SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 20
Downloaden Sie, um offline zu lesen
Os Lusíadas: estrutura
Canto Primeiro
POETA

  •   Proposição (1-3)
  •   Invocação (4-5)
  •   Dedicatória (6-18)
  •   Reflexões sobre os perigos e fraqueza do Homem (105-106)

VIAGEM

  •   Início da narração (19)
  •   Ilha de Moçambique (42-72)
  •   Ataque traiçoeiro. Em direcção a Quíloa (82-99)
  •   Chegada a Mombaça (103-104)

MARAVILHOSO

  •   Consílio dos deuses (20-41)
  •   Traição de Baco (73-81)
  •   Intervenção de Vénus (100-102)

NARRADOR

  •   Camões (narrador heterodiegético ou não participante)

Canto Segundo
VIAGEM

  •   Em Mombaça (1-9)
  •   Fuga do piloto e dos mouros (25-28)
  •   Partida da Armada e informações de Melinde (64-71)
  •   Recepção festiva em Melinde (72-113)

MARAVILHOSO

  •   Cilada de Baco (10-15)
  •   Nova ajuda de Vénus (16-24)
  •   Súplica do Gama à Divina Guarda (Deus) (29-32)
  •   Intervenção de Vénus e de Júpiter e missão de Mercúrio (33-63)

NARRADOR

  •   Camões (narrador heterodiegético ou não participante)
Canto Terceiro
POETA

  •   Invocação a Calíope (1-2)

VIAGEM

  •   Em Melinde

HISTÓRIA

  •   Início (3-5)
  •   Europa (6-21)
  •   De Luso a Viriato (22)
  •   Conde D. Henrique (23-28)
  •   De D. Afonso Henriques a D. Dinis (29-98)
  •   D. Afonso IV:
          o Contra os Mouros (39-100)
          o Formosíssima Maria (101-102)
          o Batalha do Salado (107-117)
          o Inês de Castro (118-135)
  •   D. Pedro e D. Fernando (136-143)

NARRADOR

  •   Camões (1-2)
  •   Vasco da Gama (narrador homodiegético ou narrador participante) (3-135)

Canto Quarto
VIAGEM

  •   Em Melinde

HISTÓRIA

  •   Crise de 1383-85 (1-12)
  •   Discurso de Nuno Álvares (13-19)
  •   Reacção ao discurso (20-27)
  •   Batalha de Aljubarrota (28-47)
  •   Conquista de Ceuta (48-50)
  •   D. Duarte, D. Afonso V e D. João II (51-65)
  •   D. Manuel I (66-74)
  •   Prepara-se a expedição e despedem-se os nautas (75-93)
  •   Velho do Restelo (94-104)

NARRADOR
•   Vasco da Gama

Canto Quinto
POETA

  •   Considerações sobre o desprezo das letras e da poesia (90-100)

VIAGEM

  •   Partida de Lisboa (1-3)
  •   Viagem do Atlântico até ao Equador (4-13)
  •   Cruzeiro do Sul (14)
  •   Fogo-de-santelmo e tromba marítima (15-23)
  •   Ilha de Stª Helena e o episódio de Veloso (24-36)
  •   Adamastor (37-60)
  •   Viagem até Melinde (61-84)
  •   Fim da narrativa do Gama (85-89)

NARRADOR

  •   Vasco da Gama

Canto Sexto
POETA

  •   Reflexões do poeta sobre o valor das honras e da glória (95-99)

VIAGEM

  •   Em Melinde (1-4)
  •   Saída de Melinde (5-6)
  •   Vigília dos Nautas (38-42)
  •   Os Doze de Inglaterra (43-69)
  •   A tempestade (70-84)
  •   Chegada a Calecut (92)

MARAVILHOSO

  •   Projecto de Baco (7-14)
  •   Consílio dos deuses do mar (15-37)
  •   Súplica do Gama a Deus (81-83)
  •   Intervenção de Vénus a favor dos Portugueses (85-91)
  •   Vasco da Gama agradece a Deus (93-94)

NARRADOR
•   Camões (narrador heterodiegético ou não participante)

Canto Séptimo
POETA

  •   Elogio do espírito de cruzada dos Lusos e censura da Europa (2-14)

VIAGEM

  •   Na barra de Calecut (1)
  •   No porto de Calecut, descrição da Índia (15-16)
  •   Degredado em terra e encontro com Monçaide (23-27)
  •   Monçaide, na frota, descreve o Malabar (28-41)
  •   Visita ao Samorim (42-65)
  •   O Catual e Monçaide (66-72)
  •   Paulo da Gama recebe o Catual nas naus e explica o significado das bandeiras
      (73-77)

NARRADOR

  •   Camões (narrador heterodiegético ou não participante)

Canto Oitavo
POETA

  •   Considerações sobre o "vil interesse e sede inimiga do dinheiro" (96-99)

VIAGEM

  •   Em Calecut: Catual visita a armada (1)
  •   Regresso do Catual a terra (44-46)
  •   Traição do Catual (51-90)
  •   Monçaide, na frota, descreve o Malabar (28-41)
  •   Suborno do Catual e regresso do Gama a bordo (91-95)

MARAVILHOSO

  •   Novas ciladas de Baco: em sonho - o 3º - aparece um sacerdote maometano,
      indispondo-o contra os Portugueses (47-50)

HISTÓRIA

  •   Explicação das 23 figuras ao Catual (2-43)

NARRADOR
•   Paulo da Gama (narrador homodiegético)
  •   Camões (narrador heterodiegético ou não participante)

Canto Nono
POETA

  •   Exortações aos que desejam a imortalidade (88-92)

VIAGEM

  •   Últimas diligências na Índia onde Gama vence as manobras contra os
      Portugueses (1-12)
  •   Regresso a Portugal (13-17)
  •   Os nautas visitam a ilha (52)
  •   Desembarque na ilha (64-67)

MARAVILHOSO

  •   A Ilha dos Amores - prémio de Vénus (18-51)
  •   Descrição da ilha (53-63)
  •   Casamento entre Ninfas e navegadores no palácio de Tétis (68-84)
  •   Simbolismo da ilha (85-87)

NARRADOR

  •   Camões (narrador heterodiegético ou não participante)

Canto Décimo
POETA

  •   Invocação (4ª) a Calíope (8-9)
  •   Lamentações, exortações a D. Sebastião e vaticínio de futuras glórias (145-156)

VIAGEM

  •   Despedida da Ilha e regresso a Portugal (143-144)

MARAVILHOSO

  •   Banquete na Ilha (1-7)
  •   Profecias da Ninfa (10-74)
  •   Tétis mostra ao Gama "a máquina do mundo" (75-90)
  •   Novas profecias (91-142)

HISTÓRIA
•   Sobre os heróis portugueses: Duarte Pacheco Pereira, D. Francisco de Almeida e
       seu filho, Afonso de Albuquerque, Diogo Soares, D. João de Castro, Cristóvão
       da Gama, martírio de S. Tomé, naufrágio de Camões, descobrimento do Brasil,
       viagem de Fernão de Magalhães.

NARRADOR

   •   Camões (narrador heterodiegético ou não participante)


Resumo d'Os Lusíadas
Canto I

Camões indica o assunto que se propõe versar: os feitos gloriosos dos Portugueses.
Invoca as ninfas do Tejo, dedica o seu poema a el-rei D. Sebastião e dá início à
narrativa com a frota já no oceano Índico, em obediência ao preceito clássico de iniciar
a narração apenas quando a viagem já ia sensivelmente a meio (narração em media res).
Entretanto, realiza-se o Consílio dos Deuses no qual Baco se manifesta contra os
Portugueses que são defendidos por Vénus e Marte. A frota ancora em Moçambique.
Libertos das maquinações de Baco, da traição do rei e da escaramuça da praia, os
Portugueses prosseguem viagem, passam a costa de Quíloa e fundeiam ao largo de
Mombaça.

Canto II

O rei de Mombaça convida a Armada Portuguesa a entrar no seu porto com o intento de
a destruir. A frota é salva por Vénus e pelas divindades marítimas, indo aquela queixar-
se a Júpiter da falta de protecção dispensada pelo Olimpo aos Portugueses. Júpiter
manda Mercúrio à terra para preparar a recepção em Melinde e para inspirar ao Gama o
caminho que deve seguir. A Armada chega a Melinde onde é bem acolhida pelo rei que
visita as naus e pede ao Gama que lhe conte a História de Portugal.

Canto III

Vasco da Gama começa a contar a História de Portugal, após uma invocação do Poeta a
Calíope. Fica em D. Fernando (fim da primeira dinastia).

Canto IV

Vasco da Gama continua a narração da História de Portugal até à saída das naus do
Restelo (1497).

Canto V

Vasco da Gama termina a narrativa da História de Portugal depois de ter referido, na
sua viagem, vários episódios marítimos.

Canto VI
Oferecidas as festas pelo rei de Melinde, os Portugueses continuam a viagem para a
Índia que avistam depois de terem suportado e vencido, com a ajuda de Vénus, a
tempestade decretada pelos deuses marinhos instigados por Baco.

Canto VII

Os Portugueses chegam a Calecut onde são recebidos com alegria. O Governador
(Catual) acompanha Vasco da Gama ao palácio do rei que, depois de ouvir um discurso,
manda instalá-lo e aos seus no próprio palácio. O Catual vai visitar a nau e ouve de
Paulo da Gama o início da explicação das figuras pintadas nas bandeiras.

Canto VIII

Todo o Canto se passa na Índia. Vasco da Gama aguarda a resposta do Samorim aos
tratados propostos em nome do Rei de Portugal e Paulo da Gama, a bordo, explica ao
Catual as figuras representadas nas bandeiras. Baco tenta, uma vez mais, armar ciladas
e, dessa forma, destruir a Armada Portuguesa levando os maometanos a subornarem o
Catual. Este teme o seu rei e acaba por dar liberdade a Vasco da Gama. Vasco da Gama
salva-se oferecendo ouro e riquezas ao Catual e Camões aproveita a ocasião para tecer
considerações sobre o ouro que corrompe tudo e todos.

Canto IX

Depois de narrar algumas peripécias acontecidas na Índia, Camões descreve a Ilha dos
Amores que Vénus prepara para os Portugueses para descanso e prémio dos seus
trabalhos e sofrimentos. Após o desembarque, os Portugueses são recebidos pelas
Ninfas com quem casam.

Canto X

Tétis e as restantes Ninfas oferecem um banquete aos Portugueses durante o qual são
contadas as suas façanhas futuras. Depois do banquete, Tétis conduz Vasco da Gama a
um monte onde descreve o orbe terrestre, principalmente as regiões onde os Portugueses
mais se notabilizarão, após o que se despede e prediz um regresso feliz à Pátria.
Camões, depois de referir o embarque dos Portugueses e a chegada a Portugal, queixa-
se da decadência em que vive a sua Pátria. Termina o poema exortando D. Sebastião à
prática de feitos sublimes no Norte de África.


Análise de excertos d'Os Lusíadas
O Português não é realista, diz-se, porque nunca se assumiu nem assumiu as verdadeiras
dimensões do seu espaço nacional. Vive uma ficção permanente. Ou caímos na mania
das grandezas ou então fazemos uma autocrítica tão feroz que nos diminuímos
extremamente. O Português tem o complexo da insularidade. Não tem noção das suas
fronteiras.

Durante muito tempo tivemos pouco contacto com o exterior e esse isolamento leva à
impossibilidade de conhecer as outras nações e como tal, de conhecer a nossa. Há assim
tendência para mitificar quer o exterior quer o interior. O estrangeiro, o desconhecido,
mitifica-se, e as relações com ele não são normais e isso explicaria a oscilação pendular.
Por um lado, uma imagem pessimista, um sentimento de inferioridade e uma autocrítica
flageladora da nossa própria história. O que explica a oscilação pendular é precisamente
o sentimento de inferioridade.

O que medeia a nossa relação com o real é a paixão. Não conseguimos racionalmente
encarar a nossa realidade e o nosso presente. O saudosismo e o messianismo explicam
esta nossa relação.

Saudade - é a dor da ausência e o comprazimento da presença pela memória (implica
que se esteja onde não se está). É doce-amargo, pouco propício à acção.

