1. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano
CAMINHADA PARA O TEMPO PASCAL
Vidit et Credidit (Jo 20, 8)
0. NOTA INTRODUTÓRIA
Eis que, agora, passadas as dores e os sofrimentos da Paixão do Senhor, chega a
hora de, cheios de alegria, meditarmos a luz da Páscoa gloriosa de Cristo, no
caminho da Galileia, ávidos da vinda do Espírito Santo.
Para isso, é-nos proposta esta caminhada, cujo lema é tomado do Evangelho de
João que iremos escutar na manhã gloriosa da Páscoa: “tunc ergo introivit et ille
discipulus qui venerat primus ad monumentum et vidit et credidit” – “Entrou
também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou.”
(Jo 20, 8). Esta declaração de fé por parte do Autor Sagrado impele-nos a,
contemplado o túmulo vazio e atestada esta visão pela Igreja, proclamar a
Ressurreição de Cristo, Senhor da Vida e Vencedor da Morte, pela nossa vida e
testemunho, pela nossa devoção e oração.
Como textos fundantes vamos, novamente, tomar a Liturgia da Palavra dominical
e uma coletânea de textos do Papa Emérito Bento XVI e do Papa Francisco, de
modo a, mais uma vez, escutarmos a Voz do Filho muito amado pelas Sagradas
Letras e pela Tradição da Igreja Apostólica.
2. 1. SEMANA APÓS SEMANA
Começaremos por, na Semana da Oitava Pascal, meditar na beleza deste
momento: a Luz de Cristo que, definitivamente, vence as Trevas do Diabo, do
Tentador, do Pai de Mentira.
Nas subsequentes semanas iremos ter oportunidade de tomar e meditar cada um
dos dons do Espírito Santo, até à grande solenidade do Pentecostes.
Como símbolo desta caminhada, teremos o Círio Pascal que deverá ser adornado
a cada semana, segundo as indicações abaixo.
2. ORAÇÃO
A cada semana ser-nos-á proposto que a nossa oração diga respeito ao Dom do
Espírito que meditámos. Assim, à exceção das semanas das Solenidades da Páscoa
e do Pentecostes, será disponibilizada a oração de acordo com o dom meditado.
Nas duas semanas acima assinaladas propõe-se a oração da sequência prevista
para cada uma das Solenidades.
3. ATITUDE - COMPROMISSO
Nesta caminhada não existe nenhuma atitude concreta para além da tentativa
constante de, a cada semana, cultivar o dom do Espírito Santo que meditamos.
3. … PARA NAVEGAR AO SOPRO DO ESPÍRITO SANTO!
(DA PÁSCOA AO PENTECOSTES)
PÁSCOA DO Testemunhar alegremente a Ressurreição Sequência do Dia
SENHOR do Senhor. de Páscoa
ATIVIDADE Temática Breve explicação do dom do Espírito Oração Invocação
Santo do Espírito Santo
“Sempre de novo a pequena barca da Igreja SABEDORIA (SAPIÊNCIA):
II SEMANA DA é abalada pelo vento das ideologias, que
PÁSCOA com as suas águas penetram nela e parecem É o dom de experimentar o sabor, o Invocar
condená-la a afundar. E contudo, gosto “conatural” da vida de Deus, da
sua vontade (bondade) amorosa, das o dom
Colar precisamente na Igreja sofredora Cristo é
ou Inscrever vitorioso. Apesar de tudo, a fé n'Ele retoma realidades divinas e a alegria de servir
da Sabedoria
na vela força sempre de novo. Também hoje o o seu Espírito. A sabedoria das coisas
a chama da Senhor ordena às águas e demonstra-se o vividas em Deus não resulta de
Sabedoria Senhor dos elementos. Ele permanece na nenhum esforço cerebral mas é dom
sua barca, na barca da Igreja” (Bento XVI, do Espírito. Os simples «sabem» mais
Homilia, 29.6.2006) de Deus que os inteligentes...
