos de dados cruciais.
• Planejamento de programas, construção de in-
dicadores – A emergência do tema, suas reper-
cussões e desdobramentos, reivindica, como neces-
sário e urgente, o posicionamento do Serviço Soci-
al quanto a planejamento, execução e gestão de
programas que levem em conta a eqüidade de gê-
nero nas políticas públicas, criando indicadores que
digam respeito, principalmente, à violência contra
a mulher.
• Pesquisa – Os assistentes sociais, no seu espaço
de trabalho, detêm inúmeras informações e co-
nhecimentos sobre os usuários com os quais inter-
vêm. A pesquisa é um instrumento que possibilita
conhecer, explorar e sistematizar os dados, com
conseqüente produção de conhecimento sobre a
realidade cotidiana das mulheres que sofrem vio-
lência e sobre a dinâmica das instituições. As
metodologias qualitativas – entrevistas, histórias de
vida, e outras – são especialmente recomendadas
nessa área, pois permitem visualizar um fenômeno
(o da violência) que permaneceu durante muito tem-
po invisível, dando voz às mulheres que, por sua
vez, também permaneceram durante muito tempo
silenciadas.
• Articulação em rede – Segundo Faleiros (1999), o
trabalho em redes fomenta os meios para a supera-
ção do sentimento de impotência frente às condi-
ções de trabalho colocadas para os assistentes soci-
ais, e também combate a onipotência de acreditar
que o Serviço Social, enquanto profissão, tem condi-
.$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&
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ções de mudar tudo. O autor afirma que “a rede é
uma articulação de atores em torno [...] de uma ques-
tão ao mesmo tempo política, social, profundamente
complexa e processualmente dialética” (FALEIROS,
1999, p.25). Em relação à questão da violência con-
tra a mulher, geralmente existem as seguintes insti-
tuições que deveriam estar se articulando em rede: o
atendimento sociojurídico nas universidades, as de-
legacias de mulheres, os centros de atendimento a
mulheres, os SOS Mulher, o Disque Denúncia, o
Protocolo de Atenção às Vítimas de Violência Se-
xual, os hospitais, os institutos médico-legais, as ca-
sas de proteção ou abrigos para mulheres que so-
frem violência, os programas de proteção e preven-
ção à violência, e o atendimento psicológico em clí-
nicas ou outros lugares, entre outros. Uma interven-
ção em rede pode ampliar a autonomia dos sujeitos
envolvidos,extrapolandoaaçãoindividualdoprofis-
sional para com as usuárias, criando possibilidades
de aumentar a participação dos sujeitos.
$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV
Os programas de atendimento para mulheres em situ-
ação de violência não têm sido considerados como priori-
dade pelo poder público, recebendo, por esse motivo, pou-
co apoio técnico e financeiro. A realidade demonstra um
descompasso entre o que as mulheres buscam junto aos
serviços oferecidos, o modo como os profissionais de Ser-
viço Social gostariam de intervir junto a essa problemáti-
ca e os recursos humanos, técnicos e financeiros que a
instituição oferece. A falta de uma política social especí-
fica para essa questão é uma lacuna que interfere no exer-
cício profissional dos assistentes sociais. Exige-se, muitas
vezes, dos assistentes sociais que trabalham nessa área,
competência nas negociações, qualidade nas propostas,
justificativas convincentes, objetivos claros, metodologia
operacional e previsão orçamentária mínima possível, ou
seja, compatível com o orçamento da instituição e, por-
tanto, exeqüível, mas não se lhes dá contrapartida equiva-
lente. Cabe salientar que, muitas vezes, os projetos são
viáveis tecnicamente, mas não são “aceitáveis” politica-
mente, ocasionando a sua não efetivação.
Além disso, a intervenção junto aos fatos de violência
contra a mulher acaba provocando desgaste físico e psi-
cológico nos profissionais, conforme explicitado na fala
de uma assistente social:
Necessitamos de melhores condições de traba-
lho, uma assessoria psicológica para dar su-
porte, pois os profissionais que trabalham aqui
estão ficando doentes. A questão da violência
mexe muito com a pessoa, porque se você não
se trabalhar você vai pro fundo do buraco...
É um processo bem difícil, o serviço público
não tem a mínima preocupação com o funcio-
nário. Essa é uma preocupação minha, e acre-
dito que eu sou responsável por isso também,
eu preciso estar bem para atender bem estas mu-
lheres. Eu vejo isso como um desafio, os profis-
sionais estão no limite! Até que ponto a gente
consegue trabalhar essas questões?
Em relação a dificuldades institucionais, a pesquisa evi-
denciou que os programas ou serviços de atendimento para
as mulheres que sofrem violência estão apresentando inú-
meros problemas e necessidades, a seguir identificadas.
• Estrutura física inadequada: em alguns casos, os
locais onde estão funcionando os serviços de aten-
dimento encontram-se em péssimo estado de con-
servação, são prédios muito antigos e não recebem
nenhum tipo de investimento na manutenção.
• Profissionais técnicos especializados insufici-
entes: o número reduzido de profissionais que tra-
balham junto à questão impede o atendimento com
a qualidade necessária. O cansaço físico e mental
decorrente da sobrecarga de trabalho dos profissi-
onais acaba repercutindo na eficiência da equipe.
• Falta de políticas sociais específicas para essa
área: as políticas sociais para essas mulheres estão
longe de ser consideradas como prioridades nos pla-
nos de governo. Os assistentes sociais têm um papel
significativo no que tange à proposição, formulação
e execução de políticas sociais para mulheres.
• Dificuldade para o trabalho em rede: a falta de
um trabalho em rede para o atendimento das mu-
lheres em situação de violência acaba dificultando
ainda mais a intervenção dos profissionais.
• Legislação inadequada ou insuficiente: historica-
mente, a violência contra a mulher demorou para ser
abordada como um crime. Esse fato acabou por se
refletir na forma de punição que o agressor recebe,
pois geralmente são penalidades leves, como presta-
ção de serviços à comunidade ou fornecimento de
cestas básicas, que não inibem os atos de violência
praticados. A Lei 9.099, de 26-09-1995, dispõe sobre
os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, onde são
atendidos os crimes cuja pena máxima não supera 1
ano.Essaleiminimizaosatosdeviolênciapraticados
contra as mulheres, na medida em que estes são tra-
tados como “crimes de menor potencial ofensivo”.
• Delegacias sem quadro de pessoal técnico: a
pesquisa demonstrou um descaso do poder público
para com as delegacias especiais para mulheres,
onde o quadro de funcionários é formado, na sua
maioria, apenas por policiais. São raras as delegaci-
as que contam com trabalho de algum técnico, e
nenhuma possui assistente social em seus quadros.
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Essas dificuldades, que resultam na ausência de uma es-
trutura adequada para o enfrentamento da questão da vio-
lência contra a mulher, são um reflexo da falta de compro-
metimento do Estado com a implantação e efetivação de
políticas sociais de qualidade, que venham a oferecer condi-
ções de superação da situação vivenciada.
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Sendo a violência contra a mulher uma das interfaces
da questão social, o assistente social também é chamado
a intervir nessa realidade, porém ainda encontra muitos
entraves à sua atuação, pois os espaços de intervenção
junto a essa questão ainda são muito restritos. No estado
de Santa Catarina, por exemplo, conta-se com atendimento
sociojurídico nos cursos de Direito e Serviço Social nas
universidades, com poucas casas de abrigo, com os pro-
gramas SOS Criança nas prefeituras, que atendem famí-
lias onde ocorre violência, e ainda com o Centro de Apoio
à Vítima de Crime (CEVIC).
Pode-se configurar a intervenção do profissional de
Serviço Social dentro de um contexto de orientações,
visualizadas nas propostas que seguem.
– Os assistentes soci-
ais como operadores de
direito,temopapeldeori-
entar e informar à mulher
agredida, esclarecendo
que para cada tipo de vi-
olência (ameaça, calúnia,
agressão física, etc.) exis-
te uma punição. Devem
estimulá-la a fazer a de-
núncia, ou seja, registrar
queixa na delegacia de
polícia,gerandoorespec-
tivo Boletim de Ocorrên-
cia, para que possa ser
iniciado um processo cri-
minal.Emcasodeviolên-
cia física, orientá-la para
submeter-se a exame de corpo de delito junto ao Instituto
Médico-Legal(olaudodoIMLédocumentoelaboradopara
fazer prova criminal).
– Junto a instituições que atendem mulheres que so-
frem violência, o processo de grupo é um instrumental
bastante recomendado. Através de dinâmicas específi-
cas, as mulheres podem socializar suas experiências, res-
gatar a auto-estima e encorajarem-se mutuamente para
fazer a denúncia ou para saírem da situação. Esses gru-
pospodemsercoordenadosporumaequipeinterdisciplinar,
ressaltando o importante papel da psicóloga nesse pro-
cesso.
