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ISSN 1982 - 0283




 HISTÓRIA EM
 QUADRINHOS:
UM RECURSO DE
APRENDIZAGEM
   Ano XXI Boletim 01 - Abril 2011
Sumário

História em quadrinhos:
um recurso de aprendizagem



Apresentação da série .................................................................................................	        3
Rosa Helena Mendonça



Introdução ................................................................................................................ 	   5
Sonia M. Bibe Luyten


Texto 1: Origens das histórias em quadrinhos ........................................................... 	                      10
José Alberto Lovetro (JAL)


Texto 2: Quadrinhos além dos gibis ............................................................................ 	               15
José Alberto Lovetro (JAL)


Texto 3: Quadrinhos na sala de aula .......................................................................... 	                21
Sonia M. Bibe Luyten
História em quadrinhos:
um recurso de aprendizagem
								
APRESENTAÇÃO DA SÉRIE

                           Poderíamos lembrar que as histórias em quadrinhos, ao gerar novas 		
                           ordens e técnicas narrativas, mediante a combinação original de 		
                           tempo e imagens em um relato de quadros descontínuos, contribuíram 	
                           para mostrar a potencialidade visual da escrita e o dramatismo que 		
                           pode ser condensado em imagens estáticas.
                                                                                           Nestor Canclini1

Faz tempo que os quadrinhos estão presen-                 chilas, bolsas e, sobretudo nas conversas e
tes nas escolas. Houve uma época em que                   na imaginação, as experiências vividas além
circulavam, sorrateiramente, por baixo das                dos muros das escolas.
carteiras ou eram camuflados entre as pá-
ginas do livro de estudos. E se fossem des-               São redes que se tecem a partir das conver-
                                                                                                                  3
cobertos, era confusão na certa: confisco,                sas e das trocas que acontecem cotidiana-
castigo, bilhete para casa e até ameaça de                mente, nos pátios, nos refeitórios, nas bi-
ser mandado para a tão temida Secretaria!                 bliotecas escolares, nas salas de aula.


Mas os tempos mudaram, as escolas se                      Hoje as histórias em quadrinhos são valo-
transformaram. Ainda que não com a ra-                    rizadas como gênero literário que conjuga
pidez de muitas transformações sociais e                  imagem e palavra, símbolos e signos. Sua
tecnológicas, as novidades da chamada in-                 linguagem se insere nos campos da cultu-
dústria cultural vão aos poucos entrando no               ra e da arte. Autores como Humberto Eco
ambiente escolar. Os próprios alunos, alguns              e Nestor Canclini, citado em epígrafe, entre
professores, determinados projetos, enfim,                outros, estudiosos da chamada cultura de
são variados os portadores das mudanças.                  massa valorizam o potencial das HQ.
Como uma fileira de pequenas formigas di-
ligentes e carregadeiras, crianças, jovens e              Nas escolas, os quadrinhos integram os li-
adultos, todos, vão levando nas pastas, mo-               vros didáticos e fazem parte do acervo das


1	       CANCLINI. Nestor García. Culturas híbridas – Estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo:
Editora da USP, 2000 (p.339).
salas de leitura. Projetos pedagógicos ele-            Nos textos que compõem essa publicação,
gem os quadrinhos como gênero textual a                professores e professoras encontrarão in-
ser desenvolvido nas classes.                          formações e sugestões de atividades. Nos
                                                       programas televisivos poderão conhecer
Muitos professores e professoras buscam                pesquisadores e alguns dos principais qua-
formação para melhor trabalhar com as re-              drinistas brasileiros, além de espaços desti-
vistas e também com as tiras que “frequen-             nados à arte dos quadrinhos.
tam” os cadernos culturais dos jornais.
                                                       Esperamos, assim, contribuir para as infini-
É para atender a essa demanda que a TV                 tas aprendizagens possibilitadas pelo traba-
Escola, por meio do programa Salto para o              lho com os quadrinhos nas escolas!
Futuro, apresenta a série História em qua-
drinhos: um recurso de aprendizagem, com
a consultoria de Sonia M. Bibe Luyten (Pes-
quisadora de Histórias em Quadrinhos, que
em 1972 iniciou o primeiro curso regular de
HQ na Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo e presidente do                                        Rosa Helena Mendonça2   4
Troféu HQMIX).




2	     Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
História em quadrinhos:
um recurso de aprendizagem
	           				
Introdução			


                                                                                     Sonia M. Bibe Luyten 1

                                   “A mente que se abre a uma nova
                                    ideia jamais volta ao seu tamanho original”
                                   (Albert Eistein).


A série História em quadrinhos: um recurso de               estigmas ainda prevalecem, por causa des-
aprendizagem tem como proposta discutir                     te desconhecimento e de ideias que foram
este gênero, tendo em vista sua ampla di-                   espalhadas pelo mundo a partir da década
fusão tanto no Brasil como na maioria dos                   de 1950.
países do mundo. Esta modalidade de comu-
nicação – considerada a “nona arte” – tem                   Gerações e gerações de crianças cresceram                5
colaborado para as atividades didáticas e                   lendo histórias em quadrinhos furtivamen-
constitui um poderoso meio auxiliar nos di-                 te, escondidas dos pais e dos professores,
versos segmentos da comunicação de mas-                     que viam nesta arte um desperdício de tem-
sa, que também podem ser considerados                       po e um perigo às mentes dos jovens.
sistemas educativos.
                                                            Isto foi devido ao livro Seduction of the In-
Ao apresentar esta série, o programa Salto                  nocent (Sedução do Inocente), cujo autor,
para o Futuro tem como objetivo auxiliar o                  o psiquiatra Fredric Wertham, não mediu
professor de várias maneiras. Uma delas é                   esforços para acabar com a oitava arte,
proporcionando a oportunidade de que ele                    numa série de textos que se propunham de-
se familiarize com a linguagem desta arte,                  monstrar que os quadrinhos propiciavam a
pois nem todos conhecem seu valor. Alguns                   violência, além das atividades danosas em


1	      Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações da Universidade de São Paulo, com tese
sobre mangá, os quadrinhos japoneses em 1988. Foi professora do Departamento de Jornalismo e Comunicações da
ECA/USP (1972-1984) e professora convidada de várias universidades no exterior como no Japão, Holanda e França.
Autora de livros sobre este tema como: O que é Histórias em Quadrinhos; Histórias em Quadrinhos – Leitura Crítica;
Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses; Cultura Pop Japonesa – mangá e animê. Atualmente é presidente do Troféu
HQMIX – premiação considerada o “Oscar” das Histórias em Quadrinhos e Humor Gráfico no Brasil. Consultora da
série.
toda a juventude. Logo estas ideias foram      gráfico que não precisa de uma chave para
ao encontro da posição do Senado norte-        ser interpretado. A imagem é complexa, mas
americano na pessoa de Joseph McCarthy.        pessoas inteligentes, como as crianças e os
Ele dirigiu uma cruzada censurando toda        adolescentes, conseguem vislumbrar isto
atividade que acreditava fomentar o comu-      sem restrições.
nismo, a violência e tudo aquilo tido como
antiamericano. Todos os meios de criação e     Os quadrinhos estão ganhando também,
seus criadores foram submetidos à censura,     já há algum tempo, uma respeitabilidade
ou seja, os quadrinhos não fugiram à regra     na escola graças a um programa cada vez
das perseguições do chamado macartismo.        mais popular e criativo, visando aos novos
As revistas deveriam conter um selo com os     leitores, incentivando as crianças para criar
dizeres: Aprovado pela autoridade do código    e, em muitos casos, usando temas de suas
dos quadrinhos. O Brasil também teve um        próprias vidas.
selo semelhante no começo dos anos 1960.
                                               No plano pedagógico, os quadrinhos pro-
O livro deste autor só se popularizou quando   porcionam experiências narrativas desde
foi colocado em forma de reportagens pela      o início do aprendizado, fazendo os alunos
revista Seleções Reader’s Digest, traduzida    adquirirem uma nova linguagem. Crianças         6

em dezenas de idiomas, em vários países,       e adolescentes seguem a história do come-
reforçando a ideia de que pais e professo-     ço ao final, compreendem seu enredo, seus
res deveriam proibir que as crianças lessem    personagens, a noção de tempo e espaço,
quadrinhos. Embora hoje não existam mais       sem necessidade de palavras sofisticadas e
radicalismos como esse, o preconceito ain-     habilidades de decodificação. As imagens
da se manifesta de várias formas.              apoiam o texto e dão aos alunos pistas con-
                                               textuais para o significado da palavra. Os
O que devemos lembrar, contudo, é que,         quadrinhos atuam como uma espécie de an-
sem sombra de dúvida, as Histórias em Qua-     daime para o conhecimento do estudante.
drinhos formam a linguagem do século XX e
continuam sendo a deste novo milênio. Esta     As Histórias em Quadrinhos na sala de aula
afirmação está baseada na complexidade         também motivam os alunos relutantes ao
da simbologia e da terminologia criadas ao     aprendizado e à leitura. Elas os envolvem
longo do desenvolvimento de sua criação.       num formato literário que eles conhecem.
É injusto, portanto, afirmar que os quadri-    E também as HQs “falam” com eles de uma
nhos são subarte e subliteratura. Eles são     forma que entendem e, melhor do que isto,
um meio de expressão com um código ideo-       se identificam. Mesmo para os alunos que
já estão com o hábito de leitura formado, os     no desenvolvimento dos personagens. São
quadrinhos dão a oportunidade de ler um          extensamente lidos em todo o mundo, espe-
material que combina a imagem com texto          cialmente no Japão, onde os mangás (qua-
para expressar simbolismos, pontos de vista,     drinhos japoneses) perfazem 25% das publi-
drama, humor, sátira, tudo isto num só texto.    cações do mercado editorial.


Muitos alunos leem fluentemente, mas têm         Minha experiência profissional com qua-
dificuldades para escrever. Eles têm muitas      drinhos já atinge quatro décadas. Comecei
ideias, mas lhes falta habilidade para criar     como leitora e meu pai me dava livros e qua-
um começo, seguir uma sequência e, de-           drinhos para ler. Não deixei nem os livros,
pois, terminar com uma conclusão lógica. E       nem os quadrinhos, ao longo de minha vida.
é exatamente esta aparência lúdica das His-      Ambos completaram minha formação.
tórias em Quadrinhos que as torna um veí-
culo de comunicação poderoso, bem aceito         Iniciei o primeiro curso universitário sobre
por estudantes, que se sentem estimulados        Histórias em Quadrinhos na Escola de Co-
a refletir e a se expressar por meio delas.      municações da Universidade de São Paulo
                                                 em 1972 e, como pesquisadora, em todos
Este é o outro objetivo deste programa: fazer    estes anos, procurei mostrar aos alunos o       7
o professor ver mais um benefício dos qua-       potencial das Histórias em Quadrinhos em
drinhos que é o de escrever, pesquisar e criar   todos os seus segmentos.
em qualquer área de conhecimento. Muitos
alunos, frequentemente, perguntam se po-         Em 1983 lancei o livro Histórias em quadri-
dem desenhar enquanto estão escrevendo.          nhos e leitura crítica, em que já abordava,
Eles buscam por imagens para dar apoio à         num dos capítulos, o uso de HQ como prá-
sua escrita. Portanto, neste outro passo, a      tica pedagógica. Serve de roteiro para os
permissão de usar imagens e palavras vai         professores explorarem ao máximo em suas
resolver problemas relacionados à narrati-       disciplinas itens como: uso dos quadrinhos
va de uma ideia. Para colocar o texto num        como tema de discussões, na linguagem es-
balão, é preciso habilidade de síntese e do-     crita e oral, identificação projetiva da per-
mínio completo da língua. O erro não será        sonalidade do aluno e dicas para avaliar se
permitido, uma vez que o texto será lido por     alguns livros didáticos empregam correta-
mais pessoas e não só o professor.               mente a sua linguagem.


Além disso, os quadrinhos contêm uma ri-         Nesta série de textos para o programa Sal-
queza tanto no conteúdo das histórias como       to para o Futuro, os docentes encontrarão
novas possibilidades para motivar, ensinar e           Acredito que o objetivo de todo professor
obter resultados em sala de aula. Os equí-             é educar, mesmo se o método parecer não
vocos da década de 1950 são coisas do pas-             convencional. Consequentemente, se as
sado. Tanto os professores como os pais já             Histórias em Quadrinhos melhorarem as
estão prontos para uma nova geração de                 habilidades da leitura, compreensão, imagi-
materiais educativos que ensinem através               nação, pesquisa e até disciplina em sala de
dos quadrinhos.                                        aula, elas devem transformar-se numa ferra-
                                                       menta de trabalho para ele.



Textos da série História em quadrinhos: um recurso de
aprendizagem2

A série História em quadrinhos: um recurso de aprendizagem visa discutir este gênero, que cons-
titui um poderoso meio auxiliar nos diversos segmentos da comunicação de massa e, ainda,
destacar a importância de sua ampla utilização na sala de aula de aula e em outros espaços
educativos e culturais.

                                                                                                           8
Texto 1: Origens das histórias em quadrinhos

No Texto 1, o autor comenta que a linguagem que hoje chamamos de quadrinhos foi criada
no início de nossa civilização e, por incrível que pareça, continua sendo a linguagem do sécu-
lo XXI. Observa que temos exemplos de arte sequencial nos hieróglifos egípcios, nos panôs e
desenhos nas igrejas da Via Sacra de Jesus, difundidos na Idade Média, e até nos túmulos de
reis, onde havia sequências de sua dinastia em alto relevo. Apresenta, também, alguns autores
que se destacaram na produção das histórias em quadrinhos no mundo, em especial nos EUA,
e os mais conhecidos autores de histórias em quadrinhos no Brasil, como Mauricio de Sousa
e Ziraldo, destacando que os personagens criados por eles se tornaram verdadeiros ícones de
nossa cultura.




2	       Estes textos são complementares à série História em quadrinhos: um recurso de aprendizagem, com
veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola de 04/04/2011 a 08/04/2011.
Texto 2: Quadrinhos além dos gibis

No Texto 2 , o autor observa que a linguagem dos quadrinhos vai muito além dos gibis. Procura
demonstrar os diversos caminhos que uma HQ pode trilhar fora de sua comercialização em
bancas, como por exemplo: quadrinhos de informação empresarial; quadrinhos para a área
publicitária; quadrinhos paradidáticos; quadrinhos jornalísticos: quadrinhos terapêuticos; qua-
drinhos religiosos; quadrinhos de vanguarda; quadrinhos no design e na decoração; quadrinhos
no cinema, entre outros. Destaca, ainda, que a linguagem dos quadrinhos tem em sua base
a diversidade de outras artes, em especial o cinema, a literatura, o teatro, as artes plásticas.



