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Domingo, 15 de janeiro de 2012                                                                     O GLOBO                                                                                             RIO    ●
                                                                                                                                                                                                                   23


                                                                        PERFIL • JEAN MARIE DUBRUL, Coreógrafo



O francês
                                                                                                                                                                                        Guito Moreto




que dança
com as
estrelas
No Jardim Botânico, um bailarino e
coreógrafo, no Rio há 33 anos, traz
emoção para aulas de balé clássico
           Artur Xexéo                Às vezes, as lições de Jean
        axexeo@oglobo.com.br       Marie saem da academia e en-




S
                                   tram nas salas de teatro da cida-
        ó há um lugar no Rio       de. Ele é um dos especialistas
        em que se pode encon-      mais procurados por produções
        trar, simultaneamente,     teatrais cariocas para fazer a
        as atrizes Aline Moraes    preparação corporal do elenco.
e Carolina Dieckmann. E Sura          — Trabalhar com ele foi ma-
Berditchevsky e Fernanda           ravilhoso — atesta o diretor
Freitas. E a cantora Fernanda      Gilberto Gawronski, que utili-
Abreu. E Leticia Spiller... Não,   zou as técnicas de Dubrul para
não é a Pizzaria Guanabara. É      ensaiar os atores de “Campo
uma sala no segundo andar da       de provas”, cinco anos atrás.
casa de número 576 na Rua Pa-      — Ele tem um caminho do en-
checo Leão, no Jardim Botâni-      tendimento do corpo, que é
co. É ali que fica a academia      como se a aula dele entrasse
Sauer Dança, onde o professor      dentro do ator. O processo é                                                                                                                                         JEAN MARIE
Jean Marie Dubrul dá aulas de      muito bonito. Geralmente,
dança clássica, ministra lições    preparadores corporais ensi-                                                                                                                                         DUBRUL:
de alongamento e, principal-       nam qual é o gesto. O Jean Ma-                                                                                                                                       “Eu sou um
mente, transforma o espírito       rie faz o ator chegar ao gesto.
de seus alunos.                       A atriz Sura Berditchevsky                                                                                                                                        excelente
   — A dança é transformado-       usou o trabalho de preparação                                                                                                                                        professor
ra — diz ele. — Eu trabalho a      de corpo de Dubrul para seu
técnica, mas também a emo-         espetáculo “Cartas de Maria                                                                                                                                          de balé
ção. É a emoção que transfor-      Julieta e Carlos Drummond de                                                                                                                                         clássico.
ma — acrescenta, com sota-         Andrade” e, além disso, tem
que de quem nasceu em Lille,       aulas com ele há quatro anos.                                                                                                                                        Sou um
no norte da França, e foi cria-       — Ele é muito bom. Tem                                                                                                                                            pouco
do em Rennes, na Bretanha.         uma atenção especial com ca-
   O sotaque chega a ser sur-      da pessoa, com o corpo de ca-                                                                                                                                        diferente
preendente para quem já está       da pessoa — diz ela, tentando                                                                                                                                        do que em
no Brasil há 33 anos.              encontrar a peculiaridade da
   — Eu adoro me encontrar         aula de Dubrul, mas, ao con-                                                                                                                                         geral se
com o Claude Troisgros — diz       cluir, ela traz a chave que ex-                                                                                                                                      vê por aí”
ele, referindo-se ao chef fran-    plica o porquê de tantas atri-
cês que também fixou residên-      zes, cantoras e bailarinas pro-        Após uma interrupção de         fo de Afrodite”. Na impossi-        to é a expressão da alma. Às      tava quando cheguei aqui há
cia no Rio. — Além de ele ser      curarem seus ensinamentos:          dois anos, quando, servindo        bilidade de viajar, Sparem-         vezes, falta um pouco de alma     33 anos — confessa ele. — Me-
muito simpático — franceses        — Ele entende perfeitamente         ao Exército, esteve na Guerra      blek mandou Dubrul em seu           na dança clássica. Mas não na     lhorei muito. Eu era muito
que moram no Brasil acabam         o corpo da mulher.                  da Argélia, Dubrul foi bailarino   lugar. Isso foi em 1978. No         aula do Jean Marie.               francês, presunçoso... Aprendi
ficando simpáticos — , é o úni-                                        de companhias em Wuppertal,        ano seguinte, foi convidado           O próprio Jean Marie Du-        a me comunicar melhor. As
co francês que tem um sota-
que pior que o meu.                Bailarino, só                       na Alemanha; Zurique, na Suí-
                                                                       ça; Strasbourg e Nantes, na
                                                                                                          por Guilherme Figueiredo,
                                                                                                          então presidente da Funarj,
                                                                                                                                              brul tenta definir sua técnica:
                                                                                                                                                — Eu sou um excelente pro-
                                                                                                                                                                                pessoas aqui são mais genero-
                                                                                                                                                                                sas, mais espontâneas. Na
   Limitar as aulas de Dubrul a
um grupo de celebridades é in-     com vista boa                       França.
