SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 18
Downloaden Sie, um offline zu lesen
Aquele cheiro de feijão
cozinhando foi demais para
Eduardo. Depois de muito tempo
nas ruas, comendo os restos do
que conseguia, ele se deixou
levar pelo aroma daquele feijão
e, quando viu, estava batendo
palmas naquela casa de onde
provinha o aroma tão marcante.
Uma senhora de cabelos brancos
e com um avental na cintura,
também branco, atendeu e não
se assustou com a roupa dele, já
muito gasta, nem pelos seus
cabelos enormes, que há muito
não via um corte.
- "Que foi meu jovem, em que
          posso ajudá-lo?".
                   
Eduardo ficou mudo diante daquele
  rosto tão bondoso. Sua voz não
        saía, e ele gaguejou:
- "Bom...bom...bom dia. Sabe, é
  que eu senti o cheiro do feijão
cozinhando e lembrei me da minha
    mãe, lembrei-me da fome e
    resolvi pedir um pouco, se a
senhora puder. Pode ser num copo
 plástico mesmo, só para eu poder
  matar a vontade de comer esse
        feijão tão cheiroso.
Dona Benedita ficou surpresa com o desejo
daquele menino. Sim, apesar das roupas velhas
e sujas, do rosto marcado pela sujeira, aquele
 rapazote não deveria ter mais do que 15 ou
  16 anos. Até hoje ela não sabe o por quê
daquele gesto tão incomum nos tempos atuais,
onde a violência está em cada esquina. O fato
  é que ela se comoveu com aquele menino e
           pediu para que entrasse.
                        
Eduardo não sabia o que fazer. Nunca alguém
   o convidara para entrar em uma casa. O
    máximo que faziam era dar uma comida
    misturada em latas de goiabada ou em
      embalagem plástica de sorvete, que
normalmente as pessoas nem queriam de volta,
como se ele tivesse alguma doença contagiosa.
Timidamente ele entrou naquele quintal enorme e,
  seguindo aquela senhora tão amável, entrou em uma
cozinha muito bonita, simples, com azulejos azuis claros
  nas paredes, piso vermelho brilhando, uma mesa e 4
cadeiras brancas. Na mesa, uma toalha muito branca e
   já sobre ela, arroz em uma travessa, água fresca,
   pratos e copos."Ah, meu Deus, o paraíso deve ser
                assim!", pensou Eduardo.
  Sem saber o que fazer, ficou ali, na porta, em pé,
    observando aquele ambiente que lhe deu uma paz
indescritível. Ele já estava andando pelas ruas há mais
    de 4 anos, desde que sua mãe morreu, lá naquele
     Estado distante, Sem nenhum parente, Eduardo
    lembrava-se apenas da mãe dizendo que teve um
  paizinho muito querido, que morava em São Paulo, lá
   pelas bandas da Vila Maria, que ela amava muito e
                    queria tanto ver.
  Lembrava da mãe chorando todas as noites, falando
 baixinho para ele não acordar, da saudade do pai e da
     mãe tão amada, que morreu de uma doença nos
            pulmões, sem rever os parentes.
Dona Benedita, voltou de um dos
     cômodos trazendo uma toalha e
   algumas roupas usadas mas muito
 limpas, e foi falando para ele tomar
um bom banho e se trocar, enquanto
    ela acabava o feijão. Sem saber
  muito o que fazer, Eduardo entrou
   naquele banheiro e tomou o banho
mais gostoso da sua vida. Ele também
  nunca viu tanta água encardida sair
           de uma pessoa...
Aos poucos, aquela marca e aquela casca impregnada das
ruas foram saindo. Junto iam as dores, as mágoas, e ele se
  pegou cantando. Quando saiu do banheiro, Dona Benedita
      ficou parada olhando para aquele rosto, os cabelos
          ligeiramente alourados, cheios de cachos...
                                 