Somos passivos, falamos muito mas nunca agimos. Vivemos obcecados pela nossa
própria história, andamos sempre à procura da nossa identidade. Estamos perdidos e só
nos reencontramos procurando a idade do ouro das nossas raízes. Há da nossa parte uma
falta de empenho em relação às coisas, daí resultando uma profunda contradição na
forma de ser português.

Estrutura d'Os Lusíadas
Os heróis geram a própria realidade, são demiurgos. As epopeias de imitação surgem
num momento em que já existe o estado-nação. Assim os heróis são já agentes de um
poder político que representam, já não geram a realidade. Os mitos são simples
referências literárias aproveitáveis para a intriga.

Há um realismo substancial nas epopeias primitivas enquanto que nas outras é
substituído pela fantasia gratuita.

N' Os Lusíadas há três planos narrativos: o dos deuses, a Viagem do Gama e o passado
histórico em relação à viagem do Gama.

A função do plano mitológico é a de dar unidade ao poema (função estrutural).

Os heróis não são verdadeiros heróis, a acção deles é sempre condicionada por aquilo
que os deuses decidiram à partida.

As primeiras estâncias d' Os Lusíadas são muito reveladoras:

I-1

"As armas… Taprobana" - os feitos heróicos e aqueles que os praticaram, são só
aqueles que o merecem, o que nos leva já para um dos indícios em relação ao tipo de
herói que ele quer cantar. O herói colectivo não interessa em si como conjunto de
pessoas mas tem um espírito que corresponde aos feitos de algumas pessoas elevadas
acima do herói colectivo. Estabelece logo a relação entre a terra e o mar. Há uma
relação entre ambos como entre os heróis dos dois lados.

Os feitos dos portugueses são prometaicos, eles entraram numa dimensão divina que até
então estava vedada aos homens. Eles conseguiram elevar-se acima da condição
humana. A primeira estrofe fala da Índia, eles não só se expandiram como em terras
longíquas edifcaram outro reino e o sublimaram. Cristianizaram-no. Aquilo que liga
tudo e que é a grande justificação ideológica d' Os Lusíadas é o feito das Cruzadas, são
eleitos por Deus e agentes de Deus na terra, o que justifica a sua superioridade e lhes dá
unidade à história.

I-2

Outro tipo de herói e as memórias daqueles reis que modificaram a história. A poesia, a
produção literária, para além da espada, também podem imortalizar um indivíduo. Esta
é uma ideia renascentista. Se não for ele, se não for pelo seu talento, os feitos dos
portugueses não serão cantados nem conhecidos.

I-3

Eneias e Ulisses - confronta a epopeia portuguesa com a epopeia clássica. Portugal, tal
como Roma, começou a partir do nada e formou um império. Ele vai fazer com que a
fama do ilustre peito lusitano seja superior à dos antigos, ele canta principalmente o
"peito ilustre lusitano". Vai cantar uma coisa que é subjectiva e que ele próprio vai
definir.

Neptuno (mar) e Marte (guerra) - é a viagem, a expansão marítima, os portugueses vão
suplantar os deuses. Marte está ligado também à terra e afirma que os portugueses se
tornarão grandes na terra e no mar. A palavra valor implica já uma conotação em
relação àquilo que se vai contar.

Herói - modelo de perfeição que o homem comum não se sente capaz de atingir. Há um
sentimento de inacabamento que nos leva a criar um ser com o qual gostaríamos de nos
identificar. O homem não é capaz de ultrapassar as suas limitações, daí que procure
criar mitos e heróis. Os heróis não são deuses, a eternidade, a humanidade dos heróis,
coarta-os. O percurso do herói é sempre uma mensagem didáctica, ele assume-se como
modelo dos outros que estão bloqueados. Os heróis atravessam o mar, unem-se às
deusas e têm acesso ao futuro, tornaram-se deuses em duas dimensões, vêem o
funcionamento do cosmos.

Isto pode referir-se a duas coisas: aos feitos e ao canto épico, e ao valor que o poeta
atribui a si próprio, o autor deste valor vai acabar com os valores antigos.

I-4

Ele segue também o modelo clássico e arranja Ninfas no Tejo - as Tágides. As Ninfas
são de água doce e estão sempre associadas ao amor e ao parto dos heróis. Pede ajuda
para um estilo digno do que vai contar. O Pentecostes é uma réplica à Torre de Babel. O
Sol e a luz estão ligados ao conhecimento enquanto que as trevas estão ligadas à
ignorância.

I-5

Pede um som de batalha, que incite os homens a avançar, a combater, faça corar de
exaltação. Quer um canto igual à gente famosa, que ajuda muito Marte pelo seu espírito
guerreiro, provando o seu valor na guerra. Pretende que o seu canto seja universal.
Aspira à universalidade.

I-6

D. Sebastião é a segurança, o garante da antiga liberdade lusitana e tem mais do que
uma missão a cumprir. Ligação dos Portugueses em terra e no mar. O "novo temor"
pode ter outro sentido ou mais do que um sentido: novo porque ele é jovem, porque
assume o reino pela primeira vez, porque já outros atemorizaram os mouros. "Maravilha
fatal da nossa idade" - ele é um prodígio destinado (fatal = de destino) para dar parte
grande do mundo a Deus, conquistar as almas para Deus.

I-7

A dinastia portuguesa é a eleita, a preferida de Cristo. O rei personifica a pátria, é o
paradigma da pátria. O povo de que ele é rei, também é amado por Deus. As quinas do
brazão representam as cinco chagas de Cristo.

I-8

Centro do mundo, luz, o sol banha todo o império, os portugueses são os senhores do
conhecimento. Os inimigos são também os hindus, para além dos mouros e dos turcos.

I-9

Sede bondoso, magnânimo mas não fraco. Mostra que os seus versos são bem
metrificados, ele verá um novo exemplo de amor. Amor à Pátria, exemplo de
patriotismo. A pátria exprime-se em feitos valerosos. O amor aos feitos vai ser
divulgado através dos versos, através deles ele vai mostrar o seu patriotismo - ideia
renascentista.

I - 10

O que o leva a cantar a pátria é o patriotismo, o amor à pátria.

I - 11

O que ele opõe às façanhas da imaginação são as façanhas verdadeiras, o rei é a
personificação da pátria, dos feitos que por sua vez caracterizam a pátria ideal. Os feitos
dos portugueses excedem todos.

I - 12

Nuno Álvares Pereira - fez grande serviço ao rei e ao reino - 1383-85 - Aljubarrota.
Todas as epopeias têm uma batalha que é importante, os Portugueses também. Os heróis
realizam-se na terra e no mar, no entanto as duas realizações são diferentes.

I - 13
Contrapõe D. Afonso Henriques e D. João I a Carlos Magno e a César. D. Afonso III
(Algarve), D. Afonso IV (Salado) e D. Afonso V (África).

I - 14

Aqueles que fizeram a vossa bandeira sempre vencedora. Fizeram-se táo subidos por
armas. Os fortes que se imortalizaram, para se ser herói é preciso ser-se forte. Por serem
fortes são temidos e destemidos. Revelaram sempre amor ao rei e à pátria,
simultaneamente. Eles fazem e fazem-se, os heróis ao fazerem fazem-se a si próprios.

Eles fizeram-se a si próprios e em consequência fizeram-se muito subidos:

   1. Alcançaram a superioridade.
   2. Alcançaram a consagração, combatendo através das armas conseguiram chegar à
      celebridade.

O meio pode variar mas a atitude para o sucesso tem de ser a mesma.

I - 15

Diz a D. Sebastião para assumir o poder e será mais conhecido e poderoso através de
um canto que o Poeta lhe fará. Todo o mundo sinta o seu poder através da conquista de
África e do Oriente.

I - 16

Todos se curvam aos pés deles e D. Sebastião tornar-se-á rei dos mares.

I - 17

A casa dos Deuses pode ser o Olimpo ou o Céu. "cá famosas" - na terra.

Dois tempos: Cronos/Saturno - tempo humano, finito, efémero, sujeito à morte.

Atemporalidade - dimensão em que não há tempo nem morte.

O que faz os heróis é a alma. D. João III (Paz, Cultura) e Carlos V (Guerra). É possível
a eternidade mesmo sem combater, pela paz. A Memória ligada à imortalidade.

I - 18

A adjectivação ao canto é um novo atrevimento. O rei vê os nautas e estes sabem que
estão a ser vistos por ele e isso vai fazer com que eles enfrentem tudo com mais valentia
e rigor.

Começa a narrativa.

I - 19
As naus navegam com ventos favoráveis, os ventos não são entendidos como hoje, mas
animados e conduzidos por divindades.

I - 20

Ligação entre a viagem do Gama e os deuses. Os deuses governam. Mercúrio: o
mensageiro dos deuses. Olimpo: luminoso, cristalino, via láctea.

Divindades ctónico/telúricas: na sua história descem ao mundo dos mortos, podem
propiciar a imortalidade.

Bacanais: chegar a um estado de êxtase que propiciasse um encontro com as divindades,
a libertação do corpo.

Os Portugueses são simples marionetas nas mãos dos deuses que, esses sim, conduzem
a acção.

Baco, Indo, Ganges, Adamastor
Quando se metamorfoseia em homem, Baco fá-lo em sacerdote, mas é sempre um velho
experiente exactamente da mesma forma que o é o Velho do Restelo. O Indo e o Ganges
são também velhos experientes. Há uma insistência na velhice dos senhores do mundo,
como o Adamastor. A experiência deles contudo não chega, os jovens - os nautas - vão
substitui-los ao criarem uma nova ordem. Uma coisa que é velha simbolicamente é
representada por uma velhice num sentido negativo ligado à incapacidade de integrar
novos caminhos. A velhice conduz à impotência, liga-se à paralização, à cristalização, à
impossibilidade de olhar para o futuro e de encontrar novos caminhos. Os Portugueses
querem destronar o Adamastor. Por outro lado quando o Adamastor diz que se vai
vingar dos Portugueses, ele fá-lo lançando contra eles os ventos e o mar, ele é também o
comandante da própria Natureza. O governo de Saturno é uma lógica de velhice, ele
impõe a este mundo a sua própria natureza mas é vencido e castigado por Júpiter porque
desejava imenso, era extremamente ambicioso, de domínio e poder, comia os próprios
filhos com receio que eles viessem a ter tanto poder como ele, ele é este tempo - Cronos
- é também a própria figura da ambição, do desejo de domínio material do mundo. Esta
Babel (Idade do Ferro) é dominada pela cobiça e o seu senhor é este Saturno impotente.
Saturno aprisiona todos os que se situam no seu domínio. Ao vencê-los os Portugueses
são a juventude que vai instaurar a Nova Ordem, a Idade de Ouro e isto porque a raça
dos heróis é divina ou semi-divina e quando eles conquistarem o mundo vão
precisamente fazer com que de novo o mundo seja governado pelo amor pelo
conhecimento, pelo bem, Sião vai vencer Babel. O Adamastor como impuro que é não
pode amar no verdadeiro sentido do amor e quando o tenta o amor transforma-se em
clausura do eu, torna-se prisão. Os Titãs quando se apaixonam por uma mulher e tentam
conquistá-la são desvirilizados por ela, submetidos a ela. O Adamastor tenta conquistar
a mulher pelas armas, comportamento próprio da sua brutalidade não sublimada, não
espiritualizada, não intelectualizada, ele só sabe servir-se das armas. Ele pede ajuda a
Dóris mas fica numa situação de desespero sem saber o que fazer. É um amor que em
vez de o guiar o leva ao caos sem ele saber o que há-de fazer ou para onde há-de ir. O
amor dele é dos sentidos, há uma insistência muito grande no desejo.
Quando os nautas vencem o monstro, vencem-se a si própiros, os seus medos e as suas
superstições, os seus próprios fantasmas. Depois disso clarifica-se o caminho para a luz.
O mar comparado com o da Ilha dos Amores - doce e calmo - é nocturno, terrível e
inquietante. Vencer a noite é vencer a nossa própria noite, enfrentar e integrarmo-nos
harmoniosamente na Natureza.

A Batalha de Aljubarrota
Divisão em partes

   •   Introdução (est. 28 e 29) - descrição do toque da trombeta castelhana e os seus
       efeitos nas pessoas e na natureza;
   •   Desenvolvimento (est. 30-42) - descreve-se a batalha - o início (est. 30), o
       movimento e o ruído do combate (est. 31), a traição de alguns portugueses,
       nomeadamente a dos irmãos de D. Nuno (est. 32 e 33) e a batalha com especial
       incidência nas figuras de D. Nuno (est. 34 e 35) e de D. João I (est. 36 e 37) que
       conduzem à derrota castelhana;
   •   Conclusão (est. 43-45) - desânimo e fuga dos Castelhanos e a vitória dos
       Portugueses.

