O documento resume uma entrevista com José Paulo Oliveira, presidente do OLAE, sobre os 10 anos de atividade do Observatório Lusófono de Atividades Económicas. O OLAE destaca-se pela prestação de serviços especializados às empresas da CPLP, como a preparação de projetos para financiamento internacional. Para a próxima década, o OLAE planeja lançar um think tank sobre a renda básica universal e seu impacto macroeconômico.
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“PODEM CONTINUAR
A CONTAR COM O OLAE”
Em crescimento constante e contínuo, o OLAE - Observatório Lusófono de Atividades Económicas, comemora este ano uma
década de existência e atividade, sendo atualmente um importante pilar como centro de investigação de prestação de
serviços financeiros e de consultoria para as empresas dos países da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Mas o OLAE é muito mais e nesse sentido a Revista Pontos de Vista conversou com José Paulo Oliveira, Presidente do OLAE,
que nos deu a conhecer um pouco mais da realidade desta entidade, bem como alguns dos desafios para o futuro.
TEMA DE CAPA
»JOSÉ PAULO OLIVEIRA, PRESIDENTE DO OLAE, EM ENTREVISTA
O
Observatório Lusófono de Atividades Económicas (OLAE) é um reconhecido
centro de investigação de prestação de serviços financeiros e de consultoria
para as empresas dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portu-
guesa). Que balanço é possível fazer de dez anos de atividade do OLAE?
A atuação do OLAE tem sido pautada pela preocupação constante em cumprirmos a nossa
missão, estudando e investigando para podermos ajudar as economias e as populações dos
países lusófonos, utilizando ao mesmo tempo a prestação de serviços altamente qualificados
para as empresas e empreendedores do espaço de toda a CPLP para obter os recursos finan-
ceiros para viabilizar a atividade desenvolvida, evitando a subsidiodependência que é tantas
vezes característica de instituições com objetivos meritórios, mas sem a nossa capacidade
para manterem a independência face a poderes instituídos.
A prestação de serviços do OLAE está focada fundamentalmente em áreas em que há enor-
mes lacunas na oferta de serviços especia-
lizados, nomeadamente na preparação de
projetos internacionais, por exemplo para
financiamento através de instituições mul-
tilaterais financeiras, que constituem exce-
lente opção para financiamento de projetos,
incluindo do setor privado, mas que por des-
conhecimento das empresas e empresários e
por falta de instituições e técnicos qualifica-
dos acabam por não ser utilizadas.
O OLAE tem uma equipa altamente espe-
cializada na preparação de projetos para
financiamento através das Instituições Finan-
ceiras Internacionais Multilaterais, tais como
o Banco Africano de Desenvolvimento, ou o
Grupo Banco Mundial, com vasta experiência
na realização destes projetos para governos
de países e entidades privadas, com investi-
mentos relevantes. Estes projetos obrigam ao
domínio de um know-how muito específico
e apenas raras entidades privadas dos países
da CPLP são beneficiárias diretas destas fon-
tes de financiamento. No entanto, devido ao
tipo de instituições em causa, estas consti-
tuem algumas das melhores alternativas para
financiar projetos, nomeadamente do setor
privado, de interesse nacional, em especial
nos países em desenvolvimento. Ora, esta di-
mensão de apoio ao setor privado é muitas
vezes desconhecido dos empresários e dos
promotores de projetos, que desperdiçam
assim as vantagens destes financiadores, quer
pelo volume, quer pelas taxas de juros pratica-
das, normalmente muito vantajosas, quer pela
configuração dos instrumentos financeiros dis-
poníveis, que permitem a preparação da melhor
operação do ponto de vista do projeto.
Qual o diferencial e mais-valia do OLAE, enquanto cen-
tro de investigação, no âmbito da consultoria empresarial?
O fato de fazermos investigação macroeconómica permite-nos compreender o que se vai
passar nos países e aconselhar da melhor forma as empresas que beneficiam do nosso apoio.
Um bom exemplo disso está no alerta que nos últimos anos fizemos às empresas que acom-
panhamos para não obterem empréstimos em moeda forte para realizar investimentos em
Angola ou Moçambique, devido ao risco cambial, pois a nossa investigação previa claramen-
te um elevado risco de desvalorização do Metical e do Kwanza, o que de fato se verificou. Esta
vertente acabou por se traduzir num benefício imenso para as empresas que trabalharam
connosco, que evitaram os erros trágicos que muitas outras empresas infelizmente come-
teram. Aliás, neste momento estamos a finalizar um estudo, que será divulgado no início do
próximo mês, em que alertaremos para uma realidade semelhante que se verifica noutro país
da CPLP e que poderá também criar uma crise financeira nos próximos tempos.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi criada, e passo a citar o art.1º
dos seus Estatutos, como fórum “multilateral privilegiado para o aprofundamento da
amizade, da concertação político-diplomática e da cooperação entre os seus oito mem-
bros”, aos quais se uniu a Guiné Equatorial. O sentimento de uma comunidade lusófona
de partilha e cooperação está bem presente na CPLP?
