3. “A Psicopatologia é o ramo da ciência que
trata da natureza essencial da doença
mental – suas causas, as mudanças
estruturais associadas a ela e suas formas
de manifestação.”
(Campbell apud DALGALARRONDO, 2000)
4. A Psicopatologia inclui diferentes abordagens,
entre elas a descritiva, a psicodinâmica, e a
integrada.
5. • A abordagem descritiva vai se preocupar com as
formas das alterações psíquicas, e a recorrência
dos sintomas mais ou menos típicos em cada
transtorno psicológico (DALGALARRONDO, 2000).
• A Psicopatologia Descritiva vai depender de um
levantamento e análise das alterações
apresentadas, que em conjunto, vão constituir os
quadros sindrômicos. (DALGALARRONDO, 2000).
6. A Psicopatologia Dinâmica está centrada no
conteúdo da vivência particular do indivíduo
que adoece e não necessariamente na
classificação dos sintomas
(DALGALARRONDO, 2000).
7. Já a abordagem multidimensional e integrada da
psicopatologia levará em conta influências
biológicas, sociais, emocionais e cognitivas e
comportamentais, atuando em uma perspectiva
sistêmica e não linear – o que é de extrema
importância na prática psicológica atual.
9. Quando se trata de casos extremos, cujas alterações
comportamentais e mentais são de intensidade
acentuada e de longa duração, o delineamento das
fronteiras entre o normal e o patológico não é tão
problemático. Entretanto, há muitos casos
limítrofes, nos quais a delimitação entre
comportamentos e formas de sentir normais e
patológicas é bastante difícil.
10. É também de suma importância a compreensão da
dificuldade de se definir o que é “anormal” e
“normal”. A definição mais amplamente aceita é
utilizada no DSM- 5 e descreve como “anormais”
disfunções comportamentais, psicológicas ou biológicas
que são inesperadas em seu contexto cultural e
associadas à presença de sofrimento e prejuízo no
funcionamento ou aumento de risco de sofrimento, dor
ou prejuízo.
Dessa forma, deve-se atentar as diferenças culturais e
também ao que acaba sendo “funcional” ou
“disfuncional”.
11. Transtorno Psicológico;
Disfunção Psicológica;
Sofrimento subjetivo ou prejuízo;
Atípico ou socialmente não esperado.
13. Jornais, TV, cinema, teatro, rádio permeiam
o imaginário cotidiano : assassinatos,
patologia sexual, suicídios, peças
“psicologicamente eletrizantes” cujo tema
central é o comportamento anormal.
Os casos que encontramos em peças, jornais,
histórias, literatura tendem a ser os casos
extremos.
14. Importante salientar os diversos níveis de
gravidade.
Os desajustamentos mais comuns se referem
a maneiras ineficientes de resolver
problemas, mais do que perturbações
mentais graves que tornam o indivíduo
inteiramente incapaz.
15. Em todas as épocas é provável que as pessoas
apresentassem crenças errôneas e ideias
falsas sobre comportamento anormal, pois
tinham conhecimento fragmentado através da
literatura e história, bem como através de
tentativas para enfrentá-lo na vida diária, sem
o auxílio da compreensão científica.
16. Pessoas se preocupam com seus
comportamentos e atitudes que não se
ajustam a seu conceito de “normalidade”
Em algum período da vida, quase todas as
pessoas tem sentimento de insegurança,
angústia, preocupação com o futuro.
17. • As pessoas não apresentam seus problemas a
psicólogos/psiquiatras do mesmo modo que
consultam um oftalmologista, por exemplo.
18. A suposição de que o comportamento anormal é esquisito e
diverso do comportamento normal, também liga-se a
impossibilidade muito comum de reconhecê-lo nas suas
formas mais brandas.
Pensar que a dinâmica da tentativa individual de
ajustamento a situações de vida com diferentes métodos e
graus de êxitos difere-se no comportamento normal e
anormal.
Importante a compreensão da doença como algo que está
sujeito às mesmas leis de causação e desenvolvimento,
portanto, compreensível e controlável.
19. • Não existe linha divisória entre comportamentos
normais e anormais.
• Comportamento passa por graus imperceptíveis,
e um indivíduo pode, em diferentes períodos,
passar por diferentes posições.
• Um indivíduo pode ter ajustamento satisfatório
até que alguma mudança em seu ambiente, por
exemplo, possa aumentar tanto a gravidade de
seus problemas de ajustamento que ele não
seria mais capaz de enfrentá-los
satisfatoriamente.
