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Antologia poética de um
segundo de inspiração
EDITORA MULTIFOCO
Rio de Janeiro, 2012
Antologia poética de um
segundo de inspiração
R O B E R T O D A L M O
EDITORA MULTIFOCO
Simmer & Amorim Edição e Comunicação Ltda.
Av. Mem de Sá, 126, Lapa
Rio de Janeiro - RJ
CEP 20230-152
REVISÃO Roberto Dalmo
CAPA Roberto Dalmo e Natália Caruso
IMAGEM DE CAPA: Jeanne Hebuterne with necklace de Amedeo Modigliani
DIAGRAMAÇÃO Natália Caruso
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
DALMO, Roberto
1ª Edição
Julho de 2012
ISBN: 978-85-7961-959-5
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem
prévia autorização do autor e da Editora Multifoco.
Aos filósofos, poetas, pintores, cientistas e
boêmios que precederam minhas palavras. Há
um pouco de todos aqui.
Aos muitos amigos e familiares que
pacientemente leram e opinaram em cada
detalhe com carinho, e aos muitos amigos que
não participaram do processo de elaboração,
mas que são importantíssimos por existirem.
Aos Filhos da Boemia, grupo muito sabido e
muito querido.
Roberto Dalmo
7
SUMÁRIO
09_ Cortina
10_ Amadas minhas
11_ Poesia da melhor amiga
12_ Devaneios
13_ Stella
14_ Brasa
15_ Comanda
16_ Bueiro
17_ A mulher perfeita
18_ PARAJEANNE ou... “O Buquê”
20_ Elas
21_ Poema de todas as coisas
22_ A quarta
23_ Arpo a dor
24_ Sob os Arcos
25_ Solidão nº 2
26_ Água sagrada
28_ Clichê
30_ Tempos que até Márquez invejaria
31_ Aroma
33_ Necrófagos
36_ 365 dias
38_ Respiração
39_ Poesia para um samba
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
8
40_ Levianarte: poesia, filosofia e declaração de amor
41_ Depressivamente estáticos
43_ O silêncio e as palavras
45_ Dedo mindinho
46_ A pequena história de amor de Rafaela e um qualquer
48_ Singela poesia para uma nádega esbelta
50_ Numa manhã de Primavera
51_ Maquinarização
55_ Dada
56_ Reinventação
57_ Malbec
59_ Reflexões inadequadas a um ensolarado domingo de
Páscoa
64_ Sinestesia sem tintas... ou o Pássaro de fogo
66_ Transitoriedade humana
70_ O Voo do Morcego
72_ Algumas coisas deveriam ser eternas...
74_ Aborto Artísico
75_ Aparências
76_ Antologia poética de um segundo de inspiração
Roberto Dalmo
9
Cortina
Aqui não está a Cortina que esconde a ALMA
A manipulação fria da sociedade
A oposição do ser
A manutenção das aparências
A dor de viver
Aqui não está o perigo da originalidade
As rédeas da moralidade
Muito menos as falsas esperanças
Aqui não está uma vida não vivida
Transparência e sutiliza
Para saborear os doces momentos
sem a cortina...
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
1 0
Amadas minhas
Viver apaixonado por três mulheres é possível?
Uma possui a doçura, o mel, o charme, o borogodó
o quebrado que o capeta depositou sobre as ancas das mais
inalcançáveis.
Possui o sentimento, o carinho e a ternura,
o sorriso e a bravura de viver a nostalgia.
A outra... Ah... possui a originalidade, é extrovertida
é despojada, uma menina de olhos transparentes e cristalinos
mostrando a verdade do meu ser.
A terceira é ela mesma... Eu gosto, e sem precisar adjetivar
Qual a graça de tanta incerteza?
É a cabeça de poeta, que me permite deixar a dúvida
Eram elas três, ou as três que eu enxergo em você?
Roberto Dalmo
1 1
Poesia da melhor amiga
Ahh minha amiga mais querida
Cura-me dos sofrimentos
Traz a paz
Deixa-me com saudade
Me faz sofrer
Linda toda
Deixa-me feliz
Traz a tona meus sentimentos
Deixa-me feliz
A cada instante
Deixa-me feliz
Hoje e sempre
Minha bela
Cerveja
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
1 2
Devaneios
...Doce loucura é o amor
Louco sou homem que vivo para amar
Amor louco que faz sofrer
Sofrer que me faz chorar
Chorar que me faz viver
Viver nos faz amar...
Um segundo depois
Só nos restará pedir um viva à desilusão
Um viva e palmas à toda sedimentação que se instaura em
nossos sentimentos
Deixando-os rochosos
Nossa mente a cada dia mais descrente
Forte.
Transformando-nos todos os dias na podre figura humana
que se degrada
Por medo de sofrer.
Roberto Dalmo
1 3
Stella
A cada cerveja um poema que me aproxima de ti
A cada tragada um suspiro que me revela a doçura de
tu’alma
Pensar o momento
Pensar a arbitrariedade da existência
Pensar e pensar
Me faz existir?
Pensar e pensar
Me faz indagar das belezas inexoráveis do mundo ao seu
lado?
Pensar me faz atingir a essência
A essência poética que apreende o mundo minha e a
existência...
Pensar,
me faz ser.
Não porque pensando logo existo, mas porque pensando
creio no amor
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
1 4
Brasa
O amor é como uma brasa que cai em nosso tapete.
Em um momento teremos que retirá-la de sua posição
estática
Qual a melhor forma ?
Esperar que a brasa apague ou correr o risco de se queimar
machucando os dedos?
Haverá momento certo para limpar todo o ambiente?
O amor é a dúvida, a incerteza.
É a luz e a escuridão
O breu no momento de maior reflexão.
É a perda da racionalidade
Tão intransponível e tão venerada.
É a Loucura,
Leve e doce loucura que nos leva à(a) vida.
Roberto Dalmo
1 5
Comanda
Comanda minha vida, mulher amada
Abraça-me na relva de sua pureza, na beleza da mais límpida
seiva.
Perco-me em seus braços!
Não é assim?
Palmas!
Então como é?
É terna, efêmera?
É a beleza e a doçura da mais cara mulata do cabaré
É o preço de uma noite como amantes, sussurrando desejos,
declamando poesias...
É a minha barba mal feita que carrega um sorriso frívolo
É o desejo em seu ventre ardente
Como uma piada
Faz rir
Da prazer
Passa
Amar é simples
Custa apenas alguns réis.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
1 6
Bueiro
Cheiro pútrido da libertinagem liberta
Momentos de luxúria que ludibriam minutos da existência.
Sol de 40° ao meio dia e a necessidade do artista de criar
Procurando nos subterrâneos mais profundos a sua próxima
criação.
Ofuscado pela beleza mais triste de amar uma nova mulher
ele entra pela porta dos fundos.
Viaja nessa experiência que desde muito cedo o consome
Diz - Um doze anos, por favor!
E assim
Tenta aventurar-se na mais nova e antiga odisseia.
A coragem lhe falta.
Então ele continua vivendo a genialidade das mais nobres
aventuras
Continua a sonhar com o dia que não lhe faltará a coragem
E enfim encontrará sua maior obra.
Talvez não debaixo de um sol de 40° ao meio dia
Talvez não sob a podridão da luxúria barata
Talvez não sob o bueiro mais pecaminoso da cidade
Mas no colo da mulher amada.
Roberto Dalmo
1 7
A mulher perfeita
A mulher perfeita não precisa de tanto quanto ele já tivera
dito
Precisa apenas de uma relação simétrica entre os dedos do
pé estabelecida a 45º de inclinação
Uma leve cor rósea nas bochechas
Um pescoço sensual que mostre sua graça e que possa
suavemente ser mordido e acariciado
Precisa de uma doce felicidade expressa no sorriso
E uma amarga tristeza expressa no olhar
Precisa ter uma beleza amável e uma destreza de amante
francesa. – Não conheço as amantes francesas, mas falam tão
bem que não podem estar mentindo.
Precisa de um ouro no olhar retratado por Klimt
Precisa trazer a art nouveau com sua a simplicidade e
complexidade todo o dia em nosso amor
Ela deve ter e uma voz encantadora e sussurrar-me sublimes
palavras
Ela deve me faz suspirar.
Ao ser atingido por uma simples gotícula de chuva
Deve me faz largar tudo e pensar na existência
Ser a caça e o caçador das noites embriagadas
Ela precisa ser,
e assim sorrir.
Dar a felicidade, e mesmo que morra um dia
viva e ame.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
1 8
Precisa amar e crer.
No fim
Ela não precisa de quase nada...
A mulher perfeita se faz perfeita no olhar
A mulher perfeita é, e isso basta!
Roberto Dalmo
1 9
PARAJEANNE... Ou O buquê
Eu não conseguiria pintar-te
Não conseguiria transpor para uma simples tela
todo o brilho presente em teu olhar,
Toda a paz de seu sorriso
Toda a luz de sua face.
Nem se fosse Modigliani!
Não conseguiria retratar seu tom de pele enlouquecedor
Seu beijo de poesia, seu doce aroma
O mais apaixonante de todos os aromas já sentidos.
Seria impossível
Mesmo dotado das melhores tintas, telas, da mão mais
habilidosa, e de dez mil dias ao seu lado!
Não consigo, e simplesmente não consigo.
Vou guardar-te apenas em meu coração.
Faço apenas um buquê, tentando lembrar seu cheiro
Por toda minha vida.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
2 0
Elas
Todas elas fazem poesia
Errantes, audaciosas
Brilhantes, formosas
Como uma marchinha de carnaval
Em poucos segundos todas fazem meu coração pulsar
Fortemente pulsar!
Despertam-me uma doce nostalgia e
arrancam bruscamente um sorriso de meu rosto.
A forte batida no peito acelera a respiração e eu digo:
-Vamos cantar!
Pulamos
Unimos nosso suor
Atritamos nossas rótulas
e passa...
Como a gota de orvalho de uma quarta feira de cinzas
Voltemos pra vida, pois a boemia é um luxo para os finais de
semana!
Roberto Dalmo
2 1
Poema de todas as coisas
Todos vivem
Mas só os poetas tiram versos da mais simples badalada
de um antigo relógio.
Todos vivem
Mas só os poetas enxergam o toque de algodão doce nas
carregadas nuvens de um fim de tarde de um dia de calor
Todos vivem
Mas só os poetas transmutam seus sofrimentos em doces
palavras ao invés de se romperem em prantos.
Todos bebem a sagrada cerveja gelada do fim de semana
Mas só os poetas trazem a cada porre versos de esperança.
Todos vivem
Mas só os poetas
Vivem!
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
2 2
A quarta
Dalí me olha em mundos imaginários
Faz todos meus pêlos do braços ficarem eretos
Coração disparado, como no clímax do Bolero de Ravel
Como durante a melodia do Trenzinho Caipira
Como o mágico momento de encontro das almas no distante
espaço de (in)consciência a dois
A luz que incide sobre seu brinco me lembra algo...
Não, a perfeição não foi criada. Ela é, simplesmente é.
Um dia de carnaval, uma manhã de domingo
A lembrança mais pura da longínqua e adjacente infância
O forte atrito de coxas que se entrelaçam
Se unem em frenético ritmo meio frevo, maracatu,
candomblé.
És tu, a quarta!
Talvez a de Cinzas
E o sorriso final
Nada desperta mais a emoção do que um doce sorriso.
A perfeição é!
Roberto Dalmo
2 3
Arpo a dor
Solidão à tarde
Num vivo e ensolarado sábado de carnaval
-Estarei mesmo sozinho?
Forte brisa bate em minhas costas e o pensamento voa
Vai longe
Distante
Me leva a mundos desconhecidos, talvez esquecidos
O som de um trio chama a presença da ausente amada
O som do mar invade minh’alma e traz a essência de um dia.
Só?
Acompanhado de lembranças,
Pensamentos,
Paixões...
Barco que passa seguido de gaivotas e levando peixes e para
o mercado
E eu, entre a pedra e o mar
Lendo meu Neruda e vagando
Em pensamentos de águas verdes e calmas
Em uma tarde de amante.
Amante do que sou, ou do que estou sendo
Poeta do instante e de tardes infantes
Tudo isso
Entre a pedra e o/a mar.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
2 4
Sob os arcos
Arcos do amor num sonho de carnaval
Ao som das mais antigas marchinhas
O poeta renasce
Escreve momentos
Leves e breves
Trazem à luz do meu dia
Uma mistura verdadeiramente brasileira
Cachaça e fumo!
