SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 24
Downloaden Sie, um offline zu lesen
EstesuplementofazparteintegrantedaAgrotecn.o
34,do1.o
trimestrede2020enãopodeservendidoseparadamente.
Proposta de escala dos estados
fenológicos do medronheiro
Rebecca Darnell: «Em Portugal
existem muitos produtores dedicados»
VI Colóquio Nacional da Produção
de Pequenos Frutos acontece em maio
Baga de sabugueiro
Porque é importante avaliar no
campo o seu estado de maturação?
301.º Trimestre 2020
editorial | índice | ficha técnica
Diretor
Pedro Nogueira Brás de Oliveira
Diretor Executivo
António Malheiro
a.malheiro@publindustria.pt
Redação
Sofia Cardoso . redacao@agropress.pt
Tel. +351 220 964 363
Marketing
Daniela Faria . marketing@agropress.pt
Tel. +351 225 899 620
Imagem de Capa
TF3000 | Pixabay
Paginação
Raquel Boavista . design@delineatura.pt
Delineatura – Design de Comunicação
Tel. +351 225 899 622 . www.delineatura.pt
Assinaturas
Tel. +351 220 104 872
info@booki.pt . www.booki.pt
Colaboraram neste número
Alice Jones, Ana Sofia Nunes,
Armando J. D. Silvestre, Bernardo Madeira,
Bruno Cardoso, Cândida Sofia Trindade,
Carina Costa, Fábio Castro, Filomena Gomes,
Goreti Botelho, João Miguel Antunes Jacinto,
Justina Franco, Mafalda Simões,
Pedro Brás de Oliveira, Samuel Patinha,
Sílvia M. Rocha, Sofia Canteiro Patrício,
Teresa Valdiviesso
Proprietário e editor
Publindústria, Lda.
Empresa Jornalística
Registo n.o
213163
NIPC: 501777288
Praça da Corujeira, 38
4300-144 Porto, Portugal
Tel. +351 225 899 620 . Fax +351 225 899 629
a.malheiro@publindustria.pt
www.publindustria.pt
Conselho de Administração
António da Silva Malheiro
Ana Raquel da Silva Malheiro
Maria da Graça Carneiro de Carvalho Malheiro
Detentores de capital social
António da Silva Malheiro (31%)
Ana Raquel da Silva Malheiro (38%)
Maria da Graça Carneiro de Carvalho Malheiro (31%)
Sede da Redação
Publindústria, Lda.
Praça da Corujeira, 38, 4300-144 Porto, Portugal
Tel. +351 225 899 620 . Fax +351 225 899 629
Representante em Espanha:
INTEREMPRESAS – Nova Àgora, S.L.
Amadeu Vives, 20
08750 Molins de Rei – Barcelona
Tel. +34 936 802 027 . Fax. +34 936 802 031
Impressão e Acabamento
Lidergraf – Sustainable Printing
Rua do Galhano, 15 | 4480-089 Vila do Conde
INPI
Registo n.o
502988
ISSN: 2183-1998
Depósito Legal: 337265/11
Os artigos assinados são da exclusiva
responsabilidade dos seus autores.
Este suplemento faz parte integrante da Agrotec n.º 34,
do 1.º trimestre de 2020 e não pode ser vendido separadamente.
Estatuto editorial disponível em: www.agrotec.pt
www.facebook.com/AgrotecRevista
SIGA-NOS NO
FACEBOOK!
www.agrotec.pt
Utilize o seu SmartPhone para
aceder automaticamente ao link
através deste QR code.
Zonagem agrícola
do território
Esta semana tive a grata oportunidade de estar nas jornadas
organizadas por um grupo de produtores de mirtilo na região
norte do país. Durante a breve estadia, tive a oportunidade de
observar, direi melhor, admirar, a sã convivência de um grupo
heterogéneo de pessoas, ligadas por um interesse comum, a
produção de mirtilos.
Nesta época, em que todas as forças de mercado conduzem
ao aumento de área por exploração agrícola, impondo uma
agricultura “industrial”, massiva, surgem núcleos de produtores
que tentam, nos seus territórios, tirar partido das suas terras,
dos seus habitantes e, porque não, das suas (novas) culturas.
A tarefa parece impossível, mas sou testemunha da compe-
tência técnica, da organização e do empenho de todos os que
fazem parte deste grupo para o sucesso das suas explorações
agrícolas e para a excelência do seu produto.
Será este um caso isolado? Não. Um outro exemplo
também nos é apresentado neste número da Pequenos Frutos,
a produção de baga de Sabugueiro no Vale do Varosa. Leia-se
a crónica da Professora Alice Jones, que ficou encantada
com a descoberta da forma de cultivar e tratar da baga do
Sabugueiro, da paixão dos produtores da região pela sua terra
e pelos produtos que ela dá. Já existe ligação das Universida-
des às forças de organização locais. O conhecimento é hoje
transmitido e partilhado tendo em vista o aumento da
riqueza das regiões. Bom trabalho!
Estes dois exemplos, que porventura pequenos, como os
pequenos frutos, levam-nos a um tema maior que devia ser
mais acarinhado em Portugal, a zonagem do território. O nosso
país é muito diverso em clima e possui uma ampla diversidade
agrícola. Promovam-se as culturas nos locais certos, dando
primazia aos territórios e suas gentes, com incorporação do
conhecimento das Universidades validando mas, sobretudo,
inovando na produção agrícola para que todos consigam
receber o justo retorno do seu esforço e empenho.
PEDRO NOGUEIRA BRÁS DE OLIVEIRA
DIRETOR DA REVISTA PEQUENOS FRUTOS | Investigador auxiliar no INIAV
«Nesta época, em que todas as
forças de mercado conduzem ao
aumento de área por exploração
agrícola, impondo uma agricultura
“industrial”, massiva, surgem
núcleos de produtores que tentam,
nos seus territórios, tirar partido
das suas terras, dos seus
habitantes e, porque não, das
suas (novas) culturas»
1	 EDITORIAL
	 Zonagem agrícola do território
	NOTÍCIAS
2	 Programa da sexta edição do Colóquio Nacional da
Produção de Pequenos Frutos já se encontra completo
2	 INIAV e BERRYSMART assinam protocolo para
desenvolvimento de tecnologias de produção de mirtilo
3	 Livro sobre a cultura do morango lançado no VI Colóquio Nacional
da Produção de Pequenos Frutos sobre a cultura do morango
3	 Inovterra promove novo workshop sobre a cultura do sabugueiro
3	 XVIII Seminário Internacional de Mirtilos acontece no Chile
4	 Descobrir o Vale do Varosa
	 GRUPOS OPERACIONAIS
6	 Baga de sabugueiro – Porque é importante
avaliar no campo o seu estado de maturação?
	PRODUÇÃO
9	 A importância do conhecimento do estado
de diferenciação floral na cultura da framboesa
12	 Proposta de escala dos estados fenológicos do medronheiro
	ENTREVISTA
15	 Rebecca Darnell: «Em Portugal
existem muitos produtores dedicados»
	 MERCADOS
18	 Aumentar, ou não, a produção de mirtilo
	 TESES
20	 Avaliação do potencial de plantas ’tray’
de morangueiro. Arquitetura floral e produtividade
20	 Morphological and genetic characterization
of four populations of Corema album (L.) D. Don
2 peouenosfrutos
notícias
INIAV E BERRYSMART ASSINAM
PROTOCOLO PARA DESENVOLVIMENTO DE
TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE MIRTILO
TEXTO PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA (INIAV)
No dia 21 de janeiro de
2020 foi assinado um
protocolo de colaboração
técnico-científica entre
o Instituto Nacional de
Investigação Agrária e
Veterinária (INIAV) e a
Berrysmart, Sociedade
Unipessoal Lda. O Protocolo
tem como objetivo a
dinamização de atividades
PROGRAMA DA SEXTA EDIÇÃO DO COLÓQUIO
NACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEQUENOS
FRUTOS JÁ SE ENCONTRA COMPLETO
TEXTO PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA (INIAV)
Oprograma do VI
CNPPF já se encontra
praticamente terminado.
Irá ser uma jornada de
trabalho muito intensa mas
terá diversos momentos de
interação interessantes para
todos, produtores, empresá-
rios, técnicos investigadores
e professores. A comissão
científica tentou diversificar
o programa tornando-o
aglutinador de todos quantos
trabalham e investem nos
diferentes pequenos frutos.
Assim, o programa conta
com comunicações orais
em todas as principais
culturas, framboesa, mirtilo,
morango, amora, medronho,
sabugueiro, camarinha e
ainda diversas intervenções
sobre temas transversais
ao conjunto dos pequenos
frutos. As comunicações em
painel também terão grande
destaque durante o evento,
estando reservado um amplo
espaço de discussão no
recinto de exposição, onde
estarão diversas empresas
e centros de investigação,
gerando um ambiente
propício à troca
de conhecimentos.
«(...) o programa conta
com comunicações orais
em todas as principais
culturas, framboesa,
mirtilo, morango, amora,
medronho, sabugueiro,
camarinha e ainda
diversas intervenções
sobre temas transversais
ao conjunto dos
pequenos frutos»
São múltiplas as comuni-
cações orais por convite
devendo ser destacadas a
apresentação da investiga-
dora Anita Sonsteby intitulada
“Raspberry plant physiology
and impact on crop produc-
tion”. Esta investigadora é
uma especialista na inves-
tigação sobre diferenciação
floral em framboesa, com
diferentes estudos sobre os
fatores mais importantes na
produtividade da framboesa
no sistema long-cane. Serão
apresentadas duas comunica-
ções orais, uma por convite do
“Centre for ecology, evolution
and environmental changes”
da Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa
sobre a fisiologia da planta de
camarinha, comunicação que
estará a cargo do Professora
da Universidade de Sevilha,
Mari Cruz Dia-Barradas, e
uma segunda, por convite da
InovTerra, sobre produtos
à base de sabugueiro,
apresentada pela Professora
Alice Jones da Universidade
de Nottingham. É de destacar
que o colóquio possui diferen-
tes parcerias, contando com a
presença de investigadores de
três centros de investigação
financiados pelo Ministério da
Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior e cinco Associações
ligadas ao sector. O
Colóquio encontra-se aberto
a mais parcerias que possam
enriquecer e dinamizar a
participação de todos quantos
trabalham neste sector.
O Colóquio terá também
um momento de sã discussão
sobre a sustentabilidade
da produção de pequenos
frutos. A mesa redonda conta
com um painel alargado de
professores universitários
e agentes conhecedores do
setor que permitirão discutir
e lançar ideias de como deve
o setor reagir aos maiores
desafios que se colocam,
nomeadamente, ambientais,
sociais e económicos.
Será realizada uma
visita técnica a empresas
da região produtoras de
pequenos frutos e ao campo
de demonstração do projeto
CompetitiveSouthBerries
instalado na empresa
FirstFruit. Neste campo serão
apresentados os resultados
dos ensaios de produção de
lançamentos de framboesa
para serem utilizados para
a produção de segundo
ano (long-canes).
«É de destacar que
o colóquio possui
diferentes parcerias,
contando com a presença
de investigadores
de três centros de
investigação financiados
pelo Ministério da
Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior e cinco
Associações ligadas
ao sector»
Por último um grande
obrigado a todos os nossos
patrocinadores, que são já
mais de vinte, parceiros e
media partners, com um apelo
a todos para que não deixem
de participar ativamente neste
evento, relembrando que os
organizadores se encontram
abertos a sugestões que
podem ser enviadas para
o correio electrónico do
secretariado do colóquio
(VICNPPF@gmail.com).
Contamos com todos para
aumentar a importância dos
pequenos frutos no contexto
da agricultura nacional.
e projetos a realizar na
Herdade Experimental da
Fataca (HEF), em Odemira.
Serão instalados
diferentes campos de
avaliação das tecnologias de
produção mais inovadoras,
seleção de material vegetal
mais adaptado aos condicio-
nalismos edafo-climáticos
da região e construído um
laboratório de biotecnologia
com as respetivas estufas de
aclimatização, bem como um
pequeno viveiro de mirtilos e
outras espécies que possam
ser do interesse de ambas as
partes criando as condições
para que a Herdade se torne
um polo de excelência na
experimentação de Pequenos
Frutos. No âmbito da referida
colaboração as partes
poderão candidatar-se a
financiamentos, preferen-
cialmente em parceria, ou
individualmente mediante
acordo prévio.
«O Protocolo tem
como objetivo a
dinamização de
atividades e projetos
a realizar na Herdade
Experimental da
Fataca (HEF), em
Odemira»
Em representação do
INIAV, I.P, assinou o
protocolo o Presidente do
Conselho Diretivo, Doutor
Nuno Canada e por parte da
Berrysmart e em repre-
sentação da sócia gerente,
Nelson Antunes.
peouenosfrutos 3
notícias
LIVRO SOBRE A CULTURA DO MORANGO
LANÇADO NO VI COLÓQUIO NACIONAL
DA PRODUÇÃO DE PEQUENOS FRUTOS
INOVTERRA PROMOVE NOVO WORKSHOP
SOBRE A CULTURA DO SABUGUEIRO
XVIII SEMINÁRIO INTERNACIONAL
DE MIRTILOS ACONTECE NO CHILE
AInovterra, Associação
para o desenvolvimento
local com sede em Vila
Pouca- Salzedas, localizada
no concelho de Tarouca,
está a organizar mais um
workshop sobre a cultura do
sabugueiro no próximo dia 16
de maio. Este versará sobre
a flor de sabugueiro.
Esta é uma nova ação
de formação realizada pela
entidade sobre esta cultura,
que é cada vez mais procurada
em Portugal. A formação
conta ainda com intervenções
práticas e visitas a diversos
pontos essenciais.
No início da formação, será
realizada uma introdução
à cultura do sabugueiro, no
âmbito de introduzir as noções
mais essenciais sobre a res-
petiva e abordar os números
do comércio. Ainda durante a
manhã, os participantes vão
ter a oportunidade de realizar
a apanha da flor no campo.
Da parte da tarde, será
realizada uma visita a pontos
Oevento realiza-se no
próximo dia 16 de abril,
no Centro de Conferências
Monticello, em San Francisco
de Mostazal.
O programa do XVIII
Seminário Internacional de
Mirtilos deste ano contempla
um bloco de negociações
comerciais que irão provi-
denciar atualizações sobre
a situação atual e os seus
detalhes, tanto regionalmente,
como internacionalmente.
O objetivo da organização
passa por analisar os desafios
que surgem e tornar visíveis as
oportunidades e perspetivas
futuras abertas para a produção
de mirtilos do Chile, Peru e
México. O primeiro painel, que
irá discutir a temática, irá contar
com a presença dos diretos das
diversas organizações de mirtilo
chilenas, peruanas e mexicanas.
Durante a palestra inicial,
cada um irá partilhar as suas
experiências locais com
participantes de diferentes
países e regiões, participando
de interesse na cultura do
sabugueiro no concelho
de Tarouca e ao campo de
sabugueiros da Inovterra.
As inscrições estão abertas
até ao dia 14 de maio e são
de carácter obrigatório. Mais
informações disponíveis
através do inovterra@gmail.
com ou 254 677 510.
«A formação conta (...)
com intervenções práticas
e visitas a diversos pontos
(...) para quem quer
conhecer melhor a cultura
do sabugueiro e a
sua produção»
A Inovterra tem vindo a
desenvolver o potencial
da região que outrora fora
pouco considerado. A ação da
associação está voltada para a
agricultura, para a cultura, para
a história, para o biológico e
sustentável, para novas formas
de pensar e agir o desenvol-
vimento económico e social,
elevando sempre a região.
de uma conversa sobre os
pontos fracos de cada setor, as
suas vantagens e oportunida-
des, e as estratégias projetadas
ou projetar para recuperar
ou manter a competitividade,
com o objetivo de se inserir
melhor ou num nível superior
no mercado de exportação de
frutas, que se encontra cada
vez mais exigente.
«(...) tornar visíveis
as oportunidades e
perspetivas futuras
abertas para a produção
de mirtilos do Chile,
Peru e México»
Durante o evento, os
participantes vão poder
assimilar conhecimentos de
duas palestras distintas no
âmbito da cultura do mirtilo
sobre porta-enxertos, nutrição,
utilização de bioestimulantes,
logística de colheita e
armazenamento, potencial
do mirtilo na pós-colheita,
manuseamento, entre outros.
Durante o VI Colóquio
Nacional da Produção de
Pequenos Frutos, que acon-
tece entre 22 e 23 de maio, em
Odemira, será apresentado o
livro “A cultura do morango.
No solo e em substrato”, de
Maria Graça Palha.
«A cultura do
morangueiro constitui
uma importante cadeia
produtiva do ponto
de vista tecnológico,
económico e social»
Licenciada em Agronomia
e doutorada em Engenharia
Agronómica pelo Instituto
Superior de Agronomia (ISA)
da Universidade Técnica de
Lisboa, Maria Graça Palha é
investigadora no INIAV desde
1998. Esta tem desenvolvido
grande parte da sua atividade
profissional nas áreas de
horticultura herbácea e de
pequenos frutos com ênfase
na ecofisiologia e tecnologias
de produção do morangueiro,
liderando e participando em
projetos de investigação
nacionais e internacionais.
A cultura do morangueiro
constitui uma importante
cadeia produtiva do ponto de
vista tecnológico, económico
e social. Nas últimas décadas,
o setor sofreu uma enorme
expansão e evolução resul-
tante da diversificação varietal,
do desenvolvimento de várias
tecnologias de produção e
da globalização do comércio
internacional, proporcionando
a disponibilidade do fruto no
mercado o ano inteiro.
Esta obra é o culminar de duas
décadas de estudos de I&DT
dedicados a este pequeno
fruto, onde estão reunidas
uma série de informações,
teóricas e práticas, que se
debruçam sobre a biologia da
planta, sobre a cultura e seus
aspetos culturais e as diversas
tecnologias de produção
utilizadas.
Aborda a cultura do
morango, no solo e em
substrato, contemplando
vários capítulos: enquadra-
mento taxonómico, origem
e história, morfologia da
planta e ciclo fisiológico,
a cultura e seus aspetos
culturais, tecnologias de
produção e qualidade do
fruto e efeitos na saúde.
O livro é editado sob a
chancela Agrobook, que
agrega a oferta de conteúdos
nos domínios das ciências
agrárias, indústria agroali-
mentar, bem-estar animal e
desenvolvimento rural.
«Esta obra é o culminar
de duas décadas de
estudos de I&DT
dedicados a este pequeno
fruto, onde estão reunidas
uma série de informações,
teóricas e práticas (...)»
4 peouenosfrutos
notícias
Descobrir o Vale do VarosaUma crónica à cultura do sabugueiro
TEXTO E FOTOS ALICE JONES, Universidade de Nottingham
Aminha viagem com o
objetivo de visitar o
Bruno Cardoso, da Associação
Inovterra em Portugal, que
aconteceu em novembro do
ano passado, surgiu depois de
encontrar o projeto Sambucus-
Valor online enquanto realizava
uma pesquisa sobre o cultivo
de sabugueiro para o meu
projeto de bolsas de estudos,
o Nuffield Farming Trust.
Este trata-se de uma
instituição de caridade
registada e fundada no Reino
Unido. A primeira bolsa de
estudos foi concedida em 1947.
Atualmente, a instituição conta
com vários países membros
que patrocinam bolsas por
todo o globo. Os académicos
são selecionados com o
objetivo de se tornarem nos
líderes de amanhã, tanto nos
seus negócios individuais, como
no setor agroalimentar como
um todo. A intenção é inspirar
a inovação e a mudança.
As bolsas de estudo Nuffield
são possíveis graças ao apoio
generoso de patrocinadores de
toda a indústria agrícola
e de alimentos.
Depois de passar a maior
parte de 2019 a pesquisar
e a viajar pelo mundo para
observar plantações de
sabugueiro (Sambucus),
eu não podia acreditar que
tinha ignorado Portugal e a
sua história de cultivo. Nos
últimos 13 anos, vi muitos
sabugueiros serem associa-
dos com o processo industrial
da flor de sabugueiro e, claro
está, vi ainda mais no último
ano aquando da minha tour
global. No entanto, quando
entrei no Vale do Varosa,
percebi que visualizava um
nível acima de dedicação.
Os sabugueiros estavam
por toda a parte, em volta das
vinhas, entre os pomares de
maçã e castanha, ao longo
das fronteiras das plantações
e, o que se demonstrou tão
interessante para mim, era
que estes também estavam
a ser cultivados nos seus
próprios campos, existindo
fileiras e fileiras de árvores
que eram alvo de grande
cuidado, atenção e respeito,
tal como as vinhas premiadas
do próprio vale do Douro.
O meu anfitrião, Bruno
Cardoso, que está a conduzir
o renascimento da cultura na
região, parou pacientemente
o carro a cada poucos metros
para eu tirar mais uma foto.
Eventualmente, deixou-me
caminhar e maravilhar com as
espectaculares árvores altas,
com três ou quatro metros e
com os seus galhos curvos!
Eu estava no céu!
«Depois de passar a
maior parte de 2019
a pesquisar e a viajar
pelo mundo para
observar plantações de
sabugueiro (Sambucus),
eu não podia acreditar
que tinha ignorado
Portugal e a sua
história de cultivo»
Ali eu tinha encontrado
alguém e um local que
representava o que eu tinha
sonhado para o Reino Unido, o
que eu precisava para inspirar
os agricultores locais a ver o
sabugueiro como a jóia que é:
uma planta nativa e perene,
a partir da qual se pode
obter duas colheitas valiosas
(flores e frutos). Isso é o que
me fascina no sabugueiro:
existem muito poucas plantas
onde o agricultor pode
escolher qual colheita colher,
e muito menos, mesmo
quando gerida corretamente,
existe a possibilidade de
colher um pouco de ambas.
Além disso, o agricultor só
precisa de esperar três anos
para atingir o rendimento
máximo (para comparação,
o agricultor pode esperar de
10 a 12 anos para obter uma
colheita de castanhas).
Muitos dos sabugueiros que
vi eram, claramente, muito
velhos. Fiquei fascinada ao
perceber que muitos deles
estavam ali há décadas, mas
a sua longevidade não dava
para perceber a partir dos
números de produtividade que
o Bruno citava. O segredo que
aprendi sobre a longevidade
e a produtividade consistente
das árvores são as práticas
culturais rigorosas, principal-
mente o ato de realizar a poda
anualmente, que começa a
partir do dia em que as esta-
cas de madeira são plantadas
no campo, sendo que as
mesmas devem permanecer
plantadas durante toda a vida
útil da planta. Os sabugueiros
crescem muito rapidamente e
a resposta vegetativa é cada
vez menor, por isso a planta
precisa ser renovada. Toda a
poda é feita seletivamente à
mão, tratando-se de uma arte
que tem por base princípios
científicos. Cada corte feito é
pensado e tem um motivo e
é por isso que só uma pessoa
experiente faz esse trabalho.
Durante a poda, o agricultor
está a examinar o seu pomar
e, ao mesmo tempo procura
pelas melhores soluções para
a saúde da planta, testando o
solo em busca de nutrientes e
pH e ajustando-os de acordo
com o ideal. Atualmente,
peouenosfrutos 5
notícias
continua o trabalho para
desenvolver variedades de
alto rendimento e que sejam
bem adaptadas à região.
Os agricultores estão a
trabalhar em conjunto com
agrónomos e universidades
locais para desenvolver as
práticas agrícolas da agricul-
tura mais antiga, aproveitando
a melhor experiência do
passado e conjugando-a com
abordagens modernas para
monitorizar e gerir a colheita.
Embora os portugueses
pareçam sentir vergonha
de ter usado a baga de
sabugueiro no passado para
adicionar cor e sabor ao vinho,
os britânicos eram os seus
mercados-alvo, exportando
para a Grã-Bretanha os bons
vinhos do Porto, dos quais
nunca se consegue fartar.
“É uma pena que o sabugueiro
tenha o nome sujo e seja visto
como uma forma de adulterar
o vinho e seja oculto do rótulo
quando, na verdade, as bagas
de sabugueiro e a flor de
sabugueiro são, na verdade,
ingredientes deliciosos”,
pensei, enquanto provava licor
de sabugueiro caseiro e geleia
de sabugueiro num pequeno
bar, localizado no epicentro do
Vale Varosa, com o Bruno.
Ah, e eu mencionei que as
bagas e as flores são uma
fonte rica de antocianinas,
flavonóides e ácidos fenólicos?
É simplesmente um bónus
que algo com tantas proprie-
dades potenciais de promoção
da saúde seja tão saboroso.
Na Europa, todos nós temos
bebido xaropes, vinhos e chás
de flor de sabugueiro desde
o início dos nossos registros
enquanto sociedade, prova-
velmente tendo começado a
consumi-los devido às suas
propriedades medicinais.
«Embora os
portugueses pareçam
sentir vergonha de
ter usado a baga de
sabugueiro no passado
para adicionar cor
e sabor ao vinho, os
britânicos eram os
seus mercados-alvo,
exportando para a
Grã-Bretanha os
bons vinhos do Porto,
dos quais nunca se
consegue fartar»
O xarope de flor de sabugueiro
tem traços frescos, florais e
cítricos, juntando-se ainda
alguns travos subtis de ervas,
especiarias e amadeiradas.
O seu sabor lembra o povo
britânico dos dias felizes
de verão! A baga não é tão
amplamente consumida no
Reino Unido. Pessoalmente,
não consigo pensar porque
até à altura não tinha provado
alguns dos produtos de
sabugueiro produzidos em
Portugal, Como resultado da
minha tour de bolsas de estu-
dos, e especialmente inspirada
por esta visita, voltarei para
casa para espalhar a notícia
de que precisamos de mais
sabugueiro nas nossas vidas.
Enquanto eu estava em
Portugal para aprender
sobre o cultivo da árvore
de sabugueiro, imaginem a
minha alegria (sendo que
meu trabalho diário é como
uma cientista de alimentos,
especializado em ciência
sensorial e a trabalhar em
pesquisa aplicada e transfe-
rência de conhecimento com
empresas locais) quando
Bruno anuncia que me está
a levar para ver o trabalho
do laboratório de química
analítica em sabugueiros da
Universidade de Aveiro. Para a
minha satisfação, fui apresen-
tada a ninguém menos que a
professora Silvia Rocha, uma
das autoras dos principais
artigos científicos sobre os
constituintes químicos dos
sabugueiros que eu estava
a ler há alguns meses!
Fiquei impressionada com
a quantidade de trabalho já
realizado no laboratório para
caracterizar os constituintes
químicos de sabugueiro e flor
de sabugueiro, especialmente
em termos de refinação da
sensibilidade das técnicas de
Cromatografia Gasosa para
a detecção, identificação,
separação e quantificação
de voláteis (os compostos
que o nariz humano detecta
como aromas). Esse trabalho
é vital para entender melhor
os sabores complexos da flor
de sabugueiro e da baga de
sabugueiro, a fim de dispor de
ferramentas para melhorar as
condições de manuseamento
pós-colheita das flores e
frutos e desenvolver produtos
com melhor sabor. Aplaudo os
esforços da Universidade de
Aveiro em obter financiamento
para estudar esse nicho.
Isso, por si só, pode ser uma
barreira para o desenvolvi-
mento de novas culturas,
como o sabugueiro.
O novo desenvolvimento da
indústria de sabugueiro, e a
comercialização de produtos
como a baga de sabugueiro
como ingrediente destacado
que está a ocorrer no Vale
Varosa, certamente não está a
acontecer por acaso. Isso está
acontecer porque se juntaram
processadores, agricultores
antigos e mais jovens e
instituições académicas para
trabalhar duro e com paixão.
Por último, mas não menos
importante, eles têm um
campeão na forma do Bruno.
«O novo
desenvolvimento
da indústria de
sabugueiro, e a
comercialização de
produtos como a baga
de sabugueiro como
ingrediente destacado
que está a ocorrer
no Vale Varosa,
certamente não está a
acontecer por acaso»
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a Bruno
Cardoso, da Inovterra, por me
receber e me ensinar muito em tão
pouco tempo, e à professora Silvia
Rocha, da Universidade de Aveiro,
pelo seu tempo e excelentes
conhecimentos científicos. Por fim,
gostaria de agradecer à Nuffield
Farming Scholarship Trust e à
minha patrocinadora Thatchers
Cider, sem as quais esta viagem
não teria sido possível.
Alice Jones é cientista de
alimentos na Universidade de
Nottingham, sendo especiali-
zada em ciências sensoriais e
tendo passado 12 anos em cargos
técnicos na indústria das bebidas.
O seu projeto Nuffield Farming
Scholarship levou-se a dez
países diferentes no ano passado,
incluindo EUA, Canadá e muitos
cantos da Europa, para estudar
o desenvolvimento das bagas de
sabugueiro como uma cultura
comercialmente viável.
Pode saber mais sobre a cientista
aqui: www.nuffieldscholar.org/
our-scholars/alice-jones/
6 peouenosfrutos
grupos operacionais
GO – SambucusValor
Baga de sabugueiro
– Porque é importante avaliar no
campo o seu estado de maturação?
CARINA COSTA 1
, SAMUEL PATINHA 1
, BRUNO CARDOSO 2
, ARMANDO J. D. SILVESTRE 3
, SÍLVIA M. ROCHA 1
1
Departamento de Química, Universidade de Aveiro (LAQV-REQUIMTE – UA)
2
Inovterra, Associação para o Desenvolvimento Local
3
Departamento de Química, Universidade de Aveiro (CICECO – UA)
RESUMO
Ocontrolo do estado de maturação da baga de sabugueiro
pode ser levado a cabo através da utilização de um
refratómetro digital portátil, que permite estimar o teor de
açúcares, expresso em °Brix. Desta forma, é possível planear
com maior rigor o dia da colheita da baga. Esta abordagem
foi testada em bagas de sabugueiro das três cultivares mais
comuns na região do Vale do Varosa e Távora – Sabugueira,
Sabugueiro e Bastardeira – recolhidas nos anos de 2018 e
2019. As bagas consideradas maduras apresentaram valores
que variam entre 12 e 19 °Brix, com a mediana de 14,8 °Brix.
As tendências de variação observadas ao longo da fase final
da maturação, indicam que os valores mais elevados de
°Brix correspondem também a um valor superior de total
de compostos fenólicos e de atividade antioxidante.
Estes dois parâmetros estão relacionados com potenciais
efeitos benéficos para a saúde associados à baga.
Em suma, a determinação do °Brix ao longo da maturação da
baga representa uma abordagem simples que fornece aos
produtores informação objetiva e útil para a programação da
colheita e para a avaliação da qualidade da baga.
Palavras-chave: Sambucus nigra L.,
Baga, Maturação,°Brix, Refratómetro.
ABSTRACT
The monitoring of the maturity status of elderberry can be
carried out using a portable digital refractometer, which allows
estimating the sugar content, expressed as °Brix. In this way
it is possible to plan more accurately the harvesting day. This
method was tested in elderberries from the three most common
cultivars in the Vale do Varosa and Távora region –Sabugueira,
Sabugueiro and Bastardeira – collected in the years 2018 and
2019. The ripe elderberries exhibited °Brix values ranging from
12 to 19 °Brix, with the median of 14.5 °Brix.
The variation trends observed during the final stage of matu-
ration indicate that the highest values of °Brix also correspond
to higher values of total phenolic compounds and antioxidant
activity. These 2 parameters are related with potential beneficial
health effects associated with the elderberries. In summary,
the °Brix assessment throughout the maturation of elderberries
represents a simple method that provides objective and useful
information to producers for scheduling the harvest and
assessing the quality of elderberries.
Keywords: Sambucus nigra L., Elderberry,
Ripening, °Brix, Refractometer.
IMPORTÂNCIA
DO CONTROLO DA
MATURAÇÃO DA BAGA
Desde longa data que a flor e
a baga de sabugueiro (Sam-
bucus nigra L.) são usadas na
medicina tradicional e, mais
recentemente, no desenvol-
vimento de nutracêuticos e
suplementos alimentares,
ilustrando o potencial e
interesse em estudar esta
espécie. O sabugueiro tem
sido referido como uma fonte
rica em diversos compostos
bioativos, aos quais são
atribuídos efeitos benéficos
para a saúde e bem-estar.
Entre estes destacam-se os
compostos terpénicos, fitoes-
teróis, ácidos gordos mono e
polinsaturados, compostos
fenólicos e antioxidantes,
minerais, vitaminas, entre
outros. Alguns estudos
realizados recentemente
sobre a baga de sabugueiro
portuguesa, nomeadamente
da baga cultivada no Vale do
Varosa e Távora, (Figura 1)
reportam a presença destes
compostos bioativos, cujos
teores dependem do estado
de maturação da baga. Assim,
considera-se fundamental
que os produtores de baga
de sabugueiro disponham de
ferramentas simples que lhes
forneçam dados objetivos que
permitam controlar o estado
de maturação da baga e
como tal programar
o dia da colheita.
Durante o desenvolvi-
mento fisiológico e o processo
de amadurecimento, as bagas
sofrem diversas modificações
físicas e bioquímicas, ficando
normalmente maduras, e
como tal em condições de
serem colhidas, durante o
mês agosto. Os produtores
têm dificuldade em planear
com rigor o dia da colheita,
pois o estado de maturação
da baga está dependente
Figura 1. Região do Vale do Varosa e Távora, com indicação dos 3 campos onde fo-
ram colhidas amostras de baga de sabugueiro: Varosa, Valverde e São João de Tarou-
ca (campo experimental). Fonte: Google Maps.
peouenosfrutos 7
grupos operacionais
GO – SambucusValor
de diversas variáveis,
nomeadamente as condições
climatéricas, a localização
geográfica dos campos,
as condições de gestão da
