O documento descreve as patologias encontradas em um edifício do século XIX em Lisboa e as propostas de
recuperação, incluindo fissuras devido a deslocamentos estruturais, manchas causadas por humidade, e vegetação
parasitária em pedras e madeiras. Detalha tratamentos como injeção de resina epóxi em fissuras, aplicação de
hidrófugos e fungicidas, e limpeza com lixívia para remover manchas e vegetação.
Patologias de paramentos de um edificio da alta de Lisboa
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Os projectos de arquitetura de recuperação ou reabilitação de edifícios antigos suscitam sempre dúvidas sobre os
procedimentos a efetuar na intervenção, até porque significam intervir em peças estruturais de madeira e
carpintarias em estruturas planas e coberturas, bem como no aço em estruturas metálicas. Aqui, abordam-se
sucintamente algumas das patologias dos paramentos.
O nº 14 da R. D. Dinis, perto do Largo do Rato, um edifício do séc.XIX, foi alvo de beneficiação. Após levantamento,
sugeriram-se propostas de recuperação das suas patologias, recorrentes neste tipo de edifícios, assim como
medidas preventivas das mesmas.
Orientado NO – SE, foi construído em alvenaria de pedra partida argamassada nas suas paredes exteriores de
aproximadamente 0,50 m de espessura e paredes estruturais interiores e revestida a reboco de argamassa de
cimento e cal. As paredes divisórias são em tabique e a estrutura dos pisos e cobertura é em vigamento de madeira.
A fachada de rua apresenta 8 janelas de peito semelhantes, em métrica e linguagem, que remete ao estilo
“pombalino” final com ombreiras de pedra bujardada a guarnecer todo o seu perímetro de retângulos áureos,
despojadas de motivos decorativos. Pintada em tinta-de-água na cor ocre-açafrão, encimada por platibanda com
friso saliente. As janelas em madeira tal como a porta, encimada por bandeira, também com guarnição da ombreira
em arco abatido de pedra.
Observam-se fissuras, devidas aos deslocamentos horizontais. No arco da porta de entrada por provável
deslocamento do pilar e numa parede divisória do escritório do piso 1 com fissura vertical na parede e quebra de
ladrilho com eflorescências e alteração cor da tinta do estuque, por ação de humidades entranhadas no reboco
interior da empena e presença de fungos. Tal como ocorrem na empena confinante com a edificação vizinha, fissuras
horizontais e verticais são acompanhadas por eflorescências várias.
O tratamento deste tipo de fissuras pode ser feito com resina epóxi, aplicada por injeção, após conveniente
raspagem e escovagem e posterior eliminação das deficiências de estanquicidade das paredes através da aplicação
de novos revestimentos de paredes sendo aconselhável a adição dum hidrófugo nas paredes exteriores.
Patologias de paramentos
dum edifício da Alta
de Lisboa
Marco Roquete Ramos
Arquiteto,
M.Sc.
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Na parede do paramento exterior manchas e a pintura descascada resultam da perda de aderência. As manchas
devem-se a humidades provenientes, provavelmente, de escorrências frequentes de água na fachada com a
orientação da parede a NO a ser relevante pela sujeição a condições atmosféricas de precipitação e humidade
relativa elevadas, onde a pouca insolação não permite a suficiente troca de humidade que a parede grossa
normalmente possibilita, pois permite que, segundo as estações do ano, hajam períodos de humedecimento e
secagem. Podem também provir da proximidade do embasamento e, portanto, das fundações do edifício e surgir na
parede por higroscopicidade e capilaridade.
As humidades podem ser de proveniências variadas e muitas vezes simultâneas de diversos tipos: de precipitação,
ascensionais por higroscopia, de condensação, humidades veículo ou até catalisadoras pela deterioração dos
materiais ou colonização biológica.
A pintura descascada ocorre pela perda de aderência devido a essa presença destas humidade e estas, por sua vez,
manifestam-se no interior sobretudo através de bolores, fungos e a conhecida “salitre”. Estas perdas de aderência
podem também deverem-se a dilatações e contrações térmicas, movimentos do suporte da tinta ou elevada
impermeabilidade à água do mesmo, erros de execução do revestimento ou a sua insuficiente permeabilidade ao
vapor de água.
Após a reparação dos paramentos com fissuras, podem-se reduzir as condensações superficiais, interiores e internas
por via do melhoramento da ventilação. Aquando da renovação dos revestimentos de paredes, convém aplicar de
um hidrófugo nas paredes exteriores e em caso de colonização biológica, aplicar também solução fungicida.
Para os pisos térreos e abaixo no nível do solo existe um processo chamado de sistema por electro – osmose, que
consiste em inserir elétrodos na alvenaria, conseguindo inverter a polaridade solo/parede. Seguida da aplicação de
uma argamassa microporosa que vai acelerar o processo de secagem, a parede permanece seca e sem rasto de
humidade, não sendo necessária qualquer manutenção.
Nas eflorescências devidas a humidades entranhadas no reboco interior da empena e acentuada pela ação de
fungos, recomenda-se a raspagem das eflorescências, após limpeza cuidada e tratamento com fungicida de
eliminação e prevenção. Aplicação de primário e filme de impermeabilização elástico.
Após o tratamento da humidade existente na parede, raspar a região, lixar para nivelar a mesma e seguidamente
limpar. Aplicar a tinta conveniente.
No alçado principal, a exposição à humidade exterior favorece o aparecimento de manchas nas molduras de pedra
das janelas, sobretudo nas vergas e ombreiras. As guarnições das portas apresentam, além das manchas, vegetação
parasitária por ação de organismos vegetais, que se alojam nas mesmas e nas suas juntas, à medida que se vão
deteriorando, por ação da humidade ascendente capilar, higroscópica e pluviométrica, mas também pela humidade
atmosférica, com a acidez própria de ambientes citadinos poluídos. Os calcários na presença do CO2 (Dióxido de
Carbono) e SO2 (Dióxido de Enxofre) da humidade atmosférica que, catalisados pelo CO (Monóxido de Carbono) e NO
(Monóxido de Nitrogénio), acidificam essas mesmas humidades e chuvas.
É necessária a limpeza do local e reparação dos danos, com escova sobre as zonas mais escurecidas de uma solução
de água e lixívia a 10%, atuando por 30 minutos. Enxaguamento abundantemente, posterior aplicação com broxa
de primário fungicida e limpeza final com jato de água à pressão, até eliminar os fungos, as algas e o bolor da
superfície suporte, começando pelas zonas mais altas, aplicando o tratamento em faixas horizontais completas.
Posterior aplicação preventiva de uma impregnação hidrofóbica.
Base de investigação: Levantamento efetuado do edifício na Rua Dom Dinis, nº 14 (perto do Largo do Rato) na Alta
de Lisboa.