Te encontrei
Meus olhos brilharam ao anoitecer
Sigo e penso em ti.
Em nossos momentos ao lado de bons amigos
Vivo o mais límpido e sincero
Aquele que faz do dia minha noite
e da noite ouro reluzente.
Sou feliz
E sei
Roberto Dalmo
2 5
Solidão nº 2
E mais uma vez a solidão
A volta pra casa é a angustia do momento final
Agonia e dor
Num dia, a luz de uma criança brincando
Noutrora a explosão que devasta corações e o enche de
mágoas.
Um misto de agonia e êxtase que vai sutilmente
preenchendo o vazio com lembranças de uma vida
vivida de verdade!
Caminhamos nessa incansável bateria
Pierrôs passando, procurando por sua Colombina,
Palhaços brincando
E o rei cobrindo de brilho e alegria o comando do carnaval
E as pessoas?
Elas apenas passam
Em um momento de tristeza e alegria
Agonia e êxtase.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
2 6
Água sagrada
Talvez eu não quisesse sair desse limbo
Talvez tudo que precisasse fosse um dia na escuridão.
Músculos imóveis, pensamento fraco
Rotações tão baixas que quase param no tempo
Faz minha alma se transportar para outros mundos
Surrealistas? Imaginários?
Não importa!
Por outro lado, talvez eu realmente necessitasse do breve
segundo
Do cheiro de marisco queimado invadindo meu olfato.
Mesmo assim queria a vida estática dos piores vagabundos
Os que não vivem, não produzem, não pensam e não são!
Só por um dia!
Quando nem isso for possível
Hei de me contentar com apenas algumas horas dessa
desejada vida pífia
Em seguida
Viver
Para poder expressar em arte a felicidade
Caminhar a beira-mar
Sentir o vento
O tão incomodo cheio de marisco
Ver as belas e importantíssimas nádegas das garotas que
passam
e sorrir! sentido-me vivo.
Com o coração vibrante
Roberto Dalmo
2 7
Sorrir e pensar
Vale a pena
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
2 8
Clichê
Sim, o brilho do sol foi depositado no seu olhar.
Clichê? – realmente, há anos todos falam dos brilhos das
estrelas!
Mas o sol não é qualquer estrela! Sem ele não haveria vida,
nem noite nem dia.
Impossível é que a cegueira não tome conta do meu ser.
Ficar fronte a ti, encarar-te,
olho no olho,
sem óculos escuros e muito menos filtro solar.
Tudo isso é viver o segundo que antecede a total perda de
racionalidade.
Cegueira dada pelas trevas do pensamento.
Logo após,
breves instantes de luz intensa.
E tudo isso no seu olhar.
Paixão em poucas palavras,
algumas doces, simples e sutis, outras nem tanto...
e um olhar
amante, brilhante, muito brilhante,
ofuscante!
A paixão e o amor de centenas de anos
concebidos em uns instante,
e o riso histérico e sem motivo nenhum toma conta de todo
o ambiente.
Surgem o medo da ausência, e devaneios!
Tudo isso porque o amor
é o andar sobre as nuvens para morder a lua
Roberto Dalmo
2 9
e ainda esperar que ofereçam goiabada.
é a chuva num dia quente de verão, e
ao olhar pro alto ver o arco-íris. Ainda assim esperar que
ofereçam o pote de ouro.
E em nano segundos,
a cegueira do olhar
há de curar toda a racionalidade de um beijo seu.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
3 0
Tempos que até Márquez invejaria
Ela é meu amor nos tempos de cólera
Relação inabalável e inigualável
Paixão
Ela é fogo presente em meu peito
Ardendo e curando feridas como os querubins, serafins, e
muitos ins que cuidam do nosso frágil coração.
Ela é a corda bamba e o exercício de constante equilíbrio.
A discórdia no momento da fala
O caos no momento da criação.
Essencial, solene, esplendorosa!
É a brisa, o mar, a lua, o ar, olhar,
e tudo isso na intocável pele de mulher.
Sedosa como a pétala de rosa, macia como a pluma dos
mais seletos gansos da linha de produção de travesseiros
para a mais alta nobreza.
E tudo isso longe de mim!
E em tempos de cólera que até Garcia Márquez ficaria
pasmo.
Espero que dure apenas alguns dias
Quem sabe algumas horas?
Para que possa em um tempo muito breve
Afogar-me em seus lábios macios e úmidos
E morrer de paixão
Roberto Dalmo
3 1
Aroma
Corre corre!
Veja só!
A chuva está chegando e com ela vem um turbilhão de
sentimentos
Dor, amor, solidão, amizade, e muitos outros.
Sendo sentimentos ou não,
quando a chuva chega, eles se tornam.
Tornam-se pensamento ao olhar pela janela e ter a
lembrança nostálgica.
Acho que sempre que olhamos pela chuva na janela nos
lembramos de nossos nove anos.
Ao sentir aquele doce aroma de terra molhada
Queremos pular, brincar, cantar...
Mas nada isso é possível
Somos adultos
Em um escritório
O cheiro de terra molhada se mistura intensamente
Aroma de papel e tinta de impressoras, café
A leve música que soava nos ouvidos acompanhando o cair
constante da chuva tornou-se gritos
A doçura da criança tornou-se a distante lembrança.
Talvez por isso a cada chuva a esperança volte.
Um dia serei criança, novamente e brincarei com a terra
até que por ela digerido serei.
E serei
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
3 2
parte o sonho de muitas outras pessoas.
Ao ver a chuva, e sentir o doce aroma de terra molhada,
terra que farei parte.
Roberto Dalmo
3 3
Necrófagos
E nós, seres humanos,
dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar
opositor
fomos feitos para amar.
Quem diria, a grande ironia que seria o dia,
aquele que corria
esbaldando-se em uma vida vadia
e em um breve instante
deleitar-se-ia da mais gostosa agonia.
A paixão!
O primeiro amor é o desespero
O mais puro anseio do coração
Pulsante no peito e brilhante
em olhos de diamante com dureza de
Talco.
Tão superiores, nós humanos. Tão vulneráveis.
O segundo amor, talvez já tenha um brilho de ouro
Pode ser como a marcela, que amou aquele nosso colega por
alguns contos de réis,
ou muitas outras “ela”s que transcenderão os quinze meses,
mas não acredito que irão transcender aos contos de réis.
E tudo termina, novamente
O terceiro amor, quarto amor, quinto amor,
tudo se renova.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
3 4
No final estamos nós.
Simples assim, vulneráveis assim.
Quem diria, nós humanos,
dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar
opositor
teríamos nossos orgulhos e nossos fracassos em algo que
nem tocado é.
Quem diria, caro amigo,
gozamos por conquistar o mundo, mas não domamos
nem mesmo nossos sentimentos
Somos vulneráveis!
A comédia dos sentimentos inicia-se pela não compreensão,
pela necessidade do consolo irmão e pelo pedido, e por
muitos poemas
ao longo de muitos anos que utilizam-se de “ao” para rimar
com coração.
Que devaneio romântico é apaixonar-se por algumas
palavras!
Sim, acontece.
Somos vulneráveis!
Dias e noites e as palavras envolvem o coração,
já não dominávamos nossos sentimentos,
agora dominamos muito menos.
As palavras chegam, nos arrancam sorrisos, os transmutam
em lágrimas,
e nos da a sensação de ter vivido.
Muito, e além!
Em momento seguinte não há paixão, não há amor.
sofrimento e dor, ingratidão e talvez um pouco de
compaixão.
Roberto Dalmo
3 5
Às vezes nem isso.
Sofrimento e dor, e pronto!
Somos vulneráveis!
Mas há de chegar o dia em que dominaremos nossos
sentimentos
em uma racionalidade ímpar.
Nesse dia talvez falte ar,
talvez o sangue não corra,
talvez os pequenos e desprezados seres decompositores
estejam lá
e vejam, o dia que os seres superiores
dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar
opositor
estarão dominando seus sentimento!
E de camarote eles presenciarão tal momento enquanto
deliciam-se
com nossos restos mortais!
Tudo isso porque somos vulneráveis!
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
3 6
365 dias
Existe sensação melhor no mundo?
Estar apaixonado é melhor do que amar!
Estar apaixonado é deixar o coração pulsar mais forte
As pupilas dilatarem
Sem esquecer do importantíssimo sorriso
Para mostrar que você está realmente apaixonado
é preciso sorrir.
Sorrir para todos e todas
Mas muito cuidado!
Sorrir para todas é perigoso, pode despertar a irá da mulher
amada.
Ciuminho bobo de amante
A paixão é o cálice de vinho do tempo presente e o devaneio
latente.
Racionalidade de embrião
Digo mesmo que é bom!
Queria eu me apaixonar 365 dias por ano e 366 em anos
bissextos.
Entregar-me, viver
Não deixar que o medo tome conta
Queria eu, que dentre esses 365 dias e
366 em anos bissextos, houvesse um dia para o amor.
Provavelmente seria 1º de abril.
Mas se não encontrar, que venham os próximos 365 dias
e 366 em anos bissextos.
A paixão é o amor de um instante
Contada por um navegante
Roberto Dalmo
3 7
Marinheiro destemido que viaja os sete mares em busca de
terra firme.
Vaguemos pela infinitude dos oceanos!
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
3 8
Respiração
Amor amante, tão perto e distante
Em tragos e trovas tramo
Nosso momento adiante.
Trancado, trancafiado, em transe.
tramo.
Viajando e transitando,
pelo instante em que se torna impossível qualquer
movimento.
...
Respiração profunda, peito acelerado,
sensoriedade, sensibilidade.
O despertador toca
Ainda imóvel continuo.
...
Aos poucos...
Sinto meu peito desacelerando,
pelos, e a respiração
voltando ao normal
músculos descontraindo,
levemente...
A doce capacidade de admirar tão breve momento com
olhos de eternidade.
Apreciar o êxtase não é para qualquer um,
mas olhos de poeta bastam.
Roberto Dalmo
3 9
Poesia para um samba
Não há nada mais democrático do que o samba!
O negro, o branco, o rico o pobre.
Recital de versos ritmados
A gênese da sinfonia do morro
Do povo, da nossa gente!
Invade a alma e mexe com o ser
E logo, tomado pelo espírito do bom malandro
O corpo desfruta da beleza que é o samba.
O samba é amor em melodia
a paixão em harmonia
um batuque em alegria.
Alegria de povo sofrido e cheio de esperança
exaltado em notas acordes e fé
muito batuque, gira e axé.
Terreiro da paixão,
que no conforto do coração
faz transparecer toda emoção!
Saudando a cultura negra que mostra
o dom que o samba tem,
Trazer felicidade onde mora agonia,
fazer chorar de nostalgia
E lembrar que pra viver é preciso só alegria!
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
4 0
Levianarte: poesia, filosofia e declaração de amor.
Levianarteleviana
Repita diversas vezes, deixe o som invadir seu corpo
e me diga
Seria mesmo a vida uma incoerência?
Quem estabeleceu o que é coerência para que possamos
classificar
A vida
Logo ela
Tão...
Tudo.
Achou banal? pense outra palavra que expresse melhor a
vida.
Sem a vida não haveria homem que não haveria pensamento
que não haveria reflexão que não haveria
coerência.
Então, logo existo e, porque existo penso ou vice versa.
O homem fez a coerência,
logo ele, imperfeito que só, estabelece alguns padrões e fala
-Isso é coerente! -Isso não é!
A vida realmente é uma incoerência na sua coerência
humana.
Talvez seja uma incoerência porque algum dia tentaram
achar uma coerência.
Inexistente, porque a exceção é a coerência.
Sorte que tenho meus amigos
Com eles posso afogar as mágoas de tanta razão
Em um mundo que só precisa um pouco mais
de sentimentos.
Roberto Dalmo
4 1
Depressivamente estáticos
Sem as mulheres nós não nasceríamos
Muito menos seríamos.
Mas, se por alguma aleatoriedade do destino, ainda houvesse
vida não haveria o doce aroma das rosas
o canto dos pássaros não ecoaria
E o dia passaria mais rápido porque o sol não teria pra quem
olhar.
Sem as mulheres não haveria arte
E se houvesse - Meu Deus!
Não teria 1/3 da beleza.
Os quadros não trariam paixão
Porque a paixão, dessa forma, não seria reconhecida.
Seria apenas um “gostar muito”
No meio de tantas cores e formas não estaria aquele olhar
penetrante.
Seria apenas um pequeno brilho nos olhos
Nada demais.
