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Biografia e memórias
do educador,
professor e
Mestre Rocha
Raquel Alves e Raphael Rocha
1
2022. Raquel Alves e Raphael Rocha
Todos os direitos reservados.
Diagramação e Revisão:Raquel Alves.
Ilustração da Capa: Luciano Brito.
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização
prévia dos autores. As demais imagens utilizadas neste livro são de
caráter ilustrativo, com seus direitos também protegidos porlei.
2
Apresentação
Mestre Dhy Rocha, Mestre Dragão Rocha ou
simplesmente Mestre Rocha: estes são alguns dos nomes
mais conhecidos e significativos que fazem menção ao
educador, professor e mestre de Capoeira, Antonio Pereira
Rocha, cidadão maranhense, mas de corpo, coração e alma
juazeirense.
A pretensão deste livro é ressaltar a importância
dessa lendária figura histórica no desenvolvimento da
Capoeira Angola e Regional1 na região do Cariri Cearense2,
1 “A capoeira de angola homenageia as tradições dos escravos
angolanos e a capoeira regional é chamada assim por ter nascido na
região da Bahia e por seu criador ter sido o baiano Manoel dos Reis
Machado, conhecido como mestre Bimba”(ROCHA, s/d, p. 06).
2 Para diferenciá-lo do Cariri Paraibano. Neste Cariri Cearense
destacamos a região metropolitana Crajubar, que compreende os
municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha.
3
bem como, apresentar a história de vida deste profissional
da Educação Física.
Contudo, sempre procurando construir um diálogo
com a Capoeira, “luta brasileira e símbolo de liberdade”,
como o próprio mestre Rocha postulava, pretendemos
demonstrar como esse tipo de luta3 sempre foi uma
filosofia de vida4 para Rocha, que pulsa a história do povo
negro e se tornou um reflexo da construção da vida e da
identidade do mestre Rocha, homem humilde, esforçado,
inteligente, digno, crente em Deus, que sempre valorizava
a fé, o trabalho e a família.
Devoto de Senhor do Bomfim, Padre Cícero, São
Francisco, São João Bosco e Nossa Senhora das Dores,
mestre Rocha tinha orgulho de sua fé no Catolicismo. Ele
também foi um sonhador, que batalhou pela educação
como uma forma de construir um mundo mais justo e
respeitoso.
Também não podemos deixar de fora, o Rocha que
fazia caridade e cuidava dos animais abandonados, uma
3 “Jogo, luta, dança, arte, manifestação e resgate de um povo, em que
os praticantes utilizam as pernas. Foi introduzida no Brasil no século
XVI pelos negros bantos de Angola” (ROCHA, s/d, p. 06).
4 Definida como um “conjunto de ideias ou atitudes que fazem parte
da vida de um indivíduo ou grupo”.
Fonte: Significado de Filosofia. Site Significado, s/d. Disponível
em: https://www.significados.com.br/filosofia-de-vida/. Acesso em:
18 dez. 2021.
4
“grande criança” que gostava de hq’s, livros, desenhos
animados (especialmente se fossem nipônicos), de filmes
de ação e artes marciais (Bruce Lee e Jim Kelly foram dois
artistas marciais que influenciaram mestre Rocha), dentre
outras pequenas curiosidades da vida deste educador.
Nosso pai, o Mestre Rocha, fez um pedido em vida,
assim que a sua filha escritora, Raquel Alves, tivesse a
oportunidade ou mesmo o tempo para dedicar-se a este
ofício: um livro sobre sua história de vida.
Naquele período, a escritora imaginou um projeto
voltado à literatura infanto-juvenil ou em forma de um
mangá5 que contasse a história de um pequeno herói
chamado “Dhy Rocha”. E, é com certa nostalgia, em forma
de lágrimas e emoções conflitantes no espirito, que
escrevemos esse registro de memórias de imagens e
palavras, enquanto ainda estamos vivos, bem de saúde e
respirando, porque a vida é como um breve sopro de um
vento...
E aqueles que tiveram o prazer de conviver com o
Mestre Rocha e aqueles que não o conheceram poderão
sentar-se no conforto de seu lar e folhear este livro, com a
certeza de que terão a incrível oportunidade de desbravar
parte desta valiosa história de vida do educador, professor
e mestre Rocha: que as futuras gerações do Cariri
Cearense, do Brasil e do mundo tenham a consciência do
5 Nome dado às histórias em quadrinhos japonesas.
5
legado deixado por Antonio Pereira Rocha, mestre Dhy
Rocha, Mestre Dragão ou Mestre Rocha!
Nós poderíamos construir um livro de biografia e
memórias com depoimentos de inúmeras pessoas que
tiveram sua vida tocada pelos ensinamentos de Mestre
Rocha: mas decidimos vasculhar cada gaveta e armário,
bem como, cada cantinho do lar do professor Rocha e
deixar que os borrões ou rascunhos inacabados, livros e
cadernos de anotações, registros de imagens, vídeos e
áudios do próprio mestre Rocha convertessem no guia
necessário para que, cada um de nós, pudéssemos ter
acesso a sua história de vida...
E caso, nesse caminhar, alguma memória esteja
escondida ou falha, estamos comprometidos, como filhos,
a resgatá-la a qualquer custo!
Boa leitura!
Raquel Alves
Escritora e Jornalista
Raphael Rocha
Sensei de Karate e Instrutor de Capoeira
6
“Se queres crescer na vida, descruze os braços, arregace
as mangas e parta para a luta, pois somente lutando
conseguirás concretizar os teus sonhos”.
Mestre Rocha
7
Sumário
Introdução.........................................................09
Capítulo 1- Capoeira, símbolo de liberdade: a
relação dessa luta brasileira com a vida do
professor Rocha.................................................11
1.1 Primeiro contato de Antonio Pereira Rocha com
a Capoeira...........................................................................14
1.2 Praticando a Capoeira.......................................25
Capítulo 2- O caminho de um educador.............33
2.1 Por que ser Professor de Educação Física e
Capoeira?...........................................................................36
Capítulo 3- A importância do Mestre Rocha no
desenvolvimento e popularização da capoeira na
região do cariri cearense...................................47
8
3.1 Mestre Rocha: um dos introdutores da Capoeira
na Região do Cariri............................................................49
3.2 Do grupo A senzala do Rocha ao Grupo de
Capoeira Zumbi dos Palmares..........................................57
3.3 Projeto Capoeira nas Escolas...........................65
3.4 Última Grande Roda e Batizado de Capoeira de
Mestre Rocha.....................................................................82
3.5 Frases, cordéis, músicas e paródias escritas pelo
professor Rocha.................................................................85
Capítulo 4- Kcapojuboxe: a arte marcial
caririense..........................................................94
4.1 Kcapojuboxe: a arte marcial caririense............95
Capítulo 5-A Kapokboxe Academy: último projeto
do Mestre Rocha................................................98
5.1 Kapokaboxe Academy.......................................99
Considerações finais........................................104
Referências Bibliográficas................................106
Os autores.........................................................110
9
Introdução
Este livro é uma homenagem à memória do
fundador da Kapokaboxe Academy e do Grupo de
Capoeira Zumbi dos Palmares, Antonio Pereira Rocha,
mais conhecido como professor Rocha.
Ele nasceu na cidade de Pedreiras- Maranhão
(Brasil) no ano de 1960. Começou a praticar artes marciais
ainda na infância, em meados da década de 70, no Distrito
Federal, na cidade de Taguatinga Norte, com o objetivo de
usar as artes marciais para a defesa pessoal.
Em 1977, Mestre Rocha (juntamente com o Mestre
Tena) foi um dos introdutores da Capoeira na região do
Cariri- Ceará- Brasil. No ano de 1978, praticou Capoeira
no Grupo “A Senzala do Bimba” com o mestre Bimbão,
que dizia ser sobrinho de Manoel dos Reis Machado –
Mestre Bimba, o criador da Capoeira Regional. Seu último
mentor, no aprendizado da Capoeira, foi Mestre Cleber
10
Soares de Paula, da Associação Roda Livre de Capoeira,
em Taguatinga- DistritoFederal.
O professor Rocha treinou Karatê, Boxe e Judô, e
foi instrutor do 1º Regimento de Cavalaria de Guarda do
Exército Brasileiro, quando prestou serviço militar. Nas
artes marciais, era Mestre em Capoeira Angola e Regional,
faixa preta em Karate Full Contact e graduado em Judô.
Além da prática em artes marciais, tinha formação
em Técnico de Contabilidade (Escola Técnica do Comércio
de Juazeiro do Norte), Pedagogia pela Universidade
Regional do Cariri (URCA), Licenciatura em Educação
Física pela Universidade do Vale do Acaraú (UVA) e Pós-
Graduado em Atividades Físicas para portadores com
deficiência pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF), exercendo as funções de professor de Educação
Física, professor Polivalente e professor de Capoeira e
Defesa Pessoal em escolas e projetos da rede particular e
pública (municipal e estadual) de ensino, na cidade de
Juazeiro do Norte.
Durante sua trajetória, buscou conhecer outras
artes marciais e, assim, começou a desenvolver o projeto
da primeira arte marcial caririense, a Kcapojuboxe.
Contudo, o seu marcante e último projeto em vida foi a
Kapokaboxe Academy, que segue adiante na
responsabilidade do Sensei Raphael Rocha.
11
Capítulo 1-
Capoeira, símbolo de
liberdade: a relação
dessa luta brasileira
com a vida do
professor Rocha
Poderíamos começar esse livro da forma clássica
como estamos acostumados a folhear: era uma vez... Mas,
todos nós temos a consciência de que o “Grande Rocha”
existiu... E ainda existe na forma eterna, no reino de Deus
Pai, e na forma terrena, através das memórias e ações que
sempre irão fazer menção à trajetória significativa da vida
do professor Rocha.
12
Um homem negro, simples, pobre, cuja mãe viúva
ainda cedo, juntamente com seus irmãos, resolveram
mudar-se do Maranhão para Brasília... E lá, na cidade
grande e planejada, o pequeno Rocha teria um pouco de
conhecimento de algumas dificuldades que regem a vida
da maioria dos brasileiros.
O menino Rocha foi crescendo e aprendendo com
todas as lições que a vida poderia lhe ensinar, mas, mesmo
sentindo dificuldade de entender certos dilemas da vida,
Rocha continuou vivendo... e crescendo...
Na casa dos vizinhos assistia, com as crianças, os
desenhos animados para driblar uma barriga que roncava
de fome... E percebendo isso, o dono da casa lhe servia um
alimento... E foi assim que Rocha aprendeu a valorizar três
coisas que sempre estiveram presentes em sua vida: a fé
em Deus, para vencer qualquer adversidade; o valor de
uma família na vida de um homem; e a gratidão por ter
um alimento para comer... Recordamo-nos da oração que
o mesmo ensinou, ainda quando éramos pequenos:
“Obrigado, meu Deus, pelo santo alimento que o Senhor
nos dá todos os dias, hoje, agora e sempre! Amém!”.
Passado algum tempo, o jovem Rocha conheceu a
Capoeira, que foi a sua primeira grande paixão...
Irresistivelmente entregou-se à ginga e aos cânticos dessa
arte e luta brasileira, ao mesmo tempo que buscou
aprimorar sempre o conhecimento dessa filosofia de vida e
13
representação da força do povo negro na cultura
brasileira... E sua segunda grande paixão, aconteceu um
dia, enquanto andava de bicicleta (um de seus hobbies
prediletos): se apaixonou por uma juazeirense, da terra de
meu “padim Ciço6”, que estava sentada na calçada em
frente à sua casa, quando os olhares de suas almas se
conectaram pela primeira vez... O nome dessa jovem, que
mexeu profundamente com o coração do “jovem mestre”,
é Cícera. Costumamos dizer que “a paixão sem amor, é
desejo... e desejo, um dia acaba”. No caso do futuro
professor e mestre de Capoeira Rocha, e da futura
bacharel em Direito e professora, Cícera Queiroz Alves,
este foi um amor avassalador que enfrentou as maiores
dificuldades para que, enfim, se concretizasse...
O caminho de um homem honesto e que segue o
bem é sempre mais difícil, no sentido de que é repleto de
desafios: contudo, seguir esse caminhodo bem compensa!
A trajetória de Antonio Pereira Rocha não poderia
ser simplesmente esquecida! Neste capítulo iremos tratar
da história de um dos fundadores da Capoeira na cidade
de Juazeiro do Norte, futuramente conhecido como
Mestre Rocha.
6 Padre Cícero foi um padre católico e fundador da cidade de Juazeiro
do Norte, protagonista, juntamente com a beata Maria de Araújo, do
famoso e misterioso Milagre da Hóstia. É conhecido popularmente,
numa forma carinhosa por seus romeiros, como “meu padim Ciço”.
14
Apresentaremos relatos encontrados em um
caderno, na forma de anotações, que serão
complementados com uma parte de seu Memorial escrito
como trabalho para a disciplina “História das Práticas
Corporais”, quando o mesmo estava cursando a
Licenciatura em Educação Física pela Universidade
Estadual Vale do Acaraú- UVA. O documento em questão
contém o relato do primeiro contato de Rocha com a
Capoeira, ainda na sua infância, bem como acontecia o
treino dessa luta brasileira no Grupo “A senzala de
Bimba”, “Vocação do Negro”, dentre outros lugares. Outro
trabalho a ser citado é o artigo “A inserção da Capoeira nas
Escolas da Rede Pública e Privada da cidade de Juazeiro
do Norte Artigo”, apresentado pelo professor Rocha à
Coordenação do Curso de Educação Física da
Universidade Estadual Vale do Acaraú– UVA, como
requisito para a obtenção de título de Licenciado em
Educação Física, no ano de 2012.
1.1 Primeiro contato de Antonio Pereira Rocha
com a Capoeira
Para quem não conhece a Capoeira7, apresentamos
um rápido resumo: o prof. Dr. Augusto Maciel Torres, na
7 Fontes: Salvaguarda da Roda de Capoeira e do Ofício dos
Mestres de Capoeira: apoio e fomento/ coordenação e organização
Rívia Ryker Bandeira de Alencar. Brasília: IPHAN, 2017.
15
apresentação do livro “Capoeira: arte marcial brasileira”,
explica que responder essa pergunta “o que é a capoeira?”
requer um mergulho além do que é a própria arte
brasileira mencionada: é preciso ser conhecedor também
da “história, sociologia, filosofia, dança, coreografia, além,
obviamente, das técnicas do esporte”, (TORRES, 2011 In:
TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p. 07), alguns dos
“lugares de pertença e de transformação” da Capoeira.
Acrescenta ainda que em relação à origem, alguns
pesquisadores ainda questionam se foi na África ou no
Brasil. Contudo, o professor e capoeirista acredita que:
[...] a origem africana ou brasileira é
irrelevante, tendo em vista que a
Capoeira já se encontra tão arraigada no
contexto histórico e cultural de nosso
país, que já virou patrimônio brasileiro,
independente de sua origem (TORRES,
2011 In: TORRES, SANTOS, BUENO,
2011, p. 07).
A Capoeira se desenvolveu como “dança disfarçada
de luta” através do povo negro, escravizado em nosso país,
sendo uma forma de resistência e de reação à opressão. O
intuito era que pudessem se defender do Capitão do Mato.
Por isso, “a forma encontrada pelos cativos para reagir a
toda essa opressão foi o desenvolvimento de uma técnica
TORRES, José Augusto Maciel; SANTOS, Carlos Alberto Conceição
dos e BUENO, Fábio Amador. Capoeira: arte marcial brasileira. São
Paulo: On Line, 2011. 96 p.: il.
16
de luta, objetivando a defesa contra os agressores”
(TORRES, 2011 In: TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p.
13).
Em se tratando do que mencionamos acima, os
autores acreditam que a dança, a música e a coreografia,
incorporadas à capoeira, serviram como disfarce ao real
sentido da luta. Acrescenta que:
Desta forma, os escravos passaram a
praticar a luta, [...] em terreiros
próximos às senzalas [...], assim como
em campos adjacentes, conhecidos, à
época, como “capoeira” ou “capoeirão”
(que posteriormente, segundo uma das
diversas teorias existentes, viria a dar o
nome à luta (TORRES, 2011 In:
TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p.
14).
Complementando a citação acima sobre a capoeira8,
para o professor Rocha:
[...] A capoeira é a única arte marcial a
qual traz a música e o canto como
8 Já o prof. Dr. Hélio José Bastos Carneiro de Campos, na introdução
do livro acima mencionado, define a Capoeira como: “[...] uma
manifestação afro-brasileira, [...] um fenômeno de resistência
singular. Conseguiu sair de situações demasiadamentedesfavoráveis,
a exemplo da marginalização e do Código Penal Brasileiro, resistindo
aos Capitães do Mato, à perseguição policial e, principalmente, à mais
perversa das perseguições: a injúria social” (CAMPOS, 2011 In:
TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p. 08).
17
primazia de sua prática, dando o ritmo
dos movimentos e o estímulo a ser
jogado: por essa razão são utilizados o
berimbau, atabaque, o pandeiro, o afoxé
e outros instrumentos na prática da
capoeira (ROCHA, 2010, p. 04)9.
Sendo assim, percebemos que a Capoeira é um
conjunto de práticas culturais, que abrange uma luta,
praticada em aproximadamente 150 países, “com
variações regionais e locais criadas a partir de suas
‘modalidades’ mais conhecidas: as chamadas capoeira
angola e capoeira regional” (Salvaguarda da Roda de
Capoeira e do Ofício dos Mestres de Capoeira: apoio e
fomento, 2017, p. 06). Sobre os dois tipos mais conhecidos
da Capoeira, assim o professor e mestre Rocha (1998)
versa que:
[...] A capoeira começou a ser ensinada
regulamente nos anos 30 e já naquela
época estava dividida em duas vertentes:
a capoeira de angola, nome que
homenageia as tradições dos escravos
angolanos e a regional, chamada assim
por ter nascido na cidade da Bahia
(ROCHA, 1998, p. 03).
Trazendo a discussão para o contexto da
contemporaneidade, importantes acontecimentos
9 ROCHA, Antonio Pereira. Plano do Curso de Educação Física
[documento impresso]. Séries 7º, 8º e 9º (4º ciclos). Juazeiro do
Norte, Ceará: 2010.
18
marcaram a história da Capoeira. Entre eles, destacamos
que a Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e a Cultura (UNESCO) reconheceu, no ano de
2014, a Roda de Capoeira como Patrimônio da
Humanidade (Salvaguarda da Roda de Capoeira e do
Ofício dos Mestres de Capoeira: apoio e fomento, 2017).
Contudo, essa apresentação do que é a Capoeira
serve para que tenhamos noção acerca do tema e como
essa arte brasileira estabeleceu uma conexão com a vida
do professor Rocha. Tudo começou quando, vasculhando
ainda mais gavetas, encontramos um Memorial escrito à
mão por uma de suas filhas, que o mestre Rocha
costumava dizer ter uma “caligrafia bonita”. Este trabalho
foi apresentado, na época, à disciplina História das
Práticas Corporais no curso de Educação Física, na
Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA, no período
de 2010:
Ao falar da minha infância e com relação
ao curso de Educação Física e a escolha
pela Capoeira, volto ao passado, ou seja,
ao final do ano de 1969, quando a minha
genitora decidiu mudar-se para a cidade
de Taguatinga Norte, no Distrito
Federal, levandotodos nós, pois éramos
seis irmãos. Embora muito pequeno
naquela época, recordo-me de algumas
coisas como, por exemplo, quando nós
19
chegamos em Taguatinga e fomos
residir na QNM 710.
Estando, pois, residindo naquela localidade, Rocha
começou a ter amizade, primeiro, com o filho do dono do
barraco onde morava com sua família e, depois, com
alguns meninos do bairro que tinham uma grande paixão:
o futebol de campo. Sempre quando era o momento do
jogo, Rocha era convidado a brincar com os garotos,
embora soubesse que não tinha a habilidade necessária
para tal esporte. Contudo, o pequeno Rocha tinha como
grande paixão andar de bicicleta: quem sabe, o sentimento
de você explorar, com esse transporte, lugares ainda não
conhecidos no bairro ou mesmoa liberdade (na forma do
vento a soprar no seu rosto, cada vez que o mesmo
pedalava sua bicicleta) fosse o real motivo dele gostar
tanto de andar de bicicleta. Entretanto, devido a
insistência de seus colegas, Rocha decidiu jogar futebol no
campeonato de rua, promovido pelos próprios garotos:
Após alguns minutos do jogo, senti no
olhar dos mesmos [meninos] a
decepção, porque eles pensavam que eu
fosse bom de bola, mas comonosso time
perdeu e eu não fiz nenhum gol, um dos
meninos disse assim: “Ele só se parece
com Pelé na aparência, mas não joga
10 ROCHA, Antonio Pereira. Memorial (apresentado à disciplina
História das Práticas Corporais- escrito à mão). Universidade Estadual
Vale do Acaraú- UVA. Instituto Dom José de Educação e Cultura- IDJ-
Curso de Licenciatura em Educação Física. Crato, Ceará: s/d.
20
nada... Ele parece mais com um
“praticante” de Capoeira...”11.
Sem entender o porquê, naquele momento, o
pequeno Rocha gravou aquelas palavras na profundidade
de sua mente e de seu coração... Quem sabe um dia aquilo
iria fazer algum sentido na sua vida? A própria “vida” logo
responderia a esse questionamento...
Alguns anos depois, a família de Rocha mudou-se
para a QNH 10, no mesmo bairro. Aqui temos o relato de
como, na escola onde estudara, ele teve contato também
com a Capoeira:
A minha genitora tomou conhecimento
que na divisa entre a SHIS Norte e
Taguatinga Norte existia uma escola de
1º grau de nome “Escola Classe Nº 26”,
na qual me matriculou e comecei a
estudar. Naquela escola funcionava o
sistema tradicional, o qual somente o
professor era dono do saber e só ele
falava e os alunos escutavam: mas, nas
aulas de jogos e recreação, de vez em
quando, os professores da disciplina
acima mencionada aceitavam opiniões
dos alunos. Por isso, apareciam diversas
brincadeiras, as quais nos prendiam à
própria escola e ao sistema. Foi através
11 Ibidem.
21
de uma dessas brincadeiras que eu criei
(adquiri) interesse pela Capoeira12.
No artigo “A inserção da Capoeira nas Escolas da
Rede Pública e Privada da cidade de Juazeiro do Norte
Artigo” (2012), voltamos a nossa atenção no tópico
referente à discussão “A CAPOEIRA E AS ESCOLAS”, que
temos o complemento do contato de Rocha com a
Capoeira através da escola, conforme o relatado na citação
acima. Segundo o mesmo, por volta do ano de 1972,
quando ainda era aluno do Ensino Primário, na Escola
número 26, que estava localizada na Shis Norte, Distrito
Federal, nas aulas de jogos e recreação, “os professores da
citada disciplina, de vez em quando, davam iniciação à
Capoeira, ou seja, [...] ensinavam os movimentos básicos,
falavam sobre a história da Capoeira e de como ela [a
capoeira] chegou ao Brasil” (ROCHA, 2012, p. 10). Isso
demonstra, em parte, a relação que essa arte, dança e luta
brasileira construiu ao longo do tempo com a disciplina de
Educação Física, no ambiente escolar.
Entretanto, outras situações fariam Rocha perceber
o chamado da Capoeira. Essas informações foram
encontradas em um antigo caderno de anotações do
professor:
Iniciei a prática da Capoeira no ano de
1974, na cidade satélite de Taguatinga
12 Ibidem.
22
Norte, Distrito Federal. Neste ano eu
[...] estudava do outro lado da avenida
principal que dava acesso para a
Ceilândia, outra cidade satélite e, por
diversas vezes, quando eu ia para a
escola, passava por algumas das ruas da
Asa Norte e era perseguido e, muitas das
vezes, agredido fisicamente por alguns
meninos que moravam naquelas
mediações. Num certo dia, quando
estava indo para a casa da minha tia,
que residia no outro lado da avenida
principal da Shis Norte, vi um grupo de
pessoas. Ao me aproximar foi que eu
percebi que se tratava de uma roda de
capoeira. Fiquei ali parado observando
aqueles belíssimos movimentos de
ataque e defesa, acrobáticos,
acompanhado por cânticos, palmas e
alguns instrumentos musicais como o
pandeiro e o berimbau.
Tristes momentos de agressões verbais ou físicas
fazem parte da vida de muitos jovens hoje em dia.
Algumas dessas práticas têm-se o título de bullying13...
Entretanto, na Capoeira, Rocha encontrou uma forma de
se libertar de ameaças de violências físicas, ao mesmo
tempo que enxergava nessa luta um sentido de proteção
aos fragilizados, cuidado com o outro e o tão sonhado
“grito de liberdade” do corpo e da alma.
13 Definido como práticas de violência física, verbal ou psicológica, em
relação a uma vítima, realizada porum ou mais agressores.
23
Como fora dito na citação acima, os movimentos
que eram acompanhados do toque de instrumentos
musicais típicos desta luta, chamaram a atenção ainda
mais do Rocha que, com certeza, daquele momento em
diante soube que a sua vida estaria ligada para sempre
com a Capoeira. A partir daquele dia, em toda a
oportunidade de tempo livre, Rocha sempre observava,
cada vez mais encantado, as rodas de capoeira. Contudo,
ao chegar em casa, mesmo sendo um lugar bastante
pequeno, “tentava reproduzir alguns daqueles golpes ou
movimentos [...]”14.