– Na área da assistência, as mulheres que estão em
situação de violência deveriam ter prioridade nos critérios
de seleção em programas de proteção social, na Lei Or-
gânica de Assistência (LOAS) e outros, para que pudes-
sem ter uma renda mínima que assegurasse o seu susten-
to e o de seus filhos. Nessa área, o profissional de Serviço
Social também atua na formulação, execução e gestão de
políticas públicas e sociais.
– Na área da saúde, ações voltadas às unidades bási-
cas de saúde da rede pública poderiam ser desenvolvidas,
gerando estratégias que ressaltem a noção de violência
contra a mulher como um problema de saúde pública.
– Em relação ao trabalho ou ocupação remunerada,
muito sugestivas têm sido as experiências de economia so-
lidária, grupos de produção ou cooperativas de mulheres,
que envolvem nas suas parcerias, empresas e sindicatos
em comunidades urbanas e rurais. Gerar políticas inclusi-
vas de inserção da mulher no mercado de trabalho é muito
importante, pois a dependência econômica é um dos princi-
pais impecilhos para sair da relação de violência.
– Na área da educação, atividades de conscientização
e esclarecimento em relação à violência contra a mulher
são recomendadas – envolvendo pais, alunos, professores
e funcionários, enfim, o corpo pedagógico de escolas da
rede pública e privada de ensino, promovendo debates so-
breviolênciaediscrimina-
ção de gênero. Do mes-
momodo,acriaçãodepro-
gramas para os jovens
tambéméimprescindível,
despertandoaconsciência
sobreaquestãodaviolên-
cia contra a mulher, en-
gajando-os na discussão
sobre desigualdades de
gênero, estimulando-os a
assumiremresponsabilida-
de no cuidado com os fi-
lhos,nasquestõesrelativas
àsaúdesexualreprodutiva
e orientado-os sobre me-
didas não violentas na re-
soluçãodeconflitos.
– Na área da habitação e infra-estrutura, seria impor-
tante a geração e o desenvolvimento de políticas públicas
inclusivas, com o objetivo de garantir recursos que con-
templem crédito para a construção de casas para as mu-
lheres que estão nos serviços de proteção, utilizando-se
critérios de prioridade para aquelas que são chefes de
família, visto que, na maioria dos casos que envolvem vi-
olência, são elas que deixam as casas.
– Na área da comunicação, é possível promover ações
de capacitação e sensibilização junto às agências regula-
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doras de rádio e tevê, jornais e peças publicitárias, abor-
dando as questões de gênero e reconstruindo a imagem
das mulheres em situação de violência.
Em todas essas áreas é importante o trabalho em rede,
ou seja, conhecer os diversos tipos de atendimentos exis-
tentes, os colegas profissionais que atuam sob o mesmo
enfoque atuar em parceria: elaborar projetos em conjun-
to, usufruir os recursos (materiais, pessoais e financeiros)
de um programa, canalizar forças para o sucesso das
ações e trocar experiências de práticas bem sucedidas.
É importante destacar que a melhoria na qualidade
dos serviços oferecidos às mulheres em situação de vio-
lência, bem como mudanças na legislação pertinente, são
assuntos ligados à mobilização da sociedade civil e ao
engajamento político. A participação junto a fóruns que
discutem as questões das mulheres, nos conselhos da mu-
lher, no parlamento, é fundamental para uma mudança.
É fundamental, também, organizar campanhas, even-
tos, seminários, atos públicos, passeatas, para sensibilizar a
sociedade frente a essa questão. Nesse sentido, uma im-
portante estratégia de ação está sendo lançada, em nível
nacional, pelo Instituto Papai (uma ONG de Pernambuco):
a campanha do Laço Branco. Esta campanha tem por ob-
jetivo sensibilizar, envolver e mobilizar principalmente os
homens no engajamento pelo fim da violência contra a
mulher, em consonância com as ações e movimentos orga-
nizados de mulheres e de outras agremiações a favor da
eqüidade e implementação dos Direitos Humanos.
Além desses enfoques nas políticas públicas, a profis-
são também tem uma dimensão pedagógica, na medida em
que se trabalha numa perspectiva de transformação da
consciência dos sujeitos, com vistas à sua emancipação.
Junto a mulheres que sofrem violência, devemos empreen-
der um trabalho incansável na perspectiva do resgate des-
sas mulheres como sujeitos de direitos, como seres sociais
e como cidadãs. Enfim, desenvolvendo nessas mulheres
seu poder pessoal e coletivo, resgatando-lhes a auto-estima
e a autoconfiança, trabalhando seu processo de fortaleci-
mento e de emancipação.
Recebido em 09.05.2005.
Aprovado em 26.07.2005.
5HIHUrQFLDV5HIHUrQFLDV5HIHUrQFLDV5HIHUrQFLDV5HIHUrQFLDV
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orientações para a prática em serviços. Cadernos de
Atenção Básica, n.º 8, Brasília/DF, 2002.
FALEIROS, V. Estratégias em Serviço Social. 2. ed. São
Paulo: Cortez, 1999.
FOUCAULT, M. Historia da sexualidade 1. A vontade de
saber. 14. ed. Rio de Janeiro: Graal, v. 1, 1990. 3v.
GUERRA, Y. Ontologia social e formação profissional.
Cadernos do Núcleo de Estudos e Aprofundamento
Marxista-NEAM, n. 1, PUC/SP. São Paulo, 1997.
IAMAMOTO, M.V. O Serviço Social na con-
temporaneidade: trabalho e formação profissional. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 1999.
NETTO, J. P. A construção do projeto ético-político do
Serviço Social frente à crise contemporânea. In:
Capacitação em Serviço Social e Política Social –
Programa de Capacitação Continuada para Assistentes
Sociais. Módulo 1. Brasília: CFESS/CEAD/NEB-UNB,
p. 91-110, 1999.
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viço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1991.
SAFFIOTTI, H. I. B.; ALMEIDA, S. S. de. Violência de
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e Realidade, Porto Alegre, FAE: UFRGS, v. 20, n. 2 , p.
71-100, jul. dez. 1995.
TELES, M. A. de A.; MELO, M. de. O que é violência
doméstica contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2002.
1RWDV1RWDV1RWDV1RWDV1RWDV
1 Agradecemos as sugestões das acadêmicas de Serviço
Social Eva Terezinha dos Santos e Janize Biella,
integrantes do NUSSERGE e estagiárias do CEVIC,
semestre 2005.1.
2 Ângela Diniz foi assassinada por seu companheiro, o
milionário Doca Strett, e Eliane de Grammont pelo
cantor Lindomar Castilho. Os dois crimes marcam essa
época, sendo que um deles foi praticado por alguém
da alta sociedade e o outro ocorre na classe média
brasileira.
3 Esta denominação é utilizada no Rio de janeiro. Em
São Paulo o serviço atende pelo nome de Delegacia
de Defesa da Mulher, sendo encontradas outras
denominações em diferentes estados brasileiros. No
estado de Santa Catarina o órgão é denominado de
Delegacia de Proteção à Mulher, à Criança e ao
Adolescente.
4 As minorias, aqui, devem ser entendidas como “[...] um
conjunto social que se encontra, se sente representado
comodiscriminadoeoprimidonasociedade,nasrelações
sociaisestruturantesdeclasse,gênero,orientaçãosexual,
raça e cultura” (FALEIROS, 1999, p.19).