Sem as mulheres não haveria música,
e se houvesse, seria chata
falando apenas de natureza, quem sabe de algumas
divindades
só!
Nunca chegariam na essência
Sem as mulheres faltariam razões para viver.
Faltaria o ímpeto para descobrir a essência se é que existe a
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
4 2
essência.
Sem elas seriamos um barco vagando na infinitude do
oceano
Sem destino e sem paz.
Inevitável amar e adorar criatura tão divina
-Algumas nem tanto, realmente.
Sem as mulheres não haveria poesia.
Que mundo triste esse, sem uma bela razão para escrever?
A rima só seria dissabor
E o verso, coitado.
Não seria amor,
nem desamor, humor, fulgor, e muito menos calor.
Esse que deveria ser definido como
Fluido exalante do peito das mulheres,
com a capacidade de invadir o coração alheio e contagiar.
Instantaneamente.
O verso seria como a pálida folha do outono.
Porque sem as mulheres, não haveria primavera.
Não haveria o doce e o amargo, o ser nem o não ser.
Não haveria mais nem menos.
Não haveria o devir.
Seriamos todos depressivamente estáticos
Roberto Dalmo
4 3
O silêncio e as palavras
A maldição do egocentrismo é o prazer da solidão.
Momentos em silêncio fazem com que a existência seja
curada.
Doente é a humanidade
comunicativa e ambiciosa
Acredita realmente num progresso barato.
Comprado no botequim da esquina pra acompanhar a
cerveja da sexta.
É necessário que chamem o curativo, por mais estranho que
possa parecer.
Necessário mas praticamente inalcançável.
É ele sim, o silêncio.
Quem diria que ao falar simples palavras
um jogo de poder começa a ser traçado.
Questões ditas vão além do quem, por que, onde, e pra quem
disse.
Fortes debates me instigam a pensar nos simples momentos
de solidão.
De repente uma vontade me doma
O jogo começa, tento falar
Brevemente sinto que algo inibe a palavra.
Será que a poesia poderá fazer com que esse jogo se dilua?
Tudo isso poderia acabar ou nunca ter começado?
Bastaria simplesmente a solidão tomar meu peito
o silêncio gozar minh´alma
E imediatamente as palavras morreriam.
Todas, absolutamente todas.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
4 4
Trazendo o querido silêncio
Reduzindo a hipocrisia
Quem disse que eu consigo?
Comunico-me pra viver, e vivo por me comunicar
Diria mais e além
O silêncio é tão o oposto da vida quanto a morte
O silêncio faz com que a mais bela flor de um jardim de
primavera murche
E nós, simples aprendizes
Jogamos o jogo
Dominamos as palavras
Transformamos tudo em arte.
A arte cala o silêncio e dá sentido ao ser
Viva esse mundo mesquinhamente comunicativo.
Roberto Dalmo
4 5
Dedo mindinho
Hoje me peguei pensando em você.
Provavelmente estava no meio de bilhões de pensamentos
Digo que só me dei conta porque tomado por tamanha
distração fui surpreendido por uma forte dor de batida.
Meu pé tinha acabado de travar uma batalha sangrenta
Dedo mindinho versus pé da cama.
Não preciso dizer quem ganhou.
O que importa é que a dor me fez lembrar.
Distraidamente pensava em ti
Não com pensamentos megalomaníacos
e muito menos com devaneios românticos
Mas com um carinho que toma o peito e invade a alma
Amor maior é aquele que não se perpetua
E está sempre na segura distância que o torna eterno.
O devir transforma-se na inalterável e sólida certeza
É a inconstância, a loucura e a clareza,
É a dor do não viver
Muito maior do que a topada no pé da cama.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
4 6
A pequena história de amor de Rafaela e um qualquer
É ela Gabriela, de todas a mais bela
saborosa e donzela,
que me tira da capela enganando o sentinela
e me leva a uma ruela trocando-me em passos
Eis que estava Rafaela, a mais linda da favela,
que já fiz em minha tela seu olhar de Cinderela.
Com ciúmes foi aquela que o sapato atirou em minha
costela.
E acertou, viu!
Falando assim
- “Larga essa cachaça, seu safado”!
Minha dama da favela
pediu para largar “ela”, a donzela, a mais gostosa, Gabriela.
Mas eu não!
-“Se largar a Gabriela, trocar-te-ei por uma dama bem
singela”.
E Rafaela sentiu-se ameaçada!
Parou de bater panela.
Aceitou a Gabriela, a cachaça mais gostosa.
E disse
-“Traga-me uma de siriguela, já que a sua é de cravo e
canela!
Prefiro perder-te pro álcool do que pra todas ´elas´, de todas
as zonas da favela”.
E ambos embriagaram-se
E amaram-se
Roberto Dalmo
4 7
2002 noites sem parar
Isso da aproximadamente 5 anos e 177 dias, sem contar os
bissextos
Morreram de cirrose hepática, sim!
Mas se amaram por bem mais tempo do que Romeu e
Julieta.
Fim
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
4 8
Singela poesia para uma nádega esbelta
Nádegas esbeltas foram construídas com grande destreza
Todas as mais belas se encaixam perfeitamente na geometria
Não Euclidiana.
Descrevem formas sinuosas,
levam boêmios ao delírio desde bem antes da invenção do
carnaval.
Tristes eram os cubistas retratando-as retas
realmente muito pouco desejadas.
A história teria se escrito diferente
se ao invés de serem influenciados pelas máscaras africanas
fossem influenciados pelas quentes negras
que vieram para o Brasil toda sua formosura
Seria o ápice das Belas Artes
se a grande odalisca mudasse o seu ângulo de inclinação
Ingres teria feito muito mais sucesso!
E digo mais,
se seu violino fosse um pandeiro soaria muito mais
harmônico,
muito mais brasileiro!
Seria um samba erudito de batidas sincopadas
Seria a passagem da garota de Ipanema,
e de todas as outras garotas de Ipanema,
vindo do Leblon e indo à Copa,
desfilando,
simplesmente desfilando.
Depois uma leve subida no Arpoador, para alegria geral da
Nação.
Roberto Dalmo
4 9
Ela exibiria a maior beleza da humanidade.
tão bela, que nem Pablo resistiu.
Fugiu de suas formas secas
em apenas quatro traços a eternizou.
E ratificando a máxima Viniciana,
as sem bunda que me perdoem, mas nádegas são
fundamentais.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
5 0
Numa manhã de Primavera
Pulsa
Cálido, pálido, sempre presente.
Árido, válido, vibra latente
Pulsando, pulsante, perto, distante
seus olhos, meus olhos,
amor tão instante
Brincando, levando, marcando, amando.
Pulsa
e
Para
lento, vagarosamente
Para
Digo que é a primavera,
a primazia da paixão.
Ironicamente
Meu coração que pulsava em busca do desabrochar das flores
já cambia entre o pulsar e não pulsar
Para
Na primeira manhã de Primavera
Roberto Dalmo
5 1
Maquinarização
Troco facilmente uma noite pelos bares da cidade
por uma noite a escrever
O curto momento onde o Eu está comigo “mesmo” fingindo
ser outro
Troco toda efemeridade de noites vazias pela profundidade
das palavras
Tortas, calejadas, marcadas de historicidade.
Falar sobre temas já falados como amor, dor, solidão
amizade, ciúme, paixão
Falar sobre a liberdade do homem!
Sobre o pensamento...
Se é que existe outro lugar onde o homem é realmente livre
eu não conheço.
Talvez em um picadeiro anarquista em um palco
esquizofrênico,
mas não.
Não acredito mesmo que a real noção de liberdade
transcenda ao pensamento.
Basta que nós, domados por nós mesmos, libertemo-nos
Basta que nos afastemos de toda a prisão domiciliar existente
afastemo-nos das redes e conexões,
do emaranhado de sinapses,
Afastemo-nos da mecanização do homem.
Para obter, enfim
A liberdade.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
5 2
Temos instantes de escrita, voz,
temos instantes de humanização na humanidade
onde nossa presença se faz realmente presente.
E nesse breve momento
Estamos amarrados.
Correntes de âncora nos prendem ao pé da cama
Incessantemente tentamos cerrar elo por elo
da imensidão estrutural ao invés de apenas cerrar o pé da
cama
madeira envelhecida, quebradiça,
imperceptível.
A impossibilidade se faz e a liberdade foge de nosso ser
antes mesmo de chegar à boca.
Foge e corre como uma criança que não conhece as
maldades do mundo
mas que não aceita doce de estranhos.
Foge rapidamente para onde ela possa se fazer presente
novamente.
Vai para o pensamento de muitos outros,
Amantes calados
poetas
para o pensamento dos solitários.
Foge para o pensamento daqueles que aproveitam o
pensamento
E escorre em uma fluidez muito pouco tensionada
Roberto Dalmo
5 3
Escorre para outros enquanto o homem se faz máquina
E nesse momento incessante
Maquinarização, amarra
Humanização, amante
Um som de ferrovia invade a alma
e nos lembra, novamente
de nossa sofreguidão,
De nossa ânsia por liberdade
Fluida
que escorre por palavras,
armadilhas sociais
silábicas e sedentas e saturadas.
Armadilhas instauradas
Um prego para cada braço e um para os pés
E a contemporaneidade repete de forma sutil o ritual
É o preço por tentar a liberdade em um mundo
onde os pensamentos se transformam em palavras
e as palavras se transformam em um mundo
É o preço de tentar a liberdade em uma palavra
onde o mundo se transforma em palavras
e as palavras se transformam em pensamentos
Espero apenas o dia em que o silêncio marcará a liberdade
Enquanto isso seguimos
Em bares, em noites de escrita
em bons sorrisos, e choros marcantes.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
5 4
dia após dia
com a consciência de nossas amarras, a invisibilidade do pé
da cama
Sempre transformando
homem em máquina, máquina em homem
E com medo do porvir.
Roberto Dalmo
5 5
Dada
No meio do caminho tinha uma palavra
Tinha uma palavra no meio do caminho
A
		N			
					
	A
	 R
						 Q
						U			
		 I
									
		 S
		 M				
			 O
Às vezes ordem produz tanto sentido quanto a desordem
Inevitavelmente complementares
São estabilidade e progresso
Necessidade e vida
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
5 6
Reinventação
Que saudade do Tempo
Desde que paraste
Meu coração busca-te nas singelas batidas desritimadas
Procura pela ordem, localização.
Estou perdido, mas a brisa que vem do mar
traz com ela a respiração ofegante
Minhas pupilas dilatam
E não muito depois
A calmaria açoita todas as ideias
ordenando-as e tornando-as improdutivas
pré-existentes
Nesse instante faltam motivos para escrever
De uma hora pra outra o mundo se tornou cinza
e as loucuras pós modernas tornaram-se a razão
Razão do tempo presente
E tudo
Novamente
Estagnado
O bonito da vida é que ela se reinventa
Como a lua, que em quartos
Constantes e Contrastantes
É iluminada aparentando-se luminosa
Retirando lágrimas das flores
e suspiro dos amantes
Roberto Dalmo
5 7
Malbec
Em Travessia leve, ritmada, sensorial
Travessia travessa transcende.
Transcende o tempo, o espaço
A paixão, o bom gosto
Requinte da boemia imperial
Resplandece.
Em compassos ordenados e sons desconcertantes
Como o da flauta.
Transversal e o doce som da flauta.
O Bandolim em melodias históricas
O retrato de amantes
Rio
De Janeiro a Dezembro
O violão
Em Cinco linhas, uns compassos, sete cordas
Leva-nos a Mil Novecentos e vinte!
Em um rio que
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
5 8
Reinventa, renasce, rejuvenesce
Recria, recanta, recresce, encanta
retrata, relata, remexe, se espanta
corre em água e deságua em Choro
morre e mágoa, deságua em Samba
reina vibrante ao som consoante
retumbante em peito infante
Em presente Rio se faz
vida, fé e paz
luz de vela
luz da lua
luz do Rio
Reinante
Resplandecente
Agora vou tomar um gole desse vinho que está acima!
Ouvirei chorinho e fumarei um bom charuto
Nesse delicioso e nostálgico clima
- Com licença, pois tenho muito a comemorar!
