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Capacitação e inovação nas multinacionais brasileiras
1. CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO: ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO INTERNO E
EXTERNO NAS MULTINACIONAIS BRASILEIRAS
DOI: 10.5700/rege 428 ARTIGO – ADMINISTRAÇÃO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Rebido em: 14/11/2009
Priscila Rezende da Costa
Doutoranda em Administração na Faculdade de Economia, Administração e Aprovado em: 4/3/2011
Contabilidade da Universidade de São Paulo – São Paulo–SP, Brasil
Pesquisadora Assistente do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica - USP
E-mail: priscilarezende@yahoo.com.br
Geciane Silveira Porto
Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP–
Ribeirão Preto–SP, Brasil
Doutor em Administração pela FEA-USP
E-mail: geciane@usp.br
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar o processo de capacitação para a inovação nas multinacionais
brasileiras. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa e descritiva e foram efetuados múltiplos estudos
de caso. As multinacionais brasileiras estudadas em profundidade foram: Embraco, Tigre e WEG. Os
resultados da pesquisa indicaram que a capacitação tecnológica das multinacionais brasileiras estudadas
seguiu um processo evolutivo, que foi basicamente iniciado pela aquisição de tecnologia estrangeira e pela
realização de imitações adaptativas. Tempos depois, com o estabelecimento de parcerias tecnológicas e o
desenvolvimento de uma estrutura interna de P&D, imitações criativas começaram a ser realizadas por essas
empresas. Atualmente, as multinacionais estudadas buscam a excelência interna da P&D e o fortalecimento
das interações com fontes externas de conhecimento e tecnologia como alternativa de aceleração da
aprendizagem organizacional para a inovação.
Palavras-chave: Capacitação, Inovação, Multinacionais Brasileiras.
QUALIFICATION AND INNOVATION: ASPECTS OF INTERNAL AND EXTERNAL
DEVELOPMENT IN BRAZILIAN MULTINATIONALS
ABSTRACT
This study aimed to analyze the process of qualification for innovation in Brazilian multinationals. For this
purpose a descriptive and qualitative survey and multiple case studies were conducted. The Brazilian
multinationals studied in-depth were Embraco, Tigre and WEG. Survey results indicated that the
technological qualification of Brazilian multinationals studied followed an evolutionary process that was
basically initiated by the acquisition of foreign technology and implementation of adaptive imitation. Later,
with the establishment of technological partnerships and development of an internal R&D structure, creative
imitations began to be undertaken by these companies. Currently, the multinational companies studied
pursue excellence in internal R&D and a strengthening of interactions with external sources of knowledge
and technology as an alternative to accelerating organizational learning for innovation.
Key words: Qualification, Innovation, Brazilian Multinationals.
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2. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
CAPACITACIÓN E INNOVACIÓN: ASPECTOS DEL DESARROLLO INTERNO Y EXTERNO EN
LAS MULTINACIONALES BRASILEÑAS
RESUMEN
Este trabajo tuvo como objetivo analizar el proceso de capacitación para la innovación en las
multinacionales brasileñas. Para tanto, fue realizada una investigación cualitativa y descriptiva y fueron
efectuados múltiples estudios de caso. Las multinacionales brasileñas estudiadas en profundidad fueron:
Embraco, Tigre y WEG. Los resultados de la investigación indicaron que la capacitación tecnológica de las
multinacionales brasileñas estudiadas siguió un proceso evolutivo, que fue básicamente iniciado por la
adquisición de tecnología extranjera y por la realización de imitaciones adaptativas. Tiempos después, con
el establecimiento de sociedades tecnológicas y el desarrollo de una estructura interna de P&D, imitaciones
creativas comenzaron a ser realizadas por esas empresas. Actualmente, las multinacionales estudiadas
buscan la excelencia interna de la P&D y el fortalecimiento de las interacciones con fuentes externas de
conocimiento y tecnología como alternativa de aceleración del aprendizaje organizacional para la
innovación.
Palabras-clave: Capacitación, Innovación, Multinacionales Brasileñas.
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3. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
sua estrutura, poderá contribuir para a elaboração de
1. INTRODUÇÃO
modelos gerenciais inovadores, que poderão dar
Ao longo das últimas duas décadas, o conceito
suporte às empresas dos países que buscam o
de inovação migrou do significado mais estreito de
crescimento econômico e tecnológico, como o
inovação de produtos e processos para um
Brasil.
significado mais amplo de inovação organizacional
Considerando esse cenário estimulante, este
e de mercado. A análise do processo inovador, antes
estudo tem como objetivo analisar o processo de
direcionada somente à geração linear de novos
capacitação para a inovação nas multinacionais
saberes, também sofreu inúmeras mudanças, e hoje
brasileiras. Especificamente, procurar-se-á (1)
aborda o desenvolvimento de novas formas de
mapear as etapas do processo de capacitação das
produzir, aplicar e distribuir o conhecimento, como,
multinacionais brasileiras; (2) verificar como ocorre
por exemplo, as parcerias tecnológicas firmadas
o processo de inovação nessas empresas; e (3)
entre empresas e universidades. Incorporar essas
analisar suas atividades internas e externas de P&D.
novas proposições do processo inovador e,
Para atingir esse objetivo, foi realizada uma
paralelamente, enfrentar a concorrência
pesquisa qualitativa, de natureza descritiva, e
internacional e promover inovações tecnológicas
utilizou-se o método de estudo de caso. A escolha
continuamente tornam-se, portanto, tarefas
das companhias estudadas foi definida de acordo
complexas para as firmas localizadas nos países que
com quatro critérios: 1) realizar atividades
buscam o desenvolvimento, como o Brasil.
industriais de extração ou de transformação; 2) ser
Dessa forma, todos os esforços gerenciais e
brasileira ou possuir um histórico brasileiro
estruturais para superar esses desafios tecnológicos
expressivo; 3) ter unidades produtivas no exterior; e
são positivos, a exemplo da cooperação dos setores
4) possuir parcerias tecnológicas com fontes
produtivos com a academia, o desenvolvimento
externas de tecnologia, tais como universidades e
contínuo de capacidades tecnológicas e a atuação
institutos de pesquisa nacionais e/ou internacionais.
global das multinacionais enquanto instituições
A partir desses critérios identificaram-se, por
geradoras e difusoras de conhecimento. A busca
conveniência, três casos atrativos, Embraco, Tigre e
pela aprendizagem tecnológica, o crescimento de
WEG, que foram alvo de entrevistas em
acordos cooperativos entre empresas e
profundidade, presenciais e por skype. A seguir, são
universidades e a excelência interna e externa da
apresentados os preceitos teóricos que suportaram a
P&D representam, portanto, uma nova tendência do
pesquisa, a metodologia de pesquisa adotada, os
mundo empresarial. O estudo dessas tendências,
resultados obtidos e, por fim, as considerações
notadamente seu desenvolvimento, sua gestão e
finais do trabalho.
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4. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
2. REFERENCIAL TEÓRICO contribuição do economista Joseph Schumpeter,
2.1. Inovação: conceito e gestão que, pela primeira vez, colocou a inovação como
principal fonte de dinamismo do sistema capitalista.
