2. Índice
I. O envelhecimento humano e as bases neurológicas deste processo.
II. O processamento cognitivo na 3ª idade.
Bases neurocognitivas.
Envelhecimento ativo ao nível cognitivo.
III. Alterações emocionais na 3ª idade.
Alterações emocionais.
Envelhecimento adaptativo ao nível emocional.
IV. Relações sociais na 3ª idade.
Alterações sociais.
Envelhecimento positivo ao nível social.
V. Conclusão
VI. Bibliografia
4. Envelhecimento
Redução do fluxo sanguíneo e
do funcionamento metabólico.
Dimensão das regiões
cerebrais, integridade
estrutural e ativação cerebral.
Alterações das funções
executivas e do processamento
emocional.
O envelhecimento traduz-se por um declínio progressivo do funcionamento global do
indivíduo.
Decréscimo
fisiológico
Alterações
neurológicas
Processos
cognitivos e
emocionais
5. Estudos neurológicos revelam que, na maioria das áreas cerebrais, a responsividade se
encontra relacionada com o desempenho cognitivo.
A relação positiva entre estes fatores é observada:
no lobo frontal;
no lobo parietal;
no lobo temporal medial;
e no giro cingulado.
O lobo frontal é capaz de integrar funções de outras áreas cerebrais quando estas não
respondem de forma adequada.
Estudos recentes sugerem que para desempenhar estas funções, o lobo frontal sofre uma
hiperativação que pode comprometer a velocidade de processamento da informação.
O córtex frontal é também, por sua vez, a primeira área cerebral a sofrer os efeitos do
processo de envelhecimento.
Os défices na ativação de áreas cerebrais são frequentemente atribuídos ao decréscimo
de suporte dopaminérgico, e destes surgem as marcas do envelhecimento.
Bases neurológicas
Lobo frontal Lobo parietal
Lobo temporal
Lobo occipital
7. As funções cognitivas mais afetadas pelo processo de envelhecimento são as executivas,
funções que permitem a organização da informação e o planeamento de ações para a
satisfação de objetivos.
As funções executivas mais associadas ao processo de envelhecimento são a atenção, o
controlo inibitório e a memória.
A atenção é a capacidade de selecionar o foco de informação relevante (atenção seletiva)
e de manter este foco para desempenhar tarefas (manutenção).
Alterações neurológicas:
baixa ativação temporal medial;
e alterações na ativação frontal.
Alterações cognitivas:
limitações na memória de procura;
erros nas estimativas processo-dissociação;
e decréscimo da recordação verídica.
Bases neurocognitivas
8. Tarefa de Atenção Seletiva
http://www.youtube.com/watch?v=oSQJP40PcGI
9. O controlo inibitório é a capacidade de interromper um processo e iniciar um diferente.
Alterações neurológicas:
alterações no controlo pré-frontal.
Alterações cognitivas:
défices na filtragem da informação;
dificuldades na eliminação de informação irrelevante;
e dificuldades de restrição de tendências.
A velocidade de processamento consiste no tempo de resposta do sujeito no
desempenho de tarefas, e apesar de não ser uma função executiva relaciona-se
diretamente com o desempenho destas, nomeadamente o controlo inibitório.
Alterações neurológicas:
défices localizados na matéria branca.
Alterações cognitivas:
problemas ao nível da transmissão da informação.
Bases neurocognitivas
Tálamo
Fenda inter-hemisférica
Cerebelo
Ponte
Bulbo
Matéria brancaCórtex cerebral
11. A memória de trabalho é um sistema de armazenamento que mantém a informação
ativa para utilização imediata no desenvolvimento de tarefas.
Alterações neurológicas:
aumentada ativação pré-frontal em tarefas simples;
hiperativação pré-frontal dorsolateral em tarefas complexas.
Alterações cognitivas:
diferenças mínimas no desempenho.