Em primeiro lugar, temos de reconhecer que a maior parte dos cidadãos dos países membros
da CPLP têm dificuldade em ver-se a si mesmos como cidadãos da CPLP, o que constitui um
O OLAE
tem uma equipa
altamente
especializada na preparação de
projetos para financiamento
através das Instituições
Financeiras Internacionais
Multilaterais
CRÉDITOS:DIANAQUINTELA
CRÉDITOS:DIANAQUINTELA
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PONTOSDEVISTA
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NOVEMBRO2016
obstáculo principal. Por outro lado, sentimos
alguma preferência das empresas e empresá-
rios por fazerem negócios com os espaços de
integração económica regional em que os seus
países participam, como a União Europeia ou o
Mercosul, face a investirem no espaço da CPLP.
Notamos também esta preferência nas ações e
iniciativas concretas dos governos dos países,
o que não contribui para o reforço do papel da
nossa comunidade. A CPLP tem alguns fatores
de sucesso que favorecem o nosso futuro co-
mum. Os nossos países têm zonas económicas
marítimas impressionantes, com uma riqueza,
biodiversidade e potencial absolutamente ex-
traordinário. As oportunidades ligadas à coo-
peração e comércio entre países da CPLP e
destes com países terceiros devem ser aprovei-
tadas. Notemos que, este potencial económico
não se esgota nos países membros da CPLP em
si mesmos, mas abrange todas as vastas áreas
de integração regional em que os países da
CPLP participam e que pode ser aproveitado
de forma mais profícua do que tem aconteci-
do até agora. A nossa língua comum tem um
potencial de aproveitamento e constitui uma
mais-valia e privilégio para os nossos países,
pela vantagem que confere aos falantes de
português em negócios internacionais.
Contando com uma vastíssima rede de
parceiros internacionais o OLAE promove
negócios internacionais, exportações, im-
portações e internacionalizações empresa-
riais para mais de 70 países. De acordo com
o vosso contacto com diferentes realidades
é possível afirmar-se que a CPLP tem condi-
ções para se tornar numa potência económi-
ca a nível mundial?
Um dos projetos de maior sucesso do OLAE
sem dúvida que tem sido o projeto de apoio às
exportações, com base na nossa rede de par-
ceiros em mais de 70 países, que muito contri-
buíram para ajudar as empresas portuguesas e
dos outros países da CPLP e não só, a exportar
para 17 países aderentes. Mais de uma centena
de empresas aderiu a este projeto, tendo nós
informação que muitos negócios se concreti-
zaram e grandes parcerias foram estabelecidas
diretamente, o que contribuiu também para
serem alavancados negócios Sul-Sul. Por ou-
tro lado, os estudos existentes indicam que em
alguns anos existirão mais de 500 milhões de
falantes de português. Esta é uma oportunida-
de para que a CPLP seja entendida não apenas
do ponto de vista institucional, mas também
como uma enorme rede de pessoas e empre-
sas, capaz de criar riqueza, crescimento e de-
senvolvimento económico e social.
De acordo com as previsões do Fundo Mo-
netário Internacional (FMI) a economia por-
tuguesa, que o fundo espera que cresça 1%
este ano e 1,1% em 2017, não conseguirá
descolar nos próximos quatro anos. Portugal
deve crescer só 1,2% em 2021. O que seria
necessário, na sua opinião, para alavancar a
economia portuguesa?
O futuro da economia portuguesa depende
em larga escala da evolução política e eco-
nómica da União Europeia, do que acontecer
com a nossa moeda comum e com as políticas
TEMA DE CAPA
»JOSÉ PAULO OLIVEIRA, PRESIDENTE DO OLAE, EM ENTREVISTA
O ano de 2015 foi um ano de inúmeros pro-
jetos de apoio às exportações, negócios, me-
lhoria da eficiência das economias, trabalho
de integração de imigrantes em Portugal e
combate à pobreza através de ações de inter-
venção nos países africanos. E no corrente ano,
que projeto(s) gostaria de destacar?