cultura, entre outros fatores.
A qualidade da baga, e
consequentemente o seu
valor comercial, dependem
de um adequado controlo
da maturação e definição do
dia da colheita. Assim, neste
artigo será apresentada e
discutida a importância da
implementação de um método
simples que permite avaliar o
estado de maturação tecnoló-
gico da baga, em laboratório
ou no campo. É ainda discutida
a relação deste parâmetro
com outros indicadores de
qualidade da baga.
O teor de sólidos solúveis
totais (SST), indicador do
teor de açúcares solúveis,
e a acidez titulável (AT) são
parâmetros muito utilizados
para acompanhar o estado
de maturação tecnológico de
vários frutos, nomeadamente
das uvas. Por exemplo,
através da avaliação destes
parâmetros é possível um
acompanhamento do estado
de maturação das uvas, com
vista a planificar a vindima e
o processo de vinificação, de
acordo com as características
pretendidas para o produto
final. Este tipo de acompa-
nhamento pode ser realizado
no campo com recurso a um
refratómetro digital portátil.
A abordagem usada no
controlo de maturação da
uva foi o ponto de partida e
inspiração dos autores para
avaliar o amadurecimento da
baga de sabugueiro.
COMO ACOMPANHAR O
ESTADO DE MATURAÇÃO
DA BAGA ATRAVÉS DA
DETERMINAÇÃO DO °BRIX?
Na Figura 2 encontra-se
esquematizado o processo
de determinação do teor de
sólidos solúveis totais (SST)
que é expresso em °Brix.
A determinação do °Brix tem
como base uma escala que
resulta do estabelecimento
de uma relação numérica
entre o índice de refração
de uma solução e o seu
teor em sacarose. Assim,
este parâmetro permite
determinar, de forma indireta,
o teor de sólidos solúveis
totais de uma solução, o qual
depende da temperatura, mas
os refratómetros modernos
já conseguem corrigir essas
variações através de sistemas
internos de compensação
automática de temperatura.
A determinação do °Brix
é feita utilizando um
refratómetro. Aconselha-se a
utilização de um refratómetro
digital que pode ser usado
quer no laboratório quer no
campo, permitindo assim a
leitura em tempo real.
As bagas de sabugueiro
podem ser colhidas no campo
e transportadas para um
laboratório ou para insta-
lações agrícolas, ou podem
ser analisadas no campo.
Para esta determinação, as
bagas de sabugueiro devem
ser esmagadas até se obter
um sumo, posteriormente
colocaram-se duas gotas no
refratómetro, sendo a leitura
feita após 30 segundos de
permanência do sumo sobre
a superfície de leitura. Se
a análise for realizada no
laboratório pode seguir os
passos indicados na Figura 2,
iniciando o esmagamento
das bagas no almofariz e no
2º passo a leitura do °Brix.
Se a leitura for realizada no
campo, as bagas podem ser
esmagadas colocando-as
num saco de plástico e depois
1) 2)
Figura 2. Determinação do teor de sólidos solúveis totais, expresso em °Brix: 1º passo – esmagamento da baga para a obtenção do
sumo; 2º passo: leitura do °Brix num refratómetro digital. No exemplo usado nesta figura, as bagas apresentaram um valor de 14,8 °Brix.
colocam-se umas gotas do
sumo no local indicado no
refratómetro (Figura 2).
A metodologia
anteriormente descrita foi
aplicada a amostras de baga
de sabugueiro portuguesa,
recolhida na zona do Vale
do Varosa e Távora, onde
existem culturas de sabu-
gueiro com boa capacidade
de adaptação às condições
naturais da região. Assim,
foram recolhidas bagas das
cultivares mais comuns nesta
zona: Sabugueira, Sabugueiro
e Bastardeira. Estas foram
colhidas em 3 campos, entre
o final de julho e agosto de
2018 e de 2019 (Figura 1).
Para as amostras
analisadas, o valor de °Brix
aumenta até estabilizar num
valor que varia entre 13 e 19
para a baga madura, para as
3 cultivares no ano de 2018 e
entre 12 e 16, para o ano de
2019 (Figura 3). Em média,
os valores de °Brix das bagas
do campo de Varosa são
mais homogéneos, não apre-
sentam tanta variabilidade
no estado de maturação,
quando comparadas com os
valores de °Brix das bagas
dos outros campos.
De acordo com a literatura,
o teor de sólidos solúveis
da baga madura colhida em
vários países do norte da
europa pode variar entre 10
e 17 °Brix, sendo que o valor
mais comum varia entre 12 e
13 °Brix. A baga portuguesa
em estudo apresentou a
mediana de 14,8 °Brix, o que
permite inferir, que para este
indicador de qualidade, está
bem posicionada no
contexto internacional.
O °BRIX ESTÁ
RELACIONADO COM
OUTROS PARÂMETROS
DE QUALIDADE DA BAGA?
A Figura 3 ilustra a variação
dos parâmetros comumente
usados para definir o estado
de maturação tecnológica de
frutos (sólidos solúveis totais
e acidez titulável) e ainda a
evolução do teor em fenóis
totais e do poder antioxidante
da baga de sabugueiro
das cultivares Sabugueira,
Sabugueiro e Bastardeira.
De acordo com a Figura 3,
durante a fase final de
maturação o teor de açúcares
aumenta, enquanto que a
acidez titulável diminui. Habi-
tualmente define-se a data da
colheita como a fase em que
estes 2 parâmetros estabili-
zam. Por outro lado, observa-
-se que o teor em fenóis totais
aumenta e consequentemente
há um aumento da atividade
antioxidante (Figura 3). Estas
tendências de variação estão
em linha com o observado para
os valores de °Brix, isto é, o
estado de maturação da baga
que corresponde a valores de
°Brix mais elevados, também
corresponde a valores mais
elevados de fenóis totais e de
capacidade antioxidante.
Em média, as bagas do
campo de Varosa apresentam
valores mais elevados de
°Brix, teor de fenóis totais
e atividade antioxidante,
comparativamente com os
ouros campos em estudo.
Por outro lado, as bagas do
campo experimental (São
João de Tarouca) são as
que apresentam em médias
valores inferiores para
estes três parâmetros.
peouenosfrutos8
grupos operacionais
GO – SambucusValor
A Figura 3 mostra claramente
que o perfil em fenóis totais
e a atividade antioxidante
são característicos para cada
um dos campos ao longo do
tempo, refletindo a adaptação
da planta às condições
edafoclimáticas. Além do
metabolismo primário (cres-
cimento e desenvolvimento),
a planta pode apresentar
atividades relacionadas com
o metabolismo secundário, o
qual desempenha um papel
importante na interação das
plantas com o meio ambiente
(adaptação às condições
do meio). Este é expresso
na produção de vários
metabolitos secundários,
como por exemplo os
compostos fenólicos e respe-
tiva atividade antioxidante.
CONCLUSÕES
A baga de sabugueiro apre-
senta inúmeros compostos
bioativos, cuja concentração
depende do estado de matura-
ção. Assim, é importante que
haja um controlo do estado
de maturação da baga para se
definir com maior rigor o dia
da colheita e consequente-
mente a sua composição.
Um dos parâmetros que
permite acompanhar o estado
de maturação é a medição do
°Brix, através da utilização de
um refratómetro digital. Este
método é rápido, de execução
simples, requer um volume
muito reduzido de amostra e
não necessita de um operador
especializado. Para além disso
este método apresenta custos
de utilização reduzidos e pode
ser executado no campo, per-
mitindo assim uma avaliação
do grau de maturação em
tempo real. A Figura 4 resume
as principais tendências de
variação observadas ao longo
da maturação, ou seja, ocorre
um aumento do °Brix, teor
em fenóis totais, da atividade
antioxidante e a diminuição da
acidez titulável. Esta infor-
mação permite concluir que
Figura 3. Sólidos solúveis totais (SST) – °Brix, acidez titulável (g ácido cítrico/L sumo), teor em fenóis totais (g ácido gálico/L sumo) e
atividade antioxidante (mmol equivalentes de Trolox/L sumo) de baga de sabugueiro das cultivares Sabugueira, Sabugueiro e Bastardei-
ra, determinados ao longo do amadurecimento, colhidas da região do Vale do Varosa e Távora, durante a colheita de 2018 e 2019. Os re-
sultados estão expresso por L de sumo, preparado por esmagamento da baga.
a determinação do °Brix, para
além de ser um auxiliar na ava-
liação do estado de maturação
tecnológica e permitir definir
o dia da colheita, também
permite inferir acerca do teor
em compostos fenólicos, de
reconhecida importância para
o valor biológico da baga e para
as suas propriedades de cor.
AGRADECIMENTOS
FCT/MEC pelo apoio financeiro
através da unidade de investigação
QOPNA (UID/QUI/00062/2019)
e Laboratórios Associados LAQV-
-REQUIMTE (UIDB/50006/2020) e
CICECO (CICECO (UIDB/50011/2020
& UIDP/50011/2020UID/
CTM/50011/2013) e fundos nacionais
cofinanciados por FEDER, dentro do
acordo PT2020. Os autores agradecem
ao Grupo Operacional SambucusValor:
Valorização integrada do sabugueiro
em função dos padrões de consumo
saudável: da planta à criação de
novos produtos alimentares de valor
acrescentado, financiado no âmbito
do PDR 2020, Medida 1, «Inovação»,
Constituição de Grupos Operacionais
(PDR2020- 101-031117, Parceria
nº 146/ Iniciativa nº 341).
BIBLIOGRAFIA
Considine, J. A., & Frankish, E.
(2013). A complete guide to
quality in small-scale wine
making. Academic Press.
Elez Garofulić, I., Kovačević Ganić, K.,
Galić, I., Dragović-Uzelac, V., &
Savić, Z. (2012). The influence of
processing on physico-chemical
parameters, phenolics, antioxidant
activity and sensory attributes
of elderberry (Sambucus nigra
L.) fruit wine. Hrvatski časopis
za prehrambenu tehnologiju,
biotehnologiju i nutricionizam,
7(SPECIAL ISSUE-7th), 9-13.
Kaack, K., Christensen, L. P., Hughes, M.,
& Eder, R. (2005). The relationship
between sensory quality and
volatile compounds in raw juice
processed from elderberries
(Sambucus nigra L.). European
Food Research and Technology,
221(3-4), 244-254.
Salvador, Â. M. C. (2017). Chemical
characterization and biological
evaluation of Sambucus nigra L.
berries and flowers in view of their
valorization (Doctoral dissertation,
Universidade de Aveiro (Portugal)).
Salvador, Â. C., Rocha, S. M.,
& Silvestre, A. J. (2015).
Lipophilic phytochemicals
from elderberries (Sambucus
nigra L.): Influence of ripening,
cultivar and season. Industrial
Crops and Products, 71, 15-23.
Salvador, A. C., Rudnitskaya, A.,
Silvestre, A. J., & Rocha, S. M.
(2016). Metabolomic-based
strategy for fingerprinting of
Sambucus nigra L. berry volatile
terpenoids and norisoprenoids:
Influence of ripening and cultivar.
Journal of agricultural and food
chemistry, 64(26), 5428-5438.
Salvador, A. C., Charlebois, D.,
Silvestre, A. J. D., & Rocha, S.
M. (2013, June). Berry lipophilic
constituents from three important
Sambucus nigra cultivars grown
in Portugal-preliminary results.
In I International Symposium on
Elderberry 1061 (pp. 53-60).
Salvador, Â. C., Silvestre, A. J., &
Rocha, S. M. (2016). Sambucus
nigra L.: A potential source of
healthpromoting components.
Salvador, Â. C., Król, E., Lemos, V.
C., Santos, S. A., Bento, F. P.,
Costa, C. P., ... & Silvestre, A.
J. (2017). Effect of elderberry
(Sambucus nigra L.) extract
supplementation in STZ-induced
diabetic rats fed with a high-fat
diet. International journal of
molecular sciences, 18(1), 13.
Figura 4. Tendências de variação de diferentes parâmetros físico-químicos ao longo da
maturação da baga de sabugueiro.
9peouenosfrutos
produção
A importância do conhecimento
do estado de diferenciação
floral na cultura da framboesa
CÂNDIDA SOFIA TRINDADE, TERESA VALDIVIESSO, PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária,
Unidade de Estratégia de Investigação e Serviços de Sistemas Agrários, Florestais e Sanidade Vegetal (INIAV – UEIS – SAFSVegetal)
Será necessário a um produtor de framboesas ter conhecimento
detalhado dos processos de diferenciação floral? Neste artigo
vamos tentar demonstrar que sim. Comecemos pelas definições
básicas, botânica, hábitos de floração e formação do fruto.
A planta da framboesa pertence à família das Rosaceae e ao
género Rubus, que inclui plantas herbáceas, perenes e bienais.
As framboesas que florescem no Verão após um ano de cresci-
mento vegetativo e de passar por um período de dormência durante
o Inverno são designadas de não remontantes (floricane-fruiting).
No entanto, existe um grupo de plantas de framboesa designadas
de remontantes (primocane-fruiting) que, apesar de apresentarem
um ciclo bienal, têm a capacidade de poder florir nos lançamentos
do ano durante o fim do Verão, princípio do Outono (Carew et al.
2000; Heide and Sonsteby, 2011). A distinção dos dois grupos é
importante do ponto de vista agronómico, uma vez que os diferen-
tes tipos de plantas têm necessidades diferentes para que ocorra a
diferenciação floral e exigem técnicas culturais específicas.
A produção de fruto está sempre dependente da eficácia
do processo reprodutivo, ou seja, da diferenciação floral, da
floração e da fecundação. Sendo o fruto da framboesa de grande
valor comercial torna-se fundamental o conhecimento da
floração e diferenciação floral bem como a regulação fisiológica
deste processo (Neri et al., 2012).
O ciclo de crescimento das framboesas tem início no
desenvolvimento de um gomo radicular ou em gomos axilares dos
lançamentos na zona de substituição. Os gomos encerram em si
diferentes tipos de meristemas. O meristema é um tecido vegetal
composto por células indiferenciadas com grande capacidade
de multiplicação e especialização, sendo responsável pelo
crescimento da planta e pela formação de todos os tecidos/órgãos
vegetais (Figura 1). Existem dois tipos principais de meristemas,
os meristemas apicais e os meristemas laterais. Os meristemas
apicais são responsáveis fundamentalmente pelo crescimento
longitudinal das plantas e ocorrem nos ápices das raízes e do
caule. Os meristemas laterais são responsáveis pelo crescimento
da planta em espessura nas plantas lenhosas. No entanto, alguns
meristemas podem, sob condições climáticas indutivas, diferenciar
células especializadas, dando origem às peças florais e à floração.
A indução floral é um sistema complexo em que a atividade
de um meristema terminal vegetativo transita para reprodutivo.
Este é um processo que ocorre no interior do gomo não sendo
visível a olho nu, sendo necessário abrir o gomo, retirando as
brácteas protetoras do meristema, para que este seja exposto.
Assim, não é possível ao produtor saber exatamente o momento
em que as suas plantas transitam do estado vegetativo para
o floral. O processo da formação das flores baseia-se em três
fases distintas: indução floral, diferenciação floral e floração.
Este processo, regulado pelas características genéticas da
Figura 1. Gomo de framboesa; esquema de um meristema que se localiza dentro do
gomo (m – meristema; br – brácteas protetoras do meristema).
planta é no entanto muito
dependente de fatores
externos tais como, tempera-
tura, humidade, fotoperíodo ou
mesmo de técnicas culturais
(Williams 1959; Esteves et al.,
2011). Reunidos todos estes
fatores, intimamente ligado
a cada genótipo, iniciam-se
diferentes alterações
bioquímicas na planta que dão
origem à floração.
A fase em que se dá a
indução floral varia, como já se
afirmou, com a cultivar e ocorre
quando o gomo que encerra o
meristema se encontra com-
pletamente desenvolvido.
A altura exata é controlada
pelo comprimento do dia, bai-
xas temperaturas e cessação
do crescimento terminal e é
determinada geneticamente
(Oliveira et al., 2007).
A indução floral pode ser
reversível, mas o passo
seguinte a diferenciação floral,
é irreversível pois já ocorre-
ram alterações morfológicas
que impedem o retrocesso do
meristema. Estas alterações
morfológicas são sequen-
ciais e podem ser descritas
em cinco estádios (Figura 2):
estádio 0 – meristema vege-
tativo (Figura 2a); estádio 1
– indução floral, consiste no
alargamento e achatamento
do meristema (Figura 2b);
estádio 2 – pontos de cresci-
mento secundários (Figura
2c); estádio 3 – alongamento
dos pontos de crescimento e
estádio (Figura 2d) 4 – forma-
ção dos primórdios das peças
florais que posteriormente
culminarão na formação do
botão floral (Figura 2e,f).
peouenosfrutos10
produção
Figura 2. Cortes histológicos de gomos de framboesa: a – meris-
tema vegetativo; b, c – meristema diferenciado; d, e, f – formação
das peças florais; at – anteras; ov – óvulo; ova – ovários.
Figura 3. Flor da framboesa onde são visíveis as diferentes pe-
ças florais.
Figura 5. A framboesa é um fruto múltiplo de drupas.
Figura 4. Cortes histológicos de flores de framboesa: a – ovários
com óvulos em formação; b – óvulo na fase de fecundação; c – for-
mação das anteras (formação das células mães de grãos de pó-
len); d – formação de pólen nas anteras; ova – ovários; ov – óvulo;
at – anteras; gp – grãos de pólen.
Desde há muitos anos que no
INIAV, I.P. se têm realizado
estudos de diferenciação floral
em framboesa, tendo todos
estes estádios sido confirma-
dos através da observação de
cortes histológicos de gomos
de framboesa. O meristema
vegetativo apresenta uma
forma esférica (Figura 2a),
sendo o seu alargamento e
achatamento as alterações
iniciais da indução floral
(Figura 2b).
«As flores de framboesa
são hermafroditas,
possuem o órgão
reprodutor masculino
(androceu) e feminino
(gineceu)»
Como já foi referido todos
estes processos descritos
anteriormente ocorrem dentro
das brácteas dos gomos não
sendo visíveis a olho nu. Assim,
a determinação correta do
estado de diferenciação floral
é de extrema importância
quando se pretendem aplicar
manipulações do ciclo vegeta-
tivo e reprodutivo na cultura da
framboesa. Facto importante a
realçar neste momento é que
em Portugal nos habituámos
a trabalhar com framboesas
remontantes e todos estes
processos nos parecem
óbvios e intuitivos mas podem
conduzir a grandes erros.
Devemos distinguir bem as
diferenças entre framboesas
que frutificam no lançamento
do ano (remontantes) e as
que apenas frutificam no
lançamento de segundo
ano (não-remontantes). Nas
cultivares remontantes a dife-
renciação e o desenvolvimento
das inflorescências dá-se até
que os gomos axilares se
tornem dormentes.
No entanto, a indução floral
continua nos gomos situados
abaixo da última inflorescência
visível. Nas framboesas não
remontantes a indução ocorre
no Outono, podendo verificar-
-se ou não a diferenciação
floral consoante a cultivar
(Oliveira et al., 2007).
A floração é um processo
que decorre já no exterior dos
gomos axilares, passado um
período de dormência ou não,
e que o produtor já consegue
ver e identificar as diferentes
fases fenológicas que a planta
atravessa. A fenologia da
framboesa encontra-se bem
descrita (Edin et al., 1999) pelo
que nos vamos referir a pro-
cessos menos divulgados e que
são, também eles, de extrema
importância. Assim, a flora-
ção inicia-se na zona apical da
planta, seguida das outras inflo-
rescências/flores que aparecem
sucessivamente em direção à
base, em ráquis secundários. O número de flores por inflorescência
é muito variável.
As flores de framboesa (Figura 3) são hermafroditas,
possuem o órgão reprodutor masculino (androceu) e feminino
(gineceu). O gineceu é formado por 56 a 120 carpelos, que se
encontram sobre um recetáculo carnudo. Cada carpelo é cons-
tituído pelo estigma, estilete e o ovário, que encerra os óvulos. O
gineceu é envolvido pelo androceu que é formado pelos estames
(filete e a antera). Nas anteras jovens, são produzidas as células
mãe dos grãos de pólen (Figura 4). Durante a maturação da
antera, estas células dão origem aos grãos de pólen, essenciais
na fecundação. O estigma é responsável pela adesão dos grãos
de pólen que são conduzidos até ao ovário através dos tecidos
do estilete culminando na fecundação do óvulo. Assim, o calibre
do fruto depende do número de óvulos que são fecundados
e que evoluem para drupéolas completamente expandidas,
dependendo também da cultivar, da época do ano e do local de
produção (Funt & Hall, 2013).
Através de cortes histológicos é possível observar os
diferentes tecidos e células que compõem as peças florais e
estão na base da formação da semente e do fruto. Na base dos
produção
ovários encontram-se os
óvulos em formação (antes
da recetividade do estigma)
(Figura 4a), local onde irão
ser fecundados (Figura 4b),
enquanto nas anteras se
formam as células mãe do
grão de pólen (Figura 4c)
que dão origem aos grãos de
pólen (Figura 4d).
Durante todo o período de
floração, as flores segregam
grandes quantidades de
néctar, produzido pelas
nectáreas que se localizam
no recetáculo entre o anel de
estames e os ovários. Este
néctar rico e abundante em
açúcares, juntamente com o
pólen, é altamente atrativo
para os insetos polinizadores.
Apesar de várias espécies de
insetos visitarem as flores de
framboesa, a abelha doméstica
é considerada o principal e
o mais eficiente polinizador
(Oliveira et al., 2007). Brito, et
al. (2019) determinaram que
numa cultura de framboesa
em estufa no Algarve são
libertados em média, num
período de 42 dias, entre 350
e 560L de néctar por hectare.
Esta produção elevada de
néctar pode originar problemas
importantes de qualidade
do fruto quando se reúnem
condições de elevada humi-
dade e baixa transpiração das
plantas em cultura protegida.
Após a fecundação, o ovário
desenvolve-se formando uma
drupéola, ou seja uma mini
drupa que se desenvolve a
partir de um ovário. O ovário
desenvolve-se e transforma-
-se na parte carnuda do fruto,
enquanto o óvulo fecundado
origina a semente. O fruto é
um agregado de drupéolas
formado pela junção de um
grande número de ovários
todos da mesma flor e aderen-
tes a um recetáculo comum
(Oliveira et al., 2007). Como
cada drupéola é por si só um
fruto perfeito, a framboesa
forma um fruto múltiplo de
drupas (Figura 5). Estes são
os processos fisiológicos
da floração que ocorrem ao
longo do período produtivo,
sendo fácil compreender
que o sucesso comercial
da cultura está claramente
associado com a interação de
fatores que ocorrem durante
o ciclo biológico. Sobre elas
escreveremos mais tarde.
BIBLIOGRAFIA
Brito, T.A., Lhérété, J.P, Pereira, J.
& Duarte, A., (2019). A cultura
da framboesa. Presença
de nectar nas flores e sua
extração pelas abelhas. Voz do
Campo 222: III-IV.
Carew, J., Gillespie, T., White, J.,
Wainwright, H., Brennan, R.,
Battey, N., (2000). The controlo
f the anual growth cycle in
raspberry. J. Hortic. Sci. &
Biotechnol., 75: 495-503.
Edin, M., Gaillard, P. & Massardier, P.,
(1999). Le framboisier. Les stades
phénologiques du framboisier.
Edição CTIFL, 207p.
Esteves, A., Valdiviesso, T., & Oliveira, P.,
(2011). Estudo da diferenciação floral
em framboesa vermelha (Rubus
idaeusL.), Actas Portuguesas de
Horticultura 18, 320–324.
Funt, R. C., & Hall, H. K. (2013).
Raspberries. In Growth and
development (pp. 21–32). CABI.
Heide O.M., Sonsteby A., (2011).
Physiology of flowering and
dormancy regulation in annual-
and biennial-fruiting red raspberry
(Rubus idaeus L.) − a review. J.
Hortic. Sci. & Biotechnol., 86:
433-442.
Neri, d., Massetani, F., Zucchi, P.,
Giacomelli, M., & Savini, G. (2012).
Flower differentiation and plant
architecture of raspberry, blackberry
and white- and redcurrant. Acta
horticulturae, 926, 243–250.
Oliveira, PB, Valdiviesso, T., Esteves, A.,
Mota, M., & Fonseca, L. (2007). A
planta de framboesa Morfologia e
fisiologia. (Divulgação Agro 556,
Ed.) (1st ed.).
Williams, I.H., (1959). Effects of
environment on Rubus idaeus L. IV.
Flower initiation and development
of the inflorescence. Journal of
Horticultural Sciences, 34, 219-228.
12 peouenosfrutos
produção
Proposta de escala dos estados
fenológicos do medronheiro
ANA SOFIA NUNES, FÁBIO CASTRO, MAFALDA SIMÕES, FILOMENA GOMES, GORETI BOTELHO, JUSTINA FRANCO
Escola Superior Agrária de Coimbra, Instituto Politécnico de Coimbra, Centro de Estudos em Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade (ESAC/IPC/CERNAS)
RESUMO
Omedronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie que
pertence ao género Arbutus e à família das Ericaceae.
O presente trabalho foi realizado no banco clonal de medronheiro
instalado em 2015 na Escola Superior Agrária de Coimbra
(ESAC), em 4 blocos completos e casualizados, com 16 clones.
Procedeu-se à monitorização dos estados fenológicos desde
12 de setembro de 2018 até 10 de outubro de 2019. Foram
realizados registos fotográficos, recolhidos ao longo do tempo,
de acordo com a respetiva escala fenológica estabelecida. Tendo
por base as escalas dos estados fenológicos estabelecidos por
Fleckinger e Baggiolini para outras fruteiras, estabeleceu-se, pela
primeira vez, uma escala para o medronheiro (de A a L).
Palavras-chave: Arbutus unedo L.,
Banco clonal, Registos fotográficos.
ABSTRACT
The strawberry tree (Arbutus unedo L.) is a species that belongs
to the genus Arbutus and to the Ericaceae family. This study was
done in the clonal bank of Arbutus unedo L. that was installed
at Coimbra College of Agriculture (ESAC) in 2015, in 4 complete
and randomized blocks, with 16 clones. The monitorization of the
fenological states were conducted from September 12th
2018 until
October 10th
2019. Photographic records were taken, collected
over time, according to the respective established phenological
scale. Based on the scales of phenological states established
by Fleckinger and Baggiolini for other fruit trees, a scale was
established, for the first time, to strawberry tree (from A to L).
Keywords: Arbutus unedo L., Clonal bank, Photographic records.
INTRODUÇÃO
O medronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie autóctone
que cresce espontaneamente em diversas zonas do País. Ulti-
mamente tem despertado bastante interesse provavelmente
devido à sua versatilidade uma vez que pode ser encarada como
uma espécie florestal ou agrícola. Este interesse advém princi-
palmente da potencialidade económica da exploração do fruto,
quer pela sua transformação (aguardente, compota, snacks,
iogurtes) quer pelo seu consumo em fresco (Botelho e Galego,
2019; Gomes et al., 2018a,b). A instalação da cultura, como
árvore fruteira em pomares, conduziu à necessidade de melho-
ramento da espécie (Gomes et al., 2017; Passarinho et al., 2017).
Verifica-se no mercado um forte incremento na procura de
plantas melhoradas. Segundo Gomes et al. (2012) os proprietários
pretendem a valorização económica das explorações, recorrendo
a espécies como o medronheiro. Para além da utilização dos seus
frutos, o medronheiro também pode ser integrado numa estratégia
de prevenção aos incêndios, pela sua resiliência e rápida capaci-
dade de regeneração (Freire, 2017). De facto, este possui uma forte
resiliência ao fogo e uma rápida
capacidade de regeneração,
sendo que muitas vezes é o
primeiro a rebentar depois
de um incêndio. Todas estas
características fazem desta
planta uma grande aliada
na prevenção dos incêndios
florestais (Franco, 2013).
Outra utilização potencial
do medronheiro é a produção
de mel. Fortemente apreciado
nos países do Norte da Europa,
em Portugal, este mel, por não
ser apreciado devido às suas
características sensoriais,
escuro e amargo, não é
produzido em escala suficiente
para ser comercializado no
mercado interno, nem, para
ser exportado (Martins, 2017).
Contudo, existe uma tendência
e potencial para o crescimento
deste sector.
O medronheiro também
pode ser uma espécie
ornamental, uma vez que a
sua folhagem persistente e
brilhante, floração abundante,
a frutificação colorida e
comestível, assumem um
papel de destaque como
planta ornamental em espaços
verdes públicos e privados
(Costa, 2012). Adicionalmente,
também pode ser utilizada para
arranjos florais fúnebres. Outra
potencialidade que a espécie
apresenta, é o estabelecimento
de micorrizas, pois contribui
para o aumento da sobrevi-
vência e do crescimento, da
tolerância a condições de stress
(biótico e abiótico) e pode, ainda,
constituir outra fronte de rendi-
mento económico, a produção
de cogumelos comestíveis
(Gomes et al., 2012). De acordo
com Sulusoglu et al. (2011),
o medronheiro é uma espécie
diploide (2n=26), reproduz-se
sexuadamente por via seminal,
ou vegetativamente através de
rebentos de raiz. Esta espécie
apresenta ainda uma grande
importância ecológica, pois
evita a erosão dos solos e tem
a capacidade de se regenerar
rapidamente após incêndios
(Lopes et al., 2012).
Em relação à altura, o
medronheiro pode atingir
o porte arbustivo e o porte
arbóreo, mas a altura não
costuma exceder os 5 a 12
metros (Gomes et al., 2018b).
Sendo o medronheiro uma
árvore de produção de fruto o
seu crescimento é condicionado
por vários fatores (fatores
do meio ambiente e fatores
internos da planta). Dentro
Figura 1. Exemplo de marcação de um cacho.
peouenosfrutos 13
produção
dos fatores do meio ambiente,
existem por exemplo a luz, pois
a sua intensidade e duração
tem grande influência no
crescimento e forma da planta.
Assim, as condições de baixa
intensidade luminosa provocam
o alongamento dos entrenós,
ramos mais finos, folhas mais
estreitas e finas e também
um baixo desenvolvimento do
sistema radicular. A competiti-
vidade por este fator, também
vai definir a altura da planta
(Martínez, 1995). Ainda de
acordo com este autor, durante
as diferentes fases dos ciclos
vegetativos e reprodutivos
de uma árvore frutífera, os
elementos presentes na parte
aérea da árvore (gomos; flores
e frutos), determinam o aspeto
da planta. Esse aspeto é
designado de estado fenológico
e a sua sucessão no tempo
é chamada de fenologia.
A fenologia de uma espécie tem
uma grande importância prática
para a determinação das datas
de aplicação de produtos
fitossanitários, fertilizantes,
reguladores de crescimento
e rega. A fenologia de uma
espécie também fornece dados
sobre a influência de fatores
ambientais no desenvolvimento
da árvore e é muito útil
para a deteção precoce de
possíveis anomalias de caracter
fisiológico ou virótico.
De acordo com Santos
(2015), a fenologia também
pode ser entendida como a
ciência que estuda a atividade
sazonal recorrente das plantas
e relaciona-a com o meio envol-
vente, com os fatores bióticos
e abióticos, como por exemplo:
os microrganismos, o clima e
o pH do solo. Até ao momento,
não é do conhecimento dos
autores do presente trabalho,
que tenha sido realizado em
Portugal, um estudo centrado
nos estados fenológicos do
medronheiro. Por conseguinte,
este foi o objetivo do trabalho
que aqui se apresenta de forma
a contribuir para o aumento
do conhecimento sobre esta
espécie que tem vindo a
apresentar um relevo crescente
enquanto fruteira.
MATERIAL E MÉTODOS
O banco clonal da ESAC possui
indivíduos provenientes de
vários pontos do país que foram
plantados em Maio de 2015.
A disposição do banco clonal
é constituída por 4 blocos
completos e casualizados, para
assim os clones reproduzirem-
-se com os diferentes clones
existentes, sendo que a
polinização é livre e cruzada,
reduzindo assim o efeito do
meio ambiente nos indivíduos,
originando descendentes mais
resistentes a doenças e mais
resistentes às condições climá-
ticas. No total, encontram-se 6
linhas, onde estão distribuídos
os 16 clones existentes, tendo
inicialmente existido um total
69 plantas, mas devido a um
ciclone tropical, que ocorreu
em Outubro de 2018, algumas
plantas ficaram debilitadas e
outras morreram. Cada ramo
selecionado foi etiquetado
com a informação do ponto
cardeal para onde o ramo
estava orientado como se pode
verificar na Figura 1. Foram
efetuados registos fotográficos,
para assim se determinar o
estado fenológico de cada
planta e desenvolver uma
escala fenológica.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
De acordo com Martínez
(1995), para a determinação
do estado fenológico de uma
planta, é utilizada uma série
de figuras escolhidas, que
apresentam os diferentes
aspetos do gomo e dos órgãos
da floração. Após a seleção das
figuras escolhidas, é estipulada
uma escala que determina
os estados fenológicos das
plantas. Essa escala pode
ser baseada na escala BBCH,
que segundo Santos (2015) é
uma escala desenvolvida para