Texto 3: Quadrinhos na sala de aula

O Texto 3 tem como objetivo motivar os professores a utilizar as Histórias em Quadrinhos como
uma ferramenta de trabalho na sala de aula, visando desenvolver as habilidades de leitura e
de compreensão de textos e, ainda, ensinar a alfabetização visual para os pequenos e jovens
leitores do século XXI. Destaca alguns elementos que entram na composição dos quadrinhos,
como as onomatopeias, os balões e diversos outros recursos gráficos. A partir da análise dos
elementos constitutivos deste gênero textual, são sugeridos exercícios de linguagem escrita e        9

oral, como um incentivo para as criações literárias e artísticas dos alunos.


Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas do PGM 4: Outros olhares sobre His-
tória em quadrinhos e aprendizagem e para o PGM 5: História em quadrinhos e aprendizagem em
debate.
texto 1

Quadrinhos além dos gibis
                                                                                  José Alberto Lovetro (JAL)1



Quem já desenhou alguma vez na vida?                       O que fazer, então, para ensinar aos filhos
Essa pergunta, talvez, nem seja necessária.                pequenos as lições da sobrevivência em um
Mesmo que em rabiscos ou formas primá-                     ambiente selvagem? A solução poderia ser
rias, todos nós desenhamos em algum mo-                    desenhar a sequência de uma caça ao antí-
mento em nossas vidas. Mas rabisco não é                   lope, ou como obter fogo, ou até como gerar
desenho! Errado. Rabisco é instintivo e nos                filhos. E aquele homem das cavernas pegou
faz escolher cores e                                                                  uma pedra e come-
formas. Mesmo que                                                                     çou a rabiscar algo
ininteligíveis, estão              A linguagem dos balões                             nas paredes de sua
representando algo                  dos quadrinhos é tão                              moradia.        Depois,
que criamos em nos-                                                                   utilizou tintas tira-
                                   coloquial e econômica
sa cabeça e nossa                                                                     das de plantas e as-      10
                                  como a do twitter e seus
mão, ainda não do-                                                                    sim por diante.
mada pela prática,
                                        140 caracteres.
esboça uma criação.                                                                   Antes disso, a lin-
                                                                                      guagem era a do
Qualquer criança rabisca algo se dermos                    gestual ou os sons de uma língua própria
para ela um lápis e papel. Isso não é de gra-              que apenas era entendida pelos membros
ça. Nos primórdios da civilização humana,                  do grupo. O conhecimento, então, era trans-
algum anônimo se atreveu a rabiscar nas                    mitido de um para o outro e poderia se per-
paredes de sua caverna. Não era uma brin-                  der no processo dessa comunicação. E se os
cadeira, mas sim uma necessidade. Naquela                  pais da criança morressem quando ela ainda
época, os seres humanos morriam cedo. As                   estivesse com cinco anos de idade? Haveria
dificuldades de sobrevivência eram muitas                  alguém para adotá-la e dar continuidade aos
e a medicina não era das mais avançadas.                   ensinamentos? Nem sempre. Eram mais bo-
Quem chegasse aos 35 anos já poderia ser                   cas para alimentar e, muitas vezes, as crian-
considerado um dos mais velhos da tribo.                   ças acabavam abandonadas. Se não fosse


1	     Jornalista e cartunista, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil – ACB e fundador do Troféu
HQMIX das Artes Gráficas.
esse alguém anônimo criando a linguagem          por meio metro de altura, com os textos in-
sequencial, talvez não houvesse o acúmulo        corporados aos desenhos, de tal forma que
de informação na história da humanidade          se torna uma verdadeira tira de quadrinhos
para sua evolução.                               gigante. Em alguns panôs impressos em xi-
                                                 logravura no século XVIII, na cidade de Épi-
Essa linguagem criada no início de nossa ci-     nal (França), temos até a invenção do balão
vilização é hoje chamada de quadrinhos ou        saindo da boca de personagens com as falas
arte sequencial. E, por incrível que pareça, é   coloquiais da época. Linguagem escolhida
a linguagem também do século 21. A lingua-       por Jean-Charles Pellerin para popularizar
gem dos balões dos quadrinhos é tão colo-        histórias da Revolução Francesa, novelas e
quial e econômica como a do twitter e seus       histórias de santos. Até o século XVII pou-
140 caracteres. Isso sem contar a força visual   cas pessoas eram alfabetizadas. Por isso, a
que vem, a cada ano, sendo preponderante e       imagem foi tão importante. Até um anal-
necessária na comunicação moderna.               fabeto consegue absorvê-la. Surdos-mudos
                                                 entendem. Crianças entendem. Homens das
Se veio dos primórdios e continua moderna        cavernas entendiam.
até hoje, a linguagem dos quadrinhos não
pode ser considerada arte menor, como há         Mas foi após a invenção da prensa por Gu-      11
muito tempo vinha sendo taxada. Sua histó-       temberg (século XV) que a difusão da ima-
ria nos conta o quanto ela está inserida no      gem impressa começou a invadir o mundo. O
estímulo à leitura e ao desenvolvimento de       texto escrito pôde ser finalmente difundido
outras linguagens que vieram depois.             para as massas. Na área do desenho, come-
                                                 çou com a impressão das charges criticando
Temos exemplos de arte sequencial nos hie-       a monarquia e sua pomposidade diante da
róglifos egípcios, nos panôs e desenhos nas      pobreza de seus súditos. Os desenhos eram
igrejas da Via Sacra de Jesus, difundidos na     impressos e distribuídos pelas praças como
Idade Média, e até nos túmulos de reis, onde     uma forma de resistência aos desmandos do
havia sequências de sua dinastia em alto         poder.
relevo. A Tapeçaria de Bayeux é uma obra
feita em bordado (século XII), para comemo-      Foi apenas no século 19 que os desenhistas
rar os eventos da batalha de Hastings (14 de     começaram a contar histórias através da
Outubro de 1066) e o sucesso da Conquista        linguagem dos quadrinhos. Em 1827, o suí-
Normanda da Inglaterra, levada a cabo por        ço Rudolph Topffer publicava M.Vieux-Bois,
Guilherme II, Duque da Normandia. Mede           considerado por Goethe, pensador e escritor
cerca de setenta metros de comprimento           alemão, um romance caricaturado. Interes-
sante que esse precursor das histórias em       lindas, que chegam a lembrar um desenho
quadrinhos impressas em estampas era um         animado. Em capítulos semanais, mostra-
professor. Demonstra o quanto essa profis-      vam a viagem do personagem-título de Mi-
são tem, em suas características, não ape-      nas Gerais até a corte no Rio de Janeiro. A
nas formar informando mas criar novas           importância desse feito hoje é eternizada
linguagens de comunicação para sua comu-        com a criação do Dia do Quadrinho Brasi-
nicação.                                        leiro, 30 de janeiro, incluído oficialmente no
                                                calendário do país. Neste data, em 1869, foi
Em 1865, uma dupla de moleques cheios de        publicado o primeiro capítulo da história.
travessuras ­“Max und
Moritz” ­ era criada                                                      Depois disso vie-
                               O Brasil se tornou um dos
pelo alemão Wilhelm                                                       ram vários artistas
Busch, que não econo-
                                 pioneiros na criação da                  invadindo os jor-
mizava na violência ao          linguagem moderna dos                     nais e revistas. No
transformar os meni-           quadrinhos com o italiano                  Brasil foi criada a
nos em bolos indo aos           radicado no país, Angelo                  revista   Tico-Tico,
fornos. Nada aprova-                                                      que durou cerca
                                        Agostini.
do pelos pedagogos                                                        de 57 anos (1905 a     12
da época. Mais tarde,                                                     1962) e nos trouxe
seriam a inspiração para a série “Sobrinhos     os quadrinhos do excelente J. Carlos e de
do Capitão”, de Dirks, em 1897.                 Luiz Sá, entre outros. Foi a primeira revis-
                                                ta que trazia, além dos quadrinhos, várias
O Brasil se tornou um dos pioneiros na cria-    atividades para as crianças como joguinhos
ção da linguagem moderna dos quadrinhos         e “recorte e monte”. Já era uma linguagem
com o italiano radicado no país, Angelo         para utilização dentro das escolas. Essa di-
Agostini. Esse anarquista de formação come-     nâmica recebeu elogios até de Rui Barbosa,
çou a publicar quadrinizações de fatos jor-     leitor da revista.
nalísticos em Diabo Coxo (1864) e O Cabrião
(1866) – revistas paulistas.                    Nos EUA, em 1895, era criado o personagem
                                                “Yellow Kid”, na verdade uma charge de um
Depois, em 1869, esse autor entrou para a       garoto de bairro periférico de Nova York,
história criando o que seria a primeira nove-   que fazia crítica social. O feito desse perso-
la gráfica em capítulos do mundo, na revista    nagem, criado por Richard F. Outcault para
semanal Vida Fluminense. Tratava-se de “As      o Sunday New York Journal, foi a inclusão dos
aventuras de Nhô Quim”. Tem sequências          textos para dentro dos quadrinhos. Até en-
tão, os textos vinham separados, na parte de    No Brasil, em 1934, Adolfo Aizen, da Editora
baixo dos quadrinhos. As falas do Yellow Kid    Ebal, traz dos EUA esses personagens para
estavam na bata que ele vestia. Anos mais       serem publicados no Brasil. Surge, então, o
tarde, essa charge se transformaria em qua-     “Suplemento Juvenil”, que faria o mesmo
drinhos. Alguns historiadores americanos        sucesso dos suplementos americanos. O jor-
logo aclamaram que aí estaria o nascimento      nalista Roberto Marinho criaria, logo em se-
das histórias em quadrinhos. Isso por ser a     guida, “O Globo Juvenil”, para não ficar para
primeira vez que o texto entrou dentro dos      trás nessa nova onda. Eram publicados em
quadrinhos. É o mesmo que dizer que o ci-       cores. Foram anos de grande disputa entre
nema mudo não é cinema. Sabemos bem             as editoras, o que ajudou a esquentar mais
que os americanos reivindicam para si mui-      ainda a febre de leitura que contaminava os
tas coisas como, por exemplo, a invenção do     jovens de então. As tiragens eram grandes
avião. Não seria diferente com as ditas HQs.    e também alavancaram a descoberta de no-
                                                vos autores brasileiros. A criação da Editora
Nas décadas de 20, 30 e 40 do século passa-     Abril em 1950 nos traria os primeiros gibis
do, os quadrinhos viraram febre nos EUA e no    da Disney pelas mãos de Vitor Civita. Todo
mundo com a criação de suplementos infan-       o conglomerado em que se transformou a
tis dos jornais e revistas. Centenas de novos   pequena editora foi resultado do primeiro       13
heróis e personagens de humor surgiram. Já      sucesso: o “Pato Donald”. Vitor Civita edi-
havia uma produção de desenhos animados,        tava suas revistas e, para distribuí-las nas
para onde alguns desses heróis migraram,        bancas de jornal, utilizava seu velho carro.
demonstrando que vieram para ficar.             Podemos ver por aí a força dos quadrinhos
                                                para formar leitores, que depois migraram
Em 1929, em plena crise na Bolsa de Wall        também para outras revistas e livros.
Stret, nos EUA, surgiam os primeiros perso-
nagens de aventura. Buck Rogers e Tarzan        Mas a área de HQs infantis teria outras boas
iniciariam a era de ouro das HQs americanas     consequências desse sucesso. Nos anos 60,
e invadiriam o mundo. Eram publicados nos       surgiam os personagens de Mauricio de
jornais e ajudaram no crescimento de leito-     Sousa (Turma da Mônica) e Ziraldo (Pererê),
res, de tal forma que a imprensa começou a      entre outros. Não é preciso dizer como es-
ter seus suplementos de quadrinhos. Depois      ses personagens ganharam o gosto popular.
surgiram O Príncipe Valente, Flash Gordon,      Ziraldo ainda criaria o Menino Maluquinho,
Agente X-9, Mandrake, Super-Homem, Fan-         em 1980, que já vendeu mais de 5 milhões de
tasma, Batman e toda uma saga de super-         livros nas escolas e entrou para o cinema e
heróis que chegaram até os dias de hoje.        para a TV com o mesmo impacto. Mauricio
de Sousa já vendeu mais de um bilhão de         Portanto, a origem da linguagem dos quadri-
revistas da Turma da Mônica e publica em        nhos se confunde com a história da huma-
cerca de 30 países a saga dos personagens       nidade. É tão atual quanto os rabiscos feitos
brasileiros. Os dois artistas são ícones para   por aquele homem das cavernas. É nosso
os professores, que costumam utilizar seus      momento de criação. Como pequenos deu-
gibis e livros para ajudar na alfabetização     ses dando vida ao nosso mundo. Com um
das crianças nas salas de aula.                 papel e lápis podemos recriar o universo, as-
                                                sim como Da Vinci e os grandes inventores.
São tantos os autores de quadrinhos bra-        Assim como nas histórias de Flash Gordon
sileiros que seriam                                                     prevendo as naves
necessárias     várias                                                  espaciais e viagens
páginas para des-           Nos anos 60, surgiam os                     interplanetárias nos
crever   suas    cria-      personagens de Mauricio                     anos 30, que foram
ções. Podemos falar        de Sousa (Turma da Mônica)                   acontecer    na   dé-
de um Jayme Cor-                                                        cada de 60. Assim
                             e Ziraldo (Pererê), entre
tez, desenhista de                                                      como os heróis que
                                     outros.
estilo próprio, e que                                                   vieram mostrar que
comandou a era de                                                       alguns milagres são     14
ouro da HQ nacio-                                                       possíveis.    Assim
nal nos anos 50 com a força dos quadrinhos      como um simples desenho de uma criança,
de terror e aventura. A nova geração com        que não desenha mais nas cavernas, mas
Angelí, Laerte e Glauco, com seus persona-      sim nas paredes de casa ou no computador.
gens de humor. Os artistas que produzem
                                                O quadrinho está em nossa vida não apenas
até para o mercado estrangeiro, principal-
                                                para dar margem à nossa diversão, mas para
mente americano, como Ross, Gabriel Bá,
                                                deixar fluir o que mais temos de humano – a
Fabio Moon e Ivan Reis. Enfim, temos os
                                                ideia. E quem tem a ideia tem o poder no
melhores do mundo.
                                                mundo.
texto 2	


Quadrinhos além dos gibis
                                                                                   José Alberto Lovetro (JAL) 1




Os professores costumam utilizar a lingua-                 tempo, pode estar com um aparelho MP4
gem dos quadrinhos para alguns exercícios                  ligado aos ouvidos. E, ainda, jogando game
básicos e de forma criativa. Alguns fazem                  e atendendo celular. Tudo ao mesmo tem-
uma fotocópia de uma página de HQ com os                   po. É uma prática que o faz mais ágil, mas
textos eliminados. Apenas os desenhos. Na                  também produz a falta de atenção que não
sala pedem para os alunos completarem os                   ajuda nem um pouco a que ele consiga fixar
balões de fala como um exercício de criação                o que recebe.
e desenvolvimento de texto. Esse exercício
ajuda a passar a estrutura de início, meio e               Quando esse mesmo jovem procura ler uma
                                                                                                                  15
fim de uma história para uma boa redação.                  revista em quadrinhos, há um exercício de
Os professores estão certos nessa criação                  concentração em um veículo. Pode até ouvir
espontânea e empírica. Mas esta ferramen-                  música ao mesmo tempo mas, com certeza,
ta pode render mais. Muito mais.                           estará educando seu cérebro para a necessá-
                                                           ria ação de concentração. Isso é fundamen-
Não podemos imaginar os quadrinhos ape-                    tal para que o jovem se interesse em leitura
nas como estímulo de leitura, mas sim como                 de forma concentrada. Ajuda no trabalho do
estímulo para qualquer outra área cultural.                professor para passar informações.


