O documento discute os fundamentos da hermenêutica bíblica, abordando: 1) Os problemas da distância temporal, geográfica, cultural e linguística entre os autores bíblicos e os leitores modernos; 2) As diferentes formas de interpretação das Escrituras pelos judeus antigos, incluindo os métodos dos judeus palestinos, alexandrinos e caraítas; 3) A presença do Antigo Testamento no Novo Testamento e os métodos de interpretação de Jesus.
1. Prof. Pr. Weverton Gleison Mendes Costa
E-mail: wevertontheos@hotmail.com
Seminário Teológico das Assembléias de Deus - SETAD
2. O QUE É HERMENÊUTICA?
É UMA CIÊNCIA
É A ARTE DE INTERPRETAR
É a “disciplina que estuda os princípios e as teorias de
como os textos devem ser interpretados. (...) se preocupa
com o atendimento dos papéis e dos relacionamentos
singulares entre o autor, o texto, o público-leitor original e
posterior”.
ETIMOLOGIA: HERMENEUEIN (verbo)
Interpretar / Traduzir
Gr. Hermeios, sacerdote do oráculo de Delfos
Fazia a proclamação e traduzia a mensagem dos deuses
HERMENÊUTICA É UMA CIÊNCIA DENTRO DA EXEGESE
BÍBLICA
3. “A TEOLOGIA É MUTÁVEL, DIVERSIFICADA,
ENQUANTO A FÉ TEM UM CARÁTER ABSOLUTO,
DEFINITIVO”
FÉ - TEOLOGIA IMPLÍCITA
TEOLOGIA – FÉ EXPLÍCITA
A Teologia é a Ciência centrada no TEXTO.
Necessidade de Métodos e Interpretações que trarão
clareza ao texto e farão emergir um significado:
CONTEXTO/ LEITOR
AUTOR ----- TEXTO ---- LEITOR =
HERMENÊUTICA
4. UNIDADE I
FUNDAMENTOS DA HERMENÊUTICA
BÍBLICA
I - O VALOR E A NECESSIDADE DA
HERMENÊUTICA BÍBLICA
1.1 – A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA
• Compreender as múltiplas interpretações das Escrituras
• Interpretar as Escrituras em detrimento de seitas e religiões
• A Bíblia é O Livro por Excelência
• Estudo correto requer caráter e espírito reverente
5. 1.2 – O PROBLEMA DA DISTÂNCIA TEMPORAL
• Lacuna de Tempo: escritores/ ouvintes/ leitores
• Mudanças: costumes/ idioma / cultura
• O que mudou ao longo dos anos?
• Que fatos históricos influenciaram as idéias e características
culturais presentes no tempo do autor?
• Sincronia Bíblica / espaço temporal de 1600 anos
• Cada escritor viveu seu momento histórico diferente
• Período Interbíblico: uma lacuna de 400 anos. Surgiram os
Fariseus, Saduceus, Zelotes, Essênios, etc...
6. 1.3 – O PROBLEMA DA DISTÂNCIA GEOGRÁFICA
Mundo Ocidental -- Mundo Oriental – Mundo Antigo
Oriente Médio, Egito, nações mediterrâneas meridionais da
Europa
A Geografia foi relevante para a Revelação de Deus –
ESCRITA
Revelação de Deus: Jardim, Moriá, Betel, Sinai, Deserto
Mateus 4.18 = o referido mar é também o “LAGO DE
GENESARÉ” , 45 km de profundidade, 24 km de comprimento
por 14 km de largura
7. 1.4 – O PROBLEMA DA DISTÂNCIA CULTURAL
O povo bíblico tinha sua cultura e costumes próprios
Como aquele povo pensa? Em que acreditam? O que diz? O
que faz? O que produz?
CHOQUE CULTURAL: o desconhecido provoca impacto em
virtude do ambiente e hábitos diferentes de um povo
Primordial o Estudos das Culturas e Costumes, vislumbre do
pano-de-fundo dos contextos bíblicos
Sentido original/ literal/ social do significado de certa palavra,
expressão ou hábito
Análise do contexto
8. 1.5 – O PROBLEMA DA DISTÂNCIA LINGUÍSTICA
Fala e Escrita
Originais: grego, hebraico, aramaico. Cada um com sua
particularidade diferente do nosso idioma.
Língua hebraica não continha vogais.
Diferenças linguísticas de região para região no mesmo país
A linguagem bíblica e modos de expressões foram diferentes e
variados. Material de apoio: dicionários etimológico
1 REIS 12. 8 -10
A palavra é um processo vivo e dinâmico em constante
modificação
A TRADUÇÃO será influenciada pelo TEMPO
Antigo Testamento: cosmovisão hebraica
Novo Testamento: cosmovisão helênica = cultura grega/ filosofia/
militarismo romano
9. 1.6 – O PROBLEMA DA DISTÂNCIA LITERÁRIA
Modo de escrita dos tempos bíblicos (simbólicas,
apocalípticas, etc)
Modo de escrita contemporâneo
Provérbios e Parábolas comuns nos tempos bíblicos
Cânticos de Salomão: expressão sensual e não pornográfica
Figuras de Linguagens e Figuras de Retórica
Paralelos de Palavras: “marcas de Jesus”, “de Cristo vos
revestistes”,
Para Paulo “obras” em Romanos e Gálatas significa o oposto à
fé, a saber, as práticas da lei antiga como fundamento para a
salvação. Para Tiago a mesma palavra tem o significado de
obediência e santidade que a verdadeira fé em Cristo produz.
10. II – A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS PELOS
JUDEUS
2.1 – OS PRIMEIROS OUVINTES E LEITORES DAS
ESCRITURAS SAGRADAS
A Família no Aprendizado: gerações futuras/ mandamentos de
Deus
Tradição oral: valores éticos e princípios de festas e memoriais
Interpretação da Torá: preservar a identidade original do povo
Memorial: o Verdadeiro e Único Deus/ Seus feitos/ Misericórdia
dada ao seu povo/ Apologia à Santidade em detrimento da
degradação moral dos povos estrangeiros
11. 2.2 – O RESGATE DA CORRETA INTERPRETAÇÃO DAS
ESCRITURAS NOS DIAS DE ESDRAS
O povo do exílio havia perdido a sua identidade linguística
Influenciados pelo idioma aramaico
Neemias 8.8: a Lei teve que ser traduzida
O Escriba: ensinar e copiar os textos sagrados
Extremismos etimológico: alguns rabinos imaginavam que se
poderia esperar numerosos significados de determinados
textos
Especulações absurdas têm surgido ao longo dos séculos
12. 2.3 – CLASSES DE JUDEUS E SUAS FORMAS DE
INTERPRETAR AS ESCRITURAS
Período do Pós-exílio: ocorreu grande desenvolvimento nas
escolas judaicas de interpretação das Escrituras
JUDEUS PALESTINOS
A Bíblia era a Palavra de Deus. Das Letras às frases eram
inspiradas. Minuciosos e criteriosos nas compilações.
Estimavam mais a Lei do que os Escritos e os Profetas
A Bíblia era a PESHAT, a exposição exegética era a MIDRASH
Os escribas valorizavam mais a Lei Oral do que a Lei Escrita.
Surgiu várias formas errôneas de interpretação
Hillel foi grande rabino expoente desta escola.
Jesus os condena em Marcos 7.13
13. JUDEUS ALEXANDRINOS
Interpretações, de certa forma, determinada pela filosofia
dominante na grande cidade de Alexandria, Egito
Princípio fundamental de Platão: ninguém deve acreditar em
algo que seja indigno de Deus
A alegoria judaica sofreu influência da alegoria grega. Os
escritos de Homero e Hesíodo eram admirados, mas era
reprovado o comportamento imoral dos deuses do panteão
grego
Uso habitual de Antropomorfismos para apaziguar as ações de
divindades. Alegorizavam o AT como defesa dos textos
sagrados perante os gregos
Filo foi o grande expoente desta escola. Para ele o significado
oculto tinha primazia sobre a interpretação literal
14. OS JUDEUS CARAÍTAS
Descendentes espirituais dos Saduceus. Consideravam as
Escrituras como única autoridade em matéria de fé. Caraítas:
filhos da leitura
Desprezavam a Tradição Oral e a Interpretação Rabínica. Sua
exegese como um todo era mais correta que dos judeus
tradicionais
A seita foi fundada por Anan bem David, cerca de 760 d.C.
OS CABALISTAS
Surgiram a partir do Sec. XII.
O Cabalismo: distorção do método de interpretação usado
pelos judeus palestinos, e do método alegórico dos judeus
alexandrinos.
Misticismo exagerado. Toda a Lei em todo o seu escopo havia
sido entregue a Moisés: versos/ palavras/ letras
As letras obteriam um poder sobrenatural nas palavras
15. Caráter Especulativo
Métodos usados: GEMATRIA / NOTARIKON / TEMOORAH
JUDEUS DE QUMRAN
Uso da interpretação PESHER = Explicação. Interpretação
oriunda das práticas midráshicas, mas com significado
escatológico
Diziam ser os detentores de fazer cumprir o significado
profético dos Antigos Profetas
Método: interpretação apocalíptica. Os mistérios ocultos, para
eles, tinham sido revelados
Essênios. Acreditavam ser o remanescente de justos na Terra
17. III – A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS DO
NOVO TESTAMENTO
O Antigo Testamento foi escrito em hebraico e aramaico e teve
como ênfase a relação dos hebreus com Yahweh. Já o Novo
Testamento foi escrito em grego e marcado com um público
misto de judeus e gentios.
3.1 – A PRESENÇA DO ANTIGO TESTAMENTO NO NOVO
TESTAMENTO
Lucas é o único não-judeu entre os escritores do NT.
“aproximadamente 10% do NT constitui-se de citações diretas,
de paráfrases do AT ou de alusões a ele”
Algumas mudanças significativas ocorreram entre o período
veterotestamentário e o neotestamentário
18. TEMPLO
O retorno dos exilados possibilitou a reconstrução, no entanto
o segundo templo não tinha mais o mesmo fulgor do primeiro
As descrições do templo no NT nos fazem perceber um
monumento que causava admiração a todos
Herodes, o Grande: reformador do segundo templo.
Intencionava conquistar popularidade entre os judeus
A força religiosa de Jerusalém era em virtude do templo
A FESTA DOS JUDEUS
Os judeus do NT cultivavam as práticas de festas instituídas
por Deus na época de Moisés
Festas dos Tabernáculos (Jo 7.2); a Páscoa (Lc 22.1);
Pentecostes (At 2.1)
19. O MINISTÉRIO SACERDOTAL
A instituição que foi iniciada no AT continuou no NT, o Sacerdócio
Levítico
Mesmo com traços de corrupção no ministério sacerdotal em
Israel, os sacerdotes ainda desfrutavam de prestígio
Sacrifícios e ofertas, antes, indicadores da preservação da
consciência do favor de YHWH, agora, de caráter mercantilista
A EXPECTATIVA MESSIÂNICA
Os judeus cultivaram ao longo dos anos essa expectativa
O NT e seu ambiente era propício para a manifestação do
Messias
Grupo de judeus sectários aguardavam ansiosos esse Messias
para sua emancipação política através da guerra
20. O Messias veio mais não fora reconhecido politicamente
Todas as características proféticas indicavam para Jesus mas
não souberam discernir em Cristo tudo que se havia anunciado
3.2 – JESUS E O ANTIGO TESTAMENTO
Sua Bíblia foi o AT – Septuaginta. Em diversos momentos, ele
utilizou passagens do AT para corroborar uma afirmação, etc.
Abel (Lc 11.51); Noé (Mt24.37-39); Abraão (Jo 8.56)
Para Jesus a Antiga Aliança era o competente tribunal de
apelação em seus debates com os escribas e fariseus
Eram refutados não por desvalorizarem-na, mas por distorcerem
ensinos claros para sua própria conveniência
21. ALGUMAS CONTROVÉRSIAS SOBRE A INTERPRETAÇÃO
DO ANTIGO TESTAMENTO POR JESUS
Alguns teólogos acham que nãos somos obrigados a ter uma
mesma postura como Jesus teve ao validar os escritos do AT
Para estes teólogos é possível que a interpretação de Jesus
não fosse literal mas uma finalidade ilustrativa
Cremos que o uso de Jesus considerou os fatos históricos
como reais (Mc 12. 18-27)
A perspectiva do AT de Jesus o apontava para uma
continuidade histórica com base na Revelação Progressiva de
Deus
Seriam as expressões atribuídas ao Mestre, na verdade,
pontos de vistas dos autores dos Evangelhos do que
propriamente de Jesus?