Para entender a evolução histórica do tema
Schumpeter (1988) mostrou a relação entre
“inovação” é conveniente resgatar a essência das
inovação tecnológica e ciclos longos de crescimento
teorias neoclássica e evolucionista. A escola
econômico, advindos do aumento de investimentos
neoclássica tem alinhamento com a perspectiva de
que se segue à introdução das inovações mais
racionalidade ilimitada para o comportamento
significativas. Para esse autor, o capitalismo
humano e a expectativa de equilíbrio das relações
desenvolvia-se em razão de estimular o surgimento
econômicas. A inovação seria uma consequência
de empreendedores, isto é, de capitalistas ou
natural de um processo mecânico, homogêneo,
inventores criativos, que eram responsáveis pelas
linear e natural no exercício da atividade produtiva,
ondas de prosperidade do sistema. Ainda segundo
ou seja, intrínseco ao sistema produtivo da firma,
Schumpeter, toda inovação implica uma "destruição
cuja resultante é a depreciação do custo médio de
criadora". O novo não nasce do velho, mas sim ao
produção. Em contrapartida, a escola evolucionista
seu lado, superando-o. Dessa forma, as inovações
é marcada pela flexibilização da expectativa de
caracterizam-se pela introdução de novas e mais
racionalidade e pela desconsideração da
eficientes combinações produtivas ou mudanças nas
objetividade maximizadora de resultados. Volta-se
funções de produção, que constituem o impulso
para o caráter dinâmico, cumulativo e não linear do
fundamental que aciona e mantém em movimento a
processo de mudança, e caracteriza-se pelo
máquina capitalista.
reconhecimento de uma competição dinâmica entre
Além do panorama histórico da temática
agentes produtivos. Assim, se o pensamento
inovação, é necessário discutir a gestão do processo
clássico está interessado na inovação da firma, a
de inovação, e, para tal, três fases básicas são
teoria evolucionista preocupa-se em investigar as
exploradas: (a) fase de conceito, na qual ideias
realidades das empresas e entender suas
novas são encontradas; (b) fase de
capacidades de aprendizado e inovação, suas
desenvolvimento, na qual ideias são transformadas
estratégias e atividades de adaptação, integração e
em projetos; e (c) fase de negócios/comercialização,
reconfiguração de habilidades e recursos
na qual projetos são transformados em novos
(NELSON; WINTER, 1977; DOSI, 1988; KLINE;
negócios. Cada fase do processo de inovação exige
ROSENBERG, 1986; WINTER, 1987;
tarefas distintas de gerenciamento e administração.
LUNDVALL, 1992; BELL; PAVITT, 1993;
Na fase do conceito, a principal tarefa dos gerentes
TEECE; PISANO; SHUEN, 1997; FREEMAN,
é a criação de um clima favorável à inovação, pelo
1994, 1995; GAVA, 2007).
uso da abordagem cultural. Na fase do
Neste esforço de apresentar um panorama
desenvolvimento, a tarefa principal é a criação e
histórico do tema inovação é relevante citar a
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5. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
definição de mecanismos corretos para habilitar a mobilizar as etapas do funil de inovação (VAN
criação e o desenvolvimento de projetos. Na fase de DER MEER, 2007; ENGEROFF; BALESTRIN,
negócio/comercialização, sugere-se seguir a 2008).
abordagem clássica: planejar, agir e controlar. Por Já a abordagem aberta de inovação se baseia na
meio dessa divisão, fica claro que gerenciar o utilização de caminhos internos ou externos para
processo de inovação é realmente administrar avançar no desenvolvimento de novas tecnologias a
paradoxos. O processo completo da inovação exige partir de iniciativas colaborativas ou de simples
o bom gerenciamento de todas as etapas, que muitas troca, tais como relacionamentos com empresas,
vezes entram em conflito. O modo como as universidades, institutos de pesquisa, clientes e
empresas gerenciam o processo de inovação e seus fornecedores. As principais convicções da inovação
paradoxos leva a duas abordagens do processo de aberta são: é necessário trabalhar com pessoas
inovação: a abordagem fechada de inovação e a inteligentes dentro e fora da empresa; P&D externo
abordagem aberta de inovação (CHESBROUGH, pode criar significativo valor e P&D interno é
2003; DOCHERTY, 2006; VAN DER MEER, necessário para captar e efetivamente incorporar à
2007; ENGEROFF; BALESTRIN, 2008). empresa esse valor; não é obrigatoriamente
Na abordagem fechada de inovação, o controle necessário desenvolver internamente pesquisa para
sobre o processo de inovação é essencial. Essa lucrar com ela; construir um bom modelo de
formalização muitas vezes faz uso do Funil da negócio pode ser melhor do que ser a primeira
Inovação e do modelo de stage-gate (COOPER, empresa a colocar uma inovação no mercado; o
1992; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2003). Esse ganho advém do uso dos projetos de inovação e é
sistema pode ser exemplificado por um funil de recomendável compartilhar e comprar ideias para
fases dentro do processo de inovação, entre as quais alavancar o modelo empresarial (CHESBROUGH,
há portões que tentam filtrar potenciais projetos 2003; VAN DER MEER, 2007; ENGEROFF;
“perdedores”. Segundo Cooper (1992) e Besemer BALESTRIN, 2008).
(2000), os principais critérios para a inovação Sob os enfoques da escola evolucionista e da
próspera utilizados nos stage-gates são: novidade, inovação aberta, ou seja, considerando a
viabilidade e efetividade. O funil tem como entrada necessidade de entender a realidade das empresas e
as ideias; estas se transformam em projetos, e os desafios e oportunidades da inovação aberta, são
alguns desses projetos transformam-se em negócios. apresentados a seguir dois modelos de inovação. O
O sucesso está estreitamente definido como um primeiro deles é o de Berkhout et al. (2006), cuja
novo produto, tecnologia ou mercado para a contribuição principal foi o desenvolvimento do
empresa. Essa abordagem fechada de inovação está Modelo Cíclico da Inovação (MCI). Neste modelo,
essencialmente centrada nas capacidades internas da a ciência não está no começo de uma corrente, cuja
organização, e somente o P&D interno pode extremidade oposta é o mercado. Ambos, ciência e
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6. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
mercado, são partes de um processo criativo ao Para finalizar as discussões sobre o conceito e a
longo de um trajeto dinâmico que não tem nenhum gestão da inovação, é relevante assinalar que as
ponto fixo de início ou término: as inovações empresas brasileiras, sejam elas de pequeno, médio
constroem-se de forma inovadora. O resultado é um ou grande porte, terão, cada vez mais, que buscar
acúmulo de valor econômico e social, criado ao não só produtos e processos inovadores, mas
longo de um círculo complexo. No MCI, as também a criação e renovação dinâmica de soluções
descobertas científicas e as mudanças do mercado inovadoras, mediante o uso e o compartilhamento
se autoinfluenciam continuamente. O processo de ideias internas e externas à empresa que estão
inovador requer a interação entre as descobertas dispersas mundialmente. O desafio concentra-se,
científicas e os novos negócios empresariais, bem portanto, em avaliar como gerenciar a inovação
como o intercâmbio entre as novas oportunidades aberta e a inovação fechada dinamicamente.
de mercado e as invenções tecnológicas. O 2.2. Capacitação para a inovação
conhecimento científico é convertido em um novo
Segundo Figueiredo (2001), quando o modelo
produto ou processo, cujo valor não é apenas
cíclico da inovação é concebido de forma dinâmica
mercadológico, mas também socioeconômico
tem-se a “capacitação tecnológica”, cuja definição
(BERKHOUT et al., 2006).