Roberto Dalmo
5 9
Reflexões inadequadas a um ensolarado domingo de
Páscoa
Não, eu nunca li poesia
Eu nunca tive a ânsia de expressar em versos todo o respiro
Muito menos tive a paciência de retratar o mundo
tão sem significado em palavras com menos significado
ainda
A poesia nasce, e nasce
Não sei bem de que
Não sei quem é seu pai, sua mãe
Seus avós
Ela nasce
Talvez ela esteja pré-escrita
Quando meu lápis toca o papel ela já esteja pronta
Pronta pela aleatoriedade que move o mundo
Pronta pela complexidade
Pronta para que o mundo (que acredito que exista)
Possa acreditar-me
Talvez ela nasça pelo medo do esquecimento
Mensageira dos mais nobres sentimentos
Talvez nasça pelo medo da morte
Assim como cinquenta por cento das “coisas” do mundo.
Metapoesia é o pensar racionalmente
Se dizem
Afastem a metafísica, agora todos devemos pensar
racionalmente.
E então
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
6 0
Utilizam-se da metafísica
E num momento seguinte a apagam, e dizem
Ninguém passou por aqui...
Aqui jaz a metafísica e reina o esplendor da lógica.
E digo
Se fazem isso,
permitam-me utilizar da metapoesia antes de ir ao papel
E ainda dizer que a palavra é polissêmica, logo
você irá pensar e pensar para descobrir o meu sentido de
metapoesia
mas nada disso adiantará
No final, muito cansado, irá utilizar o seu sentido e me
julgar.
-louco, burro, despreparado.
Permita-me usar a metapoesia para pensar na morte depois
a jogarei fora
Jogue-a dizendo
apenas de razão se faz um cientista
apenas de sonhos se faz um poeta
E mantenha esse mundo mesquinho
Jogue-a porque não queres ouvir sobre seu medo principal
O mundo dos podres morre de medo de apodrecer
O mundo dos podres (por seu medo de apodrecer)
se veste
Cria-se um Deus, e um Deus cria
Um podre, muitos podres
Imagem e semelhança
E o podre busca a nãopodrização de sua existência
Roberto Dalmo
6 1
Daí indaga-se
-Se Deus é minha imagem semelhança não sou podre.
Logo, o podre cria um não podre (criador) para se
despodrizar
E talvez por isso, tenha um infame medo
O de apodrecer
A criatura cria o criador que o doma e o da sentido
O podre agora passará a ser chamado de homem, para
melhor entendimento
Covarde, indagante, simplesmente homem.
Pela palavra somos modificados na essência,
antes podre hoje homem.
Pelas aparências somos falsificados desde antes, talvez, da
invenção do espelho
Eu estava lá para saber!
Essa fuga da realidade se faz triste
Mas, triste se faz, por ser incompleta
e incompleta por ser triste
Graças à enorme racionalidade do podre, agora chamado de
homem,
e graças à enorme capacidade de dominar tudo que o cerca
menos sua própria existência
a soberania o deu um presente
Talvez irônico, mas um presente
A memória
Sabemos todos os dias da vida que estamos um dia mais
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
6 2
perto de nossa real aparência
Podres
Essa memória que a todo instante nos diz
bom dia, boa tarde, boa noite
Como vai? Um pouco de melancolia?
Seja ela com açúcar ou adoçante?
Ela nos faz ajoelhar para o invisível
Acreditar no sentido não sentido
Tudo isso por uma simples promessa dominatória
ou dominical
A salvação (leia como a despodrização eterna)
Essa memória de efêmeros nos faz buscar a concretude
Nos faz buscar também a inconcretude para nos afastar do
concreto
Nos faz responsável pela vida e pela morte
e nos faz ser
a todo instante diferentes
Nossa efemeridade bate na porta e diz:
-Não esqueça, você é só mais um
Aí fazemos arte
Buscando a diferença
A eternidade
O prazer de brincar na e com a podridão
Rir
Como uma criança que sabe que cairá da escada,
Roberto Dalmo
6 3
mas sobe assim mesmo
só
pela diversão.
Cria-se Arte, e a Arte cria um podre
com algumas cores diferentes, disfarçado de menos podre
É o suficiente
Ficamos felizes e apodrecemos coloridamente em paz
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
6 4
Sinestesia sem tintas... ou o Pássaro de fogo
Cabeças explodem
Temperatura sobe falta a concentração
Choro choro choro
Dor
Cabeças se sacodem
Falta emoção
Paro um segundo e coloco Bach ao fundo
O clima barroco bastará para que o choro pare
para que a cabeça se regenere
e para que a dor se refugie na América central
Sim, eu bebo demais
- Me dê mais uma, por favor!
Com tanta dor não conseguirei pensar.
Parece que o clima barroco não foi o suficiente, a dor arde a
pele
Suo frio.
Acredito que dissonância seja o suficiente para afastar a dor
Talvez Stravinsky.
Sim, STRAVINSKY
STRAVINSKY É A SOLUÇÃO
É preciso que dor se misture
Em notas sobrepostas.
É preciso que a dor se transforme em melodia
Doce, alegre, contagiante e ao mesmo tempo
Desconcertante.
Roberto Dalmo
6 5
É preciso um pouco mais de Stravinsky em nossa vida
E que a condução se faça como um pássaro de fogo.
O pássaro de fogo
Que a vida brote.
Mais STRAVINSKY
MAIS STRAVINSKY
M-A-I-S -- S-T-R-A-V-I-N-S-K-Y
SSSSSSS TTTTTT RRRRR AAAA VVVVV IIIII NNNN .
SKY!!!!!!!!!
(Palmas)
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
6 6
Transitoriedade
A todo instante
Reflita, reflita, reflita!
Superemo-nos
Refletindo que nessa noite descobri que sou poeta
Endeusando pré-socráticos
Enaltecendo a anarquia.
Decretando a morte de Ricardo
Também percebo que não falo de verdades
Devemos nos afastar da busca pela verdade
E nos afastando da busca pela verdade nos tornaremos
verdadeiro
Incoerentemente verdadeiros
Ó vil e frágil Ciência
Iludindo-nos com a falsa liberdade
Com a falsa noção de conhecimento
Eu Não me encaixo.
Simplesmente,
Eu não me encaixo.
Não tentem impor parâmetros, definir grupos
Não tentem fazer com que eu perca a potencialidade de
meus pensamentos
e troque-a por rótulos simplórios.
Talvez a arte permita-me o não encaixe
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
IAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!
Roberto Dalmo
6 7
Agora tudo faz sentido, sim me encaixo!
Me encaixo no pequeno grupo dos que não se encaixam!
Viciado em não ter vícios
Pensando-me e repensando-me
E a busca se faz a todo instante
Inventando-me, reinventando-me
Do animal ao Éter
Todos os dias, todos os segundos
A arte permite-me o não encaixe
Falso não encaixe, mas permite-me
Se perguntam-me se estou ocupado falo que a todo instante
estou ocupado
Se não estou ocupado, ocupo-me estando ocupado em estar
desocupado
Afinal o tempo ocupado cansa-me, e o que seria de mim sem
um tempo de desocupação.
Desocupação necessária para ir do animal ao Éter
Todos os dias, todos os segundos
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
Mas agora que me encaixei no grupo dos sem encaixe me
sinto mais Humano
Não vou do animal ao Éter
Fico demasiadamente no meio termo
Posso até pedir a um historiador que faça meu rótulo
Apague minha complexidade
Faça-me um ser simples, que pode ser descrito em palavras
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
6 8
que serão lidas de forma simples
Faça-me uma reta, caro amigo.
Uma reta que apesar de sua infinitute de pontos é apenas
uma reta
Já posso pedir para um estudioso das grandes Artes apague
meu pensamento
Interpretando minhas ideias com as suas ideias, vivências
Com sua cultura.
Posso pedir que coloque seu óculos embaçado para ler meu
ser e acredite.
PROFUNDAMENTE, ACREDITE
CEGAMENTE, ACREDITE que seus embaçados óculos
conseguem retratar toda complexidade do pensamento
humano
Logo eu que passei a vida nos polos.
De animal ao Éter
Ao encaixar-me no grupo dos sem rótulos
Acreditando-me profundamente neste grupo
Abro-me para receber um rótulo, afinal todos o receberão.
É assim que fazemos, é assim que faremos.
Transformando-me em retas
No ser medíocre (no sentido de médio), ou em palavras
que apesar de seus muitos significados são lidas com o
significado do rotulante
E são somadas, não de forma perfeita e angelical, ao
significado dos curiosos.
Perco minha complexidade para fazer parte da história
Talvez felizes sejam os que não fazem parte dessa falsa
necessidade humana
Roberto Dalmo
6 9
Sim!
Felizes são os apagados
Eles não serão corrompidos por interesses de outros
Eles serão
Para sempre
O nada que se faz tudo por não ser nada
Eles serão eles
Complexos
Realmente polissêmicos.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
7 0
O Voo do Morcego
Sonar. zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop.
Direita...
Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop
esquerda...
Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop
direita, esquerda
Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop
pra cima
Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)
stop
É
Parou de vez!
Uma clareza invisível e uma localização ímpar
Roberto Dalmo
7 1
E nós, possuidores de tantos sentidos
e tanta razão, vivemos sensorialmente desgastados
Inlocalizavelmente refugiados.
Perdidos.
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
7 2
Algumas coisas deveriam ser eternas...
Flores morrem, como morrem todos os nossos sentimentos
Flores nascem, assim como sentimentos novos nascem a
cada dia
Eu não me vejo para o resto da vida com ninguém.
Isso é impossível!
Se o mundo é feito por constantes mudanças porque nós,
simples filhos do mundo, temos que ser os mesmos a cada
dia?
Estáticos
Constantes
Deprimentes
Eu quero uma vida para admirar
Uma vida onde cada nascer do sol seja diferente
e que a lua cheia se faça sol em noites obscuras.
Definitivamente eu não tenho medo de sofrer
Tenho medo é de passar o resto da vida sofrendo por uma
estabilidade forçada
Inexistente e imposta.
Quero
Todos os dias
Mudar a finalidade do meu ser, se é que meu ser algum dia
meu ser teve alguma finalidade.
Se ela existiu foi apenas uma necessidade
Fez-se necessária a débil existência humana.
Roberto Dalmo
7 3
Dias passam e as únicas coisas que me fazem mudar de ideia
são a arte, uma bela nádega,
e seios na medida certa!
Essas belezas da vida deveriam ser eternas e imutáveis.
Quanto a elas não me preocupo
Humanificação e transcendência da irracionalidade racional
na bestialização da carne.
Nesse momento, tomado de um espírito humano e
materialista só posso dizer que a vida é bela
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
7 4
Aborto Artístico
Minha moral foi transformando-se até o ponto que minha
moral permitiu que minha moral se transformasse.
Nesse jogo de coerções internas afirmo que não sou livre.
-Tragam um pouco de metafísica, por favor!
E com açúcar!
Preciso de metafísica em minha vida racional e medíocre.
Caminho sozinho por toda essa tecnologia
Cimento, asfalto, e um delicioso ar sufocante
A perfeita mistura do monóxido de carbono contemporâneo
e o oxigênio mal consumido das lembranças presentes.
Onde estão os fios?
Não há nada mais escuro do que a luz do elevador
Não há nada mais cruel do que cultivar a dor
- Salva de palmas e gritos para consolar-me
Traga-me um ventilador porque após rimas e rezas apenas
um ventilador
poderá enxugar o pranto, a prata, e o ouro de minha face
apaixonada
Ah, sensação latente, intrauterina, calor divino.
Ah, momentos, transformações.
Ah, movimento,
Eterno responsável por tudo.
A pressa presente prescreve premonições.
Perdido em inspirações, transformo a poesia que não nasceu
em um
Aborto Artístico
Roberto Dalmo
7 5
Aparências
Bonito brilho constante no céu marca nosso mundo feito de
aparências.
Ser belo é ser percebido com a grandeza de uma supernova
Ser percebido é deixar nossa marca como humanos ou coisas
- Sei lá?!
Simples aparência que marca o que não somos pelos olhos
dos que são.
Simples aparência que nos significa
Marcas deixadas em um espectro de cores e lembranças em
preto e branco
Somos nós, marcas vivas de algo muitas vezes já inexistentes
Marca travada de nossa humanidade tardia
Somos nós, estrelas!
Somos a marca de nosso brilho retardado à nossa
historicidade
Antologia Poética de um segundo de Inspiração
7 6
Antologia poética de um segundo de inspiração
I ATO
De maneira inexplicável
Cada segundo revela
Em instantes de solidão e silêncio profundo
A voz!
A natureza, o ser, a inspiração
Em cada segundo a alma é domada pela arte, e a arte a
possui.
Simbioticamente.
Empresto meu corpo ao espírito da arte,
(Re)Interpreto o mundo.