22. MÉTODOS DE CRISTO INTERPRETAR O ANTIGO
TESTAMENTO
Período neotestamentário: época de vários
segmentos dentro do Judaísmo
Vários grupos divergiam acerca de diversos
pontos nas Escrituras
Interpretação literal exagerada e a
interpretação alegórica
Cristo usava o método literal, normal do
texto. Sem alegorias, sem superficialidades
e sem profundidades de idéias místicas
Jesus não ensinava baseado nas interpretações rabínicas das
Escrituras, ele ensinava baseado nas Escrituras
Os Escribas e Fariseus jamais conseguiram encontrar em
Jesus interpolações no uso das Escrituras
O rigor da lei: fruto de uma visão extremada
23. 3.3 – OS APÓSTOLOS E O ANTIGO TESTAMENTO
CRISTO: a realização das profecias sobre o Messias: intenção
dos escritores
JESUS, a Revelação do Messias: realce das pregações da Era
Apostólica
OS DISCÍPULOS E A INTERPRETAÇÃO DO ANTIGO
TESTAMENTO
Os Evangelhos que trataram especificamente do ministério
terreno de Cristo, especialmente Mateus, tiveram como
preocupação mostrar que Jesus era o legítimo descendente de
Davi.
A genealogia : mostrar o Herdeiro do trono davídico
A influência de Jesus: os evangelistas entenderam que o
Messias não tinha sua missão em um plano meramente humano
João 1.1. Para eles a encarnação de Cristo inaugurava um novo
tempo na história. O VT foi o anúncio. O NT foi a concretização
24. 1 João 1.1,3: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o
que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as
nossas mãos apalparam, a respeito do Verbo da vida; sim, o
que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que vós
também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é
com o Pai, e com seu Filho JESUS CRISTO”
Sensibilidade espiritual para ler os fatos e associá-los às
profecias do Antigo Testamento. Ex: o dia de Pentecostes e a
profecia de Joel
PAULO E O ANTIGO TESTAMENTO
Tinha profundo conhecimento da teologia judaica, era fariseu
Discípulo de Gamaliel, um rabino da escola de Hillel
Os 12 Apóstolos estavam confinados às fronteiras da
Palestina, inicialmente fazendo do Cristianismo uma espécie
de continuidade do Judaísmo
25. O chamado de Paulo foi para além das fronteiras de Israel
Interpretou o Cristo como o Messias prometido do AT, assim
como compreendeu o caráter universal da salvação
A promessa a Abraão (Gen. 12.2-3) incluía todos aqueles que
cressem (Rm 4.17)
A grande revelação da Nova Aliança é a IGREJA que não
passou a existir acidentalmente, mas surgiu dos planos eternos
de Deus (Efésios 1.4-11)
26. A EPÍSTOLA AOS HEBREUS E O ANTIGO TESTAMENTO
Dentre os livros do NT, certamente nenhum faz alusão ao AT
como esta Epístola
Seu conteúdo concentra-se em interpretar os ritos judaicos, o
Tabernáculo, o sacerdócio levítico. Representavam a Velha
Aliança como figuras que tipificavam a Nova Aliança
A figura de Melquisedeque e o Sacerdócio de Cristo
27. 3.4 – CONTROVÉRSIAS SOBRE A INTERPRETAÇÃO DO
ANTIGO TESTAMENTO PELOS APÓSTOLOS
Há os que afirmam que os escritores do NT parecem usar partes
do VT de forma arbitrária em certos pontos, até mesmo
alterando seu sentido original
Gálatas 3.16
Paulo teria utilizado um método rabínico ilegítimo na tentativa de
provar seu ponto de vista
Parece impossível que uma palavra tenha, simultaneamente dois
significados, um para o singular e outro para o plural
“Descendente” pode ter no singular um sentido coletivo
As promessas são para Abraão e à sua descendência, mas o
cumprimento dessa promessa se realiza em Cristo.
Jesus Cristo é a figura representativa do grupo: judeus e gentios
Judeus – Jesus, o Messias / Gentios – Jesus, o Desejado das
Nações
28. IV – A HERMENÊUTICA BÍBLICA NA HISTÓRIA DA
IGREJA - DA PATRÍSTICA À REFORMA
Por volta do ano 100 d.C., todos os livros das Escrituras
estavam escritos
Os textos já eram usados como regra de fé nas comunidades
Surgiram controvérsias teológicas nos anos posteriores
Necessidade de ratificar os livros do Cânon
A Hermenêutica serviu como parâmetro ao longo da história
eclesiástica
29. 4.1 – PERÍODO PATRÍSTICO
No período dos Pais da Igreja o desenvolvimento dos
princípios hermenêuticos dependiam dos três diferentes
centros da vida da Igreja: Escola de Alexandria-Egito, a Escola
de Antioquia-Síria e a Escola Ocidental
Cada escola de alguma forma contribuiu nessa área
ESCOLA DE ALEXANDRIA
Final do segundo século, a hermenêutica bíblica foi
influenciada especialmente pela escola catequética de
Alexandria
Judaísmo e filosofia grega se encontraram e se influenciam
Pateno, o mais antigo mestre, foi professor de Clemente
30. Principais expoentes foram Clemente de Alexandria e Orígenes
Defendiam que somente a interpretação alegórica contribuía
para um conhecimento oral
Para Clemente somente através de alegorias toda a Escritura
seria devidamente entendida. Seria o verdadeiro conhecimento
Sentido literal – apenas um tipo de fé elementar
Teoria dos cinco sentidos: HISTÓRICO/ DOUTRINAL/
PROFÉTICO/ FILOSÓFICO/ MÍSTICO
Orígenes foi além de seu mestre, em saber e em influência.
Maior teólogo de seu tempo
Toda a Escritura é uma vasta alegoria, cada detalhe simbólico
Os textos bíblicos: triplo sentido – literal/ moral / alegórico
Reflexão: como você alegorizaria a história de Noé?
31. ESCOLA DE ANTIOQUIA
A escola se empenhou na ênfase da interpretação histórico-
gramatical
Devemos buscar e conhecer o sentido original do escritor e
atentar ao significado daquele texto aos primeiros leitores
Faziam uso das línguas originais: hebraico e grego
Os mais ilustres expoentes: Teodoro de Mopsuéstia e João
Crisóstomo
Teodoro questionou a canonicidade de alguns livros sagrados, é
chamado de “príncipe da exegese primitiva”
João Crisóstomo o “boca de ouro” (por causa de sua eloquência),
era arcebispo de Constantinopla e considerado o maior
comentarista dentre os pais da igreja
Os princípios exegéticos da escola de Antioquia lançaram a base
da hermenêutica moderna
32. ESCOLA OCIDENTAL
Características: elementos alegóricos e elementos histórico-
gramatical
Incorporou um outro elemento: a autoridade da Tradição e da
Igreja na interpretação bíblica
Maiores expoentes: Jerônimo e Agostinho de Hipona
Jerônimo foi o tradutor da Vulgata Latina
Seu trabalho: notas linguísticas, históricas e arqueológicas. Foi
grande teólogo na sistematização das doutrinas e não na
interpretação das mesmas
Agostinho enfatizou a necessidade do uso do sentido literal,
mas também usou livremente a interpretação alegórica
Adotou o método de quatro sentidos às Escrituras:
histórico/etiológico/ analógico/alegórico. Rejeitava a eixegese
33. 4.2 – IDADE MÉDIA
O desenvolvimento da hermenêutica bíblica adquirido pelas
escolas anteriores perdeu-se na Idade Média devido à profunda
ignorância bíblica de muitos clérigos
Conhecia-se somente a Vulgata e os escritos dos Pais
A Tradição amarrou a Hermenêutica. Destaque maior à alegoria
No último período medieval, os cabalistas na Europa e na
Palestina continuaram na tradição do misticismo judaico
Destaque para Gregório, o Grande. Considerado o primeiro Papa
da Igreja Católica Romana. Foi defensor da interpretação
alegórica
EX: 3 amigos de Jó – hereges/ 7 filhos – 12 apóstolos/ 7000
ovelhas – pensamentos inocentes/ 3000 camelos – concepções
vãs/ 500 juntas de bois – virtudes/ 500 jumentos – tendências
lascivas
Maior teólogo: Tomás de Aquino. Além do sentido literal,
defendeu o sentido espiritual por Deus ser o Autor de Sua
Palavra
34. 4.3 – A REFORMA (SÉC. XVI)
O Final da Idade Média teve um grande divisor de águas, o
Renascimento, período de profundas transformações na história
Séc. XIV e XV, grande ignorância quanto às Escrituras
(conteúdo)
A Vulgata era lida por idioma limitado e a Renascença chamou a
necessidade de se recorrer aos originais
Reuchlin e Erasmo: publicações sobre gramática hebraica e
crítica do NT grego. Concentrou-se mais na ideia de um único
sentido para interpretação bíblica. Reforma hermenêutica
A Bíblia era a inspirada palavra de Deus. Autoridade final em
todas as questões teológicas
Infalibilidade da Igreja = Infalibilidade das Escrituras
Principal princípio: a Escritura é a intérprete da Escritura
Sua compreensão deve ser de acordo com a analogia da fé
35. MARTINHO LUTERO
Para ele a interpretação da Bíblia é feita através
da fé e iluminada pelo Espírito Santo. Nesse
sentido, as Escrituras devem determinar o que a
Igreja ensina
O método em vigor era o literal e cristocêntrico
do texto. A exegese consistia em considerar a
história, gramática e contexto
A Bíblia e sua compreensão não são exclusividades de um grupo
privilegiado. Todos podem conhecê-la
Ao defender sua interpretação em desacordo com as alegorias
do passado explica que tanto o AT quanto o NT apontam para
Cristo
Fez a distinção entre Lei e Evangelho, sendo errado repudiar a
Lei como fundi-la no Evangelho
36. JOÃO CALVINO
Calvino se destaca como o maior exegeta da
Reforma Protestante
Concordava com Lutero e via a necessidade da
iluminação espiritual
Interpretações alegóricas: “jogos fúteis”,
artimanha satânica
Harmonizou as práticas teológicas com a teoria.
Discordou da ideia luterana de que Cristo pode ser encontrado
em toda parte da Escritura.
Reduziu o número de salmos que poderiam ser considerados
messiânicos
Profecias bíblicas dependiam das circunstâncias históricas para
sua real significação
Suas Institutas contêm 1.755 citações do AT e 3.098 do NT
37. V – A HERMENÊUTICA BÍBLICA NA HISTÓRIA DA
IGREJA – DA PÓS-REFORMA AOS DIAS ATUAIS
A Igreja logo reagiu ao vulto impactante da Reforma Protestante
com a Contra-Reforma surgida no Concílio de Trento
5.1 – PERÍODO PÓS-REFORMA – SÉC. XVII E XVIII
Desafios iriam surgir em face às transformações correntes na
história que afetariam a Hermenêutica
Surgiram grandes nomes: Louis Cappell, primeiro crítico textual
do AT e Johann A. Bengel, conhecido como “o pai da crítica
textual moderna”.
Foi o primeiro a identificar famílias ou grupos de manuscritos,
com base em características comuns
38. CONFESSIONALISMO
Preocupação desse período foi em não se submeter ao domínio
da Tradição e da Igreja, dogmas da Contra-Reforma
Período das Confissões. Cada cidade importante tinha seu
credo preferido
Exegese tornou-se serva da Dogmática. Ia-se à Bíblia para
justificar as verdades incorporadas nas Confissões
O PIETISMO
Reagiram à exegese dogmática. Spener (1635-1705) é o pai do
pietismo
Retorno ao interesse cristão e às boas obras
Melhor conhecimento da Bíblia e melhor preparo espiritual para
os ministros. Interpretação ora histórico-gramatical, ora com
base na “luz interior” ou uma “unção do alto”
39. RACIONALISMO
Posição filosófica que aceita a razão como única autoridade
que determina o que é verdadeiro e falso. Milagres e
afirmações sem explicação racional devem ser rejeitados
Verdades comprovadas na Bíblia somente as que
correspondem à razão humana
A Igreja também enfatiza da razão com ressalvas de que a
Revelação superior era o meio de entender a Verdade
Thomas Hobbes, filósofo inglês: As Escrituras eram apenas um
livro contendo regras e princípios para a república inglesa
Baruch Spinoza: judeu, para ele a razão humana está
desvinculada da teologia. Teologia (revelação) e Filosofia
(razão) são distintas. Contestou os milagres; via a necessidade
de conhecer os idiomas originais; o contexto de cada livro. A
razão é o critério absoluto para quaisquer interpretação bíblica
40. 5.2 – DA HERMENÊUTICA MODERNA AOS DIAS ATUAIS
A partir do Século XIX, a crítica da Bíblia alcançou uma
dimensão jamais vista
A autoria divina em cheque em detrimento da autoria humana e
as circunstâncias históricas da elaboração das Escrituras
A interpretação histórica desconfia do método hermenêutico
Semler: fundador da escola de interpretação histórica. Filho de
pais pietistas. Sobre o Cânon, enfatiza o aspecto humano de
sua origem e da composição da Bíblia
Bíblia e Cânon por terem origem de modo histórico era
historicamente condicionados. Diferentes autores fazem o
conteúdo ser, na maioria, local e passageiro. Sem valor
normativo no tempo e espaço
A razão tornou-se o árbitro da fé. As Escrituras, meras
produções falíveis
41. O Período Histórico-Crítico expressou as teorias que se
destacam: Teoria da Inspiração Natural Humana/ Teoria da
Inspiração Divina Comum/ Teoria da Inspiração Parcial/ Teoria
do Ditado Verbal/ Teoria da Inspiração das Ideias
LIBERALISMO TEOLÓGICO
Liberalismo Teológico é fruto do Racionalismo Filosófico
A Bíblia contém vários graus de inspiração. Os graus inferiores
se relacionam a detalhes históricos (poderiam conter erros)
Alguns teólogos negaram totalmente o caráter sobrenatural da
Bíblia
Shleirmacher: o pai do liberalismo teológico. A inspiração
refere-se à capacidade da Bíblia inspirar a experiência religiosa
Benjamin Jowett: A Bíblia é apenas um livro como qualquer
outro, sem caráter sobrenatural, em nada difere de qualquer
outra produção
As leis naturais da ciência é que ditam as regras. Os milagres
são exemplos de uma mentalidade ultrapassada
42. Darwin e Hegel influenciaram o Liberalismo teológico
A Bíblia passa a ser vista como apenas um registro do
desenvolvimento evolucionista da consciência religiosa de
Israel, e mais tarde da igreja
OS NEO-ORTODOXOS
A neo-ortodoxia é um fenômeno do século XX
Faz uma posição intermediária entre o liberalismo e a ortodoxia
As Escrituras são o testemunho do homem acerca da
revelação que Deus deu de si próprio. A reação à presença
divina com fé é a revelação. Revelação, então, é uma
experiência presente acompanhada de uma reação existencial
da pessoa
A Bíblia não é infalível e nem inerrante. Histórias de ações
sobrenaturais são meros “Mitos” que visam verdades
teológicas
Bultmman formulou a “desmistificação” das Escrituras
43. O FUNDAMENTALISMO
Teólogos e líderes conservadores reagiram fortemente ao
liberalismo teológico. Surgiu o Fundamentalismo que incentiva
uma abordagem literal da Bíblia, como livro sobrenatural que é
A tarefa do intérprete é tentar compreender mais plenamente o
significado intencional dos escritores inspirados por Deus
Muitos estudiosos, contemporâneos e anteriores, têm-se
dedicado a uma concepção ortodoxa da Bíblia, priorizando a
interpretação gramatical e histórica, legados da escola de
Antioquia e da Reforma
44. EXERCÍCIOS PRÁTICOS
1) RESUMO DOS CAP. 1 A 4 DA UNIDADE II. (Entrega dia 16/11)
2) Defina Hermenêutica e o porquê de sua importância para a Igreja hodierna
3) “Porque toda carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra” Gen. 6.12
(ARC). Quais os reais significados das palavras grifadas no texto?