está associada à incorporação dos recursos
Etzkowitz e Leydesdorff (2000) também
necessários para gerar e gerir mudanças
sugerem um modelo no qual a inovação é
tecnológicas. Tais recursos se acumulam e se
construída a partir de uma espiral interativa de
incorporam aos indivíduos (aptidões,
ligações que facilita a compreensão das relações
conhecimentos e experiência) e aos sistemas
que se estabelecem entre três esferas institucionais –
organizacionais. Assim, a capacidade tecnológica
universidade, empresa e governo. Este modelo,
pode ser avaliada a partir de três elementos (Tabela
denominado Triple Helix (Tríplice Hélice), é
1): a aptidão produtiva, a aptidão de investir e a
apresentado como uma proposta intermediária entre
aptidão de inovar. A análise conjunta dessas
o livre mercado e o planejamento centralizado.
aptidões indica o nível de capacidade tecnológica de
Pressupõe-se que o crescimento econômico é
uma empresa em um determinado momento (KIM,
dependente não apenas de um novo ciclo de
2005).
inovações, mas também de uma nova estrutura para
a inovação que conecte, de forma cada vez mais
intensa, as pesquisas básica e aplicada
(ETZKOWITZ, 2004; LEYDESDORFF; MEYER,
2006; LEYDESDORFF; DOLFSMA; PANNE,
2006).
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7. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
Tabela 1: Elementos da capacidade tecnológica
A administração da produção para supervisionar as operações dentro das instalações estabelecidas;
A engenharia de produção para fornecer as informações necessárias à otimização das operações
dentro das instalações estabelecidas, incluindo o controle de matérias-primas, a sincronização da
Aptidão
produção, o controle de qualidade, a resolução de problemas e adaptações de processos e produtos
Produtiva
para diferentes situações;
Reparo e manutenção dos bens de capital, de acordo com a programação normal ou conforme
necessário.
O treinamento da força de trabalho para a transmissão de conhecimentos e habilidades de todos os
tipos;
Estudos de viabilidade de investimento para identificar possíveis projetos e suas perspectivas de
Aptidão de
viabilidade, sob concepções alternativas de projeto;
Investir
A execução de projetos para estabelecer ou promover a ampliação das instalações, incluindo o
gerenciamento e a engenharia de projetos, a aquisição e incorporação de bens de capital e o início
de operações propriamente dito.
Pesquisa básica para gerar novos conhecimentos para seu próprio interesse;
Aptidão de Pesquisa aplicada para gerar conhecimentos com implicações comerciais específicas;
Inovar Desenvolvimento para transformar o conhecimento técnico e científico em novos produtos,
processos e serviços.
Fonte: Adaptado de Kim (2005).
A identificação e medição da capacidade capacidades rotineiras, isto é, capacidades para
tecnológica em empresas ou setores industriais é usar ou operar certa tecnologia, e capacitações
algo muito relevante, mas, além de identificar se inovadoras, isto é, capacidades para adaptar e/ou
esta existe ou não, deve-se também avaliar sua desenvolver novos processos de produção, sistemas
natureza e o seu nível e grau. Assim, apresenta-se a organizacionais, produtos, equipamentos e projetos
seguir (Tabela 2) um modelo descritivo que permite de engenharia, isto é, capacidades para gerar e gerir
identificar e medir as capacidades tecnológicas em a inovação.
empresas de economias emergentes. Com base
nesse modelo, é possível distinguir entre:
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Tabela 2: Capacidades Tecnológicas em Empresas de Economias Emergentes
Funções Tecnológicas e Atividades Relacionadas
Níveis de
Investimentos Processos e
competências
Decisão e controle Engenharia de organização da Produtos Equipamentos
Tecnológicas
sobre a planta projetos produção
Preparação inicial de Replicação de
Coordenação de rotina Reposição de rotina de
Decisão sobre projeto. Sincronização produtos seguindo
Básico na planta. Absorção da componentes.
localização da planta. de trabalhos de especificações
capacidade da planta. Realização de testes.
instalações. amplamente aceitas.
Manufatura e
Coordenação Replicação de
Monitoramento ativo Serviços rotineiros de reposição de
aprimorada da planta. produtos. Obtenção de
Renovado de rotina de unidades engenharia na planta componentes sob
Obtenção de certificações
existentes na planta. nova e/ou existente. certificação
certificações. internacionais.
internacional.
Planejamento de Pequenas adaptações Pequenas adaptações
Envolvimento ativo Adaptações pequenas
projeto. Estudo de em processos, em especificações
em fontes de em equipamentos para
Extrabásico viabilidade técnica eliminação de gargalos dadas. Criação de
financiamento de ajustá-los a matérias-
para grandes e alongamento de especificações
tecnologia. primas locais.
expansões. capacidades. próprias.
Monitoramento Alongamentos Aprimoramentos
parcial e controle de sistemáticos de sistemáticos em Reforma de grandes
Engenharia de
estudos de capacidade. especificações dadas. equipamentos sem
instalações. Expansões
viabilidade de Manipulação de Engenharia reversa. assistência técnica.
Pré-intermediário tecnicamente
expansão; busca, parâmetros-chave de Desenho e Engenharia reversa
assistidas. Engenharia
avaliação e seleção processos. Novas desenvolvimento de básica. Manufatura de
de detalhamento.
de tecnologia e técnicas produtos tecnicamente grandes equipamentos.
fornecedores. organizacionais. assistidos.
Aprimoramento Aprimoramento
contínuo de processo. contínuo em
Monitoramento Engenharia básica de
Desempenho de especificações
completo, controle e plantas individuais. Contínua e básica e de
sistemas próprias.
execução de estudos Expansão da planta detalhe e manufatura
automatizados. Desenvolvimento e
Intermediário de viabilidade, busca, sem assistência de plantas individuais.
Integração de comercialização de
avaliação e seleção, e técnica. Provisão Manutenção
processos. produtos complexos e
atividades de intermitente de preventiva.
Alongamento de alto valor.
financiamento. assistência técnica.
rotinizado de Certificação para
capacidade. desenvolvimento
Adição de valor a
Engenharia básica da
produtos
planta inteira. Integração entre Contínua e básica e
desenvolvidos.
Elaboração e Provisão sistemática sistemas operacionais detalhe de
Desenho e
execução próprias de de assistência técnica e sistemas equipamento para
desenvolvimento de
Intermediário projetos. Provisão de em: estudos de corporativos. planta inteira e/ou
produtos extra-
superior assistência técnica viabilidade, Engajamento em componentes para
complexos e de alto
em decisões de engenharia de processos de inovação outras indústrias.
valor.
investimentos. aquisição, de detalhe, baseados em pesquisa Assistência técnica
Desenvolvimento
básica e partida da e engenharia. para outras empresas.
conjunto com
planta.
usuários.
Desenho e
Produção mundial. Desenho e manufatura
Gestão de projetos de desenvolvimento de
Engenharia de classe Desenhos e de equipamentos de
classe mundial. produtos em classe
mundial. Novos desenvolvimento de classe mundial. P&D
Avançado Desenvolvimento de mundial. Desenho
desenhos de processos novos processos para novos
novos sistemas de original via
e P&D relacionado. baseados em equipamentos e
produção via P&D. engenharia, pesquisa e
engenharia e P&D. componentes.
desenvolvimento.
Legenda: Capacidades rotineiras; Capacidades inovadoras.
Fonte: Adaptado de Figueiredo (2004).