Levantamento oral das figuras de estilo que contribuem para a descrição
da batalha

   •   Hipérbole: est. 30, 31, 32, 35, 37, 38.
   •   Personificação: est. 28.
   •   Visualização: est. 31.
   •   Uso do Presente histórico: "voam, treme, soam, espedaçam-se, atroam,
       recrecem, apouca".
   •   Sonoridades de raízes onomatopaicas: consoantes oclusivas (p, t, c, b, d, g),
       aliterações (s) e alternância de ritmos (binário e ternário).
   •   Adjectivação expressiva: "Horrendo, fero, ingente e temeroso… terríbil…
       duro… espesso… estridentes…".
   •   Gradação decrescente (est. 42) : "Com mortes, gritos, sangue e cutiladas".

Camões descreve com riqueza de pormenores a batalha que garantiu a independência de
Portugal. O 1º. sinal de guerra "Deu sinal a trombeta Castelhana", dado pelo inimigo é
descrito como "Horrendo, fero, ingente e temeroso" e a figura de estilo usada é a
Adjectivação. O efeito produzido por esse sinal é transmitido através da personificação
"Ouviu-o o Monte Artabro, e Guadiana/Atrás tornou as ondas de medroso./Ouviu o
Douro e a terra Transtagana;/Correu ao mar o Tejo duvidoso". O medo é manifesto nos
que vão combater "Quantos rostos ali se vem sem cor,/Que ao coração acode o sangue
amigo!/Que, nos perigos grandes, o temor/É maior muitas vezes que o perigo". A
batalha inicia-se e o herói destaca-se logo "Logo o grande Pereira, em quem se encerra/
Todo o valor primeiro se assinala". O fragor da batalha é-nos transmitido através de
sensações auditivas "estridentes… soam… atroam…" e visuais "espesso ar… voam…
treme…". Houve portugueses que trairam a Pátria e lutam por Castela "Eis ali seus
irmãos contra ele vão". Nuno Álvares Pereira destaca-se como aquele que mais luta e
que está em todo o lado, a figura de estilo utilizada para descrever a acção do herói é a
Hipérbole "Está ali Nuno, qual pelos outeiros/De Ceita está o fortissímo leão" e "Tal
está o cavaleiro, que a verdura/Tinge co sangue alheio", é ele também quem instiga os
companheiros para que não se deixem vencer e continuem a lutar como se pode ver na
estância 38. O seu intento foi conseguido e os portugueses continuaram a lutar "Porque
eis os seus acesos novamente". O ritmo da batalha vai crescendo e atinge o seu clímax
"Aqui a fera batalha se encruece" para logo depois se dar a debandada dos castelhanos,
patente nas estâncias 42 e 43. Todos vão descansar excepto o herói, que quer ser
lembrado pelas suas vitórias e parte em busca de novas glórias "Mas Nuno, que não
quer por outras vias/Entre as gentes deixar de si memória/Senão por armas sempre
soberanas,/Pera as terras se passa transtaganas".

Caracterização do herói

Atitudes e comportamento reveladores de equilíbrio, virtude, lealdade, justiça, coragem,
mérito próprio, ideal cavalheiresco.

Inês de Castro
Alterações resultantes da poetização

   •   A morte de Inês é apresentada como o "assassinato" de uma inocente, um crime
       hediondo.
   •   Não há referências à expulsão do país e à tensão das relações com D. Afonso IV.
   •   Inês é apresentada, sobretudo, como vítima do amor e não das razões de Estado.
   •   Os cavaleiros arrancam das suas espadas e trespassam-lhe o peito.
   •   Dir-se-ia que o coração, como grande culpado, é o primeiro a sentir o castigo.
       Pretende Camões, também vítima do amor, dar a Inês uma "morte nobre", isto é,
       à espada e de frente para os algozes.
   •   Camões segue de perto a tradição oral e popular, que já havia inspirado as
       "Trovas à Morte de Inês de Castro", de Garcia de Resende e cuja grandeza
       poética, tipicamente portuguesa, saberá aproveitar.

A estrutura é marcadamente dramática - podemos mesmo considerar que as principais
características da tragédia clássica estão presentes neste episódio:

   •   o desenvolvimento de uma acção funesta que culmina com a morte da
       protagonista, apresentada pelo poeta como vitima inocente;
   •   a observação da chamada "lei das três unidades": acção (morte de Inês), tempo
       (duração aproximada de um dia) e espaço (Coimbra);
   •   a inspiração dos sentimentos de terror e piedade, sobretudo através de
       contrastes: a alegria e o sossego (120-121) / a súbita desgraça (124-125); a
       simplicidade frágil e desprotegida de Inês inocente/a brutalidade dos "horrificos
       algozes"; a súplica / o castigo às mãos dos "algozes; a humanização das feras e
       da natureza / a desumanidade dos homens; a dor da condenada Inês que implora
       perdão, rodeada dos filhos, perante D. Afonso IV;
   •   a intervenção da Fatalidade, do Destino: "Naquele engano de alma ledo e
       cego/Que a Fortuna não deixa durar muito" (120, 3-4) e "Mas o pertinaz povo e
       seu destino/(Que desta sorte o quis) Ihe não perdoam" (130, 3-4);
•   a presença do coro, que se faz sentir nas emotivas considerações do poeta que
    acompanham o desenvolvimento da acção: estrofe 119; últimos quatro versos da
    estrofe 123; e desde os dois últimos versos da estrofe 130 até ao fim do episódio;
•   a existência da peripécia (súbita mudança de situação), em vários momentos da
    acção;
•   a catástrofe, constituída pela morte da protagonista;
•   a existência de três grandes partes lógicas:
        o Introdução (estrofes 118-119):
                 Definição do momento e das condições em que se deu a morte de
                    Inês (estrofe 118);
                 Identificação poetizada da causa dessa morte: "Tu, só tu, puro
                    Amor (…) deste causa à molesta morte sua" (estrofe 119).
        o Desenvolvimento (estrofes 120-132): felicidade despreocupada de Inês,
            em Coimbra, dominada pelo amor correspondido e pelas saudades do seu
            "Príncipe" (estrofes 120 a 122, verso 4):
                 As causas da morte (estrofe 122, 2ª. parte e estrofe 123):
                         as "namoradas estranhezas";
                         "o murmurar do povo";
                         "a fantasia do filho que casar-se não queria".
                 Inês perante o Rei, trazida pelos "horríficos algozes", assume
                    uma atitude suplicante e prepara-se para implorar o perdão do Rei
                    e avô de seus filhos (estrofes 124-125);
                 Discurso de Inês: súplicas e argumentos para demover o Rei da
                    sua determinação (estrofes 126-129). Este discurso,
                    marcadamente retórico, sobrecarregado com referências
                    mitológicas e culturais, esquece a situação psicológica
                    desesperada da personagem e parece destinar-se apenas a manter
                    o "estilo grandíloco" do poema;
                 Inês lança mão de argumentos que entende mais convincentes
                    para demover o Rei do projecto de assassinar:
                         a compaixão das "brutas feras" e das "aves agrestes" pelas
                            crianças em contraste com a crueldade dos homens;
                         a sua situação de mãe;
                         a sua inocência;
                         a orfandade dos seus filhos;
                         a condição de cavaleiro do próprio rei D. Afonso IV que,
                            sabendo dar morte, deve também, saber "dar vida, com
                            clemência";
                         o exílio como alternativa à morte.
                 Hesitação do Rei em contraste com a insistência do povo e o
                    destino trágico que persegue Inês (estrofe 130, versos 1-4);
                 Desfecho trágico: imolação da vítima inocente, praticada pelos
                    algozes, que o poeta logo condena ("… ó peitos
                    carniceiros./Feros vos amostrais e cavaleiros?") e compara com o
                    cruel assassínio de Policena (estrofe 130, 2ª. parte a estrofe 132);
                 Conclusão: reprovação do poeta (estrofes 133 e 134), sublinhada
                    pelo pranto comovente das "filhas do Mondego" e pela
                    animização da Natureza, que chora a morte de Inês, sua antiga
                    confidente (estrofe 135).
A dramatização, logo na abertura (estrofe 118), tanto do acontecimento como da
personagem, de forma a empresta-lhes uma grandeza trágica, capaz de catalizar
emoções e atrair a simpatia do leitor, é feita através do emprego de numerosos recursos
estilísticos.

Recursos estilísticos usados

Adjectivação:

   •   "o caso triste e dino de memória" (118, 5)
   •   "a mísera e mesquinha"; "puro Amor, com força crua" (119, 1)
   •   "molesta morte sua" (119, 3)
   •   "áspero e tirano" (119, 7)
   •   "ledo e cego" (120, 3)
   •   "O velho pai sisudo" (192, 6)
   •   "Contra üa fraca dama delicada" (123, 8)
   •   "os horríficos algozes" (124, 1)
   •   "Mas o povo, com falsas e ferozes razões, à morte crua o persuade. Ela, com
       tristes e piedosas vozes" (194, 3-5)
   •   "Um dos duros ministros rigorosos" (125, 4)
   •   "Põe-me em perpétuo e mísero desterro" (128)
   •   "Mas ela, os olhos, com que o ar serena, (Bem como paciente e mansa ovelha)
       Na mísera mãe postos, que endoidece, Ao duro sacrifício se oferece" (131, 5-8)
   •   "Os brutos matadores" (132, 1)
   •   "Se encarniçavam, férvidos e irosos"; "cândida e bela" (134, 2).

Hipérbole:

   •   "Que do sepulcro os homens desenterra" (118, 6)
   •   "De teus fermosos olhos nunca enxuito" (120, 6)
   •   "E, por memória etema, em fonte pura
       As lágrimas choradas transformaram" (135, 3-4)

Tempos Verbais:

   •   Oscilam desde o pretérito perfeito da Introdução (estrofes 118-119), ao pretérito
       imperfeito do Desenvolvimento (maior presentificação de uma acção passada,
       no seu decorrer) e ao presente histórico (maior visualização do crime cometido)
       - estrofe 134. Na estrofe 135 retoma-se o pretérito perfeito inicial e, com isso, a
       consideração da acção como já passada.

Apóstrofe:

   •   Nos versos 1 e 5 da estrofe 119 ("puro Amor", "fero Amor"), na estrofe 120,
       verso 1 ("linda Inês"), na estrofe 122, verso 3 ("puro Amor"), na estrofe 127 ("Ó
       tu…"), na estrofe 130, verso 7 ("Ó peitos camiceiros"), na estrofe 133, verso 1
       ("…ó Sol") e verso 5 ("ó côncavos vales"), contribui para acentuar o dramatismo
       e a vibração trágico-lírica do episódio, quando em associação com os modos
       imperativo ou conjuntivo (presente) ("… a estas criancinhas tem respeito";
"Mova-te"; "Sabe"; "Põe-me"; "Vede") para sugerir apelo ou súplica da
       personagem.

Comparações:

   •   As estrofes 131, 132 e 134 são também muito expressivas e caracterizam dois
       momentos importantes da acção e da personagem: a primeira refere-se à situação
       de Inês perante a morte e a segunda descreve-nos a protagonista já depois de
       morta. Nas estrofes 131-132, compara-se com efeito, a execução de Inês pelos
       algozes com o assassinato de Policena, filha de Príamo, último rei de Tróia, pelo
       "duro Pirro", filho de Aquiles. Trata-se de dois crimes hediondos com vários
       pontos de contacto;
   •   Finalmente, na estrofe 134, deparamos com a belíssima comparação da "pálida
       donzela" já morta com uma "bonina que cortada/ Antes do tempo foi, cândida e
       bela" pelas "mãos lascivas" de uma "menina".