20. Em vários casos, a doença mental deve-se a
hereditariedade social, e não à genética.
Vários fatores: irregularidades
cromossômicas, aprendizagem.
21. Crença ligada à masturbação (apoio
superficial no fato de que alguns doentes
mentais se masturbam aberta e
excessivamente).
Não é propriamente o comportamento
sexual, mas a maneira pela qual o indivíduo o
avalia, que é às vezes responsável pelo
desenvolvimento de padrões anormais.
22. Idéia falsa pela compilação de extensas listas
de personagens históricas que sofreram de
doença mental.
Estudos experimentais não encontraram essa
relação, ao contrário, acentuaram a
tendência destas pessoas criadoras para a
auto-aceitação, ausência de atitude
defensiva, atitude aberta para novas
experiências e personalidade complexa e
rica.
23. Crença falsa e que pode causa muitos males,
já que só pode dificultar o ajustamento
social de uma pessoa que se restabeleceu de
algum tipo de doença mental.
Em muitos casos o indivíduo consegue um
nível melhor de integração da personalidade
e de saúde mental do que o existente antes
da doença.
24. Primeiramente, um cientista precisa começar
por definições claras do que entende por
“normal” e “anormal”, e formular critérios
para distinguir um do outro nos casos clínicos
reais.
25. Sugere um desvio de alguma norma
claramente definida.
Todavia, num nível psicológico, não temos
um “modelo ideal” de homem para usar
como base de comparação, nem temos
certeza absoluta do que seja, exatamente,
comportamento normal ou não. Apesar disso
foram propostos diversos critérios.
(SLIDES 4 – 19)
26. A maioria dos cientistas sociais concordariam em
que o comportamento normal representará o
desenvolvimento e a atuação mais favoráveis do
indivíduo, coerentes com o bem-estar e o
progresso duradouros do grupo.
Essa normal inclui também os conceitos de
ajustamento, integração, maturidade, satisfação
e bem-estar social, com a suposição evidente de
que o nosso campo ultrapasse o ajustamento
individual e chegue á criação das condições
sociais.
27. Tal problema não é exclusivo da psicopatologia, mas
de toda a medicina.
O conceito de normalidade em psicopatologia
também implica a própria definição do que é saúde e
doença mental. Tais temas apresentam
desdobramentos em várias áreas da saúde mental. Por
exemplo:
28. A determinação de anormalidade
psicopatológica pode ter importantes
implicações legais, criminais e éticas,
podendo definir o destino social,
institucional e legal de uma pessoa.
29. Neste caso, a definição de normalidade é
tanto um problema com um objeto de
trabalho e pesquisa. A epidemiologia,
inclusive, pode contribuir para a discussão e
o aprofundamento do conceito de
normalidade em saúde.
30. De modo geral, o conceito de normalidade em
psicopatologia impõe a análise do contexto
sociocultural; exige necessariamente o estudo da
relação entre o fenômeno supostamente patológico
e o contexto social no qual tal fenômeno emerge e
recebe este ou aquele significado cultural.
31. Nesta área, é preciso estabelecer critérios de
normalidade, principalmente no sentido de
verificar as demandas assistenciais de
determinado grupo populacional, as
necessidades de serviços, quais e quantos
serviços devem ser colocados à disposição
desse grupo, etc.
32. São importantes na definição de capacidade
e adequação de um indivíduo para exercer
certa profissão, manipular máquinas, usar
armas, dirigir veículos, etc. Como, por
exemplo, o caso de indivíduos com déficits
cognitivos e que desejam dirigir veículos,
pessoas psicóticas que querem portar armas,
ou sujeitos com crises epiléticas que
manipulam máquinas perigosas, etc.
33. É muito importante a capacidade de
discriminar, no processo de avaliação e
intervenção clínica, se tal ou qual fenômeno
é patológico ou normal, se faz parte de um
momento existencial do indivíduo ou é algo
francamente patológico.
34. • Há vários critérios de normalidade e
anormalidade em medicina e psicopatologia.
A adoção de um ou outro depende, entre
outras coisas, de opções filosóficas,
ideológicas e pragmáticas do profissional. Os
principais critérios de normalidade utilizados
em psicopatologia são :
35. O primeiro critério que geralmente se utiliza é o
de saúde como “ausência de sintomas, de sinais
ou de doenças”. Normal, do ponto de vista
psicopatológico, seria, então, aquele indivíduo
que simplesmente não é portador de um
transtorno mental definido.