Considerando a aquisição dinâmica das produtivas, de investimento e de inovação. Esse
capacidades tecnológicas, obtêm-se a aprendizagem processo de aprendizagem não pode ser explicado
tecnológica e o desenvolvimento das aptidões apenas por um ou dois fatores; embora ele ocorra
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9. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
primariamente dentro de empresas, a infraestrutura origem a uma interação produtiva entre
tecnológica e de inovação (universidades e seus fornecedores e compradores. As interações que
diversos departamentos, institutos públicos e emergem dessas considerações podem ser
privados de pesquisa, centros de formação e agrupadas em três diferentes conjuntos: ligações
treinamento, consultorias, banco de dados) pode informais, ligações vinculadas à formação e
contribuir para o processo inovador em nível de aperfeiçoamento de recursos humanos e ligações
empresas. Ele exige um efetivo sistema nacional de formais (Tabela 3) (BELL; PAVITT, 1995;
inovações, um complexo de instituições formais e FIGUEIREDO, 2004; KIM, 2005). Sendo assim, é
informais nos contextos circunstanciais e culturais importante fortalecer os vínculos entre empresas e a
de um Estado-Nação. Exige também programas infraestrutura de tecnologia e inovação, ou seja,
públicos equilibrados, capazes de criar um ambiente deve-se garantir um maior ajuste entre os vários
econômico propício à entrada de tecnologias atores que compõem o sistema local e/ou nacional
estrangeiras suficientemente competitivas para de inovação.
forçar as empresas a acelerarem a aprendizagem
tecnológica. Esse sistema também deverá dar
Tabela 3: Tipos de ligação entre a infraestrutura tecnológica e a indústria
Contatos informais com pesquisadores; acesso à literatura especializada; acesso à
Ligações pesquisa de departamentos específicos; participação em seminários e conferências;
informais acesso aos equipamentos da universidade e/ou institutos de pesquisa; participação em
programas específicos (educacionais e de treinamento); outras ligações informais.
Envolvimento de estudantes em projetos industriais; recrutamento de recém-graduados;
Recursos recrutamento de cientistas e engenheiros mais experientes; programas formais de
humanos treinamento para atender às necessidades dos colaboradores; outras ligações
relacionadas aos recursos humanos.
Consultoria desenvolvida por pesquisadores e consultores; análises e testes (ensaios
técnicos); serviços de atualização de acervo (normas técnicas atualizadas, patentes);
Ligações
respostas técnicas (diagnósticos de problemas relativos ao processo produtivo);
formais
estabelecimento de contratos de pesquisa; estabelecimento de pesquisa conjunta; outras
ligações formais.
Fonte: Adaptado de Vedovello (2001) e Figueiredo (2004).
entrevistados, em lugar de produção de medidas
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
quantitativas de características ou comportamentos.
A pesquisa foi qualitativa e assumiu natureza
O método utilizado na pesquisa foi o estudo de
descritiva. Segundo Richardson (1999), a pesquisa
múltiplos casos. Para Martins (2006), o método
qualitativa caracteriza-se por uma tentativa de
estudo de caso é uma investigação empírica que
compreensão detalhada dos significados e das
pesquisa fenômenos dentro de seu contexto real
características situacionais apresentadas pelos
(pesquisa naturalística); o pesquisador, que não tem
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10. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
controle sobre eventos e variáveis, busca apreender secundários foram obtidos em relatórios e
a totalidade de uma situação e, criativamente, documentos organizacionais e também em fontes
descrever, compreender e interpretar a secundárias de evidência, como jornais, periódicos,
complexidade de um objeto delimitado. Assim, o anais de congresso e sites das organizações
estudo de caso contribui, de forma satisfatória, na estudadas.
condução dos estudos investigativos.
4. RESULTADOS OBTIDOS
A escolha das companhias estudadas foi definida
4.1. Caracterização das Multinacionais Estudadas
de acordo com quatro critérios: 1) as companhias
deveriam realizar atividades industriais de extração Fundada em 1971, na cidade de Joinville, a
ou de transformação; 2) ser brasileiras ou possuir Embraco começou a produzir em 1975 com o
um histórico brasileiro expressivo; 3) ter unidades objetivo inicial de suprir as necessidades da
produtivas no exterior; 4) e possuir parcerias indústria brasileira de compressores. Nesse período,
tecnológicas com fontes externas de tecnologia, tais sua capacidade de produção era de 1 milhão de
como universidades e institutos de pesquisa unidades/ano, e já em 1977 foram iniciadas
nacionais e/ou internacionais. atividades de exportação para a América Latina. Em
A partir desses critérios identificaram-se, por 1981, a empresa iniciou o desenvolvimento de
conveniência, três casos atrativos – Embraco, Tigre tecnologia própria, em parceria com universidades e
e WEG –, que foram alvo de entrevistas em centros de pesquisa. Em 2000, alcançou a produção
profundidade, presenciais e por skype. Cabe de 200 milhões de unidades; no ano seguinte,
ressaltar que, das três empresas selecionadas, ganhou o Prêmio Nacional de Inovação Tecnológica
apenas a Embraco não é efetivamente brasileira, da FINEP – Categoria Média e Grande Empresa. Em
pois em 1997 a americana Whirpool assumiu seu 2006, a empresa foi adquirida por um grupo
controle acionário. No entanto, a referida empresa empresarial estrangeiro; entretanto, continuou a
foi mantida no estudo em razão de seu expressivo operar de forma estruturalmente independente, em
histórico brasileiro, uma vez que o início e o razão da peculiaridade de seus negócios.
desenvolvimento de suas parcerias tecnológicas Atualmente, a empresa possui unidades produtivas
com universidades e institutos de pesquisa no Brasil, na Itália, na Eslováquia e na China. A
(iniciadas na década de 80) e seu processo de empresa emprega atualmente 10.416 colaboradores,
internacionalização (iniciado em 1990) ocorreram 6.147 no Brasil, 54 nos EUA, 908 na Itália, 2.100
antes de sua aquisição. Foram utilizados nesta na Eslováquia e 1.207 na China. Estima-se que o
pesquisa dados primários e secundários; para seu market share mundial seja de 20%, cuja
interpretá-los, utilizou-se análise documental e de distribuição assume a seguinte ordenação: 47% da
conteúdo. Os primários foram coletados por meio América do Sul, 45% da América do Norte, 15% da
de entrevistas semiestruturadas e questionários; os Europa e 6% da Ásia.
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11. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
A Tigre iniciou suas operações, na cidade de na China, e conta com 18 mil colaboradores, 2 mil
Joinville, em 1941, com uma fábrica de pentes e no exterior e 16 mil no Brasil.
cachimbos. Alguns anos depois, com a Com relação à estrutura de P&D das
disseminação do plástico, a empresa começou a multinacionais estudadas, constatou-se que, na
utilizar essa nova matéria-prima na fabricação de Embraco, 426 colaboradores trabalham em
pentes, piteiras, copos, pratos, brinquedos e leques. atividades de P&D (243 no Brasil, 2 nos EUA, 39
No fim dos anos 1950, resolveu investir em um na Itália, 73 na Eslováquia e 69 na China). A
novo projeto: usar o PVC para fabricar tubos e estrutura física da área de P&D é constituída por 37
conexões utilizáveis em instalações hidráulicas. No laboratórios, 13 dos quais se encontram no Brasil, 1
final da década de 70, a empresa iniciou seu nos EUA, 8 na Itália, 9 na Eslováquia e 6 na China.