Por volta de 1975, Rocha foi morar com um de seus
cunhados na QNM 36, conjunto e casa 36 M. Norte.
Chegando lá, que alegria eu senti ao ver
um quintal razoavelmente grande [...],
pois o barraco que nós morávamos era
muito apertado [e ficava difícil a
execução dos movimentos de capoeira]
[...]15.
Naquele lugar, portanto, treinava mais
intensamente os movimentos de Capoeira que observava
nas rodas da cidade, da chamada “Capoeira de Rua”16.
14 Relato oriundo de um caderno pessoal de anotações.
15 Ibidem.
16 Capoeira de Rua ou Roda de Rua, definida no artigo “Capoeira de
Rua e Capoeira na Rua”, como aquela luta “caracteriza por grupos que
se encontram exclusivamente nesses espaços [a rua] para a prática da
24
Contudo, foi através da compra do primeiro livro sobre o
tema da Capoeira, que Rocha foi adquirindo mais
conhecimento histórico e técnico sobre a luta em questão:
Meu cunhado de vez em quando me
dava algumas moedas e eu ia juntando,
até que um dia, passando em frente a
uma certa livraria, vi na parte do
mostruário um livro de capoeira, que
tinha como título “Capoeira sem mestre”
das Edições de Ouro, que tinha como
escritor Lamartini P. da Costa. Me
aproximei da entrada da livraria e
perguntei o preço daquele livro [...].17
Acrescenta-se à informação, de que essa
aprendizagem da Capoeira de Rua e Capoeira de Quintal
ocorreu com a orientação dos futuros mestre Cleber e Cal,
oriundos de Brasília, por volta dos anos de 1974 a 1975.
Poderia ser coincidência ou destino, mas o valor do
livro correspondia às moedas que o jovem tinha juntado
ao longo de tempo. E assim, feliz, ele foi até a casa da sua
irmã, pegou o dinheiro que estava guardado em uma
pequena caixa e retornou à livraria:
Chegando lá, mal podia respirar [...]
Adentrei na livraria e comprei o livro. O
meu coração batia forte de tanta alegria.
sua capoeiragem, não possuindo uma sede fixa, ou um espaço fechado
onde se realizam treinos e rodas” (ABIB, 2012, s/p).
17 Relato oriundo de um caderno pessoal de anotações.
25
Passei alguns meses lendo o livro até
que adquiri um conhecimento mínimo
dos movimentos e golpes expostos
naquele livro e passei a treiná-los [com o
auxílio de um] saco cheio de areia, como
também, de vez em quando, utilizava
[...] alguns pés de bananeira com o
mesmo objetivo18.
Encerramos esse tópico com a percepção inicial de
como o ensino, a educação física e a capoeira sempre
aparecem interligadas à vida de Rocha, nesse chamado do
caminhar da história deste educador, que será o tema do
próximo capítulo.
1.2 Praticando a Capoeira
Depois de alguns meses de leitura e reprodução dos
movimentos contidos no livro “Capoeira sem mestre”,
Rocha se sentiu preparado para buscar um treinamento
em um grupo de Capoeira. Sendo assim, foi:
[...] treinar Capoeira com o mestre
Cleber, no fundo do quintal da casa dele
[...] O mesmo, na época, era aluno do
mestre Barto do Grupo de Capoeira
Pequeno Dragão. Mesmo tendo o
mínimo de conhecimento de capoeira,
que na realidade era quase nada
comparado ao do mestre e do outro
18 Ibidem.
26
capoeirista que também ia treinar lá,
[...] mesmo assim, [eu] acompanhava
com muita dedicação a todos os treinos
[...]19.
Em março de 1977, Rocha viaja à cidade de Juazeiro
do Norte- Ceará, onde conhece o mestre Tena. Juntos, os
dois são os introdutores da capoeira naquela cidade. Esse
fato será contado com mais riqueza de detalhes no tópico
“3.1 Mestre Rocha: um dos introdutores da Capoeira na
Região do Cariri”.
Passando algum tempo, treinandocom mestre Tena
e ensinando aos seus alunos, Rocha retorna ao Distrito
Federal, no início do ano de 1978, para morar com uma
irmã que residia na QMN-36, que ficava situada entre as
cidades satélites de Taguatinga Norte e Ceilândia Norte.
Aproveita, então, a oportunidade para prestar serviço
militar e continuar praticando Capoeira. Continua o
mestre Rocha afirmando que:
No ano de 1978, praticava Capoeira no
Grupo A Senzala do Bimba com o
mestre Bimbãoque, segundo o mesmo,
era sobrinho de Manoel dos Reis
Machado – Mestre Bimba, o criador da
19 ROCHA, Antonio Pereira. Memorial (apresentado à disciplina
História das Práticas Corporais- escrito à mão). Universidade Estadual
Vale do Acaraú- UVA. Instituto Dom José de Educação e Cultura- IDJ-
Curso de Licenciatura em Educação Física. Crato, Ceará: s/d.
27
Capoeira Regional. As aulas de Capoeira
aconteciam nos finais de semana no
pátio de uma determinada Escola
Classe, da cidade satélite de Taguatinga
Norte, DF. (ROCHA, 2012, p. 10).
Essa realidade era bastante presente na época, em
que alguns grupos de Capoeira utilizavam espaços
escolares no desenvolvimento de atividades relacionadas
com essa luta, o que, com certeza, serviu para que mais
jovens tivessem um contato diretocom essa luta brasileira.
A prática da capoeira com o Mestre Bimbão foi do
ano de 1978 até o início de 1980, onde recebeu,
posteriormente, a graduação de Contramestre de Senzala.
Contudo, entre os períodos de 1978 a 1981, o professor
Rocha também praticou capoeira com outros mestres,
dentre eles: Mestre Cal (foi Campeão Brasiliense de Vale
Tudo), na época, aluno do mestre Barto (ex-discípulo de
Vicente Ferreira Pastinha- Mestre Pastinha, o maior
defensor da Capoeira Angola no Brasil) (ROCHA, 2012;
ROCHA, s/d).
Em se tratando do serviço militar (1980), ingressou
nas Forças Armadas- Exército, servindo ao 1º Regimento
de Cavalaria de Guarda (Dragões da Independência) na
função de Fuzileiro Hipo e Instrutor de Defesa Pessoal do
28
4º Pelotão do 3º Esquadrão (fotos 01, 02 e 03)20, onde
permaneceu até abril de 1981 (ROCHA, s/d). Após “dar
baixa” nos Dragões da Independência, na cidade satélite
de Ceilândia Norte, participou de um torneio aberto de
Capoeira.
Foto 01: Antonio Pereira Rocha durante o período de serviço
militar.
Fonte: arquivo pessoal, 1980.
20 Informações conforme o certificado de Reservista de 1ª categoria-
11º RM- 1º Regimento de Cavalaria da Guarda- OM. Soldado QMG
02- QMP 001 (qualificação militar).
29
Foto 02: Antonio Pereira Rocha durante o período de serviço
militar (da esquerda à direita, é o segundo).
Fonte: arquivo pessoal, 1980.
30
Foto 03: Documento de honra ao serviçomilitar
demonstrando boa conduta e caráter do soldado Rocha.
Fonte: arquivo pessoal, 1981.
31
Em abril de 1981, Rocha retorna à cidade de
Juazeiro do Norte e, durante esse tempo, conhece e
namora com a jovem Cícera Queiroz Alves (fotos 04), que
na época, era bacharel em direito (e seria futura professora
de pedagogia e história). O casamento aconteceu no dia 24
de dezembro de 1984, na Paróquia do Sagrado Coração de
Jesus. Desta união nasceram três filhos.
Foto 04: O casal de professores em sua época de namoro e em
seu casamento.
Fonte: Arquivopessoal, 1981.
32
Assim, finalizamos essa parte “1.2 Praticando a
Capoeira” tendo a certeza de que, com bastante
humildade, e tendo a consciência e o respeito por seus
instrutores e mestres, Rocha foi aprendendo e
descobrindo a sua própria identidade na Capoeira.
Recebeu como primeiro nome de “batismona Capoeira” o
apelido de Gordo: só descobrimos essa informação após a
sua morte, em uma conversa com o seu antigo mestre, o
senhor Cleber. Acreditamos que a razão para este apelido
tenha sido o fato do corpo/porte físico de Rocha: um
jovem magrinho, mas bem definido. Então, como uma
forma tradicional de “tirar onda”, entre amigos e
companheiros de roda, ou, como uma forma de
“antônimo” diante de seu “porte físico”, este fora o seu
primeiro apelido na Capoeira.
Outros nomes que foram atribuídos ao professor
Rocha, dentro de sua história com a Capoeira foram:
mestre Rocha, na época que ainda era contramestre de
Capoeira, mas devido aos longos anos nesta graduação, as
pessoas popularmente assim lhe chamavam; mestre
Dragão Rocha, foi outro nome que fora conhecido quando
esboçou e registrou a modalidade caririense chamada de
Kcapojuboxe; e mestre Dhy Rocha quando recebeu a
graduação de mestre de Capoeira Regional e Angola
diretamente das mãos de seu antigo amigo e mestre da
Associação Roda Livre de Capoeira, Cleber Soares de
Paula.
33
Capítulo 2-
O caminho de um
educador
Cerezer e Outeiral (2011) definem o educador
“como toda pessoa que se relaciona com a criança e o
adolescente com finalidade de orientá-los em relação as
suas atitudes” (2011, p. 09). Um educador é uma pessoa
consciente de seu papel de instruir alguém com
ensinamentos acumulados de sua vida pessoal,
profissional e ademais. Se pensarmos por essa perspectiva,
todos temos a capacidade de tornarmos educadores.
Contudo, exige de nós uma consciência plena de nosso
papel moral e social na vida do outro, pois aquilo que
somos ou fazemos refletirá de maneira positiva ou
negativa naqueles que estão a nossa volta.
34
Para desempenhar a função de educador, não é
necessariamente uma obrigação ter uma titulação
acadêmica, do tipo licenciatura, por exemplo: mas, é
necessário buscar o conhecimento, de alguma forma,
como uma fonte indispensável do ato do saber. E mais do
que isso: utilizar de ferramentas ou estratégias que te
darão o suporte necessário para transmitir esses valores,
aprendizados ou conhecimentos aos outros.
E, é na prática onde somos verdadeiramente
desafiados e desenvolvemos a habilidade necessária para
se converter em um educador. Muitas vezes, uma
instituição de ensinosuperior, por exemplo, nos oferece o
conhecimento para ampliar a nossa metodologia em sala
de aula, enquanto professor, a maneira como
apresentamos os conteúdos referentes à disciplina que
lecionamos, enfim, em todos os mecanismos do processo
de aprendizado...
Entretanto, em dados momentos, a teoria da
universidade chega a ser insuficiente se não tivermos a
experiência da prática para testar até onde essa teoria é
válida, e até onde somos limitantes: nesse último caso,
temos um desafio maior para contornar essa problemática,
em busca da melhor resposta que solucione o enigma do
ato de educar21/ensinar e aprender: e o professor Rocha
21 “Educar (educere) é diferente de ensinar(insigno). Enquanto educar
tem a ver com o reconhecimento de um potencial interno a ser
desenvolvido, amadurecido, experimentado, ensinar tem a ver com
35
foi, antes de tudo, esse educador consciente de seu papel
na formação de seu aluno. Seus conselhos e ensinamentos
estavam além da sala de aula, da quadra de esporte onde
desenvolvia a prática esportiva ou do conteúdo ministrado
sobre educação física ou capoeira... Muito mais do que um
professor, Rocha era aquele conselheiro e amigo, quando
ouvia os problemas pessoais/familiares e aconselhava de
forma positiva... outras vezes, Rocha era um “pai”: quando
era necessário chamar a atenção, Rocha assim fazia... no
início, o aluno poderia sentir-se “chateado” com a
“bronca”, mas logo este percebia que “é... o professor tá
certo!”.
Esse chamado à consciência e a refletir sobre o
senso de responsabilidade, especialmente na esfera do
processo ensino e aprendizado (que constituía-se em um
primeiro entendimentode aplicar essa responsabilidade às
outras esferas da vida), era um constante lema que Rocha
reforçava na suas aulas, pois sempre entendeu a Educação
como transformação positiva na vida humana e respeito
que modificava, direta e indiretamente, a vida de muitos
dos alunos.
um processo de fora para dentro, colocar signos, significados, nomear
situações, construire desconstruirhipóteses e aprendizagens.Há uma
complementaridadeentre educare ensinaratravessada pelo conceito
de aprendizagem, não no sentido apenas conteudista, mas da vivência
afetiva aliada ao desenvolvimento intelectual” (CEREZER;
OUTEIRAL, 2011, p. 49 e 50).
36
Sendo assim, os textos que servirão de base para
esse capítulo são: o memorial do professor Rocha (s/d) e o
documento Plano do Curso de Educação Física (2010).
2.1 Por que ser Professor de Educação Física e
Capoeira?
Foto 05: No começo de seu ofício como mecânico.
Fonte: Arquivo pessoal, 1984.
37
Antes mesmo de iniciar o ofício que o imortalizaria
na história da educação de Juazeiro do Norte, o professor
Rocha (foto 05) foi mecânico de automóveis, buscando
sempre a qualificação profissional para exercer essa
função: por volta dos anos de 1984, 1986 e 1987, formou-
se no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial-
SENAI- Ceará em: Eletricista de automóvel, Mecânico em
motores diesel, Torneiro Mecânico, Mecânico de
automóvel e Curso de Solda elétrica e oxiacetilênica.
Também concluiu o curso de Mecânico de Máquina de
Costura Industrial, em 1987.
Foi no ano de 1985, que Antonio Pereira Rocha
iniciou sua atividade profissional como Professor
Estagiário, na área de Educação Física, na Escola Técnica
de Comércio, na cidade de Juazeiro do Norte,
permanecendo até o ano de 1989. Nessa instituição de
ensino concluiu também o Segundo Grau e obteve o
Certificado Profissional de Técnico de Contabilidade.
Através de suas memórias, Rocha relata como surgiu o
convite para lecionar e como esta primeira experiência
abriu-lhe as portas para o ensino:
[...] Fui convidado pelo diretor da
mesma para ensinar Educação Física
nas séries terminais do Ensino
Fundamental II, como professor
estagiário. Embora naquela época não
tendo nível superior em Educação Física
ou qualquer outra licenciatura, tendo
38
apenas concluído o 2º grau, possuía
alguns cursos de Educação Física, era
instrutor de defesa pessoal e também
contramestre de Capoeira, o que me
dava um certo conhecimento de
anatomia e fisiologia.
No ano de 1988, Rocha concluiu o curso de
Datilografia “que lhe conferiu o direito de exercer a
profissão neste cargo, no qual está habilitado22”, pela
Escola de Datilografia Leão Sampaio.
Em seguida, por volta de 1989/1990, Rocha foi
Professor de Jogos e Recreação (professor provisionado23)
do Ginásio Monsenhor Macêdo, instituição particular de
ensino religioso (católico) e em 1992 atua também como
professor de Capoeira nesta escola.
22 Conforme informações obtidas no Certificado em 08 de novembro
de 1988.
23 Define-se o provisionado como o profissional que possui o direito
quanto a um exercício profissional, observando algumas restrições.
“Segundo o Jurista Hely Lopes Meirelles, sempre que uma
determinada profissão passa a merecer um estatuto legal específico e
um Conselho Profissional, é comum que o legislador, atento à
realidade social, legitime a situação de certos profissionais que,
embora não preencham os novos requisitos da atividade, já a venham
exercendo por determinado período e em determinadas condições [...]
Em outras palavras, a lei assegura o exercício da profissão aos que já a
exerciam antes da nova legislação. Estes têm direito adquirido, de
acordo com a legislação anterior, nos moldes do que já faziam, desde
que se inscrevam no respectivo Conselho Profissional”. (In:
Provisionados: quem são?, 2003, p. 05).
39
Outra instituição particular de ensino religioso
(vinculado à Ordem Salesiana) que o professor Rocha
lecionou foi o Colégio Salesiano São João Bosco, por volta
de 1990 (atuando por quase 14 anos), na função de
professor de Educação Física e de Capoeira, em projeto de
esporte e desporto desenvolvido naquela escola. Para o
exercício deste cargo, o professor Rocha se inscreveu no
Conselho Regional de Educação Física do Estado do Ceará
(CREF), onde manteve vínculo até o ano de 2015.
Em 1994, o professor Rocha passou em um
concurso municipal na área de Educação Física e começou
a trilhar essa trajetória profissional de destaque em sua
vida. Posteriormente, como professor temporário
vinculado à CREDE 19, desenvolveu suas atividades
profissionais também em escolas estaduais, onde aplicou o
projeto Capoeira nas Escolas, alinhado às práticas de
Educação Física.
Também não podemos esquecer da atuação do
professor Rocha como bandeirinha e árbitro de futebol,
entre os anos de 1996 a 1998, no Campeonato Cearense de
Futebol, onde permaneceu filiado ao Sindicato dos
Árbitros de Futebol do Estado do Ceará- SINDCAF- CE.
Nesse período participou de cursos nas áreas de Técnico
de Futsal, Reciclagem das Novas Regras do Futsal e
Árbitro de Futebol, cursos realizados pela Liga Cratense de
Futsal, Associação Juazeirense de Árbitros de Futsal e
Federação Cearense de Futsal, respectivamente.
40
Abrimos um parêntese nesse subcapítulo para
recordar que durante o período de 1999 a 2009, o
professor Rocha esteve envolvido, de forma direta e
indireta, nas edições dos Jogos Estudantis de Juazeiro do
Norte (Jejunos), “participando com empenho e
esportividade nesse movimento que congrega jovens,
estimulando-os a superar os desafios e unindo-se em
torno de uma saudável convivência” , estando presente na
preparação e acompanhamento dos alunos/atletas das
escolas as quais exerceu sua profissão como professor de
Educação Física. Foram inúmeras escolas, turmas e
modalidades esportivas (como futebol de campo, futsal,
vôlei, handebol, basquete, carimba, vôlei de quadra, artes
marciais, e demais modalidades esportivas) representadas
pelo professor Rocha, como instrutor de vários alunos
medalhistas nesses jogos. Com esse trabalho, focado na
educação e também no esporte, conquistou
aproximadamente 300 medalhas, nesses dez anos de
participação nos Jejunos.
No ano de 2002, formou-se em Licenciatura Plena
de Ensino Fundamental- Pedagogia (turma 33) na
Universidade Regional do Cariri- URCA (foto 06), sua
primeira licenciatura, na qual, em algumas escolas atua
como professor polivalente (1º e 2 ciclos), em razão de sua
recente graduação.
41
Foto 06: O professor Rocha em sua colação de grau do curso
de Pedagogia, ao lado de sua madrinha/sogra Dona Severina,
como carinhosamente chamava.
Fonte: Arquivopessoal, 2002.
Por volta do ano de 2009, também foi professor de
artes, como complemento de carga horária e,
consequentemente, qualificou-se com Cursos de Formação
Inicial e Continuada, bem como de extensão, para que
42
esses conhecimentos teóricos fossem alinhados à sua
prática com as artes. Vale mencionar que ainda jovem e
mesmo após casado, Rocha foi um exímio artesão:
trabalhava com a criação de móveis, santos, decorações
diversas (utilizando materiais como cabaça, madeira, lã,
macramê, corda, gesso, búzio, dentre outros),
manuseando a arte da pirografia, elaborando
instrumentos musicaisda capoeira e usando betume para
pinturas. Exibia, muitas vezes, suas produções artísticas
no ano de 1983, na loja de santos de sua mãe. Além disso,
seus artesanatos enfeitavam o seu lar, quandocasou-se.
Rocha concluiu seu curso de Educação Física na
Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA, no ano de
2013, um sonho conquistado com muito suor, lágrimas e
sentimento de gratidão a Deus por ter finalizado essa
etapa tão significativa no ofício de um professor.
Sobre este fato (foto 07), temos o seguinte relato
que demonstra sua satisfação por buscar, ainda mais, uma
qualificação profissional, através da Licenciatura em
Educação Física:
[...] Quando eu ingressei no curso de
Licenciatura em Educação Física cheio
de anseios, expectativas e o desejo maior
de adquirir novos conhecimentos e,
ainda, com uma enorme necessidade de
modificar as velhas práticas de ensino,
as quais venho desenvolvendo há muito
anos, por não ter sido qualificado
43
através dos conhecimentos científicos
que se busca na universidade. Mudar de
postura significa uma prática
profissional (ROCHA, s/d, p. 17 e 18).
Foto 07: O professor Rocha em sua colação de grau do curso
de Educação Física.
Fonte: Arquivopessoal, 2013.
Em 2014, Rocha finalizou sua Pós-graduação em
Aperfeiçoamento em Atividade Física para Pessoas com
Deficiências, pela Universidade Federal de Juiz de Fora-
UFJF, outra grande conquista em sua vida.
44
Contudo, entre os anos de 2014 e 2015, sendo
submetido a uma intervenção cirúrgica para a correção da
retina, devido ao deslocamento da mesma, Rocha perdeu a
visão de um olho: portanto, desde o ano de 2015, era
professor readaptado atuando na sala de leitura e na
biblioteca da Escola de Ensino Fundamental Vereador
Francisco Barbosa, da cidade de Juazeiro do Norte.
Mesmo que não podendo exercer as atividades de
Educação Física, de forma direta ou mais “intensa”, Rocha
sempre buscava meios de incentivo a tudo isso que
representou sempre uma parte essencial de sua existência.
Podemos concluir nessa trajetória profissional do
professor Rocha que, inserido no campo da Educação
Física, as aulas deste profissional tinham como objetivo
fazer com que o aluno pudesse conhecer e respeitar a si
mesmo e o outro. Assim, tendo a dimensão de si e do
outro, cada aluno desenvolveria as práticas da Educação
Física orientadas a uma “não discriminação” do outro, em
sua diferença, “seja ela no quesito corpóreo, sexual,
mental, racial, social”, dentre outros. Portanto, ao longo
do tempo, este “aluno aperfeiçoaria suas capacidades
físicas e habilidades motoras”. Outra questão importante
é, dentro do desenvolvimento de atividades, esportes e
ademais, o aluno seria instigado a “reconhecer o seu papel
como parte de um grupo, seja na condição de líder ou
liderado, onde aprenderia sobre a cooperação mútua para
alcançar um objetivo em comum” (ROCHA, 2010).
45
Mesmo diante de tantos anos de busca por
conhecimento, Rocha tinha a certeza de sua missão como
eterno aprendiz da vida, conforme narra em seu
memorial:
Hoje, já concluído diversos cursos na
área de Educação Física e ter concluído
um curso em Licenciatura Plena em
Pedagogia, sinto-me um pouco
preparado para desempenhar a função a
qual exerço a 18 anos. Se antes não
cursei Educação Física é porque não tive
oportunidade [financeira]... Aproveitei a
oportunidade [após anos] e ingressei no
curso de educação física como aluno
graduadopara concretizar um sonho tão
desejado (ROCHA, s/d)24.
Consequentemente, essa trajetória da Educação
Física e Capoeira será melhor explanada no tópico 3.3
Projeto Capoeira nas Escolas, onde teremos mais riquezas
de detalhes sobre a atuação do Mestre Rocha.
Lembramos ainda que, quem teve a oportunidade
de adentrar na sala de estar da casa do professor Rocha,
na cidade de Juazeiro do Norte, deve ter se deparado com
uma parede branca cheia de quadros e certificados
pendurados: os certificados, portanto, eram um de seus
24 ROCHA, Antonio Pereira. Memorial (apresentado à disciplina
História das Práticas Corporais- escrito à mão). Universidade Estadual
Vale do Acaraú- UVA. Instituto Dom José de Educação e Cultura- IDJ-
Curso de Licenciatura em Educação Física. Crato, Ceará: s/d.
46
maiores orgulhos, pois representavam a comprovação do
conhecimento obtido com muitoesforço, para demonstrar
a qualificação profissional.
Desse modo, trazemos para o debate a seguinte
frase de um importante artista marcial chinês, chamado
Bruce Lee: “Eu não sou um mestre. Eu sou um aluno-
mestre, o que significa que eu tenho o conhecimento de
um mestre e a experiência de um mestre, mas eu ainda
estou aprendendo. Então eu sou um aluno-mestre25.” Isso
demonstra o espírito de um eterno aprendiz, sempre
procurando se renovar constantemente em uma das
dinâmicas mais bonitas da vida: a incessante busca pelo
saber, como transformação de si e do outro. E nada mais
justo do que apresentar a trajetória de Antonio Pereira
Rocha, como professor de Polivalente, de Educação Física,
de Defesa Pessoal e Capoeira, com base em relatos obtidos
através de seu Memorial (s/d), em relato pessoal escrito e
no Plano do Curso de Educação Física (2010), temas esses
dos próximos capítulos.
25 Bruce Lee [biografia]. Site Escola Educação, s/d. Disponível em:
https://escolaeducacao.com.br/bruce-lee/. Acesso em:22 jan. 2022.
47
Capítulo 3-
A importância do
Mestre Rocha no
desenvolvimento e
popularização da
Capoeira na região
do cariri cearense
Neste capítulo, abordaremos comoo antigo Grupo
de Capoeira “A senzala do Rocha”, fundado em 1981,
tornou-se o famoso Grupo de Capoeira Zumbi dos
Palmares, que contribuiu no ensino e popularização da
Capoeira nas principais escolas particulares, estaduais e
municipais da cidade de Juazeiro do Norte.