ENTENDIMENTO
III SEMANA DA “A vida humana é um caminho. Rumo a (INTELIGÊNCIA):
PÁSCOA qual meta? Como achamos o itinerário a Invocar
Colar ou Inscrever seguir? A vida é como uma viagem no mar É o dom de compreender e penetrar a
Palavra de Deus e alcançar o mistério o dom
na vela da história, com frequência enevoada e
a chama do tempestuosa, uma viagem na qual do amor proclamado, que é Jesus
do Entendimento
Entendimento perscrutamos os astros que nos indicam a Cristo, e ainda o dom de o atualizar;
rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida Este dom permite o discernimento da
são as pessoas que souberam viver com presença de Deus... Entender os
retidão. Elas são luzes de esperança” (Bento apelos de Deus não é uma questão de
XVI, Spe Salvi, 49) superioridade intelectual, mas dom do
Espírito àqueles que humildemente
procuram a Deus...
4. CONSELHO:
IV SEMANA DA “Mantende viva a vossa fé em Cristo, amai
PÁSCOA a Igreja de que sois membros ativos. À É o dom do discernimento da vontade Invocar
semelhança do que Cristo disse a Pedro, amorosa de Deus na vida concreta,
dos seus apelos nas várias situações e o dom
Colar ou Inscrever repito a todos: Sede pescadores de
na vela homens. Sobre a barca da Igreja todos nós acontecimentos da vida e do mundo,
do Conselho
a chama do devemos remar. Ninguém se pode limitar a da descoberta dos valores evangélicos,
Conselho ser espectador. «Toda a Igreja é chamada a de modo a viver uma vida santa e
evangelizar» (E.N.66) (Card. Ângelo Sodano, agradável a Deus. É o dom da lucidez
Homilia no Mosteiro dos Jerónimos,28.061998) da fé para interpretar os
acontecimentos.
FORTALEZA:
V SEMANA DA “Vimos que a fragilidade humana está Invocar
PÁSCOA presente também na Igreja, que a barca da Anima a nossa fidelidade quotidiana.
Igreja continua a navegar inclusive com Trata-se do dom da firmeza na opção o dom
Colar ou Inscrever vento contrário, com tempestades que por Cristo, da fidelidade à identidade
na vela ameaçam a barca, e às vezes pensamos: «O cristã, da força para o “confessar” e da Fortaleza
a chama da Senhor dorme e esqueceu-nos»” (Bento XVI, anunciar, para crescer na comunhão
Fortaleza Discurso, 11.06.2012) com Ele e na esperança n’Ele. Trata-
se também de um dinamismo de
crescimento e de esperança em Jesus
Cristo. Perseverar no caminho da fé
não é uma questão de temperamento
forte mas um dom àqueles que
procuram e encontram em Deus a sua
força...
CIÊNCIA (CONHECIMENTO):
VI SEMANA Falando da Igreja disse Santo Ambrósio: Trata-se do conhecimento da verdade
DA PÁSCOA “Ela é esse navio que navega bem neste e do erro. O Espírito de Deus dá-nos
Invocar
Colar ou Inscrever mundo ao sopro do Espírito Santo, com as aquilo que a linguagem teológica se
na vela velas da Cruz do Senhor plenamente chama «sensus fidei», uma espécie de o dom
a chama da Ciência desfraldadas” (Catecismo da Igreja Católica, 845) «sexto sentido» da fé. Trata-se da da Ciência
ciência comum da vida cristã em
ordem a «ler» a vida e a valorá-la à luz
da Palavra de Deus. Faz a ligação
entre a fé e a Vida.
5. Apesar de poder parecer às vezes, como PIEDADE:
ASCENSÃO DO sucedeu no episódio evangélico da
SENHOR tempestade acalmada (cf. Mc 4, 35-41; Lc 8, 22- É o dom da relação confidente e de Invocar
25), que Cristo dorme e deixa a sua barca à confiança alegre com Deus e de uma
o dom
Colar ou Inscrever mercê das ondas impetuosas, é pedido à relação fraterna com os irmãos. O
da Piedade
na vela a chama do Igreja da Europa que cultive a certeza de Espírito é Aquele que reza em nós,
e
Piedade que o Senhor, através do dom do seu Aquele que nos dá a experiência da
do Temor
Temor de Deus Espírito, está sempre presente e ativo nela e filiação divina. Ele testemunha
de
na história da humanidade. Ele prolonga interiormente em nós e cria em nós
Deus
no tempo a sua missão, fazendo da Igreja aquela «conaturalidade» (à vontade) da
uma corrente de vida nova que flui dentro relação filial com Deus e ao mesmo
da vida da humanidade como sinal de tempo é Aquele que realiza a
esperança para todos” (João Paulo II, Ecclesia in comunhão entre nós.