Tal critério é bastante falho e precário, pois,
além de redundante, baseia-se em uma
“definição negativa”, ou seja, define-se a
normalidade não por aquilo que ela
supostamente é, mas, sim, por aquilo que ela
não é, pelo que lhe falta.
36. Aqui se estabelece arbitrariamente uma
norma ideal, o que é supostamente “sadio”,
mais “evoluído”. Tal norma é, de fato,
socialmente constituída e referendada.
Depende, portanto, de critérios
socioculturais e ideológicos arbitrários, e, às
vezes, dogmáticos e doutrinários.
37. • A normalidade estatística identifica norma e
frequência. Aplica-se especialmente a
fenômenos quantitativos, com determinada
distribuição estatística na população geral – o
normal passa a ser aquilo que se observa com
mais frequência. Os indivíduos que se situam
estatisticamente fora (ou no extremo) de uma
curva de distribuição normal passam, por
exemplo, a ser considerados anormais ou
doentes.
• É um critério muitas vezes falho em saúde
mental e geral, pois nem tudo o que é
frequente é necessariamente “saudável”, e nem
tudo que é raro ou infrequente é patológico.
38. A Organização Mundial de Saúde definiu em
1946 a saúde como o completo bem-estar
físico, mental e social, e não simplesmente
como ausência de doença. É um conceito
criticável por ser muito vasto e impreciso,
pois bem-estar é algo difícil de se definir
objetivamente. Além disso, esse completo
bem-estar físico, mental e social é tão
utópico que poucas pessoas se encaixariam
na categoria “saudáveis”.
39. Tal conceito baseia-se em aspectos
funcionais e não necessariamente
quantitativos. O fenômeno é considerado
patológico a partir do momento em que é
disfuncional, produz sofrimento para o
próprio indivíduo ou para seu grupo social.
40. Neste caso, mais que uma visão estática,
consideram-se os aspectos dinâmicos do
desenvolvimento psicossocial, das
desestruturações e das reestruturações ao
longo do tempo, de crises, de mudanças
próprias a certos períodos etários.
Esse conceito é particularmente útil em
psiquiatria infantil, de adolescentes e
geriátrica.
41. Aqui é dada maior ênfase à percepção
subjetiva do próprio indivíduo em relação a
seu estado de saúde, às suas vivências
subjetivas.
O ponto falho desse critério é que muitas
pessoas que se sentem bem, “muito
saudáveis e felizes”, como no caso de
sujeitos em fase maníaca, apresentam, de
fato, um transtorno mental grave.
42. Alguns autores de orientação fenomenológica e
existencial propõe conceituar a doença mental como
perda da liberdade existencial. Sendo assim, a
doença mental seria o constrangimento do ser, o
fechamento, fossilização das possibilidades
existenciais.
Dentro desse espírito, afirma-se que a saúde mental
poderia ser vista até certo ponto, como a
possibilidade de dispor de “senso de realidade, senso
de humor e de um sentido poético perante a vida”,
atributos estes que permitiriam ao indivíduo
“relativizar” os sofrimentos e as limitações inerentes
à condição humana e, assim, desfrutar do resquício
de liberdade e prazer que a existência oferece.
43. Trata-se de um critério assumidamente
arbitrário, com finalidades pragmáticas
explícitas. Define-se, a priori, o que é
patológico e busca-se trabalhar
operacionalmente com esses conceitos,
aceitando as consequências de tal definição
prévia.
44. Temos uma classificação psiquiatra que descreve os
diversos tipos de comportamento anormal, mas tal
classificação é muito mais útil para distinguir
perturbações mentais sérias do que para avaliar padrões
de desajustamento menos graves, comuns na vida diária.
Acrescentamos que muitos indivíduos tem de agir em
situações de vida que estão longe de ser satisfatórias e
que não são passíveis de mudança.
Provavelmente o melhor que poderíamos fazer é sugerir
três tipos de perguntas, às quais um clínico está atento ao
tentar avaliar a normalidade ou anormalidade do
comportamento de um paciente.
45. • 1. Qual o grau de harmonia que as reações ajustadoras do
indivíduo lhe permitem conservar entre seus vários
objetivos, necessidades e valores? Seus objetivos são
realistas? Tem uma auto-confiança razoável para
enfrentar seus problemas? Criou um sistema de valores
satisfatório? Aceita novas experiências? Ou está
debilitado por sentimentos de inferioridade, atitude
defensiva, rigidez excessiva, etc. Se se desvaloriza, como
pessoa, é uma “casa dividida” por conflitos graves, ou se
apoia excessivamente na racionalização e em outros
mecanismos de defesa para enfrentar os seus problemas,
suas reações cairão na categoria do comportamento
anormal.