A memória episódica, declarativa e de longo termo, utiliza outras áreas cerebrais para
armazenar informação autobiográfica, dependendo da memória de trabalho para a
recuperar e manter ativa.
Alterações neurológicas:
fraca ativação temporal medial;
baixa ativação pré-frontal inferior;
aumentada ativação nas restantes áreas pré-frontais.
Alterações cognitivas:
défices ao nível das associações;
défices na codificação semântica.
Bases neurocognitivas
12. Bases neurocognitivas
Os problemas de memória associados ao envelhecimento podem também ser explicados
pelas alterações no controlo da inibição e da atenção, em adição ou oposição ao declínio
natural das funções mnésicas.
Pela interação dos fatores enumerados, o aumento da idade traduz uma relação
particular com as recordações:
recordação falsa;
recordação verídica.
Tarefa de Memória - Evocação
Quais eram as cores referidas no Teste de Stroop?
Azul
Verde
Laranja
Vermelho
13. Envelhecimento cognitivo ativo
O cérebro encontra-se sujeito aos efeitos do envelhecimento, contudo desempenha um
papel proativo neste processo.
Caraterísticas como a responsividade e flexibilidade conferem a esta instância o
desenvolvimento funcional e reorganização estrutural, independentemente da idade.
Autores defendem de forma geral, que a estimulação cognitiva ao longo de toda a vida se
relaciona de forma negativa com o processo de envelhecimento, potenciando assim o
retardamento ou reversão de eventuais condicionantes.
Estudos recentes revelam as intervenções com impacto nos
efeitos cognitivos do envelhecimento.
Treino cognitivo estratégico:
direcionado para áreas específicas;
mediado pela gestão de objetivos;
com efeitos significativos e duradouros;
e com limitações ao nível da transferência.
14. Envelhecimento cognitivo ativo
Intervenções multimodais:
mais abrangentes e complexas – intervenção psicossocial;
com alterações a um nível mais profundo;
com efeitos menos significativos e duradouros;
contudo, apresentando maior efeito de transferência.
Treino cardiovascular (exercício aeróbico):
potencia a neurogénese e a angiogénese cerebrais;
aumenta o desempenho cognitivo, nomeadamente em funções executivas, tempo
de reação e aprendizagem motora;
promove efeitos significativos, duradouros e facilitadores da transferência;
contudo, é condicionada em sujeitos com limitações físicas.
Treino de processos cognitivos:
exercita processos cognitivos específicos;
utiliza diversas estratégias para o mesmo objetivo;
decorre em efeitos significativos e duradouros, incluindo a transferência;
contudo, apresenta limitações na seleção de tarefas.
15. Envelhecimento cognitivo ativo
Estudos recentes valorizam a integração de diferentes treinos, nomeadamente o treino
cardiovascular com os treinos de processos cognititvos ou multimodal.
Estratégias que assentam fundamentalmente nas capacidades e processos cognitivos,
por vias diversificadas, potenciam mais o desenvolvimento dos sujeitos em idades mais
avançadas.
Assim, os benefícios da repetição do estímulo que promovem a automatização de
instruções em idades mais jovens refletem efeitos contrários com o aumento da idade.
O aumento do desempenho cognitivo pelo aumento da diversidade de estímulos,
contextos e tarefas, pode ser explicado:
pelo aumento da abrangência das áreas cerebrais recrutadas;
pela facilitação da compensação de funções quando a resposta
das estruturas recrutadas é disfuncional ou insuficiente.
17. Alterações emocionais
O envelhecimento envolve transformações diversas, que naturalmente afetam o estado
emocional do sujeito:
sofrimento e limitações ao nível físico;
stress psicológico;
perda de pessoas significativas;
restrição das redes sociais;
e aumento da situação de dependência.
As alterações emocionais são influenciadas por fatores como:
acontecimentos de vida;
reações emocionais em eventos significativos;
e padrões de humor.