.$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&
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Teresa Kleba Lisboa
tkleba@cse.ufsc.br
Eliane Aparecida Pinheiro
elianeapinheiro@bol.com.br
Dep. de Serviço Social
Núcleo de Estudos e Pesquisa em Serviço Social e Rela-
ção de Gênero (NUSSERGE)
Universidade Federal de Santa Catarina
Campus Universitário Prof. João David Ferreira Lima
Florianópolis – Santa Catarina
CEP: 88010-970
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Fonte:
https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/2926011.pdf
https://creativecommons.org/licenses/by-nd/3.0/us/

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A intervenção do Serviço Social junto à questão da violência contra a mulher

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  • 2. 77777HUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& ,QWURGXomR,QWURGXomR,QWURGXomR,QWURGXomR,QWURGXomR 2 presente artigo resulta de uma pesquisa re- alizada junto a assistentes sociais que tra- balham em instituições que atendem mu- lheres que vivem em situação de violência e tem como objetivo analisar o papel do Serviço Social junto à questão da violência contra a mulher. Um primeiro ponto a ser ressaltado é a inexistência do profissional de Serviço Social junto às Delegacias de Pro- teção à Mulher em toda a região sul do Brasil. Raro, o atendimento, quando ocorre, é feito por um profissional de Psicologia que, por sua vez, reconhece a importância e a necessidade do trabalho do assistente social na instituição. Depois de exaustivo levantamento nos três estados da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), em delegacias de atendimento a mulheres e em institui- ções que trabalham com essa questão, como o Centro de Atendimento à Vítima de Crime (CEVIC)1 – e postos de atendimento sociojurídico dos cursos de Serviço Social e Direito das universidades, o universo de pesquisa ficou delimitado em sete assistentes sociais, sendo uma do es- tado do Rio Grande do Sul e seis do estado de Santa Catarina. A violência contra a mulher tem sido apontada pela ONU como uma violação dos Direitos Humanos e como um problema de Saúde Pública, ou seja, como uma das principais causas de doenças das mulheres (hipertensão, angústia, depressão, sofrimento psíquico, e outras). Da mesma forma, a violência cometida contra as mulheres é consideradaumdosprincipaisentravesaodesenvolvimento de países do mundo inteiro. Portanto, a interlocução do Serviço Social com essa questão se faz necessária. Uma vez que a violência de gênero é um fenômeno social, deve ser enfrentada atra- vés de um conjunto de estratégias políticas e de interven- ção social direta. 9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR9LROrQFLD FRQWUD D PXOKHU SRU TXH QmR PHWHU D FROKHU" 3XEOLFL]DQGR HVWD TXHVWmRPHWHU D FROKHU" 3XEOLFL]DQGR HVWD TXHVWmRPHWHU D FROKHU" 3XEOLFL]DQGR HVWD TXHVWmRPHWHU D FROKHU" 3XEOLFL]DQGR HVWD TXHVWmRPHWHU D FROKHU" 3XEOLFL]DQGR HVWD TXHVWmR Analisar de que forma os pressupostos teórico- metodológicos estão orientando a intervenção dos assis- tentes sociais junto às mulheres que vivenciam situações de violência nos remete a buscar, na história da socieda- de, elementos para compreender como foi o papel da so- ciedade civil e do Estado frente a essa problemática. Aviolência contra a mulher, enquanto objeto de denún- cia, não é recente; porém, o esforço para combatê-la e preveni-la ocorre somente a partir dos anos 80, quando esse tema passa a incorporar as lutas dos movimentos feminis- tas que tornam o debate público. Até então a mulher bra- sileira sofria em silêncio a violência que lhe era infligida, geralmente, no espaço privado de sua casa e praticada por alguém com quem ela mantinha uma relação afetivo-con- jugal, porque, aos olhos do poder público e da sociedade, “em briga de marido e mulher não se metia a colher”. Em decorrência dessas lutas, o tema da violência con- tra a mulher passou a ser publicizado no cenário brasilei- ro, com o slogan: “Quem ama não mata”. Nessa época dois assassinatos de mulheres da classe média pelos seus companheiros, crimes justificados pela tese de defesa da honra, tiveram repercussão nacional. Foram os de Ângela Diniz (Minas Gerais) e de Eliane de Grammont (Rio de Janeiro)2 . Estes crimes serviram para denunciar a reali- dade de milhões de mulheres que estavam submetidas a situações de violência doméstica. Nesse percurso, o movimento feminista teve um pa- pel preponderante no que tange a lutas e conquistas de políticas sociais para as mulheres que sofrem violência. Inicialmente, a atuação das feministas esteve mais ligada à perspectiva de denunciar a violência contra a mulher e, num segundo momento, desenvolveu ações buscando ga- rantir o atendimento e o apoio através de serviços especí- ficos para as mulheres que viviam situações de violência, como os SOS Mulher e as Delegacias Especiais de Aten- dimento a Mulher (DEAM)3 . Em função dessa mobilização, em 1985 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, como um ór- gão consultivo, com o objetivo de promover políticas soci- ais para as mulheres, no sentido de eliminar qualquer tipo de discriminação e garantir condições de igualdade para o exercício da cidadania. Esse Conselho exigiu a modifica- ção da legislação que discriminava a mulher e apresentou propostas para a Constituinte de 1988, com o slogan: “Constituinte pra valer tem que ter direitos da mulher”. Em janeiro de 2003 foi criada a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, pelo então Presidente da Re- pública Luiz Inácio Lula da Silva. A Secretaria assumiu status de Ministério e tem como função elaborar, articu- lar e executar políticas direcionadas à eqüidade de gêne- ro. Um dos principais serviços que está sendo viabilizado por essa Secretaria tem sido a construção de abrigos/ca- sas de apoio. Os abrigos são parte integrante do “Progra- ma de Prevenção,Assistência e Combate à Violência Con- tra a Mulher”, proposto pelo poder executivo federal em parceria com os municípios, e é considerado o tipo de ser- viço que deve estar presente na constituição de uma rede de atendimento para mulheres em situação de violência. O grande desafio no enfrentamento da violência contra a mulher é a efetivação de uma rede de serviços que agre- gue os diferentes programas e projetos, consolidando uma política social de atendimento. Os serviços existentes ainda não conseguem atender as mulheres de forma integral, con- forme identificado na pesquisa realizada nos três municípi- os e expresso na fala de umas das entrevistadas:
  • 3. .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& $ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU re tanto no espaço interno como externo e é resultado de relações violentas entre os membros da família. Para o Ministério da Saúde, “a violência intrafamiliar é toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade físi- ca, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desen- volvimento de outro membro da família” (BRASIL, 2002, p.14). Família, aqui, deve ser compreendida não apenas como o grupo formado por pessoas ligadas por laços de consangüinidade, mas também como o daquelas que as- sumem relações de parentesco entre si. O argumento do conceito se pauta na questão de que ele envolveria todos os familiares que, por suas situações de vulnerabilidade, estariam sujeitos a sofrer a violência. Violência de gênero é uma expressão mais recente, e busca designar um padrão de comportamento que “[...] visa à preservação da organização social de gênero, fun- dada na hierarquia e desigualdade de lugares sociais sexuados que subalternizam o gênero feminino” (SAFFIOTI; ALMEIDA, 1995, p.159). A violência de gênero deve ser entendida como uma relação de poder, caracterizada pela dominação do ho- mem e pela submissão da mulher. Esses padrões de com- portamento foram incutidos ao longo de um processo sociocultural e civilizatório, através de uma educação di- ferenciada para homens e mulheres, induzindo e fortale- cendo papéis e estereótipos. Assim, a violência de gênero é produzida e reproduzida nas relações de poder e, quan- do a soberania masculina se sente ameaçada, a violência aparece como um mecanismo que tem o poder de manter a ordem estabelecida. Partindo dessa discussão, duas categorias são impor- tantes para a compreensão da temática da violência con- tra a mulher: gênero e poder. 9LROrQFLD H UHODo}HV GH JrQHUR ¥ R SRGHU9LROrQFLD H UHODo}HV GH JrQHUR ¥ R SRGHU9LROrQFLD H UHODo}HV GH JrQHUR ¥ R SRGHU9LROrQFLD H UHODo}HV GH JrQHUR ¥ R SRGHU9LROrQFLD H UHODo}HV GH JrQHUR ¥ R SRGHU HP TXHVWmRHP TXHVWmRHP TXHVWmRHP TXHVWmRHP TXHVWmR No Brasil, a utilização da categoria gênero, enquanto uma categoria analítica, é introduzida pelas estudiosas do feminismo, a partir da década de 1980. Partindo de questionamentos sobre as categorias patriarcado, divi- são sexual do trabalho e relações entre os sexos, a dis- cussão sobre relações de gênero tenta mostrar que as diferenças sexuais superam a “simples” definição bioló- gica, pois agregam em si características socialmente construídas, podendo os papéis de homem e mulher va- riar conforme a cultura. Parte-se do pressuposto de que os estudos relacionados às mulheres devem necessaria- mente incluir os homens. Segundo Scott (1995), a discussão do conceito de gê- nero e a introdução do mesmo como categoria de análi- se aconteceu através das feministas norte-americanas, que tinham como objetivo refutar o determinismo bioló- Não tem parcerias com a rede de atendimento, com a assistência social, é muito difícil. Procu- ro sempre o centro comunitário do bairro para encaminhar as mulheres. A relação com a Fun- dação para o encaminhamento das famílias para o Programa de Renda Mínima é boa. Na rede de educação, no que diz respeito à creche e programas socioeducativos, é difícil de arti- cular. Com a habitação não conseguimos esta- belecer relações. No fundo a rede não funcio- na... (Depoimento de uma assistente social). As dificuldades presentes no cotidiano dos profissio- nais, em razão de não possuírem uma rede de proteção para as mulheres atendidas, acaba gerando outros tipos de relações. Quando os profissionais necessitam articular os serviços oferecidos, acabam acessando a rede através de relações de amizade ou coleguismo, e não como deve- ria ser, como garantia de direito. 9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D9LROrQFLD GH JrQHUR YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLVPXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLVPXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLVPXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLVPXOKHU ¥ DVSHFWRV FRQFHLWXDLV Para a compreensão da questão da “violência contra a mulher”, diferentes concepções são utilizadas: violência contraamulher,violênciadoméstica,violênciaintrafamiliar, violência de gênero e outras. O termo violência contra a mulher surge nos anos 70, através do movimento feminista, ao denunciar para a sociedade que as mulheres eram o alvo principal da vio- lência praticada pelos homens. A violência contra a mu- lher tanto pode ocorrer dentro de casa como fora dela. Muitas vezes ela é praticada por pessoas não relaciona- das à família, mas que mantêm um certo poder sobre a mulher. A justificativa para os atos de violência estaria somente no fato de ser mulher, portanto um ser submisso, que deve obediência ao homem. Violência doméstica, por sua vez, é definida por Teles e Melo (2002, p. 19), como “[...] a que ocorre dentro de casa, nas relações entre pessoas da família, entre homens e mulheres, pais/mães e filhos, entre jovens e pessoas ido- sas”. Este conceito delimita o espaço da ocorrência para dentro de casa (espaço doméstico), deixando aberto o campo de quem seja o agressor, principalmente na violên- cia contra crianças e adolescentes. As violências que ocorrem dentro das casas, na maioria dasvezes,sãocometidaspeloscompanheiros,maridos,namo- rados, amantes, ou seja, por aquela pessoa com a qual a mu- lher mantém uma relação afetiva/conjugal. A violência do- méstica não interfere apenas na relação do casal, mas gera conseqüênciasdesastrosasparatodososmembrosdafamília. Violência intrafamiliar, é um termo que está sendo muito utilizado pelos programas governamentais. Ela ocor-