48
Além disso, apresentaremos detalhes sobre como a
Capoeira adentrou na cidade de Juazeiro do Norte; a
primeira Roda de Capoeira; o Projeto Capoeira nas
Escolas, dentre outros temas importantes.
Também chamaremos a atenção para o Mestre
Rocha, enquanto profissional da Educação Física,
disciplina que lecionou durante muitos anos em sua vida,
até que, no ano de 2015, tornou-se professor readaptado
(por motivos de saúde) e permaneceu responsável pela
biblioteca da última instituição de ensino que trabalhou: a
Escola de Ensino Fundamental Vereador Francisco
Barbosa, na cidade de Juazeiro do Norte.
E por fim, discutiremos detalhes do momento de
sua graduação como Mestre de Capoeira Angola e
Regional ocorrido em Brasília, um dos grandes momentos
de sua vida (2018), a última Grande Roda (evento
comemorativo realizado em 2019) e o Batizado de
Capoeira (em uma escola municipal) organizados pelo
Mestre Rocha.
Para isso, iremos nos valer do artigo “A inserção da
Capoeira nas Escolas da Rede Pública e Privada da cidade
de Juazeiro do Norte” (2012, s/d), Projeto Capoeira no
CERE (1998) e Projeto Capoeira nas Escolas da Rede
Pública Municipal (s/d), com base também em registros
fotográficos, oriundos de arquivo pessoal.
49
3.1 Mestre Rocha: um dos introdutores da
Capoeira na Região do Cariri
O ano de introdução da Capoeira, na cidade de
Juazeiro do Norte, foi 1977: os responsáveis por esse feito
histórico foram o pernambucano, chamado Mestre Tena
(chegou no Juazeiro em janeiro de 1977) e o maranhense e
futuro mestre de capoeira, chamado Rocha (chegou no
Juazeiro em março de 1977).
Sabemos que por volta da década de 70, Rocha
iniciou seu contato com a Capoeira de Rua, no Distrito
Federal (nas ruas da cidade satélite de Taguatinga Norte,
Taguatinga Centro, Shis Norte, Ceilândia Centro, Gama e
Brasília) (ROCHA, 2012; ROCHA, s/d).
Em se tratando da origem do Mestre Tena, em um
artigo, Rocha explica que:
O mestre Tena era pernambucano, mas
aprendeu a Capoeira em São Paulo.
Casou-se com uma cearense natural de
Juazeiro do Norte e com a influência da
mesma, resolveram vir para o Cariri
montar a 1ª Academia de Capoeira nesta
cidade, fato este ocorrido em janeiro de
1977 (a chegada de mestre Tena à cidade
de Juazeiro). Em abril do ano em curso
(1977), o mestre Tena concretizou o seu
grande sonho e inaugurou a 1ª
Academia de Capoeira do Cariri. A
academia era na garagem da casa da
50
sogra do Mestre, localizada na Rua do
Limoeiro, Bairro Casas Populares
(ROCHA, 2012, p. 15).
Entendemos na citação acima, que em abril de 1977,
o mestre Tena realizou o seu sonho de ter a sua própria
academia de Capoeira. Esta, se tornou ponto de referência
na cidade de Juazeiro do Norte, onde jovens tiveram
também o seu primeiro contato com essa luta brasileira.
Destacamos ainda, que em março do ano corrente (1997),
Rocha chegara de Taguatinga Norte- Distrito Federal.
Como sempre, a vida de Rocha está intimamente ligada à
Capoeira, e não tardou do jovem ter conhecimento da
existência do mestre Tena e da sua academia de Capoeira.
Posteriormente, entre os dias 19 e 20 de abril no ano de
1977, ao entrar em contato com Mestre Tena, Rocha
passou a treinar naquela Academia de Capoeira, ao mesmo
tempo que também ensinava aos alunos do Mestre Tena
(ROCHA, 2012; ROCHA, s/d).
A 1ª entrega de graduações dos alunos formados
pela Academia de Capoeira do Mestre Tena ocorreu no
início de setembro de 1977. Aquele fora um momento
bastante especial na vida de Rocha, pois o mesmo fora
“graduado com o cordão amarelo, que representava a 3ª
graduação” (ROCHA, 2012, p. 15).
Um grande momento, especialmente na vida de
Rocha foi a apresentação da primeira roda de capoeira nas
ruas de Juazeiro do Norte, pois essa situação representava
51
proporcionar ao público/sociedade um contato mais
direito com essa luta brasileira, bem como, com a própria
história da capoeira tão vinculada à história de nosso país
e do povo negro. Tal fato aconteceu na romaria de
setembro de 1977 (foto 08).
Foto 08: Registro da primeira roda de capoeira na cidade de
Juazeiro do Norte, no ano de 1977. À direita, o professor Rocha.
Fonte: Arquivopessoal, 1977.
52
Assim, o próprio Rocha nos explica como ocorreu
esse momento:
[...] reuni alguns colegas e fomos fazer a
primeira apresentação de capoeira nas
ruas de Juazeiro do Norte, fato este
acontecido na rua Padre Cícero, em
frente ao antigo Posto Marajá 02,
próximo à igreja Matriz de Nossa
Senhora das Dores. Vale ressaltar que a
aquela apresentação não chegou ao
final, pois naquela época ainda
estávamos no Regime Militar e algumas
pessoas, denominadas de Autoridades
Policiais Locais, por ignorância ou falta
de conhecimento dos mesmos, não
sabiam que a Capoeira era um jogo
atlético ou luta, que os praticantes
utilizavam, principalmente, as pernas, e
que a mesma, no anode 1972, tinha sido
reconhecida pelo Conselho Nacional de
Desporto, como esporte (ROCHA,2012,
p. 15 e 16).
Após esse evento, como fora dito no tópico 1.2
Praticando a Capoeira, Rocha teve que retornar ao
Distrito Federal em 1978, onde morou com uma irmã,
prestou serviço militar e, na ocasião, treinou com vários
mestres em distintas academias, de 1978 a 1981,
53
adquirindo, portanto, a sua graduação de contramestre26
de Capoeira.
Ao retornar ao Juazeiro do Norte, no mês de abril
de 1981, onde fixou residência, começou a ensinar
Capoeira para alguns alunos da Praça Cinquentenário, em
frente à Capela do Socorro (ROCHA, s/d). Mais
especificamente no mês de setembro de 1981, ministrou
aulas de Capoeira no Centro Social Urbano (CSU) de
Juazeiro do Norte, até o mês de dezembro do mesmo ano.
Essa oportunidade foi proporcionada pelo professor
Mauro (Capacete), que era coordenador de esportes da
entidade educacional mencionada anteriormente.
O mês de setembro de 1981 também marcou outro
importante acontecimentona vida do professor Rocha: é a
fundação de sua primeira academia de capoeira e defesa
pessoal, que recebeu o nome de “Grupo A senzala do
Rocha”, na cidade de Juazeiro do Norte, “tendo como sede
a casa de número 213, localizada na Rua São José, Bairro
Matriz, próximo ao Museu do Padre Cícero” (ROCHA,
2012, p. 16) (foto 09). Contudo, teve seu nome alterado
para Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares, no dia 20 de
novembro de 1981, “em homenagem ao maior e verdadeiro
26 Segundo informações da carteirinha de identidade estudantil
emitida pela Academia de Capoeira A senzala do Bimba, em 1981, a
graduação de Rocha consta Contramestre. Em 1995, de acordo com o
certificado emitido pela Associação de Capoeira Nego Nagô, Rocha foi
graduado Contramestre 2º grau.
54
libertador da raça negra, Zumbi dos Palmares”, como
assim enfatiza o professor Rocha, em uma de suas
anotações.
Foto 09: Casa e Local que era a sede do Grupo de Capoeira
Zumbi dos Palmares.
Fonte: Arquivopessoal, 1981
55
No início do ano de 1982 foi:
[...] convidado pelo professor Douglas, o
qual fora pioneiro na luta de vale-tudo
em Juazeiro do Norte, para ensinar
Capoeira e defesa pessoal na sua
academia “Douglas Ringue Clube”,
permanecendo na mesma de março até
o mês de outubro do mesmo ano.
Ainda em dezembro do mesmo ano (1982), tanto
treinava capoeira, bem como auxiliava nas aulas de
Capoeira do mestre Beluar (Ednaldo de Santana), o qual
tinha acabado de chegar de São Paulo e instalado a
primeira academia de Capoeira na cidade do Crato e a
terceira da região do Cariri, que recebeu o nome de
“Academia de Capoeira Vocação do Negro” (ROCHA,
2012; ROCHA, s/d). Diversas apresentações de capoeira
em clubes locais, como por exemplo, no Parque de
Exposição do Crato, foram realizadas e, assim, fizeram
com que os cidadãos cratenses pudessem ter contato com
a capoeira.
Na cidade de Barbalha (que assim como o Crato e
Juazeiro, pertence ao Crajubar), no mês de junho de 1983,
o contramestre Rocha e seus alunos foram convidados
pelo mestre Barros, a pedido do Secretário de Educação e
Cultura da cidade de Barbalha, para realizarem uma
apresentação de capoeira na Festa de Santo Antônio,
tradicional evento local da cultura popular e religiosa dos
56
cidadãos barbalhenses. Assim, Rocha descreve como fora
o momento da apresentação:
Na oportunidade, convidei o mestre
Beluar e os seus alunos para
apresentamos juntos: não poderia
deixar de convidar o mestre Tena, mas
ao chegar no local onde funcionava a
academia domestre fui sabedor que ele
havia retornado para São Paulo [...] E
chegando o dia da tão esperada
apresentação, fizemos da melhor forma
possível. Desta maneira foi feita a
introdução da capoeira na cidade de
Barbalha, através da festa de Santo
Antônio (ROCHA, 2012, p. 16).
A capoeira conectou ainda mais a região do
Crajubar, formada pelas cidades de Juazeiro do Norte,
Crato e Barbalha, com a chegada de novos professores de
capoeira e o companheirismoentreos antigos professores
que circundam as três cidades, com apresentações e
batizados de capoeira em suas respectivas academias.
Infelizmente, após o ano de 1983, Rocha nunca
mais teve notícias do mestre Tena, desde o retorno do
mesmo à São Paulo: mas este nome não poderia ser
omitido, juntamente com o nome de mestre Rocha, da
história da introdução da capoeira na região do Cariri
cearense, mais especificamente, da cidade de Juazeiro do
Norte.
57
Também destacamos, conforme suas anotações,
que no ano de 1986 chegava em Juazeiro o Mestre Tabosa,
o qual foi ministrar aulas de capoeira na Academia de
Musculação do Professor Hélio, que também naquela
época, ensinava Kung Fu na região do cariri cearense.
Vale salientar que o professor e contramestre (na
época) Antonio Pereira Rocha é, na realidade, também o
introdutor da Capoeira nas escolas da rede pública
estadual e municipal da cidade de Juazeiro do Norte,
através do Projeto Capoeira nas Escolas, tópico de
discussões futuras.
3.2 Do grupo “A senzala do Rocha” ao “Grupo de
Capoeira Zumbi dos Palmares”
Estamos no ano de 1981. A tarefa, diante de tantos
ofícios, era pensar no nome de sua futura academia de
capoeira. Muitos nomes e inspirações pairavam a cabeça
do mestre Rocha. E todos tinham uma importância
significativa.
O primeiro nome que pensou foi “Academia de
Capoeira Dragões da Independência”. Obviamente aqui
reside a influência de sua experiência como instrutor de
defesa pessoal, na época em que prestou serviço militar,
58
além de sua paixão pela simbologia do dragão27, muitas
vezes, associados ao poder, ao divino, à fertilidade e ao
renascimento, pensando em uma perspectiva dessa
simbologia na cultura ocidental (O'CONNELL; AIREY,
201128).
Contudo, em setembro de 1981, como
mencionamos no subcapítulo anterior, o nome final foi
“Grupo A senzala do Rocha”. Entretanto, pensando bem, o
nome “senzala” tem um forte significado atribuído à
morada dos escravos negros, lugar este que remete dor e
sofrimento, em razão do espaço não possuir conforto e
higiene adequados para os que lá viviam, além das
situações de violência física e psicológica que naquele
espaço reinavam29. E Rocha sempre via a Capoeira como a
máxima expressão de liberdade do corpo e da mente...
Portanto, em novembro do mesmo ano, o nome do
“Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares” (foto 10)
começa a ser eternizado na história da vida do mestre
Rocha: Zumbi foi um importante nome do guerreiro e
27 Dentro da cultura oriental, “os dragões [...] são símbolos de
qualidades positivas, como a sabedoria e a força” (O'CONNELL;
AIREY, 2011, p. 140), bem como, pode ser vinculado a uma força
divina, portador de bençãos, benevolênciae inteligência.
28 O’CONNELL, Mark e AIREY, Raje. Almanaque ilustrado dos
símbolos. Tradução: Débora Ginza. São Paulo: Editora Escala, 2011.
29 ANDRADE, Ana Luíza Mello Santiago de. Senzala [artigo]. Site
Info Escola, s/d. Disponível em:
https://www.infoescola.com/historia/senzala/. Acesso em: 12 fev.
2022.
59
líder dos Quilombos dos Palmares, que defendeu o seu
espaço da invasão dos portugueses, durante o período
colonial30.
Foto 10: Logo do Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares.
Fonte: Arquivopessoal, 1996.
30 BEZERRA, Juliana. Zumbi dos Palmares. Site Toda Matéria, s/d.
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/zumbi-dos-
palmares/. Acesso em:12 fev. 2022.
60
Em constante atividade, na forma representativa de
seus alunos, o grupo de capoeira, em questão, esteve
presente em momentos que marcaram também a
introdução da capoeira em cidades como Juazeiro, Crato e
Barbalha, como vimos anteriormente.
O grupo de capoeira fez uma pequena pausa de suas
atividades em janeiro de 1985, ano em que Rocha, por
incentivo de sua esposa (a professora e bacharel em direito
Cícera Queiroz Alves), resolveu dar continuidade aos
estudos, obtendo, naquela época, o segundo grau, que
corresponde ao Ensino Médio, bem como, se qualificando
em uma Escola de Ensino Técnico e Profissionalizante,
como acompanhamos no subcapítulo referente à
profissionalização do mestre Rocha.
Neste subcapítulo, gostaríamos de destacar também
uma tabela do Sistema de Graduação adotado pelo Grupo
de Capoeira Zumbi dos Palmares, ao longo do tempo, após
algumas modificações:
Sistema de Graduação do Grupo de Capoeira Zumbi
dos Palmares
1º Período Cinza
2º Período Cinza/Amarelo
3º Período Amarelo
4º Período Amarelo/Laranja
5º Período Laranja
6º Período Laranja/Verde- aluno formado
7º Período Verde
8º Período Verde/Azul
61
9º Período Azul
10º Período Azul/Roxo
11º Período Roxo
12º Período Roxo/Marrom
13º Período Marrom
14º Período Marrom/Preto
15º Período Preto
16º Período Vermelho
17º Período Branco
18º Período Preto/Vermelho
19º Período Vermelho/Branco
20º Período Preto, vermelho e branco (cordão coral: grão-
mestre,10º grau)
Tabela 01: Sistema de Graduação- Capoeira Zumbi dos
Palmares.
Vale salientar que o Mestre Rocha, em anotações
que datam o dia 28 de setembro de 2015, chegou a
oficializar, em forma escrita, o sistema de graduação de
seu Grupo de Capoeira, chamado de “Capoeira Estilo
Zumbi”, que unifica os estilos angola, regional e primitiva.
Com base em anotações (oriundas da estruturação, em
parte, de como seria esse estilo, as graduações e os
movimentos obrigatórios para o aluno/graduado), mestre
Rocha afirma que “desde o ano de 1999 [...] treinava e
aperfeiçoava um novo estilo de Capoeira, que foi
denominado de Capoeira Estilo Zumbi”.
Reproduzimos na tabela abaixo, as informações
obtidas em anotações deixadas pelo professor:
62
Sistema de Graduação- Capoeira Estilo Zumbi
1ª Branca (gelo)- aluno iniciante
2ª Cinza- aluno iniciante
3ª Amarela- alunoveterano
4ª Laranja- aluno veterano
5ª Azul- aluno estagiário
6ª Verde (escuro)- aluno formado
7ª Azul com verde- monitor
8ª Roxa- instrutor
9ª Marrom- professor
10ª Roxo com marrom- contramestre
11ª Preta- mestre 1º grau
12ª Vermelho com pontas pretas- mestre 2º grau
13ª Preto com vermelho- mestre 3º grau
14ª Preto, vermelho e branco (coral)/ grão-mestre 4º grau
Tabela 02: Sistema de Graduação- Capoeira Estilo Zumbi,
2015.
Ao mesmo tempo, o professor Rocha pontuou quais
são os movimentos referentes a cada corda/graduação do
seu grupo de capoeira, conforme alguns destes
movimentos reproduzidos no quadro a seguir:
Na Roda
-Ginga
-Aú simples
Movimentos
Defensivos
-Cocorinha
-Resistência
-Queda de quatro
-Esquiva de frente
-Esquiva de lado
Golpe ofensivo
traumatizantes/
semicirculares
-Meia lua de frente
-Queixada de frente
-Queixada cruzada
-Queixada de lado
63
alta
-Esquiva de lado
baixa
-Esquiva de cadeira
-Negativa de frente
-Negativa de frente
alta e baixa
-Negativa de recuo
-Sapinho
-Rolê
-Queda de rins
-Benção de frente
-Benção de lado
-Chapa de frente
-Chapa de lado
-Martelo de frente
-Martelo de lado
Combinações de
movimentos
defensivos
-Aú com negativa de
frente
-Negativa de
frente/Rolê
-Rolê/ Aú simples
-Cocorinha/Aú
simples
-Esquiva de lado
baixa/Aú simples
-Negativa de
Combinações de
golpes ofensivos
(variações)
-Meia lua de frente/
queixada de frente
-Queixada de
frente/meia lua de
frente
-Queixada de
frente/queixada
cruzada
-Queixada cruzada/
queixada de lado
-Queixada
Combinações de
movimentos
defensivos com
ofensivos
-Aú/Meia lua de frente
-Cocorinha/
Queixada de frente
-Cocorinha/ Queixada
cruzada
-Rolê/Martelo de frente
-Esquiva de
lado/Benção/Chapa de
frente
64
recuo/Rolê
-Sapinho/Rolê
-Esquiva cadeira/
Aú simples
-Rolê/ Queda de
rins
-Esquiva de cadeira/
Negativa de recuo/
cruzada/benção de
frente
-Benção de frente/
queixada cruzada
-Benção de
frente/chapa de
frente
-Martelo de
frente/chapa de
frente
-Martelo de
lado/chapa de lado
-Martelo de
frente/martelo de
lado
-Negativa de
recuo/Benção de frente
-Negativa
comum/Martelo lado
Quadro 01: Alguns movimentos importantes da Capoeira.
O grupo acima mencionado completou 40 anos de
existência em 2021, totalizando inúmeros batizados e
alunos graduados na arte e luta brasileira chamada
Capoeira, bem como a participação em rodas de capoeira
na região do cariri cearense, tendo sua participação ligada,
diretamente, ao projeto “Capoeira nas Escolas”, que
discorremos logo mais.
65
3.3 Projeto Capoeira nas Escolas
No artigo “A inserção da Capoeira nas Escolas da
Rede Pública e Privada da cidade de Juazeiro do Norte
Artigo” (2012), aborda o contexto histórico da inserção da
capoeira em algumas escolas brasileiras, destacando a
cidade de Juazeiro do Norte, como ponto principal desta
pesquisa. Explica também como ocorre o desenvolvimento
da Capoeira, no âmbito escolar, como elemento de suma
importância na formação do aluno, através da tríade
ensino-escola-capoeira.
Neste estudo pode-se observar que o uso
da capoeira na escola se torna
significativo por retratar a cultura, além
de mostrar o processo histórico,
comportamental e social [...] Os
movimentos que são utilizados na
capoeira apresentam características que
proporcionam aos seus aprendizes o
desenvolvimento da agilidade, das
habilidades motoras e de todas as
valências físicas. Sua prática vem
crescendo cada vez mais dentro da
escola como conteúdo da Educação
Física, pela sua eficiência no estímulo
das percepções básicas e no interesse
entre alunos, tendo influência direta no
comportamento afetivo e na
criatividade. Assim, é relevante
mencionar que a busca da inserção de
novos conteúdos pode transformar os
objetivos e a didática do ensino, as
66
inovações no planejamento com outras
áreas, pode proporcionar aos alunos
novas vivências onde, de uma maneira
mais alegre e prazerosa, poderá torná-
los mais participativos, conscientes e
integrados no meio escolar (ROCHA,
2012, p. 12 e 13).
Rocha tinha orgulhode sua trajetória de vida com a
Capoeira e a Educação Física: tanto é que as pautas de
seus trabalhos acadêmicos, nos cursos de graduação que
fez (Pedagogia e Educação Física), envolviam sempre o
resgate histórico da Capoeira na região do cariri cearense e
a importância do projeto “Capoeira nas escolas públicas e
privadas da cidade de Juazeiro do Norte”. Como
explicamos, a vida do mestre Rocha na Capoeira é
indissociável de sua vida profissional como professor de
Educação Física. Portanto, perceber a união desses dois
mundos, resultando no Projeto Capoeira nas Escolas, é o
ponto crucial desse subcapítulo.
Iniciamos com a trajetória do professor Rocha em
duas escolas particulares, que antecedem o projeto acima
mencionado: a primeira foi o Ginásio Monsenhor Macedo,
na cidade de Juazeiro do Norte. No ano de 1989, nessa
referida instituição de ensino privado e administrada por
irmãs religiosas, Rocha começou a lecionar Educação
Física: contudo, é no ano de 1992 que ministra aulas de
Capoeira (como uma subdivisão da Educação Física), não
somente vinculada ao seu grupo de capoeira (Zumbi dos
67
Palmares), mas em um horizontemais amplo, em termos
de público-alvo. “As aulas de Capoeira eram realizadas em
contraturno” (ROCHA, 2012, p. 11). Ele permaneceu nessa
escola até o ano de 1994.
Por volta de 1990, Rocha ingressou em outra escola
particular: o Colégio Salesiano São João Bosco, da
mundial Rede Salesiana. Em 1994, o professor Rocha
começou a lecionar Capoeira, também como subdivisão da
Educação Física, no Centro Juvenil deste colégio, até o ano
de 1998. Ensinou Educação Física, na instituição de ensino
acima mencionada, até o ano de 2004.
As recordações que nós, como filhos, possuímos
desse momento devem ser aqui manifestadas: nós
estudávamos primeiramente, no Ginásio Monsenhor
Macedo e, por sermos ainda pequenos, não estivemos
envolvidos com a Capoeira naquele momento. Contudo,
quando o Ginásio Monsenhor Macedo, infelizmente,
“fechou suas portas” e fomos estudar no Colégio Salesiano,
começamos a ter uma vivência mais direta com o Grupo de
Capoeira Zumbi dos Palmares e o mestre Rocha (nosso
pai) nas aulas de Capoeira da referida escola. Lembramos,
como filhos, do professor compromissado e exigente,
sempre buscando o melhor e explorar as potencialidades
de cada um, ensinado com a capoeira, o respeito e o valor
das pessoas. A sua flexibilidade e seus movimentos
acrobáticos, além da rapidez na execução dos movimentos,
são recordações e memórias preciosas.
68
Entretanto, voltamos nosso olhar novamentepara a
história da Capoeira nas escolas públicas municipais e
estaduais da cidade de Juazeiro do Norte: a introdução da
Capoeira, por intermédio do professor Rocha e do projeto
Capoeira nas Escolas, foi no ano de 1995, quando o mesmo
foi lecionar Educação Física no Centro Educacional de
Referência Almirante Ernani Vitorino Aboim Silva,
permanecendo nessa instituição de ensino até o ano de
1998 (foto 11).
Foto 11: Logo do Projeto Capoeira nas Escolas, vinculado à
Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação
(Crede-19) de Juazeiro do Norte, Ceará.
69
Fonte: Arquivo pessoal, 2001.
Posteriormente, recomeçou o projeto no ano de
1999 até 2003, encerrando o vínculo na escola
mencionada. Sobre esse assunto, Rocha discorre que:
[..] No final de 1995, a Capoeira foi
inserida na Rede Pública Estadual no
Cere — Centro Educacional de
Referência Almirante Ernani Vitorino
Aboim Silva, através do projeto
“Capoeira no Cere”. A Capoeira era
ensinada dentro das aulas de Educação
Física. Vale ressaltar, que a escola tinha
sido inaugurada a quase oito meses e
possuía muitos alunos, dentre eles
jovens e adolescente os quais não se
respeitavam e nem faziam as tarefas
escolares. Depois de alguns anos
ministrando aulas de Capoeira percebi
que muitos alunos mudaram o seu
comportamento para melhor, com
relação ao respeito, ao cumprimento das
tarefas escolares e uma melhor
socialização com os outros (ROCHA,
2012, p. 11).
Como vimos na citação acima, um dos grandes
trabalhos idealizados pelo professor e mestre Rocha
(Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares), que une o
ensino/educação física e a capoeira, foi “O projeto
Capoeira nas escolas”, como parte do Programa Esporte
70
Educacional, desenvolvido, na época, em parceria com a
Coordenadoria Regional de Desenvolvimento em
Educação (CREDE-19) de Juazeiro do Norte.