Na atualidade, a tecnologia veio com tudo                  Portanto, podemos observar que essa lingua-
para o mundo dos jovens e das crianças. Um                 gem vai muito além dos gibis, como diz o
jovem pode estar com o computador liga-                    título deste texto. Vamos, então, demonstrar
do nos portais de relacionamento, conver-                  os diversos caminhos que uma HQ pode tri-
sando com um ou mais amigos. Ao mesmo                      lhar fora de sua comercialização em bancas.



1	      Jornalista e cartunista, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil – ACB e fundador do Troféu
HQMIX das Artes Gráficas.
•	 QUADRINHOS DE INFORMAÇÃO EMPRE-               nhos por um advogado do Rio Grande do
 SARIAL: Toda empresa necessita de um            Sul, para explicar como ocorreu no caso
 projeto de comunicação interna. Infor-          julgado para distribuição ao júri daquele
 mações de organização, implantação de           evento.
 novos sistemas internos, Cipa (cuidados
                                               •	 QUADRINHOS PARADIDÁTICOS: São adap-
 com acidentes do trabalho), projeto social
                                                 tações de livros famosos, biografias de
 da empresa e todo tipo de tema necessá-
                                                 personagens da história e textos diversos
 rio. A linguagem dos quadrinhos é a mais
                                                 do currículo escolar desenvolvidas nessa
 significativa em estímulo à leitura. Atinge
                                                 linguagem.
 todo tipo de funcionário. Do mais simples
 ao diretor da empresa.
                                               •	 QUADRINHOS JORNALÍSTICOS: Jornalis-

•	 QUADRINHOS PARA SERVIÇO PÚBLICO:              tas que desejam publicar sua matéria em

 As empresas governamentais procuram             quadrinhos, como Joe Sacco, autor que

 implantar campanhas de saúde, de educa-         criou uma série de reportagens quadrini-

 ção, de cunho social e outras informações       zadas de suas andanças por guerras e lo-

 que, geralmente, são distribuídas para a        cais de conflito.

 população mais carente.                                                                       16
                                               •	 QUADRINHOS TERAPÊUTICOS: Profissio-
•	 QUADRINHOS PARA A ÁREA PUBLICITÁ-             nais da psiquiatria e psicanálise podem
 RIA: Campanhas de empresas direciona-           desenvolver criação de quadrinhos em
 das para os jovens e crianças são acom-         grupo como terapia de aproximação e
 panhadas de personagens e historinhas           entendimento de amigos, familiares e co-
 que explicam sobre o produto à venda ou,        munidades.
 simplesmente, buscam agregar valor ao
 produto. Campanhas em jornais e revis-        •	 QUADRINHOS RELIGIOSOS: Várias publi-
 tas também se utilizam de personagens           cações já foram produzidas para catequi-
 de quadrinhos já conhecidos ou criados          zar ou simplesmente difundir a vida de
 especificamente para esse fim.                  santos, crenças, seitas e grandes persona-
                                                 gens religiosos, geralmente para buscar o
•	 QUADRINHOS PARA PROFISSIONAIS LIBE-           interesse do público jovem e infantil.
 RAIS: Médicos, engenheiros, advogados,
 jornalistas, empreendedores e diversos        •	 QUADRINHOS DE VANGUARDA: Artistas
 outros profissionais podem utilizar revis-      que desejam extrapolar a linguagem de
 tas em quadrinhos para apresentação de          diversos tipos de arte se utilizam dos qua-
 seus serviços. Já houve o uso de quadri-        drinhos como inspiração para seus qua-
dros de pintura, seus grafites, poemas,       da aplicação dos quadrinhos nas mais diver-
  esculturas, vídeos e eventos culturais.       sas áreas de atuação profissional. Falando
                                                mais sobre o que a linguagem dos quadri-
•	 QUADRINHOS NO DESIGN E DECORAÇÃO:            nhos nos proporciona, basta demonstrar
  A rica linguagem das HQs - com as ono-        que tem em sua base a diversidade de outras
  matopeias, balões, grafismos de ação e        artes.
  personagens famosos      - são inspiração
  constante para utilidades domésticas, de-     •	 TEATRO – O leitor de HQ é basicamente
  coração de ambientes e formas de design         um coautor da história, pois interpreta os
  inovadoras e bem-humoradas.                     personagens. O desenhista dá a imagem
                                                  e o leitor escolhe a voz que aquele per-
•	 QUADRINHOS      NO
                                                                          sonagem ou aque-
  CINEMA:       Atual-
                                                                          la   onomatopeia
  mente toda a parte         O diretor de cinema Alfred
                                                                          terá. O quadrinho
  de   pré-produção,           Hitchcock já utilizava a
                                                                          respeita   também
  com desenhos de             quadrinização em cenas                      o “time” de cada
  roupas,    persona-           como a do filme “Os                       um. Uma pessoa
  gens e ambientes,
                             Pássaros”, na década de 60.                  pode ler uma pá-       17
  é desenvolvida com
                                                                          gina em segundos
  desenhos para que
                                                                          ou, se quiser, em
  o roteiro seja todo
                                                  minutos. Depende do entendimento e da
  quadrinizado nos planos e na forma que o
                                                  assimilação de cada leitor. Diferente de
  diretor de imagem deseja. O diretor de ci-
                                                  um filme que passa em quase duas horas,
  nema Alfred Hitchcock já utilizava a qua-
                                                  sem interrupção, impondo o “time” de
  drinização em cenas como a do filme “Os
                                                  entendimento. Essa interpretação do lei-
  Pássaros”, na década de 60. Os grandes fil-
                                                  tor é uma linguagem teatral. Por isso, a
  mes de heróis dos quadrinhos é que ainda
                                                  leitura das histórias em quadrinhos inte-
  levam multidões aos cinemas.
                                                  ressa ao ensino. Cada um terá seu tempo

•	 QUADRINHOS NO RÁDIO: Novelinhas,               de entendimento respeitado. A absorção

  programas de humor e jornalísticos criam        do conteúdo é mais eficaz. O cérebro,

  personagens e se utilizam da linguagem          criando junto a interpretação, faz com

  dos quadrinhos com suas frases de efeito        que o leitor sinta-se envolvido na história.

  e suspense.
                                                •	 CINEMA – Nem precisa dizer o quanto
Essas são apenas algumas das possibilidades       os quadrinhos e o cinema são próximos.
Como dissemos antes, o roteiro de um            moda. Quem assiste aos desfiles pode ver
 filme é desenvolvido em quadrinizações,         claramente algumas criações de estilistas
 hoje em dia. Além disso, os planos do cine-     que só funcionam na passarela e não na
 ma são os mesmos usados na composição           vida real. De outra forma, a atual febre
 dos desenhos dos quadrinhos. Temos o            de Festivais Cosplay (pessoas que se ves-
 plano geral para início de uma cena, onde       tem como os heróis) demonstra o quanto
 são mostrados os personagens dentro de          essa moda pega! Um ótimo exercício para
 uma paisagem, depois o plano america-           quem quer ser estilista.
 no, onde o personagem é enquadrado da
                                               •	 LITERATURA – Se alguém algum dia qui-
 base do peito para cima, e os planos em
                                                 ser ser um escritor, pode desenvolver sua
 “close”, onde o enquadramento é nos de-
                                                                      dramaturgia, estru-
 talhes da cena. O
                                                                      tura de uma história
 desenhista é um
                               O leitor de HQ é                       e ter idéias fazendo
 diretor de cinema
 que escolhe as ce-      basicamente um coautor da                    quadrinhos. Ao tra-

                          história, pois interpreta os                balhar criação de
 nas para induzir
                                                                      personagem,       sua
 o leitor a criar as             personagens.
                                                                      concepção     intelec-   18
 imagens em mo-
                                                                      tual, sua forma físi-
 vimento em sua
                                                                      ca e como será co-
 cabeça. Sem esquecer que em uma his-
                                                 locado em uma situação criada, a pessoa
 tória em quadrinhos pode-se utilizar de
                                                 tem a base para contar uma boa história.
 qualquer imagem de efeito especial que
                                                 Há falta de criatividade nos textos vistos
 seria de alto custo em uma produção ci-
                                                 em trabalhos escolares. O estímulo pode
 nematográfica.
                                                 ser desenvolver quadrinhos.
•	 MODA – Um desenhista é também esti-
                                               •	 ARTES PLÁSTICAS – Os quadrinhos já fo-
 lista. Cria as roupas dos personagens já
                                                 ram vanguarda nas artes visuais desde seu
 imaginando a ação em que se enquadra-
                                                 início. Primeiro, por trazer o movimento
 rão. Não é por acaso que os super-herois
                                                 aos traços de um desenho e, depois, por
 usam aquelas roupas coladas ao corpo,
                                                 nos dar variantes incríveis de plasticida-
 mais fáceis de enfrentarem lutas e a ação
                                                 de. Vai de um desenho linha clara, bem
 dessas aventuras. É preciso até um estu-
                                                 simples, ao uso de colagens ou pontilhis-
 do técnico da roupa, além de sua forma
                                                 mo. A visualização do som através das
 visual agradável. Alguns personagens ins-
                                                 onomatopeias é uma criação artística
 piraram a moda ou foram inspirados pela
sensacional e inédita entre as linguagens       ro, é preciso prever e criar novas formas
  visuais. A era da Pop Art, nas décadas de       que podem acontecer nos próximos anos.
  60 e 70, foi toda montada sob a forma dos       Um desenhista também tem que ser um
  quadrinhos. Roy Lichtenstein foi um dos         arquiteto.
  artistas que se notabilizaram por essa va-
                                                •	 DESIGN – Da mesma forma, copos diferen-
  lorização dos quadrinhos em suas litogra-
                                                  tes, móveis únicos e objetos que depois
  vuras. Atualmente, temos HQs nos mais
                                                  podem ser produzidos em merchandising
  diversos modos de arte e técnicas que
                                                  para os fãs dos heróis que colecionam
  usam de pincéis a computadores. Não há
                                                  tudo. É preciso saber unir a forma com a
  limite na criação dessas obras.
                                                  praticidade.
•	 PSICOLOGIA – Bas-
                                                                       •	     CIÊNCIA – As
  ta dizer que criar       O desenhista é um diretor
                                                                       histórias de ficção
  personagens      e
                           de cinema que escolhe as                    científica   acabam
  testá-los nas mais
                           cenas para induzir o leitor                 sendo concretizadas
  diversas situações
  já é um exercício
                             a criar as imagens em                     tempos depois nas

  de   pesquisa   do       movimento em sua cabeça.                    invenções da huma-
                                                                                               19
                                                                       nidade. A clonagem
  intelecto. Só há
                                                                       veio antes nos qua-
  uma boa história
                                                                       drinhos e hoje é re-
  se houver bons personagens. Para isso, o
                                                  alidade. Agentes do serviço secreto que
  conhecimento de pensadores como Freud
                                                  se comunicavam através de um relógio
  e Carl Jung pode ajudar bastante e faz
                                                  de pulso nas historinhas, hoje, estariam
  com que o autor se aprofunde na matéria.
                                                  defasados. Mas fizeram parte do processo
  Heróis em crise, como os da série X Men,
                                                  de engenharia que fez com que pudésse-
  revigoraram o modo de contar aventuras,
                                                  mos falar por microfones em lapelas. Está
  justamente por aproximar esses heróis
                                                  provado que a ciência e a tecnologia bus-
  das fraquezas humanas.
                                                  cam transformar esses sonhos em reali-
•	 ARQUITETURA – Para contar uma história         dade, mais cedo ou mais tarde.
  visualmente é preciso que os personagens
                                                Podemos ficar aqui desenvolvendo mais te-
  entrem em cenários. Pode ser uma flores-
                                                mas, à proporção que estudamos o que há
  ta, mas também uma cidade. Moradias,
                                                nessa mágica das HQs. Por essa razão, a lin-
  ruas, cidades criadas através de pesquisas
                                                guagem dos quadrinhos é essencial para a
  de lugares. Se a história acontece no futu-
                                                utilização na educação. Ao entrar na expe-
riência de criar uma história, entra-se nesse   de aula com os quadrinhos cria uma nova
mundo de alternativas e conhecimento. De-       etapa no relacionamento entre professor e
pois de tantos exemplos que passamos nesse      aluno. Aproxima os dois de uma forma cola-
texto, talvez o melhor de todos seja o apro-    boracionista. Facilita o ensino sem qualquer
veitamento desse processo para fixar infor-     investimento a não ser lápis, papel, borra-
mação, coloborando assim para a formação        cha e o próprio professor.
dos estudantes. Os professores já sabem que
isso é possível, mas podem ser orientados       Os dois nunca mais olharão para um gibi
para perceber qual é o modo mais prático,       achando que é apenas um objeto de diver-
que atenda às diversas disciplinas escola-      são e lazer. Muito além do gibi.
res, sem complicação. O trabalho em sala




