O ator Clive Owen é entrevistado sobre sua carreira, estilo e paixão por relógios. Ele fala sobre gostar de papéis desafiadores e camaleônicos, e sobre seu personagem Dr. Thackery na série The Knick, que explora a medicina na Nova York do início do século XX. Owen também discute seu estilo clássico baseado em peças Armani e seu amor por relógios Jaeger-LeCoultre.
1. capa
Costume, camisa
e gravata
Giorgio Armani |
Relógio
Jaeger-LeCoultre
Reverso Ultra
Thin Pink Gold
cirurgião de
classe
Por Nô Mello
Fotos anders overgaard
Edição de moda antonio branco
O ator Clive Owen,
que vive um
médico brilhante e
atormentado na série
The Knick, revela à
GQ Style seu lado
camaleônico e uma
queda por alfaiataria
e relógios
inverno 2015 ii ii 111110 ii ii inverno 2015
2. capa
Jaqueta de pelo
de ovelha Coach |
Camisa
Ermenegildo
Zegna |
Relógio
Jaeger-LeCoultre
Deep Sea
Chronograph
Cermet
britânico Clive
Owen é, sem dúvi-
da, um dos atores
mais camaleônicos
em atividade no
cinema interna-
cional. Desde que
decidiu dedicar-
-se à dramaturgia,
há quase 40 anos,
mais precisamente aos 13 anos de
idade, quando ingressou no grupo de
teatro da escola em sua cidade natal,
a pacata Keresley, no interior da
Inglaterra, ele já viveu muito mais do
que sete vidas. De seu primeiro filme,
o polêmico Close My Eyes (1991), de
Stephen Poliakoff – no qual, como se
não bastasse protagonizar uma histó-
ria de incesto entre irmãos, ainda faz
um nu frontal completo –, a Crupiê
(1998), considerado seu breakthrough
no cinema – no qual vive um escritor
que acaba tendo de se virar traba-
lhando em um cassino –, passando
pelo dermatologista Larry, seu acla-
mado papel em Closer (2004), pelo
qual foi premiado com um Globo
de Ouro e uma indicação ao Oscar
de melhor ator coadjuvante, ou o
sci-fi Filhos da Esperança (2006), do
mexicano Alfonso Cuarón, os papéis
são os mais díspares. “De fato, eu
não sou aquele tipo de cara que faz
um papel e fica repetindo o molde”,
conta o ator logo após a sessão de
fotos realizada para a capa desta GQ
Style, durante uma gélida manhã de
inverno no Brooklyn nova-iorquino.
“Já pude experimentar em tantos
campos que fica difícil imaginar que
exista a persona ‘Clive Owen’. Procu-
ro fazer algo que não fiz, que me seja
completamente desconhecido.”
No que diz respeito às escolhas
que faz para seu guarda-roupa, ele
diz preferir adotar uma postura
menos arriscada, mais para o cool.
“Não sou fã de nada muito gritante,
sabe? Prefiro cinza, preto, marinho.”
Seu look assinatura? O ator respon-
de de modo enfático: “Ah, sem dú-
vida um terno muito bem cortado!”.
Mas gostar do tradicional traje não
significa sempre vesti-lo de forma
convencional, ele faz questão de
avisar. “Gosto do terno com gravata,
mas também de quebrar com ele-
mentos mais casuais, seja um cinto,
sapatos ou outro detalhe.”
Nada difícil compreender então
sua estreita ligação com Giorgio
Armani – a marca e a lenda. “Ami-
go da marca” italiana, Owen faz
questão do corte do designer em
tudo o que faz, realidade e ficção – o
estilista italiano concebeu o figurino
completo do ator no filme Duplicity
(2009). “Sou fã dele desde sempre.
Acho inacreditável como alguém
pode durar tanto no volátil mundo
da moda. Acredito que ele entende
como ninguém a moda masculina, e
tem o melhor corte para ternos.”
Outra paixão antiga: relógios – o
que naturalmente o levou ao posto de
embaixador global da suíça Jaeger-
-LeCoultre, atualmente dividido
com a atriz canadense Sarah Gadon.