Falo de amor, de vida,
Tudo isso, em um milésimo de segundo
A inspiração tocou a alma, chegou ao coração,
Por meio de palavras, cores, sons, sorrisos, beijos, noites
ardentes,
o dia amanhece mais instável.
II ATO
O poeta é o ator das palavras
O “Eu lírico” é o único sujeito que tira a cortina de ferro que
a sociedade impõe.
Valores pré-estabelecidos
Sentimentos que outros sentem por mim...
E você, ainda assim, quer acabar com ele?
Quer que eu revele meu segredo?
Digo que não!
Nunca saberá se é ou não meu pensamento!
Se vivi ou não vivi
Será que foi apenas um sonho?
Uma história que me contaram?
Pensamentos de terceiros?
Nunca saberão!
O grito da criança existiu ou foram meus fantasmas?
Nunca saberão!
Aquele beijo que todos beijam por mim.
Nunca saberão!
O choro na quarta-feira às onze da noite.
Nunca saberão
Poesia é como a vida,
Nunca saberemos!
FIM
Este livro foi composto em Minion Pro pela
Editora Multifoco e impresso em papel pólen 90 g/m².

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Antologia Poética de um Segundo de Inspiração

  • 1. Antologia poética de um segundo de inspiração
  • 2.
  • 3. EDITORA MULTIFOCO Rio de Janeiro, 2012 Antologia poética de um segundo de inspiração R O B E R T O D A L M O
  • 4. EDITORA MULTIFOCO Simmer & Amorim Edição e Comunicação Ltda. Av. Mem de Sá, 126, Lapa Rio de Janeiro - RJ CEP 20230-152 REVISÃO Roberto Dalmo CAPA Roberto Dalmo e Natália Caruso IMAGEM DE CAPA: Jeanne Hebuterne with necklace de Amedeo Modigliani DIAGRAMAÇÃO Natália Caruso Antologia Poética de um segundo de Inspiração DALMO, Roberto 1ª Edição Julho de 2012 ISBN: 978-85-7961-959-5 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização do autor e da Editora Multifoco.
  • 5. Aos filósofos, poetas, pintores, cientistas e boêmios que precederam minhas palavras. Há um pouco de todos aqui. Aos muitos amigos e familiares que pacientemente leram e opinaram em cada detalhe com carinho, e aos muitos amigos que não participaram do processo de elaboração, mas que são importantíssimos por existirem. Aos Filhos da Boemia, grupo muito sabido e muito querido.
  • 6.
  • 7. Roberto Dalmo 7 SUMÁRIO 09_ Cortina 10_ Amadas minhas 11_ Poesia da melhor amiga 12_ Devaneios 13_ Stella 14_ Brasa 15_ Comanda 16_ Bueiro 17_ A mulher perfeita 18_ PARAJEANNE ou... “O Buquê” 20_ Elas 21_ Poema de todas as coisas 22_ A quarta 23_ Arpo a dor 24_ Sob os Arcos 25_ Solidão nº 2 26_ Água sagrada 28_ Clichê 30_ Tempos que até Márquez invejaria 31_ Aroma 33_ Necrófagos 36_ 365 dias 38_ Respiração 39_ Poesia para um samba
  • 8. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 8 40_ Levianarte: poesia, filosofia e declaração de amor 41_ Depressivamente estáticos 43_ O silêncio e as palavras 45_ Dedo mindinho 46_ A pequena história de amor de Rafaela e um qualquer 48_ Singela poesia para uma nádega esbelta 50_ Numa manhã de Primavera 51_ Maquinarização 55_ Dada 56_ Reinventação 57_ Malbec 59_ Reflexões inadequadas a um ensolarado domingo de Páscoa 64_ Sinestesia sem tintas... ou o Pássaro de fogo 66_ Transitoriedade humana 70_ O Voo do Morcego 72_ Algumas coisas deveriam ser eternas... 74_ Aborto Artísico 75_ Aparências 76_ Antologia poética de um segundo de inspiração
  • 9. Roberto Dalmo 9 Cortina Aqui não está a Cortina que esconde a ALMA A manipulação fria da sociedade A oposição do ser A manutenção das aparências A dor de viver Aqui não está o perigo da originalidade As rédeas da moralidade Muito menos as falsas esperanças Aqui não está uma vida não vivida Transparência e sutiliza Para saborear os doces momentos sem a cortina...
  • 10. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 1 0 Amadas minhas Viver apaixonado por três mulheres é possível? Uma possui a doçura, o mel, o charme, o borogodó o quebrado que o capeta depositou sobre as ancas das mais inalcançáveis. Possui o sentimento, o carinho e a ternura, o sorriso e a bravura de viver a nostalgia. A outra... Ah... possui a originalidade, é extrovertida é despojada, uma menina de olhos transparentes e cristalinos mostrando a verdade do meu ser. A terceira é ela mesma... Eu gosto, e sem precisar adjetivar Qual a graça de tanta incerteza? É a cabeça de poeta, que me permite deixar a dúvida Eram elas três, ou as três que eu enxergo em você?
  • 11. Roberto Dalmo 1 1 Poesia da melhor amiga Ahh minha amiga mais querida Cura-me dos sofrimentos Traz a paz Deixa-me com saudade Me faz sofrer Linda toda Deixa-me feliz Traz a tona meus sentimentos Deixa-me feliz A cada instante Deixa-me feliz Hoje e sempre Minha bela Cerveja
  • 12. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 1 2 Devaneios ...Doce loucura é o amor Louco sou homem que vivo para amar Amor louco que faz sofrer Sofrer que me faz chorar Chorar que me faz viver Viver nos faz amar... Um segundo depois Só nos restará pedir um viva à desilusão Um viva e palmas à toda sedimentação que se instaura em nossos sentimentos Deixando-os rochosos Nossa mente a cada dia mais descrente Forte. Transformando-nos todos os dias na podre figura humana que se degrada Por medo de sofrer.
  • 13. Roberto Dalmo 1 3 Stella A cada cerveja um poema que me aproxima de ti A cada tragada um suspiro que me revela a doçura de tu’alma Pensar o momento Pensar a arbitrariedade da existência Pensar e pensar Me faz existir? Pensar e pensar Me faz indagar das belezas inexoráveis do mundo ao seu lado? Pensar me faz atingir a essência A essência poética que apreende o mundo minha e a existência... Pensar, me faz ser. Não porque pensando logo existo, mas porque pensando creio no amor
  • 14. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 1 4 Brasa O amor é como uma brasa que cai em nosso tapete. Em um momento teremos que retirá-la de sua posição estática Qual a melhor forma ? Esperar que a brasa apague ou correr o risco de se queimar machucando os dedos? Haverá momento certo para limpar todo o ambiente? O amor é a dúvida, a incerteza. É a luz e a escuridão O breu no momento de maior reflexão. É a perda da racionalidade Tão intransponível e tão venerada. É a Loucura, Leve e doce loucura que nos leva à(a) vida.
  • 15. Roberto Dalmo 1 5 Comanda Comanda minha vida, mulher amada Abraça-me na relva de sua pureza, na beleza da mais límpida seiva. Perco-me em seus braços! Não é assim? Palmas! Então como é? É terna, efêmera? É a beleza e a doçura da mais cara mulata do cabaré É o preço de uma noite como amantes, sussurrando desejos, declamando poesias... É a minha barba mal feita que carrega um sorriso frívolo É o desejo em seu ventre ardente Como uma piada Faz rir Da prazer Passa Amar é simples Custa apenas alguns réis.
  • 16. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 1 6 Bueiro Cheiro pútrido da libertinagem liberta Momentos de luxúria que ludibriam minutos da existência. Sol de 40° ao meio dia e a necessidade do artista de criar Procurando nos subterrâneos mais profundos a sua próxima criação. Ofuscado pela beleza mais triste de amar uma nova mulher ele entra pela porta dos fundos. Viaja nessa experiência que desde muito cedo o consome Diz - Um doze anos, por favor! E assim Tenta aventurar-se na mais nova e antiga odisseia. A coragem lhe falta. Então ele continua vivendo a genialidade das mais nobres aventuras Continua a sonhar com o dia que não lhe faltará a coragem E enfim encontrará sua maior obra. Talvez não debaixo de um sol de 40° ao meio dia Talvez não sob a podridão da luxúria barata Talvez não sob o bueiro mais pecaminoso da cidade Mas no colo da mulher amada.
  • 17. Roberto Dalmo 1 7 A mulher perfeita A mulher perfeita não precisa de tanto quanto ele já tivera dito Precisa apenas de uma relação simétrica entre os dedos do pé estabelecida a 45º de inclinação Uma leve cor rósea nas bochechas Um pescoço sensual que mostre sua graça e que possa suavemente ser mordido e acariciado Precisa de uma doce felicidade expressa no sorriso E uma amarga tristeza expressa no olhar Precisa ter uma beleza amável e uma destreza de amante francesa. – Não conheço as amantes francesas, mas falam tão bem que não podem estar mentindo. Precisa de um ouro no olhar retratado por Klimt Precisa trazer a art nouveau com sua a simplicidade e complexidade todo o dia em nosso amor Ela deve ter e uma voz encantadora e sussurrar-me sublimes palavras Ela deve me faz suspirar. Ao ser atingido por uma simples gotícula de chuva Deve me faz largar tudo e pensar na existência Ser a caça e o caçador das noites embriagadas Ela precisa ser, e assim sorrir. Dar a felicidade, e mesmo que morra um dia viva e ame.
  • 18. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 1 8 Precisa amar e crer. No fim Ela não precisa de quase nada... A mulher perfeita se faz perfeita no olhar A mulher perfeita é, e isso basta!
  • 19. Roberto Dalmo 1 9 PARAJEANNE... Ou O buquê Eu não conseguiria pintar-te Não conseguiria transpor para uma simples tela todo o brilho presente em teu olhar, Toda a paz de seu sorriso Toda a luz de sua face. Nem se fosse Modigliani! Não conseguiria retratar seu tom de pele enlouquecedor Seu beijo de poesia, seu doce aroma O mais apaixonante de todos os aromas já sentidos. Seria impossível Mesmo dotado das melhores tintas, telas, da mão mais habilidosa, e de dez mil dias ao seu lado! Não consigo, e simplesmente não consigo. Vou guardar-te apenas em meu coração. Faço apenas um buquê, tentando lembrar seu cheiro Por toda minha vida.
  • 20. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 2 0 Elas Todas elas fazem poesia Errantes, audaciosas Brilhantes, formosas Como uma marchinha de carnaval Em poucos segundos todas fazem meu coração pulsar Fortemente pulsar! Despertam-me uma doce nostalgia e arrancam bruscamente um sorriso de meu rosto. A forte batida no peito acelera a respiração e eu digo: -Vamos cantar! Pulamos Unimos nosso suor Atritamos nossas rótulas e passa... Como a gota de orvalho de uma quarta feira de cinzas Voltemos pra vida, pois a boemia é um luxo para os finais de semana!
  • 21. Roberto Dalmo 2 1 Poema de todas as coisas Todos vivem Mas só os poetas tiram versos da mais simples badalada de um antigo relógio. Todos vivem Mas só os poetas enxergam o toque de algodão doce nas carregadas nuvens de um fim de tarde de um dia de calor Todos vivem Mas só os poetas transmutam seus sofrimentos em doces palavras ao invés de se romperem em prantos. Todos bebem a sagrada cerveja gelada do fim de semana Mas só os poetas trazem a cada porre versos de esperança. Todos vivem Mas só os poetas Vivem!
  • 22. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 2 2 A quarta Dalí me olha em mundos imaginários Faz todos meus pêlos do braços ficarem eretos Coração disparado, como no clímax do Bolero de Ravel Como durante a melodia do Trenzinho Caipira Como o mágico momento de encontro das almas no distante espaço de (in)consciência a dois A luz que incide sobre seu brinco me lembra algo... Não, a perfeição não foi criada. Ela é, simplesmente é. Um dia de carnaval, uma manhã de domingo A lembrança mais pura da longínqua e adjacente infância O forte atrito de coxas que se entrelaçam Se unem em frenético ritmo meio frevo, maracatu, candomblé. És tu, a quarta! Talvez a de Cinzas E o sorriso final Nada desperta mais a emoção do que um doce sorriso. A perfeição é!