Em um de seus projetos escritos e apresentados ao
CERE, em março de 1998, o professor Rocha elenca os
objetivos importantes e que deveriam ser alcançados pela
iniciativa:
[...] proporcionar aos alunos atividades
de lazer através da capoeira; estimular a
prática esportiva através da capoeira;
promover a socialização dos alunos;
preparar os alunos para futuras
competições; promover a utilização da
capoeira como formação cultural e
disciplinar (ROCHA, 1998, p. 01).
Além disso:
[...] a prática da atividade física através
da capoeira, desenvolve habilidades
orgânicas, neuromusculares e
psicomotoras proporcionando uma
melhor integração social e bem-estar
(ROCHA, s/d, p. 06).
Assim presenciamos, nesse primeiromomento, um
educador sempre preocupado com a formação cidadã do
indivíduo através das filosofias existentes nas artes
marciais, assim como na Capoeira. Também temos aqui,
nos objetivos, um dos grandes sonhos do mestreRocha: de
que a capoeira fosse um dia reconhecida como esporte
71
olímpico, haja vista sua popularização e inúmeros adeptos
de todo o mundo que identificam o valor dessa luta, como
símbolo histórico do povo negro e de resistência.
Rocha tinha uma profunda preocupação, em termos
de “conscientizar os alunos de que a capoeira é uma
manifestação esportiva-cultural genuinamente brasileira
que se apresenta, dentre outros aspectos, como um meio
eficaz de educação do povo brasileiro” (ROCHA, 1998, p.
03). Tanto é que, um dos resultados obtidos foi a
disciplina e o respeito, proporcionado no ensino da
capoeira: os alunos mudaram seu comportamento em
relação às outras disciplinas, sendo mais responsáveis,
como o relato acima e reforçado ainda pelas palavras do
professor Rocha a seguir: “a capoeira disciplina, educa e
forma [...] homens livres e cooperativistas, com equilíbrio
do corpo e fortalecimento da mente” (ROCHA, 1998, p.
03).
O professor Rocha sempre acreditava na união da
prática da Capoeira com a formação da identidade de um
sujeito livre. Além disso, apontando mais benefíciospara o
corpo:
[...] a capoeira desenvolve um excelente
senso de equilíbrio junto à criança e ao
adolescente, dando aos mesmos um
domínio especial de coordenação
motora, chegando a atingir movimentos
mais completos onde, sem perceber, irá
72
aprendendo toda sequência de
aprendizado corporal e motora
(ROCHA, s/d, p. 04).
Lembramos também que as aulas expositivas,
práticas e teóricas de Capoeira serviam como uma forma
de:
[...] aliviar o desgaste mental/intelectual
do aluno em sala de aula, promovendo
também a socialização entre os alunos,
[...] oferecendo a oportunidade dos
alunos, através da prática da Capoeira,
possam um dia representar o Juazeiro
em alguma competição a nível
municipal, estadual e nacional (ROCHA,
s/d, p. 04).
Já no ano de 1997, a Capoeira foi inserida na rede
pública municipal no Ginásio Municipal Antonio Xavier de
Oliveira, através das aulas de Educação Física, até o ano
2000.
Expandindo o modelo de projeto apresentado em
1995 no CERE, em 1998, a Capoeira estava presente na
rede pública estadual, através do projeto Capoeira na Rede
Pública Estadual- Crede 19 (foto 12).
73
Foto 12: Batizado de Capoeira no CERE, no ano de 1998. O
mestre Rocha aplica um golpe da Capoeira chamado Voo do
Morcego no aluno Glauber.
Fonte: Arquivo pessoal, 1998.
Outras escolas municipais também tiveram a
presença do Projeto Capoeira nas Escolas, dentre as quais
destacamos as seguintes unidades de ensino31:
31 ROCHA, 2012.
74
-Escola de Ensino Fundamental e Médio
Polivalente (de 1999 a 2000, localizada no bairro Santa
Teresa);
-CAIC (de 2000 a 2001, localizada no bairro Parque
Frei Damião);
-Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona
Maria Amélia (de 2000 a 2001, localizada no bairro
Pirajá);
-Escola de Ensino Fundamental e Médio Tiradentes
(de 2000 a 2001, localizada no bairro Novo Juazeiro);
-Escola de Ensino Fundamental e Médio Figueiredo
Correia (Bairro Pio XII);
-Escola de Ensino Fundamental e Médio José
Bezerra (Bairro São Miguel);
-Escola Padre Cícero (de 2000 a 2001, localizada no
bairro do Socorro);
-EEEP Professor Moreira de Sousa (de 2000 a
2001, localizada no bairro São Miguel);
-EMEF. Izabel da Luz (de 2000 a 2001, localizada
no bairro Pirajá);
-EEF. Dr. Leão Sampaio (de 2000 a 2001,
localizada no bairro Juvêncio Santana);
75
-Fundação Educacional Leandro Bezerra de
Menezes (de 2001 a 2002, localizada no bairro Santa
Tereza);
-EEF. João Alencar de Figueiredo (de 2002 a 2003,
localizada no bairro Santa Tereza);
Ao longo de suas aulas de Educação Física
ministradas pelo professor Rocha, outras escolas
desenvolveram aulas de Capoeira como: Escola de Ensino
Fundamental Antonio Bezerra Monteiro; EEF 3 de Junho;
Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria de
Lourdes Ribeiro Jereissati; Escola Ana Borges de Carvalho
e EMEF. Vereador Francisco Barbosa da Silva.
Agora, em se tratando da metodologia do projeto
“Capoeira nas Escolas”, os alunos que ingressaram nesse
projeto deveriam obedecer a alguns pré-requisitos
necessários como: ter notas de 7 a 10 em todas as
disciplinas escolares, inclusive em Educação Física
(lembrando que 7 era a média prevista que representava o
bom rendimento do aluno no ano referente ao projeto em
questão); ser disciplinado; ter frequência superior a 75%
em todas as disciplinas, principalmente Educação Física
(ROCHA, s/d).
Especialmente no trabalho que serve de referência
para essa discussão, o Projeto Capoeira nas Escolas da
Rede Pública Municipal (documento impresso
76
apresentado às escolas EEF João Alencar, EEF Pelúsio,
Edwar Teixeira Ferrer, Zila Belém e EEF Sebastião
Teixeira Lima), as aulas eram ministradas em dias
ocorridos e horários alternados, com duração de até 120
minutos, divididos em períodos de 40 minutos, conforme
explica o professor Rocha neste documento32:
1. Período de alongamento,
aquecimento, exercício de formação
corporal e outros;
2. Período de treinamento de golpes de
iniciação ou formação (primário ou
secundário);
3. Desenvolvimento do jogo (roda de
capoeira), cantos, volta a calma e
reflexão sobre a aula do dia (ROCHA,
s/d, p. 04).
A questão avaliativa do aluno representa, ao mesmo
tempo, sua ascensão no caminho da Capoeira, por meio
das graduações e batizados, conforme o professor versa a
seguir:
[...] A avaliação dos alunos será feita no
decorrer de cada semestre, sendo os
alunos submetidos a exames de
conhecimentos teóricos e
práticos/técnicos. Aqueles que
32 ROCHA, Antonio Pereira. Projeto Capoeira nas Escolas da
Rede Pública Municipal (projeto impresso apresentado às escolas
EEF João Alencar, EEF Pelúsio, Edwar Teixeira Ferrer, Zila Belém e
EEF Sebastião Teixeira Lima). Juazeiro do Norte, Ceará: s/d.
77
obtiveram um bom desempenho
receberãouma graduação, juntamente
com um certificado de conclusão de
estágio do curso de capoeira e uma
carteira do Grupo de Capoeira Zumbi
dos Palmares (ROCHA, s/d, p. 05).
Aqui, ilustramos um exemplo dos eventosde fim de
ano escolar, que marcavam a entrega de cordas e
certificação dos graduados pelo Grupo de Capoeira Zumbi
dos Palmares, aos alunos pertencentes do projeto acima
mencionado: eram momentos únicos de reconhecimento
de dever cumprido e alegria nesse ato celebrativo.
Primeiro, era nítido o reconhecimento de como a maioria
dos alunos tinham modificado a sua identidade e abraçado
a Capoeira como uma filosofia de vida, entendendo cada
vez mais o seu próprio corpo e respeitando o seu
colega/adversário; em segundo lugar, o desempenho
escolar apresentava bons resultados, pois como diz o
ditado “corpo são e mente sã”; os alunos demonstravam
mais interesse no cumprimento dos deveres escolares de
outras disciplinas para se manterem ativos no projeto, e
depois, reconhecendo ainda mais a necessidade do estudo
como uma promoção de uma vida mais justa para si
mesmo, bem como, para a sua família.
Sendo assim, o que entendemosnesse subcapítuloé
que:
Esse fenômeno chamado Capoeira não
apareceu de forma momentânea, ou
78
seja, no percurso de sua história
inúmeras situações foram rompidas
para que a mesma se transformasse de
“luta marginal a uma alternativa
educacional”, possibilitando[a capoeira]
chegar onde está, por isso que os
capoeiristas dizem que em um jogo de
Capoeira “quem nunca caiu, não é
Capoeira”, e que os alunos são os
reflexos dos seus professores,
retransmitindo os ensinamentos,
correto ou não, dependendo da forma
que lhes foram ensinados (ROCHA, s/d,
p. 05).
Nessa citação, Rocha chama a atenção para o fato
que o professor sempre é o exemplo ou modelo para seus
alunos: daí reside a necessidade de que o mesmo tenha
respeito, ética, compromisso, para que essas e outras boas
características sejam apreciadas e reproduzidas por seus
alunos, tanto na própria prática da Capoeira, como nas
variadas instâncias da vida.
Assim, pensando em um plano de aula direcionada
à prática da Capoeira nas aulas de Educação Física, no
contexto escolar, temos algumas observações extraídas de
um plano de curso, elaborado pelo professor Rocha:
[...] compreensão do ato de lutar: por
que lutar, com quem lutar, contra quem
ou contra o que lutar; [...] vivência de
lutas dentro do contexto escolar (luta x
violência); análise sobre os dados da
79
realidade das relações positivas e
negativas com relação à prática das lutas
e a violência na adolescência (luta como
defesa pessoal e não como “arrumar
briga”); saber analisar as causas de uma
vitória ou de uma derrota e assumir
atitudes honestas em razão das
mesmas33.
O conteúdo inclui a discussão da iniciação à
Capoeira; história da Capoeira; movimentos básicos
defensivos; golpes básicos ofensivos e instrumentos da
Capoeira, relacionados à musicalidade. A estratégia
adotava visava “orientar o aluno em todo e qualquer
momentoa aprendizagem da luta; oferecer atividades que
envolvam as lutas dentro do contexto escolar, de forma
recreativa”34. A avaliação era prática e teórica, como
também por meio de debates, trabalhos e atividades.
Outro projeto que gostaríamos de destacar, dentre
tantos desenvolvidos, é o que aborda a “Semana da
Consciência Negra: Todos Somos Negros!”, apresentado à
Escola de Ensino Fundamental Vereador Francisco
Barbosa, em novembro de 2018, última instituição de
ensino que o professor Rocha atuou como professor de
Educação Física e, posteriormente ao ano de 2015, como
professor readaptado, em razão de um problema de
33 ROCHA, Antonio Pereira. Plano de aula de Educação Física
[documento impresso]. Juazeiro do Norte: CE, 2007.
34 Ibidem.
80
deslocamento de retina relatado no subcapítulo “2.1 Por
que ser Professor de Educação Física e Capoeira”?.
Este trabalho tinha como objetivo valorizar a
história do povo negro, além de reforçar o que postula a lei
10.639/03, alterada pela lei 11.645/08, na qual, “nos
estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino
médio, públicos e privados: torna-se obrigatório o estudo
da história e cultura afro-brasileira e indígena”. Segundo o
mestre Rocha, o objetivo de tal iniciativa era:
Proporcionar que os alunos, após o
encerramento do Projeto Semana
Consciência Negra: Todos Somos
Negros, tenham realmente a consciência
de quem foi Zumbi dos Palmares e da
importância dos povos negros e
afrodescendentes, de forma a extinguir
também, pensamentos e ações voltadas
ao preconceito e discriminação, por
meio de reflexões e diálogos sobre a
temática (ROCHA, 2018, p. 02).
Sendo assim, destacam-se os valores
comportamentaisna relação do “eu” com o “próximo”, no
intuito de superar o preconceito e o racismo, a partir do
debate sobre a discriminação e preconceito: assim, por
meio de realçar a história do povo negro e, mais ainda,
mostrar os desdobramentos atuais sobre a situação do
povo negro no Brasil, os alunos são instruídos a refletir
sobre a questão da discriminação racial, ainda presente
81
em nosso país, bem como, a promoção de um debate que
incentive o senso crítico do aluno, reforçando ainda a
valorização do respeito ao próximo e à diversidade
(ROCHA, 2018).
O projeto construiu um diálogo com a
intertextualidade de disciplinas escolares e trabalhos que
exploram as áreas da história, geografia, literatura e artes,
conforme Rocha elenca na parte referente à metodologia
do projeto:
[...] Abordaremos de que forma ou
maneira os negros vieram para o Brasil
[...], aspectos de sua cultura, culinária e
etc, da sua contribuição para o
crescimento do Brasil, bem como dos
sofrimentos e maus-tratos dos mesmos.
Teremos elaborações de murais,
apresentações artísticas e culturais na
escola [...] (ROCHA, 2018, p. 03).
Nesse específico trabalho, o público-alvo almejado
era formado pelos:
[...] os alunos devidamente matriculados
no ensino fundamental I (manhã), II
(tarde) e EJAs (noite) da Escola Modelo
Vereador Francisco Barbosa, bem como
os demais professores de sala de aula,
núcleo gestor e funcionários. Vale
ressaltar que a participação não é
obrigatória, mas que em algumas
disciplinas serão atribuídas notas de
82
participação para os alunos envolvidos
no projeto [...] Sobre a avaliação: será
através da participação dos alunos nos
trabalhos coletivos e no desempenho
individual (ROCHA, 2018, p. 03).
Encerrando essa parte sobre os principais projetos
educacionais promovidos pelo professor Rocha, na
próxima discussão, versaremos sobre o momento em que
Rocha foi graduado como mestre de Capoeira Angola e
Regional no ano de 2018, em Brasília, bem como, a última
“Grande Roda”, evento este realizado pelo professor Rocha
no ano de 2019.
3.4 Última Grande Roda e Batizado de Capoeira de
Mestre Rocha
Antes do ano de 2018, o professor Rocha
estabeleceu contatocom um antigo professor de Capoeira
da época de sua adolescência, o mestre Cleber Soares de
Paula, que agora tinha sua própria academia de Capoeira
em Taguatinga-DF intitulada de “Associação de Capoeira
Roda Livre de Capoeira”. Ambos, relembraram de grandes
momentos daquela época e Rocha sentiu a necessidade de,
agora, evoluir ainda mais na Capoeira, no sentido de um
título obtido, através do Certificado de Graduação de
Mestre de Capoeira Regional e de Angola, não obstante
seus longos anos de prática dessa luta brasileira: e nada
83
mais justo e significativo do que tal graduação ser
entregue das mãos de um grande amigo e mestre de
Capoeira. Em janeiro de 2018, Rocha viajou para Brasília.
Aproveitou a oportunidade para rever a família e visitou o
mestre Cléber em sua academia, recebendo o tão almejado
certificado e graduação (foto 13).
84
Foto 13: Mestre Cleber tocando berimbau juntamente com o
mestre Rocha e,em seguida, graduando-o como mestre de
Capoeira Angola e Regional.
Fonte: Everson Pereira, 2018.
Além deste grande momento de lembrança dos
treinos, dos amigos, das dificuldades do passado e
conquista do presente, e de sua graduação como mestre de
Capoeira Angola e Regional, o professor Rocha retornou
ao Juazeiro com uma felicidade que não cabia no peito.
Assim que encontrou seus familiares, narrou das
aventuras em Taguatinga e deste momento que fora
registrado por fotos e vídeos por um sobrinho que residia
em Brasília e que também estivera na academia do mestre
Cleber para participar de tal festividade.
Outra ocasião importante na vida do mestre Rocha,
merece também destaque: no ano de 2019, o mesmo
organizou o “II Evento Comemorativo referente aos 419
anos da Capoeira no Brasil (Capoeira Afro-Brasileira/
Angola), 89 anos da Luta Nacional Baiana (Capoeira
Regional) e o 1º seminário “Capoeira e sua evolução
histórica”, eventos esses realizados nos dias 15 e 16 de
junho de 2019, na cidade de Juazeiro do Norte, na EEIF
Padre Cicero, na cidade de Juazeiro do Norte, com a
presença de grupos de capoeira, alunos e mestres
85
convidados. A partir daquele momento passou a ser
chamado de mestre Dhy Rocha.
Nesse mesmo ano de 2019, na Escola de Ensino
Fundamental Vereador Francisco Barbosa, localizada no
bairro Horto, na cidade de Juazeiro do Norte, aconteceu o
último batizado do Grupo de Capoeira Zumbi dos
Palmares.
Não podemos deixar de reforçar que o professor
Rocha, durante sua vida, treinou outras artes marciais
como Karatê, Boxe e Judô.
Finalizando esse importante relato da vida e
história do professor Rocha, iremos apresentar a seguir,
algumas frases que o mesmo gostava de utilizar em seu
cotidiano como pai, mestre e amigo.
3.5 Frases, cordéis, músicas e paródias escritas
pelo professor Rocha
Vasculhando as gavetas dos móveis que guardam as
mais variadas recordações da vida do mestre Rocha,
encontramos rabiscados cordéis e frases diversas, muitos
destes materiais, frutos de apresentações de atividades
escolares ou rodas de capoeira, que fizeram parte da
trajetória de vida deste educador.
86
“Forte é aquele que vence sem lutar, mesmo tendo a
capacidade de vencer lutando”.
“Só Deus é Grande, nesse universo de gente pequena”.
“Tudo tem seu tempo, se assim Deus permitir!”
“Não existe uma só religião que salva, mas sim, ações que
podem me salvar!”
“A minha filosofia é o respeito [...] tento respeitar a todos
[...] com o objetivo de ser respeitado, pois tenho
princípios morais: não sou melhor e nem pior do que
ninguém, sou apenas eu!”
O negro [trecho de um cordel]
O negro tem seu valor
Dentro desta nação
E não deve aceitar
Nenhuma provocação
Seja de qualquer pessoa
Que não tem compreensão
87
Seja branco ou pardo
Dessa nossa geração
Deve respeitar o negro
Com muita satisfação
Porque foi a raça negra
Que formou esta nação [...].
[Trecho de um Cordel escrito em 28/06/2007, sem
título]
Preste muita atenção
No que agora eu vou falar
Vou contar uma história
Que sua vida vai mudar
O povo preto tá vivo
Está aqui para lutar
O povo preto tá vivo
Querendo se organizar
Venha junto companheiro
Para o racismo acabar,
Pois a luta é de todos
Precisamos transformar [...]
Paródia de uma música feita para uma gincana no
Colégio Salesiano, onde lecionou por quase 14 anos – letra
de mestre Rocha e sua esposa Cícera Rocha.
88
[...] E aqui com ajuda de Dom Bosco
Que a capoeira vou aprender
Um colégio abrindo para a ginga
Aumentando assim nosso saber,
Pois aqui se estuda as matérias,
Mas também capoeira é lazer!
[...] Capoeira educa e disciplina
Forma os jovens para futuros craques
Com o som do berimbau e do pandeiro
Lhes ensina a defesa e o ataque
Professores aqui entram na ginga
Quando escutam o toque do atabaque [...]
Trecho de um cordel sobre a Covid 19 [escrito no ano de
2020 para conscientizar os alunos diante dessa nova
realidade- sem título]
Você diz que é valente, camarada
Eu também já fui um dia,
Mas não existe homem valente, camarada
Contra o coronavírus
Pode ser até lutador
Ex-atleta e combatente
Contra aquele vírus maldito
Só existe o isolamento
Faça a sua parte,
Que eu também vou fazendo a minha
89
E que Deus no céu
Nos proteja contra o coronavírus, camarada
Salve São Jorge Guerreiro
E também São Sebastião
Que nos livre das pragas
Neste tempo de aflição!
Música- Mestre Dhy Rocha: Sou do Maranhão
Iê! Quando vim do Maranhão
Eu não jogava capoeira
Hoje sou o Mestre Rocha
Da subida da ladeira
Iê-êa, capoeira vou jogar
Iê-êa, capoeira vou lutar
Aprendia a capoeira
Angola e regional
E depois vim de Brasília
Para a capoeira ensinar
Agradeço ao mestre Cleber
Que me ensinou a capoeira
Sem esquecer mestre Bimbão e Cal
Nas rodas da Capoeira
A capoeira é luta nossa
Da era colonial,
90
Pois nasceu foi na Bahia
Angola e Regional
Agradeço ao mestre Bimba
Que criou a Regional
Sem esquecer o mestre Pastinha
E Besouro Mangangá
Pois se hoje, eu tenho diploma
Consegui com muita dedicação
Porque treinei bastante a Capoeira
Pensando na minha formação
Salve a todos os mestres
Que ensinam a Capoeira
Sem esquecer o mestre Dhy Rocha
Da subida da ladeira
Iê-êa, capoeira vou jogar
Iê-êa, capoeira vou lutar
Música Zumbi Guerreiro (paródia)- escrita em 21 de
maio de 2019
Nos Quilombos dos Palmares, ele reinou
Com ânsia de liberdade, ele lutou (bis)
Oh, Zumbi! A nossa história não mudou
Oh, Zumbi! O negro não se libertou
91
Nos Quilombos dos Palmares, ele formou
Um exército de guerreiro libertador
Nos quilombos dos Palmares, ele ensinou
A capoeira ao seu irmão de cor
Nos quilombos dos Palmares, ele usou
A capoeira contra o opressor
Nos quilombos dos Palmares, ele resistiu
A diversos ataques e nunca fugiu
Nos quilombos dos Palmares, ele nasceu
E neste mesmo lugar, ele morreu
Oh, Zumbi! A nossa história não mudou
Oh, Zumbi! O negro não se libertou
História que não foi contada (paródia)
Eu vou contar para vocês
O que a história não contou
Quem libertou os escravos
Foi o Zumbi, sim senhor!
Oh, foi o Zumbi, sim senhor!
Ele praticava a Capoeira,
Pois queria se defender
Do ataque dos inimigos
92
Que queriam vencer
Por ele ser um negro
E não ter nenhuma riqueza
O mérito foi dado à princesa
Pois ela era da nobreza!
Cordel “Sou o mestre Rocha”- escrito durante a
formação de professores, em um curso de extensão
Sou o aluno Rocha
No curso de extensão
Na oficina de cordel
Melhorei minha visão
Do valor que tem o negro
E toda sua geração
Na sala de debate
Tirei a conclusão
Na troca de experiências
Aprendi outra lição
Que cada comunidade
Tem a sua devoção
O debate continuou
Com grande interação
Alguns alunos falaram
Com muita dedicação
Mostrando sua realidade
93
Através da comunicação
O bom do nosso debate
Foi a compreensão
E cada participante
Ouviu com muita atenção
Usando a palavra
Para sua expressão
Falamos da cota única
Para melhor compreensão
Pois havia muitas dúvidas
Tiradas na ocasião
Dos direitos que nós temos
Dentro da constituição
Tirada todas as dúvidas
Que grande satisfação
Depois daquele momento
Foi uma só emoção
Todos os participantes
Terão nova visão
Termino este cordel
Com uma grande saudação
A todos aqui presentes
Neste curso de extensão
Sem esquecer o Zumbi
Que formou nossa nação!
94
Capítulo 4-
Kcapojuboxe: a arte
marcial caririense
Com o nome de “Mestre Dragão Rocha”, entre os
anos 2002 a 2018, articulou o desenvolvimento de uma
arte marcial caririense que unisse a capoeira, o karatê, o
boxe e o judô: assim foi registrado no Cartório Machado35,
em maio de 2018, o Kcapojuboxe.
Contudo, a morte prematura, aos 60 anos de idade
no ano de 2021, interrompeu, em parte, a continuidade
desse projeto, restando apenas o registro em cartório que
nos oferece um panorama de como seria o
desenvolvimentodessa arte marcial.
35 Nº de ordem 067543, protocolo nº 0081355, livro b-b-235, folha
118V/3.
95
4.1 Kcapojuboxe: a arte marcial caririense36
Kcapojuboxe, a arte marcial caririense, teve seu
início no ano de 2002 e foi concluída a unificação dos
golpes e dos movimentos em agostode 2013, na cidade de
Juazeiro do Norte, região do Cariri, no sul do estado do
Ceará [...].
Na fase da adolescência para a vida adulta, ouvi
falar da unificação (junção) de artes marciais (capoeira
com jiu-jitsu, boxe com capoeira e outras junções). Depois
de muitas reflexões, resolvi unir algumas artes marciais,
não da maneira como os outros já tinham feito (no
mínimo duas). Penseifazer uma junção maior, a partir das
artes marciais que já tinha praticado com a capoeira.
Sendo assim, originou-se a mais nova e quase
completa arte marcial brasileira: Kcapojuboxe possui
aproximadamente mais de 200 movimentos, ou seja,
golpes ofensivos (traumatizantes, desequilibradores),
movimentos defensivos, acrobáticos, desequilíbrio,
arremessos, projeções, estrangulamentos, imobilizações,
quedas, rolamentos, utilização de bastões, facões, tonfas,
36 Esse capítulo é construído com base no documento escrito por
Antonio Pereira Rocha e registrado em cartório, portanto, sendo
adotado a primeira pessoa do singular, já que trata-se das próprias
palavras do mestre Rocha no documento em questão.