 Dona Benedita imediatamente lembrou-se da sua filha, que
 saíra de casa numa briga com o pai. Ela engravidara de um
 rapaz que não quis assumir a criança. Seu Vicente, homem
  das antigas, não soube entender a filha caçula, grávida e
sem marido, e, num gesto impensado, a mandou embora. Os
   dois discutiram e moça falou que ela não era mais a sua
 filha. Ela saiu naquela noite de setembro e nunca mais deu
                            notícias.
Aquilo foi demais para o velho pai, que, apesar do modo
grosseiro de tratar os filhos, rude, acostumado somente
ao trabalho, amava como louco a sua filha, e todos os dias,
depois que ela partiu, saia às ruas atrás de notícias, de
alguma pista que o levasse até ela. Arrependido, seu
Vicente foi definhando, definhando e morreu 4 meses
depois, sem nunca mais a ver.
E ali estava aquele rapazote, com o rosto parecido
   com o da filha. Mas, Dona Benedita voltou à
 realidade do feijão na mesa, e o mandou sentar.
  Quando o rapaz colocou a primeira garfada na
boca, grossas lágrimas escorreram pelo seu rosto.
Dona Benedita, percebendo a situação, perguntou:
"Que foi filho? O feijão tá tão ruim assim que te
                   fez chorar?".
Eduardo sorriu timidamente e disse que não. Era apenas a
         lembrança da mãe que ele amava tanto...
 Em silêncio eles comeram e, notando o apetite do rapaz,
ela mesma o serviu mais duas vezes. Depois, ela passou um
 café; perguntou o seu nome; quis saber um pouco da sua
  história. Ele só falou o nome e saiu agradecendo a sua
           melhor refeição dos últimos tempos.
Meia hora depois, com roupas limpas, banho tomado e
barriga forrada, Eduardo acabou descobrindo que já estava
na Vila Maria e isso acendeu a sua esperança. Mas, quando
a noite chegou, ele viu, pelas luzes que se acendiam, que
aquele lugar era muito grande, e sem maiores detalhes do
avô e da avó que nunca tinha visto, imaginou que seria
impossível encontrar os parentes.
 
Enquanto isso, Dona Benedita, estava no seu
 quintal, observando a noite. Tem sido assim
  desde que a filha sumiu no mundo. Sempre
olhando para o céu, ela sempre nota que uma
 estrela se destaca das outras, É para essa
   estrela que ela se dirige há muitos anos,
  como se fosse para a própria filha. Nessa
  noite, seu coração estava inquieto. Aquele
  rapaz na cozinha mexeu com ela. Ao olhar
  para a sua estrela favorita, notou que ela
  parecia girar, brilhando mais forte. Dona
  Benedita imediatamente reviu a imagem do
         Eduardo e ficou pensando...
No dia seguinte, Dona Benedita sai cedo,
 sem destino. Passou pelas ruas perguntando
      se alguém tinha visto um andarilho,
    descrevendo-o. Ela precisava tirar uma
     dúvida e não podia perder a chance.
Encontrou-o numa praça, sendo abordado por
 dois policiais, que o agarravam com ares de
poucos amigos. Dona Benedita chamou-o pelo
   nome e, ao olhar para ela, os policiais o
  soltaram e perguntaram se ela o conhecia.
  Ela respondeu afirmativamente, o que fez
       com que o menino fosse liberado.
                         
Assustado, Eduardo agradeceu pela gentileza
   e Dona Benedita o fez sentar no banco e
    contar a sua história. Conforme ele ia
  contando, a mulher percebia os pontos em
 comum com a história da sua filha: o tempo
      decorrido e a sua idade, os cabelos
   cacheados e aqueles olhos, que agora ela
 parecia ver como um espelho, que refletiam
  os olhos do seu amado marido. Quando ele
   falou o nome da sua mãe, Dona Benedita
 começou a chorar. Chorou tanto e abraçava
tanto Eduardo que ele ficou com medo de ela
morrer: "Mas, dona, o que foi que eu fiz?...
    Por favor, me fale... Pare de chorar.
Dona Benedita secou as lágrimas e contou a história da
   filha. Então, Eduardo percebeu que a sua busca tinha
acabado. Ela acabou de encontrar a sua família e foi a vez
          de ele se entregar naquele colo e chorar.
                               