Europa 27)
TEMOR DE DEUS
Os documentos do Concílio Vaticano II, Trata-se da nossa dependência
sobre os quais é preciso meditar, são, criatural, da nossa adoração de Deus e
também para o nosso tempo, uma bússola também das nossas limitações e das
que permite à barca da Igreja fazer-se ao nossas fraquezas perante a santidade e
largo, no meio de tempestades ou de ondas a transcendência de Deus. Isto suscita
calmas e tranquilas, para navegar com no crente o desejo de uma conversão
segurança e chegar à meta (Bento XVI, constante e permanente.
Audiência, 10 de Outubro 2012).
6. VIGÍLIA E DIA “O Espírito é como o vento que sopra a “Içar a própria vela e desfraldá-la com
DE vela da grande barca da Igreja. Esta, coragem” (J. Paulo II)! Rezar a Sequência
PENTECOSTES todavia, considerando bem, vale-se de do Pentecostes
outras inúmeras pequenas velas que são os "Chamam por mim as águas,
corações de cada um dos batizados. Cada Chamam por mim os mares.
TRAZER O um, caríssimos, é convidado a içar a Chamam por mim,
BARCO própria vela e a desfraldá-la com coragem, levantando uma voz corpórea,
PRONTO, COM para permitir ao Espírito agir com toda a os longes,
O CÍRIO Sua força santificadora. as épocas marítimas
(MASTRO) Consentindo ao Espírito agir na própria todas sentidas no passado,
E A (S) VELA (S) história pessoal, oferece-se também o a chamar”.
= 7 DONS DO melhor contributo à missão da Igreja. Não
ESPÍRITO tenhais medo de desfraldar a vossa vela ao Álvaro de Campos,
SANTO sopro do Espírito! Ode Marítima
Deixai que a Sua força da verdade e do
amor anime cada dimensão da vossa jovem “Faz-te ao mar”!
existência” (João Paulo II, Discurso aos (Lc.5,4)
seminaristas, 30-04.1998)
7. DOMINGO DE PÁSCOA
Passo Bíblico: Jo 20, 1-9
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao
sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão
Pedro e com o discípulo predilecto de Jesus e disse-lhes:
«Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu
com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro.
Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais
depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as
ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro,
que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha
estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte.
Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e
acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual
Jesus devia ressuscitar dos mortos.
Da Mensagem Urbi et Orbi do Papa Emérito Bento XVI pela Páscoa de 2012:
«Surrexit Christus, spes mea – Ressuscitou Cristo, minha esperança»
(Sequência Pascal).
A todos vós chegue a voz jubilosa da Igreja, com as palavras que um antigo hino
coloca nos lábios de Maria Madalena, a primeira que encontrou Jesus
ressuscitado na manhã de Páscoa. Ela correu ao encontro dos outros discípulos e,
emocionada, anunciou-lhes: «Vi o Senhor!» (Jo 20, 18). Hoje também nós, depois
de termos atravessado o deserto da Quaresma e os dias dolorosos da Paixão,
damos largas ao brado de vitória: «Ressuscitou! Ressuscitou verdadeiramente!»
Reflexão:
Somos, então, convidados a entrar no Sepulcro. Lá dentro paira silêncio. Não um
silêncio de morte, de fim, mas um silêncio promissor, que deixa prever a
proximidade de algo maior.
A pedra rolada, a azáfama daquela mulher, as ligaduras e o sudário, tudo isto é
muito estranho. Não estava Ele morto? Não tínhamos vindo também depositá-l’O
neste nicho, neste lugar cavado na rocha, quando já brilhava a Lua de Sábado?
Então como pode isto ser?
Eis como: Ele Ressuscitou! Já não há morte, nem fim, nem choro. A luz vem
donde antes só vinha breu, a Vida surge donde antes só surgia morte.
Surrexit Christus, spes mea. De facto, a nossa Esperança não foi em vão. Cristo
venceu, quando já tudo parecia perdido. Acabou a vida finita para a qual
estávamos naturalmente guardados. Surge agora a Vida sem fim para os que a
quiserem abraçar.
Surrexit Dominus vere! Aleluia!