4) “Se alguém vem a mim, e não aborrece a seu pai, e mãe... Não pode ser
meu discípulo” Lucas 14.26. Qual versículo que podemos comparar com o
texto acima, para descobrirmos o real significado do texto grifado? OBS: está
em Mateus
5) Mateus 20.29-32 / Marcos 10.46-49 / Lucas 18. 35-38. Considerando que:
Um escritor menciona dois cegos/ outros mencionam apenas um
Jesus estava entrando em Jericó / Jesus estava saindo de Jericó
Procure a maneira adequada de interpretar o texto, considerando os métodos
de hermenêutica bíblica (figuras de linguagens e paralelismo de texto)
45. UNIDADE II
A HERMENÊUTICA E OS ESTILOS LITERÁRIOS
DA BÍBLIA
I – QUESTÕES HERMENÊUTICAS DA LEI DO
ANTIGO TESTAMENTO
Pentateuco ou “Lei”, pois de Êxodo a Deuteronômio
encontramos os preceitos que YHWH determinou, aos filhos de
Israel, que fossem cumpridos.
Do caráter específico sobre os preceitos de outrora, podemos
dizer que tais princípios se aplicam aos nossos dias?
46. 1.1 – O CRISTÃO E A INTERPRETAÇÃO DA LEI DO AT
A Nova Aliança propõe um novo relacionamento do homem
com Deus
Passagens específicas da Lei Veterotestamentária foram
inseridas no Novo testamento
Validadas todas as Escrituras como divinamente inspirada por
Deus, surgiram questões de interpretação: Como aplicar as
passagens que tratam da Lei do AT à realidade cristã da Nova
Aliança?
A LEI DO ANTIGO TESTAMENTO REPRESENTA UMA
ALIANÇA ENTRE DEUS E ISRAEL
O contexto do AT estabelecia alianças entre o senhor, um
chefe supremo e um vassalo, um servo obediente e fiel ao seu
chefe
Alianças de contratos com direitos e deveres de ambos os
lados
O senhor oferecia benefícios e proteção/ o servo, cabia a
47. Por obediência o servo desfrutaria de cuidado e bondade do
patrão
Por desobediência sofria sanções penais
Elohim (senhor) e Israel (servo) = Levítico 26.3-6
ALGUNS PRECEITOS DA ANTIGA ALIANÇA CLARAMENTE
NÃO SÃO RENOVADOS NA NOVA ALIANÇA
As leis referentes à vida social dos hebreus e as leis
relacionadas à prática religiosa daquele povo
Leis Sobre a Vida Social: apresentam punições por atos de
crimes, grandes e pequenos. Objetivava a convivência e zelo
da ordem social. Não se aplica para os nossos dias
Leis Sobre a Prática Religiosa: informavam Israel como
proceder na prática da adoração, do processo específico
detalhado de cada atribuição sacerdotal aos tipos de animais
para o sacrifício
48. ALGUNS PRECEITOS DA LEI SÃO REAFIRMADOS NA
NOVA ALIANÇA
Estes princípios se referem aos aspectos da lei ética
Deus quer que esses aspectos da Antiga Lei continuem sendo
aplicáveis ao seu povo no sentido pleno. Mateus 22.37-40 /
Deuteronômio 6.5; Levítico 19.18
Outros preceitos éticos tiveram uma nova aplicabilidade com
Jesus, como vemos em Mateus 5.21-48
1.2 – LEIS INCOMUNS AOS NOSSOS DIAS
Tinham o propósito de manter o povo hebreu separado das
más influências dos povos cananeus
49. LEIS DO ALIMENTO
Levítico 11.4-7
Expressavam um cuidado especial divino sério com a saúde
física e espiritual do povo escolhido
Os alimentos proibidos tinham probabilidade de transmitir
doenças do ambiente árido do deserto e Canaã/ a produção
era rara naquele contexto específico
Eram alimentos de sacrifícios pagãos, práticas abomináveis p/
Deus
Na visão do NT, esse cuidado com relação a “comer carne”
deveria ser regido pelo critério do Amor (Rm 14.15,21; I Co
8.13)
LEIS ACERCA DO SACRIFÍCIO
Êxodo 29.10-12
Pecado resulta em castigo
Perante a Lei o pecado não merece viver
Para remover o pecado somente através da Expiação
50. Única forma aceita perante Deus naqueles tempos
Aquele contexto específico eram sombras de uma realidade
futura e perfeita: a pessoa de Jesus e o sacrifício da Cruz
“sem derramamento de sangue não há remissão de pecados”
Hebreus 9.22b). O alvo dessas leis era a morte do Cordeiro de
Deus
LEIS ESPECÍFICAS
Levítico 19.19
Você já se deparou com essas orientações que, a priori, não
fazem nenhum sentido para a nossa realidade?
O ponto X da questão: proibir o povo hebreu de participar das
práticas canaanitas de cultuarem a fertilidade. O povo era
Kadosh
“cozer o cabrito no leite da própria mãe era uma magia de
fertilidade perpétua do rebanho”. A mistura de raças de animais,
sementes ou tecidos, produziria abundantes frutos agrícolas
Leiamos tais textos sempre de olho no seu contexto
51. 1.3 – COMO INTERPRETAR A LEI DO ANTIGO
TESTAMENTO
Atenção à categoria das leis mencionadas, considerando o
contexto histórico de tais preceitos
Leis específicas para o Judaísmo, não se aplicam literalmente à
realidade atual
Preceitos sem aplicação literal à nossa realidade podem conter
uma aplicação de valor espiritual. Com lições importantes para a
vida em geral
Compreender o Pentateuco e Maneiras e Costumes nos Tempos
Bíblicos com o auxílio de livros e enciclopédias específicas
Jamais use textos isolados da realidade histórica, nem busque
aplicação atual para os ouvintes sem considerar o sentido literal
Manter uma interpretação cuidadosa para não causar uma
fundamentação errônea, equivocada, alegórica e herética
52. II – A HERMENÊUTICA DAS NARRATIVAS DO
ANTIGO TESTAMENTO
As histórias bíblicas compreendem boa parte das Escrituras.
40% só no AT. No NT temos algumas porções nos Evangelhos
e nos Atos dos Apóstolos
Temos que ter algumas considerações quanto à sua
interpretação hermenêutica: pergunte ao texto COMO?
AONDE? QUANDO? PORQUÊ/PARA QUÊ?
Analisemos Marcos 10.46-52
Desenvolva uma estrutura coerente e adequada usando as
perguntas chaves da interpretação
53. AONDE? Jericó
QUANDO isso aconteceu? Ministério de Jesus
COMO que isso aconteceu? Alguém clamou em meio à uma
grande multidão e Jesus ouviu. (tema enfatizado – Clamor)
PORQUE isso aconteceu? Para mostrar que só Jesus tem o
poder
PARA QUÊ isso aconteceu? Para mostrar ao homem que por
onde Jesus passar não se deve perder as Oportunidades para
mudar de vida
ANALISEM LUCAS 7.11-17; 15.11-24
54. 2.1 – AS NARRATIVAS BÍBLICAS SÃO FATOS REAIS
Suas narrações são situações reais que envolveram pessoas,
tempo e lugar
É a história de Deus e de seu povo. Não há lugar para
“estórias”
Sua veracidade é autenticada por outros autores conceituados,
histórias de outros autores e achados arqueológicos
Como divulgadoras das verdades, as ações dos personagens
bíblicos não são omitidas, mesmo as escandalosas e
reprováveis. O pecado está lá contido para ser exposto, pois
nada se esconde de Deus
2.2 – EXISTEM TRÊS DIMENSÕES NAS NARRATIVAS
BÍBLICAS
Elas não são fatos isolados. Toda sequência histórica se
relaciona entre si
55. A DIMENSÃO SUPERIOR
Compreende os fatos de envolvimento universal: o Deus da
Humanidade/ a Criação do mundo/ a universalidade do
pecado/ juízos universais de Deus/ a promessa Messiânica
A mensagem bíblica é de relevância universal. Profecias para
outras nações gentílicas revelando o interesse e o domínio de
Deus sobre todos os povos
A desobediência da ordem no Éden teve implicações
universais, afetando a relação de Deus com o homem
A dimensão superior das narrativas bíblicas é o caminho
traçado por YHWH para a chegada do salvador do mundo
56. A DIMENSÃO INTERMEDIÁRIA
Envolve a chamada de Abraão. A Aliança de Deus para com o
homem
No Plano Superior, pela encarnação do Unigênito, Deus
planejou salvar a humanidade; e no Plano Intermediário,
escolheu Israel para o nascimento do Salvador
A família hebréia revela-nos seus dramas, principais
personagens, e os ancestrais diretos na linhagem Messiânica.
A DIMESÃO INFERIOR
A narrativa individual é parte da intermediária da história
israelita, que faz parte do plano universal de Elohim: da
Criação à Redenção
Revela-nos os detalhes da vida dos personagens das
narrativas bíblicas.
Conhecer essa hierarquia das narrativas nos ajuda a evitar
riscos de fragmentarmos o texto, concluindo-o isoladamente
sem o sentido mais amplo
57. Sem conhecimento dessas hierarquias dificilmente o leitor
entenderia os textos das narrativas de Josué acerca da tomada
da Terra Prometida. O que justificaria a invasão do hebreus às
terras dos cananeus e a forma de sua destruição?
As narrativas de Sansão, que após ficar cego e sem forças,
orou ao Senhor para se vingar dos seus inimigos. Foi atendido,
suicidou-se, matou os filisteus em plena festa pagã
Essas narrativas tornam-se compreensíveis ao considerarmos
as dimensões maiores que compreendem as narrativas
individuais
2.3 – AS NARRATIVAS BÍBLICAS NÃO SÃO HISTÓRIAS
CHEIAS DE SIGNIFICADOS OCULTOS
Nem sempre as formas de Deus operar ao longo da história
serão plenamente compreensíveis a todos nós
58. As narrativas não nos dão todas as respostas, mas apenas
uma parte do quadro geral das ações divinas na história
(significados obscuros não nos pertencem)
Tentar achar significados ocultos nas entrelinhas poderá levar
alguém a acrescentar coisas que não estão na história. (Ex:
numerologia)
“Deus simplesmente não nos contou na Bíblia como fez tudo
quanto fez” (Fee e Stuart, 1984, p.67). Vejamos Isaías 64.4; II
Co 12.2-4
2.4 – AS NARRATIVAS NEM SEMPRE ENSINAM DE
FORMA DIRETA
Frequentemente ilustram aquilo que é ensinado em outros
trechos. Um ensino implícito que se encaixam no ensino
explícito das Escrituras. Isto é eficaz em produzir o
aprendizado espiritual
Ex: Davi e Bate-Seba (II Samuel 11). Adulterar e assassinar
foram atos errados do rei Davi, mas estão explícitos em Êxodo
59. III – A HERMENÊUTICA DA LITERATURA POÉTICA
E DOS PROFETAS
Observaremos a hermenêutica da literatura poética e das
profecias no Antigo Testamento
3.1 – A LITERATURA POÉTICA
O poema era utilizado nas culturas orientais como meio de
preservar a história dos povos. Em Israel, a poesia era
apreciada como meio de aprendizagem
A composição dos poemas se dava por meio de um ritmo,
chamado métrica, e de uma estrutura, chamada paralelismo.