                                                                                               20
texto 3


QUADRINHOS NA SALA DE AULA
                                                                                        Sonia M. Bibe Luyten 1




Professor, professora, vocês estão procuran-                nhos como um meio eficaz para o ensino e
do um jeito de motivar seus alunos, envolvê-                as necessidades de aprendizagem.
los na sala de aula, desenvolver as habilida-
des de leitura e de compreensão de textos,                  Muitos pensam, contudo, que é só deixar
ensinar a alfabetização visual para os peque-               uma revista na carteira e dizer: “leia”. Ou en-
nos e jovens leitores do século XXI ?                       tão, “desenhe algo”. O que se precisa, na re-
                                                            alidade, é inserir as Histórias em Quadrinhos
Vocês já consideraram as Histórias em Qua-                  num plano já preestabelecido de uma deter-
drinhos como uma ferramenta de trabalho                     minada disciplina antes do início do ano leti-
na sala de aula?                                            vo para poder usufruir seus resultados.                  21

Alguns professores podem ainda pensar que                   O primeiro passo para um professor usar os

o uso das Histórias em Quadrinhos na esco-                  quadrinhos em sala de aula é não ter medo

la não atende às suas propostas educacio-                   e começar a se familiarizar com sua lingua-

nais. Há outros, contudo, que entendem que                  gem. Os quadrinhos, numa definição bastan-

o ensino começa com a obtenção da aten-                     te simples, são formados por dois códigos de

ção dos estudantes e resolvem experimentar                  signos: a imagem e a linguagem escrita.

as Histórias em Quadrinhos.
                                                            Entre os elementos que entram na com-
                                                            posição dos quadrinhos, dando-lhes mui-
Nos últimos quinze anos, em muitos países
                                                            to dinamismo, destacam-se os balões. Em
e também no Brasil, está comprovado que
                                                            sua forma tradicional, o balão indica a fala
muitos professores estão usando os quadri-


1	      Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações da Universidade de São Paulo, com tese
sobre mangá, os quadrinhos japoneses em 1988. Foi professora do Departamento de Jornalismo e Comunicações da
ECA/USP (1972-1984) e professora convidada de várias universidades no exterior como no Japão, Holanda e França.
Autora de livros sobre este tema como: O que é Histórias em Quadrinhos; Histórias em Quadrinhos – Leitura Crítica;
Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses; Cultura Pop Japonesa – mangá e animê. Atualmente é presidente do Troféu
HQMIX – premiação considerada o “Oscar” das Histórias em Quadrinhos e Humor Gráfico no Brasil. Consultora da
série.
coloquial entre os personagens em tempo         para indicar amor, espirais na cabeça como
presente. Ele também expressa sentimentos       sinal de tontura e assim por diante.
variados, como raiva, medo ou alegria. Os
desenhistas são muito criativos para encon-     O próprio formato do quadrinho é um indi-
trar efeitos visuais e comunicativos no for-    cador de leitura. Temos assim o quadrinho
mato do balão: existe desde o balão-berro,      convencional – quadrado, retangular ou poli-
ao balão-transmissão, balão-cochicho, ba-       forme. Se o quadrinho, no entanto, for dese-
lão-nuvem entre muitos outros. Em todos         nhado com linhas contornadas ou pontilha-
eles o texto é drasticamente reduzido, o que    das, o desenhista quer mostrar uma narrativa
possibilita um aproveitamento sintético da      de sonho ou algo que se passou em tempo
linguagem, podendo                                                      pretérito. Tudo isto é
ser lido até mesmo                                                      perfeitamente com-
                              Os quadrinhos, numa
por leitores de esco-                                                   preensível até mes-
                           definição bastante simples,
laridade inicial.                                                       mo por crianças não
                             são formados por dois                      alfabetizadas, tama-

Outro       elemento
                               códigos de signos: a                     nho é o poder de co-

muito     importante         imagem e a linguagem                       municação.
                                                                                                  22
nas HQs são as ono-                  escrita.
                                                                        Portanto, a melhor
matopeias, que são
                                                                        maneira    de     fazer
os sons que procu-
                                                                        com que os alunos
ram imitar os ruí-
                                                obtenham benefícios dos quadrinhos é ler
dos, dando-lhes também uma beleza visual.
                                                também. Os olhos do professor e a compre-
Os mangás, quadrinhos japoneses, explo-
                                                ensão de todos esses elementos citados po-
ram ao máximo este recurso, pois os sons
                                                dem auxiliar a prática pedagógica.
são colocados em alfabeto katakana ou hi-
ragana, completando a estética da página.
                                                Há diversas formas de se usar os quadri-
                                                nhos. Uma delas é com as revistas, tiras de
Para dar mais dinamismo, são utilizadas
                                                jornal ou adaptações de romances para qua-
muitas figuras convencionais, como linhas
                                                drinhos. Nestes casos, há inúmeras possibi-
retas, indicando velocidade, imagens repeti-
                                                lidades para as diferentes disciplinas:
das para movimento, estrelinhas indicando
dor, poeirinhas para mostrar corrida ou velo-
                                                1. Uso de quadrinhos como
cidade e pequenas gotas dando a impressão
                                                tema de discussões
de calor ou medo. Há muito mais exemplos,
como notas musicais para canto, corações        A partir de uma reflexão sobre os conteúdos,
fazer uma abordagem histórica, por exem-        3. Análise de conteúdo
plo, de personagens índios, negros, imigran-
tes, etc. Enquanto a maioria dos quadrinhos     Análise das personagens a partir de heróis

da década de 1950 até os anos 80 foi orien-     ou vilões no seu aspecto físico em combi-

tada para crianças mais jovens e adolescen-     nação com o psicológico. Os alunos podem

tes, a mudança de marketing na década de        verificar o tipo de vocabulário que os dese-

1990 levou a uma explosão de material mais      nhistas empregam, quais os sentimentos

complexo que explora o mundo à nossa vol-       que despertam no leitor, como reagem às

ta com mais profundidade. Neste sentido, a      situações que enfrentam – como coragem,

partir de caracterís-                                                   medo, amor, covar-

ticas dominantes da                                                     dia, etc. Nos qua-
                             As HQs podem estimular
personalidade     des-                                                  drinhos japoneses –
                                muitos exercícios de
ses heróis em ques-                                                     mangás – podemos
                             linguagem escrita e oral,                  comparar como ou-
tão, pode-se efetuar,
também, um juízo                sendo um excelente                      tras culturas reagem

crítico   de   valores      incentivo para as criações                  a estas situações.

que são aceitos ou           literárias e artísticas dos
                                                                        Outro    ponto     que    23
não pela sociedade.                    alunos.                          pode ser avaliado é
Isto propicia debates
                                                                        se a história dá mar-
como a violência, o
                                                                        gem a estereótipos
racismo ou a tole-
                                                tais como: familiares (como são apresenta-
rância.
                                                das as figuras da mãe, pai, avós); profissio-
                                                nais (conceito de certas profissões – médi-
2. Uso de quadrinhos na                         cos, operários, lixeiros, industriais); sociais
linguagem escrita e oral                        (como são vistos os ricos, os pobres, os tu-
                                                ristas, os marginais, as tribos urbanas); na-
As HQs podem estimular muitos exercícios
                                                cionais (em que circunstâncias aparecem os
de linguagem escrita e oral, sendo um exce-
                                                africanos, os asiáticos, os árabes); culturais
lente incentivo para as criações literárias e
                                                (como é vista a família, o trabalho, a juven-
artísticas dos alunos. No ensino de línguas
                                                tude, a velhice).
estrangeiras, por exemplo, há oportunidades
de propiciar a formação de diálogos nos ba-     Estes são pontos importantes que devem ser
lões em uma história já desenhada, recorta-     desenvolvidos e analisados não só a partir de
da ou adaptada para esta finalidade.            uma história, mas também do conjunto da
produção de algum determinado autor e de-         sua quadrinização, delimitando-se o ta-
senhista de quadrinhos.                           manho da história (uma ou duas pági-
                                                  nas). É neste ponto que o professor pre-
                                                  cisa estar familiarizado com a linguagem
4. HQ e identificação
                                                  dos quadrinhos, pois poderá orientar os
projetiva da personalidade
                                                  alunos no uso dos diversos tipos de balão
É possível numa sala de aula fazer muitas         para dar o tom das onomatopeias, as figu-
brincadeiras e testes com crianças, adoles-       ras convencionais de ação, movimento.
centes e adultos a par-                                                   Aqui vão entrar
tir de certos critérios                                                   os roteiristas. A
dentre uma gama de                 Se é na escola que                     partir de um tex-
personagens:      heróis,          a avaliação adquire                    to que foi escolhi-
heroínas, vilões, ani-          materialidade, é na vida                  do (livro didático,
mais e personagens se-                                                    romance), é pre-
                                cotidiana de professores,
cundários. No momen-                                                      ciso elaborar um
                               estudantes e suas famílias
to da escolha, pedir o                                                    roteiro condizen-
porquê de sua preferên-
                                  que ela deposita seus                   te para se tornar
cia ou repúdio. E o mais            desdobramentos.                       uma nova arte.         24

importante: o que eles
gostariam de ser. Com a                                                   •	   Criação     de

ajuda da psicologia, isto se torna um instru-     uma HQ sobre um tópico. Pode ser tra-

mento para a identificação do leitor-perso-       balho individual ou de grupo. Este item é

nagem que, através da fantasia, projeta sua       aplicável a todas as disciplinas: Português,

personalidade ou aquilo que almeja ser. É         História, Geografia, Artes, Língua Estran-

muito útil em sala de aula.                       geira, Ciências, Física ou Matemática.
                                                  Usando a linguagem sintética dos quadri-

Outra forma de usar os quadrinhos é fazer         nhos, é preciso que o aluno possa primei-

uma História em Quadrinhos. Como nem              ro pesquisar, entender e depois explicar os

todos têm habilidade para desenhar e/ou           conteúdos pesquisados.

fazer roteiros, os próprios alunos é que vão
escolher a partir de suas aptidões. Uma vez     •	 Ponto de vista. A partir de um tema qual-

isto delimitado, há vários exercícios que po-     quer, como por exemplo, um domingo

dem ser feitos:                                   no parque, os alunos deverão desenhar
                                                  diferentes histórias sob o ponto de vista
•	 Leitura de um texto e, posteriormente,         de cada personagem no parque: o pipo-
queiro, as crianças, os peixinhos no lago,       Por exemplo, a já conhecida estátua de D.
  o pedinte, o casal de namorados e assim          Pedro I com o acréscimo de um balão di-
  por diante. Muito útil para possibilitar aos     zendo “Independência ou Morte”.
  alunos novos enfoques para uma criação
                                                 •	 Personagens estereotipados.     Como se
  literária.
                                                   apresentam as raças, as profissões, a ma-
                                                   neira de falar, pessoas com deficiência,
O professor e os livros                            etc., reforçando apenas velhos conceitos
didáticos com Histórias em                         em roupagem nova.
Quadrinhos
                                                 E, finalmente, se o livro não atender ao in-
Há muitos livros didáticos que contêm exer-      teresse dos alunos, eles podem quadrinizar
cícios ou algum conteúdo na forma de qua-        uma nova versão com o objetivo de fazer
drinhos. Muitos têm um objetivo puramente        uma leitura crítica sobre algum conteúdo
comercial e nem sempre estão preocupados         que não acharem compatível com a realida-
se isto vai mesmo ajudar tanto o professor       de. Ou recontar a história sob outro ponto
como o aluno. Neste caso, é importante o         de vista, sempre com a ajuda do professor.
professor estar familiarizado com a lingua-
                                                                                                 25
gem dos quadrinhos e até tornar isto uma         Todos estes itens devem estar dentro de um
questão de aula, fazendo uma leitura crítica     planejamento de aula. O uso de quadrinhos
com os alunos. Juntos poderão observar al-       tem o objetivo de ajudar, motivar e estimu-
guns pontos:                                     lar o aluno a desenvolver habilidades, além
                                                 de ensinar de forma lúdica. Os benefícios se-
•	 Quadrinhos com excesso de texto nos ba-       rão muitos. As Histórias em Quadrinhos dão
  lões dificultando a leitura e, consequente-    uma extraordinária representação visual do
  mente, a assimilação do conteúdo.              conhecimento, mostram o que é essencial,
                                                 ajudam na organização narrativa da histó-
•	 Imagens muito chamativas distraindo o
                                                 ria, são de fácil memorização, enriquecem
  aluno para o principal, que é a mensagem
                                                 a leitura, a escrita e o pensamento e desen-
  veiculada.
                                                 volvem conexões entre o visual e o verbal.
•	 Não se iludir com roupa nova para velhas
  imagens: há livros didáticos que, com o        E o mais importante: os quadrinhos, em sua
  intuito só de vender, colocam alguns ele-      estrutura, formam uma imagem descontí-
  mentos dos quadrinhos (balões, onoma-          nua. O espaço em branco entre um quadri-
  topeias) em velhas imagens conhecidas.         nho e outro tem que ser preenchido rapida-
                                                 mente na mente do leitor para formar uma
imagem contínua, como se fosse um filme     Professores, vocês ficarão surpresos com os
ou um desenho animado.                      resultados de um projeto envolvendo o uso
                                            de histórias em quadrinhos em sala de aula.
Este espaço em branco, ao qual ninguém dá
importância, tem uma função extraordiná-
ria: ajuda o cérebro a pensar.