8. DOMINGO II DO TEMPO PASCAL
Passo Bíblico: Jo 20, 19-31
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se
não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a
mão no seu lado, não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio
Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja
convosco» Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem
visto».
Da Audiência Geral do Papa Emérito Bento XVI de 27 de Setembro de 2006:
Depois, muito conhecida e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, que
aconteceu oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, ele não tinha
acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: "Se eu não vir o sinal
dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha
mão no seu peito, não acredito" (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras sobressai a
convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas.
Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora
sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou. Nisto o
Apóstolo não se engana. Como sabemos, oito dias depois Jesus aparece no meio dos
seus discípulos, e desta vez Tomé está presente. E Jesus interpela-o: "Põe teu dedo
aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo,
mas crê!" (Jo 20, 27). Tomé reage com a profissão de fé mais maravilhosa de todo o
Novo Testamento: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28). A este propósito, Santo
Agostinho comenta: Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua fé em Deus,
que não via nem tocava. Mas o que via e tocava levava-o a crer naquilo de que até
àquele momento tinha duvidado" (In Iohann. 121, 5). O evangelista prossegue com
uma última palavra de Jesus a Tomé: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que,
sem terem visto, crerão" (cf. Jo 20, 29). Esta frase também se pode conjugar no
presente; "Bem-aventurados os que crêem sem terem visto".
Reflexão:
E eis que nos encontramos na Companhia dos Apóstolos. E eis que, no meio deles
surge o Senhor Jesus. Contudo o Cenáculo não está completo… Nele falta Tomé.
A sua ausência mostra-nos que não estava toda a Igreja reunida, não estava
assegurada a comunhão e, por isso, confrontado com a aparição de Jesus ao resto
dos discípulos, Tomé recusa-se a acreditar.
Na semana seguinte Jesus, condescendente e cheio de amor pelos seus, aparece
novamente aos discípulos e dá a Tomé a oportunidade experimentar a sua presença,
provando-a com as marcas da morte.
Tal como Tomé, também nós somos convidados a deixarmos de ter as provas físicas
como as únicas dignas de fé. Assim, aprendemos que só o Amor é digno de fé.
9. DOMINGO III DO TEMPO PASCAL
Passo Bíblico: Jo 21, 1-19
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de
Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos
contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não
apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não
sabiam que era Ele. Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?».
Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco
e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da
abundância de peixes. O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: «É o
Senhor».
Da Audiência Geral do Papa Emérito Bento XVI de 9 de Agosto de 2006:
Aquele texto áureo de espiritualidade que é o pequeno livro do final da Idade
Média intitulado Imitação de Cristo escreve a este propósito: "O nobre amor de
Jesus estimula-nos a realizar coisas grandes e a desejar coisas sempre mais
perfeitas. O amor quer estar no alto e não ser aprisionado por baixeza alguma. O
amor quer ser livre e separado de qualquer afecto mundano... de facto, o amor
nasceu de Deus, e só pode repousar em Deus acima de todas as coisas criadas.
Quem ama voa, corre e rejubila, é livre, e nada o retém. Dá tudo a todos e tem
tudo em todas as coisas, porque encontra repouso no Único grande que está
acima de todas as coisas, do qual brota e provém qualquer bem" (livro III, cap. 5).
Qual melhor comentário do que o "mandamento novo", enunciado por João?
Pedimos ao Pai que o possamos viver, mesmo se sempre de modo imperfeito, tão
intensamente que contagiemos a todos os que encontrarmos no nosso caminho.
Reflexão:
Mais uma vez se destaca a rapidez e destreza do “discípulo predilecto”: É o
primeiro a ter percepção da presença do Senhor ressuscitado. Mais uma vez, “viu
e acreditou”. “Viu” o que mais ninguém tinha visto e “acreditou” no que lhe fora
revelado.
De facto, o desafio que nos é deixado passa por sabermos ver aquilo que Deus nos
revela e entendermos essa mesma revelação.
10. DOMINGO IV DO TEMPO PASCAL
Passo Bíblico: Jo 10, 27-30
Naquele tempo, disse Jesus: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu
conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca
hão-de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é
maior do que todos, e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai.
Eu e o Pai somos um só».