ROCHA, Antonio Pereira. Kcapojuboxe: arte marcial caririense
(documento impresso). Registrado no Cartório Machado- 2º ofício.
Juazeiro do Norte, Ceará: 2018.
96
nunchaku e outros tipos de armas e golpes). São doze
sequências individuais de golpes e movimentos (exercícios
de ataque e defesa), denominado de Ginsequência (ginkata
e ginkiu).
Além disso é uma unificação (junção) de algumas
artes marciais: karatê, capoeira, judô, boxe e alguns
movimentos acrobáticos. As suas sequências são
desenvolvidas com o deslocamento para frente, para trás e
para os lados [Ginsequência (ginkata e ginkiu)], do qual
sai todos os golpes, movimentos defensivos e acrobáticos.
Tem sequências em dupla e individual, onde o aluno
aprenderá: arremessos, projeções, imobilizações,
estrangulamento, dentre outros. É a arte marcial mais
completa da atualidade, com técnicas perfeitas para
qualquer tipo de situação de luta. O sistema de graduação
compreende 14 faixas:
1º faixa branca
2º faixa cinza
3º faixa azul
4º faixa amarelo
5º faixa laranja (formado)
6º faixa vermelho (monitor)
7º faixa verde (instrutor)
8º faixa roxa (professor-assistente)
9º faixa marrom (professor titular)
10º faixa roxa com marrom (contramestre)
11º faixa preta (mestre estagiário)
12º faixa branca com vermelho (mestre assistente)
13º faixa vermelho com preto (mestre titular)
14º faixa branca, vermelho e preto (grão-mestre)
97
Tabela 03: Sistema de graduação
Por: Antonio Pereira Rocha, 2018, p. 02.
O exame de troca de graduação ou troca de faixa
acontecerá anualmente. Para cada faixa, os alunos deverão
apresentar uma sequência individual e uma em dupla,
correspondente à graduação que irá receber. A partir da 4ª
graduação (faixa), o aluno deverá apresentar uma
sequência com qualquer tipo de armas utilizada no
Kcapojuboxe (foto). Dependendo do tipo de habilidade e
aprendizado, o aluno poderá receber até mais de uma
graduação.
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Biografia e memórias do educador, professor e Mestre Rocha

  • 1.
  • 2. 0 Biografia e memórias do educador, professor e Mestre Rocha Raquel Alves e Raphael Rocha
  • 3. 1 2022. Raquel Alves e Raphael Rocha Todos os direitos reservados. Diagramação e Revisão:Raquel Alves. Ilustração da Capa: Luciano Brito. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia dos autores. As demais imagens utilizadas neste livro são de caráter ilustrativo, com seus direitos também protegidos porlei.
  • 4. 2 Apresentação Mestre Dhy Rocha, Mestre Dragão Rocha ou simplesmente Mestre Rocha: estes são alguns dos nomes mais conhecidos e significativos que fazem menção ao educador, professor e mestre de Capoeira, Antonio Pereira Rocha, cidadão maranhense, mas de corpo, coração e alma juazeirense. A pretensão deste livro é ressaltar a importância dessa lendária figura histórica no desenvolvimento da Capoeira Angola e Regional1 na região do Cariri Cearense2, 1 “A capoeira de angola homenageia as tradições dos escravos angolanos e a capoeira regional é chamada assim por ter nascido na região da Bahia e por seu criador ter sido o baiano Manoel dos Reis Machado, conhecido como mestre Bimba”(ROCHA, s/d, p. 06). 2 Para diferenciá-lo do Cariri Paraibano. Neste Cariri Cearense destacamos a região metropolitana Crajubar, que compreende os municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha.
  • 5. 3 bem como, apresentar a história de vida deste profissional da Educação Física. Contudo, sempre procurando construir um diálogo com a Capoeira, “luta brasileira e símbolo de liberdade”, como o próprio mestre Rocha postulava, pretendemos demonstrar como esse tipo de luta3 sempre foi uma filosofia de vida4 para Rocha, que pulsa a história do povo negro e se tornou um reflexo da construção da vida e da identidade do mestre Rocha, homem humilde, esforçado, inteligente, digno, crente em Deus, que sempre valorizava a fé, o trabalho e a família. Devoto de Senhor do Bomfim, Padre Cícero, São Francisco, São João Bosco e Nossa Senhora das Dores, mestre Rocha tinha orgulho de sua fé no Catolicismo. Ele também foi um sonhador, que batalhou pela educação como uma forma de construir um mundo mais justo e respeitoso. Também não podemos deixar de fora, o Rocha que fazia caridade e cuidava dos animais abandonados, uma 3 “Jogo, luta, dança, arte, manifestação e resgate de um povo, em que os praticantes utilizam as pernas. Foi introduzida no Brasil no século XVI pelos negros bantos de Angola” (ROCHA, s/d, p. 06). 4 Definida como um “conjunto de ideias ou atitudes que fazem parte da vida de um indivíduo ou grupo”. Fonte: Significado de Filosofia. Site Significado, s/d. Disponível em: https://www.significados.com.br/filosofia-de-vida/. Acesso em: 18 dez. 2021.
  • 6. 4 “grande criança” que gostava de hq’s, livros, desenhos animados (especialmente se fossem nipônicos), de filmes de ação e artes marciais (Bruce Lee e Jim Kelly foram dois artistas marciais que influenciaram mestre Rocha), dentre outras pequenas curiosidades da vida deste educador. Nosso pai, o Mestre Rocha, fez um pedido em vida, assim que a sua filha escritora, Raquel Alves, tivesse a oportunidade ou mesmo o tempo para dedicar-se a este ofício: um livro sobre sua história de vida. Naquele período, a escritora imaginou um projeto voltado à literatura infanto-juvenil ou em forma de um mangá5 que contasse a história de um pequeno herói chamado “Dhy Rocha”. E, é com certa nostalgia, em forma de lágrimas e emoções conflitantes no espirito, que escrevemos esse registro de memórias de imagens e palavras, enquanto ainda estamos vivos, bem de saúde e respirando, porque a vida é como um breve sopro de um vento... E aqueles que tiveram o prazer de conviver com o Mestre Rocha e aqueles que não o conheceram poderão sentar-se no conforto de seu lar e folhear este livro, com a certeza de que terão a incrível oportunidade de desbravar parte desta valiosa história de vida do educador, professor e mestre Rocha: que as futuras gerações do Cariri Cearense, do Brasil e do mundo tenham a consciência do 5 Nome dado às histórias em quadrinhos japonesas.
  • 7. 5 legado deixado por Antonio Pereira Rocha, mestre Dhy Rocha, Mestre Dragão ou Mestre Rocha! Nós poderíamos construir um livro de biografia e memórias com depoimentos de inúmeras pessoas que tiveram sua vida tocada pelos ensinamentos de Mestre Rocha: mas decidimos vasculhar cada gaveta e armário, bem como, cada cantinho do lar do professor Rocha e deixar que os borrões ou rascunhos inacabados, livros e cadernos de anotações, registros de imagens, vídeos e áudios do próprio mestre Rocha convertessem no guia necessário para que, cada um de nós, pudéssemos ter acesso a sua história de vida... E caso, nesse caminhar, alguma memória esteja escondida ou falha, estamos comprometidos, como filhos, a resgatá-la a qualquer custo! Boa leitura! Raquel Alves Escritora e Jornalista Raphael Rocha Sensei de Karate e Instrutor de Capoeira
  • 8. 6 “Se queres crescer na vida, descruze os braços, arregace as mangas e parta para a luta, pois somente lutando conseguirás concretizar os teus sonhos”. Mestre Rocha
  • 9. 7 Sumário Introdução.........................................................09 Capítulo 1- Capoeira, símbolo de liberdade: a relação dessa luta brasileira com a vida do professor Rocha.................................................11 1.1 Primeiro contato de Antonio Pereira Rocha com a Capoeira...........................................................................14 1.2 Praticando a Capoeira.......................................25 Capítulo 2- O caminho de um educador.............33 2.1 Por que ser Professor de Educação Física e Capoeira?...........................................................................36 Capítulo 3- A importância do Mestre Rocha no desenvolvimento e popularização da capoeira na região do cariri cearense...................................47
  • 10. 8 3.1 Mestre Rocha: um dos introdutores da Capoeira na Região do Cariri............................................................49 3.2 Do grupo A senzala do Rocha ao Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares..........................................57 3.3 Projeto Capoeira nas Escolas...........................65 3.4 Última Grande Roda e Batizado de Capoeira de Mestre Rocha.....................................................................82 3.5 Frases, cordéis, músicas e paródias escritas pelo professor Rocha.................................................................85 Capítulo 4- Kcapojuboxe: a arte marcial caririense..........................................................94 4.1 Kcapojuboxe: a arte marcial caririense............95 Capítulo 5-A Kapokboxe Academy: último projeto do Mestre Rocha................................................98 5.1 Kapokaboxe Academy.......................................99 Considerações finais........................................104 Referências Bibliográficas................................106 Os autores.........................................................110
  • 11. 9 Introdução Este livro é uma homenagem à memória do fundador da Kapokaboxe Academy e do Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares, Antonio Pereira Rocha, mais conhecido como professor Rocha. Ele nasceu na cidade de Pedreiras- Maranhão (Brasil) no ano de 1960. Começou a praticar artes marciais ainda na infância, em meados da década de 70, no Distrito Federal, na cidade de Taguatinga Norte, com o objetivo de usar as artes marciais para a defesa pessoal. Em 1977, Mestre Rocha (juntamente com o Mestre Tena) foi um dos introdutores da Capoeira na região do Cariri- Ceará- Brasil. No ano de 1978, praticou Capoeira no Grupo “A Senzala do Bimba” com o mestre Bimbão, que dizia ser sobrinho de Manoel dos Reis Machado – Mestre Bimba, o criador da Capoeira Regional. Seu último mentor, no aprendizado da Capoeira, foi Mestre Cleber
  • 12. 10 Soares de Paula, da Associação Roda Livre de Capoeira, em Taguatinga- DistritoFederal. O professor Rocha treinou Karatê, Boxe e Judô, e foi instrutor do 1º Regimento de Cavalaria de Guarda do Exército Brasileiro, quando prestou serviço militar. Nas artes marciais, era Mestre em Capoeira Angola e Regional, faixa preta em Karate Full Contact e graduado em Judô. Além da prática em artes marciais, tinha formação em Técnico de Contabilidade (Escola Técnica do Comércio de Juazeiro do Norte), Pedagogia pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Licenciatura em Educação Física pela Universidade do Vale do Acaraú (UVA) e Pós- Graduado em Atividades Físicas para portadores com deficiência pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), exercendo as funções de professor de Educação Física, professor Polivalente e professor de Capoeira e Defesa Pessoal em escolas e projetos da rede particular e pública (municipal e estadual) de ensino, na cidade de Juazeiro do Norte. Durante sua trajetória, buscou conhecer outras artes marciais e, assim, começou a desenvolver o projeto da primeira arte marcial caririense, a Kcapojuboxe. Contudo, o seu marcante e último projeto em vida foi a Kapokaboxe Academy, que segue adiante na responsabilidade do Sensei Raphael Rocha.
  • 13. 11 Capítulo 1- Capoeira, símbolo de liberdade: a relação dessa luta brasileira com a vida do professor Rocha Poderíamos começar esse livro da forma clássica como estamos acostumados a folhear: era uma vez... Mas, todos nós temos a consciência de que o “Grande Rocha” existiu... E ainda existe na forma eterna, no reino de Deus Pai, e na forma terrena, através das memórias e ações que sempre irão fazer menção à trajetória significativa da vida do professor Rocha.
  • 14. 12 Um homem negro, simples, pobre, cuja mãe viúva ainda cedo, juntamente com seus irmãos, resolveram mudar-se do Maranhão para Brasília... E lá, na cidade grande e planejada, o pequeno Rocha teria um pouco de conhecimento de algumas dificuldades que regem a vida da maioria dos brasileiros. O menino Rocha foi crescendo e aprendendo com todas as lições que a vida poderia lhe ensinar, mas, mesmo sentindo dificuldade de entender certos dilemas da vida, Rocha continuou vivendo... e crescendo... Na casa dos vizinhos assistia, com as crianças, os desenhos animados para driblar uma barriga que roncava de fome... E percebendo isso, o dono da casa lhe servia um alimento... E foi assim que Rocha aprendeu a valorizar três coisas que sempre estiveram presentes em sua vida: a fé em Deus, para vencer qualquer adversidade; o valor de uma família na vida de um homem; e a gratidão por ter um alimento para comer... Recordamo-nos da oração que o mesmo ensinou, ainda quando éramos pequenos: “Obrigado, meu Deus, pelo santo alimento que o Senhor nos dá todos os dias, hoje, agora e sempre! Amém!”. Passado algum tempo, o jovem Rocha conheceu a Capoeira, que foi a sua primeira grande paixão... Irresistivelmente entregou-se à ginga e aos cânticos dessa arte e luta brasileira, ao mesmo tempo que buscou aprimorar sempre o conhecimento dessa filosofia de vida e
  • 15. 13 representação da força do povo negro na cultura brasileira... E sua segunda grande paixão, aconteceu um dia, enquanto andava de bicicleta (um de seus hobbies prediletos): se apaixonou por uma juazeirense, da terra de meu “padim Ciço6”, que estava sentada na calçada em frente à sua casa, quando os olhares de suas almas se conectaram pela primeira vez... O nome dessa jovem, que mexeu profundamente com o coração do “jovem mestre”, é Cícera. Costumamos dizer que “a paixão sem amor, é desejo... e desejo, um dia acaba”. No caso do futuro professor e mestre de Capoeira Rocha, e da futura bacharel em Direito e professora, Cícera Queiroz Alves, este foi um amor avassalador que enfrentou as maiores dificuldades para que, enfim, se concretizasse... O caminho de um homem honesto e que segue o bem é sempre mais difícil, no sentido de que é repleto de desafios: contudo, seguir esse caminhodo bem compensa! A trajetória de Antonio Pereira Rocha não poderia ser simplesmente esquecida! Neste capítulo iremos tratar da história de um dos fundadores da Capoeira na cidade de Juazeiro do Norte, futuramente conhecido como Mestre Rocha. 6 Padre Cícero foi um padre católico e fundador da cidade de Juazeiro do Norte, protagonista, juntamente com a beata Maria de Araújo, do famoso e misterioso Milagre da Hóstia. É conhecido popularmente, numa forma carinhosa por seus romeiros, como “meu padim Ciço”.
  • 16. 14 Apresentaremos relatos encontrados em um caderno, na forma de anotações, que serão complementados com uma parte de seu Memorial escrito como trabalho para a disciplina “História das Práticas Corporais”, quando o mesmo estava cursando a Licenciatura em Educação Física pela Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA. O documento em questão contém o relato do primeiro contato de Rocha com a Capoeira, ainda na sua infância, bem como acontecia o treino dessa luta brasileira no Grupo “A senzala de Bimba”, “Vocação do Negro”, dentre outros lugares. Outro trabalho a ser citado é o artigo “A inserção da Capoeira nas Escolas da Rede Pública e Privada da cidade de Juazeiro do Norte Artigo”, apresentado pelo professor Rocha à Coordenação do Curso de Educação Física da Universidade Estadual Vale do Acaraú– UVA, como requisito para a obtenção de título de Licenciado em Educação Física, no ano de 2012. 1.1 Primeiro contato de Antonio Pereira Rocha com a Capoeira Para quem não conhece a Capoeira7, apresentamos um rápido resumo: o prof. Dr. Augusto Maciel Torres, na 7 Fontes: Salvaguarda da Roda de Capoeira e do Ofício dos Mestres de Capoeira: apoio e fomento/ coordenação e organização Rívia Ryker Bandeira de Alencar. Brasília: IPHAN, 2017.
  • 17. 15 apresentação do livro “Capoeira: arte marcial brasileira”, explica que responder essa pergunta “o que é a capoeira?” requer um mergulho além do que é a própria arte brasileira mencionada: é preciso ser conhecedor também da “história, sociologia, filosofia, dança, coreografia, além, obviamente, das técnicas do esporte”, (TORRES, 2011 In: TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p. 07), alguns dos “lugares de pertença e de transformação” da Capoeira. Acrescenta ainda que em relação à origem, alguns pesquisadores ainda questionam se foi na África ou no Brasil. Contudo, o professor e capoeirista acredita que: [...] a origem africana ou brasileira é irrelevante, tendo em vista que a Capoeira já se encontra tão arraigada no contexto histórico e cultural de nosso país, que já virou patrimônio brasileiro, independente de sua origem (TORRES, 2011 In: TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p. 07). A Capoeira se desenvolveu como “dança disfarçada de luta” através do povo negro, escravizado em nosso país, sendo uma forma de resistência e de reação à opressão. O intuito era que pudessem se defender do Capitão do Mato. Por isso, “a forma encontrada pelos cativos para reagir a toda essa opressão foi o desenvolvimento de uma técnica TORRES, José Augusto Maciel; SANTOS, Carlos Alberto Conceição dos e BUENO, Fábio Amador. Capoeira: arte marcial brasileira. São Paulo: On Line, 2011. 96 p.: il.
  • 18. 16 de luta, objetivando a defesa contra os agressores” (TORRES, 2011 In: TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p. 13). Em se tratando do que mencionamos acima, os autores acreditam que a dança, a música e a coreografia, incorporadas à capoeira, serviram como disfarce ao real sentido da luta. Acrescenta que: Desta forma, os escravos passaram a praticar a luta, [...] em terreiros próximos às senzalas [...], assim como em campos adjacentes, conhecidos, à época, como “capoeira” ou “capoeirão” (que posteriormente, segundo uma das diversas teorias existentes, viria a dar o nome à luta (TORRES, 2011 In: TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p. 14). Complementando a citação acima sobre a capoeira8, para o professor Rocha: [...] A capoeira é a única arte marcial a qual traz a música e o canto como 8 Já o prof. Dr. Hélio José Bastos Carneiro de Campos, na introdução do livro acima mencionado, define a Capoeira como: “[...] uma manifestação afro-brasileira, [...] um fenômeno de resistência singular. Conseguiu sair de situações demasiadamentedesfavoráveis, a exemplo da marginalização e do Código Penal Brasileiro, resistindo aos Capitães do Mato, à perseguição policial e, principalmente, à mais perversa das perseguições: a injúria social” (CAMPOS, 2011 In: TORRES, SANTOS, BUENO, 2011, p. 08).
  • 19. 17 primazia de sua prática, dando o ritmo dos movimentos e o estímulo a ser jogado: por essa razão são utilizados o berimbau, atabaque, o pandeiro, o afoxé e outros instrumentos na prática da capoeira (ROCHA, 2010, p. 04)9. Sendo assim, percebemos que a Capoeira é um conjunto de práticas culturais, que abrange uma luta, praticada em aproximadamente 150 países, “com variações regionais e locais criadas a partir de suas ‘modalidades’ mais conhecidas: as chamadas capoeira angola e capoeira regional” (Salvaguarda da Roda de Capoeira e do Ofício dos Mestres de Capoeira: apoio e fomento, 2017, p. 06). Sobre os dois tipos mais conhecidos da Capoeira, assim o professor e mestre Rocha (1998) versa que: [...] A capoeira começou a ser ensinada regulamente nos anos 30 e já naquela época estava dividida em duas vertentes: a capoeira de angola, nome que homenageia as tradições dos escravos angolanos e a regional, chamada assim por ter nascido na cidade da Bahia (ROCHA, 1998, p. 03). Trazendo a discussão para o contexto da contemporaneidade, importantes acontecimentos 9 ROCHA, Antonio Pereira. Plano do Curso de Educação Física [documento impresso]. Séries 7º, 8º e 9º (4º ciclos). Juazeiro do Norte, Ceará: 2010.
  • 20. 18 marcaram a história da Capoeira. Entre eles, destacamos que a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) reconheceu, no ano de 2014, a Roda de Capoeira como Patrimônio da Humanidade (Salvaguarda da Roda de Capoeira e do Ofício dos Mestres de Capoeira: apoio e fomento, 2017). Contudo, essa apresentação do que é a Capoeira serve para que tenhamos noção acerca do tema e como essa arte brasileira estabeleceu uma conexão com a vida do professor Rocha. Tudo começou quando, vasculhando ainda mais gavetas, encontramos um Memorial escrito à mão por uma de suas filhas, que o mestre Rocha costumava dizer ter uma “caligrafia bonita”. Este trabalho foi apresentado, na época, à disciplina História das Práticas Corporais no curso de Educação Física, na Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA, no período de 2010: Ao falar da minha infância e com relação ao curso de Educação Física e a escolha pela Capoeira, volto ao passado, ou seja, ao final do ano de 1969, quando a minha genitora decidiu mudar-se para a cidade de Taguatinga Norte, no Distrito Federal, levandotodos nós, pois éramos seis irmãos. Embora muito pequeno naquela época, recordo-me de algumas coisas como, por exemplo, quando nós
  • 21. 19 chegamos em Taguatinga e fomos residir na QNM 710. Estando, pois, residindo naquela localidade, Rocha começou a ter amizade, primeiro, com o filho do dono do barraco onde morava com sua família e, depois, com alguns meninos do bairro que tinham uma grande paixão: o futebol de campo. Sempre quando era o momento do jogo, Rocha era convidado a brincar com os garotos, embora soubesse que não tinha a habilidade necessária para tal esporte. Contudo, o pequeno Rocha tinha como grande paixão andar de bicicleta: quem sabe, o sentimento de você explorar, com esse transporte, lugares ainda não conhecidos no bairro ou mesmoa liberdade (na forma do vento a soprar no seu rosto, cada vez que o mesmo pedalava sua bicicleta) fosse o real motivo dele gostar tanto de andar de bicicleta. Entretanto, devido a insistência de seus colegas, Rocha decidiu jogar futebol no campeonato de rua, promovido pelos próprios garotos: Após alguns minutos do jogo, senti no olhar dos mesmos [meninos] a decepção, porque eles pensavam que eu fosse bom de bola, mas comonosso time perdeu e eu não fiz nenhum gol, um dos meninos disse assim: “Ele só se parece com Pelé na aparência, mas não joga 10 ROCHA, Antonio Pereira. Memorial (apresentado à disciplina História das Práticas Corporais- escrito à mão). Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA. Instituto Dom José de Educação e Cultura- IDJ- Curso de Licenciatura em Educação Física. Crato, Ceará: s/d.
  • 22. 20 nada... Ele parece mais com um “praticante” de Capoeira...”11. Sem entender o porquê, naquele momento, o pequeno Rocha gravou aquelas palavras na profundidade de sua mente e de seu coração... Quem sabe um dia aquilo iria fazer algum sentido na sua vida? A própria “vida” logo responderia a esse questionamento... Alguns anos depois, a família de Rocha mudou-se para a QNH 10, no mesmo bairro. Aqui temos o relato de como, na escola onde estudara, ele teve contato também com a Capoeira: A minha genitora tomou conhecimento que na divisa entre a SHIS Norte e Taguatinga Norte existia uma escola de 1º grau de nome “Escola Classe Nº 26”, na qual me matriculou e comecei a estudar. Naquela escola funcionava o sistema tradicional, o qual somente o professor era dono do saber e só ele falava e os alunos escutavam: mas, nas aulas de jogos e recreação, de vez em quando, os professores da disciplina acima mencionada aceitavam opiniões dos alunos. Por isso, apareciam diversas brincadeiras, as quais nos prendiam à própria escola e ao sistema. Foi através 11 Ibidem.
  • 23. 21 de uma dessas brincadeiras que eu criei (adquiri) interesse pela Capoeira12. No artigo “A inserção da Capoeira nas Escolas da Rede Pública e Privada da cidade de Juazeiro do Norte Artigo” (2012), voltamos a nossa atenção no tópico referente à discussão “A CAPOEIRA E AS ESCOLAS”, que temos o complemento do contato de Rocha com a Capoeira através da escola, conforme o relatado na citação acima. Segundo o mesmo, por volta do ano de 1972, quando ainda era aluno do Ensino Primário, na Escola número 26, que estava localizada na Shis Norte, Distrito Federal, nas aulas de jogos e recreação, “os professores da citada disciplina, de vez em quando, davam iniciação à Capoeira, ou seja, [...] ensinavam os movimentos básicos, falavam sobre a história da Capoeira e de como ela [a capoeira] chegou ao Brasil” (ROCHA, 2012, p. 10). Isso demonstra, em parte, a relação que essa arte, dança e luta brasileira construiu ao longo do tempo com a disciplina de Educação Física, no ambiente escolar. Entretanto, outras situações fariam Rocha perceber o chamado da Capoeira. Essas informações foram encontradas em um antigo caderno de anotações do professor: Iniciei a prática da Capoeira no ano de 1974, na cidade satélite de Taguatinga 12 Ibidem.