Antiteses:

   •   Contribuem para realçar o carácter absurdo de alguns comportamentos e,
       sobretudo, do sacrifício de Inês:
           o "De noite, em doces sonhos que mentiam, De dia em pensamentos que
               voavam" (121, 5-6)
           o "A morte sabes dar com fogo e ferro. Sabe também dar vida, com
               clemência" (128, 2-3)
           o "Contra hüa dama ó peitos carniceiros, Feros vos amostrais e cavaleiros?
               (130, 7-8)
   •   De facto, a estrutura do episódio assenta num contraste fundamental entre a
       felicidade amorosa de Inês (as "memórias de alegria") e a precipitação trágica
       dos acontecimentos:
           o "A se lograr da paz com tanta glória" (118)
           o "Estavas, linda Inês, posta em sossego" (120)
           o "Eram tudo memórias de alegria" (120)
           o "… engano de alma ledo e cego" (120)
           o "doces sonhos que mentiam" (121)
           o "Rei benino" (130)
           o "contra hüa dama" (130)
           o "o caso triste e dino de memória" (118)
           o "Tal está morta a pálida donzela" (134)
           o "Tirar Inês ao mundo determina" (123)
           o "horríficos algozes" (124)
           o "pertinaz povo" (130)
           o "Feros vos amostrais e cavaleiros?" (130)

Metáfora:

   •   "No colo de alabastro, que sustinha
       As obras com que Amor matou de amores
       Aquele que depois a fez Rainha,
       As espadas banhando e as brancas flores,
       Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
       No luturo castigo não cuidosos" (132, 2-8)
   •   "… pensamentos que voavam" (191, 6)

Eufemismo:

   •   "Tirar Inês ao mundo determina" (123, 1)

Sinédoque:

   •   "… ó peitos carniceiros" (130, 7)

Paradoxo:

   •   "… üa donzela,
       Fraca e sem força, só por ter sujeito
       O coração a quem soube vencê-la" (127, 2-4)

A Tempestade
Estado de espírito dos navegadores ao longo do texto - aflição, medo, coragem.

Surgimento da tempestade e sua descrição.

Da tranquilidade passa-se à tempestade (est. 70-71).

Descrição:

   •   grande variedade de adjectivos, por vezes no superlativo absoluto sintético:
       "cruel… fortíssima… altíssimos… gritos vãos… furibundo… noite negra e
       feia… furiosas águas… Relampagos fulminantes… vento bravo as fúrias
       indinadas!"
   •   sugestão de rápido movimento ascendente e descendente das ondas: "Agora
       sobre as nuvens os subiam/As ondas de Neptuno furibundo;/Agora a ver parece
       que deciam/As íntimas entranhas do Profundo."
   •   visualismo: "A noite negra e feia se alumia/C'os raios em que o Pólo todo
       ardia!"
   •   hipérboles: "Noto, Austro, Bóreas, Áquilo queriam/Arruinar a máquina do
       Mundo;/A noite negra e feia se alumia/C'os raios em que o Pólo todo ardia!"
       (est. 76); "Fugindo à tempestade e ventos duros,/Que nem no fundo os deixa
       estar seguros." (est. 77)
   •   descrição hiperbolizante da fúria e das consequências da tempestade: "Nunca tão
       vivos raios fabricou… Os dous que em gente as pedras converteram" (est. 78),
       "Quantos montes, então, que derribaram… Tanto os mares, que em cima as
       revolvessem." (est. 79), "Assi dizendo, os ventos, que lutavam… Consigo os
       elementos terem guerra." (est.84)
   •   reacção dos navegadores - tentar, por todos os meios salvar as naus e atingirem o
       objectivo proposto: a Índia.
   •   em que consiste a súplica do capitão e o que lhe sucede posteriormente - Vasco
       da Gama suplica a protecção divina alegando: a omnipotência divina já várias
vezes posta à prova; o facto de a viagem ser um serviço prestado ao próprio
       Deus; o facto de ser preferível uma morte heróica e conhecida em África, a
       combater a fé cristã a um naufrágio ali, sem memórias.

Usa uma linguagem apelativa, fática, carregada de adjectivos.

   •   desfecho dos acontecimentos: os portugueses conseguem salvar-se.
   •   existência ou não de um herói e suas razões: sim, Vasco da Gama, que arrosta
       com a fúria dos elementos e pede a protecção divina quando tudo parece
       perdido.
   •   estatuto do narrador: não participante.

A Ilha dos Amores
Caracterização da Ilha

Gradação ascendente (crescente) - primeiro a visão geral da ilha, depois o reino mineral
(os outeiros, as fontes, pedras…), o reino vegetal (verdura, arvoredo, árvores de
fruto…), reino animal (animais voadores: passarinho, rouxinol; aquáticos: cisne;
terrestres; veado, lebre, gazela; e finalmente o plano humano (os Argonautas) e o plano
divino (as deusas).

Adjectivação expressiva, por vezes dupla: fresca e bela… Curva e quieta… fermosos
outeiros… graciosa… alegre e deleitosa… Claras(…) e límpidas… alvas… A sonorosa
linfa fugitiva… ameno… claras… bela… gentil… odoríferos e belos… lindo…
fermosos… virgíneas… amados e queridos… etéreo… purpúreas… rubicunda…
jucunda… roxos… verdes… piramidais… bela e fina…

Hipérboles:

   •   "Três fermosos outeiros se mostravam,
       Erguidos com soberba graciosa."
   •   "Vinham as claras águas ajuntar-se,
       Onde uma mesa fazem, que se estende
       Tão bela quanto pode imaginar-se."

Comparação hiperbólica:

   •   "A laranjeira tem no fruito lindo
       A cor que tinha Dafne nos cabelos".

Sensações visuais (54-55):

   •   o que se vê ao longe: três outeiros, fontes, verdura, um vale, um lago, arvoredo;
       e depois tudo o que se vê na ilha: "As cereijas, purpúreas na pintura… Abre a
       romã, mostrando a rubicunda/Cor… c'uns cachos roxos e outros verdes".

Sensações olfactivas (à medida que se aproximam da ilha) (56-62):
•   "pomos odoríferos", a laranjeira, a cidreira, os limões, álamos, loureiros, murta
       pinheiros e ciprestes, etc.

Sensações gustativas (58):

   •   "sabores: cereijas… amoras… O pomo".

Sensações tácteis:

   •   "A tapeçaria bela e fina
       Com que se cobre o rústico terreno".

Sensações auditivas (63-65):

   •   "… o níveo cisne canta
       Responde-lhe do ramo filomela"
   •   "Algumas doces cítaras tocavam,
       Algumas, harpas e sonoras frautas".

Prémio pela descoberta, prémio aos heróis.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Mensagem: Análise "Escrevo meu livro à beira-mágoa"
Mensagem: Análise "Escrevo meu livro à beira-mágoa"Mensagem: Análise "Escrevo meu livro à beira-mágoa"
Mensagem: Análise "Escrevo meu livro à beira-mágoa"InsdeCastro7
 
Ficha formativa_ Recursos Expressivos (I)
Ficha formativa_ Recursos Expressivos (I)Ficha formativa_ Recursos Expressivos (I)
Ficha formativa_ Recursos Expressivos (I)Raquel Antunes
 
Despedidas em Belém e Velho do Restelo
Despedidas em Belém e Velho do ResteloDespedidas em Belém e Velho do Restelo
Despedidas em Belém e Velho do Restelosin3stesia
 
Gigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Gigante Adamastor, d'Os LusíadasGigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Gigante Adamastor, d'Os LusíadasDina Baptista
 
Cantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análisesCantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análisesHelena Coutinho
 
A poesia lírica de luís vaz de camões
A poesia lírica de luís vaz de camõesA poesia lírica de luís vaz de camões
A poesia lírica de luís vaz de camõesma.no.el.ne.ves
 
Análise Poema - A Última Nau (Guião)
Análise Poema - A Última Nau (Guião)Análise Poema - A Última Nau (Guião)
Análise Poema - A Última Nau (Guião)Maria Freitas
 
Os LusiAdas (Canto Iv) 9 D
Os LusiAdas (Canto Iv)  9 DOs LusiAdas (Canto Iv)  9 D
Os LusiAdas (Canto Iv) 9 DDiogo Jesus
 
Predicativo do complemento direto
Predicativo do complemento diretoPredicativo do complemento direto
Predicativo do complemento diretoquintaldasletras
 
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas PortuguêsCaderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas Portuguêsbibliotecacampo
 
10ºano Luís de Camões - parte A
10ºano Luís de Camões - parte A10ºano Luís de Camões - parte A
10ºano Luís de Camões - parte ALurdes Augusto
 
Análise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Análise comparativa - Mostrengo e AdamastorAnálise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Análise comparativa - Mostrengo e AdamastorMarisa Ferreira
 
Introdução texto poético
Introdução texto poéticoIntrodução texto poético
Introdução texto poéticoarmindaalmeida
 
"Fernão de Magalhães", a Mensagem
"Fernão de Magalhães", a Mensagem"Fernão de Magalhães", a Mensagem
"Fernão de Magalhães", a MensagemIsabel Costa
 

Was ist angesagt? (20)

Mensagem: Análise "Escrevo meu livro à beira-mágoa"
Mensagem: Análise "Escrevo meu livro à beira-mágoa"Mensagem: Análise "Escrevo meu livro à beira-mágoa"
Mensagem: Análise "Escrevo meu livro à beira-mágoa"
 
Ficha formativa_ Recursos Expressivos (I)
Ficha formativa_ Recursos Expressivos (I)Ficha formativa_ Recursos Expressivos (I)
Ficha formativa_ Recursos Expressivos (I)
 
Os Lusíadas - Canto VII
Os Lusíadas -  Canto VIIOs Lusíadas -  Canto VII
Os Lusíadas - Canto VII
 
Despedidas em Belém e Velho do Restelo
Despedidas em Belém e Velho do ResteloDespedidas em Belém e Velho do Restelo
Despedidas em Belém e Velho do Restelo
 
Analise os lusiadas 1
Analise os lusiadas 1Analise os lusiadas 1
Analise os lusiadas 1
 
Horizonte + ilha amores
Horizonte + ilha amoresHorizonte + ilha amores
Horizonte + ilha amores
 
Gigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Gigante Adamastor, d'Os LusíadasGigante Adamastor, d'Os Lusíadas
Gigante Adamastor, d'Os Lusíadas
 
Proposição
ProposiçãoProposição
Proposição
 
Cantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análisesCantigas de amor duas análises
Cantigas de amor duas análises
 
A poesia lírica de luís vaz de camões
A poesia lírica de luís vaz de camõesA poesia lírica de luís vaz de camões
A poesia lírica de luís vaz de camões
 
Análise Poema - A Última Nau (Guião)
Análise Poema - A Última Nau (Guião)Análise Poema - A Última Nau (Guião)
Análise Poema - A Última Nau (Guião)
 
Nun' Alvares Pereira
Nun' Alvares PereiraNun' Alvares Pereira
Nun' Alvares Pereira
 
Os LusiAdas (Canto Iv) 9 D
Os LusiAdas (Canto Iv)  9 DOs LusiAdas (Canto Iv)  9 D
Os LusiAdas (Canto Iv) 9 D
 
Predicativo do complemento direto
Predicativo do complemento diretoPredicativo do complemento direto
Predicativo do complemento direto
 
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas PortuguêsCaderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
 
10ºano Luís de Camões - parte A
10ºano Luís de Camões - parte A10ºano Luís de Camões - parte A
10ºano Luís de Camões - parte A
 
Análise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Análise comparativa - Mostrengo e AdamastorAnálise comparativa - Mostrengo e Adamastor
Análise comparativa - Mostrengo e Adamastor
 
Lusiadas 10º ano
Lusiadas 10º anoLusiadas 10º ano
Lusiadas 10º ano
 
Introdução texto poético
Introdução texto poéticoIntrodução texto poético
Introdução texto poético
 
"Fernão de Magalhães", a Mensagem
"Fernão de Magalhães", a Mensagem"Fernão de Magalhães", a Mensagem
"Fernão de Magalhães", a Mensagem
 

Andere mochten auch

A epopeia - exercícios de aplicação - soluções
A epopeia - exercícios de aplicação - soluçõesA epopeia - exercícios de aplicação - soluções
A epopeia - exercícios de aplicação - soluçõesAntónio Fernandes
 
Lusíadas: Visão Global
Lusíadas: Visão GlobalLusíadas: Visão Global
Lusíadas: Visão GlobalDina Baptista
 
Proposição
ProposiçãoProposição
ProposiçãoLurdes
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaDina Baptista
 
Oslusiadas contexto
Oslusiadas contextoOslusiadas contexto
Oslusiadas contextopaulocapelo
 