Da Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal 2013:
As vestes sagradas do Sumo Sacerdote são ricas de simbolismos; um deles é o dos
nomes dos filhos de Israel gravados nas pedras de ónix que adornavam as
ombreiras do efod, do qual provém a nossa casula actual: seis sobre a pedra do
ombro direito e seis na do ombro esquerdo (cf. Ex 28, 6-14). Também no peitoral
estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel (cf. Ex 28, 21). Isto significa
que o sacerdote celebra levando sobre os ombros o povo que lhe está confiado e
tendo os seus nomes gravados no coração. Quando envergamos a nossa casula
humilde pode fazer-nos bem sentir sobre os ombros e no coração o peso e o rosto
do nosso povo fiel, dos nossos santos e dos nossos mártires, que são tantos neste
tempo.
Depois da beleza de tudo o que é litúrgico – que não se reduz ao adorno e bom
gosto dos paramentos, mas é presença da glória do nosso Deus que resplandece
no seu povo vivo e consolado –, fixemos agora o olhar na acção. O óleo precioso,
que unge a cabeça de Aarão, não se limita a perfumá-lo a ele, mas espalha-se e
atinge «as periferias». O Senhor dirá claramente que a sua unção é para os pobres,
os presos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados. A unção, amados
irmãos, não é para nos perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a
conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso... e o coração amargo.
O bom sacerdote reconhece-se pelo modo como é ungido o seu povo; temos aqui
uma prova clara. Nota-se quando o nosso povo é ungido com óleo da alegria; por
exemplo, quando sai da Missa com o rosto de quem recebeu uma boa notícia. O
nosso povo gosta do Evangelho quando é pregado com unção, quando o
Evangelho que pregamos chega ao seu dia a dia, quando escorre como o óleo de
Aarão até às bordas da realidade, quando ilumina as situações extremas, «as
periferias» onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem
saquear a sua fé. As pessoas agradecem-nos porque sentem que rezámos a partir
das realidades da sua vida de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas
angústias e esperanças.
11. Reflexão:
Já a meio deste percurso pascal o Senhor recorda-nos algo que já meditámos no
Caminho Quaresmal: o seu amor protector, o seu cuidado, o seu abraço. No
entanto, neste momento Jesus manifesta esse abraço de uma forma diferente: É
Ele que nos abraça, directamente, sem reservas, sem metáforas. Agora: “Eu
conheço…”, “Eu dou-lhes...”, “Eu e o Pai somos um só”. Claramente
compreendemos agora que aquele abraço que acolheu o filho pródigo é o mesmo
para o qual somos convidados, e os braços de Cristo escancarados na Cruz são o
maior dos convites.
Contudo, à primeira vista, teríamos um problema extremamente prático: se Jesus
subiu aos céus quem é que nos vai abraçar? Seria este convite só para os
circunstantes de Jesus, limitando este abraço num espaço-tempo concreto?
Obviamente que não.
Então quem é que nos abraça? O segundo texto que ouvimos aponta a resposta:
“o bom sacerdote…” É o ministério sacerdotal, instituído por Jesus e herdado pela
Igreja Apostólica, o agente deste abraço.
No fim desta semana de Oração pelas Vocações rezemos pelo nosso clero, para
que seja fortalecido e amparado, e também por todos nós, para que ouçamos os
desafios que o Senhor nos aponta e os desejos íntimos do Seu Coração a nosso
respeito.
12. DOMINGO V DO TEMPO PASCAL
Passo Bíblico: Jo 13, 31-33a.34-35
Quando Judas saiu do Cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Agora foi glorificado o Filho do homem, e Deus foi glorificado n’Ele. Se Deus foi
glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-l’O-á sem
demora.
Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um
mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos
também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos:se vos
amardes uns aos outros».
Da Homilia do Papa Emérito Bento XVI de 2 de Maio de 2010:
Jesus fala de um "novo mandamento". Mas qual é a sua novidade? Já no Antigo
Testamento, Deus tinha dado o mandamento do amor; agora, porém, este
mandamento tornou-se novo, enquanto Jesus lhe acrescenta um suplemento
muito importante: "Assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos
outros". O que é novo é precisamente este "amar como Jesus amou". Todo o
nosso amor é precedido pelo seu amor e refere-se a este amor, insere-se neste
amor, realiza-se precisamente por este amor. O Antigo Testamento não
apresentava modelo algum de amor, mas formulava apenas o preceito de amar.
