Quinta de Lemos: negócio de vinhos e hotelaria com alma portuguesa
1. Ao lado, o décor do salão
do restaurante, a cargo
de Nini Andrade Silva,
traz tons neutros,
sofás de formato orgânico,
da Botaca, e a presença
do bloco milenar de granito,
incorporado ao projeto;
abaixo, a piscina interna;
e, mais abaixo, uma das
três suítes – a nudez do
concreto em contraponto
à madeira esculpida por
Paulo Neves na cabeceira
da cama, além da banheira
escavada na pedra. Na pág.
anterior, no alto, concreto,
aço e vidro na arquitetura
de Carvalho Araújo;
e, abaixo, a adega, onde
os vinhos da Quinta de
Lemos estagiam em barris
de carvalho francês
Foi necessário ser finalista do prêmio Edifícios do Ano
de 2013, do ArchDaily, o prestigiado site global de arquitetu-
ra, para que o mundo – Portugal incluído – se desse conta da
existência da Quinta de Lemos. Na verdade, o fator surpre-
sa tem sua razão de ser. A propriedade de cinco hectares em
Passos de Silgueiros, perto da cidade de Viseu, na região do
Dão,foicomprada15anosatráspelobem-sucedidoempresário
têxtil Celso de Lemos. Português radicado na Bélgica desde
muito jovem, o patriarca Lemos nunca esqueceu suas raízes
lusitanas. Foi por isso que, apesar de ter constituído família e
império fora de Portugal, escolheu o Dão, de onde é natural,
para implantar, na década de 1980, as fábricas da Abyss e da
Habidecor,detoalhaseroupasdecamahojeespalhadasporlo-
jas de departamentos e hotéis de luxo – muito antes de pensar
em ser dono de uma quinta.
Lemos queria aumentar sua ligação com a terra, e a
Quinta surgiu como uma forma natural de ter, em solo na-
cional, um showroom para mostrar suas criações. Acabou se
tornando, ao mesmo tempo, um lugar charmoso para receber
amigos, clientes e fornecedores. Quando deu por si, já tinha
investido em 3 mil pés de oliveiras, três colmeias, uma horta
e em 25 hectares de vinha que produzem sete premiados vi-
nhos tintos Quinta de Lemos. São cem mil garrafas por ano
NO DÃO, REGIÃO AO NORTE DE PORTUGAL CONHECIDA POR SEUS VINHOS E BOA GASTRONOMIA,
A QUINTA DE LEMOS SURPREENDE TAMBÉM PELA ARQUITETURA DO NOVO PROJETO HOTELEIRO
POR JOÃO MIGUEL SIMÕES | FOTOS ANA PAULA CARVALHO
exportadas para 20 países, inclusive o Brasil. Ele, que não es-
conde ter por referência a Borgonha, na França, não abre mão
de batizar seus vinhos com o nome das mulheres da família.
Faz sentido. Este é um negócio de milhões de euros, mas
é também um assunto familiar. Seus três filhos estão todos
ligados ao processo. Porém, a ida do varão, Pierre de Lemos,
para Portugal foi determinante para dar visilidade mundial à
Quinta. No topo de uma colina da propriedade, com enormes
blocos de granito milenares integrados ao projeto (inclusive
banheiras e pias foram talhadas nessa pedra), nasceu o prédio
de linhas ondulantes de concreto, vidro e aço assinado pelo
arquiteto Carvalho Araújo, que, com seu ateliê em Braga, ven-
ceu em Portugal o prêmio de Reabilitação Urbana 2014 pelo
edifícioGNRation.Adecoraçãofoientregueaoutraportugue-
sa premiada, Nini Andrade Silva, honrada com o International
Hotel Awards – Americas pelo design de interiores do hotel
B.O.G, na Colômbia, que optou por uma paleta neutra para
valorizarasvinhaseserrasàvolta.Selecionoupeçasdedesenho
contemporâneo, como as luminárias Balloons, os desenhos de
Dan Yeffet e Lucie Koldova, os sofás da Botaca e a escultura
de madeira de Paulo Neves, e usou ao máximo, é claro, os
têxteis produzidos pelos Lemos nas três suítes – a Quinta, co-
mo se vê, virou também um pequeno hotel.
Foi ideia de Nini usar parte do novo edifício para abrir um
restaurante, mas o Mesa de Lemos, por enquanto, só abre para
jantares nas noites de sexta e sábado, sob reserva. Está a car-
go do jovem chef Diogo Rocha, antigo colaborador de Vítor
Sobral (da Tasca da Esquina, em São Paulo). Como não podia
deixar de ser, a cozinha é portuguesa e prevê a possibilidade
de combinar uma refeição com um pernoite. É o que se chama
juntar o útil ao muito agradável. www.quintadelemos.com l
UM NEGÓCIO
COM ALMA
CASAVOGUE.COM.BR 193
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