Os projetos referidos são prioridades constantes
do nosso trabalho. A atuação do OLAE, na área
de combate à pobreza e inclusão social e inte-
gração dos imigrantes dividiu-se pela atuação
em Portugal junto das comunidades imigrantes
e populações vulneráveis, enquanto na nossa
atuação nos países africanos contribuímos para
a implantação de projetos conjuntos das asso-
ciações locais nossas parceiras. Este trabalho
tem incidido em ações de formação e acom-
panhamento para capacitação das instituições,
com reforço da qualidade institucional através
de consultoria de acompanhamento e com a
disponibilização de técnicos do OLAE quer em
assistência técnica, quer através da preparação
de projetos para candidaturas aos programas
de empreendedorismo, em especial de jo-
vens, de empreendedores/beneficiários finais
imigrantes em Portugal, que assim submetem
candidaturas para a implementação de novos
negócios, tendo sido cabimentada a realização
de 40 projetos para a comunidade cabo-verdia-
na e 80 projetos para a comunidade guineense,
até final de 2017. Imigrantes e descendentes de
imigrantes que não tenham enquadramento
neste programa poderão beneficiar do nosso
trabalho em projetos para apoio em Microcré-
dito, área em que temos enorme experiência,
especialmente em África e que em Portugal
existe apenas através de créditos de pequenos
montantes, mas a tecnologia de concessão de
crédito utilizada nos países em desenvolvimen-
to é praticamente desconhecida em Portugal e
não tem sido utilizada pelas instituições de refe-
rência nesta área.
Este ano comemora-se dez anos de OLAE. O
que podemos esperar do Observatório para a
próxima década?
O nosso próximo projeto de grande relevância
será o lançamento muito em breve de um think
tank destinado a estudar os impactos, macroeco-
nómicos e não só, da aplicação do Rendimento
Básico Incondicional e Universal, que nos parece
ser um instrumento essencial para o futuro da
Humanidade, absolutamente necessário já a cur-
to prazo, num contexto em que a evolução eco-
nómica e a robotização da economia tornam não
apenas maior a rentabilidade do capital face ao
trabalho, mas também contribuem para a exis-
tência de desemprego estrutural impossível de
combater através das metodologias conhecidas
no passado. O Rendimento Básico Incondicional
e Universal é um salto de gigante para a cons-
trução das sociedades humanas do futuro e um
dos maiores legados que a geração atual poderá
deixar aos vindouros e à Humanidade como um
todo.Porumlado,teremosdesercapazesdedes-
ligar parcialmente o conceito de rendimento da
prestação de um trabalho, que lhe está associado
desde tempos imemoriais, mas também temos a
oportunidade de alavancar extraordinariamente
os multiplicadores económicos para níveis im-
pensáveis há poucos anos, criando mais riqueza,
diminuindo o número de pobres, garantindo a
todos o mínimo para viver com dignidade, o que
será verdadeiramente revolucionário, mas está
longe de ser impossível atendendo aos avanços
tecnológicos e à capacidade produtiva que a Hu-
manidade hoje tem. Tudo isto será possível sem
confronto com as camadas mais ricas, pois o im-
pacto macroeconómico estimado é extraordiná-
rio,aumentandoemmuitootamanhodariqueza
total disponível e dando um sinal muito positivo
deesperançaparaofuturo.Acreditamosqueeste
é o futuro e estaremos decisivamente empenha-
dos em construí-lo e moldá-lo. Podem continuar
a contar com o OLAE!
“O NOSSO PRÓXIMO PROJETO
SERÁ O LANÇAMENTO MUITO EM
BREVE DE UM THINK TANK”
O OLAE – Observatório Lusófono de Ativida-
des Económicas – é uma unidade de investi-
gação e prestação de serviços, independente
apesar de ter sido criada no âmbito da Fa-
culdade de Economia e Gestão (atual ECEO
– Escola de Ciências Económicas e das Orga-
nizações) da Universidade Lusófona de Huma-
nidades e Tecnologias (ULHT).
Na sua génese encontra-se um grupo de alu-
nos e professores de Economia que sentiram
a necessidade de aplicar, na prática, alguns
dos conceitos teóricos apreendidos nas aulas
e que, em 2006, iniciaram o desenvolvimento
do ICCREP (Índice de Competitividade Cam-
bial Real da Economia Portuguesa). Em 2007 o
OLAE foi reconhecido pela ULHT como Centro
de Investigação ligado à Faculdade de Eco-
nomia e Gestão (atual ECEO), e ainda como
unidade de negócio. Realizam-se os primei-
ros projetos internacionais e a expansão para
Moçambique, bem como a adjudicação de
projetos empresariais de grande alcance. O
objetivo do OLAE é promover a investigação
em temas relevantes das áreas curriculares da
FEG (Economia, Gestão, Contabilidade, GRH),
mas sempre com uma perspetiva focada na
realidade das empresas, desenvolvendo ativi-
dade prática e formando técnicos qualificados
e com um elevado perfil de competências.