Jesus, ao contrário, deu-se-nos como modelo e fonte de amor. Trata-se de um
amor sem limites, universal, capaz de transformar também todas as
circunstâncias negativas e todos os obstáculos em ocasiões para progredir no
amor. E vemos nos santos desta Cidade a realização deste amor, sempre da fonte
do amor de Jesus.
Reflexão:
Permitia-me apenas chamar à atenção para um pequeno pormenor deste passo: a
narração do mandamento do amor no Evangelho que escutámos inicia-se após a
saída de Judas do Cenáculo. Judas destaca-se do grupo, opta por ficar de parte,
escolhe agir por si, sem seguir o caminho que Jesus apontava. Em suma, Judas,
voluntariamente, excluiu-se da sua Salvação, isto é, condenou-se.
É um perigo constante. Da forma que nos encontramos num ambiente eclesial,
também Judas fazia parte dos Doze. Por isso, se não houver vigilância, nada está
garantido.
Acolhamos o caminho que Jesus nos aponta, pratiquemo-lo na Igreja,
supliquemos a Fortaleza do Espírito e a nossa Salvação.
13. DOMINGO VI DO TEMPO PASCAL
Passo Bíblico: Jo 14, 23-29
«Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não
se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que Eu vos disse: Vou
partir, mas voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu
ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de
acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis».
Da Mensagem Urbi et Orbi do Papa Francisco pela Páscoa 2013:
Eis, portanto, o convite que dirijo a todos: acolhamos a graça da Ressurreição de
Cristo! Deixemo-nos renovar pela misericórdia de Deus, deixemo-nos amar por
Jesus, deixemos que a força do seu amor transforme também a nossa vida,
tornando-nos instrumentos desta misericórdia, canais através dos quais Deus
possa irrigar a terra, guardar a criação inteira e fazer florir a justiça e a paz.
E assim, a Jesus ressuscitado que transforma a morte em vida, peçamos para
mudar o ódio em amor, a vingança em perdão, a guerra em paz. Sim, Cristo é a
nossa paz e, por seu intermédio, imploramos a paz para o mundo inteiro.
(…)
Paz para o mundo inteiro, ainda tão dividido pela ganância de quem procura
lucros fáceis, ferido pelo egoísmo que ameaça a vida humana e a família – um
egoísmo que faz continuar o tráfico de pessoas, a escravatura mais extensa neste
século vinte e um. O tráfico de pessoas é realmente a escravatura mais extensa
neste século vinte e um! Paz para todo o mundo dilacerado pela violência ligada
ao narcotráfico e por uma iníqua exploração dos recursos naturais. Paz para esta
nossa Terra! Jesus ressuscitado leve conforto a quem é vítima das calamidades
naturais e nos torne guardiões responsáveis da criação.
Amados irmãos e irmãs, originários de Roma ou de qualquer parte do mundo, a
todos vós que me ouvis, dirijo este convite do Salmo 117: «Dai graças ao Senhor,
porque Ele é bom, porque é eterno o seu amor. Diga a casa de Israel: É eterno o
seu amor» (vv. 1-2)
Reflexão:
Paz: Eis a promessa de Jesus. Contudo, esta paz não é uma mera ausência de
guerra. A paz de Cristo é uma “quietude espiritual”, é a ordenação das realidades
da nossa vida na pessoa de Cristo, o encontro de um refúgio seguro, apenas
possível em Jesus.
Contudo, Jesus vai partir, Ele mesmo no-lo diz; vai para junto do Pai. Deste
modo, se Jesus é a nossa paz, e se Jesus vai para o Pai, então a nossa Paz está
também no encontro com o Pai.
Ordenemos o nosso coração para desejar este encontro, para suplicar como
Moisés: “Mostra-me o Teu rosto.” Só este encontro nos completa, só este rosto
nos ilumina, só esta paz nos pacifica.
14. ASCENSÃO DO SENHOR
Passo Bíblico: Lc 24, 46-53
«Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto».
Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos,
abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles
prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande
alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.