                     O tempo passou...
Mais de 12 anos já se passaram desde aquele "reencontro".
Eduardo é arquiteto de muito prestígio na construtora onde
  trabalha. Casou-se e tem dois filhos e, mesmo podendo
morar no seu elegante apartamento, preferiu ficar naquela
  casa que o abrigou, ao lado da sua avó, que sempre faz
          aquele feijão cheiroso que o conquistou.
Toda noite Dona Benedita ainda sai para o quintal, olha para
    o céu e fala com a filha, olhando para aquela mesma
 estrela, que agora, desde o dia em que Eduardo apareceu,
tem outra estrela ao lado. Dona Benedita tem certeza que
 pai e filha se reencontraram no céu, no lugar onde o amor
                  venceu e sempre vencerá.
                                
E, se essa história te parece impossível, talvez seja por isso
  que você ainda sofra com algumas decepções e deixe de
  lutar pelos seus sonhos. Talvez você tenha esquecido de
 amar um pouco mais, de dar mais dois passos em direção à
   sua estrela e descobrir que, apesar da noite escura e
            chuvosa, ela jamais deixou de brilhar.
                                
Texto: Por Paulo Roberto Gaefke          Visitem o site:
Formatação: Ana Delia
                                      www.salvaialmas.com.br



Para baixar mais pps acessar o site abaixo:




 www.recados.aarao.nom.br/



             Para participar do GRUPO VIRTUAL
             ROSA MÍSTICA ENTRE AQUI


         http://br.groups.yahoo.com/group/gruporosamistica2/

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Ae plv5 teste_avancado4
Ae plv5 teste_avancado4Ae plv5 teste_avancado4
Ae plv5 teste_avancado4Ana Ferreira
 
Primeiras Estórias
Primeiras EstóriasPrimeiras Estórias
Primeiras EstóriasDenise Faria
 
Sala de heróis episódio 101
Sala de heróis episódio 101Sala de heróis episódio 101
Sala de heróis episódio 101thais78543
 
Capitulo 1 não se jogue
Capitulo 1   não se jogueCapitulo 1   não se jogue
Capitulo 1 não se jogueStephanye Gomes
 
Evangelho no lar com crianças (69)
Evangelho no lar com crianças (69)Evangelho no lar com crianças (69)
Evangelho no lar com crianças (69)Fatoze
 
C.s.lewis as crônicas de nárnia - vol i - o sobrinho do mago
C.s.lewis   as crônicas de nárnia - vol i - o sobrinho do magoC.s.lewis   as crônicas de nárnia - vol i - o sobrinho do mago
C.s.lewis as crônicas de nárnia - vol i - o sobrinho do magoAlex Martins
 
Sete ossos e uma maldicao
Sete ossos e uma maldicaoSete ossos e uma maldicao
Sete ossos e uma maldicaoDulce R Silva
 
CAPÍTULO CINCO - PASSOS DO DESTINO
CAPÍTULO CINCO - PASSOS DO DESTINOCAPÍTULO CINCO - PASSOS DO DESTINO
CAPÍTULO CINCO - PASSOS DO DESTINOJean Souza
 
Sete ossos e uma maldição
Sete ossos e uma maldiçãoSete ossos e uma maldição
Sete ossos e uma maldiçãoMárcio Batalha
 
Capítulo 2 Encontre-me.
Capítulo 2   Encontre-me.Capítulo 2   Encontre-me.
Capítulo 2 Encontre-me.StephanyeG
 
Lygia bojunga nunes a bolsa amarela
Lygia bojunga nunes   a bolsa amarelaLygia bojunga nunes   a bolsa amarela
Lygia bojunga nunes a bolsa amarelaEstado do RS
 
Mascotes da turma - 4.º A
Mascotes da turma - 4.º AMascotes da turma - 4.º A
Mascotes da turma - 4.º Aprofigor
 
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]Talles Lisboa
 

Was ist angesagt? (18)

Ae plv5 teste_avancado4
Ae plv5 teste_avancado4Ae plv5 teste_avancado4
Ae plv5 teste_avancado4
 