Pretende-se desta forma promover o contac-
to dos alunos com as realidades de mercado,
com vista a uma melhor integração neste,
após a conclusão dos seus estudos.
OBSERVATÓRIO LUSÓFONO
DE ATIVIDADES ECONÓMICAS
europeias. O futuro da economia portuguesa
estará ligado à evolução europeia, ao futuro
do Euro, que ainda é incerto, bem como pela
capacidade que os protagonistas tenham de
evitar erros que poderão destruir a União. No
entanto, na economia portuguesa existem
setores altamente inovadores, produtores de
tecnologia, com elevado valor acrescentado e
que estão a saber melhorar e crescer mesmo
em tempos desfavoráveis e que conseguem
ganhar mercados externos e obter reconheci-
mento pela qualidade do seu trabalho.
O setor do turismo irá muito provavelmente
ganhar importância, criando cada vez mais
emprego e contribuindo para o investimento,
sendo o setor mais competitivo da economia
portuguesa. A instabilidade internacional e
a insegurança em vários países competido-
res contribuirá para o reforço desta atividade
nos próximos anos. No entanto, a melhoria da
qualidade do serviço, a excelência da oferta e
as condições existentes no país são alicerces
que mudaram nos últimos anos o padrão da
oferta turística. os problemas estruturais da
economia portuguesa continuam exatamente
iguais ao que tinhamos há cinco anos atrás,
com a agravante de hoje termos uma dívida
pública mais pesada que resultou do comple-
to falhanço da política económica de austeri-
dade implementada pelo anterior governo.
Esta realidade é agravada pela existência de
dívida privada altissima, o que se traduz num
efeito cumulativo da divida pública e privada
que tornam insustentável a situação a médio
e longo prazo. De qualquer modo, a alteração
de políticas e de opções em relação à socie-
dade portuguesa, defendendo os mais pobres,
ao contrário do que acontecia no passado re-
cente, criou um ambiente geral mais favorável
na sociedade portuguesa. Quando comparada
com a governação de má memória, que vigo-
rava ainda há um ano atrás, com opções por
políticas económicas que destruiram valor e le-
varam à falência de milhares de empresas, algu-
mas das quais sem condições de funcionamen-
to, mas muitas com deficientes estruturas de
capital e dependentes de crédito bancário, mas
económicamente viáveis e que foram empur-
radas para o abismo pelas opções de política
económica seguidas, o que contagiou também
de forma terrível o setor bancário e agudizou os
problemas que ainda não estão resolvidos e dos
quais as situações do BES/Novobanco e CGD
são exemplos maiores. O momento atual, prota-
gonizado pela dupla Marcelo-Costa desanuviou
o ambiente geral de crispação no país, restau-
rou a estabilidade social e nota-se preocupação
real com a coesão social. De qualquer modo, a
resolução dos problemas estruturais de Portu-
gal implica uma escala de decisão europeia e
nesse campo as indicações dadas por Bruxelas
deixam muito a desejar. Estamos convencidos
que será inevitável reestruturar a dívida do país,
sanear os problemas financeiros imensos do
setor bancário e reabilitar muitos milhares de ci-
dadãos atualmente com problemas financeiros,
para que a economia volte a funcionar de forma
saudável. Enquanto estas opções não forem to-
madas, estaremos apenas a adiar os problemas,
dos quais não conseguiremos fugir. ▪
FORMAÇÃO
O OLAE, em conjunto com a SOSABERES,
oferece diversos cursos e workshops na
área da Economia, Gestão e Finanças.
Exemplo de cursos e workshops:
- Business Plan;
- Mercados Financeiros;
- Apoios Financeiros 2014-2020;
- Cobertura de Risco Cambial;
- Entre outros;
NEGÓCIOS INTERNACIONAIS
No âmbito da missão – contribuir para
o aumento da eficiência das empresas e
das económicas – e alicerçado nas suas
ligações privilegiadas em mais de 70 paí-
ses, estando também ciente dos tremen-
dos constrangimentos das economias
nacional e europeia, o OLAE coloca ao
dispor das empresas a sua vasta rede de
parceiros, a título gratuito, para que estas
possam expandir a sua atividade e cres-
cer o seu negócio.
CONCURSOS PÚBLICOS
INTERNACIONAIS
Em conjunto com os parceiros interna-
cionais, o OLAE prepara candidaturas a
Concursos Públicos Internacionais, lide-
rando e fazendo parte de consórcios com
algumas das maiores empresas inter-
nacionais – Human Dynamics, ESRI, TIS,
Wunderman, entre outros.
PRODUTOS E SERVIÇOS
CRÉDITOS:DIANAQUINTELA
CRÉDITOS:DIANAQUINTELA