  • 23. Roberto Dalmo 2 3 Arpo a dor Solidão à tarde Num vivo e ensolarado sábado de carnaval -Estarei mesmo sozinho? Forte brisa bate em minhas costas e o pensamento voa Vai longe Distante Me leva a mundos desconhecidos, talvez esquecidos O som de um trio chama a presença da ausente amada O som do mar invade minh’alma e traz a essência de um dia. Só? Acompanhado de lembranças, Pensamentos, Paixões... Barco que passa seguido de gaivotas e levando peixes e para o mercado E eu, entre a pedra e o mar Lendo meu Neruda e vagando Em pensamentos de águas verdes e calmas Em uma tarde de amante. Amante do que sou, ou do que estou sendo Poeta do instante e de tardes infantes Tudo isso Entre a pedra e o/a mar.
  • 24. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 2 4 Sob os arcos Arcos do amor num sonho de carnaval Ao som das mais antigas marchinhas O poeta renasce Escreve momentos Leves e breves Trazem à luz do meu dia Uma mistura verdadeiramente brasileira Cachaça e fumo! Te encontrei Meus olhos brilharam ao anoitecer Sigo e penso em ti. Em nossos momentos ao lado de bons amigos Vivo o mais límpido e sincero Aquele que faz do dia minha noite e da noite ouro reluzente. Sou feliz E sei
  • 25. Roberto Dalmo 2 5 Solidão nº 2 E mais uma vez a solidão A volta pra casa é a angustia do momento final Agonia e dor Num dia, a luz de uma criança brincando Noutrora a explosão que devasta corações e o enche de mágoas. Um misto de agonia e êxtase que vai sutilmente preenchendo o vazio com lembranças de uma vida vivida de verdade! Caminhamos nessa incansável bateria Pierrôs passando, procurando por sua Colombina, Palhaços brincando E o rei cobrindo de brilho e alegria o comando do carnaval E as pessoas? Elas apenas passam Em um momento de tristeza e alegria Agonia e êxtase.
  • 26. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 2 6 Água sagrada Talvez eu não quisesse sair desse limbo Talvez tudo que precisasse fosse um dia na escuridão. Músculos imóveis, pensamento fraco Rotações tão baixas que quase param no tempo Faz minha alma se transportar para outros mundos Surrealistas? Imaginários? Não importa! Por outro lado, talvez eu realmente necessitasse do breve segundo Do cheiro de marisco queimado invadindo meu olfato. Mesmo assim queria a vida estática dos piores vagabundos Os que não vivem, não produzem, não pensam e não são! Só por um dia! Quando nem isso for possível Hei de me contentar com apenas algumas horas dessa desejada vida pífia Em seguida Viver Para poder expressar em arte a felicidade Caminhar a beira-mar Sentir o vento O tão incomodo cheio de marisco Ver as belas e importantíssimas nádegas das garotas que passam e sorrir! sentido-me vivo. Com o coração vibrante
  • 27. Roberto Dalmo 2 7 Sorrir e pensar Vale a pena
  • 28. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 2 8 Clichê Sim, o brilho do sol foi depositado no seu olhar. Clichê? – realmente, há anos todos falam dos brilhos das estrelas! Mas o sol não é qualquer estrela! Sem ele não haveria vida, nem noite nem dia. Impossível é que a cegueira não tome conta do meu ser. Ficar fronte a ti, encarar-te, olho no olho, sem óculos escuros e muito menos filtro solar. Tudo isso é viver o segundo que antecede a total perda de racionalidade. Cegueira dada pelas trevas do pensamento. Logo após, breves instantes de luz intensa. E tudo isso no seu olhar. Paixão em poucas palavras, algumas doces, simples e sutis, outras nem tanto... e um olhar amante, brilhante, muito brilhante, ofuscante! A paixão e o amor de centenas de anos concebidos em uns instante, e o riso histérico e sem motivo nenhum toma conta de todo o ambiente. Surgem o medo da ausência, e devaneios! Tudo isso porque o amor é o andar sobre as nuvens para morder a lua
  • 29. Roberto Dalmo 2 9 e ainda esperar que ofereçam goiabada. é a chuva num dia quente de verão, e ao olhar pro alto ver o arco-íris. Ainda assim esperar que ofereçam o pote de ouro. E em nano segundos, a cegueira do olhar há de curar toda a racionalidade de um beijo seu.
  • 30. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 3 0 Tempos que até Márquez invejaria Ela é meu amor nos tempos de cólera Relação inabalável e inigualável Paixão Ela é fogo presente em meu peito Ardendo e curando feridas como os querubins, serafins, e muitos ins que cuidam do nosso frágil coração. Ela é a corda bamba e o exercício de constante equilíbrio. A discórdia no momento da fala O caos no momento da criação. Essencial, solene, esplendorosa! É a brisa, o mar, a lua, o ar, olhar, e tudo isso na intocável pele de mulher. Sedosa como a pétala de rosa, macia como a pluma dos mais seletos gansos da linha de produção de travesseiros para a mais alta nobreza. E tudo isso longe de mim! E em tempos de cólera que até Garcia Márquez ficaria pasmo. Espero que dure apenas alguns dias Quem sabe algumas horas? Para que possa em um tempo muito breve Afogar-me em seus lábios macios e úmidos E morrer de paixão
  • 31. Roberto Dalmo 3 1 Aroma Corre corre! Veja só! A chuva está chegando e com ela vem um turbilhão de sentimentos Dor, amor, solidão, amizade, e muitos outros. Sendo sentimentos ou não, quando a chuva chega, eles se tornam. Tornam-se pensamento ao olhar pela janela e ter a lembrança nostálgica. Acho que sempre que olhamos pela chuva na janela nos lembramos de nossos nove anos. Ao sentir aquele doce aroma de terra molhada Queremos pular, brincar, cantar... Mas nada isso é possível Somos adultos Em um escritório O cheiro de terra molhada se mistura intensamente Aroma de papel e tinta de impressoras, café A leve música que soava nos ouvidos acompanhando o cair constante da chuva tornou-se gritos A doçura da criança tornou-se a distante lembrança. Talvez por isso a cada chuva a esperança volte. Um dia serei criança, novamente e brincarei com a terra até que por ela digerido serei. E serei
  • 32. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 3 2 parte o sonho de muitas outras pessoas. Ao ver a chuva, e sentir o doce aroma de terra molhada, terra que farei parte.
  • 33. Roberto Dalmo 3 3 Necrófagos E nós, seres humanos, dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor fomos feitos para amar. Quem diria, a grande ironia que seria o dia, aquele que corria esbaldando-se em uma vida vadia e em um breve instante deleitar-se-ia da mais gostosa agonia. A paixão! O primeiro amor é o desespero O mais puro anseio do coração Pulsante no peito e brilhante em olhos de diamante com dureza de Talco. Tão superiores, nós humanos. Tão vulneráveis. O segundo amor, talvez já tenha um brilho de ouro Pode ser como a marcela, que amou aquele nosso colega por alguns contos de réis, ou muitas outras “ela”s que transcenderão os quinze meses, mas não acredito que irão transcender aos contos de réis. E tudo termina, novamente O terceiro amor, quarto amor, quinto amor, tudo se renova.
  • 34. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 3 4 No final estamos nós. Simples assim, vulneráveis assim. Quem diria, nós humanos, dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor teríamos nossos orgulhos e nossos fracassos em algo que nem tocado é. Quem diria, caro amigo, gozamos por conquistar o mundo, mas não domamos nem mesmo nossos sentimentos Somos vulneráveis! A comédia dos sentimentos inicia-se pela não compreensão, pela necessidade do consolo irmão e pelo pedido, e por muitos poemas ao longo de muitos anos que utilizam-se de “ao” para rimar com coração. Que devaneio romântico é apaixonar-se por algumas palavras! Sim, acontece. Somos vulneráveis! Dias e noites e as palavras envolvem o coração, já não dominávamos nossos sentimentos, agora dominamos muito menos. As palavras chegam, nos arrancam sorrisos, os transmutam em lágrimas, e nos da a sensação de ter vivido. Muito, e além! Em momento seguinte não há paixão, não há amor. sofrimento e dor, ingratidão e talvez um pouco de compaixão.
  • 35. Roberto Dalmo 3 5 Às vezes nem isso. Sofrimento e dor, e pronto! Somos vulneráveis! Mas há de chegar o dia em que dominaremos nossos sentimentos em uma racionalidade ímpar. Nesse dia talvez falte ar, talvez o sangue não corra, talvez os pequenos e desprezados seres decompositores estejam lá e vejam, o dia que os seres superiores dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor estarão dominando seus sentimento! E de camarote eles presenciarão tal momento enquanto deliciam-se com nossos restos mortais! Tudo isso porque somos vulneráveis!
  • 36. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 3 6 365 dias Existe sensação melhor no mundo? Estar apaixonado é melhor do que amar! Estar apaixonado é deixar o coração pulsar mais forte As pupilas dilatarem Sem esquecer do importantíssimo sorriso Para mostrar que você está realmente apaixonado é preciso sorrir. Sorrir para todos e todas Mas muito cuidado! Sorrir para todas é perigoso, pode despertar a irá da mulher amada. Ciuminho bobo de amante A paixão é o cálice de vinho do tempo presente e o devaneio latente. Racionalidade de embrião Digo mesmo que é bom! Queria eu me apaixonar 365 dias por ano e 366 em anos bissextos. Entregar-me, viver Não deixar que o medo tome conta Queria eu, que dentre esses 365 dias e 366 em anos bissextos, houvesse um dia para o amor. Provavelmente seria 1º de abril. Mas se não encontrar, que venham os próximos 365 dias e 366 em anos bissextos. A paixão é o amor de um instante Contada por um navegante
  • 37. Roberto Dalmo 3 7 Marinheiro destemido que viaja os sete mares em busca de terra firme. Vaguemos pela infinitude dos oceanos!
  • 38. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 3 8 Respiração Amor amante, tão perto e distante Em tragos e trovas tramo Nosso momento adiante. Trancado, trancafiado, em transe. tramo. Viajando e transitando, pelo instante em que se torna impossível qualquer movimento. ... Respiração profunda, peito acelerado, sensoriedade, sensibilidade. O despertador toca Ainda imóvel continuo. ... Aos poucos... Sinto meu peito desacelerando, pelos, e a respiração voltando ao normal músculos descontraindo, levemente... A doce capacidade de admirar tão breve momento com olhos de eternidade. Apreciar o êxtase não é para qualquer um, mas olhos de poeta bastam.
  • 39. Roberto Dalmo 3 9 Poesia para um samba Não há nada mais democrático do que o samba! O negro, o branco, o rico o pobre. Recital de versos ritmados A gênese da sinfonia do morro Do povo, da nossa gente! Invade a alma e mexe com o ser E logo, tomado pelo espírito do bom malandro O corpo desfruta da beleza que é o samba. O samba é amor em melodia a paixão em harmonia um batuque em alegria. Alegria de povo sofrido e cheio de esperança exaltado em notas acordes e fé muito batuque, gira e axé. Terreiro da paixão, que no conforto do coração faz transparecer toda emoção! Saudando a cultura negra que mostra o dom que o samba tem, Trazer felicidade onde mora agonia, fazer chorar de nostalgia E lembrar que pra viver é preciso só alegria!
  • 40. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 4 0 Levianarte: poesia, filosofia e declaração de amor. Levianarteleviana Repita diversas vezes, deixe o som invadir seu corpo e me diga Seria mesmo a vida uma incoerência? Quem estabeleceu o que é coerência para que possamos classificar A vida Logo ela Tão... Tudo. Achou banal? pense outra palavra que expresse melhor a vida. Sem a vida não haveria homem que não haveria pensamento que não haveria reflexão que não haveria coerência. Então, logo existo e, porque existo penso ou vice versa. O homem fez a coerência, logo ele, imperfeito que só, estabelece alguns padrões e fala -Isso é coerente! -Isso não é! A vida realmente é uma incoerência na sua coerência humana. Talvez seja uma incoerência porque algum dia tentaram achar uma coerência. Inexistente, porque a exceção é a coerência. Sorte que tenho meus amigos Com eles posso afogar as mágoas de tanta razão Em um mundo que só precisa um pouco mais de sentimentos.