                                                                                          26
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tevão. Casa Grande & Senzala, Editora Abe-
                                               EMT CULTURA
Graph, 2001.
                                               http://editoraemt.blogspot.com

MELO NETO, João Cabral de e FALCÃO, Mi-        ESQUADRINHANDO HQ
guel. Morte e vida severina: auto de Natal     http://esquadrinhandohq.blogspot.com
pernambucano (em quadrinhos). 2a. edição.
                                               FÁBRICA DE QUADRINHOS
Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora
                                               http://fabricadequadrinhos.uol.com.br
Massangana, 2010.
                                               FAN SITE NEWS
                                               http://fansitenews.com.br
Sugestão de sites e blogs:                                                                       28

ÂMAGO                                          FANBOY
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http://www.quadrinhosdarkmarcos.blogspot.com

AMBROSIA                                       FANZINERIA
                                               http://fanzineria.blogspot.com
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ANIME PRÓ                                      GIBI RASGADO
                                               www.gibirasgado.blogspot.com
http://animepro.com.br

BANCA DE QUADRINHOS                            GIBITECA.COM

http://programabancadequadrinhos.com (TV)      http://gibitecacom.blogspot.com/2011/01/baptis-
                                               tao-no-sabados-da-memoria-das.html
BIGORNA
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                                               http://oglobo.globo.com/blogs/Gibizada
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http://hqmaniacs.uol.com.br




                                                                           29
Presidência da República

Ministério da Educação



TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO

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Copidesque e Revisão
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Diagramação e Editoração
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Abril 2011

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Histórias em quadrinhos: uma poderosa ferramenta de aprendizagem