  • 24. 22 Norte, Distrito Federal. Neste ano eu [...] estudava do outro lado da avenida principal que dava acesso para a Ceilândia, outra cidade satélite e, por diversas vezes, quando eu ia para a escola, passava por algumas das ruas da Asa Norte e era perseguido e, muitas das vezes, agredido fisicamente por alguns meninos que moravam naquelas mediações. Num certo dia, quando estava indo para a casa da minha tia, que residia no outro lado da avenida principal da Shis Norte, vi um grupo de pessoas. Ao me aproximar foi que eu percebi que se tratava de uma roda de capoeira. Fiquei ali parado observando aqueles belíssimos movimentos de ataque e defesa, acrobáticos, acompanhado por cânticos, palmas e alguns instrumentos musicais como o pandeiro e o berimbau. Tristes momentos de agressões verbais ou físicas fazem parte da vida de muitos jovens hoje em dia. Algumas dessas práticas têm-se o título de bullying13... Entretanto, na Capoeira, Rocha encontrou uma forma de se libertar de ameaças de violências físicas, ao mesmo tempo que enxergava nessa luta um sentido de proteção aos fragilizados, cuidado com o outro e o tão sonhado “grito de liberdade” do corpo e da alma. 13 Definido como práticas de violência física, verbal ou psicológica, em relação a uma vítima, realizada porum ou mais agressores.
  • 25. 23 Como fora dito na citação acima, os movimentos que eram acompanhados do toque de instrumentos musicais típicos desta luta, chamaram a atenção ainda mais do Rocha que, com certeza, daquele momento em diante soube que a sua vida estaria ligada para sempre com a Capoeira. A partir daquele dia, em toda a oportunidade de tempo livre, Rocha sempre observava, cada vez mais encantado, as rodas de capoeira. Contudo, ao chegar em casa, mesmo sendo um lugar bastante pequeno, “tentava reproduzir alguns daqueles golpes ou movimentos [...]”14. Por volta de 1975, Rocha foi morar com um de seus cunhados na QNM 36, conjunto e casa 36 M. Norte. Chegando lá, que alegria eu senti ao ver um quintal razoavelmente grande [...], pois o barraco que nós morávamos era muito apertado [e ficava difícil a execução dos movimentos de capoeira] [...]15. Naquele lugar, portanto, treinava mais intensamente os movimentos de Capoeira que observava nas rodas da cidade, da chamada “Capoeira de Rua”16. 14 Relato oriundo de um caderno pessoal de anotações. 15 Ibidem. 16 Capoeira de Rua ou Roda de Rua, definida no artigo “Capoeira de Rua e Capoeira na Rua”, como aquela luta “caracteriza por grupos que se encontram exclusivamente nesses espaços [a rua] para a prática da
  • 26. 24 Contudo, foi através da compra do primeiro livro sobre o tema da Capoeira, que Rocha foi adquirindo mais conhecimento histórico e técnico sobre a luta em questão: Meu cunhado de vez em quando me dava algumas moedas e eu ia juntando, até que um dia, passando em frente a uma certa livraria, vi na parte do mostruário um livro de capoeira, que tinha como título “Capoeira sem mestre” das Edições de Ouro, que tinha como escritor Lamartini P. da Costa. Me aproximei da entrada da livraria e perguntei o preço daquele livro [...].17 Acrescenta-se à informação, de que essa aprendizagem da Capoeira de Rua e Capoeira de Quintal ocorreu com a orientação dos futuros mestre Cleber e Cal, oriundos de Brasília, por volta dos anos de 1974 a 1975. Poderia ser coincidência ou destino, mas o valor do livro correspondia às moedas que o jovem tinha juntado ao longo de tempo. E assim, feliz, ele foi até a casa da sua irmã, pegou o dinheiro que estava guardado em uma pequena caixa e retornou à livraria: Chegando lá, mal podia respirar [...] Adentrei na livraria e comprei o livro. O meu coração batia forte de tanta alegria. sua capoeiragem, não possuindo uma sede fixa, ou um espaço fechado onde se realizam treinos e rodas” (ABIB, 2012, s/p). 17 Relato oriundo de um caderno pessoal de anotações.
  • 27. 25 Passei alguns meses lendo o livro até que adquiri um conhecimento mínimo dos movimentos e golpes expostos naquele livro e passei a treiná-los [com o auxílio de um] saco cheio de areia, como também, de vez em quando, utilizava [...] alguns pés de bananeira com o mesmo objetivo18. Encerramos esse tópico com a percepção inicial de como o ensino, a educação física e a capoeira sempre aparecem interligadas à vida de Rocha, nesse chamado do caminhar da história deste educador, que será o tema do próximo capítulo. 1.2 Praticando a Capoeira Depois de alguns meses de leitura e reprodução dos movimentos contidos no livro “Capoeira sem mestre”, Rocha se sentiu preparado para buscar um treinamento em um grupo de Capoeira. Sendo assim, foi: [...] treinar Capoeira com o mestre Cleber, no fundo do quintal da casa dele [...] O mesmo, na época, era aluno do mestre Barto do Grupo de Capoeira Pequeno Dragão. Mesmo tendo o mínimo de conhecimento de capoeira, que na realidade era quase nada comparado ao do mestre e do outro 18 Ibidem.
  • 28. 26 capoeirista que também ia treinar lá, [...] mesmo assim, [eu] acompanhava com muita dedicação a todos os treinos [...]19. Em março de 1977, Rocha viaja à cidade de Juazeiro do Norte- Ceará, onde conhece o mestre Tena. Juntos, os dois são os introdutores da capoeira naquela cidade. Esse fato será contado com mais riqueza de detalhes no tópico “3.1 Mestre Rocha: um dos introdutores da Capoeira na Região do Cariri”. Passando algum tempo, treinandocom mestre Tena e ensinando aos seus alunos, Rocha retorna ao Distrito Federal, no início do ano de 1978, para morar com uma irmã que residia na QMN-36, que ficava situada entre as cidades satélites de Taguatinga Norte e Ceilândia Norte. Aproveita, então, a oportunidade para prestar serviço militar e continuar praticando Capoeira. Continua o mestre Rocha afirmando que: No ano de 1978, praticava Capoeira no Grupo A Senzala do Bimba com o mestre Bimbãoque, segundo o mesmo, era sobrinho de Manoel dos Reis Machado – Mestre Bimba, o criador da 19 ROCHA, Antonio Pereira. Memorial (apresentado à disciplina História das Práticas Corporais- escrito à mão). Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA. Instituto Dom José de Educação e Cultura- IDJ- Curso de Licenciatura em Educação Física. Crato, Ceará: s/d.
  • 29. 27 Capoeira Regional. As aulas de Capoeira aconteciam nos finais de semana no pátio de uma determinada Escola Classe, da cidade satélite de Taguatinga Norte, DF. (ROCHA, 2012, p. 10). Essa realidade era bastante presente na época, em que alguns grupos de Capoeira utilizavam espaços escolares no desenvolvimento de atividades relacionadas com essa luta, o que, com certeza, serviu para que mais jovens tivessem um contato diretocom essa luta brasileira. A prática da capoeira com o Mestre Bimbão foi do ano de 1978 até o início de 1980, onde recebeu, posteriormente, a graduação de Contramestre de Senzala. Contudo, entre os períodos de 1978 a 1981, o professor Rocha também praticou capoeira com outros mestres, dentre eles: Mestre Cal (foi Campeão Brasiliense de Vale Tudo), na época, aluno do mestre Barto (ex-discípulo de Vicente Ferreira Pastinha- Mestre Pastinha, o maior defensor da Capoeira Angola no Brasil) (ROCHA, 2012; ROCHA, s/d). Em se tratando do serviço militar (1980), ingressou nas Forças Armadas- Exército, servindo ao 1º Regimento de Cavalaria de Guarda (Dragões da Independência) na função de Fuzileiro Hipo e Instrutor de Defesa Pessoal do
  • 30. 28 4º Pelotão do 3º Esquadrão (fotos 01, 02 e 03)20, onde permaneceu até abril de 1981 (ROCHA, s/d). Após “dar baixa” nos Dragões da Independência, na cidade satélite de Ceilândia Norte, participou de um torneio aberto de Capoeira. Foto 01: Antonio Pereira Rocha durante o período de serviço militar. Fonte: arquivo pessoal, 1980. 20 Informações conforme o certificado de Reservista de 1ª categoria- 11º RM- 1º Regimento de Cavalaria da Guarda- OM. Soldado QMG 02- QMP 001 (qualificação militar).
  • 31. 29 Foto 02: Antonio Pereira Rocha durante o período de serviço militar (da esquerda à direita, é o segundo). Fonte: arquivo pessoal, 1980.
  • 32. 30 Foto 03: Documento de honra ao serviçomilitar demonstrando boa conduta e caráter do soldado Rocha. Fonte: arquivo pessoal, 1981.
  • 33. 31 Em abril de 1981, Rocha retorna à cidade de Juazeiro do Norte e, durante esse tempo, conhece e namora com a jovem Cícera Queiroz Alves (fotos 04), que na época, era bacharel em direito (e seria futura professora de pedagogia e história). O casamento aconteceu no dia 24 de dezembro de 1984, na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus. Desta união nasceram três filhos. Foto 04: O casal de professores em sua época de namoro e em seu casamento. Fonte: Arquivopessoal, 1981.
  • 34. 32 Assim, finalizamos essa parte “1.2 Praticando a Capoeira” tendo a certeza de que, com bastante humildade, e tendo a consciência e o respeito por seus instrutores e mestres, Rocha foi aprendendo e descobrindo a sua própria identidade na Capoeira. Recebeu como primeiro nome de “batismona Capoeira” o apelido de Gordo: só descobrimos essa informação após a sua morte, em uma conversa com o seu antigo mestre, o senhor Cleber. Acreditamos que a razão para este apelido tenha sido o fato do corpo/porte físico de Rocha: um jovem magrinho, mas bem definido. Então, como uma forma tradicional de “tirar onda”, entre amigos e companheiros de roda, ou, como uma forma de “antônimo” diante de seu “porte físico”, este fora o seu primeiro apelido na Capoeira. Outros nomes que foram atribuídos ao professor Rocha, dentro de sua história com a Capoeira foram: mestre Rocha, na época que ainda era contramestre de Capoeira, mas devido aos longos anos nesta graduação, as pessoas popularmente assim lhe chamavam; mestre Dragão Rocha, foi outro nome que fora conhecido quando esboçou e registrou a modalidade caririense chamada de Kcapojuboxe; e mestre Dhy Rocha quando recebeu a graduação de mestre de Capoeira Regional e Angola diretamente das mãos de seu antigo amigo e mestre da Associação Roda Livre de Capoeira, Cleber Soares de Paula.
  • 35. 33 Capítulo 2- O caminho de um educador Cerezer e Outeiral (2011) definem o educador “como toda pessoa que se relaciona com a criança e o adolescente com finalidade de orientá-los em relação as suas atitudes” (2011, p. 09). Um educador é uma pessoa consciente de seu papel de instruir alguém com ensinamentos acumulados de sua vida pessoal, profissional e ademais. Se pensarmos por essa perspectiva, todos temos a capacidade de tornarmos educadores. Contudo, exige de nós uma consciência plena de nosso papel moral e social na vida do outro, pois aquilo que somos ou fazemos refletirá de maneira positiva ou negativa naqueles que estão a nossa volta.
  • 36. 34 Para desempenhar a função de educador, não é necessariamente uma obrigação ter uma titulação acadêmica, do tipo licenciatura, por exemplo: mas, é necessário buscar o conhecimento, de alguma forma, como uma fonte indispensável do ato do saber. E mais do que isso: utilizar de ferramentas ou estratégias que te darão o suporte necessário para transmitir esses valores, aprendizados ou conhecimentos aos outros. E, é na prática onde somos verdadeiramente desafiados e desenvolvemos a habilidade necessária para se converter em um educador. Muitas vezes, uma instituição de ensinosuperior, por exemplo, nos oferece o conhecimento para ampliar a nossa metodologia em sala de aula, enquanto professor, a maneira como apresentamos os conteúdos referentes à disciplina que lecionamos, enfim, em todos os mecanismos do processo de aprendizado... Entretanto, em dados momentos, a teoria da universidade chega a ser insuficiente se não tivermos a experiência da prática para testar até onde essa teoria é válida, e até onde somos limitantes: nesse último caso, temos um desafio maior para contornar essa problemática, em busca da melhor resposta que solucione o enigma do ato de educar21/ensinar e aprender: e o professor Rocha 21 “Educar (educere) é diferente de ensinar(insigno). Enquanto educar tem a ver com o reconhecimento de um potencial interno a ser desenvolvido, amadurecido, experimentado, ensinar tem a ver com
  • 37. 35 foi, antes de tudo, esse educador consciente de seu papel na formação de seu aluno. Seus conselhos e ensinamentos estavam além da sala de aula, da quadra de esporte onde desenvolvia a prática esportiva ou do conteúdo ministrado sobre educação física ou capoeira... Muito mais do que um professor, Rocha era aquele conselheiro e amigo, quando ouvia os problemas pessoais/familiares e aconselhava de forma positiva... outras vezes, Rocha era um “pai”: quando era necessário chamar a atenção, Rocha assim fazia... no início, o aluno poderia sentir-se “chateado” com a “bronca”, mas logo este percebia que “é... o professor tá certo!”. Esse chamado à consciência e a refletir sobre o senso de responsabilidade, especialmente na esfera do processo ensino e aprendizado (que constituía-se em um primeiro entendimentode aplicar essa responsabilidade às outras esferas da vida), era um constante lema que Rocha reforçava na suas aulas, pois sempre entendeu a Educação como transformação positiva na vida humana e respeito que modificava, direta e indiretamente, a vida de muitos dos alunos. um processo de fora para dentro, colocar signos, significados, nomear situações, construire desconstruirhipóteses e aprendizagens.Há uma complementaridadeentre educare ensinaratravessada pelo conceito de aprendizagem, não no sentido apenas conteudista, mas da vivência afetiva aliada ao desenvolvimento intelectual” (CEREZER; OUTEIRAL, 2011, p. 49 e 50).
  • 38. 36 Sendo assim, os textos que servirão de base para esse capítulo são: o memorial do professor Rocha (s/d) e o documento Plano do Curso de Educação Física (2010). 2.1 Por que ser Professor de Educação Física e Capoeira? Foto 05: No começo de seu ofício como mecânico. Fonte: Arquivo pessoal, 1984.
  • 39. 37 Antes mesmo de iniciar o ofício que o imortalizaria na história da educação de Juazeiro do Norte, o professor Rocha (foto 05) foi mecânico de automóveis, buscando sempre a qualificação profissional para exercer essa função: por volta dos anos de 1984, 1986 e 1987, formou- se no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial- SENAI- Ceará em: Eletricista de automóvel, Mecânico em motores diesel, Torneiro Mecânico, Mecânico de automóvel e Curso de Solda elétrica e oxiacetilênica. Também concluiu o curso de Mecânico de Máquina de Costura Industrial, em 1987. Foi no ano de 1985, que Antonio Pereira Rocha iniciou sua atividade profissional como Professor Estagiário, na área de Educação Física, na Escola Técnica de Comércio, na cidade de Juazeiro do Norte, permanecendo até o ano de 1989. Nessa instituição de ensino concluiu também o Segundo Grau e obteve o Certificado Profissional de Técnico de Contabilidade. Através de suas memórias, Rocha relata como surgiu o convite para lecionar e como esta primeira experiência abriu-lhe as portas para o ensino: [...] Fui convidado pelo diretor da mesma para ensinar Educação Física nas séries terminais do Ensino Fundamental II, como professor estagiário. Embora naquela época não tendo nível superior em Educação Física ou qualquer outra licenciatura, tendo
  • 40. 38 apenas concluído o 2º grau, possuía alguns cursos de Educação Física, era instrutor de defesa pessoal e também contramestre de Capoeira, o que me dava um certo conhecimento de anatomia e fisiologia. No ano de 1988, Rocha concluiu o curso de Datilografia “que lhe conferiu o direito de exercer a profissão neste cargo, no qual está habilitado22”, pela Escola de Datilografia Leão Sampaio. Em seguida, por volta de 1989/1990, Rocha foi Professor de Jogos e Recreação (professor provisionado23) do Ginásio Monsenhor Macêdo, instituição particular de ensino religioso (católico) e em 1992 atua também como professor de Capoeira nesta escola. 22 Conforme informações obtidas no Certificado em 08 de novembro de 1988. 23 Define-se o provisionado como o profissional que possui o direito quanto a um exercício profissional, observando algumas restrições. “Segundo o Jurista Hely Lopes Meirelles, sempre que uma determinada profissão passa a merecer um estatuto legal específico e um Conselho Profissional, é comum que o legislador, atento à realidade social, legitime a situação de certos profissionais que, embora não preencham os novos requisitos da atividade, já a venham exercendo por determinado período e em determinadas condições [...] Em outras palavras, a lei assegura o exercício da profissão aos que já a exerciam antes da nova legislação. Estes têm direito adquirido, de acordo com a legislação anterior, nos moldes do que já faziam, desde que se inscrevam no respectivo Conselho Profissional”. (In: Provisionados: quem são?, 2003, p. 05).
  • 41. 39 Outra instituição particular de ensino religioso (vinculado à Ordem Salesiana) que o professor Rocha lecionou foi o Colégio Salesiano São João Bosco, por volta de 1990 (atuando por quase 14 anos), na função de professor de Educação Física e de Capoeira, em projeto de esporte e desporto desenvolvido naquela escola. Para o exercício deste cargo, o professor Rocha se inscreveu no Conselho Regional de Educação Física do Estado do Ceará (CREF), onde manteve vínculo até o ano de 2015. Em 1994, o professor Rocha passou em um concurso municipal na área de Educação Física e começou a trilhar essa trajetória profissional de destaque em sua vida. Posteriormente, como professor temporário vinculado à CREDE 19, desenvolveu suas atividades profissionais também em escolas estaduais, onde aplicou o projeto Capoeira nas Escolas, alinhado às práticas de Educação Física. Também não podemos esquecer da atuação do professor Rocha como bandeirinha e árbitro de futebol, entre os anos de 1996 a 1998, no Campeonato Cearense de Futebol, onde permaneceu filiado ao Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado do Ceará- SINDCAF- CE. Nesse período participou de cursos nas áreas de Técnico de Futsal, Reciclagem das Novas Regras do Futsal e Árbitro de Futebol, cursos realizados pela Liga Cratense de Futsal, Associação Juazeirense de Árbitros de Futsal e Federação Cearense de Futsal, respectivamente.
  • 42. 40 Abrimos um parêntese nesse subcapítulo para recordar que durante o período de 1999 a 2009, o professor Rocha esteve envolvido, de forma direta e indireta, nas edições dos Jogos Estudantis de Juazeiro do Norte (Jejunos), “participando com empenho e esportividade nesse movimento que congrega jovens, estimulando-os a superar os desafios e unindo-se em torno de uma saudável convivência” , estando presente na preparação e acompanhamento dos alunos/atletas das escolas as quais exerceu sua profissão como professor de Educação Física. Foram inúmeras escolas, turmas e modalidades esportivas (como futebol de campo, futsal, vôlei, handebol, basquete, carimba, vôlei de quadra, artes marciais, e demais modalidades esportivas) representadas pelo professor Rocha, como instrutor de vários alunos medalhistas nesses jogos. Com esse trabalho, focado na educação e também no esporte, conquistou aproximadamente 300 medalhas, nesses dez anos de participação nos Jejunos. No ano de 2002, formou-se em Licenciatura Plena de Ensino Fundamental- Pedagogia (turma 33) na Universidade Regional do Cariri- URCA (foto 06), sua primeira licenciatura, na qual, em algumas escolas atua como professor polivalente (1º e 2 ciclos), em razão de sua recente graduação.
  • 43. 41 Foto 06: O professor Rocha em sua colação de grau do curso de Pedagogia, ao lado de sua madrinha/sogra Dona Severina, como carinhosamente chamava. Fonte: Arquivopessoal, 2002. Por volta do ano de 2009, também foi professor de artes, como complemento de carga horária e, consequentemente, qualificou-se com Cursos de Formação Inicial e Continuada, bem como de extensão, para que
  • 44. 42 esses conhecimentos teóricos fossem alinhados à sua prática com as artes. Vale mencionar que ainda jovem e mesmo após casado, Rocha foi um exímio artesão: trabalhava com a criação de móveis, santos, decorações diversas (utilizando materiais como cabaça, madeira, lã, macramê, corda, gesso, búzio, dentre outros), manuseando a arte da pirografia, elaborando instrumentos musicaisda capoeira e usando betume para pinturas. Exibia, muitas vezes, suas produções artísticas no ano de 1983, na loja de santos de sua mãe. Além disso, seus artesanatos enfeitavam o seu lar, quandocasou-se. Rocha concluiu seu curso de Educação Física na Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA, no ano de 2013, um sonho conquistado com muito suor, lágrimas e sentimento de gratidão a Deus por ter finalizado essa etapa tão significativa no ofício de um professor. Sobre este fato (foto 07), temos o seguinte relato que demonstra sua satisfação por buscar, ainda mais, uma qualificação profissional, através da Licenciatura em Educação Física: [...] Quando eu ingressei no curso de Licenciatura em Educação Física cheio de anseios, expectativas e o desejo maior de adquirir novos conhecimentos e, ainda, com uma enorme necessidade de modificar as velhas práticas de ensino, as quais venho desenvolvendo há muito anos, por não ter sido qualificado
  • 45. 43 através dos conhecimentos científicos que se busca na universidade. Mudar de postura significa uma prática profissional (ROCHA, s/d, p. 17 e 18). Foto 07: O professor Rocha em sua colação de grau do curso de Educação Física. Fonte: Arquivopessoal, 2013. Em 2014, Rocha finalizou sua Pós-graduação em Aperfeiçoamento em Atividade Física para Pessoas com Deficiências, pela Universidade Federal de Juiz de Fora- UFJF, outra grande conquista em sua vida.
  • 46. 44 Contudo, entre os anos de 2014 e 2015, sendo submetido a uma intervenção cirúrgica para a correção da retina, devido ao deslocamento da mesma, Rocha perdeu a visão de um olho: portanto, desde o ano de 2015, era professor readaptado atuando na sala de leitura e na biblioteca da Escola de Ensino Fundamental Vereador Francisco Barbosa, da cidade de Juazeiro do Norte. Mesmo que não podendo exercer as atividades de Educação Física, de forma direta ou mais “intensa”, Rocha sempre buscava meios de incentivo a tudo isso que representou sempre uma parte essencial de sua existência. Podemos concluir nessa trajetória profissional do professor Rocha que, inserido no campo da Educação Física, as aulas deste profissional tinham como objetivo fazer com que o aluno pudesse conhecer e respeitar a si mesmo e o outro. Assim, tendo a dimensão de si e do outro, cada aluno desenvolveria as práticas da Educação Física orientadas a uma “não discriminação” do outro, em sua diferença, “seja ela no quesito corpóreo, sexual, mental, racial, social”, dentre outros. Portanto, ao longo do tempo, este “aluno aperfeiçoaria suas capacidades físicas e habilidades motoras”. Outra questão importante é, dentro do desenvolvimento de atividades, esportes e ademais, o aluno seria instigado a “reconhecer o seu papel como parte de um grupo, seja na condição de líder ou liderado, onde aprenderia sobre a cooperação mútua para alcançar um objetivo em comum” (ROCHA, 2010).
  • 47. 45 Mesmo diante de tantos anos de busca por conhecimento, Rocha tinha a certeza de sua missão como eterno aprendiz da vida, conforme narra em seu memorial: Hoje, já concluído diversos cursos na área de Educação Física e ter concluído um curso em Licenciatura Plena em Pedagogia, sinto-me um pouco preparado para desempenhar a função a qual exerço a 18 anos. Se antes não cursei Educação Física é porque não tive oportunidade [financeira]... Aproveitei a oportunidade [após anos] e ingressei no curso de educação física como aluno graduadopara concretizar um sonho tão desejado (ROCHA, s/d)24. Consequentemente, essa trajetória da Educação Física e Capoeira será melhor explanada no tópico 3.3 Projeto Capoeira nas Escolas, onde teremos mais riquezas de detalhes sobre a atuação do Mestre Rocha. Lembramos ainda que, quem teve a oportunidade de adentrar na sala de estar da casa do professor Rocha, na cidade de Juazeiro do Norte, deve ter se deparado com uma parede branca cheia de quadros e certificados pendurados: os certificados, portanto, eram um de seus 24 ROCHA, Antonio Pereira. Memorial (apresentado à disciplina História das Práticas Corporais- escrito à mão). Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA. Instituto Dom José de Educação e Cultura- IDJ- Curso de Licenciatura em Educação Física. Crato, Ceará: s/d.
  • 48. 46 maiores orgulhos, pois representavam a comprovação do conhecimento obtido com muitoesforço, para demonstrar a qualificação profissional. Desse modo, trazemos para o debate a seguinte frase de um importante artista marcial chinês, chamado Bruce Lee: “Eu não sou um mestre. Eu sou um aluno- mestre, o que significa que eu tenho o conhecimento de um mestre e a experiência de um mestre, mas eu ainda estou aprendendo. Então eu sou um aluno-mestre25.” Isso demonstra o espírito de um eterno aprendiz, sempre procurando se renovar constantemente em uma das dinâmicas mais bonitas da vida: a incessante busca pelo saber, como transformação de si e do outro. E nada mais justo do que apresentar a trajetória de Antonio Pereira Rocha, como professor de Polivalente, de Educação Física, de Defesa Pessoal e Capoeira, com base em relatos obtidos através de seu Memorial (s/d), em relato pessoal escrito e no Plano do Curso de Educação Física (2010), temas esses dos próximos capítulos. 25 Bruce Lee [biografia]. Site Escola Educação, s/d. Disponível em: https://escolaeducacao.com.br/bruce-lee/. Acesso em:22 jan. 2022.