  • 41. Roberto Dalmo 4 1 Depressivamente estáticos Sem as mulheres nós não nasceríamos Muito menos seríamos. Mas, se por alguma aleatoriedade do destino, ainda houvesse vida não haveria o doce aroma das rosas o canto dos pássaros não ecoaria E o dia passaria mais rápido porque o sol não teria pra quem olhar. Sem as mulheres não haveria arte E se houvesse - Meu Deus! Não teria 1/3 da beleza. Os quadros não trariam paixão Porque a paixão, dessa forma, não seria reconhecida. Seria apenas um “gostar muito” No meio de tantas cores e formas não estaria aquele olhar penetrante. Seria apenas um pequeno brilho nos olhos Nada demais. Sem as mulheres não haveria música, e se houvesse, seria chata falando apenas de natureza, quem sabe de algumas divindades só! Nunca chegariam na essência Sem as mulheres faltariam razões para viver. Faltaria o ímpeto para descobrir a essência se é que existe a
  • 42. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 4 2 essência. Sem elas seriamos um barco vagando na infinitude do oceano Sem destino e sem paz. Inevitável amar e adorar criatura tão divina -Algumas nem tanto, realmente. Sem as mulheres não haveria poesia. Que mundo triste esse, sem uma bela razão para escrever? A rima só seria dissabor E o verso, coitado. Não seria amor, nem desamor, humor, fulgor, e muito menos calor. Esse que deveria ser definido como Fluido exalante do peito das mulheres, com a capacidade de invadir o coração alheio e contagiar. Instantaneamente. O verso seria como a pálida folha do outono. Porque sem as mulheres, não haveria primavera. Não haveria o doce e o amargo, o ser nem o não ser. Não haveria mais nem menos. Não haveria o devir. Seriamos todos depressivamente estáticos
  • 43. Roberto Dalmo 4 3 O silêncio e as palavras A maldição do egocentrismo é o prazer da solidão. Momentos em silêncio fazem com que a existência seja curada. Doente é a humanidade comunicativa e ambiciosa Acredita realmente num progresso barato. Comprado no botequim da esquina pra acompanhar a cerveja da sexta. É necessário que chamem o curativo, por mais estranho que possa parecer. Necessário mas praticamente inalcançável. É ele sim, o silêncio. Quem diria que ao falar simples palavras um jogo de poder começa a ser traçado. Questões ditas vão além do quem, por que, onde, e pra quem disse. Fortes debates me instigam a pensar nos simples momentos de solidão. De repente uma vontade me doma O jogo começa, tento falar Brevemente sinto que algo inibe a palavra. Será que a poesia poderá fazer com que esse jogo se dilua? Tudo isso poderia acabar ou nunca ter começado? Bastaria simplesmente a solidão tomar meu peito o silêncio gozar minh´alma E imediatamente as palavras morreriam. Todas, absolutamente todas.
  • 44. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 4 4 Trazendo o querido silêncio Reduzindo a hipocrisia Quem disse que eu consigo? Comunico-me pra viver, e vivo por me comunicar Diria mais e além O silêncio é tão o oposto da vida quanto a morte O silêncio faz com que a mais bela flor de um jardim de primavera murche E nós, simples aprendizes Jogamos o jogo Dominamos as palavras Transformamos tudo em arte. A arte cala o silêncio e dá sentido ao ser Viva esse mundo mesquinhamente comunicativo.
  • 45. Roberto Dalmo 4 5 Dedo mindinho Hoje me peguei pensando em você. Provavelmente estava no meio de bilhões de pensamentos Digo que só me dei conta porque tomado por tamanha distração fui surpreendido por uma forte dor de batida. Meu pé tinha acabado de travar uma batalha sangrenta Dedo mindinho versus pé da cama. Não preciso dizer quem ganhou. O que importa é que a dor me fez lembrar. Distraidamente pensava em ti Não com pensamentos megalomaníacos e muito menos com devaneios românticos Mas com um carinho que toma o peito e invade a alma Amor maior é aquele que não se perpetua E está sempre na segura distância que o torna eterno. O devir transforma-se na inalterável e sólida certeza É a inconstância, a loucura e a clareza, É a dor do não viver Muito maior do que a topada no pé da cama.
  • 46. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 4 6 A pequena história de amor de Rafaela e um qualquer É ela Gabriela, de todas a mais bela saborosa e donzela, que me tira da capela enganando o sentinela e me leva a uma ruela trocando-me em passos Eis que estava Rafaela, a mais linda da favela, que já fiz em minha tela seu olhar de Cinderela. Com ciúmes foi aquela que o sapato atirou em minha costela. E acertou, viu! Falando assim - “Larga essa cachaça, seu safado”! Minha dama da favela pediu para largar “ela”, a donzela, a mais gostosa, Gabriela. Mas eu não! -“Se largar a Gabriela, trocar-te-ei por uma dama bem singela”. E Rafaela sentiu-se ameaçada! Parou de bater panela. Aceitou a Gabriela, a cachaça mais gostosa. E disse -“Traga-me uma de siriguela, já que a sua é de cravo e canela! Prefiro perder-te pro álcool do que pra todas ´elas´, de todas as zonas da favela”. E ambos embriagaram-se E amaram-se
  • 47. Roberto Dalmo 4 7 2002 noites sem parar Isso da aproximadamente 5 anos e 177 dias, sem contar os bissextos Morreram de cirrose hepática, sim! Mas se amaram por bem mais tempo do que Romeu e Julieta. Fim
  • 48. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 4 8 Singela poesia para uma nádega esbelta Nádegas esbeltas foram construídas com grande destreza Todas as mais belas se encaixam perfeitamente na geometria Não Euclidiana. Descrevem formas sinuosas, levam boêmios ao delírio desde bem antes da invenção do carnaval. Tristes eram os cubistas retratando-as retas realmente muito pouco desejadas. A história teria se escrito diferente se ao invés de serem influenciados pelas máscaras africanas fossem influenciados pelas quentes negras que vieram para o Brasil toda sua formosura Seria o ápice das Belas Artes se a grande odalisca mudasse o seu ângulo de inclinação Ingres teria feito muito mais sucesso! E digo mais, se seu violino fosse um pandeiro soaria muito mais harmônico, muito mais brasileiro! Seria um samba erudito de batidas sincopadas Seria a passagem da garota de Ipanema, e de todas as outras garotas de Ipanema, vindo do Leblon e indo à Copa, desfilando, simplesmente desfilando. Depois uma leve subida no Arpoador, para alegria geral da Nação.
  • 49. Roberto Dalmo 4 9 Ela exibiria a maior beleza da humanidade. tão bela, que nem Pablo resistiu. Fugiu de suas formas secas em apenas quatro traços a eternizou. E ratificando a máxima Viniciana, as sem bunda que me perdoem, mas nádegas são fundamentais.
  • 50. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 5 0 Numa manhã de Primavera Pulsa Cálido, pálido, sempre presente. Árido, válido, vibra latente Pulsando, pulsante, perto, distante seus olhos, meus olhos, amor tão instante Brincando, levando, marcando, amando. Pulsa e Para lento, vagarosamente Para Digo que é a primavera, a primazia da paixão. Ironicamente Meu coração que pulsava em busca do desabrochar das flores já cambia entre o pulsar e não pulsar Para Na primeira manhã de Primavera
  • 51. Roberto Dalmo 5 1 Maquinarização Troco facilmente uma noite pelos bares da cidade por uma noite a escrever O curto momento onde o Eu está comigo “mesmo” fingindo ser outro Troco toda efemeridade de noites vazias pela profundidade das palavras Tortas, calejadas, marcadas de historicidade. Falar sobre temas já falados como amor, dor, solidão amizade, ciúme, paixão Falar sobre a liberdade do homem! Sobre o pensamento... Se é que existe outro lugar onde o homem é realmente livre eu não conheço. Talvez em um picadeiro anarquista em um palco esquizofrênico, mas não. Não acredito mesmo que a real noção de liberdade transcenda ao pensamento. Basta que nós, domados por nós mesmos, libertemo-nos Basta que nos afastemos de toda a prisão domiciliar existente afastemo-nos das redes e conexões, do emaranhado de sinapses, Afastemo-nos da mecanização do homem. Para obter, enfim A liberdade.
  • 52. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 5 2 Temos instantes de escrita, voz, temos instantes de humanização na humanidade onde nossa presença se faz realmente presente. E nesse breve momento Estamos amarrados. Correntes de âncora nos prendem ao pé da cama Incessantemente tentamos cerrar elo por elo da imensidão estrutural ao invés de apenas cerrar o pé da cama madeira envelhecida, quebradiça, imperceptível. A impossibilidade se faz e a liberdade foge de nosso ser antes mesmo de chegar à boca. Foge e corre como uma criança que não conhece as maldades do mundo mas que não aceita doce de estranhos. Foge rapidamente para onde ela possa se fazer presente novamente. Vai para o pensamento de muitos outros, Amantes calados poetas para o pensamento dos solitários. Foge para o pensamento daqueles que aproveitam o pensamento E escorre em uma fluidez muito pouco tensionada
  • 53. Roberto Dalmo 5 3 Escorre para outros enquanto o homem se faz máquina E nesse momento incessante Maquinarização, amarra Humanização, amante Um som de ferrovia invade a alma e nos lembra, novamente de nossa sofreguidão, De nossa ânsia por liberdade Fluida que escorre por palavras, armadilhas sociais silábicas e sedentas e saturadas. Armadilhas instauradas Um prego para cada braço e um para os pés E a contemporaneidade repete de forma sutil o ritual É o preço por tentar a liberdade em um mundo onde os pensamentos se transformam em palavras e as palavras se transformam em um mundo É o preço de tentar a liberdade em uma palavra onde o mundo se transforma em palavras e as palavras se transformam em pensamentos Espero apenas o dia em que o silêncio marcará a liberdade Enquanto isso seguimos Em bares, em noites de escrita em bons sorrisos, e choros marcantes.
  • 54. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 5 4 dia após dia com a consciência de nossas amarras, a invisibilidade do pé da cama Sempre transformando homem em máquina, máquina em homem E com medo do porvir.
  • 55. Roberto Dalmo 5 5 Dada No meio do caminho tinha uma palavra Tinha uma palavra no meio do caminho A N A R Q U I S M O Às vezes ordem produz tanto sentido quanto a desordem Inevitavelmente complementares São estabilidade e progresso Necessidade e vida
  • 56. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 5 6 Reinventação Que saudade do Tempo Desde que paraste Meu coração busca-te nas singelas batidas desritimadas Procura pela ordem, localização. Estou perdido, mas a brisa que vem do mar traz com ela a respiração ofegante Minhas pupilas dilatam E não muito depois A calmaria açoita todas as ideias ordenando-as e tornando-as improdutivas pré-existentes Nesse instante faltam motivos para escrever De uma hora pra outra o mundo se tornou cinza e as loucuras pós modernas tornaram-se a razão Razão do tempo presente E tudo Novamente Estagnado O bonito da vida é que ela se reinventa Como a lua, que em quartos Constantes e Contrastantes É iluminada aparentando-se luminosa Retirando lágrimas das flores e suspiro dos amantes
  • 57. Roberto Dalmo 5 7 Malbec Em Travessia leve, ritmada, sensorial Travessia travessa transcende. Transcende o tempo, o espaço A paixão, o bom gosto Requinte da boemia imperial Resplandece. Em compassos ordenados e sons desconcertantes Como o da flauta. Transversal e o doce som da flauta. O Bandolim em melodias históricas O retrato de amantes Rio De Janeiro a Dezembro O violão Em Cinco linhas, uns compassos, sete cordas Leva-nos a Mil Novecentos e vinte! Em um rio que
  • 58. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 5 8 Reinventa, renasce, rejuvenesce Recria, recanta, recresce, encanta retrata, relata, remexe, se espanta corre em água e deságua em Choro morre e mágoa, deságua em Samba reina vibrante ao som consoante retumbante em peito infante Em presente Rio se faz vida, fé e paz luz de vela luz da lua luz do Rio Reinante Resplandecente Agora vou tomar um gole desse vinho que está acima! Ouvirei chorinho e fumarei um bom charuto Nesse delicioso e nostálgico clima - Com licença, pois tenho muito a comemorar!
