Promotor do Meio Ambiente de Campinas pede para deixar o cargo após 19 anos, alegando motivos de saúde. Árvore com problemas conhecidos há 5 anos cai sobre salão em Campinas, mas não houve feridos. ONG afirma ter feito mais de 100 denúncias sobre árvores em risco, mas prefeitura não teria respondido.
Promotor pede para deixar cargo de Meio Ambiente após 19 anos
1. Dominique Torquato/22dez2011/AAN
Árvore com problemas conhecidos há 5 anos, segundo engenheiro, atinge salão; não houve feridos
Henrique Beirangê
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
henrique.beirange@rac.com.br
Promotor do Ministério Públi-
co do Estado de São Paulo há
25 anos e atualmente à frente
da Promotoria do Meio Am-
biente em Campinas, José Ro-
berto Carvalho Albejante pe-
diu para deixar o cargo que
ocupa há 19 anos. Albejante
solicitou ao Conselho Supe-
rior do Ministério Público
que o órgão autorize uma tro-
ca de posto com a promotora
Lúcia Maria de Figueiredo
Ferraz Pereira Leite. Caso o
MP valide a troca, ele ficará
responsável por processos de
varas cíveis e da Fazenda Pú-
blica de Campinas. Albejante
confirmou ao Correio que o
pedido se deve a razões exclu-
sivamente pessoais (alegou
motivos de saúde e cansaço).
Ele ponderou que falará pu-
blicamente quando — e se a
troca for oficializada.
Com a publicação do pedi-
do de troca no Diário Oficial,
abre-se prazo de cinco dias
para pedidos de impugnação
da troca. Esse tipo de reclama-
ção é incomum, mas outro
promotor que tenha interesse
em ocupar o cargo de um dos
dois membros do MP pode
entrar com algum questiona-
mento. A tendência é que em
duas semanas o órgão supe-
rior do MP seja ouvido e te-
nha aprovado a mudança.
A decisão de Albejante de
sair do cargo da Promotoria
do Meio Ambiente pegou de
surpresa os principais órgãos
e entidades ligadas às suas
manifestações. O presidente
do Conselho Municipal de
Defesa do Meio Ambiente
(Comdema), Rafael Moya, dis-
se que não sabia das razões
da saída, mas que em função
da sobrecarga de serviço, a
Promotoria do Meio Ambien-
te tem tido uma ação aquém
do esperado. “Por conta dos
escândalos políticos do ano
passado e dos questionamen-
tos no MP, há uma sobrecar-
ga de serviço. Mas podemos
dizer que ele teve uma boa
atuação no Meio Ambiente”,
disse.
O presidente da Associa-
ção Regional da Habitação
(Habicamp), Francisco de Oli-
veira Lima Filho, disse que o
setor sempre teve boa rela-
ção com o promotor. “Agora
que as coisas estão engrenan-
do é uma grande perda. Preci-
samos pensar no futuro e fa-
zer Campinas crescer”, disse.
O prefeito Pedro Serafim
(PDT) também lamentou a
saída. “Ele tem uma baga-
gem muito grande e é um ze-
lador da qualidade de vida na
cidade”, afirmou.
Albejante chegou a rece-
ber um convite durante a ges-
tão do prefeito cassado Hélio
de Oliveira Santos (PDT) para
assumir a pasta de Meio Am-
biente, mas em função do
Conselho Superior do Minis-
tério Público não ter autoriza-
do uma licença do cargo para
assumir o posto, o promotor
acabou não podendo assu-
mir a função. Albejante tem
49 anos, é natural de Mogi
Mirim, e se formou pela PUC-
Campinas em 1985.
Felipe Tonon
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
felipe.tonon@rac.com.br
Um ipê-roxo de 18 metros de
altura caiu na manhã de on-
tem sobre um salão de cabe-
leireiro no Cambuí, em Cam-
pinas. De acordo com a ONG
Resgate o Cambuí, um proble-
ma já havia sido detectado na
árvore em 2007, mas nada foi
feito. Para a diretora da orga-
nização, Tereza Penteado, a
“falta de cuidado extremo”
causou o incidente. Por sorte,
ninguém ficou ferido. Ela afir-
mou, ainda, que apenas a
ONG já protocolou mais de
100 denúncias sobre árvores
com problemas no Cambuí.
“Mas ninguém responde, não
fazem nada.”
A árvore caiu por volta das
8h em cima de um salão de
beleza localizado na Rua Co-
ronel Quirino. Não houve da-
nos graves ao imóvel, mas a
queda assustou o proprietá-
rio do prédio, que afirma ter
protocolado na Prefeitura
quatro pedidos de vistoria na
árvore, o último há cerca de
seis meses, pois suspeitava
que havia risco de queda. “A
gente sabia que ela estava po-
dre, condenada. A Prefeitura
deve ter muita coisa para re-
solver. Eles não vão ligar pra
uma árvore”, disse o cabelei-
reiro José Mariano.