Tabela 1. Estados fenológicos principais (adaptado de Forestry, 2018).
Estados fenológicos principais
0 – Desenvolvimento do gomo 5 – Emergência de inflorescência
1 – Desenvolvimento foliar 6 – Floração
2 – Formação de rebentos laterais 7 – Desenvolvimento do fruto
3 – Desenvolvimento da parte aérea 8 – Maturação
4 – Desenvolvimento das partes vegetais 9 – Senescência
Tabela 2. Estados fenológicos para o medronheiro segundo Fleckinger (1945) e Bag-
giolini (1952) para outras fruteiras.
Estados fenológicos
A – Gomo misto visível G – 1º Fruto vingado
B – Cacho visível H – Todos os frutos vingados
C – 1ª Corola visível I – Frutos em crescimento
D – 50% das Corolas visíveis J – 1º Fruto em mudança de cor
E – 1ª Flor aberta K – Todos os frutos mudaram de cor
F – 50% das Flores abertas, em plena floração L – Maturação /colheita
codificar de forma numérica e
uniforme os estados feno-
lógicos das plantas mono e
dicotiledóneas. De acordo com
Forestry (2018) os estados
fenológicos principais são os
descritos na Tabela 1.
Segundo Martínez (1995),
a representação dos estados
fenológicos pode ser baseada
ainda numa outra escala que é
representada por letras maiús-
culas do alfabeto, que designam
cronologicamente os diferentes
estados fenológicos. Tendo por
base as escalas dos estados
fenológicos estabelecidos por
Fleckinger (1945) e Baggiolini
(1952) para outras fruteiras,
estabeleceu-se uma escala
para o medronheiro (Tabela 2).
Na Figura 2 encontram-se
os registos fotográficos
recolhidos ao longo do tempo,
com a respetiva escala
fenológica estabelecida.
CONCLUSÕES
Tendo por base as escalas dos
estados fenológicos estabele-
cidos por Fleckinger (1945) e
Baggiolini (1952) para outras
fruteiras estabeleceu-se uma
escala para o medronheiro (de
A a L). Foram realizados regis-
tos fotográficos, recolhidos ao
longo do tempo, de acordo com
a respetiva escala fenológica
estabelecida. Considera-se
que a escala de estados
fenológicos do medronheiro
será uma ferramenta útil para
os diferentes agentes envol-
vidos na fileira, com especial
interesse para os produtores.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi realizado no âmbito
do projeto “RG- PCMG - Conservação
e Melhoramento Genético Vegetal
para o medronheiro (Arbutus unedo
L.”, com o código de operação
PDR2020-784-042742 - RG-PCMG,
do Instituto Politécnico de Coimbra,
cofinanciado pelo FEADER – Fundo
Europeu Agrícola de Desenvolvimento
Rural, através do Acordo de Parceria
Portugal 2020, Programa PDR2020,
Operação 7.8.4 – Recursos Genéticos
- Conservação e melhoramento de
recursos genéticos vegetais.
BIBLIOGRAFIA
Baggiolini, M. Les stades repères dans
le développement annuel de la
vigne et leur utilisation pratique.
Rev. Rom. Agric. (1952) 8-10.
Botelho, G., Galego, L., 2019. Manual
de Boas Práticas de Fabrico de
Aguardente de Medronho. Edição:
3ª Ed. Porto: Quântica Editora –
Conteúdos Especializados, Lda. 94
p. ISBN: 978-989-8927-89-7.
Costa, M. 2012. A utilização do
Medronheiro como ornamental.
In: Jornadas do Medronho.
Programa e Resumos Jornadas
do Medronho, pp. 54-58. Escola
Superior Agrária de Coimbra, 72p.
ISBN: 978-972-8936-15-0.
Martins, A. 2017. Mel de medronheiro:
Contributo para o conhecimento
do mercado de produção e sua
valorização. Instituto Superior de
Agronomia. Universidade de Lisboa.,
52 p. Dissertação de Mestrado em
Engenharia do Ambiente.
Fleckinger, J. 1945. Notations
phénologiques et représentations
graphiques du développement
des bourgeons de poiriers. C.R.
Congrés de Paris de I’Association
fraçaise pour l’avancement des
Sciences. Paris.
Forestry, F. B., 2018. Growth stages
of mono- and dicotyledonous
plants: BBCH-Monograph. Julius
Kühn-Institut (JKI). Quedlinburg:
Ed. Uwe Meier. 204 p. ISBN: 978-
3-95547-071-5.
Franco, J. (2013). O medronheiro -
da planta ao fruto, as práticas
culturais. In: Actas Portuguesas
de Horticultura - Jornadas do
Medronho, 22, 66-71. Coimbra.
ISBN: 978-972-8936-15-0.
peouenosfrutos14
produção
Figura 2. Proposta de escala de estados fenológicos do medronheiro.
A Gomo misto visível A Gomo misto visível A Gomo misto visível B Cacho visível
B Cacho visível B Cacho visível
B Cacho visível
E 1ª Flor aberta
G 1º Fruto vingado
I Frutos em crescimento
J 1º Fruto em mudança de cor
E 1ª Flor aberta
G 1º Fruto vingado
I Frutos em crescimento
J 1º Fruto em mudança de cor
C 1ª Corola visível C 1ª Corola visível D 50% das Corolas visíveis
D 50% das Corolas visíveis
E 1ª Flor aberta
G 1º Fruto vingado
I Frutos em crescimento
K Todos os frutos
mudaram de cor
K Todos os frutos
mudaram de cor
L Maturação/colheita L Maturação/colheita L Maturação/colheita
K Todos os frutos
mudaram de cor
K Todos os frutos
mudaram de cor
K Todos os frutos
mudaram de cor
K Todos os frutos
mudaram de cor
K Todos os frutos
mudaram de cor
D 50% das Corolas visíveis
F 50% das Flores abertas
H Todos os frutos vingados
I Frutos em crescimento
D 50% das Corolas visíveis
F 50% das Flores abertas
H Todos os frutos vingados
I Frutos em crescimento
Freire, E. (2017). Medronho: uma cultura
com grande potencial. Vida Rural.
Gomes, F.; Figueiredo, P.; Santos, A. R.;
Canhoto, J., 2012. Propagação
de plantas selecionadas de
medronheiro. Jornadas do
Medronho. Coimbra.
Gomes, F; Botelho, G.; Franco, J.;
Rodrigues, I.; Henriques, M.;
Pato, R.l.; Santos, S.; Plácito, F.;
Clemente, M.; Melo, F.; Figueiredo,
P.; Gama, J.; Machado, H.; Santos,
C.; Caldeira, I.; Guerreiro, A.;
Antunes, D.; Galego, L.; Costa,
R. 2018a. Valorização dos
recursos endógenos da floresta:
O medronheiro e o castanheiro.
In: Biorregiões, Valorização
Agroindustrial e Produção Animal.
Fórum Politécnico #1. Pereira, M.
M. (ed.) promovido pelo Conselho
Coordenador dos Institutos
Superiores Politécnicos (CCISP),
Instituto Politécnico de Beja. pp.
61-89. ISBN: 198-605-537-X.
Gomes, F.; Guilherme, R.; Pato, R.l.;
Botelho, G.; Franco, J.; Casau, F.;
Melo, F.; Rodrigues, I.; Henriques,
M.; Bingre, P.; Gama, J.; Machado,
H.; Capelo, J.; Barrento, M.J;
sousa, R., 2018b. Medronheiro-
Manual de boas práticas para a
cultura. 2ª Edição. REN – Redes
Energéticas Nacionais. IPC -
Instituto Politécnico de Coimbra,
ESAC - Escola Superior Agrária
de Coimbra, CERNAS - Centro
de Estudos e Recursos Naturais
Ambiente e Sociedade. CPM
– Cooperativa Portuguesa de
Medronho crl. Coimbra, 110 p.
ISBN 978-972-99205-9-2.
Gomes F., Franco J., Pato R., Botelho G.,
Rodrigues I., Figueiredo P., Casau,
F., 2017. Produção de Medronho
para Destilar. In: Medronheiro.
Caderno Técnico 2. Silva Lusitana.
pp. 5-33. Oeiras: Instituto
Nacional de Investigação Agrária
e Veterinária (INIAV). 76 p. ISBN:
978-972-579-045-8
Lopes, L., Sá, O., Pereira, J. A., &
Baptista, P. Genetic diversity of
Portuguese Arbutus unedo L.
populations using leaf traits and
molecular markers: an approach
for conservation purposes.
Scientia Horticulturae. ISSN:
0304-4238. 142 (2012) pp. 57-67.
Martínez, J. M., 1995. Crescimiento y
desarrollo de las especies frutales.
Espanha: Ediciones Mundi-Prensa.
Passarinho, J.A.; Sousa, R.M.;
Coelho, I.S., 2017. A produção
de medronho para fruto não
destilado. In: Medronheiro.
Caderno Técnico 2. Silva Lusitana.
pp. 37-64. Oeiras: Instituto
Nacional de Investigação Agrária
e Veterinária (INIAV). 76 p. ISBN:
978-972-579-045-8.
Santos, L. F., 2015. Fenologia do
Vaccinum corymbosum cv Duke
em várias regiões de Portugal
Continental. Porto: Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto.
77 p. Dissertação de Mestrado em
Engenharia Agronómica.
Sulusoglu, M.; Cavusoglu, A.; Erkal, S.
Arbustus unedo L. (Strawberry
tree) selection in Turkey Samanli
moutain locations. Journal of
Medicinal Plants Research. ISSN:
1996-0875. 5:15 (2011), pp.
3545-3551.
15peouenosfrutos
teses
Avaliação do
potencial de plantas
’tray’ de morangueiro.
Arquitetura floral e
produtividade
Morphological
and genetic
characterization of
four populations of
Corema album (L.) D. Don
RESUMO
Nos últimos anos a produção de morango tem diminuído
em Portugal devido à desatualização do setor. Face aos
atuais problemas, há uma grande necessidade de inovar,
recorrendo a tecnologias de produção como as plantas ‘tray’.
O ensaio teve como objetivo avaliar a dinâmica da floração
destas plantas nas cultivares ‘Darselect’, ‘Deluxe’, ‘Donna’ e
‘Dream’ no primeiro ciclo de produção (outono-inverno) e a
viabilidade de se obter uma segunda produção na primavera
com recurso à tecnologia de luz LED.
De setembro a outubro deu-se a evolução dos primórdios
florais diferenciados no viveiro, não se verificando diferenciação
floral e encontrando-se os meristemas em estado vegetativo.
A ‘Donna’ apresentou maior número de meristemas reprodutivos
diferenciados no viveiro, com mais 8 meristemas.planta-1
que as
outras cultivares. Contudo, estes meristemas não se traduziram
num maior potencial produtivo. Na se­gunda metade do ciclo
verificou-se a diferenciação floral de novos gomos, com um
RESUMO
Corema album (L.) D. Don 1830, é um arbusto dióico da famí-
lia Ericaceae, que se desenvolve costa Atlântica de Portugal e
Espanha, em ecossistemas dunares e de cobertos costeiros de
pinheiro. Existe um potencial por parte desta espécie para
integrar o mercado dos pequenos frutos.
Na primeira parte deste trabalho, oitenta plantas provenientes
de Monte Clérigo, Comporta, Aldeia do Meco e Dunas de Quiaios
foram amostradas. A fenologia reprodutiva de seis plantas da
Aldeia do Meco foi seguida desde do mês de Março até Agosto.
Finalmente, vinte e nove características morfológicas foram
avaliadas, entre as quatro populações.
Na segunda parte do trabalho, seis ISSR foram utilizados
para caracterizar a diversidade genética entre populações.
Quinze caracteres morfológicos foram escolhidos e a sua diver-
sidade foi avaliada, através de análises aglomerativas. Cinco
variáveis bioclimáticas foram utilizadas para procurar cor-
relações com os dados morfológicos e moleculares.
Título da tese Avaliação do potencial de plantas
’tray’ de morangueiro. Arquitetura floral e produtividade;
Ano 2019;
Grau Mestre em Engenharia Agronómica;
Instituição Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa;
Locais de execução Oeiras (Instituto Nacional de Investigação Agrária de
Veterinária, I.P.) e Moncarapacho (Quinta da Moita Redonda, Hubel Agrícola)
Aluna Sofia Canteiro Patrício;
Orientadores Doutora Maria da Graça Sequeira Palha Mendonça
e Doutora Cristina Maria Moniz Simões de Oliveira;
Título da tese Morphological and genetic characterization
of four populations of Corema album (L.) D. Don;
Ano 2019;
Grau Mestre em Engenharia Agronómica;
Instituição Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa;
Local de execução Instituto Nacional de
Investigação Agrária e Veterinária, I.P., Oeiras;
Aluna João Miguel Antunes Jacinto;
Orientadores Doutor Jorge Henrique Capelo Gonçalves
e Professor Doutor Pedro Miguel Ramos Arsénio;
incremento acentuado no número de meristemas florais e com a
‘Darselect’ a apresentar maior número de estruturas reproduti-
vas, traduzindo-se numa maior produtividade (2,54 kg/m2
).
As restantes cultivares apresentaram uma produtividade
semelhante (valor médio 1,47 kg/m2
). A dinâmica da floração
foi semelhante entre as cultivares.
No segundo ciclo, as luzes LED tiveram influência princi­
palmente no comprimento médio do pecíolo e do pedúnculo.
A Deluxe apresentou maior vigor vegetativo, sendo na maioria
das datas de amostragem diferente das outras cultivares
(P < 0,001). A luz LED influenciou a produção precoce das culti-
vares Donna, Dream e Darselect, não tendo efeito na produção
total das cultivares (6,0 kg/m2
LED vs 5,9 kg/m2
controlo).
No entanto, melhorou a qualidade comercial da produção e a
qualidade dos frutos que apresentaram valores de TSS > 9 °Brix.
Ao nível das cultivares, a Donna foi das mais produtivas com uma
média de 8,8 kg/m2
mas com frutos com menor TSS (< 8 °Brix).
No primeiro trabalho foram encontradas diferenças a nível da
fenologia das plantas estudadas na Aldeia do Meco. Foi também
encontrada diversidade morfológica dentro e entre populações.
O segundo trabalho demostrou uma falta de agregação
populacional, por parte das características morfológicas, mas o
mesmo não ocorreu com os dados moleculares. No entanto,
uma baixa correlação foi encontrada entre eles.
A ACC realizada entre dados morfológicos e bioclimáticos
demostrou que aproximadamente 50% da variação mor-
fológica é explicada pelas variáveis bioclimáticas, no entanto
a sua correlação não foi significativa. A mesma análise entre
dados moleculares e bioclimáticos, obteve uma correlação
positiva, de baixo valor, revelando que o ambiente também tem
influência na genética das espécies.
Ambos os trabalhos foram importantes para aumentar o con-
hecimento sobre C. album, tendo em vista o possível programa
de pré-melhoramento.
16 peouenosfrutos
entrevista
«Em Portugal existem
muitos produtores dedicados»
Rebecca Darnell, investigadora e docente da Universidade da Flórida, é uma das cientistas que melhor conhece a planta
do mirtilo a nível mundial. Presente no último Encontro Nacional de Produtores de Mirtilo enquanto oradora, esta realizou
uma apresentação com o objetivo de ajudar os produtores a compreender o processo de fotossíntese da planta do mirtilo
e assim optar pelos processos mais adequados. A norte-americana demonstrou-se interessada pelas plantações portu-
guesas, afirmando que «em Portugal existem muitos produtores dedicados».
ENTREVISTA E FOTOS SOFIA CARDOSO
Pequenos Frutos (PF): O que nos pode contar sobre
a diversidade do seu percurso académico e profissional?
Rebecca Darnell (RD): Eu fiz a minha licenciatura em Sociologia na Universidade de
Marilyn, mas durante o curso, escolhi uma cadeira sobre ciência das plantas cujo profes-
sor era soberbo. Na altura pensei: isto é o que eu quero fazer. Em consequência eu troquei
de licenciatura, para o curso de horticultura, e licenciei-me pela Universidade de Marilyn e
adorei. Trabalhei depois a tempo inteiro em investigação sobre a instalação e produção de
pomares de pêssego. Durante esse período, o meu professor encorajou-me a seguir com
mestrado e acabei por o fazer na Universidade Estadual do Ohio. Em seguida, fiz o meu
doutoramento na Universidade de Califórnia, em Davis, na área da fisiologia das plantas.
Quando cheguei à Califórnia, acabei por me interessar mais sobre fisiologia das plantas,
em compreender como as mesmas funcionavam, do que nos outros aspetos. Eu estava
mais interessada na Biologia e na Bioquímica. E foi nisso que trabalhei durante o meu
doutoramento e foi uma experiência muito positiva. Após terminar o meu doutoramento,
consegui o meu posto na Universidade da Florida e fui contratada como professora e
investigadora, em que dividi o meu tempo. O meu percurso profissional começou nos anos
80 e, resumidamente, eu trabalhei no mesmo local desde então. Adoro a Universidade
da Florida, adoro o meu trabalho. Em julho de 2019 reformei-me, mas ainda tenho o meu
escritório e ainda estou a orientar dois alunos e a realizar algum trabalho de investigação.
PF: E quais são os passos para o futuro agora que a vida académica abrandou?
RD: Ultimamente tenho feito consultoria para algumas empresas. Além disso, tenho
realizado alguns workshops de alguns dias, workshops de ensino sobre fisiologia
das plantas. Eu ensino informação básica e de partida para os potenciais produtores.
Tenho um workshop sobre princípios fisiológicos básicos das plantas, onde abordamos
desde a fotossíntese à respiração. Depois ensino outro workshop onde abordo a
nutrição das plantas. Neste segundo,
foco-me muito no que está a acontecer
no interior da planta. Não falo sobre
fertilização, não é bem a minha área.
PF: O que nos pode contar sobre a
sua pesquisa da fisiologia da planta
do mirtilo?
RD: Eu acredito que é importante ter em
mente que o rendimento da planta do
mirtilo parece ser limitado em termos
de “sources” e há muitos trabalhos,
não só o meu, que comprovam a ideia.
Qualquer coisa que se possa fazer para
aumentar a fotossíntese, será boa para a
planta, uma vez que a saturação ocorre
a densidades de fluxo relativamente
baixas e um excesso de luz pode dani-
ficar o aparelho fotossintético. O ponto
é, quanta mais luz a planta conseguir
absorver no interior do copado, maior
da fotossíntese global. Aumentar a sua
capacidade de fotossíntese aparece
como algo crucial para a planta.
Quando falamos de relações entre
“sources” e “sinks” estamos a falar sobre
a produção ou armazenamento/consumo
de hidratos de carbono. Os hidratos de
carbono são produzidos na “source”, sendo
depois transportados para os “sinks”. As
“sinks” são flores, frutos, e tudo aquilo
que não produz hidratos de carbono
suficientes para se sustentar, tendo que os
importar e procurando apoio nas “sources”.
Quando pensamos na fonte primária,
pensamos nas folhas, porque é aí que se
dá a fotossíntese. Contudo, as folhas são a
fonte primária em determinadas épocas do
ano. Noutras alturas, diferentes partes das
plantas, como as raízes, também podem
agir como “sources” porque, antes daquele
período ocorrer, estas acumularam hidra-
tos de carbono e armazenaram-nos, não o
estando a utilizar para crescer. Portanto,
quando falamos do transporte de hidratos
de carbono na planta estamos a falar de
peouenosfrutos 17
entrevista
“source” para “sink”, não existindo outro
percurso. Relativamente às “sinks”, estas
encontram-se sempre em competição
umas com os outras. Como consequência,
a “sink” mais forte recebe mais hidratos de
carbono. O número de “sinks” é importante
e o quão ativos estes são. Flores em botão
e frutos em crescimento são exemplos
de “sinks” que são mais fortes. No caso
de termos uma quantidade limitada de
“sources”, o que acontece tipicamente
é que as flores e os frutos recebem os
hidratos de carbono primeiro, depois o
crescimento vegetativo e, por último, o
armazenamento. Infelizmente, isso é o
que acontece se a produção de hidratos de
carbono for insuficiente, fazendo com que
as reservas não tenham energia suficiente
para os crescimentos de primavera. Esta
é tipicamente a situação de competição
entre as “sources” e as “sinks”.
«Eu acredito que é importante
ter em mente que o rendimento
da planta do mirtilo parece ser
limitado em termos de “sources”
e há muitos trabalhos, não só o
meu, que comprovam a ideia»
Regressando à questão da fotossíntese,
normalmente observávamos aquilo a
que chamamos de curva de resposta
à luz fotossintética. Geralmente, o que
vemos para as principais plantas é que,
se aumentarmos a intensidade da luz,
aumentamos a taxa de fotossíntese.
Normalmente, para aumentar a taxa
fotossintética das framboesas e moran-
gos, o ponto de saturação é geralmente
de 55% a 60%. Nos mirtilos, o ponto de
saturação é 25%. A planta do mirtilo
satura a nível muito baixo de intensidade
de luz. O segundo problema com os
mirtilos é que a sua taxa fotossintética,
mesmo no seu melhor, é baixa. Isso é
um problema que nos leva a acreditar
que as “sources” são limitadas no mirtilo,
tal como referido anteriormente. Como
isso acontece, as reservas ficam sempre
condicionadas na primavera e não existem
as suficientes para suportar o abrolha-
mento e isso torna-se um ciclo vicioso.
A planta está a sofrer e a produzir cada
vez menos. Há algumas atitudes a tomar
para diminuir este efeito tal, como manter
a plantação num local o mais aberto e
receptor de luz possível; não deixar as
plantas dar fruto no primeiro/segundo ano
para fortalecer a planta; e manter folhas
saudáveis, o que é muito difícil para os produtores devido às doenças, o que faz com que
os mesmos procedam à utilização mais elevada de fungicidas. Ambientalmente, isto não
é sustentável e temos que encontrar soluções. Neste momento, penso que estamos a
encontrar o caminho certo.
É importante realçar que este é um trabalho que estou a realizar há 33 anos.
Também trabalhei com o azoto e o ferro, mas não tive a oportunidade apresentar os
meus trabalhos nesse âmbito. Temos analisado muitos Vaccinium L. (género botânico
pertencente à família Ericaceae), que são adaptáveis a solos com pH relativamente
alto, que contêm nitrogénio na forma de nitrato, e funciona bem sem alterações do
solo, sendo completamente diferentes dos híbridos do sul que crescem na Flórida e
que exigem correções de solo e a utilização de azoto sob a forma de amónio. São muito
diferentes e, por isso, estudamos espécies silvestres para tentar descobrir quais as
diferenças. O que descobrimos é que essas espécies têm uma atividade muito alta da
enzima responsável pela assimilação do nitrato e as espécies cultivadas de mirtilo não.
Esta é uma diferença relevante, então acreditamos que é por isso que estas espécies
selvagens se adaptam tão bem a solos com o pH elevado, porque o nitrato é predomi-
nante nestes solos. Atualmente temos testado essa espécie selvagem e utilizando-a
como porta-enxerto. Ela é enxertada com arbustos de mirtilos do sul e temos tentado
que as plantas cresçam nesses solos, para percebermos como é que se desenvolvem,
sendo os resultados de crescimento bem positivos. Neste momento estamos a tentar
expandir a vida útil da planta, utilizando os porta-enxertos, que são também mais
tolerante à seca e de gestão menos complicada. Estamos muito animados com a ideia.
Todas as árvores frutíferas são enxertadas porque não as dos mirtilos?
PF: A produção mundial de mirtilos aumentou nos anos mais recentes, muita con-
sequência do consumo crescente. O que pensa sobre a alteração do paradigma?
RD: Eu sou completamente a favor. Eu penso que, quanto mais conseguirmos fazer
com que as pessoas consumam frutas e vegetais, melhor. Estes são extremamente
superiores às outras alternativas, como a carne e o açúcar. Se o consumidor conseguir
recorrer a produtos frescos, sem ingredientes artificiais, isso é muito mais saudável.
PF: Atualmente os pequenos frutos, como o mirtilo, são muito apreciados
pelo público em geral, principalmente devido aos benefícios para a saúde.
O que pensa desta associação?
RD: Eu acho que, para ter os benefícios de saúde que são muito difundidos, a pessoa
tem que consumir uma grande quantidade de mirtilos. Os mirtilos são bons para
a saúde? Sim, se a pessoa vai comer algo doce, é uma opção muito melhor que o
chocolate. Também providenciam antioxidantes e outros químicos que promovem
uma saúde melhor? Sim, providenciam, mas teríamos que os consumir em
quantidades extraordinários para retirar os benefícios em larga escala. Acredito
que, atualmente, muitos usam esse benefício como uma ferramenta de marketing.
E realmente as pessoas que o defendem não estão erradas, eles trazem benefícios.
Agora, a questão relaciona-se com a quantidade que teriam de consumir para retirar
esses benefícios. Temos de estar cientes dos dois lados da equação. Por fim, diria que
uma alimentação recheada de frutas e vegetais frescos é, de certeza, saudável.
«A planta do mirtilo satura a nível muito baixo
de intensidade de luz. O segundo problema
com os mirtilos é que a sua taxa fotossintética,
mesmo no seu melhor, é baixa»
PF: Quais considera ser as variedades de mirtilo com maior potencial?
RD: Para mim, as melhores variedades dos EUA são as variedades crocantes e
com textura, como a ‘Blue crisp’ e a ‘Sweet crisp’. Esta última já não está a ser
comercializada ao mesmo ritmo porque a planta não cresce adequadamente. O nosso
melhoramento é muito voltado para este tipo de mirtilos, que rebentam na boca e
sabem bem. Concluindo, as variedades crocantes são as que eu prefiro e acredito
que o consumidor também as prefere, porque os produtores têm vindo a requisitar
variedades que possuam esse fator para responder à procura do mercado.
peouenosfrutos18
entrevista
PF: Nos Estados Unidos, o uso de dormex é muito comum.
Já na União Europeia, o seu uso é proibido. Considera esta uma
boa opção tendo em conta toda a conjetura de fatores?
RD: Nos Estados Unidos, as empresas não usam o dormex na maioria das plantações de
mirtilos porque beneficiam de vários períodos de frio durante o ano. Já na Florida, nós
não beneficiamos do mesmo clima frio durante o mesmo período do ano. Como tal, nós
necessitamos do dormex devido à falta de uniformidade de abrolhamento. Aplicamos
o dormex quando a planta está dormente, não há resíduos na fruta e eu acredito que
é uma boa ferramenta que os produtores podem utilizar e não tem qualquer tipo de
impacto negativo na qualidade ou benefícios de saúde da fruta.
«Eu acho que, para ter os benefícios de saúde
que são muito difundidos, a pessoa tem que
consumir uma grande quantidade de mirtilos»
PF: Foi uma das oradoras convidadas para o Encontro Nacional de
Produtores de Mirtilo. Qual a sua opinião sobre o evento e a sua importância?
RD: Eu acredito que é uma experiência excelente o ato de reunir todos estes
produtores portugueses de mirtilo. Estão presentes fruticultores de todo o país e isso
é de muito interesse. O convite partiu do Professor Pedro Brás de Oliveira e recebi-o
enquanto estava de férias. O convite foi direcionado para uma apresentação sobre
a fisiologia da planta do mirtilo e pautou-se como algo diferenciador e interessante.
Eu não costumo realizar apresentações porque não é a minha área de atuação.
Contudo, fiquei entusiasmada quando recebi o convite, muito porque adoro abordar
a temática através de apresentações. Também considero interessante fazer passar
esta mensagem que, por vezes, não é tão difundida. Eu passei muitos anos a ensinar
estudantes e sempre me pareceu algo benéfico o ato de discutir certas temáticas
com pessoas distintas e aprender o que ainda não tive conhecimento. Durante toda
a minha vida profissional, eu nunca tinha tido a oportunidade de tirar tempo para
conhecer o país onde ia realizar as apresentações. Esta foi a primeira vez num longo
espaço de tempo em que eu tive a oportunidade de conhecer as plantações de um
país e as suas características e foi uma experiência extremamente positiva.
PF: Na sua estadia em Portugal, visitou algumas plantações de mirtilo.
Gostaria de saber com qual opinião ficou da produção nacional.
RD: Fiquei extremamente impressionada com tudo o que vi. A indústria portuguesa
é nova, acredito que a plantação mais velha que vimos tinha à volta de seis anos,
mas também visitamos algumas plantações com apenas dois anos. Na grande maio-
ria dos casos, as plantas parecem muito bem. Também os produtores que conheci
eram impressionantes, pois estavam interessados e faziam questões de elevada
pertinência sobre as suas plantações, o que demonstra que estão genuinamente
empenhados no trabalho que estão
a realizar e não agarraram a cultura
do mirtilo por ser a “próxima grande
aposta”, como se costuma dizer, ou
para ganharem avultadas quantias
monetárias. Em Portugal, existem
muitos produtores dedicados.
PF: Quais são as maiores diferenças
entre as plantações da Califórnia,
as plantações da Florida e as
plantações portuguesas?
RD: Na Califórnia as plantações são
enormes e não existem muitos produ-
tores pequenos. A Florida tem muitos
pequenos produtores, é mais parecida,
mas eu acredito que a maior diferença
não está no produtor, porque ambos são
muito inteligentes e inovadores, mas
sim no clima. O clima na Flórida é muito
quente, é muito húmido e enfrentamos
muitas doenças na região. Os nossos
produtores passam a vida a lutar com
essas dificuldades porque há sempre
novos insectos a surgir, que trazem
novas doenças com eles e destroem as
plantações. É muito difícil manter uma
planta saudável por um longo período
de tempo. As plantas portuguesas
parecem muito mais saudáveis.
PF: Que conselho dá aos
produtores que estão agora a
iniciar-se na cultura?
RD: Comecem com plantações pequenas.
Comecem pequeno e apreendam o
máximo de informação que conseguirem,
procurem o máximo de conhecimento que
puderem. Convidem pessoas que saibam
sobre a matéria a visitar a plantação e
a dar a opinião sobre as plantas e sobre
formas de as manter no seu potencial
máximo. Além destes pequenos conse-
lhos de continuidade, o mais importante
é começar em ponto pequeno. Não
comecem com 100 hectares.
«(...) os produtores que conheci
eram impressionantes, pois
estavam interessados e faziam
questões de elevada pertinência
sobre as suas plantações,
o que demonstra que estão
genuinamente empenhados no
trabalho que estão a realizar
e não agarraram a cultura
do mirtilo por ser a “próxima
grande aposta”, como se
costuma dizer (...)»
20 peouenosfrutos
mercados
Aumentar, ou não, a produção de mirtilo
TEXTO BERNARDO MADEIRA
Aestagnação provocada
pela diferente forma
de gerir o desenvolvimento
agrário português levou a
uma estagnação evidente do
aumento das áreas plantas
de mirtilo. Os novos projetos
são grandes, mas são raros
e, sobretudo, são tímidos os
novos empreendimentos.
A questão é: Portugal (e a
Europa) estão neste momento
com áreas plantadas suficien-
tes para o aprovisionamento
do mercado? Pensamos que o
equilíbrio está estabelecido, e
estabelecido porque prevalece
o embargo russo às hortícolas
europeias. Senão, outras
necessidades se levantariam.
Ninguém se lembra desta
situação, mas a verdade é
que a “nova cortina de ferro”,
que se traduz no embargo,
mantém-se e é, claramente,
o maior obstáculo à expansão
da cultura na Europa. Tal
como a guerra de Troia, um
dia haverá embargo russo e já
ninguém se lembrará qual a
motivação desta atitude, que
tanto tem prejudicado quer o
povo russo quer os produtores
europeus. Porém, até lá, novos
produtores terão tido opor-
tunidade ideal para surgirem
como players de referência.
«A questão é: Portugal
(e a Europa) estão neste
momento com áreas
plantadas suficientes
para o aprovisionamento
do mercado?»
Assim tem acontecido com
o mirtilo na Geórgia. A sua
expansão está a tornar-se uma
oportunidade estratégica para
o governo do país, que até ao
final de 2020 terá ampliado
em mais 1 000 hectares a área
plantada. Esta oportunidade
foi percecionada pelos grandes
viveiros que atuavam na
Europa, e que se viraram para
a antiga república soviética,
onde abriram sucursais.
Este reposicionamento, a
leste, das áreas de produção,
mais tarde ou mais cedo irá
ter repercussões no mercado
europeu, uma vez que a Geórgia
dispõe de mão-de-obra muito
mais barata. Ademais, quando
caírem as barreiras aduaneiras,
provavelmente a Rússia já
não será mais um mercado
interessante para os produtores
de mirtilo, quanto muito em
janelas de produção muito
específicas, visto ter a satisfa-
ção feita “quase em casa”.
Assim, num momento em
que no sul de Espanha tam-
bém já se equaciona a não
plantação de mais mirtilo, ou
até a retração de áreas, para
ajustamento de mercado,
parece-nos que, para que
não haja aviltamento do
produto, uma vez que já
existe a opção de mirtilo
sub-categorizado apto para
o mercado nacional a bom
preço, haverá já um equilíbrio
entre as áreas plantadas e
a procura de mercado. Isto
para se manter o mercado
com preços muito atrativos.
«(...) a “nova cortina de
ferro”, que se traduz no
embargo, mantém-se e
é, claramente, o maior
obstáculo à expansão da
cultura na Europa»
Porém, perguntam-nos
quase sempre. O que plantar
agora? O que é agora bom
investimento? Na verdade
poucas culturas nos ocorrem…
que não seja o mirtilo.
VI Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos
VI Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Agropensa Embrapa - Como ter Bons Alimentos, Produção de Alimentos e Seguranç...
Agropensa Embrapa - Como ter Bons Alimentos, Produção de Alimentos e Seguranç...Agropensa Embrapa - Como ter Bons Alimentos, Produção de Alimentos e Seguranç...
Agropensa Embrapa - Como ter Bons Alimentos, Produção de Alimentos e Seguranç...Edgardo Aquiles Prado Perez
 