                                                                          Mas como é que Jean Marie
                                                                                                          para juntar-se à equipe do
                                                                                                          Municipal.
                                                                                                                                              fessor de balé clássico. Sou
                                                                                                                                              um pouco diferente do que em
                                                                                                                                                                                França, as pessoas são muito
                                                                                                                                                                                duras, muito fechadas, sobre-
justo. A sala do professor é de-                                       Dubrul veio parar aqui?               — Eu tinha encontrado uma        geral se vê por aí. É uma aula    tudo em Paris.
mocrática. Nela, entram pes-       ● O interesse de Jean Marie            — Eu não parei aqui! — re-      pessoa e resolvi ficar — resu-      clássica acadêmica, mas é            Ele mudou tanto que não é
soas que já têm experiência        Dubrul pelo movimento do            clama o coreógrafo. — Eu con-      me ele.                             uma aula prazerosa e acessí-      capaz de desfiar uma série de
com dança, pessoas que nunca       corpo começou, no começo            tinuo em movimento.                   A pessoa a que Dubrul se re-     vel a todo o tipo de pessoa.      comportamentos que tenha
dançaram, gente de qualquer        da década de 50 do século pas-         Ele estava em Lyon, na          fere é Marcia Oiticica Laviola,     Quero que as pessoas se en-       guardado da França. Só conse-
idade, cidadãos fora de forma,     sado, quando, ainda garoto,         companhia de Milko Sparem-         com quem está até hoje. Mar-        contrem sem complexos e           gue se lembrar de um:
garotas e garotos esguios, qua-    em Rennes, assistiu a uma           blek, o mesmo coreógrafo           cia já tinha duas filhas, que       com prazer.                          — Meu vinho tinto, que eu
rentões ou cinquentões em          apresentação ao ar livre das        que o levou a querer dançar        Dubrul considera suas.                Muita gente do Rio é grata      não deixo de beber regular-
busca de mais vitalidade...        estrelas da Ópera de Paris. Do      naquele espetáculo ao ar li-          — Elas me deram seis netas,      por aprender tanto com Du-        mente. Por sinal, vou te dar
   — É uma aula para pes-          espetáculo, fazia parte a co-       vre em Rennes, quando o            e uma delas está para me dar        brul, mas ele também é grato      uma dica. Encontrei um Côtes-
soas que querem usar o cor-        reografia “L’échelle”, de Milko     grupo foi convidado para vir       minha primeira bisneta. Sou         por ter aprendido tanto ao se     du Rhône maravilhoso, appel-
po de uma forma inteligente        Sparemblek. Foi impactante.         mostrar no Teatro Municipal        cercado de mulheres.                mudar para o Rio.                 lation contrôlée, baratinho, no




“                                                                      “                                                                      “
— resume ele.                      “Eu quero dançar”, pensou           do Rio a coreografia “O triun-                                           — Não sei como me aguen-        Supermercado Mundial. Cus-
                                   após a apresentação.
                                      — O Milko Sparemblek tem                                            Sem complexos                                                         tou só R$ 16,50, a garrafa.
                                                                                                                                                                                   E prefere desfiar as vantagens
                                   muita culpa no cartório.
                                      Pré-adolescente, tentou se                                          e com prazer                                                          que encontra aqui na cidade:
                                                                                                                                                                                   — Eu tenho o privilégio de
                                   inscrever no Conservatório de                                                                                                                morar aqui. É uma das cida-
                                   Rennes, mas foi rejeitado por                                          ● Jean Marie Dubrul foi profes-                                       des mais lindas do mundo.
                                   um motivo exótico: para corri-                                         sor do corpo de baile do Mu-                                          Moro no fim do Itanhangá.