Deus se utilizou desse estilo para falar ao seu povo, numa
época em que ler e escrever eram habilidades raras.
Memorizar e relembrar coisas compostas em poesia era fácil
para os judeus
60. A POESIA HEBRAICA CONTÉM PARALELISMO
Os poemas eram palavras inspiradas por Deus através do
coração do poeta.
A natureza da poesia hebraica sempre envolve paralelismo, e
uma das formas de expressão é o paralelismo sinonímico (em
que a segunda linha repete ou reforça a ideia da primeira linha).
Expressam a intenção do poeta.
Salmo 114.1: “Quando Israel saiu do Egito, / e a casa de Jacó de
um povo bárbaro”
Paralelismo antitético (ideia da primeira linha é apresentada na
segunda, pela evocação da ideia contrária, oposta)
Salmo 30.5: “Pois a tua ira dura só um momento/ Mas no seu
favor está a vida / o choro pode dura uma noite / mas a alegria
vem pela manhã
61. A LITERATURA POÉTICA É COMPOSTA DE POEMAS
MUSICAIS
Um poema musical tem a intenção de apelar às emoções mais
do que escritos narrativos, ou uma seção da Lei.
Os Salmos são poemas musicais. Não se esqueça, os Salmos
não são um sistema de doutrinas. Mesmo abordando questões
de forma musical e poética não se pode interpretar
racionalmente tomando de forma literal os termos usados
Salmo 18.6-8. Davi entoa esse cântico ao Senhor pela vitória
sobre seus inimigos e utiliza termos da poesia para relatar como
se deu a intervenção divina
O VOCABULÁRIO DA LITERATURA POÉTICA É EM GRANDE
PARTE METAFÓRICO
Devemos atentar para as metáforas e buscar sua verdadeira
intenção
Salmo 114.4 “os montes saltam como carneiros” – mostram uma
forma de louvar ao Senhor pelos milagres que ocorreram no
62. Deus: pastor/ fortaleza/ escudo / rocha/. Deve-se buscar sua
compreensão e o seu significado
É necessário não forçar as metáforas, nem entendê-las
literalmente
Uma incapacidade de apreciar a linguagem simbólica e de
traduzir as noções mais abstratas da literatura poética pode
levar a pessoa a aplicar erroneamente essas figuras de
linguagem
3.2 – INTERPRETANDO OS TEXTOS PROFÉTICOS
Os livros proféticos compõem a maioria entre as categorias
existentes na Bíblia. São quatro Profetas Maiores e doze
Profetas Menores. Tratam-se dos textos mais difíceis de serem
interpretados ou lidos com entendimento. A causa disso diz
respeito à falta de clareza quanto à sua função e forma
63. AS PROFECIAS NÃO ERAM SOMENTE PREDIÇÕES DE UM
FUTURO DISTANTE
Na maioria dos dicionários, profecia significa “prenúncio ou
predição daquilo que está por vir”. Assim, muitos leem textos
proféticos atentando sempre para o fim dos tempos, como se a
predição de eventos muitos distantes dos seus próprios dias
fosse a principal preocupação dos Profetas
Os profetas eram pessoas que acompanhavam diariamente a
realidade do povo. Suas mensagens eram de: exortações,
denúncias contra o sistema corrupto instaurado, consolo ao povo
sofrido, anunciavam o futuro (usualmente, o futuro imediato de
Israel, Judá e nações circunvizinhas)
Os tempos que para eles ainda eram futuros, para nós são
passados
Materiais de apoio nos ajudam a interpretação no contexto
Dimensão maior, contexto em que o Profeta viveu;
Dimensão específica, contexto de uma única profecia
64. O CONTEXTO GERAL DAS PROFECIAS
Os dezesseis livros proféticos do AT provêm de um período
relativamente pequeno em relação a todo panorama histórico de
Israel (760 – 460 a.C)
Concentra-se um registro profético de três séculos entre Amós e
Malaquias. Foi um período dado ao povo para que observasse a
Aliança. Essa era uma tarefa do Profeta
Contexto: transtornos políticos/ militares / econômicos e sociais
sem precedentes / infidelidade e desrespeito fora do comum
para o a aliança mosaica / mudança das populações e das
fronteiras nacionais
760 a.C. Israel era uma nação dividida entre Reino do Norte e
65. Reino do Sul: centro religioso = Jerusalém / capital: Jerusalém
Reino do Norte: centro religioso = Betel / capital: Samaria. O
pecado crescia desenfreadamente. Destruído pelos assírios
como predisse Amós e Oséias
O Sul foi advertido por Isaías, Jeremias, Joel, Miquéias, Naum,
Habacuque e Sofonias. Não se arrependeu, por isso foi
destruído pelos babilônios
Profetas do pós-exílio: Ezequiel, Daniel, Ageu, Zacarias e
Malaquias
VEJAMOS O MAPA DA PALESTINA
66.
67. O CONTEXTO ESPECÍFICO DAS PROFECIAS
Deus usou os profetas num determinado lugar, tempo e
circunstancias específicas
Um conhecimento da data, do público e da situação contribui
substancialmente para a capacidade do leitor compreender o
texto profético
EX: Oséias 5.8-10. data é 734 a.C. e o público são os judeus do
Norte. A mensagem era dirigida a certas cidades no caminho da
capital de Judá, Jerusalém, para o centro do falso culto israelita,
Betel. A situação é de guerra. Judá se aliou à Assíria e contra-
atacou o Norte, por este com a Síria ter invadido Judá.
68. Oséias anuncia o castigo tanto para cidades do Norte como para
do Sul (v.8). A destruição será certa (v.9). Deus castigará por
esse ato de guerra e idolatria
Conhecer esses fatos da profecia de Oséias 5.8-10 ajudou a
compreender o texto. Nem sempre esta tarefa é fácil
Nem todos os textos proféticos nos levarão ao tempo em que
eles foram proferidos
Em Ageu e nos primeiros capítulos de Zacarias, cada profecia
tem sua data. É necessário o intérprete ter o auxílio de um
Manual Bíblico
AS FORMAS LITERÁRIAS DA MENSAGEM PROFÉTICA
A Bíblia é composta de vários estilos literários. Os Profetas
tinham um modo peculiar de transmitir suas mensagens. Eles se
utilizaram de termos usuais da sua época a fim de tornar claro o
oráculo de Deus ao povo
69. Termos jurídicos: Deus = um juiz num processo jurídico contra o
réu, Israel (Isaías 3.13-26). Veja o cenário de um processo
jurídico
O tribunal é convocado e o processo é instaurado (vv. 13-14). A
acusação: (vv. 15-16). Pelas provas, o réu é culpado, sai o
veredicto da condenação.
Essa alegoria é um modo dramático de comunicar a Israel o seu
pecado e o castigo como consequência
“Ai”: palavra que os israelitas exclamavam quando enfrentavam
a desgraça ou a morte, ou quando lamentavam num enterro.
Nenhum israelita deixaria de perceber a relevância do emprego
daquela palavra (Habacuque)
Promessas: onde houver profecias acerca do futuro, se verá
mudanças radicais, e haverá a menção de bênçãos. O futuro:
era comum o termo “naquele dia”. Mudanças radicais:
enfatizavam a restauração do trono de Davi. Bênçãos: o retorno
do Exílio, incluindo a vida, saúde, prosperidade, abundância
agrícola, respeito e segurança (Joel)
70. IV – INTERPRETANDO OS EVANGELHOS
Todo intérprete deve atentar para alguns detalhes: primeiro, os
escritores escreveram acerca do ministério de Jesus vivendo
em um contexto judaico, no entanto, fortemente influenciado
pelos gregos e romanos. Segundo, mesmo escrevendo sobre
basicamente o mesmo assunto, percebe-se algumas
diferenças de detalhes que não passam despercebidos ao
leitor
Propósito: narrar os fatos acerca de Jesus com o objetivo de
mostrar ser ele o Messias prometido de Deus, o Cristo
(Ungido)
Tinham um público em mente que deveria ser alcançado com
seus escritos.
O intérprete tem a árdua tarefa de captar o máximo possível
da intenção dos autores, bem como o entendimento dos
leitores das primeiras cópias dos seus escritos
71. 4.1 – AS CARATERÍSTICAS DOS EVANGELHOS
Os escritores tiveram características particulares que podem
claramente ser percebidas nos termos utilizados e no
destinatário dos seus escritos
Mateus: vida e ministério de Jesus mostram ser ele o Messias,
o Cristo, herdeiro do trono de Davi. (Mt 1.1). Ele usa o termo
“reino de Deus”, “reino dos céus” para enfatizar a realeza do
Messias. Para atingir seus leitores ele cita frequentemente
instituições judaicas
Marcos: o primeiro a ser escrito. Cristo é o “Servo” a fim de
encorajar os irmãos romanos em meio as perseguições. (Mc
8.34). Uso de termos que indicam ação, uso próprio do
militarismo romano
Lucas: autor não-judeu. Grego erudito. Cristo é o “Homem
Perfeito”. Alvo eram os gregos. Lucas dá detalhes minuciosos
dos últimos dias de Cristo, de sua morte e ressurreição que os
demais não deram, por ser médico e especialista em observar
traços
72. João: Cristo é o “Filho de Deus”. É o mais teológico de todos
os Evangelhos. A intenção primordial de João é enfatizar a
Divindade de Cristo. As primeiras palavras destacam o papel
do Unigênito de Deus na criação do mundo e na execução do
plano redentor.
o uso do termo “Eu Sou” nas afirmações de Cristo; relato de
vários milagres, são provas suficientes de que Jesus era, de
fato, o Deus Encarnado.
Propósito joanino: João 20.30-31
4.2 – FIGURAS DE LINGUAGEM NOS EVANGELHOS
Nos Evangelhos, por diversas vezes os escritores
transcreveram as palavras de Cristo. Frequentemente, Jesus
ensinava por parábolas, mas ele utilizou diversas formas de
ensino.
73. Ex: Mateus 5.29-30
O propósito de Jesus era de ensinar seus seguidores a tirar
das suas vidas aquilo que os induzia ao pecado
Estejamos atentos para as figuras de linguagens e não vamos
interpretá-las literalmente. Esteja munido de um dicionário
bíblico, etc.
4.3 – ESTUDANDO PARALELAMENTE OS
EVANGELHOS
Nenhum evangelista pretendeu que seu Evangelho fosse lido
paralelamente com os demais
É de suma importância vermos os textos dos Evangelhos de
forma horizontal. Pois a existência de quatro livros que narram
o mesmo assunto, significa que não devem ser lidos totalmente
isolados
Os textos paralelos nos fornecem uma percepção dos
aspectos que distinguem cada Evangelho, características
similares e fontes de consulta dos autores
74. Apresentam auto grau de semelhança verbal Mateus, Marcos e
Lucas
Jesus falava em aramaico, e a escrita foi em grego, sendo livre
a ordem das palavras nas compilações
Concordância: Mateus com marcos 59% / Mateus com Lucas
44% / Lucas com Marcos 40%
Marcos escreveu primeiro seu Evangelho. Tornou-se fonte de
pesquisa para Lucas e Mateus. Usaram outras fontes acerca
da vida de Jesus
As histórias em comum raramente são apresentadas na
mesma ordem nos dois Evangelhos. Talvez nenhum deles teve
acesso aos escritos do outro.
Observemos alguns detalhes semelhantes na tabela do
próximo tópico:
75. Mateus 24.15-16 Marcos 13.14 Lucas 21.20-21
Quando, pois, virdes Quando, pois, virdes Quando, porém, virdes
Jerusalém sitiada de
exércitos, sabei que está
próximo a sua
O abominável da
desolação de que falou o
profeta Daniel
O abominável da
desolação
Devastação
No lugar santo Situado onde não se
deve estar
(quem lê, entenda), (quem lê, entenda),
Então, os que estiverem
na Judéia fujam para os
montes
Então, os que estiverem
na Judéia fujam para os
montes
Então, os que estiverem
na Judéia fujam para os
montes;
• Tais palavras acima foram pronunciadas no Sermão Profético,
exatamente na mesma sequência em todos os três Evangelhos.
Marcos queria uma reflexão de seus leitores a cerca do que Jesus
queria dizer “o abominável da desolação situado onde não deve
estar”. Mateus, pelo Espirito Santo, tornou as palavras mais
explícitas: “o abominável da desolação de que falou o profeta
Daniel”, e “onde não de seve estar” era “no lugar santo”. Lucas,
tendo leitores gentios, relatou da seguinte maneira: “Quando, porém,
virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua
devastação”.
76. 4.4 – AS NARRATIVAS NOS EVANGELHOS
Alguns eruditos destacam o aspecto histórico dos Evangelhos.
