A Operação Carne Fraca investigou grandes empresas do setor de carnes por dois anos, revelando irregularidades como uso de carne estragada e adulteração de alimentos. Muitas dúvidas surgiram sobre os produtos e procedimentos das empresas citadas, e sobre os possíveis impactos na exportação e consumo de carne brasileira.
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A operação carne fraca levantou muitas dúvidas
1. A Operação Carne Fraca levantou muitas dúvidas.
É isso mesmo?
A Operação Carne Fraca, deflagrada na sexta-feira pela Polícia Federal
após dois anos de investigação, atingiu grandes empresas do setor de
carnes e levantou dúvidas sobre a qualidade dos produtos. Reunimos
aqui as informações sobre alguns dos questionamentos.
Todos os frigoríficos citados na Operação Carne Fraca fizeram
irregularidades na produção de alimentos?
A Polícia Federal não detalhou as irregularidades praticadas por cada
frigorífico na Operação Carne Fraca. Citou mais genericamente alguns
exemplos de fraudes na produção de alimentos, como uso de carne
estragada em embutidos, "maquiagem" de carne estragada com
substâncias químicas, carne com salmonela, injeção de água no frango
e uso de cabeça de porco em embutidos.
Entre os frigoríficos citados pela Operação Carne Fraca, estão JBS, Big
Frango, BRF, Peccin, Dagranja, Frango a Gosto, E.H. Constantino,
Frigobeto, Frigomax, Frigorífero 3D, Frigorífero Argus, Frigorífero
Larissa, Frigorífero Oregon, Frigorífero Rainha da Paz, Frigorífero Souza
2. Ramos, Mastercarnes, Novilho Nobre, Primor Beef, Central de Carnes
Paraense, Fábrica de Farinha de Carnes Castro, Artacho Casings,
Smartmeal. A JBS é dona das marcas Friboi e Seara. A BRF é dona das
marcas Sadia e Perdigão.
A JBS é citada apenas com a marca Seara, suspeita de irregularidade
fiscal, não sanitária.
Pedaços de papelão foram usados nas carnes?
A Polícia Federal afirmou que carnes eram misturadas com papelão.
Mas, de acordo com nota da BRF, houve um equívoco na interpretação
do áudio capturado pelos investigadores. A empresa sustenta que o
funcionário gravado, ao mencionar o papelão, estava se referindo às
embalagens do produto e não ao seu conteúdo. A BRF afirma ainda que
esse produto é normalmente embalado em plástico e que, na frase
seguinte, o empregado “deixa claro que, caso não obtenha a aprovação
para a mudança de embalagem, terá de condenar o produto, ou seja,
descartá-lo”. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, também afirmou
que a narrativa da PF foi mal interpretada. Segundo ele, é uma “idiotice”
imaginar que as empresas misturassem papelão à carne.
Ácido ascórbido é cancerígeno?
Segundo apurou a BBC, a OMS diz que o ácido ascórbico pode
contribuir com distúrbios gastrointestinais, cálculos renais e outros
problemas de saúde se for consumido em excesso e por longos períodos
de tempo, mas não há evidência de relação direta com o câncer. No
despacho do juiz que autorizou as prisões na Operação Carne Fraca, há
3. relatos de fiscais sobre uso de ácido ascórbico pelo frigorífico Peccin,
para maquiar carne em mau estado.
Mas vale ressaltar que, na reprodução de um diálogo dessa empresa,
que consta do mesmo documento, o interlocutor cita outra substância:
o ácido sórbico, que também é usado como conservante.
Em entrevista ao "Fantástico", o fiscal sanitário Daniel Gouvêa Teixeira,
que denunciou o esquema à Polícia Federal, afirmou que o frigorífico
Peccin usava ácido sórbico para enganar o consumidor. Ele explicou
que o ácido sórbico é um descontaminante misturado na massa dos
produtos para poder diminuir a contaminação bacteriana e mascarar os
odores e as características da carne.
Há recomendação oficial para parar de comer carne?
Não há recomendação oficial para suspender o consumo de carne.
Especialistas avaliam que as irregularidades são pontuais e que a carne
produzida no Brasil é de alta qualidade. Mas o consumidor deve olhar a
qualidade dos produtos. A carne imprópria para consumo, seja bovina,
suína ou de frango, apresenta normalmente cor, odor e textura
alterados. Na dúvida sobre a adequação do produto, recomenda-se
entrar em contato com o supermercado ou com o fabricante. Se o
cheiro, a cor ou a aparência estiverem estranhos, não consuma. Em
última análise, deve-se recorrer aos órgãos de defesa do consumidor e à
Vigilância Sanitária.