Em seus sonhos
Em seus sonhosEm seus sonhos
Em seus sonhos
 
Primeiras Estórias
Primeiras EstóriasPrimeiras Estórias
Primeiras Estórias
 
Sala de heróis episódio 101
Sala de heróis episódio 101Sala de heróis episódio 101
Sala de heróis episódio 101
 
Capitulo 1 não se jogue
Capitulo 1   não se jogueCapitulo 1   não se jogue
Capitulo 1 não se jogue
 
Evangelho no lar com crianças (69)
Evangelho no lar com crianças (69)Evangelho no lar com crianças (69)
Evangelho no lar com crianças (69)
 
"Perfeição" - Cap. 27
"Perfeição" - Cap. 27"Perfeição" - Cap. 27
"Perfeição" - Cap. 27
 
C.s.lewis as crônicas de nárnia - vol i - o sobrinho do mago
C.s.lewis   as crônicas de nárnia - vol i - o sobrinho do magoC.s.lewis   as crônicas de nárnia - vol i - o sobrinho do mago
C.s.lewis as crônicas de nárnia - vol i - o sobrinho do mago
 
Sete ossos e uma maldicao
Sete ossos e uma maldicaoSete ossos e uma maldicao
Sete ossos e uma maldicao
 
CAPÍTULO CINCO - PASSOS DO DESTINO
CAPÍTULO CINCO - PASSOS DO DESTINOCAPÍTULO CINCO - PASSOS DO DESTINO
CAPÍTULO CINCO - PASSOS DO DESTINO
 
Sete ossos e uma maldição
Sete ossos e uma maldiçãoSete ossos e uma maldição
Sete ossos e uma maldição
 
Capítulo 2 Encontre-me.
Capítulo 2   Encontre-me.Capítulo 2   Encontre-me.
Capítulo 2 Encontre-me.
 
Lygia bojunga nunes a bolsa amarela
Lygia bojunga nunes   a bolsa amarelaLygia bojunga nunes   a bolsa amarela
Lygia bojunga nunes a bolsa amarela
 
Darling O ÓDIO DE UMA NAÇÃO
Darling O ÓDIO DE UMA NAÇÃODarling O ÓDIO DE UMA NAÇÃO
Darling O ÓDIO DE UMA NAÇÃO
 
Mascotes da turma - 4.º A
Mascotes da turma - 4.º AMascotes da turma - 4.º A
Mascotes da turma - 4.º A
 
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
 
Contos assombracao
Contos assombracaoContos assombracao
Contos assombracao
 
10 sonhos de_natal
10 sonhos de_natal10 sonhos de_natal
10 sonhos de_natal
 

Andere mochten auch

Andere mochten auch (13)

Estudio del sector secundario. Alejandro Pérez.
Estudio del sector secundario. Alejandro Pérez.Estudio del sector secundario. Alejandro Pérez.
Estudio del sector secundario. Alejandro Pérez.
 
3
33
3
 
Jornadas
JornadasJornadas
Jornadas
 
Pai nosso
Pai nossoPai nosso
Pai nosso
 
Tenha o aroma de flores
Tenha o aroma de flores Tenha o aroma de flores
Tenha o aroma de flores
 
Definición de finanzas
Definición de finanzasDefinición de finanzas
Definición de finanzas
 
Cuestionario
CuestionarioCuestionario
Cuestionario
 
Contabilidad
ContabilidadContabilidad
Contabilidad
 
Tenho58anos
Tenho58anosTenho58anos
Tenho58anos
 
A paz interior
A paz interiorA paz interior
A paz interior
 
A flor
A florA flor
A flor
 
E 23
E 23E 23
E 23
 
A história da Internet
A história da InternetA história da Internet
A história da Internet
 

Ähnlich wie O cheiro do feijão que trouxe Eduardo de volta para casa

Cheiro de-feijao-estrelas-e-sonhos-100309152203-phpapp02
Cheiro de-feijao-estrelas-e-sonhos-100309152203-phpapp02Cheiro de-feijao-estrelas-e-sonhos-100309152203-phpapp02
Cheiro de-feijao-estrelas-e-sonhos-100309152203-phpapp02Artes 100 Fronteiras
 