Comprovante matricula 2013
Comprovante matricula 2013Comprovante matricula 2013
Comprovante matricula 2013gepaunipampa
 
Jornal o momento.(10 ago2013).n01 (2)
Jornal o momento.(10 ago2013).n01 (2)Jornal o momento.(10 ago2013).n01 (2)
Jornal o momento.(10 ago2013).n01 (2)gepaunipampa
 
Desafios Tecno-Científicos da Agricultura Brasileira
Desafios Tecno-Científicos da Agricultura BrasileiraDesafios Tecno-Científicos da Agricultura Brasileira
Desafios Tecno-Científicos da Agricultura BrasileiraAgriculturaSustentavel
 
Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no planalto do Rio Grande ...
Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no planalto do Rio Grande ...Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no planalto do Rio Grande ...
Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no planalto do Rio Grande ...iicabrasil
 
Gestão do agronegócio - a hora e a vez dos administradores
Gestão do agronegócio - a hora e a vez dos administradoresGestão do agronegócio - a hora e a vez dos administradores
Gestão do agronegócio - a hora e a vez dos administradoresÉrlei José de Araújo
 
CANA-DE-AÇÚCAR-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA, AGROPECUÁRIA E S...
CANA-DE-AÇÚCAR-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA, AGROPECUÁRIA E S...CANA-DE-AÇÚCAR-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA, AGROPECUÁRIA E S...
CANA-DE-AÇÚCAR-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA, AGROPECUÁRIA E S...Antonio Inácio Ferraz
 

Was ist angesagt? (12)

Administração rural
Administração ruralAdministração rural
Administração rural
 
Mandiocultura dados 2013 14
Mandiocultura  dados 2013 14Mandiocultura  dados 2013 14
Mandiocultura dados 2013 14
 
Agricultura
AgriculturaAgricultura
Agricultura
 
Agropensa Embrapa - Como ter Bons Alimentos, Produção de Alimentos e Seguranç...
Agropensa Embrapa - Como ter Bons Alimentos, Produção de Alimentos e Seguranç...Agropensa Embrapa - Como ter Bons Alimentos, Produção de Alimentos e Seguranç...
Agropensa Embrapa - Como ter Bons Alimentos, Produção de Alimentos e Seguranç...
 