  • 1. ISSN 1982 - 0283 HISTÓRIA EM QUADRINHOS: UM RECURSO DE APRENDIZAGEM Ano XXI Boletim 01 - Abril 2011
  • 2. Sumário História em quadrinhos: um recurso de aprendizagem Apresentação da série ................................................................................................. 3 Rosa Helena Mendonça Introdução ................................................................................................................ 5 Sonia M. Bibe Luyten Texto 1: Origens das histórias em quadrinhos ........................................................... 10 José Alberto Lovetro (JAL) Texto 2: Quadrinhos além dos gibis ............................................................................ 15 José Alberto Lovetro (JAL) Texto 3: Quadrinhos na sala de aula .......................................................................... 21 Sonia M. Bibe Luyten
  • 3. História em quadrinhos: um recurso de aprendizagem APRESENTAÇÃO DA SÉRIE Poderíamos lembrar que as histórias em quadrinhos, ao gerar novas ordens e técnicas narrativas, mediante a combinação original de tempo e imagens em um relato de quadros descontínuos, contribuíram para mostrar a potencialidade visual da escrita e o dramatismo que pode ser condensado em imagens estáticas. Nestor Canclini1 Faz tempo que os quadrinhos estão presen- chilas, bolsas e, sobretudo nas conversas e tes nas escolas. Houve uma época em que na imaginação, as experiências vividas além circulavam, sorrateiramente, por baixo das dos muros das escolas. carteiras ou eram camuflados entre as pá- ginas do livro de estudos. E se fossem des- São redes que se tecem a partir das conver- 3 cobertos, era confusão na certa: confisco, sas e das trocas que acontecem cotidiana- castigo, bilhete para casa e até ameaça de mente, nos pátios, nos refeitórios, nas bi- ser mandado para a tão temida Secretaria! bliotecas escolares, nas salas de aula. Mas os tempos mudaram, as escolas se Hoje as histórias em quadrinhos são valo- transformaram. Ainda que não com a ra- rizadas como gênero literário que conjuga pidez de muitas transformações sociais e imagem e palavra, símbolos e signos. Sua tecnológicas, as novidades da chamada in- linguagem se insere nos campos da cultu- dústria cultural vão aos poucos entrando no ra e da arte. Autores como Humberto Eco ambiente escolar. Os próprios alunos, alguns e Nestor Canclini, citado em epígrafe, entre professores, determinados projetos, enfim, outros, estudiosos da chamada cultura de são variados os portadores das mudanças. massa valorizam o potencial das HQ. Como uma fileira de pequenas formigas di- ligentes e carregadeiras, crianças, jovens e Nas escolas, os quadrinhos integram os li- adultos, todos, vão levando nas pastas, mo- vros didáticos e fazem parte do acervo das 1 CANCLINI. Nestor García. Culturas híbridas – Estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Editora da USP, 2000 (p.339).
  • 4. salas de leitura. Projetos pedagógicos ele- Nos textos que compõem essa publicação, gem os quadrinhos como gênero textual a professores e professoras encontrarão in- ser desenvolvido nas classes. formações e sugestões de atividades. Nos programas televisivos poderão conhecer Muitos professores e professoras buscam pesquisadores e alguns dos principais qua- formação para melhor trabalhar com as re- drinistas brasileiros, além de espaços desti- vistas e também com as tiras que “frequen- nados à arte dos quadrinhos. tam” os cadernos culturais dos jornais. Esperamos, assim, contribuir para as infini- É para atender a essa demanda que a TV tas aprendizagens possibilitadas pelo traba- Escola, por meio do programa Salto para o lho com os quadrinhos nas escolas! Futuro, apresenta a série História em qua- drinhos: um recurso de aprendizagem, com a consultoria de Sonia M. Bibe Luyten (Pes- quisadora de Histórias em Quadrinhos, que em 1972 iniciou o primeiro curso regular de HQ na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e presidente do Rosa Helena Mendonça2 4 Troféu HQMIX). 2 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
  • 5. História em quadrinhos: um recurso de aprendizagem Introdução Sonia M. Bibe Luyten 1 “A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original” (Albert Eistein). A série História em quadrinhos: um recurso de estigmas ainda prevalecem, por causa des- aprendizagem tem como proposta discutir te desconhecimento e de ideias que foram este gênero, tendo em vista sua ampla di- espalhadas pelo mundo a partir da década fusão tanto no Brasil como na maioria dos de 1950. países do mundo. Esta modalidade de comu- nicação – considerada a “nona arte” – tem Gerações e gerações de crianças cresceram 5 colaborado para as atividades didáticas e lendo histórias em quadrinhos furtivamen- constitui um poderoso meio auxiliar nos di- te, escondidas dos pais e dos professores, versos segmentos da comunicação de mas- que viam nesta arte um desperdício de tem- sa, que também podem ser considerados po e um perigo às mentes dos jovens. sistemas educativos. Isto foi devido ao livro Seduction of the In- Ao apresentar esta série, o programa Salto nocent (Sedução do Inocente), cujo autor, para o Futuro tem como objetivo auxiliar o o psiquiatra Fredric Wertham, não mediu professor de várias maneiras. Uma delas é esforços para acabar com a oitava arte, proporcionando a oportunidade de que ele numa série de textos que se propunham de- se familiarize com a linguagem desta arte, monstrar que os quadrinhos propiciavam a pois nem todos conhecem seu valor. Alguns violência, além das atividades danosas em 1 Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações da Universidade de São Paulo, com tese sobre mangá, os quadrinhos japoneses em 1988. Foi professora do Departamento de Jornalismo e Comunicações da ECA/USP (1972-1984) e professora convidada de várias universidades no exterior como no Japão, Holanda e França. Autora de livros sobre este tema como: O que é Histórias em Quadrinhos; Histórias em Quadrinhos – Leitura Crítica; Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses; Cultura Pop Japonesa – mangá e animê. Atualmente é presidente do Troféu HQMIX – premiação considerada o “Oscar” das Histórias em Quadrinhos e Humor Gráfico no Brasil. Consultora da série.
  • 6. toda a juventude. Logo estas ideias foram gráfico que não precisa de uma chave para ao encontro da posição do Senado norte- ser interpretado. A imagem é complexa, mas americano na pessoa de Joseph McCarthy. pessoas inteligentes, como as crianças e os Ele dirigiu uma cruzada censurando toda adolescentes, conseguem vislumbrar isto atividade que acreditava fomentar o comu- sem restrições. nismo, a violência e tudo aquilo tido como antiamericano. Todos os meios de criação e Os quadrinhos estão ganhando também, seus criadores foram submetidos à censura, já há algum tempo, uma respeitabilidade ou seja, os quadrinhos não fugiram à regra na escola graças a um programa cada vez das perseguições do chamado macartismo. mais popular e criativo, visando aos novos As revistas deveriam conter um selo com os leitores, incentivando as crianças para criar dizeres: Aprovado pela autoridade do código e, em muitos casos, usando temas de suas dos quadrinhos. O Brasil também teve um próprias vidas. selo semelhante no começo dos anos 1960. No plano pedagógico, os quadrinhos pro- O livro deste autor só se popularizou quando porcionam experiências narrativas desde foi colocado em forma de reportagens pela o início do aprendizado, fazendo os alunos revista Seleções Reader’s Digest, traduzida adquirirem uma nova linguagem. Crianças 6 em dezenas de idiomas, em vários países, e adolescentes seguem a história do come- reforçando a ideia de que pais e professo- ço ao final, compreendem seu enredo, seus res deveriam proibir que as crianças lessem personagens, a noção de tempo e espaço, quadrinhos. Embora hoje não existam mais sem necessidade de palavras sofisticadas e radicalismos como esse, o preconceito ain- habilidades de decodificação. As imagens da se manifesta de várias formas. apoiam o texto e dão aos alunos pistas con- textuais para o significado da palavra. Os O que devemos lembrar, contudo, é que, quadrinhos atuam como uma espécie de an- sem sombra de dúvida, as Histórias em Qua- daime para o conhecimento do estudante. drinhos formam a linguagem do século XX e continuam sendo a deste novo milênio. Esta As Histórias em Quadrinhos na sala de aula afirmação está baseada na complexidade também motivam os alunos relutantes ao da simbologia e da terminologia criadas ao aprendizado e à leitura. Elas os envolvem longo do desenvolvimento de sua criação. num formato literário que eles conhecem. É injusto, portanto, afirmar que os quadri- E também as HQs “falam” com eles de uma nhos são subarte e subliteratura. Eles são forma que entendem e, melhor do que isto, um meio de expressão com um código ideo- se identificam. Mesmo para os alunos que
  • 7. já estão com o hábito de leitura formado, os no desenvolvimento dos personagens. São quadrinhos dão a oportunidade de ler um extensamente lidos em todo o mundo, espe- material que combina a imagem com texto cialmente no Japão, onde os mangás (qua- para expressar simbolismos, pontos de vista, drinhos japoneses) perfazem 25% das publi- drama, humor, sátira, tudo isto num só texto. cações do mercado editorial. Muitos alunos leem fluentemente, mas têm Minha experiência profissional com qua- dificuldades para escrever. Eles têm muitas drinhos já atinge quatro décadas. Comecei ideias, mas lhes falta habilidade para criar como leitora e meu pai me dava livros e qua- um começo, seguir uma sequência e, de- drinhos para ler. Não deixei nem os livros, pois, terminar com uma conclusão lógica. E nem os quadrinhos, ao longo de minha vida. é exatamente esta aparência lúdica das His- Ambos completaram minha formação. tórias em Quadrinhos que as torna um veí- culo de comunicação poderoso, bem aceito Iniciei o primeiro curso universitário sobre por estudantes, que se sentem estimulados Histórias em Quadrinhos na Escola de Co- a refletir e a se expressar por meio delas. municações da Universidade de São Paulo em 1972 e, como pesquisadora, em todos Este é o outro objetivo deste programa: fazer estes anos, procurei mostrar aos alunos o 7 o professor ver mais um benefício dos qua- potencial das Histórias em Quadrinhos em drinhos que é o de escrever, pesquisar e criar todos os seus segmentos. em qualquer área de conhecimento. Muitos alunos, frequentemente, perguntam se po- Em 1983 lancei o livro Histórias em quadri- dem desenhar enquanto estão escrevendo. nhos e leitura crítica, em que já abordava, Eles buscam por imagens para dar apoio à num dos capítulos, o uso de HQ como prá- sua escrita. Portanto, neste outro passo, a tica pedagógica. Serve de roteiro para os permissão de usar imagens e palavras vai professores explorarem ao máximo em suas resolver problemas relacionados à narrati- disciplinas itens como: uso dos quadrinhos va de uma ideia. Para colocar o texto num como tema de discussões, na linguagem es- balão, é preciso habilidade de síntese e do- crita e oral, identificação projetiva da per- mínio completo da língua. O erro não será sonalidade do aluno e dicas para avaliar se permitido, uma vez que o texto será lido por alguns livros didáticos empregam correta- mais pessoas e não só o professor. mente a sua linguagem. Além disso, os quadrinhos contêm uma ri- Nesta série de textos para o programa Sal- queza tanto no conteúdo das histórias como to para o Futuro, os docentes encontrarão
  • 8. novas possibilidades para motivar, ensinar e Acredito que o objetivo de todo professor obter resultados em sala de aula. Os equí- é educar, mesmo se o método parecer não vocos da década de 1950 são coisas do pas- convencional. Consequentemente, se as sado. Tanto os professores como os pais já Histórias em Quadrinhos melhorarem as estão prontos para uma nova geração de habilidades da leitura, compreensão, imagi- materiais educativos que ensinem através nação, pesquisa e até disciplina em sala de dos quadrinhos. aula, elas devem transformar-se numa ferra- menta de trabalho para ele. Textos da série História em quadrinhos: um recurso de aprendizagem2 A série História em quadrinhos: um recurso de aprendizagem visa discutir este gênero, que cons- titui um poderoso meio auxiliar nos diversos segmentos da comunicação de massa e, ainda, destacar a importância de sua ampla utilização na sala de aula de aula e em outros espaços educativos e culturais. 8 Texto 1: Origens das histórias em quadrinhos No Texto 1, o autor comenta que a linguagem que hoje chamamos de quadrinhos foi criada no início de nossa civilização e, por incrível que pareça, continua sendo a linguagem do sécu- lo XXI. Observa que temos exemplos de arte sequencial nos hieróglifos egípcios, nos panôs e desenhos nas igrejas da Via Sacra de Jesus, difundidos na Idade Média, e até nos túmulos de reis, onde havia sequências de sua dinastia em alto relevo. Apresenta, também, alguns autores que se destacaram na produção das histórias em quadrinhos no mundo, em especial nos EUA, e os mais conhecidos autores de histórias em quadrinhos no Brasil, como Mauricio de Sousa e Ziraldo, destacando que os personagens criados por eles se tornaram verdadeiros ícones de nossa cultura. 2 Estes textos são complementares à série História em quadrinhos: um recurso de aprendizagem, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola de 04/04/2011 a 08/04/2011.
  • 9. Texto 2: Quadrinhos além dos gibis No Texto 2 , o autor observa que a linguagem dos quadrinhos vai muito além dos gibis. Procura demonstrar os diversos caminhos que uma HQ pode trilhar fora de sua comercialização em bancas, como por exemplo: quadrinhos de informação empresarial; quadrinhos para a área publicitária; quadrinhos paradidáticos; quadrinhos jornalísticos: quadrinhos terapêuticos; qua- drinhos religiosos; quadrinhos de vanguarda; quadrinhos no design e na decoração; quadrinhos no cinema, entre outros. Destaca, ainda, que a linguagem dos quadrinhos tem em sua base a diversidade de outras artes, em especial o cinema, a literatura, o teatro, as artes plásticas. Texto 3: Quadrinhos na sala de aula O Texto 3 tem como objetivo motivar os professores a utilizar as Histórias em Quadrinhos como uma ferramenta de trabalho na sala de aula, visando desenvolver as habilidades de leitura e de compreensão de textos e, ainda, ensinar a alfabetização visual para os pequenos e jovens leitores do século XXI. Destaca alguns elementos que entram na composição dos quadrinhos, como as onomatopeias, os balões e diversos outros recursos gráficos. A partir da análise dos elementos constitutivos deste gênero textual, são sugeridos exercícios de linguagem escrita e 9 oral, como um incentivo para as criações literárias e artísticas dos alunos. Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas do PGM 4: Outros olhares sobre His- tória em quadrinhos e aprendizagem e para o PGM 5: História em quadrinhos e aprendizagem em debate.
  • 10. texto 1 Quadrinhos além dos gibis José Alberto Lovetro (JAL)1 Quem já desenhou alguma vez na vida? O que fazer, então, para ensinar aos filhos Essa pergunta, talvez, nem seja necessária. pequenos as lições da sobrevivência em um Mesmo que em rabiscos ou formas primá- ambiente selvagem? A solução poderia ser rias, todos nós desenhamos em algum mo- desenhar a sequência de uma caça ao antí- mento em nossas vidas. Mas rabisco não é lope, ou como obter fogo, ou até como gerar desenho! Errado. Rabisco é instintivo e nos filhos. E aquele homem das cavernas pegou faz escolher cores e uma pedra e come- formas. Mesmo que çou a rabiscar algo ininteligíveis, estão A linguagem dos balões nas paredes de sua representando algo dos quadrinhos é tão moradia. Depois, que criamos em nos- utilizou tintas tira- coloquial e econômica sa cabeça e nossa das de plantas e as- 10 como a do twitter e seus mão, ainda não do- sim por diante. mada pela prática, 140 caracteres. esboça uma criação. Antes disso, a lin- guagem era a do Qualquer criança rabisca algo se dermos gestual ou os sons de uma língua própria para ela um lápis e papel. Isso não é de gra- que apenas era entendida pelos membros ça. Nos primórdios da civilização humana, do grupo. O conhecimento, então, era trans- algum anônimo se atreveu a rabiscar nas mitido de um para o outro e poderia se per- paredes de sua caverna. Não era uma brin- der no processo dessa comunicação. E se os cadeira, mas sim uma necessidade. Naquela pais da criança morressem quando ela ainda época, os seres humanos morriam cedo. As estivesse com cinco anos de idade? Haveria dificuldades de sobrevivência eram muitas alguém para adotá-la e dar continuidade aos e a medicina não era das mais avançadas. ensinamentos? Nem sempre. Eram mais bo- Quem chegasse aos 35 anos já poderia ser cas para alimentar e, muitas vezes, as crian- considerado um dos mais velhos da tribo. ças acabavam abandonadas. Se não fosse 1 Jornalista e cartunista, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil – ACB e fundador do Troféu HQMIX das Artes Gráficas.
  • 11. esse alguém anônimo criando a linguagem por meio metro de altura, com os textos in- sequencial, talvez não houvesse o acúmulo corporados aos desenhos, de tal forma que de informação na história da humanidade se torna uma verdadeira tira de quadrinhos para sua evolução. gigante. Em alguns panôs impressos em xi- logravura no século XVIII, na cidade de Épi- Essa linguagem criada no início de nossa ci- nal (França), temos até a invenção do balão vilização é hoje chamada de quadrinhos ou saindo da boca de personagens com as falas arte sequencial. E, por incrível que pareça, é coloquiais da época. Linguagem escolhida a linguagem também do século 21. A lingua- por Jean-Charles Pellerin para popularizar gem dos balões dos quadrinhos é tão colo- histórias da Revolução Francesa, novelas e quial e econômica como a do twitter e seus histórias de santos. Até o século XVII pou- 140 caracteres. Isso sem contar a força visual cas pessoas eram alfabetizadas. Por isso, a que vem, a cada ano, sendo preponderante e imagem foi tão importante. Até um anal- necessária na comunicação moderna. fabeto consegue absorvê-la. Surdos-mudos entendem. Crianças entendem. Homens das Se veio dos primórdios e continua moderna cavernas entendiam. até hoje, a linguagem dos quadrinhos não pode ser considerada arte menor, como há Mas foi após a invenção da prensa por Gu- 11 muito tempo vinha sendo taxada. Sua histó- temberg (século XV) que a difusão da ima- ria nos conta o quanto ela está inserida no gem impressa começou a invadir o mundo. O estímulo à leitura e ao desenvolvimento de texto escrito pôde ser finalmente difundido outras linguagens que vieram depois. para as massas. Na área do desenho, come- çou com a impressão das charges criticando Temos exemplos de arte sequencial nos hie- a monarquia e sua pomposidade diante da róglifos egípcios, nos panôs e desenhos nas pobreza de seus súditos. Os desenhos eram igrejas da Via Sacra de Jesus, difundidos na impressos e distribuídos pelas praças como Idade Média, e até nos túmulos de reis, onde uma forma de resistência aos desmandos do havia sequências de sua dinastia em alto poder. relevo. A Tapeçaria de Bayeux é uma obra feita em bordado (século XII), para comemo- Foi apenas no século 19 que os desenhistas rar os eventos da batalha de Hastings (14 de começaram a contar histórias através da Outubro de 1066) e o sucesso da Conquista linguagem dos quadrinhos. Em 1827, o suí- Normanda da Inglaterra, levada a cabo por ço Rudolph Topffer publicava M.Vieux-Bois, Guilherme II, Duque da Normandia. Mede considerado por Goethe, pensador e escritor cerca de setenta metros de comprimento alemão, um romance caricaturado. Interes-