Microsoft word do outro lado da rua - aud d'angelo dias.
Microsoft word   do outro lado da rua - aud d'angelo dias.Microsoft word   do outro lado da rua - aud d'angelo dias.
Microsoft word do outro lado da rua - aud d'angelo dias.RAvithukaramthukaram
 
Recriação do conto de José Saramago
Recriação do conto de José SaramagoRecriação do conto de José Saramago
Recriação do conto de José SaramagoLurdes Augusto
 
Por detrás das paredes...
Por detrás das paredes...Por detrás das paredes...
Por detrás das paredes...joaoalmeiida
 
Capítulo 1: Lulital - a magia começa
Capítulo 1: Lulital - a magia começaCapítulo 1: Lulital - a magia começa
Capítulo 1: Lulital - a magia começapribeletato
 
Toda a magia numa bola de sabão
Toda a magia numa bola de sabãoToda a magia numa bola de sabão
Toda a magia numa bola de sabãoIsabel Martins
 
1 doce de tereza
1 doce de tereza1 doce de tereza
1 doce de terezataboao
 
Livro digital folclore professora suse mendes
Livro digital folclore professora suse mendesLivro digital folclore professora suse mendes
Livro digital folclore professora suse mendesSusete Rodrigues Mendes
 
silo.tips_a-arvore-que-dava-dinheiro.pdf
silo.tips_a-arvore-que-dava-dinheiro.pdfsilo.tips_a-arvore-que-dava-dinheiro.pdf
silo.tips_a-arvore-que-dava-dinheiro.pdfFatimaCarvalho47
 
Meia hora para mudar a minha vida mariana nunes
Meia hora para mudar a minha vida   mariana nunesMeia hora para mudar a minha vida   mariana nunes
Meia hora para mudar a minha vida mariana nunesfantas45
 
Atividades complementares 6 série
Atividades complementares 6 sérieAtividades complementares 6 série
Atividades complementares 6 sérieSHEILA MONTEIRO
 

Ähnlich wie O cheiro do feijão que trouxe Eduardo de volta para casa (20)

Cheiro de-feijao-estrelas-e-sonhos-100309152203-phpapp02
Cheiro de-feijao-estrelas-e-sonhos-100309152203-phpapp02Cheiro de-feijao-estrelas-e-sonhos-100309152203-phpapp02
Cheiro de-feijao-estrelas-e-sonhos-100309152203-phpapp02
 
Projecto individual
Projecto individualProjecto individual
Projecto individual
 
Contos africanos
Contos africanosContos africanos
Contos africanos
 
Microsoft word do outro lado da rua - aud d'angelo dias.
Microsoft word   do outro lado da rua - aud d'angelo dias.Microsoft word   do outro lado da rua - aud d'angelo dias.
Microsoft word do outro lado da rua - aud d'angelo dias.
 
Phroybido
PhroybidoPhroybido
Phroybido
 
Contos africanos
Contos africanosContos africanos
Contos africanos
 
Contos africanos
Contos africanosContos africanos
Contos africanos
 
Recriação do conto de José Saramago
Recriação do conto de José SaramagoRecriação do conto de José Saramago
Recriação do conto de José Saramago
 
Por detrás das paredes...
Por detrás das paredes...Por detrás das paredes...
Por detrás das paredes...
 
Capítulo 1: Lulital - a magia começa
Capítulo 1: Lulital - a magia começaCapítulo 1: Lulital - a magia começa
Capítulo 1: Lulital - a magia começa
 
Toda a magia numa bola de sabão
Toda a magia numa bola de sabãoToda a magia numa bola de sabão
Toda a magia numa bola de sabão
 
1 doce de tereza
1 doce de tereza1 doce de tereza
1 doce de tereza
 
Vira lata completo
Vira lata completoVira lata completo
Vira lata completo
 
Livro digital folclore professora suse mendes
Livro digital folclore professora suse mendesLivro digital folclore professora suse mendes
Livro digital folclore professora suse mendes
 