  • 4. 77777HUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& gico entre os sexos e for- talecer o caráter social das relações entre ho- mens e mulheres. Com base na discus- são proposta por Scott, gênero pode ser conside- rado como uma categoria de análise que tem sua “origem” nas relações so- ciais, interligada com ou- trascategoriascomoclas- se, raça, etnia, etc. O gênero é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebi- das entre os sexos, e o gênero é uma forma pri- mária de dar significado às relações de poder (SCOTT, 1995, p. 86). Esta definição, trabalhada pela autora, implica com- preender gênero como um elemento constitutivo das rela- ções sociais baseadas nas diferenças perceptíveis entre os sexos e como uma forma básica de identificar relações de poder em que as representações dominantes são apre- sentadas como naturais e inquestionáveis. Para Scott (1995), trabalhar com o conceito de gênero nos remete a superar as análises dicotômicas, ou seja, a polarização entre o que seja feminino e masculino. A auto- ra destaca que comumente pensamos o homem e a mulher comodoissujeitosempólosopostos.Superaressadicotomia é visualizar homem e mulher como componentes de uma mesma relação e não como opositores entre si. Homens e mulheres estabelecendo constantes relações, que segundo Foucault (1990), se estruturam em forma de rede. Para este autor, as discussões sobre as relações de poder têm agregado novos elementos para a perspectiva de gênero. Para Foucault (1990, p.183), o poder [...] não é algo que se possa dividir entre aque- les que o possuem e o detêm exclusivamente e aqueles que não o possuem e lhe são submeti- dos. O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apro- priado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. Esta concepção de poder vem ao encontro da discus- são sobre relações de gênero, mais precisamente no âm- bito de instituições como a família, oferecendo argumen- tos que poderão auxiliar na compreensão da violência con- tra a mulher, buscando superar uma visão essencialmente vitimista da mulher. Uti- lizando o conceito de po- der em Foucault (1990), a mulher é sujeito na re- lação, ou seja, ela tam- bém utiliza estratégias de poder e de negociações nas relações violentas entre o casal. Foucault (1990) afir- ma que onde existe po- der também encontra- mos resistência, sendo esta última inerente ao exercício do poder. Partindo desta perspectiva, a mulher que está vivenciando situações de violência nem sempre a recebe passivamente; nem sempre pode ser conside- rada vítima ou a única “culpada”. Ela é sujeito na rela- ção, portanto, ela também resiste e cria “contrapoderes que circulam”. O poder tem um lugar significativo nos estudos de Foucault (1990). Ele supera as concepções tradicionais de poder, onde este é central e exercido de forma linear. O autor entende que o poder é exercido em diferentes e variadas direções, como uma rede que engloba toda a sociedade: ninguém está livre dele. O poder é concebido como uma estratégia; portanto, ele não é um privilégio que alguém possui e transmite. Simplificar a relação homem e mulher em agressor e vítima ou eleger um fator como causador da violência con- tra a mulher reduz a discussão e compreensão da proble- mática da violência, pois esta ocorre sempre numa relação, ou de dominação do homem e extrema submissão da mu- lher, ou onde ambos são atores e sujeitos do conflito. Portanto, analisar a violência contra a mulher, supe- rando a leitura oposicionista entre os pólos homem e mu- lher, ter claro que a relação conjugal é formada por duas pessoas e ambas exercem influência nessa relação, re- pensar nossa tendência de julgamento, que é considerar o homem sempre como o único responsável pela violência e a mulher apenas como vítima, assim como perceber que a violência é construída social e historicamente pode au- xiliar na compreensão do problema e na busca de alterna- tivas para a intervenção profissional. $ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV$ YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ XPD GDV LQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDOLQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDOLQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDOLQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDOLQWHUIDFHV GD TXHVWmR VRFLDO O avanço do sistema neoliberal tem repercutido dire- tamente nas transformações do Serviço Social. A desresponsabilização do Estado face às suas atribuições na garantia dos direitos dos cidadãos tem atingido as rela- ções de trabalho e também as profissões, o que tem exigi- 2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR2 JUDQGH GHVDILR QR HQIUHQWDPHQWR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p DGD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p DGD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p DGD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p DGD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU p D HIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRVHIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRVHIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRVHIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRVHIHWLYDomR GH XPD UHGH GH VHUYLoRV TXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHVTXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHVTXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHVTXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHVTXH DJUHJXH RV GLIHUHQWHV SURJUDPDV H SURMHWRV FRQVROLGDQGRSURJUDPDV H SURMHWRV FRQVROLGDQGRSURJUDPDV H SURMHWRV FRQVROLGDQGRSURJUDPDV H SURMHWRV FRQVROLGDQGRSURJUDPDV H SURMHWRV FRQVROLGDQGR XPD SROtWLFD VRFLDO GH DWHQGLPHQWRXPD SROtWLFD VRFLDO GH DWHQGLPHQWRXPD SROtWLFD VRFLDO GH DWHQGLPHQWRXPD SROtWLFD VRFLDO GH DWHQGLPHQWRXPD SROtWLFD VRFLDO GH DWHQGLPHQWR
  • 5. $ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& do redefinições em termos de competências frente às no- vas demandas das questões que implicam a ação profissi- onal. No panorama das novas interfaces que se apresen- tam, a questão da violência contra a mulher tornou-se cada vez mais visível e passou a ser discutida como um proble- ma público a ser enfrentado. Nesse novo quadro conjuntural, Iamamoto (1999) lem- bra que o momento presente desafia os assistentes soci- ais a se qualificarem para acompanhar, atualizar e expli- car as mudanças da realidade social. Entre as novas com- petências exigidas está, sobretudo, a produção de conhe- cimento sobre a realidade social em que cada profissional atua, para dar suporte ao processo de intervenção. Seja no espaço da violência contra a mulher ou em qualquer outro espaço ocupacional, o assistente social in- tervém sobre um objeto de trabalho, ou seja, sobre este incide alguma ação profissional. Por isso, para o assisten- te social, é essencial o conhecimento da realidade em que atua, a fim de compreender como os sujeitos sociais ex- perimentam e vivenciam as situações sociais. No caso, trabalhando com a temática da violência contra a mulher, o profissional de Serviço Social necessita aprofundar seu conhecimento sobre as múltiplas determinações que de- correm da mesma. Nessa perspectiva, conforme Iamamoto (1999, p.52), O grande desafio na atualidade é, pois, transi- tar da bagagem teórica acumulada ao enraizamento da profissão na realidade, atri- buindo, ao mesmo tempo, uma maior atenção às estratégias e técnicas do trabalho profissio- nal, em função das particularidades dos temas que são objetos de estudo e ação do assistente social. Discussões em torno do objeto de trabalho do Serviço Social têm sido feitas ao longo da história da profissão. Contextualizando o Serviço Social na contemporaneidade, Iamamoto define que o objeto de trabalho do Serviço So- cial compõe-se das expressões da questão social, enten- didas como as conseqüências das desigualdades origina- das pelo sistema capitalista. Para a autora, o objeto de trabalho, ou matéria-prima, do Serviço Social passam a ser as particularidades das expressões sociais e como estas são experimentadas pelos sujeitos que as vivenciam, so- bretudo na relação com o trabalho e a classe social. A partir de 1990, o processo de globalização passa a fazer novas configurações no mundo do trabalho, como a flexibilização e a terceirização das contratações, dando um novo enfoque para a questão social. Os movimentos socioculturais trazem à tona temas como o respeito às diferenças, os processos migratórios, e as lutas das cha- madas “minorias”4 . As reivindicações desses grupos exi- giram uma nova organização e prestação de serviços so- ciais, incidindo diretamente na profissão do Serviço Soci- al, que passou a reconstruir e “reprocessar” o seu objeto de intervenção. Outras formas de expressão, sobretudo culturais, como a violência contra a mulher, injustiças cometidas contra negros e índios, exploração de crianças, movimento dos sem terra, etc., também passam a constituir manifesta- ções da questão social. Faleiros (1999) lembra que toda a construção de um ob- jeto profissional deve levar em conta a história, as discus- sões, os debates e os projetos de sociedade. Para esse autor, mantendo-se uma concepção classista, a heterogeneidade dos campos de atuação da profissão de Serviço Social fica restrita, uma vez que esta não se limita a atuar somente nas questões de trabalho ou na perspectiva de classe. O foco da atuação profissional do assistente social, se- gundo Faleiros, ou seja, o seu objeto, constrói-se no proces- so de articulação do poder dos sujeitos, no enfrentamento das questões relacionais complexas que devem ser capta- das e entendidas em cada espaço profissional ocupado e em cada especificidade institucional. Assim, essas inter- venções exigem dinâmicas, recursos, organização e infor- mação e vão construindo e desconstruindo a identidade pro- fissional nas condições históricas. Para esse autor, o objeto da intervenção profissional se definenarelaçãoestrutural/conjuntural/situacional,compre- endendo, porém, que atualmente a intervenção profissional do Serviço Social se exerce dentro de um contexto institucional, com particularidades e interesses que exigem uma correlação de forças e mediações para que seja possí- vel a sua realização. Afirma que a questão social não pode ser tomada como objeto profissional do Serviço Social bra- sileiro a partir de uma única concepção, pois entram em jogo novas configurações das relações sociais. Na atual conjuntura, os enfrentamentos de in- teresses, grupos e projetos, estão sendo vistos num processo complexo de relações de classe, gênero, raça, etnia, cultura, religiões, parentes- cos, trazendo à discussão as mediações da sub- jetividade e que não se resumem tout court na noção de questão social (FALEIROS, 1999, p.40). Dessa forma, é necessário trazer para a discussão e colocar na pauta da ação profissional dos assistentes so- ciais essas outras dimensões da realidade, sobretudo a relação de gênero, que repercute diretamente na questão do poder e da violência. Trabalhar com os novos dilemas familiares, incluindo a questão da violência, da dependên- cia química e das doenças crônicas, de um lado, e a agudização da pobreza, a ampliação e o fortalecimento da filantropia com os parcos recursos e deficiências das po- líticas sociais, de outro, tem-se apresentado como desafio para os profissionais de Serviço Social.