Epopeia de os lusíadas
Epopeia de os lusíadasEpopeia de os lusíadas
Epopeia de os lusíadasbragacostaj
 
Os Dez Cantos d´Os Lusíadas
Os Dez Cantos d´Os LusíadasOs Dez Cantos d´Os Lusíadas
Os Dez Cantos d´Os LusíadasMaria Gomes
 
Orações coordenadas e subordinadas exercícios vi (blog9 10-11)
Orações coordenadas e subordinadas   exercícios vi (blog9 10-11)Orações coordenadas e subordinadas   exercícios vi (blog9 10-11)
Orações coordenadas e subordinadas exercícios vi (blog9 10-11)airpereira
 
Recursos EstilíSticos
Recursos EstilíSticosRecursos EstilíSticos
Recursos EstilíSticosCatarina_gomes
 
Regência verbal e nominal
Regência verbal e nominalRegência verbal e nominal
Regência verbal e nominalSimone Peixoto
 
Os lusiadas - camões
Os lusiadas - camõesOs lusiadas - camões
Os lusiadas - camõesjulykathy
 
Análise do canto ix
Análise do canto ixAnálise do canto ix
Análise do canto ixKaryn XP
 

Andere mochten auch (20)

A epopeia - exercícios de aplicação - soluções
A epopeia - exercícios de aplicação - soluçõesA epopeia - exercícios de aplicação - soluções
A epopeia - exercícios de aplicação - soluções
 
Os lusíadas
Os lusíadasOs lusíadas
Os lusíadas
 
Os Lusíadas
Os Lusíadas Os Lusíadas
Os Lusíadas
 
Lusíadas: Visão Global
Lusíadas: Visão GlobalLusíadas: Visão Global
Lusíadas: Visão Global
 
Proposição
ProposiçãoProposição
Proposição
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
 
Oslusiadas contexto
Oslusiadas contextoOslusiadas contexto
Oslusiadas contexto
 
Epopeia de os lusíadas
Epopeia de os lusíadasEpopeia de os lusíadas
Epopeia de os lusíadas
 
Os Dez Cantos d´Os Lusíadas
Os Dez Cantos d´Os LusíadasOs Dez Cantos d´Os Lusíadas
Os Dez Cantos d´Os Lusíadas
 
A extensão dos termos
A extensão dos termosA extensão dos termos
A extensão dos termos
 
Os lusiadas resumo
Os lusiadas resumoOs lusiadas resumo
Os lusiadas resumo
 
Proposição
ProposiçãoProposição
Proposição
 
Orações coordenadas e subordinadas exercícios vi (blog9 10-11)
Orações coordenadas e subordinadas   exercícios vi (blog9 10-11)Orações coordenadas e subordinadas   exercícios vi (blog9 10-11)
Orações coordenadas e subordinadas exercícios vi (blog9 10-11)
 
Recursos EstilíSticos
Recursos EstilíSticosRecursos EstilíSticos
Recursos EstilíSticos
 
Regência verbal e nominal
Regência verbal e nominalRegência verbal e nominal
Regência verbal e nominal
 
Os lusiadas - camões
Os lusiadas - camõesOs lusiadas - camões
Os lusiadas - camões
 
áLvaro de campos
áLvaro de camposáLvaro de campos
áLvaro de campos
 
Tempos Compostos
Tempos CompostosTempos Compostos
Tempos Compostos
 
Lusiadas Figurasdeestilo
Lusiadas FigurasdeestiloLusiadas Figurasdeestilo
Lusiadas Figurasdeestilo
 
Análise do canto ix
Análise do canto ixAnálise do canto ix
Análise do canto ix
 

Ähnlich wie Os Lusíadas: estrutura e resumo dos cantos

Ähnlich wie Os Lusíadas: estrutura e resumo dos cantos (20)

Planos estruturais «Os Lusíadas»
Planos estruturais «Os Lusíadas»Planos estruturais «Os Lusíadas»
Planos estruturais «Os Lusíadas»
 
Camões / Os Lusíadas
Camões / Os LusíadasCamões / Os Lusíadas
Camões / Os Lusíadas
 
Camões 2.0
Camões 2.0Camões 2.0
Camões 2.0
 
A estrutura d` os lusíadas
A estrutura d` os lusíadasA estrutura d` os lusíadas
A estrutura d` os lusíadas
 
Camões
CamõesCamões
Camões
 
Os lusiadas
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
 
lusiadas_lexicoenarradores.docx
lusiadas_lexicoenarradores.docxlusiadas_lexicoenarradores.docx
lusiadas_lexicoenarradores.docx
 
Tudo sobre "Os lusíadas"
Tudo sobre "Os lusíadas"Tudo sobre "Os lusíadas"
Tudo sobre "Os lusíadas"
 
Lusiadas pontosessenciais
Lusiadas pontosessenciaisLusiadas pontosessenciais
Lusiadas pontosessenciais
 
Camões, vida e epopeia
Camões, vida e epopeiaCamões, vida e epopeia
Camões, vida e epopeia
 
Os lusíadas resumo
Os lusíadas resumoOs lusíadas resumo
Os lusíadas resumo
 
Diapositivos os lusíadas
Diapositivos os lusíadasDiapositivos os lusíadas
Diapositivos os lusíadas
 
Os lusíadas- Canto VII
Os lusíadas- Canto VIIOs lusíadas- Canto VII
Os lusíadas- Canto VII
 
Estrutura d'Os Lusíadas
Estrutura d'Os LusíadasEstrutura d'Os Lusíadas
Estrutura d'Os Lusíadas
 
Luís vaz de camões
Luís vaz de camõesLuís vaz de camões
Luís vaz de camões
 
Os lusíadas, de luís de camões
Os lusíadas, de luís de camõesOs lusíadas, de luís de camões
Os lusíadas, de luís de camões
 
Trabalho lp
Trabalho lpTrabalho lp
Trabalho lp
 
Os Lusíadas de Luís de Camões
Os Lusíadas de Luís de CamõesOs Lusíadas de Luís de Camões
Os Lusíadas de Luís de Camões
 
Os Lusíadas
Os LusíadasOs Lusíadas
Os Lusíadas
 
Os Lusíadas
Os LusíadasOs Lusíadas
Os Lusíadas
 

Kürzlich hochgeladen

AULA-06---DIZIMA-PERIODICA_9fdc896dbd1d4cce85a9fbd2e670e62f.pptx
AULA-06---DIZIMA-PERIODICA_9fdc896dbd1d4cce85a9fbd2e670e62f.pptxAULA-06---DIZIMA-PERIODICA_9fdc896dbd1d4cce85a9fbd2e670e62f.pptx
AULA-06---DIZIMA-PERIODICA_9fdc896dbd1d4cce85a9fbd2e670e62f.pptxGislaineDuresCruz
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaFernanda Ledesma
 
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxSlides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdf
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdfLinguagem verbal , não verbal e mista.pdf
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdfLaseVasconcelos1
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfIedaGoethe
 
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileirosMary Alvarenga
 
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?MrciaRocha48
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptxErivaldoLima15
 
Combinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptx
Combinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptx
Combinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxalessandraoliveira324
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxconcelhovdragons
 
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024GleyceMoreiraXWeslle
 
PLANO ANUAL 1ª SÉRIE - Língua portuguesa 2024
PLANO ANUAL 1ª SÉRIE - Língua portuguesa 2024PLANO ANUAL 1ª SÉRIE - Língua portuguesa 2024
PLANO ANUAL 1ª SÉRIE - Língua portuguesa 2024SamiraMiresVieiradeM
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfaulasgege
 
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptxFree-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptxkarinasantiago54
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveaulasgege
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresSociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresaulasgege
 
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxacaciocarmo1
 

Kürzlich hochgeladen (20)

AULA-06---DIZIMA-PERIODICA_9fdc896dbd1d4cce85a9fbd2e670e62f.pptx
AULA-06---DIZIMA-PERIODICA_9fdc896dbd1d4cce85a9fbd2e670e62f.pptxAULA-06---DIZIMA-PERIODICA_9fdc896dbd1d4cce85a9fbd2e670e62f.pptx
AULA-06---DIZIMA-PERIODICA_9fdc896dbd1d4cce85a9fbd2e670e62f.pptx
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
 
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxSlides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
 
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdf
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdfLinguagem verbal , não verbal e mista.pdf
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdf
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
 
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
 
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
 
Combinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptx
Combinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptx
Combinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptxCombinatória.pptx
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
 
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
 
PLANO ANUAL 1ª SÉRIE - Língua portuguesa 2024
PLANO ANUAL 1ª SÉRIE - Língua portuguesa 2024PLANO ANUAL 1ª SÉRIE - Língua portuguesa 2024
PLANO ANUAL 1ª SÉRIE - Língua portuguesa 2024
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
 
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptxFree-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresSociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
 