Comprovante matricula 2013
Comprovante matricula 2013Comprovante matricula 2013
Comprovante matricula 2013
 
Jornal o momento.(10 ago2013).n01 (2)
Jornal o momento.(10 ago2013).n01 (2)Jornal o momento.(10 ago2013).n01 (2)
Jornal o momento.(10 ago2013).n01 (2)
 
Desafios Tecno-Científicos da Agricultura Brasileira
Desafios Tecno-Científicos da Agricultura BrasileiraDesafios Tecno-Científicos da Agricultura Brasileira
Desafios Tecno-Científicos da Agricultura Brasileira
 
histórico do agronegócio
histórico do agronegóciohistórico do agronegócio
histórico do agronegócio
 
Agronegocio no mercosul
Agronegocio no mercosulAgronegocio no mercosul
Agronegocio no mercosul
 
Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no planalto do Rio Grande ...
Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no planalto do Rio Grande ...Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no planalto do Rio Grande ...
Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no planalto do Rio Grande ...
 
Gestão do agronegócio - a hora e a vez dos administradores
Gestão do agronegócio - a hora e a vez dos administradoresGestão do agronegócio - a hora e a vez dos administradores
Gestão do agronegócio - a hora e a vez dos administradores
 
CANA-DE-AÇÚCAR-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA, AGROPECUÁRIA E S...
CANA-DE-AÇÚCAR-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA, AGROPECUÁRIA E S...CANA-DE-AÇÚCAR-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA, AGROPECUÁRIA E S...
CANA-DE-AÇÚCAR-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA, AGROPECUÁRIA E S...
 

Ähnlich wie VI Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos

Informe Agronegócios - Edição 7
Informe Agronegócios - Edição 7Informe Agronegócios - Edição 7
Informe Agronegócios - Edição 7iicabrasil
 
Publication in the journal APH nº109
Publication in the journal APH nº109Publication in the journal APH nº109
Publication in the journal APH nº109wd4u
 
Portfolio @ País Positivo #40 (Encarte Especial)
Portfolio @ País Positivo #40 (Encarte Especial)Portfolio @ País Positivo #40 (Encarte Especial)
Portfolio @ País Positivo #40 (Encarte Especial)Luís Manuel Martins
 
HORTALICAS 2014 ANUARIO
HORTALICAS 2014 ANUARIOHORTALICAS 2014 ANUARIO
HORTALICAS 2014 ANUARIOfernandes1717
 
Emater-PR: Revista Expotécnica
Emater-PR: Revista Expotécnica Emater-PR: Revista Expotécnica
Emater-PR: Revista Expotécnica Rural Pecuária
 
Cadeia produtiva de florestas plantadas e madeira
Cadeia produtiva de florestas plantadas e madeiraCadeia produtiva de florestas plantadas e madeira
Cadeia produtiva de florestas plantadas e madeiraGeise De Goes Canalez
 
Caderno Agrishow
Caderno AgrishowCaderno Agrishow
Caderno AgrishowACIDADE ON
 
Informe Rural - 05/05/2014
Informe Rural - 05/05/2014Informe Rural - 05/05/2014
Informe Rural - 05/05/2014Informe Rural
 
Tecnologia de produção da framboesa embrapa
Tecnologia de produção da framboesa embrapaTecnologia de produção da framboesa embrapa
Tecnologia de produção da framboesa embrapaEdison Paulo
 
Plano de trabalho agronegocio
Plano de trabalho agronegocioPlano de trabalho agronegocio
Plano de trabalho agronegocioelisabatista7
 
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022FETAEP
 
29 de Abril - Agrishow
29 de Abril - Agrishow29 de Abril - Agrishow
29 de Abril - AgrishowACIDADE ON
 
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...AgroTalento
 
Informe Rural - 23/10/13
Informe Rural - 23/10/13Informe Rural - 23/10/13
Informe Rural - 23/10/13Informe Rural
 
Cadeia produtiva de_frutas_série_agronegócios_mapa
Cadeia produtiva de_frutas_série_agronegócios_mapaCadeia produtiva de_frutas_série_agronegócios_mapa
Cadeia produtiva de_frutas_série_agronegócios_mapaWilian Ferreira
 
Exploração de ouro em Jacobina pela Yamana Gold
Exploração de ouro em Jacobina pela Yamana GoldExploração de ouro em Jacobina pela Yamana Gold
Exploração de ouro em Jacobina pela Yamana Goldalmacks luiz silva
 

Ähnlich wie VI Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos (20)

Informe Agronegócios - Edição 7
Informe Agronegócios - Edição 7Informe Agronegócios - Edição 7
Informe Agronegócios - Edição 7
 
Publication in the journal APH nº109
Publication in the journal APH nº109Publication in the journal APH nº109
Publication in the journal APH nº109
 
Portfolio @ País Positivo #40 (Encarte Especial)
Portfolio @ País Positivo #40 (Encarte Especial)Portfolio @ País Positivo #40 (Encarte Especial)
Portfolio @ País Positivo #40 (Encarte Especial)
 
Mirt livro
Mirt livroMirt livro
Mirt livro
 
HORTALICAS 2014 ANUARIO
HORTALICAS 2014 ANUARIOHORTALICAS 2014 ANUARIO
HORTALICAS 2014 ANUARIO
 
Agronegocios 2.0
Agronegocios 2.0Agronegocios 2.0
Agronegocios 2.0
 
Cadeia
Cadeia Cadeia
Cadeia
 
Emater-PR: Revista Expotécnica
Emater-PR: Revista Expotécnica Emater-PR: Revista Expotécnica
Emater-PR: Revista Expotécnica
 
Cadeia produtiva de florestas plantadas e madeira
Cadeia produtiva de florestas plantadas e madeiraCadeia produtiva de florestas plantadas e madeira
Cadeia produtiva de florestas plantadas e madeira
 
Revista emRede 04, DGADR, 2014
Revista emRede 04, DGADR, 2014Revista emRede 04, DGADR, 2014
Revista emRede 04, DGADR, 2014
 
Caderno Agrishow
Caderno AgrishowCaderno Agrishow
Caderno Agrishow
 
Informe Rural - 05/05/2014
Informe Rural - 05/05/2014Informe Rural - 05/05/2014
Informe Rural - 05/05/2014
 
Tecnologia de produção da framboesa embrapa
Tecnologia de produção da framboesa embrapaTecnologia de produção da framboesa embrapa
Tecnologia de produção da framboesa embrapa
 
Plano de trabalho agronegocio
Plano de trabalho agronegocioPlano de trabalho agronegocio
Plano de trabalho agronegocio
 
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
Jornal da FETAEP edição 181 - Abril de 2022
 
29 de Abril - Agrishow
29 de Abril - Agrishow29 de Abril - Agrishow
29 de Abril - Agrishow
 
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
 
Informe Rural - 23/10/13
Informe Rural - 23/10/13Informe Rural - 23/10/13
Informe Rural - 23/10/13
 
Cadeia produtiva de_frutas_série_agronegócios_mapa
Cadeia produtiva de_frutas_série_agronegócios_mapaCadeia produtiva de_frutas_série_agronegócios_mapa
Cadeia produtiva de_frutas_série_agronegócios_mapa
 
Exploração de ouro em Jacobina pela Yamana Gold
Exploração de ouro em Jacobina pela Yamana GoldExploração de ouro em Jacobina pela Yamana Gold
Exploração de ouro em Jacobina pela Yamana Gold
 

Mehr von Rui Rodrigues

383891110 teste-corrigenda
383891110 teste-corrigenda383891110 teste-corrigenda
383891110 teste-corrigendaRui Rodrigues
 
133444069 desidratacao-de-frutas
133444069 desidratacao-de-frutas133444069 desidratacao-de-frutas
133444069 desidratacao-de-frutasRui Rodrigues
 
Manual de boas praticas prod mel
Manual de boas praticas prod melManual de boas praticas prod mel
Manual de boas praticas prod melRui Rodrigues
 
Relatorio intermã©dio alfa construã§ãµes, lda
Relatorio intermã©dio alfa construã§ãµes, ldaRelatorio intermã©dio alfa construã§ãµes, lda
Relatorio intermã©dio alfa construã§ãµes, ldaRui Rodrigues
 
Relatorio inicial alfa construã§ãµes
Relatorio inicial alfa construã§ãµesRelatorio inicial alfa construã§ãµes
Relatorio inicial alfa construã§ãµesRui Rodrigues
 
Relatorio final alfa construã§ãµes, lda
Relatorio final alfa construã§ãµes, ldaRelatorio final alfa construã§ãµes, lda
Relatorio final alfa construã§ãµes, ldaRui Rodrigues
 

Mehr von Rui Rodrigues (6)

383891110 teste-corrigenda
383891110 teste-corrigenda383891110 teste-corrigenda
383891110 teste-corrigenda
 
133444069 desidratacao-de-frutas
133444069 desidratacao-de-frutas133444069 desidratacao-de-frutas
133444069 desidratacao-de-frutas
 
Manual de boas praticas prod mel
Manual de boas praticas prod melManual de boas praticas prod mel
Manual de boas praticas prod mel
 
Relatorio intermã©dio alfa construã§ãµes, lda
Relatorio intermã©dio alfa construã§ãµes, ldaRelatorio intermã©dio alfa construã§ãµes, lda
Relatorio intermã©dio alfa construã§ãµes, lda
 
Relatorio inicial alfa construã§ãµes
Relatorio inicial alfa construã§ãµesRelatorio inicial alfa construã§ãµes
Relatorio inicial alfa construã§ãµes
 
Relatorio final alfa construã§ãµes, lda
Relatorio final alfa construã§ãµes, ldaRelatorio final alfa construã§ãµes, lda
Relatorio final alfa construã§ãµes, lda
 