  • 6. 77777HUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& As instituições (entre elas a família) passam a ser vis- tas como local de lutas de poderes, e o objeto da interven- ção deve responder a um processo complexo de relações sociais em que se entrecruzam demandas políticas, confi- gurando uma área de intervenção dos assistentes sociais. É na perspectiva relacional que vamos visualizar a questão do objeto profissional [...]. É com referência às relações de poder que vi- mos considerando a teoria e a prática do Servi- ço Social. O poder em si é uma relação. Uma relação complexa que passa pelos processos de hegemonia e contra-hegemonia, de dominação de raça, etnia, gênero, culturas... (FALEIROS, 1999, p.41). Assim, a temática da violência de gênero, com seus di- ferentes desdobramentos – violência doméstica, violência contra a mulher, violência intrafamiliar e outras – tem sido definida como uma relação de poder e de permanente con- flito, principalmente no locusfamiliar,demandan- do atendimento, encami- nhamentos,orientação,in- formação, recursos e capacitação por parte de assistentes sociais. A violência contra a mulhertornou-seobjetode intervençãoprofissionaldo assistentesocialcomoum desafiopostonocotidiano, sobre o qual ele deverá formular um conjunto de reflexão e de proposições para a intervenção. $ LQWHUYHQomR SURILVVLRQDO GR DVVLVWHQWH$ LQWHUYHQomR SURILVVLRQDO GR DVVLVWHQWH$ LQWHUYHQomR SURILVVLRQDO GR DVVLVWHQWH$ LQWHUYHQomR SURILVVLRQDO GR DVVLVWHQWH$ LQWHUYHQomR SURILVVLRQDO GR DVVLVWHQWH VRFLDO MXQWR j YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥VRFLDO MXQWR j YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥VRFLDO MXQWR j YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥VRFLDO MXQWR j YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥VRFLDO MXQWR j YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU ¥ DSRUWHV WHyULFR PHWRGROyJLFRVDSRUWHV WHyULFR PHWRGROyJLFRVDSRUWHV WHyULFR PHWRGROyJLFRVDSRUWHV WHyULFR PHWRGROyJLFRVDSRUWHV WHyULFR PHWRGROyJLFRV A história mostra que o Serviço Social, enquanto profis- são,caminhouparaleloàsconquistasdomovimentofeminis- ta e apenas recentemente integrou na sua agenda a discus- são relativa à problemática da violência contra a mulher. Essa falta de aproximação com a temática talvez tenha ocorrido porque, enquanto o movimento feminista lutava pelos direitos da mulher, publicizando e dando visibilidade para a questão da violência contra ela, o Serviço Social, como profissão, tentava avançar na superação de um pata- mar conservador, conforme Netto (1991), deixando para trás suas raízes vinculadas à doutrina social da Igreja para assumir uma postura mais crítica frente à sociedade. A conjuntura social brasileira da década de 1980 ser- viu de palco para que um novo projeto ético-político do Serviço Social fosse gestado, rompendo com uma trajetó- ria conservadora. Vários fatos contribuíram para esse rompimento, dentre eles o movimento de reconceituação, a crise da ditadura militar, a abertura democrática e as mobilizações de diferentes categorias de trabalhadores. Ocontextohistóricovividopelasociedadelevouacatego- riaprofissionalaumredimensionamentopolíticocomprometi- do, optando pela construção de uma sociedade mais justa. Como todo o universo heterogêneo, a catego- ria profissional não se comportou de modo idên- tico. Mas as suas vanguardas conquistaram, então, vivência democrática e se mobilizaram ativamente na contestação política [...], os seg- mentos mais ativos da categoria profissional vin- cularam-se ao movimento social dos trabalha- dores, rompendo com a dominância do conservadorismo [...] (NETTO, 1999, p.100). Conforme exposto a- cima, nem toda a cate- goriaassumiuonovopro- jeto profissional, ou seja, a construção do novo projeto ético e político do Serviço Social teve como precursores alguns assis- tentes sociais, denomina- dos por Netto (1999) de a “vanguarda do Serviço Social”, os quais, por sua vez, gestaram e formu- laram uma direção soci- al estratégica. O fato é que o Serviço Social tem-se projetado no universo das profissões com muita seriedade e compe- tência, configurando um espaço na divisão sociotécnica do trabalho que tem merecido confiança e angariado elo- gios. Em várias temáticas atuais, como os Projetos de Renda Mínima, Fome Zero, implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), os profissionais do Serviço Social têm sido chamados para prestar assesso- ria e contribuir com pesquisas e intervenção em áreas estratégicas. Essa valorização da profissão tem contri- buído para demarcar a identidade dos profissionais da assistência social. A opção por uma determinada teoria, portanto, e em conseqüência, pelo método proposto por ela, é também uma escolha política, ou seja, a dimensão ético-política não pode ser concebida separada da dimensão teórico-metodológica. A dimensão teórico-metodológica da profissão está direta- mente relacionada com o processo de intervenção. R 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGRR 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGRR 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGRR 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGRR 6HUYLoR 6RFLDO WHP VH SURMHWDGR QR XQLYHUVR GDV SURILVV}HV FRPQR XQLYHUVR GDV SURILVV}HV FRPQR XQLYHUVR GDV SURILVV}HV FRPQR XQLYHUVR GDV SURILVV}HV FRPQR XQLYHUVR GDV SURILVV}HV FRP PXLWD VHULHGDGH H FRPSHWrQFLDPXLWD VHULHGDGH H FRPSHWrQFLDPXLWD VHULHGDGH H FRPSHWrQFLDPXLWD VHULHGDGH H FRPSHWrQFLDPXLWD VHULHGDGH H FRPSHWrQFLD FRQILJXUDQGR XP HVSDoR QD GLYLVmRFRQILJXUDQGR XP HVSDoR QD GLYLVmRFRQILJXUDQGR XP HVSDoR QD GLYLVmRFRQILJXUDQGR XP HVSDoR QD GLYLVmRFRQILJXUDQGR XP HVSDoR QD GLYLVmR VVVVVRRRRRFLRWpFQLFD GR WUDEDOKR TXH WHPFLRWpFQLFD GR WUDEDOKR TXH WHPFLRWpFQLFD GR WUDEDOKR TXH WHPFLRWpFQLFD GR WUDEDOKR TXH WHPFLRWpFQLFD GR WUDEDOKR TXH WHP PHUHFLGR FRQILDQoDPHUHFLGR FRQILDQoDPHUHFLGR FRQILDQoDPHUHFLGR FRQILDQoDPHUHFLGR FRQILDQoD
  • 7. Os instrumentos ou meios de trabalho são elementos fundamentais de qualquer processo de trabalho. São eles que potencializam a ação do trabalhador sobre seu objeto de trabalho ou matéria-prima. O ser humano é o único ser capaz de criar meios e instrumentos de trabalho. Segundo Iamamoto (1999), é possível identificar três tipos de instrumentos presentes no processo de trabalho dos assistentes sociais: a) as bases teórico-metodoló- gicas, que se constituem no conjunto de conhecimentos e possibilitam a aproximação e conhecimento do objeto; b) o instrumental técnico-operativo, que realiza efetivamente a transformação do objeto e do Serviço Social, compondo- se de instrumentos como a entrevista, a observação, o es- tudo, o parecer social e os encaminhamentos, entre outros; e c) as condições institucionais, que dizem respeito, so- bretudo, às condições materiais de realização do trabalho, ou seja, os recursos financeiros, técnicos e humanos. Dis- correremos, a seguir, sobre cada um desses instrumentos. $ GLPHQVmR WHyULFR PHWRGROyJLFD$ GLPHQVmR WHyULFR PHWRGROyJLFD$ GLPHQVmR WHyULFR PHWRGROyJLFD$ GLPHQVmR WHyULFR PHWRGROyJLFD$ GLPHQVmR WHyULFR PHWRGROyJLFD Tem como objetivo proporcionar a base de explicação e interpretação do real, para que o assistente social possa propor estratégias de intervenção para o enfrentamento da realidade. A intencionalidade da ação vai estar presente no exercício profissional e é explicitada quando a intervenção se realiza. Iamamotto (1999) destaca que o conhecimento é um meio de trabalho do assistente social, deixando claro que as bases teórico-metodológicas são essenciais para o exer- cício profissional. Esta dimensão contribui para direcionar a intervenção. Da mesma forma, Guerra (1997) enfatiza que todo o fazer profissional deve estar amparado por uma teoria social que, geralmente, depende da escolha do assistente social. Mas esta escolha não é aleatória, [...] trata-se de uma escolha que requer o co- nhecimento dos fundamentos filosóficos e epistemológicos, da vinculação dessa teoria a um projeto de sociedade e, sobretudo, do senti- do que ela possui para as forças políticas mais avançadas. E ainda o fazer a que nos referimos exige que o profissional detenha o domínio do método que