Este artigo aborda como as normas de desempenho e as certificações sustentáveis podem orientar os construtores, engenheiros e arquitetos e demais envolvidos (stakeholders) a adotarem medidas que reduzam o impacto ambiental das edificações.
This article aims to correlate state regulations on performance and sustainable certifications, such as LEED, can change the ways the engineers, architects and others involved in Real Estate (stakeholders) pursue sustainalibity measures for the property they design and build.
Normas e certificações para edifícios sustentáveis
1. Normas de desempenho, certificações de sustentabilidade eNormas de desempenho, certificações de sustentabilidade e a eficiênciaa eficiência
energética nas edificaçõesenergética nas edificações
Roberto Camargo Leite Moreira
roberto.c.moreira@caixa.gov.br
O autor trabalha na CAIXA Econômica Federal, é Mestrando no Programa Inovação em Construção Civil pela Escola
Politécnica da USP e Especialista em Mercado de Capitais e Finanças pela Fundação Getúlio Vargas
Disciplina – Construção Baseada em Desempenho; Professora Mercia Maria Bottura de Barros.
Resumo
O presente artigo buscará abordar o tema da eficiência energética nas edificações, lançando luz nas
relações existentes entre as normas de desempenho emanadas das autoridades reguladoras
competentes, bem como as regras exigidas pelas entidades certificadoras de sustentabilidade nas
edificações (LEED), relacionadas ao tema de eficiência no uso da energia, por um lado, e a busca
pela sustentabilidade nas edificações por parte dos projetistas, engenheiros, arquitetos,
empreendedores e demais profissionais envolvidos no edifício a ser projetado e construído, por
outro lado. Apresentaremos sucintamente dados que mostram que o setor de Construção Civil é
considerado como sendo um dos maiores responsáveis pela emissão de gases geradores do efeito
estufa na atmosfera. Procuraremos também entender as motivações dos diversos stakeholders
envolvidos na construção de edifícios com elevados índices de eficiência energética e de
sustentabilidade ambiental, e analisaremos como as normas de desempenho e as regras das
certificações de sustentabilidade são capazes de orientá-los de maneira objetiva em relação a quais
as medidas que devem ser adotadas na busca pela sustentabilidade das edificações. Como
resultado chega-se à conclusão de que as normas de desempenho e as certificações de
sustentabilidade apresentam parâmetros bastante razoáveis para orientar a busca dos stakeholders
pela implantação de itens que visam minimizar o impacto ambiental das edificações, seja na fase de
projeto e construção, seja na fase de manutenção e operação.
Palavras-chave: Eficiência energética; energia solar fotovoltaica; geração distribuída; normas de
desempenho; certificação LEED; sustentabilidade nas edificações.
1 Objetivos
Os temas relacionados à sustentabilidade ambiental tem adquirido importância cada vez mais
premente em nossa sociedade, que por sua vez tem buscado incessantemente novas maneiras de
fazer com que as atividades cotidianas presentes tenham cada vez menos impacto na capacidade de
as gerações futuras de garantirem sua subsistência. Neste sentido buscaremos apresentar os
impactos energéticos das edificações e procuraremos delinear como as normas de desempenho e
certificações de sustentabilidade atuam no sentido de direcionar os arquitetos e engenheiros na
busca pela eficiência energética nas edificações, para que possam atuar com este enfoque desde a
fase de planejamento, passando pela escolha de materiais, nos processo de construção, e orientando-
os também no acompanhamento da operação do edifício, minimizando os impactos ambientais dos
edifícios.
2 Justificativa
Existe a necessidade de entender e clarificar as relações existentes entre as normas de desempenho
e as certificações, por um lado, e as motivações inerentes aos profissionais da construção e usuários
das edificações, por outro lado, as quais acabam por orientar a construção de edifícios e residências
com melhores níveis de eficiência energética, e consequentemente minimizando o seu impacto
ambiental. Diversos dados e estudos apontam que o setor de construção civil é um dos principais
2. responsáveis pela emissão de gases causadores de efeito estufa, e por isso cabe aos stakeholders
envolvidos no projeto, construção, operação e manutenção das edificações a adoção de medidas que
minimizem este impacto amiental.