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
 

Os Lusíadas: estrutura e resumo dos cantos

  • 1. Os Lusíadas: estrutura Canto Primeiro POETA • Proposição (1-3) • Invocação (4-5) • Dedicatória (6-18) • Reflexões sobre os perigos e fraqueza do Homem (105-106) VIAGEM • Início da narração (19) • Ilha de Moçambique (42-72) • Ataque traiçoeiro. Em direcção a Quíloa (82-99) • Chegada a Mombaça (103-104) MARAVILHOSO • Consílio dos deuses (20-41) • Traição de Baco (73-81) • Intervenção de Vénus (100-102) NARRADOR • Camões (narrador heterodiegético ou não participante) Canto Segundo VIAGEM • Em Mombaça (1-9) • Fuga do piloto e dos mouros (25-28) • Partida da Armada e informações de Melinde (64-71) • Recepção festiva em Melinde (72-113) MARAVILHOSO • Cilada de Baco (10-15) • Nova ajuda de Vénus (16-24) • Súplica do Gama à Divina Guarda (Deus) (29-32) • Intervenção de Vénus e de Júpiter e missão de Mercúrio (33-63) NARRADOR • Camões (narrador heterodiegético ou não participante)
  • 2. Canto Terceiro POETA • Invocação a Calíope (1-2) VIAGEM • Em Melinde HISTÓRIA • Início (3-5) • Europa (6-21) • De Luso a Viriato (22) • Conde D. Henrique (23-28) • De D. Afonso Henriques a D. Dinis (29-98) • D. Afonso IV: o Contra os Mouros (39-100) o Formosíssima Maria (101-102) o Batalha do Salado (107-117) o Inês de Castro (118-135) • D. Pedro e D. Fernando (136-143) NARRADOR • Camões (1-2) • Vasco da Gama (narrador homodiegético ou narrador participante) (3-135) Canto Quarto VIAGEM • Em Melinde HISTÓRIA • Crise de 1383-85 (1-12) • Discurso de Nuno Álvares (13-19) • Reacção ao discurso (20-27) • Batalha de Aljubarrota (28-47) • Conquista de Ceuta (48-50) • D. Duarte, D. Afonso V e D. João II (51-65) • D. Manuel I (66-74) • Prepara-se a expedição e despedem-se os nautas (75-93) • Velho do Restelo (94-104) NARRADOR
  • 3. Vasco da Gama Canto Quinto POETA • Considerações sobre o desprezo das letras e da poesia (90-100) VIAGEM • Partida de Lisboa (1-3) • Viagem do Atlântico até ao Equador (4-13) • Cruzeiro do Sul (14) • Fogo-de-santelmo e tromba marítima (15-23) • Ilha de Stª Helena e o episódio de Veloso (24-36) • Adamastor (37-60) • Viagem até Melinde (61-84) • Fim da narrativa do Gama (85-89) NARRADOR • Vasco da Gama Canto Sexto POETA • Reflexões do poeta sobre o valor das honras e da glória (95-99) VIAGEM • Em Melinde (1-4) • Saída de Melinde (5-6) • Vigília dos Nautas (38-42) • Os Doze de Inglaterra (43-69) • A tempestade (70-84) • Chegada a Calecut (92) MARAVILHOSO • Projecto de Baco (7-14) • Consílio dos deuses do mar (15-37) • Súplica do Gama a Deus (81-83) • Intervenção de Vénus a favor dos Portugueses (85-91) • Vasco da Gama agradece a Deus (93-94) NARRADOR
  • 4. Camões (narrador heterodiegético ou não participante) Canto Séptimo POETA • Elogio do espírito de cruzada dos Lusos e censura da Europa (2-14) VIAGEM • Na barra de Calecut (1) • No porto de Calecut, descrição da Índia (15-16) • Degredado em terra e encontro com Monçaide (23-27) • Monçaide, na frota, descreve o Malabar (28-41) • Visita ao Samorim (42-65) • O Catual e Monçaide (66-72) • Paulo da Gama recebe o Catual nas naus e explica o significado das bandeiras (73-77) NARRADOR • Camões (narrador heterodiegético ou não participante) Canto Oitavo POETA • Considerações sobre o "vil interesse e sede inimiga do dinheiro" (96-99) VIAGEM • Em Calecut: Catual visita a armada (1) • Regresso do Catual a terra (44-46) • Traição do Catual (51-90) • Monçaide, na frota, descreve o Malabar (28-41) • Suborno do Catual e regresso do Gama a bordo (91-95) MARAVILHOSO • Novas ciladas de Baco: em sonho - o 3º - aparece um sacerdote maometano, indispondo-o contra os Portugueses (47-50) HISTÓRIA • Explicação das 23 figuras ao Catual (2-43) NARRADOR
  • 5. Paulo da Gama (narrador homodiegético) • Camões (narrador heterodiegético ou não participante) Canto Nono POETA • Exortações aos que desejam a imortalidade (88-92) VIAGEM • Últimas diligências na Índia onde Gama vence as manobras contra os Portugueses (1-12) • Regresso a Portugal (13-17) • Os nautas visitam a ilha (52) • Desembarque na ilha (64-67) MARAVILHOSO • A Ilha dos Amores - prémio de Vénus (18-51) • Descrição da ilha (53-63) • Casamento entre Ninfas e navegadores no palácio de Tétis (68-84) • Simbolismo da ilha (85-87) NARRADOR • Camões (narrador heterodiegético ou não participante) Canto Décimo POETA • Invocação (4ª) a Calíope (8-9) • Lamentações, exortações a D. Sebastião e vaticínio de futuras glórias (145-156) VIAGEM • Despedida da Ilha e regresso a Portugal (143-144) MARAVILHOSO • Banquete na Ilha (1-7) • Profecias da Ninfa (10-74) • Tétis mostra ao Gama "a máquina do mundo" (75-90) • Novas profecias (91-142) HISTÓRIA
  • 6. Sobre os heróis portugueses: Duarte Pacheco Pereira, D. Francisco de Almeida e seu filho, Afonso de Albuquerque, Diogo Soares, D. João de Castro, Cristóvão da Gama, martírio de S. Tomé, naufrágio de Camões, descobrimento do Brasil, viagem de Fernão de Magalhães. NARRADOR • Camões (narrador heterodiegético ou não participante) Resumo d'Os Lusíadas Canto I Camões indica o assunto que se propõe versar: os feitos gloriosos dos Portugueses. Invoca as ninfas do Tejo, dedica o seu poema a el-rei D. Sebastião e dá início à narrativa com a frota já no oceano Índico, em obediência ao preceito clássico de iniciar a narração apenas quando a viagem já ia sensivelmente a meio (narração em media res). Entretanto, realiza-se o Consílio dos Deuses no qual Baco se manifesta contra os Portugueses que são defendidos por Vénus e Marte. A frota ancora em Moçambique. Libertos das maquinações de Baco, da traição do rei e da escaramuça da praia, os Portugueses prosseguem viagem, passam a costa de Quíloa e fundeiam ao largo de Mombaça. Canto II O rei de Mombaça convida a Armada Portuguesa a entrar no seu porto com o intento de a destruir. A frota é salva por Vénus e pelas divindades marítimas, indo aquela queixar- se a Júpiter da falta de protecção dispensada pelo Olimpo aos Portugueses. Júpiter manda Mercúrio à terra para preparar a recepção em Melinde e para inspirar ao Gama o caminho que deve seguir. A Armada chega a Melinde onde é bem acolhida pelo rei que visita as naus e pede ao Gama que lhe conte a História de Portugal. Canto III Vasco da Gama começa a contar a História de Portugal, após uma invocação do Poeta a Calíope. Fica em D. Fernando (fim da primeira dinastia). Canto IV Vasco da Gama continua a narração da História de Portugal até à saída das naus do Restelo (1497). Canto V Vasco da Gama termina a narrativa da História de Portugal depois de ter referido, na sua viagem, vários episódios marítimos. Canto VI
  • 7. Oferecidas as festas pelo rei de Melinde, os Portugueses continuam a viagem para a Índia que avistam depois de terem suportado e vencido, com a ajuda de Vénus, a tempestade decretada pelos deuses marinhos instigados por Baco. Canto VII Os Portugueses chegam a Calecut onde são recebidos com alegria. O Governador (Catual) acompanha Vasco da Gama ao palácio do rei que, depois de ouvir um discurso, manda instalá-lo e aos seus no próprio palácio. O Catual vai visitar a nau e ouve de Paulo da Gama o início da explicação das figuras pintadas nas bandeiras. Canto VIII Todo o Canto se passa na Índia. Vasco da Gama aguarda a resposta do Samorim aos tratados propostos em nome do Rei de Portugal e Paulo da Gama, a bordo, explica ao Catual as figuras representadas nas bandeiras. Baco tenta, uma vez mais, armar ciladas e, dessa forma, destruir a Armada Portuguesa levando os maometanos a subornarem o Catual. Este teme o seu rei e acaba por dar liberdade a Vasco da Gama. Vasco da Gama salva-se oferecendo ouro e riquezas ao Catual e Camões aproveita a ocasião para tecer considerações sobre o ouro que corrompe tudo e todos. Canto IX Depois de narrar algumas peripécias acontecidas na Índia, Camões descreve a Ilha dos Amores que Vénus prepara para os Portugueses para descanso e prémio dos seus trabalhos e sofrimentos. Após o desembarque, os Portugueses são recebidos pelas Ninfas com quem casam. Canto X Tétis e as restantes Ninfas oferecem um banquete aos Portugueses durante o qual são contadas as suas façanhas futuras. Depois do banquete, Tétis conduz Vasco da Gama a um monte onde descreve o orbe terrestre, principalmente as regiões onde os Portugueses mais se notabilizarão, após o que se despede e prediz um regresso feliz à Pátria. Camões, depois de referir o embarque dos Portugueses e a chegada a Portugal, queixa- se da decadência em que vive a sua Pátria. Termina o poema exortando D. Sebastião à prática de feitos sublimes no Norte de África. Análise de excertos d'Os Lusíadas O Português não é realista, diz-se, porque nunca se assumiu nem assumiu as verdadeiras dimensões do seu espaço nacional. Vive uma ficção permanente. Ou caímos na mania das grandezas ou então fazemos uma autocrítica tão feroz que nos diminuímos extremamente. O Português tem o complexo da insularidade. Não tem noção das suas fronteiras. Durante muito tempo tivemos pouco contacto com o exterior e esse isolamento leva à impossibilidade de conhecer as outras nações e como tal, de conhecer a nossa. Há assim tendência para mitificar quer o exterior quer o interior. O estrangeiro, o desconhecido,
  • 8. mitifica-se, e as relações com ele não são normais e isso explicaria a oscilação pendular. Por um lado, uma imagem pessimista, um sentimento de inferioridade e uma autocrítica flageladora da nossa própria história. O que explica a oscilação pendular é precisamente o sentimento de inferioridade. O que medeia a nossa relação com o real é a paixão. Não conseguimos racionalmente encarar a nossa realidade e o nosso presente. O saudosismo e o messianismo explicam esta nossa relação. Saudade - é a dor da ausência e o comprazimento da presença pela memória (implica que se esteja onde não se está). É doce-amargo, pouco propício à acção. Somos passivos, falamos muito mas nunca agimos. Vivemos obcecados pela nossa própria história, andamos sempre à procura da nossa identidade. Estamos perdidos e só nos reencontramos procurando a idade do ouro das nossas raízes. Há da nossa parte uma falta de empenho em relação às coisas, daí resultando uma profunda contradição na forma de ser português. Estrutura d'Os Lusíadas Os heróis geram a própria realidade, são demiurgos. As epopeias de imitação surgem num momento em que já existe o estado-nação. Assim os heróis são já agentes de um poder político que representam, já não geram a realidade. Os mitos são simples referências literárias aproveitáveis para a intriga. Há um realismo substancial nas epopeias primitivas enquanto que nas outras é substituído pela fantasia gratuita. N' Os Lusíadas há três planos narrativos: o dos deuses, a Viagem do Gama e o passado histórico em relação à viagem do Gama. A função do plano mitológico é a de dar unidade ao poema (função estrutural). Os heróis não são verdadeiros heróis, a acção deles é sempre condicionada por aquilo que os deuses decidiram à partida. As primeiras estâncias d' Os Lusíadas são muito reveladoras: I-1 "As armas… Taprobana" - os feitos heróicos e aqueles que os praticaram, são só aqueles que o merecem, o que nos leva já para um dos indícios em relação ao tipo de herói que ele quer cantar. O herói colectivo não interessa em si como conjunto de pessoas mas tem um espírito que corresponde aos feitos de algumas pessoas elevadas acima do herói colectivo. Estabelece logo a relação entre a terra e o mar. Há uma relação entre ambos como entre os heróis dos dois lados. Os feitos dos portugueses são prometaicos, eles entraram numa dimensão divina que até então estava vedada aos homens. Eles conseguiram elevar-se acima da condição