processo de internacionalização, adquirindo fábricas Há duas décadas a empresa investe de 2% a 3% de
no exterior e solidificando suas bases de exportação. sua receita líquida anual em P&D, o mesmo
Atualmente detém 60% do mercado nacional de percentual registrado pelos maiores nomes do setor
tubos e conexões de PVC; sua matriz está localizada de máquinas e equipamentos elétricos dos Estados
em Joinville (Santa Catarina/BR); possui cinco Unidos. Na WEG, 1.739 colaboradores atuam em
unidades produtivas no Brasil, duas na Bolívia, uma P&D; a empresa possui um centro tecnológico na
no Paraguai, uma na Argentina, uma no Chile e uma matriz, um centro de desenvolvimento na unidade
nos EUA, e conta com aproximadamente 4.000 de Portugal, além dos departamentos de engenharia
funcionários, sendo 3.500 no Brasil e 500 nas de suas subsidiárias; seus investimentos em P&D
unidades do exterior. equivalem a 3,5% do faturamento bruto anual. Na
Com um capital inicial equivalente a três fuscas, Tigre, 83 colaboradores atuam em P&D; a empresa
a WEG foi fundada em 1961 em Jaraguá do Sul e possui um departamento de P&D na matriz e seus
iniciou suas atividades contando com apenas nove investimentos em P&D equivalem a 0,9% do
funcionários e três sócios, um eletricista, um faturamento bruto anual.
administrador e um mecânico. Depois de 46 anos
4.2. Etapas do processo de capacitação
de existência e um longo aprendizado tecnológico, a
A capacitação para a inovação na Embraco
empresa, com capital totalmente nacional, é uma
seguiu um processo evolutivo, que ao longo dos
das cinco maiores fabricantes de motores elétricos
anos foi sendo lapidado pelo acúmulo de
do mundo e uma das líderes em tecnologia em seu
conhecimentos e pelo esforço e dedicação da equipe
setor. Hoje a empresa realiza exportações para mais
de trabalho. Esse processo evolutivo pode ser
de 100 países; sua matriz está localizada em Jaraguá
estruturado em seis fases interdependentes, cujas
do Sul (Santa Catarina/BR); possui onze parques
especificidades são apresentadas a seguir (Figura 1).
fabris no Brasil, três unidades produtivas na
a) Fase 1 (início da década de 70). Nesta fase
Argentina, uma no México, uma em Portugal e uma
foram adquiridas tecnologias estrangeiras já
REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011 307
12. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
maduras e contrataram-se algumas consultorias estabelecidas parcerias com universidades e
tecnológicas. Essas estratégias promoveram a institutos de pesquisa. Essas parcerias, somadas aos
imitação duplicada de produtos concorrentes esforços internos de P&D, geraram, tempos depois,
(Figura 1). o primeiro produto com tecnologia nacional (Figura
b) Fase 2 (fim da década de 70). Diante da 1).
saturação do mercado nacional, foi iniciado o e) Fase 5 (década de 90). Com o intuito de
processo de internacionalização da empresa por acessar diretamente o mercado internacional, foram
meio de exportações; com a atuação internacional instaladas plantas produtivas no exterior, o que
da empresa, a concorrência foi intensificada e um facilitou o contato com conhecimentos e tecnologias
padrão tecnológico robusto começou a ser requerido internacionais (Figura 1).
pelo mercado (Figura 1). f) Fase 6 (década atual). O fortalecimento das
c) Fase 3 (década de 80). Com as novas parcerias, o aperfeiçoamento das atividades internas
exigências tecnológicas, estruturou-se a área de de P&D, o acúmulo de conhecimento e a
pesquisa e desenvolvimento, que futuramente experiência adquirida ao longo dos anos em
possibilitou a imitação criativa de produtos pesquisa e desenvolvimento garantem hoje à
concorrentes (Figura 1). empresa uma capacitação robusta para a inovação e
d) Fase 4 (década de 80). Para fortalecer as promovem a criação constante de produtos
atividades internas de P&D, foram então inovadores (Figura1).
308 REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011
13. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
Figura 1: O processo de capacitação da Embraco
Fonte: Elaborada pelos autores.
Quanto à capacitação para a inovação na Tigre, ser estruturado em 4 fases interdependentes (Figura
verifica-se que a empresa ainda passa por um 2):
intenso processo de aprendizagem, que foi iniciado a) Fase 1 (década de 70). Diante da saturação do
há 7 anos. Durante esse período, uma forte mercado nacional, foi iniciado o processo de
reestruturação técnica e gerencial foi efetuada na internacionalização da empresa por meio de
área de P&D; atualmente, a empresa realiza exportações e da instalação de plantas produtivas no
internamente atividades de desenvolvimento, exterior (1977); com a atuação internacional, a
customização, engenharia e ferramentaria, e concorrência intensificou-se, o que exigiu da
externamente estabelece algumas parcerias com empresa uma postura mais agressiva para a
universidades e institutos de pesquisa para recorrer diferenciação de seus produtos (Figura 2).
a serviços técnicos específicos e desenvolver b) Fase 2 (década de 90). A estrutura de P&D da
algumas atividades de pesquisa. O empresa era rudimentar, suas atividades pouco
processo evolutivo da capacitação da empresa pode contribuíam para a competitividade da empresa,
REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011 309
14. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
pois estavam atreladas aos modismos tecnológicos de P&D, pautada pelo sigilo, pela eficiência e pela
da época. Até esse período, a empresa recorria eficácia (Figura 2).
constantemente a consultorias tecnológicas para d) Fase 4 (2007). Atualmente, a empresa oferta no
solucionar os problemas internos de P&D, mercado produtos diferenciados; no entanto, ainda
estratégia que muitas vezes resultava em projetos vivencia um forte aprendizado tecnológico. A
inadequados à realidade da empresa (Figura 2). intensificação das parcerias, o fortalecimento das
c) Fase 3 (início do ano 2000). A área de P&D foi atividades internas de P&D e a troca de
reestruturada; recursos físicos, tecnológicos e conhecimentos entre as unidades produtivas são
humanos foram direcionados à P&D; novas práticas ações que precisam ser analisadas pela empresa,
gerenciais foram adotadas, e a P&D se integrou a para que no futuro as atividades internas e externas
outros departamentos da empresa para gerenciar de P&D de fato possam atingir a excelência
melhor os projetos. Surgiu então uma nova filosofia (Figura 2).
Figura 2: O processo de capacitação da Tigre
Fonte: Elaborada pelos autores.