Da Oração da Regina Caeli do Papa Emérito Bento XVI de 16 de Maio de
2010:
O Senhor atrai o olhar dos Apóstolos o nosso olhar para o Céu a fim de lhes
indicar como percorrer o caminho do bem durante a vida terrena. Contudo, Ele
permanece na trama da história humana, está próximo a cada um de nós e guia o
nosso caminho cristão: é companheiro dos perseguidos por causa da fé, está no
coração de todos os que são marginalizados, está presente naqueles aos quais é
negado o direito à vida. Podemos ouvir, ver e tocar o Senhor Jesus na Igreja,
sobretudo mediante a palavra e os sacramentos. A este propósito, exorto os
adolescentes e os jovens que neste tempo pascal recebem o sacramento da
Confirmação, a permanecer fiéis à Palavra de Deus e à doutrina aprendida, assim
como a frequentar assiduamente a Confissão e a Eucaristia, conscientes de terem
sido escolhidos e constituídos para testemunhar a Verdade. Renovo depois o meu
convite particular aos irmãos no Sacerdócio, para que "na sua vida e acção se
distingam por um forte testemunho evangélico" (Carta de proclamação do Ano
Sacerdotal) e saibam utilizar com sabedoria também os meios de comunicação,
para fazer conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrir o
rosto de Cristo (cf. Mensagem para o XLVI Dia Mundial das Comunicações Sociais,
24.1.2010).
Reflexão:
Ascensão não é abandono. É mais um gesto de humildade e submissão de Jesus.
Depois de cumprida a sua missão, Jesus entrega ao Pai o fruto do seu trabalho: a
humanidade com a hipótese da Redenção.
Mais do que isso, Jesus, abrasado de amor pelos Apóstolos, não os deixa sós mas
pede-lhes que aguardem até que sejam “revestidos com a força do alto”.
Em suma, na Ascensão do Senhor é-nos recordada a nossa meta: a eternidade, o
céu, o convívio eterno com o Pai. Mantenhamos o olhar na meta.
15. DOMINGO DE PENTECOSTES
Passo Bíblico: Jo 20, 19-23
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou,
também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão
perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
Da Homília do Papa Emérito Bento XVI de 23 de Maio de 2010:
Amados irmãos, disto deriva um critério prático de discernimento para a vida
cristã: quando uma pessoa, ou uma comunidade, se fecha no seu próprio modo
de pensar e de agir, é sinal que se afastou do Espírito Santo. O caminho dos
cristãos e das Igrejas particulares deve confrontar-se sempre com o da Igreja, una
e católica, e harmonizar-se com ele. Isto não significa que a unidade criada pelo
Espírito Santo é uma espécie de igualitarismo. Pelo contrário, ela é sobretudo o
modelo de Babel, ou seja, a imposição de uma cultura da unidade que
poderíamos definir "técnica". Com efeito, a Bíblia diz-nos (cf. Gn 11, 1-9) que em
Babel todos falavam uma só língua. Pelo contrário, no Pentecostes os Apóstolos
falam línguas diferentes, de modo que cada um compreenda a mensagem no seu
próprio idioma. A unidade do Espírito manifesta-se na pluralidade da
compreensão. A Igreja é por sua natureza una e múltipla, destinada como está a
viver em todas as nações, em todos os povos e nos mais diversificados contextos
sociais. Ela responde à sua vocação, de ser sinal e instrumento de unidade de
todo o género humano (cf. Lumen gentium, 1), apenas se permanece autónoma de
qualquer Estado e de toda a cultura particular. Sempre e em cada lugar, a Igreja
deve ser verdadeiramente católica e universal, a casa de todos, onde cada um se
pode encontrar.
Reflexão:
Somos, então, defrontados mais uma vez com este passo do Evangelho de João.
No entanto, embora já o tenhamos ouvido no fim da Oitava Pascal, neste
momento o seu significado plenifica-se com a celebração da Solenidade que
encerra a Celebração do Tempo Pascal: o Pentecostes.
Nela damos graças ao Senhor porque, na Sua infinita misericórdia se dignou
permitir aos homens a entrada no abraço trinitário, enviando o Espírito Santo.
Ele é o Santificador que, através do Redentor, encaminha a criação de volta ao
Criador.
Veni, Sancte Spiritus! – Vinde, Espírito Santo! Só Vós nos dais o conforto
espiritual e animais a nossa alma para as lutas hodiernas. Vós, Paráclito
consolador, defendei a nossa alma das insídias do Maligno, enchendo-nos dos
vossos dons.
Veni, Sancte Spiritus! – Vinde, Espírito Santo!