  • 9. humana. A primeira estrofe fala da Índia, eles não só se expandiram como em terras longíquas edifcaram outro reino e o sublimaram. Cristianizaram-no. Aquilo que liga tudo e que é a grande justificação ideológica d' Os Lusíadas é o feito das Cruzadas, são eleitos por Deus e agentes de Deus na terra, o que justifica a sua superioridade e lhes dá unidade à história. I-2 Outro tipo de herói e as memórias daqueles reis que modificaram a história. A poesia, a produção literária, para além da espada, também podem imortalizar um indivíduo. Esta é uma ideia renascentista. Se não for ele, se não for pelo seu talento, os feitos dos portugueses não serão cantados nem conhecidos. I-3 Eneias e Ulisses - confronta a epopeia portuguesa com a epopeia clássica. Portugal, tal como Roma, começou a partir do nada e formou um império. Ele vai fazer com que a fama do ilustre peito lusitano seja superior à dos antigos, ele canta principalmente o "peito ilustre lusitano". Vai cantar uma coisa que é subjectiva e que ele próprio vai definir. Neptuno (mar) e Marte (guerra) - é a viagem, a expansão marítima, os portugueses vão suplantar os deuses. Marte está ligado também à terra e afirma que os portugueses se tornarão grandes na terra e no mar. A palavra valor implica já uma conotação em relação àquilo que se vai contar. Herói - modelo de perfeição que o homem comum não se sente capaz de atingir. Há um sentimento de inacabamento que nos leva a criar um ser com o qual gostaríamos de nos identificar. O homem não é capaz de ultrapassar as suas limitações, daí que procure criar mitos e heróis. Os heróis não são deuses, a eternidade, a humanidade dos heróis, coarta-os. O percurso do herói é sempre uma mensagem didáctica, ele assume-se como modelo dos outros que estão bloqueados. Os heróis atravessam o mar, unem-se às deusas e têm acesso ao futuro, tornaram-se deuses em duas dimensões, vêem o funcionamento do cosmos. Isto pode referir-se a duas coisas: aos feitos e ao canto épico, e ao valor que o poeta atribui a si próprio, o autor deste valor vai acabar com os valores antigos. I-4 Ele segue também o modelo clássico e arranja Ninfas no Tejo - as Tágides. As Ninfas são de água doce e estão sempre associadas ao amor e ao parto dos heróis. Pede ajuda para um estilo digno do que vai contar. O Pentecostes é uma réplica à Torre de Babel. O Sol e a luz estão ligados ao conhecimento enquanto que as trevas estão ligadas à ignorância. I-5 Pede um som de batalha, que incite os homens a avançar, a combater, faça corar de exaltação. Quer um canto igual à gente famosa, que ajuda muito Marte pelo seu espírito
  • 10. guerreiro, provando o seu valor na guerra. Pretende que o seu canto seja universal. Aspira à universalidade. I-6 D. Sebastião é a segurança, o garante da antiga liberdade lusitana e tem mais do que uma missão a cumprir. Ligação dos Portugueses em terra e no mar. O "novo temor" pode ter outro sentido ou mais do que um sentido: novo porque ele é jovem, porque assume o reino pela primeira vez, porque já outros atemorizaram os mouros. "Maravilha fatal da nossa idade" - ele é um prodígio destinado (fatal = de destino) para dar parte grande do mundo a Deus, conquistar as almas para Deus. I-7 A dinastia portuguesa é a eleita, a preferida de Cristo. O rei personifica a pátria, é o paradigma da pátria. O povo de que ele é rei, também é amado por Deus. As quinas do brazão representam as cinco chagas de Cristo. I-8 Centro do mundo, luz, o sol banha todo o império, os portugueses são os senhores do conhecimento. Os inimigos são também os hindus, para além dos mouros e dos turcos. I-9 Sede bondoso, magnânimo mas não fraco. Mostra que os seus versos são bem metrificados, ele verá um novo exemplo de amor. Amor à Pátria, exemplo de patriotismo. A pátria exprime-se em feitos valerosos. O amor aos feitos vai ser divulgado através dos versos, através deles ele vai mostrar o seu patriotismo - ideia renascentista. I - 10 O que o leva a cantar a pátria é o patriotismo, o amor à pátria. I - 11 O que ele opõe às façanhas da imaginação são as façanhas verdadeiras, o rei é a personificação da pátria, dos feitos que por sua vez caracterizam a pátria ideal. Os feitos dos portugueses excedem todos. I - 12 Nuno Álvares Pereira - fez grande serviço ao rei e ao reino - 1383-85 - Aljubarrota. Todas as epopeias têm uma batalha que é importante, os Portugueses também. Os heróis realizam-se na terra e no mar, no entanto as duas realizações são diferentes. I - 13
  • 11. Contrapõe D. Afonso Henriques e D. João I a Carlos Magno e a César. D. Afonso III (Algarve), D. Afonso IV (Salado) e D. Afonso V (África). I - 14 Aqueles que fizeram a vossa bandeira sempre vencedora. Fizeram-se táo subidos por armas. Os fortes que se imortalizaram, para se ser herói é preciso ser-se forte. Por serem fortes são temidos e destemidos. Revelaram sempre amor ao rei e à pátria, simultaneamente. Eles fazem e fazem-se, os heróis ao fazerem fazem-se a si próprios. Eles fizeram-se a si próprios e em consequência fizeram-se muito subidos: 1. Alcançaram a superioridade. 2. Alcançaram a consagração, combatendo através das armas conseguiram chegar à celebridade. O meio pode variar mas a atitude para o sucesso tem de ser a mesma. I - 15 Diz a D. Sebastião para assumir o poder e será mais conhecido e poderoso através de um canto que o Poeta lhe fará. Todo o mundo sinta o seu poder através da conquista de África e do Oriente. I - 16 Todos se curvam aos pés deles e D. Sebastião tornar-se-á rei dos mares. I - 17 A casa dos Deuses pode ser o Olimpo ou o Céu. "cá famosas" - na terra. Dois tempos: Cronos/Saturno - tempo humano, finito, efémero, sujeito à morte. Atemporalidade - dimensão em que não há tempo nem morte. O que faz os heróis é a alma. D. João III (Paz, Cultura) e Carlos V (Guerra). É possível a eternidade mesmo sem combater, pela paz. A Memória ligada à imortalidade. I - 18 A adjectivação ao canto é um novo atrevimento. O rei vê os nautas e estes sabem que estão a ser vistos por ele e isso vai fazer com que eles enfrentem tudo com mais valentia e rigor. Começa a narrativa. I - 19
  • 12. As naus navegam com ventos favoráveis, os ventos não são entendidos como hoje, mas animados e conduzidos por divindades. I - 20 Ligação entre a viagem do Gama e os deuses. Os deuses governam. Mercúrio: o mensageiro dos deuses. Olimpo: luminoso, cristalino, via láctea. Divindades ctónico/telúricas: na sua história descem ao mundo dos mortos, podem propiciar a imortalidade. Bacanais: chegar a um estado de êxtase que propiciasse um encontro com as divindades, a libertação do corpo. Os Portugueses são simples marionetas nas mãos dos deuses que, esses sim, conduzem a acção. Baco, Indo, Ganges, Adamastor Quando se metamorfoseia em homem, Baco fá-lo em sacerdote, mas é sempre um velho experiente exactamente da mesma forma que o é o Velho do Restelo. O Indo e o Ganges são também velhos experientes. Há uma insistência na velhice dos senhores do mundo, como o Adamastor. A experiência deles contudo não chega, os jovens - os nautas - vão substitui-los ao criarem uma nova ordem. Uma coisa que é velha simbolicamente é representada por uma velhice num sentido negativo ligado à incapacidade de integrar novos caminhos. A velhice conduz à impotência, liga-se à paralização, à cristalização, à impossibilidade de olhar para o futuro e de encontrar novos caminhos. Os Portugueses querem destronar o Adamastor. Por outro lado quando o Adamastor diz que se vai vingar dos Portugueses, ele fá-lo lançando contra eles os ventos e o mar, ele é também o comandante da própria Natureza. O governo de Saturno é uma lógica de velhice, ele impõe a este mundo a sua própria natureza mas é vencido e castigado por Júpiter porque desejava imenso, era extremamente ambicioso, de domínio e poder, comia os próprios filhos com receio que eles viessem a ter tanto poder como ele, ele é este tempo - Cronos - é também a própria figura da ambição, do desejo de domínio material do mundo. Esta Babel (Idade do Ferro) é dominada pela cobiça e o seu senhor é este Saturno impotente. Saturno aprisiona todos os que se situam no seu domínio. Ao vencê-los os Portugueses são a juventude que vai instaurar a Nova Ordem, a Idade de Ouro e isto porque a raça dos heróis é divina ou semi-divina e quando eles conquistarem o mundo vão precisamente fazer com que de novo o mundo seja governado pelo amor pelo conhecimento, pelo bem, Sião vai vencer Babel. O Adamastor como impuro que é não pode amar no verdadeiro sentido do amor e quando o tenta o amor transforma-se em clausura do eu, torna-se prisão. Os Titãs quando se apaixonam por uma mulher e tentam conquistá-la são desvirilizados por ela, submetidos a ela. O Adamastor tenta conquistar a mulher pelas armas, comportamento próprio da sua brutalidade não sublimada, não espiritualizada, não intelectualizada, ele só sabe servir-se das armas. Ele pede ajuda a Dóris mas fica numa situação de desespero sem saber o que fazer. É um amor que em vez de o guiar o leva ao caos sem ele saber o que há-de fazer ou para onde há-de ir. O amor dele é dos sentidos, há uma insistência muito grande no desejo.
  • 13. Quando os nautas vencem o monstro, vencem-se a si própiros, os seus medos e as suas superstições, os seus próprios fantasmas. Depois disso clarifica-se o caminho para a luz. O mar comparado com o da Ilha dos Amores - doce e calmo - é nocturno, terrível e inquietante. Vencer a noite é vencer a nossa própria noite, enfrentar e integrarmo-nos harmoniosamente na Natureza. A Batalha de Aljubarrota Divisão em partes • Introdução (est. 28 e 29) - descrição do toque da trombeta castelhana e os seus efeitos nas pessoas e na natureza; • Desenvolvimento (est. 30-42) - descreve-se a batalha - o início (est. 30), o movimento e o ruído do combate (est. 31), a traição de alguns portugueses, nomeadamente a dos irmãos de D. Nuno (est. 32 e 33) e a batalha com especial incidência nas figuras de D. Nuno (est. 34 e 35) e de D. João I (est. 36 e 37) que conduzem à derrota castelhana; • Conclusão (est. 43-45) - desânimo e fuga dos Castelhanos e a vitória dos Portugueses. Levantamento oral das figuras de estilo que contribuem para a descrição da batalha • Hipérbole: est. 30, 31, 32, 35, 37, 38. • Personificação: est. 28. • Visualização: est. 31. • Uso do Presente histórico: "voam, treme, soam, espedaçam-se, atroam, recrecem, apouca". • Sonoridades de raízes onomatopaicas: consoantes oclusivas (p, t, c, b, d, g), aliterações (s) e alternância de ritmos (binário e ternário). • Adjectivação expressiva: "Horrendo, fero, ingente e temeroso… terríbil… duro… espesso… estridentes…". • Gradação decrescente (est. 42) : "Com mortes, gritos, sangue e cutiladas". Camões descreve com riqueza de pormenores a batalha que garantiu a independência de Portugal. O 1º. sinal de guerra "Deu sinal a trombeta Castelhana", dado pelo inimigo é descrito como "Horrendo, fero, ingente e temeroso" e a figura de estilo usada é a Adjectivação. O efeito produzido por esse sinal é transmitido através da personificação "Ouviu-o o Monte Artabro, e Guadiana/Atrás tornou as ondas de medroso./Ouviu o Douro e a terra Transtagana;/Correu ao mar o Tejo duvidoso". O medo é manifesto nos que vão combater "Quantos rostos ali se vem sem cor,/Que ao coração acode o sangue amigo!/Que, nos perigos grandes, o temor/É maior muitas vezes que o perigo". A batalha inicia-se e o herói destaca-se logo "Logo o grande Pereira, em quem se encerra/ Todo o valor primeiro se assinala". O fragor da batalha é-nos transmitido através de sensações auditivas "estridentes… soam… atroam…" e visuais "espesso ar… voam… treme…". Houve portugueses que trairam a Pátria e lutam por Castela "Eis ali seus irmãos contra ele vão". Nuno Álvares Pereira destaca-se como aquele que mais luta e que está em todo o lado, a figura de estilo utilizada para descrever a acção do herói é a Hipérbole "Está ali Nuno, qual pelos outeiros/De Ceita está o fortissímo leão" e "Tal