  • 49. 47 Capítulo 3- A importância do Mestre Rocha no desenvolvimento e popularização da Capoeira na região do cariri cearense Neste capítulo, abordaremos comoo antigo Grupo de Capoeira “A senzala do Rocha”, fundado em 1981, tornou-se o famoso Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares, que contribuiu no ensino e popularização da Capoeira nas principais escolas particulares, estaduais e municipais da cidade de Juazeiro do Norte.
  • 50. 48 Além disso, apresentaremos detalhes sobre como a Capoeira adentrou na cidade de Juazeiro do Norte; a primeira Roda de Capoeira; o Projeto Capoeira nas Escolas, dentre outros temas importantes. Também chamaremos a atenção para o Mestre Rocha, enquanto profissional da Educação Física, disciplina que lecionou durante muitos anos em sua vida, até que, no ano de 2015, tornou-se professor readaptado (por motivos de saúde) e permaneceu responsável pela biblioteca da última instituição de ensino que trabalhou: a Escola de Ensino Fundamental Vereador Francisco Barbosa, na cidade de Juazeiro do Norte. E por fim, discutiremos detalhes do momento de sua graduação como Mestre de Capoeira Angola e Regional ocorrido em Brasília, um dos grandes momentos de sua vida (2018), a última Grande Roda (evento comemorativo realizado em 2019) e o Batizado de Capoeira (em uma escola municipal) organizados pelo Mestre Rocha. Para isso, iremos nos valer do artigo “A inserção da Capoeira nas Escolas da Rede Pública e Privada da cidade de Juazeiro do Norte” (2012, s/d), Projeto Capoeira no CERE (1998) e Projeto Capoeira nas Escolas da Rede Pública Municipal (s/d), com base também em registros fotográficos, oriundos de arquivo pessoal.
  • 51. 49 3.1 Mestre Rocha: um dos introdutores da Capoeira na Região do Cariri O ano de introdução da Capoeira, na cidade de Juazeiro do Norte, foi 1977: os responsáveis por esse feito histórico foram o pernambucano, chamado Mestre Tena (chegou no Juazeiro em janeiro de 1977) e o maranhense e futuro mestre de capoeira, chamado Rocha (chegou no Juazeiro em março de 1977). Sabemos que por volta da década de 70, Rocha iniciou seu contato com a Capoeira de Rua, no Distrito Federal (nas ruas da cidade satélite de Taguatinga Norte, Taguatinga Centro, Shis Norte, Ceilândia Centro, Gama e Brasília) (ROCHA, 2012; ROCHA, s/d). Em se tratando da origem do Mestre Tena, em um artigo, Rocha explica que: O mestre Tena era pernambucano, mas aprendeu a Capoeira em São Paulo. Casou-se com uma cearense natural de Juazeiro do Norte e com a influência da mesma, resolveram vir para o Cariri montar a 1ª Academia de Capoeira nesta cidade, fato este ocorrido em janeiro de 1977 (a chegada de mestre Tena à cidade de Juazeiro). Em abril do ano em curso (1977), o mestre Tena concretizou o seu grande sonho e inaugurou a 1ª Academia de Capoeira do Cariri. A academia era na garagem da casa da
  • 52. 50 sogra do Mestre, localizada na Rua do Limoeiro, Bairro Casas Populares (ROCHA, 2012, p. 15). Entendemos na citação acima, que em abril de 1977, o mestre Tena realizou o seu sonho de ter a sua própria academia de Capoeira. Esta, se tornou ponto de referência na cidade de Juazeiro do Norte, onde jovens tiveram também o seu primeiro contato com essa luta brasileira. Destacamos ainda, que em março do ano corrente (1997), Rocha chegara de Taguatinga Norte- Distrito Federal. Como sempre, a vida de Rocha está intimamente ligada à Capoeira, e não tardou do jovem ter conhecimento da existência do mestre Tena e da sua academia de Capoeira. Posteriormente, entre os dias 19 e 20 de abril no ano de 1977, ao entrar em contato com Mestre Tena, Rocha passou a treinar naquela Academia de Capoeira, ao mesmo tempo que também ensinava aos alunos do Mestre Tena (ROCHA, 2012; ROCHA, s/d). A 1ª entrega de graduações dos alunos formados pela Academia de Capoeira do Mestre Tena ocorreu no início de setembro de 1977. Aquele fora um momento bastante especial na vida de Rocha, pois o mesmo fora “graduado com o cordão amarelo, que representava a 3ª graduação” (ROCHA, 2012, p. 15). Um grande momento, especialmente na vida de Rocha foi a apresentação da primeira roda de capoeira nas ruas de Juazeiro do Norte, pois essa situação representava
  • 53. 51 proporcionar ao público/sociedade um contato mais direito com essa luta brasileira, bem como, com a própria história da capoeira tão vinculada à história de nosso país e do povo negro. Tal fato aconteceu na romaria de setembro de 1977 (foto 08). Foto 08: Registro da primeira roda de capoeira na cidade de Juazeiro do Norte, no ano de 1977. À direita, o professor Rocha. Fonte: Arquivopessoal, 1977.
  • 54. 52 Assim, o próprio Rocha nos explica como ocorreu esse momento: [...] reuni alguns colegas e fomos fazer a primeira apresentação de capoeira nas ruas de Juazeiro do Norte, fato este acontecido na rua Padre Cícero, em frente ao antigo Posto Marajá 02, próximo à igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores. Vale ressaltar que a aquela apresentação não chegou ao final, pois naquela época ainda estávamos no Regime Militar e algumas pessoas, denominadas de Autoridades Policiais Locais, por ignorância ou falta de conhecimento dos mesmos, não sabiam que a Capoeira era um jogo atlético ou luta, que os praticantes utilizavam, principalmente, as pernas, e que a mesma, no anode 1972, tinha sido reconhecida pelo Conselho Nacional de Desporto, como esporte (ROCHA,2012, p. 15 e 16). Após esse evento, como fora dito no tópico 1.2 Praticando a Capoeira, Rocha teve que retornar ao Distrito Federal em 1978, onde morou com uma irmã, prestou serviço militar e, na ocasião, treinou com vários mestres em distintas academias, de 1978 a 1981,
  • 55. 53 adquirindo, portanto, a sua graduação de contramestre26 de Capoeira. Ao retornar ao Juazeiro do Norte, no mês de abril de 1981, onde fixou residência, começou a ensinar Capoeira para alguns alunos da Praça Cinquentenário, em frente à Capela do Socorro (ROCHA, s/d). Mais especificamente no mês de setembro de 1981, ministrou aulas de Capoeira no Centro Social Urbano (CSU) de Juazeiro do Norte, até o mês de dezembro do mesmo ano. Essa oportunidade foi proporcionada pelo professor Mauro (Capacete), que era coordenador de esportes da entidade educacional mencionada anteriormente. O mês de setembro de 1981 também marcou outro importante acontecimentona vida do professor Rocha: é a fundação de sua primeira academia de capoeira e defesa pessoal, que recebeu o nome de “Grupo A senzala do Rocha”, na cidade de Juazeiro do Norte, “tendo como sede a casa de número 213, localizada na Rua São José, Bairro Matriz, próximo ao Museu do Padre Cícero” (ROCHA, 2012, p. 16) (foto 09). Contudo, teve seu nome alterado para Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro de 1981, “em homenagem ao maior e verdadeiro 26 Segundo informações da carteirinha de identidade estudantil emitida pela Academia de Capoeira A senzala do Bimba, em 1981, a graduação de Rocha consta Contramestre. Em 1995, de acordo com o certificado emitido pela Associação de Capoeira Nego Nagô, Rocha foi graduado Contramestre 2º grau.
  • 56. 54 libertador da raça negra, Zumbi dos Palmares”, como assim enfatiza o professor Rocha, em uma de suas anotações. Foto 09: Casa e Local que era a sede do Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares. Fonte: Arquivopessoal, 1981
  • 57. 55 No início do ano de 1982 foi: [...] convidado pelo professor Douglas, o qual fora pioneiro na luta de vale-tudo em Juazeiro do Norte, para ensinar Capoeira e defesa pessoal na sua academia “Douglas Ringue Clube”, permanecendo na mesma de março até o mês de outubro do mesmo ano. Ainda em dezembro do mesmo ano (1982), tanto treinava capoeira, bem como auxiliava nas aulas de Capoeira do mestre Beluar (Ednaldo de Santana), o qual tinha acabado de chegar de São Paulo e instalado a primeira academia de Capoeira na cidade do Crato e a terceira da região do Cariri, que recebeu o nome de “Academia de Capoeira Vocação do Negro” (ROCHA, 2012; ROCHA, s/d). Diversas apresentações de capoeira em clubes locais, como por exemplo, no Parque de Exposição do Crato, foram realizadas e, assim, fizeram com que os cidadãos cratenses pudessem ter contato com a capoeira. Na cidade de Barbalha (que assim como o Crato e Juazeiro, pertence ao Crajubar), no mês de junho de 1983, o contramestre Rocha e seus alunos foram convidados pelo mestre Barros, a pedido do Secretário de Educação e Cultura da cidade de Barbalha, para realizarem uma apresentação de capoeira na Festa de Santo Antônio, tradicional evento local da cultura popular e religiosa dos
  • 58. 56 cidadãos barbalhenses. Assim, Rocha descreve como fora o momento da apresentação: Na oportunidade, convidei o mestre Beluar e os seus alunos para apresentamos juntos: não poderia deixar de convidar o mestre Tena, mas ao chegar no local onde funcionava a academia domestre fui sabedor que ele havia retornado para São Paulo [...] E chegando o dia da tão esperada apresentação, fizemos da melhor forma possível. Desta maneira foi feita a introdução da capoeira na cidade de Barbalha, através da festa de Santo Antônio (ROCHA, 2012, p. 16). A capoeira conectou ainda mais a região do Crajubar, formada pelas cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, com a chegada de novos professores de capoeira e o companheirismoentreos antigos professores que circundam as três cidades, com apresentações e batizados de capoeira em suas respectivas academias. Infelizmente, após o ano de 1983, Rocha nunca mais teve notícias do mestre Tena, desde o retorno do mesmo à São Paulo: mas este nome não poderia ser omitido, juntamente com o nome de mestre Rocha, da história da introdução da capoeira na região do Cariri cearense, mais especificamente, da cidade de Juazeiro do Norte.
  • 59. 57 Também destacamos, conforme suas anotações, que no ano de 1986 chegava em Juazeiro o Mestre Tabosa, o qual foi ministrar aulas de capoeira na Academia de Musculação do Professor Hélio, que também naquela época, ensinava Kung Fu na região do cariri cearense. Vale salientar que o professor e contramestre (na época) Antonio Pereira Rocha é, na realidade, também o introdutor da Capoeira nas escolas da rede pública estadual e municipal da cidade de Juazeiro do Norte, através do Projeto Capoeira nas Escolas, tópico de discussões futuras. 3.2 Do grupo “A senzala do Rocha” ao “Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares” Estamos no ano de 1981. A tarefa, diante de tantos ofícios, era pensar no nome de sua futura academia de capoeira. Muitos nomes e inspirações pairavam a cabeça do mestre Rocha. E todos tinham uma importância significativa. O primeiro nome que pensou foi “Academia de Capoeira Dragões da Independência”. Obviamente aqui reside a influência de sua experiência como instrutor de defesa pessoal, na época em que prestou serviço militar,
  • 60. 58 além de sua paixão pela simbologia do dragão27, muitas vezes, associados ao poder, ao divino, à fertilidade e ao renascimento, pensando em uma perspectiva dessa simbologia na cultura ocidental (O'CONNELL; AIREY, 201128). Contudo, em setembro de 1981, como mencionamos no subcapítulo anterior, o nome final foi “Grupo A senzala do Rocha”. Entretanto, pensando bem, o nome “senzala” tem um forte significado atribuído à morada dos escravos negros, lugar este que remete dor e sofrimento, em razão do espaço não possuir conforto e higiene adequados para os que lá viviam, além das situações de violência física e psicológica que naquele espaço reinavam29. E Rocha sempre via a Capoeira como a máxima expressão de liberdade do corpo e da mente... Portanto, em novembro do mesmo ano, o nome do “Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares” (foto 10) começa a ser eternizado na história da vida do mestre Rocha: Zumbi foi um importante nome do guerreiro e 27 Dentro da cultura oriental, “os dragões [...] são símbolos de qualidades positivas, como a sabedoria e a força” (O'CONNELL; AIREY, 2011, p. 140), bem como, pode ser vinculado a uma força divina, portador de bençãos, benevolênciae inteligência. 28 O’CONNELL, Mark e AIREY, Raje. Almanaque ilustrado dos símbolos. Tradução: Débora Ginza. São Paulo: Editora Escala, 2011. 29 ANDRADE, Ana Luíza Mello Santiago de. Senzala [artigo]. Site Info Escola, s/d. Disponível em: https://www.infoescola.com/historia/senzala/. Acesso em: 12 fev. 2022.
  • 61. 59 líder dos Quilombos dos Palmares, que defendeu o seu espaço da invasão dos portugueses, durante o período colonial30. Foto 10: Logo do Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares. Fonte: Arquivopessoal, 1996. 30 BEZERRA, Juliana. Zumbi dos Palmares. Site Toda Matéria, s/d. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/zumbi-dos- palmares/. Acesso em:12 fev. 2022.
  • 62. 60 Em constante atividade, na forma representativa de seus alunos, o grupo de capoeira, em questão, esteve presente em momentos que marcaram também a introdução da capoeira em cidades como Juazeiro, Crato e Barbalha, como vimos anteriormente. O grupo de capoeira fez uma pequena pausa de suas atividades em janeiro de 1985, ano em que Rocha, por incentivo de sua esposa (a professora e bacharel em direito Cícera Queiroz Alves), resolveu dar continuidade aos estudos, obtendo, naquela época, o segundo grau, que corresponde ao Ensino Médio, bem como, se qualificando em uma Escola de Ensino Técnico e Profissionalizante, como acompanhamos no subcapítulo referente à profissionalização do mestre Rocha. Neste subcapítulo, gostaríamos de destacar também uma tabela do Sistema de Graduação adotado pelo Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares, ao longo do tempo, após algumas modificações: Sistema de Graduação do Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares 1º Período Cinza 2º Período Cinza/Amarelo 3º Período Amarelo 4º Período Amarelo/Laranja 5º Período Laranja 6º Período Laranja/Verde- aluno formado 7º Período Verde 8º Período Verde/Azul
  • 63. 61 9º Período Azul 10º Período Azul/Roxo 11º Período Roxo 12º Período Roxo/Marrom 13º Período Marrom 14º Período Marrom/Preto 15º Período Preto 16º Período Vermelho 17º Período Branco 18º Período Preto/Vermelho 19º Período Vermelho/Branco 20º Período Preto, vermelho e branco (cordão coral: grão- mestre,10º grau) Tabela 01: Sistema de Graduação- Capoeira Zumbi dos Palmares. Vale salientar que o Mestre Rocha, em anotações que datam o dia 28 de setembro de 2015, chegou a oficializar, em forma escrita, o sistema de graduação de seu Grupo de Capoeira, chamado de “Capoeira Estilo Zumbi”, que unifica os estilos angola, regional e primitiva. Com base em anotações (oriundas da estruturação, em parte, de como seria esse estilo, as graduações e os movimentos obrigatórios para o aluno/graduado), mestre Rocha afirma que “desde o ano de 1999 [...] treinava e aperfeiçoava um novo estilo de Capoeira, que foi denominado de Capoeira Estilo Zumbi”. Reproduzimos na tabela abaixo, as informações obtidas em anotações deixadas pelo professor:
  • 64. 62 Sistema de Graduação- Capoeira Estilo Zumbi 1ª Branca (gelo)- aluno iniciante 2ª Cinza- aluno iniciante 3ª Amarela- alunoveterano 4ª Laranja- aluno veterano 5ª Azul- aluno estagiário 6ª Verde (escuro)- aluno formado 7ª Azul com verde- monitor 8ª Roxa- instrutor 9ª Marrom- professor 10ª Roxo com marrom- contramestre 11ª Preta- mestre 1º grau 12ª Vermelho com pontas pretas- mestre 2º grau 13ª Preto com vermelho- mestre 3º grau 14ª Preto, vermelho e branco (coral)/ grão-mestre 4º grau Tabela 02: Sistema de Graduação- Capoeira Estilo Zumbi, 2015. Ao mesmo tempo, o professor Rocha pontuou quais são os movimentos referentes a cada corda/graduação do seu grupo de capoeira, conforme alguns destes movimentos reproduzidos no quadro a seguir: Na Roda -Ginga -Aú simples Movimentos Defensivos -Cocorinha -Resistência -Queda de quatro -Esquiva de frente -Esquiva de lado Golpe ofensivo traumatizantes/ semicirculares -Meia lua de frente -Queixada de frente -Queixada cruzada -Queixada de lado
  • 65. 63 alta -Esquiva de lado baixa -Esquiva de cadeira -Negativa de frente -Negativa de frente alta e baixa -Negativa de recuo -Sapinho -Rolê -Queda de rins -Benção de frente -Benção de lado -Chapa de frente -Chapa de lado -Martelo de frente -Martelo de lado Combinações de movimentos defensivos -Aú com negativa de frente -Negativa de frente/Rolê -Rolê/ Aú simples -Cocorinha/Aú simples -Esquiva de lado baixa/Aú simples -Negativa de Combinações de golpes ofensivos (variações) -Meia lua de frente/ queixada de frente -Queixada de frente/meia lua de frente -Queixada de frente/queixada cruzada -Queixada cruzada/ queixada de lado -Queixada Combinações de movimentos defensivos com ofensivos -Aú/Meia lua de frente -Cocorinha/ Queixada de frente -Cocorinha/ Queixada cruzada -Rolê/Martelo de frente -Esquiva de lado/Benção/Chapa de frente
  • 66. 64 recuo/Rolê -Sapinho/Rolê -Esquiva cadeira/ Aú simples -Rolê/ Queda de rins -Esquiva de cadeira/ Negativa de recuo/ cruzada/benção de frente -Benção de frente/ queixada cruzada -Benção de frente/chapa de frente -Martelo de frente/chapa de frente -Martelo de lado/chapa de lado -Martelo de frente/martelo de lado -Negativa de recuo/Benção de frente -Negativa comum/Martelo lado Quadro 01: Alguns movimentos importantes da Capoeira. O grupo acima mencionado completou 40 anos de existência em 2021, totalizando inúmeros batizados e alunos graduados na arte e luta brasileira chamada Capoeira, bem como a participação em rodas de capoeira na região do cariri cearense, tendo sua participação ligada, diretamente, ao projeto “Capoeira nas Escolas”, que discorremos logo mais.
  • 67. 65 3.3 Projeto Capoeira nas Escolas No artigo “A inserção da Capoeira nas Escolas da Rede Pública e Privada da cidade de Juazeiro do Norte Artigo” (2012), aborda o contexto histórico da inserção da capoeira em algumas escolas brasileiras, destacando a cidade de Juazeiro do Norte, como ponto principal desta pesquisa. Explica também como ocorre o desenvolvimento da Capoeira, no âmbito escolar, como elemento de suma importância na formação do aluno, através da tríade ensino-escola-capoeira. Neste estudo pode-se observar que o uso da capoeira na escola se torna significativo por retratar a cultura, além de mostrar o processo histórico, comportamental e social [...] Os movimentos que são utilizados na capoeira apresentam características que proporcionam aos seus aprendizes o desenvolvimento da agilidade, das habilidades motoras e de todas as valências físicas. Sua prática vem crescendo cada vez mais dentro da escola como conteúdo da Educação Física, pela sua eficiência no estímulo das percepções básicas e no interesse entre alunos, tendo influência direta no comportamento afetivo e na criatividade. Assim, é relevante mencionar que a busca da inserção de novos conteúdos pode transformar os objetivos e a didática do ensino, as
  • 68. 66 inovações no planejamento com outras áreas, pode proporcionar aos alunos novas vivências onde, de uma maneira mais alegre e prazerosa, poderá torná- los mais participativos, conscientes e integrados no meio escolar (ROCHA, 2012, p. 12 e 13). Rocha tinha orgulhode sua trajetória de vida com a Capoeira e a Educação Física: tanto é que as pautas de seus trabalhos acadêmicos, nos cursos de graduação que fez (Pedagogia e Educação Física), envolviam sempre o resgate histórico da Capoeira na região do cariri cearense e a importância do projeto “Capoeira nas escolas públicas e privadas da cidade de Juazeiro do Norte”. Como explicamos, a vida do mestre Rocha na Capoeira é indissociável de sua vida profissional como professor de Educação Física. Portanto, perceber a união desses dois mundos, resultando no Projeto Capoeira nas Escolas, é o ponto crucial desse subcapítulo. Iniciamos com a trajetória do professor Rocha em duas escolas particulares, que antecedem o projeto acima mencionado: a primeira foi o Ginásio Monsenhor Macedo, na cidade de Juazeiro do Norte. No ano de 1989, nessa referida instituição de ensino privado e administrada por irmãs religiosas, Rocha começou a lecionar Educação Física: contudo, é no ano de 1992 que ministra aulas de Capoeira (como uma subdivisão da Educação Física), não somente vinculada ao seu grupo de capoeira (Zumbi dos
  • 69. 67 Palmares), mas em um horizontemais amplo, em termos de público-alvo. “As aulas de Capoeira eram realizadas em contraturno” (ROCHA, 2012, p. 11). Ele permaneceu nessa escola até o ano de 1994. Por volta de 1990, Rocha ingressou em outra escola particular: o Colégio Salesiano São João Bosco, da mundial Rede Salesiana. Em 1994, o professor Rocha começou a lecionar Capoeira, também como subdivisão da Educação Física, no Centro Juvenil deste colégio, até o ano de 1998. Ensinou Educação Física, na instituição de ensino acima mencionada, até o ano de 2004. As recordações que nós, como filhos, possuímos desse momento devem ser aqui manifestadas: nós estudávamos primeiramente, no Ginásio Monsenhor Macedo e, por sermos ainda pequenos, não estivemos envolvidos com a Capoeira naquele momento. Contudo, quando o Ginásio Monsenhor Macedo, infelizmente, “fechou suas portas” e fomos estudar no Colégio Salesiano, começamos a ter uma vivência mais direta com o Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares e o mestre Rocha (nosso pai) nas aulas de Capoeira da referida escola. Lembramos, como filhos, do professor compromissado e exigente, sempre buscando o melhor e explorar as potencialidades de cada um, ensinado com a capoeira, o respeito e o valor das pessoas. A sua flexibilidade e seus movimentos acrobáticos, além da rapidez na execução dos movimentos, são recordações e memórias preciosas.
  • 70. 68 Entretanto, voltamos nosso olhar novamentepara a história da Capoeira nas escolas públicas municipais e estaduais da cidade de Juazeiro do Norte: a introdução da Capoeira, por intermédio do professor Rocha e do projeto Capoeira nas Escolas, foi no ano de 1995, quando o mesmo foi lecionar Educação Física no Centro Educacional de Referência Almirante Ernani Vitorino Aboim Silva, permanecendo nessa instituição de ensino até o ano de 1998 (foto 11). Foto 11: Logo do Projeto Capoeira nas Escolas, vinculado à Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede-19) de Juazeiro do Norte, Ceará.
  • 71. 69 Fonte: Arquivo pessoal, 2001. Posteriormente, recomeçou o projeto no ano de 1999 até 2003, encerrando o vínculo na escola mencionada. Sobre esse assunto, Rocha discorre que: [..] No final de 1995, a Capoeira foi inserida na Rede Pública Estadual no Cere — Centro Educacional de Referência Almirante Ernani Vitorino Aboim Silva, através do projeto “Capoeira no Cere”. A Capoeira era ensinada dentro das aulas de Educação Física. Vale ressaltar, que a escola tinha sido inaugurada a quase oito meses e possuía muitos alunos, dentre eles jovens e adolescente os quais não se respeitavam e nem faziam as tarefas escolares. Depois de alguns anos ministrando aulas de Capoeira percebi que muitos alunos mudaram o seu comportamento para melhor, com relação ao respeito, ao cumprimento das tarefas escolares e uma melhor socialização com os outros (ROCHA, 2012, p. 11). Como vimos na citação acima, um dos grandes trabalhos idealizados pelo professor e mestre Rocha (Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares), que une o ensino/educação física e a capoeira, foi “O projeto Capoeira nas escolas”, como parte do Programa Esporte
  • 72. 70 Educacional, desenvolvido, na época, em parceria com a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento em Educação (CREDE-19) de Juazeiro do Norte. Em um de seus projetos escritos e apresentados ao CERE, em março de 1998, o professor Rocha elenca os objetivos importantes e que deveriam ser alcançados pela iniciativa: [...] proporcionar aos alunos atividades de lazer através da capoeira; estimular a prática esportiva através da capoeira; promover a socialização dos alunos; preparar os alunos para futuras competições; promover a utilização da capoeira como formação cultural e disciplinar (ROCHA, 1998, p. 01). Além disso: [...] a prática da atividade física através da capoeira, desenvolve habilidades orgânicas, neuromusculares e psicomotoras proporcionando uma melhor integração social e bem-estar (ROCHA, s/d, p. 06). Assim presenciamos, nesse primeiromomento, um educador sempre preocupado com a formação cidadã do indivíduo através das filosofias existentes nas artes marciais, assim como na Capoeira. Também temos aqui, nos objetivos, um dos grandes sonhos do mestreRocha: de que a capoeira fosse um dia reconhecida como esporte
  • 73. 71 olímpico, haja vista sua popularização e inúmeros adeptos de todo o mundo que identificam o valor dessa luta, como símbolo histórico do povo negro e de resistência. Rocha tinha uma profunda preocupação, em termos de “conscientizar os alunos de que a capoeira é uma manifestação esportiva-cultural genuinamente brasileira que se apresenta, dentre outros aspectos, como um meio eficaz de educação do povo brasileiro” (ROCHA, 1998, p. 03). Tanto é que, um dos resultados obtidos foi a disciplina e o respeito, proporcionado no ensino da capoeira: os alunos mudaram seu comportamento em relação às outras disciplinas, sendo mais responsáveis, como o relato acima e reforçado ainda pelas palavras do professor Rocha a seguir: “a capoeira disciplina, educa e forma [...] homens livres e cooperativistas, com equilíbrio do corpo e fortalecimento da mente” (ROCHA, 1998, p. 03). O professor Rocha sempre acreditava na união da prática da Capoeira com a formação da identidade de um sujeito livre. Além disso, apontando mais benefíciospara o corpo: [...] a capoeira desenvolve um excelente senso de equilíbrio junto à criança e ao adolescente, dando aos mesmos um domínio especial de coordenação motora, chegando a atingir movimentos mais completos onde, sem perceber, irá
  • 74. 72 aprendendo toda sequência de aprendizado corporal e motora (ROCHA, s/d, p. 04). Lembramos também que as aulas expositivas, práticas e teóricas de Capoeira serviam como uma forma de: [...] aliviar o desgaste mental/intelectual do aluno em sala de aula, promovendo também a socialização entre os alunos, [...] oferecendo a oportunidade dos alunos, através da prática da Capoeira, possam um dia representar o Juazeiro em alguma competição a nível municipal, estadual e nacional (ROCHA, s/d, p. 04). Já no ano de 1997, a Capoeira foi inserida na rede pública municipal no Ginásio Municipal Antonio Xavier de Oliveira, através das aulas de Educação Física, até o ano 2000. Expandindo o modelo de projeto apresentado em 1995 no CERE, em 1998, a Capoeira estava presente na rede pública estadual, através do projeto Capoeira na Rede Pública Estadual- Crede 19 (foto 12).