Conforme estudo realizado por MAZRIA (2004) as edificações são responsáveis por cerca de
50% das emissões de gás carbônico (CO2), correspondem a 65% do consumo de energia elétrica
nos EUA, representam 136 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição por ano
neste país, e correspondem ainda ao consumo de 40% da matéria-prima em uso no mundo (3
bilhões de toneladas). Abaixo apresentamos o a Figura 1 que evidencia o impacto ambiental dos
diferentes setores da economia.
Figura 1 – Evolução da emissão de gases CO2 por diferentes setores da economia
Fonte: MAZRIA (2004)
Em relação às motivações básicas relacionadas à adoção de medidas de redução do impacto
ambiental, CLEVENGER (2008) destaca as seguintes, para os diferentes stakeholders envolvidos
na Construção Civil:
Para os proprietários de imóveis comerciais
Aumentar a taxa de ocupação dos edifícios;
Aumentar a taxa de satisfação dos inquilinos;
Aumentar a taxa de permanência de inquilinos;
Redução de custos operacionais;
Aumento do valor dos ativos imobiliários;
Aumento do valor das ações/ cotas de Fundos Imobiliários;
Para os clientes Corporate
Redução dos custos operacionais e de manutenção;
Melhorar a relação com os funcionários ao incrementar a qualidade de vida;
Incremento da imagem relacionada à sustentabilidade ambiental;
Para os clientes governamentais
Melhoria na Governança ambiental;
Redução dos custos operacionais e de manutenção;
Melhorar a relação com os funcionários ao incrementar a qualidade de vida;
3. 3 Metodologia
A nossa metodologia consistirá em uma breve revisão bibliográfica relacionada ao tema e o estudo
de caso da Prefeitura de San Diego, a qual a adotou como regra a obtenção da certificação LEED
para seus novos edifícios públicos, medida que foi capaz de produzir importantes melhorias da
eficiência energética dos edifícios públicos construídos a partir de então, em relação às normas de
desempenho de eficiência energéticas norte-americanas.
Em estudo realizado para o New Buildings Institute, os pesquisadores TURNER e FRANKEL
(2008) fizeram um levantamento com mais de 121 edifícios com certificação LEED (Leadership in
Energy an Environmental Design) nos EUA, comparando-os com os dados da Commercial Building
Energy Consumption Survey (CBECS), uma pesquisa nacional realizada com edifícios norte-
americanos a cada 4 anos, e o resultado foi positivo, demonstrando que a totalidade dos edifícios
certificados obtiveram desempenho energético em média 24% melhor que o padrão dos outros
edifícios da pesquisa CBECS.
Em relação aos ganhos ambientais promovidos pela certificação LEED a edifícios novos, a autora
CLEVENGER (2008) aponta que os ganhos energéticos ficam em média 30% menores que o
padrão normativo, 35% melhores na redução da emissão de gases CO2, de 30% a 50% de redução
de consumo de água, e de 50% a até 90% na redução dos custos relacionados a resíduos produzidos
pelas edificações.
4 Certificação LEED
Em relação à certificação LEED é necessário esclarecer que elas podem ser emitidas para diversas
categorias de edificações, sendo aplicadas desde a edificações novas, como também para as já
existentes, residências, hospitais, áreas comerciais, etc., conforme Figura 2 destacada abaixo.
Existem diferentes critérios de pontuação para cada categoria.
Figura 2 – Diferentes categorias de certificação LEED
Fonte: CLEVENGER (2008)
4. Os certificados possuem critérios que analisam não apenas o edifício em si, mas também o entorno
no qual ele será construído, bem como a adequação e harmonia da edificação em relação ao espaço
urbano. Outro critério considerado diz respeito à eficiência no tratamento de água, bem como as
medidas de redução de consumo, etc., conforme se observa com mais detalhes na Tabela 1
destacada abaixo. Estes quesitos de entorno sustentável e gestão da água correspondem a 14 e 5
pontos na avaliação para a certificação, respectivamente.