310 REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011
15. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
No caso da WEG, verifica-se que a capacitação atuais diretores e gerentes e o treinamento contínuo
para a inovação adquirida ao longo dos anos garante de seu corpo técnico e administrativo solidificaram
à empresa hoje um desempenho inovador relevante o aprendizado tecnológico e científico da empresa, e
diante dos concorrentes. Segundo um executivo da sua atual competitividade deve-se em grande parte a
empresa, “as inúmeras parcerias tecnológicas tais fatores”. O processo evolutivo da capacitação
firmadas com universidades, o perfil arrojado e da empresa pode ser estruturado em cinco fases
empreendedor dos fundadores da empresa e dos interdependentes (Figura 3):
Figura 3: O processo de capacitação da WEG
Fonte: Elaborada pelos autores.
a) Fase 1 – década de 60. Para iniciar sua investimentos foram destinados à ampliação e
capacitação, a empresa adquiriu tecnologia alemã e modernização da linha de produção; em 1968, o
recorreu a consultorias de professores e primeiro engenheiro foi admitido. Foram montados
pesquisadores. Em um segundo momento, neste mesmo período vários laboratórios, que mais
REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011 311
16. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
tarde dariam origem ao Centro Tecnológico os investimentos em pesquisa e o desenvolvimento
(Figura 3). tecnológico. Além de equipes de pesquisadores,
b) Fase 2 – década de 70. Em 1970 foram mantém laboratórios de ensaio, protótipos, sistemas
efetivadas as primeiras exportações; dois anos e documentação, que convergem para o Centro
depois, entrou em execução um projeto de expansão Tecnológico (Figura 3).
e novas unidades de negócio foram criadas. Em
4.3. O processo de inovação das multinacionais
1977 foi assinado um contrato para a exportação de
estudadas
tecnologia para uma empresa colombiana. Em 1979
Na Embraco, a estratégia de inovação
ocorreu a junção de laboratórios, dando origem ao
predominante refere-se à busca da liderança
Centro Tecnológico, que reúne também as áreas de
tecnológica e ao desenvolvimento sistemático de
projetos e normalização (Figura 3).
soluções inovadoras, como produtos e processos
c) Fase 3 – década de 80. A empresa iniciou a
novos ou adaptados, novas práticas organizacionais
década de 80 com equipes próprias de
e novos negócios. O processo de inovação da
pesquisadores e inúmeros laboratórios, onde
empresa é dinamicamente influenciado pelas metas
realizava ensaios e fabricava protótipos.
do planejamento tecnológico e pelo estado corrente
Paralelamente, incrementava as relações de
das necessidades da sociedade, das aspirações dos
intercâmbio tecnológico com centros de pesquisa de
clientes e dos conhecimentos científicos e
universidades nacionais e internacionais. No ano de
tecnológicos. Esse processo de inovação é iniciado
1983 a WEG vendeu tecnologia própria à associada
pela definição das tendências científicas e
Eletromotores Yaracuy, da Venezuela (Figura 3).
tecnológicas; para tal, utilizam-se inúmeras fontes
d) Fase 4 – década de 90 e início do século 21.
de informação, tais como universidades, institutos
Na década de 90, a WEG experimentou um
de pesquisa, publicações científicas, banco de
crescimento expressivo nas vendas, consolidando-se
patentes, congressos e feiras, concorrentes e
no mercado brasileiro e ampliando as exportações.
fornecedores. Posteriormente, essas tendências são
Lançou produtos inovadores, com tecnologia
formalizadas em projetos, classificados em projetos
atualizada, e conquistou a certificação ISO 9001 e o
pequenos, médios, grandes ou de desenvolvimento
TQC (Total Quality Control). No ano de 1991 a
tecnológico. Os projetos grandes e de
empresa iniciou o processo de internacionalização
desenvolvimento tecnológico são de longo prazo e
da produção (Figura 3).
englobam as fases de pesquisa, desenvolvimento,
e) Fase 5 – década atual. Atualmente, a WEG
engenharia, customização, produção e
garante uma evolução tecnológica para seus
comercialização. Os projetos pequenos são
clientes, liderando as inovações eletroeletrônicas
iniciados na fase de customização, os médios na
industriais, em parceria com centros de pesquisa e
fase de desenvolvimento (Figura 4).
universidades no Brasil e no exterior. São contínuos
312 REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011
17. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
Figura 4: Processo de inovação da Embraco
Fonte: Elaborada pelos autores.
Na Tigre, a estratégia de inovação fundamental é complexas e detalhadas: no início do processo, o
a realização de benchmarking tecnológico e o primeiro portão precisa filtrar uma grande
monitoramento das tendências do mercado. Com quantidade de informações ainda superficiais; com
relação ao processo de inovação da empresa, o decorrer do processo, a quantidade de
observa-se a existência de uma espécie de stage- informações diminui, mas, em contrapartida, estas
gate próprio, com 5 fases e 4 portões, constituído se tornam mais complexas e precisam ser
por estágios que envolvem sequencialmente detalhadas (Figura 5):
pesquisa, desenvolvimento e customização, que
resultam em produtos e processos comercializáveis.
Cabe frisar que esses portões funcionam como
filtros que, ao longo das fases do processo de
inovação, exigem informações cada vez mais
REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011 313
18. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
Figura 5: Processo de inovação da Tigre
Fonte: Elaborada pelos autores.
1. Fase 1 - Criação de novos conceitos de coleta dessas informações é de responsabilidade dos
produtos. No início do processo de inovação, a colaboradores da P&D e do Marketing, que, após a
empresa recorre a inúmeras fontes de informação etapa de coleta, convertem as informações em
para identificar as tendências e as necessidades novos conceitos de produtos. Para a apresentação
latentes do mercado. As fontes são as seguintes: os desses novos conceitos à gerência de P&D e à
próprios departamentos da empresa; obras em presidência da empresa, são levantados os aspectos
andamento; banco de patentes; concorrentes; qualitativos (público-alvo, natureza e utilidade do
clientes; fóruns de discussão com instaladores, produto) e quantitativos (previsão de demanda,
arquitetos, engenheiros; serviço de atendimento (a custo e preço do produto, tempo de retorno do
empresa recebe 50 ligações por mês com sugestões capital investido) dos referidos conceitos de
de novos produtos/melhorias); universidades e produtos (Figura 5).
centros de excelência em mecânica, materiais e 1.1 Portão 1. A gerência de P&D e a presidência
hidráulica; feiras nacionais e internacionais. A da empresa avaliam os aspectos qualitativos e
314 REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011
19. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
quantitativos dos novos conceitos de produtos. Se em um banco de dados as informações específicas
esses novos conceitos forem aprovados, inicia-se de cada projeto, de forma que tais informações
então a segunda fase do processo de inovação possam no futuro ser acessadas com segurança e
(Figura 5). agilidade. É importante ressaltar que as inovações
2. Fase 2 - Gestão de portfólio de projetos. Os incrementais e as adaptações tecnológicas são os
líderes dos projetos definem de forma detalhada os principais resultados da P&D da empresa. Dois
prazos e as prioridades de cada projeto, os recursos fatos podem explicar esses resultados: o primeiro
necessários, o escopo do projeto e a equipe de deles diz respeito à capacidade de inovação ainda
trabalho. Nesta fase os indicadores econômicos e precoce, dado que as atividades de P&D foram
financeiros são estimados de forma mais acurada. estruturadas há apenas 7 anos; o segundo refere-se à
Após o levantamento de todos esses dados, a natureza pouco inovadora de seu setor de atuação
gerência de P&D, juntamente com a presidência da (Figura 5).
empresa, avalia novamente os projetos, para 3.1 Portão 3. Se a execução do projeto é avaliada
posteriormente classificá-los em: projetos de de forma positiva pela gerência de P&D e pela
elevada maturidade, projetos de maturidade presidência da empresa, inicia-se então a quarta fase
mediana e projetos de baixa maturidade (Figura 5). do processo de inovação (Figura 5).