Na verdade, as narrativas tendem a funcionar de várias
maneiras no entendimento dos evangelistas.
As histórias dos milagres: o alvo não são as lições de moral, ou
para servir de precedentes; funcionam como ilustrações vitais do
poder de Cristo instaurado no Reino.
Mesmo ilustrando a fé, o medo ou fracasso de modo indireto,
essa não é a sua função primária.
A história de Mc 10.35-45, está inserida num contexto de ensino
em que a própria história serve como ilustração daquilo que está
sendo ensinado. Isto não significa que todo seguidor deve
vender todas as suas posses. A lição é outra, é difícil se
desprender dos bens materiais quando estes são muitos na
posse de um ser humano
Veja o contexto dos “perdidos e achados” de Lucas 15
77. V – A HERMENÊUTICA DAS EPÍSTOLAS
A carta era um meio de comunicação usual nos primeiros
séculos.
Geralmente composta de seis partes: o nome do escritor, o
destinatário, a saudação, oração – um desejo ou ações de
graças, o corpo e a saudação final.
A Igreja Cristã utilizou esse recurso para circular orientações da
parte dos apóstolos.
Nota: tipo de literatura muito comum no império romano. A
carta é mais curta em seu conteúdo e tem um caráter
pessoal. A epístola consiste de variedade de temas,
abordados de maneira sistemática, na forma de uma
circular dirigida a várias comunidades. A Epístola aos
Gálatas, por exemplo, é dirigida às igrejas da Galácia.
Entretanto, a prática de algumas igrejas de usarem
coletivamente cartas menores dirigidas a indivíduos (a
carta de Paulo a Filemom, lida e conservada pela igreja de
78. 5.1 – AS EPÍSTOLAS COMO RESPOSTAS AOS
DESAFIOS DA IGREJA PRIMITIVA
A mensagem epistolar foi dirigida par atender a um problema
específico que a igreja primitiva enfrentava
Foram uma resposta doutrinária e apologética aos desafios de
fé dos primeiros cristãos
Foram escritas tanto no contexto do autor quanto dos
receptores originais. Documentos ocasionais
As Epístolas respondem o que perguntas ocultas indagavam ou
necessitavam ser corrigidas
79. 5.2 – O CONTEXTO HISTÓRICO DAS EPÍSTOLAS
Cabe ao intérprete buscar informações adicionais quanto a
igreja destinatária da carta, a cidade, os desafios e o momento
histórico.
Necessidade de dicionário bíblico, manual bíblico e comentários
Todas foram escritas no Primeiro Século. Domínio do Império
Romano
Haviam muitas cidades altamente idólatras (Éfeso e Corinto)
fluxo intenso de pessoas. As religiões pagãs usava da
exploração comercial
Quanto mais a igreja crescia, mais desafiador tornava-se o
ensino da verdade
80. 5.3 – MÉTODOS DE ESTUDOS DAS EPÍSTOLAS
Ler a carta inteira, buscando uma visão panorâmica
Fazer anotações com referências dos pontos principais da
carta
Exemplo da Exegese:
O que pode ser percebido acerca do destinatário, de
quem se trata, seus problemas, suas atitudes, etc.
As atitudes do escritor
Quaisquer informações mencionadas quanto à ocasião
específica da carta
As divisões lógicas da carta
I Coríntios:
Os crentes de Corinto são principalmente gentios,
embora haja também judeus (6.9-11); gostam muito do
conhecimento (1.18-2.5); são sectaristas, orgulhosos e
arrogantes (4.18) até ao ponto de julgar Paulo (4.1-5).
Eles têm grandes problemas internos,
A atitude de Paulo diante da igreja de Corinto foi de
repreensão (4.8-21), apelo (16.10-11) e exortação
81. 5.4 – A QUESTÃO DA RELATIVIDADE CULTURAL NAS
EPÍSTOLAS
Os termos utilizados (culturais ou de orientações específicas)
podem ter um caráter exclusivo ao contexto vivido pelo escritor
e seu destinatário original
Use o bom senso ao distinguir as situações
Epístolas: documentos ocasionais do Séc. I, condicionados pela
linguagem e cultura desse período, que falavam para as
situações vivenciadas naquela época
Há situações específicas e restritas e com inválidas aplicações
pessoais para os nossos dias
A doutrina teológica é universal: “todos pecamos” e “pela graça
somos salvos”. Isto é, ainda é válido para nossos dias e o futuro
Como as respostas aos problemas do séc. I falam aos cristãos
do séc. XXI? Busque o significado original do texto para os
primeiros ouvintes. Analise o princípio espiritual que é o cerne
do que se escreveu.
82. Cuidados: quanto à relativização cultural dos ensinos sagrados.
Ex1: o âmago central da Bíblia: o pecado levou à queda toda a
humanidade, pela graça de Deus, o Unigênito encarnou-se e
consumou a obra redentora por intermédio da sua expiação e
ressurreição.
Ex2: o que é inerentemente moral e tem testemunho de toda a
Escritura. Pecados: idolatria, embriaguez, homossexualismo,
furto, avareza, etc. são sempre errados em quaisquer cultura.
O que não é inerentemente moral: o ósculo santo, mulheres
usando véu quando oram ou profetizam, celibato, ensino por
mulheres dentro da igreja. Todavia, torna-se assim, quando o
seu uso ou abuso em determinados contextos envolve
desobediência e falta de amor
83. UNIDADE III
SEGUINDO REGRAS NA INTERPRETAÇÃO
BÍBLICA
I – A RESPONSABILIDADE DO INTÉRPRETE DAS
ESCRITURAS
O intérprete deve ser cônscio de que ele está lidando com o Livro
que determina o destino dos seres humanos
Disciplina espiritual: devemos colocar em prática o que lemos e
aprendemos
Espírito humilde, trato com a Palavra em reverência e respeito,
reconhecendo Seu Autor. Buscar o máximo esforço no estudo
diligente de interpretar corretamente a “revelação de Deus”
84. 1.1 – O AUXÍLIO DO ESPÍRITO SANTO AO INTÉRPRETE
DAS ESCRITURAS
“a mente carnal tende à inimizade contra Deus” (Rm 8.7)
A ação do Espírito Santo sobre a mente do intérprete das
Escrituras é o fator mais importante a ser considerado
O homem necessita da iluminação espiritual para compreender
a intenção de Deus expressa na sua Palavra (I Co 2.14)
Compreender não significa entender com o intelecto, e sim por
experiência
A experiência é fruto da regeneração pelo Espírito Santo
Apatia e arrogância são obstáculos para o entendimento
espiritual
2 Pedro 1.21. O Espírito Santo é o autor das verdades eternas
João 16.13. O Espírito Santo é quem nos guia em toda a
Verdade
O Espírito Santo conduz o cristão através do estudo
sistemático da Bíblia à verdade de Deus, não por vislumbre
intuitivo e repentino sobre o sentido do texto (outra revelação
85. 1.2 – CUIDADOS NECESSÁRIOS QUANTO À
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
O homem é inclinado ao erro, torna-se resistente àquilo que é
correto. Torna-se incapaz de julgar o que é certo e errado
Interpretação correta das Escrituras: ferramenta para a
pregação e para a apologia
Cuidado de não aceitar tudo o que se lê e se ouve
ingenuamente sem avaliar o conteúdo e a fonte. Devemos ouvir,
analisar e avaliar
Há pessoas de mentes cauterizadas já pelos falsos ensinos
A verdade ensinada pode desconstruir paradigmas
estabelecidos erroneamente ao longo do tempo. A Bíblia é o
critério de nosso julgamento entre certo e errado
Quem estuda a Palavra deve estar ciente do confrontamento de
seus posicionamentos ideológicos a fim de aprender a real
verdade do texto
86. 1.3 – O INTÉRPRETE E A LEITURA DIÁRIA DAS
ESCRITURAS
A leitura bíblica casual e superficial pelo
intérprete não o fará absorver as instruções
e profundas lições contidas na Palavra
Perseverança e paciência se requer para
extrair as riquezas espirituais contidas nas
Escrituras Sagradas (At 17.11)
Leia toda a Bíblia a fim de obter dela um
maior entendimento
O NT é mais fácil interpretá-lo do que outros livros do AT, assim
como os Evangelhos em relação as Cartas Paulinas (que
trazem ensinos doutrinários mais complexos)
Não se pode ensinar o que não se estuda e não se sabe
compreender corretamente
O devocional torna-se imprescindível. Isto é, leitura diária
permanente por parte de quem ensina.
87. 1.4 – O INTÉRPRETE E A EXPOSIÇÃO DAS SAGRADAS
ESCRITURAS
Deve ser prudente no sentido de restringir sua interpretação e
aplicação ao que o texto realmente fala. Sem esse cuidado,
pode-se provocar sérias distorções doutrinárias, e por
conseguinte, pessoas aprendendo erros como verdades
incontestáveis
A Bíblia é simples e de fácil compreensão, necessitando apenas
de explicações mais detalhadas em textos vagos ou polêmicos
Cabe ao intérprete alicerçar seus ouvintes sobre os sólidos
princípios das Escrituras (Neemias 8, exemplo de Esdras)
Estudos e pregações: esteja atento na escolha dos tópicos e
trechos bíblicos. Partir de pontos de fácil entendimento
Textos proféticos são polêmicos e oferecem várias dificuldades
para uma clara interpretação
Os ensinos bíblicos devocionais são compreensíveis (Jo 3.36). O
texto deixa claro a revelação de Deus por intermédio de Jesus
Cristo
88. II – FATORES DETERMINANTES SOBRE A
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
O exercício de interpretar a Bíblia corretamente deve ser
submetido a regras necessárias que facilitam o caminho do
leitor.
2.1 – CUIDADO QUANTO AO USO DAS APLICAÇÕES
A interpretação começa com a compreensão do sentido real do
texto, o que ele de fato quer dizer
Em seguida, tendo o texto em mãos, perguntar como essa
passagem bíblica foi aplicada aos primeiros leitores? (aplicação
primária)
Como esse texto se aplica à minha vida? (aplicação
secundária)
Existe um sentido profético e escatológico nesse texto?
(aplicação profética)
89. APLICAÇÃO PRIMÁRIA
É o significado histórico dos textos sagrados e se restringe ao
momento da história em que o escritor escreveu o texto
Ex: A Tanach foi escrita para o povo judeu. Contém todo o
código de instruções para a vida civil, moral, social e religiosa da
nação judia
A expressão “fala aos filhos de Israel” é encontrada em mais de
20 vezes somente em Levítico (instruções divinas para Moisés
falar ao povo no seu modus vivendi)
O VT se refere a nação israelita: atividades, desafios históricos,
limitações geográficas e religiosidade
O NT: a pessoa de Jesus é o centro, instruindo as multidões,
anunciando a chegada do Reino de Deus aos judeus e a todos
que aceitassem sua mensagem
Os Apóstolos deram continuidade a esses ensinamentos
As Cartas às igrejas da Ásia e Apocalipse revelam as possíveis
características de cada cidade mencionada em sua realidade
histórica
90. APLICAÇÃO SECUNDÁRIA
O conteúdo das Escrituras Sagradas abrange todas as épocas
(Salmos 119.89; Is. 40.8)
Esta aplicação alude a todos os períodos da história desde
quando as Escrituras foram escritas
Pecados de rebelião dos hebreus, idolatria, atos imorais
humanos abomináveis para Deus como depravação, homicídios,
guerras, promiscuidade são fortemente combatidos no AT e no
NT
Em nosso tempos tais práticas continuam sendo pecado e
abomináveis
Os princípios sagrados devem ser aplicados à nossa realidade
Gênesis já revelava explicitamente o caráter santo de Deus
Em Êxodo o povo é chamado para viver em santidade. Isso não
se limita a um período da história
Legalismo como obras necessárias à salvação foram
combatidas por Paulo em Gálatas. Ainda hoje há pessoas e
igrejas que creem assim
91. APLICAÇÃO PROFÉTICA
Aplicação primária = sentido histórico do texto
Aplicação secundária = significado do texto para a vida atual
Aplicação profética = se refere à realidade futura
Poderá haver as três aplicações em um só texto bíblico, em
certas situações
Há passagens do AT que indicam o seu cumprimento no NT.
Porém vão além dos escritos neotestamentários
Ex: a promessa de Joel do derramar do Espírito Santo se
cumpriu em At 2.1-18. Profecia dada 8 séculos antes do
Pentecostes. Ainda hoje cumpre-se essa promessa ao longo
da história
Mateus 24 abrange a três aplicações. O sermão profético
apontava para a destruição de Jerusalém no ano 70, o
Arrebatamento da Igreja e ainda relata o fim e a Parousia após
a Grande Tribulação
92. 2.2 – A REGRA FUNDAMENTAL DA
HERMENÊUTICA E SUA APLICAÇÃO
A principal regra é simples e prática, no entanto, fundamental
para a correta interpretação da Palavra de Deus: A Bíblia é sua
própria intérprete
OS PERIGOS DA FALTA DE USO DA REGRA
FUNDAMENTAL
A falta de conhecimento ou integridade por parte dos “falsos
mestres” ao ensinarem a Palavra fora do sentido geral da
própria Palavra, induzem muitos ouvintes ao erro.