VI Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos

  • 1. EstesuplementofazparteintegrantedaAgrotecn.o 34,do1.o trimestrede2020enãopodeservendidoseparadamente. Proposta de escala dos estados fenológicos do medronheiro Rebecca Darnell: «Em Portugal existem muitos produtores dedicados» VI Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos acontece em maio Baga de sabugueiro Porque é importante avaliar no campo o seu estado de maturação? 301.º Trimestre 2020
  • 2.
  • 3. editorial | índice | ficha técnica Diretor Pedro Nogueira Brás de Oliveira Diretor Executivo António Malheiro a.malheiro@publindustria.pt Redação Sofia Cardoso . redacao@agropress.pt Tel. +351 220 964 363 Marketing Daniela Faria . marketing@agropress.pt Tel. +351 225 899 620 Imagem de Capa TF3000 | Pixabay Paginação Raquel Boavista . design@delineatura.pt Delineatura – Design de Comunicação Tel. +351 225 899 622 . www.delineatura.pt Assinaturas Tel. +351 220 104 872 info@booki.pt . www.booki.pt Colaboraram neste número Alice Jones, Ana Sofia Nunes, Armando J. D. Silvestre, Bernardo Madeira, Bruno Cardoso, Cândida Sofia Trindade, Carina Costa, Fábio Castro, Filomena Gomes, Goreti Botelho, João Miguel Antunes Jacinto, Justina Franco, Mafalda Simões, Pedro Brás de Oliveira, Samuel Patinha, Sílvia M. Rocha, Sofia Canteiro Patrício, Teresa Valdiviesso Proprietário e editor Publindústria, Lda. Empresa Jornalística Registo n.o 213163 NIPC: 501777288 Praça da Corujeira, 38 4300-144 Porto, Portugal Tel. +351 225 899 620 . Fax +351 225 899 629 a.malheiro@publindustria.pt www.publindustria.pt Conselho de Administração António da Silva Malheiro Ana Raquel da Silva Malheiro Maria da Graça Carneiro de Carvalho Malheiro Detentores de capital social António da Silva Malheiro (31%) Ana Raquel da Silva Malheiro (38%) Maria da Graça Carneiro de Carvalho Malheiro (31%) Sede da Redação Publindústria, Lda. Praça da Corujeira, 38, 4300-144 Porto, Portugal Tel. +351 225 899 620 . Fax +351 225 899 629 Representante em Espanha: INTEREMPRESAS – Nova Àgora, S.L. Amadeu Vives, 20 08750 Molins de Rei – Barcelona Tel. +34 936 802 027 . Fax. +34 936 802 031 Impressão e Acabamento Lidergraf – Sustainable Printing Rua do Galhano, 15 | 4480-089 Vila do Conde INPI Registo n.o 502988 ISSN: 2183-1998 Depósito Legal: 337265/11 Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este suplemento faz parte integrante da Agrotec n.º 34, do 1.º trimestre de 2020 e não pode ser vendido separadamente. Estatuto editorial disponível em: www.agrotec.pt www.facebook.com/AgrotecRevista SIGA-NOS NO FACEBOOK! www.agrotec.pt Utilize o seu SmartPhone para aceder automaticamente ao link através deste QR code. Zonagem agrícola do território Esta semana tive a grata oportunidade de estar nas jornadas organizadas por um grupo de produtores de mirtilo na região norte do país. Durante a breve estadia, tive a oportunidade de observar, direi melhor, admirar, a sã convivência de um grupo heterogéneo de pessoas, ligadas por um interesse comum, a produção de mirtilos. Nesta época, em que todas as forças de mercado conduzem ao aumento de área por exploração agrícola, impondo uma agricultura “industrial”, massiva, surgem núcleos de produtores que tentam, nos seus territórios, tirar partido das suas terras, dos seus habitantes e, porque não, das suas (novas) culturas. A tarefa parece impossível, mas sou testemunha da compe- tência técnica, da organização e do empenho de todos os que fazem parte deste grupo para o sucesso das suas explorações agrícolas e para a excelência do seu produto. Será este um caso isolado? Não. Um outro exemplo também nos é apresentado neste número da Pequenos Frutos, a produção de baga de Sabugueiro no Vale do Varosa. Leia-se a crónica da Professora Alice Jones, que ficou encantada com a descoberta da forma de cultivar e tratar da baga do Sabugueiro, da paixão dos produtores da região pela sua terra e pelos produtos que ela dá. Já existe ligação das Universida- des às forças de organização locais. O conhecimento é hoje transmitido e partilhado tendo em vista o aumento da riqueza das regiões. Bom trabalho! Estes dois exemplos, que porventura pequenos, como os pequenos frutos, levam-nos a um tema maior que devia ser mais acarinhado em Portugal, a zonagem do território. O nosso país é muito diverso em clima e possui uma ampla diversidade agrícola. Promovam-se as culturas nos locais certos, dando primazia aos territórios e suas gentes, com incorporação do conhecimento das Universidades validando mas, sobretudo, inovando na produção agrícola para que todos consigam receber o justo retorno do seu esforço e empenho. PEDRO NOGUEIRA BRÁS DE OLIVEIRA DIRETOR DA REVISTA PEQUENOS FRUTOS | Investigador auxiliar no INIAV «Nesta época, em que todas as forças de mercado conduzem ao aumento de área por exploração agrícola, impondo uma agricultura “industrial”, massiva, surgem núcleos de produtores que tentam, nos seus territórios, tirar partido das suas terras, dos seus habitantes e, porque não, das suas (novas) culturas» 1 EDITORIAL Zonagem agrícola do território NOTÍCIAS 2 Programa da sexta edição do Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos já se encontra completo 2 INIAV e BERRYSMART assinam protocolo para desenvolvimento de tecnologias de produção de mirtilo 3 Livro sobre a cultura do morango lançado no VI Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos sobre a cultura do morango 3 Inovterra promove novo workshop sobre a cultura do sabugueiro 3 XVIII Seminário Internacional de Mirtilos acontece no Chile 4 Descobrir o Vale do Varosa GRUPOS OPERACIONAIS 6 Baga de sabugueiro – Porque é importante avaliar no campo o seu estado de maturação? PRODUÇÃO 9 A importância do conhecimento do estado de diferenciação floral na cultura da framboesa 12 Proposta de escala dos estados fenológicos do medronheiro ENTREVISTA 15 Rebecca Darnell: «Em Portugal existem muitos produtores dedicados» MERCADOS 18 Aumentar, ou não, a produção de mirtilo TESES 20 Avaliação do potencial de plantas ’tray’ de morangueiro. Arquitetura floral e produtividade 20 Morphological and genetic characterization of four populations of Corema album (L.) D. Don
  • 4. 2 peouenosfrutos notícias INIAV E BERRYSMART ASSINAM PROTOCOLO PARA DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE MIRTILO TEXTO PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA (INIAV) No dia 21 de janeiro de 2020 foi assinado um protocolo de colaboração técnico-científica entre o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e a Berrysmart, Sociedade Unipessoal Lda. O Protocolo tem como objetivo a dinamização de atividades PROGRAMA DA SEXTA EDIÇÃO DO COLÓQUIO NACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEQUENOS FRUTOS JÁ SE ENCONTRA COMPLETO TEXTO PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA (INIAV) Oprograma do VI CNPPF já se encontra praticamente terminado. Irá ser uma jornada de trabalho muito intensa mas terá diversos momentos de interação interessantes para todos, produtores, empresá- rios, técnicos investigadores e professores. A comissão científica tentou diversificar o programa tornando-o aglutinador de todos quantos trabalham e investem nos diferentes pequenos frutos. Assim, o programa conta com comunicações orais em todas as principais culturas, framboesa, mirtilo, morango, amora, medronho, sabugueiro, camarinha e ainda diversas intervenções sobre temas transversais ao conjunto dos pequenos frutos. As comunicações em painel também terão grande destaque durante o evento, estando reservado um amplo espaço de discussão no recinto de exposição, onde estarão diversas empresas e centros de investigação, gerando um ambiente propício à troca de conhecimentos. «(...) o programa conta com comunicações orais em todas as principais culturas, framboesa, mirtilo, morango, amora, medronho, sabugueiro, camarinha e ainda diversas intervenções sobre temas transversais ao conjunto dos pequenos frutos» São múltiplas as comuni- cações orais por convite devendo ser destacadas a apresentação da investiga- dora Anita Sonsteby intitulada “Raspberry plant physiology and impact on crop produc- tion”. Esta investigadora é uma especialista na inves- tigação sobre diferenciação floral em framboesa, com diferentes estudos sobre os fatores mais importantes na produtividade da framboesa no sistema long-cane. Serão apresentadas duas comunica- ções orais, uma por convite do “Centre for ecology, evolution and environmental changes” da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa sobre a fisiologia da planta de camarinha, comunicação que estará a cargo do Professora da Universidade de Sevilha, Mari Cruz Dia-Barradas, e uma segunda, por convite da InovTerra, sobre produtos à base de sabugueiro, apresentada pela Professora Alice Jones da Universidade de Nottingham. É de destacar que o colóquio possui diferen- tes parcerias, contando com a presença de investigadores de três centros de investigação financiados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e cinco Associações ligadas ao sector. O Colóquio encontra-se aberto a mais parcerias que possam enriquecer e dinamizar a participação de todos quantos trabalham neste sector. O Colóquio terá também um momento de sã discussão sobre a sustentabilidade da produção de pequenos frutos. A mesa redonda conta com um painel alargado de professores universitários e agentes conhecedores do setor que permitirão discutir e lançar ideias de como deve o setor reagir aos maiores desafios que se colocam, nomeadamente, ambientais, sociais e económicos. Será realizada uma visita técnica a empresas da região produtoras de pequenos frutos e ao campo de demonstração do projeto CompetitiveSouthBerries instalado na empresa FirstFruit. Neste campo serão apresentados os resultados dos ensaios de produção de lançamentos de framboesa para serem utilizados para a produção de segundo ano (long-canes). «É de destacar que o colóquio possui diferentes parcerias, contando com a presença de investigadores de três centros de investigação financiados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e cinco Associações ligadas ao sector» Por último um grande obrigado a todos os nossos patrocinadores, que são já mais de vinte, parceiros e media partners, com um apelo a todos para que não deixem de participar ativamente neste evento, relembrando que os organizadores se encontram abertos a sugestões que podem ser enviadas para o correio electrónico do secretariado do colóquio (VICNPPF@gmail.com). Contamos com todos para aumentar a importância dos pequenos frutos no contexto da agricultura nacional. e projetos a realizar na Herdade Experimental da Fataca (HEF), em Odemira. Serão instalados diferentes campos de avaliação das tecnologias de produção mais inovadoras, seleção de material vegetal mais adaptado aos condicio- nalismos edafo-climáticos da região e construído um laboratório de biotecnologia com as respetivas estufas de aclimatização, bem como um pequeno viveiro de mirtilos e outras espécies que possam ser do interesse de ambas as partes criando as condições para que a Herdade se torne um polo de excelência na experimentação de Pequenos Frutos. No âmbito da referida colaboração as partes poderão candidatar-se a financiamentos, preferen- cialmente em parceria, ou individualmente mediante acordo prévio. «O Protocolo tem como objetivo a dinamização de atividades e projetos a realizar na Herdade Experimental da Fataca (HEF), em Odemira» Em representação do INIAV, I.P, assinou o protocolo o Presidente do Conselho Diretivo, Doutor Nuno Canada e por parte da Berrysmart e em repre- sentação da sócia gerente, Nelson Antunes.
  • 5. peouenosfrutos 3 notícias LIVRO SOBRE A CULTURA DO MORANGO LANÇADO NO VI COLÓQUIO NACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEQUENOS FRUTOS INOVTERRA PROMOVE NOVO WORKSHOP SOBRE A CULTURA DO SABUGUEIRO XVIII SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE MIRTILOS ACONTECE NO CHILE AInovterra, Associação para o desenvolvimento local com sede em Vila Pouca- Salzedas, localizada no concelho de Tarouca, está a organizar mais um workshop sobre a cultura do sabugueiro no próximo dia 16 de maio. Este versará sobre a flor de sabugueiro. Esta é uma nova ação de formação realizada pela entidade sobre esta cultura, que é cada vez mais procurada em Portugal. A formação conta ainda com intervenções práticas e visitas a diversos pontos essenciais. No início da formação, será realizada uma introdução à cultura do sabugueiro, no âmbito de introduzir as noções mais essenciais sobre a res- petiva e abordar os números do comércio. Ainda durante a manhã, os participantes vão ter a oportunidade de realizar a apanha da flor no campo. Da parte da tarde, será realizada uma visita a pontos Oevento realiza-se no próximo dia 16 de abril, no Centro de Conferências Monticello, em San Francisco de Mostazal. O programa do XVIII Seminário Internacional de Mirtilos deste ano contempla um bloco de negociações comerciais que irão provi- denciar atualizações sobre a situação atual e os seus detalhes, tanto regionalmente, como internacionalmente. O objetivo da organização passa por analisar os desafios que surgem e tornar visíveis as oportunidades e perspetivas futuras abertas para a produção de mirtilos do Chile, Peru e México. O primeiro painel, que irá discutir a temática, irá contar com a presença dos diretos das diversas organizações de mirtilo chilenas, peruanas e mexicanas. Durante a palestra inicial, cada um irá partilhar as suas experiências locais com participantes de diferentes países e regiões, participando de interesse na cultura do sabugueiro no concelho de Tarouca e ao campo de sabugueiros da Inovterra. As inscrições estão abertas até ao dia 14 de maio e são de carácter obrigatório. Mais informações disponíveis através do inovterra@gmail. com ou 254 677 510. «A formação conta (...) com intervenções práticas e visitas a diversos pontos (...) para quem quer conhecer melhor a cultura do sabugueiro e a sua produção» A Inovterra tem vindo a desenvolver o potencial da região que outrora fora pouco considerado. A ação da associação está voltada para a agricultura, para a cultura, para a história, para o biológico e sustentável, para novas formas de pensar e agir o desenvol- vimento económico e social, elevando sempre a região. de uma conversa sobre os pontos fracos de cada setor, as suas vantagens e oportunida- des, e as estratégias projetadas ou projetar para recuperar ou manter a competitividade, com o objetivo de se inserir melhor ou num nível superior no mercado de exportação de frutas, que se encontra cada vez mais exigente. «(...) tornar visíveis as oportunidades e perspetivas futuras abertas para a produção de mirtilos do Chile, Peru e México» Durante o evento, os participantes vão poder assimilar conhecimentos de duas palestras distintas no âmbito da cultura do mirtilo sobre porta-enxertos, nutrição, utilização de bioestimulantes, logística de colheita e armazenamento, potencial do mirtilo na pós-colheita, manuseamento, entre outros. Durante o VI Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos, que acon- tece entre 22 e 23 de maio, em Odemira, será apresentado o livro “A cultura do morango. No solo e em substrato”, de Maria Graça Palha. «A cultura do morangueiro constitui uma importante cadeia produtiva do ponto de vista tecnológico, económico e social» Licenciada em Agronomia e doutorada em Engenharia Agronómica pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade Técnica de Lisboa, Maria Graça Palha é investigadora no INIAV desde 1998. Esta tem desenvolvido grande parte da sua atividade profissional nas áreas de horticultura herbácea e de pequenos frutos com ênfase na ecofisiologia e tecnologias de produção do morangueiro, liderando e participando em projetos de investigação nacionais e internacionais. A cultura do morangueiro constitui uma importante cadeia produtiva do ponto de vista tecnológico, económico e social. Nas últimas décadas, o setor sofreu uma enorme expansão e evolução resul- tante da diversificação varietal, do desenvolvimento de várias tecnologias de produção e da globalização do comércio internacional, proporcionando a disponibilidade do fruto no mercado o ano inteiro. Esta obra é o culminar de duas décadas de estudos de I&DT dedicados a este pequeno fruto, onde estão reunidas uma série de informações, teóricas e práticas, que se debruçam sobre a biologia da planta, sobre a cultura e seus aspetos culturais e as diversas tecnologias de produção utilizadas. Aborda a cultura do morango, no solo e em substrato, contemplando vários capítulos: enquadra- mento taxonómico, origem e história, morfologia da planta e ciclo fisiológico, a cultura e seus aspetos culturais, tecnologias de produção e qualidade do fruto e efeitos na saúde. O livro é editado sob a chancela Agrobook, que agrega a oferta de conteúdos nos domínios das ciências agrárias, indústria agroali- mentar, bem-estar animal e desenvolvimento rural. «Esta obra é o culminar de duas décadas de estudos de I&DT dedicados a este pequeno fruto, onde estão reunidas uma série de informações, teóricas e práticas (...)»
  • 6. 4 peouenosfrutos notícias Descobrir o Vale do VarosaUma crónica à cultura do sabugueiro TEXTO E FOTOS ALICE JONES, Universidade de Nottingham Aminha viagem com o objetivo de visitar o Bruno Cardoso, da Associação Inovterra em Portugal, que aconteceu em novembro do ano passado, surgiu depois de encontrar o projeto Sambucus- Valor online enquanto realizava uma pesquisa sobre o cultivo de sabugueiro para o meu projeto de bolsas de estudos, o Nuffield Farming Trust. Este trata-se de uma instituição de caridade registada e fundada no Reino Unido. A primeira bolsa de estudos foi concedida em 1947. Atualmente, a instituição conta com vários países membros que patrocinam bolsas por todo o globo. Os académicos são selecionados com o objetivo de se tornarem nos líderes de amanhã, tanto nos seus negócios individuais, como no setor agroalimentar como um todo. A intenção é inspirar a inovação e a mudança. As bolsas de estudo Nuffield são possíveis graças ao apoio generoso de patrocinadores de toda a indústria agrícola e de alimentos. Depois de passar a maior parte de 2019 a pesquisar e a viajar pelo mundo para observar plantações de sabugueiro (Sambucus), eu não podia acreditar que tinha ignorado Portugal e a sua história de cultivo. Nos últimos 13 anos, vi muitos sabugueiros serem associa- dos com o processo industrial da flor de sabugueiro e, claro está, vi ainda mais no último ano aquando da minha tour global. No entanto, quando entrei no Vale do Varosa, percebi que visualizava um nível acima de dedicação. Os sabugueiros estavam por toda a parte, em volta das vinhas, entre os pomares de maçã e castanha, ao longo das fronteiras das plantações e, o que se demonstrou tão interessante para mim, era que estes também estavam a ser cultivados nos seus próprios campos, existindo fileiras e fileiras de árvores que eram alvo de grande cuidado, atenção e respeito, tal como as vinhas premiadas do próprio vale do Douro. O meu anfitrião, Bruno Cardoso, que está a conduzir o renascimento da cultura na região, parou pacientemente o carro a cada poucos metros para eu tirar mais uma foto. Eventualmente, deixou-me caminhar e maravilhar com as espectaculares árvores altas, com três ou quatro metros e com os seus galhos curvos! Eu estava no céu! «Depois de passar a maior parte de 2019 a pesquisar e a viajar pelo mundo para observar plantações de sabugueiro (Sambucus), eu não podia acreditar que tinha ignorado Portugal e a sua história de cultivo» Ali eu tinha encontrado alguém e um local que representava o que eu tinha sonhado para o Reino Unido, o que eu precisava para inspirar os agricultores locais a ver o sabugueiro como a jóia que é: uma planta nativa e perene, a partir da qual se pode obter duas colheitas valiosas (flores e frutos). Isso é o que me fascina no sabugueiro: existem muito poucas plantas onde o agricultor pode escolher qual colheita colher, e muito menos, mesmo quando gerida corretamente, existe a possibilidade de colher um pouco de ambas. Além disso, o agricultor só precisa de esperar três anos para atingir o rendimento máximo (para comparação, o agricultor pode esperar de 10 a 12 anos para obter uma colheita de castanhas). Muitos dos sabugueiros que vi eram, claramente, muito velhos. Fiquei fascinada ao perceber que muitos deles estavam ali há décadas, mas a sua longevidade não dava para perceber a partir dos números de produtividade que o Bruno citava. O segredo que aprendi sobre a longevidade e a produtividade consistente das árvores são as práticas culturais rigorosas, principal- mente o ato de realizar a poda anualmente, que começa a partir do dia em que as esta- cas de madeira são plantadas no campo, sendo que as mesmas devem permanecer plantadas durante toda a vida útil da planta. Os sabugueiros crescem muito rapidamente e a resposta vegetativa é cada vez menor, por isso a planta precisa ser renovada. Toda a poda é feita seletivamente à mão, tratando-se de uma arte que tem por base princípios científicos. Cada corte feito é pensado e tem um motivo e é por isso que só uma pessoa experiente faz esse trabalho. Durante a poda, o agricultor está a examinar o seu pomar e, ao mesmo tempo procura pelas melhores soluções para a saúde da planta, testando o solo em busca de nutrientes e pH e ajustando-os de acordo com o ideal. Atualmente,
  • 7. peouenosfrutos 5 notícias continua o trabalho para desenvolver variedades de alto rendimento e que sejam bem adaptadas à região. Os agricultores estão a trabalhar em conjunto com agrónomos e universidades locais para desenvolver as práticas agrícolas da agricul- tura mais antiga, aproveitando a melhor experiência do passado e conjugando-a com abordagens modernas para monitorizar e gerir a colheita. Embora os portugueses pareçam sentir vergonha de ter usado a baga de sabugueiro no passado para adicionar cor e sabor ao vinho, os britânicos eram os seus mercados-alvo, exportando para a Grã-Bretanha os bons vinhos do Porto, dos quais nunca se consegue fartar. “É uma pena que o sabugueiro tenha o nome sujo e seja visto como uma forma de adulterar o vinho e seja oculto do rótulo quando, na verdade, as bagas de sabugueiro e a flor de sabugueiro são, na verdade, ingredientes deliciosos”, pensei, enquanto provava licor de sabugueiro caseiro e geleia de sabugueiro num pequeno bar, localizado no epicentro do Vale Varosa, com o Bruno. Ah, e eu mencionei que as bagas e as flores são uma fonte rica de antocianinas, flavonóides e ácidos fenólicos? É simplesmente um bónus que algo com tantas proprie- dades potenciais de promoção da saúde seja tão saboroso. Na Europa, todos nós temos bebido xaropes, vinhos e chás de flor de sabugueiro desde o início dos nossos registros enquanto sociedade, prova- velmente tendo começado a consumi-los devido às suas propriedades medicinais. «Embora os portugueses pareçam sentir vergonha de ter usado a baga de sabugueiro no passado para adicionar cor e sabor ao vinho, os britânicos eram os seus mercados-alvo, exportando para a Grã-Bretanha os bons vinhos do Porto, dos quais nunca se consegue fartar» O xarope de flor de sabugueiro tem traços frescos, florais e cítricos, juntando-se ainda alguns travos subtis de ervas, especiarias e amadeiradas. O seu sabor lembra o povo britânico dos dias felizes de verão! A baga não é tão amplamente consumida no Reino Unido. Pessoalmente, não consigo pensar porque até à altura não tinha provado alguns dos produtos de sabugueiro produzidos em Portugal, Como resultado da minha tour de bolsas de estu- dos, e especialmente inspirada por esta visita, voltarei para casa para espalhar a notícia de que precisamos de mais sabugueiro nas nossas vidas. Enquanto eu estava em Portugal para aprender sobre o cultivo da árvore de sabugueiro, imaginem a minha alegria (sendo que meu trabalho diário é como uma cientista de alimentos, especializado em ciência sensorial e a trabalhar em pesquisa aplicada e transfe- rência de conhecimento com empresas locais) quando Bruno anuncia que me está a levar para ver o trabalho do laboratório de química analítica em sabugueiros da Universidade de Aveiro. Para a minha satisfação, fui apresen- tada a ninguém menos que a professora Silvia Rocha, uma das autoras dos principais artigos científicos sobre os constituintes químicos dos sabugueiros que eu estava a ler há alguns meses! Fiquei impressionada com a quantidade de trabalho já realizado no laboratório para caracterizar os constituintes químicos de sabugueiro e flor de sabugueiro, especialmente em termos de refinação da sensibilidade das técnicas de Cromatografia Gasosa para a detecção, identificação, separação e quantificação de voláteis (os compostos que o nariz humano detecta como aromas). Esse trabalho é vital para entender melhor os sabores complexos da flor de sabugueiro e da baga de sabugueiro, a fim de dispor de ferramentas para melhorar as condições de manuseamento pós-colheita das flores e frutos e desenvolver produtos com melhor sabor. Aplaudo os esforços da Universidade de Aveiro em obter financiamento para estudar esse nicho. Isso, por si só, pode ser uma barreira para o desenvolvi- mento de novas culturas, como o sabugueiro. O novo desenvolvimento da indústria de sabugueiro, e a comercialização de produtos como a baga de sabugueiro como ingrediente destacado que está a ocorrer no Vale Varosa, certamente não está a acontecer por acaso. Isso está acontecer porque se juntaram processadores, agricultores antigos e mais jovens e instituições académicas para trabalhar duro e com paixão. Por último, mas não menos importante, eles têm um campeão na forma do Bruno. «O novo desenvolvimento da indústria de sabugueiro, e a comercialização de produtos como a baga de sabugueiro como ingrediente destacado que está a ocorrer no Vale Varosa, certamente não está a acontecer por acaso» AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a Bruno Cardoso, da Inovterra, por me receber e me ensinar muito em tão pouco tempo, e à professora Silvia Rocha, da Universidade de Aveiro, pelo seu tempo e excelentes conhecimentos científicos. Por fim, gostaria de agradecer à Nuffield Farming Scholarship Trust e à minha patrocinadora Thatchers Cider, sem as quais esta viagem não teria sido possível. Alice Jones é cientista de alimentos na Universidade de Nottingham, sendo especiali- zada em ciências sensoriais e tendo passado 12 anos em cargos técnicos na indústria das bebidas. O seu projeto Nuffield Farming Scholarship levou-se a dez países diferentes no ano passado, incluindo EUA, Canadá e muitos cantos da Europa, para estudar o desenvolvimento das bagas de sabugueiro como uma cultura comercialmente viável. Pode saber mais sobre a cientista aqui: www.nuffieldscholar.org/ our-scholars/alice-jones/
  • 8. 6 peouenosfrutos grupos operacionais GO – SambucusValor Baga de sabugueiro – Porque é importante avaliar no campo o seu estado de maturação? CARINA COSTA 1 , SAMUEL PATINHA 1 , BRUNO CARDOSO 2 , ARMANDO J. D. SILVESTRE 3 , SÍLVIA M. ROCHA 1 1 Departamento de Química, Universidade de Aveiro (LAQV-REQUIMTE – UA) 2 Inovterra, Associação para o Desenvolvimento Local 3 Departamento de Química, Universidade de Aveiro (CICECO – UA) RESUMO Ocontrolo do estado de maturação da baga de sabugueiro pode ser levado a cabo através da utilização de um refratómetro digital portátil, que permite estimar o teor de açúcares, expresso em °Brix. Desta forma, é possível planear com maior rigor o dia da colheita da baga. Esta abordagem foi testada em bagas de sabugueiro das três cultivares mais comuns na região do Vale do Varosa e Távora – Sabugueira, Sabugueiro e Bastardeira – recolhidas nos anos de 2018 e 2019. As bagas consideradas maduras apresentaram valores que variam entre 12 e 19 °Brix, com a mediana de 14,8 °Brix. As tendências de variação observadas ao longo da fase final da maturação, indicam que os valores mais elevados de °Brix correspondem também a um valor superior de total de compostos fenólicos e de atividade antioxidante. Estes dois parâmetros estão relacionados com potenciais efeitos benéficos para a saúde associados à baga. Em suma, a determinação do °Brix ao longo da maturação da baga representa uma abordagem simples que fornece aos produtores informação objetiva e útil para a programação da colheita e para a avaliação da qualidade da baga. Palavras-chave: Sambucus nigra L., Baga, Maturação,°Brix, Refratómetro. ABSTRACT The monitoring of the maturity status of elderberry can be carried out using a portable digital refractometer, which allows estimating the sugar content, expressed as °Brix. In this way it is possible to plan more accurately the harvesting day. This method was tested in elderberries from the three most common cultivars in the Vale do Varosa and Távora region –Sabugueira, Sabugueiro and Bastardeira – collected in the years 2018 and 2019. The ripe elderberries exhibited °Brix values ranging from 12 to 19 °Brix, with the median of 14.5 °Brix. The variation trends observed during the final stage of matu- ration indicate that the highest values of °Brix also correspond to higher values of total phenolic compounds and antioxidant activity. These 2 parameters are related with potential beneficial health effects associated with the elderberries. In summary, the °Brix assessment throughout the maturation of elderberries represents a simple method that provides objective and useful information to producers for scheduling the harvest and assessing the quality of elderberries. Keywords: Sambucus nigra L., Elderberry, Ripening, °Brix, Refractometer. IMPORTÂNCIA DO CONTROLO DA MATURAÇÃO DA BAGA Desde longa data que a flor e a baga de sabugueiro (Sam- bucus nigra L.) são usadas na medicina tradicional e, mais recentemente, no desenvol- vimento de nutracêuticos e suplementos alimentares, ilustrando o potencial e interesse em estudar esta espécie. O sabugueiro tem sido referido como uma fonte rica em diversos compostos bioativos, aos quais são atribuídos efeitos benéficos para a saúde e bem-estar. Entre estes destacam-se os compostos terpénicos, fitoes- teróis, ácidos gordos mono e polinsaturados, compostos fenólicos e antioxidantes, minerais, vitaminas, entre outros. Alguns estudos realizados recentemente sobre a baga de sabugueiro portuguesa, nomeadamente da baga cultivada no Vale do Varosa e Távora, (Figura 1) reportam a presença destes compostos bioativos, cujos teores dependem do estado de maturação da baga. Assim, considera-se fundamental que os produtores de baga de sabugueiro disponham de ferramentas simples que lhes forneçam dados objetivos que permitam controlar o estado de maturação da baga e como tal programar o dia da colheita. Durante o desenvolvi- mento fisiológico e o processo de amadurecimento, as bagas sofrem diversas modificações físicas e bioquímicas, ficando normalmente maduras, e como tal em condições de serem colhidas, durante o mês agosto. Os produtores têm dificuldade em planear com rigor o dia da colheita, pois o estado de maturação da baga está dependente Figura 1. Região do Vale do Varosa e Távora, com indicação dos 3 campos onde fo- ram colhidas amostras de baga de sabugueiro: Varosa, Valverde e São João de Tarou- ca (campo experimental). Fonte: Google Maps.
