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PEQUENOS RESUMOS DE DOIS DOS
  EPISÓDIOS DE “OS LUSÍADAS”
           CONSÍLIO DOS DEUSES
             INÊS DE CASTRO
CONSÍLIO DOS DEUSES


  Neste momento, é convocado o Concílio dos deuses (estrofes 20 a
41) para decidir se os portugueses devem ou não conseguir alcançar
o seu destino. Júpiter afirma que sim, porque isso lhes está
predestinado.
  Baco discorda porque, se isto for permitido, as suas próprias
conquistas no Oriente serão esquecidas, ultrapassadas por este
povo. Mas Vénus vê os portugueses como herdeiros dos seus amados
romanos e sabe que será celebrada por eles. Camões era um homem
de paixões, que também celebrava o amor na sua lírica, e talvez por
isso tivesse escolhido a deusa romana desse sentimento para
patrona do seu povo.
CONSÍLIO DOS DEUSES
 Segue-se um tumulto, com os restantes olímpicos a tomar partido de Baco
ou Vénus, até que o poderoso Marte se impõe, assustando Apolo num aparte
(estrofe 37). O amante de Vénus, e admirador dos feitos guerreiros dos
portugueses, lembra que não só já é merecido que consigam realizar a sua
façanha, como Júpiter já tinha decidido conceder esse favor e não deveria
voltar atrás na palavra. O rei dos deuses concorda e encerra o concílio.
 O discurso com que Júpiter começa a reunião é uma acabada peça de
oratória. Abre com o inevitável exórdio (1ª estrofe) em que, depois de uma
original saudação, expõe brevemente o tema a desenvolver. Segue-se, ao
modo da retórica antiga, a narração (o passado mostra que a intenção dos
fados é mesmo a que o orador apresentou). Vem depois a confirmação: com
factos do presente corrobora o que já, a seu modo, a narração comprovara
(4ª estrofe). E termina com duas estrofes de peroração, onde se apela à
benevolência dos deuses para com os filhos de Luso - aliás, a decisão dos
fados cumprir-se-á inexoravelmente. Contra o que seria de esperar, Júpiter
conclui determinando e não abrindo o debate.
INÊS DE CASTRO

  O turbilhão de emoções continua com este episódio lírico-trágico
(estrofes 118 a 135), talvez o mais reconhecido d'Os Lusíadas. Convém que
se não perca de vista a sua integração no poema, via alocução de Vasco da
Gama ao rei de Melinde. Costuma-se classificá-lo como lírico, distinguindo-
o assim, sobretudo, dos mais comuns episódios bélicos.
  D. Inês e D. Pedro são os amantes trágicos por excelência. O seu amor é
ilícito, proibido pelos poderes (razões de estado). O poeta que tinha
escrito sonetos tão sombrios, de sofrimento amoroso, chama
repetidamente este de “puro amor”, e censura o rei, de quem tanto
elogiara os feitos guerreiros, por esta sombra no seu reinado.
  D. Afonso IV pretende casar o filho que, apaixonado por Inês, recusa. A
solução é eliminá-la. Trazida à presença do rei, esta implora pela sua vida,
só para poder cuidar dos seus filhos. Comove o velho soberano, mas os
conselheiros e o povo exigem a morte. E assim a frágil e bela apaixonada
é assassinada ”só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la” (por
amar quem soube conquistar o seu coração).
INÊS DE CASTRO

 Uma rápida análise do episódio permite encontrar aí presentes, com maior
ou menor clareza, elementos trágicos como o destino, que conduz a acção
para o final trágico; a peripécia; até algo próximo do papel
do coro (apóstrofes). A nobreza moral e social dos personagens é também
salientada, de modo a criar no leitor sentimentos de terror e
de piedade perante a desgraça que se abate sobre a protagonista
(catástrofe).
 Quando Inês teme mais a orfandade dos filhos que a própria perda da
vida, quando ela suplica a comutação da pena capital por um exílio na
Sibéria (Cítia) ou na Líbia, entre “toda a feridade”, só para poder criar os
filhos do seu amor, quando é comparada com “a linda moça Policena,
consolação extrema da mãe velha”, quando o leitor escuta toda a estrofe
134, e mesmo a 135, estão-se a dedilhar os acordes da piedade. Já os
versos iniciais da estrofe 124, a apóstrofe com que termina a 130 (e antes a
da segunda metade da 123) e a estrofe 133 estão ao serviço da sugestão do
terror trágico.