Apesar das crenças generalizadas de solidão, desesperança e tristeza no envelhecimento,
estudos recentes revelam que estas não retratam a realidade.
18. Alterações emocionais
Ao longo da última década verifica-se um ajustamento emocional positivo, prevalente
entre a população idosa e promotor da qualidade de vida.
Este ajustamento emocional pode ser explicado por um efeito de positivismo – positivity
effect – caraterístico de idades mais avançadas, que implica:
sensibilidade a emoções positivas;
sensibilidade a emoções negativas.
Contudo, a implementação de objetivos de controlo emocional requere capacidades de
controlo cognitivo, como:
a atenção seletiva;
a manutenção da atenção;
e a supressão de pensamentos indesejados.
O efeito de positivismo é verificado sob diversos domínios:
atenção;
tomada de decisão;
memória;
antecipação;
exposição;
e codificação de estímulos emocionais.
19. Alterações emocionais
Experiências emocionais relacionam-se com indicadores de saúde, como a resposta
imunitária ou a pressão sanguínea.
Os padrões de reatividade emocional diferem com o aumento da idade em função da
relevância dos estímulos, em que sujeitos mais velhos tendem a:
sentimentos subjetivos;
experiências emocionais subjetivas.
Este padrão decorre em maior confiança e controlo das emoções, conferindo capacidades
para:
o evitamento de situações emocionalmente desafiantes;
e a diminuição do impacto emocional por vias adaptativas.
Assim, podem ser explicados os decréscimos nos níveis de afeto negativo e ansiedade,
bem como na taxa de perturbação depressiva major, verificados com o aumento da
idade.
O equilíbrio emocional tende a um desvio perto dos 60 anos, contudo é verificada uma
manutenção positiva ao longo da 3ª idade.
20. Envelhecimento emocional adaptativo
O envelhecimento emocional adaptativo é promovido pelo desenvolvimento de
competências e aumento da motivação ao nível do controlo emocional.
Também é defendido que o efeito de positividade opera na regulação emocional, em que
os objetivos que visam a promoção do bem-estar emocional convergem na adoção de um
foco mais centrado nas informações positivas.
Padrões emocionais adaptativos
Alterações no processamento
de estímulos emocionais
Aumento da motivação
emocional
Aumento da competência
emocional
21. Envelhecimento emocional adaptativo
O comprometimento de funções cognitivas, nomeadamente executivas, pode limitar o
efeito de positividade e a capacidade de atingir objetivos emocionais.
Diversos estudos relatam relações entre um baixo desempenho cognitivo e um aumento
da sintomatologia depressiva.
É corroborado de forma geral que o bem-estar emocional é promovido pela idade e
experiência, traduzindo um controlo que reflete uma relação particular:
predição de eventos;
redução da labilidade emocional.
A importância atribuída a objetivos relacionados com
as emoções tem uma evolução paralela com a idade,
de tal forma que os pensamentos e comportamentos
envolvidos promovem naturalmente o bem-estar.
23. Alterações sociais
Parece evidente que a rede social tende a uma relação inversa com a idade,
frequentemente voluntária e explicada por perdas de diversa natureza:
decréscimo dos papéis sociais;
falecimento de familiares e amigos;
e aumento das limitações funcionais.
Apesar dos padrões distintos de relacionamento social entre diferentes idades, a
necessidade de envolvimento social ou as consequências negativas do isolamento não
sofrem alterações.
Em compensação, sujeitos de mais idade desenvolvem atividades com maior significado
pessoal e emocional.
As relações interpessoais afetam de forma recíproca as experiências emocionais, e assim
moldam a rede social dos sujeitos.
24. O bem-estar emocional depende, em grande parte, das redes sociais estabelecidas que
envolvem as componentes:
estrutural – quantificação e qualificação da rede de suporte social;
funcional – perceção do apoio recebido.