lhe possa servir de guia ao conhe- cimento, conhecimento que lhe possibilitará es- tabelecer estratégias e táticas de intervenção profissional (GUERRA, 1997, p. 61-2). O aprofundamento teórico e a vinculação deste com o processo de intervenção são de responsabilidade do pro- fissional, no esforço constante de ser um assistente social propositivo, que extrapole o mecanicismo da prática de atendimento no cotidiano das instituições, que busque ar- ticular-se em redes com outros colegas, para juntos pen- sarem em possíveis caminhos de intervenção. A produ- ção da prática pressupõe aproximação constante com a teoria: é como se prática e teoria fizessem parte de um movimento dialético de ação, reflexão, ação; é como se ocorresse um ato coletivo e político entre os sujeitos soci- ais, sejam eles agentes ou usuários institucionais. O Código de Ética da profissão também tem sido um marco orientador para a intervenção dos assistentes soci- ais, na medida em que explicita a dimensão ético-política que os profissionais devem assumir perante os usuários, através de seus onze princípios fundamentais. Igualmente o projeto ético-político da profissão tem ori- entado as bases teórico-metodológicas, na medida em que pretende despertar o profissional de Serviço Social para o seu compromisso com a população excluída, na perspec- tiva de tornar-se um intelectual orgânico que atua na viabilização e no fortalecimento do saber e do poder po- pular no cotidiano. Em relação à temática da violência contra a mulher, o projeto ético-político convida os profis- sionais de Serviço Social a desempenhar seu papel, orien- tando, discutindo estratégias e encaminhando as mulhe- res para onde possam receber atendimento eficiente e ter os seus direitos garantidos. Chama-os, ainda, para lutar por políticas que venham ao encontro das necessidades básicas dessas mulheres, instigando-as a participarem de movimentos que visem ao fim da violência e à conquista dos seus direitos. Para tanto, é essencial que sejam aprofundados os conhecimentos teóricos sobre o objeto de intervenção da prática, para uma atuação competente e compromissada com este projeto ético-político. 2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR2 LQVWUXPHQWDO WpFQLFR RSHUDWLYR OServiçoSocialéumaprofissãointerventiva,socialmente construída, inserida na divisão sociotécnica do trabalho. O assistente social tem a tarefa de responder com competên- cia às demandas sociais apresentadas no seu cotidiano pro- fissional, pois a natureza interventiva da profissão exige dos profissionaisautilizaçãodeinstrumentosetécnicasarticula- dos com as dimensões teórica, ética, e política. O cotidiano é o espaço que oferece as oportunidades, os desafios e os limites para a ação profissional. Conhecer os contornos, as potencialidades, as demandas e as respos- tas possíveis é condição primeira para um exercício profis- sional competente e comprometido com os usuários. Apresentaremos a seguir os principais instrumen- tais técnico-operativos utilizados na intervenção profissi- onal junto a mulheres que sofrem violência. • Entrevista – A entrevista com o profissional de Serviço Social é geralmente a primeira conversa realizada com a mulher que, quando chega à Insti- tuição, ainda está sob efeitos da agressão ou vio- lência sofrida. É também chamada de abordagem .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& $ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU
  • 8. individual, e possibilita a escuta social e o acolhi- mento da mulher. A entrevista se desenrola num processo de escuta da queixa apresentada e do mo- tivo que a levou a procurar o serviço. Neste mo- mento, as mulheres expõem suas preocupações, queixas, desejos, necessidades. No processo de en- trevista é importante ouvir e observar. A observa- ção permite, ao olhar com atenção, perceber as reações, os sentimentos expressos pela usuária, suas relações, o ambiente onde está inserida. É o mo- mento de articular o maior número possível de in- formações sobre a situação apresentada, possibili- ta fazer a tipificação da violência e o diagnóstico da situação. O assistente social deve primar pela escuta sem julgamentos, pela compreensão e re- flexão em relação aos encaminhamentos, sempre numa atitude de respeito à pessoa usuária. A partir deste primeiro encontro, outras entrevistas podem ser realizadas, na própria instituição ou no domicílio da mulher agredida. • Visita domiciliar –Avisita domiciliar é um instru- mento muito importante para conhecer a realidade na qual vive a mulher, principalmente em proces- sos que demandam o trabalho com a família, ou quando envolvem a guarda de crianças, exigindo um melhor acompanhamento da situação com es- tudo sociofamiliar. Também é indicada quando a abordagem com a vizinhança é necessária para sub- sidiar os dados da situação. • Reuniões com grupos de mulheres – As reuni- ões realizadas com grupos de mulheres que sofrem violência têm contribuído de maneira significativa para tirá-las de um processo de angústia e baixa auto-estima, na medida em que vão, aos poucos, socializando informações, constatando que muitas estão em igual situação, e sentindo-se mais segu- ras e fortificadas para levarem adiante possíveis encaminhamentos como, por exemplo, a denúncia. As dinâmicas de grupo são indicadas para este tipo de reuniões. • Reuniões com a equipe multiprofissional – As reuniões com a equipe multiprofissional – de assis- tentes sociais, psicólogos, médicos, enfermeiros, ad- vogados e outros – são decisivas para o encami- nhamento correto das situações de violência. O as- sistente social geralmente é o primeiro contato das pessoas que chegam às instituições, realiza a pri- meira entrevista, faz visitas domiciliares e elabora um estudo social, emitindo parecer (em caso de so- licitação do juiz) e procedendo aos encaminhamen- tos. A psicóloga vai atuar dando apoio psicológico, principalmente quando a mulher está traumatizada. O médico e a enfermeira vão prestar atendimento, na área da saúde, por ocasião de ferimentos resul- tantes da agressão. O advogado orientará em rela- ção à forma correta de efetuar a denúncia, bem como às penas previstas para os culpados pela agressão, emitirá mandato de apreensão e busca, enfim entre outras ações, encaminhará o processo para as instâncias pertinentes. Reuniões interdisciplinares com a equipe que atendeu a mes- ma situação são importantes, com o objetivo de socialização dos dados (ou do diagnóstico), para que os encaminhamentos possam ser realizados da for- ma mais correta possível. • Documentação, elaboração de relatórios, pa- recer social – A elaboração de relatórios é de fun- damental importância. Os relatórios são a história familiar de cada uma das pessoas, atendidas, de cada uma das mulheres. Ali se desencadeia toda a trama da situação vulnerável em que se encontra a família ou o casal. Muitos dados resultantes de um estudo minucioso e bem fundamentado são essen- ciais para posteriores encaminhamentos. Os assis- tentes sociais, “são administradores de vidas”. Mui- tas vezes têm extrema responsabilidade por enca- minhamentos errôneos decorrentes da falta de es- tudo e de apontamentos de dados cruciais. • Planejamento de programas, construção de in- dicadores – A emergência do tema, suas reper- cussões e desdobramentos, reivindica, como neces- sário e urgente, o posicionamento do Serviço Soci- al quanto a planejamento, execução e gestão de programas que levem em conta a eqüidade de gê- nero nas políticas públicas, criando indicadores que digam respeito, principalmente, à violência contra a mulher. • Pesquisa – Os assistentes sociais, no seu espaço de trabalho, detêm inúmeras informações e co- nhecimentos sobre os usuários com os quais inter- vêm. A pesquisa é um instrumento que possibilita conhecer, explorar e sistematizar os dados, com conseqüente produção de conhecimento sobre a realidade cotidiana das mulheres que sofrem vio- lência e sobre a dinâmica das instituições. As metodologias qualitativas – entrevistas, histórias de vida, e outras – são especialmente recomendadas nessa área, pois permitem visualizar um fenômeno (o da violência) que permaneceu durante muito tem- po invisível, dando voz às mulheres que, por sua vez, também permaneceram durante muito tempo silenciadas. • Articulação em rede – Segundo Faleiros (1999), o trabalho em redes fomenta os meios para a supera- ção do sentimento de impotência frente às condi- ções de trabalho colocadas para os assistentes soci- ais, e também combate a onipotência de acreditar que o Serviço Social, enquanto profissão, tem condi- .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& 77777HUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR
  • 9. ções de mudar tudo. O autor afirma que “a rede é uma articulação de atores em torno [...] de uma ques- tão ao mesmo tempo política, social, profundamente complexa e processualmente dialética” (FALEIROS, 1999, p.25). Em relação à questão da violência con- tra a mulher, geralmente existem as seguintes insti- tuições que deveriam estar se articulando em rede: o atendimento sociojurídico nas universidades, as de- legacias de mulheres, os centros de atendimento a mulheres, os SOS Mulher, o Disque Denúncia, o Protocolo de Atenção às Vítimas de Violência Se- xual, os hospitais, os institutos médico-legais, as ca- sas de proteção ou abrigos para mulheres que so- frem violência, os programas de proteção e preven- ção à violência, e o atendimento psicológico em clí- nicas ou outros lugares, entre outros. Uma interven- ção em rede pode ampliar a autonomia dos sujeitos envolvidos,extrapolandoaaçãoindividualdoprofis- sional para com as usuárias, criando possibilidades de aumentar a participação dos sujeitos. $V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV$V FRQGLo}HV LQVWLWXFLRQDLV Os programas de atendimento para mulheres em situ- ação de violência não têm sido considerados como priori- dade pelo poder público, recebendo, por esse motivo, pou- co apoio técnico e financeiro. A realidade demonstra um descompasso entre o que as mulheres buscam junto aos serviços oferecidos, o modo como os profissionais de Ser- viço Social gostariam de intervir junto a essa problemáti- ca e os recursos humanos, técnicos e financeiros que a instituição oferece. A falta de uma política social especí- fica para essa questão é uma lacuna que interfere no exer- cício profissional dos assistentes sociais. Exige-se, muitas vezes, dos assistentes sociais que trabalham nessa área, competência nas negociações, qualidade nas propostas, justificativas convincentes, objetivos claros, metodologia operacional e previsão orçamentária mínima possível, ou seja, compatível com o orçamento da instituição e, por- tanto, exeqüível, mas não se lhes dá contrapartida equiva- lente. Cabe salientar que, muitas vezes, os projetos são viáveis tecnicamente, mas não são “aceitáveis” politica- mente, ocasionando a sua não efetivação. Além disso, a intervenção junto aos fatos de violência contra a mulher acaba provocando desgaste físico e psi- cológico nos profissionais, conforme explicitado na fala de uma assistente social: Necessitamos de melhores condições de traba- lho, uma assessoria psicológica para dar su- porte, pois os profissionais que trabalham aqui estão ficando doentes. A questão da violência mexe muito com a pessoa, porque se você não se trabalhar você vai pro fundo do buraco... É um processo bem difícil, o serviço público não tem a mínima preocupação com o funcio- nário. Essa é uma preocupação minha, e acre- dito que eu sou responsável por isso também, eu preciso estar bem para atender bem estas mu- lheres. Eu vejo isso como um desafio, os profis- sionais estão no limite! Até que ponto a gente consegue trabalhar essas questões? Em relação a dificuldades institucionais, a pesquisa evi- denciou que os programas ou serviços de atendimento para as mulheres que sofrem violência estão apresentando inú- meros problemas e necessidades, a seguir identificadas. • Estrutura física inadequada: em alguns casos, os locais onde estão funcionando os serviços de aten- dimento encontram-se em péssimo estado de con- servação, são prédios muito antigos e não recebem nenhum tipo de investimento na manutenção. • Profissionais técnicos especializados insufici- entes: o número reduzido de profissionais que tra- balham junto à questão impede o atendimento com a qualidade necessária. O cansaço físico e mental decorrente da sobrecarga de trabalho dos profissi- onais acaba repercutindo na eficiência da equipe. • Falta de políticas sociais específicas para essa área: as políticas sociais para essas mulheres estão longe de ser consideradas como prioridades nos pla- nos de governo. Os assistentes sociais têm um papel significativo no que tange à proposição, formulação e execução de políticas sociais para mulheres. • Dificuldade para o trabalho em rede: a falta de um trabalho em rede para o atendimento das mu- lheres em situação de violência acaba dificultando ainda mais a intervenção dos profissionais. • Legislação inadequada ou insuficiente: historica- mente, a violência contra a mulher demorou para ser abordada como um crime. Esse fato acabou por se refletir na forma de punição que o agressor recebe, pois geralmente são penalidades leves, como presta- ção de serviços à comunidade ou fornecimento de cestas básicas, que não inibem os atos de violência praticados. A Lei 9.099, de 26-09-1995, dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, onde são atendidos os crimes cuja pena máxima não supera 1 ano.Essaleiminimizaosatosdeviolênciapraticados contra as mulheres, na medida em que estes são tra- tados como “crimes de menor potencial ofensivo”. • Delegacias sem quadro de pessoal técnico: a pesquisa demonstrou um descaso do poder público para com as delegacias especiais para mulheres, onde o quadro de funcionários é formado, na sua maioria, apenas por policiais. São raras as delegaci- as que contam com trabalho de algum técnico, e nenhuma possui assistente social em seus quadros. .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& $ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU
  • 10. Essas dificuldades, que resultam na ausência de uma es- trutura adequada para o enfrentamento da questão da vio- lência contra a mulher, são um reflexo da falta de compro- metimento do Estado com a implantação e efetivação de políticas sociais de qualidade, que venham a oferecer condi- ções de superação da situação vivenciada. 3URSRQGR SROtWLFDV S~EOLFDV H YLVXDOL]DQGR3URSRQGR SROtWLFDV S~EOLFDV H YLVXDOL]DQGR3URSRQGR SROtWLFDV S~EOLFDV H YLVXDOL]DQGR3URSRQGR SROtWLFDV S~EOLFDV H YLVXDOL]DQGR3URSRQGR SROtWLFDV S~EOLFDV H YLVXDOL]DQGR HVWUDWpJLDV GH LQWHUYHQomRHVWUDWpJLDV GH LQWHUYHQomRHVWUDWpJLDV GH LQWHUYHQomRHVWUDWpJLDV GH LQWHUYHQomRHVWUDWpJLDV GH LQWHUYHQomR Sendo a violência contra a mulher uma das interfaces da questão social, o assistente social também é chamado a intervir nessa realidade, porém ainda encontra muitos entraves à sua atuação, pois os espaços de intervenção junto a essa questão ainda são muito restritos. No estado de Santa Catarina, por exemplo, conta-se com atendimento sociojurídico nos cursos de Direito e Serviço Social nas universidades, com poucas casas de abrigo, com os pro- gramas SOS Criança nas prefeituras, que atendem famí- lias onde ocorre violência, e ainda com o Centro de Apoio à Vítima de Crime (CEVIC). Pode-se configurar a intervenção do profissional de Serviço Social dentro de um contexto de orientações, visualizadas nas propostas que seguem. – Os assistentes soci- ais como operadores de direito,temopapeldeori- entar e informar à mulher agredida, esclarecendo que para cada tipo de vi- olência (ameaça, calúnia, agressão física, etc.) exis- te uma punição. Devem estimulá-la a fazer a de- núncia, ou seja, registrar queixa na delegacia de polícia,gerandoorespec- tivo Boletim de Ocorrên- cia, para que possa ser iniciado um processo cri- minal.Emcasodeviolên- cia física, orientá-la para submeter-se a exame de corpo de delito junto ao Instituto Médico-Legal(olaudodoIMLédocumentoelaboradopara fazer prova criminal). – Junto a instituições que atendem mulheres que so- frem violência, o processo de grupo é um instrumental bastante recomendado. Através de dinâmicas específi- cas, as mulheres podem socializar suas experiências, res- gatar a auto-estima e encorajarem-se mutuamente para fazer a denúncia