Não se pode dar explicações pessoais aos textos sagrados,
haja vista que, tem que se observar que a própria Palavra
fornece guias para a sua reta interpretação. Quando isso não
acontece criam-se falsas seitas e diversas religiões com falsos
ensinos: Mormonismo, Só Jesus Testemunhas de Jeová,
Ciência Cristã, Espiritismo, Universalismo, etc
93. OS BENEFÍCIOS DO USO DA REGRA FUNDAMENTAL
Quem compreende que a Bíblia se explica por si mesma terá
mais possibilidade de descobrir qual o verdadeiro significado
dos textos sagrados
Nenhuma doutrina bíblica é construída sobre um só versículo
apenas. Deve-se considerar outros textos que falem do mesmo
tema antes de tomar uma posição doutrinária
O desejo de Deus é que nós conheçamos e entendamos sua
Palavra, seus desígnios e planos. O desejo do Espírito Santo é
nos guiar na verdade e nos conduzir ao verdadeiro
entendimento da Palavra de Deus
É um dever apresentar os ensinos da Bíblia na sua integridade
e verdade, não torcendo ou ajustando ao pensamento pessoal
94. III – A PRIMEIRA E A SEGUNDA REGRA FORMAL
DA HERMENÊUTICA E SUA APLICAÇÃO
A hermenêutica propões cinco regras simples e práticas para a
correta interpretação da Bíblia Sagrada.
3.1 – A PRIMEIRA REGRA FORMAL E SUA
APLICAÇÃO
“Enquanto for possível, devemos tomar as palavras e trechos
bíblicos no seu sentido comum e popular”.
Leva em consideração que a maioria dos escritores da Bíblia
escreveu para pessoas simples que tinham atividades comuns
diariamente
Sentido comum e popular ≠ sentido literal
Expressões idiomáticas que interpretadas literalmente perdem
o seu sentido original
95. EMPREGANDO A PRIMEIRA REGRA EM ALGUMAS
REFERÊNCIAS BÍBLICAS
Gn. 6.12: “Porque toda carne havia corrompido o seu
caminho...”. Qual o significado desse texto? Aqui, tomado do
sentido comum e repetido várias vezes na Bíblia, entendemos
“carne” como “pessoas”, “seres humanos” / “caminho” como
“comportamento”, “maneira de viver”, veja agora em Isaías
53.6; Rm 3.12
Ez 3.1: Deus ordena ao profeta “comer o rolo de um livro”, e o
profeta afirma que “comeu”. No v.10 é explicado o termo
quando o profeta deveria “receber em seu coração todas as
palavras do Senhor”
Nota-se que as palavras são consideradas ao mesmo tempo
um modo de falar popularmente e também um hebraísmo, ou
seja, uma expressão idiomática comum aos israelitas
96. CUIDADO QUANTO AO USO DA PRIMEIRA REGRA
Uma observação necessária é o termo formal “sempre que
possível”. Nem sempre as palavras poderão ser tomadas no
seu sentido comum e popular
A palavra “comer” em Ezequiel 3, é uma expressão idiomática,
mas em Lc 24.43, a palavra “comer” sem dúvida, nesse texto é
literal. Em Nm 16.32, a expressão “a terra abriu a sua boca e
devorou...” trata-se de um texto figurado, com significado
simbólico
I Co 15.31: Paulo declara “dia após dia eu morro”. Tal
expressão não pode ser literal. É uma expressão em
linguagem figurada: “eu não vivo mais para o mundo e seus
prazeres. Somente vivo pela fé em Cristo”. Compare Rm 7.8-
13; Gl 2.19,20
Embora a primeira regra elucide alguns textos, ela não pode
ser utilizada aleatoriamente
97. 3.2 – A SEGUNDA REGRA FORMAL E SUA
APLICAÇÃO
“Sempre se deve tomar as palavras bíblicas no sentido
indicado pelo conjunto da frase”
Há palavras nas Escrituras cuja definição variam de acordo
com o conjunto da frase (texto no contexto / sentido e
significado)
EMPREGANDO A SEGUNDA REGRA EM ALGUMAS
REFERÊNCIAS BÍBLICAS
Entendemos a palavra “salvação” imediatamente à Obra
Redentora no Calvário, que nos trouxe perdão dos pecados.
Todavia, essa mesma palavra no grego tem vários significados:
libertação, livramento, preservação, tirado do perigo, escape
de castigo, liberdade temporal, a revelação do Evangelho, etc.
Vejamos o termo em outras passagens bíblicas: At 7.25 (ARA):
salvação = liberdade temporal / Rm 13.11: salvação = vinda de
98. As Escrituras articulam três aspectos da salvação: a pessoa é
perdoada dos seus pecados e regenerada pelo Espírito Santo
no ato da conversão (Tt3.5-6; I Jo 1.9); o pecador é salvo do
castigo eterno
Segundo aspecto: acontece após a conversão e a
transformação de vida. O salvo torna-se livre do poder do
pecado, através do domínio do Espírito Santo sobre ele (Rm
6.14). Mesmo se vier a pecar, sua atitude é buscar o perdão
imediato e o restabelecimento da comunhão com Cristo
Terceiro aspecto: escatológico. Aponta para o futuro da igreja,
quando definitivamente seremos salvos da presença do
pecado. Algo que se dará no momento do Arrebatamento (Rm
13.11; I Co 15.51-54)
CUIDADO QUANTO AO USO DA SEGUNDA REGRA
FORMAL
O intérprete atento deve observar criteriosamente palavras-
chaves no texto. Essas palavras dão sentido ao pensamento
99. Uma vez encontrados os termos enfáticos no texto, devemos
atentar para o conjunto da frase e perceber o verdadeiro
sentido das palavras-chaves
“graça”, palavra frequentemente enfatizada no NT. Tem vários
sentidos.
Ef 2.8: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto
não vem de vós, é dom de Deus”. O termo grifado, pelo
conjunto da frase, significa “pelo favor imerecido de Deus
somos salvos”. (I Jo 1.16)
Ester 2.9: “graça” significa “privilégios”; Colossenses 3.15:
“graça” significa “agradecimento”. (Mt 11.25); Atos 4.33: “graça”
significa “fraternidade de amor”; Atos 13.43: “graça” significa
“os ensinos do Evangelho”; Romanos 5.20: “graça” significa
“perdão”
“debaixo da lei” e “debaixo da graça”: estar “debaixo da lei” era
estar sob domínio da lei veterotestamentária, código de leis
que deveriam ser observados, e estar “debaixo da graça” é
estar sob o domínio de Cristo e se apropriar do seu sacrifício
como meio suficiente para a salvação. (ambos se referem a
100. IV – A TERCEIRA E A QUARTA REGRA FORMAL DA
HERMENÊUTICA E SUA APLICAÇÃO
4.1 – A TERCEIRA REGRA FORMAL E SUA
APLICAÇÃO
“Sempre se deve consultar o contexto, isto é, os versículos ou
capítulos que procedem e seguem o trecho em questão”
É necessário consultar os versículos ou até mesmo os capítulos
que antecedem e precedem o texto-chave
Regra do bom senso
EMPREGANDO A TERCEIRA REGRA EM ALGUMAS
PASSAGENS BÍBLICAS
Mt 13.3-8: Parábola do Semeador. A linguagem é clara e parece
permitir várias interpretações. Os vv. 18 a 23 explicam a mesma
101. “Em verdade vos digo que alguns dos que aqui se encontram,
de maneira nenhuma provarão a morte até que vejam o Filho
do Homem no seu reino”. (Mt 16.28; Mc 9.1; Lc 9.27) O que
Jesus queria dizer com tais palavras? Sabemos que todos os
discípulos morreram
A explicação está nos versículos seguintes (Mt 17.1,2; Mc 9.2;
Lc 9.28). Três apóstolos viram o Jesus Glorificado conversando
com Moisés e Elias na transfiguração diante deles. O contexto
esclarece e explica a declaração de Cristo
A que “mistério de Cristo” Paulo estava se referindo em Efésios
3.4? No versículo anterior ele declara: “foi me dado a conhecer
o mistério”. O contexto esclarece, mais adiante nos versículos 5
e 6 (Rm 16.25,26)
Há muitas passagens alegóricas que contêm sua própria
explicação no contexto. João 6.31-35: ensino sobre o pão,
acerca do maná, alimento dos filhos de Israel no deserto.
Porque abordara esse assunto? Porque a multidão havia
participado do milagre da multiplicação dos pães e peixes.
Jesus aproveitou para ensinar sobre o verdadeiro pão que
102. CUIDADO QUANTO AO USO DA TERCEIRA REGRA
FORMAL
Existem alguns cuidados (detalhes) necessários a se observar
nessa regra
Primeiro: algumas passagens bíblicas contêm parênteses que
dão uma explicação ao assunto. Às vezes, colocados em textos
longos e que nem sempre são perceptíveis em toda a Bíblia.
Efésios 3, o parêntese vai do v.2 até o último vv, somente
retorna ao assunto no início do cap. 4. outros ex: Ef 2.14-18;
Rm 2.13-16
Segundo: refere-se a um cap. ou vv que começa com uma
conjunção, como mas, porque, porém, pois, assim, sendo que,
portanto, entretanto, por esta razão, a fim de, de sorte que,
visto que, etc. ou indica que a próxima declaração depende de
alguma forma do assunto anterior. Deve-se consultar a
passagem bíblica que a precede e a antecede para a devida
interpretação
Terceiro: certos cap. Da Bíblia estão unidos sem
103. 4.2 – A QUARTA REGRA FORMAL E SUA
APLICAÇÃO
“Sempre levar em consideração o desígnio ou objetivo de livros
ou passagens bíblicas que apresentam expressões ou
ensinamentos obscuros de difícil entendimento”
Quando uma declaração, ou ensino na Bíblia Sagrada,
apresenta certa dificuldade na compreensão, podemos
encontrar sua interpretação considerando o objetivo geral e a
finalidade daquele livro ou texto: o autor, época e contexto
histórico, destinatário (quem escreveu? Em que época
escreveu? Sob quais circunstâncias? Para quem escreveu?)
104. EMPREGANDO A QUARTA REGRA EM ALGUMAS
PASSAGENS BÍBLICAS
Uma das dificuldades dessa regra é descobrir o desígnio e
propósito de um livro da Bíblia
Algumas passagens indicam o propósito do livro: II Tm 3.16,17;
Jo 20.31; I Co 10.1-11 e I Jo 2.12-14
O intérprete deve atentar para o estudo minucioso de um livro
sagrado visando discernir o propósito deste e para compreender
e explicar passagens obscuras na sua interpretação
A questão de João 8. A mulher pega em adultério. Os
acusadores queriam a aplicação da Tanach, todavia, o vers. 6
revela o verdadeiro motivo obscuro dos fariseus. Jesus utilizou o
episódio para revelar a hipocrisia religiosa e a pecaminosidade
dos acusadores
A questão de Lucas 10.25-37. A parábola do Samaritano. O
objetivo da parábola era revelar a resposta da indagação: “quem
é o meu próximo?”
105. UTILIZANDO A QUARTA REGRA PARA ENTENDER OS
ESCRITOS DE PAULO E TIAGO
Parece haver certa contradição entre Romanos, Gálatas e Tiago
(dirigida aos judeus cristãos da diáspora). Importante: Tiago redigiu
a carta primeiro que Paulo e sob circunstâncias totalmente diferente
Epístola aos Romanos: Paulo nunca visitou Roma. As informações
dessa igreja eram oriundas de notícias. Era uma igreja de gentios e
judeus, daí haver certa polêmica doutrinária (observância da Lei do
Sinai) entre os cristãos. Paulo expôs o assunto tanto pela ótica
judaica como pela ótica gentílica. A salvação não é pela guarda da
Lei, mas pela Obra expiatória de Cristo
Igreja da Galácia: Paulo ensinou-os enfatizando a liberdade cristã.
Os judaizantes foram o problema. Ao saber sobre os desvios
doutrinários, Paulo redigiu sua epístola para adverti-los dos perigos
dos falsos ensinos
Romanos e Gálatas: é a fé que justifica o cristão e não as obras.
Tiago: cristãos foram além da sua liberdade em Cristo, esqueceram
de produzir boas obras, não pela Lei Mosaica, mas pelo fato de
serem seguidor de Cristo e de seus ensinos. Nossas boas obras
106. V – A QUINTA REGRA FORMAL E SUA APLICAÇÃO
“Sempre se deve consultar passagens paralelas”
Uma doutrina bíblica, para ser estabelecida, deve ser apoiada
pela repetição segura em outros textos das Sagradas Escrituras
Seu valor e necessidade: disciplina o hermeneuta a comparar
textos e o ajuda a esclarecer passagens obscuras
Esta regra se divide em três partes: paralelas de palavras,
paralelas de ideias e paralelas de ensinos gerais
5.1 – PARALELAS DE PALAVRAS
Certas palavras e frases apresentarão nas Escrituras Sagradas
certa dificuldade de compreensão. Suas interpretações estarão
na própria Bíblia, através de outros textos que contêm
declaração ou palavras semelhantes
107. EMPREGANDO PARALELAS DE PALAVRAS EM ALGUNS
TEXTOS
Mateus 7.7: “Pedi, e dar-se-vos-á...” uns entendem que num
estalar de dedos tudo que alguém pedir alcançará. Seria um
cheque em branco da parte de Deus para qualquer pessoa. Mas
em Marcos 11.24, Jesus ensina que se tem que “pedir com fé” e
necessita haver duas condições básicas: “a pessoa estar em
Jesus e a Sua Palavra estar na pessoa”
A conjunção “se” revela uma condição exigida por Deus para
que alguém possa reivindicar alguma promessa. Tg 4.3 diz que
poderemos pedir e não receber. Que motivos nos impulsionam a
pedir? Egoísmo?