Como critérios de desempenho ambiental são também avaliados os quesitos ligados à eficiência
energética, considerados não apenas como sendo o uso de energia elétrica em níveis menores que os
preconizados pela norma da região em que o edifício está sendo construído, mas também
consideram a quantidade de energia renovável gerada no próprio local (geração distribuída).
Outro item considerado na pontuação é relacionado à emissão de gases nocivos à atmosfera (CFC e
a camada de ozônio), conforme se observa com mais detalhes na Tabela 2 destacada abaixo. Estes
critérios de eficiência energética e emissão de gases poluentes correspondem a 17 pontos.
A própria origem dos materiais empregados na construção de um edifício sustentável também é
considerada na pontuação para a certificação LEED. Estes critérios de materiais e recursos
utilizados na edificação consideram o uso de materiais reciclados, que minimizam o uso de novos
recursos extraídos da natureza, o uso de materiais locais, que minimizam os gastos e a
correspondente emissão de gases poluentes com transporte, o uso de madeira certificada, que evita
que sejam utilizadas madeiras provenientes de extração ilegal, bem como o tratamento de resíduos,
os quais promovem a redução de resíduos não reciclados no próprio ambiente da edificação. Estes
quesitos podem ser observados com mais detalhes na Tabela 3 destacada abaixo. Os quesitos
relacionados a materiais conferem até 13 pontos na avaliação geral.
Tabela 1 – Critérios de pontuação LEED para entornos sustentáveis e gestão de água
Fonte: U.S. Green Building Council
5. Tabela 2 - Critérios de pontuação LEED para Eficiência energética e emissão de gases nocivos
Fonte: U.S. Green Building Council
Tabela 3 - Critérios de pontuação LEED para Materiais e recursos utilizados
Fonte: U.S. Green Building Council
Existem também os critérios relacionados à qualidade do ambiente interior e a inovação, os
quais consideram o quanto que os materiais usados na decoração interna emitem de CO2 em sua
fabricação (pegada ecológica), o nível de controle do conforto térmico, a iluminação natural, e por
fim a inovação no design, promotora de vantagens relacionadas à sustentabilidade ambiental como
o melhor aproveitamento da luz natural difusa, conforme apresentado na Tabela 4 abaixo. Estes
quesitos relacionados à qualidade do ambiente interno e inovações no design correspondem a 15 e 5
pontos na avaliação geral, respectivamente.
6. Tabela 4 - Critérios de pontuação LEED para Qualidade Ambiente Interno e Inovação
Fonte: U.S. Green Building Council
Certamente que a certificação LEED oferece aos construtores diretrizes importantes na
busca de critérios objetivos e mensuráveis de sustentabilidade ambiental, todavia devemos destacar
que TURNER e FRANKEL (2008) identificaram que alguns edifícios com certificação LEED
poupam MENOS energia que o projetado. Constatou-se também que alguns estão com consumo
superior à norma norte-americana. Em sua maioria, no entanto, as certificações conseguem
melhorar a eficiência energética do edifício, conforme apresentado na Figura 3 destacada abaixo.
Figura 3 – Comparativo entre o desempenho energético projetado e o realizado por edifícios com LEED
7. 5 Estudo de Caso
Como forma de analisar o impacto ambiental positivo da implantação de critérios de
desempenho de sustentabilidade adotados pela certificação LEED, passaremos a analisar algumas
edificações construídas pela Prefeitura Municipal de San Diego, no estado da California, e
apresentaremos algumas das medidas adotadas, materiais e métodos construtivos que minimizaram
o impacto ambiental, e aumentaram a eficiência energética dos edifícios.
A partir da crise energética ocorrida em 2001, a prefeitura de San Diego criou a Divisão de
Administração e Conservação de Energia. O objetivo era o de buscar o objetivo de longo prazo de
obter a independência energética. Os objetivos propostos vão desde a criação de incentivos para os
retrofits de edifícios comerciais, implantação de projetos de geração distribuída e cogeração, adoção
de certificação LEED para edifícios públicos, produção de energia elétrica a partir de água de
esgotos, dentre outras medidas de impacto ambiental positivo. O mote do programa de San Diego é
“Estamos comprometidos com nossos cidadãos e com o meio ambiente. Juntos conseguiremos
fazer a diferença em nossa situação energética e criaremos um futuro energético sustentável no
longo prazo”.