Delicadeza
DelicadezaDelicadeza
Delicadeza
 
Delicadeza
DelicadezaDelicadeza
Delicadeza
 
Caderneta Vermelha
Caderneta VermelhaCaderneta Vermelha
Caderneta Vermelha
 
silo.tips_a-arvore-que-dava-dinheiro.pdf
silo.tips_a-arvore-que-dava-dinheiro.pdfsilo.tips_a-arvore-que-dava-dinheiro.pdf
silo.tips_a-arvore-que-dava-dinheiro.pdf
 
Meia hora para mudar a minha vida mariana nunes
Meia hora para mudar a minha vida   mariana nunesMeia hora para mudar a minha vida   mariana nunes
Meia hora para mudar a minha vida mariana nunes
 
Atividades complementares 6 série
Atividades complementares 6 sérieAtividades complementares 6 série
Atividades complementares 6 série
 

Mehr von Luciano Soares (20)

Aleidoretorno
AleidoretornoAleidoretorno
Aleidoretorno
 
Deusdoimpossivel
DeusdoimpossivelDeusdoimpossivel
Deusdoimpossivel
 
A fábula das tres árvores
A fábula das tres árvoresA fábula das tres árvores
A fábula das tres árvores
 
A ponte da_indiferenca
A ponte da_indiferencaA ponte da_indiferenca
A ponte da_indiferenca
 
Coracoes calejados
Coracoes calejadosCoracoes calejados
Coracoes calejados
 
Acidadedepedra
AcidadedepedraAcidadedepedra
Acidadedepedra
 
Cicatrizes
CicatrizesCicatrizes
Cicatrizes
 
Segredodavida
SegredodavidaSegredodavida
Segredodavida
 
Asindromedopato
AsindromedopatoAsindromedopato
Asindromedopato
 
A cura para_a_depressao
A cura para_a_depressaoA cura para_a_depressao
A cura para_a_depressao
 
A cura para_a_depressao
A cura para_a_depressaoA cura para_a_depressao
A cura para_a_depressao
 
Derretendo o gelo
Derretendo o geloDerretendo o gelo
Derretendo o gelo
 
Acreditareagir
AcreditareagirAcreditareagir
Acreditareagir
 
Umapescariainesquecivel
UmapescariainesquecivelUmapescariainesquecivel
Umapescariainesquecivel
 
Doislagos
DoislagosDoislagos
Doislagos
 
Meu pai-e-o-piloto
Meu pai-e-o-pilotoMeu pai-e-o-piloto
Meu pai-e-o-piloto
 
Bombadagua
BombadaguaBombadagua
Bombadagua
 
A chave da_felicidade
A chave da_felicidadeA chave da_felicidade
A chave da_felicidade
 
Oracaomaravilhosa
OracaomaravilhosaOracaomaravilhosa
Oracaomaravilhosa
 
As sete verdades_do_bambu
As sete verdades_do_bambuAs sete verdades_do_bambu
As sete verdades_do_bambu
 