I João 5.14: a vontade de Deus é que prevalecerá
Gálatas 3.37: “porque todos quantos fostes batizados em Cristo
já vos revestistes de Cristo”. Rm 13.12; devemos nos revestir
das armas da luz; Col 3.8-10,12-14, devemos nos despojar do
velho homem e suas concupiscências para revestir-nos do novo
homem em Cristo Jesus. I Pe 3.3, ser revestido de Cristo é o
108. CUIDADOS QUANTO AO USO DE PARALELAS DE
PALAVRAS
Esta regra auxilia o intérprete a compreender diversos textos
que necessitam de esclarecimentos. A concordância bíblica é
indispensável
Analise os termos e perceba se têm o mesmo sentido em
passagens diferentes. Por motivo de tradução, alguns
vocábulos, não têm mesmo significado quando utilizados em
outros textos. Será preciso dispor da terceira regra
“Arrepender”: NT. 34 vezes como verbo = arrepender / 23 vezes
como substantivo = arrependimento. Em sua maioria quer dizer
uma mudança de mente e comportamento do pecador para
com Deus. No AT aparece 35 vezes, significando uma mudança
no trato de Deus para com os homens; segundo Seu justo
julgamento (I Sm 15.11,35; Jn 3.9,10). O termo, às vezes,
revelará o Deus que não se desviará do Seu propósito (I Sm
15.29; Sl 110.4; Jr 4.28). Apenas em cinco ocasiões no AT
refere-se ao arrependimento humano
109. 5.2 – PARALELAS DE IDEIAS
Havendo dificuldade a compreensão de um texto bíblico deve-se
consultar outros textos que abordem o mesmo assunto
Algumas terminologias serão metafóricas: “a corrida cristã”, “o
jugo de Cristo”, “armadura espiritual”, etc
EMPREGANDO PARALELAS DE IDEIAS EM ALGUNS
TEXTOS BÍBLICOS
Hebreus 13.8: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e
eternamente”. Isto se refere à imutabilidade de Cristo. Sob que
circunstâncias ele não muda? Aqui não se trata de
circunstâncias humanas, mas que Jesus continua o mesmo em
essência e nesse aspecto jamais houve mudança. Cristo é
Deus, a Segunda Pessoa da Triunidade com todos os atributos
divinos
110. Mateus 16.18: alguns entendem que é sobre Pedro que Cristo
está edificando a sua Igreja. Todavia, outras passagens
paralelas que tratam do mesmo assunto mostram claramente
que é sobre o próprio Cristo que a sua Igreja está edificada. Em
I Co 3.11: só há um fundamento, que é Cristo. I Pe 2.7: Cristo é
a pedra de esquina
CUIDADOS QUANTO AO USO DE PASSAGENS
PARALELAS DE IDEIAS
Para certificar-se de que as passagens paralelas das mesmas
ideias tratam de um assunto comum, deve-se utilizar a terceira
regra e consultar o contexto.
O sábado foi uma obrigatoriedade da lei mosaica. No NT Jesus
provou que os líderes judaicos tinham distorcido o sentido do
sábado, por isso tentavam matá-lo (Jo 5.17,18). Paulo
esclarece que pela Nova Aliança o sábado não é mais uma
questão obrigatória (Col 2.16)
111. 5.3 - PARALELAS DE ENSINOS GERAIS
Em determinadas passagens bíblicas, uma interpretação clara
das Escrituras exigirá consultar o ensino geral de toda a Bíblia
sobre o assunto
Todas as doutrinas fundamentais das Escrituras são claramente
ensinadas nas Escrituras: a existência de Deus, a Divindade de
Cristo, a Trindade, a Salvação, o Pecado, a existência de Anjos,
Demônios, céu, etc
Surgem as heresias a partir da incompreensão desses ensinos,
ou por conta da linguagem bíblica ou por intenção consciente
de distorcer a verdade
O equívoco de João 1.1 e Colossenses 1.15, das Testemunhas
de Jeová que asseveram que cristo era apenas uma criatura de
Deus
a Divindade de Cristo e afirmada por todos os escritores do NT,
assim como, as narrativas do ministério terreno de Jesus
112. UNIDADE IV
A LINGUAGEM BÍBLICA E AS FIGURAS DE
RETÓRICA
I - IMPORTANTES OBSERVAÇÕES SOBRE A
LINGUAGEM BÍBLICA
Na interpretação das Escrituras, o cuidado devido com a
linguagem bíblica nunca pode ser ignorado. não nos é
permitido, em hipótese alguma, modificar, alterar ou tirar a força
e impacto dos termos bíblicos. Temos de buscar o sentido exato
da terminologia bíblica e evitar inserir pensamentos pessoais
113. 1.1 - O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS
Em sua maioria, as palavras que sobrevivem por longe tempo
numa língua adquirem muitas denotações e conotações. Fora
os seus significados literais, muitas vezes as palavras têm uma
variedade de denotações vulgares. isto é, o uso comum nas
conversações do cotidiano
Ex: “O muro está acabado” = o muro está concluído, completo.
Ex: “José está acabado” = José está envelhecido, esgotado e
abatido
Denotações vulgares e ou técnicas: “há uma onda de
coqueluche na cidade” = empregado com termo médico. “a
coqueluche da cidade é andar de calças jeans desbotada” =
linguagem vulgar
O vocábulo “verde”: significa literalmente uma cor. Mas
metaforicamente ou conotativamente, poderá significar uma
fruta ainda imadura; uma pessoa imatura e inexperiente.
Sentido literal = sentido neutro / sentido metafórico = sentido
pejorativo
114. 1.2 – CONHECENDO OS SENTIDOS DAS PALAVRAS
NA BÍBLIA SAGRADA
Literal: (ao pé da letra), figurativo (simbólico), popular
(comum/usual)
As regras 2 e 3 dirão qual sentido uma palavra ou termo serão
classificados ou aplicados
Ex: Mt 27.40 e Mt 16.24: “Cruz”: uso literal como um suplício aos
criminosos condenados e também como uso figurativo da
crucificação do nosso “eu”, da nossa vontade e d renúncia de
nós mesmos em detrimento da primazia de Jesus em nossas
vidas (Lc 14.27). Em Fp 3.18 a “...cruz de Cristo” refere-se aos
seguidores de Jesus. Os falsos seguidores de Cristo, são de
fato, inimigos de Jesus e da sua igreja
Compare e classifique as palavras das colunas baseando-se
nas ref.
Comer Ez 3.2,3 Lc 24.43 Nm 16.32
Templo Jo 2.19 I Co 6.19 II Co 5.1
Trevas Ef 5.8 Mt 27.45 Lc 1.79
Dormir I Ts 4.15 Mt 8.24 Sl 44.23
115. É muito importante saber se o vocábulo está no sentido literal ou
figurativo
Por não haver entendimento adequado em algumas
declarações de Jesus acerca da instituição da Ceia, ao partir o
pão “isto é o meu corpo”, gerou fonte de divisão na Reforma
A linguagem figurativa da Bíblia se deriva especialmente dos
aspectos físicos da Terra Santa, das instituições religiosas de
Israel, da história do povo hebreu e da sua vida cotidiana e de
vários povos que ocupam lugar de destaque na Bíblia
Ex: Salmo 51.7: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro”.
Revela aqui um método de purificação cerimonial entre os
judeus
1.3 – A INTERPRETAÇÃO DE EXPRESSÕES
HEBRAICAS
Em grande parte as Escrituras foram elaboradas no ambiente
cultural dos hebreus. Vê-se pela linguagem e o modo de
expressar alguns pensamentos. Alguns termos serão
116. TEXTOS BÍBLICOS COM EXPRESSÕES HEBRAICAS
Figuras de linguagens nunca se emprega no sentido literal em
se tratando de hebraísmo, mas no figurativo ou comum ao povo
hebreu
Ex: Lc 14.26: “aborrecer aos pais”, parece contradizer o sentido
literal bíblico (Mt 15.4; Mc 7.10). Como hebraísmo, a expressão
“aborrecer” indica o contraste do sentimento que a pessoa deve
nutrir pelos seus parentes e o sentimento por Jesus. O
hebraísmo explicado: Mt 10.37
Ex: Mt 26.8: “os discípulos se indignaram” pela perda do
unguento. Por João sabemos que foi um deles, Judas, que sem
dúvida expressou o pensamento dos demais
Uso frequente do nome dos pais para designar seus
descendentes. Salmos 14.7. A menção do nome “Jacó” é
representativa, este já havia morrido. O salmista queria dizer “a
nação de Israel”
Pessoas sendo chamadas por mais de um nome. O contexto
identificará a que pessoa o escritor se refere (Natanael e
117. OS NOMES DE LUGARES NO MODO DE EXPRESSÃO DOS
HEBREUS
Quando o leitor estuda a Geografia Bíblica, nota que várias
localidades são mencionados nas Escrituras com mais de um
nome Através do hebraísmo, o povo hebreu tem preservado sua
cultura, que inclui expressões idiomáticas que continuam em
uso nos tempos atuais
Sinai = Horebe (nomes do mesmo monte)
Etiópia. No passado foi Abissínia; para os hebreus era o país de
Cuxe
Mar da Galiléia = Mar de Tiberíades, Lago de Genesaré (Mc
1.16; Jo 6.1, Lc 5.1). Outrora chamado de Mar de Quinerete
(Nm 34.11)
Mar Morto = Mar da Planície, Mar Salgado, e às vezes, Mar do
Leste
Mar Mediterrâneo = Mar dos Filisteus, Mar Grande (Ez 47.15;
48.28; Dn 7.2). Em Dt 11.24 é o Mar Ocidental
Nação de Israel: Terra Santa, Terra de Israel, Canaã, Palestina,
118. 1.4 – A INTERPRETAÇÃO DE EXPRESSÕES
GREGAS
A Bíblia contém também expressões comuns aos gregos. Essas
duas culturas destacam-se e justificam-se pela grande influência
que exerceram no AT e NT
A diferença de linguagem é em parte pelos escritores e pelos
intérpretes. A Antiga Aliança: lida e interpretada por judeus. A
Nova Aliança: alcance imediato dos gentios. Daí ser utilizável
termos próprios do pensamento helênico, para tornar o
Evangelho compreensível a todas as pessoas da época
Col 2.14: uma analogia entendida pelos leitores originais. Um
fato comum aos gregos gentios: Quando uma pessoa contraía
uma dívida no mercado ou centro comercial na época, ao pagar,
o credor não somente riscava o documento da dívida com tinta
vermelha, como também enviava o documento riscado para ser
cravado na porta da pessoa que pagou. Essa era uma indicação
de sua honestidade
Jesus cancelou a dívida que era contra nós, riscou-a e cravou-a
119. II – OS SÍMBOLOS E AS TIPOLOGIAS NA BÍBLIA
SAGRADA
Os escritores bíblicos influenciados pelo modo de expressão da
sua época utilizaram diversas formas de comunicar as verdades
eternas de Deus. Duas formas: Simbolismo bíblico:
representações figurativas de eventos, pessoas ou objetos.
Tipologia: instituições, eventos, pessoas, cerimônias ou eventos
que representam uma realidade futura designada por Deus.