Em seguida apresentaremos 3 edifícios construídos pela Prefeitura da Cidade de San Diego, e as
principais medidas de redução do impacto ambiental implementadas.
Posto de Bombeiros n.47
Construção: 2008
Certificação LEED Silver
Sistema fotovoltaico de 8kW de potência que atende a 30% do consumo
Consumo de energia 35% inferior à norma americana CA Title 24
HVAC sem gás CFC
Telhas especiais com alta reflectância solar
Figura 4 – Posto de Bombeiros n.47 – San Diego
Fonte: http://www.sandiego.gov/environmental-services/energy
8. Nobel Athletic Park
Construção: 2007
Certificação LEED Silver
Sistema fotovoltaico de 20kW de potência que atende a 12% do consumo
Consumo de energia 36,9% inferior à norma americana CA Title 24
HVAC sem gás CFC
Redução anual de energia de 161,3 Mwh
Redução de custo anual de conta de luz de US$29 Mil
Figura 5 – Nobel Athletic Park – San Diego
Fonte: http://www.sandiego.gov/environmental-services/energy
Northwestern Division Police Substation
Construção: 2007
Certificação LEED Silver
Sistema fotovoltaico de 17kW de potência que atende a 12% do consumo
Consumo de energia 17% inferior à norma americana CA Title 24
Cerca de 85% dos ambientes recebem iluminação com luz natural
Sistema de iluminação com uso de fluorescentes eficientes, sensor de ocupação, lâmpadas
LED
Figura 6 – Northwestern Division Police Substation – San Diego
Fonte: http://www.sandiego.gov/environmental-services/energy
9. 6 Considerações finais
O setor de construção civil é responsável por grande parte das emissões de CO2 na atmosfera, bem
como do consumo de energia mundial, portanto os responsáveis pelo projeto, construção e operação
das edificações devem contribuir para minimizar o impacto ambiental por elas produzido.
As normas de desempenho e certificações de sustentabilidade orientam os construtores e
responsáveis pelas edificações a atenderem certos padrões de eficiência energética que procuram
minimizar o impacto ambiental das edificações, ao reduzirem o consumo energético, ao otimizarem
o uso da iluminação natural, ao minimizar perdas de energia, e também através da geração própria
de energia sustentável. No caso brasileiro ainda não existem normativas emitidas pela ABNT que
orientam na busca por medidas objetivas de eficiência energética das edificações, apesar de haver
normas que regulam a eficiência energética de alguns equipamentos utilizados (elevadores, ar-
condicionado, etc.).
As certificações buscam aferir diversos requisitos objetivos de sustentabilidade, mas conforme
observamos elas também possuem oportunidades de melhoria, principalmente na parte de operação
e manutenção dos edifícios certificados, na medida em que foi observado que alguns edifícios com
certificação LEED apresentam eficiência energética inferior ao padrão preconizado pelas normas
norte-americanas, e muito abaixo dos níveis que lhe conferiram a certificação, indicando a
necessidade de avaliação periódica.
7 Referências
NEW BUILDINGS INSTITUTE. 2008. Energy Performance of LEED for New Construction
Building. <http://www.usgbc.org/Docs/Archive/General/Docs3930.pdf>.Acessado em 9/12/2014.<http://www.usgbc.org/Docs/Archive/General/Docs3930.pdf>.Acessado em 9/12/2014.
CLEVENGER, Caroline. 2008. Leadership in Energy and Environmental Design
VALENTE, Josie Pingret. 2009. Certificações na Construção Civil : Comparativo entre LEED
e HQE
<http://web.stanford.edu/class/cee115/wiki/uploads/Main/Schedule/LEED.pdf> Acessado em
09/12/2014
<http://www.energy.ca.gov/ab758/>. Acessado em 9/12/2014
<http://www.sandiego.gov/environmental-
services/energy/pdf/091118NWpolicesubstation.pdf>.Acessado em 9/12/2014