2.1 Portão 2. A gerência de P&D e a presidência 4. Fase 4 - Gestão de produtos / etapa 1. Nesta
da empresa avaliam o portfólio de projetos e os etapa, são levados a efeito o levantamento dos
dados econômicos e financeiros de cada projeto. Se custos de produção, a validação do produto, a
os projetos forem avaliados de forma positiva, aquisição de meios de produção, a definição do
inicia-se então a terceira fase do processo de estoque de lançamento e as estratégias
inovação (Figura 5). mercadológicas para lançar o produto no mercado
3. Fase 3 - Gestão de projetos. Nesta fase chega- (Figura 5).
se à execução do projeto, ou seja, um novo produto 4.1 Portão 4. Se a produção em massa do produto
é criado; para tal, são efetivadas atividades internas e suas estratégias mercadológicas forem avaliadas
de desenvolvimento, engenharia, customização, de forma positiva pela presidência da empresa,
prototipação e ferramentaria; são também realizadas inicia-se então a quinta fase do processo de
algumas atividades externas com universidades e inovação (Figura 5).
institutos de pesquisa, tais como serviços técnicos, 5. Fase 5 - Gestão de produtos / etapa 2. Nesta
testes, ensaios, desenvolvimento de protótipos e fase iniciam-se os procedimentos de monitoração
projetos pontuais de pesquisa. A evolução de cada mensal do produto, no que diz respeito à sua
projeto é monitorada pelos líderes mediante o apoio produção, aos seus níveis de custo e retorno, os seus
de um sistema operacional que, além de avaliar se padrões de qualidade e ao acompanhamento dos
as metas estão sendo atingidas, também armazena produtos concorrentes e similares (Figura 5).
REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011 315
20. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
No caso da WEG, a estratégia de inovação dos produtos, os recursos tecnológicos e as
imperativa é a busca de liderança tecnológica e o tendências de mercado (Figura 6).
desenvolvimento sistemático de soluções Na última etapa, as atividades de P&D são
inovadoras, como produtos e processos novos ou classificadas em: adaptação tecnológica,
adaptados, novas práticas organizacionais e novos desenvolvimento interno e contratação externa. As
negócios. Seu processo de inovação pode ser atividades de adaptação tecnológica abrangem os
fragmentado em três etapas interdependentes. A procedimentos de benchmarking e o
primeira refere-se à definição das metas acompanhamento das tendências científicas e
tecnológicas, para a qual são utilizadas inúmeras tecnológicas; já as atividades de contratação externa
fontes de informação, tais como a própria empresa envolvem a aquisição de pacotes tecnológicos
(produção, departamentos de marketing, vendas, abertos, a compra de tecnologias de produtos e
engenharia e P&D), congressos, seminários, processos e a realização de treinamentos na fonte
concorrentes, clientes, fornecedores, internet e (Figura 6).
instituições científicas. Na segunda etapa, um No campo das atividades de desenvolvimento
comitê técnico-científico, constituído por gerentes e interno inclui-se a pesquisa básica, realizada em
diretores da empresa e por pesquisadores e parceria com universidades, cujos resultados estão
professores das instituições parceiras, é formado atrelados à geração de novos conhecimentos.
para avaliar as informações coletadas e Posteriormente, é realizada na empresa a pesquisa
posteriormente definir o portfólio de projetos de aplicada, e novos conceitos de produtos, processo e
P&D. Alguns fatores influenciam a decisão do componentes são criados; em seguida, efetivam-se
referido comitê sobre a definição do portfólio de as fases de desenvolvimento, engenharia,
projetos: o plano estratégico, o padrão de qualidade customização, produção e, finalmente, a
dos produtos, as tendências tecnológicas, os custos comercialização de novos produtos (Figura 6).
316 REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011
21. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
Figura 6: Processo de inovação da WEG
Fonte: Elaborada pelos autores.
engenharia e customizações, que resultam em
4.4. As atividades internas e externas de P&D
inovações radicais e incrementais tanto de produtos
Sobre as particularidades das atividades internas
quanto de processo. Já a Tigre realiza internamente
e externas de P&D, nota-se que a Embraco e a
atividades de desenvolvimento, engenharia,
WEG realizam internamente atividades de P&D
customização, prototipação e ferramentaria, que
robustas, como pesquisa, desenvolvimento,
REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011 317
22. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
resultam em adaptações tecnológicas e inovações Embraco e na WEG pelo P&D interno, pelos
incrementais de produtos e processos. É importante parceiros tecnológicos nacionais e internacionais e
destacar alguns resultados obtidos pela área de P&D por ambos. No caso da Tigre, o desenvolvimento
das empresas estudadas. das inovações ocorre essencialmente nos
Embraco: 375 patentes concedidas e outras laboratórios internos de P&D da matriz. De forma
140 em processo de concessão; os produtos mais específica, os projetos de P&D considerados
lançados há menos de quatro anos respondem estratégicos pela Embraco e pela WEG, que exigem
por 68,7% das vendas; investimento de 2% a 3% conhecimentos e competências não disponíveis
da receita líquida anual em P&D, mesmo internamente, são desenvolvidos com fontes
percentual registrado pelos maiores nomes do externas de tecnologia, tais como universidades e
setor de máquinas e equipamentos elétricos dos institutos de pesquisa. Portanto, os projetos
Estados Unidos. cooperativos estão vinculados às competências
Tigre: 183 patentes no INPI; cerca de 15% do tecnológicas centrais dessas empresas. No caso da
faturamento provém de novos produtos lançados Tigre, apenas projetos pontuais de P&D, que
nos últimos cinco anos; investimento de 0,9% exigem conhecimentos e competências não
do faturamento em P&D. disponíveis internamente, são realizados com
WEG: investimento de 3,5% do faturamento universidades e institutos de pesquisa. Dessa forma,
global em P&D; liderança nas inovações os projetos cooperativos da Tigre somente
eletroeletrônicas industriais, em parceria com incrementam as atividades internas de P&D, não
centros de pesquisa e universidades do Brasil e exercendo influência direta sobre suas competências
do exterior; obtenção de certificações tecnológicas centrais.
internacionais, como a BVQI (Bureau Veritas A Embraco possui 25 anos de história de
Quality International, Inglaterra), UL cooperação tecnológica com instituições nacionais e
(Underwriters Laboratories, Estados Unidos), internacionais. Atualmente, as parcerias
CSA (Canadian Standard Association, Canadá), tecnológicas são frequentes e ocorrem com
Cesi (Centro Elettrotécnico Sperimentale parceiros tecnológicos localizados na Alemanha,
Italiano), Germanischer Loyd (Alemanha), Estados Unidos, França, Itália, Inglaterra, Holanda,
South Africa Bureau of Standards (África do Finlândia, Noruega, Rússia, Romênia e Bielo-
Sul), Standard Association of Australia, Inmetro. Rússia; os parceiros mais expressivos, no entanto,
Ao longo de suas trajetórias empresariais, a estão localizados no Brasil. Já na Tigre as parcerias
Embraco e a WEG licenciaram tecnologias para tecnológicas são recentes e os parceiros mais
empresas internacionais e também adquiriram expressivos são a Universidade Federal de Santa
tecnologias, fatos que ocorreram em menor escala Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Rio
na Tigre. As inovações são atualmente geradas na de Janeiro (UFRJ). A empresa já estabeleceu
318 REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011
23. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
também alguns acordos pontuais com instituições inovação nas multinacionais estudadas seguiu um
internacionais, mas atualmente não há parceria processo evolutivo, basicamente iniciado pela
internacional expressiva. A WEG possui 39 anos de aquisição de tecnologia estrangeira e pela realização
história de cooperação tecnológica com instituições de imitações adaptativas. Tempos depois, com o
científicas e tecnológicas localizadas no Brasil, estabelecimento de parcerias e o desenvolvimento
EUA, Alemanha e Escócia. de uma estrutura interna de P&D, imitações
A decisão de estabelecer parcerias é centralizada criativas começaram a ser realizadas por essas
na matriz das empresas estudadas. Deve-se também empresas. Atualmente, as multinacionais estudadas
destacar que as parcerias da Embraco e da WEG buscam a excelência interna da P&D e o
envolvem pesquisa, desenvolvimento, fortalecimento das interações com fontes externas
monitoramento tecnológico, qualificação de conhecimento e tecnologia como alternativa de
profissional e serviços técnicos, que resultam em aceleração da aprendizagem organizacional para a
conhecimentos e inovações de produtos e de inovação.