ou para saírem da situação. Esses gru- pospodemsercoordenadosporumaequipeinterdisciplinar, ressaltando o importante papel da psicóloga nesse pro- cesso. – Na área da assistência, as mulheres que estão em situação de violência deveriam ter prioridade nos critérios de seleção em programas de proteção social, na Lei Or- gânica de Assistência (LOAS) e outros, para que pudes- sem ter uma renda mínima que assegurasse o seu susten- to e o de seus filhos. Nessa área, o profissional de Serviço Social também atua na formulação, execução e gestão de políticas públicas e sociais. – Na área da saúde, ações voltadas às unidades bási- cas de saúde da rede pública poderiam ser desenvolvidas, gerando estratégias que ressaltem a noção de violência contra a mulher como um problema de saúde pública. – Em relação ao trabalho ou ocupação remunerada, muito sugestivas têm sido as experiências de economia so- lidária, grupos de produção ou cooperativas de mulheres, que envolvem nas suas parcerias, empresas e sindicatos em comunidades urbanas e rurais. Gerar políticas inclusi- vas de inserção da mulher no mercado de trabalho é muito importante, pois a dependência econômica é um dos princi- pais impecilhos para sair da relação de violência. – Na área da educação, atividades de conscientização e esclarecimento em relação à violência contra a mulher são recomendadas – envolvendo pais, alunos, professores e funcionários, enfim, o corpo pedagógico de escolas da rede pública e privada de ensino, promovendo debates so- breviolênciaediscrimina- ção de gênero. Do mes- momodo,acriaçãodepro- gramas para os jovens tambéméimprescindível, despertandoaconsciência sobreaquestãodaviolên- cia contra a mulher, en- gajando-os na discussão sobre desigualdades de gênero, estimulando-os a assumiremresponsabilida- de no cuidado com os fi- lhos,nasquestõesrelativas àsaúdesexualreprodutiva e orientado-os sobre me- didas não violentas na re- soluçãodeconflitos. – Na área da habitação e infra-estrutura, seria impor- tante a geração e o desenvolvimento de políticas públicas inclusivas, com o objetivo de garantir recursos que con- templem crédito para a construção de casas para as mu- lheres que estão nos serviços de proteção, utilizando-se critérios de prioridade para aquelas que são chefes de família, visto que, na maioria dos casos que envolvem vi- olência, são elas que deixam as casas. – Na área da comunicação, é possível promover ações de capacitação e sensibilização junto às agências regula- 2 &yGLJR GH eWLFD GD SURILVVmR2 &yGLJR GH eWLFD GD SURILVVmR2 &yGLJR GH eWLFD GD SURILVVmR2 &yGLJR GH eWLFD GD SURILVVmR2 &yGLJR GH eWLFD GD SURILVVmR WDPEpP WHP VLGR XP PDUFRWDPEpP WHP VLGR XP PDUFRWDPEpP WHP VLGR XP PDUFRWDPEpP WHP VLGR XP PDUFRWDPEpP WHP VLGR XP PDUFR RULHQWDGRU SDUD D LQWHUYHQomR GRVRULHQWDGRU SDUD D LQWHUYHQomR GRVRULHQWDGRU SDUD D LQWHUYHQomR GRVRULHQWDGRU SDUD D LQWHUYHQomR GRVRULHQWDGRU SDUD D LQWHUYHQomR GRV DVVLVWHQWHV VRFLDLV QD PHGLGDDVVLVWHQWHV VRFLDLV QD PHGLGDDVVLVWHQWHV VRFLDLV QD PHGLGDDVVLVWHQWHV VRFLDLV QD PHGLGDDVVLVWHQWHV VRFLDLV QD PHGLGD HP TXH H[SOLFLWD D GLPHQVmRHP TXH H[SOLFLWD D GLPHQVmRHP TXH H[SOLFLWD D GLPHQVmRHP TXH H[SOLFLWD D GLPHQVmRHP TXH H[SOLFLWD D GLPHQVmR pWLFR SROtWLFD TXH RV SURILVVLRQDLVpWLFR SROtWLFD TXH RV SURILVVLRQDLVpWLFR SROtWLFD TXH RV SURILVVLRQDLVpWLFR SROtWLFD TXH RV SURILVVLRQDLVpWLFR SROtWLFD TXH RV SURILVVLRQDLV GHYHP DVVXPLUGHYHP DVVXPLUGHYHP DVVXPLUGHYHP DVVXPLUGHYHP DVVXPLU .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& 77777HUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR
  • 11. doras de rádio e tevê, jornais e peças publicitárias, abor- dando as questões de gênero e reconstruindo a imagem das mulheres em situação de violência. Em todas essas áreas é importante o trabalho em rede, ou seja, conhecer os diversos tipos de atendimentos exis- tentes, os colegas profissionais que atuam sob o mesmo enfoque atuar em parceria: elaborar projetos em conjun- to, usufruir os recursos (materiais, pessoais e financeiros) de um programa, canalizar forças para o sucesso das ações e trocar experiências de práticas bem sucedidas. É importante destacar que a melhoria na qualidade dos serviços oferecidos às mulheres em situação de vio- lência, bem como mudanças na legislação pertinente, são assuntos ligados à mobilização da sociedade civil e ao engajamento político. A participação junto a fóruns que discutem as questões das mulheres, nos conselhos da mu- lher, no parlamento, é fundamental para uma mudança. É fundamental, também, organizar campanhas, even- tos, seminários, atos públicos, passeatas, para sensibilizar a sociedade frente a essa questão. Nesse sentido, uma im- portante estratégia de ação está sendo lançada, em nível nacional, pelo Instituto Papai (uma ONG de Pernambuco): a campanha do Laço Branco. Esta campanha tem por ob- jetivo sensibilizar, envolver e mobilizar principalmente os homens no engajamento pelo fim da violência contra a mulher, em consonância com as ações e movimentos orga- nizados de mulheres e de outras agremiações a favor da eqüidade e implementação dos Direitos Humanos. Além desses enfoques nas políticas públicas, a profis- são também tem uma dimensão pedagógica, na medida em que se trabalha numa perspectiva de transformação da consciência dos sujeitos, com vistas à sua emancipação. Junto a mulheres que sofrem violência, devemos empreen- der um trabalho incansável na perspectiva do resgate des- sas mulheres como sujeitos de direitos, como seres sociais e como cidadãs. Enfim, desenvolvendo nessas mulheres seu poder pessoal e coletivo, resgatando-lhes a auto-estima e a autoconfiança, trabalhando seu processo de fortaleci- mento e de emancipação. Recebido em 09.05.2005. Aprovado em 26.07.2005. 5HIHUrQFLDV5HIHUrQFLDV5HIHUrQFLDV5HIHUrQFLDV5HIHUrQFLDV BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para a prática em serviços. Cadernos de Atenção Básica, n.º 8, Brasília/DF, 2002. FALEIROS, V. Estratégias em Serviço Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. FOUCAULT, M. Historia da sexualidade 1. A vontade de saber. 14. ed. Rio de Janeiro: Graal, v. 1, 1990. 3v. GUERRA, Y. Ontologia social e formação profissional. Cadernos do Núcleo de Estudos e Aprofundamento Marxista-NEAM, n. 1, PUC/SP. São Paulo, 1997. IAMAMOTO, M.V. 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São Paulo: Brasiliense, 2002. 1RWDV1RWDV1RWDV1RWDV1RWDV 1 Agradecemos as sugestões das acadêmicas de Serviço Social Eva Terezinha dos Santos e Janize Biella, integrantes do NUSSERGE e estagiárias do CEVIC, semestre 2005.1. 2 Ângela Diniz foi assassinada por seu companheiro, o milionário Doca Strett, e Eliane de Grammont pelo cantor Lindomar Castilho. Os dois crimes marcam essa época, sendo que um deles foi praticado por alguém da alta sociedade e o outro ocorre na classe média brasileira. 3 Esta denominação é utilizada no Rio de janeiro. Em São Paulo o serviço atende pelo nome de Delegacia de Defesa da Mulher, sendo encontradas outras denominações em diferentes estados brasileiros. No estado de Santa Catarina o órgão é denominado de Delegacia de Proteção à Mulher, à Criança e ao Adolescente. 4 As minorias, aqui, devem ser entendidas como “[...] um conjunto social que se encontra, se sente representado comodiscriminadoeoprimidonasociedade,nasrelações sociaisestruturantesdeclasse,gênero,orientaçãosexual, raça e cultura” (FALEIROS, 1999, p.19). .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& $ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU$ LQWHUYHQomR GR 6HUYLoR 6RFLDO MXQWR j TXHVWmR GD YLROrQFLD FRQWUD D PXOKHU
  • 12. Teresa Kleba Lisboa tkleba@cse.ufsc.br Eliane Aparecida Pinheiro elianeapinheiro@bol.com.br Dep. de Serviço Social Núcleo de Estudos e Pesquisa em Serviço Social e Rela- ção de Gênero (NUSSERGE) Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário Prof. João David Ferreira Lima Florianópolis – Santa Catarina CEP: 88010-970 .$.$.$.$.$7»/7»/7»/7»/7»/<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y<6,6 Y Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6&Q MXO GH] )ORULDQySROLV 6& 77777HUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLURHUHVD .OHED /LVERD H (OLDQH $SDUHFLGD 3LQKHLUR