  • 75. 73 Foto 12: Batizado de Capoeira no CERE, no ano de 1998. O mestre Rocha aplica um golpe da Capoeira chamado Voo do Morcego no aluno Glauber. Fonte: Arquivo pessoal, 1998. Outras escolas municipais também tiveram a presença do Projeto Capoeira nas Escolas, dentre as quais destacamos as seguintes unidades de ensino31: 31 ROCHA, 2012.
  • 76. 74 -Escola de Ensino Fundamental e Médio Polivalente (de 1999 a 2000, localizada no bairro Santa Teresa); -CAIC (de 2000 a 2001, localizada no bairro Parque Frei Damião); -Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona Maria Amélia (de 2000 a 2001, localizada no bairro Pirajá); -Escola de Ensino Fundamental e Médio Tiradentes (de 2000 a 2001, localizada no bairro Novo Juazeiro); -Escola de Ensino Fundamental e Médio Figueiredo Correia (Bairro Pio XII); -Escola de Ensino Fundamental e Médio José Bezerra (Bairro São Miguel); -Escola Padre Cícero (de 2000 a 2001, localizada no bairro do Socorro); -EEEP Professor Moreira de Sousa (de 2000 a 2001, localizada no bairro São Miguel); -EMEF. Izabel da Luz (de 2000 a 2001, localizada no bairro Pirajá); -EEF. Dr. Leão Sampaio (de 2000 a 2001, localizada no bairro Juvêncio Santana);
  • 77. 75 -Fundação Educacional Leandro Bezerra de Menezes (de 2001 a 2002, localizada no bairro Santa Tereza); -EEF. João Alencar de Figueiredo (de 2002 a 2003, localizada no bairro Santa Tereza); Ao longo de suas aulas de Educação Física ministradas pelo professor Rocha, outras escolas desenvolveram aulas de Capoeira como: Escola de Ensino Fundamental Antonio Bezerra Monteiro; EEF 3 de Junho; Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria de Lourdes Ribeiro Jereissati; Escola Ana Borges de Carvalho e EMEF. Vereador Francisco Barbosa da Silva. Agora, em se tratando da metodologia do projeto “Capoeira nas Escolas”, os alunos que ingressaram nesse projeto deveriam obedecer a alguns pré-requisitos necessários como: ter notas de 7 a 10 em todas as disciplinas escolares, inclusive em Educação Física (lembrando que 7 era a média prevista que representava o bom rendimento do aluno no ano referente ao projeto em questão); ser disciplinado; ter frequência superior a 75% em todas as disciplinas, principalmente Educação Física (ROCHA, s/d). Especialmente no trabalho que serve de referência para essa discussão, o Projeto Capoeira nas Escolas da Rede Pública Municipal (documento impresso
  • 78. 76 apresentado às escolas EEF João Alencar, EEF Pelúsio, Edwar Teixeira Ferrer, Zila Belém e EEF Sebastião Teixeira Lima), as aulas eram ministradas em dias ocorridos e horários alternados, com duração de até 120 minutos, divididos em períodos de 40 minutos, conforme explica o professor Rocha neste documento32: 1. Período de alongamento, aquecimento, exercício de formação corporal e outros; 2. Período de treinamento de golpes de iniciação ou formação (primário ou secundário); 3. Desenvolvimento do jogo (roda de capoeira), cantos, volta a calma e reflexão sobre a aula do dia (ROCHA, s/d, p. 04). A questão avaliativa do aluno representa, ao mesmo tempo, sua ascensão no caminho da Capoeira, por meio das graduações e batizados, conforme o professor versa a seguir: [...] A avaliação dos alunos será feita no decorrer de cada semestre, sendo os alunos submetidos a exames de conhecimentos teóricos e práticos/técnicos. Aqueles que 32 ROCHA, Antonio Pereira. Projeto Capoeira nas Escolas da Rede Pública Municipal (projeto impresso apresentado às escolas EEF João Alencar, EEF Pelúsio, Edwar Teixeira Ferrer, Zila Belém e EEF Sebastião Teixeira Lima). Juazeiro do Norte, Ceará: s/d.
  • 79. 77 obtiveram um bom desempenho receberãouma graduação, juntamente com um certificado de conclusão de estágio do curso de capoeira e uma carteira do Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares (ROCHA, s/d, p. 05). Aqui, ilustramos um exemplo dos eventosde fim de ano escolar, que marcavam a entrega de cordas e certificação dos graduados pelo Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares, aos alunos pertencentes do projeto acima mencionado: eram momentos únicos de reconhecimento de dever cumprido e alegria nesse ato celebrativo. Primeiro, era nítido o reconhecimento de como a maioria dos alunos tinham modificado a sua identidade e abraçado a Capoeira como uma filosofia de vida, entendendo cada vez mais o seu próprio corpo e respeitando o seu colega/adversário; em segundo lugar, o desempenho escolar apresentava bons resultados, pois como diz o ditado “corpo são e mente sã”; os alunos demonstravam mais interesse no cumprimento dos deveres escolares de outras disciplinas para se manterem ativos no projeto, e depois, reconhecendo ainda mais a necessidade do estudo como uma promoção de uma vida mais justa para si mesmo, bem como, para a sua família. Sendo assim, o que entendemosnesse subcapítuloé que: Esse fenômeno chamado Capoeira não apareceu de forma momentânea, ou
  • 80. 78 seja, no percurso de sua história inúmeras situações foram rompidas para que a mesma se transformasse de “luta marginal a uma alternativa educacional”, possibilitando[a capoeira] chegar onde está, por isso que os capoeiristas dizem que em um jogo de Capoeira “quem nunca caiu, não é Capoeira”, e que os alunos são os reflexos dos seus professores, retransmitindo os ensinamentos, correto ou não, dependendo da forma que lhes foram ensinados (ROCHA, s/d, p. 05). Nessa citação, Rocha chama a atenção para o fato que o professor sempre é o exemplo ou modelo para seus alunos: daí reside a necessidade de que o mesmo tenha respeito, ética, compromisso, para que essas e outras boas características sejam apreciadas e reproduzidas por seus alunos, tanto na própria prática da Capoeira, como nas variadas instâncias da vida. Assim, pensando em um plano de aula direcionada à prática da Capoeira nas aulas de Educação Física, no contexto escolar, temos algumas observações extraídas de um plano de curso, elaborado pelo professor Rocha: [...] compreensão do ato de lutar: por que lutar, com quem lutar, contra quem ou contra o que lutar; [...] vivência de lutas dentro do contexto escolar (luta x violência); análise sobre os dados da
  • 81. 79 realidade das relações positivas e negativas com relação à prática das lutas e a violência na adolescência (luta como defesa pessoal e não como “arrumar briga”); saber analisar as causas de uma vitória ou de uma derrota e assumir atitudes honestas em razão das mesmas33. O conteúdo inclui a discussão da iniciação à Capoeira; história da Capoeira; movimentos básicos defensivos; golpes básicos ofensivos e instrumentos da Capoeira, relacionados à musicalidade. A estratégia adotava visava “orientar o aluno em todo e qualquer momentoa aprendizagem da luta; oferecer atividades que envolvam as lutas dentro do contexto escolar, de forma recreativa”34. A avaliação era prática e teórica, como também por meio de debates, trabalhos e atividades. Outro projeto que gostaríamos de destacar, dentre tantos desenvolvidos, é o que aborda a “Semana da Consciência Negra: Todos Somos Negros!”, apresentado à Escola de Ensino Fundamental Vereador Francisco Barbosa, em novembro de 2018, última instituição de ensino que o professor Rocha atuou como professor de Educação Física e, posteriormente ao ano de 2015, como professor readaptado, em razão de um problema de 33 ROCHA, Antonio Pereira. Plano de aula de Educação Física [documento impresso]. Juazeiro do Norte: CE, 2007. 34 Ibidem.
  • 82. 80 deslocamento de retina relatado no subcapítulo “2.1 Por que ser Professor de Educação Física e Capoeira”?. Este trabalho tinha como objetivo valorizar a história do povo negro, além de reforçar o que postula a lei 10.639/03, alterada pela lei 11.645/08, na qual, “nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados: torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”. Segundo o mestre Rocha, o objetivo de tal iniciativa era: Proporcionar que os alunos, após o encerramento do Projeto Semana Consciência Negra: Todos Somos Negros, tenham realmente a consciência de quem foi Zumbi dos Palmares e da importância dos povos negros e afrodescendentes, de forma a extinguir também, pensamentos e ações voltadas ao preconceito e discriminação, por meio de reflexões e diálogos sobre a temática (ROCHA, 2018, p. 02). Sendo assim, destacam-se os valores comportamentaisna relação do “eu” com o “próximo”, no intuito de superar o preconceito e o racismo, a partir do debate sobre a discriminação e preconceito: assim, por meio de realçar a história do povo negro e, mais ainda, mostrar os desdobramentos atuais sobre a situação do povo negro no Brasil, os alunos são instruídos a refletir sobre a questão da discriminação racial, ainda presente
  • 83. 81 em nosso país, bem como, a promoção de um debate que incentive o senso crítico do aluno, reforçando ainda a valorização do respeito ao próximo e à diversidade (ROCHA, 2018). O projeto construiu um diálogo com a intertextualidade de disciplinas escolares e trabalhos que exploram as áreas da história, geografia, literatura e artes, conforme Rocha elenca na parte referente à metodologia do projeto: [...] Abordaremos de que forma ou maneira os negros vieram para o Brasil [...], aspectos de sua cultura, culinária e etc, da sua contribuição para o crescimento do Brasil, bem como dos sofrimentos e maus-tratos dos mesmos. Teremos elaborações de murais, apresentações artísticas e culturais na escola [...] (ROCHA, 2018, p. 03). Nesse específico trabalho, o público-alvo almejado era formado pelos: [...] os alunos devidamente matriculados no ensino fundamental I (manhã), II (tarde) e EJAs (noite) da Escola Modelo Vereador Francisco Barbosa, bem como os demais professores de sala de aula, núcleo gestor e funcionários. Vale ressaltar que a participação não é obrigatória, mas que em algumas disciplinas serão atribuídas notas de
  • 84. 82 participação para os alunos envolvidos no projeto [...] Sobre a avaliação: será através da participação dos alunos nos trabalhos coletivos e no desempenho individual (ROCHA, 2018, p. 03). Encerrando essa parte sobre os principais projetos educacionais promovidos pelo professor Rocha, na próxima discussão, versaremos sobre o momento em que Rocha foi graduado como mestre de Capoeira Angola e Regional no ano de 2018, em Brasília, bem como, a última “Grande Roda”, evento este realizado pelo professor Rocha no ano de 2019. 3.4 Última Grande Roda e Batizado de Capoeira de Mestre Rocha Antes do ano de 2018, o professor Rocha estabeleceu contatocom um antigo professor de Capoeira da época de sua adolescência, o mestre Cleber Soares de Paula, que agora tinha sua própria academia de Capoeira em Taguatinga-DF intitulada de “Associação de Capoeira Roda Livre de Capoeira”. Ambos, relembraram de grandes momentos daquela época e Rocha sentiu a necessidade de, agora, evoluir ainda mais na Capoeira, no sentido de um título obtido, através do Certificado de Graduação de Mestre de Capoeira Regional e de Angola, não obstante seus longos anos de prática dessa luta brasileira: e nada
  • 85. 83 mais justo e significativo do que tal graduação ser entregue das mãos de um grande amigo e mestre de Capoeira. Em janeiro de 2018, Rocha viajou para Brasília. Aproveitou a oportunidade para rever a família e visitou o mestre Cléber em sua academia, recebendo o tão almejado certificado e graduação (foto 13).
  • 86. 84 Foto 13: Mestre Cleber tocando berimbau juntamente com o mestre Rocha e,em seguida, graduando-o como mestre de Capoeira Angola e Regional. Fonte: Everson Pereira, 2018. Além deste grande momento de lembrança dos treinos, dos amigos, das dificuldades do passado e conquista do presente, e de sua graduação como mestre de Capoeira Angola e Regional, o professor Rocha retornou ao Juazeiro com uma felicidade que não cabia no peito. Assim que encontrou seus familiares, narrou das aventuras em Taguatinga e deste momento que fora registrado por fotos e vídeos por um sobrinho que residia em Brasília e que também estivera na academia do mestre Cleber para participar de tal festividade. Outra ocasião importante na vida do mestre Rocha, merece também destaque: no ano de 2019, o mesmo organizou o “II Evento Comemorativo referente aos 419 anos da Capoeira no Brasil (Capoeira Afro-Brasileira/ Angola), 89 anos da Luta Nacional Baiana (Capoeira Regional) e o 1º seminário “Capoeira e sua evolução histórica”, eventos esses realizados nos dias 15 e 16 de junho de 2019, na cidade de Juazeiro do Norte, na EEIF Padre Cicero, na cidade de Juazeiro do Norte, com a presença de grupos de capoeira, alunos e mestres
  • 87. 85 convidados. A partir daquele momento passou a ser chamado de mestre Dhy Rocha. Nesse mesmo ano de 2019, na Escola de Ensino Fundamental Vereador Francisco Barbosa, localizada no bairro Horto, na cidade de Juazeiro do Norte, aconteceu o último batizado do Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares. Não podemos deixar de reforçar que o professor Rocha, durante sua vida, treinou outras artes marciais como Karatê, Boxe e Judô. Finalizando esse importante relato da vida e história do professor Rocha, iremos apresentar a seguir, algumas frases que o mesmo gostava de utilizar em seu cotidiano como pai, mestre e amigo. 3.5 Frases, cordéis, músicas e paródias escritas pelo professor Rocha Vasculhando as gavetas dos móveis que guardam as mais variadas recordações da vida do mestre Rocha, encontramos rabiscados cordéis e frases diversas, muitos destes materiais, frutos de apresentações de atividades escolares ou rodas de capoeira, que fizeram parte da trajetória de vida deste educador.
  • 88. 86 “Forte é aquele que vence sem lutar, mesmo tendo a capacidade de vencer lutando”. “Só Deus é Grande, nesse universo de gente pequena”. “Tudo tem seu tempo, se assim Deus permitir!” “Não existe uma só religião que salva, mas sim, ações que podem me salvar!” “A minha filosofia é o respeito [...] tento respeitar a todos [...] com o objetivo de ser respeitado, pois tenho princípios morais: não sou melhor e nem pior do que ninguém, sou apenas eu!” O negro [trecho de um cordel] O negro tem seu valor Dentro desta nação E não deve aceitar Nenhuma provocação Seja de qualquer pessoa Que não tem compreensão
  • 89. 87 Seja branco ou pardo Dessa nossa geração Deve respeitar o negro Com muita satisfação Porque foi a raça negra Que formou esta nação [...]. [Trecho de um Cordel escrito em 28/06/2007, sem título] Preste muita atenção No que agora eu vou falar Vou contar uma história Que sua vida vai mudar O povo preto tá vivo Está aqui para lutar O povo preto tá vivo Querendo se organizar Venha junto companheiro Para o racismo acabar, Pois a luta é de todos Precisamos transformar [...] Paródia de uma música feita para uma gincana no Colégio Salesiano, onde lecionou por quase 14 anos – letra de mestre Rocha e sua esposa Cícera Rocha.
  • 90. 88 [...] E aqui com ajuda de Dom Bosco Que a capoeira vou aprender Um colégio abrindo para a ginga Aumentando assim nosso saber, Pois aqui se estuda as matérias, Mas também capoeira é lazer! [...] Capoeira educa e disciplina Forma os jovens para futuros craques Com o som do berimbau e do pandeiro Lhes ensina a defesa e o ataque Professores aqui entram na ginga Quando escutam o toque do atabaque [...] Trecho de um cordel sobre a Covid 19 [escrito no ano de 2020 para conscientizar os alunos diante dessa nova realidade- sem título] Você diz que é valente, camarada Eu também já fui um dia, Mas não existe homem valente, camarada Contra o coronavírus Pode ser até lutador Ex-atleta e combatente Contra aquele vírus maldito Só existe o isolamento Faça a sua parte, Que eu também vou fazendo a minha
  • 91. 89 E que Deus no céu Nos proteja contra o coronavírus, camarada Salve São Jorge Guerreiro E também São Sebastião Que nos livre das pragas Neste tempo de aflição! Música- Mestre Dhy Rocha: Sou do Maranhão Iê! Quando vim do Maranhão Eu não jogava capoeira Hoje sou o Mestre Rocha Da subida da ladeira Iê-êa, capoeira vou jogar Iê-êa, capoeira vou lutar Aprendia a capoeira Angola e regional E depois vim de Brasília Para a capoeira ensinar Agradeço ao mestre Cleber Que me ensinou a capoeira Sem esquecer mestre Bimbão e Cal Nas rodas da Capoeira A capoeira é luta nossa Da era colonial,
  • 92. 90 Pois nasceu foi na Bahia Angola e Regional Agradeço ao mestre Bimba Que criou a Regional Sem esquecer o mestre Pastinha E Besouro Mangangá Pois se hoje, eu tenho diploma Consegui com muita dedicação Porque treinei bastante a Capoeira Pensando na minha formação Salve a todos os mestres Que ensinam a Capoeira Sem esquecer o mestre Dhy Rocha Da subida da ladeira Iê-êa, capoeira vou jogar Iê-êa, capoeira vou lutar Música Zumbi Guerreiro (paródia)- escrita em 21 de maio de 2019 Nos Quilombos dos Palmares, ele reinou Com ânsia de liberdade, ele lutou (bis) Oh, Zumbi! A nossa história não mudou Oh, Zumbi! O negro não se libertou
  • 93. 91 Nos Quilombos dos Palmares, ele formou Um exército de guerreiro libertador Nos quilombos dos Palmares, ele ensinou A capoeira ao seu irmão de cor Nos quilombos dos Palmares, ele usou A capoeira contra o opressor Nos quilombos dos Palmares, ele resistiu A diversos ataques e nunca fugiu Nos quilombos dos Palmares, ele nasceu E neste mesmo lugar, ele morreu Oh, Zumbi! A nossa história não mudou Oh, Zumbi! O negro não se libertou História que não foi contada (paródia) Eu vou contar para vocês O que a história não contou Quem libertou os escravos Foi o Zumbi, sim senhor! Oh, foi o Zumbi, sim senhor! Ele praticava a Capoeira, Pois queria se defender Do ataque dos inimigos
  • 94. 92 Que queriam vencer Por ele ser um negro E não ter nenhuma riqueza O mérito foi dado à princesa Pois ela era da nobreza! Cordel “Sou o mestre Rocha”- escrito durante a formação de professores, em um curso de extensão Sou o aluno Rocha No curso de extensão Na oficina de cordel Melhorei minha visão Do valor que tem o negro E toda sua geração Na sala de debate Tirei a conclusão Na troca de experiências Aprendi outra lição Que cada comunidade Tem a sua devoção O debate continuou Com grande interação Alguns alunos falaram Com muita dedicação Mostrando sua realidade
  • 95. 93 Através da comunicação O bom do nosso debate Foi a compreensão E cada participante Ouviu com muita atenção Usando a palavra Para sua expressão Falamos da cota única Para melhor compreensão Pois havia muitas dúvidas Tiradas na ocasião Dos direitos que nós temos Dentro da constituição Tirada todas as dúvidas Que grande satisfação Depois daquele momento Foi uma só emoção Todos os participantes Terão nova visão Termino este cordel Com uma grande saudação A todos aqui presentes Neste curso de extensão Sem esquecer o Zumbi Que formou nossa nação!
  • 96. 94 Capítulo 4- Kcapojuboxe: a arte marcial caririense Com o nome de “Mestre Dragão Rocha”, entre os anos 2002 a 2018, articulou o desenvolvimento de uma arte marcial caririense que unisse a capoeira, o karatê, o boxe e o judô: assim foi registrado no Cartório Machado35, em maio de 2018, o Kcapojuboxe. Contudo, a morte prematura, aos 60 anos de idade no ano de 2021, interrompeu, em parte, a continuidade desse projeto, restando apenas o registro em cartório que nos oferece um panorama de como seria o desenvolvimentodessa arte marcial. 35 Nº de ordem 067543, protocolo nº 0081355, livro b-b-235, folha 118V/3.
  • 97. 95 4.1 Kcapojuboxe: a arte marcial caririense36 Kcapojuboxe, a arte marcial caririense, teve seu início no ano de 2002 e foi concluída a unificação dos golpes e dos movimentos em agostode 2013, na cidade de Juazeiro do Norte, região do Cariri, no sul do estado do Ceará [...]. Na fase da adolescência para a vida adulta, ouvi falar da unificação (junção) de artes marciais (capoeira com jiu-jitsu, boxe com capoeira e outras junções). Depois de muitas reflexões, resolvi unir algumas artes marciais, não da maneira como os outros já tinham feito (no mínimo duas). Penseifazer uma junção maior, a partir das artes marciais que já tinha praticado com a capoeira. Sendo assim, originou-se a mais nova e quase completa arte marcial brasileira: Kcapojuboxe possui aproximadamente mais de 200 movimentos, ou seja, golpes ofensivos (traumatizantes, desequilibradores), movimentos defensivos, acrobáticos, desequilíbrio, arremessos, projeções, estrangulamentos, imobilizações, quedas, rolamentos, utilização de bastões, facões, tonfas, 36 Esse capítulo é construído com base no documento escrito por Antonio Pereira Rocha e registrado em cartório, portanto, sendo adotado a primeira pessoa do singular, já que trata-se das próprias palavras do mestre Rocha no documento em questão. ROCHA, Antonio Pereira. Kcapojuboxe: arte marcial caririense (documento impresso). Registrado no Cartório Machado- 2º ofício. Juazeiro do Norte, Ceará: 2018.
  • 98. 96 nunchaku e outros tipos de armas e golpes). São doze sequências individuais de golpes e movimentos (exercícios de ataque e defesa), denominado de Ginsequência (ginkata e ginkiu). Além disso é uma unificação (junção) de algumas artes marciais: karatê, capoeira, judô, boxe e alguns movimentos acrobáticos. As suas sequências são desenvolvidas com o deslocamento para frente, para trás e para os lados [Ginsequência (ginkata e ginkiu)], do qual sai todos os golpes, movimentos defensivos e acrobáticos. Tem sequências em dupla e individual, onde o aluno aprenderá: arremessos, projeções, imobilizações, estrangulamento, dentre outros. É a arte marcial mais completa da atualidade, com técnicas perfeitas para qualquer tipo de situação de luta. O sistema de graduação compreende 14 faixas: 1º faixa branca 2º faixa cinza 3º faixa azul 4º faixa amarelo 5º faixa laranja (formado) 6º faixa vermelho (monitor) 7º faixa verde (instrutor) 8º faixa roxa (professor-assistente) 9º faixa marrom (professor titular) 10º faixa roxa com marrom (contramestre) 11º faixa preta (mestre estagiário) 12º faixa branca com vermelho (mestre assistente) 13º faixa vermelho com preto (mestre titular) 14º faixa branca, vermelho e preto (grão-mestre)
  • 99. 97 Tabela 03: Sistema de graduação Por: Antonio Pereira Rocha, 2018, p. 02. O exame de troca de graduação ou troca de faixa acontecerá anualmente. Para cada faixa, os alunos deverão apresentar uma sequência individual e uma em dupla, correspondente à graduação que irá receber. A partir da 4ª graduação (faixa), o aluno deverá apresentar uma sequência com qualquer tipo de armas utilizada no Kcapojuboxe (foto). Dependendo do tipo de habilidade e aprendizado, o aluno poderá receber até mais de uma graduação.