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Pequenos resumos de dois dos episódios de os lusíadas

  • 1. PEQUENOS RESUMOS DE DOIS DOS EPISÓDIOS DE “OS LUSÍADAS”  CONSÍLIO DOS DEUSES  INÊS DE CASTRO
  • 2. CONSÍLIO DOS DEUSES Neste momento, é convocado o Concílio dos deuses (estrofes 20 a 41) para decidir se os portugueses devem ou não conseguir alcançar o seu destino. Júpiter afirma que sim, porque isso lhes está predestinado. Baco discorda porque, se isto for permitido, as suas próprias conquistas no Oriente serão esquecidas, ultrapassadas por este povo. Mas Vénus vê os portugueses como herdeiros dos seus amados romanos e sabe que será celebrada por eles. Camões era um homem de paixões, que também celebrava o amor na sua lírica, e talvez por isso tivesse escolhido a deusa romana desse sentimento para patrona do seu povo.
  • 3. CONSÍLIO DOS DEUSES Segue-se um tumulto, com os restantes olímpicos a tomar partido de Baco ou Vénus, até que o poderoso Marte se impõe, assustando Apolo num aparte (estrofe 37). O amante de Vénus, e admirador dos feitos guerreiros dos portugueses, lembra que não só já é merecido que consigam realizar a sua façanha, como Júpiter já tinha decidido conceder esse favor e não deveria voltar atrás na palavra. O rei dos deuses concorda e encerra o concílio. O discurso com que Júpiter começa a reunião é uma acabada peça de oratória. Abre com o inevitável exórdio (1ª estrofe) em que, depois de uma original saudação, expõe brevemente o tema a desenvolver. Segue-se, ao modo da retórica antiga, a narração (o passado mostra que a intenção dos fados é mesmo a que o orador apresentou). Vem depois a confirmação: com factos do presente corrobora o que já, a seu modo, a narração comprovara (4ª estrofe). E termina com duas estrofes de peroração, onde se apela à benevolência dos deuses para com os filhos de Luso - aliás, a decisão dos fados cumprir-se-á inexoravelmente. Contra o que seria de esperar, Júpiter conclui determinando e não abrindo o debate.
  • 4. INÊS DE CASTRO O turbilhão de emoções continua com este episódio lírico-trágico (estrofes 118 a 135), talvez o mais reconhecido d'Os Lusíadas. Convém que se não perca de vista a sua integração no poema, via alocução de Vasco da Gama ao rei de Melinde. Costuma-se classificá-lo como lírico, distinguindo- o assim, sobretudo, dos mais comuns episódios bélicos. D. Inês e D. Pedro são os amantes trágicos por excelência. O seu amor é ilícito, proibido pelos poderes (razões de estado). O poeta que tinha escrito sonetos tão sombrios, de sofrimento amoroso, chama repetidamente este de “puro amor”, e censura o rei, de quem tanto elogiara os feitos guerreiros, por esta sombra no seu reinado. D. Afonso IV pretende casar o filho que, apaixonado por Inês, recusa. A solução é eliminá-la. Trazida à presença do rei, esta implora pela sua vida, só para poder cuidar dos seus filhos. Comove o velho soberano, mas os conselheiros e o povo exigem a morte. E assim a frágil e bela apaixonada é assassinada ”só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la” (por amar quem soube conquistar o seu coração).
  • 5. INÊS DE CASTRO Uma rápida análise do episódio permite encontrar aí presentes, com maior ou menor clareza, elementos trágicos como o destino, que conduz a acção para o final trágico; a peripécia; até algo próximo do papel do coro (apóstrofes). A nobreza moral e social dos personagens é também salientada, de modo a criar no leitor sentimentos de terror e de piedade perante a desgraça que se abate sobre a protagonista (catástrofe). Quando Inês teme mais a orfandade dos filhos que a própria perda da vida, quando ela suplica a comutação da pena capital por um exílio na Sibéria (Cítia) ou na Líbia, entre “toda a feridade”, só para poder criar os filhos do seu amor, quando é comparada com “a linda moça Policena, consolação extrema da mãe velha”, quando o leitor escuta toda a estrofe 134, e mesmo a 135, estão-se a dedilhar os acordes da piedade. Já os versos iniciais da estrofe 124, a apóstrofe com que termina a 130 (e antes a da segunda metade da 123) e a estrofe 133 estão ao serviço da sugestão do terror trágico.