  • 9. peouenosfrutos 7 grupos operacionais GO – SambucusValor de diversas variáveis, nomeadamente as condições climatéricas, a localização geográfica dos campos, as condições de gestão da cultura, entre outros fatores. A qualidade da baga, e consequentemente o seu valor comercial, dependem de um adequado controlo da maturação e definição do dia da colheita. Assim, neste artigo será apresentada e discutida a importância da implementação de um método simples que permite avaliar o estado de maturação tecnoló- gico da baga, em laboratório ou no campo. É ainda discutida a relação deste parâmetro com outros indicadores de qualidade da baga. O teor de sólidos solúveis totais (SST), indicador do teor de açúcares solúveis, e a acidez titulável (AT) são parâmetros muito utilizados para acompanhar o estado de maturação tecnológico de vários frutos, nomeadamente das uvas. Por exemplo, através da avaliação destes parâmetros é possível um acompanhamento do estado de maturação das uvas, com vista a planificar a vindima e o processo de vinificação, de acordo com as características pretendidas para o produto final. Este tipo de acompa- nhamento pode ser realizado no campo com recurso a um refratómetro digital portátil. A abordagem usada no controlo de maturação da uva foi o ponto de partida e inspiração dos autores para avaliar o amadurecimento da baga de sabugueiro. COMO ACOMPANHAR O ESTADO DE MATURAÇÃO DA BAGA ATRAVÉS DA DETERMINAÇÃO DO °BRIX? Na Figura 2 encontra-se esquematizado o processo de determinação do teor de sólidos solúveis totais (SST) que é expresso em °Brix. A determinação do °Brix tem como base uma escala que resulta do estabelecimento de uma relação numérica entre o índice de refração de uma solução e o seu teor em sacarose. Assim, este parâmetro permite determinar, de forma indireta, o teor de sólidos solúveis totais de uma solução, o qual depende da temperatura, mas os refratómetros modernos já conseguem corrigir essas variações através de sistemas internos de compensação automática de temperatura. A determinação do °Brix é feita utilizando um refratómetro. Aconselha-se a utilização de um refratómetro digital que pode ser usado quer no laboratório quer no campo, permitindo assim a leitura em tempo real. As bagas de sabugueiro podem ser colhidas no campo e transportadas para um laboratório ou para insta- lações agrícolas, ou podem ser analisadas no campo. Para esta determinação, as bagas de sabugueiro devem ser esmagadas até se obter um sumo, posteriormente colocaram-se duas gotas no refratómetro, sendo a leitura feita após 30 segundos de permanência do sumo sobre a superfície de leitura. Se a análise for realizada no laboratório pode seguir os passos indicados na Figura 2, iniciando o esmagamento das bagas no almofariz e no 2º passo a leitura do °Brix. Se a leitura for realizada no campo, as bagas podem ser esmagadas colocando-as num saco de plástico e depois 1) 2) Figura 2. Determinação do teor de sólidos solúveis totais, expresso em °Brix: 1º passo – esmagamento da baga para a obtenção do sumo; 2º passo: leitura do °Brix num refratómetro digital. No exemplo usado nesta figura, as bagas apresentaram um valor de 14,8 °Brix. colocam-se umas gotas do sumo no local indicado no refratómetro (Figura 2). A metodologia anteriormente descrita foi aplicada a amostras de baga de sabugueiro portuguesa, recolhida na zona do Vale do Varosa e Távora, onde existem culturas de sabu- gueiro com boa capacidade de adaptação às condições naturais da região. Assim, foram recolhidas bagas das cultivares mais comuns nesta zona: Sabugueira, Sabugueiro e Bastardeira. Estas foram colhidas em 3 campos, entre o final de julho e agosto de 2018 e de 2019 (Figura 1). Para as amostras analisadas, o valor de °Brix aumenta até estabilizar num valor que varia entre 13 e 19 para a baga madura, para as 3 cultivares no ano de 2018 e entre 12 e 16, para o ano de 2019 (Figura 3). Em média, os valores de °Brix das bagas do campo de Varosa são mais homogéneos, não apre- sentam tanta variabilidade no estado de maturação, quando comparadas com os valores de °Brix das bagas dos outros campos. De acordo com a literatura, o teor de sólidos solúveis da baga madura colhida em vários países do norte da europa pode variar entre 10 e 17 °Brix, sendo que o valor mais comum varia entre 12 e 13 °Brix. A baga portuguesa em estudo apresentou a mediana de 14,8 °Brix, o que permite inferir, que para este indicador de qualidade, está bem posicionada no contexto internacional. O °BRIX ESTÁ RELACIONADO COM OUTROS PARÂMETROS DE QUALIDADE DA BAGA? A Figura 3 ilustra a variação dos parâmetros comumente usados para definir o estado de maturação tecnológica de frutos (sólidos solúveis totais e acidez titulável) e ainda a evolução do teor em fenóis totais e do poder antioxidante da baga de sabugueiro das cultivares Sabugueira, Sabugueiro e Bastardeira. De acordo com a Figura 3, durante a fase final de maturação o teor de açúcares aumenta, enquanto que a acidez titulável diminui. Habi- tualmente define-se a data da colheita como a fase em que estes 2 parâmetros estabili- zam. Por outro lado, observa- -se que o teor em fenóis totais aumenta e consequentemente há um aumento da atividade antioxidante (Figura 3). Estas tendências de variação estão em linha com o observado para os valores de °Brix, isto é, o estado de maturação da baga que corresponde a valores de °Brix mais elevados, também corresponde a valores mais elevados de fenóis totais e de capacidade antioxidante. Em média, as bagas do campo de Varosa apresentam valores mais elevados de °Brix, teor de fenóis totais e atividade antioxidante, comparativamente com os ouros campos em estudo. Por outro lado, as bagas do campo experimental (São João de Tarouca) são as que apresentam em médias valores inferiores para estes três parâmetros.
  • 10. peouenosfrutos8 grupos operacionais GO – SambucusValor A Figura 3 mostra claramente que o perfil em fenóis totais e a atividade antioxidante são característicos para cada um dos campos ao longo do tempo, refletindo a adaptação da planta às condições edafoclimáticas. Além do metabolismo primário (cres- cimento e desenvolvimento), a planta pode apresentar atividades relacionadas com o metabolismo secundário, o qual desempenha um papel importante na interação das plantas com o meio ambiente (adaptação às condições do meio). Este é expresso na produção de vários metabolitos secundários, como por exemplo os compostos fenólicos e respe- tiva atividade antioxidante. CONCLUSÕES A baga de sabugueiro apre- senta inúmeros compostos bioativos, cuja concentração depende do estado de matura- ção. Assim, é importante que haja um controlo do estado de maturação da baga para se definir com maior rigor o dia da colheita e consequente- mente a sua composição. Um dos parâmetros que permite acompanhar o estado de maturação é a medição do °Brix, através da utilização de um refratómetro digital. Este método é rápido, de execução simples, requer um volume muito reduzido de amostra e não necessita de um operador especializado. Para além disso este método apresenta custos de utilização reduzidos e pode ser executado no campo, per- mitindo assim uma avaliação do grau de maturação em tempo real. A Figura 4 resume as principais tendências de variação observadas ao longo da maturação, ou seja, ocorre um aumento do °Brix, teor em fenóis totais, da atividade antioxidante e a diminuição da acidez titulável. Esta infor- mação permite concluir que Figura 3. Sólidos solúveis totais (SST) – °Brix, acidez titulável (g ácido cítrico/L sumo), teor em fenóis totais (g ácido gálico/L sumo) e atividade antioxidante (mmol equivalentes de Trolox/L sumo) de baga de sabugueiro das cultivares Sabugueira, Sabugueiro e Bastardei- ra, determinados ao longo do amadurecimento, colhidas da região do Vale do Varosa e Távora, durante a colheita de 2018 e 2019. Os re- sultados estão expresso por L de sumo, preparado por esmagamento da baga. a determinação do °Brix, para além de ser um auxiliar na ava- liação do estado de maturação tecnológica e permitir definir o dia da colheita, também permite inferir acerca do teor em compostos fenólicos, de reconhecida importância para o valor biológico da baga e para as suas propriedades de cor. AGRADECIMENTOS FCT/MEC pelo apoio financeiro através da unidade de investigação QOPNA (UID/QUI/00062/2019) e Laboratórios Associados LAQV- -REQUIMTE (UIDB/50006/2020) e CICECO (CICECO (UIDB/50011/2020 & UIDP/50011/2020UID/ CTM/50011/2013) e fundos nacionais cofinanciados por FEDER, dentro do acordo PT2020. Os autores agradecem ao Grupo Operacional SambucusValor: Valorização integrada do sabugueiro em função dos padrões de consumo saudável: da planta à criação de novos produtos alimentares de valor acrescentado, financiado no âmbito do PDR 2020, Medida 1, «Inovação», Constituição de Grupos Operacionais (PDR2020- 101-031117, Parceria nº 146/ Iniciativa nº 341). BIBLIOGRAFIA Considine, J. A., & Frankish, E. (2013). A complete guide to quality in small-scale wine making. Academic Press. Elez Garofulić, I., Kovačević Ganić, K., Galić, I., Dragović-Uzelac, V., & Savić, Z. (2012). The influence of processing on physico-chemical parameters, phenolics, antioxidant activity and sensory attributes of elderberry (Sambucus nigra L.) fruit wine. Hrvatski časopis za prehrambenu tehnologiju, biotehnologiju i nutricionizam, 7(SPECIAL ISSUE-7th), 9-13. Kaack, K., Christensen, L. P., Hughes, M., & Eder, R. (2005). The relationship between sensory quality and volatile compounds in raw juice processed from elderberries (Sambucus nigra L.). European Food Research and Technology, 221(3-4), 244-254. Salvador, Â. M. C. (2017). Chemical characterization and biological evaluation of Sambucus nigra L. berries and flowers in view of their valorization (Doctoral dissertation, Universidade de Aveiro (Portugal)). Salvador, Â. C., Rocha, S. M., & Silvestre, A. J. (2015). Lipophilic phytochemicals from elderberries (Sambucus nigra L.): Influence of ripening, cultivar and season. Industrial Crops and Products, 71, 15-23. Salvador, A. C., Rudnitskaya, A., Silvestre, A. J., & Rocha, S. M. (2016). Metabolomic-based strategy for fingerprinting of Sambucus nigra L. berry volatile terpenoids and norisoprenoids: Influence of ripening and cultivar. Journal of agricultural and food chemistry, 64(26), 5428-5438. Salvador, A. C., Charlebois, D., Silvestre, A. J. D., & Rocha, S. M. (2013, June). Berry lipophilic constituents from three important Sambucus nigra cultivars grown in Portugal-preliminary results. In I International Symposium on Elderberry 1061 (pp. 53-60). Salvador, Â. C., Silvestre, A. J., & Rocha, S. M. (2016). Sambucus nigra L.: A potential source of healthpromoting components. Salvador, Â. C., Król, E., Lemos, V. C., Santos, S. A., Bento, F. P., Costa, C. P., ... & Silvestre, A. J. (2017). Effect of elderberry (Sambucus nigra L.) extract supplementation in STZ-induced diabetic rats fed with a high-fat diet. International journal of molecular sciences, 18(1), 13. Figura 4. Tendências de variação de diferentes parâmetros físico-químicos ao longo da maturação da baga de sabugueiro.
  • 11. 9peouenosfrutos produção A importância do conhecimento do estado de diferenciação floral na cultura da framboesa CÂNDIDA SOFIA TRINDADE, TERESA VALDIVIESSO, PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, Unidade de Estratégia de Investigação e Serviços de Sistemas Agrários, Florestais e Sanidade Vegetal (INIAV – UEIS – SAFSVegetal) Será necessário a um produtor de framboesas ter conhecimento detalhado dos processos de diferenciação floral? Neste artigo vamos tentar demonstrar que sim. Comecemos pelas definições básicas, botânica, hábitos de floração e formação do fruto. A planta da framboesa pertence à família das Rosaceae e ao género Rubus, que inclui plantas herbáceas, perenes e bienais. As framboesas que florescem no Verão após um ano de cresci- mento vegetativo e de passar por um período de dormência durante o Inverno são designadas de não remontantes (floricane-fruiting). No entanto, existe um grupo de plantas de framboesa designadas de remontantes (primocane-fruiting) que, apesar de apresentarem um ciclo bienal, têm a capacidade de poder florir nos lançamentos do ano durante o fim do Verão, princípio do Outono (Carew et al. 2000; Heide and Sonsteby, 2011). A distinção dos dois grupos é importante do ponto de vista agronómico, uma vez que os diferen- tes tipos de plantas têm necessidades diferentes para que ocorra a diferenciação floral e exigem técnicas culturais específicas. A produção de fruto está sempre dependente da eficácia do processo reprodutivo, ou seja, da diferenciação floral, da floração e da fecundação. Sendo o fruto da framboesa de grande valor comercial torna-se fundamental o conhecimento da floração e diferenciação floral bem como a regulação fisiológica deste processo (Neri et al., 2012). O ciclo de crescimento das framboesas tem início no desenvolvimento de um gomo radicular ou em gomos axilares dos lançamentos na zona de substituição. Os gomos encerram em si diferentes tipos de meristemas. O meristema é um tecido vegetal composto por células indiferenciadas com grande capacidade de multiplicação e especialização, sendo responsável pelo crescimento da planta e pela formação de todos os tecidos/órgãos vegetais (Figura 1). Existem dois tipos principais de meristemas, os meristemas apicais e os meristemas laterais. Os meristemas apicais são responsáveis fundamentalmente pelo crescimento longitudinal das plantas e ocorrem nos ápices das raízes e do caule. Os meristemas laterais são responsáveis pelo crescimento da planta em espessura nas plantas lenhosas. No entanto, alguns meristemas podem, sob condições climáticas indutivas, diferenciar células especializadas, dando origem às peças florais e à floração. A indução floral é um sistema complexo em que a atividade de um meristema terminal vegetativo transita para reprodutivo. Este é um processo que ocorre no interior do gomo não sendo visível a olho nu, sendo necessário abrir o gomo, retirando as brácteas protetoras do meristema, para que este seja exposto. Assim, não é possível ao produtor saber exatamente o momento em que as suas plantas transitam do estado vegetativo para o floral. O processo da formação das flores baseia-se em três fases distintas: indução floral, diferenciação floral e floração. Este processo, regulado pelas características genéticas da Figura 1. Gomo de framboesa; esquema de um meristema que se localiza dentro do gomo (m – meristema; br – brácteas protetoras do meristema). planta é no entanto muito dependente de fatores externos tais como, tempera- tura, humidade, fotoperíodo ou mesmo de técnicas culturais (Williams 1959; Esteves et al., 2011). Reunidos todos estes fatores, intimamente ligado a cada genótipo, iniciam-se diferentes alterações bioquímicas na planta que dão origem à floração. A fase em que se dá a indução floral varia, como já se afirmou, com a cultivar e ocorre quando o gomo que encerra o meristema se encontra com- pletamente desenvolvido. A altura exata é controlada pelo comprimento do dia, bai- xas temperaturas e cessação do crescimento terminal e é determinada geneticamente (Oliveira et al., 2007). A indução floral pode ser reversível, mas o passo seguinte a diferenciação floral, é irreversível pois já ocorre- ram alterações morfológicas que impedem o retrocesso do meristema. Estas alterações morfológicas são sequen- ciais e podem ser descritas em cinco estádios (Figura 2): estádio 0 – meristema vege- tativo (Figura 2a); estádio 1 – indução floral, consiste no alargamento e achatamento do meristema (Figura 2b); estádio 2 – pontos de cresci- mento secundários (Figura 2c); estádio 3 – alongamento dos pontos de crescimento e estádio (Figura 2d) 4 – forma- ção dos primórdios das peças florais que posteriormente culminarão na formação do botão floral (Figura 2e,f).
  • 12. peouenosfrutos10 produção Figura 2. Cortes histológicos de gomos de framboesa: a – meris- tema vegetativo; b, c – meristema diferenciado; d, e, f – formação das peças florais; at – anteras; ov – óvulo; ova – ovários. Figura 3. Flor da framboesa onde são visíveis as diferentes pe- ças florais. Figura 5. A framboesa é um fruto múltiplo de drupas. Figura 4. Cortes histológicos de flores de framboesa: a – ovários com óvulos em formação; b – óvulo na fase de fecundação; c – for- mação das anteras (formação das células mães de grãos de pó- len); d – formação de pólen nas anteras; ova – ovários; ov – óvulo; at – anteras; gp – grãos de pólen. Desde há muitos anos que no INIAV, I.P. se têm realizado estudos de diferenciação floral em framboesa, tendo todos estes estádios sido confirma- dos através da observação de cortes histológicos de gomos de framboesa. O meristema vegetativo apresenta uma forma esférica (Figura 2a), sendo o seu alargamento e achatamento as alterações iniciais da indução floral (Figura 2b). «As flores de framboesa são hermafroditas, possuem o órgão reprodutor masculino (androceu) e feminino (gineceu)» Como já foi referido todos estes processos descritos anteriormente ocorrem dentro das brácteas dos gomos não sendo visíveis a olho nu. Assim, a determinação correta do estado de diferenciação floral é de extrema importância quando se pretendem aplicar manipulações do ciclo vegeta- tivo e reprodutivo na cultura da framboesa. Facto importante a realçar neste momento é que em Portugal nos habituámos a trabalhar com framboesas remontantes e todos estes processos nos parecem óbvios e intuitivos mas podem conduzir a grandes erros. Devemos distinguir bem as diferenças entre framboesas que frutificam no lançamento do ano (remontantes) e as que apenas frutificam no lançamento de segundo ano (não-remontantes). Nas cultivares remontantes a dife- renciação e o desenvolvimento das inflorescências dá-se até que os gomos axilares se tornem dormentes. No entanto, a indução floral continua nos gomos situados abaixo da última inflorescência visível. Nas framboesas não remontantes a indução ocorre no Outono, podendo verificar- -se ou não a diferenciação floral consoante a cultivar (Oliveira et al., 2007). A floração é um processo que decorre já no exterior dos gomos axilares, passado um período de dormência ou não, e que o produtor já consegue ver e identificar as diferentes fases fenológicas que a planta atravessa. A fenologia da framboesa encontra-se bem descrita (Edin et al., 1999) pelo que nos vamos referir a pro- cessos menos divulgados e que são, também eles, de extrema importância. Assim, a flora- ção inicia-se na zona apical da planta, seguida das outras inflo- rescências/flores que aparecem sucessivamente em direção à base, em ráquis secundários. O número de flores por inflorescência é muito variável. As flores de framboesa (Figura 3) são hermafroditas, possuem o órgão reprodutor masculino (androceu) e feminino (gineceu). O gineceu é formado por 56 a 120 carpelos, que se encontram sobre um recetáculo carnudo. Cada carpelo é cons- tituído pelo estigma, estilete e o ovário, que encerra os óvulos. O gineceu é envolvido pelo androceu que é formado pelos estames (filete e a antera). Nas anteras jovens, são produzidas as células mãe dos grãos de pólen (Figura 4). Durante a maturação da antera, estas células dão origem aos grãos de pólen, essenciais na fecundação. O estigma é responsável pela adesão dos grãos de pólen que são conduzidos até ao ovário através dos tecidos do estilete culminando na fecundação do óvulo. Assim, o calibre do fruto depende do número de óvulos que são fecundados e que evoluem para drupéolas completamente expandidas, dependendo também da cultivar, da época do ano e do local de produção (Funt & Hall, 2013). Através de cortes histológicos é possível observar os diferentes tecidos e células que compõem as peças florais e estão na base da formação da semente e do fruto. Na base dos
  • 13. produção ovários encontram-se os óvulos em formação (antes da recetividade do estigma) (Figura 4a), local onde irão ser fecundados (Figura 4b), enquanto nas anteras se formam as células mãe do grão de pólen (Figura 4c) que dão origem aos grãos de pólen (Figura 4d). Durante todo o período de floração, as flores segregam grandes quantidades de néctar, produzido pelas nectáreas que se localizam no recetáculo entre o anel de estames e os ovários. Este néctar rico e abundante em açúcares, juntamente com o pólen, é altamente atrativo para os insetos polinizadores. Apesar de várias espécies de insetos visitarem as flores de framboesa, a abelha doméstica é considerada o principal e o mais eficiente polinizador (Oliveira et al., 2007). Brito, et al. (2019) determinaram que numa cultura de framboesa em estufa no Algarve são libertados em média, num período de 42 dias, entre 350 e 560L de néctar por hectare. Esta produção elevada de néctar pode originar problemas importantes de qualidade do fruto quando se reúnem condições de elevada humi- dade e baixa transpiração das plantas em cultura protegida. Após a fecundação, o ovário desenvolve-se formando uma drupéola, ou seja uma mini drupa que se desenvolve a partir de um ovário. O ovário desenvolve-se e transforma- -se na parte carnuda do fruto, enquanto o óvulo fecundado origina a semente. O fruto é um agregado de drupéolas formado pela junção de um grande número de ovários todos da mesma flor e aderen- tes a um recetáculo comum (Oliveira et al., 2007). Como cada drupéola é por si só um fruto perfeito, a framboesa forma um fruto múltiplo de drupas (Figura 5). Estes são os processos fisiológicos da floração que ocorrem ao longo do período produtivo, sendo fácil compreender que o sucesso comercial da cultura está claramente associado com a interação de fatores que ocorrem durante o ciclo biológico. Sobre elas escreveremos mais tarde. BIBLIOGRAFIA Brito, T.A., Lhérété, J.P, Pereira, J. & Duarte, A., (2019). A cultura da framboesa. Presença de nectar nas flores e sua extração pelas abelhas. Voz do Campo 222: III-IV. Carew, J., Gillespie, T., White, J., Wainwright, H., Brennan, R., Battey, N., (2000). The controlo f the anual growth cycle in raspberry. J. Hortic. Sci. & Biotechnol., 75: 495-503. Edin, M., Gaillard, P. & Massardier, P., (1999). Le framboisier. Les stades phénologiques du framboisier. Edição CTIFL, 207p. Esteves, A., Valdiviesso, T., & Oliveira, P., (2011). Estudo da diferenciação floral em framboesa vermelha (Rubus idaeusL.), Actas Portuguesas de Horticultura 18, 320–324. Funt, R. C., & Hall, H. K. (2013). Raspberries. In Growth and development (pp. 21–32). CABI. Heide O.M., Sonsteby A., (2011). Physiology of flowering and dormancy regulation in annual- and biennial-fruiting red raspberry (Rubus idaeus L.) − a review. J. Hortic. Sci. & Biotechnol., 86: 433-442. Neri, d., Massetani, F., Zucchi, P., Giacomelli, M., & Savini, G. (2012). Flower differentiation and plant architecture of raspberry, blackberry and white- and redcurrant. Acta horticulturae, 926, 243–250. Oliveira, PB, Valdiviesso, T., Esteves, A., Mota, M., & Fonseca, L. (2007). A planta de framboesa Morfologia e fisiologia. (Divulgação Agro 556, Ed.) (1st ed.). Williams, I.H., (1959). Effects of environment on Rubus idaeus L. IV. Flower initiation and development of the inflorescence. Journal of Horticultural Sciences, 34, 219-228.
  • 14. 12 peouenosfrutos produção Proposta de escala dos estados fenológicos do medronheiro ANA SOFIA NUNES, FÁBIO CASTRO, MAFALDA SIMÕES, FILOMENA GOMES, GORETI BOTELHO, JUSTINA FRANCO Escola Superior Agrária de Coimbra, Instituto Politécnico de Coimbra, Centro de Estudos em Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade (ESAC/IPC/CERNAS) RESUMO Omedronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie que pertence ao género Arbutus e à família das Ericaceae. O presente trabalho foi realizado no banco clonal de medronheiro instalado em 2015 na Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), em 4 blocos completos e casualizados, com 16 clones. Procedeu-se à monitorização dos estados fenológicos desde 12 de setembro de 2018 até 10 de outubro de 2019. Foram realizados registos fotográficos, recolhidos ao longo do tempo, de acordo com a respetiva escala fenológica estabelecida. Tendo por base as escalas dos estados fenológicos estabelecidos por Fleckinger e Baggiolini para outras fruteiras, estabeleceu-se, pela primeira vez, uma escala para o medronheiro (de A a L). Palavras-chave: Arbutus unedo L., Banco clonal, Registos fotográficos. ABSTRACT The strawberry tree (Arbutus unedo L.) is a species that belongs to the genus Arbutus and to the Ericaceae family. This study was done in the clonal bank of Arbutus unedo L. that was installed at Coimbra College of Agriculture (ESAC) in 2015, in 4 complete and randomized blocks, with 16 clones. The monitorization of the fenological states were conducted from September 12th 2018 until October 10th 2019. Photographic records were taken, collected over time, according to the respective established phenological scale. Based on the scales of phenological states established by Fleckinger and Baggiolini for other fruit trees, a scale was established, for the first time, to strawberry tree (from A to L). Keywords: Arbutus unedo L., Clonal bank, Photographic records. INTRODUÇÃO O medronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie autóctone que cresce espontaneamente em diversas zonas do País. Ulti- mamente tem despertado bastante interesse provavelmente devido à sua versatilidade uma vez que pode ser encarada como uma espécie florestal ou agrícola. Este interesse advém princi- palmente da potencialidade económica da exploração do fruto, quer pela sua transformação (aguardente, compota, snacks, iogurtes) quer pelo seu consumo em fresco (Botelho e Galego, 2019; Gomes et al., 2018a,b). A instalação da cultura, como árvore fruteira em pomares, conduziu à necessidade de melho- ramento da espécie (Gomes et al., 2017; Passarinho et al., 2017). Verifica-se no mercado um forte incremento na procura de plantas melhoradas. Segundo Gomes et al. (2012) os proprietários pretendem a valorização económica das explorações, recorrendo a espécies como o medronheiro. Para além da utilização dos seus frutos, o medronheiro também pode ser integrado numa estratégia de prevenção aos incêndios, pela sua resiliência e rápida capaci- dade de regeneração (Freire, 2017). De facto, este possui uma forte resiliência ao fogo e uma rápida capacidade de regeneração, sendo que muitas vezes é o primeiro a rebentar depois de um incêndio. Todas estas características fazem desta planta uma grande aliada na prevenção dos incêndios florestais (Franco, 2013). Outra utilização potencial do medronheiro é a produção de mel. Fortemente apreciado nos países do Norte da Europa, em Portugal, este mel, por não ser apreciado devido às suas características sensoriais, escuro e amargo, não é produzido em escala suficiente para ser comercializado no mercado interno, nem, para ser exportado (Martins, 2017). Contudo, existe uma tendência e potencial para o crescimento deste sector. O medronheiro também pode ser uma espécie ornamental, uma vez que a sua folhagem persistente e brilhante, floração abundante, a frutificação colorida e comestível, assumem um papel de destaque como planta ornamental em espaços verdes públicos e privados (Costa, 2012). Adicionalmente, também pode ser utilizada para arranjos florais fúnebres. Outra potencialidade que a espécie apresenta, é o estabelecimento de micorrizas, pois contribui para o aumento da sobrevi- vência e do crescimento, da tolerância a condições de stress (biótico e abiótico) e pode, ainda, constituir outra fronte de rendi- mento económico, a produção de cogumelos comestíveis (Gomes et al., 2012). De acordo com Sulusoglu et al. (2011), o medronheiro é uma espécie diploide (2n=26), reproduz-se sexuadamente por via seminal, ou vegetativamente através de rebentos de raiz. Esta espécie apresenta ainda uma grande importância ecológica, pois evita a erosão dos solos e tem a capacidade de se regenerar rapidamente após incêndios (Lopes et al., 2012). Em relação à altura, o medronheiro pode atingir o porte arbustivo e o porte arbóreo, mas a altura não costuma exceder os 5 a 12 metros (Gomes et al., 2018b). Sendo o medronheiro uma árvore de produção de fruto o seu crescimento é condicionado por vários fatores (fatores do meio ambiente e fatores internos da planta). Dentro Figura 1. Exemplo de marcação de um cacho.
