1. GRALHA AZUL - No. 81 - JANEIRO - 2019 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PR
GRALHA AZUL
GRALHA AZUL
EDITOR: SÉRGIO AUGUSTO DE MUNHOZ PITAKI - sergiopitaki@gmail.com
O ano de 2018, para mim, foi um ano de desafios literários.
Fiz uma programação que resgatasse a leitura de alguns
clássicos. Escolhi reviver Riobaldo e Diadorim, em João
Guimarães Rosa. Em 2002, o Clube do Livro da Noruega,
entidade que congrega editores noruegueses, incluiu Grande
Sertão: Veredas em sua lista dos cem melhores livros de todos
os tempos - único brasileiro entre 100 escritores de 54 países.
O segundo da minha lista foi “Guerra e Paz”, de Leon
Tosltói. Uma das obras mais volumosas da história da literatura
universal. O livro narra a história da Rússia à época de
Napoleão Bonaparte. A riqueza e realismo de seus detalhes
assim como suas numerosas descrições psicológicas fazem
com que seja considerado um dos maiores livros da História da
Literatura.
O terceiro da lista foi o livro escrito por Salman Rushdie,
editado em 1989. Rushdie de origem indiana, conta a história
de Saladim Chamcha e Gibreel Farishta, indianos
muçulmanos, que sobrevivem à queda de um avião, após uma explosão de uma bomba por
terroristas. Caem no litoral da Inglaterra e começa um drama excepcional. De tirar o fôlego.
Confesso que quando começava a ler, inspirava fundo e só iria respirar novamente quando
fechava o livro. Muitos acontecimentos, metáforas, histórias e as principalmente relacionadas
à religião, ao bem e ao mal e finalmente ao amor.
Nas próximas páginas copiei um comentário da
Wikipedia e os comentários de Andréia Santana, no seu
blog, em 2009.
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Um pouco de literatura:
Os Versos Satânicos
27/03/2009 Andreia Santana
Salman Rushdie, autor de Haroun e o Mar de Histórias, ainda é jurado de morte dos
xiitas. O motivo é o livro Os Versos Satânicos, lançado há mais de dez anos, mas que só
tive acesso na maturidade. A leitura me impressionou, precisei de tempo para digerir. Na
sequência li O Chão que ela pisa, igualmente avassalador. Por ora, falo de Os Versos
Satânicos….
“Para nascer de novo, é preciso morrer primeiro”.
Gibreel Farishta e Saladim Chamcha despencaram 30 mil pés sobre
Londres. A metáfora usada por Salman Rushdie para descrever o
estranhamento desses dois imigrantes indianos na Londres da era Thatcher
pode servir como alegoria para qualquer situação em que o ser humano se sinta
inadequado, estranho, em eterna adaptação.
Os dois homens, hindus muçulmanos (esse é o livro que decretou a
sentença de morte de Salman Rushdie diante dos xiitas) sobrevivem à explosão
de um avião atacado por terroristas. Durante a queda das nuvens, sofrem o que
o autor chama de metamorfose. Gibreel, o arcanjo, é um ator de sucesso, faz
filmes teológicos e já interpretou um sem número de deuses do intrincado
panteão hindu. Saladim, também ator, é um homem atormentado por demônios
interiores, complexo de Édipo mal resolvido, relação tensa com o pai, frustração
na carreira, inadequação com a própria cor da pele escura.
Gibreel, ex-menino pobre das ruas de Bombaim, é a estrela histriônica e
cheia de caprichos, mas que tem tanta luz dentro de si que recebe o perdão
para todos os seus pecados antes mesmo de cometê-los. Essa intensidade o
cega. Ofuscado pelo próprio ego, consumido pela paixão por si mesmo, pela
humanidade, por Alleluia Cone, a alpinista que conquistou o Everest, embarca
nos próprios devaneios, julga-se o mensageiro de Deus, o braço esquerdo da
ira divina, o Arcanjo Gabriel encarnado. Perde o juízo e começa a viver a
fantasia de sua infância, quando a mãe o chamava de “farishta” (anjo).
https://mardehistorias.wordpress.com/author/andreiasantana/
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Saladim, o menino rico de Bombaim, filho de um próspero fabricante
de fertilizantes, rejeita a casa paterna, a cultura de seus pais, do país de
origem. Ele quer ser inglês, falar, vestir-se, ter a cor dos britânicos. Também
vive dentro de um sonho e tarde demais descobre que a velha Inglaterra das
novelas de cavalaria não existe para além do cancioneiro dos poetas.
Contar todas as mirabolantes reviravoltas do destino desses dois homens –
um transmutado em anjo, o outro em demônio, é estragar o prazer, o susto,
a confusão, a necessidade de digerir cada linha de Os Versos Satânicos.