Se o consumidor está com receio de consumir ou tem alguma dúvida
sobre a procedência ou a qualidade do produto que tem em casa, pode
ligar para a Vigilância Sanitária pelo 1746 e solicitar o recolhimento da
peça para que seja feita análise da mercadoria.
Devo descartar os produtos que tenho em casa?
4. Não. Em primeiro lugar, porque ainda não se sabe precisamente quais
produtos estão, de fato, impróprios para o consumo. Além disso, em
caso de recall é preciso ter o produto para fazer jus à indenização.
Será feito um recall das carnes?
Segundo o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, os códigos
de barra dos produtos dos três frigoríferos em que as fraudes foram
confirmadas começarão a ser rastreados dia 20 de março. Mas não
esclareceu se será feito um recall nem como ele seria realizado. A
Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça,
também notificou as empresas e pediu esclarecimentos para verificar se
seria o caso de um recall.
Cabeça de porco em embutidos é uma fraude?
A PF afirma que, nas gravações, sócios de um frigorífico falam sobre o
uso de carne de cabeça de porco na produção de embutidos, o que,
segundo a polícia, é proibido. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi,
afirmou que o uso de carne de cabeça de porco, em determinados
percentuais e em alguns produtos, é permitido por lei.
E a salmonela encontrada na carne da BRF, era fraude?
5. Segundo a Polícia Federal, a partir de áudios da investigação, havia
carnes contaminadas com salmonela em sete contêineres da companhia
que seriam exportados para a Europa. No entanto, a BRF (dona das
marcas Sadia e Perdigão, entre outras) sustenta que o tipo de bactéria
(Salmonella Saint Paul) é tolerado pela legislação europeia para carnes
in natura, e, portanto, não impediria a entrada do produto no
continente.
O governo sabe para onde foi a carne investigada?
As investigações foram conduzidas por dois anos e não é possível saber
exatamente o destino da carne. Porém, segundo o governo, será possível
identificar o que foi destinado para exportação. Segundo o Ministério da
Agricultura, os códigos de barra dos produtos dos três frigoríficos que
foram fechados começarão a ser rastreados esta semana.
Países importadores já estão suspendendo a compra de carne
brasileira?
A carne brasileira já sofre barreiras no exterior. A Coreia do Sul
anunciou que vai banir temporariamente as importações de frango
brasileiro do grupo BRF. O Chile também decidiu pelo encerramento
temporário de suas importações de carne do Brasil. O Ministério da
Agricultura negou que que haja qualquer embargo da China em relação
aos produtos de origem animal brasileiros. O que houve, segundo a
pasta, foi um comunicado do governo chinês informando que o
6. desembaraço aduaneiro de 65 autorizações que chegaram aos portos
daquele país ficará paralisado até que todas as perguntas enviadas ao
governo brasileiro sejam esclarecidas e o minstro Blairo Maggi disse que
as repostas serão enviadas ainda nesta segunda-feira.
Já a Comissão Europeia pediu ao Brasil que não permita a exportação
de carnes para a Europa de frigoríficos envolvidos no escândalo da
Carne Fraca, segundo o jornal "Valor Econômico". Segundo o porta-voz
para Saúde e Segurança Alimentar, Enrico Brivio, a região não está
suspendendo a entrada da carne brasileira. "O que pedimos foi para o
Brasil não continuar a exportação dos frigoríficos investigados”. Ao
mesmo tempo, os países europeus vão dobrar a vigilância na checagem
da carne que está chegando nos portos.
O funcionário da JBS detido trabalhava para o governo?
As explicações são conflitantes. Flavio Cassou, funcionário da Seara
(uma das marcas do JBS) detido na Operação Carne Fraca, foi
apresentado pela Polícia Federal como executivo do grupo. Mas Cassou
trabalharia, segundo uma nota da empresa divulgada na sexta-feira,
como “médico veterinário, funcionário da companhia, cedido ao
Ministério da Agricultura”. O ministro da Agricultura, em entrevista ao
GLOBO, afirmou: “Não existe isso, toda a fiscalização é feita por
técnicos públicos, não há possibilidade de termos pessoas privadas
cedidas por empresas para fazer esse controle, sempre são servidores
públicos”. A JBS, por sua vez, enviou nova nota, na qual afirma que o
funcionário estaria “a serviço do governo”. O sistema de fiscalização
sanitária brasileiro prevê que a verificação de qualidade das carnes é de
responsabilidade da empresa. Ela realiza os testes e repassa os
resultados aos servidores do Ministério da Agricultura, que são
responsáveis por verificar a veracidade dos dados e se aquele produto,
com aqueles índices, pode ir para as prateleiras dos supermercados.