“Sempre amei relógios, e os da Jaeger
são lindos! É como andar com uma
obra de arte no pulso! O processo
artesanal de criação das peças faz
deles verdadeiras joias.” Apesar de ter
vários modelos da relojoaria, seus pre-
diletos atualmente são o Duomètre
Unique Travel Time em ouro rosa,
com fundo de safira e pontes e engre-
nagens talhadas à mão; e o esportivo
preto semifosco Master Compressor
Chronograph Ceramic, editado em
uma série limitada a 500 exemplares.
Mesmo sabendo do valor altíssimo
dos modelos que exibe, Owen tam-
bém confessa sem o menor pudor:
“Eu uso, mesmo, em todas as ocasi-
ões. Você queria que eu os trancasse
num armário? Desculpe, mas são
meus e eu quero vê-los!”, brinca.
Tanto é assim que foi outro exem-
plar da marca, o Master Grande
Tradition Tourbillon, o escolhido por
Owen para a cerimônia do último
Globo de Ouro, na qual foi indicado
na categoria de melhor ator por conta
de sua última – e faladíssima – em-
preitada na dramaturgia: o sombrio
Dr. John Thackery, seu papel em The
Knick, série que foi ao ar em dez epi-
sódios no segundo semestre de 2014,
no Cinemax, e cuja segunda tempora-
da já está sendo captada. O prêmio foi
para Kevin Spacey por House of Cards,
mas nem por isso a empolgação de
Owen com o novo projeto diminuiu.
Muito pelo contrário. “A televisão está
vivendo um momento áureo, graças a
textos maravilhosos, excelentes ato-
res e diretores trabalhando no meio
novamente – é sem dúvida uma nova
O “sou fã de
giorgio
armani
desde
sempre.
acho
inacredi-
tável como
alguém
pode
durar
tanto no
volátil
mundo da
moda. ele
entende
como
ninguém
a moda
masculina”
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3. capa
Jaqueta de couro,
costume. camisa,
gravata e cinto
Giorgio Armani |
Relógio
Jaeger-LeCoultre
Duomètre Unique
Travel Time
“steven soderbergh, diretor
de the knick, me mandou o
ROTEIRO e me vi às voltas com
o melhor TEXTO que chegou às
minhas mãos em muito tempo”
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4. capa
Casaco peacoat
Coach | Tricô
Dolce & Gabbana
| Calça
Ermenegildo
Zegna |
Relógio
Jaeger-LeCoultre
Master
Compressor
Chronograph
Ceramic
| Botas
Christian
Louboutin
Todos os preços
sob consulta
Assistente de
styling
Emily Suarez
Grooming
Suzy Mazzarese
(Leslie Alyson)
Beleza
Kumi Craig
(Wall Group)
Assistentes de
fotografia
David Jaffe
Dustin Stefansic
Tertius Bune
Produção
executiva
Kenna
(Sarah Laird &
Good Company)
Tratamento de
imagem
Blink Imaging
era de ouro da TV”, argumenta. “Eu
não estava procurando nada nesse
sentido, até que aparece o Steven
(Soderbergh, diretor da série) e me
manda o roteiro. Me vi às voltas com
o melhor texto que chegou às minhas
mãos em muito tempo. Se fosse um
filme ou uma peça eu teria topado da
mesma maneira.”
Owen decidiu então embarcar
na sinistra jornada espiral abaixo de
seu Dr. Thackery – um médico do
Knickerbocker Hospital (The Knick, o
nome da série, é o apelido que o local
tinha na época), na Nova York da vi-
rada dos 1900s, dividido entre a pos-
sibilidade de glória dentro da cirurgia
moderna que nascia ali e sua forte
“queda” por cocaína. “Julgamentos
à parte, o Dr. Thackery é um cara
difícil, dono de uma personalidade
bastante complexa – sem dúvida não
é aquele tipo de personagem fácil de
dar ao público”, reflete. Aproveito
a deixa para ver se ele me adianta o
que mais pode acontecer na segun-
da temporada – já que a primeira,
vale lembrar, termina com o médico
tratando a dependência de cocaína…
com heroína! “Ah, só posso dizer que
a coisa vai esquentar ainda mais!”