2.1 – O USO DOS SÍMBOLOS NA BÍBLIA SAGRADA
As passagens bíblicas que utilizam símbolos mostram
claramente que não podem ter uma aplicação literal, e sim
somente figurativa. Essa distinção é fundamental para uma
interpretação correta da Bíblia
Objetos, eventos, nomes e países que são simbólicos numa
passagem bíblica nem sempre são simbólicos em outras. Em
Daniel 1.1 a Babilônia aqui é literal; mas a Babilônia de
120. Deve-se aceitar como símbolo somente elementos que mostram
claramente a impossibilidade de ser reais ou literais
2.2 – NOMES SIMBÓLICOS NA BÍBLIA
Alguns nomes bíblicos são associados a características e
comportamentos daquela pessoa ou lugar. Ex: “traição” a
“Judas”. “dúvida” a “Tomé”. Tais associações não são bíblicas
nem simbólicas em se tratando da hermenêutica
Nomes simbólicos na Bíblia geralmente se dão por meio de
características ou atribuições da pessoa, lugar ou objeto. Ex:
Egito, país do Norte da África (Gn. 41.46); a Bíblia o cita como
símbolo de idolatria e de um mundo ímpio (Os 9.3)
A Bíblia e seus símbolos: Lâmpada, Espelho, Lavatório, Pão,
Leite, Carne, Mel, Fogo, Martelo, Espada, Semente, Luz (Sl
119.105; Tg 1.23; Ef 5.26; Is 55.10; Hb 5.12; I Co 3.2; Ez 3.3; Jr
23.29; Ef 6.17; Lc 8.11; Sl 119.130
121. Considere os seguintes nomes e sua classificação em diferentes
textos bíblicos:
SIMBÓLICO LITERAL OU COMUM
Abelha – reis da Assíria (Is 7.18) Abelha (Jz 14.8)
Árvore – um reinado (Jz 9.8) Árvore (Gn. 1.12; Sl
1.3)
Arca – Cristo (1 Pe 3.20-22) Arca (Gn. 6.14)
Balança – o peso que Deus usa (Dn 5.27) Balança (Lv 19.35)
Bosque – governo idólatra (Ez 20.46,47) Bosque (1 Sm 22.5)
Braço – força e poder (Sl 10.15) Braço (Mc 9.36)
Cadeia – a escravidão da condenação eterna (2 Pe
2.4)
Cadeia (At 16.26)
Cálice – beber a ira de Deus (Is 51.17) Cálice (1 Co 11.25)
Cães – vigias, pastores negligentes (Is 56.10,11) Cães (Lc 16.21)
O Cedro – o reinado da Assíria (Ez 31.3) Cedro (Sl 104.16)
O Leopardo – inimigo cruel e terrível Leopardo (Jr 13.23)
122. 2.3 – A TIPOLOGIA BÍBLICA
Tipologia é o estudo ou ciência dos tipos
Tipo: trata de uma relação preordenada que certa pessoas,
eventos e instituições têm com outras pessoas, eventos e
instituições correspondentes, que ocorrem numa época
posterior na história da salvação.
Tipos são elementos reais que apontam uma realidade futura
chamada antítipo. O antítipo sempre será superior ao tipo
A tipologia baseia-se na suposição de que há um padrão na
obra de Deus através da história da salvação. Deus prefigurou
sua obra redentora no AT e cumpriu-a no NT
A Epístola aos Hebreus: nos mostra a revelação progressiva e o
significado espiritual das instituições do Velho Testamento que
apontavam para a Nova Aliança
Tipo = realidade do Antigo Testamento
Antítipo = cumprimento dessa realidade no Novo Testamento
123. CUIDADOS NECESSÁRIOS QUANTO AO USO DOS TIPOS
NA BÍBLIA
Primeiro: o antítipo é mais forte, superior que o tipo. O tipo é
apenas a sombra de uma realidade encontrada no antítipo,
portanto, imperfeito e inferior.
Segundo: o tipo é sempre algo terrestre, enquanto que seu
antítipo pode ser terrestre ou celeste (Hb 9.24)
Terceiro: o tipo é profético, pois sempre anuncia algo futuro (Rm
5.14)
Os tipos se assemelham aos símbolos e podem até ser
considerados uma espécie particular de símbolo. Há duas
diferenças entre tipo e símbolo: os símbolos representam algo
sem a necessidade de serem semelhantes ao aspecto, já os
tipos se assemelham com uma ou mais formas, às coisas que
prefiguram. A outra diferença é que os tipos apontam para o
futuro, ao passo que os símbolos podem não fazê-lo
Tipologia é diferente de alegorismo
Tipologia = busca de vínculos entre os eventos históricos
124. Não há muitos tipos na Bíblia como alguns podem imaginar
Três características fundamentais dos tipos: primeiro, deve
haver um ponto evidente de semelhança e analogia entre o tipo
e o seu antítipo.
Segundo, deve haver evidência de que a coisa tipificada
representa o tipo que Deus indicou
Terceiro, o tipo deve prefigurar alguma coisa futura
Os tipos não são bases para as doutrinas fundamentais da fé
cristã
ALGUNS EXEMPLOS DE TIPOS A BÍBLIA
Grande parte da tipologia bíblica encontra-se no Antigo
Testamento: o tabernáculo, o sacerdócio, os sacrifícios, são
temas explicados no NT em Hebreus
Em João podemos encontrar vários tipos de Cristo: cordeiro de
Deus (1.29); Templo (2.19-21); serpente de bronze levantada no
deserto (3.14); a água da vida (4.14); o maná descido do céu
(6.35); a rocha da água da vida (7.37,38); o pastor de ovelhas
125. Alguns tipos e seus significados
PESSOA
S
Enoque – tipo dos santos que serão arrebatados por Cristo
Eliezer – tipo do Espírito Santo que conduz a noiva de Cristo
ao encontro do noivo
Faraó - tipo do inimigo do povo de Deus que escraviza e
causa sofrimento
Rute – tipo do crente que deixa tudo para seguir a Cristo
EVENTO
S
O levantamento da serpente no deserto - tipifica Jesus
sendo levantado na cruz para a cura das nações
O sacrifício de Abraão – tipifica Deus oferecendo seu Filho
Unigênito
A noite de páscoa – significa que os crentes são guardados
na morte pelo sangue de Cristo
PAÍSES Egito – tipifica o mundo de escravidão e falso refúgio
Babilônia – tipifica o poder do mal, da apostasia, do orgulho,
da corrupção que busca dominar o mundo
ANIMAIS Cordeiro – tipo de Cristo
Ovelha – tipo de crente que segue o Bom Pastor, Jesus Cristo
Raposa – tipo de pessoa astuta
126. III – O USO DE PROVÉRBIOS E PARÁBOLAS NA
BÍBLIA
Provérbios são mais frequentes no Antigo Testamento
Parábolas são mais frequentes no Novo Testamento
3.1 – OS PROVÉRBIOS E SUA APLICAÇÃO NA
BÍBLIA SAGRADA
Provérbios são expressões concisas acerca da vida no geral.
Um dos maiores problemas da religião é a falta de relação
prática da crença com a vida diária. Os provérbios demonstram
a verdadeira religião em termos práticos
É possível a separação da vida religiosa das ações do dia a dia
OS PROVÉRBIOS NO ANTIGO TESTAMENTO
Estão redigidos em sua maior parte em forma poética,
consistentes em dois paralelismos, na maioria sinonímicos,
127. Provérbios: variedades de provérbios, enigmas e ditos obscuros
Foco de Provérbios: aspecto moral da Torá
Focos específicos: sabedoria, moralidade, castidade, controle
da língua, associações interpessoais, indolência e justiça
Seu propósito: Pv 1.2-6
Existe essa relação intrínseca dos provérbios com o
entendimento e um modo de vida correto. Baseia-se no
compromisso ético-moral de atentar aos valores eternos de
Deus, reconhecendo sua soberana Vontade
Os provérbios se tornam assim meios intensamente práticos,
significativos, e que inspiram m andar íntimo com Deus
OS PROVÉRBIOS NO NOVO TESTAMENTO
Jesus e também os Apóstolos utilizaram ditos comuns à sua
época para refutar ideias e ensinar princípios do Evangelho. O
uso de provérbios tinha o intuito de tornar clara a mensagem
que os escritores intencionavam transmitir
128. Ex: “Médico, cura-te a ti mesmo” (Lc 4.23), esse deve ter sido
um dito comum em Nazaré. Referia-se a médicos atacados de
enfermidades físicas, os quais tratavam de curá-las a outros. A
incredulidade dos nazarenos empregou esse provérbio contra
Jesus, mas o Mestre antecipadamente responde às indagações
destes com outro provérbio; “Nenhum profeta é bem recebido
em sua própria terra”.
Ex: “O cão voltou ao seu próprio vômito e a porca lavada volto a
revolver-se no lamaçal” (II Pe 2.22). O Apóstolo referia-se aos
mestres apóstatas e reincidentes, que estavam prejudicando a
fé dos membros da igreja
CUIDADOS QUANTO À INTERPRETAÇÃO DOS
PROVÉRBIOS
Os provérbios não devem ser estendidos para além do seu
sentido específico, intencionado pelos escritor. A falta de
cuidado com a forma de ser objetiva e direta dos provérbios,
inevitavelmente leva o intérprete a aplicá-los inadequadamente
129. Provérbios 31.14: o rei Lemuel comparou a mulher como um
“navio mercante”. Não se refere a aspectos físicos, mas à
semelhança do navio mercante, a mulher vai a vários lugares
em busca de alimento para as necessidades da família
Os provérbios servem para transmitir um único pensamento ou
comparação que o autor tinha em mente (Virkler,1998, loc.cit.)
Muitos provérbios bíblicos estão baseados em fatos e costumes
que se perderam ao longo do tempo
Os provérbios podem ser divididos em classes ou categorias:
símiles, metáforas, parábolas ou alegorias
AS PARÁBOLAS E SUA APLICAÇÃO NA BÍBLIA SAGRADA
Parábola significa “colocar ao lado de”. É uma relação paralela
que possibilita uma comparação. É um método figurativo de
linguagem, cuja verdade moral ou espiritual é ilustrada por
analogia com experiência comum
130. As parábolas = comparação, símile ampliada
Símile = não é necessariamente uma parábola
Parábolas se limitam ao que é real e não vai além dos limites da
possibilidade ou daquilo que pode acontecer
As parábolas não trazem consigo, de forma explícita, sua
interpretação na narração; já a alegoria, geralmente, contém em
si mesma a interpretação
A FINALIDADE DAS PARÁBOLAS
O vocábulo aparece quase 50 vezes nos Evangelhos em
conexão com o ministério de Jesus, ferramenta esta utilizada
para transmitir verdades espirituais.
Os propósitos de Cristo nas parábolas: revelar os mistérios do
reino de Deus a seus discípulos e ocultá-los daqueles que não
percebiam a realidade do mundo espiritual
As parábolas trazem consigo uma impressão duradoura, mais
efetiva que o discurso comum. Ex: ilustrações adotadas por
pregadores
131. Revelação de verdades = as parábolas das Escrituras servem
para confrontar pessoas nos seus erros.
Ex: Davi e Natã (II Sm 12.1-7) o rei Davi compreendeu os
princípios morais intrínsecos na parábola; percebeu seu grave
erro quando a aplicação ligava-se ao seu próprio
comportamento
MÉTODOS DE INTERPRETAR UMA PARÁBOLA
Alguns cristãos podem achar certa facilidade na interpretação
das parábolas. Os textos de parábolas têm sofrido diversas
interpretações errôneas na igreja
Não confunda parábolas com alegorias. A alegoria contém em
cada elemento um significado diferente próprio da história; a
parábola intenciona apenas uma lição específica
A parábola tem um propósito lógico e claro. É necessário saber
a ocasião em que a parábola foi proferida
Mateus 20: parábola dos trabalhadores na vinha – Cap. 19.27, a
sua ocasião
132. O propósito da parábola se insere em sua introdução e na sua
conclusão (Lc 18.1; 12.21). A terceira regra formal da
hermenêutica poderá auxiliar em desvendar o propósito de uma
parábola
A interpretação de Lucas 10.30-36, segundo Agostinho um dos
Pais da Igreja
Certo homem descia para Jericó Adão
Jerusalém A cidade celestial da paz, da qual Adão caiu
Jericó A mortalidade de Adão
Salteadores O diabo e os seus anjos
Roubaram-lhe A saber: a sua imortalidade
Causaram-lhe sofrimento Ao persuadi-lo a pecar
Deixando-o semimorto Como homem, vive, mas morreu espiritualmente
O sacerdote e o levita O sacerdócio veterotestamentário
O samaritano O próprio Cristo
Atou-lhe os ferimentos Restringir o constrangimento ao pecado
Óleo O consolo da boa esperança
Vinho Exortação para trabalhar com um espírito fervoroso
Animal A carne da encarnação de Cristo
Hospedaria A igreja
Dia seguinte Depois da ressurreição
133. Sabemos que não era isso exatamente que Cristo queria dizer.
A parábola serviu para responder à indagação: “Quem é o meu
próximo?”
Não se deve atribuir significações especiais a todos os
pormenores das parábolas, como se cada detalhe descrito
contivesse uma verdade oculta. Sem a devida discriminação
poderá surgir interpretações fantasiosas e arbitrárias
134. IV – AS FIGURAS DE RETÓRICA NA LIGUAGEM
BÍBLICA
Dentre as diversas formas de comunicar a Revelação de Deus,
os escritores utilizaram as figuras de retórica. Trata-se de
figuras de linguagem que dão expressão, intensidade, beleza ou
significados às palavras
4.1 - METÁFORA
Indica alguma semelhança entre dois objetos, que possuem
alguns dos mesmos elementos sejam eles coisas reais,
elementos simbólicos ou tipos
A metáfora é declarada de forma direta. Ex: Is 40.6
Salmo 18.2: “O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e
o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem
confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto
refúgio”. Aqui seis metáforas
Os Evangelhos mencionam várias metáforas à pessoa de Jesus
135. JESUS
O cordeiro de Deus (Jo 1.29)
A água da vida (Jo 4)
O pão da vida (Jo 6)
A videira verdadeira (Jo 15)
O bom pastor (Jo 10)
OS
DISCÍPULOS
A luz do mundo (Mt 5.13)
O sal da terra (Mt 5.14)
Os ramos da videira (Jo
15.1)
O edifício de Deus (I Co 3.9)
A lavoura de Deus (I Co 3.9)
O rebanho do pastor (Jo
10.14)