A consistência da rede social depende do significado emocional e positivismo nas
relações interpessoais estabelecidas, originando assim padrões distintos em função da
idade:
Alterações sociais
amigos
família
Idade
Tipo de rede social
25. Envelhecimento social positivo
Estudos sustentam que uma forte rede social aumenta o bem-estar emocional e pode,
inclusivamente, ter efeitos positivos na saúde pela redução dos riscos de morbilidade e
mortalidade.
Também o funcionamento cognitivo se encontra associado com as relações interpessoais
estabelecidas:
O apoio social relaciona-se tanto com a prevenção de declínio como com a reabilitação do
funcionamento cognitivo, quando o nível funcional da rede de suporte é satisfatório.
redes
sociais
fortes
aumetada
atividade
social
menor
declínio
cognitivo
26. Envelhecimento social positivo
Sujeitos com redes sociais mais consistentes experimentam maior bem-estar emocional,
tanto no seu quotidiano como perante eventos stressores.
A consistência da rede social e o foco emocional promovem:
a redução de conflitos sociais;
e a resolução eficaz de problemas interpessoais.
Em adição, idosos ativos na prestação de suporte social manifestam:
emoções positivas;
e satisfação com a vida;
emoções negativas;
e mortalidade.
Neste sentido, sujeitos que vivem a vida com um objetivo mais abrangente aderem com
maior facilidade a um sistema de valores que se adequa com a realidade social mais
ampla, e que convergem em maior equilíbrio emocional.
28. Conclusão
A compreensão do processo de envelhecimento ao nível cognitivo facilita a identificação
de sinais e sintomas caraterísticos:
recordações distorcidas;
falhas de memória;
erros atencionais;
dificuldades em alternar tarfas;
dificuldade em aprender por repetição;
e dificuldade em compreender tarefas complexas.
A prevenção e intervenção cognitiva são tão fundamentais como a sensibilidade requerida
para as dificuldades sentidas pelos idosos no desempenho de tarefas.
A diversidade potencia a resistência cognitiva ao processo de envelhecimento e a
recuperação funções perdidas ou condicionadas.
As funções executivas mais afetadas pelo envelhecimento são as que devem servir de base
à prevenção e intervenção.
29. Conclusão
O desenvolvimento cognitivo pode ser aplicado a todas as faixas etárias.
O bem-estar emocional relaciona-se diretamente com o desempenho cognitivo, na medida
em que depende de funções executivas.
A alteração do foco emocional é adquirida pela experiência e permite a integração de uma
perspetiva mais positivista que confere maior resistência.
A compreensão do processo de envelhecimento ao nível emocional facilita a identificação:
da postura passiva caraterística dos idosos;
da prevalência de interpretações e memórias positivas;
e do aumento do controlo emocional.
A qualidade das relações sociais, diretamente relacionada com as experiências
emocionais positivas, não sofre alterações com a idade e depende do balanço entre a
quantidade e consistência das relações interpessoais da rede de suporte.
A rede social potencia o desenvolvimento cognitivo e a estabilidade emocional dos
sujeitos.
30. Conclusão
As alterações sociais dependentes da idade assentam na tipologia e tamanho das redes
sociais estabelecidas.
A compreensão do processo de envelhecimento ao nível social facilita o reconhecimento:
da necessidade de suporte social da família para os idosos;
da restrição da rede social com o aumento da idade;
e da necessidade dos idosos se sentirem socialmente ativos e úteis.
A psicologia na terceira idade assenta na promoção do bem-estar e equilíbrio funcional,
através da potenciação da tríade que envolve as cognições, as emoções e o suporte social.
O apoio psicológico permite a transmissão de técnicas e estratégias para lidar de forma
adaptativa com o processo envelhecimento.
Apesar de ser fundamental a promoção do bem-estar físico e psíquico na 3ª idade, o
envelhecimento é um processo contínuo que requere uma consciência constante para a
prevenção dos seus efeitos.
32. Bibliografia
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