  • 12. sante que esse precursor das histórias em lindas, que chegam a lembrar um desenho quadrinhos impressas em estampas era um animado. Em capítulos semanais, mostra- professor. Demonstra o quanto essa profis- vam a viagem do personagem-título de Mi- são tem, em suas características, não ape- nas Gerais até a corte no Rio de Janeiro. A nas formar informando mas criar novas importância desse feito hoje é eternizada linguagens de comunicação para sua comu- com a criação do Dia do Quadrinho Brasi- nicação. leiro, 30 de janeiro, incluído oficialmente no calendário do país. Neste data, em 1869, foi Em 1865, uma dupla de moleques cheios de publicado o primeiro capítulo da história. travessuras ­“Max und Moritz” ­ era criada Depois disso vie- O Brasil se tornou um dos pelo alemão Wilhelm ram vários artistas Busch, que não econo- pioneiros na criação da invadindo os jor- mizava na violência ao linguagem moderna dos nais e revistas. No transformar os meni- quadrinhos com o italiano Brasil foi criada a nos em bolos indo aos radicado no país, Angelo revista Tico-Tico, fornos. Nada aprova- que durou cerca Agostini. do pelos pedagogos de 57 anos (1905 a 12 da época. Mais tarde, 1962) e nos trouxe seriam a inspiração para a série “Sobrinhos os quadrinhos do excelente J. Carlos e de do Capitão”, de Dirks, em 1897. Luiz Sá, entre outros. Foi a primeira revis- ta que trazia, além dos quadrinhos, várias O Brasil se tornou um dos pioneiros na cria- atividades para as crianças como joguinhos ção da linguagem moderna dos quadrinhos e “recorte e monte”. Já era uma linguagem com o italiano radicado no país, Angelo para utilização dentro das escolas. Essa di- Agostini. Esse anarquista de formação come- nâmica recebeu elogios até de Rui Barbosa, çou a publicar quadrinizações de fatos jor- leitor da revista. nalísticos em Diabo Coxo (1864) e O Cabrião (1866) – revistas paulistas. Nos EUA, em 1895, era criado o personagem “Yellow Kid”, na verdade uma charge de um Depois, em 1869, esse autor entrou para a garoto de bairro periférico de Nova York, história criando o que seria a primeira nove- que fazia crítica social. O feito desse perso- la gráfica em capítulos do mundo, na revista nagem, criado por Richard F. Outcault para semanal Vida Fluminense. Tratava-se de “As o Sunday New York Journal, foi a inclusão dos aventuras de Nhô Quim”. Tem sequências textos para dentro dos quadrinhos. Até en-
  • 13. tão, os textos vinham separados, na parte de No Brasil, em 1934, Adolfo Aizen, da Editora baixo dos quadrinhos. As falas do Yellow Kid Ebal, traz dos EUA esses personagens para estavam na bata que ele vestia. Anos mais serem publicados no Brasil. Surge, então, o tarde, essa charge se transformaria em qua- “Suplemento Juvenil”, que faria o mesmo drinhos. Alguns historiadores americanos sucesso dos suplementos americanos. O jor- logo aclamaram que aí estaria o nascimento nalista Roberto Marinho criaria, logo em se- das histórias em quadrinhos. Isso por ser a guida, “O Globo Juvenil”, para não ficar para primeira vez que o texto entrou dentro dos trás nessa nova onda. Eram publicados em quadrinhos. É o mesmo que dizer que o ci- cores. Foram anos de grande disputa entre nema mudo não é cinema. Sabemos bem as editoras, o que ajudou a esquentar mais que os americanos reivindicam para si mui- ainda a febre de leitura que contaminava os tas coisas como, por exemplo, a invenção do jovens de então. As tiragens eram grandes avião. Não seria diferente com as ditas HQs. e também alavancaram a descoberta de no- vos autores brasileiros. A criação da Editora Nas décadas de 20, 30 e 40 do século passa- Abril em 1950 nos traria os primeiros gibis do, os quadrinhos viraram febre nos EUA e no da Disney pelas mãos de Vitor Civita. Todo mundo com a criação de suplementos infan- o conglomerado em que se transformou a tis dos jornais e revistas. Centenas de novos pequena editora foi resultado do primeiro 13 heróis e personagens de humor surgiram. Já sucesso: o “Pato Donald”. Vitor Civita edi- havia uma produção de desenhos animados, tava suas revistas e, para distribuí-las nas para onde alguns desses heróis migraram, bancas de jornal, utilizava seu velho carro. demonstrando que vieram para ficar. Podemos ver por aí a força dos quadrinhos para formar leitores, que depois migraram Em 1929, em plena crise na Bolsa de Wall também para outras revistas e livros. Stret, nos EUA, surgiam os primeiros perso- nagens de aventura. Buck Rogers e Tarzan Mas a área de HQs infantis teria outras boas iniciariam a era de ouro das HQs americanas consequências desse sucesso. Nos anos 60, e invadiriam o mundo. Eram publicados nos surgiam os personagens de Mauricio de jornais e ajudaram no crescimento de leito- Sousa (Turma da Mônica) e Ziraldo (Pererê), res, de tal forma que a imprensa começou a entre outros. Não é preciso dizer como es- ter seus suplementos de quadrinhos. Depois ses personagens ganharam o gosto popular. surgiram O Príncipe Valente, Flash Gordon, Ziraldo ainda criaria o Menino Maluquinho, Agente X-9, Mandrake, Super-Homem, Fan- em 1980, que já vendeu mais de 5 milhões de tasma, Batman e toda uma saga de super- livros nas escolas e entrou para o cinema e heróis que chegaram até os dias de hoje. para a TV com o mesmo impacto. Mauricio
  • 14. de Sousa já vendeu mais de um bilhão de Portanto, a origem da linguagem dos quadri- revistas da Turma da Mônica e publica em nhos se confunde com a história da huma- cerca de 30 países a saga dos personagens nidade. É tão atual quanto os rabiscos feitos brasileiros. Os dois artistas são ícones para por aquele homem das cavernas. É nosso os professores, que costumam utilizar seus momento de criação. Como pequenos deu- gibis e livros para ajudar na alfabetização ses dando vida ao nosso mundo. Com um das crianças nas salas de aula. papel e lápis podemos recriar o universo, as- sim como Da Vinci e os grandes inventores. São tantos os autores de quadrinhos bra- Assim como nas histórias de Flash Gordon sileiros que seriam prevendo as naves necessárias várias espaciais e viagens páginas para des- Nos anos 60, surgiam os interplanetárias nos crever suas cria- personagens de Mauricio anos 30, que foram ções. Podemos falar de Sousa (Turma da Mônica) acontecer na dé- de um Jayme Cor- cada de 60. Assim e Ziraldo (Pererê), entre tez, desenhista de como os heróis que outros. estilo próprio, e que vieram mostrar que comandou a era de alguns milagres são 14 ouro da HQ nacio- possíveis. Assim nal nos anos 50 com a força dos quadrinhos como um simples desenho de uma criança, de terror e aventura. A nova geração com que não desenha mais nas cavernas, mas Angelí, Laerte e Glauco, com seus persona- sim nas paredes de casa ou no computador. gens de humor. Os artistas que produzem O quadrinho está em nossa vida não apenas até para o mercado estrangeiro, principal- para dar margem à nossa diversão, mas para mente americano, como Ross, Gabriel Bá, deixar fluir o que mais temos de humano – a Fabio Moon e Ivan Reis. Enfim, temos os ideia. E quem tem a ideia tem o poder no melhores do mundo. mundo.
  • 15. texto 2 Quadrinhos além dos gibis José Alberto Lovetro (JAL) 1 Os professores costumam utilizar a lingua- tempo, pode estar com um aparelho MP4 gem dos quadrinhos para alguns exercícios ligado aos ouvidos. E, ainda, jogando game básicos e de forma criativa. Alguns fazem e atendendo celular. Tudo ao mesmo tem- uma fotocópia de uma página de HQ com os po. É uma prática que o faz mais ágil, mas textos eliminados. Apenas os desenhos. Na também produz a falta de atenção que não sala pedem para os alunos completarem os ajuda nem um pouco a que ele consiga fixar balões de fala como um exercício de criação o que recebe. e desenvolvimento de texto. Esse exercício ajuda a passar a estrutura de início, meio e Quando esse mesmo jovem procura ler uma 15 fim de uma história para uma boa redação. revista em quadrinhos, há um exercício de Os professores estão certos nessa criação concentração em um veículo. Pode até ouvir espontânea e empírica. Mas esta ferramen- música ao mesmo tempo mas, com certeza, ta pode render mais. Muito mais. estará educando seu cérebro para a necessá- ria ação de concentração. Isso é fundamen- Não podemos imaginar os quadrinhos ape- tal para que o jovem se interesse em leitura nas como estímulo de leitura, mas sim como de forma concentrada. Ajuda no trabalho do estímulo para qualquer outra área cultural. professor para passar informações. Na atualidade, a tecnologia veio com tudo Portanto, podemos observar que essa lingua- para o mundo dos jovens e das crianças. Um gem vai muito além dos gibis, como diz o jovem pode estar com o computador liga- título deste texto. Vamos, então, demonstrar do nos portais de relacionamento, conver- os diversos caminhos que uma HQ pode tri- sando com um ou mais amigos. Ao mesmo lhar fora de sua comercialização em bancas. 1 Jornalista e cartunista, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil – ACB e fundador do Troféu HQMIX das Artes Gráficas.
  • 16. • QUADRINHOS DE INFORMAÇÃO EMPRE- nhos por um advogado do Rio Grande do SARIAL: Toda empresa necessita de um Sul, para explicar como ocorreu no caso projeto de comunicação interna. Infor- julgado para distribuição ao júri daquele mações de organização, implantação de evento. novos sistemas internos, Cipa (cuidados • QUADRINHOS PARADIDÁTICOS: São adap- com acidentes do trabalho), projeto social tações de livros famosos, biografias de da empresa e todo tipo de tema necessá- personagens da história e textos diversos rio. A linguagem dos quadrinhos é a mais do currículo escolar desenvolvidas nessa significativa em estímulo à leitura. Atinge linguagem. todo tipo de funcionário. Do mais simples ao diretor da empresa. • QUADRINHOS JORNALÍSTICOS: Jornalis- • QUADRINHOS PARA SERVIÇO PÚBLICO: tas que desejam publicar sua matéria em As empresas governamentais procuram quadrinhos, como Joe Sacco, autor que implantar campanhas de saúde, de educa- criou uma série de reportagens quadrini- ção, de cunho social e outras informações zadas de suas andanças por guerras e lo- que, geralmente, são distribuídas para a cais de conflito. população mais carente. 16 • QUADRINHOS TERAPÊUTICOS: Profissio- • QUADRINHOS PARA A ÁREA PUBLICITÁ- nais da psiquiatria e psicanálise podem RIA: Campanhas de empresas direciona- desenvolver criação de quadrinhos em das para os jovens e crianças são acom- grupo como terapia de aproximação e panhadas de personagens e historinhas entendimento de amigos, familiares e co- que explicam sobre o produto à venda ou, munidades. simplesmente, buscam agregar valor ao produto. Campanhas em jornais e revis- • QUADRINHOS RELIGIOSOS: Várias publi- tas também se utilizam de personagens cações já foram produzidas para catequi- de quadrinhos já conhecidos ou criados zar ou simplesmente difundir a vida de especificamente para esse fim. santos, crenças, seitas e grandes persona- gens religiosos, geralmente para buscar o • QUADRINHOS PARA PROFISSIONAIS LIBE- interesse do público jovem e infantil. RAIS: Médicos, engenheiros, advogados, jornalistas, empreendedores e diversos • QUADRINHOS DE VANGUARDA: Artistas outros profissionais podem utilizar revis- que desejam extrapolar a linguagem de tas em quadrinhos para apresentação de diversos tipos de arte se utilizam dos qua- seus serviços. Já houve o uso de quadri- drinhos como inspiração para seus qua-
  • 17. dros de pintura, seus grafites, poemas, da aplicação dos quadrinhos nas mais diver- esculturas, vídeos e eventos culturais. sas áreas de atuação profissional. Falando mais sobre o que a linguagem dos quadri- • QUADRINHOS NO DESIGN E DECORAÇÃO: nhos nos proporciona, basta demonstrar A rica linguagem das HQs - com as ono- que tem em sua base a diversidade de outras matopeias, balões, grafismos de ação e artes. personagens famosos - são inspiração constante para utilidades domésticas, de- • TEATRO – O leitor de HQ é basicamente coração de ambientes e formas de design um coautor da história, pois interpreta os inovadoras e bem-humoradas. personagens. O desenhista dá a imagem e o leitor escolhe a voz que aquele per- • QUADRINHOS NO sonagem ou aque- CINEMA: Atual- la onomatopeia mente toda a parte O diretor de cinema Alfred terá. O quadrinho de pré-produção, Hitchcock já utilizava a respeita também com desenhos de quadrinização em cenas o “time” de cada roupas, persona- como a do filme “Os um. Uma pessoa gens e ambientes, Pássaros”, na década de 60. pode ler uma pá- 17 é desenvolvida com gina em segundos desenhos para que ou, se quiser, em o roteiro seja todo minutos. Depende do entendimento e da quadrinizado nos planos e na forma que o assimilação de cada leitor. Diferente de diretor de imagem deseja. O diretor de ci- um filme que passa em quase duas horas, nema Alfred Hitchcock já utilizava a qua- sem interrupção, impondo o “time” de drinização em cenas como a do filme “Os entendimento. Essa interpretação do lei- Pássaros”, na década de 60. Os grandes fil- tor é uma linguagem teatral. Por isso, a mes de heróis dos quadrinhos é que ainda leitura das histórias em quadrinhos inte- levam multidões aos cinemas. ressa ao ensino. Cada um terá seu tempo • QUADRINHOS NO RÁDIO: Novelinhas, de entendimento respeitado. A absorção programas de humor e jornalísticos criam do conteúdo é mais eficaz. O cérebro, personagens e se utilizam da linguagem criando junto a interpretação, faz com dos quadrinhos com suas frases de efeito que o leitor sinta-se envolvido na história. e suspense. • CINEMA – Nem precisa dizer o quanto Essas são apenas algumas das possibilidades os quadrinhos e o cinema são próximos.
  • 18. Como dissemos antes, o roteiro de um moda. Quem assiste aos desfiles pode ver filme é desenvolvido em quadrinizações, claramente algumas criações de estilistas hoje em dia. Além disso, os planos do cine- que só funcionam na passarela e não na ma são os mesmos usados na composição vida real. De outra forma, a atual febre dos desenhos dos quadrinhos. Temos o de Festivais Cosplay (pessoas que se ves- plano geral para início de uma cena, onde tem como os heróis) demonstra o quanto são mostrados os personagens dentro de essa moda pega! Um ótimo exercício para uma paisagem, depois o plano america- quem quer ser estilista. no, onde o personagem é enquadrado da • LITERATURA – Se alguém algum dia qui- base do peito para cima, e os planos em ser ser um escritor, pode desenvolver sua “close”, onde o enquadramento é nos de- dramaturgia, estru- talhes da cena. O tura de uma história desenhista é um O leitor de HQ é e ter idéias fazendo diretor de cinema que escolhe as ce- basicamente um coautor da quadrinhos. Ao tra- história, pois interpreta os balhar criação de nas para induzir personagem, sua o leitor a criar as personagens. concepção intelec- 18 imagens em mo- tual, sua forma físi- vimento em sua ca e como será co- cabeça. Sem esquecer que em uma his- locado em uma situação criada, a pessoa tória em quadrinhos pode-se utilizar de tem a base para contar uma boa história. qualquer imagem de efeito especial que Há falta de criatividade nos textos vistos seria de alto custo em uma produção ci- em trabalhos escolares. O estímulo pode nematográfica. ser desenvolver quadrinhos. • MODA – Um desenhista é também esti- • ARTES PLÁSTICAS – Os quadrinhos já fo- lista. Cria as roupas dos personagens já ram vanguarda nas artes visuais desde seu imaginando a ação em que se enquadra- início. Primeiro, por trazer o movimento rão. Não é por acaso que os super-herois aos traços de um desenho e, depois, por usam aquelas roupas coladas ao corpo, nos dar variantes incríveis de plasticida- mais fáceis de enfrentarem lutas e a ação de. Vai de um desenho linha clara, bem dessas aventuras. É preciso até um estu- simples, ao uso de colagens ou pontilhis- do técnico da roupa, além de sua forma mo. A visualização do som através das visual agradável. Alguns personagens ins- onomatopeias é uma criação artística piraram a moda ou foram inspirados pela
  • 19. sensacional e inédita entre as linguagens ro, é preciso prever e criar novas formas visuais. A era da Pop Art, nas décadas de que podem acontecer nos próximos anos. 60 e 70, foi toda montada sob a forma dos Um desenhista também tem que ser um quadrinhos. Roy Lichtenstein foi um dos arquiteto. artistas que se notabilizaram por essa va- • DESIGN – Da mesma forma, copos diferen- lorização dos quadrinhos em suas litogra- tes, móveis únicos e objetos que depois vuras. Atualmente, temos HQs nos mais podem ser produzidos em merchandising diversos modos de arte e técnicas que para os fãs dos heróis que colecionam usam de pincéis a computadores. Não há tudo. É preciso saber unir a forma com a limite na criação dessas obras. praticidade. • PSICOLOGIA – Bas- • CIÊNCIA – As ta dizer que criar O desenhista é um diretor histórias de ficção personagens e de cinema que escolhe as científica acabam testá-los nas mais cenas para induzir o leitor sendo concretizadas diversas situações já é um exercício a criar as imagens em tempos depois nas de pesquisa do movimento em sua cabeça. invenções da huma- 19 nidade. A clonagem intelecto. Só há veio antes nos qua- uma boa história drinhos e hoje é re- se houver bons personagens. Para isso, o alidade. Agentes do serviço secreto que conhecimento de pensadores como Freud se comunicavam através de um relógio e Carl Jung pode ajudar bastante e faz de pulso nas historinhas, hoje, estariam com que o autor se aprofunde na matéria. defasados. Mas fizeram parte do processo Heróis em crise, como os da série X Men, de engenharia que fez com que pudésse- revigoraram o modo de contar aventuras, mos falar por microfones em lapelas. Está justamente por aproximar esses heróis provado que a ciência e a tecnologia bus- das fraquezas humanas. cam transformar esses sonhos em reali- • ARQUITETURA – Para contar uma história dade, mais cedo ou mais tarde. visualmente é preciso que os personagens Podemos ficar aqui desenvolvendo mais te- entrem em cenários. Pode ser uma flores- mas, à proporção que estudamos o que há ta, mas também uma cidade. Moradias, nessa mágica das HQs. Por essa razão, a lin- ruas, cidades criadas através de pesquisas guagem dos quadrinhos é essencial para a de lugares. Se a história acontece no futu- utilização na educação. Ao entrar na expe-