No momento em que a ár-
vore caiu, houve um curto cir-
cuito e um princípio de incên-
dio na rede elétrica. Alguns
prédios da região chegaram a
ficar sem telefone e energia.
Para a presidente do movi-
mento Resgate o Cambuí, a
Administração sabia do pro-
blema. “Se essas árvores tives-
sem o mínimo de acompa-
nhamento elas não cairiam.
A falta de poda correta e de
cuidado faz com que a árvore
caia”, disse.
De acordo com José Hamil-
ton de Aguirre Junior, enge-
nheiro florestal e mestre em
arborização urbana, que reali-
zou um levantamento em to-
das as árvores do Cambuí,
em 2007, o Ipê que caiu on-
tem havia sido avaliado co-
mo “péssimo” e necessitava
de cuidados. “A árvore não es-
tava condenada, mas pedia
tratamento. Como nada foi
feito, houve a queda”, afir-
mou.
Aguirre Junior lembrou
que uma árvore bem cuidada
significa benefício para a so-
ciedade e que elas devem ser
vistas com mais atenção pelo
poder público. “Por trás des-
sa queda existe um alerta. Ár-
vores não caem sem razão.”
Prefeitura
De acordo com o Departa-
mento de Parques e Jardins
(DPJ), da Secretaria de Servi-
ços Públicos, não é possível
saber se havia pedido para a
poda ou corte da árvore,
mas o departamento infor-
mou que quando os troncos
estavam sendo removidos
ontem, técnicos da pasta
perceberam que a raiz do
Ipê estava comprometida, o
que pode ter motivado a
queda. Informou, também,
que mesmo que uma visto-
ria fosse feita na árvore não
seria detectado nenhum pro-
blema, uma vez que visivel-
mente ela estava saudável.
Sobre os pedidos dos mo-
radores e da ONG não te-
rem sido atendidos, o DPJ
garantiu que todas as de-
mandas são respondidas,
mas nem todas executadas.
A Prefeitura afirmou que
uma vistoria demora de dez
a 30 dias para ser executada
e, se a poda ou a remoção
for necessária, é colocada
na programação da pasta. O
serviço pode demorar de 90
a 120 dias para ser feito. No
entanto, casos graves identi-
ficados são colocados como
prioridade, o que pode atra-
sar outros serviços já previs-
tos.
Promotor do Meio Ambiente pede para deixar cargo
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Editores: Adriana Villar, Claudio Liza Junior, Jorge Massarolo e Ricardo Alécio Chefe de reportagem: Guilherme Busch
Cambuí: Ipê desaba e ONG vê descaso
Defesa Civil registra mais duas quedas
A
Defesa Civil
registrou outras
três ocorrências
envolvendo árvores em
Campinas. Na Vila Costa
e Silva, uma árvore seca
ameaça cair e o DPJ foi
notificado. Na Rua
Bento de Arruda
Camargo, no Jardim
Santana, uma árvore
caiu sobre a via, mas
não houve danos. Na
região do Campo
Grande, na Rua Eudes
Batista Ribeiro, uma
outra árvore caiu na
noite de ontem, também
sem causar danos.
Na terça-feira, a chuva
forte motivou 22
ocorrências na Defesa
Civil. A mais grave foi o
deslizamento de um
barranco no Jardim das
Bandeiras 1, mas sem
vítimas.
A família que residia em
um barraco próximo à
área foi retirada do
local. Parte de um muro
de uma empresa da Vila
União também cedeu. A
Defesa Civil alerta
moradores das áreas de
risco para a
possibilidade de
ocorrência de
deslizamentos por causa
do solo encharcado e da
continuidade das
chuvas. (FT/AAN)
Alessandro Rosman/AAN
Alessandro Rosman/AAN
José Albejante alega motivos pessoais e solicita a conselho do MP sua substituição do posto ocupado há 19 anos
Cidades
ACIDENTE ||| PREVISTO
Bombeiros e agentes da Emdec mobilizados em área isolada na Rua Coronel Quirino, no Cambuí, para os trabalhos de remoção da árvore que caiu sobre o salão de beleza
Bombeiros cortam galhos do ipê-roxo de 18 metros: raiz podre
Albejante, que poderá assumir casos das varas cíveis e da Fazenda
TROCA ||| EM ANÁLISE
Entidadedizquejáfez
maisde100denúncias
deplantascomrisco
A6 CORREIO POPULAR
Campinas, quinta-feira, 7 de junho de 2012