Das práticas cirúrgicas aos cirur-
giões em si, tudo na série é inspirado
em fatos e pessoas reais, graças ao
exímio trabalho do consultor trazido
por Soderbergh, Dr. Stanley Burns,
que chafurdou em documentos da
época e fotos antigas para replicar
à risca os procedimentos em cena.
“Em geral, dramas históricos são
polidos e formais; nunca tinha visto
algo como The Knick, assim tão no
limite. Era outro tempo da medicina,
um momento fantástico de novas
descobertas, que nos beneficiam
até hoje, apesar do modo ‘tentativa
e erro’ com que eram conseguidas.”
Para incorporar o mais fielmente
possível seu personagem, Owen
apostou em duas coisas: numa baita
pesquisa e no bigode que estampa
a sua cara atualmente. Ele diz que o
segundo é consequência direta do
primeiro. “Li o relato de uma mulher
daqueles tempos que tinha beijado
um cara sem barba ou bigode, e que
tinha achado muito estranho. Isso era
no início do século passado, quando
todo homem tinha sempre algum
pelo no rosto, fosse barba ou só bigo-
de”, explica. “Daí achei que a barba se-
ria algo muito exagerado, e como não
queria usar bigode falso, deixei crescer
o meu. Mas depois da última cena vou
pedir um barbeador, ali mesmo no set,
e tirá-lo inteiro.”
Sendo The Knick toda filmada
em Nova York, Owen, que comple-
ta 51 anos em outubro, atualmente
passa longos meses longe de casa e
da família, que estão do outro lado
do oceano, em Londres. O ator é
casado com a também atriz Sarah-
-Jane Fenton desde 1995. Eles têm
duas filhas, Hannah e Eve, de 18 e 16
anos, respectivamente. A saudade
é grande, mas do jeito que dá, ele
compensa. “Quando terminei de
filmar a primeira temporada, passei
seis meses só curtindo a casa, as me-
ninas, e acho que tem de ser assim,
sabe?”, desabafa. “Procuro encontrar
o equilíbrio em tudo o que faço. Não
podemos pular de uma coisa para ou-
tra e depois outra, senão acaba que
você nunca está em casa. Então fiz
esse pacto informal comigo, de ficar
o mesmo tempo que passo fora com
minha família.” E sobra tempo para
ter alguma rotina? “Faço exercícios
aqui e ali, mas, para mim, essa deci-
são é baseada na seguinte pergunta:
‘Terei de tirar a camisa no filme?’. Se
sim, vou malhar, se não…”
Além da segunda temporada de
The Knick, este ano ainda vai ver
muito mais de Clive Owen. Além do
recém-lançado Last Knights, drama
épico dirigido pelo japonês Kazuaki
Kiriya que o ator estrela ao lado de
Morgan Freeman e Aksel Hennie, ele
revela que está voltando aos palcos.
Sim, Owen fará Broadway pela pri-
meira vez, interpretando Old Times,
texto de Harold Pinter, a estrear em
setembro ou outubro deste ano. “Fui
treinado no teatro (na Royal Academy
of Dramatic Art) e quando come-
cei, era tudo o que queria fazer. Daí
minha carreira aconteceu do jeito que
tinha de acontecer. Achei que estava
na hora de voltar”, confessa, animado
com o próximo projeto. “O gostoso
da minha profissão é que, não impor-
ta a idade que você tenha ou o que
já tenha feito, quando chega às suas
mãos um texto novo, todo um mundo
se abre, e você parte numa jornada
completamente desconhecida. Essa
para mim é a graça do jogo.”
“faço
exercícios
aqui e ali,
mas, para
mim, essa
decisão é
baseada na
seguinte
pergun-
ta: ‘terei
de tirar
a camisa
no filme?’.
se sim, vou
malhar,
se não...”
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o ator Clive Owen
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