  • 59. Roberto Dalmo 5 9 Reflexões inadequadas a um ensolarado domingo de Páscoa Não, eu nunca li poesia Eu nunca tive a ânsia de expressar em versos todo o respiro Muito menos tive a paciência de retratar o mundo tão sem significado em palavras com menos significado ainda A poesia nasce, e nasce Não sei bem de que Não sei quem é seu pai, sua mãe Seus avós Ela nasce Talvez ela esteja pré-escrita Quando meu lápis toca o papel ela já esteja pronta Pronta pela aleatoriedade que move o mundo Pronta pela complexidade Pronta para que o mundo (que acredito que exista) Possa acreditar-me Talvez ela nasça pelo medo do esquecimento Mensageira dos mais nobres sentimentos Talvez nasça pelo medo da morte Assim como cinquenta por cento das “coisas” do mundo. Metapoesia é o pensar racionalmente Se dizem Afastem a metafísica, agora todos devemos pensar racionalmente. E então
  • 60. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 6 0 Utilizam-se da metafísica E num momento seguinte a apagam, e dizem Ninguém passou por aqui... Aqui jaz a metafísica e reina o esplendor da lógica. E digo Se fazem isso, permitam-me utilizar da metapoesia antes de ir ao papel E ainda dizer que a palavra é polissêmica, logo você irá pensar e pensar para descobrir o meu sentido de metapoesia mas nada disso adiantará No final, muito cansado, irá utilizar o seu sentido e me julgar. -louco, burro, despreparado. Permita-me usar a metapoesia para pensar na morte depois a jogarei fora Jogue-a dizendo apenas de razão se faz um cientista apenas de sonhos se faz um poeta E mantenha esse mundo mesquinho Jogue-a porque não queres ouvir sobre seu medo principal O mundo dos podres morre de medo de apodrecer O mundo dos podres (por seu medo de apodrecer) se veste Cria-se um Deus, e um Deus cria Um podre, muitos podres Imagem e semelhança E o podre busca a nãopodrização de sua existência
  • 61. Roberto Dalmo 6 1 Daí indaga-se -Se Deus é minha imagem semelhança não sou podre. Logo, o podre cria um não podre (criador) para se despodrizar E talvez por isso, tenha um infame medo O de apodrecer A criatura cria o criador que o doma e o da sentido O podre agora passará a ser chamado de homem, para melhor entendimento Covarde, indagante, simplesmente homem. Pela palavra somos modificados na essência, antes podre hoje homem. Pelas aparências somos falsificados desde antes, talvez, da invenção do espelho Eu estava lá para saber! Essa fuga da realidade se faz triste Mas, triste se faz, por ser incompleta e incompleta por ser triste Graças à enorme racionalidade do podre, agora chamado de homem, e graças à enorme capacidade de dominar tudo que o cerca menos sua própria existência a soberania o deu um presente Talvez irônico, mas um presente A memória Sabemos todos os dias da vida que estamos um dia mais
  • 62. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 6 2 perto de nossa real aparência Podres Essa memória que a todo instante nos diz bom dia, boa tarde, boa noite Como vai? Um pouco de melancolia? Seja ela com açúcar ou adoçante? Ela nos faz ajoelhar para o invisível Acreditar no sentido não sentido Tudo isso por uma simples promessa dominatória ou dominical A salvação (leia como a despodrização eterna) Essa memória de efêmeros nos faz buscar a concretude Nos faz buscar também a inconcretude para nos afastar do concreto Nos faz responsável pela vida e pela morte e nos faz ser a todo instante diferentes Nossa efemeridade bate na porta e diz: -Não esqueça, você é só mais um Aí fazemos arte Buscando a diferença A eternidade O prazer de brincar na e com a podridão Rir Como uma criança que sabe que cairá da escada,
  • 63. Roberto Dalmo 6 3 mas sobe assim mesmo só pela diversão. Cria-se Arte, e a Arte cria um podre com algumas cores diferentes, disfarçado de menos podre É o suficiente Ficamos felizes e apodrecemos coloridamente em paz
  • 64. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 6 4 Sinestesia sem tintas... ou o Pássaro de fogo Cabeças explodem Temperatura sobe falta a concentração Choro choro choro Dor Cabeças se sacodem Falta emoção Paro um segundo e coloco Bach ao fundo O clima barroco bastará para que o choro pare para que a cabeça se regenere e para que a dor se refugie na América central Sim, eu bebo demais - Me dê mais uma, por favor! Com tanta dor não conseguirei pensar. Parece que o clima barroco não foi o suficiente, a dor arde a pele Suo frio. Acredito que dissonância seja o suficiente para afastar a dor Talvez Stravinsky. Sim, STRAVINSKY STRAVINSKY É A SOLUÇÃO É preciso que dor se misture Em notas sobrepostas. É preciso que a dor se transforme em melodia Doce, alegre, contagiante e ao mesmo tempo Desconcertante.
  • 65. Roberto Dalmo 6 5 É preciso um pouco mais de Stravinsky em nossa vida E que a condução se faça como um pássaro de fogo. O pássaro de fogo Que a vida brote. Mais STRAVINSKY MAIS STRAVINSKY M-A-I-S -- S-T-R-A-V-I-N-S-K-Y SSSSSSS TTTTTT RRRRR AAAA VVVVV IIIII NNNN . SKY!!!!!!!!! (Palmas)
  • 66. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 6 6 Transitoriedade A todo instante Reflita, reflita, reflita! Superemo-nos Refletindo que nessa noite descobri que sou poeta Endeusando pré-socráticos Enaltecendo a anarquia. Decretando a morte de Ricardo Também percebo que não falo de verdades Devemos nos afastar da busca pela verdade E nos afastando da busca pela verdade nos tornaremos verdadeiro Incoerentemente verdadeiros Ó vil e frágil Ciência Iludindo-nos com a falsa liberdade Com a falsa noção de conhecimento Eu Não me encaixo. Simplesmente, Eu não me encaixo. Não tentem impor parâmetros, definir grupos Não tentem fazer com que eu perca a potencialidade de meus pensamentos e troque-a por rótulos simplórios. Talvez a arte permita-me o não encaixe AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH IAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!
  • 67. Roberto Dalmo 6 7 Agora tudo faz sentido, sim me encaixo! Me encaixo no pequeno grupo dos que não se encaixam! Viciado em não ter vícios Pensando-me e repensando-me E a busca se faz a todo instante Inventando-me, reinventando-me Do animal ao Éter Todos os dias, todos os segundos A arte permite-me o não encaixe Falso não encaixe, mas permite-me Se perguntam-me se estou ocupado falo que a todo instante estou ocupado Se não estou ocupado, ocupo-me estando ocupado em estar desocupado Afinal o tempo ocupado cansa-me, e o que seria de mim sem um tempo de desocupação. Desocupação necessária para ir do animal ao Éter Todos os dias, todos os segundos AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH Mas agora que me encaixei no grupo dos sem encaixe me sinto mais Humano Não vou do animal ao Éter Fico demasiadamente no meio termo Posso até pedir a um historiador que faça meu rótulo Apague minha complexidade Faça-me um ser simples, que pode ser descrito em palavras
  • 68. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 6 8 que serão lidas de forma simples Faça-me uma reta, caro amigo. Uma reta que apesar de sua infinitute de pontos é apenas uma reta Já posso pedir para um estudioso das grandes Artes apague meu pensamento Interpretando minhas ideias com as suas ideias, vivências Com sua cultura. Posso pedir que coloque seu óculos embaçado para ler meu ser e acredite. PROFUNDAMENTE, ACREDITE CEGAMENTE, ACREDITE que seus embaçados óculos conseguem retratar toda complexidade do pensamento humano Logo eu que passei a vida nos polos. De animal ao Éter Ao encaixar-me no grupo dos sem rótulos Acreditando-me profundamente neste grupo Abro-me para receber um rótulo, afinal todos o receberão. É assim que fazemos, é assim que faremos. Transformando-me em retas No ser medíocre (no sentido de médio), ou em palavras que apesar de seus muitos significados são lidas com o significado do rotulante E são somadas, não de forma perfeita e angelical, ao significado dos curiosos. Perco minha complexidade para fazer parte da história Talvez felizes sejam os que não fazem parte dessa falsa necessidade humana
  • 69. Roberto Dalmo 6 9 Sim! Felizes são os apagados Eles não serão corrompidos por interesses de outros Eles serão Para sempre O nada que se faz tudo por não ser nada Eles serão eles Complexos Realmente polissêmicos.
  • 70. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 7 0 O Voo do Morcego Sonar. zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete) mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop. Direita... Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete) mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop esquerda... Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete) mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop direita, esquerda Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete) mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop pra cima Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete) stop É Parou de vez! Uma clareza invisível e uma localização ímpar
  • 71. Roberto Dalmo 7 1 E nós, possuidores de tantos sentidos e tanta razão, vivemos sensorialmente desgastados Inlocalizavelmente refugiados. Perdidos.
  • 72. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 7 2 Algumas coisas deveriam ser eternas... Flores morrem, como morrem todos os nossos sentimentos Flores nascem, assim como sentimentos novos nascem a cada dia Eu não me vejo para o resto da vida com ninguém. Isso é impossível! Se o mundo é feito por constantes mudanças porque nós, simples filhos do mundo, temos que ser os mesmos a cada dia? Estáticos Constantes Deprimentes Eu quero uma vida para admirar Uma vida onde cada nascer do sol seja diferente e que a lua cheia se faça sol em noites obscuras. Definitivamente eu não tenho medo de sofrer Tenho medo é de passar o resto da vida sofrendo por uma estabilidade forçada Inexistente e imposta. Quero Todos os dias Mudar a finalidade do meu ser, se é que meu ser algum dia meu ser teve alguma finalidade. Se ela existiu foi apenas uma necessidade Fez-se necessária a débil existência humana.
  • 73. Roberto Dalmo 7 3 Dias passam e as únicas coisas que me fazem mudar de ideia são a arte, uma bela nádega, e seios na medida certa! Essas belezas da vida deveriam ser eternas e imutáveis. Quanto a elas não me preocupo Humanificação e transcendência da irracionalidade racional na bestialização da carne. Nesse momento, tomado de um espírito humano e materialista só posso dizer que a vida é bela
  • 74. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 7 4 Aborto Artístico Minha moral foi transformando-se até o ponto que minha moral permitiu que minha moral se transformasse. Nesse jogo de coerções internas afirmo que não sou livre. -Tragam um pouco de metafísica, por favor! E com açúcar! Preciso de metafísica em minha vida racional e medíocre. Caminho sozinho por toda essa tecnologia Cimento, asfalto, e um delicioso ar sufocante A perfeita mistura do monóxido de carbono contemporâneo e o oxigênio mal consumido das lembranças presentes. Onde estão os fios? Não há nada mais escuro do que a luz do elevador Não há nada mais cruel do que cultivar a dor - Salva de palmas e gritos para consolar-me Traga-me um ventilador porque após rimas e rezas apenas um ventilador poderá enxugar o pranto, a prata, e o ouro de minha face apaixonada Ah, sensação latente, intrauterina, calor divino. Ah, momentos, transformações. Ah, movimento, Eterno responsável por tudo. A pressa presente prescreve premonições. Perdido em inspirações, transformo a poesia que não nasceu em um Aborto Artístico
  • 75. Roberto Dalmo 7 5 Aparências Bonito brilho constante no céu marca nosso mundo feito de aparências. Ser belo é ser percebido com a grandeza de uma supernova Ser percebido é deixar nossa marca como humanos ou coisas - Sei lá?! Simples aparência que marca o que não somos pelos olhos dos que são. Simples aparência que nos significa Marcas deixadas em um espectro de cores e lembranças em preto e branco Somos nós, marcas vivas de algo muitas vezes já inexistentes Marca travada de nossa humanidade tardia Somos nós, estrelas! Somos a marca de nosso brilho retardado à nossa historicidade
  • 76. Antologia Poética de um segundo de Inspiração 7 6 Antologia poética de um segundo de inspiração I ATO De maneira inexplicável Cada segundo revela Em instantes de solidão e silêncio profundo A voz! A natureza, o ser, a inspiração Em cada segundo a alma é domada pela arte, e a arte a possui. Simbioticamente. Empresto meu corpo ao espírito da arte, (Re)Interpreto o mundo. Falo de amor, de vida, Tudo isso, em um milésimo de segundo A inspiração tocou a alma, chegou ao coração, Por meio de palavras, cores, sons, sorrisos, beijos, noites ardentes, o dia amanhece mais instável. II ATO O poeta é o ator das palavras O “Eu lírico” é o único sujeito que tira a cortina de ferro que a sociedade impõe. Valores pré-estabelecidos Sentimentos que outros sentem por mim... E você, ainda assim, quer acabar com ele? Quer que eu revele meu segredo? Digo que não! Nunca saberá se é ou não meu pensamento! Se vivi ou não vivi Será que foi apenas um sonho?
  • 77. Uma história que me contaram? Pensamentos de terceiros? Nunca saberão! O grito da criança existiu ou foram meus fantasmas? Nunca saberão! Aquele beijo que todos beijam por mim. Nunca saberão! O choro na quarta-feira às onze da noite. Nunca saberão Poesia é como a vida, Nunca saberemos! FIM
  • 78. Este livro foi composto em Minion Pro pela Editora Multifoco e impresso em papel pólen 90 g/m².