                                   gir o astigmatismo que ainda o                                         nicipal por dez anos. Depois,                                         Todos os dias, pego meu car-
  Geralmente,                      aflige, ele usava óculos.
                                      — Os professores do con-
                                                                         A dança é                        passou a dar aulas na acade-
                                                                                                          mia de Enid Sauer, onde ficou
                                                                                                                                                O movimento é                   rinho, ouço uma musiqui-
                                                                                                                                                                                nha, passo pela Vista Chine-
                                   servatório achavam que, para                                           12 anos, e, na Sauer Dança, es-                                       sa e venho trabalhar no Jar-
  preparadores                     ser bailarino, tinha que ter          transformadora.                  cola de Patrícia Sauer, neta de       a expressão da                  dim Botânico. Onde é que eu
                                   uma boa vista — conta hoje,                                            Enid, já está há dez. Ali, mes-                                       teria isso na França?
  corporais                        ainda surpreso.                       Eu trabalho                      mo longe da família, continua         alma. Às vezes,                    Mesmo assim, sempre que
                                      Com 15 anos, tentou de no-                                          cercado de mulheres, a maio-                                          pode, ele viaja à terra natal,
  ensinam qual                     vo. E aí foi aceito. Aos 18, com      a técnica,                       ria em suas aulas.                    falta um pouco                  o que não é feito com muita
                                   dinheiro emprestado do irmão                                              — O Jean Marie está sempre                                         frequência.
  é o gesto. O                     mais velho — o professor é o          mas também                       se atualizando — constata a           de alma na                         — Como sou autônomo, não
                                   quarto filho de uma família de                                         aluna Fernanda Abreu. — A es-                                         posso parar de trabalhar. E
  Jean Marie                       oito irmãos —, mudou-se para          a emoção.                        cola da dança clássica é muito        dança clássica.                 passar um tempo fora do país
                                   Paris para aperfeiçoar os estu-                                        rígida. E, apesar do desenvol-                                        é ficar sem ganhar dinheiro.
  faz o ator                       dos de dança. Teve aulas, em          É a emoção                       vimento da dança moderna e            Mas não na aula                    Aos 70 anos, Jean Marie Du-
                                   Cannes, com Rosella Hightour,                                          da dança contemporânea, ela                                           brul traça planos simples para
  chegar ao gesto.                 e pagava seus estudos traba-          que transforma                   foi pouco contaminada por es-         do Jean Marie                   o futuro:
                                   lhando como faxineiro da                                               ses outros jeitos de movimen-                                            — Quero continuar vivo e
  Gilberto Gawronski,              companhia.                            Jean Marie Dubrul,               tos do corpo. Mas o Jean Ma-          Fernanda Abreu,                 ter saúde para poder traba-
  diretor de teatro                   — Fui um ótimo faxineiro —         professor de dança               rie traz esses jeitos para a aula     cantora                         lhar dia após dia, após dia,
                                   orgulha-se.                                                            de dança clássica. O movimen-                                         após dia, após dia... ■