  • 14. está o cavaleiro, que a verdura/Tinge co sangue alheio", é ele também quem instiga os companheiros para que não se deixem vencer e continuem a lutar como se pode ver na estância 38. O seu intento foi conseguido e os portugueses continuaram a lutar "Porque eis os seus acesos novamente". O ritmo da batalha vai crescendo e atinge o seu clímax "Aqui a fera batalha se encruece" para logo depois se dar a debandada dos castelhanos, patente nas estâncias 42 e 43. Todos vão descansar excepto o herói, que quer ser lembrado pelas suas vitórias e parte em busca de novas glórias "Mas Nuno, que não quer por outras vias/Entre as gentes deixar de si memória/Senão por armas sempre soberanas,/Pera as terras se passa transtaganas". Caracterização do herói Atitudes e comportamento reveladores de equilíbrio, virtude, lealdade, justiça, coragem, mérito próprio, ideal cavalheiresco. Inês de Castro Alterações resultantes da poetização • A morte de Inês é apresentada como o "assassinato" de uma inocente, um crime hediondo. • Não há referências à expulsão do país e à tensão das relações com D. Afonso IV. • Inês é apresentada, sobretudo, como vítima do amor e não das razões de Estado. • Os cavaleiros arrancam das suas espadas e trespassam-lhe o peito. • Dir-se-ia que o coração, como grande culpado, é o primeiro a sentir o castigo. Pretende Camões, também vítima do amor, dar a Inês uma "morte nobre", isto é, à espada e de frente para os algozes. • Camões segue de perto a tradição oral e popular, que já havia inspirado as "Trovas à Morte de Inês de Castro", de Garcia de Resende e cuja grandeza poética, tipicamente portuguesa, saberá aproveitar. A estrutura é marcadamente dramática - podemos mesmo considerar que as principais características da tragédia clássica estão presentes neste episódio: • o desenvolvimento de uma acção funesta que culmina com a morte da protagonista, apresentada pelo poeta como vitima inocente; • a observação da chamada "lei das três unidades": acção (morte de Inês), tempo (duração aproximada de um dia) e espaço (Coimbra); • a inspiração dos sentimentos de terror e piedade, sobretudo através de contrastes: a alegria e o sossego (120-121) / a súbita desgraça (124-125); a simplicidade frágil e desprotegida de Inês inocente/a brutalidade dos "horrificos algozes"; a súplica / o castigo às mãos dos "algozes; a humanização das feras e da natureza / a desumanidade dos homens; a dor da condenada Inês que implora perdão, rodeada dos filhos, perante D. Afonso IV; • a intervenção da Fatalidade, do Destino: "Naquele engano de alma ledo e cego/Que a Fortuna não deixa durar muito" (120, 3-4) e "Mas o pertinaz povo e seu destino/(Que desta sorte o quis) Ihe não perdoam" (130, 3-4);
  • 15. a presença do coro, que se faz sentir nas emotivas considerações do poeta que acompanham o desenvolvimento da acção: estrofe 119; últimos quatro versos da estrofe 123; e desde os dois últimos versos da estrofe 130 até ao fim do episódio; • a existência da peripécia (súbita mudança de situação), em vários momentos da acção; • a catástrofe, constituída pela morte da protagonista; • a existência de três grandes partes lógicas: o Introdução (estrofes 118-119):  Definição do momento e das condições em que se deu a morte de Inês (estrofe 118);  Identificação poetizada da causa dessa morte: "Tu, só tu, puro Amor (…) deste causa à molesta morte sua" (estrofe 119). o Desenvolvimento (estrofes 120-132): felicidade despreocupada de Inês, em Coimbra, dominada pelo amor correspondido e pelas saudades do seu "Príncipe" (estrofes 120 a 122, verso 4):  As causas da morte (estrofe 122, 2ª. parte e estrofe 123):  as "namoradas estranhezas";  "o murmurar do povo";  "a fantasia do filho que casar-se não queria".  Inês perante o Rei, trazida pelos "horríficos algozes", assume uma atitude suplicante e prepara-se para implorar o perdão do Rei e avô de seus filhos (estrofes 124-125);  Discurso de Inês: súplicas e argumentos para demover o Rei da sua determinação (estrofes 126-129). Este discurso, marcadamente retórico, sobrecarregado com referências mitológicas e culturais, esquece a situação psicológica desesperada da personagem e parece destinar-se apenas a manter o "estilo grandíloco" do poema;  Inês lança mão de argumentos que entende mais convincentes para demover o Rei do projecto de assassinar:  a compaixão das "brutas feras" e das "aves agrestes" pelas crianças em contraste com a crueldade dos homens;  a sua situação de mãe;  a sua inocência;  a orfandade dos seus filhos;  a condição de cavaleiro do próprio rei D. Afonso IV que, sabendo dar morte, deve também, saber "dar vida, com clemência";  o exílio como alternativa à morte.  Hesitação do Rei em contraste com a insistência do povo e o destino trágico que persegue Inês (estrofe 130, versos 1-4);  Desfecho trágico: imolação da vítima inocente, praticada pelos algozes, que o poeta logo condena ("… ó peitos carniceiros./Feros vos amostrais e cavaleiros?") e compara com o cruel assassínio de Policena (estrofe 130, 2ª. parte a estrofe 132);  Conclusão: reprovação do poeta (estrofes 133 e 134), sublinhada pelo pranto comovente das "filhas do Mondego" e pela animização da Natureza, que chora a morte de Inês, sua antiga confidente (estrofe 135).
  • 16. A dramatização, logo na abertura (estrofe 118), tanto do acontecimento como da personagem, de forma a empresta-lhes uma grandeza trágica, capaz de catalizar emoções e atrair a simpatia do leitor, é feita através do emprego de numerosos recursos estilísticos. Recursos estilísticos usados Adjectivação: • "o caso triste e dino de memória" (118, 5) • "a mísera e mesquinha"; "puro Amor, com força crua" (119, 1) • "molesta morte sua" (119, 3) • "áspero e tirano" (119, 7) • "ledo e cego" (120, 3) • "O velho pai sisudo" (192, 6) • "Contra üa fraca dama delicada" (123, 8) • "os horríficos algozes" (124, 1) • "Mas o povo, com falsas e ferozes razões, à morte crua o persuade. Ela, com tristes e piedosas vozes" (194, 3-5) • "Um dos duros ministros rigorosos" (125, 4) • "Põe-me em perpétuo e mísero desterro" (128) • "Mas ela, os olhos, com que o ar serena, (Bem como paciente e mansa ovelha) Na mísera mãe postos, que endoidece, Ao duro sacrifício se oferece" (131, 5-8) • "Os brutos matadores" (132, 1) • "Se encarniçavam, férvidos e irosos"; "cândida e bela" (134, 2). Hipérbole: • "Que do sepulcro os homens desenterra" (118, 6) • "De teus fermosos olhos nunca enxuito" (120, 6) • "E, por memória etema, em fonte pura As lágrimas choradas transformaram" (135, 3-4) Tempos Verbais: • Oscilam desde o pretérito perfeito da Introdução (estrofes 118-119), ao pretérito imperfeito do Desenvolvimento (maior presentificação de uma acção passada, no seu decorrer) e ao presente histórico (maior visualização do crime cometido) - estrofe 134. Na estrofe 135 retoma-se o pretérito perfeito inicial e, com isso, a consideração da acção como já passada. Apóstrofe: • Nos versos 1 e 5 da estrofe 119 ("puro Amor", "fero Amor"), na estrofe 120, verso 1 ("linda Inês"), na estrofe 122, verso 3 ("puro Amor"), na estrofe 127 ("Ó tu…"), na estrofe 130, verso 7 ("Ó peitos camiceiros"), na estrofe 133, verso 1 ("…ó Sol") e verso 5 ("ó côncavos vales"), contribui para acentuar o dramatismo e a vibração trágico-lírica do episódio, quando em associação com os modos imperativo ou conjuntivo (presente) ("… a estas criancinhas tem respeito";
  • 17. "Mova-te"; "Sabe"; "Põe-me"; "Vede") para sugerir apelo ou súplica da personagem. Comparações: • As estrofes 131, 132 e 134 são também muito expressivas e caracterizam dois momentos importantes da acção e da personagem: a primeira refere-se à situação de Inês perante a morte e a segunda descreve-nos a protagonista já depois de morta. Nas estrofes 131-132, compara-se com efeito, a execução de Inês pelos algozes com o assassinato de Policena, filha de Príamo, último rei de Tróia, pelo "duro Pirro", filho de Aquiles. Trata-se de dois crimes hediondos com vários pontos de contacto; • Finalmente, na estrofe 134, deparamos com a belíssima comparação da "pálida donzela" já morta com uma "bonina que cortada/ Antes do tempo foi, cândida e bela" pelas "mãos lascivas" de uma "menina". Antiteses: • Contribuem para realçar o carácter absurdo de alguns comportamentos e, sobretudo, do sacrifício de Inês: o "De noite, em doces sonhos que mentiam, De dia em pensamentos que voavam" (121, 5-6) o "A morte sabes dar com fogo e ferro. Sabe também dar vida, com clemência" (128, 2-3) o "Contra hüa dama ó peitos carniceiros, Feros vos amostrais e cavaleiros? (130, 7-8) • De facto, a estrutura do episódio assenta num contraste fundamental entre a felicidade amorosa de Inês (as "memórias de alegria") e a precipitação trágica dos acontecimentos: o "A se lograr da paz com tanta glória" (118) o "Estavas, linda Inês, posta em sossego" (120) o "Eram tudo memórias de alegria" (120) o "… engano de alma ledo e cego" (120) o "doces sonhos que mentiam" (121) o "Rei benino" (130) o "contra hüa dama" (130) o "o caso triste e dino de memória" (118) o "Tal está morta a pálida donzela" (134) o "Tirar Inês ao mundo determina" (123) o "horríficos algozes" (124) o "pertinaz povo" (130) o "Feros vos amostrais e cavaleiros?" (130) Metáfora: • "No colo de alabastro, que sustinha As obras com que Amor matou de amores Aquele que depois a fez Rainha, As espadas banhando e as brancas flores, Que ela dos olhos seus regadas tinha,
  • 18. Se encarniçavam, férvidos e irosos, No luturo castigo não cuidosos" (132, 2-8) • "… pensamentos que voavam" (191, 6) Eufemismo: • "Tirar Inês ao mundo determina" (123, 1) Sinédoque: • "… ó peitos carniceiros" (130, 7) Paradoxo: • "… üa donzela, Fraca e sem força, só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la" (127, 2-4) A Tempestade Estado de espírito dos navegadores ao longo do texto - aflição, medo, coragem. Surgimento da tempestade e sua descrição. Da tranquilidade passa-se à tempestade (est. 70-71). Descrição: • grande variedade de adjectivos, por vezes no superlativo absoluto sintético: "cruel… fortíssima… altíssimos… gritos vãos… furibundo… noite negra e feia… furiosas águas… Relampagos fulminantes… vento bravo as fúrias indinadas!" • sugestão de rápido movimento ascendente e descendente das ondas: "Agora sobre as nuvens os subiam/As ondas de Neptuno furibundo;/Agora a ver parece que deciam/As íntimas entranhas do Profundo." • visualismo: "A noite negra e feia se alumia/C'os raios em que o Pólo todo ardia!" • hipérboles: "Noto, Austro, Bóreas, Áquilo queriam/Arruinar a máquina do Mundo;/A noite negra e feia se alumia/C'os raios em que o Pólo todo ardia!" (est. 76); "Fugindo à tempestade e ventos duros,/Que nem no fundo os deixa estar seguros." (est. 77) • descrição hiperbolizante da fúria e das consequências da tempestade: "Nunca tão vivos raios fabricou… Os dous que em gente as pedras converteram" (est. 78), "Quantos montes, então, que derribaram… Tanto os mares, que em cima as revolvessem." (est. 79), "Assi dizendo, os ventos, que lutavam… Consigo os elementos terem guerra." (est.84) • reacção dos navegadores - tentar, por todos os meios salvar as naus e atingirem o objectivo proposto: a Índia. • em que consiste a súplica do capitão e o que lhe sucede posteriormente - Vasco da Gama suplica a protecção divina alegando: a omnipotência divina já várias
  • 19. vezes posta à prova; o facto de a viagem ser um serviço prestado ao próprio Deus; o facto de ser preferível uma morte heróica e conhecida em África, a combater a fé cristã a um naufrágio ali, sem memórias. Usa uma linguagem apelativa, fática, carregada de adjectivos. • desfecho dos acontecimentos: os portugueses conseguem salvar-se. • existência ou não de um herói e suas razões: sim, Vasco da Gama, que arrosta com a fúria dos elementos e pede a protecção divina quando tudo parece perdido. • estatuto do narrador: não participante. A Ilha dos Amores Caracterização da Ilha Gradação ascendente (crescente) - primeiro a visão geral da ilha, depois o reino mineral (os outeiros, as fontes, pedras…), o reino vegetal (verdura, arvoredo, árvores de fruto…), reino animal (animais voadores: passarinho, rouxinol; aquáticos: cisne; terrestres; veado, lebre, gazela; e finalmente o plano humano (os Argonautas) e o plano divino (as deusas). Adjectivação expressiva, por vezes dupla: fresca e bela… Curva e quieta… fermosos outeiros… graciosa… alegre e deleitosa… Claras(…) e límpidas… alvas… A sonorosa linfa fugitiva… ameno… claras… bela… gentil… odoríferos e belos… lindo… fermosos… virgíneas… amados e queridos… etéreo… purpúreas… rubicunda… jucunda… roxos… verdes… piramidais… bela e fina… Hipérboles: • "Três fermosos outeiros se mostravam, Erguidos com soberba graciosa." • "Vinham as claras águas ajuntar-se, Onde uma mesa fazem, que se estende Tão bela quanto pode imaginar-se." Comparação hiperbólica: • "A laranjeira tem no fruito lindo A cor que tinha Dafne nos cabelos". Sensações visuais (54-55): • o que se vê ao longe: três outeiros, fontes, verdura, um vale, um lago, arvoredo; e depois tudo o que se vê na ilha: "As cereijas, purpúreas na pintura… Abre a romã, mostrando a rubicunda/Cor… c'uns cachos roxos e outros verdes". Sensações olfactivas (à medida que se aproximam da ilha) (56-62):
  • 20. "pomos odoríferos", a laranjeira, a cidreira, os limões, álamos, loureiros, murta pinheiros e ciprestes, etc. Sensações gustativas (58): • "sabores: cereijas… amoras… O pomo". Sensações tácteis: • "A tapeçaria bela e fina Com que se cobre o rústico terreno". Sensações auditivas (63-65): • "… o níveo cisne canta Responde-lhe do ramo filomela" • "Algumas doces cítaras tocavam, Algumas, harpas e sonoras frautas". Prémio pela descoberta, prémio aos heróis.