46. • 2. Qual o grau de harmonia que suas reações de
ajustamento lhe permitem manter com o seu ambiente ?
Sua perspectiva deste ambiente é razoavelmente correta?
Tem condições de trabalho ou outras aptidões para a
participação eficiente no grupo? Sente que é um membro
importante e querido no grupo? Consegue estabelecer
relações satisfatórias com outros? É capaz de dar e
receber afeição? Se sentir isolado e rejeitado, ou se suas
relações com o grupo forem cortadas de maneira crônica
por atritos sérios e desnecessários, diríamos que suas
reações seriam anormais.
47. 3. As reações de ajustamento do indivíduo contribuem
para a sua auto-realização e para o bem-estar e o
progresso social? Desenvolve-se e amadurece como
pessoa? Tem um sentido adequado de auto-identidade? É
capaz de auto-orientação responsável? Usa suas
potencialidades de maneira construtiva, em seu
interesse e no da sociedade? Se for imaturo, tiver
grandes potencialidades que não estejam sendo
utilizadas eficientemente, ou se suas capacidades forem
dirigidas para objetivos socialmente indesejáveis, seu
comportamento será anormal.
48. Respostas negativas a perguntas como estas
exprimem um ajustamento inadequado e muitas
vezes são acompanhadas por outras características –
angústia, tensão, infelicidade, e assim por diante – a
que nos referimos como “sintomas”.
Nos desajustamentos graves de personalidade
existem outros sintomas, tais como os delírios ou
alucinações.
49. Primeiro passo para o esclarecimento de
relações e para a introdução de ordem na
discussão de sintomas, causas e dinâmica do
comportamento anormal.
Tarefa difícil: sintomas de dois pacientes
semelhantes, por exemplo, e as causas
diferentes.
Classificação aceita: Associação Psiquiátrica
Americana, que apresenta duas divisões
principais...
50. As perturbações onde não existe uma causa física
aparente ou patologia do cérebro incluem:
• Perturbações passageiras de personalidade, ligadas a
determinadas situações.
Nos casos de tensão grande os indivíduos podem manifestar
pânico, grande aflição, sintomas neuróticos/psicóticos,etc.
Estas reações se diferem das neuroses/ psicoses pois são
desencadeadas por tensão aguda ou específica e envolvem
indivíduos anteriormente normais.
51. • Perturbações Psiconeuróticas
A principal característica é a angústia. A felicidade e
eficiência do paciente são em geral gravemente
reduzidas, mas não ocorre uma perturbação geral da
personalidade ou perda de contato com a realidade.
52. • Perturbações Psicofisiológicas Autônomas e
Viscerais
Essa categoria inclui enxaquecas, hipertensão,
dermatites, úlceras do aparelho digestivo e outras
reações nas quais os fatores emocionais
desempenham um papel causal.
53. • Psicoses Funcionais
Abrangem formas graves de desorganização da
personalidade e uma perda de contato adequado
com a realidade. Inclui reações esquizofrênicas,
afetivas e paranóides.
54. • Perturbações da personalidade (perturbações do
caráter)
As reações incluídas nesta categoria parecem provir
de defeitos no desenvolvimento e não da
desorganização de personalidade devida a uma
excessiva tensão. Personalidade inadequada, reações
anti-sociais, perversões sexuais, alcoolismo e vício
em drogas incluem-se nesse grupo de perturbações.
55. As perturbações em que as causas orgânicas são
evidentes incluem:
• Perturbações Cerebrais Agudas
Nos casos de debilitação temporária da função do
tecido cerebral (como febre alta, carência de
vitaminas, hipertiroidismo, intoxicação alcoólica)
pode haver alucinações, ou outras perturbações
do comportamento, resultantes da patologia
cerebral ou da redução dos controles corticais de
adaptação.
56. • Perturbações Cerebrais Crônicas
Nos casos em que um tumor do cérebro, ferimento na
cabeça, arteriosclerose ou outra condição aguda
provocam lesão permanente no tecido cerebral, é de
se esperar que ocorra e persista certa debilidade do
julgamento, memória, orientação e reações
emocionais.
57. Psicopatologia e semiologia dos transtornos
mentais – Paulo Dalgalarrondo.