processos. As parcerias da Tigre estão associadas a Especificamente, observou-se que os processos
serviços técnicos, testes, ensaios, desenvolvimento de capacitação para a inovação, na Embraco e na
de protótipos e projetos pontuais de pesquisa, que WEG, resultaram cronologicamente em imitações
resultam em conhecimentos e informações para a duplicadas, imitações criativas, inovações radicais e
inovação. incrementais, desenvolvimento de produtos
Para cooperar, a Embraco e a WEG adotam tecnologicamente competitivos, liderança
mecanismos formais, como programas de pesquisa, tecnológica e venda de tecnologia própria. Já os
consórcios, serviços contratados, acordos pontuais e esforços tecnológicos da Tigre resultaram
parcerias interlaboratoriais. A Tigre utiliza cronologicamente em imitações duplicadas,
convênios, acordos pontuais e serviços contratados adaptações tecnológicas, inovações incrementais e
como mecanismos de cooperação. É também desenvolvimento de produtos mercadologicamente
importante destacar que a matriz e as subsidiárias da diferenciados. Atualmente, é possível identificar
Embraco e da WEG possuem autonomia para níveis tecnológicos distintos entre as multinacionais
gerenciar as parcerias tecnológicas. Já as atividades estudadas. A Embraco e a WEG, por exemplo, são
cooperativas da Tigre estão totalmente vinculadas à detentoras de capacidades rotineiras e inovadoras,
matriz, dado que as suas subsidiárias não pois, além de possuírem eficiência corporativa e
estabelecem parcerias tecnológicas. produtiva, também sustentam um desempenho
inovador diferenciado, pautado por constantes
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
inovações de produtos e processos. No caso da
Diante das discussões teóricas apresentadas, e
Tigre, apesar de também estarem presentes as
levando-se em consideração os casos avaliados em
capacidades rotineiras e inovadoras, nota-se que
profundidade, observa-se que a capacitação para a
REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-322, jul./set. 2011 319
24. Priscila Rezende da Costa e Geciane Silveira Porto
esforços mais robustos em pesquisa precisam ser institutos de pesquisa. Portanto, os projetos
implementados e um processo mais intenso de cooperativos estão vinculados às competências
aprendizagem deve ser iniciado, para que a tecnológicas centrais dessas empresas. No caso da
excelência em P&D seja alcançada. Tigre, apenas projetos pontuais de P&D, que
Com relação ao processo de inovação, exigem conhecimentos e competências não
constatou-se que na Embraco e na WEG a inovação disponíveis internamente, são realizados com
ocorre de forma dinâmica, sendo continuamente universidades e institutos de pesquisa. Dessa forma,
influenciada pelas evoluções mercadológicas, os projetos cooperativos da Tigre somente
tecnológicas e científicas. Nesse caso, tem-se um incrementam as atividades internas de P&D, não
processo de inovação interativo, onde atividades exercendo influência direta sobre suas competências
internas e externas de P&D concorrem para a tecnológicas centrais.
execução dinâmica das etapas de pesquisa, Como limitações da presente pesquisa, pode-se
desenvolvimento, engenharia, customização, citar o fato de as multinacionais estudadas terem
produção e comercialização. Na Tigre, o processo sido selecionadas por conveniência, além do fato de
de inovação é predominantemente linear, sofre o estudo ter sido realizado com apenas três
intensa influência do mercado e é constituído por empresas, o que consequentemente impede a
estágios que envolvem sequencialmente pesquisa e realização de generalizações das conclusões obtidas
desenvolvimento, resultando em produtos e no trabalho.
processos comercializáveis. Por fim, serão apresentadas duas constatações
Cabe também destacar que, ao longo de suas que instigarão as futuras discussões sobre a
trajetórias empresariais, Embraco e WEG capacitação para a inovação. A primeira delas é que
licenciaram tecnologias para empresas não existe um consenso ou padrão rígido para a
internacionais e também adquiriram tecnologias, utilização de determinados arranjos, mecanismos e
fatos que ocorreram em menor escala na Tigre. procedimentos gerenciais durante o processo de
Atualmente, as inovações são geradas na Embraco e capacitação, já que cada situação de inovação
na WEG pela P&D interna, pelos parceiros possui suas particularidades, razão pela qual a
tecnológicos nacionais e internacionais e por empresa não deve buscar repetir exatamente os
ambos. No caso da Tigre, o desenvolvimento das procedimentos adotados por outras organizações.
inovações ocorre essencialmente nos laboratórios Sendo uma relação que envolve grupos distintos de
internos de P&D da matriz. De forma mais pessoas, vindos de condições diversas e
específica, os projetos de P&D considerados pesquisando coisas novas, naturalmente o processo
estratégicos pela Embraco e pela WEG, que exigem de aprendizagem exigirá, cada vez mais, novos
conhecimentos e competências não disponíveis instrumentos e estilos alternativos de trabalho. A
internamente, são desenvolvidos com fontes escolha de determinados arranjos e mecanismos
externas de tecnologia, tais como universidades e gerenciais dependerá da posição e dos objetivos da
320 REGE, São Paulo – SP, Brasil, v. 18, n. 3, p. 297-3202, jul./set. 2011
25. Capacitação e inovação: aspectos do desenvolvimento interno e externo nas multinacionais brasileiras
empresa em relação ao processo inovador, e deverá BELL, M.; PAVITT, K. Technological
contemplar as adequações necessárias ao tipo de accumulation and industrial growth: contrasts
between developed and developing countries.
atividade que a empresa pretende desenvolver, seja Industrial and Corporate Change, v. 2, n. 1, p.
ela interna ou externa. 157-210, 1993.
A segunda e última proposição é que a questão
BERKHOUT, A. J. et al. Innovating the
norteadora da capacitação para a inovação não é
innovation process. Technology Management, v.
mais o “que está disponível cientificamente?”, mas 34, n. 3/4, p. 390-404, 2006.
o “que é necessário tecnológica e
mercadologicamente?”, ou seja, o processo BESEMER, S. P. Creative Product Analysis to
Foster Innovation. Design Management Journal,
dinâmico de aquisição de capacidades inovadoras v. 11, n.4, p. 59-64, Fall 2000.
deve ser guiado pela associação das descobertas
científicas com as necessidades tecnológicas e CHESBROUGH, H. W. Open innovation.
Boston: Harvard Business School Press, 2003.
mercadológicas. Além disso, é importante
considerar as interações das empresas com a
COOPER, R.G. The NewProd System: The
infraestrutura de tecnologia e inovação como Industry Experience. Journal of Product
alternativa de aceleração da aprendizagem para a Innovation Management, v. 9, n. 2, p. 113-127,
1992.
inovação. As empresas também deverão administrar
o processo inovador por meio de uma gestão DOCHERTY, M. E. Primer of open innovation:
criativa, aberta e flexível, que aproveite os principles & practice. PDMA Visions, v. 30, n. 2,
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