Basta dizer que é uma leitura fundamental para entender o eterno conflito
oriente ocidente.
Para ter o panorama completo que Rushdie deseja traçar não
somente da Índia, mas de como a cultura molda o ser humano, na mesma
medida em que é consolidada por ele, é preciso ir mais fundo no universo
rushdiano e ler também O chão que ela pisa. Os dois livros se completam,
embora tragam personagens e situações diversas. A sensação ao concluir
as duas leituras é de ignorância completa. Senti-me incapaz, logo de cara,
de dizer se entendi o recado. Fiquei confusa, sem saber se Rushdie queria
mesmo dar um recado ou se os dois livros não são apenas a sua catarse, a
sua forma de exorcizar os demônios da herança anglo indiana. Se tudo não
passa da narrativa de um homem em conflito entre oriente e ocidente, mas
que tem senso critico suficiente para olhar os dois mundos sem fazer
concessões, sem piedade. É o melhor e o pior dos dois universos e é tão
próximo da vida de qualquer pessoa, independente de ter nascido em
Bombaim, Londres, ou em Salvador, que é difícil não traçar paralelos. Não
vou dizer como a história acaba ou o que ela revela, porque digestão é algo
muito particular, no ritmo próprio de cada um. Duas pessoas não digerem a
mesma informação de maneira semelhante. Limito-me a dizer que o ciúme é
a ruína do celestial Gibreel e o amor pode redimir o satânico Saladim. No
fim, anjos parecem criaturas atormentadas e demônios, demasiadamente
humanos. Ainda não assisti Slumdog Millionaire, não estou no clima. Mas
duvido que Dany Boyle consiga traçar um panorama tão perfeito da cultura
moderna e desvendar com tanta perfeição o paradoxo ocidente e oriente,
quanto Salman Rushdie.
4. 4GRALHA AZUL - No. 81 - JANEIRO - 2019 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PR
The Satanic Verses (Versos Satânicos BRA ou Os Versículos Satânicos POR) é uma
obra literária do escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie, editada em
1989.
O enredo desenvolve-se na Índia e na Inglaterra e o título refere-se a alguns versos do
Corão, conhecidos por versículos Gharanigh. O livro conta as aventuras de dois
indianos muçulmanos que sobreviveram a um atentado a bomba de separatistas sikh
em um avião. Após a queda, na Inglaterra, um deles, Saladim Chamcha, desenvolve
chifres, cascos e um rabo. O outro, Gibreel Farishta, cria um halo e sonha em
conhecer o profeta Mahound (antigo termo pejorativo para Maomé).
Controvérsia
Na Inglaterra, militantes muçulmanos queimaram o livro. Em vários países foi proibida
a sua edição. A reação mais violenta veio do Irão. Pela crítica em relação ao
Islamismo, o aiatolá Khomeini decretou em 1989 uma sentença de morte (fatwa)
clamando pela morte "do autor do livro Versos Satânicos, que é contra o Islã, o Profeta
e o Qur'an, e todos aqueles envolvidos em sua publicação que estejam cientes de
seu conteúdo". Khomeini, sem ser citado explicitamente, aparece em um dos sonhos
de Gibreel. Líderes religiosos iranianos ofereceram 6 milhões de dólares como
recompensa pelo assassinato de Rushdie.
Em 1991, o tradutor japonês do livro Hitoshi Igarashi foi assassinado na Universidade
de Tsukuba, e acredita-se que o tenha sido em resposta à fatwa. Outros também
sofreram atentados mas sobreviveram, tanto tradutores bem como editores como o
norueguês William Nygaard.
WIKIPEDIA
UM TRECHO DO LIVRO:
“A cidade moderna é o locus clássicos de realidades incompatíveis. Vidas que não têm
nada a ver umas com as outras se misturam, sentadas lado a lado no ônibus. Nas
listras do chão do cruzamento, um universo é atingido por um instante, piscando como
um coelho, pelos faróis de um veículo motorizado dentro do qual se encontra um
continuo inteiramente estranho e contraditório. E contanto que não vá além disso, que
passem na noite, que se acotovelem em estações de metrô, tirando os chapéus em
algum corredor de hotel, não é tão grave…”
Queridos amigos sobramistas, espero que esse primeiro boletim de 2019
tenha sido inspirador. Meu pai sempre me estimulou a ler os clássicos.
Que esse veículo virtual - o GRALHA AZUL, possa influenciar gerações
atuais e não se esquecerem da história, do virtuosismo, da genialidade, da
orginalidade que encontramos na literatura.
Abraços literários