O cheiro do feijão que trouxe Eduardo de volta para casa

  • 1.
  • 2. Aquele cheiro de feijão cozinhando foi demais para Eduardo. Depois de muito tempo nas ruas, comendo os restos do que conseguia, ele se deixou levar pelo aroma daquele feijão e, quando viu, estava batendo palmas naquela casa de onde provinha o aroma tão marcante. Uma senhora de cabelos brancos e com um avental na cintura, também branco, atendeu e não se assustou com a roupa dele, já muito gasta, nem pelos seus cabelos enormes, que há muito não via um corte.
  • 3. - "Que foi meu jovem, em que posso ajudá-lo?".   Eduardo ficou mudo diante daquele rosto tão bondoso. Sua voz não saía, e ele gaguejou: - "Bom...bom...bom dia. Sabe, é que eu senti o cheiro do feijão cozinhando e lembrei me da minha mãe, lembrei-me da fome e resolvi pedir um pouco, se a senhora puder. Pode ser num copo plástico mesmo, só para eu poder matar a vontade de comer esse feijão tão cheiroso.
  • 4. Dona Benedita ficou surpresa com o desejo daquele menino. Sim, apesar das roupas velhas e sujas, do rosto marcado pela sujeira, aquele rapazote não deveria ter mais do que 15 ou 16 anos. Até hoje ela não sabe o por quê daquele gesto tão incomum nos tempos atuais, onde a violência está em cada esquina. O fato é que ela se comoveu com aquele menino e pediu para que entrasse.   Eduardo não sabia o que fazer. Nunca alguém o convidara para entrar em uma casa. O máximo que faziam era dar uma comida misturada em latas de goiabada ou em embalagem plástica de sorvete, que normalmente as pessoas nem queriam de volta, como se ele tivesse alguma doença contagiosa.
  • 5. Timidamente ele entrou naquele quintal enorme e, seguindo aquela senhora tão amável, entrou em uma cozinha muito bonita, simples, com azulejos azuis claros nas paredes, piso vermelho brilhando, uma mesa e 4 cadeiras brancas. Na mesa, uma toalha muito branca e já sobre ela, arroz em uma travessa, água fresca, pratos e copos."Ah, meu Deus, o paraíso deve ser assim!", pensou Eduardo. Sem saber o que fazer, ficou ali, na porta, em pé, observando aquele ambiente que lhe deu uma paz indescritível. Ele já estava andando pelas ruas há mais de 4 anos, desde que sua mãe morreu, lá naquele Estado distante, Sem nenhum parente, Eduardo lembrava-se apenas da mãe dizendo que teve um paizinho muito querido, que morava em São Paulo, lá pelas bandas da Vila Maria, que ela amava muito e queria tanto ver. Lembrava da mãe chorando todas as noites, falando baixinho para ele não acordar, da saudade do pai e da mãe tão amada, que morreu de uma doença nos pulmões, sem rever os parentes.
  • 6. Dona Benedita, voltou de um dos cômodos trazendo uma toalha e algumas roupas usadas mas muito limpas, e foi falando para ele tomar um bom banho e se trocar, enquanto ela acabava o feijão. Sem saber muito o que fazer, Eduardo entrou naquele banheiro e tomou o banho mais gostoso da sua vida. Ele também nunca viu tanta água encardida sair de uma pessoa...
  • 7. Aos poucos, aquela marca e aquela casca impregnada das ruas foram saindo. Junto iam as dores, as mágoas, e ele se pegou cantando. Quando saiu do banheiro, Dona Benedita ficou parada olhando para aquele rosto, os cabelos ligeiramente alourados, cheios de cachos...   Dona Benedita imediatamente lembrou-se da sua filha, que saíra de casa numa briga com o pai. Ela engravidara de um rapaz que não quis assumir a criança. Seu Vicente, homem das antigas, não soube entender a filha caçula, grávida e sem marido, e, num gesto impensado, a mandou embora. Os dois discutiram e moça falou que ela não era mais a sua filha. Ela saiu naquela noite de setembro e nunca mais deu notícias.
  • 8. Aquilo foi demais para o velho pai, que, apesar do modo grosseiro de tratar os filhos, rude, acostumado somente ao trabalho, amava como louco a sua filha, e todos os dias, depois que ela partiu, saia às ruas atrás de notícias, de alguma pista que o levasse até ela. Arrependido, seu Vicente foi definhando, definhando e morreu 4 meses depois, sem nunca mais a ver.