                                                                          Outras notícias da Editoria Rio nas páginas 25 a 32.
  As novidades do Túnel da Grota Funda                                   O turismo indiferente ao horário de verão                              A coluna de Ancelmo Gois
  ●   Página 25                                                          ●   Página 29                                                          ●   Páginas 30 e 31

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Perfil jean marie dubrul

  • 1. Domingo, 15 de janeiro de 2012 O GLOBO RIO ● 23 PERFIL • JEAN MARIE DUBRUL, Coreógrafo O francês Guito Moreto que dança com as estrelas No Jardim Botânico, um bailarino e coreógrafo, no Rio há 33 anos, traz emoção para aulas de balé clássico Artur Xexéo Às vezes, as lições de Jean axexeo@oglobo.com.br Marie saem da academia e en- S tram nas salas de teatro da cida- ó há um lugar no Rio de. Ele é um dos especialistas em que se pode encon- mais procurados por produções trar, simultaneamente, teatrais cariocas para fazer a as atrizes Aline Moraes preparação corporal do elenco. e Carolina Dieckmann. E Sura — Trabalhar com ele foi ma- Berditchevsky e Fernanda ravilhoso — atesta o diretor Freitas. E a cantora Fernanda Gilberto Gawronski, que utili- Abreu. E Leticia Spiller... Não, zou as técnicas de Dubrul para não é a Pizzaria Guanabara. É ensaiar os atores de “Campo uma sala no segundo andar da de provas”, cinco anos atrás. casa de número 576 na Rua Pa- — Ele tem um caminho do en- checo Leão, no Jardim Botâni- tendimento do corpo, que é co. É ali que fica a academia como se a aula dele entrasse Sauer Dança, onde o professor dentro do ator. O processo é JEAN MARIE Jean Marie Dubrul dá aulas de muito bonito. Geralmente, dança clássica, ministra lições preparadores corporais ensi- DUBRUL: de alongamento e, principal- nam qual é o gesto. O Jean Ma- “Eu sou um mente, transforma o espírito rie faz o ator chegar ao gesto. de seus alunos. A atriz Sura Berditchevsky excelente — A dança é transformado- usou o trabalho de preparação professor ra — diz ele. — Eu trabalho a de corpo de Dubrul para seu técnica, mas também a emo- espetáculo “Cartas de Maria de balé ção. É a emoção que transfor- Julieta e Carlos Drummond de clássico. ma — acrescenta, com sota- Andrade” e, além disso, tem que de quem nasceu em Lille, aulas com ele há quatro anos. Sou um no norte da França, e foi cria- — Ele é muito bom. Tem pouco do em Rennes, na Bretanha. uma atenção especial com ca- O sotaque chega a ser sur- da pessoa, com o corpo de ca- diferente preendente para quem já está da pessoa — diz ela, tentando do que em no Brasil há 33 anos. encontrar a peculiaridade da — Eu adoro me encontrar aula de Dubrul, mas, ao con- geral se com o Claude Troisgros — diz cluir, ela traz a chave que ex- vê por aí” ele, referindo-se ao chef fran- plica o porquê de tantas atri- cês que também fixou residên- zes, cantoras e bailarinas pro- Após uma interrupção de fo de Afrodite”. Na impossi- to é a expressão da alma. Às tava quando cheguei aqui há cia no Rio. — Além de ele ser curarem seus ensinamentos: dois anos, quando, servindo bilidade de viajar, Sparem- vezes, falta um pouco de alma 33 anos — confessa ele. — Me- muito simpático — franceses — Ele entende perfeitamente ao Exército, esteve na Guerra blek mandou Dubrul em seu na dança clássica. Mas não na lhorei muito. Eu era muito que moram no Brasil acabam o corpo da mulher. da Argélia, Dubrul foi bailarino lugar. Isso foi em 1978. No aula do Jean Marie. francês, presunçoso... Aprendi ficando simpáticos — , é o úni- de companhias em Wuppertal, ano seguinte, foi convidado O próprio Jean Marie Du- a me comunicar melhor. As co francês que tem um sota- que pior que o meu. Bailarino, só na Alemanha; Zurique, na Suí- ça; Strasbourg e Nantes, na por Guilherme Figueiredo, então presidente da Funarj, brul tenta definir sua técnica: — Eu sou um excelente pro- pessoas aqui são mais genero- sas, mais espontâneas. Na Limitar as aulas de Dubrul a um grupo de celebridades é in- com vista boa França. Mas como é que Jean Marie para juntar-se à equipe do Municipal. fessor de balé clássico. Sou um pouco diferente do que em França, as pessoas são muito duras, muito fechadas, sobre- justo. A sala do professor é de- Dubrul veio parar aqui? — Eu tinha encontrado uma geral se vê por aí. É uma aula tudo em Paris. mocrática. Nela, entram pes- ● O interesse de Jean Marie — Eu não parei aqui! — re- pessoa e resolvi ficar — resu- clássica