  • 15. peouenosfrutos 13 produção dos fatores do meio ambiente, existem por exemplo a luz, pois a sua intensidade e duração tem grande influência no crescimento e forma da planta. Assim, as condições de baixa intensidade luminosa provocam o alongamento dos entrenós, ramos mais finos, folhas mais estreitas e finas e também um baixo desenvolvimento do sistema radicular. A competiti- vidade por este fator, também vai definir a altura da planta (Martínez, 1995). Ainda de acordo com este autor, durante as diferentes fases dos ciclos vegetativos e reprodutivos de uma árvore frutífera, os elementos presentes na parte aérea da árvore (gomos; flores e frutos), determinam o aspeto da planta. Esse aspeto é designado de estado fenológico e a sua sucessão no tempo é chamada de fenologia. A fenologia de uma espécie tem uma grande importância prática para a determinação das datas de aplicação de produtos fitossanitários, fertilizantes, reguladores de crescimento e rega. A fenologia de uma espécie também fornece dados sobre a influência de fatores ambientais no desenvolvimento da árvore e é muito útil para a deteção precoce de possíveis anomalias de caracter fisiológico ou virótico. De acordo com Santos (2015), a fenologia também pode ser entendida como a ciência que estuda a atividade sazonal recorrente das plantas e relaciona-a com o meio envol- vente, com os fatores bióticos e abióticos, como por exemplo: os microrganismos, o clima e o pH do solo. Até ao momento, não é do conhecimento dos autores do presente trabalho, que tenha sido realizado em Portugal, um estudo centrado nos estados fenológicos do medronheiro. Por conseguinte, este foi o objetivo do trabalho que aqui se apresenta de forma a contribuir para o aumento do conhecimento sobre esta espécie que tem vindo a apresentar um relevo crescente enquanto fruteira. MATERIAL E MÉTODOS O banco clonal da ESAC possui indivíduos provenientes de vários pontos do país que foram plantados em Maio de 2015. A disposição do banco clonal é constituída por 4 blocos completos e casualizados, para assim os clones reproduzirem- -se com os diferentes clones existentes, sendo que a polinização é livre e cruzada, reduzindo assim o efeito do meio ambiente nos indivíduos, originando descendentes mais resistentes a doenças e mais resistentes às condições climá- ticas. No total, encontram-se 6 linhas, onde estão distribuídos os 16 clones existentes, tendo inicialmente existido um total 69 plantas, mas devido a um ciclone tropical, que ocorreu em Outubro de 2018, algumas plantas ficaram debilitadas e outras morreram. Cada ramo selecionado foi etiquetado com a informação do ponto cardeal para onde o ramo estava orientado como se pode verificar na Figura 1. Foram efetuados registos fotográficos, para assim se determinar o estado fenológico de cada planta e desenvolver uma escala fenológica. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com Martínez (1995), para a determinação do estado fenológico de uma planta, é utilizada uma série de figuras escolhidas, que apresentam os diferentes aspetos do gomo e dos órgãos da floração. Após a seleção das figuras escolhidas, é estipulada uma escala que determina os estados fenológicos das plantas. Essa escala pode ser baseada na escala BBCH, que segundo Santos (2015) é uma escala desenvolvida para Tabela 1. Estados fenológicos principais (adaptado de Forestry, 2018). Estados fenológicos principais 0 – Desenvolvimento do gomo 5 – Emergência de inflorescência 1 – Desenvolvimento foliar 6 – Floração 2 – Formação de rebentos laterais 7 – Desenvolvimento do fruto 3 – Desenvolvimento da parte aérea 8 – Maturação 4 – Desenvolvimento das partes vegetais 9 – Senescência Tabela 2. Estados fenológicos para o medronheiro segundo Fleckinger (1945) e Bag- giolini (1952) para outras fruteiras. Estados fenológicos A – Gomo misto visível G – 1º Fruto vingado B – Cacho visível H – Todos os frutos vingados C – 1ª Corola visível I – Frutos em crescimento D – 50% das Corolas visíveis J – 1º Fruto em mudança de cor E – 1ª Flor aberta K – Todos os frutos mudaram de cor F – 50% das Flores abertas, em plena floração L – Maturação /colheita codificar de forma numérica e uniforme os estados feno- lógicos das plantas mono e dicotiledóneas. De acordo com Forestry (2018) os estados fenológicos principais são os descritos na Tabela 1. Segundo Martínez (1995), a representação dos estados fenológicos pode ser baseada ainda numa outra escala que é representada por letras maiús- culas do alfabeto, que designam cronologicamente os diferentes estados fenológicos. Tendo por base as escalas dos estados fenológicos estabelecidos por Fleckinger (1945) e Baggiolini (1952) para outras fruteiras, estabeleceu-se uma escala para o medronheiro (Tabela 2). Na Figura 2 encontram-se os registos fotográficos recolhidos ao longo do tempo, com a respetiva escala fenológica estabelecida. CONCLUSÕES Tendo por base as escalas dos estados fenológicos estabele- cidos por Fleckinger (1945) e Baggiolini (1952) para outras fruteiras estabeleceu-se uma escala para o medronheiro (de A a L). Foram realizados regis- tos fotográficos, recolhidos ao longo do tempo, de acordo com a respetiva escala fenológica estabelecida. Considera-se que a escala de estados fenológicos do medronheiro será uma ferramenta útil para os diferentes agentes envol- vidos na fileira, com especial interesse para os produtores. AGRADECIMENTOS Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto “RG- PCMG - Conservação e Melhoramento Genético Vegetal para o medronheiro (Arbutus unedo L.”, com o código de operação PDR2020-784-042742 - RG-PCMG, do Instituto Politécnico de Coimbra, cofinanciado pelo FEADER – Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural, através do Acordo de Parceria Portugal 2020, Programa PDR2020, Operação 7.8.4 – Recursos Genéticos - Conservação e melhoramento de recursos genéticos vegetais. BIBLIOGRAFIA Baggiolini, M. Les stades repères dans le développement annuel de la vigne et leur utilisation pratique. Rev. Rom. Agric. (1952) 8-10. Botelho, G., Galego, L., 2019. Manual de Boas Práticas de Fabrico de Aguardente de Medronho. Edição: 3ª Ed. Porto: Quântica Editora – Conteúdos Especializados, Lda. 94 p. ISBN: 978-989-8927-89-7. Costa, M. 2012. A utilização do Medronheiro como ornamental. In: Jornadas do Medronho. Programa e Resumos Jornadas do Medronho, pp. 54-58. Escola Superior Agrária de Coimbra, 72p. ISBN: 978-972-8936-15-0. Martins, A. 2017. Mel de medronheiro: Contributo para o conhecimento do mercado de produção e sua valorização. Instituto Superior de Agronomia. Universidade de Lisboa., 52 p. Dissertação de Mestrado em Engenharia do Ambiente. Fleckinger, J. 1945. Notations phénologiques et représentations graphiques du développement des bourgeons de poiriers. C.R. Congrés de Paris de I’Association fraçaise pour l’avancement des Sciences. Paris. Forestry, F. B., 2018. Growth stages of mono- and dicotyledonous plants: BBCH-Monograph. Julius Kühn-Institut (JKI). Quedlinburg: Ed. Uwe Meier. 204 p. ISBN: 978- 3-95547-071-5. Franco, J. (2013). O medronheiro - da planta ao fruto, as práticas culturais. In: Actas Portuguesas de Horticultura - Jornadas do Medronho, 22, 66-71. Coimbra. ISBN: 978-972-8936-15-0.
  • 16. peouenosfrutos14 produção Figura 2. Proposta de escala de estados fenológicos do medronheiro. A Gomo misto visível A Gomo misto visível A Gomo misto visível B Cacho visível B Cacho visível B Cacho visível B Cacho visível E 1ª Flor aberta G 1º Fruto vingado I Frutos em crescimento J 1º Fruto em mudança de cor E 1ª Flor aberta G 1º Fruto vingado I Frutos em crescimento J 1º Fruto em mudança de cor C 1ª Corola visível C 1ª Corola visível D 50% das Corolas visíveis D 50% das Corolas visíveis E 1ª Flor aberta G 1º Fruto vingado I Frutos em crescimento K Todos os frutos mudaram de cor K Todos os frutos mudaram de cor L Maturação/colheita L Maturação/colheita L Maturação/colheita K Todos os frutos mudaram de cor K Todos os frutos mudaram de cor K Todos os frutos mudaram de cor K Todos os frutos mudaram de cor K Todos os frutos mudaram de cor D 50% das Corolas visíveis F 50% das Flores abertas H Todos os frutos vingados I Frutos em crescimento D 50% das Corolas visíveis F 50% das Flores abertas H Todos os frutos vingados I Frutos em crescimento Freire, E. (2017). Medronho: uma cultura com grande potencial. Vida Rural. Gomes, F.; Figueiredo, P.; Santos, A. R.; Canhoto, J., 2012. Propagação de plantas selecionadas de medronheiro. Jornadas do Medronho. Coimbra. Gomes, F; Botelho, G.; Franco, J.; Rodrigues, I.; Henriques, M.; Pato, R.l.; Santos, S.; Plácito, F.; Clemente, M.; Melo, F.; Figueiredo, P.; Gama, J.; Machado, H.; Santos, C.; Caldeira, I.; Guerreiro, A.; Antunes, D.; Galego, L.; Costa, R. 2018a. Valorização dos recursos endógenos da floresta: O medronheiro e o castanheiro. In: Biorregiões, Valorização Agroindustrial e Produção Animal. Fórum Politécnico #1. Pereira, M. M. (ed.) promovido pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Instituto Politécnico de Beja. pp. 61-89. ISBN: 198-605-537-X. Gomes, F.; Guilherme, R.; Pato, R.l.; Botelho, G.; Franco, J.; Casau, F.; Melo, F.; Rodrigues, I.; Henriques, M.; Bingre, P.; Gama, J.; Machado, H.; Capelo, J.; Barrento, M.J; sousa, R., 2018b. Medronheiro- Manual de boas práticas para a cultura. 2ª Edição. REN – Redes Energéticas Nacionais. IPC - Instituto Politécnico de Coimbra, ESAC - Escola Superior Agrária de Coimbra, CERNAS - Centro de Estudos e Recursos Naturais Ambiente e Sociedade. CPM – Cooperativa Portuguesa de Medronho crl. Coimbra, 110 p. ISBN 978-972-99205-9-2. Gomes F., Franco J., Pato R., Botelho G., Rodrigues I., Figueiredo P., Casau, F., 2017. Produção de Medronho para Destilar. In: Medronheiro. Caderno Técnico 2. Silva Lusitana. pp. 5-33. Oeiras: Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV). 76 p. ISBN: 978-972-579-045-8 Lopes, L., Sá, O., Pereira, J. A., & Baptista, P. Genetic diversity of Portuguese Arbutus unedo L. populations using leaf traits and molecular markers: an approach for conservation purposes. Scientia Horticulturae. ISSN: 0304-4238. 142 (2012) pp. 57-67. Martínez, J. M., 1995. Crescimiento y desarrollo de las especies frutales. Espanha: Ediciones Mundi-Prensa. Passarinho, J.A.; Sousa, R.M.; Coelho, I.S., 2017. A produção de medronho para fruto não destilado. In: Medronheiro. Caderno Técnico 2. Silva Lusitana. pp. 37-64. Oeiras: Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV). 76 p. ISBN: 978-972-579-045-8. Santos, L. F., 2015. Fenologia do Vaccinum corymbosum cv Duke em várias regiões de Portugal Continental. Porto: Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. 77 p. Dissertação de Mestrado em Engenharia Agronómica. Sulusoglu, M.; Cavusoglu, A.; Erkal, S. Arbustus unedo L. (Strawberry tree) selection in Turkey Samanli moutain locations. Journal of Medicinal Plants Research. ISSN: 1996-0875. 5:15 (2011), pp. 3545-3551.
  • 17. 15peouenosfrutos teses Avaliação do potencial de plantas ’tray’ de morangueiro. Arquitetura floral e produtividade Morphological and genetic characterization of four populations of Corema album (L.) D. Don RESUMO Nos últimos anos a produção de morango tem diminuído em Portugal devido à desatualização do setor. Face aos atuais problemas, há uma grande necessidade de inovar, recorrendo a tecnologias de produção como as plantas ‘tray’. O ensaio teve como objetivo avaliar a dinâmica da floração destas plantas nas cultivares ‘Darselect’, ‘Deluxe’, ‘Donna’ e ‘Dream’ no primeiro ciclo de produção (outono-inverno) e a viabilidade de se obter uma segunda produção na primavera com recurso à tecnologia de luz LED. De setembro a outubro deu-se a evolução dos primórdios florais diferenciados no viveiro, não se verificando diferenciação floral e encontrando-se os meristemas em estado vegetativo. A ‘Donna’ apresentou maior número de meristemas reprodutivos diferenciados no viveiro, com mais 8 meristemas.planta-1 que as outras cultivares. Contudo, estes meristemas não se traduziram num maior potencial produtivo. Na se­gunda metade do ciclo verificou-se a diferenciação floral de novos gomos, com um RESUMO Corema album (L.) D. Don 1830, é um arbusto dióico da famí- lia Ericaceae, que se desenvolve costa Atlântica de Portugal e Espanha, em ecossistemas dunares e de cobertos costeiros de pinheiro. Existe um potencial por parte desta espécie para integrar o mercado dos pequenos frutos. Na primeira parte deste trabalho, oitenta plantas provenientes de Monte Clérigo, Comporta, Aldeia do Meco e Dunas de Quiaios foram amostradas. A fenologia reprodutiva de seis plantas da Aldeia do Meco foi seguida desde do mês de Março até Agosto. Finalmente, vinte e nove características morfológicas foram avaliadas, entre as quatro populações. Na segunda parte do trabalho, seis ISSR foram utilizados para caracterizar a diversidade genética entre populações. Quinze caracteres morfológicos foram escolhidos e a sua diver- sidade foi avaliada, através de análises aglomerativas. Cinco variáveis bioclimáticas foram utilizadas para procurar cor- relações com os dados morfológicos e moleculares. Título da tese Avaliação do potencial de plantas ’tray’ de morangueiro. Arquitetura floral e produtividade; Ano 2019; Grau Mestre em Engenharia Agronómica; Instituição Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa; Locais de execução Oeiras (Instituto Nacional de Investigação Agrária de Veterinária, I.P.) e Moncarapacho (Quinta da Moita Redonda, Hubel Agrícola) Aluna Sofia Canteiro Patrício; Orientadores Doutora Maria da Graça Sequeira Palha Mendonça e Doutora Cristina Maria Moniz Simões de Oliveira; Título da tese Morphological and genetic characterization of four populations of Corema album (L.) D. Don; Ano 2019; Grau Mestre em Engenharia Agronómica; Instituição Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa; Local de execução Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P., Oeiras; Aluna João Miguel Antunes Jacinto; Orientadores Doutor Jorge Henrique Capelo Gonçalves e Professor Doutor Pedro Miguel Ramos Arsénio; incremento acentuado no número de meristemas florais e com a ‘Darselect’ a apresentar maior número de estruturas reproduti- vas, traduzindo-se numa maior produtividade (2,54 kg/m2 ). As restantes cultivares apresentaram uma produtividade semelhante (valor médio 1,47 kg/m2 ). A dinâmica da floração foi semelhante entre as cultivares. No segundo ciclo, as luzes LED tiveram influência princi­ palmente no comprimento médio do pecíolo e do pedúnculo. A Deluxe apresentou maior vigor vegetativo, sendo na maioria das datas de amostragem diferente das outras cultivares (P < 0,001). A luz LED influenciou a produção precoce das culti- vares Donna, Dream e Darselect, não tendo efeito na produção total das cultivares (6,0 kg/m2 LED vs 5,9 kg/m2 controlo). No entanto, melhorou a qualidade comercial da produção e a qualidade dos frutos que apresentaram valores de TSS > 9 °Brix. Ao nível das cultivares, a Donna foi das mais produtivas com uma média de 8,8 kg/m2 mas com frutos com menor TSS (< 8 °Brix). No primeiro trabalho foram encontradas diferenças a nível da fenologia das plantas estudadas na Aldeia do Meco. Foi também encontrada diversidade morfológica dentro e entre populações. O segundo trabalho demostrou uma falta de agregação populacional, por parte das características morfológicas, mas o mesmo não ocorreu com os dados moleculares. No entanto, uma baixa correlação foi encontrada entre eles. A ACC realizada entre dados morfológicos e bioclimáticos demostrou que aproximadamente 50% da variação mor- fológica é explicada pelas variáveis bioclimáticas, no entanto a sua correlação não foi significativa. A mesma análise entre dados moleculares e bioclimáticos, obteve uma correlação positiva, de baixo valor, revelando que o ambiente também tem influência na genética das espécies. Ambos os trabalhos foram importantes para aumentar o con- hecimento sobre C. album, tendo em vista o possível programa de pré-melhoramento.
  • 18. 16 peouenosfrutos entrevista «Em Portugal existem muitos produtores dedicados» Rebecca Darnell, investigadora e docente da Universidade da Flórida, é uma das cientistas que melhor conhece a planta do mirtilo a nível mundial. Presente no último Encontro Nacional de Produtores de Mirtilo enquanto oradora, esta realizou uma apresentação com o objetivo de ajudar os produtores a compreender o processo de fotossíntese da planta do mirtilo e assim optar pelos processos mais adequados. A norte-americana demonstrou-se interessada pelas plantações portu- guesas, afirmando que «em Portugal existem muitos produtores dedicados». ENTREVISTA E FOTOS SOFIA CARDOSO Pequenos Frutos (PF): O que nos pode contar sobre a diversidade do seu percurso académico e profissional? Rebecca Darnell (RD): Eu fiz a minha licenciatura em Sociologia na Universidade de Marilyn, mas durante o curso, escolhi uma cadeira sobre ciência das plantas cujo profes- sor era soberbo. Na altura pensei: isto é o que eu quero fazer. Em consequência eu troquei de licenciatura, para o curso de horticultura, e licenciei-me pela Universidade de Marilyn e adorei. Trabalhei depois a tempo inteiro em investigação sobre a instalação e produção de pomares de pêssego. Durante esse período, o meu professor encorajou-me a seguir com mestrado e acabei por o fazer na Universidade Estadual do Ohio. Em seguida, fiz o meu doutoramento na Universidade de Califórnia, em Davis, na área da fisiologia das plantas. Quando cheguei à Califórnia, acabei por me interessar mais sobre fisiologia das plantas, em compreender como as mesmas funcionavam, do que nos outros aspetos. Eu estava mais interessada na Biologia e na Bioquímica. E foi nisso que trabalhei durante o meu doutoramento e foi uma experiência muito positiva. Após terminar o meu doutoramento, consegui o meu posto na Universidade da Florida e fui contratada como professora e investigadora, em que dividi o meu tempo. O meu percurso profissional começou nos anos 80 e, resumidamente, eu trabalhei no mesmo local desde então. Adoro a Universidade da Florida, adoro o meu trabalho. Em julho de 2019 reformei-me, mas ainda tenho o meu escritório e ainda estou a orientar dois alunos e a realizar algum trabalho de investigação. PF: E quais são os passos para o futuro agora que a vida académica abrandou? RD: Ultimamente tenho feito consultoria para algumas empresas. Além disso, tenho realizado alguns workshops de alguns dias, workshops de ensino sobre fisiologia das plantas. Eu ensino informação básica e de partida para os potenciais produtores. Tenho um workshop sobre princípios fisiológicos básicos das plantas, onde abordamos desde a fotossíntese à respiração. Depois ensino outro workshop onde abordo a nutrição das plantas. Neste segundo, foco-me muito no que está a acontecer no interior da planta. Não falo sobre fertilização, não é bem a minha área. PF: O que nos pode contar sobre a sua pesquisa da fisiologia da planta do mirtilo? RD: Eu acredito que é importante ter em mente que o rendimento da planta do mirtilo parece ser limitado em termos de “sources” e há muitos trabalhos, não só o meu, que comprovam a ideia. Qualquer coisa que se possa fazer para aumentar a fotossíntese, será boa para a planta, uma vez que a saturação ocorre a densidades de fluxo relativamente baixas e um excesso de luz pode dani- ficar o aparelho fotossintético. O ponto é, quanta mais luz a planta conseguir absorver no interior do copado, maior da fotossíntese global. Aumentar a sua capacidade de fotossíntese aparece como algo crucial para a planta. Quando falamos de relações entre “sources” e “sinks” estamos a falar sobre a produção ou armazenamento/consumo de hidratos de carbono. Os hidratos de carbono são produzidos na “source”, sendo depois transportados para os “sinks”. As “sinks” são flores, frutos, e tudo aquilo que não produz hidratos de carbono suficientes para se sustentar, tendo que os importar e procurando apoio nas “sources”. Quando pensamos na fonte primária, pensamos nas folhas, porque é aí que se dá a fotossíntese. Contudo, as folhas são a fonte primária em determinadas épocas do ano. Noutras alturas, diferentes partes das plantas, como as raízes, também podem agir como “sources” porque, antes daquele período ocorrer, estas acumularam hidra- tos de carbono e armazenaram-nos, não o estando a utilizar para crescer. Portanto, quando falamos do transporte de hidratos de carbono na planta estamos a falar de
  • 19. peouenosfrutos 17 entrevista “source” para “sink”, não existindo outro percurso. Relativamente às “sinks”, estas encontram-se sempre em competição umas com os outras. Como consequência, a “sink” mais forte recebe mais hidratos de carbono. O número de “sinks” é importante e o quão ativos estes são. Flores em botão e frutos em crescimento são exemplos de “sinks” que são mais fortes. No caso de termos uma quantidade limitada de “sources”, o que acontece tipicamente é que as flores e os frutos recebem os hidratos de carbono primeiro, depois o crescimento vegetativo e, por último, o armazenamento. Infelizmente, isso é o que acontece se a produção de hidratos de carbono for insuficiente, fazendo com que as reservas não tenham energia suficiente para os crescimentos de primavera. Esta é tipicamente a situação de competição entre as “sources” e as “sinks”. «Eu acredito que é importante ter em mente que o rendimento da planta do mirtilo parece ser limitado em termos de “sources” e há muitos trabalhos, não só o meu, que comprovam a ideia» Regressando à questão da fotossíntese, normalmente observávamos aquilo a que chamamos de curva de resposta à luz fotossintética. Geralmente, o que vemos para as principais plantas é que, se aumentarmos a intensidade da luz, aumentamos a taxa de fotossíntese. Normalmente, para aumentar a taxa fotossintética das framboesas e moran- gos, o ponto de saturação é geralmente de 55% a 60%. Nos mirtilos, o ponto de saturação é 25%. A planta do mirtilo satura a nível muito baixo de intensidade de luz. O segundo problema com os mirtilos é que a sua taxa fotossintética, mesmo no seu melhor, é baixa. Isso é um problema que nos leva a acreditar que as “sources” são limitadas no mirtilo, tal como referido anteriormente. Como isso acontece, as reservas ficam sempre condicionadas na primavera e não existem as suficientes para suportar o abrolha- mento e isso torna-se um ciclo vicioso. A planta está a sofrer e a produzir cada vez menos. Há algumas atitudes a tomar para diminuir este efeito tal, como manter a plantação num local o mais aberto e receptor de luz possível; não deixar as plantas dar fruto no primeiro/segundo ano para fortalecer a planta; e manter folhas saudáveis, o que é muito difícil para os produtores devido às doenças, o que faz com que os mesmos procedam à utilização mais elevada de fungicidas. Ambientalmente, isto não é sustentável e temos que encontrar soluções. Neste momento, penso que estamos a encontrar o caminho certo. É importante realçar que este é um trabalho que estou a realizar há 33 anos. Também trabalhei com o azoto e o ferro, mas não tive a oportunidade apresentar os meus trabalhos nesse âmbito. Temos analisado muitos Vaccinium L. (género botânico pertencente à família Ericaceae), que são adaptáveis a solos com pH relativamente alto, que contêm nitrogénio na forma de nitrato, e funciona bem sem alterações do solo, sendo completamente diferentes dos híbridos do sul que crescem na Flórida e que exigem correções de solo e a utilização de azoto sob a forma de amónio. São muito diferentes e, por isso, estudamos espécies silvestres para tentar descobrir quais as diferenças. O que descobrimos é que essas espécies têm uma atividade muito alta da enzima responsável pela assimilação do nitrato e as espécies cultivadas de mirtilo não. Esta é uma diferença relevante, então acreditamos que é por isso que estas espécies selvagens se adaptam tão bem a solos com o pH elevado, porque o nitrato é predomi- nante nestes solos. Atualmente temos testado essa espécie selvagem e utilizando-a como porta-enxerto. Ela é enxertada com arbustos de mirtilos do sul e temos tentado que as plantas cresçam nesses solos, para percebermos como é que se desenvolvem, sendo os resultados de crescimento bem positivos. Neste momento estamos a tentar expandir a vida útil da planta, utilizando os porta-enxertos, que são também mais tolerante à seca e de gestão menos complicada. Estamos muito animados com a ideia. Todas as árvores frutíferas são enxertadas porque não as dos mirtilos? PF: A produção mundial de mirtilos aumentou nos anos mais recentes, muita con- sequência do consumo crescente. O que pensa sobre a alteração do paradigma? RD: Eu sou completamente a favor. Eu penso que, quanto mais conseguirmos fazer com que as pessoas consumam frutas e vegetais, melhor. Estes são extremamente superiores às outras alternativas, como a carne e o açúcar. Se o consumidor conseguir recorrer a produtos frescos, sem ingredientes artificiais, isso é muito mais saudável. PF: Atualmente os pequenos frutos, como o mirtilo, são muito apreciados pelo público em geral, principalmente devido aos benefícios para a saúde. O que pensa desta associação? RD: Eu acho que, para ter os benefícios de saúde que são muito difundidos, a pessoa tem que consumir uma grande quantidade de mirtilos. Os mirtilos são bons para a saúde? Sim, se a pessoa vai comer algo doce, é uma opção muito melhor que o chocolate. Também providenciam antioxidantes e outros químicos que promovem uma saúde melhor? Sim, providenciam, mas teríamos que os consumir em quantidades extraordinários para retirar os benefícios em larga escala. Acredito que, atualmente, muitos usam esse benefício como uma ferramenta de marketing. E realmente as pessoas que o defendem não estão erradas, eles trazem benefícios. Agora, a questão relaciona-se com a quantidade que teriam de consumir para retirar esses benefícios. Temos de estar cientes dos dois lados da equação. Por fim, diria que uma alimentação recheada de frutas e vegetais frescos é, de certeza, saudável. «A planta do mirtilo satura a nível muito baixo de intensidade de luz. O segundo problema com os mirtilos é que a sua taxa fotossintética, mesmo no seu melhor, é baixa» PF: Quais considera ser as variedades de mirtilo com maior potencial? RD: Para mim, as melhores variedades dos EUA são as variedades crocantes e com textura, como a ‘Blue crisp’ e a ‘Sweet crisp’. Esta última já não está a ser comercializada ao mesmo ritmo porque a planta não cresce adequadamente. O nosso melhoramento é muito voltado para este tipo de mirtilos, que rebentam na boca e sabem bem. Concluindo, as variedades crocantes são as que eu prefiro e acredito que o consumidor também as prefere, porque os produtores têm vindo a requisitar variedades que possuam esse fator para responder à procura do mercado.
  • 20. peouenosfrutos18 entrevista PF: Nos Estados Unidos, o uso de dormex é muito comum. Já na União Europeia, o seu uso é proibido. Considera esta uma boa opção tendo em conta toda a conjetura de fatores? RD: Nos Estados Unidos, as empresas não usam o dormex na maioria das plantações de mirtilos porque beneficiam de vários períodos de frio durante o ano. Já na Florida, nós não beneficiamos do mesmo clima frio durante o mesmo período do ano. Como tal, nós necessitamos do dormex devido à falta de uniformidade de abrolhamento. Aplicamos o dormex quando a planta está dormente, não há resíduos na fruta e eu acredito que é uma boa ferramenta que os produtores podem utilizar e não tem qualquer tipo de impacto negativo na qualidade ou benefícios de saúde da fruta. «Eu acho que, para ter os benefícios de saúde que são muito difundidos, a pessoa tem que consumir uma grande quantidade de mirtilos» PF: Foi uma das oradoras convidadas para o Encontro Nacional de Produtores de Mirtilo. Qual a sua opinião sobre o evento e a sua importância? RD: Eu acredito que é uma experiência excelente o ato de reunir todos estes produtores portugueses de mirtilo. Estão presentes fruticultores de todo o país e isso é de muito interesse. O convite partiu do Professor Pedro Brás de Oliveira e recebi-o enquanto estava de férias. O convite foi direcionado para uma apresentação sobre a fisiologia da planta do mirtilo e pautou-se como algo diferenciador e interessante. Eu não costumo realizar apresentações porque não é a minha área de atuação. Contudo, fiquei entusiasmada quando recebi o convite, muito porque adoro abordar a temática através de apresentações. Também considero interessante fazer passar esta mensagem que, por vezes, não é tão difundida. Eu passei muitos anos a ensinar estudantes e sempre me pareceu algo benéfico o ato de discutir certas temáticas com pessoas distintas e aprender o que ainda não tive conhecimento. Durante toda a minha vida profissional, eu nunca tinha tido a oportunidade de tirar tempo para conhecer o país onde ia realizar as apresentações. Esta foi a primeira vez num longo espaço de tempo em que eu tive a oportunidade de conhecer as plantações de um país e as suas características e foi uma experiência extremamente positiva. PF: Na sua estadia em Portugal, visitou algumas plantações de mirtilo. Gostaria de saber com qual opinião ficou da produção nacional. RD: Fiquei extremamente impressionada com tudo o que vi. A indústria portuguesa é nova, acredito que a plantação mais velha que vimos tinha à volta de seis anos, mas também visitamos algumas plantações com apenas dois anos. Na grande maio- ria dos casos, as plantas parecem muito bem. Também os produtores que conheci eram impressionantes, pois estavam interessados e faziam questões de elevada pertinência sobre as suas plantações, o que demonstra que estão genuinamente empenhados no trabalho que estão a realizar e não agarraram a cultura do mirtilo por ser a “próxima grande aposta”, como se costuma dizer, ou para ganharem avultadas quantias monetárias. Em Portugal, existem muitos produtores dedicados. PF: Quais são as maiores diferenças entre as plantações da Califórnia, as plantações da Florida e as plantações portuguesas? RD: Na Califórnia as plantações são enormes e não existem muitos produ- tores pequenos. A Florida tem muitos pequenos produtores, é mais parecida, mas eu acredito que a maior diferença não está no produtor, porque ambos são muito inteligentes e inovadores, mas sim no clima. O clima na Flórida é muito quente, é muito húmido e enfrentamos muitas doenças na região. Os nossos produtores passam a vida a lutar com essas dificuldades porque há sempre novos insectos a surgir, que trazem novas doenças com eles e destroem as plantações. É muito difícil manter uma planta saudável por um longo período de tempo. As plantas portuguesas parecem muito mais saudáveis. PF: Que conselho dá aos produtores que estão agora a iniciar-se na cultura? RD: Comecem com plantações pequenas. Comecem pequeno e apreendam o máximo de informação que conseguirem, procurem o máximo de conhecimento que puderem. Convidem pessoas que saibam sobre a matéria a visitar a plantação e a dar a opinião sobre as plantas e sobre formas de as manter no seu potencial máximo. Além destes pequenos conse- lhos de continuidade, o mais importante é começar em ponto pequeno. Não comecem com 100 hectares. «(...) os produtores que conheci eram impressionantes, pois estavam interessados e faziam questões de elevada pertinência sobre as suas plantações, o que demonstra que estão genuinamente empenhados no trabalho que estão a realizar e não agarraram a cultura do mirtilo por ser a “próxima grande aposta”, como se costuma dizer (...)»
  • 21.
  • 22. 20 peouenosfrutos mercados Aumentar, ou não, a produção de mirtilo TEXTO BERNARDO MADEIRA Aestagnação provocada pela diferente forma de gerir o desenvolvimento agrário português levou a uma estagnação evidente do aumento das áreas plantas de mirtilo. Os novos projetos são grandes, mas são raros e, sobretudo, são tímidos os novos empreendimentos. A questão é: Portugal (e a Europa) estão neste momento com áreas plantadas suficien- tes para o aprovisionamento do mercado? Pensamos que o equilíbrio está estabelecido, e estabelecido porque prevalece o embargo russo às hortícolas europeias. Senão, outras necessidades se levantariam. Ninguém se lembra desta situação, mas a verdade é que a “nova cortina de ferro”, que se traduz no embargo, mantém-se e é, claramente, o maior obstáculo à expansão da cultura na Europa. Tal como a guerra de Troia, um dia haverá embargo russo e já ninguém se lembrará qual a motivação desta atitude, que tanto tem prejudicado quer o povo russo quer os produtores europeus. Porém, até lá, novos produtores terão tido opor- tunidade ideal para surgirem como players de referência. «A questão é: Portugal (e a Europa) estão neste momento com áreas plantadas suficientes para o aprovisionamento do mercado?» Assim tem acontecido com o mirtilo na Geórgia. A sua expansão está a tornar-se uma oportunidade estratégica para o governo do país, que até ao final de 2020 terá ampliado em mais 1 000 hectares a área plantada. Esta oportunidade foi percecionada pelos grandes viveiros que atuavam na Europa, e que se viraram para a antiga república soviética, onde abriram sucursais. Este reposicionamento, a leste, das áreas de produção, mais tarde ou mais cedo irá ter repercussões no mercado europeu, uma vez que a Geórgia dispõe de mão-de-obra muito mais barata. Ademais, quando caírem as barreiras aduaneiras, provavelmente a Rússia já não será mais um mercado interessante para os produtores de mirtilo, quanto muito em janelas de produção muito específicas, visto ter a satisfa- ção feita “quase em casa”. Assim, num momento em que no sul de Espanha tam- bém já se equaciona a não plantação de mais mirtilo, ou até a retração de áreas, para ajustamento de mercado, parece-nos que, para que não haja aviltamento do produto, uma vez que já existe a opção de mirtilo sub-categorizado apto para o mercado nacional a bom preço, haverá já um equilíbrio entre as áreas plantadas e a procura de mercado. Isto para se manter o mercado com preços muito atrativos. «(...) a “nova cortina de ferro”, que se traduz no embargo, mantém-se e é, claramente, o maior obstáculo à expansão da cultura na Europa» Porém, perguntam-nos quase sempre. O que plantar agora? O que é agora bom investimento? Na verdade poucas culturas nos ocorrem… que não seja o mirtilo.