  • 20. riência de criar uma história, entra-se nesse de aula com os quadrinhos cria uma nova mundo de alternativas e conhecimento. De- etapa no relacionamento entre professor e pois de tantos exemplos que passamos nesse aluno. Aproxima os dois de uma forma cola- texto, talvez o melhor de todos seja o apro- boracionista. Facilita o ensino sem qualquer veitamento desse processo para fixar infor- investimento a não ser lápis, papel, borra- mação, coloborando assim para a formação cha e o próprio professor. dos estudantes. Os professores já sabem que isso é possível, mas podem ser orientados Os dois nunca mais olharão para um gibi para perceber qual é o modo mais prático, achando que é apenas um objeto de diver- que atenda às diversas disciplinas escola- são e lazer. Muito além do gibi. res, sem complicação. O trabalho em sala 20
  • 21. texto 3 QUADRINHOS NA SALA DE AULA Sonia M. Bibe Luyten 1 Professor, professora, vocês estão procuran- nhos como um meio eficaz para o ensino e do um jeito de motivar seus alunos, envolvê- as necessidades de aprendizagem. los na sala de aula, desenvolver as habilida- des de leitura e de compreensão de textos, Muitos pensam, contudo, que é só deixar ensinar a alfabetização visual para os peque- uma revista na carteira e dizer: “leia”. Ou en- nos e jovens leitores do século XXI ? tão, “desenhe algo”. O que se precisa, na re- alidade, é inserir as Histórias em Quadrinhos Vocês já consideraram as Histórias em Qua- num plano já preestabelecido de uma deter- drinhos como uma ferramenta de trabalho minada disciplina antes do início do ano leti- na sala de aula? vo para poder usufruir seus resultados. 21 Alguns professores podem ainda pensar que O primeiro passo para um professor usar os o uso das Histórias em Quadrinhos na esco- quadrinhos em sala de aula é não ter medo la não atende às suas propostas educacio- e começar a se familiarizar com sua lingua- nais. Há outros, contudo, que entendem que gem. Os quadrinhos, numa definição bastan- o ensino começa com a obtenção da aten- te simples, são formados por dois códigos de ção dos estudantes e resolvem experimentar signos: a imagem e a linguagem escrita. as Histórias em Quadrinhos. Entre os elementos que entram na com- posição dos quadrinhos, dando-lhes mui- Nos últimos quinze anos, em muitos países to dinamismo, destacam-se os balões. Em e também no Brasil, está comprovado que sua forma tradicional, o balão indica a fala muitos professores estão usando os quadri- 1 Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações da Universidade de São Paulo, com tese sobre mangá, os quadrinhos japoneses em 1988. Foi professora do Departamento de Jornalismo e Comunicações da ECA/USP (1972-1984) e professora convidada de várias universidades no exterior como no Japão, Holanda e França. Autora de livros sobre este tema como: O que é Histórias em Quadrinhos; Histórias em Quadrinhos – Leitura Crítica; Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses; Cultura Pop Japonesa – mangá e animê. Atualmente é presidente do Troféu HQMIX – premiação considerada o “Oscar” das Histórias em Quadrinhos e Humor Gráfico no Brasil. Consultora da série.
  • 22. coloquial entre os personagens em tempo para indicar amor, espirais na cabeça como presente. Ele também expressa sentimentos sinal de tontura e assim por diante. variados, como raiva, medo ou alegria. Os desenhistas são muito criativos para encon- O próprio formato do quadrinho é um indi- trar efeitos visuais e comunicativos no for- cador de leitura. Temos assim o quadrinho mato do balão: existe desde o balão-berro, convencional – quadrado, retangular ou poli- ao balão-transmissão, balão-cochicho, ba- forme. Se o quadrinho, no entanto, for dese- lão-nuvem entre muitos outros. Em todos nhado com linhas contornadas ou pontilha- eles o texto é drasticamente reduzido, o que das, o desenhista quer mostrar uma narrativa possibilita um aproveitamento sintético da de sonho ou algo que se passou em tempo linguagem, podendo pretérito. Tudo isto é ser lido até mesmo perfeitamente com- Os quadrinhos, numa por leitores de esco- preensível até mes- definição bastante simples, laridade inicial. mo por crianças não são formados por dois alfabetizadas, tama- Outro elemento códigos de signos: a nho é o poder de co- muito importante imagem e a linguagem municação. 22 nas HQs são as ono- escrita. Portanto, a melhor matopeias, que são maneira de fazer os sons que procu- com que os alunos ram imitar os ruí- obtenham benefícios dos quadrinhos é ler dos, dando-lhes também uma beleza visual. também. Os olhos do professor e a compre- Os mangás, quadrinhos japoneses, explo- ensão de todos esses elementos citados po- ram ao máximo este recurso, pois os sons dem auxiliar a prática pedagógica. são colocados em alfabeto katakana ou hi- ragana, completando a estética da página. Há diversas formas de se usar os quadri- nhos. Uma delas é com as revistas, tiras de Para dar mais dinamismo, são utilizadas jornal ou adaptações de romances para qua- muitas figuras convencionais, como linhas drinhos. Nestes casos, há inúmeras possibi- retas, indicando velocidade, imagens repeti- lidades para as diferentes disciplinas: das para movimento, estrelinhas indicando dor, poeirinhas para mostrar corrida ou velo- 1. Uso de quadrinhos como cidade e pequenas gotas dando a impressão tema de discussões de calor ou medo. Há muito mais exemplos, como notas musicais para canto, corações A partir de uma reflexão sobre os conteúdos,
  • 23. fazer uma abordagem histórica, por exem- 3. Análise de conteúdo plo, de personagens índios, negros, imigran- tes, etc. Enquanto a maioria dos quadrinhos Análise das personagens a partir de heróis da década de 1950 até os anos 80 foi orien- ou vilões no seu aspecto físico em combi- tada para crianças mais jovens e adolescen- nação com o psicológico. Os alunos podem tes, a mudança de marketing na década de verificar o tipo de vocabulário que os dese- 1990 levou a uma explosão de material mais nhistas empregam, quais os sentimentos complexo que explora o mundo à nossa vol- que despertam no leitor, como reagem às ta com mais profundidade. Neste sentido, a situações que enfrentam – como coragem, partir de caracterís- medo, amor, covar- ticas dominantes da dia, etc. Nos qua- As HQs podem estimular personalidade des- drinhos japoneses – muitos exercícios de ses heróis em ques- mangás – podemos linguagem escrita e oral, comparar como ou- tão, pode-se efetuar, também, um juízo sendo um excelente tras culturas reagem crítico de valores incentivo para as criações a estas situações. que são aceitos ou literárias e artísticas dos Outro ponto que 23 não pela sociedade. alunos. pode ser avaliado é Isto propicia debates se a história dá mar- como a violência, o gem a estereótipos racismo ou a tole- tais como: familiares (como são apresenta- rância. das as figuras da mãe, pai, avós); profissio- nais (conceito de certas profissões – médi- 2. Uso de quadrinhos na cos, operários, lixeiros, industriais); sociais linguagem escrita e oral (como são vistos os ricos, os pobres, os tu- ristas, os marginais, as tribos urbanas); na- As HQs podem estimular muitos exercícios cionais (em que circunstâncias aparecem os de linguagem escrita e oral, sendo um exce- africanos, os asiáticos, os árabes); culturais lente incentivo para as criações literárias e (como é vista a família, o trabalho, a juven- artísticas dos alunos. No ensino de línguas tude, a velhice). estrangeiras, por exemplo, há oportunidades de propiciar a formação de diálogos nos ba- Estes são pontos importantes que devem ser lões em uma história já desenhada, recorta- desenvolvidos e analisados não só a partir de da ou adaptada para esta finalidade. uma história, mas também do conjunto da
  • 24. produção de algum determinado autor e de- sua quadrinização, delimitando-se o ta- senhista de quadrinhos. manho da história (uma ou duas pági- nas). É neste ponto que o professor pre- cisa estar familiarizado com a linguagem 4. HQ e identificação dos quadrinhos, pois poderá orientar os projetiva da personalidade alunos no uso dos diversos tipos de balão É possível numa sala de aula fazer muitas para dar o tom das onomatopeias, as figu- brincadeiras e testes com crianças, adoles- ras convencionais de ação, movimento. centes e adultos a par- Aqui vão entrar tir de certos critérios os roteiristas. A dentre uma gama de Se é na escola que partir de um tex- personagens: heróis, a avaliação adquire to que foi escolhi- heroínas, vilões, ani- materialidade, é na vida do (livro didático, mais e personagens se- romance), é pre- cotidiana de professores, cundários. No momen- ciso elaborar um estudantes e suas famílias to da escolha, pedir o roteiro condizen- porquê de sua preferên- que ela deposita seus te para se tornar cia ou repúdio. E o mais desdobramentos. uma nova arte. 24 importante: o que eles gostariam de ser. Com a • Criação de ajuda da psicologia, isto se torna um instru- uma HQ sobre um tópico. Pode ser tra- mento para a identificação do leitor-perso- balho individual ou de grupo. Este item é nagem que, através da fantasia, projeta sua aplicável a todas as disciplinas: Português, personalidade ou aquilo que almeja ser. É História, Geografia, Artes, Língua Estran- muito útil em sala de aula. geira, Ciências, Física ou Matemática. Usando a linguagem sintética dos quadri- Outra forma de usar os quadrinhos é fazer nhos, é preciso que o aluno possa primei- uma História em Quadrinhos. Como nem ro pesquisar, entender e depois explicar os todos têm habilidade para desenhar e/ou conteúdos pesquisados. fazer roteiros, os próprios alunos é que vão escolher a partir de suas aptidões. Uma vez • Ponto de vista. A partir de um tema qual- isto delimitado, há vários exercícios que po- quer, como por exemplo, um domingo dem ser feitos: no parque, os alunos deverão desenhar diferentes histórias sob o ponto de vista • Leitura de um texto e, posteriormente, de cada personagem no parque: o pipo-
  • 25. queiro, as crianças, os peixinhos no lago, Por exemplo, a já conhecida estátua de D. o pedinte, o casal de namorados e assim Pedro I com o acréscimo de um balão di- por diante. Muito útil para possibilitar aos zendo “Independência ou Morte”. alunos novos enfoques para uma criação • Personagens estereotipados. Como se literária. apresentam as raças, as profissões, a ma- neira de falar, pessoas com deficiência, O professor e os livros etc., reforçando apenas velhos conceitos didáticos com Histórias em em roupagem nova. Quadrinhos E, finalmente, se o livro não atender ao in- Há muitos livros didáticos que contêm exer- teresse dos alunos, eles podem quadrinizar cícios ou algum conteúdo na forma de qua- uma nova versão com o objetivo de fazer drinhos. Muitos têm um objetivo puramente uma leitura crítica sobre algum conteúdo comercial e nem sempre estão preocupados que não acharem compatível com a realida- se isto vai mesmo ajudar tanto o professor de. Ou recontar a história sob outro ponto como o aluno. Neste caso, é importante o de vista, sempre com a ajuda do professor. professor estar familiarizado com a lingua- 25 gem dos quadrinhos e até tornar isto uma Todos estes itens devem estar dentro de um questão de aula, fazendo uma leitura crítica planejamento de aula. O uso de quadrinhos com os alunos. Juntos poderão observar al- tem o objetivo de ajudar, motivar e estimu- guns pontos: lar o aluno a desenvolver habilidades, além de ensinar de forma lúdica. Os benefícios se- • Quadrinhos com excesso de texto nos ba- rão muitos. As Histórias em Quadrinhos dão lões dificultando a leitura e, consequente- uma extraordinária representação visual do mente, a assimilação do conteúdo. conhecimento, mostram o que é essencial, ajudam na organização narrativa da histó- • Imagens muito chamativas distraindo o ria, são de fácil memorização, enriquecem aluno para o principal, que é a mensagem a leitura, a escrita e o pensamento e desen- veiculada. volvem conexões entre o visual e o verbal. • Não se iludir com roupa nova para velhas imagens: há livros didáticos que, com o E o mais importante: os quadrinhos, em sua intuito só de vender, colocam alguns ele- estrutura, formam uma imagem descontí- mentos dos quadrinhos (balões, onoma- nua. O espaço em branco entre um quadri- topeias) em velhas imagens conhecidas. nho e outro tem que ser preenchido rapida- mente na mente do leitor para formar uma
  • 26. imagem contínua, como se fosse um filme Professores, vocês ficarão surpresos com os ou um desenho animado. resultados de um projeto envolvendo o uso de histórias em quadrinhos em sala de aula. Este espaço em branco, ao qual ninguém dá importância, tem uma função extraordiná- ria: ajuda o cérebro a pensar. 26
  • 27. Referências Bibliográficas LUYTEN, Sonia M. Bibe (org.). Histórias em quadrinhos: leitura crítica. 2. ed. São Paulo: CIRNE, Moacy. A Explosão Criativa dos Qua- Edições Paulinas, 1985. drinhos. Petrópolis: Vozes, 1972. LUYTEN, Sonia M. Bibe. Mangá: o poder dos CIRNE, Moacy. História e Crítica dos Qua- quadrinhos japoneses. São Paulo: Hedra, drinhos Brasileiros. Editora Europa-Funarte, 2000. 1990. LUYTEN, Sonia M. Bibe. O que é história em ECO, Umberto, BONAZZI, Marisa. Mentiras quadrinhos. São Paulo: Brasiliense, 1985. que parecem verdades. São Paulo: Summus LUYTEM, Sonia M. Bibe, LOVETRO, José Al- editorial, 1972. berto (JAL). HQ - ABC do professor. (no prelo) EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. MCCLOUD, S. Desvendando os Quadrinhos. São Paulo: Martins Fontes, 1989. São Paulo: M. Books do Brasil, 2005. GONÇALO JUNIOR. A guerra dos gibis: a for- MOYA, Álvaro de. História da história em qua- mação do mercado editorial brasileiro e a drinhos. Nova Ed. Ampliada. São Paulo: Bra- 27 censura aos quadrinhos, 1933-64. São Paulo: siliense, 1996. Companhia das Letras, 2004. RAMA, Angela et alii. Como usar as histórias LOVETRO, José Alberto. A Linguagem do fu- em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: turo (texto): Revista Idéias nº17 - Fundação Contexto, 2004. para o Desenvolvimento da Educação, 1993. VERGUEIRO, Waldomiro; SANTOS, Roberto LOVETRO, José Alberto. Quadrinhos, a Lin- Elísio dos (orgs.). O Tico-Tico: Centenário da guagem Completa. Revista Comunicação e primeira revista de quadrinhos do Brasil. Vi- Educação - ECA/USP - Editora Moderna, 1994. nhedo: Opera Graphica Editora, 2005. LOVETRO, José Alberto e COSTA, Gualberto: A história do futebol no Brasil através do cartum. SUGESTÕES DE OBRAS LITERÁRIAS Editora BomTexto, 2005. QUADRINIZADAS GROENSTEEN, Thierry. História em quadri- AMADO, Jorge e Spacca. Jubiabá. São Paulo: nhos: essa desconhecida arte popular. João Cia. das Letras, 2009. Pessoa: Marca de Fantasia, 2004.
  • 28. ASSIS, Machado, SRBEK, Wellington e MELA- BLOG DOS QUADRINHOS DO, João Batista: Memórias Póstumas de Brás http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br Cubas. São Paulo: Editora Desiderata, 2010. BRAZIL CARTOON AZEVEDO, Aluisio e ROSA, Rodrigo. O Corti- www.brazilcartoon.com ço. São Paulo: Editora Ática, 2009. CABRUUUM! FREYRE, Gilberto, WASTH, Ivan e PINTO, Es- http://cabruuum.blogspot.com tevão. Casa Grande & Senzala, Editora Abe- EMT CULTURA Graph, 2001. http://editoraemt.blogspot.com MELO NETO, João Cabral de e FALCÃO, Mi- ESQUADRINHANDO HQ guel. Morte e vida severina: auto de Natal http://esquadrinhandohq.blogspot.com pernambucano (em quadrinhos). 2a. edição. FÁBRICA DE QUADRINHOS Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora http://fabricadequadrinhos.uol.com.br Massangana, 2010. FAN SITE NEWS http://fansitenews.com.br Sugestão de sites e blogs: 28 ÂMAGO FANBOY http://www.fanboy.com.br http://www.quadrinhosdarkmarcos.blogspot.com AMBROSIA FANZINERIA http://fanzineria.blogspot.com http://www.ambrosia.com.br ANIMA BLADE G1 http://g1.globo.com/pop-arte http://www.animeblade.com.br ANIME PRÓ GIBI RASGADO www.gibirasgado.blogspot.com http://animepro.com.br BANCA DE QUADRINHOS GIBITECA.COM http://programabancadequadrinhos.com (TV) http://gibitecacom.blogspot.com/2011/01/baptis- tao-no-sabados-da-memoria-das.html BIGORNA http://www.bigorna.net GIBIZADA http://oglobo.globo.com/blogs/Gibizada BLOG DO UNIVERSOHQ http://universohq.blogspot.com GRAPHIQ JORNAL
  • 29. GUIA DOS QUADRINHOS IMPACTO QUADRINHOS http://guiadosquadrinhos.com http://impacto-quadrinhos.blogspot.com HQ & CIA IMPULSOHQ http://www.alltv.com.br (TV) http://impulsohq.com HQ ALÉM DOS BALÕES JBLOG http://hqalemdosbaloes.com (TV) http://www.jblog.com.br/quadrinhos.php HQMANIACS HQMIX JUDÃO http://hqmix.com.br http://judao.mtv.uol.com.br http://hqmaniacs.uol.com.br 29
  • 30. Presidência da República Ministério da Educação TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Coordenação-geral da TV Escola Érico da Silveira Coordenação Pedagógica Maria Carolina Mello de Sousa Supervisão Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento Pedagógico Ana Maria Miguel Coordenação de Utilização e Avaliação Mônica Mufarrej Fernanda Braga 30 Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Diagramação e Editoração Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil Gerência de Criação e Produção de Arte Consultora especialmente convidada Sonia M. Bibe Luyten E-mail: salto@mec.gov.br Home page: www.tvbrasil.org.br/salto Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro. CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ) Abril 2011