acadêmica, mas é Ele mudou tanto que não é soas que já têm experiência Dubrul pelo movimento do clama o coreógrafo. — Eu con- me ele. uma aula prazerosa e acessí- capaz de desfiar uma série de com dança, pessoas que nunca corpo começou, no começo tinuo em movimento. A pessoa a que Dubrul se re- vel a todo o tipo de pessoa. comportamentos que tenha dançaram, gente de qualquer da década de 50 do século pas- Ele estava em Lyon, na fere é Marcia Oiticica Laviola, Quero que as pessoas se en- guardado da França. Só conse- idade, cidadãos fora de forma, sado, quando, ainda garoto, companhia de Milko Sparem- com quem está até hoje. Mar- contrem sem complexos e gue se lembrar de um: garotas e garotos esguios, qua- em Rennes, assistiu a uma blek, o mesmo coreógrafo cia já tinha duas filhas, que com prazer. — Meu vinho tinto, que eu rentões ou cinquentões em apresentação ao ar livre das que o levou a querer dançar Dubrul considera suas. Muita gente do Rio é grata não deixo de beber regular- busca de mais vitalidade... estrelas da Ópera de Paris. Do naquele espetáculo ao ar li- — Elas me deram seis netas, por aprender tanto com Du- mente. Por sinal, vou te dar — É uma aula para pes- espetáculo, fazia parte a co- vre em Rennes, quando o e uma delas está para me dar brul, mas ele também é grato uma dica. Encontrei um Côtes- soas que querem usar o cor- reografia “L’échelle”, de Milko grupo foi convidado para vir minha primeira bisneta. Sou por ter aprendido tanto ao se du Rhône maravilhoso, appel- po de uma forma inteligente Sparemblek. Foi impactante. mostrar no Teatro Municipal cercado de mulheres. mudar para o Rio. lation contrôlée, baratinho, no “ “ “ — resume ele. “Eu quero dançar”, pensou do Rio a coreografia “O triun- — Não sei como me aguen- Supermercado Mundial. Cus- após a apresentação. — O Milko Sparemblek tem Sem complexos tou só R$ 16,50, a garrafa. E prefere desfiar as vantagens muita culpa no cartório. Pré-adolescente, tentou se e com prazer que encontra aqui na cidade: — Eu tenho o privilégio de inscrever no Conservatório de morar aqui. É uma das cida- Rennes, mas foi rejeitado por ● Jean Marie Dubrul foi profes- des mais lindas do mundo. um motivo exótico: para corri- sor do corpo de baile do Mu- Moro no fim do Itanhangá. gir o astigmatismo que ainda o nicipal por dez anos. Depois, Todos os dias, pego meu car- Geralmente, aflige, ele usava óculos. — Os professores do con- A dança é passou a dar aulas na acade- mia de Enid Sauer, onde ficou O movimento é rinho, ouço uma musiqui- nha, passo pela Vista Chine- servatório achavam que, para 12 anos, e, na Sauer Dança, es- sa e venho trabalhar no Jar- preparadores ser bailarino, tinha que ter transformadora. cola de Patrícia Sauer, neta de a expressão da dim Botânico. Onde é que eu uma boa vista — conta hoje, Enid, já está há dez. Ali, mes- teria isso na França? corporais ainda surpreso. Eu trabalho mo longe da família, continua alma. Às vezes, Mesmo assim, sempre que Com 15 anos, tentou de no- cercado de mulheres, a maio- pode, ele viaja à terra natal, ensinam qual vo. E aí foi aceito. Aos 18, com a técnica, ria em suas aulas. falta um pouco o que não é feito com muita dinheiro emprestado do irmão — O Jean Marie está sempre frequência. é o gesto. O mais velho — o professor é o mas também se atualizando — constata a de alma na — Como sou autônomo, não quarto filho de uma família de aluna Fernanda Abreu. — A es- posso parar de trabalhar. E Jean Marie oito irmãos —, mudou-se para a emoção. cola da dança clássica é muito dança clássica. passar um tempo fora do país Paris para aperfeiçoar os estu- rígida. E, apesar do desenvol- é ficar sem ganhar dinheiro. faz o ator dos de dança. Teve aulas, em É a emoção vimento da dança moderna e Mas não na aula Aos 70 anos, Jean Marie Du- Cannes, com Rosella Hightour, da dança contemporânea, ela brul traça planos simples para chegar ao gesto. e pagava seus estudos traba- que transforma foi pouco contaminada por es- do Jean Marie o futuro: lhando como faxineiro da ses outros jeitos de movimen- — Quero continuar vivo e Gilberto Gawronski, companhia. Jean Marie Dubrul, tos do corpo. Mas o Jean Ma- Fernanda Abreu, ter saúde para poder traba- diretor de teatro — Fui um ótimo faxineiro — professor de dança rie traz esses jeitos para a aula cantora lhar dia após dia, após dia, orgulha-se. de dança clássica. O movimen- após dia, após dia... ■ Outras notícias da Editoria Rio nas páginas 25 a 32. As novidades do Túnel da Grota Funda O turismo indiferente ao horário de verão A coluna de Ancelmo Gois ● Página 25 ● Página 29 ● Páginas 30 e 31