  • 9. E ali estava aquele rapazote, com o rosto parecido com o da filha. Mas, Dona Benedita voltou à realidade do feijão na mesa, e o mandou sentar. Quando o rapaz colocou a primeira garfada na boca, grossas lágrimas escorreram pelo seu rosto. Dona Benedita, percebendo a situação, perguntou: "Que foi filho? O feijão tá tão ruim assim que te fez chorar?".
  • 10. Eduardo sorriu timidamente e disse que não. Era apenas a lembrança da mãe que ele amava tanto... Em silêncio eles comeram e, notando o apetite do rapaz, ela mesma o serviu mais duas vezes. Depois, ela passou um café; perguntou o seu nome; quis saber um pouco da sua história. Ele só falou o nome e saiu agradecendo a sua melhor refeição dos últimos tempos.
  • 11. Meia hora depois, com roupas limpas, banho tomado e barriga forrada, Eduardo acabou descobrindo que já estava na Vila Maria e isso acendeu a sua esperança. Mas, quando a noite chegou, ele viu, pelas luzes que se acendiam, que aquele lugar era muito grande, e sem maiores detalhes do avô e da avó que nunca tinha visto, imaginou que seria impossível encontrar os parentes.  
  • 12. Enquanto isso, Dona Benedita, estava no seu quintal, observando a noite. Tem sido assim desde que a filha sumiu no mundo. Sempre olhando para o céu, ela sempre nota que uma estrela se destaca das outras, É para essa estrela que ela se dirige há muitos anos, como se fosse para a própria filha. Nessa noite, seu coração estava inquieto. Aquele rapaz na cozinha mexeu com ela. Ao olhar para a sua estrela favorita, notou que ela parecia girar, brilhando mais forte. Dona Benedita imediatamente reviu a imagem do Eduardo e ficou pensando...
  • 13. No dia seguinte, Dona Benedita sai cedo, sem destino. Passou pelas ruas perguntando se alguém tinha visto um andarilho, descrevendo-o. Ela precisava tirar uma dúvida e não podia perder a chance. Encontrou-o numa praça, sendo abordado por dois policiais, que o agarravam com ares de poucos amigos. Dona Benedita chamou-o pelo nome e, ao olhar para ela, os policiais o soltaram e perguntaram se ela o conhecia. Ela respondeu afirmativamente, o que fez com que o menino fosse liberado.  
  • 14. Assustado, Eduardo agradeceu pela gentileza e Dona Benedita o fez sentar no banco e contar a sua história. Conforme ele ia contando, a mulher percebia os pontos em comum com a história da sua filha: o tempo decorrido e a sua idade, os cabelos cacheados e aqueles olhos, que agora ela parecia ver como um espelho, que refletiam os olhos do seu amado marido. Quando ele falou o nome da sua mãe, Dona Benedita começou a chorar. Chorou tanto e abraçava tanto Eduardo que ele ficou com medo de ela morrer: "Mas, dona, o que foi que eu fiz?... Por favor, me fale... Pare de chorar.
  • 15. Dona Benedita secou as lágrimas e contou a história da filha. Então, Eduardo percebeu que a sua busca tinha acabado. Ela acabou de encontrar a sua família e foi a vez de ele se entregar naquele colo e chorar.   O tempo passou... Mais de 12 anos já se passaram desde aquele "reencontro". Eduardo é arquiteto de muito prestígio na construtora onde trabalha. Casou-se e tem dois filhos e, mesmo podendo morar no seu elegante apartamento, preferiu ficar naquela casa que o abrigou, ao lado da sua avó, que sempre faz aquele feijão cheiroso que o conquistou.
  • 16. Toda noite Dona Benedita ainda sai para o quintal, olha para o céu e fala com a filha, olhando para aquela mesma estrela, que agora, desde o dia em que Eduardo apareceu, tem outra estrela ao lado. Dona Benedita tem certeza que pai e filha se reencontraram no céu, no lugar onde o amor venceu e sempre vencerá.   E, se essa história te parece impossível, talvez seja por isso que você ainda sofra com algumas decepções e deixe de lutar pelos seus sonhos. Talvez você tenha esquecido de amar um pouco mais, de dar mais dois passos em direção à sua estrela e descobrir que, apesar da noite escura e chuvosa, ela jamais deixou de brilhar.  
  • 17.
  • 18. Texto: Por Paulo Roberto Gaefke Visitem o site: Formatação: Ana Delia www.salvaialmas.com.br Para baixar mais pps acessar o site abaixo: www.recados.aarao.nom.br/ Para participar do GRUPO VIRTUAL ROSA MÍSTICA ENTRE AQUI http://br.groups.yahoo.com/group/gruporosamistica2/